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Reunião Científica 2

Temas:

1. Promoção da saúde
a. O paradigma da promoção da saúde
b. Política Nacional de Promoção da Saúde
2. Reorientação do modelo assistencial
a. Atenção Primária em Saúde
i. Conceitos
ii. Atenção Primária à Saúde no SUS
iii. Estratégia de Saúde da Família
b. Política Nacional de Atenção Básica

Objetivo 1- Discutir os objetivos da promoção da saúde e da prevenção de doenças

● Ao analisar o discurso vigente no campo da promoção da saúde, constata-se que partindo de uma
concepção ampla do processo saúde-doença e de seus determinantes, a promoção da saúde
propõe a articulação de saberes técnicos e populares e a mobilização de recursos institucionais e
comunitários, públicos e privados para seu enfrentamento e resolução. A promoção da saúde surge,
certamente, como reação à acentuada medicalização da saúde na sociedade e no interior do
sistema de saúde.
● A promoção da saúde propõe articulação de saberes técnicos e populares e a mobilização de
recursos institucionais e comunitários, públicos e privados para seu enfrentamento e resolução
● A saúde se promove proporcionando condições de vida decentes, boas condições de trabalho,
educação, cultura física e formas de lazer e descanso
● Envolve ações do Estado (políticas públicas), da comunidade (reforço da ação comunitária), de
indivíduos (Desenvolvendo habilidades pessoais), do sistema de saúde e de parcerias intersetoriais
● A promoção da saúde envolve uma boa nutrição, saneamento, educação ao longo da vida,
ambiente limpo, rede de apoio social, atendimento ao desenvolvimento da personalidade,
educação sexual, aconselhamento pré-nupcial, moradia adequada, recreação, condições agradáveis
no lar e no trabalho
● No conceito moderno, a promoção reconhece o papel de protagonista dos determinantes sociais
sobre as condições de saúde
● Sigerist (1946) foi um dos primeiros autores a fazer referência ao termo promoção da saúde quando
definiu as quatro tarefas essenciais da medicina: a promoção da saúde, a prevenção das doenças, a
recuperação dos enfermos e a reabilitação. Ele afirmou que "a saúde se promove proporcionando
condições de vida decentes, boas condições de trabalho, educação, cultura física e formas de lazer e
descanso".
● As diversas conceituações disponíveis para a promoção da saúde podem ser reunidas em dois
grandes grupos. No primeiro deles, a promoção da saúde consiste nas atividades dirigidas à
transformação dos comportamentos dos indivíduos, focando nos seus estilos de vida e
localizando-os no seio das famílias e, no máximo, no ambiente das 'culturas' da comunidade em que
se encontram.
○ O que, entretanto, vem caracterizar a promoção da saúde, modernamente, é a constatação
do papel protagonizante dos determinantes gerais sobre as condições de saúde: a saúde é
produto de um amplo espectro de fatores relacionados com a qualidade de vida, incluindo
um padrão adequado de alimentação e nutrição, de habitação e saneamento, boas
condições de trabalho, oportunidades de educação ao longo de toda a vida, ambiente físico
limpo, apoio social para famílias e indivíduos, estilo de vida responsável e um espectro
adequado de cuidados de saúde.
● A Carta de Ottawa define promoção da saúde como "o processo de capacitação da comunidade
para atuar na melhoria da sua qualidade de vida e saúde, incluindo uma maior participação no
controle deste processo", inserindo-se, dessa forma, no grupo de conceitos mais amplos,
reforçando a responsabilidade e os direitos dos indivíduos e da comunidade pela sua própria saúde.
○ Ela estabelece, assim, que as condições e os recursos fundamentais para a saúde são: paz,
habitação, educação, alimentação, renda, ecossistema estável, recursos sustentáveis, justiça
social e eqüidade, afirmando que o incremento nas condições de saúde requer uma base
sólida nestes pré-requisitos básicos.
○ A Carta de Ottawa preconiza também cinco campos de ação para a promoção da saúde:
elaboração e implementação de políticas públicas saudáveis; criação de ambientes
favoráveis à saúde; reforço da ação comunitária; desenvolvimento de habilidades pessoais;
reorientação do sistema de saúde.

Objetivo 2- Analisar comparativamente as características estruturais da prática médica


fundamentada na concepção de “medicina científica” e de “medicina comunitária”.

● Em 1910, a Fundação Carnegie convidou o educador Abraham Flexner, a realizar um estudo sobre a
situação das escolas médicas americanas e canadenses. O documento elaborado após esse estudo,
conhecido como “Relatório Flexner”, reforça a luta pelo ideário científico da medicina. Um novo
paradigma médico surge desse episódio: a Medicina Científica, ou Flexneriana, passa a nortear a
formação dos futuros médicos e se insinua na reconstituição do próprio processo de trabalho
médico.
● As principais propostas desse documento para o desenvolvimento do ensino nas escolas de
medicina são: definição de padrões de entrada e ampliação, para quatro anos, da duração dos
cursos; introdução do ensino laboratorial; estímulo à docência em tempo integral; expansão do
ensino clínico, especialmente em hospitais; vinculação das escolas médicas às universidades; ênfase
na pesquisa biológica; vinculação da pesquisa ao ensino; estímulo à especialização médica; controle
do exercício profissional pela profissão organizada.
● A Medicina Flexneriana calcou-se em elementos estruturais que acabaram por reconstruir o
processo de trabalho médico.
○ O Mecanicismo faz uma analogia do corpo humano com a máquina, que pode ser
fragmentado em partes menores para otimizar a compreensão dos problemas e facilitar o
processo de treinamento dos profissionais.
○ O Biologicismo tenta explicar as causas e consequências das doenças através de alterações
biológicas diversas, e sua força vem da descoberta dos microorganismos no século XIX.
○ A especialização resultou da troca entre a globalidade do objeto da prática médica e a
profundidade do conhecimento de suas dimensões específicas.
○ A exclusão de práticas alternativas foi necessária para a viabilização da medicina científica.
Essa firmou-se como eficaz porque era comprovada cientificamente, ao contrário das
práticas baseadas no empiricismo ou no curandeirismo.
○ A tecnificação do ato médico legitima o mecanicismo e o biologicismo citados
anteriormente ao alijar do processo de trabalho o componente não-científico das relações
humanas. A difusão da tecnologia contribui para a progressividade do uso da técnica
científica em detrimento da percepção dos sentidos.
○ A ênfase na medicina curativa interpreta a fisiopatologia como o próprio agravo, e não
como sua expressão. Esse elemento reduz consideravelmente o universo de problemas a se
confrontar, bem como restringe o universo de intervenções possíveis.
○ A concentração de recursos se deve às exigências da sociedade industrial e da lógica
mercantilista na assistência médica. Os serviços e a tecnologia concentram-se onde há
quem possa pagar por eles, e não onde deles se necessita.
● O enfoque da medicina comunitária se fez, sobretudo, na ação social – destinada, principalmente,
aos grupos marginalizados. Tendo como pano de fundo a política social norte-americana da década
de 60 – a guerra contra a pobreza, voltada para programas assistenciais.
● Um importante respaldo teórico à medicina comunitária aparece no ano de 1970, quando foi
lançado um documento denominado Relatório Carnegie. Esse relatório declarou a crise da medicina
flexneriana e sugeriu medidas visando à sua superação. Dentre elas, destacavam-se a integração
precoce do estudante à clínica, a expansão e aceleramento da formação de pessoal auxiliar e
técnico, a integração entre matérias básicas e profissionalizantes nas instituições de ensino, o
aumento de matrículas (com prioridade para estudantes oriundos de famílias de baixa renda) e a
estruturação de planos nacionais de saúde.
● A concepção de medicina comunitária baseou-se em elementos estruturais que influenciaram
marcadamente as discussões ocorridas durante a Conferência de Alma-Ata.
○ São eles: a) o Coletivismo Restrito, que visa resgatar a propriedade coletiva do objeto das
práticas médicas; b) a integração de atividades promocionais, preventivas e curativas, como
tentativa de se estabelecer a integralidade do cuidado; c) a desconcentração de recursos,
mediante a hierarquização da oferta de serviços; d) o uso de tecnologia adequada,
evitando-se o uso de procedimentos e equipamentos sofisticados e desnecessários à
resolução de problemas de baixa complexidade; e) a inclusão de práticas alternativas,
visando à legitimação das ações médicas frente à população através do oferecimento de
formas alternativas, acadêmicas e populares de medicina; f) a utilização de equipe de
saúde; mediante a reestruturação do processo de trabalho de forma a garantir a
complementariedade das ações e respeitando-se a especificidade do trabalho de cada
membro; g) a participação comunitária, como forma de se envolver a comunidade na
solução de seus problemas e estimular a canalização de seus próprios recursos para esse
fim.
● A medicina comunitária tinha como principal meta a expansão da cobertura de serviços de saúde,
de forma a unificar uma medicina simplificada e mais barata às necessidades contextuais de
combate à pobreza.
● A proposta da medicina comunitária, como já foi dito, teve notória influência na concepção da
Atenção Primária à Saúde (APS), presente na declaração de Alma-Ata.
Objetivo 3- Discutir as origens dos movimentos de cuidados primários de saúde e de médico da
família que ocorreram no campo da saúde na década de 70

CONTEXTO HISTÓRICO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA

● Em 1920, oito anos após a instituição do seguro nacional de saúde na Grã-Bretanha, foi divulgado o
texto oficial, que distinguia 3 principais serviços de saúde: centros de saúde primários, centros de
saúde secundários e hospitais-escola.
● Este arranjo teórico forneceu a base para a reorganização dos serviços de saúde
● Na década de 70, a Organização Mundial da Saúde (OMS) passou a fomentar um debate em torno de
alternativas viáveis para a extensão dos cuidados à saúde a todos os que não possuíam alguma forma
de assistência.
● Em 1977, a Assembléia Mundial da Saúde decidiu que a principal meta dos governos participantes
deveria ser “a obtenção por parte de todos os cidadãos do mundo de um nível de saúde no ano 2000
que lhes permitirá levar vida social e economicamente produtiva”, declaração que ficou conhecida
como “Saúde para Todos no Ano 2000”
● Os princípios foram enunciados em uma conferência realizada em Alma Ata e trataram do tópico da
“Atenção primária à saúde”
● Os anos de 1977 e 1978 puderam presenciar várias reuniões que tinham por tema a Atenção Primária
em Saúde (APS), ocorridas em todo o mundo. Tais reuniões pontuaram a necessidade da realização
de uma Conferência Internacional sobre Atenção Primária à Saúde.
● A Conferência Internacional sobre Atenção Primária à Saúde foi realizada na cidade de Alma-Ata, no
Casaquistão, em setembro de 1978, sob organização da OMS e UNICEF. Dela, participaram delegações
de 134 governos e representantes de 67 organizações não-governamentais, organismos
especializados e instituições vinculadas às Nações Unidas.
● A conferência teve como objetivos: a) promover o conceito de Atenção Primária à Saúde em todos os
países; b) intercambiar experiências e informações sobre a organização da APS em alguns sistemas e
serviços nacionais de saúde; c) avaliar a situação da saúde e da assistência sanitária em todo o
mundo, bem como sua relação com a APS e o potencial de melhora dos sistemas nacionais de saúde
com o estabelecimento de uma política de APS; d) definir os princípios da APS e os formas operativas
de superação dos problemas práticos que porventura surgiriam; e) definir a função dos governos e de
organizações nacionais e internacionais na cooperação técnica e na ajuda para o desenvolvimento da
APS de uma forma geral; f) formular recomendações para esse desenvolvimento.
● Dois documentos resultaram da conferência: a Declaração de Alma-Ata e as Recomendações de
Alma-Ata, que consistem em vinte e duas diretrizes para o desenvolvimento e a implantação da
Atenção Primária na forma preconizada naquela declaração.
● - A Assembléia Mundial da Saúde, em sua próxima reunião, em 1979, definiu a Atenção primária à
saúde como: "Atenção essencial à saúde baseada em tecnologias e métodos práticos, cientificamente
comprovados e socialmente aceitáveis, tornados universalmente acessíveis e indivíduos e famílias na
comunidade por meios aceitáveis para eles a um custo que tanto a comunidade como o país possa
arcar em cada estágio de seu desenvolvimento, um espírito de autoconfiança e determinação. É parte
integral do sistema de saúde do país, do qual é função central, sendo o enfoque principal do
desenvolvimento social e econômico global da comunidade. E o primeiro nível de contato dos
indivíduos, da família e da comunidade com o sistema nacional de saúde, levando a atenção a saúde
o mais próximo possível do local onde as pessoas vivem e trabalham, constituindo o primeiro
elemento de um processo de atenção continuada à saúde"
● A Conferência de Alma Ata especificou ainda mais os componentes fundamentais da APS: educação
em saude; saneamento ambiental, especialmente água e alimentos; prevenção de doenças
endêmicas locais; tratamento adequado de doenças e lesões comuns; fornecimento de
medicamentos essenciais; promoção de boa nutrição; e medicina tradicional
● Alguns países reorganizaram seus serviços de saúde para consolidar os aspectos médicos e de saúde
da atenção primária, como por exemplo, os novos "médicos da família", em Cuba, que residem onde
trabalham, sendo, portanto, membros da comunidade, e atuam em seu benefício como agentes de
mudança, quando existem circunstâncias ambientais ou sociais que necessitam de melhorias

CONTEXTO HISTÓRICO DA PROMOÇÃO DA SAÚDE

● O conceito de promoção da saúde vem sendo elaborado por diferentes atores técnicos e sociais,
em diferentes conjunturas e formações sociais.
● O movimento de promoção à saúde surgiu no Canadá, em 1974, com a divulgação do documento “A
new perspective on the Health of Canadians”, com a motivação central de enfrentar os custos
crescentes da assistência médica associados a resultados pouco efetivos no tratamento das doenças
crônicas.
● Esse documento divide a saúde em 4 componentes: biologia humana, ambiente, estilo de vida e
organização da assistência à saúde.
● A Declaração de Alma-Ata (1978) expressava a “necessidade de ação urgente de todos os governos,
de todos os que trabalham nos campos da saúde e do desenvolvimento e da comunidade mundial
para promover a saúde de todos os povos do mundo”. Naquele momento, conforme defesa feita
pela própria OMS, a saúde era entendida como “completo bem-estar físico, mental e social, e não
simplesmente a ausência de doença ou enfermidade”.
● Três importantes conferências internacionais sobre o tema, realizadas entre 1986 e 1991, em
Ottawa (1986), Adelaide (1988) e Sundsval (1991), estabeleceram as bases conceituais e políticas
contemporâneas da promoção da saúde.
● Na América Latina, realizou-se, em 1992, a Conferência Internacional de Promoção da Saúde (Brasil,
2002).
● O conceito de promoção à saúde surgiu junto à carta de Ottawa (1986), sendo esse um dos
documentos fundadores do atual movimento da promoção da saúde.
● A Carta de Ottawa defende a promoção da saúde como fator fundamental de melhoria da
qualidade de vida, assim como defende a capacitação da comunidade nesse processo, salientando
que tal promoção não é responsabilidade exclusiva do setor da saúde, mas é responsabilidade de
todos, em direção ao bem-estar global.
● A Conferência de Adelaide (1988) elegeu como tema central as políticas públicas saudáveis, e
estabeleceu 4 áreas prioritárias para promover ações de saúde: apoio à saúde da mulher;
alimentação e nutrição; tabaco e álcool; criação de ambientes favoráveis
● A Conferência de Sundsval/Suécia (1991) traz o tema do ambiente saudável para a arena da saúde;
não restrito apenas à dimensão física ou 'natural', mas também às dimensões social, econômica,
política e cultural.
● A Conferência de Jakarta (1997) foi a primeira a realizar-se em um país em desenvolvimento. A
Declaração de Jakarta enfatiza o surgimento de novos determinantes da saúde, destacando os
fatores transnacionais: a integração da economia global, os mercados financeiros e o comércio, o
acesso aos meios de comunicação, assim como a continuação da degradação ambiental, apesar de
todos os alertas internacionais feitos sobre este tema em particular.

Objetivo 4 - Discutir a estrutura dos atuais Modelos de Assistência de Saúde no Brasil

Em linhas gerais, o modelo de assistência à saúde é a forma na qual a saúde é organizada.


Basicamente, são as combinações tecnológicas estruturadas para a resolução de problemas e para o
atendimento de necessidades de saúde individuais e coletivas.

Hoje, o sistema de saúde brasileiro é uma relação entre os mais diversos modelos assistenciais, com
maior vinculação aos modelos hegemônicos, médico assistencial privatista e modelo assistencial sanitarista.
Em contrapartida, também busca a construção de modelos alternativos.

Os 5 principais modelos de assistência à saúde são:

Modelo sanitarista

● No modelo sanitarista, o foco principal da assistência está na prevenção e na promoção da saúde.


Nele, se priorizam as campanhas de prevenção, a vacinação, e as mudanças nos hábitos de vida.
● Surge a partir da Reforma Sanitária, na década de 70, a partir da lógica de que é mais prático,
custo-eficaz e rentável a prevenção do que o tratamento.
● Vacinação, controle de epidemias e erradicação de endemias.
● A Estratégia Saúde da Família (ESF) integra o modelo sanitarista.

Modelo hegemônico

● Nesse modelo, o foco da assistência está nela própria — ou seja, ele é guiado por demandas
espontâneas e pela resolução pontual dos problemas de saúde dos beneficiários.
● Tem como características principais: individualismo, saúde/doença da mercadoria, a história da
prática médica, medicalização dos problemas, privilégio da medicina curativa, estímulo ao
consumismo médico.
● Como a maioria das demandas espontâneas em saúde é guiada por sintomas e queixas dos
pacientes, há pouco espaço para a prevenção no modelo hegemônico.

Modelo médico assistencial privatista

● Esse modelo se assemelha ao hegemônico, pois foca na demanda espontânea do paciente. No


entanto, diferentemente da visão do anterior (que tende a ser mais ampla, envolvendo toda a rede
de saúde), o modelo médico assistencial privatista possui um foco nos procedimentos e nos
serviços especializados.
● Um exemplo desse modelo é a inflação da importância da propedêutica complementar frente à
clínica: se priorizam exames laboratoriais, de imagem e procedimentos terapêuticos,
preferencialmente realizados por médicos especialistas.
● O ponto positivo desse modelo é a geração de valor subjetivo frente ao paciente, que se sente mais
acolhido com o uso de tecnologias na saúde — que são, no entanto, muitas vezes superutilizadas.
Os pontos negativos incluem o alto custo desses procedimentos e a iatrogenia.
Modelo de atenção gerenciada

● Nele, o foco está nas análises a nível gerencial, especialmente focadas no custo-benefício de
intervenções, na eficácia e na medicina baseada em evidências.
● Um exemplo de aplicação desse modelo está na implementação de diretrizes de rastreamento de
doenças. Esse conceito se refere à solicitação de exames para pacientes assintomáticos, no intuito
de identificar doenças em seu estágio inicial. Essa identificação permite o tratamento precoce, que
no geral é mais eficaz e barato (exemplo: mamografia [um exame relativamente barato] para
pacientes entre 50 e 70 anos de idade — quando ocorre o pico de incidência do câncer de mama).

Modelos de Campanhas Sanitárias e Programas Especiais

● Nele, a atenção é voltada para certas doenças e riscos e determinados grupos populacionais.
● Exemplo: pandemia de Covid-19, em que observamos a necessidade de vacinação em massa,
coordenação da assistência com protocolos públicos e testagem acima do comum.
● Se faz necessária uma integração público-privada e a verticalização da gestão em saúde (em níveis
federal, estadual e municipal). Os pontos negativos principais são o alto custo, visto que o modelo
precisa ser revisto com frequência, e a individualização excessiva dos recursos.

Objetivo 5 - Analisar os conceitos de atenção primária, atenção básica e saúde da família no que
se refere ao modelo de atenção à saúde e organização de serviços

● Pode-se considerar como o marco zero da descentralização dos serviços de saúde no Brasil o final
da década de 1970, quando são inauguradas as primeiras experiências municipais que se
espelharam, pouco depois, na Atenção Primária à Saúde (APS). Desde então, na trajetória da
descentralização dos serviços de saúde no Brasil, os conceitos de Atenção Primária e,
posteriormente, de Atenção Básica e de Saúde da Família, foram incorporados paulatinamente ao
cenário da realidade de saúde brasileira.
○ No período anterior à criação do SUS, a APS representava um marco referencial para a
organização dos serviços, sendo considerada como uma das principais alternativas de
mudança do modelo assistencial. Por sua vez, desde a criação do SUS e do desenvolvimento
de seus mecanismos financeiros e operacionais, percebe-se que ora se utiliza o termo
Atenção Básica, ora Atenção Primária.
■ Há experiências municipais que fazem referência à organização do PSF na
perspectiva da Atenção Primária, outros o fazem na da Atenção Básica, sendo que
estes termos são utilizados ora como sinônimos, ora como contraposição.
● O referencial proposto em Alma Ata inspirou as primeiras experiências de implantação dos serviços
municipais de saúde no final da década de 1970 e início de 1980, e trouxe aportes conceituais e
práticos para a organização dos mesmos. Porém, no transcorrer do tempo e com o desenvolvimento
do SUS, este referencial parece perder gradativamente sua potência sendo, cada vez mais,
substituído pela concepção da Atenção Básica à Saúde e, em meados da década de 1990, com a
implantação do PSF e dos incentivos financeiros específicos dirigidos aos municípios, em especial o
Piso da Atenção Básica em 1998 que resultou no fortalecimento da Atenção Básica e do PSF no
âmbito municipal, percebe-se uma intensificação deste movimento.
● A gênese da Atenção Primária à Saúde encontra-se nas formulações de Bertrand Dawson
(Inglaterra) que propôs a criação de um sistema de saúde integrado, organizado por níveis de
complexidade crescente, com serviços regionalizados e realizados, basicamente, por médicos de
formação generalista
○ Existem diferentes interpretações sobre atenção primária, que se explicam pela trajetória
histórica de como esse conceito foi gerado, de como evoluiu e pela ambiguidade das
definições estabelecidas em fóruns internacionais em relação ao termo Atenção Primária.
■ Essas interpretações variam de: (1) Atenção Primária à Saúde como estratégia de
reordenamento do setor saúde; (2) Atenção Primária à Saúde como estratégia de
organização do primeiro nível de atenção do sistema de saúde e (3) Atenção
Primária à Saúde como programa com objetivos restritos e voltados
especificamente à satisfação de algumas necessidades mínimas de grupos
populacionais em situação de extrema pobreza e marginalidade.
● Nos países do terceiro mundo, predomina a interpretação da Atenção
Primária à Saúde como um programa específico para os marginalizados e
excluídos e materializada na proposta político-ideológica da atenção
primária seletiva destinada às populações pobres
○ Alguns autores utilizam os termos atenção primária à saúde e atenção básica à saúde como
sinônimos e na perspectiva de unidades locais ou nível de assistência.
■ Outra parte situa a atenção primária à saúde enquanto serviços de saúde do
primeiro nível de atenção, indo ao encontro de sua definição como porta de
entrada para o sistema, tendo, nas unidades básicas, sua instância operacional com
nível próprio de atendimento.
○ No contexto brasileiro, a Atenção Primária à Saúde traz consigo as sequelas do debate
travado nos anos 70, decorrentes do caráter racionalizador defendido por alguns atores das
agências financeiras que preconizavam a redução do financiamento e gastos em saúde, em
detrimento das reais necessidades de saúde das populações dos países periféricos.
■ Mesmo não tendo sido essa a racionalidade de muitos dos formuladores das
políticas de saúde da época, que defendiam, inclusive, o aumento de recursos para
o setor, a Atenção Primária à Saúde, por ter sido implementada num contexto no
qual a expansão da cobertura veio acompanhada das propostas de contenção do
financiamento, teve seus pressupostos estruturantes de um novo modelo
(universal, equânime, inclusivo, integral) obscurecidos pelo ideário neoliberal
racionalizador (focalização, baixo custo, pacote básico, excludente).
● O uso da terminologia “Atenção Básica” parece surgir a partir dos documentos oficiais com a
NOB/96, a criação do Piso Assistencial Básico (PAB) e das novas modalidades de gestão. Do ponto
de vista do modelo de atenção, é nela que encontram-se as primeiras citações sobre a necessidade
de mudança do modelo de atenção à saúde apontando o Programa Saúde da Família como
alternativa estratégica para a organização dos serviços básicos.
○ Ao que parece, a NOB 96 é a que dá um novo impulso à configuração de um novo modelo
de organização dos serviços de saúde ao prever, pela primeira vez desde a implantação do
SUS, recursos exclusivos para o financiamento da Atenção Básica.
■ Desta forma, a Atenção Básica deixa de ser apenas um conjunto de procedimentos
da tabela SIA/SUS (ações básicas) presentes nas Normas Operacionais Básicas
anteriores, passando gradativamente a representar um nível de organização dos
serviços de saúde no SUS. Neste momento, pode-se dizer que ocorre uma
equivalência entre os conceitos de atenção básica e de atenção primária em saúde.
○ O próprio Ministério da Saúde deixa lacunas sobre esta questão em seus documentos
orientadores. Como exemplo, o Manual da Atenção Básica, documento produzido como
orientador a todos os municípios, reitera que a organização da Atenção Básica tem como
fundamentos os princípios do SUS. Mais adiante, neste mesmo documento, aponta a Saúde
da Família como a estratégia da Atenção Básica na construção de um modelo de saúde mais
resolutivo e humanizado. Neste documento é perceptível a ausência de qualquer referência
à Atenção Primária à Saúde.
○ No ano de 2000, o Ministério da Saúde edita o documento “O Trabalho do Agente
Comunitário de Saúde” – Manual do ACS, e neste documento observa-se um resgate
histórico da Conferência de Alma Ata e dos conceitos de Atenção Primária e cuidados
primários de saúde. Ao tratar da Atenção Básica à Saúde, apresenta os termos atenção
primária, assistência primária, ações do primeiro nível de assistência e atenção básica como
sinônimos e, ao mesmo tempo, ao discorrer sobre o Programa de Agentes Comunitários em
Saúde (PACS) e o PSF volta a fazer referências à atenção básica.
● O Pacto pela Saúde apresenta a Política Nacional de Atenção Básica aprovada pela Portaria nº
648/GM de 28 de março de 2006 que traz toda a estruturação e competências intergovernamentais
para seu desenvolvimento. Em todo o documento constata-se a referência à estratégia Saúde da
Família como o eixo condutor da reorganização da Atenção Básica dentro dos preceitos do SUS, mas
não há referências sobre a APS.
● Em síntese, o que se evidencia no cenário brasileiro é uma indefinição e imprecisão dos referencias
conceituais adotados na definição das políticas públicas, situação observada nos principais
documentos do Ministério da Saúde e dos órgãos e instâncias representativas do SUS (CONASS,
CONASEMS e Relatórios das Conferências Nacionais de Saúde).
● O consenso existente é que a Estratégia Saúde da Família é o locus privilegiado da organização do
cuidado em saúde em ambos os referenciais.

Referências
DE AGUIAR, Raphael Augusto Teixeira. A construção internacional do conceito de atenção primária à saúde
(APS) e sua influência na emergência e consolidação do sistema único de saúde no Brasil. 2003.

GIL, Célia Regina Rodrigues; MAEDA, Sayuri Tanaka. Modelos de Atenção à saúde no Brasil. Fundamentos
de saúde coletiva e o cuidado de enfermagem, 2013.

GIL, Célia Regina Rodrigues. Atenção primária, atenção básica e saúde da família: sinergias e singularidades
do contexto brasileiro. Cadernos de Saúde Pública, v. 22, p. 1171-1181, 2006.

PAIM, Jairnilson Silva. Modelos de atenção à saúde no Brasil. In: Políticas e sistema de saúde no Brasil.
2012. p. 459-491.

STARFIELD, Barbara et al. Atenção primária: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia.
2006.

BUSS, Paulo Marchiori. Uma introdução ao conceito de promoção da saúde. Promoção da saúde:
conceitos, reflexões, tendências, v. 2, p. 19-42, 2003.

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