Cultura, Identidade e o Zeitgeist Digital
Cultura, Identidade e o Zeitgeist Digital
Cultura, Identidade e o Zeitgeist Digital
Juliana Baptista2
Cláudio Bertolli Filho3
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Bauru, SP
Resumo
Este artigo tem o objetivo de levantar discussão sobre as relações dos conceitos de
Cultura e Identidade com o Zeitgeist Digital, ou seja, como a identidade das pessoas e a
cultura em geral estão se modificando com a potencialização do uso da internet. Dessa
forma, a Web 2.0 consegue influenciar o modo de pensar dos usuários e na própria
produção cultural, alterando a comunicação, comportamento e relacionamento
interpessoal. O século XXI pode ser considerado como a era digital e as ferramentas da
internet, como blogs e redes sociais, e as novas tecnologias da telefonia celular estão
modificando a própria cultura. Será abordado como possibilidade de o internauta criar
ou interagir com todos os tipos de conteúdo disponíveis na rede (texto, áudio e vídeo)
transformam a maneira das pessoas se relacionarem e absorverem conhecimento.
INTRODUÇÃO
1
Trabalho apresentado no IJ 8 – Estudos Multidisciplinares da Comunicação do XVII Congresso de Ciências da
Comunicação na Região Sudeste realizado de 28 a 30 de junho de 2012.
2
Graduanda do Curso de Jornalismo da UNESP Bauru, email: juliana.baptista123@gmail.com.
3
Orientador do trabalho. Professor do Curso de Jornalismo da ECA-USP, email: cbertolli@faac.unesp.br
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
XVII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste – Ouro Preto - MG – 28 a 30/06/2012
A identidade cultural está atrelada à questão que envolve a identidade social, que
explica que ao mesmo tempo em que podemos identificar um grupo (separando os
indivíduos semelhantes sob um ponto de vista), estamos também o distinguindo dos
demais (membros que são diferentes segundo o mesmo ponto de vista). Assim, a
identidade cultural seria uma modalidade de categorização baseada na diferença
cultural.
Atualmente, com a expansão e popularização das tecnologias, pode-se dizer que
a internet criou sua própria cultura e os usuários possuem uma identidade online que
nem sempre é condizente com suas atitudes “no mundo offline”, entretanto mesmo
sendo nomeada de “identidade”, trata-se de uma performance realizada pelo indivíduo
no mundo virtual. Na web, os usuários criam alter egos que são uma “lente de aumento”
do que elas realmente são pessoalmente. Grande parte dos cidadãos online são críticos,
participativos e sempre tem alguma opinião sobre qualquer assunto. Isto nem sempre é
condizente com suas atitudes na sociedade, então se pode afirmar que na internet possui
uma identidade cultural à parte do “mundo real”.
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inúmeras opções que são apresentadas aos indivíduos, em detrimento aos ideais
coletivos. Ocorre, então, um retorno ao próprio eu e um desinvestimento nas relações
com os outros e com o mundo da experiência. O mercado, a indústria cultural e a
publicidade criam diversas necessidades e desejos a serem alcançados e consumidos:
beleza, juventude, excelente desempenho sexual, segurança, sucesso profissional e
financeiro, entre outros que se tornam fetiches destinados a apaziguar o narcisismo
danificado. E as redes sociais aparecem para suprir essa necessidade de narcisismo, já
que o indivíduo fica exposto por vontade própria, abrindo mão de sua privacidade, para
se auto afirmar dentro de seu círculo social.
Tanto no Facebook ou Twitter, por exemplo, podem-se observar os usuários,
principalmente os jovens, publicando informações pessoais de forma impulsiva. Muitos
deles demonstram uma necessidade de afirmar que seus gostos são mais refinados, suas
ideias mais inteligentes, uma busca incessante para mostrar aos seus amigos uma
imagem de “vida perfeita”. E este comportamento, muitas vezes não é reproduzido no
mundo offline, se restringe apenas a sua performance social no ciberespaço.
Flávia Pithan cita Maffessoli para explicar as relações entre o ciberespaço e as
ações dos indivíduos:
O tempo do ciberespaço não é linear e progressivo (conforme a
noção ocidental de historicidade) e sim de conexões pontuais,
em uma espécie de aqui-e-agora, um tempo sempre presente,
correspondente ao presenteísmo social contemporâneo, descrito
por Maffesoli (1995), que se confunde com o próprio espaço
virtual onde tudo é possível. Na web, enquanto computadores
trocam dados pela internet e o corpo permanece imóvel na
cadeira, acredita-se visitar lugares e conversar com pessoas
(Vaz, 2004). São ações realizadas de forma completamente
diferente do passado histórico. O que mudou foi a natureza
formal das ações, que antes implicavam a presença física do
corpo. Neste caso, estas são substituídas pela mente, a simples
projeção mental do indivíduo (que pode inclusive experimentar
fantasias com a vantagem de não sofrer com as conseqüências
corporais desta experimentação). A rede ainda promove o
anonimato, permitindo a interação livre de marcadores
identitários de aparência, raça e gênero. (PITHAN, 2007)
Portanto, não seria uma pretensão afirmar que estamos vivendo num Zeitgeist
Digital, já que a forma como a sociedade entende o mundo está sendo influenciada
digitalmente em nossa época. O especialista em novas mídias, Ronaldo Clay em sua
coluna no site Webinsider, defende que a Cibercultura implica em um momento único
na história, que só é possível graças às mídias sociais. Cada cidadão está gradualmente
migrando para as mídias online e lá, ele não é apenas um consumidor passivo, mas sim
um produtor de conteúdo que também é crítico e agregador de informação. Clay
também fala sobre os termos “Tropicália Digital” e “Autofagia Coletiva” já que não se
pode discordar que somos usuários nômades em busca de conteúdos inteligentes.
Nos últimos anos presenciou-se o fenômeno da inclusão digital no Brasil crescer
gradativamente, assim englobando um maior número de indivíduos na sociedade digital.
Pode-se afirmar que a internet é o novo canal de disseminação da cultura de massa ao
mesmo tempo em que também reforça a cultura de nicho. Teóricos da Escola de
Frankfurt definiam a cultura de massa como toda cultura produzida para as massas —
que engloba heterogeneidades sociais, étnicas, etárias, sexuais ou psicológicas — e
veiculada pelos meios de comunicação de massa. Como consequência das tecnologias
de comunicação aparecidas no século XX e dos acontecimentos geopolíticos na mesma
época, a cultura de massa desenvolveu-se a ponto de ofuscar os outros tipos de cultura
anteriores e alternativos a ela.
[...] sob o poder do monopólio, toda cultura de massas é
idêntica, e seu esqueleto, a ossatura conceitual fabricada por
aquele, começa a se delinear. Os dirigentes não estão mais
sequer muito interessados em encobri-lo, seu poder se fortalece
quanto mais brutalmente ele se confessa de público. O cinema e
o rádio não precisam mais se presentar como arte. A verdade de
que não passam de um negócio, eles a utilizam como uma
ideologia destinada a legitimar o lixo que propositadamente
produzem. Eles se definem a si mesmos como indústrias, e as
cifras publicadas dos rendimentos de seus diretores gerais
suprimem toda dúvida quanto à necessidade social de seus
produtos. (HORKHEIMER,1985,114)
As interações nas redes sociais geram uma “moeda de troca” virtual, o capital
social. Ele é um conjunto de recursos de um determinado grupo que pode ser usufruído
por todos os membros deste, ainda que individualmente, e que está baseado na
reciprocidade. O capital está embutido nas relações sociais e é determinado pelo
conteúdo delas. Raquel também discute sobre o capital social dentro das redes sociais
Primeiramente, se considerarmos que as redes que estamos
analisando são redes sociais, portanto, constituídas de atores
sociais, com interesses, percepções, sentimentos e perspectivas,
percebemos que há uma conexão entre aquilo que alguém
decide publicar na Internet e a visão de como seus amigos ou
sua audiência na rede perceberá tal informação. A partir dessa
premissa, acreditamos que é preciso discutir as informações que
são difundidas na rede a partir do capital social construído pelos
atores envolvidos. (RECUERO, 117, 2009)
A Cultura Digital
A cultura digital pode ser considerada um fenômeno histórico que surgiu como
resposta às exigências do capitalismo moderno e se aprimorou graças às exigências dos
conflitos do século XX. A II Guerra Mundial foi o evento que fez emergir o modelo
binário da computação e na Guerra Fria foi consolidado o modelo das buscas pelas
inovações tecnológicas. O discurso sobre o digital foi-se apoiando na ideia de que,
sendo uma cultura, representa uma ruptura com aquilo que a precedeu e também que
cultura digital é determinada pela existência da tecnologia digital.
A cultura digital ganha cada vez mais força e expande sua influência. E tal
“cultura da internet” possui uma linguagem e formas próprias de se comunicar. Os
usuários das redes sociais, por exemplo, possuem uma linguagem característica que
dificilmente é compreendida por pessoas que não freqüentam as redes.
Têm-se vários exemplos dentro da cultura “wébica” que se consolidaram e
ganham força entre os usuários, entre eles, os memes. Memes, segundo o livro O Gene
Egoísta (1976) de Richard Dawkins, é uma unidade de evolução cultural que se propaga
de indivíduo para indivíduo. Não é conhecido como tal conceito vindo da biologia foi
adaptado para a web, mas atualmente ele é um termo usado para denominar todas as
coisas que são utilizadas repetidamente na internet. Um meme pode ser uma imagem,
uma gíria, um bordão, um vídeo, traços comportamentais ou até mesmo caracteres.
Diferentemente do que muitos pensam, meme não é um viral e a diferença é bem sutil.
Como o próprio nome sugere, viral é qualquer coisa que se espalha rapidamente, como
um vírus. Já o meme é algo que, além de se espalhar, ganha versões e pode ter o seu
significado alterado. O sucesso dos memes da internet se tornou tão expressivo que até
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Considerações Finais
Referências bibliográficas