13712-Texto Do Artigo-49577-6-10-20211018
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arenito, Aquidauana – MS
RESUMO
A Gruta Aldeia Limão Verde está situada no território indígena Aldeia Limão Verde, localizada no município de
Aquidauana, MS. O mapeamento da caverna possibilitou a sua representação cartográfica e complementação das
informações sobre a cavidade, que resultou em um desenvolvimento linear de 94,9 m e projeção no plano
horizontal de 92,2 m. A área planimétrica obtida é igual a 666,95 m² e o desnível +5°. Do ponto de vista ecológico,
é a única cavidade em rocha siliciclástica do Estado com ocorrência de com zona afótica, possui importância
ecológica local por abrigar colônia de quirópteros em seu interior, na ordem de centenas a milhares de indivíduos,
podendo ser considerada uma batcave.
ABSTRACT
The Aldeia Limão Verde cave is located in the indigenous territory of Aldeia Limão Verde, located in the
municipality of Aquidauana, MS. The mapping of the cave allowed its cartographic representation and
complementation of information about the cavity, which resulted in a linear development of 94.9 m and a
projection in the horizontal plane of 92.2 m. The planimetric area obtained is equal to 666.95 m² and the
unevenness +5°. From an ecological point of view, it is the only cavity in siliciclastic rock in the state with the
occurrence of an aphotic zone, it has local ecological importance as it houses a colony of bats in its interior, in the
order of hundreds to thousands of individuals, and can be considered a batcave.
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Aquidauana – MS. Revista Pantaneira, V. 19, UFMS, Aquidauana-MS, 2021.
Introdução
No Brasil, as cavernas são protegidas por lei e a Constituição Federal de 1988 no seu
artigo 20, considera as cavernas patrimônio natural e bens da união. O Decreto N° 6.640 de 07
de novembro de 2008 define caverna como: “todo e qualquer espaço subterrâneo acessível
pelo ser humano, incluindo seu ambiente, conteúdo mineral e hídrico, a fauna e a flora ali
encontrados”. A Instrução Normativa n.º 02 do Ministério do Meio Ambiente, de 30 de agosto
de 2017 destaca ainda o valor científico das cavernas como fonte de informação ambiental de
cunho arqueológico, biológico, paleontológico, hidrológico e geológico.
As cavernas podem ocorrer em diversas litologias, como exemplo: as rochas
carbonáticas (calcário, mármore, dolomito), rochas ferríferas (itabirito, canga) e rochas
siliciclásticas (arenitos, quartzitos e conglomerados), sendo a maior ocorrência nas rochas
carbonáticas por serem mais solúveis (PALMER, 2007). A sílica e o quartzo são pouco
solúveis, mas, em climas quentes, sofrem ataque químico lento em relação a outros minerais
como os carbonatos. Com a dissolução do cimento, a água passa a circular entre os grãos de
quartzo, corroendo suas superfícies e desagregando-os (FABRI et al., 2014). Dessa forma, a
rocha pode facilmente se desintegrar pelo processo de “arenização”, e a erosão se encarrega de
carrear os grãos soltos gerando as cavernas, processo este conhecido como piping (AULER et
al., 2019).
Segundo Rubiolli et al. (2019), o Brasil é o país com o maior número de cavernas em
rochas siliciclásticas no mundo, com um total de 1.527 cavernas cadastradas em arenitos, 789
em quartzito e 279 em arenito/argilito/conglomerado. Na Bacia Sedimentar do Paraná já
existem registros de cavernas siliciclásticas que se desenvolvem ao longo dos sistemas de
escarpamento das bordas da bacia (SOUZA; SOUZA, 2002). As cavernas com maiores
dimensões estão localizadas na Formação Furnas, como a gruta Areia Branca (1km), Aroe Jari
(1,4 km), Pode Jari e Quiobo Bravo no Estados do Mato Grosso e no Estado do Paraná destaca-
se a Gruta da Barreira, localizada na cidade de Itararé (RUBIOLLI et al. 2019, HARDT et al.
2009). A maior parte das cavernas siliciclásticas se desenvolvem nas bordas de escarpas, onde
o alívio de tensões da rocha tende a gerar fraturas mais abertas e consequente ataque
químico/mecânico das rochas (WRAY, 1997).
O município de Aquidauana é marcado pela presença de um relevo de cuestas que
desenvolve em rochas siliciclásticas da Bacia Sedimentar do Paraná (AB´SABER, 2007).
Apesar do alto potencial para ocorrência de cavidades naturais subterrâneas no município,
existem registros de apenas duas cavernas nos bancos de dados espeleológicos públicos do
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Materiais e métodos
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Resultados e discussões
A área onde se insere a Gruta Aldeia Limão Verde compõe o anfiteatro erosivo das
cabeceiras do Córrego João Dias. O relevo é marcado pela presença da zona de transição do
Planalto Maracajú-Campo Grande e a Planície do Pantanal, com um conjunto de escarpas
sustentadas por rochas das formações Furnas e Aquidauana, sendo a base das quebras de relevo
os locais de maior potencial para a ocorrência de cavidades (figura 3).
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Figura 5. Contexto de inserção da Gruta aldeia Limão Verde. A seta preta no perfil topográfico indica
a disposição da caverna na vertente.
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A Gruta Aldeia Limão Verde está situada na alta vertente de um morro testemunho de
morfologia tabular, com altitudes que variam de 280 m a 400 m (figura 5). A entrada da caverna
está voltada para a direção sudeste e posicionada na cota 346 m, abaixo de quebra de relevo.
A coordenada disponibilizada pelo CANIE apresentou erro de cerca de 700 m de
deslocamento em relação à localização real da caverna. Desta forma, uma nova coordenada foi
obtida: UTM 636682 E / 7751247 S, Datum Sirgas 2000/Zona 21S. O mapeamento da caverna
resultou em um desenvolvimento linear de 94,9 m e projeção no plano horizontal de 92,2 m. A
área planimétrica obtida é igual a 666,95 m² e o desnível +5°. A representação cartográfica está
representada na figura 6.
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matriz arenosa com presença de grânulos e seixos angulosos a subarrendados, com tamanhos
variando entre 0,5 a 5 cm (figura 6D).
Figura 7. (A) Entrada da caverna na base de escarpa rochosa; (B) Blocos métricos compondo piso do
salão principal; (C) Contato de camada de arenito com lente de argilito na parte distal da cavidade; (E)
Conglomerado na parede leste do salão da entrada.
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processo este que favorece a formação de cavernas no escarpamento (MELO et al. 2005;
MELO; GIANNINI, 2007).
A morfologia em seção transversal é, no geral, controlada pelos planos de acamamento
como no teto que compõem toda a entrada da caverna e o salão principal, assim como, os blocos
abatidos no piso (figura 8A). Na porção mediana da cavidade, a morfologia do conduto passa
para formatos triangulares, com trechos de teto baixo (0,5 m), piso é preenchido por sedimento
arenoso e blocos dispersos (figura 8-B e C). Na porção mediana da caverna, o teto apresenta
aspecto alveolar semelhante à pequenas cúpulas (figura 8D). Essas feições resultam da
movimentação turbulenta da água no teto, em um período em que a cavidade se encontrava
no/ou próximo do nível freático.
Figura 8. (A) Morfologia do salão de entrada; (B) e (C) Seções triangulares na parte mediana e distal
da caverna; (D) Morfologia resultante do retrabalhado de teto pela ação do turbilhonamento da água
durante fase de ampliação do conduto.
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organismos. O termo coralóide foi utilizado para descrever espeleotemas conhecidos como
pipocas de sílica, corais de sílica e couve-flor, por acreditar se tratar de um único tipo de
ornamento observado em diferentes estágios de desenvolvimento, com variações de tamanho
milimétrico até centímetros (PILÓ; AULER, 2011) (figura 9A e B).
Foram visualizados três tipos de crosta: crosta rosada com cerca de 0,5 cm de espessura,
crosta branca formando fina pátina na parede e crosta amarela (figura 9C, D e E). De acordo
com Spoladore e Cottas, (2007), as crostas são depósitos de composição silicática, carbonática
ou de óxido de ferro, que ocorrem recobrindo o teto e paredes das cavernas. É comum na Gruta
Aldeia Limão Verde encontrar crostas formadas ao longo de fraturas ou outros planos de
descontinuidade, já as crostas amarelas ocorrem apenas no salão distal da cavidade ocupada por
população de morcegos. É conhecido na literatura a influência dos dejetos de morcegos na
formação de espeleotemas, como exemplo as crostas de minerais fosfáticos, que têm sua origem
a partir do guano (WIEGAND et al., 2004; HILL; FORTI, 1997).
Figura 9. (A) Coralóide com extremidades cinza escuro; (B) Coralóide branco; (C e D) Crosta rosada e
crosta branca; (E e F) Crosta amarela.
Do ponto de vista ecológico, a caverna possuí zona afótica, o que a destaca entre as
outras cavernas em arenito do Estado. Além disso, abriga importante clônia de quirópteros
(morcegos) de espécies ainda não identificadas, podendo ser considerada uma batcave devido
ao número de indivíduos, na ordem de centenas (possivelmente milhares), que são facilmente
observados na parte mais distal (figura 10A). É possível que a presença dos morcegos afete o
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Figura 10. (A) população de quirópteros residente na parte distal da cavidade, (B) Depressão no piso
da cavidade por ação antrópica, (C) Marcas de ferramentas manuais na parede.
Considerações finais
Agradecimentos
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