Alopecia Areata Generalizada em Um Cão Da Raça Lhasa Apso Relato de Caso
Alopecia Areata Generalizada em Um Cão Da Raça Lhasa Apso Relato de Caso
Alopecia Areata Generalizada em Um Cão Da Raça Lhasa Apso Relato de Caso
Pacheco BD, de Farias MR, Werner J, Schmidlin PC. Medvep Dermato - Revista de Educação Continuada em Dermatologia e Alergologia
Veterinária; 2014; 3(9); 174-178.
Resumo
A alopecia areata é uma dermatopatia autoimune da unidade pilo-sebácea, de caráter benigno, incomu-
mente descrita em cães e rara em gatos. A patogênese da doença é incerta porém parece estar relacionada
a imunidade celular mediada por linfócitos CD8, que atuam contra antígenos foliculares e alteram o ciclo
de crescimento do pelo. Este trabalho tem como objetivo relatar um cão, lhasa apso, com alopecia areata
generalizada, e discutir seus aspectos clínicos, diagnósticos e terapêuticos de forma comparada.
Abstract
Alopecia areata is an autoimmune skin disease of the pilosebaceous unit, benign, described uncommonly
in dogs and rare in cats. The pathogenesis is uncertain but may be related to cellular immunity mediated
by CD8 lymphocytes that act against follicular antigens and alter the cycle of hair growth. This paper
aims to report a dog, Lhasa Apso, with widespread alopecia areata, and discuss its clinical, diagnostic
and therapeutic aspects of a comparative basis.
região cervical, torácica e membros (5). tórico de queda de pelos exagerada e hipotricose na
Em humanos, se manifesta como alopecia loca- face, que evoluíram para alopecia generalizada em
lizada (alopecia areata focal), irregular e multifocal duas semanas. O animal não apresentava prurido e
(alopecia areata reticular), generalizada do couro não havia descrição de alterações sistêmicas.
cabeludo (alopecia areata totalis), e pode ter envol- Ao exame clínico foi observado hipotricose e
vimento de toda superfície corpórea (alopecia area- alopecia de caráter não inflamatório nas regiões
ta universalis). Nas formas mais graves da alopecia periorbital, frontal da face, temporal, ponte nasal,
areata, podem ser observadas alterações ungueais, cervical, tronco e membros torácicos e pélvicos.
sendo mais frequentes em crianças (12%), em rela- Não foram observados eritema, sinais de escoriação
ção aos adultos (3,3%) e, quando concomitantes com ou erupções pápulo-pustulares foliculocêntricas. O
a dermatite atópica na infância, foram mencionadas pelo da periferia lesional era facilmente epilável à
como fatores prognósticos desfavoráveis (5,9,7). mínima tração (figuras 1, 2, 3 e 4).
A patogênese da doença é incerta. Em humanos, Raspado de pele, lâmpada de wood e cultura fúngi-
foi observado que mecanismos imunomediados, ca resultaram negativos. Na avaliação tricográfica ha-
modulados por fatores hormonais, genéticos e dis- via pelos em várias fases do ciclo de crescimento, e sem
túrbios psiquiátricos, alteram o ciclo de crescimento alteração em suas regiões cuticular, cortical e medular.
do pelo, e conduzem ao desenvolvimento de um Hemograma, avaliação da concentração sérica
anágeno distrófico, ciclo folicular interrompido e da albumina, ureia, creatinina, FA, ALT, e ultrasso-
telógeno prolongado (5,9). nografia abdominal não demonstraram alterações.
Esse trabalho tem como objetivo relatar o caso Biópsia de pele foi realizada e o exame derma-
de um cão com alopecia areata generalizada e dis- tohistopatológico demonstrou intensa inatividade
cutir, de forma comparada, seus aspectos clínicos, folicular, presença de alguns folículos pilosos em
epidemiológicos e terapêuticos. telógeno, catágeno e, aqueles que estavam entrando
em fase anagênica, estavam associados à peribulbi-
te linfocítica (figura 5).
Os achados clínico-patológicos subsidiaram o
Relato de caso diagnóstico de alopecia areata generalizada, sendo
instituído como tratamento prednisolona (1mg/
Um cão da raça Lhasa Apso, macho, orquiecto- kg/vo/24h/15 dias), associado à ciclosporina
mizado, 11 anos, foi atendido na Unidade Hospita- (5mg/kg/24h), que resultou em melhora apenas
lar de Animais de Companhia da PUCPR, com his- parcial dos sintomas clínicos até a presente data.
Figura 1 - Cão, Lhasa Apso, macho, de 11 com alopecia Figura 2 - Cão, Lhasa Apso, macho, de 11 anos, com hipotricose
não inflamatória, de caráter simétrico e generalizado, secundário e alopecia espontânea, não inflamatória nas regiões periorbital,
à alopecia areata. frontal da face, temporal, ponte nasal e plano naso-labial secun-
dário à alopecia areata generalizada.
Figura 5 - Avaliação dermatohistopatológica a partir de um cão, Figura 4 - Cão, Lhasa Apso, macho, de 11 anos com expansão
Lhasa Apso, macho, de 11 anos com alopecia areata generaliza- da área hipotricótica e alopécica para a região esternal e mem-
da, demonstrando a presença de infiltrado inflamatório linfocítico, bros, secundário à alopecia areata generalizada.
predominantemente peribulbar e inatividade folicular (H&E, 10X).
intralesional e tópico), além disso, inibidores de cal- 4. Madani S, Shapiro J. Alopecia areata update. Journal of the
cineurina (tópicos e sistêmicos), imunoterapia tópica American Academy of Dermatology. 2000. 1-18.
e sistêmica, antralina tópica, minoxidil tópico e foto- 5. Miller WH, Griffin CE, Campbell K L. Autoimmune and Immu-
quimioterapia (4,2), sendo que o período mínimo para ne-Mediated Dermatoses. In: ______Muller & Kirk’s Small
Animal Dermatology. Saunders, 7 ed. 2013.pg 462-463.
avaliação de qualquer tratamento é de três meses (6).
Em geral, a terapia sistêmica em humanos é re- 6. Rivitti EA. Alopecia areata: a revision and update. Anais
servada para casos generalizados, e leva-se sempre Brasileiros de Dermatologia. 2005;80(1):57-68.
em consideração o risco/benefício do tratamento. 7. Sillas T, Farias MR, Werner J. Alopecia areata generalizada
O elevado número de remissões espontâneas, par- em um cão: relato de caso. Revisa Clínica Veterinária, São
Paulo. 2006. Guará v.11, n.63, pg.76-80.
ticularmente em casos leves, é um obstáculo para
avaliar a real eficácia do tratamento. Alguns ensaios 8. Timm K, Fenacht SR, Tschamer CV et al. Alopecia areata in
Eringer cows. Veterinary Dermatology. 2010; 21, 545–553.
foram restritos a pacientes com formas graves e re-
calcitrantes da doença, os quais são, geralmente, 9. Tobin DJ, Gardner PBL; Dunston SM et al. Cutaneous Biolo-
mais resistentes ao tratamento (6,2). gy - A natural canine homologue of alopecia areata in hu-
mans.British Journal of Dermatology 2003; 149: 938–950.