Hiv
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Hiv
Autores
1
Paulo Roberto Abrão Ferreira
2
Simone de Barros Tenore
Publicação: Out-2005
Dentre homens que fazem sexo com homens (HSH), está ocorrendo uma queda na taxa de
transmissão (22,3% em 1993, 17% em 2000 e 14,9% em 2004); já para a população
heterossexual masculina ocorre o inverso, com aumento significativo (8% em 1993, 34,7% em
2000 e 42% em 2004). Para a população feminina, a via heterossexual é a única notificada de
transmissão sexual.
Com relação às vias sanguíneas de transmissão, também observamos uma queda nas taxas
de transmissão, tanto para usuários de drogas injetáveis (29,5% em 1993 e 13% em 2004 para
o sexo masculino e 22,2% em 1993 e 4,3% em 2004 para o sexo feminino), como para
hemofílicos (0,6% em 1993 e 0,1% em 2004) e para transfusão sanguínea (2,6% em 1993 e
0,5% em 2004).
O risco de transmissão aumenta com a prática de sexo anal, na presença de úlceras genitais e
quando o transmissor apresenta alta carga viral do HIV. A presença de doenças sexualmente
transmissíveis, relação sexual no período menstrual e ausência de circuncisão também são
fatores que aumentam a transmissão.
O evento inicial é a síndrome retroviral aguda, caracterizada por queda abrupta dos linfócitos T
CD4+, altos níveis de viremia, com disseminação do vírus e invasão de tecidos linfóides. Com
o desenvolvimento da resposta T citotóxica, a viremia cai até um ponto de equilíbrio e ocorre,
então, recuperação imunológica com soroconversão. Segue-se um período de latência clínica,
bastante variável, com lenta diminuição nos níveis de linfócitos T CD4+ e aumento gradual da
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viremia. Infecção crônica sintomática aparece quando os níveis de CD4+ caem até 200/mm e
pelo desenvolvimento de infecções oportunistas, neoplasias, síndrome consuptiva e
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Mestrado em Doenças Infecciosas e Parasitárias pela Universidade Federal de São Paulo – Escola
Paulista de Medicina; Médico preceptor dos residentes da Unidade Ambulatorial de Doenças Infecciosas e
Parasitárias – Hospital São Paulo-EPM/UNIFESP.
2
Mestrado em Doenças Infecciosas e Parasitárias pela Universidade Federal de São Paulo – Escola
Paulista de Medicina; Médico preceptor dos residentes da Unidade Ambulatorial de Doenças Infecciosas e
Parasitárias – Hospital São Paulo-EPM/UNIFESP.
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complicações neurológicas (síndrome demencial). Na ausência de intervenção terapêutica, a
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sobrevida mediana é de 3,7 anos (com CD4<200/mm ) e 1,3 anos após o desenvolvimento da
primeira complicação definidora de AIDS.
Testes de screening
Testes confirmatórios
• Western blot
O fluxograma para diagnóstico do HIV-1 em indivíduos acima de dois anos divide-se em três
etapas:
Etapa I
Etapa II
• Se EIA 2 reagente e IFI positiva: amostra HIV-1 positiva. Repetir a etapa I com nova
amostra.
• Se resultados discordantes entre EIA 2 e IFI: realizar Western blot (etapa III).
Etapa III
• Western blot positivo: amostra positiva para HIV-1. Repetir etapa 1 com nova amostra.
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7 - O que são testes rápidos? Quando estão indicados?
São testes imunoenzimáticos capazes de fornecer resultados em poucos minutos e que podem
ser realizados com a utilização de sangue total, soro, saliva ou urina, sem a necessidade de
utilização de equipamentos sofisticados. Apesar de apresentarem alta sensibilidade e
especificidade (superior a 95%), seu uso deve ser restrito a situações em que a disponibilidade
imediata do resultado é essencial para se determinar a conduta terapêutica, como em
acidentes ocupacionais, medicina de urgência e mulheres em trabalho de parto. Podem ser
usados para levantamentos de soroprevalência em estudos de campo.
• hemograma,
• bioquímica completa,
• PPD,
• radiografia de tórax,
Segundo a última revisão do CDC (Centers for Disease Control and Prevention, Atlanta-EUA,
1997), as seguintes condições clínicas são definidoras de AIDS:
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mucocutâneo, por mais de um Chagas
mês, ou visceral de qualquer
duração • Sarcoma de Kaposi
• Tuberculose extrapulmonar
A profilaxia de infecções oportunistas deve ser iniciada quando os níveis de linfócitos T CD4+
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caem a níveis inferiores a 200/mm .
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O risco de pneumocistose para pacientes com CD4 inferior a 100/mm é de 40% a 50% ao ano.
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A profilaxia deve ser instituída com CD4<200/mm e a primeira escolha é
sulfametozaxol/trimetoprim 400/80mg ou 800/160mg por dia. Essa medicação, nessas doses,
também atua como profilática para toxoplasmose.
Doença pelo complexo Micobacterium avium (MAC) deve ser prevenida quando os linfócitos T
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CD4+ estão inferiores a 50 céls/mm (risco de 20% a 40% sem profilaxia). A profilaxia é feita
com claritromicina 500 mg duas vezes ao dia, ou azitromicina 1.200 mg uma vez por semana.
Tuberculoses e doenças preveníveis por vacinas serão discutidas adiante. Não está
recomendada profilaxia primária para doença por citomegalovírus, criptococose e
histoplasmose.
Quando ocorre recuperação imunológica, com elevação nos níveis de linfócitos T CD4+, as
profilaxias e terapias supressivas para infecções oportunistas podem ser suspensas, desde que
o tratamento inicial tenha sido completado e na ausência de sinais e sintomas.
M. avium complex
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A profilaxia primária pode ser suspensa com níveis de CD4 superiores a 100 células/mm por
pelo menos três meses. Já para suspensão da terapia supressiva é necessário aguardar pelo
menos seis meses de recuperação imunológica. Re-introduzir com níveis de CD4+ inferiores a
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100 células/mm .
Toxoplasma gondii
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A profilaxia primária pode ser suspensa com níveis de CD4+ superiores a 200 células/mm por
pelo menos três meses. A terapia supressiva pode ser retirada também após seis meses de
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recuperação imunológica. Re-introduzir com níveis de CD4 inferiores a 200 células/mm .
Cryptococcus neoformans
A terapia supressiva pode ser suspensa com valores de linfócitos T CD4+ superiores a 100
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células/mm . Re-introduzir na queda de CD4 para menos de 100/mm .
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Citomegalovírus
A terapia supressiva da retinite por citomegalovírus pode ser suspensa quando os níveis de
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CD4+ forem superiores a 100 células/mm , durante pelo menos seis meses. Também re-
introduzir se houver queda do CD4+ posteriormente.
13 - Quais as vacinas indicadas para pacientes adultos com infecção pelo HIV?
A vacinação deve ser realizada, preferencialmente, com níveis de CD4+ superiores a 200
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células/mm , devido a melhor resposta vacinal. Caso a vacina tenha sido realizada com CD4
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inferior a 200 células/mm , ela deve ser repetida quando esses valores se elevarem
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(>200/mm ). Exceção para a vacina antiinfluenza que é realizada anualmente, independente do
CD4+.
• dT: como em qualquer população adulta, com reforço a cada dez anos.
14 - Quais vacinas são contra-indicadas para pacientes adultos com infecção pelo HIV?
As vacinas formuladas com vírus vivos (varicela, febre amarela, MMR, sarampo, etc.) são
contra-indicadas em indivíduos imunodeprimidos. Para seu uso deve ser avaliada a relação
risco/benefício por especialista de referência.
Atualmente, disponíveis e aprovadas para uso, temos quatro classes de drogas anti-HIV. Os
inibidores de transcriptase reversa análogos de nucleosídeos (ITRN), inibidores de
transcriptase reversa não análogos de nucleosídeos (ITRNN), inibidores da protease (IP) e
inibidores de fusão (IF).
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Os inibidores da protease atuam na enzima protease, que atua clivando polipeptídeos virais,
para a formação de proteínas do novo vírion. Sem as proteínas maduras o vírion não é formado
e não pode infectar novas células.
Os inibidores de fusão, que é a mais nova classe, agem impedindo a entrada do vírus na
célula.
A interrupção intermitente do tratamento (uso semana sim, semana não), com o objetivo de
reduzir os custos e os efeitos tóxicos, ainda é bastante controversa e só realizada em estudos
clínicos controlados.
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iniciaram o tratamento com contagem de CD4>350 células/mm (grupo que de qualquer modo
não precisaria de tratamento pelas recomendações atuais). Quando o CD4 chega a níveis
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inferiores a 300 células/mm , recomenda-se a re-introdução dos anti-retrovirais.
Além dos efeitos no curto prazo, como náuseas, vômitos, diarréia, cefaléia e epigastralgia, há
efeitos tóxicos potencialmente graves no longo prazo e que, inclusive, pesam bastante na
decisão de início precoce ou não da terapia antiretroviral.
Hiperlipidemia aparece, em geral, dois a três meses após o início do tratamento, podendo levar
a aterosclerose prematura e doença coronariana. Acidose láctica é um evento mais raro e pode
variar desde formas assintomáticas (maioria), até casos fatais. Resistência à insulina é comum
em pacientes em uso de inibidores de proteases e pode levar ao diabetes, em pacientes já
propensos à doença.
Osteopenia e osteoporose são possíveis complicações tardias do tratamento, porém ainda não
existem evidências claras de associação com determinados fármacos.
Do ponto de vista imunopatogênico, esta fase da infecção pelo HIV caracteriza-se pela taxa de
replicação viral elevada. Com o desenvolvimento da resposta imunológica, após algumas
semanas de infecção, a quantidade de partículas virais circulantes diminui de forma expressiva,
atingindo patamar bastante variável de paciente para paciente. Esse patamar de carga viral
atingido após o período de infecção aguda parece ter grande valor prognóstico quanto à
evolução para doença sintomática, o que tem motivado alguns pesquisadores a preconizarem
o tratamento anti-retroviral já na infecção aguda, com o objetivo de diminuir o risco de
adoecimento no futuro.
Outra justificativa para o tratamento precoce seria a preservação da resposta imune específica
contra o HIV, que é perdida muito rapidamente após a infecção aguda, mas parece ser mais
preservada nos indivíduos tratados precocemente, particularmente naqueles que recebem anti-
retrovirais antes da soroconversão completa.
Uma das causas mais freqüentes é a baixa adesão ao tratamento, devido à complexidade
posológica e aos efeitos colaterais. Para alguns medicamentos, a perda de uma única
dosagem pode levar à resistência. Outras causas menos comuns são farmacológicas, como
absorção deficiente, eliminação acelerada, penetração inadequada e interações com outros
fármacos, que podem levar à redução do nível sérico do anti-retroviral.
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22 - Quais os testes para detecção de resistência aos anti-retrovirais (ARV)?
Determinam a quantidade de droga necessária para inibir a replicação do HIV in vitro. Realiza-
se o cultivo do vírus, na presença de cada um dos ARV, em concentrações diferentes de
drogas, e os resultados são comparados com resultados obtidos de vírus selvagem.
Genotipagem
Vantagens:
• mais disponíveis;
Desvantagens:
Fenotipagem
Vantagens:
Desvantagens:
• mais complexos;
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24 - O que é resistência primária e secundária?
Resistência primária
Resistência secundária
Outras indicações, ainda controversas, seja por custos ou por falta de evidências claras, são na
infecção aguda pelo HIV e em pacientes com infecção crônica, virgens de tratamento.
A tuberculose associa-se a aumento na carga viral e progressão mais rápida da doença pelo
HIV.
O teste tuberculínico (PPD) deve ser realizado durante avaliação inicial do paciente HIV-
positivo, independente do seu estado clínico ou laboratorial. Nos indivíduos não-reatores, ele
deve ser repetido anualmente.
Pacientes com PPD maior que 5 mm, depois de excluída tuberculose ativa (pulmonar ou
extrapulmonar), devem receber isoniazida 300 mg/dia por seis meses, pois ela reduz o risco de
adoecimento por reativação endógena.
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Pacientes com CD4 entre 200 e 350 células/mm
• Reações graves: prednisona 1mg/kg/dia por uma a duas semanas, com posterior
redução gradual. Continuar o tratamento da tuberculose e HIV.
Considerando a população com infecção pelo HIV, estudos demonstraram uma prevalência de
co-infecção em 30% dos pacientes nos Estados Unidos, 33% na Europa, 13-84% no Brasil e
26% na Ásia. Importante ressaltar que a população mais susceptível à co-infecção é a de
usuários de drogas injetáveis e receptores de hemoderivados contaminados.
Com relação à influência do vírus da hepatite C na doença pelo HIV isto já está bem
estabelecido na literatura, com pior evolução da primeira na co-infecção. A doença pelo HCV é
acelerada na co-infecção HIV-HCV, com menor tempo para o desenvolvimento de cirrose,
carcinoma hepatocelular e cargas virais do HCV significativamente mais elevadas se
comparadas com HCV mono-infecção. Existe ainda maior risco de transmissão sexual do HCV
na co-infecção HIV-HCV versus HCV isolado. Nota-se também maior risco de transmissão
materno-infantil, pelo mesmo motivo.
Os dados sobre os efeitos do HCV no HIV ainda são contraditórios, com estudos demonstrando
não haver efeito, e outro evidenciando discreto aumento na progressão da doença. Importante
ressaltar que, pelo maior risco de hepatotoxicidade dos anti-retrovirais nos indivíduos com
doença hepática, muitas vezes o tratamento do HIV deve ser analisado com cuidado.
Todos os pacientes co-infectados HIV/HCV devem ser orientados a se abster de álcool, ser
informados sobre os métodos de prevenção da transmissão das duas infecções, receber
vacinas contra hepatite B e hepatite A, se susceptíveis, e, finalmente, serem avaliados quanto à
gravidade da doença do HCV e à possibilidade de tratamento.
Assim como na co-infecção HIV/HCV, pacientes com infecção pelo vírus da hepatite B e HIV
evoluem desfavoravelmente do ponto de vista da doença hepática. Pacientes com HIV têm
maiores índices de infecção crônica pelo HBV após a infecção aguda. Apresentam também
níveis mais elevados do DNA do HBV e conseqüentemente maior risco de doença hepática
associada ao vírus B, visto que, o risco de complicações hepáticas está associado à replicação
viral.
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Não está claro se o HBV acelera ou não o curso da doença pelo HIV, porém, com certeza,
aumenta a hepatotoxicidade relacionada ao tratamento anti-retroviral.
Os pacientes devem ser orientados a se abster do uso excessivo de álcool, receber vacinação
contra hepatite A e avaliação da necessidade de tratamento para hepatite B.
Recomenda-se que todos os pacientes HIV positivos sem marcadores de hepatite B recebam
vacina contra esta doença. A soroconversão deve ser cuidadosamente acompanhada, visto a
menor eficácia da vacina nesta população.
Um estudo retrospectivo, caso controle, do CDC sobre lesão por agulhas de fontes infectadas
pelo HIV, identificou como principais fatores de risco para transmissão: lesão profunda, sangue
visível no dispositivo, agulha previamente em veia ou artéria do paciente, fonte com alta carga
viral. A profilaxia com AZT demonstrou ser um fator protetor neste estudo.
O profissional deverá ser acompanhado por seis meses após o acidente. Sorologias para HIV,
hepatite B e C devem ser realizadas no momento da exposição, com seis semanas, três meses
e seis meses. O profissional deverá ser orientado a fazer uso de preservativos nas relações
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sexuais e considerar a suspensão do aleitamento materno durante o tratamento anti-retroviral,
além de não doar sangue até o final do acompanhamento.
40 - Deve-se realizar a profilaxia em parceiro(a) de indivíduo com infecção pelo HIV após
exposição sexual?
41 - Literatura recomendada
Alberti A, Clumeck N, Collins S et al. (The ECC Jury). Short statement of the first European
Consensus Conference on the treatment of chronic hepatitis B and C in HIV co-infected
patients. J. Hepatology 2005;42:615–624.
Benson CA, Kaplan JE, Msur H, Pau A, Holmes KK. Treating opportunistic infections among
HIV-infected adults and adolescents: Recommendations from CDC, the National Institutes of
Health, and the HIV Medicine Association/Infectious Diseases Society of America. Clinical
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Bonacinia M, Louieb S, Bzowejd N, Wohlc AR. Survival in patients with HIV infection and viral
hepatitis B or C: a cohort study. AIDS 2004,18:2039-2045.
Currier JS, Havlir DV. Complications of HIV disease and antiretroviral therapy. Topics in HIV
Medicine International AIDS Society–USA 2004;12(1).
Deeks SG, Grant RM, Wrin T et al. Persistence of drug-resistant HIV-1 after a structured
treatment interruption and its impact on treatment response. AIDS 2003;17:361-70.
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Guidelines for the use of antiretroviral agents in HIV-1-infected adults and adolescents. April 7,
2005 . http://AIDSinfo.nih.gov .
Jevtovic DJ, Salemovic D, Ranin J, Pesic I et al. The prevalence and risk of immune restoration
disease in HIV-infected patients treated with highly active antiretroviral therapy. HIV Medicine
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