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O Ensino de Ciências e A Educação Inclusiva Nos Anos Iniciais: Práticas Pedagógicas A Partir Do Planejamento Cooperativo

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O ensino de Ciências e a Educação

Inclusiva nos anos iniciais:


práticas pedagógicas a partir do
Planejamento Cooperativo

Juliana Hartleben da Costa

Orientador: João Alberto da Silva

Rio Grande
2014
1

Juliana Hartleben da Costa

O ensino de Ciências e a Educação Inclusiva nos anos iniciais: práticas


pedagógicas a partir do Planejamento Cooperativo

Dissertação apresentada ao Programa de


Pós-Graduação em Educação em
Ciências: Química da Vida e Saúde, da
Universidade Federal do Rio Grande-
FURG, como requisito parcial à obtenção
do título de Mestre em Educação em
Ciências, sob a orientação do Prof. Dr.
João Alberto da Silva.

Rio Grande
2014
C837e Costa, Juliana Hartleben da.
O ensino de Ciências e a Educação Inclusiva nos anos iniciais:
práticas pedagógicas a partir do planejamento cooperativo / Juliana
Hartleben da Costa. – 2015.
110 f.

Dissertação (mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande –


FURG, Programa de Pós-graduação em Educação em Ciências:
Química da vida e Saúde, Rio Grande/RS, 2015.
Orientador: Dr. João Alberto da Silva.

1. Educação Inclusiva 2. Necessidades educacionais especiais


3. Ensino de Ciências 4. Anos iniciais I. Silva, João Alberto da
II. Título.

CDU 376:373.3

Catalogação na Fonte: Bibliotecário Me. João Paulo Borges da Silveira CRB 10/2130
2

Juliana Hartleben da Costa

O ensino de Ciências e a Educação Inclusiva nos anos iniciais: práticas


pedagógicas a partir do Planejamento Cooperativo

Dissertação apresentada como requisito parcial à obtenção do título de Mestre


em Educação em Ciências, pelo Programa de Pós-Graduação em Educação
em Ciências: Química da Vida e Saúde, da Universidade Federal do Rio
Grande-FURG.

Banca Examinadora:

Prof. Dr. João Alberto da Silva – Universidade Federal do Rio Grande-FURG


(Orientador)
Prof. Dr. Fernanda Antoniolo Hammes de Carvalho- Universidade Federal do
Rio Grande –FURG
Prof. Dr. Rita de Cássia Morem Cóssio Rodrigues – Universidade Federal de
Pelotas – UFPel.

Rio Grande
2014
3

A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar,


não seremos capazes de resolver os problemas causados
pela forma como nos acostumamos a ver o mundo (Albert Einstein)
4

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho as pessoas que mais amo


nesta vida e estão sempre presentes ao meu lado
me oportunizando os melhores momentos,

Meu amor Guilherme


e
Meus pais Lourdes e Edegar
5

AGRADECIMENTOS
À Deus, por me fazer forte nos momentos de fraqueza, iluminando os
meus caminhos e me fortalecendo com força e fé para superar todos os
obstáculos.
Ao meu Amor Guilherme, parceiro e amigo para todos os momentos, sou
muito grata a ele pela ajuda e confiança em todas as etapas da nossa vida. E
que apesar de todas as turbulências deste ano que passou, estamos juntos
para o que der e vier, TE AMO!
Aos meus pais Lourdes e Edegar, aproveito para pedir desculpas pelos
momentos em que não pude estar mais presente e agradeço o apoio, os
ensinamentos e oportunidades que me proporcionaram até hoje, tenho muito
orgulho de ser filha de vocês, obrigada por tudo!
Aos meus queridos e amados avós e avôs que aqui não se encontram
mais, porém me guiam e são meus protetores.
À uma amiga muito querida que também não se encontra mais entre
nós, que brevemente passou em nossas vidas, mas que deixou muitos
aprendizados e um carinho muito especial.
Ao meu orientador, Profº. Dr. João Alberto, pelos ensinamentos e
carinho dedicados a mim e ao meu projeto, no qual abraçou desde o início, o
desafio de trabalhar com a inclusão, de forma muito competente. Agradeço por
tudo!
As professoras participantes da banca de qualificação Profª. Drª. Soraia
Napoleão Freitas e Profª. Drª.Fernanda Antoniolo Hammes de Carvalho por
terem aceito em compor a banca e agregar as suas considerações valiosas ao
trabalho.
À Profª. Drª. Rita de Cássia Morrem Cossio Rodriguez que em 2009 me
apresentou a Educação Inclusiva, e desde então compartilhamos os anseios de
uma educação de qualidade para todos.
Agradeço à todos os colegas do Núcleo de Estudos em Epistemologia e
Educação em Ciências (NUEPEC/FURG) pelas trocas de conhecimentos e
pela acolhida. Em especial, agradeço ao colega Fabricio Ayres pela dedicação
e parceria neste trabalho, sempre solícito e com os seus “pensando bem, Jú”,
nos colocando em conversas bem produtivas.
6

Aos professores participantes desta pesquisa, agradeço pela


colaboração e o tempo disponibilizado em todas as etapas de coleta de dados.
Agradeço também as turmas nas quais eu observei as práticas. Assim como,
agradeço as Escolas desses professores que nos abriram as portas e
contribuíram com o trabalho.
Agradeço à Universidade Federal do Rio Grande (FURG) e a CAPES,
pela concessão da bolsa de estudo, que possibilitou minha dedicação ao
mestrado.
Enfim, a todos deixo o meu carinho e o meu muito obrigada!
7

RESUMO

O contexto educacional vivenciado hoje se defronta com debates significativos


sobre a inclusão de alunos com Necessidades Educacionais Especiais. Desta
forma, o presente trabalho tem como objetivo investigar como as atividades de
Planejamento Cooperativo com professores dos anos iniciais contribuem para
propiciar práticas pedagógicas no ensino de Ciências inerentes ao processo de
inclusão de alunos com Necessidades Educacionais Especiais. Assim, quanto
à perspectiva metodológica, esta pesquisa foi de cunho qualitativo e realizada a
partir de uma investigação- ação coletiva no campo da educação inclusiva e do
Ensino de Ciências dos anos iniciais realizada na modalidade em consórcio. Os
participantes da pesquisa foram seis professores dos anos iniciais que
trabalham em quatro escolas da rede municipal da Cidade de Rio Grande, RS,
Brasil. Desta forma, foi legitimada através de quatro métodos de coleta de
dados: mapeamento (grupo focal e observação), Planejamento Cooperativo,
observação das práticas pedagógicas e reflexão dos professores.
Posteriormente os dados foram analisados pela técnica da Análise de
Conteúdo do qual emergiram duas categorias sendo a primeira, Fundamentos
e Concepções dos Professores sobre a Inclusão de alunos com Necessidades
Educacionais Especiais no Ensino de Ciências e a segunda As Práticas
Pedagógicas dos Professores no Ensino de Ciências: Recursos Didáticos,
Estratégias e a Avaliação. A partir das atividades de Planejamento Cooperativo
podemos perceber que os professores ressignificaram e legitimaram suas
práticas pedagógicas no ensino de Ciências nas turmas com alunos com
Necessidades Educacionais Especiais através de novas estratégias
pedagógicas e recursos didáticos que envolveram todos os alunos em uma
aprendizagem efetiva.

Palavras-chave: Educação inclusiva; Necessidades Educacionais Especiais;


Ensino de Ciências; Anos iniciais.
8

ABSTRACT

Today the educational situation faces significant debates about the inclusion of
students with special educational needs. The present study aims to investigate
how the Cooperative Planning activities with teachers in the childhood
contribute to provide pedagogical practices in teaching science inherent in the
inclusion of students with Special Educational Needs process. The
methodological perspective was qualitative nature and made from an action-
investigation in the field of inclusive education and the childhood of Sciences
held in consortium mode. Participants were six teachers of childhood working in
four municipal schools of Rio Grande, RS, Brazil. It was legitimized through four
data collection methods: mapping (focus group and observation), Collaborative
Planning, observation of teaching practice and reflection of teachers. Later the
data were analyzed by the technique of content analysis of two categories
emerged with the first, Fundamentals and Concepts of Teachers on the
inclusion of students with special educational needs in science education and
the second The Pedagogical Practices of Teachers in Science Education :
Instructional Resources, Strategies and Assessment. From Cooperative
Planning activities we can see that teachers maded and legitimized their
teaching practices in science teaching in classes with students with special
educational needs through new teaching strategies and teaching resources
involving all students in effective learning.

Keywords: Inclusive education; Special Educational Needs; Science Teaching;


Childhood
9

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Número de matrículas nas classes comuns em comparação ao


número de matrículas nas classes especiais no período de 2007 a 2012. ....... 25

Figura 2: Fluxograma da metodologia de pesquisa composta por quatro


etapas. .................................................................................................................. 46

Figura 3: Modelo tradicional de educação. ............................................ 73

Figura 4: Esquema representativo sobre a avaliação. (A) sistema


tradicional de avaliação, (B) sistema de avaliação baseado na construção do
conhecimento pelo aluno. .................................................................................... 74

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Número de matrículas totais no ensino regular e na Educação


Especial em todas as modalidades de ensino e matrículas na Educação
Especial, especificamente, nos anos iniciais do Ensino Fundamental. ............. 23

Tabela 2: Número de matrículas na Educação Especial por Etapa de


Ensino- Brasil (2007-2012). ................................................................................. 24

Tabela 3: Número de trabalhos encontrados na busca pela temática


ensino de Ciências na perspectiva da educação inclusiva, distribuídos em
categorias. ............................................................................................................ 30
10

LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Descrição das estratégias do ensino de Ciências utilizadas


pelos professores a partir do Planejamento Cooperativo em turmas com alunos
com NEE............................................................................................................... 69
11

SUMÁRIO

APRESENTANDO A PESQUISA ............................................................ 13


1. APRESENTAÇÃO DO ESTUDO ......................................................... 15
1.1 Justificativa....................................................................................... 15
1.2 Tema de pesquisa ........................................................................... 26
1.3 Questões de pesquisa ..................................................................... 26
1.4 Hipóteses ......................................................................................... 27
1.5 Objetivo geral ................................................................................... 28
1.5.1 Objetivos específicos ....................................................................... 28
1.6 Estado da Arte ou Estado do Conhecimento ................................. 29
2. O CONTEXTO DO ENSINO DE CIÊNCIAS NOS ANOS INICIAIS E
A INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS
.............................................................................................................................. 34
3. DESENVOLVIMENTO METODOLÓGICO .................................... 43
3.1 Delineamento ................................................................................... 43
3.2 Produção dos dados ........................................................................ 44
3.3 Análise dos dados ........................................................................... 50
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ..................................................... 51
4.1 PROCEDIMENTOS DE CONSTRUÇÃO DE DADOS ................... 51
4.2 Fundamentos e Concepções dos Professores sobre a Inclusão de
alunos com NEE no Ensino de Ciências ............................................................. 54
4.3 As Práticas Pedagógicas dos Professores no Ensino de Ciências:
Recursos Didáticos, Estratégias e Avaliação...................................................... 61
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................ 75
REFERÊNCIAS................................................................................ 79
APÊNDICES .................................................................................... 87
Apêndice A: Apresentação e Dados Pessoais dos Professores .... 87
Apêndice B: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido............ 88
Apêndice C: Roteiro de Observação ............................................... 89
Apêndice D: Roteiro do Grupo Focal ............................................... 92
Apêndice E: Planejamento Professor P1 ......................................... 94
Apêndice F: Planejamento Professor P2 ......................................... 96
12

Apêndice G: Planejamento Professor P3......................................99


Apêndice H: Planejameto Professor P4 e P5..............................107
Apêndice I: Planejamento Professor P6......................................109
13

APRESENTANDO A PESQUISA

O trabalho teve como temática as práticas educativas no ensino de


Ciências que propiciem a inclusão de alunos com Necessidades Educacionais
Especiais (NEE)1 nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Para tanto, a
escrita dessa pesquisa está estruturada em quatro capítulos.
No primeiro, encontra-se a evolução da pesquisa, apresentamos a
justificativa que está pautada nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) e
os dados do Censo Escolar da Educação Básica de 2012. Os dados
demonstram a evolução do número de alunos matriculados nos anos iniciais do
Ensino Fundamental na modalidade da Educação Especial.
Ao mesmo tempo, buscamos evidenciar a necessidade de formação de
professores para a educação inclusiva e as práticas educativas no ensino de
Ciências. A fim de proporcionar subsídios para esse processo, buscamos
referenciais para o estudo através do movimento mundial em favor da
educação inclusiva a partir de documentos internacionais e marcos legais que
influenciam as iniciativas das políticas públicas de inclusão do nosso país.
Na sequência deste capítulo, apresentamos as questões de pesquisa,
objetivos geral, objetivos específicos e as hipóteses. Finalizando-o com o
Estado da Arte ou Estado do Conhecimento, apresentam-se os trabalhos de
produção científica que envolvem a temática ensino de Ciências na perspectiva
da educação inclusiva nos anos iniciais do Ensino Fundamental, enfatizando-se
o período de 2008 a 2012.
No segundo capítulo, desenvolvemos o referencial teórico, apresentando
o contexto do ensino de Ciências, os desafios para a formação de professores
para a inclusão, e a educação inclusiva no Brasil. Paralelamente,
apresentamos o Planejamento Cooperativo como possibilidade de momentos
de reflexão com os professores a fim de possibilitar práticas pedagógicas no
ensino de Ciências dos anos iniciais que auxiliem o processo de inclusão e
uma aprendizagem significativa.

1
Entendemos que aluno com necessidades educacionais especiais caracterizam-se pela
especificidade da dificuldade em aprender, possui limitações singulares ou não, que
demandam um processo diferenciado de desenvolvimento na ação educativa.
14

O ambiente escolar é um lugar privilegiado de formação do ser, pois


oferece a possibilidade de uma vivência plural, na qual as relações, tanto com
os indivíduos quanto com o conhecimento, podem ser estabelecidas da melhor
maneira possível. Nesse sentido, o espaço escolar, principalmente nos anos
iniciais do Ensino Fundamental, poderá ser uma das alternativas mais eficazes
contra a discriminação, a favor do exercício democrático e da convivência entre
os pares, facilitando o aprendizado, já que entre os diferentes e na relação
entre estes o conhecimento se estabelece.
No Brasil, marcos legais internacionais como a Declaração Mundial de
Educação para Todos em Jomtien, na Tailândia, em 1990, e da Declaração de
Salamanca, em 1994, na Espanha, influenciaram mudanças na sociedade para
que se tornasse inclusiva. Desde então estão sendo intensificadas diversas
transformações, igualdade assegurada por leis e equidade educacional com
direito a uma educação de qualidade para todos, independentemente da sua
NEE. Porém, as dificuldades encontradas na formação de professores frente
ao processo de inclusão estão crescendo, associadas a diversos problemas
que influenciam e dificultam o processo ensino e aprendizagem dos alunos,
principalmente a formação específica nas áreas do conhecimento, como, por
exemplo, no ensino de Ciências dos anos iniciais.
Ao refletirmos sobre o contexto social contemporâneo é possível
evidenciar que os recursos científicos e os produtos tecnológicos fazem, cada
vez mais, parte do dia a dia das pessoas. Nesse sentido, entendemos que não
se pode falar de uma efetiva inclusão sem que os estudantes dominem
conhecimentos elementares das Ciências, a fim de que possam agir e interagir
com os artefatos culturais atuais ou contemporâneos.
De acordo como Delizoicov (1990, p.15) algumas razões para a
ocorrência de tais dificuldades são oriundas de:

lacunas na formação dos professores, atribuídas à suposta rejeição


ou dificuldade no que tange às disciplinas de cunho científico; a
prática de ensino estabelecida, que não costuma trabalhar da 1ª à 4ª
séries os conteúdos de Ciências Naturais. A prioridade dada à
alfabetização e à aritmética leva os professores a deixar em segundo
plano os conteúdos de Ciências Naturais que, além de necessários,
também podem contribuir para aquela prioridade; inexistência de
“tradição” de trabalho metodológico para os programas e os
conteúdos de Ciências nos cursos de formação.
15

A pesquisa foi realizada com seis professores dos anos iniciais do


Ensino Fundamental de quatro escolas da rede pública municipal da cidade de
Rio Grande (RS), que possuíam alunos com NEE. A metodologia foi realizada
em quatro etapas constituídas de Mapeamento, Planejamento Cooperativo,
Observação e Reflexão.
No terceiro capítulo, descrevemos os fundamentos metodológicos da
pesquisa, o seu contexto, bem como os sujeitos nela envolvidos.
Já o quarto capítulo desenvolvemos os resultados e a discussão, no qual
recapitulamos alguns fatos dos procedimentos da construção de dados, bem
como são explicitadas as duas categorias emergentes:Fundamentos e
Concepções dos Professores sobre a Inclusão de alunos com NEE no Ensino
de Ciências e As Práticas Pedagógicas dos Professores no Ensino de
Ciências: Recursos Didáticos, Estratégias e Avaliação .
Finalizando esta escrita trouxemos as considerações finais através de
uma retomada das questões iniciais, perpassando pelas hipóteses anteriores a
produção dos dados, e o objetivo geral, assim apontamos os resultados
alcançados e algumas questões que poderão gerar aprofundamentos para
ressignificar a dissertação.

1. APRESENTAÇÃO DO ESTUDO

1.1 Justificativa

Do ponto de vista da trajetória, este estudo se justifica pelas


inquietações que me incitaram quando estava na graduação em Licenciatura
em Ciências Biológicas, principalmente ao cursar as disciplinas de Estágio
Supervisionado. Nesse período, constatei as dificuldades dos colegas, futuros
professores, e dos que já estavam atuando na rede escolar, em trabalhar os
16

diversos conhecimentos da área frente à diversidade e à singularidade dos


alunos.
Por esse motivo, senti necessidade de inserir-me em pesquisas que
permitissem avançar, conceitualmente, e que oportunizassem contatos com
diferentes escolas, professores, realidades e possibilidades. Dessa forma,
participei no Núcleo de Estudos e Pesquisa em Cognição e Aprendizagem
(NEPCA) da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), atuando no projeto
“Processos mentais e aprendizagem de sujeitos com Síndrome de Asperger”,
que visava contribuir para a compreensão dos processos cognitivos envolvidos
na aprendizagem, bem como seus reflexos no ensino e na construção de
práticas pedagógicas.
Novos projetos dentro desse núcleo surgiram na temática de inclusão de
alunos com NEE, o que possibilitou compreender as dificuldades e a falta de
capacitação vivenciada pelos professores da rede de ensino. Assim, considero
relevante a realização de pesquisas na área de formação de professores em
uma perspectiva de educação inclusiva a fim de possibilitar e proporcionar
momentos de reflexão e de possíveis contribuições para novas práticas
pedagógicas de inclusão.
Dentro do campo de conhecimento e das necessidades acadêmicas,
este estudo se justifica sob três aspectos: (1) nas dificuldades da formação de
professores; (2) na importância que os conhecimentos científicos adquirem na
sociedade contemporânea; e (3) no crescente aumento de alunos com NEE
que passam a ter acesso ao ensino comum2.
(1) Do ponto de vista da formação de professores de Ciências, este trabalho
justifica-se pela acentuada dicotomia entre a formação científica e a
pedagógica, assim como a falta de reflexão sobre a prática profissional dos
professores que dificultam o processo de formação contínua e crítica. Sendo
assim, verifica-se a necessidade de refletir sobre o papel do professor na
sociedade contemporânea, sobretudo, com o processo de inclusão
circundando os espaços escolares e sociais em que vivemos.

Utilizamos o termo rede comum de ensino para distinguir as modalidades formais de


2

educação que não as escolas específicas de Educação Especial


17

Conforme Krasilchick (1987), os professores em sua grande maioria, têm


a sua formação estruturada em uma visão de Ciências em que não se
questiona e nem se problematiza as teorias científicas. E de modo geral aceita
como verdades absolutas, desvalorizando a utilização cotidiana das ideias
científicas nas várias situações do nosso dia a dia, na diversidade social e
contextual dos sujeitos.
As práticas tradicionais do ensino de ciências voltam-se para conteúdos
vinculados a informações e a processos de memorização. Diferentemente,
pode-se pensar o ensino de Ciências voltando-se para as ideias de habilidades
e competências. Os processos de ensino e aprendizagem, segundo os PCN,
devem estar voltados para o ensino de habilidades que gerem o
desenvolvimento de uma ou mais competências do aluno. Isto porque,
conforme Perrenoud (1999), a competência é a faculdade de mobilizar um
conjunto de recursos cognitivos (saberes, capacidades, informações, etc.),
enquanto que habilidade, segundo Moretto (2005), é saber fazer algo
específico, ou seja, está associada a uma ação, física ou mental, indicadora de
uma capacidade adquirida para solucionar uma série de situações.
Alguns trabalhos na área de ensino de Ciências e de Biologia discutem
sobre a influência das concepções dos professores sobre a natureza do
conhecimento científico no ensino de Ciências. Gil-Pérez e Carvalho (1995)
mencionam que, nos cursos de formação de professores de ciências, é
importante trabalhar com a História da Ciência como forma de associar os
conhecimentos científicos aos problemas que originaram sua construção e,
assim, viabilizar uma visão dinâmica, enfatizando os aspectos históricos e
sociais que marcam o desenvolvimento científico. Ainda salientam que uma
das possibilidades de melhorar a formação dos professores é o trabalho
coletivo. Dessa forma, para os autores, seria possível analisar e criticar
algumas visões simplistas do ensino de Ciências, como por exemplo, para ser
um bom professor é necessário apenas o domínio do conteúdo (GIL-PÉREZ e
CARVALHO, 2006).
Ainda, no caso do ensino de crianças, os estudos acerca do caráter
generalista do Curso de Licenciatura em Pedagogia revelam que a polivalência
atribuída a esta graduação resultou em inquietudes por parte do profissional
18

com essa formação. O motivo para isto é o fato de que atende a várias
modalidades de ensino, contribuindo para a ineficiência da formação em
atender as finalidades do ensino nas disciplinas específicas dos anos iniciais
de escolarização (ARAÚJO, 2006; FURLAN, 2008; LIBÂNEO, 2010). Nessa
direção, Nóvoa (1991) afirma que as análises sobre a formação continuada
inserem-se no campo dos debates sobre as Políticas Educativas e a profissão
docente, pois adquire princípio relevante, no sentido de proporcionar o tempo
necessário para elaborações que refazem as identidades.
Assim, entende-se que a formação continuada precisa contribuir no
sentido de criar e possibilitar condições necessárias para uma prática
educacional baseada na pedagogia que considera as diferenças. O professor
pode trabalhar com as singularidades e a diversidade de todos os alunos e não
com um modelo de pensamento comum a todos eles. Conforme o autor abaixo:

cabe a ele, a partir de observações criteriosas, ajustar suas


intervenções pedagógicas ao processo de aprendizagem dos
diferentes alunos, de modo que lhes possibilite um ganho significativo
do ponto de vista educacional, afetivo e sociocultural (PRADO e
FREIRE, 2001).

No que direciona a formação de professores dentro de uma perspectiva


de Educação Inclusiva, é interessante notar que algumas das competências
que antes eram de exclusividade dos professores de Educação Especial ou
das escolas especiais, hoje são especificidades que são direcionadas às
escolas e aos professores regulares. Desse modo, a formação de professores
dos anos iniciais na perspectiva da educação inclusiva, o que inclui diversas
áreas do conhecimento, deve proporcionar ao professor fundamentos para
atuar diante das diferenças, visando auxiliar todas as crianças a ter sucesso na
escola e na sociedade.
(2) O segundo ponto que justifica este estudo refere-se aos
conhecimentos científicos que adquirem uma importância ímpar na sociedade
contemporânea, seja para orientar-nos em tarefas cotidianas, como também
para tornarmo-nos sujeitos críticos na sociedade. Assim, pensar o ensino de
19

Ciências e a inclusão para a cidadania é construir práticas e estratégias de


ensino nas quais todos tenham o acesso à aprendizagem.
Uma tentativa implícita desse movimento refere-se a um rompimento
com o ensino tradicional. Segundo Krasilchick (1987), deve ocorrer uma ruptura
com uma ciência baseada na aplicação de fórmulas, leis prontas e inalteráveis.
O ensino de Ciências, conforme os PCN, tem como objetivo preparar o
indivíduo para uma atuação crítica na sociedade, na qual a ciência permeie a
vida cotidiana na perspectiva de formar cidadãos, principalmente no contexto
da alfabetização científica.

Segundo o PCN (BRASIL, 1997, p. 45):

No primeiro ciclo são inúmeras as possibilidades de trabalho com os


conteúdos da área de Ciências Naturais. Nas classes de primeiro
ciclo é possível a elaboração de algumas explicações objetivas e
mais próximas da Ciência, de acordo com a idade e o
amadurecimento dos alunos e sob influência do processo de
aprendizagem, ainda que explicações mágicas persistam. Também é
possível o contato com uma variedade de aspectos do mundo,
explorando-os, conhecendo-os, explicando-os e iniciando a
aprendizagem de conceitos, procedimentos e valores importantes.

Uma das possibilidades que emergem, especialmente nos anos iniciais,


são as relações que os alunos possuem com o cotidiano. Nesse sentido, os
professores poderiam identificar e analisar as interrelações entre o
conhecimento científico e os conhecimentos prévios que os alunos trazem
como forma de conhecer a singularidade de cada um.
O ensino de Ciências e a iniciação à alfabetização científica nos anos
iniciais beneficiam a preparação dos primeiros significados sobre o mundo.
Nesse sentido, amplia os conhecimentos e a cultura dos alunos, possibilitando
o entendimento e a participação ativa do sujeito na sociedade em que está
inserido. Nas discussões acerca do ensino de Ciências na literatura nacional
encontram-se alguns pesquisadores que utilizam o termo “alfabetização
científica”, tais como: Chassot (2000; 2003), Auler e Delizoicov (2001) e
20

Krasilchik e Marandino (2007), com a premissa de aproximar a integração entre


ciência, tecnologia e sociedade, visando à formação de cidadãos
cientificamente alfabetizados.
Segundo Chassot (2003, p. 94), a alfabetização científica é o conjunto
de conhecimentos que auxiliam os sujeitos a compreenderem o mundo em que
se encontram inseridos. Além disso, de acordo com o autor, é necessário que
os sujeitos não somente tenham facilitada a leitura do mundo em que vivem,
mas compreendam a necessidade de transformá-lo, positivamente.
Privilegiar a alfabetização científica nos anos iniciais é propiciar ao aluno
saber ler a linguagem em que está escrita a natureza. Nesse sentido, para que
os sujeitos com NEE possam dispor de uma educação formal que os
encaminhe para um pleno exercício da cidadania, entendemos que a
alfabetização científica é condição elementar. De fato, a educação inclusiva
torna-se uma prática educacional desenvolvida para que todos,
independentemente de suas NEE, sejam sujeitos inseridos na rede regular de
ensino. Para isso é necessário que tenham a oportunidade de igualdade nas
leis da educação e a oportunidade de aprender, sendo respeitados os seus
limites, a fim de que compreendam o mundo onde estão inseridos.
As demandas do mundo contemporâneo, já há algumas décadas,
indicam a necessidade premente de democratização dos conhecimentos
científicos e tecnológicos, no sentido de propiciar aos cidadãos uma melhor
compreensão do mundo, para nele intervir de modo consciente e responsável
(AULER e DELIZOICOV, 2001). Assim, Krasilchik e Marandino (2007) apontam
que, tendo em vista que a ciência, aliada à tecnologia, faz parte do cotidiano da
população, é necessário ampliar os conhecimentos que os indivíduos possuem,
como uma forma de contribuir para que não somente acumulem informações,
mas saibam utilizá-las para se posicionar e tomar decisões responsáveis na
sociedade em que vivem.
Portanto, pensar sobre o ensino de ciências nos anos iniciais implica
criar condições para que os professores realizem formação específica para o
ensino de conceitos básicos das ciências. Para que a partir dessa premissa
desenvolvam novas metodologias de ensino, aprendam a articular o ensino de
ciências e a alfabetização, identificando os conhecimentos tácitos que já
21

possuem, a fim de possibilitar a educação necessária para todos. Logo, o


ensino de Ciências é um instrumento de letramento e alfabetização. Conforme
os PCN “A criança não é cidadã do futuro, mas já é cidadã hoje, e, nesse
sentido, conhecer ciência é ampliar a sua possibilidade presente de
participação social e viabilizar sua capacidade plena de participação social no
futuro”.
(3) Como mais um item de justificativa desta pesquisa, do ponto de vista da
Educação Inclusiva, nas últimas duas décadas a educação de alunos com NEE
passou de um modelo tradicional, no qual o atendimento era segregado, para
uma proposta de Educação Inclusiva. Nesta perspectiva, os professores
possuem um papel importante, valorizando a diferença como fator de
enriquecimento do processo educacional especializado. Para assim transpor
barreiras para a aprendizagem e a participação de todos com equidade.
Esta proposta, sobretudo a partir da segunda metade da década de
1990, com a Declaração de Salamanca (UNESCO, 1994), propõe:

que, entre outros pontos, propõe que “as crianças e jovens com
necessidades educativas especiais devem ter acesso às escolas
regulares, que a elas devem se adequar”, pois a escola é o ambiente
capaz de combater as atitudes discriminatórias e de consolidar uma
sociedade inclusiva com a educação para todos.

Na perspectiva de Carvalho (2008), a educação inclusiva assume


pedagogicamente um benefício primordial na vida dos sujeitos com NEE, pois
contribui para seu desenvolvimento cognitivo e social. Os sujeitos estão aptos
ao aprendizado uma vez que respeitem suas singularidades, reconheçam suas
diferenças, e utilizem metodologias que atendam à diversidade. Assim, ao
entendermos tal diversidade entre os alunos com alguma NEE e suas
singularidades, poderemos pensar em um ensino e uma aprendizagem que é
uma especificidade do sujeito.
Conforme dados de 2012 do Censo Escolar do Instituto Nacional de
Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP/MEC), o número de
matrículas na Rede Regular de Ensino Fundamental, especificamente nos anos
iniciais, é de 13.228.278 alunos no Brasil. No Estado do Rio Grande do Sul,
são 688.379 alunos e na cidade de Rio Grande, de 12.239 alunos (Tabela 1).
22

Já o número de matrículas na Educação Especial em todo o Brasil


(Alunos de Escolas Especiais, Classes Especiais e Incluídos) são de 636.451
alunos em todas as modalidades de ensino (Creche, Pré-Escola, Ensino
Fundamental e Ensino Médio, incluindo o médio integrado e o
normal/magistério, e na Educação de Jovens e Adultos, presencial, no
Fundamental e no Médio, incluindo a EJA, integrada à educação profissional)
das redes estaduais e municipais, urbanas e rurais em tempo parcial e integral
(Tabela 1). No entanto, o número de matrículas de alunos da Educação
Especial nos anos iniciais do Ensino Fundamental no Brasil são 340.891,
representando, aproximadamente, 54% em relação ao número total de
matrículas na Educação Especial em todas modalidades (Tabela 1). Para o
estado do Rio Grande do Sul, o número de alunos matriculados na Eduacação
Especial é de 51.404 em todas as modalidades de ensino. Nas redes de ensino
da Educação Especial, nos anos iniciais do Ensino Fundamental, o número de
matrículas é de 31.457 alunos, representando, aproximadamente, 61% do
número total de matrículas (Tabela 1).
A cidade de Rio Grande, foco de estudo desta pesquisa, apresenta
1.936 matriculados em todas as modalidades de ensino na educação especial.
Deste número aproximadamente, 77% das matrículas representa o número de
alunos matriculados nos anos iniciais do Ensino Fundamental com um total de
1.494 matrículas (Tabela1).
23

Tabela 1: Número de matrículas totais no ensino regular e na Educação


Especial em todas as modalidades de ensino e matrículas na Educação
Especial, especificamente, nos anos iniciais do Ensino Fundamental.

Total de Educação Especial Educação Especial Anos


matrículas Iniciais do Ens. Fund.
Brasil 13.228.278 636.451 (100%)*3 340.891 (54%)*

Rio Grande do Sul 688.379 51.404 (100%)** 31.457 (61%)**

Rio Grande 12.239 1936 (100%)*** 1494 (77%)***


Fonte: Adaptado de Censo escolar da Educação Básica MEC/ INEP 2012.

Segundo o censo escolar do MEC/INEP (2012), o número de alunos


incluídos nas classes comuns de ensino obteve um aumento de
aproximadamente 102% do ano de 2007 (306.136 matriculados) para o ano de
2012 (620.777 matriculados). Os avanços obtidos pela atual política de
inclusão mostra um aumento significativo nas matrículas da educação especial
no Brasil do ano de 2007 para o ano de 2012 (Tabela 2). Demonstrando a
efetivação da inclusão e o empenho das redes de ensino em providenciar
esforços para organizar uma política pública universal e acessível às pessoas
com NEE.

3
*Porcentagem comparativa entre o número de matrículas da Educação Especial nos anos
iniciais do Ensino Fundamental em relação ao número de matrículas da Educação Especial em
todas as modalidades de ensino no Brasil. **Porcentagem comparativa entre o número de
matrículas da Educação Especial nos anos iniciais do Ensino Fundamental em relação ao
número de matrículas da Educação Especial em todas modalidades de ensino no Rio Grande
do Sul. ***Porcentagem comparativa entre o número de matrículas da Educação Especial nos
anos iniciais do Ensino Fundamental em relação ao número de matrículas da Educação
Especial em todas modalidades de ensino na cidade de Rio Grande.
24

Tabela 2: Número de matrículas na Educação Especial por Etapa de Ensino-


Brasil (2007-2012).

Fonte: MEC/INEP/Deed. Nota: Não inclui matrículas em turmas de atendimento complementar


e Atendimento Educacional Especializado (AEE).

Os dados do censo escolar do MEC/INEP 2012 também demonstram o


aumento gradativo de alunos que estão incluídos no Ensino Fundamental e um
decréscimo de alunos que frequentam as classes especiais (Figura 1). Porém,
estes números não garantem uma inclusão4 de qualidade, já que, ao estarem
nas escolas regulares, os alunos com NEE nãotêm seus direitos assegurados e
a integração5 social garantida. Todavia, a inclusão educacional não se
configura como uma garantia, dado à proeminente falta de formação
profissional dos professores em exercício e dos futuros docentes, que em
outras pesquisas identificam-se como mal preparados para atuar em turmas
inclusivas.

4
Inclusão: direito de todos os cidadãos de frequentarem todos os espaços escolares com
igualdade, sendo respeitadas suas singularidades, com possibilidades de aprendizagem. É um
movimento regido por leis internacionais que difere do processo de integração, pois não é o
sujeito que se adapta ao ambiente e sim o meio modifica-se para atender o indivíduo incluído.

5
Integração: é um movimento de inserção de sujeitos com NEE em um mesmo ambiente com
outros alunos que não possuam deficiências, transtorno global do desenvolvimento e/ou altas
habilidades e superdotação, sendo que este precisa se adequar ao meio.
25

Figura 1: Número de matrículas nas classes comuns em comparação ao


número de matrículas nas classes especiais no período de 2007 a 2012.
Fonte: MEC/INEP, 2012.

Sendo assim, destaca-se a necessidade de atividades que oportunizem


aos professores dos anos iniciais a criação de novas práticas pedagógicas no
ensino de Ciências fundamentado em pressupostos científicos e pedagógicos,
que priorizem o trabalho frente à diversidade para o verdadeiro processo de
inclusão. Considerando-se oportunos, da mesma forma, os momentos de
reflexão e análise da realidade do processo de inclusão de alunos com NEE,
fazem-se necessários, a fim de visualizar os obstáculos ainda existentes para o
sucesso da proposta inclusiva. Em síntese, este trabalho se alicerça na
justificativa das dificuldades na formação de professores, em lidar com essas
questões do ensino de Ciências nos anos iniciais, bem como com o processo
de inclusão de alunos com NEE, na importância que os conhecimentos
científicos adquirem na sociedade contemporânea e de que há um crescente
aumento de alunos com NEE que passam a ter acesso ao ensino comum e
chegam à escola.
26

1.2 Tema de pesquisa

O pesquisador com a premissa de propiciar situações na qual o coletivo,


professores e investigador, possam refletir sobre a aprendizagem plena de
todos os sujeitos, propiciou momentos de organização de práticas educativas
inclusivas, com a intenção de planejar os conteúdos de Ciências. Dessa
maneira, surge a questão: como atividades de Planejamento Cooperativo
realizadas com professores dos anos iniciais poderão contribuir na
construção de práticas pedagógicas de Ciências que contemplem
estudantes com Necessidades Educacionais Especiais na rede comum de
ensino?

1.3 Questões de pesquisa

• Como atividades de planejamento cooperativo realizadas com


professores dos anos iniciais poderão contribuir com o processo de
inclusão de alunos com NEE?

• Quais recursos pedagógicos os docentes dos anos iniciais mobilizam


frente à diversidade e ao processo de ensino e de aprendizagem de
ciências em turmas inclusivas?

• Quais os maiores desafios enfrentados pelos docentes em turmas


inclusivas para ensinar ciências?

• Como práticas pedagógicas do ensino de ciências realizadas a partir do


planejamento cooperativo poderão contribuir com a formação continuada
de professores dos anos iniciais frente ao processo de inclusão de
alunos com NEE?
27

1.4 Hipóteses

• Atividades de planejamento cooperativo realizadas com professores dos


anos iniciais facilitarão o reconhecimento do processo de inclusão de
alunos com NEE, possibilitarão a construção de práticas do ensino de
ciências em turmas inclusivas e a utilização de estratégias e recursos
metodológicos mais apropriados;

• Atividades de planejamento cooperativo com professores dos anos


iniciais poderão contribuir para ampliar os saberes e as práticas
inclusivas, criando um espaço para problematizar e refletir sobre o
processo de inclusão de alunos com NEE;

• Os professores dos anos iniciais não mobilizam recursos pedagógicos


apropriados para trabalharem com a diversidade e a singularidade dos
alunos em turmas inclusivas;

• Os maiores desafios dos professores dos anos iniciais são a criação e a


aplicação efetiva de novas práticas pedagógicas no ensino de ciências
que possibilitem o processo de ensino e aprendizagem frente ao
processo de inclusão de alunos com NEE;

• O desenvolvimento de novas práticas pedagógicas possibilitará que os


professores dos anos iniciais percebam-se como parte do processo,
sentindo-se preparados para inovar no ensino de Ciências perante os
desafios diários de trabalhar com alunos com NEE.
28

1.5 Objetivo geral

Investigar como as atividades de Planejamento Cooperativo com


professores dos anos iniciais contribuem para propiciar práticas pedagógicas
no ensino de Ciências inerentes ao processo de inclusão de alunos com NEE.

1.5.1 Objetivos específicos

• Identificar as necessidades educativas especiais no contexto da sala de


aula inclusiva dos anos iniciais;

• Reconhecer como os professores dos anos iniciais construirão sua


prática pedagógica de ciências diante de uma perspectiva inclusiva em
ações de Planejamento Cooperativo;

• Compreender como os professores dos anos iniciais aplicam,


efetivamente, suas práticas pedagógicas do ensino de Ciências nas
turmas inclusivas;

• Mapear a concepção dos professores dos anos iniciais em relação às


atividades de planejamento cooperativo e as especificidades em
trabalhar em turmas inclusivas;

• Proporcionar a atividade de Planejamento Cooperativo no qual sejam


desenvolvidos diálogos sobre a prática pedagógica do ensino de
Ciências diante do processo de inclusão.
29

1.6 Estado da Arte ou Estado do Conhecimento

De acordo com Ferreira (2002), o Estado do Conhecimento se refere a


um tipo de pesquisa bibliográfica cuja metodologia utiliza-se do caráter
inventariante e descritivo, com o objetivo de conhecer, analisar e discutir as
pesquisas científicas e acadêmicas produzidas acerca de uma temática, nos
diversos tipos do conhecimento. Por sua vez, o Estado da Arte se comporta
como uma das etapas da construção do trabalho científico mais relevante, pois
se faz referência ao que já é conhecido sobre o assunto pesquisado,
colaborando no desenvolvimento de novos paradigmas com argumentos e
ideias a partir de leituras anteriores e conclusões adquiridas pela reflexão.
A investigação que realizamos é inspirada nessa abordagem de
inventário, ainda que não tenha esgotado todas as fontes bibliográficas
possíveis, tendo sido utilizado uma amostra dos bancos mais significativos.
Assim, o Estado da Arte deste trabalho propõe-se a mostrar quais são os
estudos realizados e divulgados em relação ao ensino de Ciências nos anos
iniciais do Ensino Fundamental, sob a perspectiva da educação inclusiva.
Inicialmente, realizamos uma pesquisa de busca na biblioteca eletrônica
que abrange uma coleção selecionada de periódicos científicos brasileiros:
SciELO (Scientific Eletronic Library OnLine). Este portal foi escolhido por
agregar o maior número de revistas científicas indexadas e de reconhecida
qualidade. Foi usado o conjunto de palavras6 utilizando-se das palavras-chave
vinculadas ao tema de pesquisa e totalizando seis trabalhos localizados
(Tabela 3).
Os anais das reuniões da Associação Nacional de Pós-Graduação e
Pesquisa em Educação (ANPEd) também foram utilizados para a realização de
busca de trabalhos publicados com os temas pertinentes para o
desenvolvimento deste trabalho. Optou-se por este evento devido à existência
de um grupo de trabalho (GT 15) específico para a Educação Especial, além de
ser o evento da área da educação com maior reconhecimento e de

6
Foram pesquisados os termos: Educação especial and Necessidades educativas especiais
(foram encontrados dois trabalhos); Educação inclusiva and necessidades educativas especiais
(um trabalho); e Formação de professores and Educação especial (dois trabalhos).
30

aglomeração de pesquisadores que atuam na área. Dessa maneira, foram


verificadas as últimas cinco edições do evento, entre os anos de 2008 e 2012
totalizando 91 trabalhos e, dentre estes, 11 foram selecionados pela
aproximação com a abordagem desta pesquisa (Tabela 3).
Posteriormente, realizou-se a busca nos periódicos da Revista Brasileira
de Pesquisa em Educação em Ciências (RBPEC) e Revista Brasileira de
Educação Especial, sendo verificados todos os volumes publicados até o
presente ano. A REBPEC foi selecionada por ser a revista oficial da
Associação Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências e por aglutinar
os trabalhos científicos de maior destaque no campo do ensino de Ciências.
Foram verificados 255 trabalhos entre os anos de 2001 e 2012, sendo seis
destes relacionados à temática da educação inclusiva.
A Revista Brasileira de Educação Especial foi escolhida por agregar o
maior número de trabalhos na área de educação especial e por sua
contribuição em publicações no tema de educação inclusiva. Nesse periódico,
foram três trabalhos os mais significativos quanto ao tema pesquisado dos 173
verificados (Tabela 3).
Em números totais, a partir das diferentes fontes, foram analisados 525
trabalhos. Para identificar as pesquisas que pudessem contribuir para este
estudo, foi realizada uma análise dos resumos. A partir dessa primeira triagem
foram considerados pertinentes ao estudo 26 publicações. Estes textos
selecionados foram lidos com maior profundidade e categorizados em quatro
grupos: (a) formação de professores; (b) inclusão; (c) dificuldade de
aprendizagem; (d) práticas pedagógicas.

Tabela 3: Número de trabalhos encontrados na busca pela temática ensino de


Ciências na perspectiva da educação inclusiva, distribuídos em categorias.

CATEGORIAS
Trabalhos Formação
N.º total de relevantes à de Dificuldade de Prática
trabalhos temática Professores Inclusão aprendizagem Pedagógica
Scielo - 6 4 1 1
ANPEd 91 11 5 3 3
RBPEC 255 6 2 4
RBEE 173 3 2 1
Fonte: Elaborado pela autor.
31

(a) 11 trabalhos são da categoria nomeada formação de professores


que discutem os conhecimentos específicos na formação docente e a
necessidade de aprimorar-se o ensino como forma de propiciar aos futuros
professores uma formação efetiva para trabalhar em turmas inclusivas (Tabela
3). Os professores destacaram a falta de estudos que apoiem a prática
pedagógica, a necessidade de formação inicial continuada e a importância do
trabalho coletivo que desmistifiquem e colaborem para a inclusão.
Em um dos trabalhos, intitulado “Formação de Professores e Inclusão:
como se reformam os reformadores?”, de Portugal, relata que os professores
devem ser encarados como parceiros fundamentais para iniciar e desenvolver
qualquer reforma educacional, frente ao processo de inclusão, e a Educação
Especial. Nesse trabalho, foi investigado como práticas e valores da formação
de professores modificam e apresentam alguns princípios que são importantes
para o desenvolvimento de políticas adequadas à formação de professores. Em
síntese, eles verificaram que os docentes precisam de conhecimentos
adequados e com um compromisso de levar adiante a reforma da Educação
Inclusiva. Para isso, identificaram a necessidade de cursos desenvolvidos sob
os valores inclusivos, para formar professores da Educação Inclusiva que
promovam a equidade e a participação de todos os alunos.
Percebemos que os resultados, mesmo se tratando de nacionalidade
distinta, não se diferenciam da realidade do Brasil, na qual os cursos de
formação de professores são desprovidos de preparação para o trabalho de
inclusão. E, na prática, os futuros professores se deparam com esta realidade
até mesmo nas disciplinas práticas do curso e sentem-se despreparados para
atuar diante dessa escola inclusiva. Porém, levar essa dificuldade até a
Universidade, incitando a defasagem na formação, é a primeira etapa de um
processo que envolverá uma transformação efetiva e de qualidade para formar
professores preparados para a escola contemporânea.
(b) Na categoria inclusão, conceitos e práticas são produzidos e
começaram a ser introduzidos no âmbito das respostas educativas aos alunos
incluídos, na intenção de promover o sucesso para todos os alunos da escola.
Entretanto, ainda partem do seguinte questionamento: alunos com NEE têm
sido contemplados no que diz respeito à socialização, ou seja, estão sendo
32

integrados, mas a aprendizagem desses sujeitos no ensino regular do Ensino


Fundamental é considerada?
Alguns trabalhos são específicos para a inclusão de alunos com alguma
deficiência ou transtornos do desenvolvimento, como autistas, constituindo-se
como um desafio para todos que atuam na escola. Outros trabalhos
identificaram que com o contexto da inclusão é possível o desenvolvimento de
práticas educativas e as interações criança-criança valorizam a constituição
social do sujeito, possibilitando o ensino e a aprendizagem.
Dentre os trabalhos analisados nessa categoria, salienta-se uma
proposta que discutiu o trabalho docente no momento histórico em que
vivemos e no contexto da escolarização de surdos. Foi possível perceber os
principais desafios que os professores enfrentam no cotidiano, os sentimentos
diante do trabalho que realizam e as necessidades profissionais para a atuação
nesse campo.
Para os professores, as maiores dificuldades pedagógicas dizem
respeito à comunicação e, mais especificamente, ao ensino da Língua
Portuguesa escrita, como segunda língua. O que é legítimo em outras
pesquisas com a inclusão de deficientes auditivos. pela dificuldade em
trabalhar alguns conteúdos específicos. como Ciências, pois algumas palavras
não possuem sinal na Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), o que gera um
obstáculo no ensino e na aprendizagem desses sujeitos. Os professores
apontaram ainda a carência de estudos que apoiem a prática pedagógica, a
necessidade de formação continuada e a importância do trabalho coletivo.
(c) Diante da categoria dificuldade de aprendizagem, temos uma
publicação de Portugal que demonstra que esta não é considerada uma NEE.
Assim, os alunos que as apresentem não têm o direito a serviços
especializados nas escolas inclusivas, sendo rotulados, muitas vezes, e não
sendo recebidos como alunos com NEE. O que dificulta o seu ensino e
aprendizagem à medida que muitos professores nem os percebe como alunos
com alguma singularidade.
Essa categoria nos faz pensar que é preciso perceber as complexidades
da vida escolar na sala de aula, especialmente quando elas afetam o dia a dia
dos alunos. A dificuldade de aprendizagem sendo tratada como uma NEE
33

transitória, não como uma deficiência que seja atendida pelo Atendimento
Educacional Especializado (AEE). Apenas com um trabalho pedagógico ou
psicopedagógico no contexto da legislação brasileira poderá deixar lacunas,
sendo uma das NEE que verificamos um grande aumento no ambiente escolar.
Para tanto, é necessário verificar qual seria realmente o problema que levou à
dificuldade de aprender, se é devido a um problema orgânico, psicológico ou
social do sujeito ou se seria algum fator além do aluno, na forma como o ensino
está acontecendo.
(d) Por fim, a prática pedagógica foi a categoria que mais se
aproximou do tema desta pesquisa, já que alguns dos trabalhos evidenciaram a
temática ensino de Ciências na perspectiva da inclusão, trataram de práticas
pedagógicas envolvendo o ensino de Biologia, Física e Química com diferentes
NEE especialmente direcionados à deficiência auditiva e visual.
Em um dos trabalhos, buscou-se entender e discutir como a escola
inclusiva tem percebido e vivenciado as possibilidades de aplicação da
Tecnologia Assistiva em suas práticas e processos, através das relações entre
os paradigmas educacionais vigentes nas escolas. Os dados mostraram
possibilidades concretas com a utilização de projetos que utilizem tecnologias
assistivas, pois foram favorecedores de práticas educacionais escolares mais
inclusivas.
Outro trabalho, intitulado “Material didático para ensino de Biologia:
possibilidades de inclusão”, teve como objetivo elaborar materiais para o
ensino de Biologia, com características que respeitam as necessidades de
alunos com deficiência visual. A avaliação do material foi realizada pelos
professores do ensino superior da área de Biologia, professores universitários
de educação especial/inclusiva, professores de educação especial na área de
deficiência visual, alunos e professores com deficiência visual e alunos sem
qualquer NEE. Os modelos foram considerados adaptados à avaliação de
todos os participantes, podendo-se verificar que os estes apresentaram
características que podem auxiliar na disciplina de Biologia e,
consequentemente, na inclusão de alunos com deficiência visual.
Este trabalho se aproximou do problema geral que nos motiva a realizar
esta pesquisa, que é proporcionar práticas pedagógicas do ensino de Ciências
34

nos anos iniciais, mostrando-se relevante dada as dificuldades dos


professores, principalmente nos trabalhos da categoria sobre formação de
professores, em relação aos obstáculos que ainda são encontrados na
formação do profissional de educação, de saber como incluir e o que fazer.
Afinal, que prática é mais adequada para todos em uma turma inclusiva?
Percebemos que trabalhar com o diferente assusta e ao mesmo tempo
desacomoda, no sentido de procurar “como” e o “quê” fazer. E assim se
proporcionará que a educação seja relevante para a sociedade em que
vivemos.

2. O CONTEXTO DO ENSINO DE CIÊNCIAS NOS ANOS INICIAIS E A


INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS

A Educação Especial inserida no processo de inclusão se caracteriza como


modalidade de ensino que apresenta um conjunto de recursos e serviços
educacionais especiais organizados para dar apoio suplementar e, em alguns
casos, substituir os serviços educacionais comuns, de modo a garantir a
educação formal dos educandos que apresentem necessidades educacionais
diferentes da maioria das crianças e jovens (MAZZOTTA, 1996). Segundo a
Secretaria de Educação Especial nas Diretrizes da política Nacional de
Educação Especial, na perspectiva da Educação Inclusiva (SEESP, 2008).

A educação especial é uma modalidade de ensino que perpassa


todos os níveis, etapas e modalidades, realiza o atendimento
educacional especializado, disponibiliza os recursos e serviços e
orienta quanto a sua utilização no processo de ensino e
aprendizagem nas turmas comuns do ensino regular.

Segundo Mazzotta (1996), a evolução da educação especial no Brasil foi


marcada pela preocupação com a educação das pessoas com necessidades
especiais, tendo se iniciado efetivamente no século XIX inspirado em
experiências norte-americanas e europeias. A história da educação inclusiva
teve alguns marcos legais, como a Convenção dos Direitos da Criança (1988) e
a Conferência Mundial sobre Educação para Todos na cidade de Jomtien, na
Tailândia, em 1990, que contou com a participação do Brasil. A partir de 1994,
35

a concepção de educação inclusiva substituiu, definitivamente, o conceito de


educação especial com base na Declaração de Salamanca (UNESCO, 1994),
ampliando o conceito de necessidade educacional especial e defendendo a
necessidade de inclusão dos alunos especiais no sistema regular de ensino,
tendo por princípio uma “Educação para Todos”.
O documento internacional mais significativo que já apareceu na área de
educação especial, a Declaração de Salamanca defende que escolas regulares
com orientação inclusiva constituem “o meio mais eficaz de combater atitudes
discriminatórias, construindo uma sociedade inclusiva e atingindo educação
para todos”.

Principio fundamental da escola inclusiva é o de que todas as


crianças devem aprender juntas, sempre que possível,
independentemente de quaisquer dificuldades ou diferenças que elas
possam ter. Escolas inclusivas devem reconhecer e responder às
necessidades diversas de seus alunos, acomodando ambos os
estilos e ritmos de aprendizagem e assegurando uma educação de
qualidade à todos através de um currículo apropriado, arranjos
organizacionais, estratégias de ensino, uso de recurso e parceria com
as comunidades. Na verdade, deveria existir uma continuidade de
serviços e apoio proporcional ao contínuo de necessidades especiais
encontradas dentro da escola (UNESCO, 1994).

Em um sentido mais amplo, o ensino inclusivo é a prática da inclusão de


todos, independentemente de seu talento e sua deficiência, em escolas e salas
de aulas provedoras, onde todas as necessidades dos alunos são satisfeitas
(STAINBACK, 1999).
No caso da legislação brasileira, a Lei N.º 9394/96 – Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional de 1996 –, capítulo da educação especial, prevê:

Art. 58. Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei,
a modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na
rede regular de ensino, para educandos portadores de necessidades
especiais.
§1º Haverá, quando necessário, serviços de apoio especializado, na
escola regular, para atender as peculiaridades da clientela de
educação especial.
§2º O atendimento educacional será feito em classes, escolas ou
serviços especializados, sempre que, em função das condições
específicas dos alunos, não for possível a sua integração nas classes
comuns do ensino regular.
36

§3º A oferta da educação especial, dever constitucional do Estado,


tem início na faixa etária de zero a seis anos, durante a educação
infantil.
Art. 59. Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com
necessidades especiais:
I – currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização
específicos, para atender às suas necessidades;
II – terminalidade específica para aqueles que não puderem atingir o
nível exigido para a conclusão do ensino fundamental, em virtude de
suas deficiências, e aceleração para concluir em menor tempo o
programa escolar para os superdotados;
III – professores com especialização adequada em nível médio ou
superior, para atendimento especializado, bem como professores do
ensino regular capacitados para a integração desses educandos nas
classes comuns;
IV – educação especial para o trabalho, visando a sua efetiva
integração na vida em sociedade, inclusive condições adequadas
para os que não revelarem capacidade de inserção no trabalho
competitivo, mediante articulação com os órgãos oficiais afins, bem
como para aqueles que apresentam uma habilidade superior nas
áreas artística, intelectual ou psicomotora;
V – acesso igualitário aos benefícios dos programas sociais
suplementares disponíveis para o respectivo nível do ensino regular.
Art. 60. Os órgãos normativos dos sistemas de ensino estabelecerão
critérios de caracterização das instituições privadas sem fins
lucrativos, especializadas e com atuação exclusiva em educação
especial, para fins de apoio técnico e financeiro pelo Poder público.
Parágrafo único. O poder Público adotará, como alternativa
preferencial, a ampliação do atendimento aos educandos com
necessidades especiais na própria rede pública regular de ensino,
independentemente do apoio às instituições previstas neste artigo.

A inclusão é uma opção que não é incompatível com a integração, mas


é um movimento que vem questionar políticas, organização das estruturas
escolares comuns e especiais, sendo a meta principal não deixar ninguém no
exterior da escola comum. A inclusão tem um caráter de reunir alunos com e
sem dificuldades, funcionários, professores, pais, diretores, enfim, todas as
pessoas envolvidas com a educação (MANTOAN, 1997).
Nos últimos anos, os esforços estão sendo consideráveis para mudar a
política e a prática educacional em direção à inclusão. Contudo, a
concretização da escola inclusiva baseia-se na defesa de princípios e valores
éticos, nos ideais de cidadania e justiça, para todos, em contraposição aos
sistemas hierarquizados de inferioridade e desigualdade. Para Sassaki (1997,
p. 41) inclusão é

Um processo pelo qual a sociedade se adapta para poder incluir em


seus sistemas sociais gerais pessoas com necessidades especiais e,
37

simultaneamente, estas se preparam para assumir seus papeis na


sociedade. [...]Incluir é trocar, entender, respeitar, valorizar, lutar
contra exclusão, transpor barreiras que a sociedade criou para as
pessoas. É oferecer o desenvolvimento da autonomia, por meio da
colaboração de pensamentos e formulação de juízo de valor, de
modo a poder decidir, por si mesmo, como agir nas diferentes
circunstâncias da via.

Partindo desse pressuposto de inclusão, as escolas se converteriam em


espaços democráticos, atendendo a todos os alunos, independentemente de
suas diferenças. Implicaria ainda, uma nova postura da escola, que precisaria
refletir sobre seu projeto pedagógico, seu currículo, sua metodologia de ensino,
sua avaliação e sua atitude dos educadores, ações que favoreceriam a
integração social, adaptando-se para oferecer serviços educativos de qualidade
para todos.
Pensando em uma educação abrangente e significativa, na qual as
diferenças existentes no contexto escolar precisam ser valorizadas e não
estigmatizadas, o ensino de ciências servirá de suporte, buscando práticas
educativas contextualizadas com a realidade de alunos com e sem NEE.
Conforme afirma Paulo Freire:

E não se diga que, se sou professor de Biologia, não posso me


alongar em considerações outras, que devo apenas ensinar Biologia,
como se o fenômeno vital pudesse ser compreendido fora da trama
histórico-social, cultural e política. Como se a vida, a pura vida,
pudesse ser vivida de igual maneira em todas as suas dimensões na
favela, no cortiço ou numa zona feliz dos ‘Jardins’ de São Paulo. Se
sou professor de Biologia, obviamente devo ensinar Biologia, mas, ao
fazê-lo, não posso secioná-la daquela trama (FREIRE, 1992).

Logo, os sistemas escolares precisam modificar o pensamento


envelhecido que recorta a realidade atual de escolas inclusivas. Ainda
persistem situações na qual dividem os alunos em “normais” e “anormais” e as
modalidades de ensino em regular e especial. Trabalhar com a interação entre
as diferenças e com os pares em busca de uma escola significativa para todos
poderá ser um passo positivo para a aprendizagem efetiva.
Na perspectiva da educação inclusiva, a Resolução CNE/CP nº 1/2002,
que estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de
38

Professores da Educação Básica, define que as instituições de ensino superior


devem antecipar em sua organização curricular, formação docente voltada para
a atenção à diversidade e que contemple conhecimentos sobre as
especificidades dos alunos com necessidades educacionais especiais, prevê:

Art. 1º As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de


Professores de Educação Básica, em nível superior, em curso de
licenciatura, de graduação plena, constituem-se de um conjunto de
princípios, fundamentos e procedimentos a serem observados na
organização institucional e curricular de cada estabelecimento de
ensino e aplicam-se a todas as etapas e modalidades da educação
básica e
Art. 2º A organização curricular de cada instituição observará, além
do disposto nos artigos 12 e 13 da Lei 9.394, de 20 de dezembro de
1996, outras formas de orientação inerentes à formação para a
atividade docente, entre as quais o preparo para:
I - o ensino visando à aprendizagem do aluno;
II - o acolhimento e o trato da diversidade;
III - o exercício de atividades de enriquecimento cultural;
IV - o aprimoramento em práticas investigativas;
V - a elaboração e a execução de projetos de desenvolvimento dos
conteúdos curriculares;
VI - o uso de tecnologias da informação e da comunicação e de
metodologias, estratégias e materiais de apoio inovadores;
VII - o desenvolvimento de hábitos de colaboração e de trabalho em
equipe.

As propostas da educação inclusiva fundamentam-se em diversos


caminhos, os quais, através da ação de uma equipe multidisciplinar que
ofereça suporte tanto ao professor quanto ao aluno com NEE, por meio do
acompanhamento, estudo e pesquisa consigam inseri-lo e mantê-lo na rede
regular de ensino em todos os seus níveis. No entanto, como assegura
Carvalho (2003, p. 149):

A proposta da educação inclusiva não representa um fim em si


mesma, como se, estabelecidas certas diretrizes organizacionais, a
escola melhorasse, num passe de mágica. Muito mais do que isso,
pretende-se, a partir da análise de como tem funcionado o nosso
sistema educacional, identificar as barreiras existentes para a
aprendizagem dos alunos, com vista às providências políticas,
técnicas e administrativas que permitam enfrentá-las e removê-las.
Pretende-se identificar processos que aumentem a participação de
todos os alunos reduzindo-lhes a exclusão na escola e garantindo-
39

lhes sucesso em sua aprendizagem, além do desenvolvimento de sua


autoestima.

Assim, pensamos que a proposta de atividades de Planejamento


Cooperativo com professores dos anos iniciais em relação ao ensino de
Ciências possa contribuir com os pressupostos do ensino, abrangendo,
principalmente, as práticas inclusivas, já que as práticas pedagógicas
necessitam do envolvimento ativo dos professores e alunos, em um processo
interativo entre os envolvidos (aluno/professor, professor/aluno e aluno/aluno).
Nesse sentido, pretendemos confirmar que a formação de novos saberes
docentes, na perspectiva de um trabalho cooperativo, a partir do diálogo entre
a universidade e a escola básica, possa ser efetivo frente ao processo de
inclusão.
Os estudos de Goffredo (1992) e Manzini (1999) apontaram para o fato
de que a implantação da educação inclusiva tem encontrado limites e
dificuldades, em virtude da falta de formação de professores das classes
regulares para atender às NEE. Os autores apontam que os professores
possuem necessidades de obter maior conhecimento sobre o sujeito com
deficiência e de como desenvolver procedimentos para trabalhar com crianças
incluídas.
Assim sendo, para que uma prática pedagógica seja efetiva é importante
que o professor saiba o “quê” e o “como” fazer em uma sala de aula inclusiva.
Para isso, torna-se necessário investimento na formação profissional
continuada que propicie uma interação entre os seus pares e uma troca
contínua de conhecimentos.
Nas palavras de Santos (2002, p. 32), “o momento que estamos vivendo
não é mais de alongar as resoluções, as leis, as portarias, mas de trabalhar
com a práxis”. Sendo assim, destaca-se a necessidade da formação
continuada de professores fundamentada em pressupostos científicos e
pedagógicos que priorizem o trabalho frente à diversidade para o efetivo
processo de inclusão, considerando-se oportunos os momentos de reflexão e
de análise da realidade da formação de professores através de atividades de
Planejamento Cooperativo com professores dos anos iniciais para que possam
40

contribuir com práticas pedagógicas no ensino de Ciências inerentes ao


processo de inclusão.
Apesar de políticas públicas que garantem a igualdade7 na diversidade,
na prática de sala de aula, as leis ainda não asseguram a equidade8 de
práticas educativas que favoreçam a todos os alunos. Assim, percebemos que
a educação inclusiva precisa ser conversada e problematizada a fim de
diminuir os obstáculos ainda existentes, principalmente, na formação de
professores em direção de uma proposta inclusiva que busca articulação,
flexibilidade, interdependência entre os pares que participam do processo e das
ações em função de uma educação para todos.
O ensino de Ciências ainda é transmitido de forma tradicional e
mecânica (KRASILCHIK, 2000; 2004; DELIZOICOV et al., 2011), e a utilização
da forma descritiva com excesso de terminologia contribui bastante para
reforçar um ensino teórico, enciclopédico, que estimula a passividade
(KRASILCHICK, 2004). Nota-se que o ensino de Ciências nos diferentes níveis
de ensino ainda está comprometido com um paradigma de racionalidade
técnica e com uma apresentação conceitual teórica e experimental,
impossibilitando a participação ativa dos alunos durante o processo de
aquisição do conhecimento, da ética científica, das relações com o mundo e
suas reais competências para aplicar os conhecimentos em situações do dia a
dia.
Constata-se que essa situação é preponderante nos anos iniciais, visto
que os professores responsáveis também pelo ensino de Ciências são
profissionais que não se sentem preparados quanto ao domínio dos conteúdos
e de práticas para que o ensino e a aprendizagem aconteçam de forma
significativa.
Nos anos iniciais, a criança defronta-se com o conhecimento científico e
sua compreensão dependerá da concepção de Ciência e de Educação que
limita a prática pedagógica. Para muitos professores, o ensino de Ciências

7
Igualdade refere-se a fornecer as mesmas oportunidades, isto é, tratar os diferentes de modo
igual.
8
Equidade, por sua vez, refere-se a tratar diferentemente os diferentes, de modo que todos
possam alcançar os objetivos estabelecidos.
41

Naturais é desenvolvido de forma propedêutica, preparando a criança para o


futuro. Porém, salienta-se que:

O estudante não é só cidadão do futuro, mas já é cidadão hoje, e,


nesse sentido, conhecer Ciência é ampliar a sua possibilidade de
participação social e desenvolvimento mental, para assim viabilizar
sua capacidade plena de exercício da cidadania (BRASIL, 1997, p.
23).

Para Chassot (2003), o ensino de Ciências deve proporcionar a todos os


cidadãos os conhecimentos e oportunidades de desenvolvimento de
habilidades necessárias para que possam se sentir inseridos em uma
sociedade complexa, podendo compreender o que se passa a sua volta,
tomando uma posição e intervindo em sua realidade. O professor precisa
proporcionar situações que auxiliem a aprendizagem, a qual deve transcorrer
de forma autônoma, respeitando-se as características individuais e os estilos
próprios de cada um (KRASILCHICK, 2004).
É pertinente a formação do professor pautada pela reflexão
contextualizada e crítica das condições de sua prática pedagógica (PIMENTA e
GHEDIN, 2005), buscando penetrar em seu processo real de escolarização e
considerando que os seus diferentes saberes (disciplinares, curriculares,
pedagógicos e da experiência) se articulam no trabalho diário em interação
com os alunos e com os outros professores (TARDIF, 2006). Desta forma, a
formação dos professores dos anos iniciais constitui-se como um processo
contínuo de conhecimentos e práticas pedagógicas para o desenvolvimento
dos conteúdos, facilitando o processo de aprendizagem, assim como são
imprescindíveis estudos que colaborarem com estes profissionais da educação,
provendo alternativas metodológicas para o ensino de Ciências em turmas
inclusivas que atendam a diversidade, independentemente das suas
necessidades.
Como este estudo pretende promover momentos de planejamento nos
quais práticas pedagógicas do ensino de Ciências sejam refletidas para
contribuir com o processo de inclusão, a metodologia do planejamento de
conteúdo escolar acentua-se como uma proposta de tornar a escola um espaço
de aprendizagem significativa e efetiva. Segundo Libâneo (1994), o
42

planejamento escolar é muito importante por ser um processo de


racionalização, organização e coordenação da ação docente, articulando a
atividade escolar e a problemática do contexto social.
Pensando na situação na qual o professor precisa articular os conteúdos
escolares e o contexto social, o planejamento ocupa um espaço de integrar a
coordenação da ação docente à problemática do contexto social em que os
alunos estão inseridos. Em contrapartida, o professor precisa pensar no ensino
e na aprendizagem para que sejam abrangentes a todas as singularidades e
diversidades que são observadas nas turmas de inclusão. Pensar na ação,
observar e refletir sobre a prática, são andamentos importantes do
planejamento pensado neste trabalho para direcionar o processo educativo
com possibilidades da aprendizagem mais efetiva e significativa diante da
diversidade de alunos que encontramos na escola.
Planejar uma estratégia de ensino ou uma prática pedagógica é projetar
uma forma de subsidiar sua ação docente pensando como processo que
incidirá sobre uma prática educativa que envolva todos os alunos. Sendo
assim, utilizaremos o planejamento como uma metodologia que propicie a
inclusão de alunos com NEE na perspectiva de pensar a aprendizagem como
um processo em que todos possam aprender.
Libâneo (1994) nos relata uma proposta de planejamento escolar que
envolve o processo de ação e reflexão sobre a prática. Já Gandin (1994) nos
propõe uma ideia de planejamento político-social que busca idealizar uma
visão globalizante; servindo para situações de crise em que a proposta é de
transformação. Desta forma, pensar nessas duas vertentes de planejamento
nos impulsiona para uma ação dinâmica, que no coletivo irá propiciar
mudanças inerentes ao processo de educação para todos. Assim, apostamos
no planejamento e na construção da intencionalidade pedagógica no ato de
planejar como ferramenta para qualificar as práticas inclusivas e os processos
reflexivos dos professores ao mobilizarem os recursos didáticos que têm
disponíveis.
43

3. DESENVOLVIMENTO METODOLÓGICO

3.1 Delineamento

Esta é uma pesquisa qualitativa que se organizou no sentido da


compreensão de uma situação escolar e que visou mapear e problematizar o
ensino de Ciências em turmas inclusivas. Tratou-se de uma pesquisa
exploratória, pois se propôs a investigar um campo de ações ainda não muito
analisado e que carece de estudos mais amplos (LÜDKE E ANDRÉ, 1986).
O campo empírico desta pesquisa foram escolas da rede pública
municipal da cidade de Rio Grande, Rio Grande do Sul, Brasil, que possuíam
alunos com NEE. O estudo inseriu-se em um projeto mais amplo, inspirado e
adaptado a partir das metodologias de pesquisa em consórcio (BARROS et al.,
2008; HALLAL et al., 2009) realizadas a partir de uma investigação coletiva,
com diversos temas correspondentes no campo do ensino de Ciências dos
anos iniciais. As vantagens dessa modalidade, que trabalha em conjunto, são a
possibilidade de se contar com múltiplos olhares sobre o mesmo caso,
enfoques de diferentes aspectos, além da reflexão coletiva e cooperativa na
coleta e análise de dados. Nesse sentido, a pesquisa em consórcio estabelece-
se dentro do Programa Observatório Nacional da Educação que visa integrar a
Pós-Graduação e a Educação Básica através da participação do Núcleo de
Estudos e Pesquisas em Epistemologia e Educação em Ciências (NUEPEC),
que é um dos polos dessa política pública da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e do Instituto Nacional
de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP).
O público alvo para este estudo foi composto por seis professores dos
anos iniciais que trabalham nas quatro9, 10
escolas participantes do projeto

9
Escola Municipal Helena Smal, Escola Municipal Viriato Correa, Escola Municipal Prof. Zelly
Pereira Esmeraldo e Escola Municipal Mate Amargo.
10
Estas Escolas foram as instituições de ensino público da cidade de Rio Grande com o maior e
menor desempenho no IDEB (é um indicador de qualidade educacional que combina
informações de desempenho em exames padronizados – Prova Brasil ou Saeb – obtido pelos
estudantes ao final das etapas de ensino – 4.ª e 8.ª séries do Ensino Fundamental e 3.ª série
do Ensino Médio – com informações sobre rendimento escolar (aprovação). Essas instituições
foram escolhidas a fim de se investigar as dinâmicas que acontecem em se tratando de
44

“Construindo Redes de Saberes na Matemática e na Iniciação às Ciências:


Escola e Universidade em Conexão” do Observatório Nacional da Educação,
que realiza a articulação entre a Universidade Federal do Rio Grande (FURG).
Os professores que se habilitaram a participar da pesquisa e das atividades de
Planejamento Cooperativo desenvolveram diálogos sobre a formação de
professores frente ao processo inclusivo. Assim, espera-se que se fortaleçam
esforços para a construção de práticas pedagógicas que garantam um olhar
ímpar sobre o processo de inclusão e condições reais de aprendizagem,
desenvolvimento social e cognitivo.
Nesse sentido, o Planejamento Cooperativo refere-se a uma atividade
coletiva que reuniu pesquisadores da Universidade e professores
(investigadores) da rede de ensino que a partir de seus pressupostos
debateram sobre práticas pedagógicas com a premissa da criação de situações
didáticas que propiciem a inclusão de alunos com NEE.
As temáticas foram apresentadas e sugeridas pelos professores das
turmas que já possuíam o seu cronograma de conteúdos pré-estabelecidos,
direcionando as abordagens metodológicas que foram construídas no coletivo,
buscando maneiras de trabalhar com as turmas inclusivas, de modo a facilitar o
ensino e a aprendizagem de todos.

3.2 Produção dos dados

Para a realização deste projeto foi utilizada a metodologia inspirada na


pesquisa participante do tipo investigação-ação escolar. Para Carr e Kemmis
(1988), a investigação-ação oferece uma oportunidade de articulação entre
teoria e prática, que promove a emancipação dos sujeitos envolvidos, através
da interlocução, em que todos são participantes. Tem se configurado como
uma forma de trabalho coletivo, fundamentada na necessidade de que o agir
seja planejado para que sujeitos da pesquisa modifiquem o objeto que está

diferentes resultados em escolas que pertencem à mesma administração e ao mesmo órgão


gestor, com igualdade de condições, em termos gerais, quanto à formação de professores e
alunos atendidos (já que ficam em bairros de faixas socioeconômicas semelhantes).
45

sendo pesquisado e produzam efeitos sobre a prática. Nesse sentido, Carr e


Kemmis (1988, p. 202) afirmam que a investigação-ação é, em essência,
participativa, e colaborativa, quando grupos de participantes trabalham,
conjuntamente, no estudo de sua própria práxis individual, assim como quando
estudam as interações sociais entre elas.
Como forma de implementação da investigação-ação Carr e Kemmis
(1988) apresentam a espiral autorreflexiva que primeiramente tem um processo
de planejamento e ação para a organização e a sistematização do que está
sendo pesquisado, após a observação e reflexão que propiciarão movimentos
críticos para subsidiarem um processo emancipatório.
Esta composição se processa em dimensões espiraladas de reflexão e
ação e inclui:
• Análise e diagnóstico de situações práticas ou problemas que
necessitem de resolução;
• Formulação e desenvolvimento de estratégias de ação;
• Avaliação das estratégias;
• Ampliação da compreensão da situação criada;
• Produção de novos passos para a nova ação.

Quanto aos instrumentos de coleta de dados foram utilizados grupo


focal, observação, diário de campo, e Planejamento Cooperativo, visando à
contribuição da formação de professores de ciências dos anos iniciais que
trabalham em turmas inclusivas, na perspectiva de construir práticas
pedagógicas a partir da realidade local, possibilitando a inclusão real dos
sujeitos com NEE e a formação de professores para este processo. Assim, o
procedimento de produção de dados foi composto pelas seguintes etapas
(Figura 2).
46

Atividade de Observação
Mapeamento Planejamento das novas
(1ª Etapa) Cooperativo práticas
(2ª Etapa) pedagógicas
(3ª Etapa)

Grupo Focal Observação

Gravação Diário de
Áudio e campo Diário de Campo
Vídeo

Reuniões coletivas dos Pesquisadores


(4.ª Etapa)

Análise dos dados


(Análise de Conteúdo)

Figura 2: Fluxograma da metodologia de pesquisa composta por quatro


etapas.
Fonte: Elaborado pelo autor

1.ª etapa: mapeamento

A primeira etapa desta pesquisa é denominada mapeamento que


permitiu uma descrição do campo a ser pesquisado a fim de apurar, identificar
e analisar o contexto dos alunos incluídos e, principalmente, possibilitou uma
aproximação aos professores dos anos iniciais, participantes de pesquisa, a fim
de que eles compartilhem suas angústias, experiências e as práticas
pedagógicas nas turmas inclusivas. Desse modo, o mapeamento foi
subdividido em duas etapas, a primeira foi um grupo focal, que segundo Gatti:
47

Permite compreender processo de construção da realidade por


determinados grupos sociais, compreender práticas cotidianas, ações
e reações a fatos e eventos, comportamentos e atitudes, constituindo-
se uma técnica importante para o conhecimento das representações,
percepções, crenças, hábitos, valores, restrições, preconceitos,
linguagens e simbologias prevalentes no trato de uma dada questão
por pessoas que partilham alguns traços incomum, relevantes para o
estudo do problema visado”. [...] bem como, “a compreensão das
ideias partilhadas no dia a dia e dos modos pelos quais os indivíduos
são influenciados pelos outros (2012. p. 11).

A particularidade do grupo focal consiste na interação entre os sujeitos


de pesquisa e o pesquisador e objetiva colher dados a partir da discussão
focada em tópicos específicos. Nesta etapa, foram utilizados áudio e vídeo
para gravação. Por outro lado, não foram utilizados questionários ou
entrevistas individuais, pois, em geral, quando expostas a discussões em
grupo, como no grupo focal, as pessoas posicionam-se de forma mais crítica e
reflexiva, possibilitando uma riqueza maior de dados diante da interação de
ideias.
A segunda subetapa do mapeamento contemplou a observação com
um questionário (Apêndice C: Roteiro de Observação) das turmas inclusivas e
dos professores dos anos inicias participantes das atividades de Planejamento
Cooperativo a fim de verificar a situação atual dos alunos com NEE,
identificando as necessidades existentes, bem como analisando as práticas
realizadas pelos docentes nas turmas inclusivas. Assim sendo, nas duas
subetapas foram feitos os registros no diário de campo (BOGDAN e BIKLEN,
1994) pelo pesquisador e também pelos docentes envolvidos no grupo focal,
que tiveram liberdade para desenvolver as situações que envolveram esta
etapa.

2.ª etapa: Planejamento Cooperativo

Implementou-se a atividade de Planejamento Cooperativo com


professores dos anos iniciais na perspectiva de propiciar a criação de práticas
pedagógicas no ensino de Ciências. A estratégia das atividades de
48

Planejamento Cooperativo configura-se como um trabalho coletivo em que um


grupo de professores e pesquisadores reúne para pensar e repensar sobre sua
prática educativa. Por isso, os encontros se estruturam de forma não linear,
nos quais o professor é levado a refletir sobre suas crenças no que tange à
maneira de ensinar, assim como um processo de autorreflexão, isto é, o pensar
sobre o que se pensa, como se trabalha e qual a melhor estratégia de ensino
para determinada atividade.
O Planejamento Cooperativo foi elaborado a partir da pesquisa
participante e da investigação-ação, mas com algumas adaptações e
modificações. Trabalhando na lógica dessa investigação, foram, primeiramente,
estabelecidos os conteúdos de Ciências. Após a escolha da temática que os
professores trabalharam na sala de aula, propiciou-se uma discussão para a
elaboração coletiva de abordagens metodológicas. O grupo conduziu a
discussão e a criação de práticas pedagógicas na medida em que considerou a
melhor construção didática para o desenvolvimento da temática em questão
em turmas inclusivas. Para que isso ocorresse foi fundamental que o
pesquisador tivesse consciência de que não se deve colocar como um “chefe”
da equipe, mas que lhe coube impulsionar os ânimos, na medida em que é o
autor da proposta.
Por outro lado, foi imprescindível que os professores se sintam acolhidos
e dispostos a participar, ativamente, do planejamento. Após a oferta da
temática pelo pesquisador ao grupo de professores, foi articulado as propostas
metodológicas e as necessidades materiais para sua implementação. Em
seguida, o pesquisador participou da aplicação da metodologia construída em
conjunto, agindo e organizando a atividade junto com o professor.
Foram utilizados recursos como reportagens, filmes e vídeos que
propiciem o diálogo, a criticidade e a reflexão dos professores frente ao
processo de inclusão e à necessidade de novas práticas pedagógicas.
Aspectos a respeito da formação de professores frente ao processo de
inclusão, estratégias e recursos para a construção do conhecimento específico
da área do ensino de Ciências e as práticas pedagógicas inclusivas foram
contemplados nesta etapa da pesquisa. Os professores relataram todas as
atividades de aplicação das metodologias em seu diário de campo.
49

3.ª etapa: observação das práticas pedagógicas

Foram observadas as aulas em que os professores que participaram das


atividades de Planejamento Cooperativo aplicaram os recursos e as estratégias
desenvolvidas, a fim de avaliar e refletir sobre as situações didáticas
implementadas. Nessa etapa, a participação do pesquisador foi do tipo
participante como observador que segundo as autoras (LÜDKE e ANDRÉ,
1986), “[...] não oculta totalmente suas atividades, mas revela apenas parte do
que pretende”. Pois, apenas o professor da turma terá consciência do que o
pesquisador pretende analisar, enquanto os alunos, não, pois será apenas
explicado que, em alguns momentos, um(a) outro(a) professor(a) trabalhará em
conjunto com a professora titular da turma. Com isso, pretendemos evitar
muitas alterações no cotidiano escolar para não alterar, por completo, o
comportamento do grupo observado.
Através do diário de campo, os pesquisadores descreveram suas
percepções (autorreflexão) sobre a utilização de novas práticas na sala de aula
inclusiva. Essa prática vem ao encontro do que o autor destaca sobre o
Planejamento Cooperativo que “engloba um ciclo de reflexão-ação-reflexão”,
no qual, nesse momento, o processo de reflexão da ação se concretizou.
Finalizada a execução da proposta, o grupo pode refletir sobre o que foi
desenvolvido, analisando o resultado da ação. Este momento foi importante
pelo fato de resultar em uma mudança de prática, pois somente pensando
sobre o que planejamos ou fizemos é que podemos pensar em algo para
transformar e qualificar nosso trabalho.

4.ª etapa: reflexão

Foram proporcionados encontros com todos os pesquisadores a fim de


compartilhar o que foi mais significativo nos registros dos diários de campo,
com a perspectiva de colaborar e possibilitar possíveis mudanças no contexto
escolar da educação inclusiva.
50

3.3 Análise dos dados

Posteriormente, os dados do grupo focal, do Planejamento Cooperativo,


das observações das turmas e das reflexões dos professores foram analisados
através da técnica de Análise de Conteúdo (BARDIN, 2011), que pode ser
compreendida como sendo:

um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter


por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo
das mensagens indicadores (quantitativos ou não) que permitam a
inferência de conhecimentos relativos às condições de
produção/recepção (variáveis inferidas) dessas mensagens (BARDIN,
2011, p. 48).

Este procedimento oportunizou a significação e a compreensão dos


fenômenos estudados, estabelecendo a possibilidade de obter maiores
reflexões dos processos vivenciados. E segundo o autor se divide em três
etapas:
Inicialmente temos a pré-análise, que prevê a organização do material a
ser analisado, e a construção do corpus11 da investigação. A partir do material
selecionado temos a etapa da exploração do mesmo, momento em que temos
as primeiras aproximações aos dados e realizamos as codificações e
categorizações dos dados buscando ideias coincidentes e divergentes. Na
terceira etapa da Análise de Conteúdo temos o tratamento dos resultados, no
qual se busca inferir, interpretar e concluir os dados apresentando significados
e relações entre as ideias a partir da análise realizada.

11
Conjunto de documentos de origem escrita e oral oriundos da pesquisa que foram
submetidos à análise.
51

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 PROCEDIMENTOS DE CONSTRUÇÃO DE DADOS

Como explicitado anteriormente no capítulo 3, Desenvolvimento


Metodológico, mais especificamente na parte da Produção de Dados, esta
dissertação focou-se em quatro etapas: Mapeamento (subdividido em Grupo
Focal e Observação), Planejamento Cooperativo, Observação das práticas
pedagógicas e Reflexão dos professores.
Assim, a construção dos dados desta pesquisa começou a partir do
mapeamento no qual foi realizado um grupo focal, com duração de
aproximadamente 1h30min e contou com a participação do pesquisador, um
moderador e seis professores12 participantes da pesquisa e que atuavam nas
escolas analisadas.
A outra subetapa do mapeamento foi a observação nas quatro13 escolas
municipais da cidade de Rio Grande (conforme Roteiro de Observação criado
pelo autor, Apêndice C), no qual percebemos alguns aspectos pertinentes da
situação geral da inclusão nestas Instituições de Ensino, bem como podemos
identificar os números de alunos incluídos nas mesmas. A seguir faremos um
relato-síntese desse primeiro mapeamento.
Com este levantamento, que foi realizado através do roteiro de
observação (Apêndice C), foram identificados 43 alunos incluídos na Educação
Infantil das oito turmas destas escolas, 48 alunos nos anos iniciais nas 40
turmas e 10 alunos incluídos nos anos finais das 27 turmas que estas escolas
possuem. Porém, verificamos que o número de alunos incluídos possivelmente
poderá ser bem maior, comentados pelos diretores, coordenadores
pedagógicos e professores entrevistados, pois um fator relatado por estes

12
Os professores participantes da pesquisa foram identificados com a letra P acompanhado
por números (Exemplo: P1).

Escola Municipal Helena Smal, Escola Municipal Viriato Correa, Escola Municipal Prof. Zelly
13

Pereira Esmeraldo e Escola Municipal Mate Amargo.


52

profissionais é a falta de diagnóstico clínico que impossibilita o trabalho mais


efetivo com o aluno com NEE. Assim, o professor realiza um diagnóstico
pedagógico, quando o aluno chega à escola, para poder inserí-lo da melhor
forma possível respeitando as suas possibilidades.
Dentre as NEE que as Escolas possuem as mais frequentes são às
deficiências intelectuais, autismo, hidrocefalia, transtornos psíquicos e
deficiência auditiva e visual, sendo que estas duas últimas possuem uma rede
de apoio que ajuda as Escolas paralelamente ou em contraturno.
A estrutura física ainda possui limitações, já que em algumas escolas
foram constatadas a falta de laboratórios de informática e rampas para o
acesso de cadeirantes e pessoas com dificuldades de mobilidade. Em geral as
escolas possuem o serviço de apoio como sala de recursos no qual os alunos
são envolvidos em atividades específicas para o seu desenvolvimento e
algumas instituições de ensino já estão recebendo materiais para disponibilizar
também uma sala multifuncional.
Os profissionais que atendem da sala de recursos possuem cursos de
formação, ou especialização em alguma área específica como deficiência
intelectual entre outros e Psicopedagogia Clínica e Institucional. A proposta
pedagógica é oferecer suplementação e suporte aos alunos que necessitam de
ajuda no processo de aprendizagem no turno inverso nesses serviços de apoio,
por isso que a formação dos professores que trabalham na sala de recursos é
essencial para atender melhor os alunos com NEE.
O Projeto Político Pedagógico (PPP) das escolas possui algumas
situações referentes ao processo de inclusão, como por exemplo, o direito que
o aluno com NEE tem de ter um monitor para auxiliá-lo. Porém, as equipes
diretivas mencionaram a necessidade de reestruturação deste documento para
que seja repensado a partir das demandas da inclusão que se modificam a
cada ano.
Quanto à parceria com alguma rede de apoio de atendimento
especializado (Escolas Especiais, clínicas, etc), foram descritas algumas
situações que os professores da sala de recursos ou da sala regular bem como
os orientadores pedagógicos conseguem ajuda. Porém, muitas vezes esse
apoio fica restrito ao trabalho com o aluno no turno inverso não chegando até
53

aos professores que precisam dessa interrelação com diferentes profissionais a


fim de realizar ações e reflexões efetivas para trabalhar com alunos com NEE.
Foi relatado que quando o aluno está com alguma dificuldade de
aprendizagem ou social, estes profissionais realizam um relatório e um
diagnóstico pedagógico juntamente com relatos da família e repassam para a
Secretaria Municipal de Educação e Desporto (SMED), assim o aluno é
encaminhado a um especialista que poderá realizar os exames necessários e
juntamente com uma equipe multidisciplinar diagnosticá-lo.
A rede de ensino propicia cursos de formação continuada que abordam
o tema da inclusão. A Escola Municipal de Educação Especial Maria Lucia
Luzzardi criada pela AMAR (Associação de Pais e Amigos dos Autistas do Rio
Grande), realiza reuniões com professores que têm alunos incluídos. Bem
como alguns cursos do Programa de Formação Continuada de Professores da
Educação Básica, promovido pela Universidade Federal do Rio Grande
(FURG) em associação com a Secretaria Municipal da Educação (SMED) e do
Núcleo de Diversidade e Inclusão, que propicia cursos específicos para a sala
de recursos e multifuncionais. Outro programa que auxilia nesta formação
continuada é o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa, curso de
duração de dois anos. Porém, os profissionais anunciam a falta de aviso sobre
as formações continuadas.
Sobre a adaptação curricular, a equipe diretiva comenta que o professor
juntamente com o orientador pedagógico elabora e adapta o currículo conforme
a necessidade do aluno para que ele atinja os objetivos propostos dentro das
suas possibilidades.
O professor preconiza o bem estar do aluno que possui diagnóstico
clínico e procura solicitar atendimento para aqueles que não têm diagnósticos a
fim de que seus direitos favoreçam a inclusão do aluno. No entanto, foi relatada
a existência de alguns casos que há uma resistência de alguns professores
quanto à inclusão, o que dificulta o processo.
A segunda etapa da pesquisa que foi o Planejamento Cooperativo
contou com a participação do pesquisador e dos seis professores participantes.
54

Os professores escolheram as temáticas dentro do ensino de Ciências14 e após


foi realizada uma discussão para a elaboração coletiva de abordagens
metodológicas e a criação de práticas pedagógicas para o desenvolvimento da
temática em questão em turmas inclusivas.
Já a terceira etapa foi à visitação nas turmas participantes da pesquisa
no dia em que os professores realizaram os planos de aula construídos no
Planejamento Cooperativo para observar a forma como se deram as práticas
pedagógicas de inclusão.
E por fim, realizou-se uma reunião do pesquisador com os seis
professores para que fossem refletidas todas as etapas do Planejamento
Cooperativo.
Assim, procuramos responder aos questionamentos traçados através
dos dados coletados com as relações empíricas que circundam a pesquisa e
os referenciais teóricos. Desta forma, chegamos a duas categorias, a primeira
categoria consistiu dos Fundamentos e Concepções dos Professores sobre a
Inclusão no Ensino de Ciências. A segunda categoria aborda as Práticas
Pedagógicas dos Professores no Ensino de Ciências: Recursos Didáticos,
Estratégias e Avaliação.
Na primeira categoria temos as concepções dos professores sobre o
processo inclusivo e algumas demandas que envolvem o processo. Na
segunda estão as práticas que os professores empregaram pensando na
diversidade e a forma como está sendo feita a inclusão de alunos com NEE, os
recursos didáticos, as estratégias pedagógicas para incluir, bem como forma de
avaliação. Desta forma, apresentamos as categorias.

4.2 Fundamentos e Concepções dos Professores sobre a Inclusão


de alunos com NEE no Ensino de Ciências

No Brasil, a partir dos anos 90, mais precisamente com a Declaração de


Salamanca (UNESCO, 1994), a inclusão de alunos com algum tipo de NEE no

As temáticas no ensino de ciências escolhidas pelos professores que participaram da


14

pesquisa foram: Cadeia alimentar, Órgãos dos sentidos, Tratamento de água, Botânica (plantas
medicinais).
55

sistema regular de ensino tem sido tema de uma série de debates promovidos
pelos profissionais e pesquisadores envolvidos com a educação, familiares e a
sociedade em geral.
A proposta da inclusão nas escolas regulares mesmo que se tratando de
uma política que está instituída há alguns anos ainda possui grandes
obstáculos e necessita de alguns esforços para sua efetivação.
Vejamos algumas considerações dos professores, quando indagados no
grupo focal sobre o que é para eles um aluno incluído e a inclusão de alunos
com NEE:

É aquele aluno que cai de paraquedas na sala de aula e a gente tem


que ir levando, na situação atual é isso. Eu acho difícil não excluir,
não é por nos querermos, não é por vontade, mas que é nos temos
que avançar o conteúdo e o aluno não vai (P5).

Eu acho que só saber que eles têm que estar na escola não garante
a inclusão, para haver inclusão tem que ter aprendizagem, se ele
estiver ali e não consegue ele acaba sendo excluído (P6).

Analisando os comentários, percebemos as dificuldades encontradas


nas salas de aula com alunos incluídos. Conforme relatado pelo professor P6,
que salientou que o aluno com NEE ao estar somente inserido na rede de
ensino comum não tem garantia de estar incluído, já que a aprendizagem faz
parte do processo efetivo de inclusão do aluno. Segundo o professor P5, para
atingir os objetivos propostos em seu plano de aula necessita avançar com o
conteúdo e alguns alunos com NEE não conseguem acompanhar o ritmo da
turma e acabam ficando sem aprender, o que prejudica o processo de
aprendizagem e de inclusão. Sempre o tempo como instrumento para
"igualizar" a aprendizagem. Tem que aprender e aprender no mesmo tempo.
Estas afirmações implicam mudanças já que simplesmente inserir o
aluno em uma turma e não garantir a sua aprendizagem respeitando as suas
singularidades, seria apenas a integração desse sujeito. Como relatado por
Stainback (2006) a educação inclusiva não tem mais espaço para modelos
educativos que busquem homogeneizar e normalizar seus alunos, mas sim
propostas que contemplem a diversidade.
56

A ideia de integração, segundo Sassaki (2005), é a de um modelo que a


sociedade aceita receber alunos com necessidades especiais, desde que os
mesmos fossem capazes de se ajustar aos requisitos dos serviços ofertados,
de acompanhar os procedimentos tradicionais, de contornar os obstáculos
existentes, de lidar com atitudes discriminatórias, e de desempenhar papéis
sociais com autonomia. Assim, as estratégias pedagógicas seriam aquelas que
permitissem um ajustamento que compensasse as diferenças, tais como
material ampliado, rampas de acesso e outros recursos que amenizem as
diferenças e criem uma possibilidade de enquadre ao padrão dito normal.
Já o modelo de inclusão conforme Carvalho (2003):

A proposta da educação inclusiva não representa um fim em si


mesma, como se, estabelecidas certas diretrizes organizacionais, a
escola melhorasse, num passe de mágica. Muito mais do que isso,
pretende-se, a partir da análise de como tem funcionado o nosso
sistema educacional, identificar as barreiras existentes para a
aprendizagem dos alunos, com vista às providências políticas,
técnicas e administrativas que permitam enfrentá-las e removê-las.
Pretende-se identificar processos que aumentem a participação de
todos os alunos reduzindo-lhes a exclusão na escola e garantindo-
lhes sucesso em sua aprendizagem, além do desenvolvimento de sua
auto-estima (CARVALHO, 2003, p.149).

E ainda Mantoan (1997), complementa que:

a inclusão se concilia como uma educação para todos e com um


ensino especializado no aluno, mas não se consegue implantar uma
opção de inserção tão revolucionária sem enfrentar um desafio ainda
maior: o que recai sobre o fator humano. Os recursos físicos e os
meios materiais para a efetivação de um processo escolar de
qualidade cedem sua prioridade ao desenvolvimento de novas
atitudes e formas de interação na escola exigindo mudanças no
relacionamento pessoal e social e na maneira de se efetivar os
processos de ensino e aprendizagem (MANTOAN, 1997, p. 8-9).

Podemos verificar que de acordo com a Declaração de Salamanca


(1994), as escolas inclusivas devem reconhecer e responder às necessidades
diversas de seus alunos, acomodando ambos os estilos e ritmos de
aprendizagem e assegurando uma educação de qualidade a todos através de
um currículo apropriado, arranjos organizacionais, estratégias de ensino, uso
de recurso e parceria com as comunidades.
57

Contudo, verificamos nas falas dos professores P5 e P6 que eles


inevitavelmente excluem os alunos com NEE diante da atual conjuntura
evidente no ensino. No entanto, entendemos que são perfeitamente legítimas
as dificuldades que os profissionais da educação enfrentam para realizar a
inclusão, já que muitas vezes não são dadas as condições mínimas de reflexão
na escola sobre a inclusão ou cursos de formação continuada que legitimem e
subsidiem o processo inclusivo.
Na perspectiva dos professores pesquisados uma mudança será
importante para o processo efetivo da inclusão, pois os espaços escolares e
toda a equipe da escola precisam estar preparados para atender sujeitos com
NEE de forma que as modificações ocorram para o aluno e em benefício do
sucesso educacional do mesmo. Assim para colaborar com as angústias dos
professores Carvalho (2005) nos relata que,

O que se pretende na educação inclusiva é remover barreiras, sejam


elas extrínsecas ou intrínsecas aos alunos, buscando-se todas as
formas de acessibilidade e de apoio de modo a assegurar (o que a lei
faz) e, principalmente garantir (o que deve constar dos projetos
político pedagógicos dos sistemas de ensino e das escolas e que
deve ser executado), tomando-se as providências para efetivar ações
o acesso, ingresso e permanência bem sucedida na escola
(CARVALHO, 2005, p. 72).

Os fundamentos teóricos e metodológicos da inclusão de alunos com


NEE estão centrados em uma concepção de educação com qualidade para
todos os alunos, respeitando à diversidade. Contudo, ainda existem muitas
lacunas no processo de inclusão, conforme podemos notar nos relatos dos
professores:

Sem curso nenhum, trabalhei no amor, mas não vi progresso (P2).

Tem horas que a gente não sabe se está fazendo certo ou não, ou se
está só tapeando o sistema. Na APAE, que eu trabalhava quando a
gente tinha um problema específico, tinha um médico que atendia,
tinha fonoaudióloga, fisioterapeuta, qualquer outro recurso que
tivesse necessidade estava ali e na escola a gente não tem (P3).

O número de alunos né, que te possibilita dar aquela atenção que a


criança necessita, isso sempre te exige uma avaliação, uma turma
com poucos alunos com NEE seria o ideal. (P6).
58

O professor para acompanhar, precisa estar adaptado para receber


também (P2).

Ao analisar as questões mencionadas acima podemos perceber que, o


professor P6 argumentou sobre um fator que deveria estar contido no Projeto
Político Pedagógico da escola que se trata do número de alunos com NEE por
turma, sendo que se estivesse pré-definido e fosse um número reduzido por
turma colaboraria com a prática de ensino. Por fim, o professor P3 comenta
sobre as redes de apoio e o Atendimento Educacional Especializado, que são
bases importantes para acompanhar o professor no processo de ensino e
aprendizagem para a inclusão de alunos com NEE.
Já o professor P2 comenta sobre a de falta formação continuada para os
professores, pois como não possui formação realiza o processo de inclusão
através da prática e nem sempre obtêm sucesso no processo de ensino de
alunos com NEE. Nesse sentido, verificamos que a importância da formação
continuada para a educação inclusiva se torna evidente, pois conforme relatado
pelo professor P2, só o “amor” não garante o que os alunos tenham o processo
de ensino e aprendizagem efetivado.
Nesse contexto, podemos destacar o que diz Mantoan (2006) a respeito
da necessidade da formação continuada:

[...] todo plano de formação deve servir para que os professores se


tornem aptos ao ensino de toda demanda escolar. Dessa forma, seu
conhecimento deve ultrapassar a aceitação de que a classe comum
é, para os alunos com necessidades educacionais especiais, um
mero espaço de socialização (MANTOAN, 2006, p. 60).

Além disso, Mantoan também afirma que:

[...] é preciso atentar que esses profissionais sejam capacitados para


atuar no sistema regular de ensino junto às escolas, uma prática que
eles não carregam como herança e, portanto, tem de ser objeto de
formação continuada, prevendo que sua intervenção, no âmbito das
escolas, esteja centrada em práticas de ensino a serem
desenvolvidas com esses alunos em turmas do ensino regular (idem,
p.68).
59

Seguindo com a mesma ideia podemos observar nos relatos dos


professores algumas situações negativas para realizar o processo inclusivo,

Eu acho que precisa ter um professor volante, de repente lá na escola


nos temos muitas crianças com problemas, então um professor que
vai um pouco em cada turma (P1).

Se eu tivesse uma monitora, eu acredito que dava para essa pessoa


ajudar, enquanto ela atende uns eu atendo outros e a gente troca e
todos seriam atendidos (P6).

Eu gosto de trabalhar com os alunos diferentes só que vem as leis e


agora é obrigatório tu atenderes ao aluno, mas de que maneira ele
precisa ser atendido? Tem estrutura? (P3)

É muito fácil tu chegar, como eles mandam pra gente incluir a criança
lá na tua turma, e “ti vira”, é muito fácil isso. Dentro da escola é difícil
encontrar alguém que “pegue junto” contigo (P4).

A escola tem que ajudar também, a escola, a supervisão (P1).

A partir dos dados, nota-se que os professores demandam por maior


estrutura para o processo de inclusão. Conforme, o relato do professor P3 que
comenta que ainda falta estrutura para realizar um trabalho efetivo no processo
de inclusão. Essas carências podem ser entendidas como a falta de estrutura
física, como por exemplo, a falta de materiais adaptados para a inclusão,
rampas, banheiros adaptados e etc. Outra carência é a disponibilidade de
recursos humanos para o atendimento destes alunos com NEE, como por
exemplo, a falta de monitor em tempo integral na escola e de profissionais
especializados para dar suporte ao atendimento dos alunos com NEE.
No entanto, a presença deste monitor ou professor volante não deverá
ser confundida com a terceirização do trabalho docente, já que a
responsabilidade do monitor de acordo com Nota Técnica nº19 de 2010
publicada pela Secretaria de Educação Especial prevê que não são delegadas
funções relacionadas com o aspecto pedagógico, mais especificamente no que
tange ao trabalho com conteúdos previstos no currículo escolar. Contudo, o
profissional de apoio deve atuar de forma articulada com os professores nas
atividades de ensino trabalhadas com os alunos com NEE (BRASIL, 2010).
De acordo com Correia (2013), os alunos com NEE precisam de um
conjunto de serviços especializados, os professores devem relacionar-se e
60

colaborar entre si e com outros profissionais que envolvam a educação. Torna-


se necessário o envolvimento de todos os membros da equipe escolar no
planejamento de ações e projetos voltados a educação inclusiva e ao processo
educacional em si. Para que assim se propicie atuações específicas no seu
fazer e ações coletivas para o desenvolvimento de melhorias no sistema
educacional.
Outro fator preponderante para o processo inclusivo é o apoio familiar,
porém conforme relatos dos professores esse apoio familiar nem sempre se
consolida de acordo com as colocações abaixo:

Eu tenho um aluno que a mãe não aceita que ele tem um problema,
ele copia qualquer coisa, ele lê qualquer coisa, mas ele não entende
uma palavra, ele não entende nada do que ele lê. A mãe não admite
que ele tenha alguma coisa (P6).

Sem falar dos pais que não aceitavam, no caso do meu deficiente
auditivo, os pais querem que o filho esteja na escola, porém não
aceitam que ele seja tratado diferente, não aceitam que ele é
deficiente (P4).

Assim, a fala dos professores nos indica que os familiares não aceitam
que o filho apresente alguma necessidade especial e criam barreiras para um
atendimento mais específico. De acordo com Correia (2013),

Os pais atravessam um período de luto pela perda de um filho


“idealizado”. Contudo é importante que os professores estejam
cientes das barreiras que poderão encontrar no estabelecimento das
relações com os pais, para que possam desenvolver práticas eficazes
de relacionamento que auxiliam no processo de inclusão do sujeito
(CORREIA, 2013 p.159).

A aceitação da família poderá promover um atendimento mais


direcionado, assim o acompanhamento e as reflexões avaliativas em conjunto
com a escola buscando sempre o bem estar do aluno auxiliará o
desenvolvimento pessoal do sujeito com NEE.
O apoio da família na inclusão escolar e o gerenciamento de atitudes a
favor deste processo é um fator preponderante para o sucesso escolar. Já que
61

a interrelação entre profissionais da educação, saúde juntamente com os pais


aumentam as possibilidades de um processo de inclusão efetivo.
Os professores sugeriram alguns acompanhamentos e medidas que
possibilitam o desenvolvimento mais efetivo de todos os alunos, bem como
desencadearia um processo de inclusão e ensino satisfatório, como podemos
observar:

Eu acho assim é que nada substitui a tua prática, não adianta nada
essa minha pesquisa, esse meu estudo todo por que aí vê que na
prática vai depender do aluno que a gente vai encontrar, a forma que
tu vai trabalhar a gente vai aprendendo diariamente, vai aprendendo
com eles. (P6).

Eu aprendi um monte de coisas diferente, eu acho que a gente


precisa de uma inovação e de pessoas que vão lá e inovam (P4).

Além de atingir os objetivos didáticos, desenvolver o tema de forma


agradável e bastante atraente para os alunos. Eles precisam gostar
do que estamos fazendo (P3).

De acordo, com a análise dos relatos nota-se que o contexto atual da


educação inclusiva indica alguns fatores que precisam ser repensados na
situação educacional. Compreender e analisar a percepção dos professores
sobre o processo de educação inclusiva é um dos principais caminhos para
que seja efetivada a inclusão através das experiências vividas no dia a dia. A
inclusão é uma realidade, porém as instituições de ensino devem cada vez
mais proporcionar atendimento de apoio, pesquisa e formação para
professores.

4.3 As Práticas Pedagógicas dos Professores no Ensino de


Ciências: Recursos Didáticos, Estratégias e Avaliação.

Na atual conjuntura educacional que vivenciamos na escola regular as


práticas pedagógicas de inclusão de alunos com NEE apresentam-se de forma
desafiadora e estimulante de um fazer pedagógico diferenciado. Nesse
contexto, a formação continuada surge como uma das possibilidades de
auxiliar o professor a pensar nas práticas pedagógicas inclusivas.
62

A formação continuada do professor pode ser uma das possibilidades


para o enriquecimento dessas práticas. Podemos observar nos fragmentos
abaixo evidências que nos demonstram a necessidade da formação continuada
dos professores para a inclusão de alunos com NEE:

O professor precisa estar em constante preparação e atualização


realizando cursos para trabalhar em turmas que possuam alunos
incluídos. É necessário pessoas comprometidas para trabalhar com o
diferente (P4).

E ainda complementa:

A partir da formação continuada e do repensar na sua prática, o


professor sente-se mais comprometido com a sua didática, pensando
no aluno incluído e em todas as dificuldades (P4).

Conforme podemos verificar nos fragmentos acima, o próprio professor


demanda pela formação continuada e consegue compreender o significado que
ela tem em sua ação docente. Considerando o volume de exigências que este
contexto acarreta para a ação pedagógica dos professores, a formação
continuada se mostra como um dos principais caminhos para a realização do
processo de inclusão mais efetivo e pleno de alunos com NEE.
Nesse sentido, Carvalho (2004) comenta que, por falta de qualificação,
muitos professores resistem ao trabalho com a inclusão, e outros, para não
criar desavenças com a direção, aceitam, e outros ainda, felizmente, enfrentam
o desafio e descobrem a riqueza que representa o trabalho com a diversidade.
A prática pedagógica direcionada à educação inclusiva poderá
contemplar um ensino adequado às diferenças e às necessidades de cada
aluno e não ser vista isoladamente. Além de proporcionar um maior
comprometimento com a ação do fazer pedagógico diante da diversidade a
formação continuada poderá representar um espaço de repensar e refletir
sobre novas práticas de inclusão. Nesse sentido, Carvalho (2008) afirma que é
imprescindível para a concretização dessas práticas a formação adequada e
contínua do professor.
63

No entanto, algumas situações são reveladas pelos professores


demonstrando as dificuldades no processo de inclusão apesar da existência de
cursos de formação continuada, conforme notamos no relato a seguir:

A maioria dos professores não quer trabalhar diferente. Eles não


querem realmente, não adianta tu fazeres formação, pois por mais
que tenha formação e disponibilização de recursos para aquele
professor, ele quer continuar trabalhando com a mesma forma de
passar o conteúdo e em uma turma homogênea, mas as turmas não
são mais homogêneas (P3).

Essa visão que o professor comenta impossibilita um olhar para as


particularidades dos alunos e para a relevância singular de cada sujeito perante
o conhecimento que será construído e vivenciado por ele. De acordo com
Melero (2008), grande parte das barreiras didáticas relacionadas ao processo
ensino e aprendizagem que prejudicam a inclusão de alunos com NEE tem
origem na concepção tradicional de educação compreendida como aquela em
que predominam práticas educacionais homogeneizantes, centradas no
professor, classificatórias e excludentes.
No entanto, diante dessa nova situação educacional na qual a
diversidade de alunos pode ser levada em consideração, o conhecimento não
poderá ser algo “pronto” e “uniformizado”.
Desta forma, o professor P3 ao comentar que alguns professores,
mesmo realizando formação continuada, querem trabalhar o conteúdo da
mesma forma nos demonstrando um modelo tradicional de ensino utilizando
conceitos impostos nos livros didáticos, em conteúdos tácitos e imutáveis. De
acordo com Krasilchik:

O docente, por falta de autoconfiança, de preparo, ou por comodismo,


restringe-se a apresentar aos alunos, com o mínimo de modificações,
o material previamente elaborado por autores que são aceitos como
autoridades. Apoiado em material planejado por outros e produzido
industrialmente, o professor abre mão de sua autonomia e liberdade,
tornando-se simplesmente um técnico (KRASILCHIK, 2004 p. 184).

A partir do Planejamento Cooperativo, verificamos como novas práticas


pedagógicas no ensino de Ciências utilizadas pelos professores participantes
64

desta pesquisa influenciaram na inclusão dos alunos com NEE, conforme


fragmentos:

Então eu puxo o assunto e eles vão falando, então eu acho que a


ciências é bem fácil, é a vida, tudo o que a gente trabalha é meio
ambiente, é animais é plantas, então eu acho que dá bem pra puxar
para o que eles já conhecem. E primeiro eu converso e eles expõem
o que eles sabem, as curiosidades e dão exemplos, pra depois o
conteúdo em si. Porque assim já se torna bem mais fácil pra eles
(P6).

Para mim era uma tristeza sabe? Eu dava coisa pronta e os alunos
não chegavam a conclusão nenhuma por que eu já dava tudo
bonitinho na folhinha. Agora está sendo uma maravilha! Por que tudo
é experimento, tudo eles experimentam, agora eles têm que observar
e colocar o que acontece (P4).

Conforme os fragmentos observou-se que as práticas pedagógicas no


ensino de Ciências em turmas inclusivas deixaram de se configurar como uma
abordagem pedagógica técnica e se basearam em uma perspectiva reflexiva e
singular ao sujeito, visto que a proximidade dos conteúdos de Ciências com o
cotidiano dos alunos facilita a interação e a construção de novos
conhecimentos.
Conforme os relatos dos professores podemos verificar que novas
práticas pedagógicas no ensino de Ciências poderão facilitar o processo de
inclusão de alunos com NEE. Nesse sentido, Correia (2013) comenta que a
substituição de um tipo de material por outro para a aprendizagem pode ser
muito útil para alguns alunos com NEE, tornando-os mais apropriados de
acordo com o sujeito e os seus estilos de aprendizagem.
Sendo assim, podemos perceber que o ensino focado nas necessidades
individuais, nos interesses dos alunos e na experiência adquirida pelos
professores que utilizaram práticas educativas flexíveis e não abordagens
pouco diversificadas e iguais para todos os alunos favoreceu o processo de
ensino e aprendizagem dos alunos com NEE no ensino de Ciências.
A proposta em pensar a sua prática pedagógica a partir do coletivo, no
qual professores em reuniões dialogando sobre as suas visões e práticas no
ensino de Ciências nas salas inclusivas foi um movimento importante e
65

desafiador para os professores. Vejamos uma das práticas pedagógicas


desenvolvidas pelo professor em uma turma inclusiva:

Temática: “Os cinco sentidos”. Objetivos do plano de aula P3:


Identificar os cinco sentidos; Estimular as sensações; Desenvolver o
auto-conhecimento; Reconhecer e identificar diferentes sons, cheiros,
sabores, texturas e imagens. Metodologia: Serão aplicadas algumas
atividades práticas envolvendo os cinco sentidos. 1ª Atividade :
Caixa das sensações (tato). Dentro de uma caixa, serão colocados
objetos diversos, e uma criança por vez, terá que identificar algum
dos objetos, somente pelo tato. Também serão apresentadas caixas
de medicamentos para que os alunos conheçam o alfabeto em Braille
e identifique pelo toque algumas letras contidas nas caixas. Após
todos terem participado, em uma conversa, terão questionamentos. 2ª
Atividade: Audição. Sentados em círculo, em silêncio, os alunos, irão
ouvir sons variados (chuva, vento, pássaros, carro, moto, buzina,
choro, palmas, risos, etc.) e a cada som tocado, terá que ir
identificando o que estão ouvindo. 3ª Atividade: Gustação e Olfato.
Ainda em círculo, os alunos receberão uma ficha com desenho de um
nariz e uma boca, onde terão que fazer alguns registros durante a
atividade. Todos com os olhos vendados terão que identificar alguns
cheiros, depois registrar na folha. Depois, o mesmo acontecerá com
alguns alimentos, para que sintam os sabores, e também terão que
registrar. 4ª Atividade: Figura fundo (Visão). Os alunos receberão
algumas figuras (todos as mesmas) e terão que identificar, registrar o
que conseguiram ver. Após aplicar todas as atividades, será passado
um vídeo, explorando a temática dos cinco sentidos. Na sequência, a
turma será dividida em grupos de três. Cada grupo receberá uma
folha com um sentido e terá que, a partir, de todas atividades
anteriores, construir um texto sobre a importância que tem aquele
determinado sentido. Estratégias utilizadas para a Inclusão:
Realizar o desenho do que foi sentido; Diversidade nas atividades
após ser dado o conteúdo; Utilização de diversos sentidos para
trabalhar com o conteúdo; Práticas em grupo. (Dados retirados do
plano de aula do Professor P3)

As dinâmicas utilizadas para realizar as atividades, propiciaram a


participação efetiva de todos os alunos, inclusive daqueles que
apresentam mais dificuldades cognitivas. Tudo aconteceu de forma
muito natural, sem muitas dificuldades. O tema foi abordado de forma
que, até mesmo os alunos com mais dificuldades cognitivas,
conseguiram participar das atividades e interagir com bastante
naturalidade. Mas minha preocupação vai além de atingir os objetivos
didáticos. Preocupo-me em desenvolver os conteúdos de forma
agradável e bastante atraente para os alunos. Eles precisam gostar
do que estão fazendo. (Reflexão do professor P3).

Ao analisar o Planejamento Cooperativo desde a construção do plano de


aula, a observação da prática em sala de aula, o uso das estratégias para
trabalhar diante da diversidade até a reflexão dos professores, percebeu-se a
66

multiplicidade de estratégias metodológicas e recursos didáticos que foram


pensados a partir da particularidade da turma.
Como estratégias utilizadas pelo professor P3, destacam-se as práticas
realizadas em grupo que facilitaram o convívio e possibilitaram a troca de
conhecimentos entre os alunos. Conforme já demonstrado por Glat (2007), o
trabalho em grupo contribui com o processo de interação entre os alunos, bem
como ocorre à colaboração de todos os alunos no desenvolvimento do
processo de ensino e aprendizagem.
Destaca-se também a utilização de experiências multissensoriais que
não generaliza o modo de aprendizagem, pois possibilitou que os conteúdos
fossem apresentados de formas variadas. Auxiliando a construção do
conhecimento através de práticas pedagógicas que estimulam o tato, a audição
e a visão.
O professor P3 também utilizou como estratégia a elaboração de
desenhos por parte dos alunos, afim de que cada um demonstrasse o
conhecimento construído, potencializando o aprendizado para alunos que
ainda não adquiriram a escrita.
Dessa forma, podemos evidenciar a diversidade de estratégias de
ensino utilizadas pelo professor em turmas inclusivas. Conforme Correia
(2013), as estratégias de ensino quando adequadas as necessidades dos
alunos conduzem ao sucesso da inclusão. Além disso, salienta que:

é necessário a adaptação de estratégias e métodos de ensino para


os alunos com NEE no sentido de facilitar a aprendizagem. Assim
sendo, os educadores e professores devem recorrer ao conjunto de
técnicas que permitam tornar a intervenções eficazes de forma a
responder as necessidades individuas dos alunos com NEE
(CORREIA, 2013, p.125).

O planejamento desenvolvido pelo professor P3 teve como ponto de


partida um conteúdo de Ciências, que levou principalmente em consideração
as estratégias que mais motivassem os alunos ao aprendizado e ao
envolvimento cognitivo no qual as competências e habilidades dos alunos
fossem exploradas da melhor maneira possível.
67

De acordo com Bordenave e Pereira (2007), as estratégias estão


relacionadas com a forma de apresentar ao aluno oportunidade para viver as
experiências desejadas, são também as maneiras de estruturar a atividade, isto
é, estabelecer situações de ensino e aprendizagem.
A partir do Planejamento Cooperativo e das reflexões sobre a prática
pedagógica em turmas com alunos com NEE, os professores trouxeram
algumas considerações a respeito das aulas desenvolvidas. Vejamos as
reflexões a seguir:

Através das atividades realizadas, os alunos tiveram a oportunidade


de explorar a sensibilidade de seus órgãos dos sentidos. As
dinâmicas utilizadas para realizar as atividades, propiciaram a
participação efetiva de todos os alunos, inclusive daqueles que
apresentam mais dificuldades cognitivas. Tudo aconteceu de forma
muito natural, sem muitas dificuldades (P3).

Tive que fazer atividades práticas cuidando sempre que meus alunos
participassem de tudo sem deixar uma criança de fora (P4).

Foi possível contar com a participação de todos os alunos, inclusive


os que não estão alfabetizados. Isso porque foram desenvolvidas
atividades em que eles não precisavam ler ou escrever, mas prestar
bastante atenção nos vídeos, desenhar e apresentar seus desenhos
falando sobre o que entenderam sobre a aula (P6).

Eles participam mais, por ser uma atividade diferenciada (P2).

De acordo, com as reflexões acima podemos evidenciar que os


professores sentiram-se confiantes com o planejamento pensado no coletivo e
satisfeitos com o retorno da avaliação feita com os alunos. Como observamos
nas falas dos professores P2, P3 e P6 que relataram a participação dos alunos
pelo fato da aula ser diferenciada e atraente. Assim podemos verificar que a
realização de novas estratégias de ensino utilizadas pelos professores foram
pensadas a partir das diferentes singularidades dos alunos. Colaborando com
estes relatos podemos constatar que para Mantoan (2003), a aprendizagem do
aluno incluído precisa ser pensada a partir da ideia de uma formação integral
do aluno conforme suas capacidades e talentos, através de um ensino
participativo, acolhedor e solidário.
68

Sendo assim, o Planejamento Cooperativo proporcionou um trabalho


reflexivo que envolveu o plano de aula e pensar e repensar em práticas
pedagógicas no coletivo. Constituindo-se de momentos de muitas trocas e
interações importantes no âmbito escolar entre os profissionais da educação,
pois os conhecimentos foram extravasados e compartilhados. As situações e
estratégias foram bem sucedidas tanto para o processo de ensino quanto,
aprendizagem. Assim, nota-se que uma atitude reflexiva já propicia uma
possibilidade de superação e transformação. Nota-se que, de modo geral, o
professor ensina de modo automatizado, sem maiores questionamentos da sua
prática. Quando questionado, surge a abertura para a novidade e a
possibilidade de criação do diferente.
Podemos observar que, na visão dos professores, as práticas
pedagógicas no ensino de Ciências demonstraram efetiva aprendizagem dos
alunos, conforme descrito abaixo:

Os professores sentiram-se confiantes na aprendizagem dos


conteúdos pelos seus alunos e na forma como o Planejamento
Cooperativo foi construído no coletivo. A maioria dos alunos
conseguiram atingir os objetivos propostos para as atividades e nas
aulas posteriores os professores continuaram trabalhando a partir do
Planejamento Cooperativo com os conteúdos e ficaram satisfeitos
com as avaliações (Diário de campo: 05/08/2013).

A utilização de estratégias pedagógicas diferenciadas pode ser pensada


como uma atividade pedagógica que possibilita o acesso de todos os alunos ao
conhecimento. Conforme descrito por Manzini e Deliberato (2004), as
estratégias pedagógicas servem como um elemento facilitador para efetivar
com qualidade o processo de inclusão escolar de crianças com deficiência na
escola regular.
As estratégias (Quadro 1) pensadas a partir da coletividade
impulsionaram a prática pedagógica no ensino de Ciências perante a
diversidade das turmas atuais. Mesmo que não tenham sido estratégias
inovadoras com o intuito de salvar o professor na prática inclusiva, como uma
receita, pensar junto sobre uma atividade que privilegie a diversidade na sala
de aula propiciou condições de repensar a partir dessa prática.
69

Quadro 1: Descrição das estratégias do ensino de Ciências utilizadas


pelos professores a partir do Planejamento Cooperativo em turmas com alunos
com NEE.
ESTRATÉGIAS DIDÁTICAS PARA INCLUSÃO
Recapitular o conteúdo Importante para todos os alunos e principalmente
para alunos com alguma NEE pelo fato de que
ajuda a estabelecer relações entre o que já foi
apreendido e os novos conteúdos, otimizando a
aprendizagem pela recapitulação e as relações
que o aluno poderá realizar.
Diversidade de práticas Diversificar a prática em sala de aula possibilita
atender a diversidade de alunos com
singularidades próprias do individuo, seja pela
sua forma e ritmo de aprender ou pelos
interesses que serão variados e às experiências
vividas.
Experimentação Representa uma ferramenta importante e
desafiadora de análise e reflexão no qual o aluno
aproxima-se do conteúdo, experimentando-o,
conhecendo-o de forma que estabeleça relação
entre a teoria e a prática. Assim os alunos em
geral e principalmente os que possuam NEE
terão a possibilidade de levantar e testar suas
ideias e suposições sobre os fenômenos
científicos através dessa ferramenta confrontando
erros e acertos.
Tema gerador Utilizando um tema gerador de interesse do aluno
permitirá uma aproximação com o conteúdo e a
valorização do que o aluno tem contato no seu
dia a dia possibilitando uma reflexão crítica do
conteúdo.
Trabalho em grupo Usado como prática didática para inclusão a fim
de que os alunos que possuam dificuldades de
relacionamento social e disciplina possam
interagir com os colegas. E através dessa prática
sintam-se mais a vontade tendo a possibilidade
de que o conteúdo seja explicado por um colega
de forma diferente daquela explicada pelo
professor.
Utilização de diversos Estimular os diversos sentidos em um mesmo
conteúdo poderá facilitar para que alunos com
sentidos
NEE possam estabelecer uma relação e
interação com o conteúdo de forma mais
facilitada. Criar e inventar estratégias nos
diferentes conteúdos que estimulem os sentidos
como audição, visão, tato não privilegiará a
70

limitação do aluno.
Uso de imagens Possibilita incluir estudantes com dificuldades
com textos escritos e permite uma aproximação
mais visual com a realidade a ser trabalhada.
Desenhar O desenho facilita que o aluno expresse o que
está aprendendo e facilita a sua interação em
sala de aula. É uma ferramenta flexibilizadora que
permite que o aluno que ainda não consiga
escrever represente, por exemplo, o que
aprendeu no momento da avaliação.
Fonte: elaborado pelo autor

Os professores no desenvolvimento do Planejamento Cooperativo foram


provocados a pensar na utilização dos recursos pedagógicos para a prática
pedagógica inclusiva no ensino de Ciências no qual compreendesse diversas
formas de abordagem do conteúdo, a fim de tornar o processo de ensino e
aprendizagem mais dinâmicos e acessíveis aos alunos independentemente das
singularidades. Conforme relatado pelos professores:

Agora eles estão vendo mais como funciona a ciência,


pois com o uso da caixa dos sentidos ficou mais fácil
para eles entenderem o conteúdo (P5).

Através das atividades realizadas, os alunos tiveram a


oportunidade de explorar a sensibilidade de seus
órgãos dos sentidos. As dinâmicas utilizadas para
realizar as atividades, propiciaram a participação
efetiva de todos os alunos, inclusive daqueles que
apresentam mais dificuldades cognitivas. (P3).

Trabalhar o conteúdo de Ciências era difícil, agora


com o uso dos experimentos fica muito melhor para
eles aprenderem (P4).

Foi possível contar com a participação de todos os


alunos, inclusive os que não estão alfabetizados. Isso
porque foram desenvolvidas atividades em que eles
não precisavam ler ou escrever, mas prestar bastante
atenção nos vídeos, desenhar e apresentar seus
desenhos falando sobre o que entenderam sobre a
aula (P6).

De acordo, com os professores citados os recursos utilizados nas


práticas pedagógicas de inclusão foram o uso de aulas práticas, a utilização da
experimentação e o uso de recursos audiovisual. Através dos dados
71

demonstrados podemos identificar a utilização de variados tipos de recursos


didáticos na prática pedagógica inclusiva, demonstrando que o Planejamento
foi realizado contemplando todos os alunos de forma mais ativa e construtiva
possível. De fato, foi possível averiguar que o planejamento cooperativo
propiciou uma ruptura com os modos tradicionais de ensinar, permitindo a
possibilidade de pensar sobre as demandas específicas de cada estudante.
Pensando na inclusão de alunos com NEE e atendendo as suas
necessidades, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9394/96
assegura que os sistemas de ensino disponibilizem currículos, métodos,
técnicas, organização específica e recursos educativos. Dessa forma, podemos
observar que o uso de vários recursos didáticos foi pensado com o propósito
de facilitar e enriquecer o processo de aprendizagem, possibilitando, o
envolvimento ativo de todos os alunos e assegurando os seus direitos.
Ainda discutindo sobre as novas práticas pedagógicas no ensino de
Ciências, evidenciamos a importância da utilização de novas metodologias
pensadas para a participação efetiva de todos os alunos, conforme fragmento:

Percebi que através da prática por exemplo, da caixa dos sentidos


ficou mais fácil para eles entenderem a importância de cada órgão
dos sentidos na teoria, dando para eles mais segurança para
realizarem um trabalho de grupo e exporem para os demais da sala
de aula (P4).

A partir da análise dos dados obtidos através do Planejamento


Cooperativo conforme descrito, a experimentação, as aulas práticas, e
utilização de recursos audiovisuais auxiliam o professor para trabalhar os
conteúdos de Ciências, influenciando os alunos a reflexão, ao debate e a
investigação.
As experiências dessas práticas vivenciadas em turmas e escolas
inclusivas legitimam a história atual dos profissionais da educação que
compartilham seus anseios e culminam nas preocupações de como garantir o
sucesso no processo educacional e a efetivação da educação para todos.
Pensar a partir das suas vivências é um movimento importante realizado
pelos professores pelo fato de poderem responsabilizar-se e envolverem-se
com a sua prática de ensino e com as metodologias que os impulsionam
72

perante o processo de inclusão. Relatar sobre o seu fazer na sala de aula levou
a uma reflexão que os motiva a pensar sobre outros fatores e práticas que
possam ajudá-lo no dia a dia da escola.
Pensando em processo de ensino as práticas pedagógicas culminam em
um aprendizado que é filtrado por uma avaliação. Nesse propósito, vejamos o
que os professores comentaram a respeito da avaliação:

Então para ti avaliar dentro das possibilidades do


aluno ele deve ter um diagnóstico que diga quais são
as capacidade e tu vai ter que avaliar dentro disso.
Não tem como avaliar um outro aluno igualzinho a ele
(P3).

A avaliação não poderia ser a mesma para todos os


alunos, na medida que eles não aprenderam as
mesmas coisas e da mesma forma (P1).

A avaliação é para ver o que foi aprendido e salienta


que precisa ser dentro das potencialidades do aluno
(P6).

Podemos observar na fala dos professores que avaliar os alunos é um


processo desafiador em turmas que apresentam alunos com NEE. Pois
conforme relatado pelo professor P3 se torna complexo avaliar da mesma
forma alunos com diferentes singularidades.
Sendo assim, a avaliação precisa ser diagnóstica, pois se constitui um
processo dialético que precisa facilitar o desenvolvimento e a autonomia do
aluno. A avaliação em turmas inclusivas torna-se importante para se conhecer
as necessidades educativas dos alunos e os avanços do processo educativo.
Para Hoffmann (1994) a avaliação enquanto relação dialógica:

Vai conceber o conhecimento como apropriação do saber pelo aluno


e pelo professor, como ação-reflexão-ação que se passa na sala de
aula em direção a um saber aprimorado, enriquecido, carregado de
significados, de compreensão. Dessa forma a avaliação passa a
exigir do professor uma relação epistemológica com o aluno. Uma
conexão entendida como uma reflexão aprofundada sobre as formas
como se dá a compreensão de educando sobre o objeto do
conhecimento. (HOFFMANN, 1994, p.148).

E de acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais:


73

A avaliação informa ao professor o que foi aprendido pelo estudante;


informa ao estudante quais são seus avanços, dificuldades e
possibilidades; encaminha o professor para a reflexão sobre a
eficácia de sua prática educativa e, desse modo, orienta o ajuste de
sua intervenção pedagógica para que o estudante aprenda.
Possibilita também à equipe escolar definir prioridades em suas
ações educativas. (PCN, 1998, p.30).

Logo, se pensarmos numa avaliação diante da diversidade


enfrentaremos as dificuldades singulares de cada sujeito. Pois as diferenças
individuais dos alunos frente a todas as NEE se intensificam quando o
professor pensa em um modelo tradicional de educação, no qual diferentes
alunos com suas singularidades e especificidades chegam à escola e após o
ensino precisam sair com um aprendizado igual e uniforme (Figura 3).

Figura 3: Modelo tradicional de educação.


Fonte: elaborado pelo autor.

Na figura 4 representamos o funil “A” como uma forma tradicional de


avaliação, na qual todo conteúdo culmina em provas e trabalhos e ao final
temos um produto, o conhecimento, sintetizado em um número que classifica o
aluno e quantifica o quanto ele aprendeu como forma de demonstrar o
aprendizado do aluno.
74

No entanto, o funil “B” representaria uma forma de avaliar baseado na


construção do conhecimento, na interação do sujeito com o conteúdo e as
possibilidades (por isso o funil invertido), demonstrando uma diversidade de
conhecimentos que o aluno esta exposto ao se defrontar com o conteúdo
apresentado na avaliação do processo de ensino.

CONTEÚDOS CONTEÚDOS

A B

CONHECIMENTO CONHECIMENTO

Figura 4: Esquema representativo sobre a avaliação. (A) sistema


tradicional de avaliação, (B) sistema de avaliação baseado na construção do
conhecimento pelo aluno.
Fonte: elaborado pelo autor.

Precisamos pensar no processo de avaliação como um momento


valioso, já que o professor poderá verificar e refletir as lacunas que ficaram da
sua prática. Para o aluno, a avaliação será um momento para exercitar o
conhecimento e mesmo errando será um elemento fundamental para entrar em
contato com o desafio de pensar sobre, de tentar de novo, de autoconhecer o
processo de aprendizagem. Pois conforme descrito nos Parâmetros
Curriculares Nacionais:

Do ponto de vista do professor o erro, que tradicionalmente expressa


discrepâncias com conceitos e procedimentos da Ciência, também
pode ser visto como uma revelação da lógica de quem aprende.
Avaliar também é buscar compreender essa lógica, sua razão
constitutiva como parte do processo, explicitá-la para quem está
aprendendo, possibilitando seu avanço. Por outro lado, os erros dos
estudantes também indicam as necessidades de ajuste no
planejamento de quem ensina ou no programa da área. (PCN, 1998,
p.32).
75

Para que a avaliação em um processo de educação inclusiva alcance


suas verdadeiras funções, é ponderável que se conheça o potencial de
aprendizagem do aluno e dos progressos que ele alcança com relação ao seu
próprio desempenho, sem comparações com os outros colegas.
Logo, reorientar a prática pedagógica e fazer que cada aluno avance na
construção de seu conhecimento, independentemente de todas as
especificidades, é garantir a equidade de direito à educação. Assim, a
avaliação é um momento importante desse processo, já que complementa um
ciclo de aprendizado, contribuindo tanto para o ensino, no qual o professor
poderá avaliar a sua ação, quanto para a aprendizagem, pois o aluno poderá
aproveitá-la também como forma de construir o seu conhecimento.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Finalizar uma pesquisa não significa dar por terminado o trabalho, bem
como não se dará por concluído já que as considerações apresentadas a
seguir possibilitarão uma investigação sobre as práticas pedagógicas dos
professores no ensino de Ciências nos anos iniciais pensadas a partir do
coletivo e da diversidade. Assim, buscamos elucidar algumas questões que nos
ajudaram a pensar o caminho da pesquisa e evidenciaram algumas indagações
sobre o processo de inclusão.
Pensando em uma reflexão mais intensa sobre o tema, foi realizado
como um dos métodos de coleta de dados o Planejamento Cooperativo, que
constitui de uma reunião coletiva no qual os professores eram provocados a
pensar sobre a temática da inclusão de alunos com NEE e as suas ideias
foram expostas para o grupo. Assim, uma das nossas questões era analisar
como as atividades pensadas a partir do Planejamento Cooperativo poderiam
contribuir com o processo de inclusão de alunos com NEE.
Uma das hipóteses para esta questão é que pensar em práticas
pedagógicas no coletivo facilitariam o reconhecimento do processo de inclusão,
possibilitando a construção de práticas do ensino de Ciências em turmas
inclusivas e a utilização de estratégias e recursos metodológicos apropriados a
76

partir do sujeito que está no processo educacional. E que as atividades de


Planejamento Cooperativo com professores dos anos iniciais no ensino de
Ciências poderiam contribuir para ampliar os saberes, criando espaços para
problematizar e refletir sobre o processo de inclusão e as práticas inclusivas.
Atendendo as expectativas desta hipótese, as discussões e reflexões a
partir do Planejamento Cooperativo foram satisfatórias e positivas, pois foram
construídas com o intuito que todos os alunos estivessem apreendendo com
equidade atendendo as particularidades e as limitações de cada sujeito.
Sendo assim, pensar em práticas pedagógicas no ensino de Ciências
em função de que todos precisam aprender foi fundamental para desacomodar
a ação pedagógica que muitas vezes é inflexível. Essa desordem momentânea
na didática do professor permitiu significativas mudanças, já que os
professores comentaram que a partir dessa nova forma de pensar o processo
educacional transformaram outros planos de aula e propuseram projetos dentro
das escolas em detrimento dos alunos com NEE e não somente em relação a
conteúdos. A realização de um plano de aula construído no coletivo, com a
premissa de pensar em turmas heterogêneas favoreceu o uso de novas
práticas pedagógicas, estratégias diversificadas e recursos metodológicos
variados.
Desta forma, verificamos que o trabalho pedagógico realizado no
coletivo proporciona o uso de diferentes estratégias de ensino e recursos
didáticos variados, pois promove um estímulo e desperta capacidades no
professor para a construção de novas práticas pedagógicas que influenciam
positivamente o processo de ensino de Ciências para turmas com alunos com
NEE.
Outra questão de pesquisa centrou-se nos maiores desafios enfrentados
pelos professores em turmas inclusivas para ensinar Ciências. Assim,
pensamos que os maiores desafios dos professores dos anos iniciais no ensino
de Ciências são a criação e a aplicação efetiva de novas práticas pedagógicas
no ensino que possibilitem o processo de ensino e aprendizagem efetivo.
Após o estudo, verificamos que os conteúdos de Ciências para os anos
iniciais são difíceis de serem aplicados diretamente como conteúdo isolado, já
que é primordial nos anos iniciais a alfabetização e a Matemática. Conforme
77

Delizoicov e Angotti (1990) que constataram essa situação ao apresentarem


algumas razões para a situação desfavorecida do ensino de Ciências de 1ª a 4ª
séries, entre elas lacunas na formação de professores e prioridade dada à
alfabetização e à matemática. Porém, foi visto que os professores desenvolvem
os conteúdos de Ciências relacionados ao ensino do Português e da
Matemática, pelo fato dos conteúdos de Ciências estarem relacionados ao
cotidiano dos alunos. Contudo, a dificuldade de mudança vai além da educação
inclusiva, já que os obstáculos do paradigma tradicional interferem para que o
professor inove as suas práticas pedagógicas e se desafie em ensinar de forma
diferente daquela que ele foi ensinado quando aluno.
Por fim, tínhamos a questão que verificava a contribuição das práticas
pedagógicas do ensino de Ciências realizadas a partir do Planejamento
Cooperativo na formação do professor e do seu fazer pedagógico em turmas
inclusivas. A hipótese foi de que o desenvolvimento de novas práticas
pedagógicas no ensino de Ciências pensadas no coletivo possibilitaria que os
professores dos anos iniciais percebam-se como parte do processo, sentindo-
se preparados para inovar no ensino perante os desafios diários de trabalhar
com alunos com NEE. Assim, ao final do estudo os professores produziram
uma reflexão sobre suas práticas pedagógicas pensadas a partir do
Planejamento Cooperativo descrevendo que as suas angústias não são apenas
em atingir os objetivos didáticos, mas com uma proposta de uma educação
para todos precisam desenvolver os conteúdos de Ciências de forma agradável
e atraente para os alunos para que a construção do conhecimento faça sentido
para eles. Nestes termos, mais do que uma procura pelo saber fazer ou
manejar didaticamente as situações, nota-se que grande parte do desconforto
do professor vem da dificuldade de trabalhar com um aluno que não seja
idealizado e que rompa com seus modelos do que é ensinar, aprender, ser
estudante e, consequentemente, ser professor.
Desse modo, o desenvolvimento deste estudo se deu a partir de
concepções que buscaram investigar como as atividades de Planejamento
Cooperativo com professores dos anos iniciais contribuíram nas práticas
pedagógicas no ensino de Ciências inerentes ao processo de inclusão. E após
a prática do Planejamento Cooperativo e as atividades realizadas em aula
78

podemos evidenciar que os professores sentiram-se inseguros em um primeiro


momento por se tratar de um planejamento que tinha como premissa a
heterogeneidade de aprendizagens, a diversidade em sala de aula e
principalmente os alunos com singularidades. Imprimindo ao ato de ensinar
como precursor ou não da construção de conhecimentos de alunos singulares
e diferenciados na forma de aprender.
Passadas as primeiras discussões e o impacto inicial de pensar no seu
fazer foi notável a empolgação de reflexões sobre as suas práticas
pedagógicas no ensino de Ciências e a interação sobre as práticas dos
colegas. É importante salientar que a atividade de Planejamento Cooperativo
com os professores dos anos iniciais no ensino de Ciências proporcionou
novos desafios e motivação, já que ao pensar os planos de aula em grupo as
suas vivências e práticas foram reestabelecidas e reinventadas tendo como
premissa o ensino e a aprendizagem para todos.
Pensar na inclusão escolar a partir das atividades do Planejamento
Cooperativo permitiu ressignificar e legitimar uma forma de educação centrada
na aprendizagem dos alunos e no ensino. Primeiramente, pensando na
singularidade de cada sujeito o professor se sensibilizou e passou a enxergar o
aluno independente da sua necessidade, foi um processo importante para
pensar em estratégias e práticas pedagógicas que asseguram a equidade
dentro do ambiente escolar. Já pensando no ensino, mais especificamente nas
práticas pedagógicas o professor a partir da ação e reflexão passou a valorizar
o seu trabalho pensando em estratégias de ensino na qual todos os alunos
aprendam de forma significativa e efetiva.
Esta investigação nos proporcionou além de possibilidades para o
processo educacional de alunos com NEE, a ampliação de novos caminhos de
reflexão sobre o tema e possíveis aprofundamentos necessários para que o
processo de inclusão seja naturalmente realizado em todos os espaços
inclusive no educacional.
79

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Vozes, 2006.
87

APÊNDICES

Apêndice A: Apresentação e Dados Pessoais dos Professores

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS:
QUÍMICA DA VIDA E SAÚDE
ASSOCIAÇÃO AMPLA FURG/ UFRGS/ UFSM

Apresentação da Pesquisa:

Ao cumprimentá-lo(a) apresento-me: meu nome é Juliana Hartleben da Costa e


sou mestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências:
Química da Vida e Saúde da Universidade Federal do Rio Grande- FURG.
Estou realizando minha pesquisa de dissertação de mestrado que se intitula “O
ensino de Ciências e a Educação Inclusiva nos anos iniciais: práticas
pedagógicas a partir do Planejamento Cooperativo” e gostaria de convidá-lo(a)
a participar desse estudo. Posso ser encontrada pelo telefone (53) 81197800 e
seu desejo de participar pode ser alterado a qualquer momento do estudo.
Saliento que em nenhum momento seus dados pessoais e/ou respostas
identificando seu nome serão divulgados. Caso concorde participar deste
estudo é importante que responda, por favor, alguns dados para que possamos
lhe conhecer profissionalmente.

Dados de identificação:

1. Nome:______________________________________________________
2.Idade:_______________________________________________________
3. Formação Acadêmica:__________________________________________
4. Quantos anos atua na docência:_________________________________
5. Série(s) que atua:_____________________________________________
88

Apêndice B: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS:
QUÍMICA DA VIDA E SAÚDE
ASSOCIAÇÃO AMPLA FURG/ UFRGS/ UFSM

No seguinte termo, temos o prazer de convidá-lo(a) para participar como


voluntário(a) da pesquisa “O ensino de Ciências e a Educação Inclusiva nos
anos iniciais: práticas pedagógicas a partir do Planejamento Cooperativo” que
tem como objetivo compreender como as atividades de Planejamento
Cooperativo com professores dos anos iniciais contribuem para propiciar
práticas pedagógicas no ensino de ciências inerentes ao processo de inclusão.
Os resultados da pesquisa serão analisados e publicados, mas sua identidade
não será divulgada, sendo guardada em sigilo. Se depois de consentir sua
participação o Sr. (a) desistir de continuar participando, tem o direito e a
liberdade de retirar seu consentimento em qualquer fase da pesquisa, sem
nenhum prejuízo a sua pessoa.
Eu,___________________________________________________________,
portador(a) do documento de identidade __________________________, fui
informado(a) do objetivo do presente estudo e autorizo publicação dos
resultados para devido fins da pesquisa. Recebi uma cópia deste termo de
consentimento livre e esclarecido.
Rio Grande, ____ de ______________ de 2013.

_____________________________________
Assinatura do(a) participante

_____________________________________

Pesquisadora: Juliana Hartleben da Costa

Telefone: (53) 81197800


89

Apêndice C: Roteiro de Observação

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS:
QUÍMICA DA VIDA E SAÚDE
ASSOCIAÇÃO AMPLA FURG/ UFRGS/ UFSM

Nome da Escola:_________________________________________________

Nome do (a) Diretor(a): ___________________________________________

1. Indicadores Escolares

Nº de Turno de Nº de Nº de alunos com


turmas funcionamento alunos Necessidades
incluídos Educativas Especiais
(NEE) sem
diagnóstico
Educação
infantil

Anos Iniciais

Anos finais

Ensino Médio

EJA

2. Quais são as NEE (deficiências, transtornos globais do


desenvolvimento e ou altas habilidades/superdotação) que a Escola
possui?
90

Objetivo das questões 1 e 2: Verificar a situação atual da Escola, panorama


geral de alunos matriculados e das matrículas dos alunos com NEE, identificar
as necessidades existentes, verificar a percepção do profissional de educação
em diagnosticar pedagogicamente os alunos com alguma NEE.

3. Estrutura física da Escola

- Possui laboratórios? Quais e quantos?

- Possui serviços de apoio e complementares (salas de recursos,


laboratórios de aprendizagem, etc)?

- Se possuir sala de recursos multifuncional e ou complementar qual a


formação do profissional que orienta o trabalho feito nesta sala?

- E como são aproveitados/utilizados nas práticas dos alunos com NEE?

Objetivo do conjunto de questões: Mapear a situação da inclusão e os


recursos que podem ser utilizados para o processo.

3. Atendimento educacional especializado

- O Projeto Político Pedagógico (PPP) da Escola possui alguma proposta


ou situação referente ao processo de inclusão? Em caso afirmativo o que
consta?

- A escola mantém alguma parceria com alguma rede de apoio de


atendimento especializado (Escolas Especiais, clínicas, etc)? Quais? E
como é realizado?

- Quais as pessoas são encarregadas de encaminharem os alunos com


necessidades educativas especiais para os serviços de apoio e
especializados e como este trabalho é realizado?

- A escola faz alguma adaptação curricular? Quem elabora? Em que


casos?
91

- A Rede de ensino propicia algum curso de formação continuada que


aborde o tema inclusão? Quais?

- Como o professor se posiciona frente à diversidade em turmas inclusivas?

- Quais são as práticas inclusivas que os professores fazem na sala de


aula?

- O professor tem um planejamento de aula diferenciado quando tem algum


aluno incluído?

Objetivo do conjunto de questões: Analisar as práticas realizadas pelos


docentes nas turmas inclusivas. Identificar como a Escola se orienta frente ao
processo de inclusão.
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Apêndice D: Roteiro do Grupo Focal

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS:
QUÍMICA DA VIDA E SAÚDE
ASSOCIAÇÃO AMPLA FURG/ UFRGS/ UFSM

1º Momento: Leitura e posteriormente assinatura do termo de consentimento


livre e esclarecido.

2º Momento: Apresentação da proposta do grupo focal e da participação na


pesquisa, de forma sintetizada, sem aprofundar muitas nas explicações sobre o
tema para não influenciar nas suas opiniões.

3º Momento: Apresentação do vídeo “A política Nacional para a Educação


Inclusiva: Avanços e desafios” http://www.youtube.com/watch?v=AUL62tZIFYY

4º Momento: O moderador (pesquisador) encaminhará a discussão em torno


do vídeo e das práticas dos professores em turmas inclusivas, incentivando a
participação de todos os professores do grupo, para que se aprofundem as
discussões, possibilitando a manifestação de novos aspectos e olhares
relativos ao tema, sendo privilegiado pelas discussões feitas no coletivo.

Alguns pontos para incentivar a discussão:

- Como podemos tornar uma escola inclusiva?

- O que facilita e/ou prejudica a aprendizagem do sujeito quando ele está


incluído?

- O que é uma Escola para todos? E o ensino para todos?

- Quais os desafios de uma escola para todos?

- Como seria trabalhar “diferente” na escola?

- O que seria uma boa escola?

- O que vocês entendem por adaptação para com NEE?


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- Como você trabalha com turmas inclusivas? Ou se não trabalha como pensa
que poderá trabalhar?

- Quais dificuldades você encontra nas turmas inclusivas?

- Como você pensa um planejamento de aula para uma turma que tenha
alunos incluídos?

- Como você pensa suas práticas no conteúdo de ciências?

- E como será um planejamento de ciências em uma turma com NEE?


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Apêndice E: Planejamento Professor P1

CONTEÚDO: Cadeia Alimentar

Objetivos:

- identificar uma cadeia alimentar através de uma exposição dialogada


participativa;
- reconhecer o que é uma cadeia alimentar relacionando predadores e
presas a partir do jogo QUEM COMO O QUÊ?

INTRODUÇÃO

Conversa informal com os alunos e alunas sobre o que eles sabem a


respeito dos vegetais e animais. A seguir abordar o assunto: a alimentação dos
seres vivos no ecossistema com questionamentos:
- vocês sabem como e de forma cada ser vivo se alimenta?
- os vegetais, como já vimos, produzem seu próprio alimento atraves do
processo da fotossíntese. E os animais?
- Os animais comem só carne? Ou eles também comem vegetais?
- Vocês lembram como chamamos os animais que só comem carne? E
aqueles que só comem vegetais? Ou os dois?

DESENVOLVIMENTO

Depois desta interpelação será exposto no quadro figuras de animais,


vegetais e setas, e assim será solicitado aos alunos que digam e organizem no
quadro a partir das setas quem eles acham que come o quê: predadores
primários, secundários e presas.
OBSERVAÇÃO: A seta vai indicar o organismo do animal ou vegetal que
serve de alimento até o que consome.

FECHAMENTO

Para finalizar a atividade e constatar se os alunos reconhecem uma


95

cadeia alimentar será realizado o Jogo: QUEM COMO O QUÊ?


Em grupos (de 4 a 5 alunos no máximo), receberam uma sacolinha com
peças apresentando nomes e figuras de animais e vegetais, diferentes dos
expostos no quadro anteriormente, para formar uma cadeia alimentar com a
observação de que poderão utilizar quantas peças acharem necessárias. A
seguir deverão apresentar aos outros grupos o que realizaram.
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Apêndice F: Planejamento Professor P2

Conteúdos
• Plantas, suas partes e funções.
• Plantas medicinais, cuidados e benefícios.

Objetivos
• Conhecer as partes das plantas e suas funções. Acrescentar
informações sobre os cuidados e benefícios do uso de plantas
medicinais.

Desenvolvimento
1º momento: para introduzir o assunto será feito alguns
questionamentos sobre o conhecimento que eles tem sobre plantas,
registrando no quadro os seus relatos.
• Quais as plantas que vocês conhecem?
• Que tipos de plantas cultivam em casa?
• De que forma as plantas fazem parte do seu dia a dia?

A partir desses relatos será solicitado que levem para a aula “mudas” de
plantas para montarmos uma horta.

2º momento: vídeo informativo sobre plantas medicinais.


http://www.youtube.com/watch?v=Rt5XTZaaBpA

3º momento: atividade “Partes de uma planta”.


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Partes de uma planta

Raiz: Absorção de nutrientes da planta.


Caule: sustenta galhos, folhas, flores e frutos.
Folhas: ajudam na respiração e nutrição da planta.
Flores: servem para a reprodução da planta.
Frutos: guardam as sementes.

4º momento: texto informativo.

Desde a antiguidade as pessoas buscavam nas plantas a forma de


minimizar seus males. As plantas podem nos oferecer alimentos e remédios, e
através delas podemos nos manter saudáveis e nos curar de doenças. Mas
também podemos incorporar na nossa vida algumas plantas para satisfazer
nosso prazer em degustar alguns chás, cultivando na horta de casa para
alegrar nosso tempo.
• Camomila: é refrescante e calmante para os nervos.
• Hortelã: é excelente para problemas estomacais.
• Cidrão: ótimo para insônias, resfriados e problemas digestivos.
• Erva doce: calmante, combate insônia, náuseas e cólicas.
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• Malva: eficiente em gargarejos para dor de garganta e bochechos contra


a gengivite.
• Carqueja: ajuda a curar o fígado.
• Alcachofra: ótimo diurético.
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Apêndice G: Planejamento Professor P3

CONTEÚDO: ÓRGÃOS DOS SENTIDOS

Objetivos:
Identificar os cinco sentidos;
Estimular as sensações;
Desenvolver o auto – conhecimento;
Reconhecer e identificar diferentes sons, cheiros, sabores, texturas e
imagens.

Para introduzir o assunto, serão aplicadas algumas atividades práticas


envolvendo os cinco sentidos.
A partir dessas atividades, serão realizados registros, produções textuais
e outras atividades didáticas relacionadas ao tema.
1ª Atividade – Caixa das sensações ( Tato)
Dentro de uma caixa, serão colocados objetos diversos, e uma
criança por vez, terá que identificar algum dos objetos, somente pelo tato. Após
todos terem participado, em uma conversa, serão questionados:
- o que sentiram?
- como era o que tocaram?
- que tamanho tinha? Forma? Espessura? O que será que era?
A partir dessa conversa, terão que fazer o desenho do objeto, sem ver,
somente com as informações que descreveram. Na sequência, faremos a
exposição dos trabalhos e o reconhecimento do objeto.
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2ª Atividade - Audição
Sentados em círculo, em silêncio, os alunos, irão ouvir sons variados (
chuva, vento, pássaros, carro, moto, buzina, choro, palmas, risos, etc...) e a
cada som tocado, terá que ir identificando o que estão ouvindo.
Outra opção
Uma dupla de alunos. Um de olhos fechados, apenas ouvindo. O outro
fará uma sequência de sons, e o ouvinte, terá que repeti-la.
3ª Atividade - Gustação e Olfato
Ainda em círculo, os alunos receberão uma ficha com desenho de um
nariz e uma boca, onde terão que fazer alguns registros durante a atividade.
Todos com os olhos vendados, terão que identificar alguns cheiros,
depois registrar na folha o que eram.
Depois, o mesmo acontecerá com alguns alimentos, para que sintam os
sabores, e também terão que registrar.

4ª Atividade - Figura fundo ( Visão )


Os alunos receberão algumas figuras (todas as mesmas) e terão que
identificar, registrar o que conseguiram ver.
101

VÍDEO
Após aplicar todas as atividades, será passado um vídeo, explorando a
temática dos 5 sentidos.
O corpo fala – A turma da Mônica - http://youtube/blG2tmsqM3w

PRODUÇÃO TEXTUAL
Na sequência, a turma será dividida em grupos de três. Cada grupo
receberá uma folha com um sentido e terá que, a partira, de todas atividades
anteriores, construir um texto sobre a importância que tem aquele determinado
sentido

Desenha e registra o que tu ouviu, experimentou e cheirou:


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QUAL IMPORTÂNCIA DE TER...

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QUAL IMPORTÂNCIA DE TER...

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QUAL IMPORTÂNCIA DE TER...


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QUAL IMPORTÂNCIA DE TER...

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2º dia de planejamento:
1ª atividade - retomada do assunto, através do vídeo da Turma da
Mônica: O corpo fala.
Após, assistirmos o vídeo, faremos uma conversa informal, sobre as
formas que o corpo tem, para “falar”.
103

Em seguida, os alunos receberão o texto, e farão primeiro, a leitura


individual, num segundo momento, faremos uma leitura coletiva, onde serão
feitos alguns questionamentos sobre o assunto.
( texto: órgãos dos sentidos )
2ª atividade - Folhas de atividades relacionadas com o tema.
• Cruzadinha;

• Figura fundo

3ª atividade – Troca troca


A turma escolhe um colega e o retira da sala. Em seguida, outros dois
colegas trocarão de lugar. Ao retornar para sala, o colega terá que identificar o
que há de diferente na sala.
Repetiremos a atividade, outras vezes, trocando outros colegas e
objetos na sala.
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OS ÓRGÃOS DOS SENTIDOS


PELOS SENTIDOS PODEMOS, PERCEBER SE UM AMBIENTE ESTÁ AGRADÁVEL OU NÃO, SE O CHEIRO É
BOM OU NÃO E PERCEBER OS DIVERSOS SONS. ALÉM DISSO, SENTIMOS O GOSTO DOS ALIMENTOS.

OS SENTIDOS SÃO CINCO:


VISÃO - GUSTAÇÃO - OLFATO - AUDIÇÃO - TATO

PELA VISÃO PODEMOS ENXERGAR AS COISAS. PARA ISSO, PRECISAMOS TER OLHOS SAUDÁVEIS.

COM A AUDIÇÃO, PODEMOS OUVIR OS DIFERENTES SONS.

O OLFATO É O SENTIDO QUE NOS PERMITE SENTIR OS CHEIROS.

COM A PELE SENTIMOS A TEXTURA DAS COISAS, AS CARACTERÍSTICAS DOS AMBIENTES E A


TEMPERATURA QUE FAZ.

A BOCA ESTÁ RELACIONADA AO PALADAR, RESPONSÁVEL POR NOS FAZER SENTIR O GOSTO DAS COISAS.
ALÉM DA LÍNGUA, O OLFATO TAMBÉM NOS AUXILIA NA IDENTIFICAÇÃO DOS SABORES. POR ISSO QUE
QUANDO ESTAMOS GRIPADOS, QUASE NÃO SENTIMOS OS SABORES.
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DESCUBRAS AS FIGURAS ESCONDIDAS:

DESCUBRAS AS FIGURAS ESCONDIDAS:

3º dia de planejamento:
1ª atividade: Leitura do livro Ver de Ruth Rocha.
A partira da leitura do livro, serão realizadas algumas atividades.
 Cabra cega – somente um aluno de olhos vendados, tenta
encontrar outro colega através dos sons emitidos.
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 Trem desgovernado – alunos em fila (pode ser 1, 2 ou mais)


Somente o último de cada fila ficará sem vendar os olhos. Este
aluno, será o responsável pelo deslocamento do trem. Ao tocar 1
vez no ombro direito, a fila terá que dobrar para direita, 1 toque no
ombro esquerdo, dobrar para esquerda, tocar ao mesmo tempo
nos dois ombros, seguir em frente.

2ª atividade – Alfabeto Braile


Os alunos receberão um alfabeto impresso em Braile, com os pontos em
alto relevo com cola colorida. O objetivo desta atividade, é explorar a escrita do
alfabeto em Braile.
A partir dai, faremos outras atividades utilizando o alfabeto como
consulta.
 Escrita do próprio nome;

 Escrita de outra palavra a escolha de cada aluno;

 identificar em embalagens, a escrita em Braile;

 Folha com atividades.


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UTILIZANDO O SEU ALFABETO BRAILE, ESCREVA O NOME DAS FIGURAS:


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Apêndice H: Planejamento Professor P4 e P5

Conteúdo: Órgãos dos sentidos

Objetivos
• Conhecer os órgãos dos sentidos;
• Localizar os órgãos dos sentidos;
• Conhecer a função de cada órgão do sentido do ser humano.

Metodologia

- Conversa inicial sobre os órgãos dos sentidos (se eles sabem quais
são os órgãos dos sentidos? Onde se localizam e para que servem?
- Através de atividades práticas os alunos identificaram qual órgão dos
sentidos que ele está usando.
- Fazer cinco grupos e dar uma folha cartolina tipo ofício, onde o grupo
irá desenhar o órgão do sentido que foi sorteado, colocando a sua função e
apresentar para o grande grupo para após deixar exposto em sala de aula.
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Apêndice I: Planejamento Professor P6

Conteúdo: Tratamento de água

Objetivo
- Conhecer o modo de produção da água potável, desenvolver a
capacidade da experimentação em grupo.

Metodologia

1º Momento:
Conversa com a turma sobre a aula anterior (história das águas dos rios)
retomando o motivo pelo qual não podemos beber a água direto dos rios e
lagos.

2º Momento:
Apresentação de vídeos explicativos sobre o tratamento da água.

3º Momento:
Desenhos descrevendo as etapas de tratamento que a água recebe até
chegar a torneira das nossas casas.

4º Momento:
Apresentação dos desenhos para a turma.

5º Momento:
Experiência de filtração da água.

Filtração da água
Materiais:
-algodão;
-areia;
-cascalho grosso;
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-cascalho fino;
-garrafa plástica cortada ao meio;
-água suja (barrenta).

Como fazer: Monte o filtro colocando o funil improvisado sobre a outra


parte da garrafa, dentro do funil primeiro coloque o algodão depois a areia, o
cascalho fino e o cascalho grosso. Por último despeje a água barrenta sobre o
filtro.

6º Momento:
Relatório coletivo do experimento.

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