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Chave Escondida Do Avivamento de Israel, A - Eitan Shishkoff

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ENDOSSOS

Eitan tem vivido e praticado o que escreveu neste livro e possui uma
perspectiva fora do comum para mostrar como essa união entre
judeus e gentios é essencial na preparação para o retorno do nosso
Rei.
Don Finto
Pastor emérito da Belmont Church. Nashville, TN, EUA

É essencial que os discípulos de Jesus abracem os propósitos de


Deus para o fim dos tempos em relação a Israel e à Igreja. Eitan
escreveu um livro que vem do coração do Pai e que nos ajudará a
buscar com muito empenho esses objetivos. Recomendo fortemente
a leitura deste livro.
Mike Bickle
International House of Prayer – IHOP (Casa de Oração
Internacional), Kansas City, EUA

Eu garanto que tudo o que Eitan compartilha, prega, ensina ou,


neste caso, escreve abençoará e alargará seu coração para o Deus
de Israel e o povo desta nação. Eu prometo!
Paul Wilbur
Músico e cantor, Integrity Music

Eitan Shishkoff escreveu um livro muito especial. Tem uma


qualidade pessoal e cordial, e contém uma teologia sólida. Mostra a
relação entre judeus e gentios no mesmo propósito com equilíbrio e
maturidade. Tem a minha entusiástica recomendação.
Daniel Juster
Tikkun Ministries International

Este é um livro muito importante, de leitura agradável, escrito por


um líder respeitado no movimento judaico-messiânico e que vive em
Israel. Ele está dizendo aos cristãos de todas as nações:
“Precisamos de vocês!”. Não poderia pensar em uma pessoa mais
indicada para escrever este livro.
Dr. Michael L. Brown
Presidente da FIRE School of Ministry

A mensagem deste livro precisa ser incutida no coração de todos os


seguidores de Jesus – judeus e gentios. Tenho certeza de que este
livro veio precisamente para este momento atual da história
humana, pela intenção específica do Pai.
David McQueen
Pastor sênior da Beltway Park Baptist Church, Abilene, TX, EUA
A CHAVE ESCONDIDA DO AVIVAMENTO DE ISRAEL
Título original “What About Us?”
Copyright © 2013 by Eitan Shishkoff
Publicado com a devida autorização.
Edição original por Burkhart Books
www.burkhartbooks.com
Todos os direitos reservados.
Copyright da tradução © 2019 Impacto Publicações

Publicado no Brasil por:


IMPACTO PUBLICAÇÕES
www.revistaimpacto.com.br
Para os textos bíblicos, foi usada a versão ARA (Revista e Atualizada de João
Ferreira de Almeida). Pequenos trechos deste texto podem ser citados ou
reproduzidos, desde que mencionada a fonte, com endereço postal e eletrônico.

Tradução: Paulo Henrique S. da Costa


Revisão: Renata Balarini Coelho
Capa: Leonardo Beijo
Ilustrações: Connie Kind Shishkoff
Diagramação: Eduardo C. de Oliveira
Formatação para e-book kindle: Luiz Roberto Cascaldi

IMPACTO PUBLICAÇÕES
Rua Tamoio, 226 - Santa Catarina
Americana - SP
13466-250
Tel.: (19) 3462-9893
contato@revistaimpacto.com.br
www.revistaimpacto.com.br
DEDICATÓRIA

u gostaria de dedicar este livro aos meus pais, Muriel


E Mendelsohn Shishkoff e Nicholas Simeon Shishkoff (ambos,
1917-2011). Eles me criaram, me educaram e me transmitiram
seus sentimentos e coração pela humanidade.
Lamento apenas por não lhes ter dado pessoalmente a primeira
cópia deste livro. Porém, tenho certeza de que ficariam orgulhosos,
e sinto grande alegria em honrá-los com esta dedicatória.
AGRADECIMENTOS

um luxo escrever um livro. Eu não teria conseguido sem muita


É assistência. Portanto, é com ternura de coração que eu agradeço
a todos aqueles que ajudaram e me encorajaram – quer eu
mencione o nome deles, quer não.
Meu primeiro agradecimento é de eterna gratidão à minha
esposa e companheira de vida Connie Kind Shishkoff. Quando
alguém concorda em passar toda a vida com você, uma grande
jornada tem início. Nós já trilhamos 50 anos juntos! Além disso, ela
é uma artista maravilhosa. (As ilustrações de Connie embelezam o
começo de cada capítulo.) Obrigado, querida.
Nosso filho David, além de ser um dos editores deste livro,
treinou-me incansavelmente no projeto e na realização de “A Chave
Escondida do Avivamento de Israel”. Eu realmente aprecio trabalhar
com você! A todos os nossos filhos e noras (David e Orit, Hannah e
Avishalom, Avi e Sigal), bem como aos nossos nove estimados
netos, meu coração está cheio de amor e apreciação por todo o
encorajamento e afeição que me proporcionam.
Eu fui abençoado com uma assistente administrativa fenomenal,
Leora. Ela merece muito reconhecimento. Ela não apenas serviu
como uma das editoras, mas ajudou a manter-me organizado
semana a semana – e tem feito isso por muitos anos. Todah rabbah!
Aos outros editores, Dr. Larry Brunner, Pamela Bernstein, Marty
Shoub e Michael Weiner, eu digo: “Bravo!”. A dedicação de vocês
em rever o manuscrito, palavra por palavra, tornou esta obra muito
melhor do que era no início. Aplaudo também aqueles que
endossaram e intercederam por todos os esforços para a publicação
deste livro. Isso me lembra de que sou grato a Tim Taylor, da
Burkhart Books, que cuidou deste volume na crítica fase final a fim
de que pudesse ser impresso.
E, claro, quero agradecer pelo apoio há anos da nossa
congregação: à Tents of Mercy, a seus presbíteros, às
congregações que nasceram dela e aos seus líderes espirituais que
surgiram dela. Por fim, sou grato a todos os nossos amigos das
nações. Sua amizade e entusiasmo por nós, irmãos judeus
messiânicos em Israel, inspiraram-me a escrever esse livro. Tenho
esperança de que muitos outros pegarão a onda que esses homens
e mulheres de fé já estão surfando.
Esses agradecimentos seriam incompletos sem dar glória e
ações de graça ao nosso Rei, Yeshua, que me levou da noite escura
da minha alma para a sua luz.
SUMÁRIO
DEDICATÓRIA
AGRADECIMENTOS
PREFÁCIO
INTRODUÇÃO - “EI, E NÓS? ONDE ENTRAM OS GENTIOS?”
CAPÍTULO UM - O FATOR HIRÃO
CAPÍTULO DOIS - O CORAÇÃO DE DEUS PARA TODA A
HUMANIDADE
CAPÍTULO TRÊS - UM POVO MENSAGEIRO
CAPÍTULO QUATRO - O EMOCIONANTE MISTÉRIO DE DEUS
CAPÍTULO CINCO - ONDE O ÓLEO DA UNÇÃO FLUI
CAPÍTULO SEIS - SACERDÓCIO COMPARTILHADO
CAPÍTULO SETE - LÁZARO, VENHA PARA FORA!
CAPÍTULO OITO - A INCRÍVEL CHAVE DE ISAÍAS
CAPÍTULO NOVE - O RETORNO DO FILHO PERDIDO
CAPÍTULO DEZ - A TORÁ É PARA OS GENTIOS?
CAPÍTULO ONZE -O HERÓI DESCONHECIDO DE ISRAEL E OS
EGÍPCIOS
CAPÍTULO DOZE - A TAÇA DA AMIZADE DE ALIANÇA
BIBLIOGRAFIA
SOBRE O AUTOR
TENTS OF MERCY
PREFÁCIO

itan viveu e está vivendo o que escreveu neste livro. Ele faz
E parte de um crescente ciclo de avivamento entre a Igreja e
Israel, entre pessoas do mundo todo que creem em Jesus e
uma comunidade reavivada de judeus que crê no seu Messias
Yeshua. Como crente judeu que vive em Israel, ele tem uma
perspectiva privilegiada quando tece sua experiência pessoal com a
verdade das Escrituras, mostrando a necessidade dessa unidade
entre judeus e não judeus em preparação para a volta de Jesus.
Quando Paulo escreveu aos crentes primitivos de Roma, ele os
alertou, por diversas vezes, para o seu relacionamento com os
irmãos judeus por meio dos quais haviam recebido a redenção.
“Terá Deus, porventura, rejeitado o seu povo?”, ele perguntou e,
então, respondeu à sua própria pergunta: “de modo nenhum! [...]
Deus não rejeitou o seu povo a quem de antemão conheceu [...]
Porventura caíram para que ficassem caídos? De modo nenhum!
Mas pela transgressão, veio a salvação aos gentios (aqueles das
nações) para pô-los em ciúmes. Ora, se a transgressão deles
redundou em riqueza para o mundo, e o seu abatimento, em riqueza
para os gentios, quanto mais a sua plenitude!” (Rm 11.1,11,12)
Paulo viu que a “plenitude” de Israel traria grande riqueza para
as nações. Alguns versículos adiante, o apóstolo afirma: “veio
endurecimento em parte a Israel, até que haja entrado a plenitude
dos gentios. E, assim, todo o Israel será salvo”. Existe algo sobre a
plenitude das nações que resultará na salvação de Israel. Contudo,
a plenitude de Israel também traz maiores riquezas para as nações.
A plenitude de Israel e a plenitude das nações: esse é o assunto
deste livro de Eitan.
Foi Eitan quem me compeliu pela primeira vez a analisar mais
profundamente a antiga história bíblica de Rute e Boaz e ver nela
essa mesma chave para a redenção do mundo que ficará cada vez
mais presente à medida que nos aproximamos do reaparecimento
de Jesus como Rei de toda a Terra.
Quando Rute, uma mulher não judia, entrou em aliança com
Boaz, um judeu, eles trouxeram o reino de Davi, por meio de quem
viria o Messias Judeu e Redentor do mundo.
Hoje, Boaz ressurgiu dentre os mortos na forma de judeus
crentes, que estão de volta na história após séculos ausentes. Ao
mesmo tempo, a Rute dos dias de hoje, representada por indivíduos
de todas as nações que creem em Jesus, está despertando para a
presença de Boaz e crescendo em amor por ele.
Quando a Rute da atualidade reconhecer o seu Boaz e entrar
em aliança com ele, veremos o retorno do grande Filho de Davi,
Yeshua (Jesus).
Permita que Eitan lhe mostre algumas das formas como isso
está acontecendo e como você pode ativamente se envolver nesse
casamento ordenado por Deus.
Don Finto
Presidente da Caleb Company
Pastor emérito da Belmont Church
Autor do Livro O Teu Povo Será o Meu Povo
INTRODUÇÃO
“EI, E NÓS? ONDE ENTRAM OS
GENTIOS?”

ssa pergunta foi feita por uma sincera mulher norte-americana


E de meia-idade que viajava por todo o Israel conosco e com
outros 137 cristãos e judeus messiânicos curiosos. Eles
estavam visitando congregações messiânicas israelenses e lugares
bíblicos/sionistas. Ela estava presenciando em primeira mão o
fenômeno do renascimento da fé em Yeshua[1] (Jesus) entre os
judeus israelenses, tanto os nascidos em Israel quanto os
imigrantes. Seu coração foi tocado, e ela sentiu o desejo de
participar da redenção de Israel, de ser mais do que mera
espectadora.
O propósito deste livro é responder essa pergunta, porque se
trata de uma questão importante. Se Deus deixou os seguidores de
Jesus que não são judeus fora do despertamento histórico/profético
de Israel, algo está errado. Se não há lugar para o envolvimento dos
discípulos gentios no redescobrimento do judeu mais famoso de
todos os tempos, nosso Rei Messias, isso deixa a maior parte da
família de Deus fora da celebração.
Contudo, felizmente, esse não é o caso. Na verdade, as
Escrituras falam de forma vívida e inspiradora sobre uma parceria
entre judeus e gentios que creem em Yeshua no fim dos tempos. Os
precedentes para tal parceria são abundantes nas Escrituras
hebraicas e na Nova Aliança. Eu tenho tido o privilégio de
experimentar em primeira mão as profundas alegrias dessa parceria
ao redor do mundo. Quero compartilhar essas histórias com você e
explorar passagens fundamentais das Escrituras que promovem um
entendimento teológico bem sólido da nossa dependência mútua.
Trata-se de uma interdependência que promove a chave para
responder a questão: “E os gentios?”. A resposta simples e objetiva
é: “Precisamos uns dos outros”. Nós, judeus messiânicos, não
podemos cumprir a missão dada por Deus de apressar a volta de
Yeshua sem os nossos irmãos gentios. Nem eles podem realizar o
sonho antigo de estabelecer o reino de Deus na Terra sem nós.
Minha oração e esperança é que, por meio deste livro, uma amizade
seja forjada. Esse tem sido o plano de Deus ao longo de toda a
História. Fomos tragicamente separados nos primeiros séculos
desta era. A comunidade original de Yeshua começou com
discípulos judeus em Israel no século primeiro. Depois, os apóstolos
abriram as portas para os gentios conforme relatado no livro de
Atos. Aquela unidade heterogênea vivida por um curto período foi
encerrada por líderes religiosos de ambos os lados. Os rabinos
disseram: “Vocês não podem crer em Jesus e ser judeus”. Os
bispos disseram: “Vocês não podem ser cristãos e praticar o
judaísmo”. Mas ambos estavam errados. De maneira não prevista
nem pretendida pelas Escrituras, estavam separando a fé em
Yeshua...
- da sua raiz original e eterna na Bíblia hebraica,
- da história de Israel e
- da expectativa profética do retorno e avivamento dos exilados.
Historiadores são unânimes em confirmar que os primeiros
seguidores de Yeshua e as primeiras congregações eram totalmente
judaicas, celebrando a Torá de Israel, aguardando o cumprimento
das palavras dos seus profetas.
Agora, dois mil anos depois, nós, os judeus, voltamos para a
terra. Como cidadãos israelenses, caminhamos com Yeshua como
nosso Messias. Os sinais da sua volta aparecem diariamente. Mas e
os gentios? O tempo deles acabou?
…até que os tempos dos gentios se completem, Jerusalém
será pisada por eles. (Lc 21.24)
…que veio endurecimento em parte a Israel, até que haja
entrado a plenitude dos gentios. (Rm 11.25)
Foi isso o que Paulo e Lucas quiseram dizer? Ou existe uma
missão compartilhada entre “judeus e gentios” no fim dos tempos?
Existe um mistério aqui que deve ser revelado nesta era (veja
Efésios 3.4-6 e 2.19-22). Os discípulos de Yeshua, tanto os de
família judaica quanto os de família não judaica, receberam a
oportunidade sem precedentes de reverter a terrível divisão que
existe entre nós e, então, receber de volta o Rei como amigos
aliançados e profundamente comprometidos. Eu creio que nós
temos uma chance rara de mostrar a Israel e às nações do mundo a
natureza da humildade e do ato de servir uns aos outros. Creio que
ambos receberam um alto e incrível chamado.
Como judeu messiânico envolvido com o ministério ao meu
povo há mais de 30 anos, eu pude participar da aventura do
despertamento histórico do povo judeu para a fé em Jesus. Esse
fenômeno tem atraído interesse crescente entre os discípulos
gentios do Senhor ao redor do planeta. O que começou nos anos 70
como uma curiosidade distante tornou-se uma crescente paixão
global de explorar as raízes judaicas da fé na Nova Aliança e
avançar os propósitos de Deus para Israel.
Desde que imigrei para Israel em 1992, tenho focado uma
porção significativa do meu trabalho em responder ao desejo dos
crentes gentios de cooperar com a salvação de Israel. Em cada
continente, cristãos estão orando fervorosamente por Israel,
clamando a Deus para que nosso povo encontre Yeshua como
Messias e Rei. Ao viajar por inúmeros países, experimentei esse
maravilhoso amor pelo povo judeu na igreja gentílica. Por mais de
duas décadas, interagi pessoalmente com dezenas de milhares de
cristãos de centenas de grupos em uma vasta variedade de
denominações em cinco continentes. O nível de interesse, cuidado e
honra que recebemos como crentes de Israel é uma experiência que
nos faz sentir humildes, às vezes constrangidos.
Na verdade, existem igrejas nas quais os ministros de louvor
tocam pandeiros no formato da estrela de Davi, bandeiras de Israel
são expostas com orgulho e o som do shofar é ouvido. Até pouco
tempo na história do cristianismo, essa combinação de cristãos
gentios e simbolismo judeu era praticamente desconhecida. Por que
isso está acontecendo agora? E quais são as implicações para a
vida da Igreja? Como judeu messiânico e israelense, só posso ver
de forma positiva essa nova atração pelo que é judaico. Yeshua foi
dolorosamente cortado de suas raízes judaicas por cerca de 1.800
anos. Portanto, esse fenômeno recente é, no mínimo, uma
agradável mudança na história da Igreja. Em uma bem-vinda
mudança de eventos, a Igreja está redescobrindo sua própria
origem no antigo solo das promessas de Deus a Abraão, Isaque e
Jacó.

Preocupações
Apesar de toda a celebração, existem também motivos de
preocupação. Muitos estão confusos. Os crentes gentios deveriam
adotar a lei de Moisés como padrão de vida? A Igreja deveria ceder
às exigências, por parte da maioria dos judeus ortodoxos, de que
não se faça evangelismo entre eles em razão do seu tenebroso
passado antissemítico? Existe uma aliança de salvação diferente
para Israel que dispensa a necessidade de fé em Yeshua? Como a
Igreja deve relacionar-se com Israel– ou com o notável movimento
de judeus recebendo Jesus? Essas e muitas outras questões
exigem respostas ponderadas. Estão em jogo não só a saúde do
Corpo de Cristo, mas também a salvação de Israel.
Quero abordar esse tempo extraordinário de destino. Inclui um
conjunto de circunstâncias orquestradas pelo próprio Deus. Creio
que ele tenha aberto os olhos dos judeus da minha geração que
buscavam o sentido da vida, refugiados da selvagem e caótica
revolução cultural dos anos 1960. Quando vimos Jesus (isso
aconteceu literalmente comigo), soubemos que ele era a verdadeira
resposta para tudo o que procurávamos. Depois, muitos de nós
voltamos às nossas raízes judaicas, como membros do Corpo
universal de Cristo.
Ao perceber que uma obra especial da graça estava
acontecendo, alguns dos nossos irmãos gentios nos encorajaram a
levar uma vida judaica autêntica em Yeshua. Eu não poderia ter
cumprido o meu chamado sem eles. Nas décadas seguintes, Deus
usou irmãos e irmãs preciosos das nações para nos proporcionar
um treinamento ministerial profundo, recursos financeiros em
abundância e um consistente suporte de intercessão. Ao mesmo
tempo, eu comecei a ver evidências concretas nas Escrituras de que
esse sempre foi o plano de Deus. Estou convencido de que a
parceria entre seguidores gentios e judeus de Yeshua é essencial
para a salvação de Israel, e portanto, para a segunda vinda do
Messias.
Temos uma oportunidade única de fazer história como
seguidores judeus e gentios do Messias Jesus. O seu plano é levar-
nos a uma amizade de aliança com a finalidade de compartilhar o
seu cálice, em oração sacerdotal pela redenção de Israel, e
participar na restauração da presença de Deus em Israel – assim
como o rei Salomão e o rei Hirão fizeram quando se tornaram
parceiros para construir o primeiro templo.
Eitan Shishkoff
CAPÍTULO UM
O FATOR HIRÃO

Como um rei gentio ajudou a


trazer a glória de Deus para Israel

E enviou Hirão, rei de Tiro, os seus servos a Salomão


(porque ouvira que ungiram a Salomão rei em lugar de seu
pai), porquanto Hirão sempre tinha amado a Davi. (1 Reis
5.1; ARC)
osso primeiro local de reuniões como nova congregação
N messiânica em Israel foi um armazém decadente de 200 m².
Uma noite, em outubro de 1997, dois anos após a inauguração,
o lugar foi bombardeado. De forma inesperada, esse acontecimento
se tornou um divisor de águas. Orações e doações não solicitadas
de muitas partes do mundo começaram a chegar à medida que as
pessoas tomavam conhecimento do ataque. Incrivelmente, apenas
seis dias depois, assinamos um contrato de aluguel/compra de um
prédio novo localizado a apenas 50 metros de distância do armazém
bombardeado.
A fim de tornar o prédio vazio apto para o uso, o interior
precisava de uma grande reforma. Não tínhamos dinheiro para
contratar arquitetos e engenheiros israelenses. De maneira
miraculosa, recebemos recursos para comprar parte do espaço,
mas era um grande desafio apenas cobrir as contas e despesas
com o aluguel. Então, diversas igrejas nos Estados Unidos com as
quais tínhamos um relacionamento próximo perguntaram se
precisávamos de uma equipe de carpinteiros e eletricistas! Assim,
no verão de 1998, homens do distante país chegaram com
ferramentas e grandes sorrisos dizendo: “Mãos à obra”. Para nós,
foi um cumprimento direto de Isaías 60.10: “Estrangeiros edificarão
os teus muros...”.
Mais uma vez, no ano 2000, quando expandimos o espaço para
a outra metade do prédio, equipes vieram de nações gentílicas para
assentar os azulejos, levantar paredes e construir um santuário que,
desde então, tem sido nossa “tenda de encontro marcado”. Nosso
uso do prédio, tanto para cultos e reuniões quanto para serviços de
ajuda humanitária, cresceu miraculosamente, atingindo dez vezes
mais o tamanho do armazém onde iniciamos.
Essa parceria de cooperação faz parte do plano de Deus há
muito tempo. O Deus de Abraão, Isaque e Jacó ama juntar judeus e
gentios no Messias a fim de trazer o reino de Deus para a Terra – e
particularmente para Israel. Um dos maiores projetos de construção
de toda a História foi realizado pela parceria de um rei judeu com
um rei gentio. Tal colaboração serve como modelo para nós hoje e
constitui a espinha dorsal bíblica deste livro.
Um dos meus personagens favoritos na Bíblia é o rei Hirão. Foi
ele quem construiu a casa de Davi (1 Rs 5.11). Quando Salomão
herdou o trono de Davi, ele pediu ajuda a Hirão para construir a
casa de Deus (2 Sm 7.12,13). Seria a casa “para o seu nome” que o
Senhor prometera a Davi que seu filho edificaria.

Tiro – Cidade de Hirão


Na costa de Israel, a menos de uma hora de carro de onde eu vivo,
localiza-se Tiro, capital do antigo reino de Hirão. Digamos que, como
não existe exatamente um comitê de boas-vindas para recepcionar
visitantes com um passaporte israelense, eu nunca estive no
Líbano. Mas já ouvi dizer que é um local lindo, e alguns dos
legendários cedros do Líbano continuam de pé.
Eu fico intrigado com Hirão. Parece que o destino, a
receptividade do rei Davi e o seu próprio coração o levaram a fazer
uma aliança de amizade com os reis de Israel. Quem foi ele? Como
se tornou o “co-construtor” do templo de Jerusalém?
Não temos uma biografia de Hirão. Ele é mencionado pela
primeira vez em 2 Samuel 5.11 por mandar cedros, pedreiros e
carpinteiros para construir a casa do rei Davi. Logo depois, surge a
afirmação mais profunda sobre o relacionamento deles: “porquanto
Hirão sempre tinha amado a Davi” (1 Rs 5.1; ARC).
Hirão foi rei de Tiro, o que hoje seria a parte sul do Líbano.
Originalmente, a maior parte da população de Tiro ficava no
continente, com a ilha de Tiro bem próxima e uma ilha menor entre o
continente e a ilha maior. A cidade era na verdade formada por uma
comunidade pequena e teve de ser fundada e refundada pela
vizinha Sidom. A população da ilha, embora pequena, dependia do
carregamento de água e suprimentos das comunidades situadas no
continente.
O reino de Hirão (969 a 936 a.C.) produziu grandes mudanças
na cidade e região. Ele construiu cisternas e outras obras de
engenharia para armazenar água (a primeira conhecida na História).
Juntou as duas ilhas fazendo um aterro transportado do continente
(produzindo uma área total de aproximadamente 160.000 m²) e
usou parte da terra para formar o porto no lado norte da ilha, o que
possibilitou a formação de grandes estaleiros.
Ele não apenas construiu o palácio real, mas também os
famosos templos de Melkart e Astarate. Centenas de anos depois,
Heródoto escreveu sobre eles, e Alexandre o grande quis adorar ali
após a conquista de Tiro em 332 a.C. A construção do mercado
central é por tradição creditada a Hirão. Situava-se perto do porto do
norte. Ele investiu grandes esforços diplomáticos no relacionamento
com Israel, fazendo da sua cidade o maior parceiro comercial dos
israelitas.
Hirão subiu ao poder numa modesta e pequena cidade e a
transformou num importante porto no Mediterrâneo. De acordo com
H. J. Katzenstein, foi Hirão que lançou os fundamentos do grande
império marítimo de Tiro que não teve concorrente algum na história
antiga”.[2] A “era de ouro” da Fenícia e de Tiro começou durante o
seu reinado, mas nem tudo foi realizado por ele. Tiro foi ajudado
pelo declínio do poder do Egito, pela derrota dos filisteus por Davi
em 975 a.C. e pela unificação de Israel. Israel era um estado amigo
de Tiro (as habilidades diplomáticas de Hirão contribuíram para
isso). Visto que Israel possuía alguns navios e, ainda assim, tinha
acesso às rotas terrestres de comércio pela Mesopotâmia e um
vasto mercado de consumidores para o comércio de Tiro, tornaram-
se firmes aliados.
Será que o templo poderia ter sido construído sem Hirão?
Nunca saberemos, mas Salomão aparentemente sentia que a ajuda
de seus vizinhos gentios era essencial. O rei Salomão respondeu à
delegação de Hirão (1 Rs 5.1) nos versículos a seguir enviando uma
carta ao rei:
Pelo que intento edificar uma casa ao nome do SENHOR,
meu Deus, como falou o SENHOR a Davi, meu pai, dizendo:
Teu filho, que porei em teu lugar no teu trono, esse edificará
uma casa ao meu nome. Dá ordem, pois, que do Líbano me
cortem cedros; os meus servos estarão com os teus servos,
e eu te pagarei o salário destes segundo determinares;
porque bem sabes que entre o meu povo não há quem saiba
cortar a madeira como os sidônios. (1 Rs 5.5,6)
Hirão se alegrou muito com essa proposta e, elogiando a
sabedoria de Salomão, escreveu de volta dizendo: “Farei toda a tua
vontade acerca das madeiras de cedro e de cipreste” (1 Rs 5.8b).
Ele prometeu levar a madeira pela costa do Líbano. Assim começou
uma parceria que resultou na construção do templo no Monte Moriá.
Quando o templo foi dedicado, sete anos mais tarde, a glória de
Deus encheu a casa de tal forma que os sacerdotes não
conseguiam ministrar por causa do impacto da intensa presença de
Deus.
Essa é uma imagem muito vívida daquilo que o Senhor deseja
para hoje. Ele deseja restaurar sua glória em Israel. Seu padrão
para realizar esse propósito foi claramente demonstrado na história
de como Salomão e Hirão construíram o templo juntos. A seguir,
enumero o desdobramento dos passos dessa parceria.

1. Amizade (1 Reis 5.1)


Todo o projeto começou com uma profunda amizade entre Davi e
Hirão. Esse foi o primeiro passo, o fundamento: a amizade. Davi foi
o rei que Hirão “sempre amou”, o pai devoto de Salomão. Na
linguagem profética das Escrituras hebraicas, o nome de Davi é
frequentemente usado no lugar de Messias. Hirão, o rei gentio, e
Salomão, o rei judeu, uniram-se pelo amor mútuo a Davi, a quem
havia sido prometido um filho que governaria para sempre, o
Messias. Vejo nisso o exemplo perfeito da colaboração entre judeus
messiânicos e gentios. Fomos unidos pela paixão comum por
Yeshua.

2. Sincronia de datas (1 Reis 5.3)


O rei Salomão mencionou o chamado de seu pai de construir uma
casa para Deus. Entretanto, por ter as mãos manchadas de sangue
por causa da guerra, foi necessário que a geração seguinte fosse
responsável pela construção. Eu entendo Salomão. Nasci em 1948,
o mesmo ano do renascimento de Israel. Depois de minha família
ter permanecido em exílio por incontáveis gerações, sinto que houve
uma sincronia de datas nessa restauração de Israel que o Senhor
determinou na minha geração. Quando eu ainda estava sendo
desafiado a buscar respostas em Yeshua, orientaram-me a ler sua
profecia em Mateus 24.32,33.
Aprendei, pois, a parábola da figueira: quando já os seus
ramos se renovam e as folhas brotam, sabeis que está
próximo o verão. Assim também vós: quando virdes todas
estas coisas, sabei que está próximo, às portas.
Ressoou como verdade no meu íntimo. Imediatamente aceitei
que Israel era a figueira, e que o meu destino estava entrelaçado
com essa nova/antiga nação por causa da data do meu nascimento,
que coincidia com o renascimento de Israel.

3. Visão (1 Reis 5.5)


...Pelo que intento edificar uma casa ao nome do SENHOR,
meu Deus, como falou o SENHOR a Davi, meu pai, dizendo:
Teu filho, que porei em teu lugar no teu trono, esse
edificará uma casa ao meu nome. (1 Rs 5.5)
Essa foi uma grande visão. O rei de Israel sabia que não poderia e
não deveria fazer aquilo sozinho. Por isso, ele inaugurou um “projeto
de construção” em conjunto. Hirão não sentiu inveja do chamado de
Salomão ou de sua posição como filho natural de Davi. Nem
Salomão foi orgulhoso demais para pedir ajuda a Hirão. A confiança
e a aceitação mútua do chamado de cada um possibilitaram que
servissem ao objetivo maior que Deus tinha de trazer a sua nuvem
de glória do céu para Jerusalém.
Pense a respeito disso: um judeu e um gentio se aliaram para
estabelecer a casa de Deus. Essa casa deveria ser uma casa de
adoração, a capital do ministério sacerdotal do Deus vivo. Foi
dedicada à manifestação da presença de Deus na Terra, com centro
em Jerusalém. Isso sinaliza o que acontecerá no fim desta era. Mais
uma vez, a história se conformará à intenção, à visão e à visitação
de Deus. O plano divino é restaurar sua glória na Terra. “Porque a
terra se encherá do conhecimento do SENHOR, como as águas
cobrem o mar” (Is 11.9). Ele está nos recrutando para sermos
usados assim como foram Salomão e Hirão. A combinação de
judeus e gentios traz a presença de Deus quando andamos numa
amizade de aliança.

4. Estratégia (1 Reis 5.6)


A construção desse projeto movimentou uma grande quantidade de
recursos. Muitas pessoas se envolveram no processo. Em nossa
geração, se quisermos ver Israel redimido, também precisaremos de
um grande número de pessoas ouvindo a voz de Deus e
respondendo.
O fruto da estratégia de Deus é a alegria: “Ouvindo Hirão as
palavras de Salomão, muito se alegrou” (1 Rs 5.7). Esse é o desejo
do coração de Deus: juntar os seus filhos para estabelecer a sua
presença na Terra.
Tanto a porção de Salomão quanto a de Hirão na construção de
uma casa para a glória de Deus foram vitais, mas o papel de Hirão é
menos compreendido. Assim como a contribuição de Hirão foi
essencial, a de cada crente gentio também é imprescindível para a
vinda do grande Filho de Davi para estabelecer o seu reino
messiânico. Ao longo destas páginas, você encontrará chaves para
participar do renascimento espiritual de Israel. A sua crucial
restauração para o palco central da história mundial não será mais
um evento distante. Ao contrário, você descobrirá o seu valioso
papel no milagre que já está acontecendo.
Qual o papel dos gentios na redenção de Israel? A história dos
dois reis, Hirão e Salomão, é uma figura profética que traz uma
resposta a essa questão crucial. A história deles é a chave para a
nossa parceria atual entre cristãos e judeus messiânicos. O que me
deixa intrigado é que Salomão, talvez o rei mais poderoso da época,
pediu ajuda a Hirão, que reinava sobre um distrito muito menor, ao
norte de Israel. Que inspiração ou possível modelo podemos extrair
desse relacionamento? Como devemos proceder em face dos
grandes desafios? Creio que Deus deseja iluminar-nos e levar-nos a
uma aventura muito parecida com a que eles compartilharam.

Reis gentios e judeus visionários


Salomão e Hirão não são a única dupla formada por um judeu e um
gentio nas Escrituras que trabalhou em conjunto para promover a
restauração de Israel. Zorobabel teve a ajuda de Ciro, seguido por
Dario. Neemias certamente esteve ligado a Artaxerxes pelo bem de
Israel. Essa última dupla de visionários pioneiros de Israel foi
chamada para restaurar o templo que Salomão e Hirão haviam
construído. O livro de Esdras começa com um pronunciamento
radical de Ciro, rei da Pérsia.
Assim diz Ciro, rei da Pérsia: O SENHOR, Deus dos céus,
me deu todos os reinos da terra e me encarregou de lhe
edificar uma casa em Jerusalém de Judá. Quem dentre vós
é, de todo o seu povo, seja seu Deus com ele, e suba a
Jerusalém de Judá e edifique a Casa do SENHOR, Deus de
Israel; ele é o Deus que habita em Jerusalém. Todo aquele
que restar em alguns lugares em que habita, os homens
desse lugar o ajudarão com prata, ouro, bens e gado, afora
as dádivas voluntárias para a Casa de Deus, a qual está em
Jerusalém. (Ed 1.2-4)
Isso foi proclamado por todo o reinado de Ciro como
cumprimento da profecia de Jeremias, de que Deus levaria Israel de
volta à sua terra após 70 anos de exílio na Babilônia (Jr 29.10; Ed
1.1). A forma direta como esse rei gentio transmitiu as instruções
que recebera de Deus é bem radical. Claramente, não se tratava
apenas de um movimento político. Era um mandato divino para se
envolver com a questão. Existe algo sobre a restauração física e
espiritual de Israel que demanda a inclusão estratégica de gentios
afinados e em sintonia com a visão do Senhor.
Ciro também tomou os 5.400 artigos de prata e ouro que haviam
sido saqueados pelos babilônios 70 anos antes e os entregou a
Sesbazar, o príncipe de Judá, a fim de que os levasse de volta a
Jerusalém (Ed 1.7-11) Minha visão pessoal é que esses itens caros
e preciosos representam os dons e o poder de Deus destinados a
um uso frutífero em Israel, que é o centro original da atividade
sobrenatural de Deus na Terra. Agora é hora de esses excelentes
dons voltarem à sua casa original depois de séculos de
“armazenamento” entre os seus filhos na Igreja.
Dario, o sucessor de Ciro, confirmou o seu decreto, mesmo
diante de grande oposição do governador local (Ed 5.3; 6.6). No
processo, ele acrescentou:
Não interrompais a obra desta Casa de Deus, para que o
governador dos judeus e os seus anciãos reedifiquem a
Casa de Deus no seu lugar... da tesouraria real, isto é, dos
tributos dalém do rio, se pague, pontualmente, a despesa...
para que ofereçam sacrifícios de aroma agradável ao Deus
dos céus… (Ed 6.7-8,10)
A linguagem aqui ecoa para mim como uma prévia da nossa
geração, durante a qual a comunidade do Messias está sendo
reconstruída no seu lugar original, Israel, o lugar onde os discípulos
de Yeshua começaram! Mais uma vez, Deus tem levantado gentios
visionários que estão disponibilizando seus recursos materiais,
orações e compromisso de aliança para cooperar com a
reconstrução.
Neemias buscou com paixão a restauração de Jerusalém. Seu
relacionamento com o rei Artaxerxes era tão próximo que trabalhava
como seu copeiro. O encargo lastimoso de Neemias por Jerusalém
e o anseio pelo pleno cumprimento do reino de Deus o compeliram
a pedir a ajuda do rei. O rei se agradou em mandá-lo e forneceu ao
apaixonado intercessor madeira, licença de passagem e uma
escolta armada. Assim, Neemias reconstruiu o muro em 52 dias,
superando uma oposição persistente e diversas dificuldades. As
parcerias entre Zorobabel e Ciro/Dario e entre Neemias e
Artaxerxes foram essenciais para a restauração do templo
construído por Salomão e Hirão e da sua cidade-sede, Jerusalém.
Esses “casamentos” dramáticos mudaram a História.
Um rei gentio desempenhou um papel essencial na construção
do primeiro templo em Jerusalém. O rei Hirão se juntou a Salomão
numa parceria em prol do reino que trouxe a glória de Deus do céu
para a terra. O relacionamento deles é o coração deste livro. Nas
páginas a seguir, convido você a descobrir o seu chamado como um
“Hirão” ou “Salomão”. O papel de Hirão na construção do templo foi
indispensável. O papel dos “construtores” gentios de hoje é tão
importante quanto. Juntos, judeus e gentios, podemos apressar a
chegada do grande Filho de Davi para estabelecer o reino
messiânico.
CAPÍTULO DOIS
O CORAÇÃO DE DEUS PARA TODA A
HUMANIDADE

Seu plano envolve todas as nações


debaixo do céu

Também ao estrangeiro, que não for do teu povo de Israel,


porém vier de terras remotas, por amor do teu nome
(porque ouvirão do teu grande nome, e da tua mão
poderosa, e do teu braço estendido), e orar, voltado para
esta casa, ouve tu nos céus, lugar da tua habitação, e faze
tudo o que o estrangeiro te pedir, a fim de que todos os
povos da terra conheçam o teu nome, para te temerem
como o teu povo de Israel… (1 Rs 8.41-43)
inda garoto, passei a me interessar pelas tribos e as nações do
A mundo. Eu achava fascinante o fato de existirem tantas tribos e
tipos de pessoas diferentes. Eu compreendia dois fatos: que
cada grupo é especial e único, e que toda a humanidade é uma só.
Quando comecei a estudar sobre isso na escola, fiquei intrigado. Eu
buscava uma maneira de juntar o mundo, e o lugar mais lógico para
alcançar esse objetivo parecia a sempre disponível arena das
soluções políticas.
Como estudante do ensino médio no início dos anos 60, eu
tinha uma propensão para a paz mundial. O conceito de um único
governo benigno que pudesse unir o mundo em justiça e compaixão
me parecia muito atraente. Fiz até um trabalho de pesquisa
“modestamente” intitulado de “Um Único Governo Mundial”. Após a
minha formatura, entrei na fase de fugir do serviço militar e participar
de manifestações contra guerra nas ruas. No fim de 1968, constatei
que havia falhado na tentativa de unificar o mundo. Era tempo de
sair da sociedade e cooperar para a paz mundial vivendo em uma
comunidade no campo. Na época, eu pensava que, se todos se
mudassem da cidade e vivessem no campo de forma tribal, o
mundo se tornaria um, em paz e total harmonia. Guiado por uma
visão ingênua e pelo amor de recém-casado, fui para o Novo México
(EUA) com a minha esposa, Connie. Nós nos estabelecemos em um
vale deserto nos arredores de Albuquerque, aos pés do Monte
Sandia.
Alguns dos nossos primeiros “vizinhos” eram as cascavéis que
haviam hibernado nas paredes do celeiro que limpamos para ser
nossa casa. Nossas desventuras incluíram doenças perigosas,
temperaturas de 40 graus abaixo de zero (sem contar o fator da
sensação térmica provocada pelo vento!) e um telhado que eu
mesmo havia construído e que nos teria matado (e matado nosso
bebê) se estivéssemos lá quando desabou.
Meus sonhos só se concretizaram quando eu conheci Yeshua, o
Príncipe da Paz, depois de quatro longos anos vivendo como
pioneiro de uma comunidade rural. Eu li na Bíblia:
E em tua semente [Abraão] serão benditas todas as nações
da terra. (Gn 22.18; ARC)
Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; o
governo [do mundo] está sobre os seus ombros. (Is 9.6)
Eis o plano de Deus para um mundo verdadeiramente
abençoado, unido sob um único governo. Meu conceito original não
estava muito distante da realidade, mas faltava a peça mais
importante. Eu não conhecia o Governante.
A necessidade universal da verdadeira salvação (a
transformação fundamental da natureza de cada pessoa) clama por
uma solução que não deixe ninguém de fora. Na verdade, antes de
Yeshua ter-se revelado a mim, esse era um dos meus requisitos
pessoais para um “sistema verdadeiro”: teria de incluir o mundo
inteiro. A singularidade e a variedade da humanidade e de suas
tribos sempre me inspiraram. Seja qual fosse a verdade suprema,
eu tinha certeza de que ela deveria ser relevante para cada tribo,
língua e classe de ser humano.
Portanto, você pode imaginar como foi precioso para mim
encontrar Jesus. Eu nunca havia lido Efésios 3.15, passagem que
bendiz o Deus de nosso Senhor Yeshua “de quem toma o nome
toda família, tanto no céu como sobre a terra”. Caso contrário, eu
saberia que toda a humanidade recebe vida de Deus. Eu saberia
que fomos todos criados à imagem dele, e que ele é que nos torna
um. Por ser o Pai de toda a família humana, o coração de Deus é
voltado para toda a humanidade. Para entender o papel dos gentios
na salvação de Israel, precisamos voltar ao início e entender o que
estava sendo gerado no coração de Deus. Se focarmos apenas em
Israel, esqueceremos que Deus ama todas as outras nações. Dessa
forma, não estaremos nos relacionando com o verdadeiro Deus.
A citação no início deste capítulo é de Salomão na dedicação do
templo que ele construiu em parceria com o rei gentio Hirão. Nessa
oração especial, ele pede ao Deus de Israel que ouça as orações
dos não judeus. No contexto da cerimônia de dedicação de 1 Reis 8,
Salomão clama em favor dos “estrangeiros” que fossem orar em
direção ao primeiro templo de Jerusalém. Vivemos
aproximadamente dois mil anos após a destruição do segundo
templo que substituiu o primeiro. Portanto, eu creio que a segunda
parte da sua oração expressa ainda mais plenamente o coração de
Deus: “... a fim de que todos os povos da terra conheçam o teu
nome, para te temerem...” (1 Rs 8.43). Salomão percebeu a
preocupação do Senhor com todas as nações da Terra. Ele sabia
que o propósito do templo que acabara de construir e o coração de
Deus não se destinavam apenas à nação de Israel, mas a todo o
mundo.
O Senhor me deu um grande privilégio na vida: compartilhar o
Evangelho com muitas pessoas diferentes. Como mensageiro de
Yeshua, estive com tribos de índios americanos, hispânicos do
sudoeste americano, presidiários, representantes de muitas nações
na Europa, Ásia, África e América do Sul, hippies (rebeldes como eu
fui), e, claro, com judeus. O que eu descobri foi o seguinte: Deus
tem um intenso amor por cada tribo e nação. A história da Bíblia é a
história do amor de Deus por todos os tipos de indivíduos
fracassados. De acordo com 2 Pedro 3.9, Deus não deseja que
ninguém se perca, mas que todos cheguem ao arrependimento.
Você não conseguirá encontrar um ser humano sequer em toda a
Terra com o qual Deus não se preocupe. E é essencial que
compreendamos esse amor do Pai se quisermos entrar com
segurança nos seus propósitos como judeus e gentios.

E em sua semente, serão benditas todas as nações.


O propósito universal de Deus avançou radicalmente a partir de sua
primeira conversa com Abrão. O Senhor anunciou que, por meio
deste homem, todas as nações da Terra seriam abençoadas (Gn
12.1-3). Ele deixou a sua casa na antiga Caldeia orientado apenas
pela conversa que tivera com Deus. A mudança de nome
subsequente, de Abrão para Abraão (pai de multidão), declara seu
mandato profético de levar salvação a todo o mundo. O coração de
Deus não era apenas voltado para a família de Abrão. Quatro mil
anos atrás, o desejo do Senhor era de salvar todo o mundo. A
disposição do patriarca de sacrificar o próprio filho mexeu com
Deus.
Porquanto fizeste esta ação e não me negaste o teu filho, o
teu único... Em tua semente serão benditas todas as nações
da terra. (Gn 22.16, 18; ARC)
O Novo Testamento começa com uma declaração chocante:
“Livro da genealogia de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão”
(Mt 1.1). Dois mil anos depois de Deus ter iniciado sua amizade com
Abraão, o descendente do patriarca veio a Israel. Esse descendente
é Jesus. Deus amou tanto todas as famílias da Terra que enviou o
descendente de Abraão, seu Filho, para salvar o mundo (Jo 3.16).
Evidentemente, é prerrogativa de Deus escolher uma nação
pela qual traria redenção a todo o mundo. É exatamente isso que
ele fez. Jesus, o descendente de Abraão, declarou: “a salvação vem
dos judeus”. No entanto, esse status de “escolhido” pode criar
confusão e até ressentimento. Por um lado, o antissemitismo mortal
surge da inveja humana e do ódio do inimigo por aquilo que Deus
ama. Por outro lado, alguns cristãos, nutrindo o sentimento de inveja
da “escolha” dos judeus, sentiram a necessidade de identificar-se
além da conta e até mesmo de converter-se ao judaísmo.

A redenção do mundo = o objetivo final de Deus


Desde os tempos de Moisés, enquanto pensava em Israel, Deus
tinha como alvo a redenção do mundo. Se ouvirmos a proclamação
do Senhor, logo antes dos Dez Mandamentos, conseguiremos ouvir
o seu coração voltado a todas as nações.
Tendes visto o que fiz aos egípcios, como vos levei sobre
asas de águia e vos cheguei a mim. Agora, pois, se
diligentemente ouvirdes a minha voz e guardardes a minha
aliança, então, sereis a minha propriedade peculiar dentre
todos os povos; porque toda a terra é minha; vós me
sereis reino de sacerdotes e nação santa. (Êx 19.4-6)
Ao dizer “toda a terra é minha”, o Senhor deixou claro que esse
sacerdócio não se destinava apenas a Israel, mas a todas as
nações.
É por isso que, na dedicação do templo, o rei Salomão clamou
ao Deus de Israel para que respondesse a oração de todos os
homens, de todos os lugares, que se voltassem a ele. Desde o
início, o plano de redenção de Deus incluía todas as nações. No
primeiro capítulo de Gênesis, Deus declara a universalidade do seu
plano de redimir o homem, muito antes de existirem as classes
judeu e gentio. Isso enfatiza o grande valor que o Senhor dá a
CADA ser humano. Não dá pra escapar. NINGUÉM será deixado de
lado “nos minutos finais do jogo”.
Deus, nosso Salvador [...] deseja que todos os homens
sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da
verdade. (1 Tm 2.3,4)
Somente quando recebemos o coração de Deus por todas as
nações é que podemos entender o que está acontecendo no mundo
e ser usados juntos nos últimos dias, como equivalentes de Hirão e
Salomão no século 21. O papel de Hirão demonstrou a maneira
singular como aquele plano deveria unir Israel e as nações.

Luz para os gentios


Ao ser chamado para encontrar-se com Deus no monte, Moisés
recebeu uma mensagem decisiva para Israel. Depois de reivindicar
Israel como sua propriedade especial, o Senhor mencionou que
toda a Terra lhe pertence. Ele especificou que Israel foi designado
para uma função sacerdotal, uma nação santa no meio de toda a
Terra. Temos um papel de servo para as nações. Sim, existe algo
especial relacionado ao povo judeu. Deus declara isso sem qualquer
apologia. Contudo, a nossa eleição carrega um peso e uma
responsabilidade sagrada: levar redenção para o resto do mundo.
Isso me lembra das palavras de Tevya, o leiteiro no filme “Um
Violinista no Telhado”, baseado nos contos imortais de Sholem
Aleichem sobre as comunidades judaicas no leste europeu. Ele
pondera esse chamado nem sempre fácil: a responsabilidade de
refletir a santidade do Altíssimo em meio a um mundo longe de ser
perfeito: “Senhor, eu sei que somos o povo escolhido. Mas ao
menos por uma vez tu não poderias escolher alguém diferente?”.
Como se respondesse ao dilema de Tevya, um homem judeu
não se escondeu do peso de seu chamado. Foi Yeshua. Ele tomou
toda dor e sofrimento, não apenas do povo judeu, mas de toda a
humanidade. A chave que soluciona definitivamente a escravidão do
mundo é o Messias, Yeshua. Sua missão deve incluir todas as
nações; caso contrário, ele não seria o verdadeiro Redentor de
Israel. Eis as suas próprias palavras, declaradas anteriormente por
Isaías:
Mas agora diz o SENHOR, que me formou desde o ventre
para ser seu servo, para que torne a trazer Jacó e para
reunir Israel a ele, porque eu sou glorificado perante o
SENHOR, e o meu Deus é a minha força. Sim, diz ele: Pouco
é o seres meu servo, para restaurares as tribos de Jacó e
tornares a trazer os remanescentes de Israel; também te dei
como luz para os gentios, para seres a minha salvação até à
extremidade da terra. (Is 49.5,6)

Uma revelação revolucionária em Jafa


A comunidade messiânica do primeiro século era protetiva da
mesma forma como o restante da comunidade judaica. Da mesma
maneira que os seus contemporâneos, os discípulos judeus haviam
sido ensinados com base nas Escrituras e criam que, quando Israel
se aproximava dos gentios, o povo tinha a tendência de adotar suas
práticas idólatras e abandonar sua comunhão com Deus. Fato
verdadeiro.
Então, para mudar aquela forte mentalidade, Deus mandou uma
mensagem sobrenatural a Pedro enquanto ele estava no terraço em
Jope (atualmente Jafa; At 10.9-17). Recebendo a confirmação pela
chegada da delegação de Cornélio, naquela mesma hora, ele foi
para Cesareia. Ali, pela primeira vez na ilustre história do apóstolo,
ele entrou em uma casa gentílica e pregou Yeshua para um grupo
de gentios. Eles não apenas receberam a mensagem no coração e
nasceram de novo, mas também foram revestidos do mesmo
Espírito que habitava em Pedro e nos demais judeus messiânicos.
No restante do livro de Atos, ouvimos sobre gentios que foram
tocados da mesma forma e entraram para a comunidade de fé.
Somos os herdeiros desta comunidade de Atos no primeiro
século. Em suas primeiras linhas (At 1.8), Yeshua dá o propósito
para nós como indivíduos e comunidades: o de ser cheio do seu
Espírito e testemunhar para toda a Terra. Esse é o propósito do
poder do Espírito Santo: levar libertação para todos os grupos
étnicos. Ele já havia dito aos discípulos:
E será pregado este evangelho do reino por todo o mundo...
Então, virá o fim. (Mt 24.14)
Yeshua expressava os sentimentos de Deus por toda a Terra.
Ele estava consumido pelo coração do Pai como demonstrado em
Isaías 52.10: “...todos os confins da terra verão a salvação do nosso
Deus”.
Aos estrangeiros que se chegam ao SENHOR, para o
servirem e para amarem o nome do SENHOR, sendo deste
modo servos seus, sim, todos os que guardam o sábado,
não o profanando, e abraçam a minha aliança, também os
levarei ao meu santo monte e os alegrarei na minha Casa de
Oração; os seus holocaustos e os seus sacrifícios serão
aceitos no meu altar, porque a minha casa será chamada
Casa de Oração para todos os povos. (Is 56.6,7)
Esse sempre foi o desejo de Deus. Ele revelou o seu plano de
forma distinta e sucinta por meio das Escrituras hebraicas muito
antes de o Novo Testamento ser escrito. Isso pode ser visto em toda
a TaNaKh (o acrônimo usado para as Escrituras hebraicas, que
combinam as primeiras letras da Torá, os primeiros cinco livros,
Neviim – os profetas e khtuvim – os escritos).
Torá: “Porém, tão certo como eu vivo, e como toda a terra se
encherá da glória do SENHOR.” (Nm 14.21)
Neviim: “a terra se encherá do conhecimento do SENHOR,
como as águas cobrem o mar.” (Is11.9)
Khtuvim: “Todas as nações que fizeste virão, prostrar-se-ão
diante de ti.” (Sl 86.9)
Redimir o mundo não foi um pensamento posterior. Não é como
se Deus dissesse: “Bem, como os judeus são teimosos, daremos a
oportunidade para todos os outros e esqueceremos o plano A”.
Desde o início, a intenção de Deus era trazer o céu para toda a
terra. E esse tem sido o chamado de Israel! No próximo capítulo,
quero explorar com mais profundidade esse papel.
Então, a pergunta chave é: “Quem é esse Deus que vive em
nós por meio do seu Espírito? Quanto ele verdadeiramente se
importa com humanidade? Está tudo bem se eu não me importo
com as nações?”. Aparentemente, não está tudo bem, como ele
deixou claro para Pedro no terraço em Jafa. Será que os gentios
recebem apenas os restos enquanto o foco principal de Deus está
em Israel, o povo “escolhido”?
É verdade que Israel foi escolhido por Deus. É exatamente este
o ponto. Israel foi escolhido para ser a nação que serve ao Senhor,
para apresentar todas as outras nações ao nosso Deus. É um
privilégio para Israel receber “a adoção, a glória, as alianças, a
promulgação da lei, o culto e as promessas” a fim de torná-las reais
e acessíveis para toda a humanidade (Rm 9.4). Como parte da
nossa essência, como povo apontado por Deus, somos chamados
para levar salvação ao mundo. Sim, ele é o Deus de Abraão, Isaque
e Jacó, mas também é o Pai de toda a humanidade. É vital
compreendermos que esse é o seu sentimento em relação a todas
as tribos e nações.
Sem essa característica, não sabemos verdadeiramente quem
ele é. Nós, o povo judeu, recebemos as riquezas da sua graça. Ele
nos ressuscitou dos mortos. Ele deseja dar-nos esse mesmo
coração; a nós, seus filhos, seus representantes.
Então, de que forma nós, judeus messiânicos, devemos viver o
chamado de agir como um povo a serviço do Senhor entre as
nações? Cito algumas sugestões para todos nós, que fazemos o
papel de Salomão nessa comparação:
1. FAZER AMIZADE E ACOLHER os seus filhos entre as
nações, quer eles venham para Israel, quer nós vamos até eles.
Expressamos o sentimento de Deus mesmo quando desenvolvemos
amizade com apenas um amigo de outra nação. Assim, nós o
encorajamos a nos conhecer, e ele pode começar a orar por nós –
claro que também podemos orar por ele. Isso acontece quando
encontramos pessoas que vêm de outros países em Israel. Nós nos
tornamos luz para elas.
2. ENVIANDO/INDO de Israel (mesmo que seja para visitar
familiares) como mensageiros/embaixadores. Yeshua disse: “Assim
como o Pai me enviou, eu também os envio” (Jo 20.21).
3. DANDO uma parte das nossas ofertas para abençoar as
nações. Devemos nos considerar os responsáveis por ABENÇOAR
e não apenas esperar que os outros nos abençoem.
“Tudo bem”, você pode dizer. Sabemos que Jesus se levantou
em Israel como o grande Sumo Sacerdote para redimir tanto judeus
quanto gentios. Isso cumpriu o chamado de Israel de levar salvação
ao mundo. Mas e os gentios? Como os discípulos de Jesus ao redor
do mundo que não são judeus devem expressar a universalidade
dos sentimentos do Senhor? “E nós, qual o nosso papel?” Conforme
anteriormente citado de Romanos 11, tendo recebido redenção por
intermédio do povo judeu, os gentios (ramos silvestres da oliveira)
devem agora apoiar os ramos naturais a fim de que sejam
novamente enxertados na Oliveira.
Parteira para o renascimento de Israel
A primeira filha da minha primogênita nasceu depois de incríveis 36
horas de trabalho de parto. Ela precisou de cinco parteiras. Depois
dessa experiência, minha filha disse o seguinte: “Eu não sei como
poderia ter parido sem a ajuda delas, especialmente a última. Ela
sabia exatamente o que eu estava passando e o que falar para me
encorajar e me fortalecer a fim de passar por tudo aquilo, parir a
criança e me tornar uma mãe feliz”.
Experimentei pessoalmente esse papel dos gentios de atuar
como uma “parteira” responsável por assistir no renascimento
espiritual de Israel. Conheci Yeshua pelos gentios. Estávamos
vivendo no alto das montanhas no norte do Novo México quando
dois jovens, John Nilan e Chris Petroff, apareceram. Eu não sei se
eles sabiam que o meu companheiro na comunidade, Russell
Resnik, e eu éramos judeus, mas compartilharam do amor de
Yeshua e da realidade de sua vida de forma tão natural e genuína
que recebemos a mensagem bem ali, e “nascemos de novo”.
No início, fui discipulado e treinado para o ministério por gentios.
Meu mentor e diretor da escola bíblica noturna da qual eu
participava era um verdadeiro gentio. Criado por um pai da
Assembleia de Deus e uma mãe da Igreja do Nazareno, Don
Compton era um verdadeiro cristão anglo-saxão pentecostal. Pela
graça de Deus, ele foi dirigido pelo Espírito para “trabalhar com os
hippies” de Santa Fé, Novo México. O fato é que ele foi um dos
primeiros, nos anos 70, a me apoiar na descoberta da minha
identidade judaica. Além disso, apoiou totalmente a nossa estranha
maneira de tentar começar a celebrar as datas das festas bíblicas e
levar judeus a conhecer Yeshua como o Messias de Israel!
Quando um judeu experimenta o milagre do novo nascimento,
ele se une imediatamente a todos os verdadeiros seguidores de
Yeshua. Essa irmandade é o que eu sempre busquei. É uma
irmandade que eu pude experimentar simplesmente compartilhando
uma refeição com anfitriões japoneses. É uma unidade que libera
uma unção capaz de quebrar muitas barreiras espirituais antigas,
algo que descobri quando ungi um crente coreano com óleo.
Compartilhar a tristeza pela atual condição de Israel e pelo passado
da Europa me levou a misturar lágrimas de intercessão com as de
um querido irmão e ancião alemão em terras alemãs. Você lerá
sobre esses encontros que influenciaram a minha vida nas páginas
a seguir.
Uma profunda e redentora amizade entre judeus e gentios tem
precedentes maravilhosos nas Escrituras. Essa é a chave que pode
abrir o mistério do nosso chamado em comum: trazer o Rei Messias
de volta para governar e reinar sobre toda a Terra. Investigaremos
agora de forma mais profunda o chamado de Israel para salvar as
nações.
CAPÍTULO TRÊS
UM POVO MENSAGEIRO

A missão de Deus para Israel é levar sua


salvação ao mundo

Quando teus dias se cumprirem e descansares com teus


pais, então, farei levantar depois de ti o teu descendente,
que procederá de ti, e estabelecerei o seu reino. Este
edificará uma casa ao meu nome, e eu estabelecerei para
sempre o trono do seu reino. Eu lhe serei por pai, e ele me
será por filho. (2 Sm 7.12-14a)
O teu trono, ó Deus, é para todo o sempre; cetro de
equidade é o cetro do teu reino. Amas a justiça e odeias a
iniquidade; por isso, Deus, o teu Deus, te ungiu com o óleo
de alegria, como a nenhum dos teus companheiros. (Sl
45.6,7)
Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; o
governo está sobre os seus ombros; e o seu nome será:
Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade,
Príncipe da Paz; para que se aumente o seu governo, e
venha paz sem fim sobre o trono de Davi e sobre o seu
reino, para o estabelecer e o firmar mediante o juízo e a
justiça, desde agora e para sempre. O zelo do SENHOR dos
Exércitos fará isto. (Is 9.6,7)

Quando eles vieram para nos colocar na viatura policial, não


resistimos. Naquela manhã, fomos tomados por um senso de
propósito bem sério e tentamos bloquear a entrada do Centro de
Recrutamento do Exército Americano em Oakland, na Califórnia.
Isso aconteceu em dezembro de 1967, e sentimos a urgência de dar
um fim à máquina militar que estava matando tanto soldados
americanos quanto vietnamitas. Como resultado da nossa
“travessura”, ficamos presos durante 21 dias. Nosso círculo de
radicais incluía um número desproporcional de jovens judeus.
O mesmo aconteceu no movimento “de volta para a terra” que
começou naquela época depois que nos desiludimos com os
protestos políticos. Como um jovem de 19 anos em busca de
sentido, fui levado a uma cabana cercada por neve, na parte norte
do estado de Nova York, onde 25 ou mais hippies experimentavam
as primeiras tentativas de vida em comunidade. Entre bebês
chorando, uma grande panela de arroz integral e um forno antigo no
meio de uma sala toda bagunçada, sonhávamos com uma
alternativa radical à sociedade moderna, que não mais parecia
relevante. Sonhávamos em ser totalmente livres do mundo
industrial-tecnológico à nossa volta. O que mais valorizávamos eram
a agricultura cooperativa, o compartilhamento de recursos, a
celebração do ciclo de vida orgânica e um estilo de vida tribal. Esses
eram objetivos pelos quais estávamos dispostos a pagar um alto
preço pessoal. Nossos companheiros pioneiros tinham sobrenomes
judaicos como Prensky, Hoffman, Kaymen, Landau e Cohen.
Estávamos buscando intensamente o sentido da vida e éramos
revolucionários por natureza.
Por quê? Por que o povo judeu é atraído a mudanças sociais,
movimentos radicais e alternativas espirituais? Qual a conexão entre
o rei Salomão e a decisão do Senhor de construir o seu templo em
Jerusalém, Israel, há mais ou menos três mil anos? A resposta é
que Deus nos deu a missão de levar redenção para o mundo. Não
estou exagerando. Tudo começou com o pai Abraão.
A seguir, cito algumas das sérias declarações de Deus ao povo
judeu relacionadas à “missão” de Israel. Já vimos algumas delas,
mas, por ênfase, vou repeti-las aqui:
E em tua semente serão benditas todas as nações da terra.
(Gn 22.18; ARA)
Vós me sereis reino de sacerdotes e nação santa. (Êx 19:6)
A minha casa [o templo construído por Salomão e Hirão]
será chamada Casa de Oração para todos os povos. (Is
56.7)
…mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito
Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém
como em toda a Judeia e Samaria e até aos confins da terra.
(At 1.8)
De capa a capa, as Escrituras afirmam que esse é o chamado
original de Israel: levar o conhecimento de Deus a todas as nações.
Podemos tentar esquivar-nos. Podemos tentar negar. Mas não
podemos escapar. Nem os estudantes sérios da Bíblia podem tentar
evitar essa profunda verdade. Isso não quer dizer que não haverá
mensageiros gentios. O simbolismo de Hirão e Salomão cooperando
para a construção do templo reflete a vontade de Deus de envolver
também os gentios. Se não houvesse mensageiros gentios, poucos
de nós, crentes judeus, teríamos encontrado Yeshua. Contudo, a fim
de termos um entendimento saudável sobre como nos relacionamos
uns com os outros, devemos reconhecer o chamado que nos foi
dado por Deus na História. O Redentor judeu, Yeshua, é a
expressão máxima dessa “missão para todo o mundo”.
Sim, diz ele: Pouco é o seres meu servo, para restaurares as
tribos de Jacó e tornares a trazer os remanescentes de
Israel; também te dei como luz [yeshua-ti em hebraico] para
os gentios, para seres a minha salvação até à extremidade
da terra. (Is 49.6)
Devemos reconhecer tanto o chamado de Israel como nação
sacerdotal “primogênita”, provendo expiação para todas as nações,
quanto o status de todos os povos e tribos serem amados por Deus.
É assim que descobrimos o coração de Deus, o Pai de toda a
humanidade. Para mim, isso tem um significado especial. Nos dias
em que eu buscava a verdade que transformaria o mundo, encontrei
diversas respostas, mas cada uma era restrita, e a maioria se
mostrava relevante apenas para um grupo específico. Deixe-me
explicar.

Posição de lótus e pilhas de livros


Alguns dizem que você precisa sentar-se totalmente na posição de
lótus (pernas cruzadas uma sobre a outra, formando um doloroso
pretzel para quem não é muito flexível) e gastar longas horas em
meditação para chegar à iluminação espiritual. Essa prática não
daria certo para mim e para a maioria dos seres humanos com tipo
físico normal. Outros lhe oferecem uma pilha bem alta de livros para
ler, afirmando que a salvação está em compreender as complexas
equações filosóficas da realidade. Mas daí somente os indivíduos
mais intelectuais teriam alguma chance. Outro caminho que muitos
tentam diligentemente seguir é o de desvincular-se do mundo
normal e levar uma vida ascética de negação material, fazendo
votos como os dos monges. Isso não apenas desqualifica a maior
parte da população da Terra, mas também falha na tentativa de
produzir transformação mundial. Nenhum desses caminhos se
aplica a toda a humanidade.
Eu amo o fato de que Deus nos fala, em muitas partes das
Escrituras hebraicas, que o seu plano inclui todas as raças e tribos:
Porém, tão certo como eu vivo, e como toda a terra se
encherá da glória do SENHOR. (Nm 14.21)
Toda a terra te adorará, e te cantará louvores… (Sl 66.4;
ARC)
Alegrem-se e regozijem-se as nações, pois [...] governarás
as nações sobre a terra. (Sl 67.4; ARC)
Deus nos abençoará, e todas as extremidades da terra o
temerão. (Sl 67.7; ARC)
As nações que fizeste virão, prostrar-se-ão diante de ti,
Senhor, e glorificarão o teu nome. (Sl 86.9)
Porque a terra se encherá do conhecimento do SENHOR,
como as águas cobrem o mar. (Is 11.9)
Naquele dia, recorrerão as nações à raiz de Jessé... (Is
11.10)
Levantará um estandarte para as nações, ajuntará os
desterrados de Israel. (Is 11.12)
Quem te não temeria a ti, ó Rei das nações? (Jr 10.7)
A ti [o Deus de Israel] virão as nações desde os fins da
terra… (Jr 16.19)
A origem do mandato de Salomão para construir o templo pode
ser vista desde a declaração feita na primeira conversa registrada
entre Deus e Abraão: “em ti serão benditas todas as famílias da
terra” (Gn 12.3). Deus declarou, para toda a História, que, por meio
daquele homem, todas as nações da Terra seriam abençoadas. A
subsequente mudança do seu nome de Abrão (pai elevado) para
Abraão (pai de multidão ou de muitas nações) proclama seu
chamado profético de levar salvação a todo o mundo. O coração de
Deus não era apenas voltado para uma família. Quatro mil anos
atrás, Deus desejava salvar o mundo inteiro. A disposição de
Abraão de sacrificar o seu filho inspirou o Senhor a fazer uma
grande promessa: “porquanto fizeste esta ação e não me negaste o
teu filho, o teu único [...] em tua semente serão benditas todas as
nações da terra” (Gn 22.16,18).

A missão judaica é a redenção do mundo


Os gentios são formados por todas as nações do mundo, excluindo
Israel. O caminho que as leva até Deus é direto e exclusivamente
pela Semente de Abraão, o Messias. Em outras palavras, a missão
judaica é a redenção do mundo. Esta missão pode ser observada
desde o tempo dos patriarcas. José, descendente de Abraão,
intercedeu em favor da humanidade durante um período de fome
que veio sobre a Terra. Todos os países vizinhos foram até José
com a intenção de comprar grãos. Dessa forma, José foi um
precursor do Messias. Por meio dele, não apenas a família de seu
pai, Jacó, mas uma multidão de nações foi salva da morte.
Algumas gerações depois, veio Moisés, e é claro que ele
também tipificou Yeshua. Ele tirou Israel do Egito, pelo sangue do
cordeiro de cada família, e os levou até sua herança. No Monte
Sinai, Deus revelou o chamado sacerdotal de Israel (Êx 19.4-6,
citado no capítulo 2). O papel de Israel era produzir reconciliação
entre um Deus santo e um mundo pecador. Isso foi finalmente
alcançado pelo sacrifício do Sumo Sacerdote, o Messias Yeshua.
Salomão era filho de Davi, descendente direto de Abraão. O
Senhor fez uma aliança com Davi prometendo-lhe um reino eterno e
um filho que se assentaria no trono para sempre. Portanto, o
chamado pleno de Salomão incluía a redenção do mundo. Ele não
poderia ter construído o templo sozinho, porque o templo precisava:
(a) refletir o destino compartilhado do reino entre judeus e gentios
em sua construção por Salomão e Hirão, e (b) começar a abrir as
portas para a salvação de todas as tribos e povos como
demonstrado na oração dedicatória de Salomão (1 Rs 8.43).
Isso ajuda a rever a missão atemporal de Yeshua no mundo.
Um dos escritores do Novo Testamento, Lucas, relatou a profecia de
Zacarias: “Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, porque visitou e
redimiu o seu povo, e nos suscitou plena e poderosa salvação na
casa de Davi, seu servo” (Lc 1.68,69). Yeshua disse para a mulher
no poço que “a salvação vem dos judeus” (Jo 4.22). O ensinamento
claro das Escrituras é que Israel será usado para conduzir as
nações (gentios, goyim) ao conhecimento salvífico do Deus de
Abraão. Isso, no entanto, abre espaço para possível
ciúme/ressentimento. “Ei, Senhor! Por que eles e não eu? Eu
também sou especial, não sou?”
A resposta está na humilde aceitação do direito de Deus de
eleger nações, tribos ou indivíduos para cumprir os seus propósitos.
Alguns de nós somos mulheres e outros, homens. Podemos discutir
com essa designação e dizer que foi um erro, mas isso adiantará
muito pouco. Não escolhemos nem podemos mudar nosso gênero.
O papel de Israel como escolhido cria um ponto de partida
fundamental para a parceria de Hirão (cristãos) e Salomão (judeus
messiânicos) no fim dos tempos. E, ainda assim, ao aceitar o papel
especial de Israel na História, isso deve ser feito sem denegrir a si
próprio nem chegar à conclusão errada de que os judeus são
“melhores”. Como afirma Deuteronômio 7.7: “Não vos teve o
SENHOR afeição, nem vos escolheu porque fôsseis mais
numerosos do que qualquer povo, pois éreis o menor de todos os
povos”.
Gosto muito de como Daniel Gruber apresenta essa verdade:
Ao repetir essas coisas a Jacó (o mandamento para “ser
frutífero e multiplicar” como uma extensão do mandamento
dado inicialmente a Adão), Deus estava demonstrando que o
seu plano original para a Terra continuava valendo, e que
Jacó e o povo que viria a partir dele eram o meio que ele
usaria para cumpri-lo. Para esse propósito, Deus
estabeleceu um relacionamento de aliança com Israel –
somente com Israel dentre todos os povos da Terra: “De
todas as famílias da terra, somente a vós outros vos
escolhi…” (Am 3.2). Israel seria a chave de Deus para abrir
as nações, libertá-las e levá-las de volta para ele. Deus não
estava abandonando todas as outras famílias à futilidade e à
destruição. Ele estava simplesmente afirmando o meio pelo
qual elas obteriam a sua redenção: por intermédio de Noé,
Abraão, Isaque e Jacó. A Terra continuava sendo para o
homem, e Deus escolheu Abraão para ser o “herdeiro do
mundo” (Rm 4.13). Deus estava expressando sua intenção
de restaurar a Terra ao seu propósito original.[3]
Outra questão que precisamos responder é: “O que trará paz
verdadeira para este mundo em agonia?”. Essa foi a pergunta que
me perturbou em dois momentos específicos: durante o nosso
protesto na porta do Centro de Recrutamento do Exército dos
Estados Unidos no fim de 1967 e também na época em que éramos
hippies e fazendeiros orgânicos nas montanhas do Novo México.
“Será que existe um Deus? Será que ele se preocupa com a
humanidade? Qual o destino deste mundo?” Ficamos muito
chocados ao descobrir que a Bíblia aborda estas e todas as outras
questões importantes da vida. Em Atos 10, a mensagem de Deus
para Pedro no terraço foi a seguinte: “Sim, você não deve desprezar
os que são diferentes. Eu levantei o Messias para todas as tribos e
nações”.
As pessoas hoje estão notando que existe algo especial
relacionado a Israel. Isso significa que o seu foco está
exclusivamente na joia do mundo, e que os gentios ficam com o
resto? De modo algum. Israel é de fato seu servo. Nós fomos
privilegiados por receber as revelações de Deus e a
responsabilidade de preservar os seus mandamentos. Ainda assim,
o chamado de Israel é para o benefício de todas as tribos e grupos
étnicos.
É impossível conhecer a Deus sem entendê-lo em ambos os
contextos: como o Deus de Abraão, Isaque e Israel e como o Pai de
toda a humanidade. Esse é o seu coração. Ele nos confiou as
riquezas da sua graça; para os judeus e também para os gentios
(Rm 1.16). Fomos atraídos para uma aliança totalmente inesperada
com o nosso Criador por intermédio do seu Filho. Essa aliança
requer que respeitemos a escolha de Deus por cada um de seus
vasos e também honremos o fato de ele ter incluído todos. Trata-se
de um relacionamento de aliança entre judeus e gentios. O Novo
Testamento o chama de mistério. Nos próximos capítulos,
analisaremos a genialidade de Deus ao nos fazer dois e ainda assim
um.
CAPÍTULO QUATRO
O EMOCIONANTE MISTÉRIO DE
DEUS

O surpreendente papel dos gentios na


salvação dos judeus

…para que, igualmente, eles [Israel] alcancem


misericórdia, à vista da que vos foi concedida. (Rm 11:31b)
Assim, deu Hirão a Salomão madeira de cedro e madeira
de cipreste, segundo este queria. (1 Rs 5:10)
o voo de Hong Kong para Osaka, eu estava cansado, mas não
N conseguia dormir. Com uma tela embutida no banco da frente,
que outra opção eu teria senão navegar pela interminável lista
de filmes disponíveis? Escolhi um suspense baseado numa série de
assassinatos não resolvidos em São Francisco na década de 1960.
Fiquei bastante entretido com aquela complexa história, e,
quando os personagens estavam finalmente prestes a pegar o vilão,
eu estava mesmo ansioso pela solução. Bem naquele momento, a
voz do piloto interrompeu o filme. “Vamos agora começar a nossa
descida final. Os programas de entretenimento para esse voo estão
encerrados”. Quase protestei em voz alta: “Ah não! Agora precisarei
encontrar uma cópia desse filme. Preciso descobrir o que acontece
no final”.

O mistério: a salvação de Israel e os gentios como coerdeiros


Quando cheguei a Osaka para uma conferência asiática sobre Israel
e os judeus messiânicos, o episódio sobre o filme inacabado me
acendeu uma luz. O suspense de um mistério bem contado é
exatamente o que Deus quis dizer quando usou a palavra “mistério”
para referir-se ao enigma de judeus e gentios sendo um no Messias.
Falando aos crentes de Roma, Paulo declarou:
Porque não quero, irmãos, que ignoreis este mistério (para
que não sejais presumidos em vós mesmos): que veio
endurecimento em parte a Israel, até que haja entrado a
plenitude dos gentios. E, assim, todo o Israel será salvo…
(Rm 11.25,26)
Outra vez, escrevendo aos efésios, o apóstolo afirmou que
Deus lhe mostrou por revelação...
…do mistério de Cristo, o qual, em outras gerações, não foi
dado a conhecer aos filhos dos homens […] a saber, que os
gentios são coerdeiros [com os discípulos judeus],
membros do mesmo corpo… (Ef 3.4-6)
Da perspectiva histórica, não há lógica para a unidade entre
judeus e gentios. Portanto, sabendo de antemão o que aconteceria,
o Senhor falou com o apóstolo e usou uma palavra que indicava
claramente um evento incomum, inesperado e inexplicável. Em
grego, o termo musterion aponta para algo que estava escondido e
foi revelado. Ao escrever para os romanos e os efésios, Paulo deixa
claro, ao usar o termo musterion, que esse destino compartilhado
parece bem estranho e desafiador para a compreensão de seus
leitores. Na verdade, requer muita humildade. Mas não é para lá que
o Senhor quer nos levar?
Ao chegar a Osaka, à medida que o evento de iniciativa
japonesa se desdobrou, dois fatos ficaram muito evidentes.
Primeiro, existia uma harmonia muito boa entre diversos líderes que
anteriormente não estavam entusiasmados com seu relacionamento
mútuo (de acordo com o relato deles). E segundo, havia o desejo de
entender e servir o propósito de Deus para a Ásia e Israel junto
conosco, seus irmãos judeus messiânicos. Eu estava assistindo à
“solução” para o emocionante mistério de Deus: “Como Israel será
salvo, e como os judeus se tornarão verdadeiros coerdeiros?”.
Ficamos todos entusiasmados.

Um mistério resolvido
Depois de duas conferências maravilhosamente intensas em Osaka
e Tóquio e um final de semana cheio de ministrações, peguei o voo
de volta a Hong Kong. Para minha alegria, o mesmo suspense ainda
estava disponível na lista de filmes. Louco para ver o fim do
mistério, liguei a pequena tela e passei para a última cena que eu
lembrava de ter visto. Desta vez, consegui ver o final. E embora eu
não vá lhe contar como o filme termina, estou extasiado por estar
envolvido no mistério da vida real com você.
Quanto mais aprendo sobre esse mistério, mais empolgante ele
se torna. Estamos experimentando a liberação dos recursos de
amor, prometidos há muito tempo, que virão para Israel em ondas
sucessivas (Is 60.5). Numa época em que muitos estão clamando
para que Israel seja punido e rejeitado, saber que os membros
gentios da nossa família estão empenhados em favor dos irmãos
messiânicos em Israel nos traz uma viva esperança, coragem e o
necessário conforto.
No capítulo anterior, destaquei o chamado de Israel de levar
salvação para todas as nações. Agora, em um caso de verdadeira
justiça poética, torna-se papel dos gentios retornar o favor. O
apóstolo Paulo deixa essa ideia bem clara em Romanos 11.11,12.
Ele admite que o povo judeu parece ter sido deixado de lado por
Deus, mas então faz uma forte afirmação:
Pergunto, pois: porventura, tropeçaram para que caíssem?
De modo nenhum! Mas, pela sua transgressão, veio a
salvação aos gentios, para pô-los em ciúmes. Ora, se a
transgressão deles redundou em riqueza para o mundo, e o
seu abatimento, em riqueza para os gentios, quanto mais a
sua plenitude!
Muitos dos discípulos israelitas de Yeshua ficaram incomodados
com a entrada dos gentios. Anteriormente, fiz referência à dramática
visão que Pedro precisou receber no terraço em Jafa antes que
pudesse levar as boas novas a Cornélio, um oficial romano, e a seu
grupo de não judeus que esperava em Cesareia. O subsequente
influxo de crentes não judeus mudou para sempre a natureza do
reino.[4]
Podemos ver um elemento profético na maneira como Deus
abriu o coração dos apóstolos para receber os gentios. O livro de
Atos começa com a celebração de Pentecostes (a Festa das
Semanas ou shavuot em hebraico), quando dois pães fermentados
são apresentados como oferta a Deus segundo os requerimentos da
Torá. Eu creio que, pelo fato de serem levedados (simbolizando,
assim, uma dimensão de impureza), esses pães não podem
representar o Messias. Em vez disso, são a maneira de Deus de
demonstrar que judeus e gentios são um diante dele.
Na verdade, de forma fascinante, o ritmo das festas bíblicas
explica a história. A entrada de não judeus na redenção do Messias
sinaliza o que podemos chamar de o tempo dos gentios. O
alinhamento das sete festas dadas originalmente a Israel e o seu
cumprimento em Yeshua enfatizam especificamente os últimos dois
mil anos. Cada festa precisa encontrar cumprimento em Yeshua.
Deus continuamente nos leva de volta para ele. E o mesmo
acontece com esta festa.

A festa do meio traz clareza ao mistério


Shavuot (a festa das semanas) é uma festa singular que acontece
entre a Páscoa e a Festa dos Tabernáculos, bem no meio das três
festas de peregrinação. A primeira é a Páscoa (na primavera) e
conta a história da nossa salvação. Representa a primeira vinda do
Senhor como o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Pelo
sangue de um cordeiro, os israelitas foram libertos da escravidão
dos egípcios e, pelo sangue de Yeshua, todos nós também somos
libertos da escravidão universal do pecado. Profética e
historicamente, a Páscoa atinge o seu clímax no sacrifício e na
ressurreição de Yeshua, levando-nos à Festa das Primícias (Lv
23.10-11). Na primavera, celebramos um conjunto de três festas:
Páscoa, Pães Asmos e Primícias. Esse conjunto representa a vida
de Yeshua, sua morte expiatória e ressurreição.
No outono, temos a Festa das Trombetas (aka Rosh HaShana),
o dia da expiação (Yom Kippur) e a Festa dos Tabernáculos
(Sukkot). Essa sequência culminante de celebrações é
caracterizada pelo shofar (um símbolo proeminente da segunda
vinda do Messias), por um dia de arrependimento e reconhecimento
da nossa necessidade de expiação pelos pecados, e finalmente pela
festa de Sukkot, que representa o ajuntamento final de todas as
nações para adorar o Rei. (Zacarias 14 descreve essa congregação
de nações debaixo do domínio do Rei de Israel.)
E o que dizer de Shavuot, a Festa das Semanas? Apesar de ser
uma celebração de apenas um dia bem no meio das outras duas, é
uma festa de colheita e tem bastante destaque na bem estabelecida
tradição judaica como sendo o tempo em que Moisés recebeu as
tábuas da lei no Monte Sinai. Como mencionado, também foi a festa
que Deus escolheu para derramar o seu Espírito sobre os discípulos
de Yeshua em Atos 2.
Portanto, se as festas da primavera representam a primeira
vinda do Messias, e as festas do outono simbolizam a sua volta e
seu domínio total sobre a Terra, onde podemos encontrar Yeshua no
simbolismo da festa de Shavout? É interessante o fato de que ele
sai de cena poucos dias antes da Festa das Semanas. A data dessa
festa cai sete semanas completas depois da Páscoa. Antes da
partida de Yeshua, ele promete o Espírito, dá instruções para o
tempo da sua ausência e vai embora sem deixar rastros! Não
apenas isso, mas, depois de algumas décadas, o templo é destruído
(outra vez!) e Israel é expulso da terra para um exílio de quase dois
mil anos.
Sobre isso, Oseias escreveu na passagem do capítulo 3.4-5,
observando que Israel passaria muitos dias sem rei ou sacerdócio,
mas que finalmente buscaria a Deus e a Davi, seu Rei. Essa, a
propósito, é uma profecia maravilhosa sobre o avivamento de Israel
no fim dos tempos e o reconhecimento de Yeshua, o grande Filho
de Davi, simultaneamente ao nosso retorno para a terra.
Isso significa que nós devemos ser o cumprimento da presença
profética de Yeshua na Festa das Semanas (Shavuot).
Apropriadamente, o livro de Atos descreve os frutos da fé vivenciada
pelos discípulos de Yeshua depois da sua partida. Ele continuou
vivendo por meio deles e, até hoje, por meio de nós. Ele tem vivido,
ao longo dos últimos 20 séculos, por meio de cada um que é fiel ao
seu nome. Shavuot representa a era dos seguidores fiéis na Terra
entre a primeira e a segunda vinda.
Não apenas os gentios receberam a permissão de fazer parte
durante os primeiros anos da comunidade da fé, no início desta era,
mas a liderança deles também assumiu posição de destaque entre
os seguidores de Yeshua, hoje chamado pelo seu nome grego
Yesous ou Jesus. Depois que os judeus foram expulsos de sua
terra, a era da Igreja começou. Yeshua não está mais fisicamente e
pessoalmente presente como homem na Terra. Então, mais uma
vez, se todas as festas são cumpridas nele, com certeza ele
também pode ser visto durante esta era. E, de fato, ele está sendo
visto. Ele é visto em nós que cremos. Seu “endereço” na Terra é a
presença coletiva de todos aqueles que o seguem, tanto judeu
quanto gentio. Recebemos a sua comissão: de trazer para a Terra o
seu ministério, a sua presença. Ele nos orientou a fazer discípulos
entre todos os homens.
Ao instruir os seus discípulos pela última vez, Yeshua
estabeleceu um plano para esta era.
Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: Toda a
autoridade me foi dada no céu e na terra [Por essa
autoridade eu estou comissionando vocês a fazer o que é
mais importante]. Ide, portanto, fazei discípulos de todas as
nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do
Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que
vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os
dias até à consumação do século. (Mt 28.18-20)
Yeshua define a principal atividade, que é fazer discípulos, e
depois nos assegura que estará conosco enquanto o fizermos ao
longo de toda essa era! Na determinante passagem de Atos 1.4-8,
os discípulos perguntam a Yeshua: “Será este o tempo em que
restaures o reino a Israel?”. Israel voltará para a sua glória? O
Mestre responde:
Não vos compete conhecer tempos ou épocas que o Pai
reservou pela sua exclusiva autoridade; mas recebereis
poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis
minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a
Judéia e Samaria e até aos confins da terra. (At 1.7-8)
Em outras palavras, a resposta é NÃO; esse próximo período
não diz respeito a isso. Israel só será restaurado depois de vocês
testemunharem para Jerusalém, Judeia, Samaria e até os confins
da Terra.
Essa mudança inconfundível e radical em Atos corresponde
tanto à “ausência” de Yeshua na Terra quanto à união das nações a
Israel para receber o Rei. Apenas quando nós, a congregação de
Yeshua na Terra, judeus e gentios, completarmos a tarefa que nos
foi dada pelo Messias, o Cordeiro e o Leão, o Sacrifício e o
Soberano... é que nós o veremos vindo sobre as nuvens de glória,
cavalgando em um cavalo branco como Rei dos reis e Senhor dos
senhores.
Eu creio na restauração da fé apostólica em Israel e na Terra
nos nossos dias. Mas o que significa ser apostólico? Deveríamos
colocar a ênfase em líderes individuais ou em um estilo de vida?
Meu entendimento é que o Espírito está nos chamado para voltar a
um modo de vida permeado pelo radicalismo e pela simplicidade do
primeiro século. Isso é relevante para a questão da “era de
Shavuot”, porque fomos chamados para manifestar juntos a sua
restauração. Finalmente, o povo judeu está voltando para uma
condição de proximidade com o nosso Deus e de servir as nações
como originalmente planejado. Uma visão apostólica do mundo, por
definição, deve transmitir um encargo pela salvação de cada nação.
Esse é o trabalho que devemos realizar juntos como discípulos
intercessores do Messias.
Shavuot é o Messias habitando na congregação do seu povo.
Sua presença é manifesta quando o adoramos, quando oramos,
quando meditamos na Palavra, quando respondemos à sua
autoridade delegada aos homens, quando testemunhamos, quando
somos cheios do seu Espírito, quando partimos o pão. Esse é o
desígnio e prazer de Deus nesta era; é algo que traz muita glória a
Deus, ao nome de Yeshua. O mistério de Shavuot é que essa festa
aponta para Yeshua tanto quando ele está no céu, sentado à direita
do Pai, quanto quando está na terra, por intermédio de seus
seguidores, nos quais habita o seu Espírito.

Uma dupla improvável


Mais adiante, o livro de Atos revela o primeiro cenário onde Deus
sobrenaturalmente autoriza a anteriormente proibida comunhão
entre os seus seguidores. Os apóstolos judeus tiveram de realizar
um concílio especial em Jerusalém (At 15) a fim de lidar com essa
nova situação. A decisão deles foi abrir a porta para as outras
nações com o objetivo de que elas pudessem tornar-se seguidoras
de Yeshua sem precisar se converter ao judaísmo. Foi algo bem
radical.
Curiosamente, a questão hoje é exatamente o oposto. Os
judeus podem receber Jesus sem se converter ao cristianismo?
Essa questão é altamente absurda diante do debate intenso que
surgiu no primeiro século. No entanto, depois de quase dois mil
anos, a combinação de antissemitismo na Igreja e o domínio da
cultura gentílica entre os que o adoram trouxeram muita ênfase a
essa questão.
Estamos presenciando uma reversão fascinante após
excruciantes séculos de reação negativa da Igreja em relação aos
judeus à medida que Deus aproxima seus seguidores internacionais
aos seus irmãos judeus, antes alienados. Foram esses irmãos
judeus que, no início, abriram as portas para os gentios. Não é justo
que agora os gentios abram a porta para a Casa de Jacó? Os que
originalmente receberam o Evangelho há muito tempo estão sendo
impedidos de entrar no reino que antes pertencia exclusivamente a
eles!
Creio que essa “reviravolta” seja exatamente o que Deus tinha
em mente. É por isso que eu desejo usar este livro para encorajar
nossos dedicados irmãos em Yeshua que não são judeus a “nos
devolver nosso Messias” como parte de “colocar todas as coisas em
ordem”, que é o significado de tikkun na tradição hebraica. Tikkun
em hebraico moderno quer dizer “reparar”. O conceito tradicional
carrega a conotação de “reparação” ou “restauração” do mundo
inteiro à forma original designada por Deus.
Somente Yeshua pode fazer isso. Somente Yeshua pode
reverter o dano causado pela história. Ele foi separado de sua
família natural e de suas raízes bíblicas/culturais no processo de
alargar a salvação para incluir toda a raça humana. Essa inclusão
de todos é pertinente. Como afirmamos no capítulo 2, sua missão se
destinava a todo o mundo. Entretanto, agora o curso precisa ser
corrigido – e de maneira considerável. É tempo de o povo judeu, de
quem Yeshua faz parte, regozijar-se no dom da salvação dado por
nosso Deus gracioso, o Deus de Israel.
Dois mil anos depois, os papéis espirituais de cada povo, ao
menos em parte, foram revertidos. Agora são os crentes gentios que
têm a proeminência numérica e as ferramentas. Agora é o momento
oportuno de a Igreja reconhecer e dar assistência à obra que vem
sendo estabelecida entre os filhos de Jacó. Eu chamo isso de “fator
Hirão”. O rei de Tiro, Hirão, serviu ao propósito do rei de Israel e foi
nisso que encontrou sua própria recompensa. Seu papel na
construção do templo foi uma chave para isso. “Hirão” (os gentios)
possuem agora a mesma chave.
Há algo tão agradável a Deus e tão misterioso para os judeus
quando os gentios se voltam para nós, não com um julgamento
antissemítico, mas com respeito e apreciação. O aspecto importante
da história de Salomão é que o relacionamento deles não acaba ali.
Formou-se um vínculo por aliança.
Inicialmente, eles foram atraídos um ao outro por seu amor
comum pelo rei Davi. Mas, depois, nos versículos do início de 1 Reis
5, Hirão expressa grande alegria por estar participando com
Salomão do projeto de construção de Deus. Edificar uma casa para
a glória de Deus em Jerusalém demonstra expressamente a
conexão entre eles. Salomão, o judeu, recebe Hirão, o gentio. De
maneira similar, no primeiro século, os seguidores judeus de Jesus
receberam os gentios como iguais na fé. Seria apropriado que,
como Hirão, as nações hoje se voltassem, com gratidão, para uma
parceria com seus irmãos judeus messiânicos representados por
Salomão.
Em resposta à participação de Hirão, Salomão se dispôs a
compartilhar generosamente sua terra. Ele não estava disposto
apenas a receber. Ele se comprometeu a mandar trigo e azeite a
Hirão. Bênçãos foram derramadas sobre Hirão como resultado
imediato da sua parte na construção do templo. Aqui temos uma
imagem vívida da colheita (trigo) e da unção (óleo) que Deus deseja
liberar na vida de cada cristão que participa do renascimento de
Israel. Essa liberação celestial da graça e do poder de Deus é o
assunto do próximo capítulo.
CAPÍTULO CINCO
ONDE O ÓLEO DA UNÇÃO FLUI

Os galhos naturais e silvestres da


oliveira habitando em segurança mudam a
História

Salomão deu a Hirão vinte mil coros de trigo, para sustento


da sua casa, e vinte coros de azeite batido; e o fazia de ano
em ano. Deu o SENHOR sabedoria a Salomão, como lhe
havia prometido. Havia paz entre Hirão e Salomão; e fizeram
ambos entre si aliança. (1 Rs 5.11,12)
o fim da minha primeira viagem à Coreia, eu estava em Seul
N quando fui abordado por uma mulher coreana que eu conhecia
por ser uma dedicada intercessora por Israel. Ela pediu que eu
orasse por ela, e atendi o pedido, derramando uma gotinha de óleo
sobre a palma de sua mão. Uma forte e doce unção foi liberada, e
fui inundado por um pensamento gerado em Romanos 11:
“Quando os galhos naturais e os galhos silvestres se unem na
mesma antiga raiz, o óleo da unção de Deus flui. Quando os galhos
silvestres (crentes gentios) abraçam tanto as raízes judaicas da sua
fé no Messias quanto a sua aliança com seus irmãos judeus que se
reconectaram à raiz por intermédio de Yeshua, o óleo flui. E quando
os galhos naturais (crentes judeus em Yeshua) se alegram sem
aquele medo protetor, sabendo que os galhos silvestres pertencem
à oliveira, é liberado o azeite de unção. De uma única oliveira, todos
os galhos juntos fluirão livremente com o óleo da unção, para
quebrar o jugo do nosso povo Israel”.
Ciúme e inveja são os inimigos da presença de Deus. Nossa
tendência natural é comparar-nos aos outros para ver se temos tudo
o que eles têm. Estou sendo honrado da mesma forma? Sou
reconhecido como eu sinto que deveria ser? Em nossos dias, o
Corpo do Messias está finalmente redescobrindo suas raízes
judaicas. Trata-se de uma mudança fenomenal e muito bem-vinda.
No entanto, traz também a tentação para os gentios de sentir-se
inferiores e para os judeus de sentir-se superiores.
Isso também pode ameaçar os judeus messiânicos, que
algumas vezes se sentem sobrecarregados pelo grande volume de
cristãos gentios interessados nas “raízes judaicas” e em Israel. Por
outro lado, os mesmos gentios podem reagir em ressentimento e
ferir-se quando o seu entusiasmo é mal compreendido. Ainda outros
se tornam apaixonados “sionistas cristãos” políticos e falham
totalmente em relacionar-se com os judeus messiânicos. Uma
gotinha de azeite sobre uma mão coreana me ajudou a
compreender a solução de Deus para essas reações
desnecessárias e nada saudáveis.
Quando crentes gentios abraçam tanto as raízes judaicas da
sua fé no Messias quanto os seus irmãos judeus aliançados, sem
tentar tornar-se judeus, o óleo flui. Quando crentes judeus
regozijam, seguros, conhecendo a sua identidade e aceitando
abertamente os galhos silvestres como seus irmãos na Nova
Aliança, o óleo flui. De uma mesma oliveira, quando todos os galhos
estão seguros em seu relacionamento uns com os outros e em sua
dignidade no Senhor, o óleo flui.
Existe aqui um ingrediente humano, pessoal, que precisa ser
observado. Tem a ver com a nossa abertura uns para os outros.
Recebemos um grande número de visitantes em nossas instalações
em Israel. Isso é uma grande bênção. Ao mesmo tempo,
precisamos de um coração aberto para abordar cada nova pessoa
com apreciação e respeito pelo esforço que fez para ir a Israel nos
encontrar, visto que estamos localizados em uma região industrial
afastada e quase desconhecida. Na verdade, deixe-me aproveitar a
oportunidade para me desculpar com os muitos visitantes intrépidos
que, tentando nos encontrar, acabaram chegando mais perto do
final do culto do que do seu início por não ter conseguido encontrar
o lugar.
Estar aberto ao próximo significa demonstrar respeito mútuo,
reconhecendo o valor que cada um possui no plano de Deus.
Ambos temos algo a dar e a receber. Hirão enviou madeira e
trabalhadores a Salomão. O rei Salomão enviou trigo e óleo a Hirão.
É nessa troca que descobrimos a graça do Senhor e a maneira
como devemos cumprir o nosso papel no chamado que ele nos deu
– não tentando ser igual ao outro.
Alguém chamado, estando circunciso? Não desfaça a
circuncisão. Foi alguém chamado, estando incircunciso?
Não se faça circuncidar. (1 Co 7.18)
No primeiro século, a circuncisão não era considerada apenas
uma condição física, mas uma declaração de compromisso à
maneira de viver dada a Israel na Torá. O mesmo autor, o apóstolo
Paulo, acrescentou quando escreveu aos gálatas:
Porque, em Cristo Jesus, nem a circuncisão, nem a
incircuncisão têm valor algum, mas a fé que atua pelo amor.
(Gl 5.6)
Fico fascinado com o fato de que Deus está usando o
ressurgimento da comunidade judaico-messiânica para conduzir os
discípulos de Yeshua, tanto judeus quanto gentios, a uma posição
de humildade e reconhecimento mútuo. A pura verdade é que
precisamos uns dos outros. Yeshua não voltará até ouvir um número
suficiente de seguidores judeus clamando: “Bendito aquele que vem
em nome do Senhor” (Mt 23.39). Ele também não voltará até que os
seus seguidores gentios recebam os galhos naturais de volta na
oliveira da qual fomos cortados.
Dirijo-me a vós outros, que sois gentios! Visto, pois, que eu
sou apóstolo dos gentios, glorifico o meu ministério, para
ver se, de algum modo, posso incitar à emulação os do meu
povo e salvar alguns deles. Porque, se o fato de terem sido
eles rejeitados trouxe reconciliação ao mundo, que será o
seu restabelecimento, senão vida dentre os mortos? (Rm
11.13-15)
Pois, se foste cortado da que, por natureza, era oliveira
brava e, contra a natureza, enxertado em boa oliveira,
quanto mais não serão enxertados na sua própria oliveira
aqueles que são ramos naturais! (Rm 11.24)
A oliveira é usada de outra forma bem intrigante nas Escrituras
hebraicas. No capítulo 4 do livro de Zacarias, o autor pergunta: “Que
são as duas oliveiras à direita e à esquerda do candelabro?” (Zc
4.11). Ele vê dois ramos de oliveira, e ambos vertem óleo nos tubos
de ouro. O óleo que flui desses tubos acende todos os sete
candelabros que constituem a palavra divina de graça para o profeta
e a reconstrução do templo (vv.2-10). A passagem é concluída com
a revelação trazida pelo anjo: “São os dois ungidos, que assistem
junto ao Senhor de toda a terra” (Zc 4.14). Será que ele poderia
estar referindo-se a nós, judeus e gentios membros do Corpo do
Messias na Terra? Uau! Até mesmo a possibilidade de ficarmos ao
lado de Yeshua no fim desta era é empolgante.
Como podemos servir aos propósitos de Deus em nossa
geração? Essa é a principal questão por detrás deste livro. Eu quero
oferecer uma perspectiva sobre o papel dos gentios na nossa
redenção que os encorajará a ocupar o seu lugar de honra. E eu
quero ajudar meus irmãos judeus messiânicos a ver a posição
profética essencial que Deus tem para os nossos irmãos gentios
neste tempo, na nossa geração.
Há, sem dúvida, um poder e uma unção maiores que precisam
ser liberados neste fim dos tempos. As trevas estão crescendo. A
luz precisa aumentar a fim de que possa vencer e arrancar das
trevas aqueles que podem ser resgatados. Essa grande unção é
liberada quando judeus messiânicos são suficientemente seguros
para abraçar os gentios chamados para trabalhar no nosso meio e
quando crentes gentios são suficientemente seguros para saber que
não precisam tornar-se judeus nem se comportar como tais.
Romanos 11 exorta os discípulos não judeus a ter um coração
correto em relação a nós. Mas nós também precisamos de um
coração correto em relação a eles.
A intensidade com a qual Deus nos desafia a envolver-nos na
salvação uns dos outros é destacado de forma eloquente por
Yeshua logo antes de partir para o céu. Quando os discípulos
judeus perguntaram sobre o reino sendo restaurado para Israel, o
Rei lhes disse:
Respondeu-lhes: Não vos compete conhecer tempos ou
épocas que o Pai reservou pela sua exclusiva autoridade;
mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo,
e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em
toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra. (At 1.7,8)
É como se ele dissesse: “Sim, eu quero anunciar que sou o
Messias em Jerusalém. Mas, além disso, sinto peso pelos gentios
de Samaria que não parecem conectar-se com vocês e também por
todas as tribos existentes na face da Terra. Preguem a todos eles
também”.
Meu coração tem-se aberto para experimentar esse aspecto da
visão do Senhor em muitas partes do mundo. Mas isso nunca
aconteceu com a profundidade de quando eu estive no Japão.
O coração de Deus pelo Japão
Sentado com as pernas cruzadas no tatame de uma tradicional casa
japonesa, olhei através da janela para um jardim simples, mas
vibrante. Meus anfitriões, Takeo Muraoka e sua esposa, Tomoko,
haviam preparado um perfeito banquete, vegetais servidos
delicadamente, tofu, arroz, bife macio e chá verde. Com os
pauzinhos na mão, comi e conversei de forma excepcionalmente
tranquila e satisfatória. Parecia que eu havia entrado em um “fuso-
horário” muito diferente e bem mais civilizado.
O Japão abriu os meus olhos e me despertou compaixão. Ao
mesmo tempo em que me senti honrado e profundamente edificado
pelo refinado e artístico modo de vida no Japão, também me
entristeci com o alto índice de suicídio que exige a colocação de
barreiras com a finalidade de impedir que passageiros se joguem na
frente dos trens. Por um lado, é dada atenção à beleza, ao poder e
à elegância no design visual, e por outro lado, há um desespero e
insatisfação nas almas japonesas que as leva à morte.
Ao ouvir sobre o sentimento de dor no coração de Deus pelo
povo japonês, encontrei-me convocando os crentes de Tóquio e de
Osaka para “olhar para os campos que já estão prontos para a
colheita”. Muitos servos de Deus presentes ali, sinceros e
dedicados, perguntaram: “Como posso promover a salvação de
Israel?”. Tive o privilégio de falar sobre isso citando os profetas,
especialmente a declaração de Isaías de que: “os filhos dos
estrangeiros levantarão os seus muros”. No entanto, uma amizade
de aliança deve ser recíproca. Não é só com a salvação de Israel
que Deus se preocupa. Ele quer que “todos os homens sejam
salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade” (1 Tm 2.4).
Simeão declarou, em Lucas 2.32, claramente referindo-se a Isaías
42.6 e 49.6, que Yeshua seria: “luz para revelação aos gentios, e
para glória do teu povo de Israel”.
No capítulo seguinte (Lc 3.4,6), João Batista cita outra vez o
profeta Isaías, enfatizando a responsabilidade do Messias de
“preparar o caminho do Senhor” e ressaltando que, por intermédio
dele, “toda carne verá a salvação de Deus”. Toda carne? Isso é bem
inclusivo. Ninguém será deixado de fora. Você percebeu a
combinação na fórmula de Deus? O Salvador virá tanto para os
gentios quanto para Israel.
Precisamos orar para que Deus levante no Japão um
movimento de fé em Yeshua (e em todas as outras nações) que
utilize as formas criativas de expressão nativa que existem em cada
país.
Nada menos do que “vida dentre os mortos” é prometido
quando nós acertarmos esse relacionamento. Hirão e Salomão
acertaram. Eles andaram em amizade e compartilharam recursos; e,
assim, viram a glória de Deus repousar sobre a casa que
construíram para o Senhor. Isso nos motiva a descobrir nossa parte
nesse chamado como sacerdotes intercessores diante do trono de
Deus.
CAPÍTULO SEIS
SACERDÓCIO COMPARTILHADO

Um alemão e um judeu, diante do


trono, experimentam a sua gloriosa presença

Tendo os sacerdotes saído do santuário, uma nuvem


encheu a Casa do SENHOR, de tal sorte que os sacerdotes
não puderam permanecer ali, para ministrar, por causa da
nuvem, porque a glória do SENHOR enchera a Casa do
SENHOR. (1 Rs 8.10,11)
evei alguns segundos para perceber que dia era aquele. Era
L Yom HaShoah, dia da Memória do Holocausto. Mas eu não
estava em Israel; encontrava-me na Alemanha a convite do
príncipe Albrecht Castell. Foi muito significativo poder sentar-me
com um homem alemão que, hoje na faixa dos 80 anos, carrega
uma tristeza permanente por ter sido arrastado pela onda do
nazismo quando ainda era jovem durante o Terceiro Reich.
Meu decoroso anfitrião sugeriu que orássemos. Enquanto
orávamos pelo povo da Alemanha e de Israel, ambos começamos a
chorar quase sem perceber as lágrimas um do outro. Entretanto,
quando as lágrimas aumentaram, choramos nos braços um do outro
com o coração ternamente unido a Yeshua. Sentimos juntos a dor
do papel da Alemanha na autoria do extermínio de seis milhões de
judeus e, ao mesmo tempo, o abismo separando Israel e o seu
Messias.
Naquele ambiente pesado, pudemos sentir a fragrância de sua
graça. Será que era algo parecido com o “aroma agradável” ao qual
nos referimos quando um sacrifício agrada a Deus?
Na história antiga de Israel, o papel dos sacerdotes incluía a
santa tarefa de realizar sacrifícios de sangue. Isso por si só já era
uma forma de intercessão, pois garantia a expiação pelos pecados
dos israelitas arrependidos. Mas o ministério intercessor dos
sacerdotes também incluía um sério encargo em oração. Em Êxodo
28.29-30, temos uma imagem do sacerdote que deveria entrar no
Santo dos Santos, usando um colete adornado com doze pedras
preciosas representando as doze tribos de Israel. Deveria ser
colocado...
…sobre o coração de Arão, quando entrar perante o
SENHOR; assim, Arão levará o juízo dos filhos de Israel
sobre o seu coração diante do SENHOR continuamente. (Êx
28.30)
Não é por acaso que a dedicação do templo de Salomão e
Hirão foi acompanhada pelo ministério dos sacerdotes de Israel.
Mas naquela ocasião, a glória de Deus invadiu o templo, e eles não
puderam permanecer de pé enquanto tentavam conduzir os rituais
de sacrifício. A casa edificada por um judeu e um gentio, numa
duradoura demonstração de obediência conjunta ao Deus Altíssimo,
encheu-se da glória do Senhor. Essa é a glória que descerá sobre
nós à medida que exercitarmos juntos o chamado sacerdotal do
Senhor. Pedro captou esse chamado compartilhado citando Êxodo
19.6, que, no contexto original, havia sido declarado sobre Israel, e
aplicou a passagem aos crentes da Nova Aliança.
Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa,
povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de
proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das
trevas para a sua maravilhosa luz; vós, sim, que, antes, não
éreis povo, mas, agora, sois povo de Deus, que não tínheis
alcançado misericórdia, mas, agora, alcançastes
misericórdia. (1 Pe 2.9,10)
O profeta Joel menciona o chamado intercessório dos
sacerdotes ao descrever os últimos dias.
Chorem os sacerdotes, ministros do SENHOR, entre o
pórtico e o altar, e orem: Poupa o teu povo. (Jl 2.17)
Ele continua e promete as últimas chuvas e a colheita final,
acontecimentos notáveis em Israel, preparando o caminho para o
Rei Yeshua chegar. Aqui, Deus promete um derramamento no fim
dos tempos, após Israel voltar do exílio (Jl 3.1). Mas, antes, deve
haver intercessão sacerdotal com lágrimas:
Então [quando os sacerdotes vierem chorando], o SENHOR
se mostrou zeloso da sua terra, compadeceu-se do seu
povo e, respondendo [aquelas orações], lhe disse: Eis que
vos envio o cereal, e o vinho, e o óleo [todos símbolos de
fertilidade], e deles sereis fartos, e vos não entregarei mais
ao opróbrio entre as nações. (Jl 2.18,19)
O que se destaca aqui é que Joel vê os sacerdotes chorando. O
profeta diz que eles devem chorar ao interceder pela redenção de
Israel. As lágrimas são uma espécie de “vazamento” do coração.
Fomos feitos de uma maneira tal que, quando as nossas emoções
estão transbordando, é quase certo derramarmos lágrimas. As
emoções de Deus em relação à nação não arrependida de Israel
são demonstradas aqui. Ele ordena os seus sacerdotes
intercessores a participar de sua profunda compaixão pelo retorno e
o avivamento do seu povo perdido, Israel. Essa é uma condição
importante para intercessores judeus e gentios. Foi isso o que
experimentei com o príncipe Castell em terras alemãs.

Aquele que semeia com lágrimas colherá com alegria


O autor do Salmo 126 vai ao extremo de declarar que as lágrimas
são um prelúdio necessário para a alegria da colheita. Seria essa
uma das razões pelas quais ainda não vimos o retorno espiritual de
Israel e o arrependimento da nação, mesmo quando nos voltamos
para o coração de Deus e o buscamos? Há uma clara promessa
que acompanha esse choro enquanto se semeia.
Os que com lágrimas semeiam com júbilo ceifarão. Quem
sai andando e chorando, enquanto semeia, voltará com
júbilo, trazendo os seus feixes. (Sl 126.5-6)
Conhecido como “o profeta chorão”, Jeremias é tanto um
sacerdote quanto um profeta. Conforme Deus lhe mostrava como
Israel havia traído suas promessas paternas iniciais, o coração do
profeta se despedaçava. Totalmente destruído interiormente, ele
lamentou com as imortais palavras:
Prouvera a Deus a minha cabeça se tornasse em águas, e
os meus olhos, em fonte de lágrimas! Então, choraria de dia
e de noite os mortos da filha do meu povo. (Jr 9.1)
Isso sim é sentir o coração de Deus por seu povo perdido! Só
posso comparar essa experiência com o parto na dimensão natural.
É óbvio que nunca passei por essa experiência pessoalmente e só
posso seguir o relato de mulheres que a descreveram para mim.
Uma delas recentemente falou: “Pensei que minha vida fosse
acabar. Meu corpo estava virando do avesso. Não há como
descrever o quanto dói”. Mas ao ver o bebê em seus braços alguns
dias depois, era evidente que a sua alegria havia superado e muito
a agonia pela qual tivera de passar. Um deleite como esse nos
aguarda à medida que nos comprometemos a pagar o preço de ser
intercessores que choram, dando à luz um Israel ressurreto.
O relato bíblico de Ana, chorando, inconsolável em sua
esterilidade, espelha essa angústia. A todo custo, ela queria um
filho. Eli pensou que ela estivesse bêbada e fora de si ao
testemunhar o desespero de sua intercessão. Ela se entregou à
tristeza e ao anseio. Eu raramente senti esse nível de tristeza. Uma
vez, em uma conferência judaico-messiânica no norte da Virgínia,
comecei a imaginar meus parentes afundando em um inferno
inevitável. Eu não conseguia parar de chorar copiosamente. Eu
estava experimentando a separação de cada um deles da bondade
e misericórdia de Deus. Foi terrível e longo. Por suas lágrimas
sinceras, Ana recebeu a promessa do Senhor de ter um filho e
gerou o profeta Samuel.

As lágrimas de Yeshua
Yeshua chorou por Jerusalém. Ele não podia olhar para a cidade
sem ver a sua futura destruição. Seu grande desejo era a salvação
de Israel. Ele é o arquétipo do sacerdote (veja o livro de Hebreus),
tomando posição entre nós de um lado, em nosso estado de
futilidade totalmente merecedores do juízo, e Deus do outro lado,
com sua oferta de adoção, tornando-nos irrepreensíveis, sem culpa.
Embora Yeshua tenha vindo para as “ovelhas perdidas da casa
de Israel”, sua crucificação significa redenção para o mundo todo. É
como se ele tivesse “dado à luz” uma nova esperança, uma nova
realidade para todos os seres humanos por meio da sua carne. Não
é por acaso que o seu sofrimento é chamado de “paixão”. Ele
permitiu ser traspassado e rasgado por causa da nossa excruciante
necessidade de expiação. Isso é comparável a uma mulher que
suporta a agonia das dores de parto a fim de que possa dar à luz
um novo ser humano. Foi o seu ato intercessório e sacerdotal a
favor de toda a humanidade. Ele nos chama para sermos o “seu
corpo” neste mundo e nessa era a fim de que ele possa interceder
através de nós, levando tanto judeus quanto gentios a nascer de
novo.
Sacerdócio compartilhado foi o que o Senhor me mostrou
quando chorei juntamente com um príncipe alemão pelo fato de
nossas nações estarem perdidas. Essa posição privilegiada, diante
do propiciatório de Deus, é o lugar que ele nos chama para
ocuparmos juntos. Ao nos ajoelharmos em concordância, diante do
trono da graça, entrando em sua presença, reunidos como servos
judeus e gentios do Deus vivo, encontraremos o poder interveniente
de Deus para redimir Israel. A posição de chorar pelas ovelhas
perdidas de Israel é um lugar de humildade, totalmente fora dos
holofotes humanos.
No próximo capítulo, traçarei um paralelo entre a ressurreição
de um homem que já estava enterrado e a condição de Israel. Estou
convencido de que a história de Lázaro nos proporciona uma
imagem persuasiva da nossa atual posição de influência no
sepulcro, o local exato da ressurreição de Israel.
CAPÍTULO SETE
LÁZARO, VENHA PARA FORA!

Cristãos e judeus
messiânicos, profetizando para os ossos,
chamam Israel de volta à vida

Pôs-se Salomão diante do altar do SENHOR, na presença


de toda a congregação de Israel; e estendeu as mãos para
os céus e disse: Ó SENHOR, Deus de Israel, não há Deus
como tu, em cima nos céus nem embaixo na terra, como tu
que guardas a aliança e a misericórdia a teus servos que
de todo o coração andam diante de ti […] Quando o teu
povo de Israel, por ter pecado contra ti, for ferido diante do
inimigo, e se converter a ti, e confessar o teu nome, e orar,
e suplicar a ti, nesta casa, ouve tu nos céus, e perdoa o
pecado do teu povo de Israel, e faze-o voltar à terra que
deste a seus pais. (1 Rs 8.22,23,33,34)
Então, me perguntou: Filho do homem, acaso, poderão
reviver estes ossos? Respondi: SENHOR Deus, tu o sabes.
Disse-me ele: Profetiza a estes ossos e dize-lhes: Ossos
secos, ouvi a palavra do SENHOR. Assim diz o SENHOR
Deus a estes ossos: Eis que farei entrar o espírito em vós,
e vivereis. Porei tendões sobre vós, farei crescer carne
sobre vós, sobre vós estenderei pele e porei em vós o
espírito, e vivereis. E sabereis que eu sou o SENHOR. (Ez
37.3-6)
Eis que abrirei a vossa sepultura, e vos farei sair dela, ó
povo meu, e vos trarei à terra de Israel […] Porei em vós o
meu Espírito, e vivereis. (Ez 37.12,14)
m membro da congregação onde servi na década de 1980 foi
U acometido por um tumor reincidente no cérebro. Vários de nós
começamos a jejuar e orar fervorosamente, com o encargo de
que esse homem jovem e vibrante na faixa dos 30 e poucos anos,
um empresário casado e com duas filhas, não fosse
prematuramente para o céu. Estávamos orando e jejuando como
podíamos, mas, ainda assim, as condições de Michael pioraram
progressivamente até ficar confinado no leito em sua casa com
indicações claras de que logo morreria. Reunimos um grupo
pequeno certa noite, sabendo que a nossa missão era estar com a
esposa dele até o fim e, se possível, vê-lo curado mesmo no seu
leito de morte.
Enquanto os minutos se arrastavam, a respiração de Michael se
tornava cada vez mais lenta e fraca. Em meio às orações e
adoração silenciosas, simplesmente ouvíamos e observávamos os
acontecimentos com a sensação de impotência para reverter a
reivindicação da morte. Em dado momento, ele parou de respirar.
Sua pele foi gradualmente ficando empalecida e cinza. O quarto foi
tomado por uma tristeza impotente como se uma fumaça estivesse
subindo do chão para nos engolir.
Eu continuava olhando para o rosto dele e pensando: “Isso não
deveria estar acontecendo!”. Então, para citar uma frase muito
usada, veio o pensamento: “O que Yeshua faria?”. Essa pergunta
levou minha mente à resposta de Elias (1 Rs 18.21) e de Eliseu (2
Rs 4.34) em situações similares. Os dois profetas deitaram sobre
pessoas mortas para reestabelecer a vida delas.
Quanto mais eu lutava com aquela imagem, mais me sentia
compelido a fazer o mesmo. Eu não tinha qualquer desejo de me
deixar levar por um fanatismo presunçoso, mas estava determinado
a obedecer e desejava de todo o coração que meu amigo voltasse a
viver. Finalmente, criei coragem e me deitei bem em cima do recém-
morto. Coloquei a boca sobre a boca dele e soprei a minha
respiração. Fiz o mesmo ato repetidas vezes. Foi inútil. Ele estava
morto, e eu não conseguia ressuscitá-lo. Somente Deus pode
ressuscitar os mortos, e evidentemente não era sua intenção me
usar naquela noite para fazer isso.
Quando contemplamos a ressurreição, precisamos olhar para o
que muitos consideram a oração principal do livro de orações
judaico, a Amidah. Essa antiga oração apela a Deus com base em
seus atributos atemporais. Notavelmente, a categoria mais
mencionada é o fato de que é Deus quem ressuscita os mortos. Ele
é descrito dessa maneira nada menos do que seis vezes nos
parágrafos de abertura. Claramente, os nossos sábios a indicaram
como uma capacidade que identifica unicamente o Deus de Israel.
Eu concordo com eles e sou permanentemente marcado com
relação ao desafio de ressuscitar um homem morto, uma vez que
simplesmente desejá-lo de todo meu coração não foi suficiente para
ver essa maravilha acontecer.

A ressurreição de Israel
Israel é uma nação inteira que foi ressuscitada dentre os mortos! A
visão que Deus concedeu a Ezequiel no capítulo 37 hoje é fato
aproximadamente 2.600 anos depois do seu encontro profético no
vale dos ossos secos. Deus faz uma pergunta-chave ao profeta e
depois ele mesmo oferece a resposta.
Então, me perguntou: Filho do homem, acaso, poderão
reviver estes ossos? […] Assim diz o SENHOR Deus a estes
ossos: Eis que farei entrar o espírito em vós, e vivereis... (Ez
37.3,5)
Uma faceta que chamou a minha atenção é que Deus instruiu o
profeta a “profetizar para esses ossos” e dizer-lhes: “vivereis”.
Parece que há necessidade de um elemento da participação
humana de Ezequiel que Deus embute no processo. Ele precisa
usar a voz humana e declarar aos ossos aquilo que o Senhor, que
ressuscita os mortos, está declarando. O que isso tem a ver
conosco?
Como uma geração profética, estou convencido de que a nossa
missão dada por Deus é fazer exatamente o que Ezequiel fez. Mas
esse trabalho não é incumbência apenas dos judeus messiânicos.
Para ilustrar como eu vejo nossa participação conjunta em um papel
profético como o de Ezequiel, volto-me para um evento muito
significativo no livro de João, na Nova Aliança. Essa história contém
ambos os elementos, a ressurreição de Israel e o sacerdócio
compartilhado de crentes judeus e gentios, igualmente necessários
para trazer a ressurreição. É a história de Lázaro, a quem Yeshua
ressuscitou, relatada em João 11.
Lázaro representa Israel. Por que eu concluo isso de forma tão
rápida? O texto nos dá inúmeras indicações.
1. Lázaro estava morto havia muito tempo. Da mesma forma, a
nação de Israel estava morta havia muito tempo.
Chegando Jesus, encontrou Lázaro já sepultado, havia
quatro dias. (Jo 11.17)
2. As irmãs de Lázaro choravam amargamente (Jo 11.19, 31). O
povo judeu como um todo continua lamentando, de luto.
Esse é o pano de fundo de Israel como nação. Temos
lamentado, não por quatro dias, mas por séculos e séculos. Observe
a nossa história recente e a história antiga. Incluem terrorismo
jihadista, o Holocausto (1935-1945), os pogroms (massacres
racistas centrados na Ucrânia nos anos 1880), a Inquisição (1480-
1834; milhares de judeus foram queimados na fogueira pela Igreja
Católica, alguns deles verdadeiros seguidores de Yeshua que, como
nós, mantinham práticas fundamentadas na Torá), as Cruzadas
(1095-1291), a destruição dos dois templos (587 a.C. e 70 d.C.) e a
expulsão de inúmeros países.
3. Existe uma atmosfera de sofrimento e perda em torno de
Marta e Maria. Essa é exatamente a condição de Israel, seguida
de séculos de perseguição, especialmente após o Holocausto.
Podemos ver essa mesma emoção profeticamente em Noemi, a
mãe aflita do livro de Rute.
…porque, por vossa causa, a mim me amarga o ter o
SENHOR descarregado contra mim a sua mão. (Rt 1.13)
Porém ela lhes dizia: Não me chameis Noemi [agradável];
chamai-me Mara [amargurada], porque grande amargura me
tem dado o Todo-Poderoso. Ditosa eu parti [para a
diáspora], porém o SENHOR me fez voltar pobre; por que,
pois, me chamareis Noemi, visto que o SENHOR se
manifestou contra mim e o Todo-Poderoso me tem afligido?
(Rt 1.20-21)
No caso da irmã de Lázaro, Maria (cujo nome vem da mesma
raiz que Mara), os judeus a acompanhavam enquanto ela chorava
em amargo desapontamento por Yeshua não ter aparecido (11.33).
4. A família de Lázaro sentiu-se abandonada. Sião expressa
esse sentimento também.
A reação frustrada foi: “se estiveras aqui” (v.21). Isso é paralelo
ao resumo do desamparo em Isaías 49.14:
Mas Sião diz: O SENHOR me desamparou, o Senhor se
esqueceu de mim.
5. Yeshua “tinha a chave” para destrancar o túmulo de Lázaro.
Ele continua segurando a chave para destrancar o túmulo de
Israel.
Maria sabia que Yeshua tinha poderes para ressuscitar e
prostrou-se aos seus pés em adoração (11.32). Ela proclamou: “eu
tenho crido que tu és o Cristo, o Filho de Deus” (Jo 11.27). Isso traz
à lembrança a poderosa afirmação apocalíptica do segundo salmo:
“beijai o Filho...” (Sl 2.12). Evidentemente, essa é a autoridade que
traz Israel da morte para a vida: o reinado de Yeshua como o grande
Filho de Davi.
Porei sobre o seu ombro a chave da casa de Davi; ele
abrirá, e ninguém fechará, fechará, e ninguém abrirá. (Is
22.22)
6. Yeshua chorou (11.35). Devemos ser sacerdotes que choram.
No último capítulo, falei sobre sacerdotes que choram (Joel 2;
Salmos 126; Jeremias 9; e Hebreus 9-10, a respeito do sumo
sacerdote). Pelo nosso sacerdócio compartilhado, vemos o PODER
do JUDEU e do GENTIO intercedendo juntos. O profeta Joel
destaca essas lágrimas sacerdotais em Joel 2.17, e o salmista faz o
mesmo em Salmos 126.5,6. Foi isso que aconteceu comigo e o
príncipe Albrecht no dia da Memória do Holocausto (veja o capítulo
6, “Sacerdócio Compartilhado”).
A chave para Deus responder à oração por ressurreição é um
choro intercessório. É por isso que Yeshua chorou. Não era tanto
por estar triste pela morte de Lázaro, seu amigo. Eu creio que
Yeshua estava sintonizando-se à maneira como Lázaro
representava a morte de Israel e sinceramente desejando que o seu
povo voltasse à vida. Nossas lágrimas nos unem, com o coração
quebrantado, focados na salvação de Israel como prioridade de
Deus. Chegamos a uma única mesa, a mesa do Senhor, a mesa da
Nova Aliança. Agora exercitamos a nossa aliança e entramos no
Santo dos Santos, diante do PROPICIATÓRIO, para ver a salvação
de Israel!
O Senhor também chorou em Lucas 19. Yeshua olhou para
Jerusalém, pesaroso por causa do iminente exílio e expulsão da
nação. Então, enquanto expulsava aqueles que compravam e
vendiam no precinto do templo, ele enfatizou que a casa de Deus é
uma casa de oração. Por isso, para nós, restaurar a casa de Deus
como casa de oração é uma chave para a volta de Jesus. Quão
tocantes as palavras de Isaías ao juntar judeus e gentios como
agentes de oração para ressurreição!
Aos estrangeiros [crentes gentios] que se chegam ao
SENHOR, para o servirem e para amarem o nome do
SENHOR, sendo deste modo servos seus, sim, todos os que
guardam o sábado, não o profanando, e abraçam a minha
aliança, também os levarei ao meu santo monte e os
alegrarei na minha Casa de Oração; os seus holocaustos e
os seus sacrifícios serão aceitos no meu altar, porque a
minha casa será chamada Casa de Oração para todos os
povos. (Is 56.6,7)
7. Ele disse: “Tire a pedra!” (11.39). Por muito tempo, tem
havido “pedras” no caminho de Israel como obstáculos em sua
volta para Deus.
Apliquemos a questão aos tempos de hoje para a nação.
Remover a pedra que cobre o túmulo do nosso povo é nada menos
do que remover as pedras de tropeço do antissemitismo e da
teologia da substituição que impediram o povo judeu de encontrar o
seu Messias por aproximadamente dois mil anos. Como de
costume, Isaías previu isso.
Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do
SENHOR; endireitai no ermo vereda a nosso Deus. Todo
vale será aterrado, e nivelados, todos os montes e outeiros;
o que é tortuoso será retificado, e os lugares escabrosos,
aplanados. A glória do SENHOR se manifestará... (Is 40.3-
5a)
Passai, passai pelas portas; preparai o caminho ao povo;
aterrai, aterrai a estrada, limpai-a das pedras; arvorai
bandeira aos povos. (Is 62.10)
Yeshua removeu a pedra que selava o túmulo. Mas Lázaro
ainda tinha de sair.
8. “Não te disse eu que, se creres, verás a glória de Deus?”
(11.40). Se crermos em nossa geração, veremos a glória de
Deus.
Isaías 60 começa com uma exortação para Israel:
Levanta-te, resplandece, porque já vem a tua luz, e a glória
do SENHOR vai nascendo sobre ti. (Is 60.1)
O capítulo todo de Isaías 60 diz respeito à glória de Deus. A
palavra “glória” e os seus cognitivos aparecem frequentemente nos
livros dos profetas, sendo usada 70 vezes apenas em Isaías. A
revelação incomparável, à qual dedicarei todo o capítulo oito, fala
sobre a nação judaica e as nações gentílicas nos últimos dias.
Imediatamente após a declaração do profeta acerca da glória que
virá sobre Israel, ele inclui os gentios atraídos para a luz que brilhará
sobre ela (60.3). Existe uma interação planejada entre a
ressurreição de Israel e o envolvimento da fé das nações.
9. Yeshua intercedeu ao Pai diante do túmulo de Lázaro. (11.41-
42). De certa forma, era o túmulo de Israel.
Yeshua, nosso Sumo Sacerdote, intercedeu! Trata-se do ÚNICO
túmulo junto ao qual ele intercedeu por ressurreição. Estou
convencido de que essa é uma imagem da intercessão de Yeshua
pelo nosso avivamento como nação. É nessa situação que nos
encontramos profeticamente neste exato momento. Estamos
posicionando-nos como o Corpo de Yeshua na Terra diante do
túmulo de Lázaro/Israel.
A missão de Yeshua em frente ao túmulo era tomar uma
posição de intercessor que conhecia a vontade e os desígnios de
Deus. Essa também é a nossa missão. O desejo de Deus era trazer
Lázaro para fora do seu túmulo! O projeto anunciado por intermédio
dos seus profetas, especialmente de Ezequiel, é dar vida à sua
nação de ossos secos. Nós estamos totalmente envolvidos.
Devemos tomar o nosso lugar diante do túmulo de Israel, orar juntos
e exercitar a fé na ressurreição.
10. Yeshua permaneceu diante do túmulo de Lázaro. Juntos,
como seus discípulos, permanecemos diante de Israel.
Posicionado ali, encarando a morte face a face, Yeshua
exclamou em voz alta: “Lázaro, venha para fora!” (11.43). Essas
palavras são eletrizantes. Eu tento imaginar aquele momento. Há
eletricidade no ar. O Filho de Deus está repreendendo a morte e
trazendo um morto de volta à vida. Podemos comparar os capítulos
51 e 52 de Isaías nos quais Deus chama Sião para despertar como
se a nação estivesse no sono da morte. Os versículos seguintes são
extasiantes, e ele muda o foco para descrever a beleza daquele que
traz essas boas novas de salvação.
Que formosos são sobre os montes os pés do que anuncia
as boas-novas, que faz ouvir a paz, que anuncia coisas
boas, que faz ouvir a salvação [ yeshuah], que diz a Sião: O
teu Deus reina! [...] Rompei em júbilo, exultai à uma, ó
ruínas de Jerusalém! (Is 52.7,9a)
Isso é exatamente o que Lázaro fez depois de ser ressuscitado.
Ele proclamou salvação/Yeshua para sua geração. Ironicamente, os
principais sacerdotes e os fariseus tramaram contra Lázaro e, mais
ainda, contra Yeshua a partir daquele dia.
11. “Desatai-o e deixai-o ir.” (11.44). Hoje, Israel continua
lutando para se libertar.
Isso foi libertação da morte... para vida – uma dica de como
será o cumprimento de Ezequiel 37. Existe um processo de duas
etapas. A primeira consiste na ressurreição física, com ossos se
juntando, sendo cobertos por tendões, carne e pele (Ezequiel 37.7).
Porém, na segunda fase, fôlego/espírito/vento (todos estes termos
são a mesma palavra em hebraico bíblico: ruach) devem entrar nos
corpos inanimados.
A minha visão de Israel hoje é que ressuscitamos fisicamente.
Estamos vivos como povo, temos governo, economia, exército,
comunicação e educação de alto nível. Mas, espiritualmente, ainda
não chegamos à vida pelo Espírito de Deus. Como nação, só
podemos ressuscitar pelo Espírito do Deus vivo, o mesmo Espírito
que ressuscitou Yeshua (Rm 8.11). Milhares de cidadãos
israelenses são judeus messiânicos, mas 99,75% não o são.
Somos como Lázaro. Eu sinto isso aqui em Israel. Nossas
ataduras precisam ser removidas. Há alguns anos, eu estava em
São Paulo, e recebi uma “instrução” esquisita. Depois de terminar a
mensagem da noite, senti que deveria deitar-me no chão e ser
levantado pelas mãos dos meus irmãos e irmãs. A liderança
confirmou isso, e eu me deitei, na frente da congregação, totalmente
relaxado, tentando transformar meus pensamentos para os de um
homem à beira da morte.
Logo senti muitas mãos e braços me levantando. Foi uma
sensação maravilhosa. Senti-me inteiramente apoiado, sem
necessidade de coisa alguma e tomado por uma alegria vertiginosa.
Enquanto as pessoas me carregavam em volta da sala, cantando e
louvando a Deus, foi como se eu estivesse realmente
experimentando a sua vitória sobre a morte. Isso não aconteceu de
forma acidental, pois se tratava de crentes gentios dedicados,
segurando no alto um judeu messiânico e proclamando a vida de
Deus sobre a morte.
Então, me disse: Filho do homem, estes ossos são toda a
casa de Israel. Eis que dizem: Os nossos ossos se secaram,
e pereceu a nossa esperança; estamos de todo
exterminados. Portanto, profetiza e dize-lhes: Assim diz o
SENHOR Deus: Eis que abrirei a vossa sepultura, e vos farei
sair dela, ó povo meu, e vos trarei à terra de Israel. Sabereis
que eu sou o SENHOR, quando eu abrir a vossa sepultura e
vos fizer sair dela, ó povo meu. Porei em vós o meu
Espírito, e vivereis, e vos estabelecerei na vossa própria
terra. Então, sabereis que eu, o SENHOR, disse isto e o fiz,
diz o SENHOR. (Ez 37.11-14)
Assim como Lázaro precisou ter suas ataduras removidas, nós
precisamos experimentar arrependimento e avivamento. Estamos
aqui. Estamos vivos, mas, algumas vezes, permanecemos
imobilizados. É tempo de sermos mobilizados. Yeshua disse para os
presentes: “desatai-o e deixai-o ir”. Continuamos precisando da
ajuda de irmãos e irmãs com visão para todo esse fenômeno a fim
de sermos libertos e desatados.
12. “Muitos, pois, dentre os judeus [...] creram nele” (11.45).
Ansiamos para que isso aconteça — logo!
Lázaro precisa ser totalmente ressuscitado (o conjunto de todos
os judeus seguidores de Yeshua em Israel). Qual a importância do
milagre da ressurreição? O apóstolo nos diz, em 1 Coríntios 1.22,
que os judeus buscam um sinal. Não existe sinal maior do que a
ressurreição. O sobrenatural precisa ser restaurado. É por isso que
muitos judeus que viveram em Israel no primeiro século creram nele
logo após a ressurreição de Lázaro:
...a numerosa multidão que viera à festa [...] tomou ramos
de palmeiras e saiu ao seu encontro, clamando: Hosana!
(Jo12.12-13)
O passo seguinte é coroar Jesus como Rei de Israel: “Baruch
haBa baShem Adonai! Bendito aquele que vem em nome do
Senhor” (Sl 118.26; Mt 23.39).
Para resumir, esta é a sequência de eventos que aconteceu
com Lázaro. O Senhor nos chama agora para participar dessa
mesma sequência. Sacerdócio produz ressurreição. Primeiro,
Yeshua traz vida a Israel; o verdadeiro avivamento vem para a
comunidade messiânica na terra prometida. Depois, essa
ressurreição atrai a atenção de descrentes, e eles passam a crer.
Remover as ataduras indica uma comunidade livre e pronta para
proclamar Yeshua, uma comunidade que demonstra e atrai o poder
de Deus como anunciado pelos profetas Ezequiel e Joel.
Chorar juntos em intercessão é uma atitude que leva à
ressurreição da comunidade messiânica há muito tempo dormente.
Escolheremos viver com coragem e seguir Yeshua no seu caminho?
Você está lendo este livro porque Deus está buscando levar-nos
a uma parceria estratégica, a um relacionamento que o próprio
Altíssimo originou. Ele está levando-nos a capítulos adicionais do
Livro. São capítulos que ele nos convida a experimentar lado a lado.
Estamos diante do túmulo de Lázaro. Somos chamados para fazer
história juntos!
Aqui estão as oportunidades para cada nação:
1. REPRESENTAR o que Deus está fazendo em Israel por meio
do nosso trabalho, Tents of Mercy (Tendas de Misericórdia), e outros
ministérios.
2. COMPARTILHAR a ressurreição dos judeus messiânicos com
outros cristãos do seu país por meio de websites, informativos,
boletins de oração e levando grupos a Israel.
3. DESENVOLVER seus relacionamentos com equipes aqui de
Israel... para juntos vermos avivamento.
O rei Salomão levantou as mãos e clamou ao Senhor em favor
de Israel. Foi um momento crucial de renovo espiritual que foi
possível pela participação voluntária dos gentios que trabalharam
para construir o templo. Nós vivemos mais uma vez um tempo que
clama por renovo espiritual em Israel. Que o nosso sacerdócio
compartilhado mova o coração de Deus a fim de que envie
avivamento para esta terra.
CAPÍTULO OITO
A INCRÍVEL CHAVE DE ISAÍAS

Cinco pilares fundamentais da


participação dos gentios na redenção de Israel

Mandou o rei que trouxessem pedras grandes, e pedras


preciosas, e pedras lavradas para fundarem a casa.
Lavravam-nas os edificadores de Salomão, e os de Hirão, e
os giblitas; e preparavam a madeira e as pedras para se
edificar a casa. (1 Rs 5.17-18)
les vieram da Carolina do Norte e do Texas, Tennessee e
E Georgia com nomes como Bill e Bob, Ray e Steve. Eram
eletricistas e carpinteiros, pedreiros e encanadores. Vieram com
alegria, amor e em oração; e trouxeram suas habilidades e
ferramentas. Vieram em diferentes grupos a fim de nos ajudar a
construir as nossas instalações perto da Baía de Haifa, em Kiryat
Yam, Israel, como contei no primeiro capítulo. Era um prédio novo
bem próximo às linhas do trem em uma área industrial “escondida” à
qual quase ninguém sabia como chegar.
Nossos amigos das nações transformaram aquele lugar vazio
de concreto e blocos de cimento em um santuário, escritórios, salas
de aula, uma cozinha, um centro de distribuição e uma sala para
comunhão. Homens dedicados e simpáticos vieram dos Estados
Unidos para criar um centro congregacional de adoração, um centro
para ajuda humanitária e um lugar para a manifestação da
comunidade messiânica de Israel que estava ressurgindo.
Todos os que estávamos ali relembramos como foi quando
demos o grande passo de construir nossas instalações em 1998,
menos de um ano depois que fomos bombardeados, e outra vez em
2000, porque já tínhamos mais pessoas do que cabiam no novo
prédio. O trabalho dessas equipes foi um presente permanente e
enorme para a comunidade Tents of Mercy. Eles fizeram paredes,
assentaram pisos, construíram banheiros, instalaram armários e
prateleiras e passaram os fios elétricos para som e iluminação.
Por isso, quando eu leio o versículo seguinte de Isaías 60, só
posso aplicá-lo diretamente à experiência de receber “filhos dos
estrangeiros” que literalmente reconstruíram nossas paredes.
“Estrangeiros edificarão os teus muros, e os seus reis te servirão” (Is
60.10).
Entretanto, para explorar as promessas feitas neste capítulo de
forma total e inclusiva, precisamos voltar aos primeiros versículos.
Dispõe-te, resplandece, porque vem a tua luz, e a glória do
SENHOR nasce sobre ti. Porque eis que as trevas cobrem a
terra, e a escuridão, os povos; mas sobre ti aparece
resplendente o SENHOR, e a sua glória se vê sobre ti. As
nações se encaminham para a tua luz, e os reis, para o
resplendor que te nasceu. (Is 60.1-3)
Como aconteceu com os demais profetas bíblicos, a mensagem
de Isaías era uma mensagem de repreensão pelo pecado, um alerta
sobre o juízo e exílio vindouros e a promessa de um futuro glorioso.
Esses “videntes” contemplaram Israel restaurado, de volta à terra e
reavivados como povo adorando verdadeiramente ao Deus vivo,
purificado do pecado pelo Senhor dos Exércitos, nosso Redentor.
Quando lemos o capítulo 60, Isaías já havia falado sobre o conforto
de Deus para Israel (capítulo 40), sobre o Servo de Deus que
estabeleceria justiça na Terra, levaria os nossos pecados e faria
Deus conhecido entre as nações (capítulos 42, 43, 53) e a salvação
de Deus que traria restauração para Israel e luz para os gentios
(capítulo 46, 49).
A voz de Deus cresce até chegar a uma culminância quando
declara sua divina e eterna intenção de juntar novamente o seu
povo, Israel. Ele está determinado a levar-nos de volta à terra que
tantas vezes nos prometeu por aliança que seria nossa casa. Essa
cascata rapsódica de afirmações descrevendo o retorno,
arrependimento e avivamento do povo judeu a Eretz Yisrael (a terra
de Israel) foi imortalizada pelas melodias de George Frederick
Handel. A peça musical Messias, de Handel, celebra a vinda do
Messias Yeshua usando basicamente as profecias de Isaías. Sua
oratória antecipa não somente o aparecimento dramático e definitivo
do Messias como Rei sobre toda a Terra, mas também a renovação
da graça de Deus à família natural de Yeshua, o povo judeu.
O começo da comovente e imortal composição é: “Consolai,
consolai o meu povo, diz o vosso Deus” (Is 40.1). Essas palavras
declaram o sentimento imutável de Deus por Israel e preparam o
palco para as declarações posteriores de Isaías a respeito da
restauração histórica dos exilados como nação de volta à sua
própria terra.
No início de Isaías 60, o Senhor proclama que a sua luz por fim
brilhará de novo sobre Israel. Israel não apenas entrará em um novo
período de glória, mas isso acontecerá durante um tempo de trevas
no futuro. Será que o profeta poderia estar antevendo as trevas do
Holocausto e o ressurgimento miraculoso de Israel das suas cinzas?
A partir da referência que ele faz no capítulo seguinte, parece que é
exatamente isso.
O Espírito do SENHOR Deus está sobre mim, porque o
SENHOR me ungiu para pregar boas-novas aos
quebrantados, enviou-me a curar os quebrantados de
coração, a proclamar libertação aos cativos e a pôr em
liberdade os algemados; a apregoar o ano aceitável do
SENHOR e o dia da vingança do nosso Deus; a consolar
todos os que choram e a pôr sobre os que em Sião estão de
luto uma coroa em vez de cinzas, óleo de alegria, em vez de
pranto, veste de louvor, em vez de espírito angustiado; a fim
de que se chamem carvalhos de justiça, plantados pelo
SENHOR para a sua glória. (Is 61.1-3)
Um ingrediente deste capítulo empolgante o separa de quase
todos os outros escritos proféticos. Ele contém cinco elementos
completos da participação dos gentios no fenômeno da restauração
de Israel. Quando Isaías diz que “gentios virão para sua luz”, ele
está abrindo áreas quase inexploradas. É um assunto mencionado
por Ezequiel ao descrever o retorno do exílio, mas sem muitos
detalhes: “...as nações saberão que eu sou o SENHOR” (Ez 36.23).
Zacarias está entre aqueles que viram as nações do mundo
juntando-se à celebração do retorno do Rei para governar
eternamente sobre a Terra (Zc 14.9). Contudo, Isaías vai muito além
e oferece detalhes e conteúdo, provendo uma lista de tarefas dadas
por Deus aos gentios atraídos à luz que brilhará sobre Israel. A
sintonia entre os eventos é preciso e perfeito! Esse fenômeno ocorre
enquanto o palco da História se prepara para receber o Salvador e
Rei, o conquistador Yeshua HaMashiach.
Para o gentio que “vem para a luz”, não se trata de um papel de
mero espectador. Deus deseja que nós saibamos o lugar de
importância para o qual ele está chamando seus seguidores entre
as nações. Não é nada menos do que o papel de parteira, o trabalho
da parteira que exorta e capacita a mãe a dar à luz o seu filho. A
seguir, as cinco facetas que encontrei em Isaías 60.

1. ALIYAH (o retorno da diáspora para Israel)


Ele disse: “…teus filhos chegam de longe, e tuas filhas são trazidas
nos braços” (60.4). Essa imagem é repetida nos versículos 8 e 9.
Quem são estes que vêm voando como nuvens e como
pombas, ao seu pombal? Certamente, as terras do mar me
aguardarão; virão primeiro os navios de Társis para
trazerem teus filhos de longe e, com eles, a sua prata e o
seu ouro, para a santificação do nome do SENHOR, teu
Deus, e do Santo de Israel, porque ele te glorificou. (Is
60.8,9)
O que vem à minha mente são aviões e navios (“estes que vêm
voando... os navios de Társis”). São exatamente os meios de
transporte já usados para trazer milhares de judeus de volta à sua
terra natal. Eu voei em uma dessas “pombas”, imigrando para Israel
com a minha esposa e filhos das “terras do mar” da América em
1992.
Alguns ministérios cristãos com o desejo de levar os judeus
para o território de Israel, especialmente da antiga União Soviética
(“a terra do norte”), fretaram literalmente aviões e navios. Nomes
como Operação Jabotinsky, Operação Êxodo e o Fundo Ebenézer
fizeram história ao providenciar meios para a volta dos exilados de
Israel à Terra Prometida depois de aproximadamente dois mil anos.
Isaías viu esses gentios e os seus vasos de misericórdia.

2. RECURSOS
Haverá um transbordamento de recursos financeiros e materiais
para Israel proveniente dos amigos gentios.
Então, o verás e serás radiante de alegria; o teu coração
estremecerá e se dilatará de júbilo, porque a abundância
do mar se tornará a ti, e as riquezas das nações virão a ter
contigo [...] trarão ouro e incenso e publicarão os louvores
do SENHOR... (Is 60.5,6)
As tuas portas estarão abertas de contínuo; nem de dia
nem de noite se fecharão, para que te sejam trazidas
riquezas das nações, e, conduzidos com elas, os seus reis.
Porque a nação e o reino que não te servirem perecerão;
sim, essas nações serão de todo assoladas. (Is 60.11,12)
A multiplicação de investimentos gentios em Israel em todos os
níveis é impressionante. Nos nossos 20 anos nessa terra, vimos um
aumento de igrejas e cristãos, literalmente de todos os continentes,
desejosos de contribuir financeiramente e ajudar a terra e o povo de
Israel. Como judeus messiânicos, vemos essa parceria como um
crescimento natural da aliança comum que temos em Yeshua. O
apóstolo Paulo exortou os crentes gentios na sua carta aos romanos
dizendo: “porque, se os gentios têm sido participantes dos valores
espirituais dos judeus, devem também servi-los com bens materiais”
(Rm 15.27).

3. INTERCESSÃO
Quando Isaías diz: “Estrangeiros edificarão os teus muros” (Is
60.10), isso pode ser aplicado literalmente como eu fiz no início
deste capítulo. Muitos ministérios das nações fizeram um trabalho
similar e continuam a fazê-lo. Como exemplo, cito o trabalho do
Joshua Fund, iniciado pelo autor de best-sellers Joel Rosenberg,
que tem cruzado Israel e o Oriente Médio, semeando os recursos
doados por cristãos devotos. O investimento em “edificar os muros”
é enorme. E este é apenas um de muitos ministérios cristãos que
oferecem ferramentas à comunidade de crentes ressurgente em
Israel.
Entretanto, essa promessa também pode ser aplicada
espiritualmente. Vou explicar o que eu quero dizer. Dois capítulos
adiante, Deus declara:
Sobre os teus muros, ó Jerusalém, pus guardas, que todo
o dia e toda a noite jamais se calarão; vós, os que fareis
lembrado o SENHOR, não descanseis, nem deis a ele
descanso até que restabeleça Jerusalém e a ponha por
objeto de louvor na terra. (Is 62.6,7)
Esses versículos são amplamente interpretados como uma
descrição do trabalho espiritual da oração intercessória que deve
ser apresentado ao Senhor até que ele restaure Israel para a sua
glória plena como povo ressurreto, adorando e recebendo o seu Rei,
Yeshua. Essa é a forma como eu interpreto esta passagem.
Portanto, quando o mesmo profeta se refere a “muros” algumas
páginas antes, sou compelido a aplicar essa definição àqueles que
reconstroem os muros. Assim, os “filhos dos estrangeiros” que estão
reconstruindo os muros não são ninguém menos do que os irmãos
gentios, “os que fareis lembrado o SENHOR” (62.6).
Isso é empolgante! Significa que Deus antecipou a necessidade
urgente de que as nações orassem em forte intercessão em favor
de Israel no fim desta era. Num completo e surpreendente
cumprimento desse quadro profético, existem milhares de grupos de
oração dedicados ao redor do mundo, sendo “atalaias sobre os
muros”, implorando com devoção para que o Governante do
universo restaure Jerusalém como a sede do seu reino.

4. REJEITANDO o antissemitismo.
Em seguida, temos a sóbria declaração do versículo 14:
Também virão a ti, inclinando-se, os filhos dos que te
oprimiram; prostrar-se-ão até às plantas dos teus pés
todos os que te desdenharam e chamar-te-ão Cidade do
SENHOR, a Sião do Santo de Israel. (Is 60.14)
A primeira vez que eu pisei na Alemanha foi difícil para mim.
Havia lembranças emotivas da “aflição” que vivenciamos no
passado como povo “desprezado” naquela nação. Mas Deus me
pegou de surpresa enquanto eu participava de um encontro de
líderes alemães e israelenses, todos seguidores de Yeshua.
Estávamos visitando a Mansão Wannsee nos arredores de Berlim.
Esse prédio do governo hoje abriga um museu do Holocausto, mas,
em 1943, foi o local onde o alto comando de Hitler criou a “Solução
Final”.
Nosso grupo se encontrava no andar superior, onde a
desprezível discussão aconteceu, tramando a erradicação absoluta
do povo judeu. De forma sóbria, todos voltados ao Senhor,
começamos a adorar suavemente em quebrantamento. Logo, cada
coração havia voltado a atenção para a misericórdia de Deus.
Tomados pela memória de tamanho ódio e extermínio, o que mais
poderíamos ter feito?
Lentamente, nossos parceiros alemães se prostraram ao chão
com o rosto no carpete bem ao lado dos nossos pés. Assim como o
profeta visualizou, os mesmos indivíduos cujos pais nos enviaram
em massa para o extermínio nos fornos agora se prostravam diante
de nós! Não contentes em ter pessoas prostradas diante de nós, e
sendo movidos pelo mesmo Espírito, respondemos com gentileza,
inclinando-nos ao lado deles. Logo, todo o chão estava coberto de
alemães e judeus, adorando a Yeshua e chorando em intercessão
pelo outro povo. O cumprimento de Isaías 60.14 foi mais literal do
que eu poderia imaginar.

5. NUTRIR
Finalmente, chegamos ao enigmático versículo 16 – uma verdadeira
impossibilidade biológica. Não obstante, o profeta declara:
“Mamarás o leite das nações e te alimentarás ao peito dos reis”.
Ãhn? Sobre o que ele está falando? A imagem que imediatamente
me vem à mente é a de 1 Pedro 2.2: “desejai ardentemente, como
crianças recém-nascidas, o genuíno leite espiritual...”. Que outro
leite eu poderia receber dos gentios senão o da Palavra?
Foi então que me lembrei dos dedicados, sinceros e sábios
professores da Bíblia que eu tive na década de 1970. Eram reis
gentios (no sentido espiritual); e eles certamente me convidaram
para beber do seu conhecimento – para ser alimentado pelo rico e
cremoso leite do Espírito que me nutriu naquele tempo fundamental.
Mesmo hoje, importantes ensinamentos e treinamentos
baseados na Bíblia vêm da parte dos nossos irmãos gentios. É
verdade que, nos últimos 30 anos, meus irmãos judeus messiânicos
contribuíram com muitos livros e avanços históricos no
entendimento dos propósitos de Deus. Muito antes da nossa
geração, mestres judeus providenciaram uma perspectiva espiritual
por milênios. Ainda assim, a maior parte das instruções que
surgiram do seu Espírito continua sendo recebida de fontes não
judaicas.
O profeta termina o versículo 16 da seguinte forma:
...saberás que eu sou o SENHOR, o teu Salvador, o teu
Redentor, o Poderoso de Jacó. (Is 60.14b)
Ele está conectando o conhecimento de Deus – sua graça
salvadora e a revelação da sua Majestade, o Rei no fim dos tempos
– a um empreendimento conjunto de judeus e gentios discípulos de
Yeshua no fim desta era. Uau!
As pedras e a madeira que Salomão e Hirão usaram não foram
capazes de conter o peso da glória de Deus na mesma medida que
é possível agora, com judeus e gentios, como pedras vivas, sendo
construídos juntos para ser uma única casa e santuário para o
Senhor.
CAPÍTULO NOVE
O RETORNO DO FILHO PERDIDO

Uma parábola antiga prediz um


fenômeno contemporâneo

Então, caindo em si, disse: [...] Levantar-me-ei, e irei ter com


o meu pai, e lhe direi: Pai, pequei contra o céu e diante de ti;
já não sou digno de ser chamado teu filho; trata-me como
um dos teus trabalhadores. (Lc 15.17-19)
este capítulo, iremos analisar o significado do filho perdido na
N parábola de Yeshua. Mas, em primeiro lugar, permita-me
compartilhar a história de outro pródigo. Eu sei o que é ser um
filho perdido, porque eu mesmo fui um.
Nascido durante a prosperidade da década de 1950 e
assimilado à cultura americana, cresci no sul da Califórnia durante o
boom que houve naquela região. É como se toda a nação de
repente percebesse que o estado “ensolarado” era o lugar perfeito
para os filmes, TV, surfe e Disneylândia.
Minha mãe era judia, meu pai, gentio, filho de imigrantes
cristãos ortodoxos da Bulgária. Meus pais eram ambos humanistas
liberais no que diz respeito a filosofia, política e religião. Portanto, a
única experiência de “igreja/sinagoga” que eles podiam tolerar era
universalismo unitário. Não éramos nem judeus nem cristãos.
Durante a adolescência, eu achava que sabia mais sobre a vida
do que eles. Depois de um tempo, saí de casa. Apesar de
mantermos bom contato durante aqueles anos de busca, nunca
mais voltei a viver com eles depois de me formar no ensino médio.
Logo percebi, porém, a dor e as dificuldades envolvidas nos
desafios da vida, e me dei conta de que não era tão fácil endireitar o
mundo. Talvez, eu estivesse no caminho para um despertamento de
“filho pródigo”. Parecia que, quanto mais eu me dedicava a acabar
com a guerra e a intolerância, mais difícil ficava alcançar esses
objetivos.
No fim de 1967, fui preso, acusado de “perturbar a paz” durante
uma manifestação contra a guerra. Comecei a pensar. Será que eu
realmente estava me tornando uma pessoa melhor com tudo isso?
Ou meu coração endurecia à medida que eu tentava mudar o
sistema, opondo-me ao que eu pensava ser errado, mas falhando
em apresentar qualquer alternativa real? Neste ponto, eu realmente
me sentia distante dos meus pais com sua perspectiva mais
convencional.
Em seguida, encontrei meu verdadeiro amor, Connie. Embora
ainda não conhecêssemos o Senhor e tivéssemos crescido em
lados opostos dos Estados Unidos, Deus, de alguma forma
miraculosa, juntou a minha vida com a dela. É uma história muito
longa para ser contada aqui, mas aconteceram diversos incidentes
da providência e graça de Deus. Nós nos casamos em janeiro de
1969 e imediatamente nos dirigimos à terra de encantamentos, o
Novo México, para começar a nossa vida comunitária de cultivo da
terra e retorno à natureza.
Vários anos após o início deste período de experimento, um
amigo muito próximo foi assassinado por um estranho que passava
por ali. Aquilo parecia o fim do nosso sonho. O experimento havia
falhado. Nós não havíamos criado algo utópico; pelo contrário,
tínhamos perdido um irmão querido. Agora eu não sabia para onde
me voltar. Então olhei em direção ao céu e clamei a um Deus que
eu nunca conhecera. Eu nem tinha certeza de que ele existia. “Se tu
estás aí em cima, eu gostaria de saber o que aconteceu com o meu
amigo, e por que as coisas não estão funcionando da forma como
pensávamos”.
Essa oração desesperada foi respondida de uma forma
totalmente inesperada, pela chegada de uns indivíduos que
pareciam hippies. Eles eram da “Costa Leste” e estavam
acampados do outro lado da montanha naquele inverno. Uma noite,
enquanto nos falavam sobre o amor de Deus, sobre Yeshua, sua
Pessoa e obras milagrosas e sobre o seu sacrifício de si mesmo, eu
tive uma visão.
Eu o vi. Eu vi Yeshua na cruz enquanto ele morria por mim.
Aquilo foi tão fascinante, tão revelador que eu fui convencido
naquele exato momento e também agora (mais de 40 anos depois)
de que aquela era a resposta que eu buscava. Eu me ajoelhei com
meu amigo Russell, outro judeu refugiado da cidade, e pedi a Jesus
que me perdoasse e purificasse. Foi assim que comecei uma nova
jornada que eu jamais poderia ter imaginado.
Foi somente pela transformação do meu coração, habitado por
Yeshua após a minha salvação, que o meu relacionamento com
meu pai e minha mãe realmente mudou. Eu me arrependi por ter
causado tanta dor na vida deles. Eu comecei a orar por eles.
Nossos encontros eram sempre uma reunião especial, enriquecida
pela companhia da minha esposa, Connie, e os nossos quatro
filhos, David, Hannah, Avi e Sigal.
Com o passar do tempo, enquanto ainda era relativamente novo
na fé, voltei-me para as minhas raízes judaicas perdidas,
descobrindo as raízes hebraicas da Nova Aliança. Embora meus
pais nunca tivessem recebido Yeshua abertamente, eu sei que eles
apreciavam muito as mudanças que viram em mim. Puderam
enxergar a estabilidade duradoura de nossa família, fundamentada
na aliança com Deus.
Depois de uma vida de protestos de rua, uso de drogas, shows
de rock e comunidades rurais, eu voltei para “casa”. Até mesmo ter
um número de telefone normal para o qual os meus pais pudessem
ligar era revolucionário. Nós nos reintegramos à economia e à
sociedade dos Estados Unidos da América depois de quase seis
anos buscando viver de forma primitiva nas montanhas do norte do
Novo México (janeiro de 1969 a outubro de 1974). Abraçamos essas
“concessões” ao ideal inicial de sermos ecologicamente puros e
vivermos de forma orgânica, porque sabíamos que havia muitos
outros filhos e filhas perdidos na sociedade que havíamos deixado.
Talvez pudéssemos ajudá-los a voltar para casa.
Ambos os meus pais morreram aos 94 anos de idade em 2011.
Eu os amava muito. Papai era forte, prático e totalmente devoto à
sua família. Mamãe foi uma mulher brilhante e criativa. Ela era
professora, escritora e adorava viajar. Fazer longas viagens até o
Oregon a fim de ficar com a minha irmã e ajudá-la a cuidar dos
nossos pais, durante os seus últimos dias, foi uma das experiências
mais marcantes da minha vida. Não foi fácil. Mas Deus me mostrou
seu coração em relação ao meu pai e à minha mãe. Isso é
exatamente o que aconteceu com o filho pródigo.

Um Filho Perdido
Na história de Lucas 15, um filho toma a sua herança antes do
tempo enquanto o pai ainda está vivo. Alguns estudiosos afirmam
que isso era um verdadeiro insulto, um tapa na cara do pai. Outra
palavra para designar essa atitude é chutzpah. O filho sai em busca
de aventura, diversão e talvez até fama. O problema é, obviamente,
que as suas finanças acabam muito antes do esperado. Outra
dificuldade é que ele havia destruído as possibilidades de voltar
atrás. Seu relacionamento com a família foi destruído. Ele se tornou
arrogante, egoísta e insensivelmente independente. Assim, ele
acaba entre os porcos, no chiqueiro; nada menos!
A imagem do pródigo deixando a casa do pai não o faz pensar
no nosso povo? Certa vez, comecei a vê-la como uma
representação da saída do povo judeu da família de Deus e não
consegui parar de pensar nisso. Eu sei que essa ideia viola a típica
fórmula de “filho mais velho indicando os judeus; filho mais novo
simbolizando os gentios”. Mas, por favor, deixe isso de lado por um
momento. Deus quer nos mostrar algo aqui.
Se olharmos para o filho pródigo como alguém “tomando a sua
herança” e desperdiçando os seus dons como talentos numa “terra”
distante de casa, será que conseguiremos enxergar uma metáfora
dos judeus no exílio? Sim, temos sido abençoados em alguns
lugares, em algumas épocas, entre os gentios. Ao mesmo tempo,
por meio de lutas, sofrimento e dedicação, mantivemos um vestígio
do nosso chamado de ser o povo da aliança. Mas o ponto principal é
que, até o advento do atual estado de Israel, com a sua “lei de
retorno”, permanecemos perambulando perdidos, e as bênçãos
foram mais residuais do que imediatas.
Na história de Yeshua, o filho perdido cai em si. Os versículos
17 e 18 são o ponto de transição. Profeticamente, isso faz paralelo
com Deuteronômio 30.1-3,5 e Oseias 3.4,5, passagens que falam
sobre Israel voltando-se ao Senhor depois de “muitos dias” de
diáspora:
Quando, pois, todas estas coisas vierem sobre ti, a bênção
e a maldição que pus diante de ti, se te recordares delas
entre todas as nações para onde te lançar o SENHOR, teu
Deus; e tornares ao SENHOR, teu Deus, tu e teus filhos, de
todo o teu coração e de toda a tua alma, e deres ouvidos à
sua voz, segundo tudo o que hoje te ordeno, então, o
SENHOR, teu Deus, mudará a tua sorte, e se compadecerá
de ti, e te ajuntará, de novo, de todos os povos entre os
quais te havia espalhado o SENHOR, teu Deus. O SENHOR,
teu Deus, te introduzirá na terra que teus pais possuíram, e
a possuirás; e te fará bem e te multiplicará mais do que a
teus pais. (Dt 30.1-3,5)
Porque os filhos de Israel ficarão por muitos dias sem rei,
sem príncipe, sem sacrifício, sem coluna, sem estola
sacerdotal ou ídolos do lar. Depois, tornarão os filhos de
Israel, e buscarão ao SENHOR, seu Deus, e a Davi, seu rei;
e, nos últimos dias, tremendo, se aproximarão do SENHOR
e da sua bondade. (Os 3.4,5)
O rapaz desiludido se arrepende: “Pai eu pequei contra o céu e
contra ti”. O que acontece em seguida reflete incisivamente a
natureza misericordiosa de Deus no sentido de que sejamos
profundamente tocados sempre que lermos essas palavras. A
compaixão incrível do pai demonstra o coração de Deus pelo
“rebelde” Israel. Os paralelos são simplesmente muito poderosos
para passar despercebidos.

O perdão acolhedor do Pai


Na cena seguinte, vemos o pai correndo em direção ao filho e o
abraçando ao invés de culpá-lo ou repreendê-lo. Esse é um pai que
intercedeu provavelmente todos os dias. É um pai que desejava a
restauração do filho, não a sua destruição.
Acaso, pode uma mulher esquecer-se do filho que ainda
mama, de sorte que não se compadeça do filho do seu
ventre? Mas ainda que esta viesse a se esquecer dele, eu,
todavia, não me esquecerei de ti. (Is 49.15)
Acaso, se esquece a virgem dos seus adornos ou a noiva
do seu cinto? Todavia, o meu povo se esqueceu de mim
por dias sem conta. (Jr 2.32)
…Vinde, e unamo-nos ao SENHOR, em aliança eterna que
jamais será esquecida. (Jr 50.5)
Desposar-te-ei comigo para sempre... (Os 2.19)
“Senhor, para sempre?” Eu o ouço dizendo: “Sim, para todo
sempre Israel será minha amada. Nada nos separará de forma
definitiva. Vocês voltaram, contra todas as probabilidades, como eu
sempre acreditei que voltariam”. Sua última afirmação é: “meu filho
estava morto e reviveu” (Lc 15.24). É relevante lembrar nesse ponto
que a Amidah, a oração principal do judaísmo, declara diversas
vezes que é Deus quem ressuscita os mortos (veja capítulo 7:
“Lázaro, Venha para Fora!”).
A história contada por Yeshua não diz respeito apenas ao
coração de Deus por pecadores que se arrependem. Simboliza o
coração de Deus Pai por sua ovelha, Israel, que andou vagando por
quase dois mil anos entre as nações. Gastamos a nossa “herança”
tentando estabelecer vida fora da terra de Israel. Mas isso tem-se
mostrado inútil. Temos apenas uma casa: Israel. É onde
pertencemos. Ajudem-nos a voltar. Ajudem-nos a florescer. Ajudem-
nos a voltar para o nosso Pai. Precisamos da ajuda dos nossos
irmãos gentios, o irmão que ficou em casa.
Enquanto isso, de volta à fazenda, o irmão mais velho está
“irritado” para dizer o mínimo. Ele alega: “Eu o servi todos esses
anos (pense na história “da Igreja”). Você nunca me deu nada.
Agora esse seu filho devasso, réprobo, pensa que pode aparecer
por aqui e continuar a vida de onde ele a deixou. De maneira
alguma. Existe um limite”.
Se isso não cheira à teologia da substituição, não sei o que
mais pode ser.[5] É exatamente o que Paulo estava tratando em
Romanos 11.17-24 quando basicamente disse: “Não sejais
arrogantes. A mesma coisa pode acontecer com vocês”. O irmão
ressentido está sendo arrogante: “Agora, nós, (a Igreja) somos
Israel. O filho perdido perdeu o lugar. Ele se rebelou. A herança
agora é minha. Esqueça-o. Mesmo que ele (Israel) esteja de volta,
pode servir tão somente nas condições que eu determinar”.
O pai, tomado por alegria, responde ao filho que tentava se
justificar: “Filho, você não perdeu nada por ele ter voltado. O reino
continua sendo seu. Minha casa tem muitas moradas. Você está
perdendo o foco. Seu irmão (Israel) estava morto e agora está vivo.
Ele estava perdido e agora foi encontrado”. Isso ecoa a jubilosa
proclamação de Isaías:
Assim voltarão os resgatados do SENHOR e virão a Sião
com júbilo, e perpétua alegria lhes coroará a cabeça; o
regozijo e a alegria os alcançarão, e deles fugirão a dor e o
gemido. (Is 51.11)
Quero propor um final alternativo para essa história. Ela carrega
a mensagem deste livro. Eu ouço o coração do Pai apelando ao filho
que “ficou em casa”, sua Igreja, para celebrar com ele o milagroso
retorno do filho judeu. Porque a volta de Israel para Yeshua é
verdadeiramente como o filho perdido voltando para casa.
Nessa resposta agradável a Deus, eu vejo crentes ao redor do
mundo vindo para o “banquete” dado pelo próprio Deus. Eles estão
louvando ao Pai pelo renascimento de judeus e judias por meio do
evangelho de Yeshua HaMashiach. Eu vejo um irmão alegre em
lugar do irmão ressentido apresentado na Escritura. Ele está
regozijando conosco. Como Jeremias 31.7 declara:
Cantai com alegria a Jacó, exultai por causa da cabeça das
nações; proclamai, cantai louvores e dizei: Salva, SENHOR,
o teu povo, o restante de Israel.
CAPÍTULO DEZ
A TORÁ É PARA OS GENTIOS?

Buscando respostas para


perguntas honestas e urgentes

Visto sabermos que alguns [que saíram] de entre nós, sem


nenhuma autorização, vos têm perturbado com palavras,
transtornando a vossa alma, pareceu-nos bem, chegados a
pleno acordo, eleger alguns homens e enviá-los a vós
outros com os nossos amados Barnabé e Paulo. (At
15.24,25)
ivemos numa época em que o Espírito está inspirando muitos
V cristãos a amar Israel e valorizar as raízes judaicas da Nova
Aliança. Essa é uma revolução bem-vinda. Depois de 1.800
anos de antissemitismo em nome de Jesus Cristo, o povo judeu está
pronto para as honras e afeições que agora recebe de parte da
Igreja. Shofares podem ser ouvidos nas igrejas durante os cultos.
Bandeiras de Israel e cartazes proclamando as raízes hebraicas da
fé na Nova Aliança podem ser vistos nos santuários de
congregações cristãs. Essa mudança é grande e histórica! Nos
últimos 40 anos, vimos surgir muitos ministérios que se dedicam a
apoiar Israel. Eles promovem a conscientização das raízes judaicas
do Evangelho e ajudam o povo judeu a encontrar o seu Messias
sem ter de tornar-se gentio.
Com uma onda dessas de entusiasmo visionário, é
compreensível que a maneira como vivem os judeus hoje pareça
atrativa aos cristãos gentios preocupados com Israel. Como
podemos saber onde encontrar o equilíbrio? O que é necessário? O
que é permitido? Todos, judeus e gentios, devem viver de acordo
com a Torá? Se não, como os crentes gentios podem demonstrar
solidariedade aos crentes judeus?
Primeiramente, o ensinamento claro tanto da Nova Aliança
quanto das Escrituras Hebraicas é que guardar a Lei de Moisés não
traz salvação. Salvação é pela graça, por meio da fé, para todos os
que creem, tanto judeus como gentios (Gn 15.6; Hc 2.4; Ef 2.8; Rm
1.16; Gl 2.16). Portanto, um indivíduo não pode ser “mais salvo” ou
“mais espiritual” por abraçar as exigências da Torá. Se fosse assim,
o valor absoluto do sangue do Messias seria diminuído.
Diante de tantos sentimentos pesados, convicções e ofensas
em torno desse assunto, devemos esclarecer algumas questões
mais presentes. Seria presunçoso achar que tenho todas as
respostas, mas a seguir apresentarei algumas das principais
perguntas e o entendimento básico que tenho a respeito. Eu admito
prontamente que as questões e linhas teológicas levantadas neste
capítulo não são as mais fáceis de se responder. Elas exigem
equilíbrio e humildade. Tentaremos respondê-las juntos.
1. Qual o propósito da Torá?
2. Como os apóstolos entenderam a decisão de Atos 15?
3. Qual foi o resultado daquela decisão, no primeiro século,
para as igrejas locais?
4. Isso tudo não faz com que os gentios se tornem “cidadãos
de segunda classe” no reino?
5. O que dizer sobre a teoria das duas alianças?
6. Existe alguma verdade no que os “efraimitas” ensinam?
7. Podemos dizer que existe uma “Lei Única” para Israel e
também para a Igreja?

1. Qual o propósito da Torá?


A Lei de Moisés foi dada a Israel como uma aliança com os
descendentes de Abraão, Isaque e Jacó e que condicionava a sua
posse e permissão de viver na terra prometida. Viver de acordo com
a Torá seria um testemunho da fidelidade de Deus e o caminho para
trazer o Messias ao mundo por intermédio da nação de Israel.
Precisamos compreender as Escrituras no seu contexto original.
“Tornar-se judeu”, para os apóstolos do primeiro século, significava
conformar-se à Torá, incluindo a circuncisão, o sinal de observância
à Torá. Qualquer homem convertido ao judaísmo tinha de ser
circuncidado. Esse mandamento é parte integral (e íntima) da Torá.
“Então, lhe deu a aliança da circuncisão” (At 7.8). Em nenhum lugar
da Torá a circuncisão está separada da obediência à lei, ou a
obediência à lei é separada da circuncisão.
Alguns gentios hoje que ficaram entusiasmados com a Torá
defendem veementemente que outros seguidores de Jesus não
judeus “obedeçam à Torá”. E ainda assim não exigem a circuncisão.
Por quê? Estaria isso de acordo com a própria Torá? Era assim que
nossos ancestrais espirituais do primeiro século entendiam que
alguém se tornava literalmente parte de Israel? Não era esse o
entendimento deles.
Teremos mais luz sobre isso se analisarmos Êxodo 12.43-49.
Nesta passagem, o significado está bem claro. Se vocês se
juntarem a nós pela Torá, Deus exigirá que vocês removam a pele
do prepúcio. O cenário é claramente o “estrangeiro” (ger) vivendo
entre nós na terra. Isso se relaciona com aqueles que escolhem
entrar fisicamente na nação de Israel. Assim, em Êxodo 12, o
estrangeiro recebe o mandamento de ser circuncidado a fim de que
possa celebrar a Páscoa:
Porém, se algum estrangeiro se hospedar contigo e quiser
celebrar a Páscoa do SENHOR, seja-lhe circuncidado todo
macho; e, então, se chegará, e a observará, e será como o
natural da terra; mas nenhum incircunciso comerá dela. A
mesma lei haja para o natural e para o forasteiro que
peregrinar entre vós. (Êx 12.48,49)
Uma única lei para o nativo e para o estrangeiro “que habita
entre nós”: isso se relaciona à residência física permanente em
Israel e inclui explicitamente o sinal físico da circuncisão como parte
essencial da inclusão.
A palavra ger (estrangeiro), derivada do verbo la'GUR (viver,
residir em um lugar) em hebraico, costumava ser usada para
designar a pessoa que não nascia israelita, mas, por viver na terra,
tornava-se parte do povo. A primeira vez que o termo aparece é em
Gênesis 15.13, passagem na qual Deus fala para Abraão: “Saiba
que os seus descendentes serão estrangeiros numa terra que não
lhes pertencerá” (NVI).
Esse status de inclusão exigia que o ger comesse pães sem
fermento durante a Páscoa (Êx 12.19), mas apenas depois de ser
circuncidado (Êx 12.48)! Ele também estaria sujeito à mesma pena
de morte destinada a um assassino nativo da terra (Lv 24.16).
Paulo é claro ao tratar da circuncisão (1 Co 7.17-20). Todo o
contexto da discussão é “permanecer como você está”. O assunto é
precedido por uma discussão sobre as viúvas não casadas, sobre
os casados com não crentes, etc. Por que ele continua repetindo
que nem circuncisão nem incircuncisão, nem gentio nem judeu eram
importantes? Porque as pessoas andavam dizendo: “Você precisa
ser circuncidado e obedecer à Torá para seguir Yeshua
corretamente”. E ele estava posicionando-se contra tais exigências.
2. Como os apóstolos entenderam a decisão de Atos 15?
Os primeiros apóstolos já lutaram com essa mesma questão: se os
crentes gentios deveriam guardar a Torá. “Insurgiram-se, entretanto,
alguns da seita dos fariseus que haviam crido, dizendo: É
necessário circuncidá-los e determinar-lhes que observem a lei de
Moisés” (At 15.5). Em resposta, Pedro contou novamente a maneira
como o Espírito descera sobre os da casa de Cornélio (At 10) sem
“distinção”. Na carta conclusiva, os apóstolos escreveram:
Visto sabermos que alguns [que saíram] de entre nós, sem
nenhuma autorização, vos têm perturbado com palavras,
transtornando a vossa alma. (At 15.24)
Essa controvérsia é muito semelhante à que existe hoje em dia.
A resposta deles não poderia ter sido mais clara.
Pois pareceu bem ao Espírito Santo e a nós não vos impor
maior encargo além destas coisas essenciais: que vos
abstenhais das coisas sacrificadas a ídolos, bem como do
sangue, da carne de animais sufocados e das relações
sexuais ilícitas; destas coisas fareis bem se vos
guardardes. Saúde. (At 15.28,29)

3. Qual foi o resultado daquela decisão, no primeiro século,


para as igrejas locais?
Cinco vezes em Atos 15, é feita a afirmação de que os crentes
gentios não eram obrigados a guardar a lei (vv. 5, 10, 19, 24 e 28).
Pedro declarou: “E [Deus] não estabeleceu distinção alguma entre
nós e eles, purificando-lhes pela fé o coração” (At 15.9). É
interessante notar que a acusação feita contra Paulo não foi que ele
havia falhado em levar os gentios a um estilo de vida baseado na
Torá. Pelo contrário, ele foi falsamente acusado de ensinar que os
judeus messiânicos deveriam abandonar a lei. Mais tarde, os
companheiros do apóstolo em Jerusalém insistiram para que ele
fizesse um voto com eles a fim de apaziguar a situação de uma vez
por todas. Eles queriam diferenciar a forma judaica de Paulo seguir
Yeshua e a forma como os discípulos gentios deveriam segui-lo.
Eles o persuadiram a provar isso:
…andas também, tu mesmo, guardando a lei. Quanto aos
gentios que creram, já lhes transmitimos decisões para que
se abstenham das coisas sacrificadas a ídolos, do sangue,
da carne de animais sufocados e das relações sexuais
ilícitas. (At 21.24,25)
O resultado da decisão dos apóstolos foi que os judeus,
seguidores de Yeshua, deveriam continuar no seu chamado como
indivíduos que pudessem ser identificados como pertencentes a
Israel natural. E ao mesmo tempo, os gentios, seguidores de
Yeshua, não deveriam mais presumir que precisassem converter-se
ao judaísmo. Antes, sua fé em Yeshua como Senhor e Salvador
seria suficiente para levá-los a ser cidadãos do reino juntamente
com os que nasceram judeus.

4. Isso tudo não faz com que os gentios se tornem “cidadãos


de segunda classe” no reino?
Então, se o gentio que crê em Jesus não é obrigado a circuncidar-se
e guardar a Torá, será que ele teria permissão para fazê-lo? Será
que ele deve guardar parte da Torá, mas não todas as leis? Uma
vez que os discípulos de Yeshua do primeiro século celebravam as
festas de Israel (Lv 23) e entendiam o seu significado messiânico,
no século XXI, seus discípulos de todas as nações são livres para
celebrá-las também. Ao fazer isso, o crente gentio afirma o valor
eterno destas festas proféticas e se identifica como amigo de Israel.
Por meio das festas, do apoio à nação de Israel, da intercessão, do
ensinamento e de alegrar-se nas raízes judaicas da nova aliança,
manifesta-se solidariedade ao povo judeu sem o status de cidadãos
de segunda classe.
Contudo, é possível que haja uma origem diferente para essa
questão (“Os gentios deveriam guardar a Torá?”)? Será que estaria
mais relacionada ao campo do valor pessoal do que ao debate
teológico? De uma forma sutil, será que o movimento messiânico
passou a mensagem de que Deus prefere os judeus, fazendo com
que ser judeu seja considerado melhor/superior? Por exemplo, será
que o crente gentio deveria ficar com ciúme do chamado dos judeus
como nação? Alguns estão até se convertendo para o judaísmo na
esperança de demonstrar o seu zelo.
Quero iniciar minha resposta com uma declaração de
arrependimento em favor do nosso movimento, o movimento
judaico-messiânico moderno. Algumas vezes de forma intencional
(que Deus nos perdoe!) e outras de forma não intencional,
insinuamos que os gentios “não eram tão importantes para Deus”
quanto os judeus. Ah, amado, isso não é verdade. “Porque Deus
amou ao MUNDO de tal maneira que deu o seu Filho unigênito” (Jo
3.16). Por favor, perdoe-nos (a todos os judeus messiânicos) por de
certa forma comunicar a mentira de que os gentios são menos
importantes para Deus do que nós. Isso não é verdade.
Ele ama os povos das nações NÃO MENOS do que o povo de
Israel. Temos chamados singulares, assim como temos
características únicas como homens e mulheres. É esse paralelo
que o Espírito sabiamente utiliza para nos ajudar a compreender a
nossa coexistência. A razão pela qual o ciúme não tem lugar entre
homem e mulher ou entre judeus e gentios é que Deus criou ambos
com o mesmo valor.

5. O que dizer sobre a teoria das duas alianças?


A teoria das duas alianças é popular entre aqueles que não querem
ofender a comunidade judaica e têm aversão a dizer que Yeshua é o
único caminho para o Deus de Israel. Nossa primeira tarefa é
continuar isentos de interpretar a Bíblia de acordo com o que nos é
conveniente ou de acordo com o que torna mais fácil a convivência
com um grupo específico de pessoas. É claro que devemos evitar
ofensas desnecessárias, tais como as que houve contra os judeus
durante a história cristã. Temos farta documentação desses
acontecimentos trágicos e ultrajantes.
Sim, a Igreja tem muito do que se arrepender. Sim, é tempo de
os crentes enxergarem o antissemitismo das gerações passadas e
renunciá-lo. E, sim, existe um despertamento histórico que está
percorrendo todo o mundo, levando o povo de Jesus de volta às
raízes do seu Messias. Ainda assim, a Nova Aliança foi destinada
especificamente a Israel em primeiro lugar. Nada poderia ser mais
claro nas Escrituras do que o fato de que Yeshua veio primeiro para
o povo judeu a fim de carregar os seus pecados e ser seu Rei.
A teoria das duas alianças afirma que o povo judeu tem uma
aliança de salvação diferente da aliança feita com os gentios. Isso
bate de frente com as Escrituras judaicas (Antigo Testamento). É o
profeta hebreu Jeremias que primeiramente anunciou a nova
aliança, não um pregador gentio:
Eis aí vêm dias, diz o SENHOR, em que firmarei nova
aliança com a casa de Israel e com a casa de Judá. Não
conforme a aliança que fiz com seus pais, no dia em que os
tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito; porquanto
eles anularam a minha aliança, não obstante eu os haver
desposado, diz o SENHOR. Porque esta é a aliança que
firmarei com a casa de Israel, depois daqueles dias, diz o
SENHOR: Na mente, lhes imprimirei as minhas leis, também
no coração lhas inscreverei; eu serei o seu Deus, e eles
serão o meu povo. (Jr 31.31-33)
Quando consideramos a “indignação” causada entre o povo
judeu ao mencionar que Yeshua veio para trazer uma nova aliança
para Israel, pensaríamos que essa passagem não existe. Mas ela
existe. Não pode ser apagada da Bíblia hebraica. Em nenhum lugar,
Deus sugere que a base da salvação de Israel seja diferente da
base das nações.
Na verdade, existem muitas passagens tanto nas Escrituras
hebraicas quanto nas gregas que deixam claro que Yeshua veio
para trazer salvação (primeiramente e principalmente) para Israel.
“A salvação vem dos judeus” (Jo 4.22) é provavelmente sua
afirmação mais radical sobre esse assunto. O primeiro capítulo de
Lucas deixa claro que o Messias é a expressão da misericórdia de
Deus por Israel ao trazer a salvação. Primeiramente, Miriã (nome
hebraico de Maria) magnifica o Senhor pelo Filho que está gerando,
o Prometido. Depois Zacarias, cheio do Espírito, profetiza sobre o
seu filho, João Batista:
Amparou [o Senhor Deus] a Israel, seu servo, a fim de
lembrar-se da sua misericórdia a favor de Abraão e de sua
descendência, para sempre, como prometera aos nossos
pais. (Lc 1.54,55)
Tu, menino, serás chamado profeta do Altíssimo, porque
precederás o Senhor, preparando-lhe os caminhos, para dar
ao seu povo [Israel] conhecimento da salvação, no redimi-lo
dos seus pecados, graças à entranhável misericórdia de
nosso Deus. (Lc 1.76-78)
Algumas afirmações ofensivas precisam ser removidas.
Algumas terão de permanecer. As Escrituras declaram de forma
inequívoca de que há apenas um caminho para o Pai: por meio do
seu Filho, Yeshua (Jo 14.6). Mas, no desejo de fazer a vida menos
complicada para o povo judeu, que já sofreu o bastante, não
podemos comprometer a verdade da Palavra de Deus. Não
podemos expurgar a culpa da Igreja cristã, que cometeu atrocidades
horríveis em nome do Messias judeu, removendo a ofensa do
Evangelho (veja Rm 9.32,33; Is 8.14).
Jesus veio PRIMEIRO e principalmente para os judeus. “Não fui
enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel” (Mt 15.24). Se
pretendermos afirmar que existe uma aliança de salvação diferente
para o povo judeu, só pelo fato de sermos judeus, removeremos a
prioridade ou necessidade de sermos apresentados ao nosso
próprio Messias Rei! Isso seria trágico. Paulo escreveu:
Pois não me envergonho do evangelho, porque é o poder de
Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiro do
judeu e também do grego [gentio]. (Rm 1.16)

6. Existe alguma verdade no que os “efraimitas” ensinam?


No ensinamento dos “efraimitas”, a passagem sobre os dois
pedaços de madeira em Ezequiel 37 é muito enfatizada. Aqueles
que defendem esta visão são, portanto, chamados de “efraimitas”.
Essa teoria foi popularizada por Batya Wootten no seu livro Who is
Israel? [Quem é Israel?; Key of David, St. Cloud, Flórida, 1998]. Os
adeptos desta visão creem que todos, ou quase todos, cristãos
nascidos de novo são, na verdade, membros das tribos israelitas do
norte que foram “espalhadas” depois do exílio assírio. Efraimitas
defendem que a Torá deve ser observada pelos gentios (a saber,
Israel), excluindo a lei da circuncisão (veja a minha exposição sobre
isso mais acima neste capítulo).
Uma das mais completas respostas a essa teologia disponíveis
on-line é o artigo da Dra. Kay Silberling, “The Epraimite Error” (O
erro efraimita). Ela detalha a natureza da doutrina e faz uma
excelente refutação. Silberling afirma de acordo com a teoria das
“duas casas”: “Cabe agora a esses membros de 'Efraim'... ‘aceitar o
seu direito de nascimento’ e viver como membros de Israel”.[6]
Na sua pesquisa, Silberling aponta para o óbvio em relação a
esse erro sério. Os efraimitas deixam tão obscura a distinção entre
Israel (o povo judeu) e os gentios (aqueles não nascidos de pais
judeus) que beira a teologia da substituição em reverso. A teologia
da substituição (supercessionismo) declara que a Igreja é Israel, e
que as promessas de Deus relacionadas a um relacionamento pleno
com ele pertencem agora à Igreja, visto que Israel quebrou a aliança
com Deus. A teoria das duas casas também declara que a Igreja é
Israel, mas, ao invés de afirmar a identidade gentílica da Igreja,
transpõe uma identidade judaica para a Igreja. Das duas maneiras,
Israel perde a sua identidade para a Igreja gentílica e é, portanto,
substituído.
Os efraimitas afirmam que, uma vez que existem tantos
discípulos verdadeiros de Yeshua, a maneira de entender o objetivo
final de Deus de união é chamar os cristãos genuínos de “Israel”
(Efraim) e aqueles que são judeus naturais de “Judá”. Assim, os
dois pedaços de madeira em Ezequiel 37 são cristãos e judeus
messiânicos.
Tu, pois, ó filho do homem, toma um pedaço de madeira e
escreve nele: Para Judá e para os filhos de Israel, seus
companheiros; depois, toma outro pedaço de madeira e
escreve nele: Para José, pedaço de madeira de Efraim, e
para toda a casa de Israel, seus companheiros. Ajunta-os
um ao outro, faze deles um só pedaço, para que se tornem
apenas um na tua mão. (Ez 37.16,17)
O objetivo deles é bom e bíblico. A unidade entre judeus
messiânicos e cristãos verdadeiros é nada menos do que uma das
principais mensagens deste livro. No entanto, o abuso das
Escrituras, da história e do bom senso é alarmante e precisa ser
exposto. Eu apoio totalmente a mensagem de Ezequiel, na qual
Deus afirma: “Eis que eu tomarei os filhos de Israel de entre as
nações [...] Farei deles uma só nação na terra...” (Ez 37.21,22). Mas
confundir a verdadeira identidade do povo judeu e a das nações
gentílicas não ajudará a causa da unidade ou as raízes judaicas da
Nova Aliança.
Na verdade, a origem deste erro é, na minha visão, o esforço
incorreto e nada saudável de conseguir a identificação com Israel
por meio da distorção das Escrituras. Por que todos os cristãos
precisam ser Israel? Parece que existe um propósito escondido. Se
dissermos que todos os cristãos são realmente Israel, mesmo não
sabendo disso, então seremos todos uma grande família sem ter
mais necessidade de lidar com a comunidade judaica (que
certamente ficará confusa e desencorajada por tal reivindicação)
nem com a “divisão” entre crentes judeus e gentios. Isso se baseia
na falsa necessidade de crentes não judeus sentirem que são “tão
bons” quanto os judeus naturais, ao descobrirem sua “verdadeira
identidade” como Israel. Todo o ensinamento brota de um
sentimento de inferioridade que não é bíblico nem apresenta, de
maneira alguma, a intenção de Deus.
Essa reivindicação, além do fato de ser evidentemente falsa,
nega a mensagem da Nova Aliança e a obra de Yeshua para (a)
salvar Israel e (b) unir os seus seguidores judeus e gentios.

7. Podemos dizer que existe uma “Lei Única” para Israel que é a
mesma lei para a Igreja?
A última posição que desejo examinar na questão da “Torá e os
gentios” é a chamada doutrina da “Lei Única”, retirada do versículo
que diz: “A mesma lei e o mesmo rito haverá para vós outros e para
o estrangeiro que mora convosco” (Nm 15.16).
Ao responder essa questão, usaremos de forma livre um artigo
publicado por meus dois queridos amigos Daniel Juster e Russell
Resnik e intitulado “Movimentos da Lei Única”. Juster (mentor e
influência fundamental na minha vida) e Resnik (amigo de toda a
vida e “gêmeo espiritual” dos tempos do Novo México) apontam que
um começo saudável na avaliação desse conceito é rever a atitude
da Igreja histórica com relação à lei de Deus. Os autores enfatizam
que, até o século XIX, a maioria dos teólogos, particularmente a
obra de João Calvino (autor da teologia reformada do século XVI),
tinha uma visão positiva acerca da lei de Deus.
O problema com essa orientação é que a teologia reformada
enxergava a Igreja substituindo Israel. Ironicamente, enquanto
validava a Torá como a base do estilo de vida que Deus ordenou
para os cristãos, Calvino e outros negavam o acesso de Israel à
aliança permanente com Abraão, Isaque e Jacó. Assim, muitos
seguidores de Jesus reconheceram a validade das leis morais de
Deus através dos séculos mesmo enquanto rejeitavam o papel de
Israel como escolhido.
Outro ponto de vista contrastante foi desenvolvido por J. N.
Darby e popularizado na Bíblia Scofield. Eles defendem a visão
dispensacionalista de que os cristãos não devem preocupar-se com
a “lei” uma vez que Jesus veio para inaugurar a “dispensação da
graça” e, portanto, não estamos mais “debaixo da lei”, mas livres
dela. Tal liberdade foca nas epístolas de Paulo, diminuindo até
mesmo a orientação baseada na Torá do próprio Yeshua. Pelo lado
bom, os dispensacionalistas tendem a abraçar Israel como o
cumprimento das promessas de Deus para restaurar a nação à sua
terra original. O lado ruim é a visão negativa da Torá, rejeitando-a
como uma expressão da vontade de Deus que deve continuar
sendo aplicada.
Então por que não existe uma “lei única” para Israel e para a
Igreja? A resposta mais simples é que a Torá é dirigida a um povo
natural específico, os descendentes físicos de Abraão, Isaque e
Jacó. Nossa nação, o povo judeu/Israel, tem sido preservada por
aproximadamente quatro mil anos, o que é, por si só, um feito
maravilhoso na História. Como já apresentado, no início da história
dos seguidores de Yeshua, os apóstolos examinaram
exaustivamente a questão de os gentios aderirem à Torá. A
conclusão deles foi registrada em Atos 15 com o objetivo de trazer
entendimento e unidade.
Essa unidade não deveria acontecer a ponto de obscurecer a
distinção feita pelo Criador entre judeus e gentios. Em vez disso,
deveria libertar os crentes gentios da obrigação de viver de acordo
com todos os requisitos da Lei de Moisés, a Torá. A finalidade não
era inferiorizar ou marginalizar os gentios, mas para trazer a
compreensão radical de que Yeshua havia criado um novo
fundamento tanto para judeus quanto para gentios. Esse
fundamento foi a sua morte sacrificial e ressurreição.
Se os apóstolos quisessem que os discípulos gentios ficassem
debaixo da mesma lei mosaica como os crentes judeus, eles
poderiam ter dito isso facilmente. Mas não fizeram nenhuma
menção a esse termo ou aos versículos usadas para afirmar a “lei
única”: Êxodo 12.49, Levítico 24.22 e Números 15.16.
Sim, existem muitas passagens e princípios que se aplicam a
todos os que amam a Deus e aos seus caminhos. Yeshua e os
autores da Nova Aliança citaram a Tanakh como fonte exclusiva da
verdade escrita. Ainda assim, essa validação não equivale a uma
“lei única” para todos os crentes. O contexto, como mencionado
previamente, é aquele do ger, que vive fisicamente nas fronteiras de
Israel e escolhe adotar toda a Torá, incluindo a circuncisão. Gálatas
5 adverte os gentios a não receberem a circuncisão; caso contrário,
teriam de cumprir toda a Torá. “A implicação clara é que, sem a
circuncisão, os gentios não são obrigados a guardar toda a Torá.”[7]

Textos da Nova Aliança e “Torá para os gentios”


W. D. Davies, um estudioso pioneiro no campo da origem judaica do
Novo Testamento, escreveu a seguinte conclusão sobre a
controvérsia de Atos acerca dos gentios e da Torá de Moshe:
“Alguém podia ser um cristão sem ser judeu; portanto, as portas
estavam abertas para os gentios”.[8]
As implicações da afirmação de Davies respondem muitas ou
todas as nossas questões neste capítulo. Precisamos apenas voltar
à visão de Pedro no terraço em Jafa: “Deus me demonstrou que a
nenhum homem considerasse comum ou imundo” (At 10.28b). Ele
entendeu que a visão o enviava aos gentios (anteriormente
considerados impuros). Ele pregou essa mensagem sem levá-los a
um estilo de vida segundo à lei mosaica; em seguida, os gentios ali
presentes receberam o Espírito, foram cheios, falaram em línguas,
engrandeceram a Deus e foram batizados nas águas.
Mais tarde, Paulo chamou Pedro de hipócrita, porque, antes, ele
estava desfrutando a comunhão na mesa com os gentios (Gl 2.11).
Porém, quando os crentes da circuncisão chegaram, Pedro fingiu
não estar com eles. Deus o usou para abrir a porta para os gentios
seguirem Yeshua sem a necessidade de observar totalmente a Torá,
mas, diante dos outros apóstolos, ele voltou atrás naquilo que era
uma posição radical no intuito de “manter as aparências”. Se a Torá
para os gentios fosse o modelo, os gentios já estariam vivendo de
acordo com as leis kosher de alimentação e não teria havido
problema entre Paulo e Pedro.
Quando, porém, vi que não procediam corretamente
segundo a verdade do evangelho, disse a Cefas, na
presença de todos: se, sendo tu judeu, vives como gentio e
não como judeu, por que obrigas os gentios a viverem
como judeus? (Gl 2.14)
Qual ERA a verdade do Evangelho? Que um gentio não
precisava tornar-se um judeu. O que é tornar-se judeu? Passar a
viver de acordo com os requisitos da Torá. Deus deixa claro na Nova
Aliança que ele não exige que os gentios se tornem judeus para
seguir a Yeshua. Precisamos entender as Escrituras no seu contexto
original. “Tornar -se judeu”, para os apóstolos do primeiro século,
significava conformar-se à Torá, incluindo a circuncisão – o sinal de
observância à Torá. Qualquer convertido ao judaísmo TINHA de ser
circuncidado. A controvérsia começou quando alguns crentes
fariseus disseram: “É necessário circuncidá-los e determinar-lhes
que observem a lei de Moisés” (At 15.5).
A resposta de Pedro em Atos 15.7-9 foi: “Ei, esses gentios
receberam a fé em Yeshua sem se converter ao judaísmo”.
E [Deus] não estabeleceu distinção alguma entre nós e
eles [...] Agora, pois, por que tentais a Deus, pondo sobre a
cerviz dos discípulos um jugo que nem nossos pais
puderam suportar, nem nós? (At 15.9-10)
Depois de um período de expectativa e silêncio, Tiago resume
a situação:
Expôs Simão como Deus, primeiramente, visitou os
gentios, a fim de constituir dentre eles um povo para o seu
nome. Conferem com isto as palavras dos profetas, como
está escrito: Cumpridas estas coisas, voltarei e reedificarei
o tabernáculo caído de Davi; e, levantando-o de suas
ruínas, restaurá-lo-ei. Para que os demais homens
busquem o Senhor, e também todos os gentios sobre os
quais tem sido invocado o meu nome [citando Amós
9.11,12] (At 15.14-17)
Impressionante? Tiago (cujo nome em hebraico é Ya’akov)
entendeu a inclusão dos gentios ao reino messiânico de Deus como
um cumprimento da antiga profecia de Amós. Isso nos dá um
poderoso testemunho de que os apóstolos judeus estavam cientes
de que o Senhor sempre teve a intenção de incluir os gentios.
Finalmente, Tiago comunica a sua decisão: “Pelo que, julgo eu,
não devemos perturbar aqueles que, dentre os gentios, se
convertem a Deus” (At 15.19). Perturbá-los com o quê? O contexto
é claramente incomodá-los para observarem toda lei dada a Israel.
Como parte dessa decisão, foi escrita uma carta oficial. Na
carta, os novos crentes não judeus foram instruídos a não comer
alimentos dedicados aos ídolos, não praticar qualquer imoralidade
sexual e não beber sangue nem ingerir animais que foram
sufocados. A isso, ele acrescenta: “Moisés é pregado e lido todos os
sábados”. Eu creio que isso se refira à dimensão moral da lei. Em
outras palavras, eles não precisavam ouvir novamente sobre os Dez
Mandamentos, a lei moral de Deus.
Por que, então, não foi dada aos gentios nenhuma instrução
(nessa carta determinante) para que obedecessem a toda a Torá?
Não existe essa instrução porque não era o desígnio do Todo-
poderoso integrar os seguidores gentios de Jesus fisicamente na
casa de Israel. Não podemos encontrar uma palavra sequer sobre a
responsabilidade de cumprimento da aliança por parte dos gentios
embora teria sido fácil, em diversos contextos, acrescentá-la. Em
todas as epístolas destinadas às congregações, não existe um único
versículo que obrigue diretamente os gentios a adotar toda a Torá.
Michael Wyschogrod é um judeu ortodoxo, professor de filosofia
que se especializou no relacionamento entre judeus e cristãos. A
afirmação a seguir traz clareza à nossa discussão.
As demandas dos gentios convertidos em Atos 15.20
devem ser compreendidas à luz da visão rabínica acerca da
obrigação imposta a não judeus. Por causa da aliança feita
no Sinai com Israel, judeus são obrigados a obedecer aos
mandamentos da Torá. No entanto, os não judeus não
estão sujeitos à tal obrigação. Ao invés disso, são
obrigados a obedecer aos chamados mandamentos
noaicos (ou noéticos) inferidos pelos rabinos de Gênesis 9.
[9]

A decisão do concílio de Jerusalém foi exigir apenas a essência


do que mais tarde ficou conhecido como mandamentos noaicos (as
exigências para a humanidade reveladas a Noé depois do dilúvio
[Gn 9.4], citadas no Talmude babilônico, Sinédrio 58-b-59a). Os
seguidores gentios de Yeshua deveriam obedecer apenas a isso. Ao
decidir isso, a igreja de Jerusalém estava agindo de acordo com o
pensamento rabínico predominante da época.
Na sua carta para os gentios, os apóstolos, presbíteros e irmãos
enfatizaram novamente:
...alguns [que saíram] de entre nós, sem nenhuma
autorização, vos têm perturbado com palavras,
transtornando a vossa alma... Pois pareceu bem ao Espírito
Santo e a nós não vos impor maior encargo além destas
coisas essenciais. (At 15.24, 28)
Ao comentar essa passagem, o Dr. David Stern escreveu:
Isso nos ensina que os elementos da Torá que se aplicam aos
gentios que aceitam a Nova Aliança não são os mesmos
aplicados aos judeus. Não deveria surpreender-nos se a Torá na
Nova Aliança apresenta mandamentos específicos diferentes
para judeus e gentios. Primeiramente, os cinco livros de Moisés
têm mandamentos que se aplicam a alguns grupos e não a
outros; ao rei, mas não aos seus subordinados, aos cohanim
(sacerdotes) e não a outros judeus, aos homens e não às
mulheres.[10]
Mark D. Nanos acrescenta:
O concílio de Jerusalém [...] decidiu que os gentios deveriam ser
aceitos como iguais na nova comunidade [...] pela fé no Messias
sem a necessidade de tornar-se judeus... Essas regras de
comportamento (At 15.19-21,28,29; 21.24,25) [...] demonstram
fidelidade às normas judaicas de justiça que operavam na época,
para os gentios que abandonaram a idolatria a fim de adorar o
único Deus.
Ele continua de forma maravilhosamente clara:
Gentios são proibidos de tornar-se judeus, não porque se tornar
judeu e guardar a Torá não sejam atitudes de fé válidas... Eles
são proibidos, porque fazer isso [...] implicitamente negaria a
eleição de Israel e o privilégio da Torá...[11]
O texto bíblico afirma claramente que a Torá foi dada a Israel.
Um dos propósitos elucidados na própria Torá é que Israel deveria
ser uma nação separada de todas as outras nações. A Torá não é
para todos embora contenha alguns mandamentos que são
universais. Nem toda a Torá é para todos. O que deveríamos fazer
com a passagem clara de 1 Coríntios 7.18-20?
Foi alguém chamado, estando circunciso? Não desfaça a
circuncisão. Foi alguém chamado, estando incircunciso?
Não se faça circuncidar. A circuncisão, em si, não é nada; a
incircuncisão também nada é, mas o que vale é guardar as
ordenanças de Deus. Cada um permaneça na vocação em
que foi chamado.
Joseph Shulam, um israelense e experiente mestre da Bíblia,
pioneiro do movimento messiânico em Jerusalém, me disse:
Não há como respeitar a Palavra de Deus e ao mesmo tempo
ignorar esses mandamentos tão claros. Na minha opinião,
existem duas maneiras de destruir a nação judaica. Uma é a
assimilação dos judeus para torná-los gentios e fazê-los
esquecer quem de fato são; e a Igreja tentou fazer isso por dois
mil anos. A outra forma é fazer com que todos os gentios
pretendam ser judeus e substituam a nação de Israel. Se todos
os gentios se portarem como judeus, não será mais possível,
após uma geração, distinguir quem é judeu e quem não é judeu.
Não creio que a minha Bíblia ensine que isso seja algo bom.
Além disso, eu conheço dezenas de pessoas que tentaram fazer
isso e destruíram a própria família e, por fim, a sua fé.
Mais adiante, no livro de Atos, Paulo relatou a Tiago e aos
presbíteros o que Deus havia feito entre os gentios. Uma vez que
ele foi o “apóstolo” dos gentios, poderíamos esperar que
comentasse sobre esse assunto nos seus relatos. Sua resposta
mostra a contínua prática da vida judaica pelos judeus messiânicos.
E mostra que os gentios não eram obrigados a seguir os mesmos
mandamentos de Moisés.
...quantas dezenas de milhares há entre os judeus que
creram, e todos são zelosos da lei; e foram informados a
teu respeito que ensinas todos os judeus entre os gentios
a apostatarem de Moisés, dizendo-lhes que não devem
circuncidar os filhos, nem andar segundo os costumes da
lei [...] Quanto aos gentios que creram, já lhes
transmitimos decisões para que se abstenham das coisas
sacrificadas a ídolos, do sangue, da carne de animais
sufocados e das relações sexuais ilícitas. (At 21.20,21,25)
A igualdade de judeus e gentios
A perspectiva de Paulo em relação aos gentios é que eles estavam
inclusos no gracioso plano de salvação de Deus sem ter de tornar-se
judeus. O apóstolo afirma que Deus é o Deus dos judeus e dos
gentios (Rm 3.29). Para mostrar a importância disso, a fé de Abraão,
enquanto ainda incircunciso, é o tema de Romanos 4. Este capítulo
foi escrito com o propósito expresso de combater o orgulho judeu e o
erro de que os gentios não poderiam ser salvos sem se converter ao
judaísmo. Então, mais tarde, em Romanos 9-11, Paulo lida com o
outro extremo para ter certeza de que os gentios não excluiriam os
judeus. Sua conclusão?
Pois não há distinção entre judeu e grego [...] Porque: Todo
aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. (Rm
10.12-13)
Em 1 Coríntios 9.19-22, Paulo fala sobre os gentios conectando-
se com Deus sem a necessidade da Torá. Aqui, ele nos exorta a
abordar os indivíduos sem lei como se nós mesmos não
estivéssemos debaixo da lei, isto é, como gentios. E no mesmo
gesto, ele aplica essa verdade ao lado judeu. Ele fala aos coríntios:
“Procedi, para com os judeus, como judeu [...] para os que vivem
sob o regime da lei, como se eu mesmo assim vivesse [...] Aos sem
lei [gentios], como se eu mesmo o fosse...” (1 Co 9.20,21).
Houve uma mudança com a instituição do reino sob a Nova
Aliança por meio da qual a plenitude das promessas é oferecida
sem a necessidade da circuncisão dos gentios (Gl 5.1-6). Esse não
era o caso da ordem mosaica. Nesse contexto, Paulo faz uma
declaração verdadeiramente surpreendente: “De novo, testifico a
todo homem que se deixa circuncidar que está obrigado a guardar
toda a lei” (Gl 5.3).
O contrário também é verdadeiro. Não é possível vincular-se à
lei sem a circuncisão. Eu não sei como é legitimamente possível
escapar do peso desse versículo e de suas implicações. Ele foi
escrito especificamente para os crentes gentios com a finalidade de
enfatizar que, se alguém não é circuncidado, não é obrigado a
obedecer a toda a lei. A afirmação de Paulo não faria sentido se os
gentios já fossem obrigados a guardar toda a lei!
A Epístola aos Gálatas foi escrita aos gentios para tratar desse
assunto. O rabino Saulo (Paulo) está buscando desencorajar os
gentios a converter-se ao judaísmo (isto é, às atitudes de submeter-
se à Torá e ser circuncidados). Paulo não está exigindo que todos
os judeus messiânicos observem cada detalhe da lei de forma
legalista. Em outras passagens (1 Co 7.19 e Fp 3.3-9 entre diversos
outros textos), ele afirma que obediência à lei não pode salvar-nos.
Ele está buscando dissuadir a circuncisão gentílica e a obrigação de
guardar toda a Torá.
Em Colossenses, Paulo discorre sobre as ordenanças
relacionadas a alimentos, bebidas e festivais. Ele escreve:
“Ninguém, pois, vos julgue por causa de comida e bebida, ou dia de
festa, ou lua nova, ou sábados” (Cl 2.16). Qual é o significado exato
deste versículo? É que somos proibidos de julgar um cristão com
base na festa que ele guarda ou deixa de guardar. A questão é o
Messias. É claro que não significa que essas celebrações não
estejam disponíveis para os discípulos gentios. Ao contrário,
entendo que não devemos julgá-los, criticá-los, desmerecê-los ou
desprezá-los.
A chegada da Nova Aliança muda a dinâmica de como se
aplicam as afirmações da Torá aos gentios. A inclusão dos gentios
na família de fé, sem circuncisão ou conversão ao judaísmo,
acontece sem a obrigação de observar os requisitos da lei mosaica.
Esse é o verdadeiro sentido de Atos 15 e 21 e das epístolas de
Paulo.

Nem homem nem mulher... A continuação da distinção


Pois todos vós sois filhos de Deus mediante a fé em Cristo
Jesus […] Dessarte, não pode haver judeu nem grego; nem
escravo nem liberto; nem homem nem mulher… (Gl 3.26,28)
De forma lógica e prática, todos nós admitiríamos que a distinção
entre homem e mulher continua a existir em diferentes contextos. A
despeito do que podemos entender após uma leitura superficial do
texto, o ponto aqui é que não existe preferência em valor espiritual
entre homem e mulher, empregador e empregado, judeus e não
judeus. Deus não quer que seus filhos judeus desejem ser gentios.
Da mesma forma, ele não quer que seus filhos gentios sintam ciúme
dos seus filhos judeus. Somos igualmente amados diante dos seus
olhos. A comunhão extraordinária para o qual fomos chamados,
agora, no fim desta era, exige que valorizemos uns aos outros como
somos.
A declaração de Paulo aos gálatas é importante. Para aqueles
que pertencem ao Messias, essas distinções não interferem na
comunhão nem criam uma categoria superior ou inferior de pessoas.
O paralelo requer a mesma aplicação. Continuam a existir judeus e
gentios. Qual então é a diferença?
Os judeus se relacionam com Deus não apenas com base na fé
em Yeshua, mas também pelas alianças históricas que Deus fez
com nossos ancestrais. Essas alianças foram criadas
especificamente para nos separar como povo, a fim de trazer o
Messias e estabelecer a nação de Israel. Exigir que os gentios se
tornem judeus é o mesmo que requerer que uma mulher se torne
homem. Existe uma única exceção que é clara: um judeu
messiânico e um crente gentio que se casam tornam-se uma só
carne. Vemos isso em Romanos 10.12,13 e em Colossenses
3.10,11.
Não há uma palavra sequer no Novo Testamento que exorte os
gentios a praticar circuncisão, festas, purificação, leis, sábados e
jejuns. Ao mesmo tempo, é claro no Novo Testamento que essas
práticas eram, e continuam sendo, o caminho para a vida oferecido
a todos os judeus, inclusive os judeus messiânicos.
Em toda essa discussão, queremos sempre lembrar o divisor de
águas de Cesareia em Atos 10, que resultou na experiência de
Pedro na casa de Cornélio. Quando eles receberam o Messias de
Israel, foram cumpridas passagens vitais da Tanakh de que a luz de
Deus brilharia sobre os gentios (veja o capítulo 2 deste livro). A
partir daquele ponto, os gentios foram convidados a entrar no reino
eterno de Yeshua tornando-se coparticipantes juntamente aos seus
seguidores judeus. A igualdade espiritual de judeus e gentios no
Messias é uma mudança monumental. Abalou a comunidade
messiânica do primeiro século (veja At 11-15) e, como
consequência, trouxe salvação para todo o mundo.
Ainda assim, a Nova Aliança não apresenta uma
homogeneização de judeus e gentios como condição para essa
igualdade. Continuam existindo chamado e identidade distintos para
o povo judeu. Isso cumpre as promessas que Deus fez por aliança.
A tentativa de levar os gentios plenamente ao “estilo de vida da
Torá” viola a ordem estabelecida pelo Senhor.
Não podemos apoiar uma formulação sionista que chama os
judeus de volta para a terra e considera as promessas de Deus para
Israel étnico e, ao mesmo tempo, esperar que todos os crentes
gentios se conformem à Torá.

E os gentios que participam de uma congregação judaico-


messiânica?
Por um lado, o coração de Deus é juntar judeus e gentios como uma
única “noiva”. Por outro lado, apresentamos o princípio de uma
contínua distinção entre os discípulos judeus e gentios de Yeshua. A
maioria das congregações judaico-messiânicas incluem grande
porcentagem de crentes não judeus. Qual deve ser a postura
desses membros? Como pode um gentio participar das celebrações
bíblico-judaicas do ciclo de vida baseado na Torá identificando-se
com Israel literal?
Rute nos ajuda a entender o chamado desses valiosos
membros da comunidade messiânica. Ela nunca pretendeu ser judia
por nascimento ou membro do “Israel espiritual”. Mas, ao casar-se
com alguém da nação de Israel, ela adotou o estilo de vida mantido
por seu marido, Boaz. Ao fazer isso, ela confirmou a declaração
anterior (Rt 1.16-17) que ela havia feito do povo de Noemi “o seu
povo”. O compromisso de Rute foi com o Deus de Israel e o povo de
Israel. Ao casar-se com Boaz, ela adotou os costumes e as práticas
da terra de seu marido. Seu coração foi aliançado com o povo do
Livro.
Da mesma maneira, os membros não judeus das congregações
judaico-messiânicas estão declarando a sua identificação com o
chamado dos crentes judeus, para devolver Yeshua ao seu contexto
original como Filho de Davi, o Filho de Abraão. Contanto que ele
não reivindique ser salvo pelas “obras da lei”, o gentio vivendo e
adorando regularmente entre os judeus messiânicos é livre para
celebrar uma vida baseada na Torá com os membros judeus de sua
comunidade espiritual. De outra forma, a congregação ficaria
dividida.
Assim, uma atitude saudável e sem preconceito de coração é
essencial em todas as comunidades na Nova Aliança.
Anteriormente, enfatizei a necessidade de sentir-nos seguros uns
com os outros e amar-nos do jeito que nós somos. Isso se aplica
ainda mais a uma congregação judaico-messiânica que esteja
buscando recuperar a benção da kehila (congregação, comunidade)
original centrada em Israel.
As congregações judaico-messiânicas ao redor do mundo
experimentam um alto nível de interesse, participação e membresia
da parte de crentes não judeus, seja em comunhão ocasional, seja
em envolvimento por uma estação ou compromisso de longo prazo.
O objetivo, em todos os casos, é que tal relacionamento seja por
razões saudáveis, e que os não judeus não se envolvam em
confusão, superioridade ou inferioridade.
É interessante notar que a participação de não judeus em
alguns níveis da vida religiosa judaica já era um fenômeno
conhecido há dois mil anos, como evidenciado pela interação de
Paulo com judeus e “gregos devotos” na sinagoga de Tessalônica
em Atos 17.1-4. (Veja também João 12.20 e Atos 14.1.)

Se a Torá é obrigatória para os gentios, isso cria uma atitude


crítica de oposição à Igreja
Gentios que defendem a Torá argumentam que todos os crentes
deveriam observar toda a Lei, porque viver assim é superior a viver
somente com as exigências da Nova Aliança. Quando as mesmas
pessoas, por observar a Torá, consideram-se superiores aos gentios
que não fazem o mesmo, sua posição leva facilmente ao cinismo
em relação às tradições cristãs dos seguidores de Yeshua.
A depreciação geral da Igreja como pagã é imprecisa, incorreta
e inútil para a restauração de Israel que Deus está realizando. A
desunião causada pela alegação de que a Igreja é pagã é alarmante
e prejudicial. A visão deste autor é que defensores da visão “Torá
para os gentios”, embora possam ser pessoalmente humildes, estão
promovendo uma doutrina arrogante e divisiva.
Essa guinada do pêndulo, tentando convencer todos os
membros das igrejas de que o costume deles é errado e odioso para
Deus, prejudica a unidade do Corpo e a restauração profética das
raízes judaicas do Novo Testamento. Muitos líderes de igrejas
compartilharam comigo a desconfiança de cristãos que de repente
se tornam grandes apoiadores da Torá para os gentios. Eles e o seu
rebanho foram feridos por crentes que criticavam seus
ensinamentos, sua autoridade e relevância.
É necessário que haja um entendimento mais positivo das
raízes hebraicas da fé no Novo Testamento? Certamente. Humildes
servos do Senhor podem contribuir para integrar as festas bíblicas e
a natureza inseparável da Tanakh e Nova Aliança na vida e
compreensão de suas igrejas? Sem dúvida. No entanto, devemos
ser respeitosos e abertos a aprender em nosso entusiasmo.
Finalmente, “quem” nós somos e a “maneira” da nossa comunicação
podem falar tão alto a ponto de impedir que se ouça “o que”
estamos dizendo.
Embora eu creia que muitos aspectos da Torá sejam universais,
existem também muitos aspectos da Torá que são distintos para o
povo judeu. Essa distinção básica entre judeu e gentio é mantida da
Nova Aliança. Judeus são chamados para responsabilidades da
aliança que se relacionam com toda a Torá. Gentios em Yeshua não
tem exatamente o mesmo chamado, embora certamente sejam
responsáveis por cumprir os mandamentos universais da Torá,
conforme exemplificado nos ensinamentos de Yeshua e nas
epístolas da Nova Aliança.
CAPÍTULO ONZE
O HERÓI DESCONHECIDO DE ISRAEL
E OS EGÍPCIOS

Quem arrumou a mesa para os irmãos de José?

Disse José a seus irmãos: Agora, chegai-vos a mim. E


chegaram-se. Então, disse: Eu sou José, vosso irmão, a
quem vendestes para o Egito. Agora, pois, não vos
entristeçais, nem vos irriteis contra vós mesmos por me
haverdes vendido para aqui; porque, para conservação da
vida, Deus me enviou adiante de vós. (Gn 45.4,5)
erta noite, cheguei ao aeroporto de Kansas City. No saguão, vi
C um grupo de pessoas com cartazes: “Bem-vindo de volta para
casa R. C... Amamos você, Ray... Você é nosso herói”. Eu
estava curioso. Eles estavam alinhados e sorrindo. Então eu
compreendi.
Havia um jovem vestido com uniforme camuflado de soldado
americano, abraçando uma jovem mulher com um bebê, enquanto
outros gritavam e acenavam. Era um dos homens a serviço das
forças armadas americanas, voltando de perigosas missões no
Iraque.
Mas e se ninguém tivesse ido até lá? E se o soldado tivesse
arriscado a vida, até mesmo sido ferido ou morto, tudo isso por seu
país e sua família, e ainda assim ninguém tivesse demonstrado
preocupação por encontrá-lo no aeroporto? Triste imaginar isso?
Traz lágrimas aos olhos?
Yeshua não tem sido “recebido no aeroporto” por quase dois mil
anos. O Deus de Israel está chorando. Podemos entrar no coração
partido de Deus? Não é o coração de Jacó, partido pelo filho perdido
e “morto” José? Como Jacó se sentiu quando lhe disseram: “Ele
está vivo”?
Eu gostaria de fazer uma analogia em termos bem práticos.
Qual a percepção atual de um israelense bem instruído 37 séculos
depois de José ter sido rejeitado pelos irmãos?

Oficial do governo israelense ouve sobre José e Jesus


Certa vez, um oficial importante no governo de uma cidade no norte
de Israel me fez uma pergunta surpreendente: “Como judeu
messiânico, em que você acredita? Qual é a base da sua fé?”.
Pensei por um momento. Então, contei-lhe a história de José. Por
crescer em uma família que guardava as tradições judaicas, é claro
que ele conhecia essa história, talvez, melhor do que eu. Quando fiz
o paralelo entre José sendo irreconhecível aos seus irmãos e
Yeshua sendo irreconhecível aos seus irmãos judeus hoje, meu
amigo ficou sem palavras. Ele não discordava, mas também não
estava pronto para a minha apresentação da história.
As semelhanças da experiência de José com seus irmãos e a
identidade desconhecida de Yeshua como nosso verdadeiro
Messias foram determinadas há muito tempo. É o brilhantismo do
Deus de Israel que sabe o fim desde o começo e apresenta
tipologias e sombras do futuro a fim de que mais tarde possamos
entendê-las.
A sequência prefigurada na história de José deve acontecer a
fim de que Yeshua realmente seja reconhecido como o Messias. Se
primeiramente não o tivéssemos “rejeitado”, significaria que ele não
é o verdadeiro Messias. Irônico, não? Ele é o herói desconhecido.
Algumas vezes, os cristãos perguntam: “Mas por que os judeus
não sabiam quem Jesus era e não o aceitaram?”. Em primeiro lugar,
é sempre mais fácil ver em retrospecto. O que nos parece óbvio
depois de conhecer ou crer em algo não era tão claro antes. Em
segundo lugar, a pergunta ignora o fato de que Yeshua não veio
como uma figura chamativa. Isaías até disse: “não tinha aparência
nem formosura; olhamo-lo, mas nenhuma beleza havia que nos
agradasse” (Is 53.2b). Em terceiro lugar, como estou procurando
apresentar, se Jesus tivesse sido recebido pela maioria como
Messias, teria colocado em curto-circuito todo o plano de Deus.
Por favor, considere as seguintes passagens. Elas destacam
claramente essa expectativa.
A pedra que os construtores rejeitaram, essa veio a ser a
principal pedra, angular; isto procede do SENHOR e é
maravilhoso aos nossos olhos. Este é o dia que o SENHOR
fez; regozijemo-nos e alegremo-nos nele. (Sl 118.22-24;
ênfase do autor)
Era desprezado e o mais rejeitado entre os homens [...] dele
não fizemos caso [...] e nós o reputávamos por aflito, ferido
de Deus e oprimido. (Is 53.3-4b; ênfase do autor)
...olharão para aquele a quem traspassaram; pranteá-lo-ão
como quem pranteia por um unigênito... (Zc 12.10; ênfase
do autor)
Mais tarde, na Nova Aliança, Paulo dedica o 11º capítulo de sua
carta aos cristãos de Roma (especialmente vv. 11-15,25,26) para
essa “promessa” algumas vezes negligenciada. Contudo, como
Salomão declarou na dedicação do templo, “nem uma só palavra
falhou de todas as suas boas promessas...” (1 Rs 8.56). O fato é
que esse “fracasso” nacional de não receber o Messias não foi
apenas previsto havia muito tempo, mas também reflete diretamente
no relacionamento dos cristãos com Israel. No mesmo versículo em
que Paulo afirma que os nossos olhos estarão cegados, ele fala
sobre os gentios nos provocando ciúme, isto é, eles estarão usando
as vestes de salvação que foram destinadas no princípio a nós!
A conclusão: quais são os pontos fundamentais da vida de José
que tipificam a vida de Yeshua? A seguir, apresento a minha lista. É
apenas uma de muitas. Escolhi esse paralelo porque é vívido e
relevante para encontrar o papel dos gentios na salvação de Israel.

JOSÉ como a tipificação de JESUS:


1. Escolhido por seu pai e singularmente amado.
2. Recebeu antecipadamente a revelação de uma missão especial
para salvar o seu povo.
3. Mal interpretado e rejeitado pelos irmãos (como em Isaías 53).
4. Jogado em um buraco/vala como morto.
5. Erguido da vala à semelhança da ressurreição.
6. Levado aos gentios.
7. Depois de alguns anos, conquistou a posição de mais alta
autoridade entre os gentios (aos 30 anos de idade), tornando-se
o “Salvador do mundo” (Gn 41.53-57).
8. A aparência “muda” para parecer um egípcio/gentio.
9. Os irmãos, filhos de Jacó, vêm num tempo de fome (Am 8.11).
10. Eles não reconheceram o seu irmão e voltaram para o seu pai.
Jacó tipifica a resposta dos judeus a uma história dolorosa:
“José já não existe, Simeão não está aqui, e ides levar a
Benjamim! Todas estas coisas me sobrevêm” (Gn 42.36). Ele
soa como Noemi! TODO O MUNDO conhecia José como o
provedor de pão. Mas o seu coração doía pelos irmãos “judeus”.
A história não estará completa até que sua família esteja
novamente reunida.
11. Quando eles finalmente voltaram, levaram Benjamim (então
favorecido na mesa de José). José estava claramente
“cortejando-os de volta” a cada passo do encontro. “Vendo José
a seus irmãos, reconheceu-os, porém não se deu a conhecer”
(Gn 42.7).
12. José chorou repetidamente diante dos irmãos (Gn 43.30, vendo
Benjamim, e Gn 45.1-8, finalmente se revelando aos irmãos).
“Deus me enviou adiante de vós, para conservar vossa
sucessão na terra e para vos preservar a vida por um grande
livramento. Assim, não fostes vós que me enviastes para cá, e
sim Deus” (Gn 45.7-8a). Uau! Esse versículo é muito profético
quando o transferimos ao grande José, Yeshua.
É exatamente aqui, no reconhecimento de José como o irmão
rejeitado e já recebido pelo mundo como o seu “salvador”, que o
papel dos egípcios se destaca. É bom imaginarmos a cena. José,
tendo começado como escravo, subiu ao cargo de primeiro-ministro.
Ele era responsável por distribuir alimento durante um tempo de
fome mundial (Gn 41.54-57). Jacó, vendo isso e sabendo que todo o
seu acampamento em breve morreria de fome, enviou os filhos que
ainda tinha para comprar grão no Egito. Quando eles chegaram,
José reconheceu os irmãos, mas não foi reconhecido por eles.
Uma série de incidentes se sucede na qual José realiza
diversos feitos. Um: ele leva os irmãos ao humilhante
reconhecimento da culpa por tê-lo rejeitado tempos antes. Dois: ele
prepara emocionalmente o caminho para descobrirem quem ele
realmente é (depois de diversas situações desgastantes em que
eles correm o risco de execução). Três: ele lhes oferece um
banquete. E quando José age assim, podemos perceber a
importância do papel para o qual os egípcios foram levantados.
Precisamos lembrar que, no mundo antigo, o lugar ocupado por
aqueles que serviam aos líderes mais altos era um trabalho
honroso. Não era permitido que servisse comida e bebida ao rei ou
ao alto oficial do governo sem liberação do chefe da segurança e
muito favor. Nos caminhos intrigantes e na brutalidade daquelas
cortes, os servos tinham de ser confiáveis e eram, algumas vezes,
os confidentes daqueles a quem serviam. Somos lembrados da
posição de Neemias como aquele que servia vinho para o rei
Artaxerxes (Ne 2.1,2). O servo pessoal de Abraão, Eliézer, foi
confiado até mesmo com a missão de encontrar uma esposa para o
filho do seu senhor (Gn 24.2-4)!
Agora, voltemos ao banquete oferecido por José aos irmãos. O
primeiro banquete acontece em Gênesis 43, depois que os filhos de
Jacó voltam para o Egito em busca de alimento diante da insistência
do seu pai. Muito relutante, o velho homem libera Benjamim por
causa da sagaz exigência de José. Ao ver Benjamim, José ordena
um banquete (Gn 43.16).
É significativo que o banquete aconteça na casa de José. Se a
ideia é interpretar a cena como um cenário que antecipa Yeshua
revelando-se aos seus irmãos, precisamos ver que Yeshua é o
“anfitrião”. O cenário para a revelação é preparado por ele.
José/Yeshua cria uma experiência para o momento perfeito que
teria máximo impacto.
Antes de enviá-los de volta, José faz com que coloquem a
própria taça de prata na sacola de Benjamim, levando os irmãos a
sentir-se aterrorizados e a chorar quando descobrem sobre a taça
(Gn 44.13) Eles são levados à presença de José e se prostram ao
chão diante dele. Isso é uma tipificação profética da adoração que
os filhos de Israel finalmente darão a Yeshua.
O capítulo 45 começa com José não sendo mais capaz de
conter-se. Imagine a cena como o Senhor, o Messias, separado por
tantos séculos de sua própria nação. Que imagem temos do
coração de Yeshua! José nos mostra a agonia dessa separação.
Chorando alto, ele diz: “Eu sou José; vive ainda meu pai?”. Os
irmãos ficam surpreendidos, estupefatos. Em um momento, são
confrontados por mentir e, no momento seguinte, pelo fato
completamente chocante do líder do Egito se revelando como
(poderia ser verdade?) seu irmão, José!
Eu amo quando José diz: “Agora, chegai-vos a mim” (Gn 45.4).
Eles se achegam; e ele pede que não fiquem tristes por, a princípio,
tê-lo vendido à escravidão. Transferindo essa imagem profética,
chegará o tempo em que Yeshua falará ao seu povo, revelando-se
como o Messias. À medida que o reconhecermos, ele nos atrairá
para perto de si em solene comunhão. Que incrível será esse dia!
E quanto aos servos? Eles podiam ouvir o choro agonizante de
José. Sabiam que algo além do normal estava acontecendo. Qual
era o papel deles? Antes, eles haviam preparado um banquete para
os filhos de Jacó. Agora, depois de ouvir sobre essa dramática
reunião, eles se alegraram.
Fez-se ouvir na casa de Faraó esta notícia: São vindos os
irmãos de José; e isto foi agradável a Faraó e a seus
oficiais. (Gn 45.16)
Além disso, faraó ordenou que carros fossem levados ao
território de Jacó a fim de trazê-lo para o Egito. Os egípcios
providenciaram os carros para abençoar Jacó depois da identidade
de José ser revelada. Que imagem do papel dos gentios na
salvação de Israel! Por meio do faraó e de seus subservientes, os
irmãos de José foram servidos. Podemos dizer que esses gentios
foram usados por Deus com a finalidade de preparar o palco para a
revelação, a reunião e a subsequente celebração por parte de Jacó
e de seus filhos. Isso não é algo pequeno no cumprimento do antigo
plano de Deus.
A oração apaixonada de Salomão na dedicação do templo me
recorda da reação em lágrimas de José ao ver seus irmãos depois
de muitos anos. Em sua juventude, José recebeu uma expectativa
profética de ser levantado a uma posição incomum na sua família.
Para seu espanto, isso aconteceu quando seus irmãos perceberam
quem ele era. Salomão também recebeu a promessa (embora esta
promessa fosse de seu pai) que ele construiria uma casa para Deus.
Finalmente, aquela casa, o templo, foi finalizada. Salomão
agradeceu ao Deus vivo:
Bendito seja o SENHOR, que deu repouso ao seu povo de
Israel, segundo tudo o que prometera; nem uma só palavra
falhou de todas as suas boas promessas, feitas por
intermédio de Moisés, seu servo. (1 Rs 8.56)
Ao reconhecer que Deus mantém suas promessas, o rei de
Israel antecipou a declaração de Isaías gerações mais tarde.
Assim será a palavra que sair da minha boca: não voltará
para mim vazia, mas fará o que me apraz e prosperará
naquilo para que a designei. (Is 55.11)
Deus plantou promessas em sua Palavra. Agora é tempo de ver
o seu cumprimento. A mais importante de todas as promessas de
Deus é que ele enviará o seu Messias para Israel e para as nações.
Esse Messias carregará o pecado de todo o mundo e ainda assim
terá poder sobre a morte (Is 53). A promessa de que, no final, Israel
reconhecerá o seu Messias (Zc 12.10) não pode ser cumprida sem
o papel importantíssimo desempenhado pelos discípulos
internacionais de Yeshua. Eles, como os antigos servos de José,
precisam estar cientes dos visitantes especiais que o Senhor está
para receber em sua casa.
CAPÍTULO DOZE
A TAÇA DA AMIZADE DE ALIANÇA

O verdadeiro, eterno fundamento da


nossa parceria

Ia Davi crescendo em poder cada vez mais, porque o


SENHOR, Deus dos Exércitos, era com ele. Hirão, rei de
Tiro, enviou mensageiros a Davi, e madeira de cedro, e
carpinteiros, e pedreiros, que edificaram uma casa a Davi.
(2 Sm 5.10,11)
Ao fim de vinte anos, terminara Salomão as duas casas, a
Casa do SENHOR e a casa do rei. Ora, como Hirão, rei de
Tiro, trouxera a Salomão madeira de cedro e de cipreste e
ouro, segundo todo o seu desejo, este lhe deu vinte
cidades na terra da Galileia. (1 Rs 9.10,11)
u segurava a taça de vinho no alto. Sentindo ternura de coração,
E como eu sempre sinto durante a ceia do Senhor, eu me
surpreendi. Sentado na primeira fileira, mais para um lado do
nosso santuário, estava um pastor alemão de quem me tornara bom
amigo. Espontaneamente, sem parar para analisar o que estava
acontecendo, eu o convidei para vir e posicionar-se ao meu lado, na
frente de toda a congregação. Eu nunca fiz nada semelhante antes
ou desde então. Mas quando Hans (pastor Hans Scholz, alemão por
nascimento) juntou-se a mim, segurando a mesma taça no alto
comigo, sua mão sob a minha, algo aconteceu. O céu se aproximou.
Sem saber, havíamos tocado o coração de Deus.
Um discípulo de Jesus alemão, não apenas um não judeu, mas
membro da sociedade que, poucas décadas antes, foi responsável
pela morte de seis milhões de judeus, ficou ao meu lado em solo
israelense num momento dramático de unidade promovida por
Deus. O cálice do Senhor proporciona um grau de expiação e
profunda reconciliação que nenhuma outra substância ou símbolo
pode proporcionar. O sangue do Messias limpa e remove todas as
barreiras entre o homem e Deus, mas também entre nós. Não posso
descrever a proximidade que senti de Hans naquele momento. Foi
um dom de reconhecimento. Eu compreendi que somos UM.
Aquilo foi muito mais do que um símbolo visível de reconciliação
entre mim e Hans, um mero ponto final nas hostilidades. Mais do
que isso, foi a plenitude da reconciliação. Nós nos tornamos “irmãos
de sangue” compartilhando uma identidade comum como filhos de
um Pai.
Mesmo que a história das nossas nações realmente cause
impactos dolorosos e até mesmo incompreensíveis, Deus é capaz
de redimir. Naquele momento, houve uma redenção, uma
irmandade, uma comunhão de propósitos de submeter-se ao Deus
de Israel e ao seu Messias. Nada mais, e ninguém mais, pode
realizar isto.

A última ceia e a intersecção das alianças


Certo dia, quando eu era um cristão ainda muito novo, estava lendo
o relato da última ceia. De repente, despertei para o fato de que
essa “ceia” não era nada menos do que a refeição da Páscoa
(Seder). Fiquei “atordoado”. Levantando os olhos da Bíblia, parecia
que o eixo da Terra havia mudado. Como isso seria possível?
A última refeição de Yeshua com os seus discípulos poderia
mesmo ter sido a refeição da Páscoa, ordenada pelo Deus de Israel
em Êxodo 12 e ingerida pelas famílias de Israel pelos últimos 3.400
anos? Não poderia ter sido outra. Se foi assim, eu pensei, existe
então uma série de verdades fundamentais e influentes que deve
ser considerada.
1. O “Velho” e o “Novo” Testamentos são inseparavelmente
ligados. Que conceito maravilhoso esse!
2. Yeshua estava declarando que ele era judeu e abraçando
nossa história como sua própria história.
3. Esse evento absolutamente central, a crucificação, foi para
sempre entrelaçado ao relato dos atos de salvação de Deus
para com seu povo, Israel.
4. Ele escolheu o matzoh e vinho da Páscoa como elementos
da nossa profunda comunhão. Participar fisicamente da
ceia declara nosso novo vínculo uns com os outros,
baseado no seu amor sacrificial por nós.
De que forma judeus e gentios devem de fato unir-se, em plena
confiança, para trazer a redenção de Israel? Dado o histórico do
nosso relacionamento desde o fim do primeiro século, essa questão
não permite uma resposta fácil. O relacionamento histórico entre a
Igreja, “estabelecida no nome de Jesus”, e o povo judeu, tem sido
singularmente rancoroso; uma crônica letal. Que excruciante ironia o
fato de que os judeus, a família natural do Messias de Israel, Jesus,
têm sido perseguidos por gentios que carregam a sua bandeira!
Os parágrafos anteriores carregam, em um contraste
absolutamente renovador, o que eu acredito ser a chave para uma
reconciliação/restauração iniciada por Deus e há muito tempo
esperada. Quando nos reconhecemos como irmãos de sangue, e
nosso relacionamento passa a ser uma amizade baseada no
sangue eterno do Cordeiro, então ele nos une. A ideia é dele; não é
sua nem minha. “Isto é impossível aos homens, mas para Deus tudo
é possível” (Mt 19.26).
O que eu aprendi ao segurar a taça com Hans foi que o
sacrifício de Yeshua é a mais duradoura e efetiva ferramenta para
nos unir nos propósitos de Deus. A morte e a ressurreição de
Yeshua formam os laços da aliança que une o nosso coração como
beneficiários da mesma graça.
Nós temos chamados singulares e, ainda assim, totalmente
complementares. É necessário que seja assim. Para que possamos
cumprir os respectivos chamados, precisamos celebrar e
compreender a comunhão como o ponto de partida da nossa
amizade. Precisamos sentir-nos seguros uns com os outros e ser
livres de ciúme (veja capítulo 9: “O Retorno do Filho Perdido”).
Chegamos ao último capítulo deste livro. Eis a minha conclusão:
a única maneira de as nações cumprirem o seu papel divinamente
ordenado na redenção de Israel é entrando em uma plena amizade
de aliança com os seus irmãos judeus no Messias.
O que eu quero dizer por amizade de aliança? Muitos
escreveram sobre o assunto, mas ninguém, na minha opinião, de
forma mais clara e convincente do que meu amigo Asher Intrater.
Ele faz as seguintes afirmações que nos ajudam a entender a
expressão “amizade de aliança”:
“Para Deus, relacionamento é baseado em aliança.”[12]
“Existe algo numa aliança de sangue que deixa uma marca
muito mais profunda na alma humana do que qualquer outra
coisa.”[13]
“O exemplo de Yeshua de dar a própria vida (em sacrifício de
sangue) é a maior força e influência por trás de todas as nossas
interações uns com os outros.”[14]
Se quisermos ver “todo Israel salvo” e a volta pessoal do
Messias, teremos que experimentar muito mais do que um “acordo
de paz” superficial entre as comunidades judaicas e gentílicas de
Yeshua. O poder do céu é liberado quando vivemos de forma
sacrificial e reconhecemos a plenitude da natureza de Deus
habitando em cada membro do seu reino. É possível fazer isso e ao
mesmo tempo reconhecer o papel crucial para o qual o Deus de
Israel chamou o seu povo, Israel?
Sim, precisa ser possível embora tenhamos de lutar por isso.
Como a amizade de Davi e Jônatas, nossa amizade tem um preço
muito alto. Um judeu precisa humilhar-se para aceitar que, sem os
não judeus, o plano final de Deus fica incompleto. Um gentio
também precisa humilhar-se para concordar que o plano de Deus
não está completo sem o retorno do povo judeu tanto para a terra
quanto para o Rei que Deus providenciou.
A verdadeira amizade é dar o mesmo valor à vida do amigo que
se dá à própria vida. Davi e Jônatas se aliançaram dessa forma.
Eles estavam prontos para dar a vida um pelo outro.
Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a
própria vida em favor dos seus amigos. (Jo 15.13)
Até onde estou disposto a ir? Será que eu apenas amo os
gentios por achar que eles são parte do inevitável plano de Deus, e
que a nossa cooperação me levará aonde eu preciso ir? Ou os
gentios cristãos apenas toleram os irmãos judeus no Messias por
saber que ele não voltará sem que eles “se juntem ao clube”?
Para responder essa e outras questões difíceis, precisamos
voltar para a cena de Jesus e os discípulos na noite antes de ele ser
traspassado. Eles não estavam num salão de banquete. Eles
estavam sentados em almofadas, no chão, usufruindo uma
intimidade prazerosa e sem pressa. Havia plenitude de comida e
bebida. A luz estava baixa. Eles estavam sendo entrelaçados como
nunca pelo seu Mestre, que, propositalmente, aproveitou a
profundidade da ocasião para elevar uma já antiga refeição
nacional. Yeshua os estava juntando em uma nova aliança no seu
sangue. Ele os levou além de seus conceitos anteriores de
dedicação ao Deus de Israel e a nenhum outro. Ele fez isso
oferecendo a própria vida. E o fez num ambiente de celebração da
aliança que afirmava a necessidade que eles tinham do próprio
Deus e uns dos outros.

A mesa da comunhão é sagrada


Uma vez, durante o intervalo do jantar em uma conferência sobre
Israel e a Igreja, sentei-me de frente para um irmão cuja caminhada
com o Senhor e a sabedoria para as coisas práticas sempre me
estimularam. O seu nome é Phil. Ele é um discípulo gentio de Jesus,
mas isso não estava na mente de nenhum de nós enquanto
apreciávamos plenamente nosso jantar juntos.
Enquanto comíamos e conversávamos, nosso coração estava
sendo entrelaçado de forma deliciosamente agradável. Houve um
momento em que percebemos que tempo maravilhoso estávamos
desfrutando num ato aparentemente simples de comer e beber.
Ficamos impactados juntos ao reconhecer que estávamos
experimentando as riquezas do prazer do Senhor na nossa aliança
compartilhada. Descobrimos inadvertidamente uma passagem
extraordinária entre céu e terra. A memória daquela experiência
continua a alegrar-nos quando percebemos que Deus estava nos
proporcionando uma celebração de aliança naquela refeição.
O jantar tranquilo que Phil e eu compartilhamos representa uma
prévia para todos nós. Deixe-me explicar. Começamos o livro com a
pergunta: “E quanto a nós?”. Essa pergunta implica na possibilidade
de alguém ser deixado de fora.
Ninguém será deixado de fora. Quando o Rei vier para a Terra,
sentaremos juntos em uma única mesa, irmãos e irmãs aliançados
de todas as nações lado a lado com os seus discípulos judeus,
alegrando-nos, divertindo-nos e espalhando a sua salvação para
sempre.
A prioridade do envolvimento internacional cristão no cenário
montado por Deus para o fim dos tempos em Israel é o assunto
deste livro. Concluímos onde começamos, com a amizade de dois
homens, um gentio (rei Hirão) e um judeu (rei Salomão, precedido
por seu pai, Davi). Nós, judeus e gentios, somos chamados
primeiramente e fundamentalmente para uma amizade de aliança.
Sem isso, toda estratégia, teologia e política no mundo inteiro não
conseguirão converter o coração de Israel para Yeshua.
Pelo tipo de amizade/comunhão/cooperação desfrutada por
Hirão e Salomão, veremos, nos anos a seguir, o cumprimento final
dos nossos chamados no reino. Então, a glória de Deus voltará para
Israel na pessoa de Yeshua, e ele reinará sobre toda a Terra. É para
essa glória que ele está nos atraindo. Ele está nos juntando
inexoravelmente para atingir a plenitude do seu plano totalmente
inclusivo.
BIBLIOGRAFIA

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rabínico). Fortress Press, Filadélfia, 1980.
GRUBER, Daniel. The Church and the Jews, (A Igreja e os Judeus),
Elijah Publishing, Hanover, NH, 1997.
__________. The Separation of Church & Faith, Volume One:
Copernicus and the Jews (A separação entre a Igreja e a fé, volume
um: Copérnico e os judeus). Elijah Publishing, Hanover, NH, 2005.
INTRATER, Asher. Covenant Relationships (Relacionamentos de
aliança). Destiny Image, Shippensburg, PA, 1989.
JUSTER, Dr. Daniel; Russell, Resnik. “One Law Movements”
(Movimentos da lei única). Disponível em:
https://www.umjc.org/%20home-mainmenu-1/faqs-mainmenu-58/14-
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KATZENSTEIN, H. J. The History of Tyre (A história de Tiro). The
Schocken Institute for Jewish Research, Jerusalém, 1973.
NANOS, Mark D. The Mystery of Romans (O mistério de Romanos).
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Ephraimite Error” (O erro dos efraimitas). Disponível em:
http://www.seedofabraham.org/downloads/ephraimite error.pdf.
Stern, Dr. David, Messianic Jewish Manifesto (Manifesto Judaico
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WYSCHOGROD, Michael. Capítulo 2 de Evangelicals and Jews in
Conversation (Conversa entre judeus e evangélicos). Editado por
Tannenbaum, Wilson e Rudin. Baker House, Grand Rapids, 1978.
SOBRE O AUTOR

Eitan e Connie Shishkoff se


converteram a Yeshua em 1972 quando viviam um estilo de vida
hippie nas montanhas do Novo México, EUA. De 1981 a 1992, Eitan
serviu na comunidade messiânica Beth Messiah em Maryland.
Durante o dramático êxodo dos judeus da antiga União Soviética,
Eitan recebeu uma visão do Senhor. Ele contemplou um oásis no
deserto, representando um ministério de misericórdia destinada às
multidões de imigrantes que estavam para chegar a Israel.
Em 1992, a família Shishkoff mudou-se para Israel. Três anos
mais tarde, o sonho de servir aos imigrantes carentes e à
comunidade local em Israel tornou-se uma realidade. Eles se
mudaram para a Baía de Haifa e fundaram a congregação Tents of
Mercy (Ohalei Rachamim; Tendas de Misericórdia). Atraída pelo
modelo de fundar congregações praticado no século primeiro, a
liderança do Tents of Mercy tem promovido treinamento e envio de
novos líderes que estabeleceram quatro novas congregações,
criando uma rede de ministérios aliançados.
Eitan e Connie tem quatro filhos e nove netos, todos vivendo em
Israel.
TENTS OF MERCY

Eis que restaurarei a sorte das tendas de Jacó e me


compadecerei das suas moradas. (Jr 30.18)
ossa visão é ser um oásis para os exilados que estão voltando
N para Israel e para os seus filhos e filhas nascidos aqui. No
antigo Oriente Próximo, o oásis era um centro absolutamente
vital de refúgio, abastecimento, cura, treinamento e envio. Essa
visão vem sendo cumprida das seguintes formas:
Centro de Ajuda Humanitária, provendo assistência prática a
novos imigrantes, operando a partir de um armazém localizado em
uma área industrial. Oferecemos ajuda por meio da distribuição de
alimentos, roupas, itens para a família, brinquedos e suprimentos
para bebês.
Uma Comunidade que se Encontra em Grupos Caseiros (At
2.42-47), que busca a cura e o treinamento de cada membro para a
obra do Senhor. Nossa comunidade é formada por pessoas de
diversas origens, ilustrando o paradigma do livro de Rute: a colheita
do fim dos tempos em Israel ocorre quando judeus e gentios se
unem no Messias.
Uma Sinagoga Messiânica Celebrando as Raízes da Torá da
nossa Fé na Nova Aliança (Jr 31.31-33), adotando Jesus como
Messias de Israel e declarando: “Yeshua, vem pra casa!”.
Um Tabernáculo de Adoração e Intercessão Sacerdotal onde a
presença de Deus é buscada de forma apaixonada, porque Deus
disse que se encontraria conosco no tabernáculo (Êx 29.42,43).
Como sacerdotes, devemos clamar: “Ó Senhor, poupa o teu povo!”
(Jl 2.17).
Um Centro de Plantação de Congregações no padrão
apostólico de estender o reino de Deus enviando equipes para ajuda
humanitária, evangelismo e implantação de congregações em áreas
não alcançadas de Israel.
Tents of Mercy está buscando a salvação de Israel ao plantar
congregações nativas e de fala hebraica na terra natal de Yeshua.
Trabalhamos com um foco especial na Galileia, e atualmente temos
cinco congregações em funcionamento na região.
O Espírito de Deus está restaurando a vida apostólica em
Israel. O modelo apostólico relatado no livro de Atos é o nosso
padrão para estabelecer novas congregações. Em sua misericórdia,
Deus prometeu trazer de volta os exilados de Israel. Nosso
chamado é ser um oásis de provisão em meio às dificuldades que
desafiam os novos cidadãos de Israel.
Porventura, não é também que repartas o teu pão com o
faminto, e recolhas em casa os pobres desabrigados, e, se
vires o nu, o cubras, e não te escondas do teu semelhante?
(Is 58.7)
Nossos serviços humanitários incluem:
Armazém de Ajuda Humanitária e Centros de Distribuição
Consultórios de Aconselhamento Pró-Vida
Sopas para os Pobres
Assistência aos Sobreviventes do Holocausto
Tents of Mercy é uma parceria entre Israel e as nações. Os
profetas de Israel viram a ativa parceria das nações em sua futura
restauração física e espiritual. Essa parceria é vital para apressar o
retorno de Yeshua. Estamos presenciando o cumprimento
maravilhoso de tudo isso na Tents of Mercy! Amigos de todos os
continentes estão participando conosco do milagre do renascimento
de Israel.
Para mais informações, visite: www.tentsofmercy.org. Nosso
trabalho é em total cooperação com Tikkun Ministries International,
Revive Israel e Gateways Beyond.

[1]
Yeshua, Jesus em hebraico, é a principal forma como eu me refiro ao Senhor
ao longo deste livro. No entanto, quando estou falando sobre o seu papel na
história da Igreja e entre os crentes gentios, eu uso Jesus por razões de ênfase e
contexto.
[2]
KATZENSTEIN, H. J. The History of Tyre (A História de Tiro). The Schocken
Institute for Jewish Research (Instituto Schocken para Pesquisas Judaicas),
Jerusalém, 1973 [citado em: www.glbet-
el.org/.../Hiram%20king%20Of%20Tyr%20site.pdf].

[3]
GRUBER. The Separation of Church & Faith, Volume One: Copernicus and the
Jews (A Separação da Igreja e da Fé, Volume 1: Copérnico e os Judeus), pág.
242.

[4]
Veja a brilhante análise de Gruber sobre a deterioração da parceria inicial entre
judeus e gentios na obra The Church and the Jews, Elijah Publishing, Hanover,
NH, 1997. (Da introdução, pág. vii ff).

[5]
A teologia da substituição é a ideia de que a igreja “substituiu” Israel por causa
da sua infidelidade. Nessa fórmula, a igreja cristã recebe as promessas feitas a
Israel e deixa pra eles as maldições.
[6]
SILBERLING. “Introdução”, “The Ephraimite Error”. Disponível em:
www.seedofabraham.org/downloads/ephraimite error.pdf.

7]
Juster e Resnik. “One Law Movements”, pág. 2
[8]
W. D. Davies. Paul and Rabbinic Judaism, pág. 67
[9]
WYSCHOGROD, M. Evangelicals and Jews in Conversation on Scripture,
Theology and History, editado por Tanenbaum, Wilson e Rudin, pág. 44.
[10]
STERN, Dr. David. Messianic Jewish Manifesto, pág. 156.
[11]
Mark D. Nanos, The Mystery of Romans, págs. 167, 184.

[12]
INTRATER, Asher. Covenant Relationships (Relacionamentos de aliança),
pág. 32.
[13]
Ibid, pág. 27.
[14]
Ibid, pág. 32.

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