Biotecnologia LIVRO WEB
Biotecnologia LIVRO WEB
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Biotecnologia
Biologia
Biotecnologia
2ª Edição
Vice-Presidente da República
Michel Miguel Elias Temer Lulia
Ministro da Educação
Fernando Haddad
Reitora
Ângela Maria Paiva Cruz
Vice-Reitora
Maria de Fátima Freire Melo Ximenes
FICHA TÉCNICA
Coordenador de Produção de Materiais Didáticos Revisora das Normas da ABNT Diagramadores
Marcos Aurélio Felipe Verônica Pinheiro da Silva Ana Paula Resende
Carolina Aires Mayer
Projeto Gráfico Revisora Técnica
Davi Jose di Giacomo Koshiyama
Ivana Lima Rosilene Alves de Paiva
Elizabeth da Silva Ferreira
Revisores de Estrutura e Linguagem Ilustradores Ivana Lima
Eugenio Tavares Borges Adauto Harley José Antonio Bezerra Junior
Janio Gustavo Barbosa Anderson Gomes do Nascimento Luciana Melo de Lacerda
Jeremias Alves de Araújo Carolina Costa de Oliveira Rafael Marques Garcia
Kaline Sampaio de Araújo Dickson de Oliveira Tavares
Luciane Almeida Mascarenhas de Andrade Leonardo dos Santos Feitoza
Thalyta Mabel Nobre Barbosa Roberto Luiz Batista de Lima
Rommel Figueiredo
Revisoras de Língua Portuguesa
Cristinara Ferreira dos Santos
Emanuelle Pereira de Lima Diniz
Janaina Tomaz Capistrano
Biotecnologia / Lilian Giotto Zaros e Millor Fernandes do Rosário. 2. ed. – Natal: EDUFRN, 2011.
ISBN 978-85-7273-756-2
1. Biotecnologia. 2. DNA. 3. Genoma. 4. Patentes. I. Rosário, Millor Fernandes do. II. Título.
CDU 60
Z38b
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste material pode ser utilizada ou reproduzida
sem a autorização expressa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
Sumário
Apresentação Institucional 5
A
Secretaria de Educação a Distância – SEDIS da Universidade Federal do Rio Grande
do Norte – UFRN, desde 2005, vem atuando como fomentadora, no âmbito local, das
Políticas Nacionais de Educação a Distância em parceira com a Secretaria de Educação
a Distância – SEED, o Ministério da Educação – MEC e a Universidade Aberta do Brasil –
UAB/CAPES. Duas linhas de atuação têm caracterizado o esforço em EaD desta instituição: a
primeira está voltada para a Formação Continuada de Professores do Ensino Básico, sendo
implementados cursos de licenciatura e pós-graduação lato e stricto sensu; a segunda volta-se
para a Formação de Gestores Públicos, através da oferta de bacharelados e especializações
em Administração Pública e Administração Pública Municipal.
Para dar suporte à oferta dos cursos de EaD, a Sedis tem disponibilizado um conjunto de
meios didáticos e pedagógicos, dentre os quais se destacam os materiais impressos que são
elaborados por disciplinas, utilizando linguagem e projeto gráfico para atender às necessidades
de um aluno que aprende a distância. O conteúdo é elaborado por profissionais qualificados e
que têm experiência relevante na área, com o apoio de uma equipe multidisciplinar. O material
impresso é a referência primária para o aluno, sendo indicadas outras mídias, como videoaulas,
livros, textos, filmes, videoconferências, materiais digitais e interativos e webconferências, que
possibilitam ampliar os conteúdos e a interação entre os sujeitos do processo de aprendizagem.
Assim, a UFRN através da SEDIS se integra o grupo de instituições que assumiram o
desafio de contribuir com a formação desse “capital” humano e incorporou a EaD como moda-
lidade capaz de superar as barreiras espaciais e políticas que tornaram cada vez mais seleto o
acesso à graduação e à pós-graduação no Brasil. No Rio Grande do Norte, a UFRN está presente
em polos presenciais de apoio localizados nas mais diferentes regiões, ofertando cursos de
graduação, aperfeiçoamento, especialização e mestrado, interiorizando e tornando o Ensino
Superior uma realidade que contribui para diminuir as diferenças regionais e o conhecimento
uma possibilidade concreta para o desenvolvimento local.
Nesse sentido, este material que você recebe é resultado de um investimento intelectual
e econômico assumido por diversas instituições que se comprometeram com a Educação e
com a reversão da seletividade do espaço quanto ao acesso e ao consumo do saber E REFLE-
TE O COMPROMISSO DA SEDIS/UFRN COM A EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA como modalidade
estratégica para a melhoria dos indicadores educacionais no RN e no Brasil.
5
O que é Biotecnologia?
Aula
1
Apresentação
A Biotecnologia é uma ciência que existe desde os primórdios da civilização e vem
se desenvolvendo e aperfeiçoando a cada dia, chegando hoje ao que conhecemos por
Biotecnologia Moderna.
Ao final de cada tópico principal, haverá uma série de exercícios propostos para você
resolver e, no final da aula, haverá uma autoavaliação para que você possa analisar seu
processo de aprendizagem.
Para compreender os assuntos que serão abordados nesta aula, é necessário que você leia
atentamente os conceitos, faça anotações e, em caso de dúvidas, acesse o fórum da disciplina
o mais rápido possível.
Bons estudos!
Aula 1 Biotecnologia 9
Objetivos
1 Definir o conceito de Biotecnologia.
Entendendo a Biotecnologia
A palavra Biotecnologia pode, em um primeiro momento, soar estranho aos nossos
ouvidos ou estar distante do nosso cotidiano. Porém, ao contrário do que pensamos,
Biotecnologia é uma expressão que define uma área da ciência que vem acompanhando o
homem há milhares de anos.
Vamos conferir?
Vamos analisar, como exemplo, a bebida mais consumida pelos brasileiros, a cerveja.
Fonte: <http://www.sxc.hu>.
10 Aula 1 Biotecnologia
Se pararmos para pensar como é o processo de produção da cerveja, veremos que ela
é produzida a partir da fermentação de grãos de cereais utilizando as leveduras. Mas o que
isso significa?
Significa que, aos grãos de cereais são adicionados fungos denominados leveduras
(para relembrar, ver Aula 9 – Fungos: seres especiais, da disciplina de Biodiversidade)
que, num processo chamado de fermentação produzem a cerveja. Ao contrário do que Fermentação
muitos de nós pensamos, esse processo já era conhecido pelos sumérios e babilônios Processo que, em
condições ideais de
antes do ano 6.000 a.C., que utilizavam a bebida tanto em cerimônias religiosas ou festivas,
temperatura (25 -
quanto para o tratamento de algumas doenças. 30°C ) e na presença
de microrganismos,
Desse modo, a cerveja é um produto de um processo biotecnológico, pois utiliza transforma uma substância
organismos vivos para a produção de bens de consumo. Outros exemplos de processos em outra, por exemplo,
açúcar em álcool na
biotecnológicos são a produção de pão, vinho, vinagre, iogurte e queijos que, como a cerveja, produção da cerveja.
são há muito tempo utilizados pelo ser humano.
Sumérios e
babilônios
Habitantes da antiga
Mesopotâmia, localizada
entre os rios Tigre e
Eufrates no Oriente Médio,
onde atualmente é
o Iraque.
Figura 2 – Processo de fermentação realizado por leveduras (organismos vivos) produz queijos, vinhos, pães (produtos)
Aula 1 Biotecnologia 11
Uma definição para Biotecnologia
Diante do que vimos até agora, você já tem condições de definir Biotecnologia.
Se dividirmos a palavra Biotecnologia nas duas palavras que lhe deram origem, Bio e
Tecnologia, teremos a seguinte definição:
Esquematicamente, temos:
BIOTECNOLOGIA
12 Aula 1 Biotecnologia
1
Aula 1 Biotecnologia 13
A história da Biotecnologia
Até chegar ao que conhecemos hoje, a Biotecnologia passou por várias fases de evolução
até atingir o grau de desenvolvimento e de importância atuais. Desse modo, podemos dividir
a história da Biotecnologia em três grandes momentos: a Biotecnologia da Fermentação, a
Biotecnologia da Produção de Antibióticos e a Biotecnologia Moderna.
A Biotecnologia da Fermentação
Nesse primeiro momento, a Biotecnologia era, sobretudo, utilizada para a produção de
alimentos como vinho, queijo, cerveja, pão, dentre outros produtos fermentados.
A sua utilização através dos processos fermentativos, vem bem antes da Era Cristã e se
confunde, muitas vezes, com a própria história da humanidade. Os processos de produção
de alimentos começaram por volta de 6.000 a.C com os sumérios e babilônios e depois, em
2.000 a.C., os egípcios já utilizavam o fermento para a produção de cerveja e de pão. Entretanto,
esses povos realizavam esse processo intuitivamente, sem critério metodológico e sem saber
qual o agente responsável por gerar esses produtos.
Assim, somente após oito milênios, por volta do século XVII, Anton Van Leeuwenhock,
microscopista holandês, foi o primeiro a fazer observações microscópicas de materiais
biológicos, utilizando lentes com aumentos de 50 a 300 vezes. Nessas observações,
Leeuwenhock descreveu a existência de seres tão minúsculos que eram invisíveis a olho nu.
Fonte: <http://usuarios.cultura.com.br/
jmrezende/leeuwenhoek2.jpg>. Acesso em: 11 nov. 2010.
14 Aula 1 Biotecnologia
Figura 5 – Microscópio usado por Leeuwenhock
Fonte: <http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=24174&op=all>.
Acesso em: 11 nov. 2010.
Entretanto, somente em 1876, 200 anos após a descoberta de Leeuwenhock, foi que
Louis Pasteur conseguiu provar que os agentes responsáveis pelos processos fermentativos
eram os microrganismos minúsculos, derrubando a hipótese de que a fermentação era um
processo somente químico, sem a participação de seres vivos.
Fonte: <http://www.gardenofpraise.com/images/pasteur.jpg>.
Acesso em: 11 nov. 2010.
Aula 1 Biotecnologia 15
Figura 7 – Eduard Buchner (1860-1917)
Fonte: <http://www.nobelprize.org/nobel_prizes/
chemistry/laureates/1907/buchner.jpg>. Acesso em: 11 nov. 2010.
16 Aula 1 Biotecnologia
de seu Polo e coloque o outro na geladeira (de 5 a 10 oC), ambos durante cerca de 6 horas.
Caso o Polo de apoio não tenha estufa, pode colocar a mistura sob o sol.
Dado o tempo, explique o que aconteceu com cada uma das bexigas.
Aula 1 Biotecnologia 17
A Biotecnologia da Produção de Antibióticos
Outro grande avanço na fermentação industrial foi a produção de antibióticos. Após
a descoberta da penicilina pelo médico e bacteriologista escocês Alexandre Fleming, em
1928, foi possível a produção de uma série de diferentes antibióticos utilizando os processos
fermentativos em grande escala.
Estreptomicina
Antibiótico natural
produzido pelo fungo
Streptomyces sp.
Fonte: <http://www.oarquivo.com.br/portal/images/
stories/biografias/fleming4.jpg>. Acesso em: 11 nov. 2010.
Foi a partir dessa descoberta que se deu início a produção de enzimas e vitaminas
utilizando microrganismos. Novos antibióticos naturais e também artificiais passaram a ser
produzidos a partir de substâncias produzidas por microrganismos.
18 Aula 1 Biotecnologia
Figura 9 – James Watson (à esquerda), Francis Crick (à direita) e o modelo da estrutura do DNA
Fonte: <http://www.flyfishingdevon.co.uk/salmon/year3/
psy339evolutionarypsychologyroots/watson-crick-dna.jpg>. Acesso em: 11 nov. 2010.
O texto a seguir narra essa grande descoberta que viria mudar toda a história da Ciência.
Aula 1 Biotecnologia 19
(A), timina (T), guanina (G) e citosina (C) [...]. Logo percebi que um padrão
simples de emparelhamento funcionava excepcionalmente bem: A encaixava-se
com T, e G com C. Seria isso? Será que a molécula consistia em duas cadeias
unidas pelos pares A-T e G -C ? Era algo tão simples, tão sucinto, que tinha de
estar certo – ou quase. Eu já me equivocara no passado e, antes de me empolgar
demais, essa estrutura de pares teria de passar pelo crivo do olho crítico de
Crick. Foi uma surpresa ansiosa, mas eu não precisava ter me preocupado. Crick
logo percebeu que a minha ideia de pares implicava de uma estrutura de dupla
hélice, com duas cadeias moleculares avançando em direções opostas. Tudo o
que se sabia sobre o DNA e suas propriedades [...]. Mais importante, porém, é
que o modo como a molécula se organizava sugeria de imediato, solução para
dois dos mistérios mais antigos da biologia: como as informações hereditárias
são armazenadas e como ocorreu sua replicação [...]. Nossa descoberta pôs fim
a uma discussão tão antiga quanto a espécie humana: será que a vida possui
alguma essência mágica ou mística? Ou será que, como qualquer outra reação
química realizada em laboratório, é produto de processos físicos e químicos
normais? Existe algo divino no âmago da célula, que lhe dá a vida? A dupla-hélice
respondia a essa última pergunta com um “não” definitivo.
Fonte: DNA O segredo da Vida. James D. Watson. Ed. Companhia das Letras. São Paulo. p.11-12. 2005.
Foi somente a partir da década de 1950, com a descoberta do DNA, que a Biotecnologia
passou de fato a existir e a constituir o que chamamos hoje de Biotecnologia Moderna.
In vitro
Expressão latina que se
refere aos processos A Biotecnologia Moderna
biológicos que são
realizados fora dos Referimo-nos à Biotecnologia Moderna como sendo o terceiro momento na história da
sistemas vivos, no Biotecnologia, que teve início após a descoberta da molécula de DNA e se estendeu para a
ambiente fechado
década de 1970 com a chamada Engenharia Genética.
e controlado de um
laboratório, e que
Entende-se por Engenharia Genética ou Tecnologia do DNA Recombinante, o conjunto
normalmente são feitos
em recipientes de vidro. de técnicas moleculares precisas que ligam segmentos de moléculas de DNA de diferentes
organismos. Essas técnicas permitem inserir um fragmento de DNA de interesse num hospedeiro,
abrindo a possibilidade de combinar sequências de DNA de seres vivos muito diversificados.
Moléculas híbridas
Moléculas formadas por Ela surgiu em 1972, quando o pesquisador Paul Berg e seus colaboradores demonstraram
DNA de diferentes origens. pela primeira vez que era possível cortar in vitro moléculas de DNA de diferentes origens e ligar
os fragmentos resultantes entre eles, obtendo assim moléculas híbridas de DNA, chamadas
de DNA recombinante. Mas, não seria nada interessante guardar as moléculas híbridas em um
20 Aula 1 Biotecnologia
tubo de ensaio no laboratório. Assim, os pesquisadores investigaram uma forma de introduzir
o material genético construído artificialmente (DNA recombinante) numa célula viva (no caso
uma célula bacteriana recombinante), onde ele pudesse se manifestar, se expressar.
A Figura 10 ilustra uma molécula de DNA recombinante originada através das técnicas
de Engenharia Genética.
DNA plasmidial
Remoção do
DNA plasmidial DNA
estranho DNA
recombinante
As técnicas de Engenharia Genética podem ainda ser usadas para estudar mecanismos
de replicação e expressão de genes, na determinação da sequência de um gene e,
consequentemente, da proteína que ele codifica, ou no desenvolvimento de culturas microbianas
capazes de produzir substâncias úteis, tais como a insulina humana, hormônio de crescimento, DNA recombinante
DNA plasmidial: É
vacinas e enzimas industriais em larga escala.
o material genético
circular não ligado ao
Como consequência do desenvolvimento desta tecnologia é possível, atualmente, realizar cromossomo que fica
investigação de paternidade e o diagnóstico de doenças genéticas e infecciosas através da espalhado na célula
análise de DNA, que veremos com mais detalhes nas próximas aulas. bacteriana e é repassado
para a célula filha na
Por outro lado, com a utilização da Engenharia Genética podemos alterar as características divisão celular.
Aula 1 Biotecnologia 21
3
Até agora pudemos perceber que a Biotecnologia Moderna avançou muito em um intervalo
de tempo relativamente curto. Cite os principais avanços do terceiro momento da Biotecnologia
e comente seus impactos em nossa sociedade.
22 Aula 1 Biotecnologia
Biotecnologia:
a ciência da multidisciplinaridade
A Biotecnologia tem como base várias áreas do conhecimento, que poderiam ser
classificadas como fundamentais, que abrangem a Genética, Microbiologia, Bioquímica,
Virologia e a Botânica, e as engenharias, principalmente a Engenharia Química (Figura 11).
• Bioquímica
• Cultura de células • Biologia Molecular • Química de produtos naturais
de animais e plantas • Química fina
• Genética
• Microbiologia • Tecnologia das enzimas
Biologia Química
Biotecnologia
• Bioreatores
• Sistemas de controle
Aula 1 Biotecnologia 23
superficiais, sobre as estratégias computacionais empregadas, tais como construção de um banco
de dados e programas de análise de sequências de DNA. Do mesmo modo, o especialista em
Ciência da Computação deve ter noções básicas sobre a estrutura da molécula de DNA. Somente
dessa forma, a atividade multidisciplinar efetivamente existirá e poderá ser mais eficiente.
Fonte: <http://3.bp.blogspot.com/_i2NlCF_qaUo/ScjKaMKMWbI/
AAAAAAAABek/zMKqCbd9oN4/s400/4959.jpg>. Acesso em: 11 nov. 2010.
24 Aula 1 Biotecnologia
Cromossomos: Estruturas que contêm os genes.
Gene: Cada gene é formado por uma sequência específica de DNA, que contém a informação
para a síntese de proteínas.
Nucleotídeo: Unidade formadora dos ácidos nucleicos, composto por um grupo fosfato, um
açúcar (no DNA é a desoxirribose e no RNA é a ribose) e uma base nitrogenada (Adenina (A),
Timina (T ), Citosina (C ) e Guanina (G )). No RNA, a base nitrogenada Timina é substituída
pela Uracila (U).
Leitura complementar
A história da Biotecnologia
O texto anteriormente citado relata com mais detalhes a história da Biotecnologia, desde a sua
utilização pelas civilizações antigas, suas modificações ao longo do tempo, até chegarmos ao
que conhecemos hoje por Biotecnologia Moderna. Além disso, o texto traz informações ainda
não contempladas nesta aula, como o Melhoramento Genético Convencional e o Melhoramento
Genético Biotecnológico, que veremos nas aulas seguintes. Entretanto, é de extrema importância
essa leitura inicial para que vocês se familiarizem com o assunto e despertem curiosidade.
Resumo
Aula 1 Biotecnologia 25
nas mais diversas áreas do conhecimento, envolvendo as grandes áreas das
engenharias e as áreas denominadas fundamentais, tornando-se uma ciência
multidisciplinar. Por fim, você retomou alguns conceitos vistos em disciplinas
anteriores e que serão essenciais para a compreensão das aulas seguintes.
Autoavaliação
Agora que você já teve o primeiro contato com a Biotecnologia e pôde entender o seu
conceito e conhecer a sua história, construa uma linha do tempo contendo os principais
acontecimentos envolvidos na história da Biotecnologia. Para facilitar a construção, comece
com a Biotecnologia praticada pelos povos das antigas civilizações.
26 Aula 1 Biotecnologia
Referências
BORZANI, Walter et al. Biotecnologia industrial. São Paulo: Editora Blucher, 2001. 254 p.
(Fundamentos, 1).
SERAFINE, Luciana Atti; BARROS, Neiva Monteiro de; AZEVEDO, João Lúcio de. Biotecnologia:
avanços na agricultura e na agroindústria. Caxias do Sul: Educs, 2002.
WATSON, James. DNA O segredo da vida. São Paulo: Companhia das Letras, 2005. 470 p.
Anotações
Aula 1 Biotecnologia 27
Anotações
28 Aula 1 Biotecnologia
A importância dos
microrganismos na Biotecnologia
Aula
2
Apresentação
Na primeira aula (Aula 1 - O que é Biotecnologia?), conhecemos os três principais mo-
mentos da história de Biotecnologia: A Biotecnologia da Fermentação, a Biotecnologia da
Produção de Antibióticos e a Biotecnologia Moderna. Nesta aula, estudaremos com mais
detalhe o momento da Biotecnologia no que se refere à utilização dos microrganismos. Nesse
contexto, nos aprofundaremos nos processos fermentativos, na produção de antibióticos e
vacinas, e ainda na utilização desses microrganismos na agricultura para o controle de pragas,
e também na indústria alimentar e química.
Para alcançar os objetivos listados a seguir, leia atentamente todos os tópicos da aula.
Quando necessário, faça anotações e poste suas dúvidas na página da disciplina.
Boa aula!!
Objetivos
Descrever como os microrganismos contribuíram para o
1
desenvolvimento da Biotecnologia.
Aula 2 Biotecnologia 31
Um olhar para o passado
Se relembrarmos a história da Biotecnologia estudada na Aula 1 (O que é Biotecnolo-
gia?), nos damos conta de que a utilização de microrganismos para a produção de bens e
serviços existe desde os primórdios da civilização. Exemplos clássicos dessa prática podem
ser a produção de alimentos, como o pão e o queijo, e a de bebidas, como o vinho e a cerveja.
Fonte: <http://media.photobucket.com/image/olhar%
20para%20o%20passado/estrelaluz/Olhar.jpg>. Acesso em: 10 nov. 2010.
Antes de Louis Pasteur, não se tinha ideia de que esses processos pudessem ser realizados
à custa da ação de microrganismos. Com essa descoberta, houve um extraordinário crescimento
do conhecimento sobre as fermentações que passaram a ser estudadas de forma científica.
Ao longo do século XX, diversos processos fermentativos foram introduzidos ou aper-
feiçoados, usufruindo do potencial de matérias-primas renováveis na obtenção de produtos
químicos, combustíveis, alimentos e bebidas, bioinseticidas, biofertilizantes, fármacos e
enzimas. São esses processos que veremos a seguir.
Aula 2 Biotecnologia 33
Os processos fermentativos
A fermentação pode ser definida como o processo utilizado por microrganismos para
obter energia (na forma de ATP) através da oxidação incompleta da glicose.
FERMENTAÇÃO
2 ATP Glicólise Citosol
Glicose
4 ATP
2TH2
2 Ácido pirúvico
2 Ácido láctico
Bactérias
Para mais detalhes sobre Os microrganismos responsáveis por esse processo podem ser bactérias fermen-
bactérias e fungos, vide
tativas (Figura 3), bolores ou fungos filamentosos (Figura 4) e as leveduras ou fungos
aulas 6 e 7 da disciplina
de Biodiversidade. unicelulares (Figura 5).
Fonte: <http://www.brasilescola.com/
upload/e/lactobacilos.jpg>. Acesso em: 10 nov. 2010.
34 Aula 2 Biotecnologia
Figura 4 – Bolores ou fungos filamentosos
Fonte: <http://picsdigger.com/image/82940342/>.
Acesso em: 10 nov. 2010.
Fonte: <http://elementosqf.files.wordpress.com/2007/11/
leveduras.gif?w=497>. Acesso em: 10 nov. 2010.
Para o processo fermentativo ser executado com sucesso é necessário que sejam respei-
tadas as características de cada microrganismo, conhecido também como agente fermentativo.
Para cada grupo, gênero, espécie e linhagem microbiana, há a necessidade de um meio de cultura Meio de cultura
apropriado, bem como a correta proporção de nutrientes contidos nesse meio. Normalmente, Meio destinado ao cultivo
artificial de microrganis-
esses meios contêm proteínas, enxofre, elementos metálicos e vitaminas, essenciais para o
mos, que contém as fontes
metabolismo do microrganismo. de carbono, nitrogênio,
Por exemplo: as bactérias conhecidas como lactobacilos, utilizadas na produção de carboidratos e sais mine-
iogurte, necessitam que em seu meio de cultura contenha açúcar, para que, a partir de seu rais necessários para seu
desenvolvimento.
consumo e metabolismo, possa haver a produção final de ácido láctico, originado pela
fermentação láctica. Alguns fungos e leveduras consomem e metabolizam o açúcar contido
na cana-de-açúcar e produzem álcool, originado pela fermentação alcoólica. Outro aspecto
que se deve levar em consideração para o sucesso da fermentação são as condições de
temperatura e pH.
Aula 2 Biotecnologia 35
Como esses fatores podem interferir
na qualidade da fermentação?
Temperatura: microrganismos diferentes crescem em temperaturas diferentes. Há aque-
les que crescem abaixo de 7°C (microrganismos psicrófilos), os que crescem a 25°C, outros
que crescem em temperaturas de 25°C a 40°C (mesófilos) e os que crescem em temperaturas
acima de 60°C (termófilos e hipertermófilos). De acordo com a faixa de temperatura ideal para
o crescimento de determinado microrganismo, ele recebe diferentes denominações, como
ilustrado pela Figura 6 para algumas espécies de bactérias.
Taxa de crescimento
Termófilo
Bacillus stearothermophiilus Hipertermófilo Hipertermófilo
Mesófilo Thermococcus color Pyrolobus furmani
Escherichia coli 500
880 1060
390
Psicrófilo
Potaromonas vacuolatas
pH
Potencial hidrogeniônico
40
que permite descrever o
caráter ácido ou básico 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120
Temperatura (0C)
que predomina em meio
aquoso, tendo em conta
o seu valor determinado Figura 6 – Taxa de crescimento de algumas bactérias de acordo com a temperatura
numa escala de 0 a 14.
Para a temperatura de Fonte: <http://vsites.unb.br/ib/cel/microbiologia/crescimento/tipostermicos.jpg>. Acesso em: 10 nov. 2010.
36 Aula 2 Biotecnologia
0
Ácido de Bateria
1
Suco de Limão
2
Aumento Vinagre Chuva
de acidez 3 Peixe adulto morre ácida
4 Reprodução dos
peixes afetados
5
Linha normal
6 Leite de chuva
Neutro 7 Linha normal
dos nos
8 Bicabornato de sódio
9 Água do mar
10 Leite de
Aumento de 11 Magnésia
alcalinidade
12 Amônia
13 Barrela
14 Escala de pH
Aula 2 Biotecnologia 37
2 Defina fermentação.
38 Aula 2 Biotecnologia
Diferentes microrganismos,
diferentes fermentações
Nem todos os microrganismos, mesmo sob condições ideais de temperatura e pH , dão
origem aos mesmos produtos.
A seguir, veremos os principais tipos de fermentações, seus agentes fermentativos e
seus respectivos produtos.
Entretanto, para que haja essa produção, torna-se necessária a ação de um conjunto de
enzimas para o desdobramento desses açúcares em álcool. Essas enzimas são sintetizadas pe-
los microrganismos denominados leveduras ou fermentos. No caso da fermentação alcoólica,
Saccharomyces cerevisiae é a mais comum e a mais utilizada.
Aula 2 Biotecnologia 39
Esse processo microbiano de grande importância é utilizado pelo homem na produção
de laticínios, na produção de picles e chucrute e na conservação de forragens. Por outro lado,
é responsável pela deterioração de vários produtos agrícolas.
As bactérias utilizadas industrialmente são as anaeróbias. Acetobacter e Lactobacillus
são os gêneros mais envolvidos nos processos para obtenção do ácido láctico.
40 Aula 2 Biotecnologia
que provocam nos alimentos e bebidas. Pelo fato de necessitarem do oxigênio do ar para
realizarem a acetificação, multiplicam-se mais na parte superior do vinho que está sendo
transformado em vinagre, formando um véu conhecido como “mãe do vinagre”. Esse véu
pode ser mais ou menos espesso de acordo com o tipo de bactéria.
A Figura 11 ilustra os principais processos fermentativos e seus respectivos produtos.
2 NAD
2 NADH2 H
H C CH
H
CH3
CO2 C O
2 P Etanol
2 ADP 2 ATP CH3 + 2 H2O
OH OH
Acetaloeido
C2H2O6 Glicose C O C O 2
C O 2 NAD
Glicose CH3
2 NAD 2 NADH CH3 2 NADH2 Ácido acético
2
Ácido OH
piruvico
C O
2 NADH2
HC OH
2 NAD
CH3
Ácido lático
Figura 11 – Esquema da produção de etanol, ácido láctico e ácido acético através da fermentação
Aula 2 Biotecnologia 41
Atualmente, a fermentação industrial para a produção de ácido cítrico é conduzida através
da fermentação utilizando geralmente a espécie de fungo Aspergillus niger. Hoje, cerca de 70%
da produção é utilizada pela indústria de alimentos e bebidas; 12% pela indústria farmacêutica
e 18% por outras indústrias.
Uma curiosidade...
42 Aula 2 Biotecnologia
2
Aula 2 Biotecnologia 43
Agora que já vimos que os microrganismos são peças chave nos processos fermentativos,
originando diversos produtos que são utilizados nos mais diversos setores da sociedade, será
que acaba por aí a sua utilidade?
A seguir, veremos a utilização dos microrganismos em prol da nossa saúde. Vamos
verificar como?
44 Aula 2 Biotecnologia
Um pouco da história sobre a
descoberta dos antibióticos - A penicilina
Alexander Fleming (Figura 14), professor de bacteriologia na Universidade de Londres
e também chefe de pesquisa na Escola Médica do Hospital de Saint Mary, foi o grande nome
envolvido na descoberta do antibiótico, hoje conhecido como penicilina.
Como fazia rotineiramente, Fleming passava a maior parte de seu tempo no laboratório,
tentando prosseguir com seus estudos durante a 1ª Guerra Mundial, pois era membro do Corpo
Médico do Exército Real. Perturbado com o alto índice de soldados mortos por ferimentos
infeccionados, Fleming começou a questionar a efetividade do tratamento de tecidos doentes
com os antissépticos. Numa série de testes brilhantes, demonstrou que os antissépticos mais
prejudicavam do que ajudavam, já que matavam células do sistema imunológico, facilitando
ainda mais o aumento da infecção.
Com o fim da guerra, Fleming voltou a Saint Mary e continuou estudando bacteriologia. Seus
principais objetivos eram identificar algumas substâncias que pudessem combater as bactérias
sem danificar tecidos saudáveis ou enfraquecer os mecanismos de autodefesa do corpo.
Certo dia, em 1928, ele estava em seu laboratório checando algumas culturas de bactérias
estafilococos. Uma cultura em particular chamou sua atenção: ela permaneceu descoberta aci-
dentalmente por diversos dias e havia sido contaminada por um esporo de fungo que penetrou Esporo
através da única janela do laboratório. Fleming estava a ponto de lavar o prato quando percebeu unidade de
reprodução
algo muito incomum: na região ao redor do fungo, os estafilococos haviam desaparecido por
dos fungos.
completo. Nas outras partes do recipiente, porém, continuavam crescendo.
Fleming ficou intrigado – talvez tivesse chegado a uma maravilhosa descoberta. Ele imedia-
tamente começou a produzir mais fungos para que pudesse confirmar sua descoberta acidental.
Durante os oito meses seguintes, concluiu que o fungo continha uma substância poderosa, à qual
deu o nome de “penicilina”, devido ao fungo Penicillium chrysogenum notatum. A substância
eliminava não apenas estafilococos, mas também outras bactérias mortais. Na Figura 15 pode-se
Aula 2 Biotecnologia 45
observar a formação do fungo e nenhuma visualização das colônias de bactérias as quais foram
mortas pela substância produzida.
Figura 15 – Placa de Petri inoculada com bactéria Stafilococcus sp. e o fungo Penicillum notatum
A descoberta de Alexander Fleming foi umas das mais importantes em toda a história
humana. Ressalta-se que a penicilina não cura todas as infecções. Na verdade, algumas pes-
soas podem ter até mesmo reações alérgicas fatais. Contudo, a substância já curou milhões
de pessoas que contraíram infecções bacterianas incluindo a pneumonia, a sífilis, a difteria,
ou mesmo meningite, bronquite e infecções nos ossos.
E as vacinas?
Vimos anteriormente que os antibióticos são produtos do metabolismo de fungos, como
o Penicillum sp., potentes contra muitas doenças.
Agora vamos ver como as vacinas foram descobertas e qual o papel dos microrganismos
nesse processo.
Atenuados Vacinas são substâncias produzidas a partir de microrganismos vivos ou atenuados,
São microrganismos como vírus ou bactérias, e que conferem proteção em relação a uma determinada doença.
modificados para serem
As vacinas contêm agentes infecciosos inativados que induzem à produção de anticorpos
menos prejudiciais ou
não-virulentos quando na pessoa vacinada, evitando o desenvolvimento de uma infecção. Isso se dá através de um
inoculados, mas ainda mecanismo chamado “memória celular”.
assim serem capazes de Todos nós, desde o nascimento aos 6 anos de idade, recebemos várias vacinas para
induzir proteção.
prevenir uma série de doenças. Dentre elas, podemos destacar a BCG, contra a tuberculose;
a de hepatite A e B, contra a hepatite; a da febre amarela; a tríplice viral contra a tuberculose,
difteria e tétano, dentre outras.
BCG Mas, como é a produção dessas vacinas utilizando microrganismos? Como os micror-
Sigla que remete ao Bacilo ganismos que as contêm atuam de modo a promover a proteção contra a doença e ao mesmo
de Calmette-Guérin, causa-
tempo estar em contato com o organismo sem causar danos?
dor da tuberculose
Para responder a essas perguntas, vamos tomar como exemplo a produção da vacina
contra a hepatite B.
46 Aula 2 Biotecnologia
Figura 16 – Imagem ilustrando a hepatite B como alvo de vacinação
Há dez anos, o Instituto Butantã produz em escala industrial uma vacina contra a hepatite
B. Esse tipo de hepatite, ou seja, a infecção do fígado, pode causar cirrose e câncer, constituindo
um sério problema de saúde pública no Brasil. Chega a atingir 12% da população em regiões
mais críticas, como o estado do Amazonas.
A vacina produzida no Instituto Butantã é do tipo recombinante, ou seja, sua produção
utiliza as técnicas de engenharia genética, mais especificamente, a recombinação do DNA
(que vimos na Aula 1 e que veremos com mais detalhes na Aula 3 – Tecnologia do DNA Re-
combinante I).
Para a produção dessa vacina, é necessário extrair a proteína da cápsula do vírus da hepa-
tite, responsável por causar a doença e denominada de antígeno. Antes da engenharia genética,
essa proteína era extraída de indivíduos que apresentavam a doença. Agora, ela é produzida
por leveduras (aquelas mesmas que produzem o pão) que contêm o gene para a proteína viral
(antígeno), produzindo-a em grandes quantidades em fermentadores específicos. Depois da
produção, a biomassa celular obtida é quebrada para a liberação do antígeno e passa por um
processo de purificação. Esse produto, que tem a mesma proteína de superfície do vírus, é a
vacina, que irá ativar a produção de anticorpos (células de defesa do organismo, que nesse
caso são específicos contra a hepatite B).
Vimos anteriormente que um dos primeiros antibióticos produzidos foi a penicilina, deri-
vada do fungo Penicillum. Esse antibiótico vem sendo extensivamente utilizado e recentemente
se descobriu que as bactérias sensíveis a ele têm-se tornado resistentes. Faça uma pesquisa
e elabore algumas hipóteses para explicar esse fato.
Aula 2 Biotecnologia 47
Dica: Uma boa fonte de consulta são os livros Microbiologia dos autores Michael J. Pel-
czar Jr., Chan e Noel Krieg e Biotecnologia Industrial volume 4, de Eugênio Aquarone, Walter
Borzani, Willibaldo Schmidell e Urgel de Almeida Lima.
Biopesticidas
Microrganismos na agricultura
São substâncias de
ocorrência natural
(pesticidas bioquímicos)
O controle de pragas
que controlam pragas,
ou microrganismos
Você já deve ter visto em alguma lavoura ou plantação a prática da pulverização de agro-
que controlam pragas
(pesticidas microbianos), tóxicos para combater pragas. Essa prática vem acarretando prejuízos tanto para o homem
e substâncias com ação quanto para o meio ambiente, atingindo inimigos naturais, contaminando os alimentos e
pesticida produzidas por chegando aos rios e solos.
plantas contendo material
Uma alternativa que vem sendo utilizada para minimizar esses danos é substituir a uti-
genético exógeno (incluído
em culturas geneticamente lização desses compostos químicos por fungos, bactérias, vírus, dentre outros organismos,
modificadas). chamados de biopesticidas.
48 Aula 2 Biotecnologia
Essa prática teve início em 1938, quando o primeiro produto à base de microrganismos foi co-
mercializado. Esse produto tem como organismo vivo uma bactéria chamada Bacillus thuringiensis.
Mas, você deve estar se perguntando... Como essa bactéria age no controle de pragas?
Durante uma fase do seu ciclo de desenvolvimento chamada de esporulação, ela produz
uma toxina mais conhecida como proteína Cry, que vai se acumulando na célula na forma de
um cristal, liberado no final da esporulação (Figura 17).
Assim, para que a proteína exerça seu papel no controle biológico de pragas, ela deve
ser ingerida na forma de cristal pela larva de um inseto, que no seu intestino é digerida e li-
berada do cristal sob a sua forma tóxica. Nessa forma, ela se liga a receptores específicos na
membrana do intestino do inseto causando um desequilíbrio osmótico da célula, consequente
lise e morte celular.
Com o advento das técnicas de biologia molecular, o gene cry, que codifica essa proteína,
foi isolado e inserido nas plantas para que elas próprias passassem a produzir a proteína letal
aos insetos (Figura 18).
Esse foi um avanço significativo na utilização de microrganismos no controle de pragas.
Hoje em dia, o produtor já pode encontrar no mercado sementes de diversas culturas, como
por exemplo, o milho e o algodão denominados de Bt em referência ao Bacillus thuringiensis.
Aula 2 Biotecnologia 49
Figura 18 – Mecanismo de ação do Bacillus thuringiensis contra pragas da agricultura
Leituras complementares
50 Aula 2 Biotecnologia
Resumo
Autoavaliação
Agora que você já estudou a importância dos microrganismos para a Biotecnologia,
enumere os processos e produtos dos quais eles participam. Além disso, pesquise outros
processos biotecnológicos dos quais esses agentes são imprescindíveis.
Aula 2 Biotecnologia 51
Referências
BORZANI, Walter et al. Biotecnologia Industrial. São Paulo: Editora Blucher, 2001. 254p.
(Fundamentos, 1).
BUTANTAN já produz vacina contra hepatite B. Revista Fapesp, edição impres. 23, 1997.
Disponível em: <http://revistapesquisa.fapesp.br/?art=252&bd=1&pg=2&lg=>. Acesso em:
6 set. 2010.
SERAFINE, Luciana Atti; BARROS, Neiva Monteiro de; AZEVEDO, João Lúcio de. Biotecnologia:
avanços na agricultura e na agroindústria. Caxias do Sul: Educs, 2002.
52 Aula 2 Biotecnologia
Anotações
Aula 2 Biotecnologia 53
Anotações
54 Aula 2 Biotecnologia
Tecnologia do DNA Recombinante I
Aula
3
Apresentação
N
a aula anterior (Aula 2- A importância dos microrganismos na Biotecnologia), conhe-
cemos e compreendemos a importância dos microrganismos nas mais diversas áreas
do conhecimento. Nesta aula, vamos estudar como esses microrganismos podem
sofrer modificações para que o seu DNA seja manipulado através de um conjunto de técnicas
denominadas de Tecnologia do DNA Recombinante ou Engenharia Genética.
Estudaremos os mecanismos pelos quais é possível “cortar”, “colar” e “copiar” um seg-
mento de DNA, utilizando as enzimas de restrição, enzimas de ligação, vetores de clonagem
e clonagem molecular. Por fim, veremos como, quando e onde essas tecnologias podem ser
utilizadas em benefício do homem.
Leia atentamente a aula e, em caso de dúvidas, acesse o fórum da disciplina.
Bom estudo!
Objetivos
Conhecer os eventos envolvidos na descoberta da Tecnologia
1 do DNA Recombinante.
Aula 3 Biotecnologia 57
Onde tudo começou
A
té a década de 1970, o componente celular mais difícil de ser analisado era o DNA. Desde
1953, quando Watson e Crick desvendaram a estrutura do DNA, os pesquisadores já
sabiam que o DNA tratava-se de uma molécula extremamente longa, apresentando-se
sob a forma de uma dupla hélice. Só para se ter uma ideia, o cromossomo 1 de humanos é
o maior de todos, contendo 8% do DNA total de cada célula, com cerca de 250 milhões de
pares de bases (Figura 1a), e mesmo as menores moléculas de DNA presentes em bactérias,
possuem 4 milhões de pares de bases (Figura 1b).
a b
cromossomo plasmídeo
1 2 3 4 5 bacteriano
bactéria
6 7 8 9 10 11 12
13 14 15 16 17 18
19 20 21 22 X Y plasmídeo
Autossomos Cromossomos
1 μm
sexuais
Entretanto, o que os pesquisadores ainda não tinham desenvolvido eram técnicas capa-
zes de acessar a informação contida na estrutura do DNA. Assim, para se estudar a fundo um
determinado segmento de DNA, ou seja, um gene, teria de haver alguma maneira de isolá-lo
do restante do DNA total. E não era somente uma questão de isolar o DNA a ser estudado,
mas também uma questão de amplificá-lo, ou seja, aumentar a sua quantidade para que ele
pudesse ser estudado.
Em essência, precisava-se de um sistema de edição e montagem molecular: uma tesoura
molecular que cortasse o trecho do DNA em partes de tamanhos aceitáveis, algum tipo de cola
molecular que permitisse manusear essas partes e, por fim, alguma copiadora molecular que
amplificasse ou copiasse as partes que haviam sido cortadas e isoladas. Precisava-se fazer com
o DNA o que hoje, qualquer processador de texto faz com as palavras: cortar, colar e copiar.
Aula 3 Biotecnologia 59
Figura 2 – Ilustração da tesoura molecular e ao centro a molécula de DNA
Definindo a Tecnologia
que formam as proteínas.
A combinação de trincas
de nucleotídeos codifica
um aminoácido. No total,
essa combinação gera 20 do DNA Recombinante
aminoácidos diferentes.
Como vimos acima, a Tecnologia do DNA Recombinante, também conhecida como Enge-
nharia Genética, compreende o conjunto de técnicas que permite identificar, isolar e multiplicar
genes de quaisquer organismos. O termo recombinante é devido ao fato de essas técnicas
combinarem o material genético de fontes distintas, ou seja, do DNA extracromossômico de
bactérias (DNA plasmideal) com o DNA de outro organismo qualquer. Muitas das técnicas são
provenientes da Microbiologia, Bioquímica, Imunologia e Genética Microbiana e permitiram que
a análise do DNA ganhasse um novo enfoque. A informação contida no DNA tornou-se, então,
acessível por meio de análises moleculares. Dessa forma, tornou-se possível isolar regiões
específicas, obtê-las em grande quantidade e determinar a sua sequência.
A Tecnologia do DNA Recombinante tem uma ampla aplicação. Ela pode ser usada para
estudar mecanismos de replicação e expressão gênica, na determinação da sequência de um
gene e, consequentemente, da proteína que ele codifica, ou no desenvolvimento de culturas
microbianas capazes de produzir substâncias úteis, tais como a insulina humana, hormônio de
crescimento, vacinas e enzimas industriais em grandes quantidades. Sua aplicação comercial
ou biotecnológica parece ter um potencial inesgotável. Como consequência do desenvolvi-
60 Aula 3 Biotecnologia
mento dessa tecnologia, é possível atualmente investigar a paternidade e diagnosticar doenças
genéticas e infecciosas através da análise de DNA, que estudaremos nas próximas aulas.
A seguir, veremos com mais detalhes algumas dessas técnicas desenvolvidas para ma-
nipular o DNA, começando pelas tesouras moleculares chamadas de enzimas de restrição
ou nucleases de restrição.
Enzimas de restrição ou
nucleases de restrição
Na década de 1960, o bioquímico suíço Werner Arber se viu diante de um enigma: ao
estudar a infecção de uma célula bacteriana por um vírus, denominado bacteriófago, observou Bacteriófago
que algumas células hospedeiras (embora não todas, de outra forma nenhum vírus poderia se Vírus que tem a capaci-
dade de infectar bactérias
reproduzir) identificavam o DNA viral como estranho e seletivamente o atacavam, cortando a
e, em alguns casos,
sua molécula em vários fragmentos menores (Figura 3). destruí-las.
Enzimas
Entrada de Enzima de restrição Grupo de substâncias
DNA viral na cortando o DNA viral em
bactéria zonas específicas orgânicas de natureza
normalmente proteica
(existem também enzimas
Fragmentação do DNA constituídas de RNA, as
viral por outras enzimas ribozimas), com atividade
intra ou extracelular catali-
sando reações.
DNA da bactéria
Figura 3 – Vírus infectando uma bactéria e tendo seu DNA cortado pelas enzimas de restrição
Muitos estudos foram então realizados até que Arber descobriu um grupo de enzimas
que degradavam o DNA, chamadas de enzimas de restrição ou nucleases de restrição. Sua
presença nas células bacterianas restringia o crescimento viral ao clivar, ou seja, cortar o DNA
estranho, no caso, o DNA do vírus.
A clivagem do DNA é uma reação enzimática específica, ou seja, cada enzima reconhece
apenas um tipo de sequência, independente da fonte de DNA. Por exemplo, a enzima chamada
de EcoRI, uma das primeiras enzimas de restrição descobertas, reconhece e cliva a sequência
específica de bases GAATTC e a enzima HindIII reconhece e cliva a sequência específica de
bases AAGCTT, conforme ilustrado na Figura 4.
Aula 3 Biotecnologia 61
EcoRI HindIII
Ponto de Ponto de
clivagem clivagem
5’ 3’ 5’ 3’
G A A T T C A A G C T T
C T T A A G T T C G A A
Eixo de Eixo de
simetria Ponto de simetria Ponto de
clivagem clivagem
Se as enzimas de restrição clivam o DNA, por que a bactéria não acaba clivando
o seu próprio DNA toda vez que aparecer a sequência GAATTC, por exemplo?
62 Aula 3 Biotecnologia
no eixo de simetria da sequência específica, gerando extremidades denominadas abruptas
(Figura 5a) ou cortes que são feitos simetricamente, porém, fora do eixo de simetria, gerando
extremidades denominadas coesivas (Figura 5b).
a b
Clivagem no eixo de simetria Clivagem simetricamente situada
ao redor do eixo de simetria
... T C G A ...
... G A A T T C ...
... A G C A ...
... C T T A A G ...
Figura 5 – Exemplo de sequências palindrômicas. As setas indicam o sítio de reconhecimento da enzima e os traços
pontilhados o eixo de simetria. a) clivagem no eixo de simetria gerando moléculas com extremidades abruptas e
b) clivagem ao redor do eixo de simetria gerando moléculas com extremidades coesivas.
Aula 3 Biotecnologia 63
Microrganismo Enzima Sequência alvo
G A A T T C
Escherichia coli Eco RI C T T A A G
G G A T C C
Bacillus amyloliquefaciens H Bam HI C C T A G G
A G A T C T
Bacillus globigii Bgl II T C T A G A
Purina e Pirimidina
Classes às quais perten-
cem as bases nitrogenadas 1
que compõem o DNA.
As pirimidinas incluem a
timina e a citosina, e as
purinas, a adenina Quando uma molécula de DNA estranha, isto é, de um organismo diferente, invade certas
e guanina.
bactérias, o DNA é frequentemente clivado.
64 Aula 3 Biotecnologia
b) Explique o porquê de o DNA da própria bactéria não sofrer esse processo.
Até agora vimos como o DNA pode ser cortado, utilizando as tesouras moleculares, deno-
minadas de enzimas de restrição. Um segundo passo para se construir uma molécula de DNA
recombinante é colar os fragmentos gerados pela ação das enzimas de restrição, através da
utilização das enzimas de ligação, e assim construir a molécula do DNA recombinante. Vamos
estudar esse processo com mais detalhes?
Aula 3 Biotecnologia 65
Construindo
o DNA recombinante
Vimos que a enzima de restrição reconhece uma sequência específica de bases e que ela
também não diferencia DNA de origens diferentes. Portanto, fragmentos de dois diferentes
organismos (por exemplo, bactéria e homem) clivados pela mesma enzima de restrição podem
ser ligados através da enzima de ligação denominada de DNA ligase.
A Figura 7 mostra uma molécula de DNA circular de bactéria, chamada de plasmídeo,
que tem sítios de clivagem para uma determinada enzima de restrição. A mesma enzima é
usada para clivar DNA humano. Se os fragmentos de DNA humano são misturados com o DNA
plasmideal da bactéria linearizado e ligados, temos como resultado uma molécula denominada
de DNA recombinante.
Plasmídeo de
DNA humano
T G C A E. coli
ACGT
TGCA TGCA
ACGT ACGT
Enzima Enzima
GCA T GCA T
T ACG T ACG
DNA Ligase
A T
C
T A
G
T G
G
C
C A
AC
GT
Plasmídeo híbrido
66 Aula 3 Biotecnologia
Mas o que é o DNA
plasmideal ou plasmídeo?
Os plasmídeos são DNA extracromossômicos circulares de bactérias que são replicados
e transmitidos como o DNA cromossômico durante a divisão celular (Figura 8a). São também
denominados de vetores de clonagem molecular.
Em certas situações, o plasmídeo também pode passar de uma bactéria para outra,
permitindo que a bactéria receptora adquira novas informações. Em geral, essa informação
inclui os genes que conferem resistência aos antibióticos (Figura 8b).
Bactéria
Gene de resistência
b a antibiótico
Gene necessário
para transferência
do DNA
Plasmídeo móvel
Figura 8 – a) Bactéria mostrando o DNA cromossômico e o DNA circular denominado DNA plasmideal
b) detalhe do DNA plasmideal mostrando o gene de resistência a antibióticos
3) Múltiplos sítios para enzimas de restrição (MSC - Múltiplos Sítios de Clonagem), local
onde o plasmídeo será cortado para receber o DNA exógeno;
Aula 3 Biotecnologia 67
a b T7
Apa I 14
O Aat II
Sph I
20
28
Xmn I 2009 Nae I BstZ I 31
2707 Nco I 37
BstZ I 43
Sca I 1890 Not I 43
f1 ori Sac II 49
EcoR I 52
Amp r
IacZ
AmpR MSC T T
Spe I
EcoR I
64
70
Not I 77
BstZ I 77
88
Pst I
90
Sat I
97
Nde I 109
Sac I 118
ori
BstX I 127
Nsi I 141
SP6
Figura 9 – Plasmídeo de E. coli e suas características: a) origem de replicação (O), gene de resistência a ampicilina (AmpR) e sítios para as
enzimas de restrição (MSC); b) exemplo do plasmídeo de E. coli chamado de PgemZ e seus múltiplos sítios de clonagem
a b
Figura 10 – a) Rã da espécie Xenopus laevis da qual o segmento de DNA foi extraído, digerido com enzimas de
restrição e b) inserido no plasmídeo PKKD de E. coli, originando a molécula de DNA Recombinante
68 Aula 3 Biotecnologia
Mas os plasmídeos não são os únicos tipos de vetores existentes. Dependendo do tama-
nho do DNA exógeno que se queira inserir nesse vetor, este pode ser de vários tipos:
1) Bacteriófagos: São vírus que infectam bactérias e que têm a capacidade de receber frag-
mentos de 10 mil a 25 mil pares de bases.
2) Cosmídeos: São plasmídeos que têm a capacidade de receber fragmentos de até 40 mil
pares de bases.
4) YAC: Yeast Artificial Chromossome – Cromossomo artificial de levedura que tem a capa-
cidade de receber fragmentos maiores de 300 mil pares de bases.
Aula 3 Biotecnologia 69
Até agora vimos que com o advento da Tecnologia do DNA Recombinante foi possível
cortar fragmentos de DNA e colar esses fragmentos em vetores específicos, como os plas-
mídeos. A última etapa desse processo é copiar esse fragmento, ou seja, produzir cópias
idênticas da molécula de DNA recombinante, cujas etapas em conjunto constituem a chamada
clonagem molecular.
O termo clonagem molecular tem como origem a Genética Bacteriana que considera uma
colônia de bactérias como um clone porque todos os indivíduos são geneticamente idênticos à
bactéria inicial. O cerne da metodologia do DNA recombinante é a clonagem molecular, a qual
consiste no isolamento e propagação de moléculas de DNA idênticas. A clonagem molecular
compreende pelo menos dois estágios importantes já mencionados: (1) o fragmento do DNA de
interesse ou DNA exógeno, ou ainda inserto, é ligado a uma outra molécula de DNA chamada de
vetor (no exemplo dado foi o plasmídeo) para formar o que se chama de DNA Recombinante;
(2) a molécula do DNA recombinante é introduzida numa célula hospedeira compatível, num
processo chamado de transformação, que veremos a seguir.
Transformação bacteriana
Transformação bacteriana é o processo pelo qual a molécula do DNA Recombinante é
introduzida numa célula hospedeira compatível chamada de célula competente. Essa célula
que adquiriu a molécula do DNA Recombinante é agora chamada de transformante ou célula
transformada (Figura 11).
Célula Bacteriana
70 Aula 3 Biotecnologia
Durante a transformação, as moléculas do DNA passam através de canais situados nas
chamadas zonas de adesão, que são locais onde as membranas interna e externa da célula
bacteriana unem-se formando poros, que só estão presentes durante o crescimento bacteria-
no. Nessa etapa, é essencial a presença de íons de cálcio (Ca+2), que neutralizam as cargas
negativas da camada de fosfolipídeos da membrana, facilitando a atração eletrostática com as
moléculas do DNA na zona de adesão. Um choque térmico é necessário para complementar
o processo de captação, criando um desbalanço térmico entre o interior e o exterior da célula
bacteriana, auxiliando o bombeamento do DNA através da zona de adesão. A Figura 12 ilustra
esse processo.
- -
++ - -
++ - Zona de
- -
++ - -
++ -
-
++ -
++
Bicamada lipídica
adesão
(interna)
- -
Camada peptido
-
++ -
++ glucan
Bicamada lipídica
- ++ - - (externa)
- ++ - - ++ - - ++ - ++ -
++ - -++ - Fosfolipídeos
++ - -
- - ++ ++ Íon de cálcio
++ ++
++ - ++ - -
- -
++ ++ - ++ ++
Figura 12 – Mecanismo de transformação da E. coli com o plasmídeo recombinante. Os íons de cálcio estão
representados pelos círculos em verde claro enquanto os plasmídeos recombinantes, pelos traços em verde escuro
Vale ressaltar que nesse processo, nem todas as células se transformam. Em algumas
delas, não ocorre a abertura dos poros e o DNA recombinante não é inserido.
Após a transformação, uma única célula transformada sofre muitos ciclos de divisão
celular, produzindo uma colônia que contém milhares de cópias do DNA Recombinante. As
bactérias que receberam o DNA Recombinante passarão por um processo de multiplicação
em um meio de cultura apropriado, transmitindo a molécula recombinante para as próximas
gerações (Figura 13).
Aula 3 Biotecnologia 71
Célula Meio de cultura onde as células Milhares de cópias da
transformada transformadas irão se multiplicar, molécula de DNA
transmitindo o DNA Recombinante Recombinante produzidas
para as próximas gerações pelas bactérias
72 Aula 3 Biotecnologia
Célula transformada Célula não transformada
+
DNA cromossômico
Plasmídeo
da bactéria
Cultivo em meio
de cultura contendo Crescimento somente das
antibiótico bactérias resistentes ao
antibiótico, ou seja, daquelas
que contêm o plasmídeo
Até agora vimos como selecionamos as bactérias que contêm os plasmídeos. Mas como
diferenciá-las daquelas que contêm ou não o inserto de interesse?
Também é simples. Se observarmos a Figura 15a, podemos verificar que se trata de uma
ilustração de um plasmídeo engenheirado (ou seja, modificado pelas técnicas de Engenharia
Genética) chamado de pUC 19. Esse plasmídeo tem, assim como aqueles exemplificados até
então (e também engenheirados), um gene de resistência a antibiótico, no caso a penicilina,
uma origem de replicação e os múltiplos sítios de clonagem, local onde o inserto será colocado.
Nesse local, há um gene (Figura 15a) que codifica uma proteína chamada de beta galactosi-
dase, enzima responsável por quebrar a galactose, que é uma molécula de açúcar. Se nesse
local for inserido um fragmento de DNA (Figura 15b), haverá a interrupção do gene da beta
galactosidase e, consequentemente, não haverá a produção da enzima galactose, acumulando
galactose no meio.
a b
Eco R1
Sma I
Origem Bam H1
Sel I
Pat I
Hind III
pUC19
Resistência à Lac Z
amplicilina ß-galactosidase
Aula 3 Biotecnologia 73
Para então selecionar os plasmídeos que contêm ou não o inserto, basta adicionar ao
meio de cultura o açúcar galactose. Se este for degradado pela enzima galactosidase, a colônia
bacteriana ficará azul (na Figura 16 representada pelos círculos pretos), sinal que o gene não
foi interrompido e, consequentemente, a galactosidase foi produzida para digerir o açúcar.
Se o açúcar não for degradado, a colônia bacteriana ficará branca, sinalizando que o gene foi
interrompido e a galactosidase não foi produzida. Nesse caso, as colônias brancas são aquelas
que contêm o DNA Recombinante (Figura 16).
74 Aula 3 Biotecnologia
Mas enfim, pra que construir uma
molécula de DNA Recombinante?
Nas últimas décadas, a Tecnologia do DNA Recombinante tem sido aplicada em diversas
áreas, gerando grandes benefícios. Além de fornecer valiosas informações sobre os genes, sua
estrutura, natureza e função, tem sido utilizada na produção de substâncias úteis (farmacêuti-
cas ou não), cultivo de bactérias especializadas e melhoramento genético artificial de plantas
e animais importantes sob o ponto de vista econômico. Sua aplicação também se estende à
área médica, na qual pode ser usada até mesmo para corrigir defeitos genéticos humanos.
Uma das grandes novidades do uso dessa tecnologia é a sua utilização na clonagem (Aula 5
– Clonagem), na produção de organismos geneticamente modificados (Aula 6 – Organismos
geneticamente modificados) e na perícia forense (Aula 8 – Genética Forense).
Brevemente, veremos algumas de suas aplicações mais detalhadamente.
Na Farmacologia já foram desenvolvidas alternativas mais eficazes para o tratamento de
diversas doenças e distúrbios humanos, tais como a produção de insulina humana em escala
comercial a partir de bactérias transformadas por plasmídeos portadores do gene humano
codificador da referida proteína. Na Química, um dos primeiros avanços foi a combinação
de vários genes para metabolizar petróleo em um único plasmídeo, que posteriormente foi
introduzido em uma bactéria marinha, tornando-a capaz de limpar manchas de petróleo nos
oceanos. E na agropecuária, destaca-se o desenvolvimento de plantas e animais de grande
valor comercial com características especiais, tais como resistência a pragas, a doenças e de
maior produtividade. Mais detalhes sobre as aplicações da Tecnologia do DNA Recombinante
serão vistos nas Aulas 5 (Clonagem), 6 (Organismos geneticamente modificados) e 9 (Avanços
da Biotecnologia no Brasil e no mundo).
Aula 3 Biotecnologia 75
Leituras complementars
Assista aos vídeos Cortando e colando o DNA (Cutting and pasting DNA), Recombinando
o DNA (Recombining DNA) e Transformação (Transformation) que ilustram, respectivamente,
o mecanismo de ação das enzimas de restrição e das DNA ligases, o processo de formação
da molécula de DNA Recombinante e a transformação bacteriana. Os vídeos estão disponíveis
em <http://www.dnai.org/b/index.html>.
Resumo
Autoavaliação
Descreva detalhadamente as etapas desde a construção até a seleção das moléculas de
DNA recombinante.
76 Aula 3 Biotecnologia
Referências
ANDRADE, F. G. R. A tecnologia do DNA recombinante e suas múltiplas aplicações. 2007.
Disponível em: <http://www.webartigos.com/articles/10701/1/A-Tecnologia-do-DNA-Recom-
binante-e-Suas-Multiplas-Aplicacoes/pagina1.html#ixzz17Ko9dUXo>. Acesso em: 8 dez. 2010.
WATSON, James. DNA O segredo da vida. São Paulo: Companhia das Letras, 2005. 470 p.
Aula 3 Biotecnologia 77
Anotações
78 Aula 3 Biotecnologia
Anotações
Aula 3 Biotecnologia 79
Anotações
80 Aula 3 Biotecnologia
Tecnologia do DNA Recombinante II
Aula
4
Apresentação
Na aula anterior (Aula 3 - Tecnologia do DNA Recombinante I), estudamos o que é a
Tecnologia do DNA Recombinante, definindo os mecanismos através dos quais é possível
“cortar”, “colar” e “copiar” um segmento de DNA, utilizando as enzimas de restrição, enzimas
de ligação, vetores de clonagem e clonagem molecular.
Nesta aula, daremos continuidade ao estudo da Tecnologia do DNA Recombinante, co-
nhecendo como a molécula recombinante pode ser amplificada in vitro, utilizando a técnica
Polimerase Chain Reaction - PCR, e como podemos determinar a sequência de um fragmento
de DNA através do sequenciamento. Desta maneira você vai entender também como se dá as
variações da técnica de PCR. É importante que você tenha seu material da aula anterior em
mãos. Bom estudo!
Objetivos
1 Conceituar e caracterizar a PCR.
Aula 4 Biotecnologia 83
“Plagiando” as bactérias
N
a aula anterior (Aula 3 – Tecnologia do DNA Recombinante I), vimos que as bactérias
amplificam a molécula de DNA recombinante, produzindo milhares de cópias. Para isso
elas utilizam a sua maquinaria celular, composta por moléculas, tais como enzimas DNA
polimerases, capazes de executar tal atividade in vivo, ou seja, no interior da célula bacteriana.
Com o avanço da Ciência, novas metodologias foram sendo desenvolvidas para que
processos realizados in vivo pudessem ser reproduzidos em laboratório, ou seja, in vitro. Esse
foi o caso da amplificação da molécula de DNA.
Antes de prosseguirmos, vamos relembrar alguns conceitos?
Os conceitos relacionados a seguir são essenciais para que você compreenda não so-
mente a PCR, mas também a técnica de sequenciamento que estudaremos nesta aula, são eles:
Nucleotídeo: Molécula composta por uma base nitrogenada (adenina, timina, guanina ou
citosina), um açúcar com cinco átomos de carbono (desoxirribose ou ribose) e um ou
mais grupos fosfato (Figura 1).
H3C C
C NH
O
C C
N O
O P O
Base
Grupo O
nitrogenada
fosfato
CH2 O O
C C
H H
C C
Açúcar
Desoxirribose: Tipo de pentose (açúcar com cinco átomos de carbono) presente na com-
posição do ácido desoxirribonucleico (DNA).
Aula 4 Biotecnologia 85
O
HO CH2 OH
H H H H
OH H
O
HO CH2 OH
H H H H
OH OH
-O P O
86 Aula 4 Biotecnologia
OH
Base
5
O P O CH2 Base (adenina, guanina,
citosina ou timina)
O
OH
4C C1
Grupamento H H
fosfato H H
3C C2
OH H
Desoxirribose
Ribonucleotídeo
O O O Base
H2
O -P O P O P O C O
O- O- O-
OH OH
NH
O O O
N O
O P O P O P O CH2 O
O- O- O- H H
H H
OH H
Aula 4 Biotecnologia 87
Didesoxirribonucleotídeo: É um nucleotídeo composto por uma desoxirribose, uma base
nitrogenada e um ou mais grupos fosfato, sem uma molécula de OH livre na posição 3’.
Também conhecido como ddNTP.
NH2
N3 1
5
O 2 4
3
O N
-O P O CH2 O
1'
O H H
H H
3 H
A descoberta da PCR
Em 1983, o pesquisador Kary Mullis (Figura 9) e seus colaboradores do Instituto de
Pesquisa Cetus Corporation em Emeryville, Califórnia (EUA), desenvolveram a metodologia
de amplificação do DNA in vitro chamada de PCR, do inglês Polimerase Chain Reaction, que
para nós significa Reação em Cadeia da Polimerase.
88 Aula 4 Biotecnologia
Com essa descoberta, quantidades mínimas de material genético podem ser amplificadas
milhões de vezes em poucas horas. O uso da tecnologia da Reação em Cadeia da Polimerase
aumentou enormemente a capacidade dos cientistas para estudar o material genético.
Desde a sua invenção, a PCR mudou a forma como se realiza investigação e diagnóstico
médico. A capacidade de produzir rapidamente grandes quantidades de material genético
permitiu avanços científicos significativos em todas as áreas de investigação genômica.
A tecnologia de PCR influenciou ainda significativamente as áreas de diagnóstico, podendo
também ser utilizada no mapeamento genético, detecção de doenças hereditárias, clonagem de
genes, testes de paternidade, identificação de impressões digitais genéticas, dentre outros. De
fato, a PCR revolucionou várias áreas, como a Biologia Molecular, Patologia, Farmácia, Botânica,
Medicina Forense e proporcionou a Kary Mullis o prêmio Nobel de Medicina em 1993.
Entretanto, essa descoberta só foi possível devido às características da enzima chamada
de DNA polimerase, que veremos a seguir.
A DNA polimerase
A DNA polimerase é uma enzima ativa no processo de duplicação e reparo do DNA que
atua mediante a existência de um molde (Figura 10).
Aula 4 Biotecnologia 89
As polimerases apresentam algumas particularidades, tais como:
a) Requerem um molde para atuarem: é impossível, por exemplo, fazer uma cópia
de um documento sem ter em mãos o documento original. O mesmo acontece
com a DNA polimerase. Ela só duplica o DNA a partir da existência de uma
molécula original, aqui chamada de molécula molde ou DNA molde.
d) Agem polimerizando o DNA no sentido 5’- 3’ (lê-se 5 linha 3 linha): O DNA, assim
como uma estrada, por exemplo, tem uma direção. Enquanto uma pessoa pode
trafegar por essa estrada no sentido do km 10 ao km 45, outra pessoa pode vir
na direção oposta. Como as fitas complementares do DNA são antiparalelas, ou
seja, em sentidos opostos (5’- 3’ e 3’- 5’), a DNA polimerase atua somente em
um sentido, polimerizando a nova fita no sentido 5’- 3’.
Mas se a DNA polimerase só atua no sentido 5’- 3’, como duplicar a outra
fita de DNA que é no sentido 3’- 5’?
Para resolver esse problema, a DNA polimerase sintetiza a fita denominada de fita
contínua no sentido 5’- 3’ e sintetiza a fita denominada de fita descontínua também no
sentido 5’- 3’, gerando fragmentos menores de DNA denominados de fragmentos de
Okasaki, que são unidos entre si pela DNA ligase (Figura 11).
5'
3'
Figura 11 – Síntese de ambas as fitas de DNA. A nova fita de DNA sintetizada continuamente no sentido 5’- 3’ (fita
contínua) e descontinuamente no sentido 5’- 3’ (fita descontínua), formando os fragmentos de Okasaki
90 Aula 4 Biotecnologia
Entretanto, para que a fita descontínua de DNA seja sintetizada, há necessidade de uma
sequência iniciadora de RNA, denominada primer de RNA e ele é sintetizado pela enzima RNA
primase. Após a duplicação, os primers de RNA são substituídos por sequências de DNA.
As particularidades da DNA polimerase, bem como a sua atuação no processo de duplicação
do DNA, tanto para a fita contínua quanto para a fita descontínua, podem ser visualizadas na
figura abaixo (Figura 12).
Substituição do primer de
RNA por sequências de DNA
Outras especificidades
Além dessas especificidades, as DNA polimerases apresentam 3 classes: a DNA poli-
merase I, II e III. Essas polimerases apresentam uma estrutura altamente conservada entre
as espécies, ou seja, apresentam pouca variação na sua estrutura de espécie para espécie.
Estruturas conservadas geralmente indicam funções celulares importantes e insubstituíveis,
promovendo assim vantagens evolucionárias.
Alguns vírus codificam DNA polimerases especiais, tais como a DNA polimerase do
vírus da hepatite B, que seletivamente replica o DNA viral através de mecanismos diversos.
Outro exemplo são os retrovírus, que codificam uma não usual DNA polimerase chamada de
Transcriptase Reversa, que polimeriza DNA a partir de RNA.
Aula 4 Biotecnologia 91
Mas será que a DNA polimerase suporta altas temperaturas?
Pelo que pudemos perceber até agora, a PCR foi possível, dentre outros motivos, pela
descoberta da DNA polimerase. Essa enzima difere entre organismos eucariotos e procariotos.
Desse modo, pesquise quais os tipos de DNA polimerase que esses dois grupos
1
apresentam e informe as suas funções específicas.
92 Aula 4 Biotecnologia
Aula 4 Biotecnologia 93
A amplificação in vitro
Para a realização da PCR são necessários diversos componentes, dentre eles a molécula
do DNA de interesse, ou seja, a molécula de DNA que se deseja amplificar. Esse DNA pode ser
extraído de uma célula sanguínea, de um tecido específico ou de outra origem (Figura 13).
Tendo em mãos a molécula a ser copiada, o próximo passo é delimitar a região de inte-
resse. Esse limite é dado pelos primers ou iniciadores, ou seja, pequenas sequências de fita
única, normalmente com 20 pares de bases de comprimento, cuja sequência é complementar
às regiões do segmento de DNA que estamos interessados em multiplicar (Figura 14).
1 ATGAAAGAAGATAACACAACATATACCGGACCGGAAGTGTCGGATCCAATGAGTTCTACC
61 TACATAGAGGAACTGGGTAAAAGAGAATCCACACTTCCTCCAAAATATAAGGAACTTCTG
121 AATAAAGAAGAAGGGATCGCGGGGCCTCCTCCAGACTCCTTGAAACCCCTGGGGCCCAAT
181 GATGCCATCGATGCCTTGTCATCCGACTTCACCTGCAGTTCCCCTACAGCTGATGCAAAG
ATGCCTTGTCATCCGACTTC
241 AAAACTGAGAAAGAGAAATCTACAGAAGAGGCTTTAAAAGCTCAGTCAGCTGGGGTGATC
301 AGAAGTGCTGCTCCACCCCAAGAGAAAAAAAGGAAAGTGGAAAAGGATGCCATGACTGAG
CTTTCACCTTTTCCTACGGT
361 CACGCCCTGGAGGCCCTGTCTGCCTCCCTGGGCACCCGGAAGCCGGAGCCGGAGCTCGAC
94 Aula 4 Biotecnologia
O que você viu na caixa anterior é um fragmento do gene de interesse a ser amplificado
(no exemplo, uma porção do gene da proteína inflamatória de bovinos chamada de interleu-
cina-4), flanqueado pelos primers delimitantes da região. No detalhe, os primers à esquerda
(em negrito e itálico) e à direita (em negrito) delimitando um fragmento de 162 pares de bases
(Fonte: Lilian Giotto Zaros).
Esses primers são delineados com o auxílio de programas computacionais, tais como o
Primer3 <www.pimer3.sourceforge.net>, e as sequências geradas são enviadas para empresas
que sintetizam o produto desejado.
Em seguida, já com o DNA de interesse e os primers, há necessidade de se acrescentar
a enzima responsável pela amplificação, a DNA polimerase.
Depois é necessário fornecer a estrutura básica da molécula de DNA, ou seja, bases
nitrogenadas, fosfatos e desoxirriboses. Isso é feito acrescentando à reação os chamados
desoxirribonucleotídeos (dNTPs). Existe um dNTP para cada base nitrogenada (A- adenina,
T- timina, C-citosina e G- guanina): dATP, dTTP, dCTP e dGTP.
O esquema abaixo ilustra os componentes da PCR acima citados.
COMPONENTES DA PCR
Primers
DNA Polimerase
Desoxirribonucleotídeos (dNTPs)
Por fim, essa mistura é colocada em tubos de plástico (Figura 15A) e levados ao equipa-
mento denominado termociclador (Figura 15B), que alterna ciclos com temperaturas diferentes
em determinados períodos de tempo para que a amplificação se processe.
Aula 4 Biotecnologia 95
A B
Figura 15 – A) Tubos de plástico para reação de PCR; B) termociclador utilizado para amplificação in vitro do DNA
96 Aula 4 Biotecnologia
Figura 16 – Reação em Cadeia da Polimerase e seus ciclos: desnaturação, anelamento e extensão
Cada novo ciclo inicia-se com o aquecimento da mistura que contém a molécula de DNA
que se desnatura, seguido do resfriamento para o anelamento dos primers e novo aumento da
temperatura para a amplificação da região delimitada pelo primers pela ação da DNA polimerase.
Essas fitas, que contêm as regiões de interesse e que são recém-sintetizadas, servem
de molde para o ciclo seguinte. Portanto, em cada ciclo é sintetizado o dobro de DNA alvo
produzido no ciclo anterior, o que caracteriza a reação de PCR como uma reação em expo-
nencial, ou seja, 2n, em que “n” corresponde ao número de ciclos. Após 25 ciclos da Reação
em Cadeia da Polimerase, ou seja, em menos de 2 horas, o DNA alvo terá sido amplificado
225 vezes (cerca de 34 milhões de vezes), caso tenhamos utilizado apenas uma molécula de
DNA como molde. Com isso, a solução resultante, que começou com uma mistura de DNA
molde, primers, enzima DNA polimerase, dNTPs, terá se tornado uma solução concentrada
da região-alvo do DNA (Figura 17).
Aula 4 Biotecnologia 97
Separação das Síntese
cadeias; ligação Síntese de DNA
Separação das dos iniciadores de DNA
cadeias; ligação Síntese
dos iniciadores de DNA
etc.
Região de
DNA a ser
amplificada
Um pesquisador tem em seu laboratório 4 moléculas de DNA que deseja amplificar. Com
base no que vimos até agora, responda:
a) Quantas moléculas de DNA serão geradas após o final de uma PCR de 25 ciclos?
98 Aula 4 Biotecnologia
b) O que irá acontecer caso o pesquisador interrompa a PCR no 15° ciclo?
RNA
splicing
mRNA AAAAAAAAAAAAAAA
Aula 4 Biotecnologia 99
O RNA mensageiro que contém uma cauda poli (A) na extremidade 3’ (com dezenas a
centenas de nucleotídeos adeninas) servirá de molde para a síntese do DNA complementar
através da ação da enzima transcriptase reversa, seguido pela amplificação do cDNA pela PCR
(Figura 19).
AAAAAAAAAAA
cDNA
AAAAAAAAAAA Desnaturação
Taq
Anelamento
dos primers
Taq
Extensão
Figura 19 – RT-PCR
Definindo o sequenciamento
Sequenciamento consiste em determinar a ordem das bases nitrogenadas de um fragmen-
to de DNA, ou seja, determinar em que ordem as bases (letras) contidas no DNA se encontram.
Até a década de 1970, determinar a sequência de um fragmento de DNA por menor que
fosse, como 5 ou 10 nucleotídeos, era muito difícil e exigia um trabalho muito cuidadoso
e demorado.
O desenvolvimento de duas técnicas em 1977, uma por Alan Maxam e Walter Gilbert e a
outra por Frederick Sanger, tornou possível o sequenciamento de longas moléculas de DNA. No
início eram necessários dois anos para sequenciar 20 bases de DNA. O processo era manual
e envolvia o uso de material radioativo. Atualmente, com o desenvolvimento das técnicas de
sequenciamento automático, um aparelho de sequenciamento é capaz de ordenar meio milhão
de pares de bases por dia. Vamos conhecer esses métodos de sequenciamento?
Agora que você já sabe a definição de sequencimento, faca uma pesquisa sobre quais
foram as principais dificuldades enfrentadas inicialmente pelos descobridores do método.
Os métodos de sequenciamento
O sequenciamento pode ser realizado utilizando o método manual, que posteriormente
sofreu algumas modificações, passando a ser chamado de método automático.
O método manual contém duas variações: a primeira foi desenvolvida em meados dos
anos 1970, por Alan Maxam e Walter Gilbert, e recebeu o nome de sequenciamento químico
ou método de degradação química e a segunda, desenvolvida por Sanger e colaboradores,
recebeu o nome de sequenciamento enzimático ou método de terminação da cadeia, ou
ainda, método dideoxinucleotídeos.
ddNTPs PRIMER
A
G A G G A T T C T G A A T T A T C
dNTPs
A C T G
T G T G A G G A T T C T G A A T T A T C DNA POLIMERASE
A C A C T C C T A A G A C T T A A T A G
DNA molde
A B
A A
94°C
A B
A A
55°C 37°C
37°C
Figura 22 – A) Anelamento dos primers; B) extensão da cadeia; C) terminação da cadeia com a adição de um ddNTP
Esse processo se repete por vários ciclos (25 ciclos), originando fragmentos de tamanhos
diferentes (Figura 23A), marcados com cada nucleotídeo separadamente (A marcado com P 32
– no exemplo, T marcado com P 32, C marcado com P 32 e G marcado com P 32 – Figura 23B).
A C T G
A
A B
A C T G A C T G
C D
A C T G A C T G
SEQUÊNCIA:
96°C 50°C
C D
60°C 60°C
Figura 25 – A) Desnaturação do DNA; B) anelamento dos primers; C) extensão da cadeia; D) adição de um ddNTP e terminação da cadeia
Esse processo se repete diversas vezes por vários ciclos (25 ciclos), originando frag-
mentos de tamanhos diferentes e com diferentes marcações fluorescentes (Figura 26A). Em
seguida, os produtos da reação de sequenciamento são separados por ordem de tamanho em
um sequenciador automático. Os fragmentos de diversos tamanhos gerados pela reação de
sequenciamento quando são estimulados pelo raio laser do sequenciador emitem diferentes
comprimentos de ondas, que são convertidos em bases nitrogenadas (A, T, G ou C), deter-
minando assim a ordem dos nucleotídeos no fragmento de DNA de interesse (Figura 26B).
G
A
A
T
C
G
G
C NNNN T A C T CGGC T A AG
T
C
A
T
Figura 26 – A) Fragmentos de diferentes tamanhos e com diferentes marcações gerados na reação; B) separação dos
fragmentos em sequenciador automático e leitura da sequência de nucleotídeos do fragmento de interesse
1 Defina sequenciamento.
Leituras complementares
Assista aos vídeos Amplificando (Amplifying- Making many copies of DNA e PCR Anima-
tion), Sequenciamento de DNA (Early DNA Sequencing) e Ciclos de Sequenciamento (Cycle
Sequencing), que ilustram, respectivamente, a reação de PCR, o sequenciamento manual e o
sequenciamento automático. Os vídeos estão disponíveis em http://www.dnai.org/b/index.html.
Autoavaliação
1 Defina PCR e descreva suas implicações para o avanço da Ciência.
FARAH, S. B. DNA: segredos e mistérios. 2. ed. São Paulo: Ed. Sarvier, 2007. 538p.
WATSON, James. DNA o segredo da vida. São Paulo: Companhia das Letras, 2005. 470 p.
Aula
5
Apresentação
N
a Aula 3 - Tecnologia do DNA Recombinante I, vimos conceitos e técnicas relaciona-
dos à clonagem. Nesta quinta aula, ampliaremos o conceito de clonagem, incluindo
um breve histórico, daremos exemplos de como obter plantas e animais clonados
e discutiremos sobre os aspectos positivos e negativos desse tema. Já na Aula 10, discuti-
remos os aspectos bioéticos relacionados à clonagem, a qual tem gerado opiniões a favor
e contra da sociedade.
Com o intuito de fixar os conceitos apresentados ao longo desta aula, serão propostos
alguns exercícios para você resolver e no final da aula, haverá uma autoavaliação para que
você possa analisar seu processo de aprendizagem.
Para compreender os assuntos que serão abordados, é necessário que você leia aten-
tamente os conceitos, faça anotações e, em caso de dúvidas, acesse o fórum da disciplina o
mais rápido possível.
Sua participação é essencial para que tenhamos sucesso na disciplina.
Bom estudo!
Objetivos
1 Definir o conceito de Clonagem.
O
termo clone foi proposto pelo botânico Herbert J. Webber, em 1903, enquanto realizava
suas pesquisas com plantas no Departamento de Agricultura dos Estados Unidos. Esse
termo tem como origem a palavra grega klón, que significa broto vegetal. De forma
simplificada, o clone é um conjunto de células descendentes de apenas uma célula, sendo,
portanto, geneticamente idêntico à célula que lhe deu origem. Dessa forma, o termo clonagem
tem sido empregado para designar o processo de reprodução assexuada, em que são obtidos
os clones.
Os primeiros experimentos sobre clonagem foram conduzidos por Hans Spermann,
embriologista alemão, em 1938, quando ele propôs um experimento que consistia em trans-
ferir o núcleo de uma célula em estádio tardio de desenvolvimento para um óvulo.
A própria natureza é sábia ao usufruir da clonagem como um mecanismo comum de
propagação de espécies de animais, plantas, bactérias e protozoários.
Além da clonagem natural existe também a clonagem induzida, que é realizada através
da interferência do ser humano. A seguir, apresentamos maiores detalhes de cada uma delas.
Clonagem natural
A clonagem natural é comum entre vegetais, alguns protozoários, fungos, bactérias e
animais marinhos como meio de reprodução dessas espécies.
Ela pode ser por:
2) Cissiparidade: Divisão da célula que constitui o indivíduo originando duas células idênti-
cas como ocorre em bactérias, protozoários (paramécio, ameba), planária (Platelmintos)
(Figura 1b).
Fonte: (a) <http://cristiana7.blogspot.com>; (b) <http://prokariotae.tripod.com>; (c) <http://poriferosecnidarios.no.comunidades.net/>. Acesso em: 24 nov. 2010.
Clonagem induzida
Em vegetais é comum a clonagem induzida que ocorre quando há uma inserção de brotos
ou enxertos, de plantas selecionadas, em caules de outros vegetais através das técnicas de
estaca, alporquia, enxertia e mergulhia.
A técnica de estaca é aquela quando a vovó retira uma folhinha da violeta e a enterra em
um vaso. Algum tempo depois, uma nova plantinha de violeta se desenvolve a partir daquela
única folha. Basta lembrar também o exemplo da cultura da bananeira, em que é comum o corte
de uma parte do pseudocaule da planta e o replantio em um canteiro, permitindo o surgimento
espontâneo de um broto da mesma espécie.
A alporquia consiste em estimular um enraizamento em alguma parte de uma planta
adulta ou não. Exemplos de espécies que empregam a alporquia são a pitangueira, a laranjeira
e a roseira. Já a mergulhia consiste no enraizamento de partes da própria planta. Isso é feito
através do enterramento (mergulho) de um ramo ainda ligado à planta, como ocorre, por
exemplo, em jabuticabeira e macieira (Figura 2a).
A enxertia consiste na junção de uma parte viva de uma planta, denominada enxerto,
com outra denominada porta-enxerto, para que através da regeneração de tecidos unam-se e
formem uma única (Figura 2b).
Portanto, fica evidente que a clonagem induzida é uma técnica da Engenharia Genética que
pode ser aplicada a vegetais e animais, ligada à pesquisa científica. Com o desenvolvimento
da Engenharia Genética e o domínio da tecnologia da clonagem, a perspectiva é que se torne
realidade a reprodução de órgãos humanos vitais para transplantes, bem como para a melhoria
genética de vegetais e raças animais, assim como para a multiplicação de animais de espécies
em extinção, como o urso panda e o rinoceronte branco.
Vamos realizar uma experiência prática de clonagem de plantas utilizando violetas. Para
tanto, você precisará dos seguintes materiais: 1 vaso de violeta (pode ser aquela que a mãe
ou a avó tem lá no quintal), 4 copos descartáveis (200 mL), cerca de 200 g de terra vegetal
(é aquela terra preta rica em matéria orgânica, que pode ser adquirida em casas que vendem
produtos agropecuários), 200 mL de água da torneira e 1 colher (sopa) de sal de cozinha.
Agora, vamos pôr a mão na massa?
Dessa planta doadora retire 4 folhinhas com a haste. Duas folhinhas serão plantadas em
terra e as outras duas em água. Siga o protocolo descrito a seguir:
Na terra:
a) complete dois copinhos plásticos descartáveis (200 mL) com terra vegetal. Em cada um,
enterre a haste de uma folhinha;
b) nos dias subsequentes, você deverá manter um copinho com a terra úmida e o outro com
a terra seca.
Na água:
a) preencha dois copinhos plásticos descartáveis (200 mL) com água da torneira até a
metade. Em cada um, introduza a haste de uma folhinha, mas só a haste, pois se a folha
entrar em contato com a água ela apodrecerá;
b) em um dos copinhos dissolva uma colher sopa de sal de cozinha e, no outro, deixe apenas
a água da torneira.
Faça uma descrição do crescimento das plantas clonadas. Todas cresceram igualmente?
Você deverá observar o efeito do meio ambiente sobre plantas geneticamente idênticas (clones).
No experimento em que Dolly foi obtida, os pesquisadores utilizaram uma célula da glândula
mamária de uma ovelha adulta, cujo núcleo foi retirado e transferido para um óvulo anucleado.
A nova célula, obtida com o auxílio de uma corrente elétrica, foi implantada no útero de uma terceira
Depois de Dolly, clones de diversas espécies têm sido divulgados por vários grupos de
pesquisas pelo mundo: bezerros, cabras, camundongos, porcos, macacos, dentre outros.
Hoje, a corrida tecnológica da clonagem tem como países líderes os Estados Unidos, Escócia,
Inglaterra, Japão, Nova Zelândia e Canadá.
O Brasil também tem contribuído na área da clonagem animal, principalmente em bovinos.
Em 17 de março de 2001, a Embrapa Recursos Genéticos, em Brasília, anunciou o nascimento
da bezerra Vitória. Este marco colocou o Brasil na linha de frente da pesquisa sobre clonagem,
pois nenhum outro país em desenvolvimento havia feito tal progresso. Em 5 de fevereiro de
2004 foi anunciado o nascimento da bezerra Vitoriosa, cópia da vaca Vitória, primeiro clone
do Brasil. Vitória teve seu primeiro filhote, uma bezerra, em 19 de setembro de 2004, demons-
trando a viabilidade de um animal clonado poder gerar descendentes.
A utilidade da clonagem
Até agora, vimos conceitos e um breve histórico sobre a clonagem e também os proces-
sos de obtenção de clones. Mas, como a sociedade pode se beneficiar da clonagem? Qual a
utilidade dessa técnica?
Na mídia muito se fala da clonagem em larga escala de seres humanos, todos idênticos.
Não é esta a utilidade da clonagem, pelo menos não é o que esperamos. Por isso, a Ciência
tem dado pequenos, mas significativos passos em duas vertentes da clonagem: a clonagem
reprodutiva e a clonagem terapêutica. Vamos discuti-las a seguir.
Clonagem reprodutiva
A clonagem reprodutiva tem por objetivo produzir uma duplicata de um indivíduo exis-
tente. Para tanto, é utilizada a técnica chamada de Transferência Nuclear (TN) que se baseia na
Clonagem reprodutiva
Clone do João
Casais estéreis ou que apresentem dificuldades para gerarem um filho são os que têm
maior interesse nessa técnica. Entretanto, avanços recentes em clonagem reprodutiva permitem
quatro conclusões importantes:
De fato, essa técnica realizada a partir de células embrionárias tem mostrado uma eficiência
de dez a vinte vezes maior, provavelmente, porque os genes que são fundamentais no início da
embriogênese estão ainda ativos no genoma da célula doadora.
Agora, você deverá fazer um breve comentário sobre o que você responderia em cada
questão e comparar com as respostas dadas pelos seus entrevistados.
Pontos positivos
1) Utilização da técnica de clonagem para obtenção de células-tronco a fim de restaurar a
função de um órgão ou tecido.
4) Auxiliar casais inférteis que não podem ter filhos, mesmo após anos de tratamento
de infertilidade.
7) Capacidade de criar seres humanos com a mesma informação genética para atuarem
como doadores de órgãos.
Sejam consideradas como vantagens ou ainda como simples promessas, esses pontos
positivos da clonagem são relativos e envolvem temas relacionados à Bioética que será o tema
a ser discutido na Aula 10 – Bioética e Patentes Biotecnológicas. O problema e a preocupação
atual é que a clonagem ainda não é considerada um procedimento seguro. Assim, os cientistas
necessitam aprimorar a técnica de clonagem para se obter, no futuro, tecido e talvez até órgãos
de reposição para pessoas que precisem de transplantes. Já a clonagem para fins reprodutivos
surge como uma alternativa para pessoas que não podem ter filhos e para as quais as técnicas
atuais de reprodução assistida não funcionam.
Pontos negativos
1) Técnica de baixa eficiência.
8) Mercado negro de fetos pode surgir de doadores “desejáveis” que queiram clonar a si
próprios, como “estrelas” de cinema, atletas e outros.
9) Clones poderão ser alvos de discriminação por parte da sociedade e estar sujeitos a pro-
blemas psicológicos desconhecidos, com impacto na família e na sociedade.
Uma pergunta que pode ser feita neste momento é: ao clonar um ser humano de aproxi-
madamente 30 anos, esse clone nascerá (se é que é possível) com células (ou com caracte-
rísticas) de uma pessoa de 30 anos ou será aparentemente um bebê normal?
Os pesquisadores ainda não têm uma resposta definitiva, mas os resultados de diversas
pesquisas têm indicado que os clones malsucedidos de animais (os abortados ou que morrem
logo após o nascimento) têm problemas de saúde graves, mas não há relatos de que tenham
nascido com aparência ou doenças de animais de idade avançada. Os clones bem-sucedidos,
por sua vez, têm aparência de filhotes normais, como foi o caso da ovelha Dolly. Os pesquisa-
dores só tiveram certeza de que Dolly apresentava sinais de envelhecimento precoce quando
a ovelha já tinha três anos. Por outro lado, nem todos os clones parecem envelhecer mais
rapidamente. É provável que a passagem do tempo fique de alguma forma registrada no DNA,
mas ainda não se sabe como isso afeta os clones.
Você pode aprimorar e expandir seus conhecimentos sobre o tema apresentado nesta aula
através da leitura do texto abaixo. É importante que você reflita sobre a mensagem proposta
pelo autor e possa divulgá-la e debatê-la entre amigos e familiares.
Os limites da clonagem
Por Evaristo Eduardo de Miranda
ZATZ, Mayana. Clonagem e células-tronco. Estudos Avançados, v. 18, n. 51, 2004. Disponível
em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40142004000200016&script=sci_arttext>.
Acesso em: 24 nov. 2010.
A leitura desse texto expressa a posição da pesquisadora Mayana Zatz, da USP, refe-
rência nacional e internacional sobre clonagem e células-tronco sobre os aspectos éticos
dessas técnicas. A visão dela não é apenas a de cientista, mas também de representante da
sociedade civil.
Resumo
Autoavaliação
A partir dos conhecimentos adquiridos nesta aula sobre clonagem, apresente dois es-
quemas: um relacionado à clonagem reprodutiva, usando, como exemplo, camundongos de
laboratório e outro à clonagem terapêutica, usando doenças cardíacas.
PEREIRA, Lygia da Veiga. Clonagem, fatos e mitos. São Paulo: Ed. Moderna, 2002. 80 p.
______. Clonagem da Ovelha Dolly às Células-Tronco. São Paulo: Ed. Moderna, 2005. 88p.
SANTOS, Rita Maria Paulina dos. Dos Transplantes de Órgãos à Clonagem. São Paulo: Ed.
Forense, 2000. 110 p.
Anotações
Aula
6
Apresentação
N
as Aulas 3 e 4 – Tecnologia do DNA Recombinante I e II, respectivamente, definimos
conceitos relacionados à modificação genética de organismos. Esses conceitos serão
imprescindíveis para a compreensão desta sexta aula, que inclui detalhes da obtenção
e utilização de organismos geneticamente modificados (OGM) ou transgênicos em diversos
segmentos (agropecuária, indústria, saúde, por exemplo). Detalharemos também a história e
o panorama mundial sobre alimentos transgênicos, incluindo questões relacionadas à segu-
rança alimentar, aos benefícios e riscos dos OGM, bem como à legislação brasileira vigente
sobre o assunto.
Os objetivos elencados abaixo serão mais facilmente compreendidos se você ler aten-
tamente todos os tópicos e quando julgar pertinente faça anotações e, em caso de dúvidas,
acesse o fórum da disciplina.
Aproveite a aula!
Objetivos
1 Definir o conceito de OGM.
Característica
desejada
a b c
Figura 2 – (a) tomate Flavr savr®; (b) soja Roundup Ready® e (c) bactérias Escherichia coli
Os primeiros OGM
Em 1973, S. Cohen e H. Boyer produziram o primeiro OGM: a bactéria Escherichia coli.
Mas o termo transgênico só foi usado pela primeira vez em 1981, por J.W. Gordon e F.H. Rudd-
le, da Universidade de Yale, EUA, que trabalharam com modificação genética de camundongos.
Os primeiros animais de produção transgênica foram porcos, ovelhas e coelhos obtidos pela
equipe do pesquisador R.E. Hammer da Universidade da Pensilvânia, EUA.
A favor do transgênico?
Contra o transgênico?
Agora, você deverá fazer um breve comentário, incluindo as razões, sobre o que você
responderia em cada questão. A seguir, compare seu comentário com as respostas dadas pelos
seus entrevistados. Como sugestão para facilitar a visualização das respostas, você poderá
confeccionar um gráfico tipo pizza, com as porcentagens de cada resposta.
tomate com mais licopeno, antioxidante que ajuda a prevenir o câncer e doenças
do coração;
alface enriquecida com um composto que ajuda a diminuir o mau colesterol (LDL) e esti-
mula o aumento do bom colesterol (HDL);
arroz, trigo e feijão com maior teor de ferro, importante no combate à anemia;
É apenas uma questão de tempo para que esses produtos e muitos outros estejam nas
prateleiras dos supermercados.
Ligase do DNA
Transformação da célula
hospedeira
Multiplicação Celular
a
Agrobacterium Núcleo
Cromossoma
Plasmídeo
T-DNA b
Cromossomo
Célula
Vegetal
Tumores
Proliferação dos hormônios
de crescimento.
Formam-se tumores nas
zonas de lesões.
Protoplastos Eletroporação de protoplastos e células vegetais – os protoplastos (Figura 5a) são incuba-
São células vegetais
dos em soluções que contêm os genes a serem transferidos, e, em seguida, um choque
desprovidas de parede
celular, mas que mantêm a
elétrico de alta voltagem é aplicado por curtíssimo tempo no equipamento eletroporador
membrana celular. (Figura 5b). O choque causa uma alteração da membrana celular, o que permite a pene-
a b
Disco de ruptura
Membrana carregadora
Tela de retenção
Microparticulas adsorvidas
com DNA
Tecido alvo
Suporte da placa
2 - Isolamento do
1 - Bactéria DNA Bacteriano 4 - Extração
3 - Clonando
do gene de
o DNA
interesse
5 - Fabricando
o gene
(transgene)
8 - Reprodução
6 - Inserção do
7 - Planta
transgene no
transgênica
tecido da planta
Ressaltamos que esses métodos promovem a integração dos novos genes, de maneira
aleatória, nos cromossomos da planta recipiente. Por isso durante a etapa de regeneração,
vários testes são realizados a fim de avaliar a localização da integração (partes da planta ou
planta inteira), se a integração ocorreu na posição correta no DNA (teste de genotipagem por
PCR), se uma vez inserido com sucesso, o gene sintetizará a proteína desejável. Após os testes
em laboratório, as plantas transgênicas selecionadas são avaliadas em condições de campo.
Fatores
transcricionais
Desenvolvendo camundongos transgênicos Proteínas que participam
da transcrição do DNA
em RNA, podendo atuar
A expressão gênica depende do reconhecimento de sequências de DNA denominadas no controle da expressão
“promotores” (Figura 8) pelos fatores transcricionais. A presença de certo promotor junto ao gênica.
gene dirige sua expressão para determinado tipo de célula. Como os promotores não codificam
proteínas, são alvos preferenciais para manipulação.
Sequência
Gene Marcado Promotor Transgene
terminadora
1) Introdução
Fonte: <http://daniel-eloi.blogspot.com/search?updated-max=2011-01-04T04%3A29%3A00-08%3A00&max-results=10>.
2) Modificação ou inativação
Desde o início, um dos principais objetivos da transgênese era produzir animais com
alterações específicas e controladas no genoma, tais como inativação de genes ou muta-
ções pontuais de aminoácidos nas proteínas codificadas por eles. Ao contrário da adição
gênica, o método utilizado para a modificação e inativação de genes exige que se conheça
a localização precisa do gene no genoma. Por isso, ele é denominado modificação gené-
tica dirigida ou controlada. Essa técnica possibilita substituir um gene funcional por uma
sequência mutada que, uma vez introduzida, inativa o gene endógeno original, gerando um
animal conhecido como modelo knockout. Da mesma forma, é possível alterar uma pequena
sequência do gene, gerando um modelo knockin que produzirá uma proteína modificada
em vez da proteína endógena intacta naturalmente presente no animal. O termo knockin se
deve ao fato de, nessa técnica, o gene endógeno ser retirado do genoma e substituído por
outro com uma pequena modificação.
Podemos fazer uma analogia do genoma a uma biblioteca para entendermos os modelos
de alteração genética. Na transgênese por adição, imagina-se uma ou várias cópias de um livro
sendo colocadas aleatoriamente nas estantes, enquanto a inativação gênica (modelo knockout)
é como a retirada permanente de um livro específico da biblioteca ou ainda a modificação de
apenas uma página desse livro e sua reposição na prateleira (modelo knockin).
A modificação genética dirigida ou controlada inclui uma etapa a mais que a adição gênica:
a cultura de células-tronco embrionárias que são totipotentes, ou seja, são capazes de gerar
qualquer tipo de tecido. Essas células são modificadas in vitro por um processo denominado
recombinação homóloga e dão origem a um animal com um gene inativado ou alterado. Recombinação
homóloga
Atualmente, essa técnica é rotineiramente aplicada em camundongos, uma das únicas
Troca de sequências de
espécies, além da humana, em que se domina totalmente o cultivo de células-tronco em- DNA correspondentes
brionárias. Para outras espécies, há dificuldade em manter indiferenciadas as células-tronco entre cromossomos, que
derivadas de embriões em cultura. ocorre naturalmente no
núcleo das células.
As técnicas de transgênese em animais domésticos foram desenvolvidas e otimizadas,
visando basicamente seis principais linhas de pesquisa:
Segurança alimentar
Uma intensa discussão a favor e contra os alimentos transgênicos tem sido desencadeada
pelos mercados consumidores em todo mundo. Um ponto de destaque está relacionado à obri-
gatoriedade ou não da chamada “rotulagem”, já que o consumidor a priori tem o direito de saber
se um determinado alimento contém ou não matéria de origem transgênica. A partir daí cabe
ao consumidor optar pela compra e consumo ou não. Dessa forma, esse tópico visa apresentar
conceitos relacionados à segurança alimentar dos produtos transgênicos, bem como à legislação
vigente em alguns países, incluindo o Brasil.
a b
T
Figura 11 – (a) Símbolo “T” empregado para distinguir os alimentos
transgênicos e (b) óleo de soja contendo soja transgênica
Nos Estados Unidos, a rotulagem é voluntária. O FDA (Food and Drug Administration),
que é o órgão governamental encarregado de fiscalizar a produção e a comercialização de
alimentos, deixa a critério da empresa mencionar no rótulo do alimento a existência de OGM
Agora que você já conhece um pouco mais sobre alimentos transgênicos e sobre segu-
rança alimentar, você deverá realizar duas pesquisas: uma na sua própria casa e a outra em
um supermercado onde você costuma realizar suas compras.
Em cada local você deverá buscar por alimentos que contenham em sua composição
produtos transgênicos. Lembre-se do símbolo “T” de transgênico (Figura 11a). Nesse caso,
você deverá anotar as seguintes informações:
a) Tipo de alimento
É importante também que você relate se não encontrou nenhum alimento contendo produto
transgênico e se encontrou alimentos convencionais similares àqueles contendo transgênicos.
À preservação: por meio dessas modificações genéticas, pode-se estender a vida útil
do alimento.
Riscos e precauções
do uso dos OGM
À saúde humana: a ingestão dos grãos geneticamente modificados pode provocar au-
mento de alergias, resistência a antibióticos e elevação do índice de substâncias tóxicas
nos alimentos.
À soberania alimentar do país: em razão da perda do controle das sementes e dos seres
vivos pelo patenteamento dos mesmos, tornados propriedade exclusiva e legal de grupos
transnacionais que só visam fins comerciais.
Legislação brasileira
sobre os OGM
A Constituição Federal de 1988, pioneira na tutela do meio ambiente, recebeu Leis Ordi-
nárias, Complementares e Convenções Internacionais visando à proteção e à preservação da
biosfera e à preservação do mercado consumidor. É o caso da Lei de Biossegurança (Lei nº
11.105/05, que revogou a anterior Lei nº 8.974/95), da Lei de Proteção de Cultivares (Lei nº
9.456/97), do Tratado de Cartagena e da aplicação do Princípio 21 da Convenção das Nações
Unidas Sobre a Biodiversidade, conhecida como Rio-92 ou Eco-92.
Em janeiro de 1995, foi regulamentada a primeira lei de biossegurança brasileira (Lei nº
8.974/95), que estabeleceu a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), suas
atribuições e competências. Resumidamente, a CTNBio é composta por um grupo multidisci-
plinar de cientistas que presta apoio técnico ao Governo Federal na formulação, atualização e
implementação da Política Nacional de Biossegurança relativa a transgênicos, bem como no
estabelecimento de normas técnicas de segurança e pareceres técnicos conclusivos referentes
à proteção da saúde humana, dos organismos vivos e do meio ambiente, para atividades que
envolvam a construção, experimentação, cultivo, manipulação, transporte, comercialização,
consumo, armazenamento, liberação e descarte de transgênicos e derivados.
Criou-se, com o escopo de fiscalizar toda atividade ligada aos OGM, a Comissão Téc-
nica Nacional de Biossegurança (CTNBio), que é responsável, também, pela autorização da
introdução dos OGM na natureza, baseada no Estudo de Impacto Ambiental e do Relatório de
Impacto Sobre o Meio Ambiente (EIA/RIMA).
Com a finalidade de atualizar, complementar e corrigir alguns pontos controversos presentes
na legislação, foi aprovada a nova Lei de Biossegurança. Entre outros pontos, a lei estabelece
normas de segurança e mecanismos de fiscalização de atividades que envolvam OGM e seus
derivados, cria o Conselho Nacional de Biossegurança (CNBS), regulamenta a CTNBio e dispõe
sobre a Política Nacional de Biossegurança. Nesses últimos anos, os agricultores que vêm plan-
tando soja transgênica firmaram um termo de compromisso, responsabilidade e ajustamento
de conduta junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), que define
área, localidade do plantio e responsabilidades do agricultor advindas do uso da biotecnologia.
Resumo
a b
c d
A partir dos conhecimentos adquiridos nesta aula sobre organismos geneticamente mo-
dificados (OGM), apresente um pequeno texto (máximo de 7 linhas) que contemple a sua
opinião sobre a possibilidade e viabilidade das quatro ilustrações, bem como o que é realidade
e fantasia sobre os OGM e a sua visão para o uso futuro dos transgênicos. Depois de redigido
o texto, compartilhe-o com seus colegas e professores na página da disciplina em um fórum
específico, que será aberto pelo professor responsável.
Referências
ARAGÃO, F. J. L. Organismos transgênicos. Barueri: Ed. Manole, 2002. 115 p.
SMITH, J.M. Roleta genética: riscos documentados dos alimentos transgênicos sobre a
saúde. São Paulo: João de Barro Editora, 2009. 305 p.
WATSON, J. D. DNA: o segredo da vida. São Paulo: Companhia das Letras, 2005. 470 p.
Aula
7
Apresentação
N
a Aula 4 – Tecnologia do DNA Recombinante II, conhecemos as técnicas empregadas
no sequenciamento de genomas. Nesta aula, você ampliará seu conhecimento sobre
esse assunto, mas com aplicação sobre o genoma humano. Para tanto, você enten-
derá o conceito de genoma e o histórico do Projeto Genoma Humano, incluindo motivos e as
expectativas envolvidas em sua realização.
A seguir, você vai compreender a estrutura de um gene e como encontrá-lo no genoma.
Realizaremos a caracterização do genoma e apresentaremos a importância que esse projeto tem
trazido à sociedade na busca por genes associados a doenças que atualmente não apresentam
cura, como mal de Parkinson, Alzheimer, doenças degenerativas, dentre outras.
Para compreender os assuntos abordados nesta aula, é necessário que você leia aten-
tamente os conceitos, faça anotações e, em caso de dúvidas, acesse o fórum da disciplina o
mais rápido possível.
Aproveite a aula e bom estudo!
Objetivos
1 Conceituar genoma.
De lá para cada, só para você ter uma ideia de quantos genomas já foram
sequenciados, realizamos uma busca no site do NCBI (National Center for Bio-
technology Information – Centro Nacional para a Informação da Biotecnologia)
disponível em <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/genome/>, e até 27 dezembro de
2010, 1.014 espécies de eucariotos, 1.383 de procariotos, 2.425 vírus e 41
viroides já tinham tidos seus genomas sequenciados. Viroide
Menor sistema genético
capaz de se replicar no
interior de uma célula;
pertence ao Reino Vegetal.
Alguns exemplos de organismos que já tiveram seus genomas sequenciados são: Sac- Genoma haploide
charomyces cerevisiae (fermento de pão), Drosophila melanogaster (mosca das frutas), Ara- É aquele que contém
apenas um conjunto do
bidopsis thaliana (vegetal modelo para estudos), Escherichia coli (bactéria), Mus musculus
número de cromossomos
(camundongo), Canis familiaris (cão doméstico), Homo sapiens (ser humano), Gallus gallus característico da espécie,
(galinha doméstica), Bos taurus (bovino), Caenorhabditis elegans (verme modelo para estu- geralmente referido pela
dos), Oryza sativa (arroz), vírus da gripe suína, da gripe aviária, dentre muitos outros. letra minúscula n, que no
caso do genoma humano
n = 23 cromossomos.
Possuem a informação genética numa só molécula Possuem a informação genética em várias moléculas
Dessa forma, podemos citar alguns exemplos do tamanho do genoma de algumas es-
pécies: Micoplasma genitalium, o menor procarioto, que possui 6 ×105 pb, já a Escherichia
coli possui 5 × 106 pb, Saccharomices cerevisiae 2 ×107 pb, Arabidopsis thaliana 108 pb, soja
3 × 109, lírio 1011pb, Agrobacterium tumefaciens 4,6 × 106 pb, dentre outros.
Diversos organismos já tiveram seus DNAs sequenciados e você percebeu que os geno-
mas são bem variados entre as espécies.
Tendo como base essas informações, realize uma pesquisa na internet com o in-
1 tuito de encontrar cinco espécies, diferentes das apresentadas nesta aula, para as
quais o genoma já foi sequenciado.
Histórico do projeto
genoma humano
Escrever o manual de instruções de uma pessoa. Esse era o objetivo dos cientistas que
mapearam e sequenciaram o genoma humano, um trabalho árduo que, além de envolver
pesquisadores do mundo todo, envolvia a chave para desvendar nosso corpo. Esta chave
está em um código formado por milhares de genes, cada um deles com uma função definida
e pouco conhecida.
As primeiras discussões sobre o Projeto Genoma Humano (PGH) (Figura 1) começaram
em 1986, como um projeto piloto, quando o Departamento de Energia dos EUA promoveu uma
reunião para avaliar os métodos disponíveis para detecção de mutações. Nessa reunião, os Mutações
pesquisadores deram os primeiros passos e divulgaram a ideia de mapear o genoma huma- As mutações são
verificadas através
no. Você poderá encontrar detalhes desse Projeto em http://www.ornl.gov/sci/techresources/
de alterações na
Human_Genome/home.shtml. sequência de bases
nitrogenadas do DNA,
as quais se podem
verificar como a
deleção de algumas
bases ou a inserção
de novas bases a
uma determinada
sequência de DNA,
produzindo novas
características ou
alterando as já
existentes.
Fonte: <http://www.ornl.gov/sci/techresources/Human_Geno
me/home.shtml>. Acesso em: 10 jan. 2011.
Mapa genético Construir detalhadamente os mapas genético e físico: estes mapas são ne-
Representação das cessários para a localização de genes no genoma.
posições e das distâncias
relativas ao gene ou ao
marcador de DNA nos Determinar a sequência completa das bases nitrogenadas: assim, é possível
cromossomos. definir a posição dos genes e estudar suas funções.
Caracterização do
genoma humano
O genoma humano é constituído por 23 pares de cromossomos, sendo 22 autossomos
e um par de cromossomos sexuais (XY). O homem é heterogamético, ou seja, XY, e a mulher
homogamética, ou seja, XX. Mas, isso os pesquisadores já sabiam desde 1960, quando Lore
Zech, da Universidade de Uppsala, e Torbjörn O. Caspersson, da Universidade de Estocolmo,
ambos na Suécia, descreveram o primeiro cariótipo humano.
Com PGH, um dos objetivos dos pesquisadores era determinar a sequência das bases
nitrogenadas (A, T, C e G), ou seja, determinar a sequência dessas letras que compõem o geno-
ma humano. Para isso, eles coletaram amostras de DNA de doadores anônimos de diferentes
grupos étnicos para representar diferentes povos.
Em 2001, foram publicados dois artigos referentes ao primeiro rascunho do genoma
humano: um na revista Nature (Figura 3a), coordenado por Francis Collins do Projeto Genoma
Humano; e outro na revista Science, coordenado por John Craig Venter da empresa Celera
Genomics (Figura 3b). Esse último empregou amostras de DNA de três mulheres e dois ho-
mens (um afroamericano, um chinês, um asiático, um hispanomexicano e um caucasiano).
A sequência completa do genoma humano foi publicada em abril de 2003, pela revista
Nature, durante a comemoração dos 50 anos da descoberta da molécula de DNA.
Fonte: <http://www.genomequebec.com/v2009/edu
cation/index.asp?l=e>. Acesso em: 10 jan. 2011.
O genoma humano compreende 3 × 109 pares de base (3 bilhões). Estima-se que 99,9%
dessa sequência seja exatamente a mesma entre todos os seres humanos. O tamanho dos
genes é bastante diverso, com média de 3.000 bases. Só para você ter uma ideia, o maior gene
conhecido até hoje é o da distrofina, com 2,4 milhões de bases. Por outro lado, mais de 50% Distrofina
dos genes já encontrados ainda não têm sua respectiva função definida. proteína do complexo
distrofina-glicoproteínas,
Devido à complexidade do ser humano (diferenças em altura, peso, cor da pele, tipo de
que liga o citoesqueleto
cabelo, cor de olhos, propensão ao desenvolvimento de doenças, por exemplo), os cientistas da fibra muscular à matriz
estimaram inicialmente que o número de genes seria proporcional ao tamanho genoma (cerca extracelular, através da
de 100 mil), pois se acreditava que quanto maior fosse o tamanho do genoma mais complexo membrana celular; a
deficiência dessa proteína
seriam os organismos. Entretanto, ao término do Projeto, os mesmos cientistas revisaram
é a causa primária de um
suas estimativas para apenas 30 mil. Essa divergência entre o número de genes esperado e o dos mais graves tipos de
observado conduziu à definição do chamado Paradoxo do Conteúdo C, que é ilustrado através distrofia muscular.
da Tabela 1.
Tabela 1 – Comparação entre o tamanho de genomas e número de genes estimados de diferentes organismos
a b c
aparentemente não terem função direta, podendo estar envolvidas com a estrutura e a
dinâmica dos cromossomos;
ao longo do tempo remodelarem o genoma por rearranjo, podendo criar genes novos e
modificar genes existentes através dos elementos de transposição; Elemento de transpo-
sição ou transposon
Pequeno segmento de
formarem o centrômero, que é uma estrutura fundamental na correta distribuição dos
DNA também encontrado
cromossomos na divisão celular. em bactérias e plantas,
que possui a capacidade
Assim, apenas uma pequena parte do genoma humano codifica polipeptídeos, isto é, de “saltar’ de uma região
do genoma para outra po-
menos de 3% dele codifica éxons de RNA mensageiro. Os éxons são tipicamente pequenos
sição, ou até mesmo fazer
(cerca de 150 bases), enquanto os íntrons são grandes, muitos tendo mais de 1.000 bases e uma cópia de si mesma e
alguns até mais de 100.000 bases. essa cópia se translocar
em outra posição
do genoma.
Os transcritos são compostos de uma média de 10 éxons, embora muitos tenham subs-
tancialmente mais.
Finalmente, os íntrons podem ser removidos do mesmo gene em locais que variam. Essa
variação de local dos sítios de recomposição gera uma grande diversidade adicional do RNA
mensageiro e de sequências de polipeptídeos.
Com base em novos dados moleculares, 60% dos genes humanos codificantes de pro-
teínas provavelmente têm duas ou mais variantes. Em média, existem cerca de três variantes
de recomposição por gene. Assim, o número de proteínas distintas codificadas pelo genoma
humano é cerca de três vezes maior do que o número de genes reconhecidos.
A Figura 6 resume através do organograma a composição do genoma humano, incluindo
os diversos tipos de DNA e suas respectivas proporções.
Assim que os cientistas mergulharam nos dados do genoma, para começar, eles nem
sabiam direito quantos genes teriam de decifrar. A princípio, acreditavam que o total ficava em
torno de 300 mil. Depois chegaram ao número de 100 mil. E reduziram para cerca de 30 mil.
A identificação de genes deu tanto trabalho quanto o que você teria se resolvesse sair por
aí para achar ouro em um garimpo. Ouro mesmo, porque os genes têm a função mais nobre no
organismo: produzir proteínas. Tudo o que acontece no seu corpo é regulado pelas proteínas,
como a cor do cabelo, a absorção de gordura, o transporte de oxigênio. E esse trabalho é feito
de acordo com as informações contidas nos genes. Eles ordenam, as proteínas executam.
Além de valiosos, genes são raros no DNA, pois a maior parte do genoma é formada por
um tipo de DNA aparentemente inerte, inativo, sem função. Essas regiões foram chamadas de
“DNA lixo” naquela época. Hoje, se sabe que esse conceito está errado, pois essas regiões do
genoma codificam os chamados micro-RNAs, que atuam no controle da expressão gênica. Micro-RNA
“Um lixo que é um luxo”, segundo o pesquisador Carlos Menck, da USP, que estima que entre Sequência curta de RNA,
em média, com 22 nucle-
30% e 40% do genoma humano se dedique exclusivamente a produzir micro-RNAs.
otídeos, encontrada em
Descobrir quantos e quais são os nossos genes seria a primeira etapa para desvendar todas as células eucarióti-
doenças. O raciocínio era baseado em uma equação simples e linear: cada gene produz uma cas; atua como regulador
proteína. Se fizéssemos um “listão” com todos os pares - gene e proteína produzida -, sabe- pós-transcricional se
ligando às sequências
ríamos exatamente em qual deles seria preciso mexer quando adoecêssemos.
complementares do RNA
Pena que essa tese estava errada! O mergulho nos dados do genoma mostrou que a mensageiro, o que resulta
história é bem mais complicada. Um gene pode estar ligado à produção de várias proteínas, na repressão de tradução
não de apenas uma. E genes não trabalham sozinhos, pois interagem uns com os outros, o ou no silenciamento de
genes.
que resulta em novas proteínas. Dessa forma, a ideia de que bastaria interferir em um gene
para resolver um problema que surgisse caiu por terra.
Regulação gênica.
1 O Projeto Genoma Humano (PGH) ainda não atingiu todas as expectativas iniciais
dos pesquisadores. Cite pelo menos três destas expectativas e o que vem sendo
feito para contorná-las.
A Figura 7 ilustra a evolução do ser humano até os dias atuais em que ele vivencia a
era genômica.
Figura 7 – (a) Do macaco ao ser humano e (b) o ser humano na Era Genômica
Benefícios do Projeto
Genoma Humano
Vimos que o Projeto Genoma Humano tem avançado nas pesquisas e, por isso, nem
todos os objetivos inicialmente propostos foram atingidos. Entretanto, é importante destacar
os esforços que a comunidade científica tem feito no intuito de explorar o conteúdo da infor-
mação contida na sequência do genoma humano.
Por isso, destacamos, a seguir, diversos benefícios e aplicações que o PGH tem trazido
à sociedade.
Permite a identificação dos genes que causam ou que contribuem para do-
enças genéticas ou para o câncer, aumentando a capacidade de diagnosticar
doenças na fase inicial (medicina preventiva) por meio de testes genéticos e a
probabilidade de cura. Cerca de cinquenta alterações em genes que provocam
câncer já são conhecidas.
Detalhes de muitos desses benefícios e aplicações do PGH poderão ser encontrados nas
Aulas 5 (Clonagem), 6 (Organismos Geneticamente Modificados), 8 (Genética Forense) e 9
(Avanços da Biotecnologia no Brasil e no mundo).
Lembramos que as implicações bioéticas, legais e sociais sobre o genoma humano
serão discutidas em nossa Aula 10 – Bioética e Patentes Biotecnológicas, por isso, não as
abordamos nesta aula.
Além disso, novas abordagens têm sido propostas e estão em desenvolvimento para
explorar ainda mais a sequência do genoma humano. Algumas delas são:
2 Cite cinco abordagens que estão sendo desenvolvidas com o objetivo de aperfei-
çoar a exploração da sequência do genoma humano.
Autoavaliação
1 Conceitue Genoma.
CINQUEPALMI, J. V. A genética fracassou? Super Interessante, ed. 282, set. 2010. Disponível
em: <http://super.abril.com.br/ciencia/genetica-fracassou-598852.shtml>. Acesso em: 22 dez.
2010.
COOPER, G.M. A Célula: uma abordagem molecular. Traduzido por Itabajara da Silva Vaz Junior
et al. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2001.
GOLDIM, J. R. Projeto Genoma Humano (HUGO). 4 ago. 2000. Disponível em: <http://www.
ufrgs.br/bioetica/genoma.htm>. Acesso em: 20 dez. 2010.
GRIFFITHS, A. J. F. et al. Introdução à genética. Traduzido por Paulo A. Motta. 8. ed. Rio de
Janeiro: Guanabara/Koogan, 2006.
Anotações
Aula
8
Apresentação
Vimos na aula anterior (Aula 7 - Genoma Humano) que o genoma humano é altamente
complexo e que apresenta características peculiares que podem ser utilizadas em benefício
do próprio homem.
Nesta aula, estudaremos com mais detalhe algumas dessas características utilizadas em
prol da investigação criminal, da determinação da paternidade de indivíduos e da rastreabilidade
de produtos de origem vegetal e animal, por meio da Ciência denominada Genética Forense.
Compreenderemos o conceito dessa Ciência, também conhecida como DNA Forense e estuda-
remos quais as metodologias utilizadas na investigação do perfil de DNA, além de conhecermos
os principais bancos de dados de perfis genéticos do Brasil e do mundo.
Para que você entre no clima da nossa aula investigativa, comece assistindo ao seriado
norte-americano CSI (Crime Scene Investigation - Investigação da Cena do Crime). Ele vai des-
pertar a sua curiosidade e interesse em saber como crimes ditos perfeitos foram solucionados
utilizando tecnologias baseadas nas informações contidas no DNA. Bom estudo!
Objetivos
1 Definir o conceito de Genética Forense.
Vamos iniciar a nossa aula tomando conhecimento de um assassinato brutal, cuja vítima
foi a estudante Lynda Mann. No ano de 1983, a estudante foi brutalmente assassinada e vítima
de abuso sexual em Narborough, Inglaterra. Três anos se passaram sem que nenhuma prisão
fosse efetuada, até que o agressor atacou novamente: era um sábado de agosto de 1986
quando também a estudante de 15 anos, Dawn Ashworth foi encontrada morta nos arredores
da cidade, apresentando o mesmo modus operandis. Modus operandis
A polícia estava convencida de que os dois assassinatos tinham sido cometidos pelo Expressão em latim
que significa modo de
mesmo agressor e logo indiciou o atendente de cozinha de uma lanchonete da cidade, Marvin
operação, utilizada para
Anderson, pela autoria dos crimes. Embora confessasse o último crime, o atendente negou o designar uma maneira
envolvimento no primeiro assassinato. de agir ou executar uma
Diante disso, para tentar elucidar esse caso, a polícia contatou o geneticista Alec Jeffreys atividade seguindo sempre
os mesmos procedimen-
para tentar confirmar se o suspeito havia matado ambas as garotas ou não.
tos. No caso de criminosos
Após as análises de DNA realizadas a partir do material biológico coletado, ou seja, do em série, o mesmo modo
sêmen, Alec concluiu que foi o mesmo homem que havia estuprado as duas garotas, mas que é usado para assassinar
este homem não era o atendente de cozinha. as vítimas, que o identifica
como o mesmo autor de
Diante desse fato, a polícia viu-se obrigada a tomar algumas decisões: forjou uma falsa
outros crimes.
campanha de doação de sangue na pequena cidade para identificar o assassino.
Todos os habitantes contribuíram com a campanha, mas nenhum deles possuía perfil
genético igual ao do estuprador. Entretanto, um morador conseguiu se safar a princípio, ale-
gando pavor de agulhas, convencendo um amigo a fornecer a amostra de sangue no seu lugar.
Mas o que esse homem não imaginava era que seu amigo fosse contar essa história,
que para seu azar, acabou chegando aos ouvidos da polícia, a qual intimou Colin Pitchfork a
fornecer uma amostra do seu sangue para obtenção do seu perfil genético. A polícia não ficou
surpresa, pois os resultados mostraram que Colin Pitchfork havia assassinado as duas garotas.
Esse fato mostrou ao mundo tudo que a identificação pelo DNA representava para o futuro
da impunição criminal. Não demoraria muito para que esse tipo de evidência fosse utilizada
pela primeira vez num tribunal dos Estados Unidos.
O caso acima citado é apenas um dentre milhares que utilizaram a Genética Forense para
descobrir quem são criminosos. Assim, faça uma pesquisa sobre outros casos que também
tiveram a Genética Forense como sua principal aliada.
Esse é o nome dado à técnica que salvou o atendente de cozinha, Marvin Anderson, de ser
condenado por dois crimes brutais e que foi descoberta por acaso pelo britânico Alec Jeffreys
(Figura 3), geneticista da Universidade de Leicester no Reino Unido, dedicado a estudar as
diferenças genéticas existentes entre as espécies.
Mioglobina Alec Jeffreys iniciou suas pesquisas com o estudo do gene da mioglobina, verificando
Proteína semelhante à que um pequeno trecho de DNA se repetia continuamente. Um fenômeno similar havia sido
hemoglobina, cuja prin-
observado por Ray White e Arlene Wyman em 1980, que constataram que o número dessas
cipal função é facilitar o
transporte de oxigênio repetições variava de indivíduo para indivíduo. Jeffrey ainda constatou que esse pequeno trecho
no músculo. de DNA repetido não aparecia somente no gene da mioglobina, mas era espalhado por todo
o genoma. Embora alguns trechos variassem entre si, todos tinham em comum sequências
Genoma curtas repetidas (Figura 4).
Conjunto de toda a
informação genética do
indivíduo.
Desnaturação
Processo de separação das
fitas duplas da molécula de
DNA acarretando em perda
da sua função.
Figura 4 – Trecho do exon 1 do gene da mioglobina que apresenta repetições na sequência de DNA. As setas
menores indicam as repetições e as setas maiores indicam o início e o final das repetições
Jeffrey percebeu que poderia usar essa sequência (denominada de sonda) como um
tipo de marca específica no DNA de qualquer pessoa. Em seguida, o pesquisador modi-
ficou a sequência do DNA dessa marca para que ela pudesse ser identificada quando ex-
posta a raios X. Assim, toda vez que Jeffrey misturava o DNA de qualquer indivíduo com
esta sonda numa membrana de nylon e aquecia a cerca de 95oC, o DNA se desnaturava
Amostra de sangue de
onde o DNA será extraído.
Quando revelou o filme, Jeffrey constatou que a sonda encontrou muitas sequências
complementares, mas que ainda restava tanta variação entre uma amostra e outra, que mes-
mo em amostras extraídas de indivíduos de uma mesma família, era possível distinguir um
indivíduo do outro. Esse perfil, ou seja, o perfil de DNA, forneceu assim uma impressão digital
específica de cada indivíduo, também chamada de DNA fingerprinting.
Vimos que a técnica de DNA fingerprinting pode ser utilizada na identificação de indi-
víduos, como no caso mencionado no início da aula. Mas será essa sua única aplicação?
Pesquise sobre as demais aplicações do DNA fingerprinting.
O DNA repetitivo
Antes de definirmos o que é o DNA repetitivo, vamos definir o termo repetitivo.
Se tomarmos como exemplo a palavra ARARA, podemos notar que a sequência repre-
sentada pelas letras RA se repete duas vezes.
O mesmo acontece com o DNA, que apresenta, ao longo de sua sequência, repetições
de nucleotídeos A, T, C e G, vistos na Figura 4. Além disso, as repetições que ocorrem no DNA
podem ser do tipo minissatélite ou microssatélite. O ponto chave da diversidade ou variações
que existem nessas regiões é que o número de repetições varia entre indivíduos e pode ser
estudado com sondas de DNA (como feito por Alec Jeffreys quando descobriu a técnica) ou
com a chamada Reação em Cadeia da Polimerase (PCR), estudada na Aula 4 – Tecnologia do
DNA Recombinante II.
(CTTT)n e, em 1990, pela equipe de I.R.R.R. Peake com um microssatélite (GATA)n no gene
do fator de von Willebrand. Fator de von
A partir de 1991, o grupo de C.T. Caskey no Baylor College of Medicine, em Houston, Willebrand
Doença hereditária causa-
descreveu em artigos sucessivos um grande número de locos microssatélites de trinucleotídeos da por uma diminuição ou
e tetranucleotídeos, que passaram a ser usados frequentemente na identificação humana e uma disfunção da proteína
determinação de paternidade. chamada de fator de von
Willebrand (FvW). Isto
Vários desses locos foram mais tarde escolhidos pelo FBI para obter e arquivar perfis ocorre devido à mutação
genéticos de criminosos. no cromossomo 12.
Defina:
a) DNA fingerprinting:
b) Polimorfismos de DNA:
c) DNA repetitivo:
e) DNA microssatélite:
Vimos até agora que a técnica de DNA fingerprinting é utilizada na identificação de indivíduos.
Mas essa é a mesma técnica utilizada no teste de paternidade?
Figura 8 – Desenho do apresentador Ratinho em sua mais famosa pergunta: “Quem é o pai da criança?”
Figura 9 – Resultado do teste de paternidade utilizando-se microssatélites de DNA, testando a paternidade de dois
indivíduos (Homem A e B). As setas em preto representam se o segmento de DNA analisado na criança foi doado
pelo pai ou pela mãe
Observando a figura anterior, podemos notar que a criança obtém o perfil de DNA origi-
nado pela combinação do pai e da mãe. No caso, o Homem B é o pai da criança.
As frases abaixo constam em uma lista de “mitos e verdades sobre o teste de DNA”
encontrada na internet (http://www.gene.com.br).
ii) “Sou primo da mãe e estou com medo do resultado ser positivo, mesmo que eu não seja
o verdadeiro pai.”
iii) “Ele já morreu e não deixou nenhum outro parente vivo. Nunca poderei provar que ele
era o pai do meu filho.”
Justifique por que cada uma das frases acima constitui um “mito”.
b) Num teste de paternidade, poderia ser utilizado apenas o DNA mitocondrial? Por quê?
a b
Figura 10 – (a) tubo para coleta de material para análise de DNA e (b) Maleta utilizada para coleta de material
No local de um crime, o DNA pode ser degradado por enzimas produzidas por fungos e
bactérias, por causa da umidade e do calor, por produtos químicos que os criminosos usam
para limpar ou alterar a cena do crime.
Vale lembrar que o DNA resiste muito bem às altas temperaturas, sendo necessárias
temperaturas em torno de 95oC para que ele se desnature. Além dessas enzimas, ele pode ser
contaminado pelo DNA de outra pessoa, como por exemplo, em caso de estupro, no qual o
material biológico coletado pode ter sêmen do estuprador ou do esposo ou namorado da vítima.
Para garantir a sua integridade, a perícia faz uma ficha de identificação de cada amostra
coletada na cena do crime, relatando as condições nas quais o material foi coletado e seu
percurso do local do crime até o laboratório. Amostras biológicas merecem especial atenção
devido à facilidade de contaminação e degradação.
Vimos que o Brasil ainda está em fase inicial de implantação de seu banco de dados de
perfis genéticos. Pesquise se este banco de dados já está sendo utilizado e quais as repercus-
sões na sociedade.
Mas você deve estar se perguntando, como funciona um banco de dados de perfis de
DNA? A melhor maneira de explicar o seu funcionamento é através de um exemplo real. Leia
o texto abaixo e confira.
Em 1968, Roy Tutil, um garoto de 14 anos, foi encontrado morto após ter sido estran-
gulado e violentado sexualmente. Na época, amostras do sêmen encontradas no corpo da
vítima foram coletadas e armazenadas. Com os avanços da Ciência, muitos anos mais tarde,
a amostra armazenada foi analisada e o perfil de DNA obtido colocado no banco de dados. Em
1999, 31 anos depois, um motorista que dirigia bêbado foi detido pela polícia e seu perfil de
DNA foi cadastrado no Banco de Dados do Reino Unido, havendo coincidência desse perfil com
aquele encontrado nas amostras do jovem Roy. Assim, o motorista Brian Lunn foi condenado
pelo assassinato de Roy Tutil.
O sistema de identificação
do DNA Barcoding
Ao pagar suas compras no supermercado, cada produto é identificado pelo seu respec-
tivo código de barras. Ao ser lido pelo sistema de leitura ótica, cada código identifica na tela
do caixa o produto bem como outras características, tais como tipo, peso, quantidade, sabor,
além do preço.
Empregando essa mesma ideia, os pesquisadores desenvolveram o sistema de identi-
ficação do DNA Barcoding. Foi em 2003, que Herbert e colaboradores propuseram esta nova
tecnologia, cujo objetivo é discriminar todas as espécies vivas do planeta através da utilização
de um pequeno segmento padronizado de DNA, funcionando como um sistema “bioidenti-
ficador” universal. Essa tecnologia foi denominada de DNA Barcoding ou ainda código de
barras do DNA.
O DNA Barcoding é baseado em um conceito relativamente simples. A maioria do DNA
humano está presente no núcleo da célula, empacotado nos 46 cromossomos, como é o caso
das células humanas. Esse DNA é denominado de DNA nuclear. Entretanto, uma pequena
porção do DNA de cada célula está localizada nas mitocôndrias, recebendo o nome de DNA
mitocondrial (mtDNA). O DNA mitocondrial tem uma taxa de mutação relativamente rápida,
que resulta em uma variação significante na sua sequência entre espécies e, em princípio, com
pouca variação entre indivíduos de uma mesma espécie. Por possuir essas características ele
pode ser utilizado para identificar indivíduos de uma mesma espécie e discriminar aqueles de
espécies diferentes.
Citocromo c oxidase
Um exemplo disso é a região do DNA mitocondrial de 650 pares de bases que codifica
Proteína associada à
a subunidade I da proteína citocromo c oxidase (COI), que vem sendo utilizada como um membrana interna da mi-
potencial barcode, ou seja, uma potencial bioidentificador. Esse gene foi analisado em várias tocôndria que tem função
espécies de borboletas e foi verificado que a diversidade na sua sequência permitiu a discri- na cadeia transportadora
de elétrons, realizando
minação das espécies proximamente relacionadas. Essas espécies eram caracterizadas por
reações de oxidações e
apresentarem modestas taxas de evolução molecular e alta diversidade entre elas e, mesmo reduções durante a
assim, foi possível a identificação das espécies (Figura 13). respiração celular.
Índice taxonômico
Usando o DNA
Barcoding
Ligação ao nome da espécie
Pesquisadores
Coleções
Público em geral
Autoavaliação
O tema principal desta aula foi a Genética Forense. Muitos conceitos são necessários para
que você entenda essa Ciência e, consequentemente, suas aplicações. Desse modo, para fixar
os seus conhecimentos, defina os seguintes conceitos:
1 DNA fingerprinting:
2 DNA repetitivo:
5 DNA Barcoding:
Se você foi capaz de realizar essa definição com sucesso, parabéns! Caso contrário,
retome a leitura da aula, tire suas dúvidas com o professor e refaça a Autoavaliação.
WATSON, J. DNA O segredo da vida. São Paulo: Companhia das Letras, 2005. 470 p.
WELLER, P. et al. Organization of the human myoglobin gene. The EMBO Journal, v. 3, n. 2,
p. 439-446, 1984.
Aula
9
Apresentação
Ao longo das aulas anteriores, pudemos adquirir conhecimentos sobre as diversas téc-
nicas envolvidas na Biotecnologia, incluindo alguns exemplos que foram apenas citados.
Nossa proposta para esta nona aula é resgatar alguns desses exemplos vistos nas Aulas
5 - Clonagem, 6 - Organismos geneticamente modificados, e 7 - Genoma humano, e apresentá-
los de maneira detalhada para que você possa solidificar e ampliar seus conhecimentos sobre
cada um deles.
Dessa forma, apresentaremos as conquistas e os avanços na área da Biotecnologia através
de exemplos que contam com a participação do Brasil e de outros países. Quando pertinente,
detalharemos os procedimentos e as técnicas de Biotecnologia envolvidas em cada exemplo
e que ainda não foram discutidas.
Antes de iniciar os estudos desta aula, releia as Aulas 5, 6 e 7 desta disciplina. Certamente,
isso facilitará a compreensão dos exemplos abordados aqui. Faça anotações e, em caso de
dúvidas, acesse o fórum da disciplina o mais rápido possível. Bom estudo!
Objetivos
1 Caracterizar o avanço da Biotecnologia no Brasil e no mundo.
entendimento sobre o mecanismo imunológico induzido por esse tipo de vacina despertou Imunogenicidade
interesse da comunidade científica. Sinônimo de poder imuno-
gênico, que é a capacidade
Assim, com os avanços da tecnologia do DNA recombinante, foi possível criar organismos
do agente biológico de
por manipulação molecular deliberada e ainda a clonagem e expressão de genes que codificam estimular a resposta
proteínas imunogênicas para uso em vacinação. imune no hospedeiro.
De forma simplificada, essa tecnologia envolve a administração direta de DNA plasmideal
codificando antígenos imunogênicos para tecidos que são capazes de internalizar esse DNA Antígeno
e expressar o antígeno heterólogo de tal forma que irá induzir uma resposta imunológica Toda partícula ou molé-
cula capaz de iniciar uma
efetiva. Um importante atributo da vacina de DNA é a apresentação antigênica via moléculas
resposta imune, a qual co-
de MHC, o que mimetiza o processo resultante de uma infecção natural, ativando linfócitos T, meça pelo reconhecimento
além da produção de anticorpos. pelos linfócitos e cumula
com a produção de um
anticorpo específico.
Heterólogo
De origem diferente;
sequência de uma espécie
Mas, como é construída uma vacina de DNA?
empregada como sonda
para detectar complemen-
taridade em outra.
MHC
A vacina é baseada na tecnologia do DNA recombinante vistas nas Aulas 3 (Tecnolo- Do inglês Major Histo-
compatibility Complex
gia do DNA Recombinante I) e 4 (Tecnologia do DNA Recombinante II) desta disciplina.
ou Complexo Principal
Dessa forma, envolve a transferência de um determinado gene (transgene), que codifica uma de Histocompatibilidade;
proteína (imunógeno), dentro de um vetor de expressão para células eucarióticas. A Figura grande região genômi-
1 ilustra a composição e duas vias de administração (injeção intramuscular e biobalística) ca que contém genes
relacionados ao sistema
das vacinas de DNA.
imunológico.
Anticorpo
reação do sistema
imunológico ao entrar em
contato com um antígeno
a fim de neutralizá-lo.
Plasmídeo
Material Seringa
genético
Músculo
Plasmídeo
modificado
Gene gun
Pele
Resposta
2) apresentam risco de mutagênese por inserção; imune celular
consiste na ativação de
macrófagos por meio de
3) inativam pelo sistema complemento; linfócitos T auxiliares para
eliminar microrganismos
4) são contra-indicados para pessoas com imunodepressão. fagocitados.
Vetores plasmidiais
Um dos vetores utilizados nas vacinas de DNA é o plasmídeo bacteriano, desenvolvido
originalmente para expressão in vitro de proteínas em células de mamíferos.
Os plasmídeos apresentam maior segurança biológica, baixo custo, fácil produção, rela-
tiva estabilidade e capacidade genômica de 2 a 19 kilobases, que podem ser transferidos para
as células musculares.
Os plasmídeos utilizados como vacinas devem conter os seguintes elementos essenciais:
3) um marcador de seleção;
5) sítio de múltipla clonagem onde é inserido o gene de interesse. Outras sequências tam-
bém são importantes, como íntron que aumenta a atividade do promotor, peptídeo sinal e
sequências de 6 nucleotídeos com função imunoestimulatória.
1 Mencione três características que um vetor ideal deve apresentar para ser empre-
gado na produção de vacinas de DNA.
Possíveis problemas
Apesar de as vacinas de DNA apresentarem vantagens frente às vacinas clássicas, como
visto acima, elas possuem algumas desvantagens, as quais devem ser avaliadas criteriosamente
pelos pesquisadores. Isso se faz necessário a fim assegurar a qualidade do produto final bem
como garantir a proteção apropriada à determinada doença e impedir contaminações indevidas.
Algumas dessas desvantagens são apresentadas a seguir:
Nenhuma evidência desses fenômenos foi comprovada cientificamente, mas testes rigo-
rosos devem ser feitos para que se possa validar uma vacina de DNA para uso em humanos.
Como visto, o Brasil tem contribuído com o desenvolvimento de vacinas de DNA. Outros
países também têm despendido esforços nessa área. Por isso, sugerimos que você realize
uma busca pela internet por outros exemplos de vacinas de DNA. Você deverá incluir, além
da doença pesquisada, o país envolvido e a técnica empregada na obtenção dessas vacinas.
Microinjeção
Os embriões são células relativamente raras, e o método mais eficiente para a transfe-
rência de genes em células cultivadas é a microinjeção.
A microinjeção de DNA no pró-núcleo de embriões de uma célula foi o primeiro método
a ser utilizado para DNA não viral, proposto, em 1980, pela equipe coordenada por Jon W.
Gordon, da Universidade de Yale, EUA, em camundongos e disseminado para três outros
mamíferos (coelhos, suínos e ovelhas), ainda nos anos 1980 por Robert E. Hammer e equipe
da Universidade da Pensilvânia, EUA.
A Figura 2 apresenta um esquema da técnica de microinjeção.
Purificador
da proteína
Microinjeção em recombinante
pró-núcleo
Transferência
de embrião
para receptora
Leite
Vaca transgênica transgênico
Tecido mamário
expressando o gene
de interesse Produto final
BIORREATOR
Figura 2 – Esquema de produção de proteínas recombinantes em glândula
mamária utilizando tecnologia de microinjeção em embriões de bovinos
Esta técnica requer que um grande número de embriões esteja disponível para a mi-
croinjeção e que seja transferido cirurgicamente para fêmeas receptoras. Os embriões são
geralmente obtidos por superovulação e as fêmeas receptoras estarão prontas para receber
embriões exógenos após cruzamento com machos vasectomizados ou após tratamento hor-
monal de acordo com a espécie.
O DNA exógeno introduzido no pró-núcleo é altamente mitogênico. Isso induz a morte
de uma grande proporção de embriões (30% ou mais). Rearranjos desconhecidos do genoma
e mutações também ocorrem no sítio de integração. A produção média de transgênese, após
microinjeção de DNA no pró-núcleo, é de 2% para camundongos, 0,1 a 0,5% para suínos,
0,01 a 0,1% em cabras e ovelhas e ainda mais baixo para vacas.
Já em vertebrados inferiores e invertebrados e, geralmente, em espécies ovíparas, os
ovos são envolvidos por uma casca, e a célula contém uma grande quantidade de vitelo.
Nesse sentido, os pró-núcleos não são visíveis e a injeção de DNA pode ser melhor realizada
no citoplasma, após transpassar a casca.
Retrovírus
Os retrovírus (Figura 3a) são considerados veículos naturais de transferência de material
genético para o genoma de células de mamíferos. São vírus de RNA reversamente transcrito
em cópias de DNA de dupla fita no interior da célula hospedeira. Por meio de uma inserção
aleatória da construção de interesse no genoma hospedeiro, os retrovírus possuem o potencial
de promover uma transdução eficiente, estável e duradoura em uma grande variedade de tipos Transdução
celulares in vitro e in vivo. Transferência, por meio
de um vetor viral, de uma
Os lentivírus (Figura 3b) pertencem à vasta família dos retrovírus e possuem uma alta
sequência de DNA entre
capacidade intrínseca de integração ao genoma. Podem incorporar até 9 kpb de DNA exógeno células bacterianas.
e, por razões desconhecidas, esses vetores integrados são menos suscetíveis à extinção do
gene do que vetores de retrovírus convencionais. Apresentam vantagens como, por exemplo, Lentivírus
podem inserir genes específicos em cromossomos de células-alvo em divisão ou não, pois Vírus com longo período
de incubação associado
seu complexo pré-integração é transportado ativamente para dentro do núcleo. Além disso,
a doenças neurológicas e
a utilização de um sistema de transdução em células in vitro torna possível a avaliação da na- imunossupressoras.
tureza de promotores tecido-específicos antes da aplicação desses em estratégias de Terapia
a b
Interação + +
esperma /
DNA
IA
{
FIV
Fertilização
externa
{
Transferência de
embriões de
Estágio 2 células
Desenvolvimento
embrionário externo
Os animais biorreatores têm um elevado potencial para serem utilizados como biofábricas
na produção em larga escala de diversas proteínas expressas em diversos fluidos corpóreos.
Dessa forma, sugerimos que você realize uma busca pela internet por outros exemplos de
animais biorreatores. Você deverá incluir, além da proteína de interesse, o país envolvido e a
técnica empregada na obtenção dessas proteínas.
Vantagens
Biofármacos
A Biofarmacologia também é um avanço proporcionado pela Biotecnologia que nós apre-
sentaremos a você. Trata-se de uma linha de pesquisa que emprega plantas ou animais como
biorreatores, ou seja, neles são inseridos os genes que expressarão proteínas recombinantes
ou anticorpos de interesse para a indústria farmacêutica.
1) arroz: α-1-antitripsina;
Terapia Gênica
Outro avanço da Biotecnologia interessante é a Terapia Gênica, que é o tratamento de
doenças baseado na transferência de material genético. Esse tratamento é feito através da
introdução de um gene sadio em tecido somático para substituir ou complementar genes que
apresentem mau funcionamento de um gene vital ou de seu respectivo produto, causando
doenças. Para o sucesso da Terapia Gênica, é necessário dois importantes fatores: 1) que
não ocorram efeitos indesejáveis; 2) que se mantenha a produção, em níveis desejáveis, do
produto do gene introduzido.
Alguns exemplos de doenças para as quais têm sido desenvolvidos tratamentos baseados
na Terapia Gênica são: câncer, AIDS, doenças neurológicas, como o mal de Parkinson e de
Alzheimer, doenças cardiovasculares, dentre outras.
Para transferir o gene terapêutico para o tecido alvo, é preciso um sistema vetor capaz de
conduzir esse gene para dentro das células à semelhança dos tópicos já apresentados nesta
aula. Existe uma variedade de sistemas vetores, podendo ser FÍSICOS, QUÍMICOS ou BIO-
LÓGICOS. O estudo desses sistemas elucida as vantagens e desvantagens de cada um deles,
bem como as indicações preferenciais dos vetores para esta ou aquela doença.
Entre os vetores físicos ou químicos, temos a transfecção de DNA, a injeção direta de
DNA, complexos receptores-ligantes, eletroporação etc. A expressão de genes introduzidos por
esses métodos dura por um período transiente de tempo. Já os sistemas vetores biológicos
são baseados na infecção de células por vírus. Esses sistemas são divididos em duas classes:
1) os retrovírus; 2) os adenovírus. Adenovírus
Os retrovírus (Figura 5a) são mais explorados devido à sua capacidade de se integrar Vírus constituído por DNA,
não possui envelope bili-
ao cromossomo da célula infectada e, consequentemente, de manter os níveis de expressão
pídico e é extremamente
do gene terapêutico. No entanto, os retrovírus só infectam células em divisão, o que pode ser resistente.
uma limitação para doenças que ocorrem em células quiescentes (repouso). Já os adenovírus
(Figura 5b), por sua vez, atingem altos níveis de infecção, além de infectar células que não
estão se dividindo. Apesar disso, o gene terapêutico não é capaz de se integrar ao cromossomo
das células hospedeiras, o que leva a uma expressão menos duradoura do gene terapêutico.
O uso de adenovírus, portanto, necessitaria de repetidas reinfecções do tecido acometido.
a b
Vantagens
A Terapia Gênica é uma área muito promissora devido a algumas vantagens, que desta-
camos a seguir.
Permite curar determinadas doenças que anteriormente não tinham cura possível.
Entretanto, a Terapia Gênica possui algumas desvantagens que precisam ser muito
bem avaliadas antes do início do tratamento, a fim de assegurar maiores chances de sucesso.
Em seguida, algumas delas são descritas.
Apresenta um curto período de duração, devido à curta vida do vetor, à perda de funcio-
nalidade do DNA inserido nas células-alvo e/ou à rapidez da divisão celular.
Quando uma doença é causada por uma variação dos efeitos de vários genes e não por
uma mutação apenas num gene, o tratamento é mais difícil.
Fonte: <http://biologiacesaresezar.editorasaraiva.com.br/navitacontent_/userFiles/File/Biologia_Cesar_Sezar/Bi
o3_170.jpg>. Acesso em: 13 jan. 2011.
O primeiro teste clínico de Terapia Gênica do Brasil foi iniciado em 2007 e conta com
a participação de pesquisadores do Instituto de Cardiologia do Rio Grande do Sul, que tem
tentado tratar doença coronária injetando argolas de DNA nos pacientes.
Exemplos bem sucedidos foram dados no tratamento do glioblastoma, que é um tumor
cerebral maligno, de melanomas malignos e carcinomas de cabeça e pescoço e da deficiência
da enzima adenosina desaminase (ADA), que ocasiona um comprometimento severo do sis-
tema imunológico do indivíduo, de uma variedade hereditária de cegueira, da disfunção erétil
em homens, dentre outros, pois esse campo é muito vasto para a aplicação da Terapia Gênica.
Óvulo fertilizado
Embrião de Blastocisto
8 dias Pluripotentes
Neurônio Células do
sangue
Músculo
10) doenças do coração: para reposição do tecido isquêmico com células car-
díacas saudáveis e para o crescimento de novos vasos;
11) esclerose lateral amiotrófica: para a geração de novo tecido neural ao longo
da medula espinhal e corpo;
2 Quais são os tipos de células-tronco? Faça uma breve descrição de cada tipo.
Prega
gonodal
Células Blastocisto Fela
totipotentes Células
germinativas
Células da primordias
massa interna Células-tronco
embrionárias (uso terapêutico)
Fonte: <http://2.bp.blogspot.com/_6886BCkrAL0/SIY6D_byVYI/AAAAAAAABpM/8EEIBXgvqqs/s1600-h/25+-+C%C3%A9lulas+tronco+Embrion%C
3%A1rias.jpg>. Acesso em: 13 jan. 2011.
Benefícios
As células-tronco podem trazer muitos benefícios à sociedade que anseia pela descoberta
de novos tratamentos contra doenças ainda tidas como incuráveis. Observe, a seguir, alguns
desses benefícios.
10
b c
Porém, o xenotransplante não trata apenas de transplante de órgãos inteiros. Essa abor-
dagem inclui também outras aplicações, tais como:
Perspectivas da Biotecnologia
Apresentamos a seguir algumas áreas em que a Biotecnologia tem muito a contribuir e
os estudos avançam para que novas tecnologias sejam obtidas. Veja a seguir quais são elas.
Resumo
Referências
ALMEIDA, M. R.; BORÉM, A.; FRANCO, G. R. Biotecnologia e Saúde. Brasília: Independente,
2004. 232 p.
BRESSAN, F. F. et al. Produção de animais transgênicos por transferência nuclear como mo-
delo de estudo biológico. Revista Brasileira de Reprodução Animal, v. 32, n. 4, p. 340-250,
2008. Disponível em: <http://www.cbra.org.br/pages/publicacoes/rbra/download/RB179%20
Bressan%20p240.pdf>. Acesso em: 30 dez. 2010.
LINDEN, R. Genes contra doenças: terapia gênica: uma nova era na genética. Rio de Janeiro:
Vieira e Lent, 2008. 125 p.
Aula
10
Apresentação
Finalmente, chegamos à décima e última aula e ao término de nosso curso.
Durante as Aulas 5 (Clonagem), 6 (Organismos Geneticamente Modificados), 7 (Genoma
Humano) e 9 (Avanços da Biotecnologia no Brasil e no Mundo) apresentamos temas que geram
desconfiança, polêmica e preocupação na sociedade. Alguns desses temas estiveram relaciona-
dos à clonagem para fins reprodutivos e terapêuticos, ao direito do consumidor em saber se um
alimento contém produto transgênico, à possibilidade de sabermos antecipadamente se somos
propensos ao desenvolvimento de alguma doença por meio da análise do genoma, dentre outros.
Dessa forma, surge a Bioética, que tem buscado associar o conhecimento biológico, devido
à descoberta de novas técnicas e processos, com o conhecimento dos valores humanos. Além
disso, essas novas técnicas e processos têm propiciado a obtenção de recursos financeiros,
através da requisição das chamadas patentes.
Portanto, na primeira parte desta décima aula apresentaremos o conceito, fatos históricos
e princípios relacionados à Bioética. Discutiremos também sobre a Bioética na Medicina e na
Experimentação com Animais. Já na segunda parte definiremos patentes, os critérios para a sua
solicitação, importância econômica e benefícios.
Os objetivos definidos a seguir serão mais facilmente compreendidos se você ler atenta-
mente todos os tópicos, quando julgar pertinente faça anotações e, em caso de dúvidas, acesse
o fórum da disciplina.
Bom estudo!
Objetivos
1 Definir o conceito de Bioética.
O
ser humano assumindo o papel do Criador sobre a definição e determinação da vida e
da morte. Essa é uma ideia amplamente difundida quando o assunto é a Bioética. Mas,
antes de definirmos esse conceito, apresentamos, a seguir, alguns casos verídicos
relacionados à reprodução humana que contribuíram para o desenvolvimento e o aperfeiço-
amento da Bioética. Lembramos que ao longo desta aula também apresentaremos exemplos
em outras áreas.
Em 1978, nascia Louise Brown, em Londres, primeiro ser humano proveniente de uma
inicial fertilização in vitro, seguida da implantação bem-sucedida do embrião no útero de sua
mãe. A sociedade daquela época logo passou a se questionar: o ser humano teria direito de
fazer o papel da natureza em questões relacionadas à reprodução? Entretanto, hoje em dia
quantos casais inférteis têm realizado o desejo de terem filhos através dessa técnica?
Em 1994, o ginecologista italiano Severino Antinori anunciava que sua paciente, Rosanna
Della Corte, tinha dado a luz aos 63 anos. Imediatamente, o Vaticano considerou esse expe-
rimento abusivo e a sociedade também fazia o seguinte questionamento: como uma senhora
de 63 anos poderia dar a luz, visto que a recomendação médica para não expor a mulher a
riscos é de até 35 anos? Mas, atualmente, quantos casais empregam a chamada “barriga de
aluguel” para poder gerarem seus filhos?
Esses dois simples casos ilustram a polêmica que a revolução das técnicas de repro-
dução causou na sociedade da época. Entretanto, hoje elas são aceitas normalmente pela
sociedade. Outros temas relacionados às técnicas de sequenciamento do genoma humano,
doação de sêmen ou de óvulo, contracepção, esterilização, fecundação in vitro, inseminação
artificial, barriga de aluguel, reprodução assistida, escolha e predeterminação do sexo, clona-
gem humana, descarte de embriões, morte clínica, pacientes terminais, eutanásia/distanásia, Eutanásia
prolongamento artificial da vida, doação e transplante de órgãos e tecidos, experimentação Prática pela qual se abre-
via a vida de um enfermo
em seres humanos e animais também têm provocado discussões polêmicas na sociedade e
incurável de maneira
é ai que surge a Bioética. controlada e assistida
Mas, afinal, o que é Bioética? por um especialista.
Em 1927, o filósofo, teólogo e educador alemão Fritz Jahr utilizou pela primeira vez a
palavra Bioética (bio + ethik), referindo-se ao reconhecimento de obrigações éticas, não apenas Distanásia
com relação ao ser humano, mas para com todos os seres vivos. Jahr propôs um imperativo Prática pela qual se
continua através de
bioético: “respeita todo ser vivo essencialmente como um fim em si mesmo e trata-o, se
meios artificiais a vida de
possível, como tal”. um enfermo incurável;
Entretanto, o termo Bioética ficou amplamente conhecido através das palavras do bio- contrário da eutanásia.
químico, biólogo e oncologista da Universidade de Wisconsin, Van Rensselaer Potter, que, em
1970, utilizou “bio” para representar o conhecimento biológico, a ciência dos sistemas viventes
e, “ética”, para representar o conhecimento dos sistemas de valores humanos. Ele definiu a
Bioética como “a ciência da sobrevivência humana”, cujo objetivo era promover mudanças
no meio ambiente onde se pudesse realizar uma adaptação humana ideal dentro de tal meio.
A Bioética surge da necessidade de desvendar as novas relações humanas oriundas
das novas tecnologias de reprodução e criação da vida ligadas à Medicina e à Biologia. Ela
busca respostas aos dilemas éticos que envolvem os seres humanos. Dessa forma, o critério
Política
Sociologia Medicina
Filosofia Nutrição
BIOÉTICA
Direito Biologia
Antropologia Teologia
História da Bioética
Vários foram os fatos e documentos que tiveram impacto no surgimento e desenvolvi-
mento da Bioética. Mencionamos os mais importantes a seguir.
4) 1945 – Fim da 2ª Guerra Mundial com a explosão das bombas atômicas no Japão, em
1945, em Nagazaki e Hiroshima, em que milhares de pessoas inocentes foram imedia-
tamente exterminadas e as que sobreviveram sofreram sequelas irreversíveis pelo resto
da vida.
12) 23 de dezembro de 1954 – Primeiro transplante renal, realizado pelo Dr. Joseph E.
Murray, entre irmãos gêmeos idênticos.
15) Declaração de Helsinque (1964), que na realidade foi uma revisão do Código de
Nuremberg. Na última revisão dessa Declaração, estabeleceram-se, também, as normas
para a pesquisa médica sem fins terapêuticos.
16) 03 de dezembro de 1967 – Primeiro transplante de coração realizado pelo Dr. Christian
Barnard na África do Sul.
20) 1932 – 1972 – Três casos mobilizaram a opinião pública americana: a) em 1963, no
Hospital Israelita de Doenças Crônicas, em Nova York, foram injetadas células cancerosas
vivas em idosos doentes; b) entre 1950 e 1970, no Hospital Estadual de Willowbrook,
em Nova York, injetaram o vírus da hepatite em crianças com deficiência mental; c) Em
1932, no Estado do Alabama, 400 negros com sífilis foram recrutados para participarem
de uma pesquisa de história natural da doença e foram deixados sem tratamento, no
que foi conhecido como o caso Tuskegee.
21) 1974 – 1978 – Relatório Belmont – Identificar os princípios éticos “básicos” que deve-
riam conduzir a experimentação em seres humanos nos EUA.
23) 25 de julho de 1978 – Nascimento de Louise Brown, o primeiro bebê de proveta, que abriu
novas possibilidades de tratamento médico para casais com problemas de fertilidade.
24) 27 de fevereiro de 1997 – Nasce a Ovelha Dolly, que possibilitou aos pesquisadores
vislumbrarem a clonagem humana.
Dilemas da Bioética
O professor da Universidade de Brasília, Volnei Garrafa, divide os dilemas da Bioética
em dois tipos:
Concluímos, então, que a Bioética está envolvida com o nascer, o viver e o morrer, o
que faz com que seja primordial, tanto para a nossa vida pessoal, quanto para a profissional.
Portanto, os dilemas bioéticos devem ser considerados sob vários aspectos na tentativa de
harmonizar os melhores caminhos.
Essa harmonização só se consegue se houver tolerância, isto é, a aceitação do modo
de pensar do outro, pois a Bioética não busca a padronização de comportamentos, mas uma
reflexão ponderada das relações que estabelecemos com o outro.
Para tanto, foram formulados princípios que buscam justamente a harmonização men-
cionada acima. Abaixo, apresentamos e discutimos cada um deles.
Vimos que a Bioética apresenta dois dilemas: das situações persistentes (cotidianas) e
das situações emergentes (limites ou fronteiras). Tendo como base esses dilemas, realizaremos
a atividade proposta a seguir.
1 Forme um grupo com até dez colegas, podendo ou não ser do mesmo polo.
Essa atividade será realizada em um fórum específico da disciplina, aberto pelo profes-
sor responsável, que dará instruções adicionais no momento da sua execução.
Princípios da Bioética
A Bioética é regida por cinco princípios.
Vamos conhecê-los?
3) Princípio da não maleficência: assegura que sejam minorados ou evitados danos físicos
aos sujeitos da pesquisa ou pacientes. Riscos da pesquisa são as possibilidades de danos
de dimensão física, psíquica, moral, intelectual, social, cultural ou espiritual do ser humano,
em qualquer fase de uma pesquisa e dela decorrente. Dano associado ou decorrente da
pesquisa é o agravo imediato ou tardio, ao indivíduo ou à coletividade, com nexo causal
comprovado, direto ou indireto, decorrente do estudo científico.
Esses princípios são considerados tanto na área da experimentação médica quanto na de ex-
perimentação animal. A seguir, discutiremos cada uma dessas áreas, incluindo a legislação vigente.
Bioética na medicina
Três são os documentos básicos que regem a Bioética na Medicina pelo mundo, veja
quais são.
De forma resumida, essa última define que todo protocolo experimental envolvendo
seres humanos deve ser aprovado por um comitê independente externo; deve haver uma
supervisão por profissional qualificado e responsável pelo protocolo; reafirma que o consen-
timento prévio é essencial; uma avaliação prévia e cuidadosa dos riscos do protocolo deve
ser realizada, prevendo-se que os benefícios esperados devem ser superiores aos possíveis
riscos e se levanta a questão de que nenhum resultado científico obtido em protocolos com
seres humanos deverá ser aceito para divulgação, caso não tenham sido observados todos
os requisitos descritos antes e durante a sua realização.
No Brasil, o primeiro documento sobre normas de pesquisa em humanos foi a Resolução
nº 1 do Conselho Nacional de Saúde (CNS), de 13 de junho de 1988. O documento baseia-se na
Declaração de Helsinque, reafirmando a necessidade do livre consentimento prévio, devendo ser
informado com clareza ao participante os objetivos, os métodos, os benefícios e os eventuais
incômodos e perigos que possam advir de sua participação no projeto de pesquisa.
Em 10 de outubro de 1996, o Conselho Nacional de Saúde (CNS) aprovou as Diretrizes
e Normas Regulamentadoras de Pesquisas Envolvendo Seres Humanos – a Resolução nº
196/96, do CNS. Ela estabelece os princípios básicos para a apreciação ética dos protocolos
de pesquisa, cria os Comitês de Ética em Pesquisa (CEP) e a Comissão Nacional de Ética em
Pesquisa (CONEP). Além desses regulamentos, existem os códigos de ética, no âmbito de
Bioética na
experimentação animal
Um movimento de controle sobre o uso de animais tem sido crescente, paralelo e com-
parável àquele das pesquisas envolvendo seres humanos. O debate ético sobre o uso de
animais tem atraído a atenção da sociedade, com diferentes visões sobre o assunto, embora
não seja propriamente um debate novo. O pano de fundo das leis que surgem após os anos
de 1970 é o princípio dos 3 Rs da experimentação animal, tal como se tornaram amplamente
conhecidos os princípios propostos por W.M.S. Russell e R.L. Burch, em 1959, em busca de
uma estratégia de abordagem em relação à experimentação animal.
Os 3Rs – replace, reduce e refine – visam substituir, reduzir e refinar o uso de animais
em experimentos e logo se tornaram diretrizes para o controle da experimentação animal em
diversos países.
É muito comum na área de nutrição de ruminantes, como é o caso dos bovinos, que os
animais passem por uma cirurgia de fistulação. Esse procedimento permite que o alimento
fornecido ao animal seja coletado diretamente do rúmen e, a seguir, seja analisado para fins Rúmen
de determinação dos nutrientes digeridos. A Figura 2b ilustra em detalhe a fístula. Primeiro compartimento do
estômago dos ruminantes
que possuem ao todo
quatro compartimentos; no
rúmen ocorre a fermenta-
ção dos alimentos.
Definições
A Patente trata de um direito exclusivo de propriedade, por tempo determinado, sobre uma
invenção ou uma utilidade. Ao contrário dos demais Direitos de Propriedade Intelectual, que não Invenção
se limita em apenas reconhecer a autoria de um produto e proteger os direitos dela proveniente, Caracteriza-se como uma
ideia nova que permite a
ela visa principalmente o fomento da atividade inventiva através da difusão de conhecimentos
solução de problemas tec-
científicos, que é a sua função social. Em troca, é concedido, por parte do Estado, ao inventor nológicos e pode consistir
um monopólio legal sobre a industrialização e comercialização do produto ou processo. de inovações em produtos
De acordo com o Art.18, inciso III e seu parágrafo único da Lei de Propriedade Intelec- ou processos; a inovação
é toda e qualquer criação
tual (Lei 9.279/96), as Patentes de Biotecnologia são aquelas que contemplam processos de
que resulta na ampliação
produção baseados em materiais biológicos, tais como microrganismos, produtos resultantes, de um dado conjunto de
materiais biológicos e os próprios microrganismos, desde que sejam transgênicos. conhecimentos aplicados
Para compreendermos melhor o conceito de Patentes, apresentamos a seguir dois exem- já conhecidos, sempre
de forma produtiva para
plos reais na área de Biotecnologia.
aquele que a emprega.
Propriedade Intelectual:
vamos conhecer um pouco mais?
A Propriedade Intelectual é uma forma de proteger a criação humana, através da implemen-
tação de direito de apropriação ao homem sobre suas criações, obras e produções do intelecto,
talento e engenho. Sua principal finalidade é a de garantir aos inventores ou responsáveis por
qualquer produção do intelecto (seja nos domínios industrial, científico, literário e/ou artístico)
o direito de auferir, por um determinado período de tempo, recompensa pela própria criação.
A Propriedade Intelectual divide-se em dois grandes ramos: Direitos Autorais e a Proprie-
dade Industrial. O Direito Autoral refere-se às obras artísticas e literárias (Lei nº 9.610/1998),
aos programas de computador (Lei nº 9.609/1998) e aos domínios de Internet (Decreto nº
4.829/2003). Já a Propriedade Industrial é o nome coletivo para o conjunto de direitos rela-
cionados com as atividades industriais ou comerciais do indivíduo ou sociedade comercial. Diz
respeito às invenções, aos modelos de utilidade, aos desenhos industriais, às marcas de produto,
de serviço, de certificação ou coletivas; à repressão às falsas indicações geográficas e registro
das mesmas, aos cultivares e à repressão à concorrência desleal.
No Brasil, o Escritório Nacional de Propriedade Industrial responsável pela gestão do Siste-
ma de Patentes é o Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). Foi criado em 1970, com a
finalidade principal de regular o sistema de Propriedade Industrial, na qual faz parte o sistema de
patentes, bem como pronunciar-se quanto à conveniência de assinatura, ratificação e denúncia
de convenções, tratados, convênios e acordos sobre propriedade industrial (INPI, 2004). Para
saber mais sobre esse assunto, acesse <http://www.inpi.gov.br>.
Então, agora que sabemos um pouco mais sobre as Patentes, será que qualquer pessoa
pode solicitar uma?
1) Busca prévia: constitui basicamente a busca nos arquivos de Patentes existentes (nacional
ou internacional dependendo da abrangência de sua Patente), de uma inovação que seja
similar à Patente em questão. Ainda que não seja obrigatório, pode poupar custos e tempo.
2) Depósito do pedido de Patente: para depositar, deve-se ter o conhecimento dos formulários
exigidos, que variam entre os diversos escritórios de Patentes.
5) Expedição da Carta-Patente: caso o pedido passe pelo exame, será solicitada a Carta-
Patente, que corresponde ao documento propriamente dito.
Como vimos, a obtenção de uma Patente requer tempo e investimento, já que diversas
etapas deverão ser cumpridas. Assim, apresente a seguir um esquema dessas etapas, bem
como o tempo e os custos envolvidos em cada uma delas.
Invenções Patenteáveis: vetor de expressão que carreia o gene que codifica a insulina
humana isolada ou purificada de células beta de pâncreas humano; insulina humana re-
combinante obtida pelo dito processo; uso do extrato isolado da planta Y na preparação
de um medicamento para o tratamento da doença Z; construções gênicas; processos de
isolamento ou purificação de produtos; processos relacionados à transformação de plantas.
Invenções Não Patenteáveis: insulina humana isolada ou purificada de células beta de pân-
creas humano; gene que codifica insulina humana isolada ou purificada de células beta de
pâncreas humano; microrganismo isolado ou purificado artificialmente da natureza e que
produz um antibiótico X; antibiótico X produzido pelo dito microrganismo; extrato isolado
da planta Y; sementes e células de plantas e animais.
Vacinas 257
Alimentos 167
Realizamos uma busca na base de dados do Derwent Innovavations Index, a qual con-
tém as Patentes depositadas em todo o mundo, em 01/12/2010, e verificamos que, quando
empregamos a palavra-chave BIOTECNOLOGIA, foram encontradas 6.398 Patentes. Com as
palavras-chave BIOTECNOLOGIA ANIMAL BIOTECNOLOGIA VEGETAL e BIOTECNOLGOIA DE
MICRORGANISMOS, foram 447, 559 e 324 Patentes, respectivamente. O restante estava re-
lacionado a outras áreas, como Medicina, Farmácia, Nutrição.
Os contras
Os argumentos contrários às Patentes em Biotecnologias vão desde motivos religiosos
ou éticos (contra a possibilidade de se apropriar de produtos da natureza, por princípio) até a
preocupação com a parcela de conhecimento público fortemente presente numa área tecno-
lógica próxima à ciência básica.
Argumenta-se que não se deve conceder o uso exclusivo sobre algo que depende de
processos essencialmente biológicos e naturais. Na Biotecnologia, existiria um componente
público da geração do conhecimento tecnológico, que torna difícil e complexa a separação
nítida entre aquilo que pode/deve ser apropriável privadamente, e aquilo que deve ser mantido
como conhecimento comum, de modo que não impeça futuros desenvolvimentos numa área
tecnológica cumulativa - i.e., em que as invenções proveem não apenas novos ou melhores
produtos ou processos, mas também lançam os alicerces para futuras inovações.
Se muito ampla, a Patente em Biotecnologia poderia resultar no domínio excessivo de
seu titular sobre toda uma área de oportunidades, excluindo concorrentes futuros, impedindo
a difusão e retardando o progresso tecnológico.
Outras questões envolvem temas relacionados ao patenteamento de seres vivos ou suas
partes; perversão do sistema através do uso abusivo das Patentes; favorecimento da atividade
inventiva em detrimento da descoberta; os genes não são produzidos pelo homem; problemas
éticos relacionados à coisificação; apropriação e mercantilização da vida; problemas jurídicos,
como qualquer direito de propriedade; a propriedade intelectual deve obedecer à sua função social
(difusão de conhecimentos); suficiência descritiva; altos custos dos processos biotecnológicos;
requisito da novidade; Patentes de amplo espectro; dignidade e bem estar do indivíduo; deso-
bediência das normas para o acesso e uso de recursos da biodiversidade e dos conhecimentos
tradicionais associados – biopirataria; polarização entre países detentores de Patentes e os não
detentores.
Aula 10 Biotecnologia 293
Leituras complementares
Bioética
Patentes
Resumo
DIAFÉRIA, A. Patente de genes humanos e a tutela dos interesses difusos: o direito ao pro-
gresso econômico, científico e tecnológico. Rio de Janeiro: Lumen Juris Editora, 2007. 253 p.
FORTES, P. A. C.; ZOBOLI, E. L. C. P. Bioética e saúde pública. São Paulo: Editora Loyola,
2003. 167 p.