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Fundamentação Do Agir Moral - Texto

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Teologia Moral Fundamental

O objetivo da disciplina é compreender o processo de responsabilização humana


pela própria vida e como isso se coaduna com o fato de que o cristão, ao fazer uma
opção de fé pela proposta salvífica de Jesus de Nazaré, adquire uma conotação própria
em sua responsabilização pela própria vida.
1. Unidades
Introdução
Visão fenomenológica e histórica do pensar moral no cristianismo.
A fundamentação do agir moral cristão.
O sujeito moral pessoal.
Os conceitos dinâmicos e formais da realidade ética.
O modo de agir moral libertador.
O fracasso moral e o processo de reconciliação.
A fisionomia moral do cristão à luz das virtudes.
Quatro são as dimensões da vida humana cristã: material, teologal, espiritual e
moral. olhemos com atenção as características que compõe cada uma delas, para
perceber sua implicância no estudo da teologia moral.
Dimensão Teologal: O que é ser humano e cristão?
A questão refere-se ao sentido da existência. Enquanto a filosofia ateísta indica a
vida tem fim em si mesma, a dimensão teologal aponta para um indicativo: o Mistério.
O sentido da vida humana, não consiste apenas no viver por viver, num devir limitado
ao tempo, mas é elaborado pelas categorias:
Humanidade: o ser humano é uma individualidade cujo horizonte é a coletividade de
todos seres humanos.
Comunicação: o indivíduo humano busca se comunicar pela abertura ao outro
Ser-no-mundo: o indivíduo humano é um ser situado no tempo e espaço de uma
realidade a ser humanizada.
O sentido cristão da vida humana é explicitado pelas categorias:
 Deus: Ser transcendente que se revela como Criador – Redentor – Salvador
 Ser humano: ser individual e coletivo cujo protótipo é Jesus de Nazaré, o Senhor
Jesus Cristo
 Mundo: realidade de tempo e espaço onde se desenrola o existir humano:
História
 Cultura: Igreja

Dimensão Moral: o que se deve fazer para ser humano e cristão?


A questão interroga sobre a práxis (agir) e aponta para um imperativo (ação
fundamentada). A atuação responsável do ser humano é elaborada pelas categorias de:
 Busca: perseguir o sentido vislumbrado do próprio existir
 Constância: perseverar na busca da realização do próprio ser
 Convicção: comprometer-se pela vida recebida: em viver e sobreviver
 A atitude do cristão é de empenho em dar sentido ao seu viver à luz da opção
feita, é elaborada pelas categorias, encarnadas por Jesus de Nazaré:
 Caminho: seguir o caminho vivido e testemunhado por Jesus. Requer a
Fidelidade
 Verdade: fazer a verdade, pois, ela permite ser livre. Alcança-se a Liberdade.
 Vida: o viver é assumir a cada instante o fato de se estar vivo. Consiste no
Compromisso de viver a Filiação divina.
Dimensão Espiritual: Como ser humano e cristão?
 A questão se interroga sobre com que espírito (mística) se afronta o viver;
aponta para uma visão contemplativa (Contemplação). O ser humano encara o
seu viver a partir:

Da confiança pelas experiências de vida compartilhadas com pessoas que lhe


são significativos (bem-viver).
Do desenvolvimento de uma atitude de abertura: saída dos momentos
obscuros da vida.
Da convivência com as demais pessoas pelo que se adquire apreço pela vida.
O espírito com que o cristão irá viver a sua vida é elaborado pelas categorias de:
 Fé enquanto atitude que nasce do testemunho de vida cristã que pessoas
próximas e que nos estimulam a fazer uma experiência pessoal de Deus em
Jesus Cristo.
 Esperança nos sustenta nos momentos mais obscuros da existência, pois tem
como fundamento o fato de que Jesus venceu a morte (Espírito do
Ressuscitado).
 Caridade, no sentido de que o Amor tem como fundamento a busca da união (o
espírito de união se opõe ao espírito que divide e separa = desune).

Dimensão Material ou Vital: Em que ou no que ser humano e cristão?


A questão coloca o desafio de ser homem e cristão no modo de viver a partir da
materialidade da existência humana. Trata-se de desenvolver uma consciência
celebrativa do viver e que consiste numa ação de graças pelos dons da natureza e pelos
bens da engenhosidade e arte dos seres humanos: Celebração – Festa - Partilha.
Vivenciamos três grandes paixões:
 Ter bens ou possuí-lo, pois nos sustentam a vida e seu acúmulo nos dá
segurança.
 Ser valorizado, honrado; isso se obtém pelo aperfeiçoamento das nossas
capacidades (conhecimento).
 Poder que consiste na capacidade de ter domínio sobre as coisas, as situações e
sobre as pessoas.
O modo como o cristão vivencia esse conjunto de paixões humanas é orientada
pela mensagem cristã; ela não despreza a materialidade da existência, mas dá um
encaminhamento pelo discernimento de como viver essas três grandes paixões humanas
(1Jo 2, 16):
 A concupiscência da riqueza é moderada pela capacidade de se viver
parcimoniosamente e saber partilhar os bens: “Não só de pão vive o homem”;
“Do pouco saciar uma multidão”.
 A concupiscência da carne cuja paixão a mensagem cristã direciona para o modo
como se há de lidar com o saber que não poder levar ao desprezo dos não
instruídos, mas à sabedoria do bem-conviver como saborear os momentos
efêmeros de convivência com os demais. “Onde está o teu tesouro, aí estará o
seu coração”.
 A concupiscência dos olhos é moderada pelo modo de como vivenciar o
exercício da autoridade; ela é um serviço e não uma posição de privilégio e de
prepotência sobre os demais. “Se eu o Mestre, vos laveis os pés ...”

3. Moral e Ética.
 Etimologia: ética (ethos): costume, modo de ser ou caráter, habitat; moral (mos,
moris): costume, o que foi provado, comprovado, aprovado,
 Uso: como adjetivo = qualidade (o ético, o moral) diz respeito à qualidade do ser
humano de se responsabilizar por si e por sua existência; como substantivo =
saber / ciência (a ética, a moral) diz respeito à reflexão sobre a responsabilidade
humana e sua estruturação como um saber construído cientificamente.
 Distinção: moral e ética vividas e moral e ética formuladas. Apesar de terem o
mesmo objeto (a responsabilidade pelo próprio existir), sua relação não é
simétrica, mas assimétrica e, por isso, conflitiva: tensão entre a moral vivida e a
ética formulada. Pois, a decisão pessoal não se dá sempre entre o que é certo e o
errado; mas entre o certo e o certo.
 Ética e moral” distinguem-se simplesmente no sentido de que, enquanto a
moral faz parte da vida cotidiana das sociedades e dos indivíduos, e não foi
inventada por filósofos, a ética é um saber filosófico; enquanto a moral tem
“adjetivos” derivados da vida social:
 como “moral cristã”, “moral islâmica” ou “moral socialista”,
 a ética tem “sobrenomes” por expressar a reflexão de filósofos éticos: como
“aristotélica”, “estoica”, “kantiana”.
 A verdade é que as palavras: “ética” e “moral”, em suas respectivas origens
grega (ethos) e latina (mos), significam praticamente a mesma coisa: costumes.
Sendo que o sentido grego de ethos inclui também o significado de:
 modo de ser,
 caráter
 habitat.
Isso denota uma dinamicidade que ficou obscurecida na palavra latina mos, moris.
 Ambas as expressões se referem, no final das contas, a um tipo de
conhecimento que nos orienta no sentido da formação de um bom caráter,
que nos permita enfrentar a vida de uma maneira compatível com nossa
humanidade, que nos permita, em suma, ser justos e felizes.
 Pois, é possível ser um político habilidoso, um empresário sagaz e, ao
mesmo tempo, uma pessoa desqualificada como ser humano. Daí o papel da
ética e da moral, para nos ajudar a construir um bom caráter, para que ser
humanamente íntegros.
  “Precisamente porque a etimologia de ambos os termos é similar, justifica-
se amplamente que sejam tomados como sinônimos na linguagem cotidiana.
 Em filosofia é necessário estabelecer a distinção entre:
 os níveis de reflexão e linguagem
 a formação do caráter na vida cotidiana e o da dimensão da filosofia que reflete
sobre a formação do caráter.
 Portanto, utiliza-se a palavra moral para o primeiro nível e a palavra “ética” para
o segundo.
 José Luiz Lopes Aranguren chamou de a moral de “moral vivida”, e a ética de
“moral pensada”, exatamente porque ela se movimenta nesses dois níveis
distintos de reflexão – o cotidiano e o filosófico”. (Adélia Cortina, O fazer ética.
Guia para a educação moral. São Paulo: Moderna, 1993, pp 14-15).
 Portanto, deve-se distinguir:
 O uso adjetivo dos termos: ético e moral, que nesse sentido faz referência à
qualidade humana de se responsabilizar pela própria vida.
 E o seu uso substantivo se refere ao estudo sistemático dessa qualidade
humana. Sua formulação teórico-especulativa constitui-se numa ciência.

4. A Motivação moral: o agir moral é um agir motivado.


A vida é uma realidade pré-moral, pois o viver é um impulso instintivo que leva
o ser vivo a:
 sobreviver: manter-se biologicamente vivo,
 reproduzir-se para dar continuidade à própria espécie.
Contudo, a motivação do agir moral para continuar a viver ou para realizar o que
o viver permite ao ser humano; tem várias conotações:
VIDA
Medo / temor Fervor / Entusiasmo
(Manter-se vivo / obediência). (Perpetuar-se /simpatia).

Obrigação / dever Prazer /


Satisfação (Sobreviver / necessidade).
(Reproduzir-se / realização)

Dom / Gratuidade
(Amor / generosidade)

Nota sobre o agir moral: o agir moral tem uma dimensão temporal. Assim, o
comportamento moral humano é:
Decisão (presente) que se enlaça a uma:
Memória (passado) e se abre para um:
Projeto (futuro) que se busca realizar.
Essa dinâmica recebe sob o ponto de vista cristão uma conotação salvífica.
Assim, o comportamento moral cristão é uma:
Decisão presente (kairós) que atualiza uma:
Promessa histórica (cryterión) e que projeta uma:
Salvação escatológica (éschaton) que é o Reino de Deus.

5. Ação Humana, temos o seguinte esquema:


SENTIR (emoção) = Reação aos estímulos: Afetividade (bios): Experiência:
 Momento do existir: Existencialismo
 Motivação: realização corpórea / fruição das sensações.
TRANSFORMAR (arte) = fazer técnico: Mundanidade (cosmos): Manipulação.
a. Momento da Matéria: Materialismo
Motivação: prazer / fruição do espaço.
PERGUNTAR (teoria) = sentido: Veracidade (logos): Palavra / Conceito
a. Momento do objeto: Essencialismo.
b. Motivação: finalidade da vida / fruição do tempo de vida
AGIR (práxis) = Decisão: Humanidade (antropos): Indivíduo humano
a. Momento do sujeito: Subjetivismo.
b. Motivação: possibilidade / necessidade
TRANSCENDER (espírito) = Contemplar: Espiritualidade (pneuma): Oração, no sentido
de estar plugado na origem do existir.
a. Momento do significado: Espiritualismo
b. Motivação: elevação do espírito / espiritualização.

6. Extensão e Profundidade da Realidade moral


Dimensão vertical

Dimensão horizontal humanidade: Realização total os


seres humanos (Gênero humano)

Individualidade humana: Realização integral de


cada ser humano como humano (Personalidade)

Ef 3,17-18: “Que Cristo habite em vossos corações e sejais arraigados e


fundados no amor. Assim tereis condições para compreender com todos os santos qual é
a largura e comprimento e a altura e a profundidade [desse amor]”.
Personalidade: o conjunto das características marcantes de uma pessoa, é a
força ativa que ajuda a determinar o relacionamento das pessoas, baseado em seu padrão
de individualidade pessoal e social, referente ao pensar, sentir e agir
A realidade moral humana, em sua amplitude, deve ser compreendida dentro da
complexidade humana. Quando falamos de ser humano referimo-nos ao ser humano
coletivo e individual. Nesse sentido a realidade moral deve ser vista:
 na dimensão coletiva (humanidade) que faz referência à totalidade dos seres
humanos em vista da realização do ser como ser humano (= bem comum);
 na dimensão individual (individualidade), faz-se referência à dimensão
integral:
• o ser humano na totalidade de seu ser (material, psicológica e espiritual) em
vista de suas características individuais de ser pessoal (realização pessoal).
7. O Saber Moral
 Em outra perspectiva, a compreensão epistemológica do saber moral possui
o seguinte horizonte:
O universal = Natureza humana (Humanidade), tem como
interlocutor, o “gênero humano”;
O particular = Natureza da Pessoa (Personalidade), sendo o
interlocutor a “pessoa humana”;
O singular = Natureza de Fulano (Individualidade) sendo o
interlocutor o “indivíduo situado”.

Nota:
• O discurso ético fala em termos de uma natureza humana universal e idealizada;
• O juízo prudencial impõe um discernimento que tenha em consideração a
natureza do ser humano enquanto ser pessoal com suas peculiaridades;
• Por sua vez, a aplicabilidade dos critérios específicos (pessoais) passa pela
singularidade do indivíduo humano.
8. Níveis da Realidade moral:
• Nível sociológico: faz referência aos Costumes. Aqui levam-se em consideração
os costumes que são o modo de agir sancionado por um determinado grupo
humano. Essa aprovação grupal é uma maneira de economizar energias
psicológica para as tarefas ditas corriqueiras mais ou menos complexas presentes
na convivência social, de certo modo facilita a vida.
• Nível jurídico: olha o legal / o ilegal: trata-se de uma situação de maior
complexidade, a organização social pela qual o grupo humano estabelece, via
autoridade competente um modo de proceder para a convivência política. Nesse
sentido, torna-se necessário um pacto social pelo qual a autoridade organizativa
da convivência social tem reconhecimento de forma legítima e legal para
estabelecer padrões comportamentais para o grupo.
• Nível ético: busca-se estabelecer a apreensão do que é bom / justo / perfeito para
a realização plena do ser humano e isso exige uma compreensão global da
característica especificamente humana e, no contexto da fé cristã, em relação ao
desígnio amoroso de Deus de Jesus Cristo. Requer um discernimento mais
apurado; pois, nem tudo o que é perfeito é desejável; nem tudo o que é justo é
possível; nem tudo o que é bom é realizável.
A transformação ética de uma sociedade:
 Parte-se do nível sociológico: o que era sancionado pelo grupo social, e hoje
parece não mais ser valorizado;
 Defronta-se com o nível jurídico: o licito e ilícito determinado por autoridade
legal e legítima;
 Atinge-se o nível ético: quem analisa o que é bom, justo e perfeito para a
realização do ser humano em determinado tempo e lugar.
 Exemplificação: Até pouco tempo era tido como “bom católico” quem
frequentava a missa aos domingos, certas transformações sociais começaram a
dificultar a ida à missa aos domingos.
 Diante disso, a autoridade da Igreja ampliou o seu ordenamento jurídico de ir à
missa aos domingos, permitindo que isso aconteça também no sábado. Cria-se
assim uma dificuldade: Missa aos sábados é missa dominical?
 Qual é a razão teológica (bom, justo e perfeito) que permite hoje ao católico
cumprir o preceito de missa dominical aos sábados? Por que é bom cumprir o
preceito dominical aos sábados?
 É justo fazê-lo?
 Seria mais perfeito aos domingos?
9. Reflexão ética envolve a pessoa enquanto ser de relações:
Conceito de pessoa: pessoa é todo indivíduo humano que, contando com energia
própria, se esforça por agir autonomamente, busca se comunicar com os demais seres
humanos e a se transcender.
(1)   Relação consigo mesmo.
Realidade
Intelectiva Verdade: Saber
Conhecimento

Estímulo
Reativa Afetividade: Amar e Ser amado
Emoções

Necessidade
Volitiva Liberdade: Realização
Possibilidade

(2)   Relação com os outros.


Homem
Erótica Conjugalidade – Casamento
Mulher

Pai / Mãe
Pedagógica Paternidade / Maternidade:
Família
Filho / Filha

Irmão
Política Fraternidade: Convivência /
Paz
Irmãos
3)   Relação com o mundo e a sociedade.
Indivíduo
Social Sociabilidade: Participação
Instituições

Patrão
Econômica Produtividade / consumo: Justiça
Operário

Natureza
Cultural Historicidade: História /
Cultura Humanidade

(4)   Relação com a origem da vida.


Vida
Antropológica Humanidade: Humanização
Vida animal

Vital
Filosófica Racionalidade: Sentido da Vida
Humano

Transcendência
Religiosa Religiosidade: Religião
Imanência

(5)   Relação com o OUTRO.


Sentido
Conhecimento Fé: Adesão
Não Sentido

Aceitação
Liberdade Unidade / Separação
Rejeição
Deus
Sacramental Graça: gratuidade
Ser humano
10. Teologia moral: fundamental e especial.
Moral fundamental é a parte da ciência moral que busca compreender o sujeito
moral em sua estrutura de ser responsável pela sua existência; faz referência:
* ao seu ser livre (autonomia);
* ao seu ser de relações básicas (solidariedade);
* ao seu ser de valoração (objetividade);
* ao seu ser encarnado (subjetividade).
São trabalhados os conceitos, os princípios e as normas que regem a vida moral
humana, diz respeito à estrutura do agir humano.
Moral especial é a parte da ciência moral que trabalha as áreas da existência
responsável humana:
 Vida física e psíquica: alimentação (fome), saúde (medicação), higiene
(ecologia).
 Vida psicoafetiva e sexual: amizade, sexualidade (machismo / feminismo),
homossexualidade; matrimônio – casamento – prostituição - divórcio.
 Vida familiar: paternidade – maternidade – filiação – educação – controle da
natalidade.
 Vida interpessoal: tolerância, verdade - mentira, veracidade - disponibilidade
– serviço - hospitalidade.
 Vida religiosa: ateísmo – idolatria – fetichismo – superstição; oração - voto –
juramento – consagração – sacramentos.
 Vida social: sociedade, organização; corresponsabilidade, participação,
diálogo, paternalismo.
 Vida econômica: propriedade, lucro, bens, dinheiro, trabalho, comércio –
greve – juros – empresa.
 Vida política: autoridade, legitimidade, legalidade, regime político,
revolução, ideologia; nacionalidade:

 Estado: constituição; poderes; sistema de governo;


 Relação internacional: paz – guerra; – tratados – corrida armamentista.

 Vida espiritual: transcendência: origem da vida, sentido, contemplação – beleza.


São trabalhadas as áreas das relações humanas como campo e horizonte do agir
humano. Busca-se dar sentido responsável para o agir humano.
11. O objetivo do estudo da Teologia moral.
Ao propor uma renovação da teologia moral dentro da formação sacerdotal, o
Concílio Vaticano II propõe o seguinte objetivo para a reflexão teológica moral:
Consagre-se cuidado especial ao aperfeiçoamento da teologia moral, cuja
exposição científica, mais alimentada pela doutrina da Sagrada Escritura, evidencie a
sublimidade da vocação dos féis em Cristo e sua obrigação de produzir frutos na
caridade, para a vida do mundo (Optatam totius, 16).
Dessa formulação deduzem-se os seguintes critérios:
Reflexão teológica cientificamente elaborada. Importância de um conhecimento crítico
das diversas disciplinas que estudam o ser humano.
Reflexão que se inspira na intuição bíblica. Importância das diversas disciplinas que
estudam o texto bíblico, bem com o aspecto evolutivo da revelação da mensagem
salvífica.
Reflexão centrada no mistério do Cristo: Estudo cristológico do mistério de Jesus
histórico e do Cristo da fé.
Reflexão moral positivamente propositiva: é um chamado, uma vocação.
Reflexão moral eclesial (Tradição, Magistério e Sensus fidelium). Visão histórica e
evolutiva da realidade moral humana e cristã.
Reflexão moral de cunho universal (catholicus): O agir moral cristão é para a vida do
mundo, isto é para o crescimento do humano à luz da mensagem salvífica.
12. Conceituações de verdade, bondade, justiça éticas.
Há dois modos fundamentais, na cultura ocidental, de conceber a verdade:
 Concepção grega: para o grego, a verdade tende a fazer ver uma coisa tal como
ela é em si e por si (concepção abstrata). A verdade é uma só, superior a toda
mudança temporal porque é idêntica a si mesma. Fala-se em sintonia com a
entidade oculta atrás da aparência mutável dos sentidos e que se revela como
Logos. Deus é verdade porque se revela em plenitude.
 Concepção hebraica: para o hebreu, a verdade tem que ser realizada
continuamente; é a realidade vista como histórica (concepção existencialista). A
verdade não é algo que se encontra sob ou atrás das coisas, e que poderia ser
encontrada penetrando no íntimo delas. Antes, a verdade é algo que está à frente,
que resultará no futuro, que se deve realizar. Deus é verdade porque é fiel, e
pode-se ter fé n’Ele porque se tem certeza de seu futuro.
A concepção de bondade se estrutura de modo diferente se tiver a perspectiva
gnosiológica grega ou hebraica.
 Para o grego, a pessoa é boa quando sabe estabelecer uma conduta exemplar e
perfeita; quando se encontra fixada em um comportamento ideal mediante a
aquisição de virtudes. A norma ética deve ser formulada em um princípio geral e
estável para ser verdadeira.
 Para o hebreu, ao contrário, a bondade reside no contínuo realizar-se, no
purificar-se e no abrir-se constantemente à retidão. Julga-se boa uma pessoa
quando inspira confiança de que também no futuro se manifestará tendente à
bondade. Nenhum homem é bom de modo definitivamente estável, mas que se
pode manifestar perenemente aberto e tendente a um viver honrado.
(cf. T. Goffi, “Secularización” in Diccionario Teología Moral, p. 998)
A concepção de justiça se estrutura de modo diferente se tiver a perspectiva
gnosiológica greco-romana ou hebraica.
 Para o grego justiça é uma virtude pela qual o indivíduo trata os demais pares
com igualdade nas relações ou segundo o que determina a lei (concepção
jurídica romana), portanto busca-se ser justo nas relações.
 Para o hebreu, mais que ser justo nas relações com os demais, é fazer justiça
para aqueles que não tem amparo legal, dá-se uma conotação de preferência por
quem não é tratado justamente.

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