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Composição Ótima Da Dívida Pública Brasileira e A Política Monatária

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rREVISTA

b eBRASILEIRA DE ECONOMIA DOI 10.5935/0034-7140.20190010


ISSN 1806-9134 (online) FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS

Composição Ótima da Dívida Pública Brasileira


e a Política Monetária *

Adriano Sodré de Moraes †


José Angelo Divino ‡

Sumário Resumo · Abstract


1. Introdução ............... 213 A gestão da dívida pública voltou a ocupar posição de destaque no debate
2. Modelo................... 215 acadêmico devido ao desequilíbrio fiscal atualmente enfrentado pelo Brasil. O
3. Resultados............... 222 objetivo desse artigo é analisar os efeitos da composição da dívida pública sobre
4. Análise de bem-estar ... 228 a dinâmica da economia brasileira e sua interação com a política monetária. O
5. Conclusão................ 231 modelo de Schmitt-Grohé e Uribe (2007) é ampliado para incluir títulos públicos
indexados à taxa de juros, além dos títulos prefixados e indexados à inflação.
Palavras-chave
Composição da dívida pública, A dinâmica da economia é simulada a partir de choques exógenos de política
política fiscal, política monetá- fiscal, produtividade e política monetária. Uma análise de bem-estar investiga
ria, modelo DSGE a composição ótima da dívida pública e sua relação com a política monetária.
JEL Codes Os resultados revelam que o choque fiscal pode ser inflacionário devido aos
E27, E32, E62, H30 seus efeitos sobre a demanda agregada e o investimento; a composição da
dívida pouco impacta na dinâmica das variáveis reais diante de um choque de
produtividade; e, o choque de política monetária aumenta o endividamento
público e, consequentemente, do nível de tributação requerido para o equilíbrio
fiscal. Um maior grau de indexação da dívida pública eleva o bem-estar ao
contribuir para a suavização da trajetória da dívida pública e da tributação
na economia. O bem-estar também aumenta quando o Banco Central não
responde ao hiato do produto e combate agressivamente a inflação em sua
função de reação.

1. Introdução
A gestão da dívida pública, para os países em desenvolvimento, sempre foi uma questão
delicada. A instabilidade econômica que lhes é peculiar costuma limitar o aceite de determi-
nados instrumentos de financiamento público pelos agentes privados ou impõe a exigência
de prêmios de risco elevados e que, muitas vezes, inviabilizam a emissão de dívida pela
Autoridade Fiscal.
No Brasil, a gestão da dívida pública não esteve, tradicionalmente, no topo das priori-
dades do governo em função de cenários macroeconômicos desfavoráveis, caracterizados
por inflação elevada, incertezas políticas e calotes em renegociações de dívidas. Tal situação

* Os autores agradecem aos participantes no XLIV Encontro Nacional de Economia e a um parecerista anônimo pelos comentários
e sugestões. José A. Divino agradece ao CNPq pelo apoio financeiro. O presente trabalho foi realizado com apoio parcial da
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior — Brasil (CAPES) — Código de Financiamento 001. Eventuais erros
remanescentes são de responsabilidade exclusiva dos autores.

Tesouro Nacional. Esplanada dos Ministérios, Edifício Sede do Ministério da Economia, Bloco P, Brasília, DF, CEP 70048-900, Brasil.

Universidade Católica de Brasília, Programa de Pós-Graduação em Economia. SGAN 916, Av. W5 Norte, Sala A-118, Brasília, DF,
CEP 70790-160, Brasil.
§
 sodmoraes@gmail.com  jangelo@ucb.br

Revista Brasileira de Economia Vol. 73, No. 2 (Abr–Jun 2019) 213–233 213
Recebido em 16 de fevereiro de 2018
This is an open-access article distributed under the terms of the Creative Commons Attribution License. Aceitação final em 29 de agosto de 2018
214 Rev. Bras. de Econ. Vol. 73, No. 2 (Abr–Jun 2019)

começou a mudar em 1999 com a adoção do regime de metas para a inflação, que tem na
estabilidade fiscal um de seus pilares.
Após um período de relativa estabilidade da relação entre dívida pública e Produto
Interno Bruto (PIB), os últimos anos mostraram uma substancial deterioração dessa razão,
principalmente quando se considera a Dívida Bruta do Governo Geral (DBGG) que, ao
contrário da Dívida Líquida do Setor Público (DLSP), não considera os ativos da União.
De 2013 a 2015, por exemplo, a DBGG passou de 51,7 para 65,1% do PIB, gerando receios
sobre a sustentabilidade da dívida pública brasileira e contribuindo para a perda de grau de
investimento da economia brasileira em 2015. Nesse turbulento cenário, o tema da gestão
dívida pública voltou a ganhar força por ser um importante elemento para a boa condução
da política fiscal.
O perfil de endividamento público apresenta ligações com as conduções das políticas
monetária e fiscal, já que variações nessas políticas geram repercussões no montante e no
perfil da dívida pública. Pelo lado monetário, o sucesso do Banco Central em estabilizar
a inflação é mais provável em um ambiente em que não exista uma crise fiscal causada
por níveis elevados de endividamento. Já pela ótica fiscal, se a escolha de instrumentos
para o financiamento da dívida pela Autoridade Fiscal for inadequada, pode-se aumentar a
vulnerabilidade do país e elevar a chance de ocorrência de crises fiscais.
O objetivo desse artigo é analisar, por meio da modelagem DSGE, os efeitos da com-
posição da dívida pública sobre a dinâmica da economia brasileira e sua interação com
a condução da política monetária. Especificamente, o modelo desenvolvido por Schmitt-
Grohé e Uribe (2007) é ampliado para que o governo possa emitir títulos públicos indexados
à taxa de juros da economia, além dos títulos prefixados e indexados à inflação. A inclusão
desses instrumentos de endividamento contribui para uma análise mais realista, ampliando
o instrumental à disposição da Autoridade Fiscal para financiar seus gastos e aproximando
as possibilidades de financiamento do benchmark existente no Brasil. Além disso, é realizada
uma análise de sensibilidade, investigando como a relação entre composição da dívida
pública e diferentes regras de política monetária seguidas pelo Banco Central pode afetar o
bem-estar da sociedade.
Os principais trabalhos na literatura sobre composição da dívida pública tratam da
escolha entre dívida nominal (prefixada) e indexada à inflação. Bohn (1988), por exemplo,
argumenta em favor da dívida nominal, já que protege o orçamento do governo contra
choques adversos que resultem em aumento da inflação. Já Barro (1995) defende a dívida
indexada à inflação, alegando que esta resguarda a restrição orçamentária do governo e,
consequentemente, o nível de tributação contra futuras oscilações na taxa de juros real da
economia. Isso contribui para a suavização da tributação e para um maior nível de bem-estar
dos agentes econômicos.
Missale (1997) define um modelo de suavização de tributação nos moldes de Bohn
(1990), utilizando uma especificação em horizonte infinito para a estimação de parâmetros
ótimos. As estimações para as economias inglesa e italiana indicam que a composição
ótima do endividamento público depende essencialmente das covariâncias entre os choques
inflacionários, taxa de câmbio real, gastos públicos e produto. Díaz-Giménez, Giovannetti,
Marimon, e Teles (2008) ilustram, porém, que a composição da dívida escolhida pode ser
afetada pela elasticidade de substituição intertemporal na função utilidade.
Considerando o caso brasileiro, Goldfajn (2000) propõe um modelo de suavização de
tributação no qual a composição ótima da dívida depende da variância dos gastos públicos,
do tamanho do estoque da dívida, da variância da taxa de câmbio e da correlação entre gastos
Morais e Divino: Composição Ótima da Dívida Pública Brasileira e a Política Monetária 215

públicos e inflação. Cysne (2007) confronta o trabalho de Goldfajn (2000) e argumenta


que os modelos de suavização tributária encontram pouco suporte empírico para dados
da economia brasileira, alegando que a hipótese de orçamento equilibrado superestima os
ganhos associados à redução dos gastos do governo.
Giavazzi e Missale (2004) buscam derivar a composição ótima da dívida pública brasileira.
Sugerem que, para evitar uma crise da dívida, o governo deveria aumentar a participação
de títulos prefixados e indexados aos índices de preços e reduzir a participação de títulos
indexados à taxa de juros. Cunha e Garcia (2010) abordam a composição ótima sob a ótica
das correlações entre os principais indexadores da dívida pública brasileira, concluindo pela
correlação entre dívida prefixada e volatilidade da inflação.
Lopes e Domingos (2004) usam um modelo macroestrutural para determinar a compo-
sição ótima da dívida pública por meio de uma fronteira eficiente (Modelo de Markovitz).
Os resultados indicam que as carteiras eficientes seriam compostas, principalmente, por
títulos indexados à taxa de juros e títulos prefixados. Cabral, Lopes, Baghdassarian, Alves,
e Souza (2008) também derivam uma fronteira eficiente para a dívida pública brasileira.
Utilizando métodos de finanças estocásticas, argumentam que uma aproximação da fronteira
eficiente seria possível com o aumento relativo de títulos indexados à inflação e prefixados,
concomitantemente à redução dos títulos indexados à taxa de juros.
O presente estudo contribui com essa literatura ao ampliar, teoricamente, a modelagem
da composição da dívida pública para incluir títulos públicos indexados à taxa básica de juros
da economia, além dos títulos prefixados e indexados à inflação.1 Além disso, a calibração
do modelo para a economia brasileira revela como a dinâmica das principais variáveis
macroeconômicas é afetada pela ocorrência de choques fiscal, tecnológico e monetário. A
análise de bem-estar revela que, apesar de um aumento do grau de indexação à taxa de
juros contribuir para um aumento de bem-estar, a maior utilidade é obtida com uma dívida
integralmente indexada à inflação. Isso ocorre porque, com essa composição, os agentes
ficam protegidos contra o risco inflacionário ainda presente na economia brasileira. A análise
da interação com a política monetária confirma a evidência de que o Banco Central não
deve responder ao hiato do produto na regra para a taxa de juros, mas deve combater mais
agressivamente as pressões inflacionárias.
O artigo está organizado conforme se segue. A próxima seção apresenta o modelo teórico,
com destaque para a ampliação da composição da dívida pública. A terceira seção apresenta
a calibração, reporta e discute os resultados decorrentes das funções de resposta ao impulso.
A análise de bem-estar e a interação com a política monetária são objetos de análise da
quarta seção. Por fim, a quinta seção é dedicada às observações conclusivas.

2. Modelo
A modelagem contempla a existência de famílias, firmas e o governo, sendo que as famílias
maximizam utilidade, as firmas maximizam lucros e o governo estabelece as políticas
monetária e fiscal, assumindo a existência de rigidez nominal nos preços, competição
monopolística no mercado de produtos e taxação distorciva.

1
Divino e Silva (2014) também modificam o modelo de Schmitt-Grohé e Uribe (2007), mas para incluir somente
títulos nominais e indexados à inflação. A calibração para a economia brasileira revela que o maior nível de
bem-estar é obtido com uma dívida altamente indexada à inflação e nenhum peso atribuído à estabilização do
hiato do produto na função de reação da Autoridade Monetária.
216 Rev. Bras. de Econ. Vol. 73, No. 2 (Abr–Jun 2019)

2.1 Famílias
Partindo do modelo básico de Schmitt-Grohé e Uribe (2007), a economia é composta por
um continuo de famílias idênticas, em que cada uma delas escolhe seu nível de consumo
( 𝑐𝑡 ) e de horas trabalhadas ( ℎ𝑡 ) para maximizar o valor presente descontado da utilidade
esperada:

𝔼0 ∑ 𝐵𝑡 𝑈(𝑐𝑡 , ℎ𝑡 ), (1)
𝑡=0

onde 𝔼0 é o operador de expectativas, 𝛽 é o fator de desconto e 𝑈 representa a função de


utilidade, que é estritamente crescente em 𝑐𝑡 , estritamente decrescente em ℎ𝑡 ,e estritamente
côncava. Assume-se que o bem de consumo é um bem composto gerado a partir de um
contínuo de bens diferenciados, com cada produto sendo produzido por apenas uma firma
sob concorrência monopolística, 𝑐𝑗𝑡 , onde 𝑗 ∈ [0, 1] sendo representado pela seguinte
função agregadora:
1
1
1−1/𝜂
1
(1− 𝜂 )
𝑐𝑡 = [∫ 𝑐𝑗𝑡 d 𝑗] , (2)
0

onde 𝜂 é a elasticidade de substituição intratemporal entre as diferentes variedades dos bens


de consumo. Para qualquer nível de consumo, compras de cada variedade 𝑗 pelas famílias
devem resolver o problema de minimização dos gastos (∫01 𝑃𝑗𝑡 𝑐𝑗𝑡 ), sujeito à restrição (2),
onde 𝑃𝑗𝑡 é o preço nominal do bem do tipo 𝑗 . Resolvendo o problema, obtém-se o consumo
do bem 𝑗 , que é dado por
𝑃𝑗𝑡 −𝜂
𝑐𝑗𝑡 = ( ) 𝑐𝑡 , (3)
𝑃𝑡
onde 𝑃𝑡 é um índice agregado de preços, tal que:
1
1 1−𝜂
1−𝜂
𝑃𝑡 = (∫ 𝑃𝑗𝑡 d 𝑗) , (4)
0

com a propriedade de que o custo mínimo de uma cesta de bens intermediários que produz
𝑐𝑡 unidades do bem composto é dado por 𝑃𝑡 𝑐𝑡 .
A restrição orçamentária das famílias é representada por:

𝑓 𝑓
𝐵𝑡 𝑏𝑡 𝐵𝑡 𝐵𝑡−1 𝑏𝑡−1 𝐵𝑡−1 𝜋𝑡
𝜋𝑡 + 𝑅𝑡−1
𝑏 𝑓
+ + + 𝑐𝑡 + 𝑖𝑡 = 𝑅𝑡−1 + 𝑟𝑡−1 ( )
𝑃𝑡 𝑃𝑡 𝑃𝑡 𝑃𝑡 𝑃𝑡 𝑃𝑡 𝜋𝑡−1

+ (1 − 𝜏𝑡𝐷 )[𝑤𝑡 ℎ𝑡 + 𝑢𝑡 𝑘𝑡 ] + 𝛿𝜏𝑡𝐷 𝑘𝑡 + 𝜉𝑡 , (5)

𝑓
em que 𝐵𝑡 é o título público nominal, 𝑏𝑡 é o título público indexado à inflação, 𝐵𝑡 é o título
público indexado à taxa de juros, 𝑅𝑡 é a taxa de juros nominal bruta da economia, 𝑟𝑡𝑏 é a
𝑓
taxa de juros real da economia, 𝑅𝑡 é a taxa de retorno do título indexado a taxa de juros e
𝜋𝑡 = 𝑃𝑡 /𝑃𝑡−1 é a inflação bruta. A variável 𝑘𝑡 representa o capital, 𝑖𝑡 o investimento privado,
𝜏𝑡𝐷 denota a taxa de impostos sobre a renda e 𝜉𝑡 é o lucro recebido pela propriedade das
firmas. Já o termo 𝛿𝜏𝑡𝐷 expressa a depreciação permitida para pagamento de tributos, um
tipo de isenção tributária. Finalmente, os termos 𝑤𝑡 e 𝑢𝑡 estabelecem o salário e a taxa de
retorno do capital, respectivamente.
Morais e Divino: Composição Ótima da Dívida Pública Brasileira e a Política Monetária 217

A restrição orçamentária é similar à de Schmitt-Grohé e Uribe (2007), sendo diferen-


𝑓
ciada pelas inclusões dos títulos indexados à taxa de inflação ( 𝑏𝑡 ) e à taxa de juros ( 𝐵𝑡 ).
Para caracterizar esse último título, utiliza-se uma modelagem similar à Inhasz (2013),
diferenciando o título prefixado do indexado à taxa de juros da seguinte maneira:

𝑅𝑡 = 𝑅𝑡 (1 + 𝜓𝑡 ),
𝑓
(6)

onde 𝜓𝑡 representa o prêmio de risco demandado pelos agentes para aceitar um título
pós-fixado frente à opção de compra de um título nominal. O prêmio de risco é dado por
𝜋𝑡
( 1 + 𝜓𝑡 ) = . (7)
𝔼𝑡 [𝜋𝑡+1 ]

O estoque de capital deprecia-se a uma taxa 0 < 𝛿 < 1 e sua dinâmica no tempo segue

𝑖𝑡
𝑘𝑡+1 = (1 − 𝛿)𝑘𝑡 + 𝑖𝑡 Ψ( ). (8)
𝑖𝑡−1

Seguindo Schmitt-Grohé e Uribe (2007), a função Ψ satisfaz Ψ(1) = 1 , Ψ(1)′ = 0 e


Ψ(1)″ < 0 . Essas hipóteses garantem que não existem custos de ajustamento de capital
perto do seu estado estacionário. A função de custos de ajustamento é:

𝑖𝑡 𝜔 𝑖𝑡 2
Ψ( )=1− ( − 1) . (9)
𝑖𝑡−1 2 𝑖𝑡−1

Desse modo, o problema das famílias é maximizar (1) sujeito à (5) e (8). Por uma
condição de não arbitragem, tem-se que 𝑅𝑡 = 𝑟𝑡𝑏 𝔼𝑡 [𝜋𝑡+1 ] e 𝑅𝑡 = 𝑅𝑡 (1 + 𝜓𝑡 ). Defina
𝑓

𝑈𝑐 (𝑐𝑡 , ℎ𝑡 ) como a utilidade marginal do consumo e 𝑈ℎ (𝑐𝑡 , ℎ𝑡 ) a utilidade marginal do


trabalho, ambas no período corrente. A condição de primeira ordem para o título prefixado
é dada por
𝑈𝑐 (𝑐𝑡+1 , ℎ𝑡+1 )
𝑈𝑐 (𝑐𝑡 , ℎ𝑡 ) = 𝛽𝑅𝑡 𝔼𝑡 [ ]. (10)
𝜋𝑡+1
Já a condição de primeira ordem para o título indexado à inflação pode ser escrita como:

𝑈𝑐 (𝑐𝑡 , ℎ𝑡 ) = 𝛽𝑟𝑡𝑏 𝔼𝑡 [𝑈𝑐 (𝑐𝑡+1 , ℎ𝑡+1 )]. (11)

Em ambos os casos, no equilíbrio, a utilidade marginal do consumo no período corrente é


igual ao valor esperado descontado da utilidade marginal do consumo no próximo período,
multiplicado pela taxa de juros do título (prefixado ou indexados à inflação, respectivamente).
Para o título indexado à taxa de juros, temos:

𝛽𝑅𝑡
𝑓

𝑈𝑐 (𝑐𝑡 , ℎ𝑡 ) = 𝔼 [𝑈 (𝑐 , ℎ )]. (12)


𝜋𝑡 𝑡 𝑐 𝑡+1 𝑡+1

Esta equação estabelece que, em equilíbrio, a utilidade marginal do consumo no período


corrente é igual à utilidade marginal esperada do consumo no próximo período, ponderada
pela taxa de juros do título pós-fixado ( 𝑅𝑡 ), pelo fator de desconto 𝛽 e pela inflação do
𝑓

período corrente.
218 Rev. Bras. de Econ. Vol. 73, No. 2 (Abr–Jun 2019)

A escolha ótima para a oferta de trabalho pode ser escrita como


−𝑈ℎ (𝑐𝑡 , ℎ𝑡 )
= 𝑤𝑡 (1 − 𝜏𝑡𝐷 ). (13)
𝑈𝑐 (𝑐𝑡 , ℎ𝑡 )

Na calibração do modelo, seguindo Schmitt-Grohé e Uribe (2007), utiliza-se a seguinte


função de utilidade:
[𝑐𝑡 (1 − ℎ𝑡 )𝛾 ]1−𝜎
𝑈(𝑐𝑡 , ℎ𝑡 ) = . (14)
1−𝜎

2.2 Governo
Para financiar os gastos públicos agregados, 𝑔𝑡 , o governo arrecada tributos e emite títulos
públicos prefixados ( 𝐵𝑡 ), indexados à inflação ( 𝑏𝑡 ) e indexados à taxa de juros da economia
𝑓
( 𝐵𝑡 ). Logo, a restrição orçamentária do governo depende da composição de títulos públicos
emitidos. No caso de uma dívida 100% prefixada, a restrição orçamentária do governo é

𝐵𝑡 = 𝑅𝑡−1 𝐵𝑡−1 + 𝑃𝑡 𝑔𝑡 − 𝑃𝑡 𝜏𝑡 . (15)

Se a dívida for completamente indexada à inflação, a restrição orçamentária será


𝑃𝑡
𝑏
𝑏𝑡 = 𝑟𝑡−1 𝑏𝑡−1 + 𝑃𝑡 𝑔𝑡 − 𝑃𝑡 𝜏𝑡 . (16)
𝑃𝑡−1

Já para uma dívida 100% indexada à taxa de juros, temos a seguinte restrição:
𝑓
𝐵𝑡−1 𝑃𝑡
) + 𝑃 𝑡 𝑔 𝑡 − 𝑃 𝑡 𝜏𝑡 .
𝑓 𝑓
𝐵𝑡 = 𝑅𝑡−1 ( (17)
𝜋𝑡−1 𝑃𝑡−1
𝑓
Sejam 𝑙𝑡𝐵 , 𝑙𝑡𝑏 e 𝑙𝑡 as obrigações reais do governo decorrentes da dívida nominal, indexada
à inflação e à taxa de juros, respectivamente. Definindo 𝑙𝑡𝐵 = (𝑅𝑡 𝐵𝑡 )/𝑃𝑡 e substituindo em
(15) temos
𝑅𝑡
𝑙𝑡𝐵 = 𝐵
𝑙𝑡−1 + 𝑅𝑡 (𝑔𝑡 − 𝜏𝑡 ). (18)
𝜋𝑡
Agora, definindo 𝑙𝑡𝑏 = (𝑟𝑡𝑏 𝑏𝑡 )/𝑃𝑡 e substituindo em (16) obtemos

𝑙𝑡𝑏 = 𝑟𝑡𝑏 𝑙𝑡−1


𝑏
+ 𝑟𝑡𝑏 (𝑔𝑡 − 𝜏𝑡 ). (19)
𝑓 𝑓 𝑓
Para o título indexado à taxa de juros, estabelecendo 𝑙𝑡 = (𝑅𝑡 𝐵𝑡 )/𝑃𝑡 e substituindo em
(17):
𝑓
𝑅𝑡
𝑙𝑡−1 + 𝑅𝑡 (𝑔𝑡 − 𝜏𝑡 ).
𝑓 𝑓 𝑓
𝑙𝑡 = (20)
𝜋𝑡−1
As equações (18), (19) e (20) definem as obrigações reais do governo nos casos de dívida
integralmente nominal, indexada à inflação e indexada à taxa de juros, respectivamente.
Percebe-se que, tanto para a dívida integralmente nominal quanto para a 100% indexada à
taxa de juros, o aumento da inflação contribui para a redução da dívida pública (no primeiro
caso é a inflação no período corrente, sendo que que no segundo é a inflação defasada). Já
com uma dívida integralmente indexada à inflação, não há perda no valor das obrigações
do governo, uma vez que nesse caso o governo paga um valor real acima da inflação.
Morais e Divino: Composição Ótima da Dívida Pública Brasileira e a Política Monetária 219

O governo pode escolher a composição da dívida pública a ser emitida. Sejam ∅𝑁 e ∅𝑏


os percentuais de dívida nominal e indexada à inflação, respectivamente. Assim, o total de
obrigações reais do governo ( 𝑙𝑡 ) é dado por
𝑓
𝑙𝑡 = ∅𝑁 𝑙𝑡𝐵 + ∅𝑏 𝑙𝑡𝑏 + (1 − ∅𝑁 − ∅𝑏 )𝑙𝑡 , (21)

em que ∅𝑁 , ∅𝑏 ∈ [0, 1] e ∅𝑁 + ∅𝑏 ≤ 1 .2 A receita tributária do governo é definida por:

𝜏𝑡 = 𝜏𝑡𝐷 𝑦𝑡 , (22)

na qual 𝑦𝑡 é a demanda agregada da economia e 𝜏𝑡𝐷 é a taxa de impostos sobre a renda. Já o


regime fiscal, segue Schmitt-Grohé e Uribe (2007):

𝜏𝑡 − 𝜏 ∗ = 𝜑(𝑙𝑡−1 − 𝑙∗ ), (23)

em que 𝜑 ∈ (0, 1) é um parâmetro, 𝜏 ∗ e 𝑙∗ são os valores no estado estacionário da receita


com tributação e a dívida total do governo, respectivamente. A equação acima do regime
fiscal estabelece que a receita com tributação é uma função linear das obrigações reais do
governo do período anterior.
Os gastos do governo ( 𝑔𝑡 ) são modelados como um processo log-linear auto regressivo
estacionário de primeira ordem:
𝑔𝑡 𝑔𝑡−1
) = 𝜌𝑔 ln( ) + 𝜀𝑡 ,
𝑔
ln( (24)
𝑔∗ 𝑔∗
𝑔 iid
em que 𝜀𝑡 é um choque de política fiscal, tal que 𝜀𝑡 ∼ 𝒩(0, 𝜎𝑔2 ).
𝑔

A Autoridade Monetária, segue uma regra de Taylor com suavização da taxa de juros da
economia:
𝑅𝑡 𝑅𝑡−1 𝜋𝑡 𝑦𝑡
ln( ) = 𝛼𝑅 ln( ) + (1 − 𝛼𝑅 )[𝛼𝜋 𝔼𝑡 ln( ) + 𝛼𝑦 𝔼𝑡 ln( ∗ )] + 𝜀𝑟𝑡 , (25)
𝑅∗ 𝑅∗ 𝜋 ∗ 𝑦

onde 𝑅∗ , 𝜋 ∗ , 𝑦 ∗ representam os valores no estado estacionário da taxa de juros, inflação e


produto da economia. Já os parâmetros 𝛼𝑅 , 𝛼𝜋 e 𝛼𝑦 são, respectivamente, coeficientes de
suavização da taxa de juros e as respostas da taxa de juros à variação na inflação e no hiato
iid
do produto. Além disso, 𝜀𝑟𝑡 é um choque de política monetária, tal que 𝜀𝑟𝑡 ∼ 𝒩(0, 𝜎𝑟2 ).

2.3 Firmas
Seguindo Schmitt-Grohé e Uribe (2007), cada firma produz uma variedade do bem 𝑗 ∈
[0, 1] num ambiente de concorrência monopolística. Cada firma 𝑗 produz utilizando como
insumos capital ( 𝑘𝑗𝑡 ) e trabalho ( ℎ𝑗𝑡 ). A função de produção considerada no modelo é

𝑧𝑡 𝐹(𝑘𝑗𝑡 , ℎ𝑗𝑡 ) − 𝜒, (26)

na qual 𝐹 é uma função homogênea de grau um, côncava e estritamete crescente no capital
e no trabalho. A variável 𝑧𝑡 denota um choque de produtividade agregado. O parâmetro 𝜒 é

Casos especiais são dívida totalmente prefixada ( ∅𝑁 = 1 e ∅𝑏 = 0 ), dívida integralmente indexada à inflação
2

( ∅𝑁 = 0 e ∅𝑏 = 1 ) e dívida 100% indexada à taxa de juros ( ∅𝑁 = 0 e ∅𝑏 = 0 ).


220 Rev. Bras. de Econ. Vol. 73, No. 2 (Abr–Jun 2019)

um custo fixo de produção para evitar lucros positivos no estado estacionário. Definindo
𝑎𝑗𝑡 ≡ 𝑐𝑗𝑡 + 𝑖𝑗𝑡 + 𝑔𝑗𝑡 como a demanda total pelo bem 𝑗 ,3 o lucro da firma 𝑗 é dado por

𝑃𝑗𝑡
𝜉𝑗𝑡 = 𝑎𝑗𝑡 − 𝑢𝑡 𝑘𝑗𝑡 − 𝑤𝑡 ℎ𝑗𝑡 . (27)
𝑃𝑡

O modelo assume que a firma deve satisfazer a demanda pelo bem aos preços dados:
𝑃𝑗𝑡 −𝜂
𝑧𝑡 𝐹(𝑘𝑗𝑡 , ℎ𝑗𝑡 ) − 𝜒 ≥ ( ) 𝑎𝑡 . (28)
𝑃𝑡

O objetivo das firmas é maximizar o valor presente dos lucros, dado por

𝔼𝑡 ∑ 𝑑𝑡,𝑠 𝑃𝑠 𝜉𝑗𝑠 , (29)
𝑠=𝑡

sujeito a (29), isto é, a hipótese que a firma deve satisfazer a demanda aos preços dado.
Seja 𝑑𝑡,𝑠 𝑃𝑠 mc𝑗𝑠 o multiplicador de Lagrange associado à (31). Logo, as condições de
primeira ordem da firma 𝑗 para o problema de maximização com respeito a trabalho e
capital são, respectivamente,

mc𝑗𝑡 𝑧𝑡 𝐹ℎ (𝑘𝑗𝑡 , ℎ𝑗𝑡 ) = 𝑤𝑡 , (30)

mc𝑗𝑡 𝑧𝑡 𝐹𝑘 (𝑘𝑗𝑡 , ℎ𝑗𝑡 ) = 𝑢𝑡 . (31)

Como todas as firmas se deparam com os mesmos preços de fatores e têm acesso à
mesma tecnologia de produção, a relação capital-trabalho 𝑘𝑗𝑡 /ℎ𝑗𝑡 e o custo marginal (mc𝑗𝑡 )
são idênticos para todas as firmas. No exercício de calibração, considera-se que a função de
produção é uma Cobb-Douglas:

𝐹(𝑘𝑡 , ℎ𝑡 ) = 𝑘𝑡𝜃 ℎ𝑡1−𝜃 ,

na qual 𝜃 é a participação do capital no produto. O terceiro choque no modelo é o de


produtividade ( 𝑧𝑡 ), que também segue um processo autoregressivo estacionário:

ln 𝑧𝑡 = 𝜌𝑧 ln 𝑧𝑡−1 + 𝜀𝑧𝑡 , (32)


iid
onde 𝜌𝑧 ∈ (0, 1) e 𝜀𝑧𝑡 ∼ 𝒩(0, 𝜎𝑧2 ) é um choque tecnológico.
Por hipótese, os preços são rígidos e reajustados conforme a regra de Calvo (1983). Em
cada período, uma fração 𝛼 ∈ [0, 1) das firmas não pode modificar os preços de seus bens. O
restante, ( 1 − 𝛼) das firmas escolhe os seus preços de maneira ótima. Suponha que a firma 𝑗
escolha o preço no período 𝑡 e seja 𝑃˜𝑗𝑡 o preço ótimo escolhido. O referido preço é escolhido
para maximizar o valor presente dos lucros futuros esperados. Isto é, 𝑃˜𝑗𝑡 maximiza
1−𝜂 −𝜂

𝑃˜𝑗𝑡 𝑃˜𝑗𝑡
𝔼𝑡 ∑ 𝑑𝑡,𝑠 𝑃𝑠 𝛼 𝑠−𝑡
{[( ) 𝑎𝑠 − 𝑢𝑠 𝑘𝑗𝑠 − 𝑤𝑠 ℎ𝑗𝑠 ] + mc𝑗𝑠 [𝑧𝑠 𝐹(𝑘𝑗𝑠 , ℎ𝑗𝑠 ) − 𝜒 − ( ) 𝑎𝑠 ]}.
𝑠=𝑡 𝑃𝑠 𝑃𝑠

3
Essa variável também pode ser obtida por 𝑎𝑗𝑡 = (𝑃𝑗𝑡 /𝑃𝑡 )−𝜂 𝑎𝑡 , em que 𝑎𝑡 ≡ 𝑐𝑡 + 𝑖𝑡 + 𝑔𝑡 é a demanda agregada
da economia.
Morais e Divino: Composição Ótima da Dívida Pública Brasileira e a Política Monetária 221

A condição de primeira ordem em relação à 𝑃˜𝑗𝑡 é


−1−𝜂

𝑃˜𝑗𝑡 𝜂 − 1 𝑃˜𝑗𝑡
𝔼𝑡 ∑ 𝑑𝑡,𝑠 𝛼 𝑠−𝑡
( ) 𝑎𝑠 [mc𝑗𝑠 − ] = 0, (33)
𝑠=𝑡 𝑃𝑠 𝜂 𝑃𝑠

que indica que a parcela das firmas que pode alterar seus preços no período corrente escolhe
os preços tais que a média ponderada das diferenças esperadas, corrente e futura, entre o
custo marginal e a receita marginal seja igual a zero.

2.4 Equilíbrio e Agregação


O equilibrío e agregação estão em conformidade com Schmitt-Grohé e Uribe (2006). A
partir da condição ótima (36), todas as firmas que decidirem alterar seus preços irão escolher
o mesmo preço. Logo, o subscrito 𝑗 pode ser excluído no equilíbrio. Assim, as demandas
das firmas por trabalho e capital definidas por (30) e (34) podem ser expressas como

mc𝑡 𝑧𝑡 𝐹ℎ (𝑘𝑡 , ℎ𝑡 ) = 𝑤𝑡 , (34)

mc𝑡 𝑧𝑡 𝐹𝑘 (𝑘𝑡 , ℎ𝑖 ) = 𝑢𝑡 . (35)

Segue, da equação (4), que o índice de preços agregados da economia pode ser escrito como
1−𝜂 1−𝜂 1−𝜂
𝑃𝑡 = 𝛼𝑃𝑡−1 + (1 − 𝛼)𝑃˜𝑡 , (36)

O qual pode ser transformado em


−1+𝜂 1−𝜂
1 = 𝛼𝜋𝑡 + (1 − 𝛼)𝑝
˜𝑡 , (37)

onde 𝑝˜𝑡 ≡ 𝑃˜𝑡 /𝑃𝑡 é o preço relativo de qualquer bem que tenha tido seu preço alterado em
relação ao bem composto.
De acordo com Schmitt-Grohé e Uribe (2006), é conveniente manter a estrutura não
linear de (36). Deve-se, contudo, reescrever essa equação de forma recursiva para eliminar
as somas infinitas. Para tanto, defina as variáveis auxiliares 𝑥𝑡1 e 𝑥𝑡2 como

−1−𝜂 𝜆𝑡+1 𝜂 ˜ −1−𝜂 1


𝑝
𝑥𝑡1 = 𝑝
˜𝑡 𝑎𝑡 mc𝑡 + 𝛼𝛽 𝔼𝑡 [ 𝜋𝑡+1 ( 𝑡 ) 𝑥𝑡+1 ], (38)
𝜆𝑡 𝑝
˜𝑡+1

−𝜂 𝜆𝑡+1 𝜂−1 𝑝˜𝑡 −𝜂 2


˜𝑡 𝑎𝑡 + 𝛼𝛽 𝔼𝑡 [
𝑥𝑡2 = 𝑝 𝜋 ( ) 𝑥𝑡+1 ]. (39)
𝜆𝑡 𝑡+1 𝑝˜𝑡+1

Usando essas variáveis auxiliares, a condição de equilíbrio de (36) pode ser simplificada
para4
𝜂 1
𝑥 = 𝑥𝑡2 . (40)
𝜂−1 𝑡
A restrição de recursos do modelo não é usual. Isso ocorre porque se supõe dispersão
relativa de preços entre as variedades de bens. Essa dispersão é ineficiente e gera perda de
produto. Para observar isso, começa-se analisando a equação (29) que estabelece que a oferta

4
Vide Schmitt-Grohé e Uribe (2006), página 13, para detalhes sobre a derivação.
222 Rev. Bras. de Econ. Vol. 73, No. 2 (Abr–Jun 2019)

deve ser igual à demanda para cada firma. Integrando para todas as firmas e considerando
que a relação capital-trabalho é igual para todas elas:
1 𝑃𝑗𝑡 −𝜂
𝑘𝑡
ℎ𝑡 𝑧𝑡 𝐹( , 1) − 𝜒 = (𝑐𝑡 + 𝑖𝑡 + 𝑔𝑡 ) ∫ ( ) d 𝑗, (41)
ℎ𝑡 0 𝑃𝑡

onde ℎ𝑡 ≡ ∫01 ℎ𝑗𝑡 d 𝑗 e 𝑘𝑡 ≡ ∫01 𝑘𝑗𝑡 d 𝑗 denotam, respectivamente, os níveis agregados de


−𝜂
trabalho e capital. Além disso, seja 𝑠𝑡 ≡ ∫01 (𝑃𝑗𝑡 /𝑃𝑡 ) d 𝑗 . Logo, tem-se que
−𝜂 𝜂
𝑠𝑡 = (1 − 𝛼)𝑝
˜𝑡 + 𝛼𝜋𝑡 𝑠𝑡−1 .

Finalizando, a restrição de recursos da economia é dada pelas seguintes equações:


1
𝑦𝑡 = [𝑧 𝐹(𝑘𝑡 , ℎ𝑡 ) − 𝜒], (42)
𝑠𝑡 𝑡

𝑦𝑡 = 𝑐 𝑡 + 𝑖 𝑡 + 𝑔 𝑡 , (43)
−𝜂 𝜂
𝑠𝑡 = (1 − 𝛼)𝑝
˜𝑡 + 𝛼𝜋𝑡 𝑠𝑡−1 , (44)

onde a variável 𝑠𝑡 mede os custos de recursos gerados pela dispersão de preços ineficentes
no equilíbrio.
𝑓
O equilíbrio é caracterizado pelo conjunto de variáveis endógenas 𝑐𝑡 , 𝑖𝑡 , ℎ𝑡 , 𝑘𝑡+1 , 𝑅𝑡 , 𝑟𝑡𝑏 ,
𝑅𝑡 , 𝜓𝑡 , 𝜋𝑡 , 𝑤𝑡 , 𝜏𝑡𝐷 , 𝑙𝑡𝐵 , 𝑔𝑡 , 𝜏𝑡 , 𝑙𝑡𝑏 , 𝑙𝑡 , 𝑙𝑡 , mc𝑡 , 𝑧𝑡 , 𝑢𝑡 , 𝑝
˜𝑡 , 𝑥𝑡1 , 𝑥𝑡2 , 𝜆𝑡 , 𝑦𝑡 e 𝑠𝑡 , para 𝑡 = 1, 2, … ,
𝑓

que satisfaz o sistema representado pelas equações (6) a (13), (18) a (25), (32), (34), (35),
(37), (38) a (40) e (42) a (44), onde se incluem os processos estocásticos para 𝑔𝑡 e 𝑧𝑡 .

3. Resultados
O modelo foi resolvido mediante a aplicação de método de perturbação de 2ª ordem, que
resulta em uma aproximação mais precisa do que o método de 1ª ordem.5 As simulações esto-
cásticas utilizaram como base os valores dos parametros reportados na Tabela 1, referentes à
economia brasileira. Os valores dos parâmetros sobre a composição da dívida foram alterados
na análise de sensiblidade para permitir que a composição da dívida variasse livremente. As
funções impulso-respostas, reportadas mais adiante, correspondem a diferentes composições
de dívida e choques exógenos oriundos da política fiscal, produtividade e política monetária.

3.1 Calibração
Os parâmetros do modelo são calibrados tendo como referência a economia brasileira,
usando valores disponíveis na literatura nacional e calculados pelos autores. Os valores
calibrados e suas respectivas fontes estão reportados na Tabela 1.
Para os valores calculados pelos autores, a inflação de estado estacionário foi calibrada
em 4% ao ano, compatível com a meta perseguida pelo Banco Central. A relação Dívida/PIB
foi calibrada em 40%, consistente com o valor observado de 40,6% para a média do período

5
A simulação foi realizada no Dynare versão 4.3.2 para o Matlab. O algoritmo do Dynare, utilizado para resolver
modelos estocásticos, aplicou aproximações de Taylor de 2ª ordem às equações não lineares que definem o
equilíbrio do modelo, em torno dos valores de estado estacionário. Os resultados são referentes aos desvios em
relação ao estado estacionário das variáveis e a unidade temporal é o trimestre.
Morais e Divino: Composição Ótima da Dívida Pública Brasileira e a Política Monetária 223

Tabela 1. Parâmetros Calibrados.

Parâmetro Valor Descrição Fonte

𝛼 0,8 Fração das firmas que não alteram os seus preços Castro et al. (2011)
𝛽 0,99 Fator de desconto intertemporal Carvalho e Valli (2011)
𝛿 0,025 Taxa de depreciação Divino e Silva (2014)
𝜂 5 Elasticidade preço da demanda Divino e Silva (2014)
𝑔∗ 0,2 Gastos governamentais no estado estacionário Castro et al. (2011)
𝛾 0,6 Parâmetro de preferência para horas trabalhadas Divino e Silva (2014)
𝜉 0,21 Parâmetro de custo fixo Divino e Silva (2014)
𝜎 0,5 Parâmetro de preferência de escolha intertemporal Divino e Silva (2014)
𝜃 0,36 Parcela do capital na produção Carvalho e Valli (2011)
𝜑 0,21 Parâmetro fiscal Divino e Silva (2014)
𝛼𝑅 0,69 Coefciente da Regra de Taylor suavizador da taxa de juros Divino e Silva Jr. (2013)
𝛼𝜋 2,01 Resposta à inflação na Regra de Taylor Divino e Silva Jr. (2013)
𝛼𝑦 0,00 Resposta ao produto na Regra de Taylor Schmitt-Grohé e Uribe (2007)
𝜌𝑔 0,55 Autocorrelação dos gastos governamentais Carvalho e Valli (2011)
𝜀𝑡
𝑔
0,017 Desvio Padrão do choque dos gastos governamentais Carvalho e Valli (2011)
𝜌𝑧 0,8564 Autocorrelação do choque de produtividade Araújo (2012)
𝜀𝑧𝑡 0,0164 Desvio Padrão do choque de produtividade Araújo (2012)

entre 2004 e 2015. Para os gastos governamentais, considera-se o valor de 20% do PIB no
estado estacionário, mesmo valor utilizado por Castro et al. (2011) em suas simulações
estocásticas. Supõe-se que, no estado estacionário, o valor do prêmio de risco (𝜓𝑡 ) seja zero,
já que não há incertezas, implicando que as taxas dos títulos prefixada e indexado à taxa de
juros sejam iguais.

3.2 Choque Fiscal


A Figura 1 apresenta as trajetórias das principais variáveis endógenas da economia após
a ocorrência de um aumento exógeno dos gastos governamentais,6 com desvio padrão
de 0,017. O choque afeta negativamente o consumo e o investimento na economia. Já o
produto apresenta crescimento inicial, em função do aumento das despesas públicas mas,
posteriormente, reduz em função do efeito crowding out 7 sobre o investimento. Já a inflação

6
Para os três choques que serão vistos nesse trabalho, a composição de dívida pública denominada “combinação
de três títulos” é dada por: 38,7% de prefixados, 34,7% indexados à inflação e 26,6% indexados à taxa de juros.
Essa cesta de títulos públicos foi escolhida por ser similar a composição atual da dívida pública brasileira.
Segundo dados do Tesouro Nacional, a composição da DPF em fevereiro de 2016 era a seguinte: 36,2% de
prefixados, 34,1% indexados à inflação, 24,7% indexados à taxa de juros e 5,0% de dívida cambial (sendo a
diferença a presença de dívida cambial, não existente em nosso modelo).
7
O crowding out é conhecido como a redução no investimento e no consumo em função do aumento dos gastos
públicos. Esse efeito ocorre quando um aumento do endividamento do governo, eleva-se a demanda agregada
224 Rev. Bras. de Econ. Vol. 73, No. 2 (Abr–Jun 2019)

Figura 1. Funções impulso-respostas a um choque no gasto do governo.

aumenta para todas as composições de dívida, trazendo consigo a taxa de juros da economia
por causa da regra de Taylor assumida para a política monetária. A dívida pública e os
impostos também respondem positivamente de forma acentuada e hump shapped para todas
as composições de dívida.
Percebe-se que há uma elevação da inflação para todas as composições de dívida, sendo
maior para uma dívida integralmente nominal e menor para a dívida 100% indexada à
inflação. O comportamento da inflação é altamente correlacionado com a evolução da taxa
de juros, que também apresentou crescimento após o choque. Nota-se que a taxa de juros é
maior para uma composição integralmente nominal. Isso occorre porque o modelo assume
que a Autoridade Monetária segue uma regra de Taylor para determinar a taxa de juros. O
aumento ocorre em função da resposta do Banco Central a um maior nível de inflação.
A dívida pública apresenta crescimento para todas as composições simuladas. Percebe-se
que o endividamento é maior quando sua composição é totalmente prefixada e é menor
quando ela é integralmente indexada à inflação. Esse desempenho é explicado, em boa parte,
pelo maior crescimento da taxa de juros para uma composição integralmente nominal. Pos-
teriormente, há uma convergência das curvas de endividamento para todas as composições
de dívida. Esse desempenho pode ser explicado pela inflação: quando há elevação no índice
de preços, a dívida real cai no caso de um endividamento 100% nominal. Assim, a diferença
entre as duas trajetórias de endividamento (100% nominal e 100% indexada à inflação) vai
diminuindo significativamente num ambiente de aumento da inflação.
Considere, agora, o caso de uma dívida integralmente indexada à taxa de juros. Para
entender o comportamento das variáveis macroeconômicas, é necessário relembrar como
essa composição de endividamento foi modelada pelas equações (6) e (7). Observa-se que o
prêmio de risco (𝜓𝑡 ) é a razão entre a inflação atual e a inflação esperada futura. Além disso,

da economia, contribuindo para a elevação da taxa de juros. Esse aumento dos juros provoca uma queda
do investimento e, em menor medida, do consumo, por serem variáveis correlacionadas negativamente com
aquela variável.
Morais e Divino: Composição Ótima da Dívida Pública Brasileira e a Política Monetária 225

é interessante comparar como a dinâmica da dívida pública se comporta nos casos 100%
nominal e 100% indexada à taxa de juros, ilustrado nas equações (17) e (19).
Percebe-se que a dívida integralmente indexada à taxa de juros apresenta evolução
𝑓
similar à nominal, sendo as diferenças referentes às taxas de juros ( 𝑅𝑡 ao invés de 𝑅𝑡 ) e,
dada a inclusão do prêmio de risco na condição de primeira ordem do título indexado à
taxa de juros, ao fato de que a dívida real indexada desconta a inflação do período anterior,
enquanto à prefixada desconta a inflação presente.
O choque de gastos públicos aumenta a inflação, o que faz com que o prêmio de risco
fique negativo, isto é, a taxa do título indexado à taxa de juros fica inferior à do título nominal,
explicando o porquê de a dívida indexada à taxa de juros ficar num patamar inferior à
da prefixada. Ademais, percebe-se que para todas as composições de dívida simuladas,
aproximadamente no 6º período após o choque ocorre uma inflexão no comportamento da
inflação (valor futuro fica menor do que o atual). Essa inflexão faz com que o prêmio de
risco fique positivo. Com isso, a taxa de juros do título indexado à taxa de juros ultrapassa
à do título nominal, levando à convergência das curvas de dívida para esses dois títulos
nos períodos futuros. Outro fator que explica a diferença entre as trajetórias das duas
composições de dívidas é a inflação defasada. A dívida real indexada à taxa de juros em
nosso modelo é descontada pela evolução dos preços do período anterior, enquanto a
prefixada é pela inflação atual.
Logo após o choque, a inflação do período anterior é o seu valor no estado estacionário,
enquanto que seu valor no período atual é levemente superior para todas as composições
de dívida. Como a inflação entra no denominador na equação da dívida, uma inflação
maior (para a dívida nominal) contribui para uma dívida real inferior ao que seria para
a dívida indexada à taxa de juros. Entretanto, como o choque inicial gera apenas um leve
aumento da inflação, esse efeito é dominado pelo efeito do prêmio de risco mencionado
acima. Posteriormente, quando o prêmio de risco fica positivo, a distância entre as curvas
desses dois tipos de dívidas diminui.
Por fim, vale ressaltar que a tributação se elevou em todas as composições de dívidas e
teve um comportamento similar ao das curvas da dívida pública. Isso é esperado, já que,
conforme visto na equação (24), a tributação segue uma regra fiscal que considera a dívida
do período anterior. Assim, a tributação se ajusta de forma defasada à evolução da dívida.

3.3 Choque Tecnológico


A Figura 2 reporta as funções impulso-respostas a um choque positivo na tecnologia, com
desvio padrão de 0,0164. Conforme esperado, há um aumento no produto, no consumo
e no investimento da economia. A elevação da capacidade produtiva gera um excedente
produtivo, contribuindo para a redução da inflação e da taxa de juros.
A composição da dívida não tem efeitos significativos sobre as trajetórias das variáveis
reais da economia, sendo a exceção o investimento por causa, principalmente, dos custos
de ajustamento. Além disso, a inflação e a taxa de juros também não apresentam variações
significativas, revelando que a atuação da Autoridade Monetária não é afetada pela escolha
da composição da dívida diante de um choque tecnológico. Já a evolução da dívida pública
apresenta variação significativa dependendo da composição escolhida. Logo após o cho-
que, percebe-se que uma composição de dívida integralmente nominal apresenta maior
crescimento, enquanto a dívida 100% indexada à inflação apresenta um crescimento inferior.
Considere, inicialmente, a dívida 100% indexada à inflação. Após o choque, ela apresenta
um leve crescimento, mas que é seguido por uma queda substancial. Essa queda está
226 Rev. Bras. de Econ. Vol. 73, No. 2 (Abr–Jun 2019)

Figura 2. Funções impulso-respostas a um choque de produtividade.

correlacionada com a redução da taxa de juros. Sabemos que essa dívida não é afetada
pela inflação e, conforme a equação (19), depende da taxa de juros real da economia. O
choque tecnológico gera uma redução tanto na taxa de juros nominal da economia quanto
na taxa de juros real.
A dívida 100% nominal apresenta crescimento, mesmo com uma queda da taxa de juros.
Isso ocorre por causa da redução da inflação após o choque. Posteriormente, com a elevação
da inflação, ela volta a reduzir em função da perda de seu valor real, combinado com o
efeito da redução da taxa de juros. Já a dívida 100% indexada à taxa de juros apresenta uma
substancial redução logo após o choque, apresentando comportamento inverso do ocorrido
no choque fiscal. A dívida real indexada à taxa de juros é descontada pela evolução dos
preços do período anterior, enquanto à prefixada é pela inflação corrente. Assim, no período
logo após o choque temos que a inflação do período anterior é o seu próprio valor no estado
estacionário, enquanto que seu valor no período corrente é menor. Como a inflação entra
no denominador na equação da dívida, uma inflação maior (para a dívida indexada à taxa
de juros) contribui para uma dívida real inferior, explicando essa diferença entre as duas
trajetórias. Além disso, a taxa de juros do título indexado à taxa de juros é menor que a taxa
de juros do título prefixado em quase toda a trajetória após o choque, já que o prêmio de
risco é negativo, acentuando assim a diferença na dívida entre as duas composições
Posteriormente, com a inflação crescendo, temos que a inflação do período atual é
maior do que a do período anterior, contribuindo para um valor menor da dívida real numa
composição 100% nominal, em comparação com uma dívida integralmente indexada à
taxa de juros. Esse efeito, juntamente com a fato de que as taxas de juros dos dois títulos se
aproximam (já que após o 10º período o prêmio de risco fica próximo de 0), ajuda a explicar
a convergência futura entre as duas trajetórias de dívidas.
A tributação é bastante afetada pela composição de endividamento escolhida. O maior
nível de tributação é requerido para uma dívida 100% nominal, seguido da 100% indexada
à inflação, da combinação dos três tipos e, finalmente, da dívida integralmente indexada
à taxa de juros. Um choque tecnológico gera, assim, efeitos diversos sobre a tributação na
Morais e Divino: Composição Ótima da Dívida Pública Brasileira e a Política Monetária 227

economia, sendo que uma composição com três tipos de títulos, ao diversificar a exposição
aos diferentes riscos, contribui para a suavização dos níveis de tributação.

3.4 Choque de Política Monetária


A Figura 3 contempla as funções impulso-respostas oriundas de um choque positivo na
taxa de juros, com desvio padrão de 0,01. Esse aumento inesperado de juros reduz o
nível de investimento, consumo e, consequentemente, produto da economia. A redução da
capacidade produtiva diminui a demanda agregada, o que explica a diminuição da inflação
(efeito intensificado pela elevação da taxa de juros). O choque da taxa de juros também afeta
as contas públicas, elevando a dívida pública em todas as composições de endividamento e,
para a manutenção da solvência, também dos níveis de tributação da economia.
De maneira geral, a composição da dívida escolhida não gera efeitos significativos sobre
as trajetórias do produto, consumo e investimento no caso de um choque monetário, não
afetando o setor real da economia. Além disso, a inflação e a taxa de juros também não
apresentam variações significativas em função das diferentes composições de endivida-
mento, revelando que a atuação da Autoridade Monetária não é afetada pela escolha de
financiamento pela Autoridade Fiscal.
Entretanto, as variáveis fiscais apresentam diferenças significativas, dada a composição
de endividamento escolhida. Observa-se que o choque monetário gera uma elevação da
dívida pública em todas as composições, já que todas, de alguma forma, dependem da taxa
de juros nominal da economia. Dentre as diversas cestas, a dívida integralmente nominal
apresenta a maior variação positiva, seguida da combinação dos três tipos de títulos, da
100% indexada à inflação e da dívida integralmente indexada à taxa de juros.
Para explicar isso, primeiramente, vale analisar as diferenças entre a dívida 100% inde-
xada à inflação e a integralmente nominal. O crescimento da dívida indexada à inflação
ocorre em função do crescimento da taxa de juros real que acompanhou o choque monetário.
A dívida 100% nominal apresenta um maior crescimento, já que inicialmente o choque gera
uma redução da inflação, contribuindo para uma maior dívida real prefixada. Posteriormente,

Figura 3. Funções impulso-respostas a um choque de política monetária.


228 Rev. Bras. de Econ. Vol. 73, No. 2 (Abr–Jun 2019)

com a volta da inflação, tem-se o efeito contrário, havendo uma redução da dívida real
integralmente nominal, o que ajuda a explicar a convergência futura dessas duas trajetórias
após o 10º período.
Já a trajetória da dívida 100% indexada à taxa de juros é similar ao caso do choque
tecnológico. Dada a redução inicial da inflação, temos que a inflação do período anterior é
maior do que a do período atual, contribuindo para a dívida indexada à taxa de juros estar
num patamar inferior à integralmente nominal. Além disso, a dinâmica da inflação faz com
que o prêmio de risco seja negativo, implicando em uma taxa de juros do título indexado
superior à do prefixado. A diferença entre essas duas curvas diminui nos períodos seguintes
em função da tendência de a inflação atual ficar maior do que a do período anterior, além
do prêmio de risco se aproximar de zero após o 5º período, fazendo com que as taxas dos
dois títulos apresentem remunerações similares.
Em relação à tributação, tem-se um comportamento dependente da regra fiscal escolhida.
A Autoridade Fiscal necessita de um maior nível de tributação para uma dívida 100%
nominal, para compensar a maior elevação da dívida pública. Já a dívida integralmente
indexada à inflação apresenta, após o 4º período, o menor nível de tributação necessáriopara
o equilíbrio fiscal. Esses resultados estão em linha com Barro (1995), onde a dívida indexada
à inflação seria superior à nominal por proteger a restrição orçamentária do governo e,
consequentemente, o nível de tributação de futuras oscilações na taxa de juros real da
economia. Isso contribui para a suavização da tributação e um maior nível de bem-estar
para a sociedade como um todo.

4. Análise de bem-estar
O bem-estar social de equilíbrio e invariante no tempo é calculado para diferentes composi-
ções de dívida, sendo definido pela seguinte equação:

𝑉 = 𝔼0 ∑ 𝐵𝑡 𝑈(𝑐𝑡𝑎 , ℎ𝑡𝑎 ),
𝑎

𝑡=0

onde 𝑐𝑡𝑎 é o consumo e ℎ𝑡𝑎 são as horas trabalhadas sob a política fiscal tipo “ 𝑎 ”. A política
fiscal é determinada pela escolha pela Autoridade Fiscal de uma cesta de títulos públicos,
dentre títulos nominais, indexados à inflação e à taxa de juros.
Como há três títulos públicos, a escolha de uma cesta ótima fica mais complexa.8
Assim, procurou-se obter, dentre diversas composições, aquela que geraria um maior bem-
estar. Como estratégia inicial, fixou-se a participação de cada título em diversos patamares,
enquanto os outros títulos variaram livremente no intervalo residual. Na Figura 4, fixou-se
o percentual do título indexado à taxa de juros em 5 patamares diferentes (entre 0 e 80%
do total da dívida pública), enquanto a dívida nominal e a indexada à inflação variaram
no intervalo remanescente (entre 100% e 20%) em função do percentual escolhido para a
dívida indexada à taxa de juros.

8
Como existem três títulos públicos, quando se aumenta o percentual de um determinado título na carteira de
dívida pública, diminui-se o intervalo que os outros dois títulos podem variar. Por exemplo, se consideramos
apenas dois títulos (indexado à inflação e nominal), esses instrumentos de endividamento podem representar
entre 0 e 100% do total do endividamento público. Entretanto, se passamos a ter 20% da carteira contendo
títulos indexados à taxa de juros, aqueles dois outros instrumentos só podem representar 0–80% do total da
dívida.
Morais e Divino: Composição Ótima da Dívida Pública Brasileira e a Política Monetária 229

Figura 4. Sensibilidade do bem-estar ao título indexado à taxa de juros.

Percebe-se que existe uma correlação positiva, apesar de não muito substancial, entre
uma maior participação de títulos indexados à taxa de juros e um nível mais elevado de
bem-estar. Entretanto, um ganho maior é obtido aumentando-se a participação do título
indexado à inflação, já que o maior bem-estar obtido ocorre para uma participação de 100%
de títulos indexados à inflação. Essa relação pode ser vista claramente na Figura 5, quando
se aumenta gradativamente a participação desse título.
Dessa maneira, conclui-se que o maior bem-estar seria obtido por uma composição
integralmente indexada à inflação, sendo que o menor nível de bem-estar seria obtido para
uma dívida integralmente nominal, com a dívida indexada à taxa de juros ficando em um
patamar intermediário. Além disso, uma cesta de endividamento mista, contendo os três
títulos, levaria a uma utilidade maior do que algumas carteiras, notadamente as com alta
participação de títulos prefixados. Esse resultado era esperado, já que, conforme visto na
seção anterior, a dívida nominal nas simulações apresentou maiores custos em termos de
dívida e foi a que mais afetou as variáveis reais da economia.
Para analisar as interações entre as políticas monetária e fiscal, foi realizada uma análise
de sensibilidade, modificando parâmetros relevantes da função de resposta do Banco Central.
A política monetária nesse caso seria a escolha de 𝛼𝜋 , a resposta da taxa de juros à inflação,
e 𝛼𝑦 , que é a resposta da taxa de juros à variação no hiato do produto da economia.9

Figura 5. Sensibilidade do bem-estar ao título indexado à inflação.

9
Para isso, varia-se livremente 𝛼𝜋 no intervalo entre 1,2 e 3 enquanto 𝛼𝑦 modifica-se entre 0 e 0,5.
230 Rev. Bras. de Econ. Vol. 73, No. 2 (Abr–Jun 2019)

Na Figura 6 apresenta-se o nível de bem-estar para diversas combinações de dívida


pública e 𝛼𝑦 . Como observou-se que o maior nível de bem-estar foi obtido para uma dívida
integralmente indexada à inflação, considera-se apenas a variação da dívida nominal e da
indexada à inflação, supondo que não há nenhuma parcela de dívida indexada à taxa de
juros. Para essa análise, os outros parâmetros da Regra de Taylor foram mantidos fixos
(𝛼𝑅 = 0,69 e 𝛼𝜋 = 2,01 ). O bem-estar mais elevado é alcançado com uma maior parcela da
dívida indexada à inflação. Além disso, o resultado é significativamente afetado pelo valor
de 𝛼𝑦 , sendo que o maior nível de bem-estar é obtido quando o Banco Central não responde
à variações no hiato do produto (𝛼𝑦 = 0). Resultados similares foram encontrados por
Schmitt-Grohé e Uribe (2007) e Divino e Silva (2014), mostrando evidências que a taxa de
juros da economia não deve reagir a flutuações no hiato do produto.
A Figura 7 ilustra os efeitos para o bem-estar de alterações na resposta do Banco Central
à taxa de inflação na função de reação, mantendo-se fixo os demais parâmetros. Novamente,
observa-se que uma composição com dívida indexada à inflação é preferível à dívida nominal.
Além disso, há um ganho de bem-estar quando a Autoridade Monetária tem uma postura
mais agressiva em relação à inflação. Esse efeito é mais intenso quando 𝛼𝜋 está no intervalo
entre 1,2 e 1,8, sendo que para níveis mais elevados de 𝛼𝜋 o ganho é marginal. Esses resultados
sugerem que há um ganho de bem-estar quando a Autoridade Monetária muda sua postura

Figura 6. Sensibilidade do bem-estar à resposta ao hiato do produto.

Figura 7. Sensibilidade do bem-estar à resposta à inflação.


Morais e Divino: Composição Ótima da Dívida Pública Brasileira e a Política Monetária 231

em relação à inflação, passando de uma atuação mais passiva para uma mais agressiva.
Resultados similares foram encontrados por Kollman (2002), em que ganhos maiores de
bem-estar seriam obtidos com uma regra de política monetária com elevado feedback para
inflação e baixa resposta para o hiato do produto.

5. Conclusão
O objetivo desse trabalho foi analisar, por meio da modelagem DSGE, os efeitos da com-
posição da dívida pública sobre a dinâmica da economia brasileira e sua interação com a
condução da política monetária. O modelo proposto por Schmitt-Grohé e Uribe (2007) foi
ampliado para incluir títulos indexados à taxa de juros para financiar os gastos do governo,
além dos títulos prefixado e indexado à inflação. A dinâmica da economia foi simulada a
partir de choques exógenos de política fiscal, produtividade e política monetária. Além disso,
foi realizada uma análise de bem-estar que investigou a relação entre composição da dívida
pública e diferentes regras de política monetária seguidas pelo Banco Central.
O choque fiscal afetou negativamente o consumo e o investimento. Já o produto apresen-
tou crescimento inicial, em função do aumento das despesas públicas, mas posteriormente
apresentou queda em função do aumento do efeito crowding out sobre o investimento.
A dívida pública aumentou para todas as composições analisadas, sendo que o nível do
endividamento foi maior para a dívida nominal e menor para a totalmente indexada à
inflação, ficando a dívida 100% indexada à taxa de juros numa posição intermediária. Os
resultados também mostraram que a diversificação da composição da dívida pela Autoridade
Fiscal é recomendável, já que a cesta contendo os três títulos em proporções iguais gerou
elevações de dívida pública e da tributação em um nível intermediário, levemente inferior
ao que seria para uma dívida 100% indexada à taxa de juros. Isso sugere que a diversificação
contribui para uma redução dos riscos e para uma suavização das trajetórias da dívida e
tributação.
O efeito do choque tecnológico foi positivo, aumentando o produto e o investimento na
economia. Entretanto, a trajetória das variáveis macroeconômicas foi pouco afetada pelas
diferentes composições da dívida pública. Esse choque gerou uma maior dívida no caso de
endividamento 100% nominal e menor quando é integralmente indexada à taxa de juros.
Assim, uma combinação na cesta de títulos públicos contribuiria para um menor nível de
endividamento, diversificando o risco.
Por fim, o choque de política monetária, representado por um aumento inesperado na
taxa básica de juros, afetou negativamente as variáveis reais da economia, além de gerar
um aumento do endividamento público e, consequentemente, do nível de tributação da
economia. Esse resultado ilustrou bem a interação entre a política monetária e a fiscal, já que
o choque na taxa na taxa de juros contribuiu para a elevação do endividamento público para
todas as composições de dívida. O nível do endividamento foi maior para a dívida nominal e
menor para a totalmente indexada à taxa de juros, ficando a dívida 100% indexada à inflação
numa posição intermediária.
A análise de bem-estar considerou a sensibilidade da utilidade em estado estacionário a
distintas composiçoes da dívida publica. Os resultados indicaram que, apesar de um aumento
do grau de indexação à taxa de juros contribuir para aumentar o bem-estar, a maior utilidade
foi obtida para uma dívida integralmente indexada à inflação. Além disso, foi realizada uma
análise de sensibilidade, alterando-se os coeficientes de respostas à inflação e ao hiato do
produto na regra de juros da politica monetária para observar como a interação entre o
232 Rev. Bras. de Econ. Vol. 73, No. 2 (Abr–Jun 2019)

Banco Central e o Tesouro Nacional pode afetar o bem-estar dos agentes econômicos. Os
resultados sugeriram que um maior nível de bem-estar é alcançado quando o Banco Central
não responde ao hiato do produto e tem uma postura mais agressiva em relação ao combate
à inflação em sua função de reação para ajustar a taxa de juros.
Vale ressaltar, por fim, que o modelo possui algumas limitações. A inclusão de títulos
com maturidades diversas poderia gerar dinâmicas diferentes às variáveis, principalmente
referentes à evolução da dívida pública e ao nível de tributação, ao incluir diferentes riscos
de repactuação entre os títulos públicos. Além disso, a economia poderia ser aberta para
considerar a possibilidade de emissão de dívida cambial, que apesar de não ser significativa
atualmente no Brasil,10 contribuiria para enriquecer a análise da interação entre as variáveis
macroeconômicas com a inclusão da taxa de câmbio e seus canais de transmissão. Essas
alterações, contudo, ficam como sugestões para pesquisas futuras.

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10
Segundo dados do Tesouro Nacional, a composição da DPF em fevereiro de 2016 era a seguinte: 36,2% de
prefixados, 34,1% indexados à inflação, 24,7% indexados à taxa de juros e 5,0% de dívida cambial.
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