Taylor - Case Studies George and Bennet
Taylor - Case Studies George and Bennet
Taylor - Case Studies George and Bennet
Resenha Crítica: Alexander George e Andrew Bennett, Case Studies and Theory Development in the Social
Sciences, pp.1-124.
O livro em análise, de George e Bennett, é parte da literatura que discute os métodos de pesquisa e
investigação em Ciências Sociais. Este texto apresenta ao debate as vantagens do método de Estudo de
Caso e sua contribuição para o desenvolvimento de teorias que abarquem fenômenos de causalidade
complexa. Nesta abordagem, que junto aos métodos estatísticos e modelos formais constituem a essência
da metodologia em Ciências Sociais, é realizado um exame detalhado de certo aspecto de um episódio
histórico, que é parte de uma classe de eventos, com o objetivo de desenvolver e/ou testar explanações
generalizáveis para outros episódios desta classe e que permitem o desenvolvimento de teorias
qualitativas cumulativas.
Uma das principais razões que estimularam a confecção deste estudo é ser um contraponto à
interpretação clássica sobre metodologia do livro Designing Social Inquiry (DSI), no qual foi proposta
uma abordagem sobre métodos qualitativos que se baseava nos pressupostos dos métodos quantitativos.
Para George e Bennett, esta proporcionou uma compreensão distorcida sobre o método de Estudo de
Casos. Segundo eles, embora tais abordagens possuam a mesma lógica epistemológica, a lógica
metodológica é distinta em três aspectos: a) seleção de casos; b) operacionalização de variáveis; c) uso de
lógica Indutiva e Dedutiva. Ademais, tais métodos, antes de concorrentes, são complementares, o que
abre a oportunidade para elaboração de estudos e ciência colaborativa e multi-metodológica1.
Diante deste quadro, para clarear as vantagens comparativas dos Estudos de Caso, os autores se
propõem a codificar as melhores práticas para a utilização de Estudos de Caso, através da apresentação do
Método de Comparação Estruturado e Focado, refinando os conceitos de teorias tipológicas e os
procedimentos pelos quais os estudos de caso contribuem a elas, focando os aspectos do desenvolvimento
de teorias (incluindo geração de novas hipóteses) e do teste das existentes. O livro também dá especial
atenção ao método process-tracing cuja função heurística de conectar as possíveis causas aos resultados
observáveis, por meio dos mecanismos causais, permite uma ampla exploração de novas variáveis e
hipóteses, quando o caso não é contemplado pelas teorias existentes.
Dado o caráter complementar das diferentes abordagens metodológicas, as forças do Estudo de
Caso reside justamente onde o método estatístico e modelos formais são mais fracos: a) potencial para
alcançar alta validade conceitual; b) vantagens na identificação indutiva de novas variáveis e hipóteses
por meio da análise de casos desviantes e outliers; c) exame detalhado de mecanismos causais e d) maior
capacidade para acomodar as relações causais complexas por meio de teorias tipológicas cujas
1
O próprio livro dispensa um capitulo inteiro para a apresentação da literatura sobre a Paz Interdemocrática que é um ilustre
exemplo da contribuição que múltiplas abordagens metodológicas geram ao conhecimento cientifico por serem capazes de
responderem a questões de pesquisa distintas.
generalizações são contigenciais.
A proposta metodológica fundamental do livro é o Método da Comparação Estruturada e Focada,
que nada mais é que um manual para a pesquisa e o desenvolvimento de teorias segundo o método de
Estudo de Caso. São apresentados seus componentes essenciais e suas três fases de pesquisa:
O método da Comparação Estruturada e Focada é estruturado, pois busca estabelecer um conjunto
padronizado de questões gerais para cada caso que reflitam os objetivos de pesquisa e guiem e
padronizem a coleta de dados, de forma que a comparação sistemática e a cumulação de descobertas
sejam possíveis. É também focado, pois a observação do caso se resume aos aspectos relevantes para a
classe de fenômeno cuja teoria é orientada e a pesquisa deve ser situada no contexto geral da literatura
que discute a classe de modo que identifique a contribuição que a pesquisa realiza. O desafio proposto é a
analise dos fenômenos a partir das explanações sobre cada caso particular, dos quais são tiradas
conclusões generalizadas para a teoria mais abrangente. Esta análise pode ser de um ou muitos casos.
O principal objetivo deste método é superar o método descritivo - ideográfico que ao não ser
orientado teoricamente não produzia uma base para a comparação sistemática, não se adequando à
investigação cientifica. Para isto ocorrer, segundo os autores, a pesquisa com Estudo de Caso deve
atender a três requisitos: a) o investigador deve identificar a classe de eventos a qual o caso de estudo é
parte; b) o objetivo de pesquisa deve ser bem definido e a estratégia de pesquisa ser apropriada para
alcançar o objetivo proposto e guiar a seleção e análise de casos; c) os casos devem empregar variáveis
teóricas de interesse para a explanação.
No modelo proposto, conforme já dito, há três fases do desenho da pesquisa e implementação do
Estudo de Caso. Na primeira fase é formulado o desenho de pesquisa que inclui seus objetivos e estrutura
através de cinco tarefas interrelacionadas e interdependentes. A primeira tarefa consiste na especificação
do problema e do objetivo de pesquisa que deve contribuir para o campo teórico, seja desenvolvendo
teorias ou testando-as2. A segunda consiste no desenvolvimento da estratégia de pesquisa, na formulação
das hipóteses, na especificação das condições, parâmetros e variáveis e na decisão de quais serão
constantes e quais variarão entre os casos. A terceira tarefa consiste na seleção dos casos. Já a quarta
relaciona-se com a atribuição de variabilidade às variáveis e das relações causais potenciais. A quinta e
última consiste na especificação dos dados a serem obtidos e a questões gerais a serem feitas a cada caso.
Na segunda fase é realizada a coleta de dados e posteriormente os Estudos de Caso de forma a
serem obtidas respostas às questões gerais apresentadas a cada caso. Os autores propõem três passos
básicos. O primeiro é a obtenção das informações mais acessível na literatura acadêmica e em entrevistas
com o objetivo de construir narrativas cronológicas para acessar as questões básicas dos casos. O segundo
2
Os autores elencam diferentes tipos de contribuições. Dado o limite desta resenha analisarei apenas o último que é uma
proposição inédita, a saber: building block studies of particular types of phenomenon. Estes estudos são bases para as teorias
tipológicas com generalizações contigenciais. A característica especial das teorias tipológicas é permitir generalizações amplas,
mas contigenciadas, ao permitir uma variância nas variáveis de interesse, seja ela a variável dependente ou independente, e
possibilitar a captura de maior nuance nos mecanismos causais e na qualificação das variáveis.
é a analise do caso por meio dos procedimentos padrões da investigação histórica 3 e do estabelecimento
com os dados obtidos dos valores das variáveis de interesse cujos critérios para valoração devem ser
relatados de forma a permitir replicabilidade. O terceiro e último passo é o desenvolvimento de
explicações para os resultados de cada caso.
Na última fase são relacionadas à teoria as implicações descobertas na análise dos casos. Em
relação ao desenvolvimento de teorias, por meio de um processo indutivo, podem ser descobertas
novas/omitidas variáveis, hipóteses, mecanismos causais e/ou causal paths. Sobre o teste de teorias, as
descobertas podem fortalecer ou reduzir o apoio a teorias ou estreitar/expandir seu escopo de condições.
Há três níveis de implicações das descobertas teóricas: podem estabelecer, enfraquecer ou
fortalecer explanações para o caso particular 4; identificar um novo tipo de caso, sendo parte de uma
abordagem de building blocks, no qual cada estudo de caso contribui para o refinamento de
generalizações contigenciadas sobre as condições de ocorrência de causal paths particulares; podem
especificar novo conceito, variável ou teoria se revelar um mecanismo causal que afeta mais que um tipo
de caso ou toda uma classe de eventos. Em relação ao teste de teorias, caso a teoria não se adeqüe às
evidencias encontradas, não é obvio se a teoria não explique o caso, a classe ou qualquer caso em geral,
dificultando o teste de teoria por meio do exame de sua falsificação.
Por fim, os autores alertam que não há nada que garanta que um estudo com diversidade de casos
encontre padrões que permita a construção de teoria geral, enquanto uma pesquisa com apenas um único
Estudo de Caso não revele novo mecanismo causal ou refute uma teoria geral. No entanto, é mais comum,
por meio das implicações dos Estudos de Caso, refinar incrementalmente generalizações contigenciadas,
expandindo ou estreitando seu escopo ou introduzindo novos tipos e subtipos, qualificando as variáveis.
A teoria proposta parece fazer um retorno ao modelo histórico de análise das Ciências Sociais, só
que adequado às novas descobertas da Filosofia da Ciência, pois, assim como no Realismo Científico, a
base epistemológica do modelo proposto no livro é a descoberta dos mecanismos causais que conectam as
variáveis independentes e dependentes, portanto, dando um grande espaço para o surgimento de variáveis
intervenientes que expliquem a variação intra-casos. Também devido a isso há no livro um claro foco na
construção de teorias tipológicas e no método process-tracing que permitiriam a aferição desta
variabilidade e das relações causais internas a cada caso e também na existência de relações causais mais
complexas, como, por exemplo, equifinality e efeitos interativos.
3
Ao propor esta fase do método de Estudo de Caso, os autores passam grande parte do capítulo explicando questões
relacionadas às investigações históricas. De acordo com o modelo proposto, para a concretização desta pesquisa os cientistas
sociais devem se tornar pseudo-historiadores, haja vista a enorme quantidade de alertas e riscos levantados para a obtenção
precisa dos dados necessários à pesquisa.
4
Em relação a este aspecto, os autores propõem que a teoria desenvolvida na análise de um caso pode ser testada com
informações adicionais do próprio caso que não tenha sido base para a proposição da teoria. No entanto, isto pode levar a um
grave erro metodológico, pois os novos dados a serem testados podem ter a mesma origem que os dados que basearam a nova
teoria, sobretudo se ambos forem conseqüências de um elemento ainda não descoberto. Caso isto aconteça o teste desta teoria
seria feito sobre o mesmo dado em que foi formulada.