Análise e Seleção de Materiais para Garrafas Térmicas
Análise e Seleção de Materiais para Garrafas Térmicas
Análise e Seleção de Materiais para Garrafas Térmicas
Resumo
Neste artigo, três diferentes marcas de garrafas térmicas foram analisadas, segundo
a norma ABNT NBR 13282 (garrafa térmica com ampola de vidro – requisitos
e métodos de ensaio). Testes de capacidade volumétrica real, estabilidade,
resistência a choques térmicos, eficiência térmica e resistência ao impacto foram
realizados. Além disso, foi feita uma engenharia reversa, onde se utilizou ensaios
de Espectrofotometria de Infravermelho - FTIR para a identificação dos materiais
utilizados no corpo externo, copo, tampa e fundo. Uma vez que os resultados
mostraram que, em grande parte, os materiais utilizados nos produtos eram os
mesmos, foi feita uma seleção computadorizada de materiais, a fim de verificar se
haveria outros materiais que pudessem apresentar melhores propriedades frente
às exigências de fabricação e uso de uma garrafa térmica ou custo mais baixo.
Abstract
In this article, three different trademarks of thermal bottles were analyzed, according
to ABNT NBR 13282 norm (thermal bottle with silvery glass – requirements and
test methods). Tests of real volumetric capacity, stability, thermal shock resistance,
thermal efficiency and impact resistance were carried out. In addition, a reverse
engineering was done, where it was applied the Fourier Transform Infra-red
Spectroscopy - FTIR tests for the identification of the external body, cup, lid and
bottom materials. Since the results showed that, to a great extent, the materials
utilized were the same, a computerized material selection was carried out, in order
to verify if there would be other materials that could present better properties to
the demands of a thermal bottle manufacturing and use or lower cost.
1 Doutor e Mestre em Engenharia pelo Programa de Pós-graduação em Engenharia de Minas, Metalurgia e Materiais (PPGE3M) –
UFRGS, Porto Alegre, RS, Brasil. Engenheiro Metalúrgico, professor e pesquisador no Grupo de Materiais da Universidade Feevale.
E-mail: edu.ufrgs@gmail.com
2 Mestre em Engenharia pelo Programa de Pós-graduação em Engenharia de Minas, Metalurgia e Materiais (PPGE3M) – UFRGS.
Engenheiro de Materiais. E-mail: pedrobroese@hotmail.com
3 Doutor e Mestre em Engenharia pelo Programa de Pós-graduação em Engenharia de Minas, Metalurgia e Materiais (PPGE3M) –
UFRGS. Engenheiro Mecânico pela UFRGS, professor e coordenador do Laboratório de Design e Seleção de Materiais (LdSM/
DEMAT/EE/UFRGS). E-mail: kindlein@portoweb.com.br
Artigo recebido em 04/04/2011 e aceito em 14/09/2011.
SCHNEIDER, E. L., ROESE, P. B., KINDLEIN JR., W.
preço na tabela 1. A figura 1 mostra uma foto- guir, inclinou-se a base até obter um ângulo de
grafia das três garrafas utilizadas. 10° com a horizontal. O equilíbrio da garrafa
Figura 1 – Fotografia das três diferentes marcas de gar- foi verificado, girando-se a garrafa em todas as
rafas térmicas utilizadas neste trabalho direções.
As três etapas acima descritas foram re-
alizadas com a garrafa vazia e com preenchi-
mento de 50 % e 100 % de sua capacidade
volumétrica real.
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menor coeficiente angular da reta que cor- das por combinações de propriedades como,
relaciona tempo versus temperatura da água resistência mecânica, resistência ao impacto,
confinada no interior da ampola. tenacidade, temperatura máxima de serviço
e preço (ASHBY, 2002).
2.1.5 Resistência ao impacto A necessidade de resistência mecânica
advém do fato de o corpo da garrafa térmica
Para a análise de resistência ao impac- suportar todo o peso da mesma (através da
to, cada garrafa térmica foi preenchida total- alça) e, eventualmente, sofrer carregamentos
mente com água à temperatura de 90 °C e externos, quando armazenada. A necessida-
vedada com sua tampa e copo. A seguir, foi de de resistência ao impacto, por sua vez,
submetida a uma queda de 10 cm de altura, deriva da possibilidade de o corpo da garrafa
com o auxílio de um dispositivo de ensaio de sofrer impactos diretos com o solo. Já a tena-
impacto. A ampola não deve deslocar-se de cidade é necessária para evitar a propagação
sua posição original nem apresentar trincas, de pequenas trincas que podem aparecer nos
rachaduras ou quebras. pontos de concentração de tensões e que
levam à falha catastrófica em materiais de
2.2 Engenharia reversa baixa tenacidade. Por sua vez, a temperatura
máxima de serviço deve ser tal que a água
Foi realizado um estudo de engenha- fervente que, possivelmente terá contato
ria reversa, onde se fez uma análise, utili- com o material, não o danifique. Já o preço é
zandose a técnica de FTIR (Espectrofotome- uma das variáveis cruciais na seleção de ma-
tria de Infravermelho), para identificar os teriais, para qualquer produto de consumo
materiais utilizados no corpo externo, copo, de massa.
tampa e fundo e seus resultados conferidos Foi utilizado o software de seleção
com a designação fornecida (os materiais Cambridge Material Selector (CES - Granta
utilizados na confecção dos produ- Design, 2006). Primeiramente, restringiu-se
tos analisados são indicados pelos o universo de materiais, onde a seleção foi
próprios fabricantes) (INGLE, 1994; CHAN- feita à família dos termoplásticos. Em seguida,
DRU; MONOHAR, 1997; JANNUZZI; foram eliminados todos os materiais com pre-
MONTALLI, 1999). ço maior que R$ 8,00/kg e com temperatura
Como as garrafas térmicas são produtos de serviço menor do que 100 °C, visto que
de consumo de massa, projetados para serem esses são requisitos básicos para que o ma-
produzidas em grande escala, o processo de terial se enquadre na aplicação em questão.
injeção se torna atrativo, pois, apesar do alto Em seguida, foi feito um gráfico de resistên-
investimento inicial, a produção de uma gran- cia mecânica versus resistência ao impacto.
de quantidade de unidades resulta em uma Através de uma reta de inclinação -1, foram
redução significativa no custo final do pro- eliminados os materiais frágeis e com menor
duto frente a outros processos de fabricação resistência mecânica.
(ROSSATO, 2000). Assim, para a seleção de Eliminados os materiais com proprie-
materiais, partiu-se do universo dos políme- dades mecânicas mais frágeis, a seleção fi-
ros termoplásticos por serem esses materiais nal foi feita, avaliando os materiais com o
os mais adequados para moldagem pelo melhor compromisso entre alta tenacida-
processo de injeção. de e baixo custo. Essa comparação foi feita
Os critérios de seleção de materiais fo- através de linhas de inclinação 1 no gráfico
ram determinados pela função estrutural e de tenacidade à fratura (capacidade de um
pelas restrições de resistir tanto a choques me- material de resistir à propagação de trincas,
cânicos como térmicos. Esses requerimentos quando submetido a uma carga de impacto)
de design se traduzem em especificações da- versus preço.
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quanto à natureza do PP utilizado. Assim, não
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76 gado se tratava de um homopolímero de PP
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(polipropileno) ou de um copolímero de PP.
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Horários
A figura 7 mostra o gráfico de resis-
A B C tência à tração em função da resistência ao
Fonte: Os autores (2011). impacto. Observa-se na figura 9 que ma-
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teriais como o PET (polietileno tereftala- o melhor dos materiais termoplásticos para ser
to), o PS (poliestireno) o PE (polietileno) e usado em estruturas de garrafas térmicas, con-
o PP homopolímero não apresentam pro- siderando que apresentam o melhor compro-
priedades mecânicas satisfatórias frente misso entre alta tenacidade e baixo custo. Ma-
aos outros materiais presentes na seleção. teriais como o PE de ultra-alto peso molecular
A figura 8 mostra o gráfico de tenacida- e o PC (policarbonato) possuem tenacidade
de à fratura em função do preço. Nela, obser- equivalente, porém seu maior custo o torna
va-se que os copolímeros de PP são, de fato, menos atraente para uso em garrafas térmicas.
Figura 4 – Análise de FTIR indicando as bandas características do PP na estrutura da garrafa térmica da marca A
Figura 5 – Análise de FTIR indicando as bandas características do PP na estrutura da garrafa térmica da marca B
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Figura 6 – Análise de FTIR indicando as bandas características do PP na estrutura da garrafa térmica da marca C
PPO / PS PC (Homopolímero)
80 PET PC (Copolímero)
70
PBT
60
SAN (Modificado com Borracha)
SMA
Resistência à tração (MPa)
50 PS
PP (Homopolímero)
PBT (Modificador de Impacto)
40 SMA (Modificador de Impacto)
PE (Ultra-alto Peso Molecular)
30
PP (Copolimero)
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2 PPO/PS
PC
4 5 6 7 8 9
Preço (R$/kg)
Fonte: Os autores (2011).
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