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Apostila Bea1

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Módulo 1 – Enfoques iniciais: conceitos básicos

Apresentação do Módulo

Neste módulo você estudará os principais conceitos relacionados à temática des te


curso, entre eles: prova, prova material, cadeia de custódia e busca e apreensão.

Objetivo do Módulo

Ao final do estudo deste módulo, você será capaz de:


- Conceituar prova e prova material;
- Descrever a cadeia de custódia;
- Definir busca e apreensão;
- Compreender a finalidade da busca e apreensão;
- Identificar os momentos da busca e da apreensão.

Estrutura do Módulo

Aula 1 – Conceitos e enfoques básicos


Aula 2 – Busca e apreensão
Aula 3 – Cadeia de custódia

Aula 1 – Conceitos e enfoques básicos

1.1. Prova

Se você tem uma palavra conhecida e quer saber o significado, a primeira fonte de
consulta é o dicionário. No dicionário Aurélio (versão eletrônica, 2004), o significado geral de
prova nos diz ser “aquilo que serve para estabelecer uma verdade por verificação ou
demonstração”. Em nosso caso específico, nos interessa a prova em sentido mais
direcionado, ou seja, para a demonstração jurídica de um fato.

Então, se você for consultar um dicionário jurídico, encontrará assim:

Do latim proba, de probare (demonstrar, reconhecer, formar juízo de), entende-se,


assim no sentido jurídico, a denominação que se faz, pelos meios legais, da
existência ou veracidade de um fato material ou de um ato jurídico, em virtude da
qual se conclui por sua existência do fato ou do ato demonstrado.
A prova consiste, pois, na demonstração de existência ou da veracidade daquilo que
se alega como fundamento do direito que se defende ou que se contesta (PLÁCIDO
E SILVA, 2005, p. 1125).

No aspecto criminal, você, profissional de segurança pública, deve estar preocupado


com a busca incessante e célere da verdade real, coletando indícios e provas que possam ser
trazidos à investigação policial de forma clara e cristalina.

Refletindo sobre a questão


Neste prisma policial/criminal, o que deve se entender como prova?

Em poucas palavras, PROVAR é, antes de qualquer coisa, estabelecer a e xistência da


verdade; e as provas são os meios pelos quais se procura estabelecê-la.

O tema estudado neste material relaciona-se diretamente com a prova, ou melhor, são
sequenciais. Como assim sequenciais? Observe você. Ao realizar uma busca, seja ela
domiciliar ou pessoal, está procurando o quê? Nada mais nada menos que elementos que
interessam à investigação criminal, objetivando estabelecer um liame com o fato investigado,
ou seja, você busca, entre outros, verdade por intermédio da PROVA.
Não é objeto de estudo neste tema e por isso não seria viável discorrermos sobre a
PROVA em todos os seus aspectos. Por outro lado, a busca e a apreensão estão diretamente
relacionadas à PROVA MATERIAL.

1.2. A prova material

É o conjunto de meios probantes idôneos, manifestados na forma de evidências


periciais ou documentais, capazes de afirmar a existência positiva ou negativa de um fato
alegado.

Para se chegar ao esclarecimento de qualquer fato ocorrido, será preciso realizar


investigações a fim de reunir informações confiáveis para o esclarecimento da verdade. Isso
significa que se está buscando prova(s) daquele(s) fato(s) delituoso(s), que podem ser
objetivas (periciais ou documentais) ou subjetivas (testemunhos, confissões, etc.).

Essa prova objetiva é a que também conhecemos como prova material.

O que se entende doutrinariame nte por PROVA MATERIAL?

Preste atenção, pois na atividade de busca e apreensão interessa a prova material, tanto
a pericial quanto a docume ntal.
Importante!

PROVA MATERIAL é uma das classificações dos elementos de prova, entendendo-se que
quanto à forma pode ser, entre outras, MATERIAL, ou seja, aquela consistente em qualquer
materialidade que sirva de prova ao fato que venha sendo investigado, como o instrumento
utilizado na prática do crime e os exames periciais realizados nos vestígios coletados no
próprio local de crime.

Resumindo, PROVA MATERIAL é:

Todo vestígio visível e que ofereça a oportunidade de apossamento ou constatação,


sujeito ou não à realização de exames periciais, a depender da análise da cada caso.

Mas qual é a diferença entre a prova pe ricial e documental?

Ambas, como você já deve ter percebido, estão dentro do conjunto prova material.
Então, veja a definição de cada uma delas, com o foco no instituto da busca e apreensão.

A prova pericial pode ser entendida como os elementos materiais diretamente


relacionados à ação delituosa. De tais elementos, após processados pericialmente, obtém-se a
certeza científica ou não, da sua relação com o crime ou seu autor. Já a prova docume ntal é
aquela estruturada em um papel escrito ou registro eletrônico onde está demonstrado um fato.
Sua produção pode não estar vinculada especificamente à ação criminosa, mas com ela ter
algum tipo de relação, servindo para demonstrar fato alegado na investigação.

Veja dois exemplos que ilustram a questão.


Exemplo 1 – Em uma investigação de homicídio, a busca e apreensão podem resultar na
apreensão de um revólver, o qual, após periciado, comprova que foi utilizado para matar a
vitima. Trata-se, portanto, de uma prova pericial.

Exemplo 2 – Nesta mesma diligência, você poderá encontrar um contrato comercial, onde
existam obrigações assumidas pela pessoa investigada (objeto da busca) em relação à vítima.
Após a devida análise, poderá restar provado que tal relação comercial foi um dos motivos do
crime.

Antes de você discutir a definição geral de prova material, é necessário que


compreenda a resposta para o questionamento a seguir: Prova documental é prova científica?
Em sentido mais amplo, entende-se que sim, e esta afirmativa está baseada no próprio
significado vernacular do que seja documento.

O artigo 6° e seus incisos, no Código de Processo Penal (CPP) permite ao policial


investigador, sob a coordenação da autoridade policial, uma liberdade na procura da verdade
real, essencialmente se observarmos o inciso III onde se diz: “Todas as provas que servirem
para o esclarecimento do fato e suas circunstâncias...”.

Você deve observar que, mesmo não havendo restrição na busca da pro va, não se
admite a utilização de meios que atentem contra a moralidade e a dignidade da pessoa
humana, em face dos princípios constitucionais. A título de exemplo, cabe destacar que não se
admitem provas obtidas mediante tortura e aquelas por interceptação telefônica clandestina,
entre outras.

Importante!
É preciso destacar que nem todo crime deixa prova material, mas, se deixar vestígios,
é obrigatória a realização de exames periciais, conforme previsão do artigo 158 do CPP.
Agora, imagine um fato criminoso que veio a se consumar apenas com palavras
proferidas pelo autor do crime, como calúnia e difamação.

Quais os vestígios que podem ser apossados ou constatados mediante


a realização de exames periciais?

Obviamente que nenhum (desde que não tenha ocorrido gravação da voz). Entretanto,
por se tratar de um fato delituoso, a prova precisa ser buscada e, nestes casos, as testemunhas
presenciais narrarão ‘à autoridade policial o ocorrido. É o que se denomina de corpo de delito
indireto, ou seja, suprido por prova testemunhal devido à inexistência de vestígios a serem
periciados.

Aula 2 – Definição de busca e apreensão

2.1. Definições

Embora inseridos no mesmo capítulo do Código de Processo Penal, os termos são


diferenciados.

BUSCA é procura, revista ou pesquisa de pessoas, coisas ou mesmo rastros (vestígios) e


significa o movimento desencadeado pelos agentes do Estado para investigação, descoberta e
pesquisa de algo interessante para o processo penal, realizando-se em pessoas e lugares.

APREENSÃO corresponde ao apossamento, à detenção de coisas ou de pessoas, etc., sempre


determinada pela autoridade competente e é medida assecuratória que toma algo de alguém ou
de algum lugar, com a finalidade de produzir prova ou de preservar direitos, indicando,
portanto, o apossamento.
Em suma, pode-se afirmar que busca é a diligência destinada a encontrar a pessoa ou a
coisa que se procura; e a apreensão, tecnicamente falando, é a medida constritiva que a ela se
segue.

Por isso é que se afirma que, estando ausente na diligência a autoridade policial, os
policiais devem proceder à busca e à arrecadação (e não apreensão, no sentido técnico) dos
elementos de convicção, apresentando-os, em seguida, ao Delegado para as formalidades
legais.

2.2. Finalidades da busca e apreensão

A finalidade da busca é encontrar ou descobrir coisas que interessem à investigação,


ou seja, elementos capazes de tornar certos fatos e circunstâncias conhecidos para que, nesta
condição, sirvam de prova. A busca é meio idôneo para proceder à apreensão (coisas
possíveis de serem apossadas) ou à constatação (exemplo: coleta de impressões digitais).

2.3. Momentos para a realização da busca e apreensão

Vários são os momentos para a realização tanto da busca quanto da apre ensão. Veja...
Na fase preparatória de um procedimento policial ou judicial;
Durante a investigação policial, com ou sem inquérito;
Durante a instrução do processo judicial e ao longo da execução penal.

Ao receber a notícia de um crime, deve a autoridade policial, antes mesmo da


instauração do inquérito policial, verificar a procedência da informação, objetivando constatar
a sua materialidade, ou seja, a prova da existência do fato criminoso.
Refletindo sobre a questão!
Imagine você, ao receber a notícia de um homicídio, não ter condições mínimas de
constatar a existência do cadáver ou de outro vestígio a ele relacionado.
Obviamente, para que se inaugure uma investigação criminal sob o aspecto formal,
mediante inquérito policial, preliminarmente se faz necessária a constatação do fato
criminoso. No caso mencionado, a busca com conseq uente apreensão, até mesmo das provas
materiais, ocorrem em uma fase preparatória do procedimento policial.

Chama a atenção a possibilidade da realização da busca ao longo da execução penal,


ou seja, após a sentença penal. Entretanto, você, na condição de policial, em algumas
oportunidades a realiza sem a percepção de que aquela diligência se enquadra perfeitamente
nos ditames da busca e apreensão.

Exemplo
No cumprimento de um mandado de prisão decorrente de sentença penal ou no cumprimento
de mandado judicial que determine constatar se determinado condenado vem cumprindo com
as restrições de uma prisão domiciliar.

Aula 3 – Cadeia de custódia

3.1. Definição

Considerando o foco do tema do curso, você está diante do que seria a sequência de
proteção ou guarda dos elementos encontrados durante a execução de uma busca e
apreensão.

Então, como você já pode deduzir, a cadeia de custódia é:


A garantia de total proteção aos elementos encontrados e que terão um caminho a percorrer,
passando por manuseio de pessoas, análises, estudos, experimentações e demonstração-
apresentação até o ato final do processo criminal.

3.2. Finalidade da cadeia de custódia

A finalidade da cadeia de custódia é assegurar a idoneidade dos objetos e bens


apreendidos, a fim de evitar qualquer tipo de dúvida quanto à sua origem e caminho
percorrido durante a investigação criminal e o respectivo processo judicial.

Se não aconteceu com você, muito provavelmente já ouviu falar de fatos dessa
natureza, em que é levantada a suspeição sobre as condições de determinado objeto
apreendido ou sobre a própria certeza de ser aquele o material que de fato fora apreendido.
Assim, o valor probatório de um material será válido se não tiver sua origem e tramitação
questionada. Isso acarretará prejuízo para todo o processo como um todo.

Tudo isso se resolve com os cuidados minuciosos na guarda e proteção do material


apreendido, mediante o rigoroso controle de rotinas e registros formais da movimentação
sofrida durante todo o processo investigatório e judiciário.

Sugerimos como leitura complementar o tópico idoneidade dos vestígios contido no


livro “Perícia Criminal e Cível” (ESPINDULA, Alberi, 2009, p. 85), em que são discutidos
esses aspectos já durante o exame pericial no local do crime.

3.3. Sequência de proteção

A sequência de proteção envolve desde o momento da realização da busca até a


entrega formal do inquérito policial à justiça. Mas você deve ficar atento para as situações nas
quais o inquérito volte da justiça para novas diligências. Tenha muita atenção para conferir
detalhadamente as condições de acondicionamento e lacre dos materiais que o acompanham.
E tudo deve ser registrado em documentos.

Os procedimentos a seguir pressupõem a participação de peritos criminais integrando a


equipe. Caso contrário, as tarefas e procedimentos listados nessa aula deverão ficar sob a
responsabilidade da autoridade policial.

Procedime nto 1 – A busca deve ser efetuada num cômodo de cada vez (sem desmembrar
a equipe para atuar simultaneamente em outros ambientes), visando o completo controle
dos bens desde o exato momento em que forem encontrados. Não se preocupe com o
tempo. Essa é uma tarefa que deve ser feita sem pressa e com muito critério.

Procedime nto 2 – A autoridade policial que estiver coordenando a busca – de acordo com
o planejamento prévio – deverá colocar somente alguns policiais (em número suficiente
para tornar a busca eficiente, mas sem congestionar o ambiente examinado) nessa tarefa.
Os demais ficarão vigiando os outros ambientes.

Procedime nto 3 – No momento em que algum objeto for encontrado ou em que seja
evidente a sua descoberta, os peritos criminais deverão coordenar os registros da busca,
utilizando-se dos recursos e técnicas criminalísticas para o tratamento de vestígios em
locais de crime. Além disso, a autoridade policial deverá chamar a atenção das
testemunhas para observarem o local onde o objeto se encontra.

Procedime nto 4 – Encontrado o objeto, primeiramente analisar as suas condições,


visando conhecê- lo adequadamente, a fim de não comprometer qualquer informação ali
contida e que possa ser alterada com o simples manuseio incorreto. Neste contexto pode
haver inclusive alguma forma de camuflamento do objeto que seja importante registrar no
exame.
Procedime nto 5 – Fazer o registro do objeto no exato local onde foi encontrado,
descrevendo tudo e valendo-se de fotografias e medições – a chamada amarração – para,
só depois, começar a manuseá- lo.

Procedime nto 6 – Caso seja imprescindível, os peritos criminais devem estar preparados
para realizar alguns exames no próprio local, visando evitar eventuais perdas antes da sua
movimentação e recolhimento. Isso para evitar a possível perda de alguma informação ao
manusear o objeto.

Procedime nto 7 – Antes do recolhimento do objeto, fazer a sua respectiva identificação,


para constar do laudo pericial e do auto de apreensão.

Procedime nto 8 – Colocar o objeto em embalagem adequada (malote, caixa, saco


plástico, etc.) e lacrar a sua abertura, apondo a assinatura do perito criminal e/ou da
autoridade policial. Quando tiver lacre próprio, relacionar no laudo e no auto de apreensão
o respectivo número do lacre. Recomendamos ainda que o perito criminal ou o delegado
de polícia acrescente um sinal/marca própria como garantia adicional, constando essa
informação no laudo e no auto.

Procedime nto 9 – Quando se tratar de material sensível ao manuseio e transporte, tomar


os devidos cuidados para mantê-lo como foi encontrado.

Procedime nto 10 – Transportar o objeto para o Instituto de Criminalística se for


necessário algum exame pericial. Do contrário, levar diretamente para a delegacia de
polícia onde estão sendo coordenadas as investigações. Em se tratando de valores ou
qualquer outro material peculiar (p.ex.: substância entorpecente), a autoridade policial
deverá providenciar a guarda em local seguro ou dar a destinação adequada. P.ex.: Caso se
trate de dinheiro, providenciar o seu depósito bancário, sob a custódia do Estado, ou
colocar em um cofre seguro.
Procedime nto 11 – Quando o objeto chegar na Criminalística, o lacre somente poderá ser
rompido pelo perito criminal que examinará o referido objeto, ficando sob a sua
responsabilidade até o final dos exames e entrega do laudo pericial. Durante o período do

exame, nos momentos em que não estiver sob a sua guarda visual direta, é preciso que a
Instituição tenha formas operacionais de guarda desse objeto, a fim de manter a sua
idoneidade. Todas essas informações deverão constar no laudo pericial.

Procedime nto 12 – Se o objeto foi diretamente para a Delegacia ou para lugar


predeterminado em função das suas peculiaridades, a autoridade policial deverá tomar
todas as providências para mantê- lo lacrado. Somente quando necessário o objeto poderá
ser aberto, o que, para tanto, deve ser formalmente registrado. Após, voltar a lacrar
novamente. Também nesse caso, essas movimentações devem constar de algum
documento formal inserido no Inquérito, inclusive listando o nome de quem abriu e quem
manuseou tal objeto até o lacre seguinte.

Procedime nto 13 – Quando o objeto chegar na Delegacia, procedente do Instituto de


Criminalística, juntamente com o laudo pericial, somente poderá ser aberto na estrita
necessidade de algum exame. Não é preciso abrir para conferir o conteúdo, já que, estando
lacrado, a responsabilidade é do perito criminal até o momento em que for aberto, mesmo
que isso ocorra já no âmbito da Justiça. É bom lembrar que o rompimento do lacre sem
motivo justificado levanta suspeitas a priori sobre a idoneidade do objeto, além de
transferir a responsabilidade da guarda para quem o abriu.

Procedime nto 14 – No encaminhamento do Inquérito Policial ao Judiciário, ao relacionar


os materiais apreendidos, deverão ser registrados todos os procedimentos adotados para a
manutenção da cadeia de custódia e, ao final, informado que tais lacres só podem ser
abertos por autoridade devidamente habilitada para tal nos autos do processo.
Importante!

É importante lembrar a necessidade de seguir um rigoroso controle dos objetos apreendidos e


de registrar toda essa tramitação em documentos, de maneira a ser possível reconstituir – com
absoluta segurança – o caminho e manuseios que esses objetos sofreram ao longo do período
em que esteviveram em poder da polícia e da perícia.

Você conclui o módulo 1. A seguir você estudará os aspectos legais da atividade de busca
e apreensão.

Finalizando...

Prova material é todo vestígio visível e que ofereça a oportunidade de apossamento


ou constatação, sujeitos ou não a realização de exames periciais, a depender da
análise da cada caso.

Busca é a diligência destinada a encontrar a pessoa ou a coisa que se procura; e a


apreensão, tecnicamente falando, é a medida constritiva que a ela se segue.

A cadeia de custódia é a garantia de total proteção aos elementos encontrados e que


terão um caminho a percorrer, passando por manuseio de pessoas, análises,
estudos, experimentações e demonstração-apresentação até o ato final do processo
criminal.
Módulo 2 – Legislação

Apresentação do Módulo

Neste módulo você estudará os aspectos legais relacionados a busca e apreensão.

Objetivos do Módulo

Ao final do estudo deste módulo, você será capaz de:


- Identificar e analisar os aspectos legais pertinentes à questão;
- Examinar a Constituição Federal sobre a questão;
- Examinar o Código de Processo Penal sobre a questão;
- Enumerar outras normas legais.

Estrutura do Módulo

Este módulo está dividido nas seguintes aulas:

Aula 1 – Aspectos legais pertinentes à questão


Aula 2 – Constituição Federal
Aula 3 – Código de Processo Penal
Aula 4 – Outras normas legais

Aula 1 – Aspectos legais pertinentes à questão

Qualquer policial, conforme já orientado por seus professores nas Instituições de


Ensino de Segurança Pública que frequentaram quando da realização de seu curso de
formação profissional, deve ter a consciência da importância de seu papel na busca da verdade
real.
Nesse contexto, ao realizar uma busca, seja ela domiciliar ou pessoal, você,
profissional da área de segurança pública, tem que estar consciente de que aquela medida
restritiva de direitos, em um primeiro momento, é recebida com uma certa resistência
psicológica, natural em qualquer ser humano, embora não externada em condutas, ou seja, em
poucas palavras, ninguém gosta de sofrer uma ação policial.

Nessas circunstâncias, você deverá agir com equilíbrio, ponderação e bom senso, não
deixando que aquela irritação momentânea por parte do cidadão se transforme numa crise ou
em outro evento não desejado. Aliás, aí estão alguns dos atributos essenciais do profissional
de segurança pública, e que o diferem do cidadão comum. Nas situações adversas é que se
consegue demonstrar o preparo profissional recebido nas academias de polícia, logicamente
aliado à experiência.

Vocês já devem saber, como profissionais de segurança pública, que devem ter uma
precisão cirúrgica na realização da busca com consequente apreensão/constatação ou não das
provas.

Muitas das vezes, as investigações criminais demandam meses e até mesmo anos em
busca de elementos de convicção que estabeleçam o liame materialidade-autoria. Ocorre que,
no desencadeamento da busca – como no cumprimento de um mandado judicial a ser
realizado em uma residência – por ansiedade e afobação, muitos profissionais acabam
apreendendo/constatando provas materiais de forma incorreta, prejudicando, assim, a verdade
real.

Você se lembra dos procedimentos que devem ser adotados e que já foram abordados no
módulo 1?
Por esse motivo, você tem o dever de evitar aquilo que é chamado de
“questionamentos de ordem jurídica” quando se executa uma busca. Consciente de que a
presença policial incomoda e de que o cidadão na realidade apenas a “tolera”, por mero
imperativo legal, é importante lembrar que, por consequência, esse mesmo cidadão e seus

defensores/advogados estarão alerta no sentido de procurarem falhas de ordem legal,


objetivando, desta maneira, desconfigurar o que foi encontrado ou, no mínimo, colocar em
dúvida a diligência da forma como foi realizada.

Importante!
Paciência, perspicácia, transparência e, principalmente, obediência às leis com certeza
garantirão uma adequada e eficaz diligência policial de busca e apreensão, sem qualquer
transtorno ou questionamento.

A seguir, você estudará alguns temas, contidos nos documentos legais, de relevância
na aplicação da busca e apreensão.

2.1. Constituição federal

• Intimidade e vida privada

A Constituição Federal, 1 lei máxima do país, traça linhas gerais a serem aplicadas na
garantia do estado de direito.

Importante!
O legislador constituinte de 1988 teve muita preocupação na efetiva aplicabilidade dos
direitos e garantias individuais do cidadão, muitas vezes esquecidos no passado recente, daí
resultando seu reconhecimento como “constituição cidadã”.

1
Acesso a Constituição Republica Federativa do Brasil:
http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/Constituicao/Constitui%C3%A7ao.htm
Nesse aspecto, entre outros, a Carta Magna garantiu expressamente no inciso X do art. 5.º
2
a inviolabilidade da intimidade e da vida privada, assegurando, inclusive, o direito à
indenização por dano material ou moral decorrente de sua violação. A intimidade e a vida
privada estão diretamente relacionadas com o tema aqui estudado.

Em decorrência da garantia à privacidade, estabeleceu, expressamente, a


inviolabilidade do domicílio, preceituando que ninguém poderá nele entrar sem
consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar
socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial. Observa-se que, nos casos de mandado
judicial, o dispositivo restringiu o acesso ao domicílio da pessoa ao período diurno, o que não
ocorre nas demais hipóteses, que podem ser realizadas a qualquer hora.

A intimidade e a vida privada do cidadão compreendem fatos que somente sejam de


seu interesse, não estando acessíveis a terceiros, salvo nos casos em que sejam
disponibilizados espontaneamente.

Importante!
Lembre-se de que a intimidade também está diretamente relacionada com o corpo humano.
Na busca pessoal, como você verá mais adiante, a lei permite ao policial o toque na pessoa
que sofre a busca, entretanto, existem limites a serem observados.

• Casa e dia

Quantas vezes já não lhe veio ao pensamento, no seu cotidiano, principalmente na


execução de buscas domiciliares, o que na realidade significa casa e dia, mencionados na
Constituição Federal?

2
X - São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a
indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação
Reflita sobre a questão
Faça neste momento uma análise lógica do que pretendeu o legislador constituinte ao
inserir estas palavras no texto constitucional.

Casa
O conceito de casa é obtido da interpretação dos arts. 150 do CP e 246 do CPP. Sob o
nomen juris de violação de domicílio, o Código Penal, no art. 150, prevê e comina pena para
“quem entra ou permanece de forma clandestina ou astuciosa ou contra a vontade expressa
ou tácita de quem de direito, em casa alheia ou em suas dependências”.
Dia
O Ministro do Supremo Tribunal Federal, JOSÉ CELSO DE MELLO FILHO,
posicionou-se no sentido de que a expressão dia deve ser compreendida entre a aurora e o
crepúsculo (MORAES, Alexandre de. Direitos e Garantias Individuais, p. 34).

Convém aqui lembrar a lição de Magalhães Noronha:


Guarde-se também que o referido art. 150 fala em casa alheia ou suas
dependências. Consequentemente, domicílio é não apenas a casa onde a pessoa
desenvolve sua atividade, isto é, o edifício propriamente dito, mas também
outros lugares, como o carro do saltimbanco, a cabina de um carro, o quarto do
hotel, o escritório, etc., e dependências são lugares acessórios ou
complementares, como o jardim, o quintal, a garagem etc., não franqueadas ao
público (Curso de Direito Processual Penal).

Não se pode, dentro das garantias individuais previstas na Constituição Federal,


limitar a interpretação de casa a apenas as referências já então previstas no Código Penal e de
Processo Penal. O tema é muito mais amplo.

As garantias constitucionais da intimidade e da vida privada estão diretamente


relacionadas ao conceito de casa. A inviolabilidade do domicílio também.
Importante!
Por esse motivo, casa deve ser interpretada como sendo o local em que o indivíduo se
liberta para, muitas das vezes, sair das regras sociais de comportamento que lhe são impostas
imperceptivelmente, sem ter o receio de ser incomodado ou observado por qualquer outro.
É dentro de casa que o cidadão pode gritar livremente, ficar despido, deitar no chão,
“plantar bananeira”, etc., tudo em respeito à sua privacidade. Ou seja, em síntese, casa é
qualquer compartimento habitado, não acessível ao público.

Como muito bem acentuou Magalhães Noronha, as dependências são lugares


interligados a casa, entretanto não franqueadas ao público.

Exemplo:
O jardim de uma casa localizada em um condomínio fechado, em que não haja muros ou
grades que o separe da via pública, não pode ser considerado dependência da mesma, pois não
há intimidade ou vida privada a ser preservada. Da mesma forma, os arredores de um imóvel
localizado em uma propriedade rural, os estábulos, os depósitos de suprimentos, também não
são dependências da casa-sede ou da casa de colonos.

Por esse motivo, você, profissional da área de segurança pública, deve correlacionar
casa com intimidade. Faça sempre esse raciocínio e não terá dificuldade em definir o que é
casa no aspecto legal constitucional.

Por outro lado, quando do início da vigência da atual Constituição Federal, muito se
discutiu o que deveria ser entendido como dia.

Trata-se de assunto controvertido. Os juristas não chegaram ainda a um consenso,


havendo duas correntes distintas quanto ao conceito de dia:
Primeira corrente
A primeira delas entende que dia é o período compreendido entre 6h e 18h.

Segunda corrente
A segunda corrente defende a ideia de que dia é o período de tempo que medeia entre o nascer
e o pôr do sol.

Qual corrente está correta?

Ambas possuem críticos e defensores e, na prática, tanto uma como a outra sofrem
injunções ditadas ora pelo homem 3, ora pela natureza 4.

O que deve persistir, entretanto, é o bom senso, pois a lei não estabelece critérios nem
fixa horários. Contudo, deve ser salientado que o Ministro do Supremo Tribunal Federal,
JOSÉ CELSO DE MELLO FILHO, posicionou-se no sentido de que a expressão “dia” deve
ser compreendida entre a aurora e o crepúsculo. (MORAES, Alexandre de. Direitos e
Garantias Individuais, p. 34).

Importante!
O limite temporal impõe-se apenas para o início da busca. Iniciada a diligência durante
o dia, poderá estender-se pelo tempo necessário a sua conclusão.

A profissão de policial exige, na maioria das vezes, decisões rápidas e imediatas, não
permitindo consultas preliminares capazes de definir seus limites de atuação. O risco é algo
permanente no exercício de seu cargo. Não se trata somente do risco de vida, inerente à
atividade. O risco aqui mencionado é aquele que deve ser colocado à disposição da sociedade

3
a mudança de fusos horários e a decretação do chamado “horário de verão
4
os solstícios de verão e de inverno
na interpretação da norma jurídica, ou seja, você não pode ter o receio de agir em nome da
sociedade ao executar ações de natureza policial.

Por esse motivo vale aqui uma definição lógica e não doutrinária do conceito de dia.
Basta verificar que, se o legislador quisesse estabelecer horário fixo para a entrada na casa
com mandado judicial, assim teria explicitado. Dessa forma, dia e noite se contrapõem. O dia,
de forma geral, se inicia com a claridade natural e se encerra com sua ausência.

Refletindo sobre a questão


Mas e naquelas situações de tempo fechado, em que, por exemplo, ao meio dia, a claridade
não persiste?

Essas são situações excepcionais. Quando o legislador autorizou a realização de busca


domiciliar, mediante ordem judicial, somente durante o dia, quis também estabelecer que a
noite é o período em que normalmente o cidadão reserva para o seu descanso rotineiro e não
merece ser incomodado. Nessa linha, geralmente o trabalhador brasileiro – mesmo aqueles

que labutam nas áreas agrícolas, na pesca, etc. – exerce suas atividades entre 6h e 18h. Eis a
solução: BOM SENSO, como já dito anteriormente.

Bem, então, mesmo com ausência de claridade, às 16 horas você poderá iniciar a busca.

Finalmente, para que não pairem dúvidas a respeito, às vezes você pode ter ouvido de
algum outro colega “que o juiz expediu o mandado e autorizou, inclusive, a entrada no
domicílio, mesmo à noite”.
Atenção!
Você, como policial, somente poderá atender ordens emanadas de autoridades competentes e
que atendam os preceitos legais. Nesse caso específico, lembre-se de que a ordem judicial,
mesmo que documentada, fere a Constituição Federal, violando princípio fundamental e,
portanto, deve ser ignorada quanto ao aspecto noite.

2.2. Código de Processo Penal

O tema busca e apreensão mereceu destaque especial no Código de Processo Penal


(CPP), em um capítulo próprio, que disciplina em que situações são permitidas a busca e
apreensão e a forma de suas execuções, objetivando a busca da verdade real.

A seguir, serão reproduzidos os artigos do Código de Processo Penal, acrescidos de


comentários com o objetivo de auxiliá-lo em sua atividade profissional.

Texto do CPP – art. 240

Art. 240. A busca será domiciliar ou pessoal.

§ 1o Proceder-se-á à busca domiciliar, quando fundadas razões a autorizarem,


para:
a) prender criminosos;
b) apreender coisas achadas ou obtidas por meios criminosos;
c) apreender instrumentos de falsificação ou de contrafação e objetos
falsificados ou contrafeitos;
d) apreender armas e munições, instrumentos utilizados na prática de
crime ou destinados a fim delituoso;
e) descobrir objetos necessários à prova de infração ou à defesa do réu;
f) apreender cartas, abertas ou não, destinadas ao acusado ou em seu
poder, quando haja suspeita de que o conhecimento do seu conteúdo possa
ser útil à elucidação do fato;
g) apreender pessoas vítimas de crimes;
h) colher qualquer elemento de convicção.

§ 2o Proceder-se-á à busca pessoal quando houver fundada suspeita de que


alguém oculte consigo arma proibida ou objetos mencionados nas letras b a f e
letra h do parágrafo anterior.

Comentários sobre o art. 240

Art. 240, § 1º – domiciliar

O CPPB estabeleceu duas espécies ou modalidades de busca. A domiciliar é aquela


realizada na casa/domicílio, cujos conceito e aplicação já foram expostos anteriormente.

Art. 240, § 1º, alínea “h” – objeto da busca

Embora já citado, você deve lembrar que a busca domiciliar é perfeitamente cabível
para o possível encontro de “qualquer elemento de convicção”, o que lhe garante liberdade
na diligência.

Art. 240, § 1º, alínea “a” c/c art. 243, § 1º – prisão

Muito discutida no meio policial é a necessidade ou não de haver autorização judicial


específica que autorize a entrada na casa para o cumprimento de um mandado de prisão em
que está expresso o endereço residencial da pessoa contra quem será efetivada a medida
constritiva.

Refletindo sobre a questão


O que você pensa sobre isso?

Pois bem, você se recorda que, neste módulo, você já estudou sobre a necessidade de o
policial estar sempre atento a possíveis questionamentos de ordem jurídica sobre a sua ação?
O artigo 240, § 1º, alínea “a” diz que a busca domiciliar será procedida para
“prender criminosos”. Ainda o § 1º do artigo 243 ressalta: “Se houver ordem de prisão,
constará do próprio texto do mandado de busca”.

Estando de posse de uma ordem judicial de medida restritiva de liberdade de


locomoção, diga-se, um mandado de prisão, você deverá empreender esforços no sentido de
localizar a pessoa a ser presa e efetivar a medida. Normalmente, nos mandados de prisão
expedidos pela justiça está expresso o endereço da pessoa em que o juiz assim se pronuncia:
“Determino a autoridade policial ou seus agentes que prenda e recolha à cadeia pública local
fulano de tal, residente na rua/av. tal , ou onde for encontrado”.

Alguns policiais, equivocadamente, interpretam que as palavras “onde for encontrado”


lhe garantem acesso a qualquer lugar, independentemente de ordem específica. Da leitura dos
artigos 240, § 1º, alínea “a” e 243, § 1º, não resta dúvida de que para se prender alguém,
munido de ordem judicial, o policial, para entrar em qualquer casa/domicílio, ainda que o
endereço seja mencionado no mandado de prisão, necessita respeitar a inviolabilidade do
domicílio, expresso na Constituição Federal, e, portanto, necessita de uma ordem judicial
específica que o autorize a entrar naquela residência para cumprir o mandado de prisão. Ainda

assim, a entrada somente poderá ser realizada durante o dia, à exceção do morador consenti-la
durante a noite, caso em que se recomenda documentar a autorização de entrada e, se
possível, na presença de testemunhas.

Tratando-se de diligência (cumprimento de mandado de prisão) levada a efeito durante


a noite, inicialmente o morador também será intimado a apresentar quem se busca e, se a
ordem não for atendida, os executores deverão, então, vigiar e guardar todas as saídas do
imóvel, arrombando-se as portas e efetuando-se a prisão ao amanhecer (art. 293, CPP).
Cabe frisar que os policiais encarregados do caso terão que se certificar de que
efetivamente o procurado entrou, ou encontra-se, na casa investigada, bem como estar
munidos do Mandado de Busca e Apreensão de pessoa, além, obviamente, do Mandado de
Prisão.

Por esse motivo, orientam-se as autoridades policiais no sentido de, quando efetuarem
representações para a decretação da prisão de qualquer pessoa, também devem solicitar ao
juiz competente fazer constar no próprio Mandado de Prisão as ressalvas que autorizam a
entrada no imóvel do endereço indicado.

Art. 240, § 1º, alínea “f” – correspondências

Importante também observar que, a apreensão de “cartas, abertas ou não, destinadas


ao acusado ou em seu poder, quando haja suspeita de que o conhecimento do seu
conteúdo possa ser útil à elucidação do fato”, segundo a redação daquele mesmo artigo,
não teria sido recepcionada pela Constituição Federal de 1988 no entender de alguns autores
e, portanto, não se admitiria em hipótese alguma a violação do sigilo da correspondência.
Acreditar que esse sigilo é absoluto, não podendo ser acessado nem mesmo com ordem
judicial é, no mínimo, extremar a intimidade em prejuízo da coletividade. O sigilo deve ser
garantido; entretanto, deve ser interpretado com relatividade, e, fundamentadamente, ser
afastado para atender os interesses de ordem criminal.

O tema é polêmico, “havendo quem sustente, com base na relatividade das liberdades

públicas, a aplicação do princípio da proporcionalidade de modo a ser possível, em casos


graves, a violação do sigilo das correspondências” (CAPEZ, Fernando. Curso de Processo
Penal).

Contudo, a melhor orientação, especialmente para a atividade policial, em caso de


apreensão de correspondências fechadas quando no cumprimento de mandado de busca
domiciliar, é apreender tais documentos, não procedendo a imediata abertura, mantendo-os
preservados, para que, em seguida, a autoridade requeira, ao juízo competente, autorização
para sua abertura, em respeito aos princípios constitucionais vazados no art. 5º, X e XII, da
CF.

Tal orientação é aplicável também na hipótese de apreensão de objetos que sejam


utilizados para a recepção e guarda de arquivos magnéticos, tais como disquetes, CDs, DVDs,
pen drive, discos rígidos, etc.

Art. 240, § 2º c/c art. 244 - pessoal

A busca pessoal ou “revista” consiste na inspeção do corpo ou no âmbito de guarda


aderente ao corpo (vestimenta) de alguém que se suspeita esteja ocultando objetos ou
instrumentos de infração penal. Ela também é limitada por garantias constitucionais, uma vez
que importa restrição à liberdade individual, podendo-se cogitar eventual violação à
intimidade.

A medida pode ser realizada com ou sem mandado, a teor do art. 240, § 2º c/c o art.
244 do CPPB. Via de regra, na atividade policial, ela é efetuada sem mandado, pelo seguinte
permissivo legal, do próprio CPP:

Art. 244. A busca pessoal independerá de mandado, no caso de prisão ou


quando houver fundada suspeita de que a pessoa esteja na posse de arma
proibida ou de objetos ou papéis que constituam corpo de delito, ou quando a
medida for determinada no curso de busca domiciliar.

No entanto, da leitura acurada dos dispositivos acima mencionados, entende-se que é


admitida a busca pessoal com expedição de mandado. A diferença dessa modalidade para a
busca domiciliar com mandado reside no fato de que, para a busca pessoal, o mandado (no
caso de busca pessoal com mandado) não precisa ser necessariamente expedido por
autoridade judicial, podendo a autoridade policial expedi-lo. Tal entendimento é decorrente
da inteligência do dispositivo constitucional que exigiu ordem judicial somente para a busca
domiciliar, recepcionando, por exclusão, as normas do CPP, em matéria de busca pessoal.
Nos dias atuais não se tem utilizado a expedição de mandado de busca pessoal, mesmo porque
é difícil saber de antemão a identidade da pessoa a ser revistada.

Importante salientar que a “revista” é fundamental para a preservação da integridade


física dos policiais e do próprio “revistado”. A busca deve ser minuciosa e cautelosa, pois as
cavidades naturais do corpo se prestam para a ocultação de armas e drogas.

A lei processual exige “fundada suspeita” para autorizar a busca pessoal. Assim, não
havendo ao menos indícios a legitimar a atividade policial, a busca será considerada arbitrária
e, por consequência, ilegal.

O legislador, no tocante à busca pessoal realizada em mulher, determina: “será feita


por outra mulher, se não importar retardamento ou prejuízo da diligência” (art. 249 do CPP).
Assim, poderá um homem, havendo risco de prejuízo relevante e irreparável à diligência
policial, proceder à busca pessoal em mulher. Entretanto, tal medida deve ser adotada em
casos extremos, uma vez que constrangimentos podem surgir na realização da referida
medida.

Assim, como orientação prática, recomenda-se, sempre que for possível, à equipe que
realizará a diligência (busca domiciliar ou pessoal) ser integrada por, pelo menos, uma
policial.
Texto do CPP – Art. 241

Art. 241. Quando a própria autoridade policial ou judiciária não a realizar


pessoalmente, a busca domiciliar deverá ser precedida da expedição de
mandado.

Comentários sobre o art. 241

Art. 241 – necessidade do mandado

O texto desse artigo não mais se aplica em razão da promulgação da Constituição


Federal de 1988, excluindo, portanto, a autoridade policial como detentora de poderes para a
expedição de mandado de busca e apreensão domiciliar. Conforme já dito anteriormente,
somente a autoridade judiciária poderá expedir referido mandado. Raras as vezes, em que a
autoridade judiciária participa de uma diligência nesse sentido, cabendo salientar que se
estiver presente, o juiz tem o dever de se identificar ao morador e cumprir todo o rito exigido
por lei, e ainda respeitar o horário de entrada. A sua presença no local dispensa apenas o
documento “mandado de busca e apreensão”.

Texto CPP – Art. 242

Art. 242. A busca poderá ser determinada de ofício ou a requerimento de qualquer


das partes.
Comentários sobre o art. 242

Art. 242 – solicitação do mandado

O pedido de autorização judicial para a realização de busca domiciliar no âmbito


criminal é feito mediante representação fundamentada da autoridade policial ou do
representante do Ministério Público ao juiz competente. Aquele que representar deve expor os

motivos e os fins que ensejam a solicitação da expedição do mandado, não esquecendo de


indicar, o mais precisamente possível, o local em que será realizada a diligência e o nome do
respectivo proprietário ou morador.

Nada impede que o mandado de busca domiciliar seja expedido pela autoridade
judiciária sem a representação da autoridade policial ou do representante do Ministério
Público, ou seja, de ofício.

Algumas observações são pertinentes neste momento. Um estado de direito somente


será sedimentado em nosso país quando, entre outros fatores, houver respeito recíproco entre
as instituições, em que as limitações constitucionais de atuação devem ser observadas,
gerando com isso consequente fortalecimento das mesmas.

Dessa forma, observa-se em algumas oportunidades, instituições que operam


diretamente nos ramos do direito penal e processual penal, querendo de alguma forma
açambarcar as atribuições constitucionais de outras.

No que é pertinente a busca e apreensão, aqui estudadas, dois pontos fundamentais


devem ser lembrados e são essenciais na atividade policial-criminal. Primeiro, a busca pode
ter caráter preventivo; segundo, a busca pode ter caráter investigativo.
Quando se fala da busca em seu caráter preventivo, principalmente na busca pessoal,
todos os policiais, de qualquer dos órgãos de segurança pública previstos na Constituição
Federal, estão autorizados a realizá-la, independentemente de mandado, quando houver

fundadas suspeitas ou no curso de busca domiciliar. Quando você está trabalhando em uma
barreira/blitz e passa a efetuar buscas nas pessoas e nos veículos, está realizando-as em seu
caráter preventivo, embora em algumas situações resultem em prisão em flagrante delito.

Por outro lado, quando se fala da busca em seu caráter investigativo, em que se
procuram indícios ou provas da prática de um delito criminal e sua autoria, somente os
integrantes dos quadros das polícias judiciárias (civil ou federal) estão autorizados a requerê-

la, com exceção dos procedimentos de ordem militar, pois a investigação criminal a elas
pertence por força de mandamento constitucional. Obviamente que, na execução da busca
investigativa, a autoridade policial poderá contar com o auxílio de outras forças policiais,
entretanto, o comando será seu, até mesmo porque a presidência da investigação está sob sua
responsabilidade.

Embora o artigo 242 do CPP diga que a expedição do mandado poderá ser solicitada a
requerimento de qualquer das partes, torna-se de rara aplicação. Alguns doutrinadores
entendem, por força desse dispositivo, que o investigado, no seu interesse, poderá requerê-lo.
Na prática, quando ainda em fase de investigação, este requerimento é direcionado a
autoridade policial, a qual, sempre em busca da verdade real, analisará a sua conveniência e,
assim entendendo, representará ao juiz competente.

Texto do CPP - Art. 243


Art. 243. O mandado de busca deverá:
I – indicar, o mais precisamente possível, a casa em que será realizada a
diligência e o nome do respectivo proprietário ou morador; ou, no caso de
busca pessoal, o nome da pessoa que terá de sofrê-la ou os sinais que a
identifiquem;
II – mencionar o motivo e os fins da diligência;
III – ser subscrito pelo escrivão e assinado pela autoridade que o fizer expedir.
§ 1o Se houver ordem de prisão, constará do próprio texto do mandado de
busca.

§ 2o Não será permitida a apreensão de documento em poder do defensor


do acusado, salvo quando constituir elemento do corpo de delito.

Comentários sobre o Art. 243

Art. 243 – requisitos do mandado de busca


Ao representar pela expedição de um mandado de busca domiciliar, a autoridade
policial deverá expor os motivos e fundamentos que permitam aplicação da medida
excepcional e, ainda, indicar o mais precisamente possível a localização do imóvel, seu
proprietário ou morador, assim como o quer encontrar.

Os motivos serão expostos de acordo com os elementos já investigados e


comprovados, não cabendo a solicitação somente baseada em notícias anônimas. Uma vez
recebida, a notícia anônima deve ser esmiuçada para que possa buscar indicativos de sua
procedência e, sendo necessária, a depender de cada caso, a solicitação do mandado será
efetivada.

Ao indicar o imóvel, devido às particularidades de cada região do nosso país, a


autoridade policial deverá ser detalhista, ou seja, dirá não somente o logradouro, numeral,
bairro e cidade. Deverá, na medida do possível, descrevê-lo, indicando a cor e outras
características capazes de identificá-lo. Atualmente, algumas organizações policiais melhores
equipadas, têm incluído na representação a localização do imóvel com coordenadas
geográficas constatadas por GPS (Global Position System). E mais, a identificação do
proprietário ou morador traz maior credibilidade à representação, demonstrando que houve
uma investigação preliminar de todas as circunstâncias que envolvem os fatos investigados.
Você já se deparou com uma situação em que o número da residência constante no mandado
não é o mesmo do local em que se pretende realizar a busca? O que fazer nesse caso?

Ora, se no mandado judicial constar, por exemplo, o nome do morador ou responsável


ou da pessoa investigada, torna-se irrelevante a divergência do numeral e a busca deve ser
procedida. Nesse mesmo sentido, estando o imóvel vazio, mas havendo outras características

que permitam identificá-lo como sendo aquele em que se pretende realizar a busca, a
divergência do numeral também se torna insignificante.

Os mais cautelosos, desde que não haja prejuízo para a investigação, observando-se
sempre o princípio da oportunidade, normalmente retornam e solicitam a expedição de novo
mandado, já com os dados corrigidos. Não é a melhor saída, mas se você tiver de fazer isso,
adote as providencias para que os indícios e provas não desapareçam. Por outro lado, o
equívoco constatado quando da execução da busca demonstra que algo de errado ocorreu na
fase preliminar, a dos levantamentos iniciais, justificando-se apenas em situações de extrema
dificuldade de acesso ao local, até mesmo com risco aos policiais.

O mandado expedido deve conter o que se busca, ou seja, o que se pretende apreender;
por isso, a autoridade policial deverá expor ao juiz o que pretende obter com a diligência.
Deverá dizer se irá buscar documentos e quais, entorpecentes, armas, etc. Normalmente
orientam-se as autoridades policiais a inserirem em suas representações “e outros elementos
de convicção” relacionados com o crime investigado. Dessa forma o universo da busca torna-
se mais amplo.

Recepção do mandado judicial


Não seria necessário mencionar, eis que notório entre os policiais, mas o sigilo “é a
alma do negócio”.
Ao solicitar o mandado judicial de busca e apreensão, a autoridade policial deve tomar
a precaução necessária para manter o sigilo da investigação, tomando conhecimento apenas
aqueles que estão diretamente relacionados com os fatos investigados. Se necessário, deverá
até mesmo estabelecer o grau de sigilo do documento, atendendo seus limites.

Ao recebê-lo da justiça, também deverá atuar com discrição. Não se pode admitir que
esta ordem judicial seja recebida por um funcionário não integrante da carreira policial, sob

pena de ter o seu conteúdo veiculado, ainda que inconscientemente. Lembre-se de que você,
policial, tem uma doutrina diferente dos demais servidores e está preparado para manter o
sigilo e a compartimentação necessárias para o deslinde satisfatório da investigação.

Texto do CPP – Art. 243, § 2º

§ 2o Não será permitida a apreensão de documento em poder do defensor do


acusado, salvo quando constituir elemento do corpo de delito.

Comentários do Art. 243

Art. 243, § 2º - Apreensão de documentos em poder do advogado

O elemento de corpo de delito é tudo aquilo que esteja relacionado com o fato
criminoso e que possa de alguma forma comprovar sua materialidade, ou seja, a existência do
próprio crime, objetivando a busca da verdade real com o possível esclarecimento de autoria.

O advogado tem fundamental relevância na efetiva aplicação da justiça, entretanto,


não poderia este profissional prevalecer-se de alguma prerrogativa e se tornar insuscetível das
ações policiais, entre elas a de busca e apreensão.

Perceba que não é somente a condição profissional que lhe dá a garantia da não
apreensão do documento em seu poder. O advogado tem que estar na condição de defensor do
investigado/acusado para poder usufruí-la.
Existem situações em que o próprio defensor atua na condição de coautor ou partícipe
do crime que está sendo investigado. Em outras, se torna autor de crimes que decorrem da
ação criminosa de seu cliente, entre eles o de receptação (art. 180 do CPB) do produto do
crime e até mesmo de favorecimento real (art. 349 do CPB) e, nessas condições, não gozará,
em nenhuma hipótese, desse preceito legal.

Dúvidas surgirão no momento da execução da busca, para se saber se o documento


encontrado em poder do defensor é ou não resguardado pelo sigilo profissional. A
recomendação neste caso é para que se proceda à apreensão de forma a garantir o sigilo de seu
conteúdo, narrando no auto circunstanciado de busca o ocorrido, inclusive com os protestos
do defensor e, aguardar o posicionamento do juiz sobre a possibilidade do uso do documento
apreendido como prova obtida por meios lícitos. Dessa maneira, você, policial, não estará
cometendo qualquer abuso ou excesso; ao contrário, estará sendo zeloso na busca da verdade
real, cabendo ao judiciário a decisão final.

Você deve estar se perguntando: É possível a realização de buscas em escritório de


advocacia? Os ambientes específicos que estão sujeitos à busca e apreensão serão estudados
mais adiante, entretanto, neste momento, tenha certeza que sim.

Texto do CPP – Art 244

Art. 244. A busca pessoal independerá de mandado, no caso de prisão ou quando


houver fundada suspeita de que a pessoa esteja na posse de arma proibida ou de
objetos ou papéis que constituam corpo de delito, ou quando a medida for
determinada no curso de busca domiciliar.
Comentários art. 244

Artigo 244 – busca pessoal (complemento)

Você já estudou sobre a “fundada suspeita”, mas o que na realidade seria isso?

Você aprendeu na Academia de Polícia a analisar diuturnamente os ambientes em que


está presente, independentemente de estar ou não em seu horário de trabalho.

A observação do policial é muito mais aguçada que a do cidadão comum. O policial


observa os fatos de uma maneira mais completa e, aliando o seu aprendizado com a

experiência, é capaz de, muitas vezes, antever o seu acontecimento, suspeitando que aquela
circunstância é, no mínimo, estranha.

Quando você percebe que alguém possa, de alguma forma, por suas atitudes e
condutas em um ambiente específico, estar na iminência de cometer algum ilícito, não pense
duas vezes: aja com seriedade e rapidez. Neste caso, a sua perspicácia poderá evitar o
cometimento de algum crime, estando presente, sem sombra de dúvidas, a “fundada suspeita”.

O termo colocado em questão não encontra uma definição jurídica adequada e por
consequência, cabe a você defini-lo no caso concreto, sempre se utilizando do atributo do
BOM SENSO. Não tenha receios, acredite na sua percepção e, suspeitando, realize a busca
nos moldes legais.

Tema controvertido diz respeito às buscas em veículos. Mais adiante você estudará
sobre esse tema, mas, neste momento, já tenha ciência de que é possível a sua realização sem
mandado judicial, em casos específicos, sendo interpretada como busca pessoal. Por outro
lado, também há momentos em que o veículo está na condição de compartimento habitado,
em que deve ser respeitada a inviolabilidade do domicílio.
Texto CPP – Art. 245 a 250

Art. 245. As buscas domiciliares serão executadas de dia, salvo se o


morador consentir que se realizem à noite, e, antes de penetrarem na casa, os
executores mostrarão e lerão o mandado ao morador, ou a quem o represente,
intimando-o, em seguida, a abrir a porta.
§ 1o Se a própria autoridade der a busca, declarará previamente sua
qualidade e o objeto da diligência.
§ 2o Em caso de desobediência, será arrombada a porta e forçada a
entrada.
§ 3o Recalcitrando o morador, será permitido o emprego de força contra
coisas existentes no interior da casa, para o descobrimento do que se procura.

§ 4o Observar-se-á o disposto nos §§ 2o e 3o, quando ausentes os


moradores, devendo, neste caso, ser intimado a assistir à diligência qualquer
vizinho, se houver e estiver presente.
§ 5o Se é determinada a pessoa ou coisa que se vai procurar, o morador
será intimado a mostrá-la.
§ 6o Descoberta a pessoa ou coisa que se procura, será imediatamente
apreendida e posta sob custódia da autoridade ou de seus agentes.
§ 7o Finda a diligência, os executores lavrarão auto circunstanciado,
assinando-o com duas testemunhas presenciais, sem prejuízo do disposto no
§ 4o.

Art. 246. Aplicar-se-á também o disposto no artigo anterior, quando se


tiver de proceder a busca em compartimento habitado ou em aposento ocupado

de habitação coletiva ou em compartimento não aberto ao público, onde


alguém exercer profissão ou atividade.
Art. 247. Não sendo encontrada a pessoa ou coisa procurada, os motivos
da diligência serão comunicados a quem tiver sofrido a busca, se o requerer.
Art. 248. Em casa habitada, a busca será feita de modo que não moleste
os moradores mais do que o indispensável para o êxito da diligência.
Art. 249. A busca em mulher será feita por outra mulher, se não importar
retardamento ou prejuízo da diligência.
Art. 250. A autoridade ou seus agentes poderão penetrar no território de
jurisdição alheia, ainda que de outro Estado, quando, para o fim de apreensão,
forem no seguimento de pessoa ou coisa, devendo apresentar-se à competente
autoridade local, antes da diligência ou após, conforme a urgência desta.
§ 1o Entender-se-á que a autoridade ou seus agentes vão em seguimento
da pessoa ou coisa, quando:
a) tendo conhecimento direto de sua remoção ou transporte, a seguirem
sem interrupção, embora depois a percam de vista;
b) ainda que não a tenham avistado, mas sabendo, por informações
fidedignas ou circunstâncias indiciárias, que está sendo removida ou
transportada em determinada direção, forem ao seu encalço.
§ 2o Se as autoridades locais tiverem fundadas razões para duvidar da
legitimidade das pessoas que, nas referidas diligências, entrarem pelos seus

distritos, ou da legalidade dos mandados que apresentarem, poderão exigir as


provas dessa legitimidade, mas de modo que não se frustre a diligência.

Comentários dos arts. 245 a 250

Artigos 245 a 250 – execução da busca

Como deve ser realizada a busca domiciliar? Essa indagação compreende dois
significados, ou seja, quais as formalidades legais que devem ser observadas numa busca e
quais as atitudes operacionais a serem adotadas pelos policiais no curso de uma diligência
dessa natureza. Nesse momento, será abordado apenas o aspecto legal.

Para a validade da busca, devem ser cumpridas as regras do art. 245 do CPP,
obrigando a leitura, a apresentação do mandado e a intimação do ocupante do imóvel para
abrir a porta antes do início da busca. Há, contudo, situações em que esse procedimento
poderá importar em frustração da diligência ou excessivo risco aos executores. Nessas
situações, conforme será visto mais adiante, a leitura e a apresentação do mandado serão
feitas tão logo a situação esteja sob o controle dos policiais.

A lei autoriza, em caso de desobediência à intimação para a abertura da porta, o seu


arrombamento e a entrada forçada (art. 245, § 2º, CPPB). Discute-se se essa conduta poderia
caracterizar o crime de desobediência previsto no artigo 330 do CPB. Não se pode ter outra
interpretação, pois a ordem da abertura da porta está sendo determinada por um servidor
público e amparada por dispositivo legal. Você não pode neste momento demonstrar
insegurança, tem que fazer prevalecer o imperativo legal, entretanto, mais uma vez o BOM
SENSO deve acompanhá-lo.

Exemplo
Imagine, por exemplo, você chegar para efetuar uma busca domiciliar na cidade de
São Paulo/SP com uma viatura descaracterizada e os policiais não trajados ostensivamente? É
possível, em uma situação destas, que o morador ou o porteiro desconfie se tratar de um roubo
e, dessa forma, recusar-se a abrir a porta. Pergunta-se: Haverá desobediência no aspecto
criminal? Obviamente que não. Por isso, você deve avaliar cada caso e as suas circunstâncias
específicas.

Por outro lado, nessa mesma situação, você poderá arrombar a porta? Sem dúvida,
pois a não abertura espontânea irá trazer prejuízo à diligência. Uma vez dentro do imóvel e
com a situação sob controle, demonstre ao morador que você realmente é um policial e
prossiga lendo e apresentando a ordem judicial. Em seguida pergunte para que apresente onde
se encontra o objeto da busca descrito no mandado (caso especificado).
Sendo determinada a pessoa ou coisa que se procura, os executores deverão intimar o
morador a mostrá-la (art. 245, § 5º, CPP). No caso de entrada forçada, em virtude da ausência
dos moradores, o art. 245, § 4º do CPP determina que a diligência deverá ser assistida por
qualquer vizinho, se houver e estiver presente. Nessa hipótese, a autoridade adotará medida
para que o imóvel seja fechado e lacrado após a realização da busca que, recomenda-se que
seja assistida por duas testemunhas não policiais.
Perceba que a transparência da diligência é fator primordial para uma boa busca com
consequente apreensão. Você já deve ter ouvido falar que, infelizmente, alguns advogados
sempre questionam o trabalho realizado pelos policiais, fazendo inclusive afirmações de que o
que foi encontrado no local da busca é produto da ação tendenciosa da polícia que quer a
qualquer custo incriminar seu cliente. Por essas razões é recomendável, sempre que possível,
que as testemunhas convidadas a acompanhar a diligência não sejam policiais.

Na ausência de pessoas no interior do imóvel, não inicie a busca sem a presença de


vizinhos/testemunhas, sob pena de deixar dúvidas quanto ao que realmente foi encontrado.
Paciência é uma das chaves para o sucesso deste tipo de diligência. Contudo, haverá situações

em que você não terá possibilidades de encontrar nenhuma testemunha, como em áreas rurais
e/ou isoladas. Nesses casos, faca a busca assim mesmo, consignando essa circunstância no
auto respectivo.

Os policiais executores da busca deverão, por cautela, adotar providências para


resguardar os bens, valores e numerários existentes no local, e evitar constrangimentos
desnecessários aos moradores (art. 248 do CPP). É aconselhável que o morador ou pessoa por
ele indicada e testemunhas acompanhem os policiais em cada compartimento da casa onde for
realizada a busca, para evitar futuros questionamentos.

Neste particular, você já deve ter participado de alguma busca domiciliar em que o
morador e as testemunhas convidadas permanecem distantes dos policiais, às vezes até
mesmo fora dos limites da residência. Esse é um procedimento incorreto, já que devem
acompanhar as buscas passo a passo, para se ter a certeza do local e forma como o objeto foi
encontrado.
Mais uma vez lembre-se: NINGUÉM GOSTA DE SOFRER AS AÇÕES DA
POLÍCIA.

No caso de busca com consentimento do morador, é de todo conveniente que se colha


essa autorização por escrito, se possível na presença de testemunhas, para evitar futuras
alegações perante o Poder Judiciário de que a busca não foi espontaneamente autorizada.

Finalmente, após a realização da busca, será lavrado auto circunstanciado, mesmo


quando a diligência resultar negativa (art. 245, § 7º). Esclarecedora é a lição de Galdino
Siqueira:

Finda a diligência, farão os executores um auto de tudo quanto tiver sucedido,


no qual também descreverão as coisas, pessoas e lugares onde foram achadas, e
assinarão com duas testemunhas presenciais, que os mesmos oficiais de justiça
(agora também a autoridade policial) devem chamar logo que quiserem
principiar a diligência e execução, dando de tudo cópia às partes, se o pedirem.
Se a busca e apreensão forem feitas na presença do acusado, poderá este
rubricar os papéis apreendidos, e, se reconhecer os objetos apreendidos como
seus, será declarada no auto essa circunstância. Também neste auto mencionar-
se-ão as respostas que o acusado der quando perguntado sobre a procedência
das coisas apreendidas, a razão da posse, o uso a que se destinava.

Recomendação
Lembra-se da cadeia de custódia? Então leia o que diz o artigo 245 do CPP em seu § 6º:
“Descoberta a pessoa ou coisa que se procura, será imediatamente apreendida e posta sob
custódia da autoridade ou de seus agentes”.
Com relação às situações de flagrante delito, são pacíficas a doutrina e a
jurisprudência no entendimento de que a busca domiciliar pode ser realizada sem mandado,
mormente nas situações de crime permanente, como é o caso de manter em depósito ou
guardar substância entorpecente ou que determine dependência física ou psíquica, previsto no
art. 33 da Lei nº 11.343/06.

A esse respeito, assim se manifestou o Tribunal de Justiça de São Paulo: “Tratando-se


de infração de natureza permanente, como é previsto no art. 12 da Lei n° 6.369/76 (leia-se
agora em legislação atualizada: art. 33 da Lei nº 11.343/06), ininvocável é a tutela
constitucional da inviolabilidade do lar e falta de mandado para nela ingressar”. (RT
549/314-5).

Somente nas hipóteses de flagrante delito, desastre, para prestar socorro ou com
mandado judicial (durante o dia) se pode ingressar em casa sem o consentimento do morador.
Mesmo assim, e no caso de crime permanente, é imprescindível ter a certeza de que o delito
está sendo praticado naquele momento, não se justificando o ingresso no domicílio para a
realização de diligências complementares à prisão em flagrante ocorrida noutro lugar, nem
para averiguação de notitia criminis.

E se o mandado judicial tiver que ser cumprido em outra localidade? O que fazer?

Por dispositivo legal, a autoridade judiciária a quem a investigação está distribuída em


razão da competência, teria que expedir uma Carta Precatória à autoridade judiciária do local
da busca solicitando a expedição do mandado para cumprimento. Na prática, em raras
situações isso é realizado, até mesmo para que a diligência não seja frustrada em razão da
burocracia.

Nos dias atuais, o que se constata é o juiz do feito expedir o mandado a ser cumprido
em outro local fora de sua jurisdição. Quando isso ocorre, é de boa cautela que os policiais
executores do mandado procurem a autoridade judiciária do local da busca antes de efetivar a
medida, caso isso não traga prejuízo à diligência ou logo após, dependendo da urgência. De
qualquer forma, o juiz do local da busca deve ser comunicado, antes ou depois da diligência.

Os procedimentos operacionais para a realização de buscas serão estudados adiante,


em outro capítulo.

Aula 4 – Outras normas legais

A maioria das instituições de segurança pública do nosso país estabelecem regras


internas para o desenvolvimento operacional de suas atividades legais, logicamente se
coadunando com os dispositivos existentes na legislação pátria.

No tocante a busca e apreensão, a título exemplificativo, devido a repercussões das


recentes operações da Polícia Federal, em que algumas críticas surgiram quanto ao
cumprimento de mandados judiciais de busca e apreensão, o Ministro da Justiça editou as

portarias nº 1.287 5 e 1.288, de 30 de junho de 2005 6, disciplinando a matéria, determinando,


entre outros, que o Delegado de Polícia Federal comande a execução dos mandados de busca
e apreensão expedidos pelo Poder Judiciário. O descumprimento dessa previsão poderá
acarretar sanções de caráter administrativo, entretanto, sob o prisma processual penal não há
que se falar em qualquer nulidade do ato. É, no entanto, uma medida recomendável a de que a
autoridade policial se faça sempre presente nessas diligências, fato que também contribui para
eliminar um momento de transição da cadeia de custódia, qual seja, a transferência de
responsabilidade, entre o policial e a autoridade policial, sobre a guarda do bem arrecadado.

Sugestões vêm sendo encaminhadas à Secretaria Nacional de Segurança Pública


objetivando a tentativa de se disciplinar, em normativos internos das corporações policiais

5
http://expresso-noticia.jusbrasil.com.br/noticias/127362/portarias-do-ministerio-da-justica-tentam-disciplinar-
diligencias-da-pf-em-escritorios
6
http://www.legisweb.com.br/legislacao/?legislacao=500453
estaduais, uma padronização para o cumprimento dos Mandados Judiciais de Busca e
Apreensão. Este curso é um dos primeiros passos para atingirmos tal objetivo.

Saliente-se que, aliada a estas Portarias, a Polícia Federal já dispõe de uma Instrução
Normativa interna (IN 11/2001-DG/DPF 7) em que, em um dos tópicos, estão disciplinadas as
atividades de busca e apreensão. Veja a íntegra dessas portarias no material em anexo.

Finalizando...

Nesse módulo você estudou que:

 A casa deve ser interpretada como sendo o local em que o indivíduo se liberta
para, muitas das vezes, sair das regras sociais de comportamento que lhe são
impostas imperceptivelmente, sem ter o receio de ser incomodado ou
observado por qualquer outro. É dentro de casa que o cidadão pode gritar
livremente, ficar despido, deitar no chão, “plantar bananeira”, etc., tudo em
respeito à sua privacidade. Ou seja, em síntese, casa é qualquer compartimento
habitado, não acessível ao público.

 O limite temporal impõe-se apenas para o início da busca. Iniciada a diligência


durante o dia, poderá estender-se pelo tempo necessário a sua conclusão.

 O tema busca e apreensão mereceu destaque especial no Código de Processo


Penal (CPP), em um capítulo próprio, que disciplina em que situações são
permitidas a busca e apreensão e a forma de suas execuções, objetivando a
busca da verdade real.

 O CPPB estabeleceu duas espécies ou modalidades de busca. A domiciliar é


aquela realizada na casa/domicílio e a busca pessoal ou “revista”, que consiste
na inspeção do corpo ou no âmbito de guarda aderente ao corpo (vestimenta)

7
http://gceap.prpe.mpf.gov.br/folderpdf/instrucao-normativa-11-2001-dg-dpf.pdf/view
de alguém que se suspeita esteja ocultando objetos ou instrumentos de infração
penal. Ela também é limitada por garantias constitucionais, uma vez que
importa restrição à liberdade individual, podendo-se cogitar de eventual
violação à intimidade.

 A maioria das instituições de segurança pública do nosso país estabelecem


regras internas para o desenvolvimento operacional de suas atividades legais,
logicamente se coadunando com os dispositivos existentes na legislação pátria.
Módulo 3 – Aspectos técnicos dos locais de busca e apreensão

Apresentação do Módulo

Neste módulo você estudará os aspectos técnicos relacionados à atividade de busca e


apreensão.

Objetivos do Módulo

Ao final do estudo deste módulo, você será capaz de:


- Identificar os elementos básicos de busca e apreensão;
- Enumerar os passos da cadeia de custódia a partir da atividade de busca e
apreensão.

Estrutura do Módulo

Este módulo é composto das seguintes aulas:

Aula 1 – Elementos básicos da atividade de busca e apreensão


Aula 2 – Passos da cadeia de custódia a partir da atividade de busca e apreensão

Aula 1 – Eleme ntos básicos da atividade de busca e apreensão

Do ponto de vista pericial, torna-se necessário identificar os elementos básicos da


atividade de busca e apreensão inseridos no contexto geral da investigação, a saber:
1) Obter informações antecipadamente – Os peritos criminais deverão se inteirar
completamente das peculiaridades da busca e apreensão que será implementada
com a participação da Criminalística. Essa interação se dará pela participação de
reunião com a autoridade policial responsável e/ou por intermédio de outras
formas de troca de informações;

2) Checar o endereço – Checagem rigorosa do endereço, visando a garantia de que o


exame seja feito no local certo;

3) Descrever a área externa – Na chegada ao local, descrever em detalhes toda a área


externa e, se for pertinente e necessário, inclusive as vias de acesso. Como os
peritos criminais já sabem, a descrição do local será mais ou menos detalhada em
função do contexto geral do exame e da relevância que isso representa para o
resultado final;

4) Descrever a área interna – Outra necessidade é a descrição, também em detalhes


no grau da sua relevância, do ambiente interno onde está sendo realizada a busca;

5) Descrever os locais onde encontraram os objetos – Descrição pormenorizada dos


locais onde se encontrarem os objetos que serão apreendidos;

6) Analisar cada local individualmente – Para cada situação, os peritos criminais


deverão ter em mente que não existem dois locais iguais e, portanto, a análise
individual de cada um vai conduzi- los à identificação de outros elementos que
serão básicos e essenciais no contexto daquele exame.
Aula 2 – Passos da cadeia de custódia a partir da atividade de busca e apreensão

Você já estudou, no módulo 1, alguns pontos sobre a cadeia de custódia, lembra? A


seguir, serão enfatizados outros detalhes importantes no conjunto geral da investigação.

O que seriam, então, esses passos da cadeia de custódia?

Entre muitos outros dados que poderiam ser discutidos, serão enfatizados os
momentos de transição de responsabilidade dessa cadeia de custódia.

1º passo – Identificação correta e registro de onde foi encontrado


O primeiro passo na cadeia de custódia de qualquer material apreendido em uma busca
é a sua própria identificação correta, e mais: o registro do exato local onde foi encontrado. De
nada adianta assegurar os passos seguintes se estamos com um objeto ou bem em mãos que
pode gerar dúvida quanto a sua verdadeira individualidade e origem.

2º passo – Acondicionamento da embalage m correta e guarda com cuidado técnico

Como segundo passo pode ser caracterizado como o cuidado que os peritos criminais
ou a autoridade policial – quando não for necessário o exame pericial – devem ter em preparar
o acondicionamento na embalagem correta. Essa preocupação tem dois objetivos: o
acondicionamento em embalagem que propicie o seu completo isolamento, por intermédio de
lacres que garantam a inviolabilidade de seu conteúdo, e a guarda com cuidado técnico, para
que não se perca qualquer informação que possa ser extraída daquele bem ou material
apreendido.
3º passo – Guarda e necessidade de manuseio do material

No terceiro momento de transição da cadeia de custódia, você deve ficar atento para
duas situações:
Primeira, quando não há necessidade de exames periciais e o material
apreendido ficar na delegacia enquanto o inquérito não é concluído. Nesse
caso, a preocupação é manter o material devidamente lacrado em sua
embalagem e, simultaneamente, guardado em local apropriado e seguro. Se
houver necessidade de abrir o lacre para qualquer fim, somente a autoridade
policial é que deverá fazê-lo ou autorizar tal procedimento – tudo isso por ato
formal no inquérito – uma vez que ele é quem detém a responsabilidade pela
manutenção da cadeia de custódia.
A segunda situação é quando o material estiver sob a responsabilidade do
Instituto de Criminalística, para a realização de exames que vão de mandar
manuseio do material. Além dos controles de tramitação formal existentes no
órgão, o perito responsável deverá mencionar essas fases em seu laudo pericial.

Finalizando...

Nesse módulo você estudou que:

Os elementos básicos da atividade de busca e apreensão são: obter informações


antecipadamente; checar o endereço; descrever a área externa e a área interna;
descrever os locais onde encontraram os objetos e analisar cada local
individualmente.

A cadeia de custódia relacionada a Busca e Apreensão compreende os seguintes


passos: identificação correta e registro de onde foi encontrado;
acondicionamento da embalagem correta e guarda com cuidado técnico e
guarda e necessidade de manuseio do material
Módulo 4 – Peculiaridades de alguns tipos de locais de busca e apreensão, sob o ponto de
vista pericial

Apresentação do Módulo

Embora os assuntos tratados neste curso sejam de interesse de todos os policiais, neste
módulo você estudará mais detalhadamente sob o enfoque pericial.

Objetivos do Módulo

Ao final do estudo deste módulo, você será capaz de:


- Justificar a participação dos peritos criminais na atividade de busca e
apreensão;
- Identificar e descrever as peculiaridades de alguns tipos de locais sob o ponto
de vista pericial.

Estrutura do Módulo

Este módulo é composto pelas seguintes aulas:


Aula 1 – Participação dos peritos criminais na atividade de busca e apreensão
Aula 2 – Locais sob o ponto de vista pericial

Aula 1 – Participação dos peritos criminais na atividade de busca e apreensão

O engajamento da Criminalística nos locais de busca e apreensão pode ser de


fundamental importância para muitas situações, tendo em vista a necessidade de
conhecimentos específicos e especializados dos peritos nos objetos da referida investigação.
Caberá a autoridade policial encarregada da investigação analisar a necessidade ou não
do concurso dos peritos criminais, a fim de garantir o subsídio adequado ao inquérito e ao
processo, por especialistas no assunto, sobre a constatação, o registro, o
recolhimento/apreensão e a cadeia de custódia dos objetos encontrados nesses locais.
Também poderá ser vislumbrada pela autoridade policial uma possível necessidade de exames
periciais em objetos, ainda no local e antes de serem arrecadados para apreensão, caso que
também se justifica a necessidade da perícia. Sendo identificada uma ou mais dessas
necessidades, a autoridade policial deverá requisitar ao Instituto de Criminalística a
participação dos peritos criminais.

1.1. Constatação

Você já está habituado a ver e sabe que a técnica criminalística determina que num
exame pericial de local, os peritos criminais só podem considerar nos seus estudos e laudo
pericial aqueles vestígios que diretamente foram constatados (encontrados) pelos próprios
peritos. Os motivos técnicos para tal são vários e não cabe ser discutido neste curso. Você só
está estudando esse assunto para compreender a diferença para as situações de busca e
apreensão.

Nos casos de busca e apreensão, de um modo geral e com pouquíssimas exceções, a


procura e a constatação poderão ser feitas por toda a equipe de policiais e peritos, previamente
planejados.

É evidente que essa procura e constatação devem obedecer a um planejamento prévio


e técnicas pertinentes, visando a otimização dos esforços de cada um ali presente.

Outro aspecto imprescindível é que esse trabalho se limite até o momento da


constatação (o ato de encontrar, ou ter a quase certeza). Assim, se o escrivão de polícia
constatou a presença de um pequeno volume de pó branco sobre um armário, ele deve avisar o
perito criminal para que este tome as providências seguintes. Nos locais em que não tenha
perito, essa tarefa deve ficar a cargo do coordenador da operação, que tomará medidas
semelhantes.

Outro aspecto de caráter geral é que as buscas/constatações devem ocorrer somente em


um cômodo de cada vez, a fim de evitar o tumulto de vários policiais procurando
desordenadamente por todo o ambiente. O coordenador da operação deve deixar um policial
em cada compartimento apenas para vigiar o local e concentrar os demais em um único
cômodo fazendo as buscas. Quando terminar naquele cômodo, passa-se para o outro e assim
sucessivamente.

Na aula 2 você estudará que, para cada um desses locais, existem certas sensibilidades
e peculiaridades técnicas a que você precisa estar atento, requerendo dos peritos que vão
compor essa equipe de busca a especialização necessária aos eventuais exames que serão
feitos. Exemplo: a busca em computadores deverá ser um especialista em informática.

1.2. Exames comuns

Para qualquer um dos subitens específicos que você estudará adiante, existem certos
exames e observações que são comuns a todos. Em uns eles podem ter maior ou menor
relevância dentro do contexto geral dos exames, mas em todos os peritos devem assim
proceder, sempre de forma cautelosa e minuciosa.

Ende reço

Pode parecer corriqueiro, mas você, perito, sabe que ter a certeza absoluta sobre o
endereço é de fundamental importância. Em muitas situações pode parecer fácil conferir.
Todavia, você vai encontrar casos em que, somente as coordenadas geográficas, marcadas
através de um GPS, serão capazes de estabelecer essa garantia.
As razões de os peritos criminais buscarem essa certeza sobre o endereço parece óbvia
e dispensa maiores comentários.

Descrição da área

A descrição da área aqui mencionada inicia-se nos limites físicos do local em si e deve
se expandir até onde os peritos criminais entenderem – para o caso em questão – necessário.
Isso pode levar essa descrição de área até distâncias significativas, especialmente se exist irem
estradas, rios, matas, e outras topografias que possam ser relevantes para a investigação.

Dentro dessa área, você poderá encontrar inúmeras coisas, e é de conhecimento do


perito criminal que o maior ou menor grau de aprofundamento da descrição dependerá da
relevância de cada uma dessas coisas para os objetivos que se busca.

Mas coisas básicas, como dizer sobre a topografia do terreno, sobre a existência ou
não de iluminação artificial, sobre a existência de outras construções ou se nada existe de
edificação, sobre ruas, estradas, trilhas ou estações de trem ou metrô, rios, etc. devem constar
posteriormente do laudo pericial.

Você pode estar perguntando: Qual a necessidade ou importância de mencionar e


descrever tudo isso?

Em primeiro lugar, lembre-se do que você estudou sobre o grau de aprofundamento da


descrição, que vai depender do que se está buscando na investigação. Esta é uma das razões
para que os peritos criminais tomem conhecimento antecipado dos fatos, nas reuniões
promovidas pela autoridade policial com a equipe que vai atuar no local de busca e apreensão.
Importante!
A falta de uma reunião entre a autoridade policial e os peritos criminais não inviabiliza
qualquer trabalho no local de busca e apreensão, mas certamente tal providência é sempre
recomendada, se for possível. Todavia, vão existir várias circunstâncias que poderão
inviabilizar uma reunião prévia, como o sigilo de uma investigação, caso em que a maioria
dos componentes da operação só tomará conhecimento no momento do deslocamento ao(s)
local(is) determinado(s). Nesses casos, quando os peritos criminais chegarem ao local de
encontro para o desencadeamento da operação, devem conversar com a autoridade policial
que estiver coordenando os trabalhos e se informar de todos os dados necessários.

Em segundo, essa seleção do que será descrito, e até o próprio limite físico dessa área,
também vai depender das necessidades para a investigação. O importa nte é que você esteja
consciente de que a descrição da área adjacente ao local, em princípio, é sempre relevante.

Só para ilustrar o que você estudou, veja um exemplo:

Exemplo:
Você está diante de uma investigação de tráfico de drogas com uma morte a
esclarecer. Os policiais descobrem que uma casa na periferia da cidade – já em ambiente
rural – pode estar sendo utilizada como ponto de estoque dessa droga. Sobre a morte que está
sendo investigada, as únicas certezas até o momento são que a vítima pertencia à mesma
quadrilha de traficantes e que foi encontrada na margem de um rio, junto a materiais
orgânicos acumulados pela sua correnteza, em um ponto distante, aproximadamente, três
quilômetros da casa.
Comentário sobre o exemplo

Quando da busca e apreensão no referido imóvel, os peritos criminais, ao descreverem a área,


mencionam todas as características topográficas do local, inclusive uma pequena estrada de
chão que tinha início na zona urbana, passando pela lateral direita da casa e terminava j unto a
um rio, o qual tinha o deslocamento do seu curso de água no sentido norte – sul. Ainda na
descrição dessa estrada, observam os peritos que havia uma certa quantidade de marcas
recentes de pneumáticos no percurso entre a casa e o rio. No ponto do rio onde a estrada
terminava também constataram várias alterações recentes na encosta, característico de
atracamento de barcos pequenos.

Veja você que essa informação dos peritos criminais, sobre o uso da estrada por
veículos naquele trajeto é extremamente significativo, pois isso poderá ser comprovado com
mais investigações de que a droga chegava e saia naquela casa pelo rio, desencadeando, com
isso, novas investigações sobre os tipos de navegações que circulavam naquele rio, entre
outros dados.

Pode também ser o elo que faltava para fechar a dinâmica da morte que está sob
investigação. Supondo encontrar outros vestígios dentro da casa (tipo sangue da vítima) e
ponto de encontro do rio com a estrada (local de possível “desova” da vítima), os peritos
estarão trazendo para a investigação a certeza de que a morte ocorrera dentro da casa e, na
sequência, seus autores transportaram a vítima de carro – pela mencionada estrada – até o rio
e lá a jogaram na correnteza. O corpo deslocou-se com a força das águas até o ponto em que
foi encontrado.

Nesse exemplo ainda é possível mencionar muitas outras possibilidades de


aproveitamento de informações porventura ali existentes. Mas este é o seu desafio! Olhe esse
exemplo de maneira mais ampla, relacione-o com as demais informações do local em si e veja
o quanto de esclarecimento poderia tirar daí. Essa é a importância da investigação pericial, em
que tudo deve ser considerado e somente descartado quando tiver absoluta certeza do seu não
relacionamento ao fato, após exaustivos exames.

1.3. Descrição do local

Bem, agora sim você estudará sobre o local da busca propriamente dito. E, quando se
fala de local, isso envolve desde seus meios de acesso e fachada externa até a descrição
interna de cada cômodo do ambiente em questão.

Também cabe aqui o mesmo princípio. Os peritos criminais anotam – durante o exame
– todos os dados, a fim de embasar uma descrição do local no grau de aprofundamento que
cada um dos cômodos merece no contexto geral da investigação.

Partindo do geral ao particular, os peritos criminais deverão descrever as fachadas


externas do imóvel (se edifício, falar primeiro do prédio e seus acessos, para depois chegar ao
apartamento de interesse) e em seguida as suas vias normais de acesso.

Internamente, a descrição deve ser independente para cada um dos cômodos, de


maneira sistêmica e ordenada, de acordo com as recomendações técnicas criminalísticas a
esse respeito.

Então, agora é possível você estudar especificamente cada caso. Observe que será
chamada a atenção para coisas mais prováveis de serem encontradas nesses locais. Mas como
esse é um local onde os peritos criminais estarão trabalhando simultaneamente com outros
policiais, é importante que você saiba que em criminalística existem sempre duas situações
em relação ao que se poderá constatar:

1 – Os chamados vestígios prováveis de serem encontrados porque existe uma forte


probabilidade da sua existência; e,
2 – Aqueles de natureza inusitada ou improvável (tomando como referência o próprio
vestígio ou o tipo de ocorrência), em que você nunca terá a mínima possibilidade de prever a
sua existência no local.

Encontrar os vestígios prováveis é uma questão de esgotar os recursos da procura e


constatação corretamente. Todavia, para encontrar os improváveis é muito mais uma questão
de atitude profissional do que qualquer chance de previsibilidade. Para isso, você deve estar
plenamente consciente de que poderá, a qualquer momento da procura, constatar um objeto
(vestígio) que, mesmo parecendo nada ter a ver com o fato investigado, após ser analisado,
seja peça fundamental para o esclarecimento da investigação.

1.4. Encaminhame nto dos objetos apreendidos

Outro ponto importante é a responsabilidade da autoridade policial e as rotinas


operacionais e administrativas que devem existir nos órgãos da polícia e da perícia oficial,
visando garantir o trânsito dos objetos apreendidos.

Essas garantias se traduzem por normas de procedimentos previamente escritas e


aprovadas pela autoridade administrativa competente, para que qualquer funcionário que
manuseie um objeto oriundo de uma busca e apreensão seja plenamente identificado e faça os
encaminhamentos necessários de acordo com as orientações da autoridade policial no âmbito
das delegacias ou pelos peritos criminais no âmbito da criminalística.

Exemplo
O delegado, ao apreender um contrato de uma transação comercial, após embalar e
lacrar despachará no inquérito ou ordem de serviço que o referido contrato seja entregue em
algum outro setor da polícia. Certamente serão outros funcionários que farão essa tarefa, e
eles devem ter plena instrução de como fazer isso sem violar ou deixar qualquer dúvida sobre
o caminho que o documento vai percorrer até chegar em seu destino.
Da mesma forma, quando os peritos chegam ao Instituto de Criminalística com algum
objeto recolhido em local de busca e apreensão, já devidamente lacrado, darão os
encaminhamentos internos para que outros setores da criminalística façam os exames
especializados. Esse caminho também será feito por algum funcionário a partir de rotinas que
já devem estar previamente estabelecidas, visando garantir sempre o transito desse objeto sem
qualquer dúvida sobre o seu manuseio e/ou origem.

Em relação aos demais policiais envolvidos no processo de investigação (agentes,


escrivães, papiloscopistas, etc.), as mesmas regras são aplicáveis, de acordo com as suas
respectivas peculiaridades e atribuições.

Aula 2 – Locais sob o ponto de vista pericial

2.1. Locais de busca e apreensão de material de informática em ge ral

Para os locais que envolvam investigações a respeito de crimes relacionados com


informática, necessário se faz o concurso de peritos criminais especialistas neste assunto,
tendo em vista a fragilidade das informações e também pela facilidade que o infrator tem de
descaracterizar alguns dados, que podem ser vitais à investigação.

Você tem pleno conhecimento do quanto é fácil perder um arquivo que está sendo
manuseado no computador ao tentar acessar comandos inadvertidamente, tamanha é a
complexidade e variedade de opções que nos apresenta.

Quando se está investigando um crime em que a informática foi a ferramenta de


trabalho do infrator, mais sensível ainda se torna esse ambiente. Naturalmente, então, a você e
a todos os demais membros de uma equipe de busca, acarretará a necessidade de maior
cuidado e zelo no trato e manuseio dessas informações.
Basta que você desligue um computador de forma inadequada, durante uma busca,
para correr grande risco (desnecessário) de estar perdendo informações valiosas para o
esclarecimento do crime.

O ponto mais importante a ressaltar aqui é sobre essa sensibilidade, fragilidade e


vulnerabilidade das informações e, portanto, somente os peritos criminais é que devem
manuseá- los.

Quando não for possível o concurso de perito criminal diretamente na diligência de


busca e apreensão, a autoridade policial deverá – inclusive com peritos de outras localidades –
colher informações, por ocasião do planejamento, sobre esses riscos, visando coordenar com
eficiência a busca e apreensão e consequente preservação da cadeia de custódia das máquinas
e mídias apreendidas.

2.2. Locais de busca e apreensão, com suspeito no local

Os crimes informáticos, nas modalidades que envolvam a transmissão de dados pela


internet, se revestem de características peculiares quanto ao próprio local em si. Naturalmente
o infrator, por saber que está fazendo algo ilícito, tenta se esconder ao máximo, valendo-se de
triangulações nas comunicações. Ou seja, o infrator evita a transmissão d ireta dos dados para
o destino que ele deseja, mas o faz passando por vários outros locais (máquinas) em diversos
locais diferentes, que podem ser dentro do país ou fora dele.

Daí nasce outra característica desses crimes: são transnacionais e, portanto, a


investigação, para chegar até o ponto de fazer uma busca e apreensão, é porque tem
informações de todo esse caminho e parcerias feitas pelo infrator.
Disso decorre uma produção de prova – às vezes – em mais de um estado ou país,
onde os especialistas devem estar atentos quanto ao dia, hora exata e equipamentos a serem
apreendidos.

Tudo isso se torna ainda mais sensível se o suspeito se encontra no local. Os policiais
que farão a entrada de segurança e respectivo domínio do ambiente precisam ficar
extremamente vigilantes para as pessoas que estiverem próximas de computadores, pois um
simples teclar (os infratores – por serem também especialistas no assunto – previamente
preparam essas “bombas” de mascaramento) poderá acarretar a perda de uma série de
informações que estavam presentes naquele momento e que seriam valiosas para a
investigação.

Assim, nesses locais, os peritos criminais devem ser os profissionais a entrarem logo a
seguir do primeiro grupo de domínio, visando garantir a preservação das possíveis
informações que estejam armazenadas em meios magnéticos.

2.3. Crimes financeiros (lavage m de dinheiro, casas de câmbio, etc.)

Para esses locais, o recomendável é que os peritos criminais tenham formação em


ciências contábeis, a fim de facilitar o seu trabalho.

É um tipo de local que demandará muito tempo para procurar por todos os
documentos que venham a caracterizar tais ilícitos. Em princípio, qualquer crime dessa
natureza vai gerar as suas consequências (documentos = vestígios), em que a dificuldade
maior normalmente é encontrá- los, já que os infratores vão procurar ocultá-los ao máximo.
2.4. Lavagem de dinheiro

A lavagem de dinheiro pode gerar transações comerciais de fachada, na tentativa de


criar uma origem lícita para bens, direitos e valores provenientes de uma atividade criminosa,
podendo esse processo se repetir mais de uma vez e ter vinculações com outros estados ou
países.

O que se busca são os documentos dessas transações de fachada, até chegar na


primeira origem do dinheiro e provar a sua ilicitude. Essa procura e conseq uente seleção de
documentos demanda conhecimento contábil, financeiro e da investigação propriamente dita,
pois é muito provável que você encontre outros documentos que não estão relacionados aos
fatos criminosos e, portanto, não há qualquer necessidade de serem apreendidos.

Depois de reconhecido e identificado cada um desses documentos, os peritos criminais


devem também relacionar um por um, visando o correto registro no auto de apreensão a ser
feito pela autoridade policial.

2.5. Casas de câmbio

Em casas de câmbio busca-se normalmente por dinheiro (em moeda nacional e/ou
estrangeira) e documentos de possíveis registros de transações financeiras, tais como remessa
ilegal de dinheiro para o exterior.

Também você vai encontrar dificuldades na busca, pois seus infratores procurarão
esconder esse dinheiro ou documentos.

Os peritos criminais, além da experiência em exames de local, devem conhecer sobre


falsificação de moedas nacional e estrangeiras, especialmente o dólar americano e o euro.
Claro que no local é apenas um exame preliminar e, somente no interior do Instituto de
Criminalística é que os peritos irão examinar de fato tais moedas.

2.6. Crimes contra a vida

Uma busca com possíveis apreensões em locais de interesse da investigação de um


crime contra a vida é, ao mesmo tempo, mais fácil pelos conhecimentos já bastante
difundidos, e também complexos, em razão da multiplicidade de formas de que o crime pode
ocorrer.

Direcionando especialmente para os casos de homicídios, mesmo nas situações de


crime premeditado/planejado, a ação humana – por ser única – deixa consequências reativas
peculiares àquela pessoa. Ou seja, o ser humano age instintivamente e não consegue jamais
desfazer ou modificar todos os vestígios. Ao modificar ou eliminar algum estará – para fazer
isso – criando, automaticamente, outro.

Exemplo:
Alguém mata uma pessoa com um tiro de pistola. A cápsula vai ejetar e o agressor,
para não deixar aquele vestígio no local, se desloca até onde está a referida cápsula para
apanhá- la. De fato ele eliminou um vestígio, todavia deixou um outro também muito
importante, que é a marca do solado do seu tênis no solo, capaz de identificá-lo diretamente
como presente na cena do crime.

Então, como você pode ver, a principal peculiaridade nos locais de crimes contra a
vida é a multiplicidade de possibilidades que os peritos criminais poderão encontrar.
Também aqui o planejamento prévio é fundamental para se buscar com eficiência tudo q ue
possa ser encontrado naquele local de interesse da investigação.
2.7. Exercício ilegal da profissão

Como você sabe, qualquer profissão de nível superior tem atribuições que lhe são de
competência exclusiva. Assim, uma cirurgia só pode ser feita por um médico. O enfermeiro,
por mais que saiba fazê- la, em função do conhecimento prático, está proibido por força de lei.
Uma perícia contábil é atribuição exclusiva do bacharel em ciências contábeis, não podendo
fazê-la o economista. E assim sucessivamente.

Este é o fundamento do exercício ilegal da profissão. Uma investigação para provar


que alguém não habilitado legalmente esteja exercendo determinada atividade regulamentada
em lei.

Quando você for efetuar uma busca num local dessa natureza, a principal característica
é a existência de materiais, equipamentos e outros bens que estão diretamente relacionados ao
exercício daquela profissão. Num escritório de contabilidade vão encontrar um livro de
registro de entrada de mercadoria de algum cliente e coisas do gênero; num consultório
dentário, uma cadeira própria e diversos outros equipamentos peculiares a tal atividade.

Esses bens, documentos, objetos e equipamentos peculiares àquela profissão que


esteja sendo exercida ilegalmente é que vão interessar para provar o efetivo exercício ilegal da
mesma. Então esses são os objetos que deverão interessar aos peritos criminais e ao
coordenador da operação.

2.8. Jogos de azar

Você sabe que jogos de azar, realizados mediante a aposta remunerada, são proibidos
no Brasil e, portanto, o local onde são realizados interessa à investigação, e há certamente
muitas coisas a serem descobertas numa busca e apreensão.
Qual seria o objetivo central de uma busca e apreensão nesses locais?! Claro que seria
a comprovação da suspeita de que naquele local estejam se desenvolvendo jogos com apostas
remuneradas.

Então, a peculiaridade principal desses locais é a facilidade com que seus apostadores
podem modificar a situação e descaracterizar a existência de jogos. Por isso q ue a tomada de
um local desses é de fundamental relevância, onde deve atuar uma equipe de policias em
número suficiente para o seu domínio. Nesse caso, não tanto pela necessidade de segurança,
mas para manter intacto o ambiente e os meios de apostas sobre as mesas e balcões, visando o
imediato exame pelos peritos criminais.

Isso vai evitar que algum dos apostadores ou dos responsáveis pelo local modifiquem
ou misturem as cartas de um jogo, p.ex., uma vez que é preciso, logo na seq uência, que os
peritos criminais analisem cada mesa de aposta para caracterizar o tipo de jogo que ali se
desenvolvia e, segundo, que tipo de aposta, a partir de dinheiro porventura utilizado
diretamente, ou por intermédio de fichas previamente valoradas.

Quando for encontrada ficha como meio de pagamento das apostas, naturalmente a
equipe deverá saber que no local existe uma tesouraria e que também precisará ser periciada,
para levantamento de tudo que estiver em seu interior.

2.9. Constatação de drogas

Este é um local também muito conhecido de todos e você já sabe o que procurar, mas
a atenção maior está voltada para a localização das drogas no ambiente onde se desenvolve a
busca. Esta é a principal característica: a ocultação das drogas em embalagens camufladas e
que podem dificultar enormemente as buscas.
Esse é um local onde todos os integrantes da equipe devem ficar muito atentos para
essas camuflagens, procurando nos locais prováveis e improváveis.

É importante que, ao começar a examinar um local improvável, você tenha “olhos


atentos” em todas as coisas e, “desconfiando” que possa ter algo, chame os peritos criminais
para começarem a registrar, por meio de fotos e descrição, todo o processo de abertura
daquele ponto. Isso é muito importante constar do laudo, para q uaisquer dessas situações. Não
se esqueça das testemunhas!

Verificando a realidade
Em muitas academias de polícia existe exposição de embalagens utilizadas para acondicionar
drogas. Se tiver oportunidade, faça uma visita a um desses locais. Será muito didático para
ilustrar o que foi estudado sobre locais e embalagens improváveis.

Outro aspecto importante nesses locais é que a perícia faça um rigoroso registro do
exato local onde a droga foi encontrada, a fim de evitar qualquer dúvida sobre a origem dela e
possíveis descaracterizações na fase do contraditório do processo criminal.

2.10. Laboratórios de drogas

Atenção especial procure dar quando estiver diante de uma situação de busca e
apreensão em um local onde esteja funcionando algum laboratório de drogas clandestino.

Nesses locais, além de drogas já processadas e/ou embaladas para comércio, vários
outros objetos e produtos poderão estar presentes, como os reagentes químicos utilizados no
refino. A própria embalagem desses produtos é elemento de prova e você deve levar em
consideração. O local, com sistema de bancadas (mesmo que improvisadas) e equipamentos
utilizados no processo de produção da droga também são relevantes.
O exame em um local dessa natureza pode ser muito rico em objetos, instr umentos,
equipamentos e reagentes químicos. Por isso, torna-se importante a apreensão daquilo que for
possível e o que não for, ficar rigorosamente caracterizado pelo respectivo exame pericial,
visando agregar ao processo o máximo de informações sobre o local.

2.11. Crimes contra a fé pública

Sobre esse assunto existem vários tipos de falsificações e engodos que podem
caracterizar os crimes contra a fé pública, sendo os principais deles os documentos públicos e
a contrafação de moeda.

Os policiais necessitam conhecer com detalhes o tipo de fraude que costumam ocorrer
para saber o que procurar. Claro que deverão estudar a forma e o conteúdo normal desses
documentos, a fim de dominarem com segurança os conhecimentos necessários para essas
avaliações preliminares no próprio local, visando a apreensão somente dos documentos que
interessam à investigação.

Atenção: Outra peculiaridade comum nos crimes contra a fé pública é que essas
fraudes podem ocorrer tanto no endereço dos infratores como no órgão púb lico que
monopoliza o controle desses bens, como em cartórios, DETRANs, etc. Nesses casos a busca
deve ser simultânea.

2.12. Documentos cartorários sobre propriedade de imóveis

A execução de um mandado de busca e apreensão de documentos dessa natureza,


como você estudou anteriormente, pode ocorrer simultaneamente no endereço do infrator e no
cartório. Por isso, pode não ser tarefa fácil, tendo em vista a complexidade das atividades
desenvolvidas dentro de um cartório, uma vez que o mandado deve se restringir
exclusivamente ao que fora determinado pela autoridade judicial.
Assim, a principal característica desses locais está na complexidade- multiplicidade das
suas atividades relacionadas com a especificidade do mandado. Então, você, ao iniciar uma
busca, já deve saber o que procurar. E mais: saber também onde procurar, tendo em vista as
várias compartimentações e arquivos existentes em um cartório, estude previamente a rotina e
procedimentos do cartório ou investigue diretamente sobre essas rotinas.

Outra peculiaridade desse tipo de busca é que investigações de fraudes em cartórios


trazem forte probabilidade de que algum funcionário esteja envolvido. Portanto, a busca deve
identificar quem são os funcionários que trabalham em cada setor. Para isso, faça entrevistas e
peça informações na hora, verifique nos controles administrativos e também nos documentos
assinados ou rubricados em cada setor. Com o mapa de funcionários, ficará mais fácil depois
se a investigação vier a descobrir que existe um suspeito de dentro do cartório.

Os documentos que forem sendo selecionados para apreensão devem ser


rigorosamente identificados e relacionados em uma folha de controle, visando ter informações
para a confecção do auto de apreensão. Lembre-se de fazer a observação – na relação – se o
documento é em original ou em cópia, visando sempre a sua correta identificação e garantia
da cadeia de custódia a partir daquele momento.

2.13. Documentos produzidos para registro e controle de veículos

Esse é um tipo de crime que ocorre com relativa incidência e, portanto, pode gerar
muitos mandados de busca e apreensão. Vários são os documentos produzidos para
determinar a posse de um veículo e seus controles junto ao sistema de trânsito.

Também aqui a possibilidade é muito grande de que tais fraudes ocorram por
intermédio de quadrilhas organizadas com funcionários, a fim de fazer os registros
fraudulentos dentro do sistema.
Então, a grande peculiaridade dessa busca é que ela pode também ser feita no
endereço do infrator e no órgão de trânsito. Especialmente quando não se tem nada suspeito
dentro do órgão de trânsito, procure ficar muito atento na busca no endereço do infrator, pois
ali você poderá estar reunindo elementos para obter indícios de que um novo mandado deverá
ser solicitado para implementar nova busca dentro do órgão de trânsito. Nesse caso, analise o
grau de sigilo e da oportunidade e procure conseguir o mandado ainda enquanto se encontra
no endereço do infrator.

Ao executar uma busca no órgão de trânsito, tente ser o mais objetivo possível, no
sentido de procurar os documentos que realmente interessam a sua investigação, uma vez que
se trata de um local onde ficam armazenadas imensas quantidades de papéis e documentos.

É importante obter a relação dos funcionários por setor, a fim de que possa atribuir-
lhes eventuais responsabilidades.

2.14. Produção de moeda falsa

Busca e apreensão em local de produção de moeda falsa você pressupõe que vai
encontrar moeda falsa! É muito provável que sim, mas também muitos outros objetos poderão
ser encontrados, inclusive moeda idônea, petrechos utilizados, tais como papel, tintas,
produtos químicos para lavagem de outras cédulas autênticas de menor valor ou de circulação
inativa, fotolitos, programas de computador no disco rígido e em CDs/DVDs, impressoras,
assim como documentos que possam indicar compras de materiais correlacionados.

Além de caracterizar todos esses possíveis objetos e equipamentos no local, no exame


dos peritos criminais, é importante que procurem caracterizar também a linha de produção da
fabricação da moeda falsa.
Finalizando...
Caberá a autoridade policial encarregada da investigação analisar sobre a necessidade
ou não do concursos dos peritos criminais.
Para cada local de busca a apreensão há recomendações específicas a serem
observadas

Você chegou ao final deste primeiro curso de busca e apreensão, pelo qual você já
pode compreender que o assunto é bastante abrangente e requer dos profissionais de
segurança pública uma atenção especial para o cumprimento das suas regras e procedimentos,
tudo no interesse de que você se prepare adequadamente para executar satisfatoriamente uma
missão dessa natureza.

Mas, você deve ter notado que o estudo do tema ainda não foi completado. Você
estudou neste primeiro curso os fundamentos básicos, tanto os de natureza legal quanto
técnica; no entanto, fica nosso convite para que se matricule no segundo curso, onde todo o
assunto será esgotado e discutido com você.

No segundo curso você estudará assuntos sobre ambientes específicos e respectivas


peculiaridades, qualificação profissional e respectivo perfil dos servidores para o
desenvolvimento dessa missão. Ainda na segunda parte, você estudará sobre logística e
planejamento, comportamento profissional, trabalho proativo e instruções quanto aos
desdobramentos após a busca e apreensão.

Agora que terminou o curso, aproveite até a data das inscrições dos novos cursos para
revisar todo esse material, pois tudo isso será fundamental para dar continuidade nos assuntos
do segundo curso.
Referências Bibliográficas

ESPINDULA, Alberi. Perícia criminal e cível. 3ª. ed. Campinas: Millennium Editora,
2009.
DOREA, Luiz Eduardo Carvalho; STUMVOLL, Victor Paulo; QUINTELA, Victor.
Criminalística. 3ª. ed. Campinas: Millennium Editora, 2006.
SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico. 26ª. ed. Rio de Janeiro: Editora Forense,
2005.
AURELIO Buarque de Holanda Ferreira. Novo dicionário Aurélio da língua portuguesa.
Versão eletrônica (corresponde à 3ª. edição, 1ª. impressão). Editora Positivo. 2004.

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