Fundamentação Do Agir Moral - Texto
Fundamentação Do Agir Moral - Texto
Fundamentação Do Agir Moral - Texto
3. Moral e Ética.
Etimologia: ética (ethos): costume, modo de ser ou caráter, habitat; moral (mos,
moris): costume, o que foi provado, comprovado, aprovado,
Uso: como adjetivo = qualidade (o ético, o moral) diz respeito à qualidade do ser
humano de se responsabilizar por si e por sua existência; como substantivo =
saber / ciência (a ética, a moral) diz respeito à reflexão sobre a responsabilidade
humana e sua estruturação como um saber construído cientificamente.
Distinção: moral e ética vividas e moral e ética formuladas. Apesar de terem o
mesmo objeto (a responsabilidade pelo próprio existir), sua relação não é
simétrica, mas assimétrica e, por isso, conflitiva: tensão entre a moral vivida e a
ética formulada. Pois, a decisão pessoal não se dá sempre entre o que é certo e o
errado; mas entre o certo e o certo.
Ética e moral” distinguem-se simplesmente no sentido de que, enquanto a
moral faz parte da vida cotidiana das sociedades e dos indivíduos, e não foi
inventada por filósofos, a ética é um saber filosófico; enquanto a moral tem
“adjetivos” derivados da vida social:
como “moral cristã”, “moral islâmica” ou “moral socialista”,
a ética tem “sobrenomes” por expressar a reflexão de filósofos éticos: como
“aristotélica”, “estoica”, “kantiana”.
A verdade é que as palavras: “ética” e “moral”, em suas respectivas origens
grega (ethos) e latina (mos), significam praticamente a mesma coisa: costumes.
Sendo que o sentido grego de ethos inclui também o significado de:
modo de ser,
caráter
habitat.
Isso denota uma dinamicidade que ficou obscurecida na palavra latina mos, moris.
Ambas as expressões se referem, no final das contas, a um tipo de
conhecimento que nos orienta no sentido da formação de um bom caráter,
que nos permita enfrentar a vida de uma maneira compatível com nossa
humanidade, que nos permita, em suma, ser justos e felizes.
Pois, é possível ser um político habilidoso, um empresário sagaz e, ao
mesmo tempo, uma pessoa desqualificada como ser humano. Daí o papel da
ética e da moral, para nos ajudar a construir um bom caráter, para que ser
humanamente íntegros.
“Precisamente porque a etimologia de ambos os termos é similar, justifica-
se amplamente que sejam tomados como sinônimos na linguagem cotidiana.
Em filosofia é necessário estabelecer a distinção entre:
os níveis de reflexão e linguagem
a formação do caráter na vida cotidiana e o da dimensão da filosofia que reflete
sobre a formação do caráter.
Portanto, utiliza-se a palavra moral para o primeiro nível e a palavra “ética” para
o segundo.
José Luiz Lopes Aranguren chamou de a moral de “moral vivida”, e a ética de
“moral pensada”, exatamente porque ela se movimenta nesses dois níveis
distintos de reflexão – o cotidiano e o filosófico”. (Adélia Cortina, O fazer ética.
Guia para a educação moral. São Paulo: Moderna, 1993, pp 14-15).
Portanto, deve-se distinguir:
O uso adjetivo dos termos: ético e moral, que nesse sentido faz referência à
qualidade humana de se responsabilizar pela própria vida.
E o seu uso substantivo se refere ao estudo sistemático dessa qualidade
humana. Sua formulação teórico-especulativa constitui-se numa ciência.
Dom / Gratuidade
(Amor / generosidade)
Nota sobre o agir moral: o agir moral tem uma dimensão temporal. Assim, o
comportamento moral humano é:
Decisão (presente) que se enlaça a uma:
Memória (passado) e se abre para um:
Projeto (futuro) que se busca realizar.
Essa dinâmica recebe sob o ponto de vista cristão uma conotação salvífica.
Assim, o comportamento moral cristão é uma:
Decisão presente (kairós) que atualiza uma:
Promessa histórica (cryterión) e que projeta uma:
Salvação escatológica (éschaton) que é o Reino de Deus.
Nota:
• O discurso ético fala em termos de uma natureza humana universal e idealizada;
• O juízo prudencial impõe um discernimento que tenha em consideração a
natureza do ser humano enquanto ser pessoal com suas peculiaridades;
• Por sua vez, a aplicabilidade dos critérios específicos (pessoais) passa pela
singularidade do indivíduo humano.
8. Níveis da Realidade moral:
• Nível sociológico: faz referência aos Costumes. Aqui levam-se em consideração
os costumes que são o modo de agir sancionado por um determinado grupo
humano. Essa aprovação grupal é uma maneira de economizar energias
psicológica para as tarefas ditas corriqueiras mais ou menos complexas presentes
na convivência social, de certo modo facilita a vida.
• Nível jurídico: olha o legal / o ilegal: trata-se de uma situação de maior
complexidade, a organização social pela qual o grupo humano estabelece, via
autoridade competente um modo de proceder para a convivência política. Nesse
sentido, torna-se necessário um pacto social pelo qual a autoridade organizativa
da convivência social tem reconhecimento de forma legítima e legal para
estabelecer padrões comportamentais para o grupo.
• Nível ético: busca-se estabelecer a apreensão do que é bom / justo / perfeito para
a realização plena do ser humano e isso exige uma compreensão global da
característica especificamente humana e, no contexto da fé cristã, em relação ao
desígnio amoroso de Deus de Jesus Cristo. Requer um discernimento mais
apurado; pois, nem tudo o que é perfeito é desejável; nem tudo o que é justo é
possível; nem tudo o que é bom é realizável.
A transformação ética de uma sociedade:
Parte-se do nível sociológico: o que era sancionado pelo grupo social, e hoje
parece não mais ser valorizado;
Defronta-se com o nível jurídico: o licito e ilícito determinado por autoridade
legal e legítima;
Atinge-se o nível ético: quem analisa o que é bom, justo e perfeito para a
realização do ser humano em determinado tempo e lugar.
Exemplificação: Até pouco tempo era tido como “bom católico” quem
frequentava a missa aos domingos, certas transformações sociais começaram a
dificultar a ida à missa aos domingos.
Diante disso, a autoridade da Igreja ampliou o seu ordenamento jurídico de ir à
missa aos domingos, permitindo que isso aconteça também no sábado. Cria-se
assim uma dificuldade: Missa aos sábados é missa dominical?
Qual é a razão teológica (bom, justo e perfeito) que permite hoje ao católico
cumprir o preceito de missa dominical aos sábados? Por que é bom cumprir o
preceito dominical aos sábados?
É justo fazê-lo?
Seria mais perfeito aos domingos?
9. Reflexão ética envolve a pessoa enquanto ser de relações:
Conceito de pessoa: pessoa é todo indivíduo humano que, contando com energia
própria, se esforça por agir autonomamente, busca se comunicar com os demais seres
humanos e a se transcender.
(1) Relação consigo mesmo.
Realidade
Intelectiva Verdade: Saber
Conhecimento
Estímulo
Reativa Afetividade: Amar e Ser amado
Emoções
Necessidade
Volitiva Liberdade: Realização
Possibilidade
Pai / Mãe
Pedagógica Paternidade / Maternidade:
Família
Filho / Filha
Irmão
Política Fraternidade: Convivência /
Paz
Irmãos
3) Relação com o mundo e a sociedade.
Indivíduo
Social Sociabilidade: Participação
Instituições
Patrão
Econômica Produtividade / consumo: Justiça
Operário
Natureza
Cultural Historicidade: História /
Cultura Humanidade
Vital
Filosófica Racionalidade: Sentido da Vida
Humano
Transcendência
Religiosa Religiosidade: Religião
Imanência
Aceitação
Liberdade Unidade / Separação
Rejeição
Deus
Sacramental Graça: gratuidade
Ser humano
10. Teologia moral: fundamental e especial.
Moral fundamental é a parte da ciência moral que busca compreender o sujeito
moral em sua estrutura de ser responsável pela sua existência; faz referência:
* ao seu ser livre (autonomia);
* ao seu ser de relações básicas (solidariedade);
* ao seu ser de valoração (objetividade);
* ao seu ser encarnado (subjetividade).
São trabalhados os conceitos, os princípios e as normas que regem a vida moral
humana, diz respeito à estrutura do agir humano.
Moral especial é a parte da ciência moral que trabalha as áreas da existência
responsável humana:
Vida física e psíquica: alimentação (fome), saúde (medicação), higiene
(ecologia).
Vida psicoafetiva e sexual: amizade, sexualidade (machismo / feminismo),
homossexualidade; matrimônio – casamento – prostituição - divórcio.
Vida familiar: paternidade – maternidade – filiação – educação – controle da
natalidade.
Vida interpessoal: tolerância, verdade - mentira, veracidade - disponibilidade
– serviço - hospitalidade.
Vida religiosa: ateísmo – idolatria – fetichismo – superstição; oração - voto –
juramento – consagração – sacramentos.
Vida social: sociedade, organização; corresponsabilidade, participação,
diálogo, paternalismo.
Vida econômica: propriedade, lucro, bens, dinheiro, trabalho, comércio –
greve – juros – empresa.
Vida política: autoridade, legitimidade, legalidade, regime político,
revolução, ideologia; nacionalidade: