Evaldo Soares de Souza
Evaldo Soares de Souza
Evaldo Soares de Souza
ANDREW JUMPER
São Paulo
2022
CENTRO PRESBITERIANO DE PÓS-GRADUAÇÃO
ANDREW JUMPER
São Paulo
2022
Elaborado pelo Sistema de Geração Automática de Ficha Catalográfica da Mackenzie
com os dados fornecidos pelo(a) autor(a)
S719p Souza, Evaldo Soares.
Da promessa do novo céu e nova terra : [recurso eletrônico] o
aspecto físico da habitação eterna do homem à luz da criação, queda,
redenção e consumação / Evaldo Soares Souza.
125 KB ;
INTRODUÇÃO------------------------------------------------------------------------------- 9
CONCLUSÃO --------------------------------------------------------------------------------------- 56
BIBLIOGRAFIA ------------------------------------------------------------------------------------------------- 58
INTRODUÇÃO
Veremos que a Escritura não nos fornece os mínimos detalhes da vida futura
no novo céu e na nova terra, mas oferecem um vislumbre glorioso de algo que agora
1
CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER. São Paulo: Cultura Cristã. 2001. p. 21.
só podemos visualizar imperfeita e parcialmente. Ao fim da nossa pesquisa,
esperamos ter demonstrado que a Escritura promete uma vida futura muito rica e
plena de realizações no cumprindo o mandato cultural durante toda a eternidade, ao
invés da frequente imagem de uma vida etérea e quase ociosa em algum lugar
puramente espiritual.
1 DIFERENTES POSIÇÕES SOBRE A MORADA ETERNA DOS SALVOS
No meio cristão a crença geralmente aceita é que após o juízo o fiel viverá em
um céu etéreo em algum lugar do espaço juntamente com os anjos e Deus. Como
afirma Cornelis Venema,
2
VENEMA, Cornelis P. A Promessa do Futuro. São Paulo: Cultura Cristã. 2017, p. 385.
3
BERKOUWER, G. C.. The Return of Christ: Studies in Dogmatics. Grand Rapids: Eerdmans, 1972, p. 226.
4
BAVINCK, Herman. Dogmática Reformada. Vol. 4: Espírito Santo, igreja e nova criação. São Paulo:
Cultura Cristã, 2012, p. 727. Cf. tb.: POHL, Adolf. Apocalipse de João.Curitiba: Editora Evangélica
Esperança, 2001, p. 444.
5
Trataremos dessas passagens mais a frente em nossa pesquisa.
6
HOEKEMA, Anthony. A Bíblia e o Futuro. A Doutrina Bíblica das Últimas Coisas. São Paulo: Cultura Cristã,
2001, p. 325-326.
Entre os teólogos protestantes, em especial alguns dispensacionalistas
clássicos ou progressistas, 7 as mesmas promessas de Deus concernentes a uma
terra paradisíaca são interpretadas como se cumprindo literalmente apenas no
milênio após a volta de Cristo para estabelecer o seu reino sobre toda a terra a partir
de Jerusalém. Comentando Apocalipse 5.10, John MacArthur Jr. diz que: “Durante o
reino milenar, os crentes reinarão sobre a terra com Cristo” 8. Craing Blaising explica
que alguns dispensacionalistas como Walvoord e Ryrie, usam a terminologia “nova
terra”, mas, na verdade, estão trabalhando com uma concepção platônica de “céu”
que tem relação mais próxima com o “céu” dos dispensacionalistas clássicos. “Eles
alegam que as promessas sobre um reino terreno para sempre não significa
realmente para sempre.” 9 Para eles, “o milênio culmina os propósitos de Deus no
domínio material”, 10 pois, segundo eles, o único tempo possível para o cumprimento
literal das profecias do Antigo Testamento é o milênio 11. Desta forma, depois do
milênio, tudo que resta é aquilo que é espiritual. Essa ideia pode ser vista nas
palavras de John MacArthurJr.:
7
O dispensacionalismo progressivo ou modificado acredita em três dispensações. A última delas (a
Siônica) é dividida em duas partes: o reino milenar e o reino eterno. O aspecto eterno é o ápice do reino
escatológico em "uma terra renovada". Cf.: RYRIE, Charles. C. Dispensationalism. Chicago: Moody
Publishers, 1995, p. 196. cf. tb.: FERREIRA, Franklin; MYATT, Alan. Teologia Sistemática: uma análise
histórica, bíblica e apologética para o contexto atual. São Paulo: Vida Nova, 2007, pp. 1110-11.
8
MACARTHUR, John. Revelation 1-11. Chicago: Moody Press, 1999, p. 172.
9
BLAISING, Craig A.; BOCK, Darrell L. Progressive Dispensationalism. Grand Rapids: Baker Books, 1993,
p. 31.
10
ROBERTSON, O. Palmer. O Cristo dos Pactos. São Paulo: Cultura Cristã, 2002, p. 210.
11
HOEKEMA, 2001 p. 325.
12
MACARTHUR, John. Criação ou Evolução. A luta pela verdade sobre as origens do Universo . São Paulo:
Cultura Cristã, 2004,.p.137-38.
redenção é apresentado. Durante o milênio os redimidos reinarão com Cristo e a
terra será restaurada como um paraíso, tendo sido retirados e revertidos os
elementos da maldição voltando ao estado anterior à queda havendo paz até mesmo
no reino anima13. Depois disso, esse teatro (a criação física) perde seu propósito e é
aniquilado.
De fato eles creem que “o propósito de Deus é que a terra seja a habitação do
homem, em perfeição, felicidade e vida eterna” 15. Que o “propósito original de Deus
para toda a terra ser um paraíso povoado pelos que com apreço obedecem às suas
leis não deixará de se cumprir” 16, mas, quanto aos detalhes, sua crença tem certas
peculiaridades. Podemos destacar cinco características peculiares do ensino das
Testemunhas de Jeová.
13
Ibid, p. 153-54.
14
Em 1931 os “Estudantes da Bíblia” adotaram o nome de “Testemunhas de Jeová” em referência ao texto
de Isaías 43.10-12.
15
ESTUDO Perspicaz das Escrituras. Cesário Lange: Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados,
1992, volume 3, p. 697.
16
RACIOCÍNIOS à Base das Escrituras. Cesário Lange Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados,
1989, p. 273.
nenhum motivo para Deus destruir os céus físicos” 17. Eles creem que a afirmação
“passar ‘o céu anterior’ indica o fim dos governos políticos, junto com Satanás e seus
demônios 18.” Nada disso deve ser entendido em sentido literal. Por crerem dessa
forma, eles interpretam os textos que falam de Deus ‘criando’ um novo céu e uma
nova terra como se referindo não à criação inanimada e física (céu e terra), mas
como um simbolismo significando “um novo governo sobre a terra” (céu) e “um novo
grupo ou sociedade de pessoas” ou súditos (terra).19
O apóstolo Pedro compara os céus e a terra literais (2Pe 3:5) com os céus e
terra simbólicos (2Pe 3.7). “Os céus”, no versículo 7, não significam a
morada do próprio Jeová, o lugar do Seu trono nos céus. Os céus de Jeová
não podem ser abalados. Nem “a terra”, no mesmo versículo, é o planeta
terra literal, pois Jeová diz que estabeleceu firmemente a terra. (Sal 78:69;
119:90) Todavia, Deus diz que abalará tanto os céus como a terra (Ag 2:21;
He 12:26), que os céus e a terra fugirão de diante dele e que se
estabelecerão novos céus e uma nova terra. (2Pe 3:13; Re 20:11; 21:1) É
evidente que o termo “céus” é simbólico e que “terra”, nesse caso, refere-se
simbolicamente a uma sociedade de pessoas que vivem na terra, assim
como no Salmo 96:1.20
Assim como a “terra” pode referir-se a uma sociedade de pessoas (Sal
96:1); assim também “céus” pode simbolizar o superior poder dominante ou
governo sobre essa “terra”. A profecia que apresenta a promessa de “novos
céus e uma nova terra”, dada por meio de Isaías, tratava inicialmente da
restauração de Israel do exílio babilônico. Quando os israelitas retornaram à
sua pátria, eles entraram num novo sistema de coisas. Ciro, o Grande, foi
destacadamente usado por Deus para realizar esta restauração. De volta
em Jerusalém, Zorobabel (descendente de Davi) serviu como governador, e
Josué, como sumo sacerdote. Em harmonia como o propósito de Jeová,
este novo arranjo governamental, ou “novos céus”, dirigia ou supervisionava
o povo sujeito. (2Cr 36:23; Ag1:1,14).21
17
ESTUDO Perspicaz das Escrituras. Cesário Lange: Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados,
1990, volume 1, p. 490.
18
Ibid, p. 490.
19
PODERÁ Viver para Sempre no Paraíso na Terra. Cesário Lange: Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e
Tratados, 1986. p. 160.
20
ESTUDO Perspicaz das Escrituras. Vol. 3, p. 698.
21
ESTUDO Perspicaz das Escrituras. Vol. 1, p. 498.
Milênio], os que sobreviverem ao Armagedom trabalharão para fazer da
terra um paraíso.22
Portanto, o “novo céu” deve corresponder a Cristo junto com sua “noiva”, a
“Nova Jerusalém”, e a “nova terra” é vista nos ‘povos da humanidade’, que
são seus súditos e que recebem as bênçãos do seu governo, conforme
descrito nos versículos 3 e 4 [de Re 21].24
1 . 3. A MO R AD A ET ER NA É O N OV O C ÉU E A N O VA T E RR A
RE ST A U RA DA
22
PODERÁ Viver para Sempre no Paraíso na Terra. Cesário Lange: Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e
Tratados, 1986. P. 159, 177.
23
RACIOCÍNIOS à Base das Escrituras. p. 82-83, 256-60.
24
ESTUDO Perspicaz das Escrituras. Vol. 1, p. 489.
25
PODERÁ Viver para Sempre no Paraíso na Terra. p. 142-47.
radicalmente diferenciada da vida atual. Hoje sofremos, envelhecemos e morremos
sobre a terra; mas na eternidade seremos bem-aventurados, incorruptíveis e
viveremos eternamente nos céus. Portanto, de acordo com essa visão popular, a
criação material e a espiritual não são apenas contrastante, mas opostas. 26
a Bíblia nos assegura que Deus criará uma nova terra na qual viveremos
para seu louvor em corpos ressurretos e glorificados. Nessa nova terra,
portanto, é que esperamos passar a eternidade, desfrutando de suas
belezas, explorando seus recursos e utilizando seus tesouros para a glória
de Deus. Uma vez que Deus fará da nova terra seu lugar de habitação, e
uma vez que o céu é onde deus habita, estaremos então continuamente no
céu enquanto estivermos na nova terra. Pois os céus e a terra não mais
serão separados como o são agora, mas serão um.28
26
BERKOUWER, 1972, p. 219.
27
HODGE, Charles. Teologia Sistemática. São Paulo: Hagnos, 2001, p. 428.
28
HOEKEMA, 2001, p. 323.
29
Ibid, p. 324.
30
BAVINCK,.2012., p. 727-728.
John Piper, semelhante MacArthur , também entende que Deus criou o
universo como o teatro para revelar sua glória. Contudo, Piper vislumbra um destino
muito mais otimista e glorioso para o teatro de Deus:
Além disso, devemos notar que o foco da narrativa da criação está na criação
material inanimada e animada (o universo composto por céu e terra). No centro
dessa criação Deus colocou sua obra prima que também foi formada, não do nada,
mas a partir do pó da terra, dos átomos e elementos presentes no solo, para
governar toda a natureza. Hansjörg Bräumer comenta a excepcionalidade da criação
do homem:
31
PIPER, John; MATHIS, David (Orgs.). Com Calvino no Teatro de Deus: A glória de Cristo e a vida diária.
São Paulo: Cultura Cristã, 2011, p. 113.
32
WALTKE, Bruce K. Comentário do Antigo Testamento: Gênesis. São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p. 78.
“O ser humano é gerado a partir de Deus como a última
criatura, a nova, à imagem e semelhança de Deus. Assim, desde
as primeiras palavras sobre a criação do ser humano fica claro
que ele não pode ser classificado em nenhuma das espécies
animais. O ser humano não é uma versão nova de um ser vivo,
mas algo completamente novo.” 33
Desta forma, o homem foi colocado em uma relação com Deus e com a
criação. A ligação do homem com o planeta terra está explicita no próprio nome
hebraico que Deus dá ao ser que ele criou, ’adam ( אֲ ָדמhomem) 34, cognato hebraico
de ’adamah (solo vermelho arável, terra, )אֲ ָדמהque é de onde o homem foi tomado
(cf. o texto hebraico de Gn 3.23). Portanto, até mesmo a natureza do homem é
revelada em conexão com a terra.
33
BRÄUMER, Hansjörg. Gênesis: Comentário Esperança Antigo Testamento. Vol 1. Curitiba: Esperança,
2016, p. 47.
34
Palavra genérica hebraica para se referir ao homem (natureza) sem distinção de sexo como em Gn 5.2
(hebraico). Já os termos hebraicos’iysh (איש, varão, macho, homem) e’ishshah (אשה, varoa, fêmea, mulher)
chamam a tenção para a distinção de sexo como em Gn 2.23,24, onde ocorre um jogo de palavras. Além
desses há outros termos como’enosh (homem, enfatizando sua fraqueza);geber (homem, enfatizando o
poder e nobreza). Cf.: COPPES, Leonard J . In HARRIS, R. L.; ARCHER, G. L. Jr.; WALTKE, Bruce K..
Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1998, p. 13, 63, 99.
35
POHL, Adolf. Apocalipse de João.Curitiba: Editora Evangélica Esperança, 2001, p.444.
36
COPPES, Leonard J. 1998, p. 14-15. .
forma prazerosa (Gn 3.5-7), agora é expulso do jardim para lavrar, em fadiga, a terra
como consequência da desobediência e maldição (Gn 3.23). Essa relação de
desobediência e maldição também pode ser vista em Caim que derramou o sangue
do seu irmão sobre a ’adama. Por causa do seu fratricídio Deus o puniu e os termos
dessa punição são: “Quando lavrares o solo [’adama], não te dará ele a sua força;
serás fugitivo e errante pela terra [’erets, terra seca].” (Gn 4.11-15) Como punição
Caim foi lançado fora da terra [’adama] para ser errante pela terra [’erets] (Gn4.17).
Desta forma, podemos ver como maldição ou benção para o homem sempre
envolvem a terra. Na lei a posse da terra está ligada a obediência, enquanto ser
lançado fora dela está ligado desobediência, podemos ver isso no caso dos
cananeus (Lv 20.23,24;cf.tb.: Dt 30.20; 1Rs 8.34; 13.34; 14.15; 2Rs 21.8). 37 Nesse
sentido, o Salmo 37 é muito claro ao mostrar essa relação quando afirma
repetidamente que os ímpios são arrancados da terra como uma erva daninha,
enquanto que a recompensa do justo é permanecer sobre ela e possuí-la
eternamente:
37
COPPES, Leonard J., 1998, p.15
9
Porque os malfeitores serão exterminados,
mas os que esperam no Senhor possuirão a terra.
10
Mais um pouco de tempo, e já não existirá
o ímpio; procurarás o seu lugar e não o
acharás.
11
Mas os mansos herdarão a terra
e se deleitarão na abundância de paz.
22
Aqueles a quem o Senhor abençoa
possuirão a terra; e serão exterminados
aqueles a quem amaldiçoa.
27
Aparta-te do mal e faze
o bem, e será perpétua a
tua morada.
29
Os justos herdarão a terra
e nela habitarão para sempre.
34
Espera no Senhor, segue o seu
caminho, e ele te exaltará para
possuíres a terra;
presenciarás isso quando os ímpios forem exterminados.
Devemos observar que Jesus estava citando o Salmo 37.11 quando disse:
“Bem- aventurados os mansos, porque herdarão a terra.” (Mt 5.5) E Isaías 60.17
segue o mesmo teor do verso 29: “Todos os do teu povo serão justos, para sempre
herdarão a terra”. Assim, a ideia de eternidade que está presente nesses textos
aponta além da mera benção temporal de viver bem sobre essa terra em
decorrência de viver de forma justa nesse mundo. A promessa se estende para a
eternidade. Isso se torna ainda mais significativo quando o próprio Jesus repetiu a
promessa do Salmo 37.11, pois geralmente julgamos apressadamente que o Novo
Testamento espiritualizou completamente todas as promessas de Deus. 38 Além
disso, o Apocalipse aponta nesse sentido quando louva a Cristo dizendo: “com o teu
sangue compraste para Deus os que procedem de toda tribo, língua, povo e nação e
para o nosso Deus os constituíste reino e sacerdotes;e reinarão sobre a terra.” (Ap
5.9,10)
38
BAVINCK, 2012, p. 727.
No entendimento bíblico, o ser humano de hoje não pode ser compreendido
desvinculado da terra e das condições terrenas. Adão significa “terrestre”.
“Terra” em hebraico é adamá. O destino de ambos está intimamente
interligado. Por isso, o Ap[ocalipse] também mostra as catástrofes da terra
sempre em relação ao pecado humano, e os golpes de aniquilamento de
Deus contra o cosmos como juízos contra os humanos. Do mesmo modo,
porém, a paz entre Deus e o ser humano liberará o milagre de uma nova
terra restaurada, que não precisa mais fugir da face de Deus (Ap 20.11).39
[...] a Bíblia nos assegura que Deus criará uma nova terra na qual
viveremos para seu louvor em corpos ressurretos e glorificados. Nessa nova
terra, portanto, é que esperamos passar a eternidade, desfrutando de suas
belezas, explorando seus recursos e utilizando seus tesouros para a glória
de Deus41
[...] assim como o povo de Deus, na era do Antigo Testamento, era em sua
maioria restrito aos israelitas, mas na era neotestamentária é arrebanhado
dentre todas as nações, assim também na época do Antigo Testamento a
herança da terra era limitada a Canaã, enquanto que na época do Novo
Testamento a herança é expandida para incluir toda aterra. [...] Quando, à
luz desta expansão neotestamentária do pensamento do Antigo
Testamento, relemos Gênesis 17.8, vemos nessa passagem, agora, uma
promessa da possessão eterna última por todo o povo de Deus – todos
39
POHL, Adolf, 2001, p. 444.
40
COPPES, Leonard J., 1998, p. 15.
41
HOEKEMA, Anthony, 2001, p. 323.
42
Ibid, p. 328ss.
43
Ibid, p. 329.
44
Ibid, p. 327.
aqueles que, no sentido mais amplo do termo, são descendência de Abraão
– daquela nova terra de que Canaã terrena era apenas um tipo. Dessa
forma a promessa da herança da terra tem sentido para todos os crentes de
hoje. Limitar esse alcance futuro desta promessa a Abraão, como o fazem
os dispensacionalistas, à possessão da terra da Palestina pelos judeus
crentes durante o milênio é diminuir em muito o sentido dessa promessa.45
45
Ibid, p. 327-279.
46
ROBERTSON, O. Palmer. Terra de Deus: O Significado das Terras Bíblicas para os Planos e Propósitos
de Deus. São Paulo: Cultura Cristã, 1998, p. 16.
47
Ibid, p. 17.
48
ROBERTSON, O. Palmer. O Israel de Deus: passado, presente e futuro: São Paulo: Vida, 2005, p.30.
49
ROBERTSON, O. Palmer, 1998, p. 17.
50
Ibid, 19 e 21.
Nesse ponto é importante destacar, como faz Robertson, que o Novo
Testamento interpreta a “promessa de Deus a Abraão em termos cósmicos. O
Patriarca seria herdeiro do cosmos (Rm 4.13). Ganharia o universo criado. [...]
possuiria uma terra inteira remoldada, reformada, onde a justiça prevaleceria” 51 e
não apenas aquele pequeno pedaço de terra na Palestina que jamais correspondeu
aos anseios e expectativas do povo de Deus. “Por essa linguagem abrangente, a
imagem da terra como um retrato do paraíso restaurado finalmente amadureceu.
Não mais somente uma porção da terra, mas o cosmo inteiro que participava da
consumação da obra redentora de Deus em nosso mundo decaído.” 52 Hoekema
também observa que Paulo interpreta a promessa a Abraão e seus descendentes
“dizendo que eles deveriam herdar o mundo – observe que a terra de Canaã,de
Gênesis,tornou-s e o mundo em Romanos” 53 (Rm4.13). A Bíblia indic a que
Abraão pressentia isso, por isso o escritor de Hebreus afirma que ele “aguardava a
cidade que tem fundamentos, da qual Deus é o arquiteto e edificador” (Hb 11.10).
Ele e outros esperavam “uma pátria superior, isto é, celestial” (Hb 11.16) e não a
mera terra de Canaã. 54 Portanto, devemos concluir que parte integrante da herança
consiste na “perfeição suprema”, tanto da nova humanidade quanto do seu meio-
ambiente, o céu e a terra, um “universo eternamente restaurado”. 55
51
Ibid, p. 156.
52
ROBERTSON, O. Palmer. 2005, p.35
53
HOEKEMA, 2001, p.332
54
ROBERTSON, O. Palmer. 1998. p. 156-57.
55
HUGHES, Archibald. Um Novo Céu e uma Nova Terra: Um estudo introdutório ao segundo advento do
Senhor Jesus Cristo. São Paulo: PES, 2009, p.181.
56
HODGE, Archibald A.. Outlines of Theology. p. 578. (minha tradução)
afirma que: “Embora a esperança do Antigo Testamento possa ser caracterizada
como uma esperança escatológica, também continua a ser uma esperança terrena.
A ideia bíblica de redenção sempre inclui a terra.” 57 Da mesma forma Hoekema
afirma que a “esperança escatológica do Antigo Testamento sempre inclui a terra”. 58
O texto bíblico que mais revela essa ligação entre a redenção humana e a redenção
da criação é Romanos 8.18-23:59
18
Porque para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente
não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós. 19 A ardente
expectativa da criação aguarda a revelação dos filhos de Deus.20Pois a
criação está sujeita à vaidade, não voluntariamente, mas por causa daquele
que a sujeitou,21na esperança de quea própria criação será redimida do
cativeiro dacorrupção, para a liberdade da glória dos filhos de
Deus.22Porque sabemos quetoda a criação, a um só tempo, geme e suporta
angústias até agora.23Enãosomente ela, mas também nós, que temos as
primícias do Espírito, igualmente gememos em nosso íntimo, aguardando a
adoção de filhos, a redenção do nosso corpo.
Primeiro podemos destacar que o verso 20 diz que a criação está sujeita a
vaidade não por sua própria vontade, mas sim por causa “daquele que a sujeitou”. O
estado atual de imperfeição da natureza não é intrínseco a ela ou à matéria, mas
causado por algo externo a ela. Alguém a sujeitou, por isso a natureza está
corrompida. Para entendermos isso devemos atentar para o relato da criação em Gn
1.28: “Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a;dominai sobre os
peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo animal que rasteja pela terra.” À
humanidade foi sujeita toda a terra, por isso, quando Adão pecou, a criação caiu
juntamente com ele. A linguagem é mais que esclarecedora, pois aponta para o fato
de que “Adão foi criado como vice-regente de toda a criação e cabeça de todo o
cosmos abaixo de Deus, quando ele caiu, toda a criação caiu com ele em servidão,
frustração e entropia”.60 Desta forma, a queda do homem resultou na queda de toda
a criação, que agora sofre debaixo da maldição 61. Calvino também entendia que
“todas as criaturas inocentes da terra e do céu são punidas por nossos pecados. A
culpa é nossa se lutam em sujeição à corrupção. A condenação da ração humana é
por isso impressa nos céus e na terra e em todas as criaturas”. 62 Sproul vai na
mesma linha de pensamendo quando afirma,
57
LADD, George. The Presence of the Future.Grand Rapids: Wm. B. Eerdmans Publishing Co., 1974, p.
59, 60. (tradução livre)
58
HOEKEMA, 2001, p. 20.
59
FERGUSON, Sinclair. O Espírito Santo. São Paulo: Os Puritanos, 2000, p. 347-349.
60
Ibid, p. 348.
61
Cf: HENDRIKSEN, William. A Vida Futura Segundo a Bíblia. 2ª ed.. São Paulo: Cultura Cristã, 2004,
p.258.
62
CALVINO, João. Romanos. 2ª ed.. São Paulo: Edições Parakletos, 2001, p. 293.
A criação toda geme enquanto espera pela total redenção do homem.
Quando o homem pecou, as repercussões do pecado foram sentidas
através de toda extensão do domínio do homem. Por causa do
pecado d e Adão,não somente nós sofremos, mas leões, elefantes,
borboletas e cachorrinhos também sofrem. Eles não pediram tal sofrimento.
Eles foram feridos pela queda de seu líder. 63
Nossa conclusão é que no “pensamento de Paulo está claro que a própria criação deve
ser resgatada para que o homem redimido possa ter um ambiente adequado. Desta
forma podemos perceber como está claro que, desde a criação, o homem está
63
SPROUL. R. C. Eleitos de Deus: o retrato de um Deus amoroso que providencia salvação para seres
humanos caídos. 2ª ed.. São Paulo: Cultura Cristã, 2002, p.67.
64
HUGHES, 2009, p.181.
65
HENRY, Matthew. Comentário Bíblico Novo Testamento: Atos a Apocalipse. Edição Completa. São Paulo:
CPAD, 2008, p. 355.
66
CALVINO, 2001, p. 293-94.
67
LADD, George, 1974, p. 59,60. (Tradução livre)
intrinsecamente ligado à terra. A condenação do homem resulta em maldição sobre a
terra e a salvação do homem resulta na libertação dela (cf.: Gn 3.17-19; Rm 8.18-25).
7
Ora,os céus que agora existem e a terra, pela mesma palavra, têm sido
entesourados para fogo, estando reservados parao Dia do Juízo e
destruição doshomens ímpios.
8
Há, todavia, uma coisa, amados, que não deveis esquecer: que, para o
Senhor, um dia é como mil anos, e mil anos, como um dia. 9Não retarda o
Senhora suapromessa, como alguns a julgam demorada; pelo contrário, ele
é longânimo para convosco,não querendo que nenhum pereça, senão que
todos cheguem aoarrependimento. 10Virá, entretanto, como ladrão,o Dia do
Senhor, no qualoscéus passarãocom estrepitoso estrondo, e os elementos
se desfarão abrasados; tambéma terra e as obras que nela existem serão
atingidas.11Visto que todas essas coisas hão de ser assim desfeitas, deveis
ser tais como os que vivem em santo procedimento e piedade, 12esperando
e apressando avinda do Dia deDeus, por causa do qualos céus,
incendiados, serão desfeitos, e os elementosabrasados se derreterão. 13
Nós, porém, segundoa sua promessa,esperamosnovos céus e nova terra,
nos quais habita justiça.
68
Cf.: ROBERTSON, O. Palmer, 1998, p. 18ss.
69
Alguns levantam a objeção de que o texto não pode se referir ao estado eterno porque fala da morte,
pecado e maldição (v. 20). Podemos responder que, se ele não pode se referir ao estado eterno por causa
da referência à morte, então também não pode se referir a qualquer outro período, pois o texto também fala
de uma alegria tal que não haverá choro e clamor (v. 19), e onde há morte, há choro. Portanto, ou o texto se
refere à eternidade sem morte e dor, ou não se refere a período algum e deve se rejeitado como texto
espúrio. Contudo, se observarmos bem, o verso 20 está ali justamente para mostrar porque não haverá
mais o choro do verso 19. O que ocorre é que o texto usa uma linguagem aproximada ou adaptada à sua
época para apontar para um tempo no qual as coisas serão muito diferentes, pois desfrutaremos da vida
perpetuamente (v. 18) e não de forma passageira por causa da morte (v. 20).
O texto e contexto indicam claramente que Pedro não está pensando em um
período de restauração do mundo antes da vinda de Cristo ou uma época áurea em
um período limitado de mil anos como ensinam os dispensacionalistas. 70 Pedro está
apontando para o retorno definitivo de Cristo e o juízo final de Deus sobre todo o
mundo – sobre o homem e, consequentemente, sobre o restante da criação. O fato é
que o juízo de Deus não é seguido de uma aniquilação do universo material para
irmos morar em um domínio puramente espiritual. Esse juízo de fogo é na verdade
um fogo purificador 71 a partir do qual emergem os “novos céus e nova terra”. Este
atual “universo será submetido a um processo glorioso de transformação, de forma
que, dos antigos céu e terra sairão os novos céus e terra”. 72
70
Hoekema se opõe diretamente a essa visão dispensacionalista. (Cf.: HOEKEMA, Anthony, 2001, p. 324-
325.)
71
HENRY, 2008, p. 355.
72
HENDRIKSEN, William, 2004, p. 257.
73
Devemos observar duas coisas nesse texto sobre as quais já falamos: primeiro que o verso 7 fala sobre
herança, fato que nos remete à promessade Deus a Abraão concernente à terra(Gn 12.1; 17.8; 24.7; Gl
3.16,22,29; 2Pe 3.13); em segundo lugar o verso 8 mostra que os ímpios serão punidos com o banimento
da terra para o lago de fogo, enquanto os justos são estabelecidos sobre ela (cf.: Sl 37).
dispensacionalistas clássicos. Assim como Pedro, João observa que a velha criação
desgastada pelo pecado e corrupção cedeu lugar a uma nova criação na qual não
há mais a maldição (Gn 3.17; 8.21; Ap 22.3). Na linguagem do apóstolo Paulo, a
criação que antes gemia e suportava angustias por causa da vaidade a que estava
submetida, agora foi redimida do cativeiro da corrupção e desfruta da liberdade
gloriosa dos filhos de Deus, da nova humanidade que Deus criou a imagem do seu
Filho.
Por meio de Cristo, Deus criará um novo céu, uma nova terra e uma nova
humanidade (nova Jerusalém, a noiva, 2Co 5.17; Gl 6.15) para reinar sobre a terra
(Ap 5.10).74 A Igreja (Jerusalém) não sobe aos céus para lá ficar na eternidade, ao
invés disso ela desce à terra.75 E não somente a Igreja, com ela o próprio Deus vêm
habitar com o homem. Assim como na ocasião da queda “Deus removeu o seu
Paraíso da terra de volta para o céu, expulsando os homens do glorioso templo do
Éden”,76 agora ele o traz de volta. Desta forma poderíamos dizer que o próprio céu
(o paraíso celestial, Lc 23.43; 2Cr 12.4) desce à terra e esta volta a ser como o
Éden.
74
Cf.: LADD, George. Apocalipse: Introdução e Comentário. São Paulo: Vida Nova, 1980.
p. 70.
75
Naturalmente alguém pode perguntar sobre o arrebatamento referido em 1Ts 4.17 e Mt 24.40-42. Em
relação a isso a resposta de Hoekema é mais do que clara. O termo traduzido “ao encontro” em 1Ts 4.17,
“é um termo técnico utilizado na época do Novo Testamento para descrever as boas-vindas públicas dadas
por uma cidade a um visitante ilustre. Normalmente as pessoas sairiam da cidade para encontrar o distinto
visitante e então voltaria com ele para dentro da cidade. Baseado na analogia transmitida por essa palavra,
tudo o que Paulo está dizendo aqui é que os crentes ressuscitados e os transformados são elevados às
nuvens para encontrar o Senhor, enquanto ele desce do céu, implicando que após este alegre encontro
eles voltarão com ele para a terra.” HOEKEMA, Anthony, 2001, p. 201.
76
HORTON. Michael. O Cristão e a Cultura: Orientação Bíblica para o Crente. 2ª ed.. São Paulo: Cultura
Cristã, 2006, p. 169.
77
Robertson destaca que o “Princípio Emanuel” é um tema unificador das alianças ou “o coração da
aliança”. Este “tema aparece explicitamente em conexão com a aliança abraâmica, mosaica, davídica e a
nova”, sua primeira ocorrência é Gn 17.7 e se repete por toda a Bíblia (Êx 6.7; 19.4,5;
Lv1 1 . 4 5 ; D t 4 . 2 0 ; 2 9 . 1 3 ; 2 R s 1 1 . 1 7 ; 2 C r 2 3 . 1 6 ; E x 3 4 . 2 4 ; Z c 2 . 1 1 ; 8 . 8 ; 2 C o 6 . 1 6 [ cf.L v 1 1 . 4
4 s s ] ; e termina em Ap 21.1). “O tema ‘Eu serei o vosso Deus e vós sereis o meu povo’ é desenvolvido
Usa-se repetidas vezes a frase de que Deus acampa entre os seres
humanos. Deus habitará (“acampará”) com eles (“junto deles”). Eles serão
povos de Deus, e Deus mesmo estará com eles. Sem receio, sem
insegurança ou reservas enaltece-se que finalmente a antiga fórmula da
aliança vigora sem cortes. No lugar das contrariedades entrou a comunhão.
Nem o ser humano precisa viver fora do paraíso de Deus, nem Deus sofre
por falta de espaço em sua criação.78
Segundo Berkouwer, se a nossa visão da terra for perdida, por causa de uma
espiritualização desmedida, “a existência de Israel como povo escolhido de Deus
também se torna um enigma” porque “Israel não pode ser entendido em termos de
uma relação abstrata, mística e isolada com Deus”. Segundo ele Israel só pode “ser
entendido em relação à glória da sua herança, a terra de Canaã”. Ao invés do apego
de Israel a terra ameaçar a comunhão com Deus, se dava justamente o contrario,
isto é, aquela terra “é precisamente a manifestação visível dessa comunhão”. Não
havia uma concorrência entre Deus e a terra, mas uma convergência misteriosa. 81
Portanto, como afirma Daniel A. Brown,
Apesar de isso parecer óbvio demais, o fato de Deus habitar ali mostra sua
opção pelas pessoas. Vemos em toda a história que a aliança de Deus com
seu povo tem sido u m a p rom ess a de d ar ao povo u m a terra na
qu al este pudesse viver (por exemplo: Éden, Israel) e uma promessa
correspondente de viver com o povo nesse local (ver Ezequiel 36:27,28;
37:24-28). Esta é a importância da Arca da Aliança, do Tabernáculo e do
Templo: Deus habita no meio de seu povo. 82
particularmente em associação com a real habitação de Deus no meio do seu povo. A realidade de Deus
morar com o seu povo revela significação sempre crescente através da Escritura.” ROBERTSON. O Cristo
dos Pactos., pp. 48-54, 214-16, passim.
78
POHL, Adolf, 2001, p. 447. Cf. tb.: LADD; George, 1980, p. 207.
79
“o tema ‘Eu serei o vosso Deus, e vós series o meu povo’alcança seu clímax mediante sua incorporação
em uma única pessoa. Não no tabernáculo, mas em Cristo, é que o tema encontra cumprimento
consumado.” ROBERTSON, O. Palmer. O Cristo dos Pactos. p. 53.
80
HOEKEMA, 2001. p.335-36.
81
BERKOUWER, G. C, 1972, p. 226.T(minha tradução)
82
BROWN, Daniel A. Destino Final: O que a Bíblia Revela sobre o Céu. São Paulo: Mundo Cristão, 2002,
p. 175.
2.7. PEREGRINOS E FORASTEIROS ATÉ A RESTAURAÇÃO DA TERRA
DA PROMESSA
83
Já tratamos anteriormente de alguns desses textos – Mt 5.5; Cl 1.20; Rm 8.18-25 –, portanto não
voltaremos a eles visto que não se faz necessário.
84
Charles Hodge aponta que essa crença em uma restauração do mundo ao seu estado original era
corrente entre os judeus e vigorou no inicio da Igreja. Infelizmente o ensino bíblico foi distorcido gerando
algumas visões extravagantes como no caso dos talmudistas e quiliastas (milenaristas). Cf.: HODGE,
Charles. Teologia Sistemática. São Paulo: Hagnos, 2001, p. 428.
escritor de Hebreus. Jesus, perfeito homem, cumpre o que o que nós homem caídos
não conseguimos cumprir ainda.85
Quando Cristo veio à Terra, Ele exerceu o domínio que Adão perdeu. Cristo
decidiu sobre os peixes (Lc 5.1-6; Mt. 17.24-27; Jo 21.1-6), sobre as aves
(Lc 22.34), e sobre os animais (Mc 1.3; 11.1-7). Ninguém na Terra hoje
poderia controlar a natureza da maneira que Ele fez. Quando Jesus veio ao
mundo, foi Deus ‘visitando’ os homens (Sl 8.4 com Lc1.68,78).86
85
“Cristo, na obra da mediação, age de conformidade com as suas duas naturezas, fazendo cada natureza
o que lhe é próprio: contudo, em razão da unidade da pessoa, o que é próprio de uma natureza é às vezes,
na Escritura, atribuído à pessoa denominada pela outra natureza.” (Confissão de Westminster. IIX.VII.)
86
WIERSBE, Warren W.. Wiersbe's Expository Outlines on the Old Testament. Wheaton: Victor Books,
1993. Psalm 8:1. In: Logos Bible Software. (Minha tradução)
87
HENDRIKSEN, William. A Vida Futura Segundo a Bíblia. 2ª ed.. São Paulo: Cultura
Cristã, 2004, p. 259.
88
GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática: Atual e Exaustiva. 2º ed.. São Paulo: Vida
Nova, 2010, p. 991.
89
Ibid, p. 991.
90
HOEKEMA, Anthony. Criados à Imagem de Deus. São Paulo: Cultura Crista, 1999. p. 110.
um relativo governo sobre a terra, logo, temos a esperança de que, assim como no
principio, “não foi a anjos que sujeitou omundo que há de vir, sobre o qual estamos
falando” (Hb 2.5;cf.:Gn 1.28; Ap 5.10; 22.5), mas foi à nova humanidade que Deus
criou em Cristo (2Co 5.17).
26
... aquele, cuja voz abalou, então, a terra; agora, porém, ele promete,
dizendo: Aindauma vez por todas farei abalar não só a terra, mas também
océu.27Ora, esta palavra: Ainda uma vez por todas significaa remoção
dessascoisas abaladas,como tinham sido feitas, para queas coisas que não
sãoabaladas permaneçam.28Por isso, recebendo nósum reino inabalável,
retenhamos a graça, pela qual sirvamos a Deus de modo agradável, com
reverência e santo temor;29porqueo nosso Deus é fogo consumidor. (Cf.
Hb1.11,12)
Devemos observar que o texto fala de algo que Deus prometeu pela boca dos
profetas desde a antiguidade que é a “restauração de todas as coisas”. Cristo
continuará no céu até chegar o tempo em que ele virá novamente e tudo será
restaurado. Esse texto deixa implícito, a luz de tudo que já observamos, “a volta de
Cristo será seguida pela restauração de toda a criação de Deus à sua perfeição
original – dessa forma apontando para a nova terra”. 92 Deus prometeu dar a terra
das peregrinações de Abraão em possessão perpétua (Gn 17.8), por isso o escritor
de Hebreus afirma:
91
Segundo Hoekema “a concepção do homem como a imagem ou semelhança de Deus nos diz que o
homem, como originalmente criado, era para espelhar Deus.” Obviamente o governo humano sobre a
criação, reflete o governo soberano e absoluto de Deus sobre o universo. (HOEKEMA, 1999, p.82).
92
HOEMEMA, 2001, p. 332.
9
Pela fé,peregrinou na terra da promessacomo em terra alheia, habitando
em tendas com Isaque e Jacó, herdeiros com ele da mesma promessa;
(...)13Todos estes morreram na fé,sem ter obtido as promessas; vendo-as,
porém, de longe, e saudando-as, e confessando queeram estrangeiros e
peregrinos sobre a terra.14Porque os que falam desse modo manifestam
estarprocurando uma pátria.15E, se, na verdade, se lembrassem daquela de
onde saíram, teriam oportunidade de voltar. 16Mas, agora, aspiram auma
pátria superior, isto é,celestial. (Hb. 11.9,13-16)
Além disso, o autor conclui dizendo que a promessa feita a eles só será
concretizada juntamente conosco:
Ora, todos estes que obtiveram bom testemunho por sua fé não obtiveram,
contudo,a concretização da promessa, por haver Deus providocoisa
superior anosso respeito, para queeles, sem nós, não fossem
aperfeiçoados. (Hb 11.39-40)
Uma questão importante que sempre vem à tona quando esse tema é
abordado é se o novo céu e a nova terra serão um universo totalmente novo criado
do nada como no princípio (o que implica que todo o atual cosmo será aniquilado) ou
se a criação atual que está corrompida será restaurada, tornando-se o novo céu e
nova terra. Teólogos importantes como Turretini e Berkouwer têm consciência dessa
divergência:
Uma decisão entre uma ou outra dependerá de duas coisas: primeiro, do grau
de corrupção causado pelo pecado; 96 segundo, da magnitude do juízo de Deus que
será derramado sobre a humanidade impenitente e, consequentemente, sobre a
criação. 97
93
SHEDD, Russell. A Escatologia no Novo Testamento. 2ª ed.. São Paulo: Vida Nova, 1985, p. 63.
94
TURRETINI, François. Compêndio de Teologia Apologética. Vol. 3. São Paulo: Cultura Cristã, 2011, p.
705.
95
BERKOUWER, 1972, p. 220.
96
HOEKEMA, 2001. p. 331.
97
No capítulo anterior demonstramos a relação criação-queda-redenção entre o homem e a terra. Podemos
entender que, se por causa da humanidade redimida a criação é restaurada; por outro lado, por causa da
humanidade impenitente, a criação também recebe parte do juízo de Deus. Juízo este que expurgará a
criação de toda a humanidade ímpia e dos efeitos do pecado
Portanto, não há necessidade de uma intervenção sobrenatural de Deus para
restaurar ou recriar o universo. Até mesmo a ideia de um juízo de Deus que traga
algum dano físico a criação é descartado. Toda a linguagem de juízo e criação de
um novo céu e uma nova terra é reinterpretada simbolicamente. 98 Elas citam o
Salmo 104.5,30, em favor de sua ideia, mas se esquecem de Isaías 24.19,20. Desta
forma as Testemunhas de Jeová enfatizam a continuidade radical deste mundo por
toda a eternidade. 99
Por outro lado, existem aqueles que creem que o juízo de Deus será tão
radical que todo o universo atual será aniquilado pelo fogo no dia do juízo e, depois,
Deus criará um novo universo a partir do nada,ex nihilo, como no princípio. 100 A
nova criação torna- se não a transformação do velho, mas uma segunda criação do
nada. Os males causados por Satanás, pelo pecado e pela morte foram tão grandes
que Deus derramará sua ira sobre a criação a tal ponto desta ser reduzida a nada e
depois recriada.
Essas são duas perspectivas radicais sobre a nova criação – novos céus e
nova terra. A primeira desconsidera os efeitos da queda sobre toda a criação, efeitos
esses que são claramente vistos na Bíblia e corroborados por nossa experiência
diária. A segunda exacerba tanto a ação de Satanás, do pecado, da morte e da ação
devastadora do homem, que termina diminuindo o poder e graça de Deus em
preservar e renovar a sua criação.
98
Demonstramos que para as Testemunhas de Jeová, novo céu significa um novo governo e nova terra,
uma nova humanidade sob aquele governo.
99
HOEKEMA, 2001. p. 331.
100
MacArthur, comentando 2Pe 3.10 diz que“acriação inteira, por causa da sua estrutura de base atómica,
é uma bomba nuclear em potencial. O poder devastador das armas nucleares demonstra a força destrutiva
que Deus colocou dentro do átomo. Quando ele estiver pronto, Deus vai usar esse tipo de energia nuclear
em um holocausto atômico que irá desintegrar o universo”. (MACARTHUR, John. 2 Peter and Jude, p.120).
101
Cf.: GRUDEM, 2010, p. 990.
102
BERKOUWER, 1972, p. 223.
de acharmos que a vida celestial é completamente diferente da vida presente. 103
Alguns estudiosos sumarizam bem esse equilíbrio:
103
HODGE, 1980, p. 579.
104
LADD, George. Apocalipse. p. 202-3.
105
BAVINCK, 2011, p. 725.
106
Charles Hodge, por exemplo, afirma que é “uma mudança de estado ou condição” (cf.: HODGE, 2001, p.
1646.). Comentando essa distinção feita por muitos reformados, Berkouwer diz: “No entanto, devemos tentar
descobrir os motivos para o uso dessas distinções em círculos historicamente reformadas. Por mais que
essas distinções, em si mesmas, deixem a desejar, elas foram feitas. Os teólogos que as fizeram não
tinham a intenção de minimizar a radicalidade do julgamento. Eles sentiram que estas distinções eram
errôneas e arbitrárias para corrigir um denominador comum – a destruição ou aniquilação – para todos os
pronunciamentos escatológicos da Bíblia sobre o julgamento. Eles apontaram que o que a Bíblia diz sobre o
novo céu e nova terra é expresso de várias maneiras. […] Compreensivelmente, os que veem a nova terra
como um creatio ex nihilo após uma aniquilação total, não estão impressionados com distinções entre
substância e acidente. Infelizmente, eles não viram além dessas falíveis, inadequadas e imprecisas
distinções, o motivo por detrás delas: o desejo de manter o princípio da libertação, essencial para o
testemunho bíblico. Essa perspectiva (que é evidente na frase “nova terra”) foi completamente ignorada por
aqueles luteranos que enfatizaram a aniquilação. Todavia, a Escritura apresenta uma dualidade sobre a
nova terra, que inclui tanto o juízo, quanto a continuidade.” (BERKOUWER, 1972., p. 222-223)
nos acidentes ou qualidades externas, mas a substância física da natureza da
criação permanece a mesma. 107 Berkouwer aponta que o próprio Calvino faz essa
distinção entre substância e qualidade: 108
Dos elementos do mundo, apnas direi uma coisa: que serão consumidos,
apenas para que possam ser renovados, sua substância continua a mesma,
como se pode deduzir facilmente de Romanos 8.21 e de outras
passagens.109
107
BERKOUWER, 1972, p. 220-222.
108
No volume III das Institutas, ao tratar do modo da ressurreição, Calvino também usa essa distinção entre
substância e qualidade. (cf.: CALVINO, João. Institutas. III.XXV.8) Da mesma forma a Confissão fala do
corpo da ressurreição como como sendo o “mesmo corpo” com “qualidades diferentes”, e não substâncias
diferentes. (cf.: CONFISSÃO de Fé de Westminster. XXXII.II).
109
CALVINO, João. Espístolas Gerais. São José dos Campos, SP: Fiel, 2015, p. 350.
110
CALVINO. Romanos, p. 293.
111
Ibid, p. 293-94.
112
WOLTERS, Albert. A Criação Restaurada: base bíblica para uma cosmovisão reformada. São Paulo:
Cultura Cristã, 2006p. 33. Wolters destaca que, após a criação do céu e terra no primeiro dia, Deus passa a
criar a partir do que já existia nos outros 5 dias.
113
Cf. texto e nota 28: MURRAY, John. Romanos. São José dos Campos- SP: Fiel, 2003, p. 331.
em água, mas não foi aniquilado (2Pe 3.6). 114 Já em 2 Pedro 3.11, “Pedro usa as
palavras ‘desfazer, ‘derreter, ‘destruir. Nenhuma delas tem o sentido de aniquilar ou
fazer com que deixe de existir.” 115 Quanto a questão do fogo, argumenta-se que “o
fogo queima, limpa, purifica, mas não destrói” 116 Este fogo não tem a finalidade de
extinguir ou aniquilar a criação física, mas renová-la.117 “O que o fogo derrete e
queima geralmente não é aniquilado, sim, é apenas purgado de escórias e impurezas,
como na esfera metálica o metal não é aniquilado e sim purificado, e se mostra mais
pura após ser submetido ao fogo.” 118 Para Turretini “essas coisas implicam uma
mudança, não uma aniquilação.” 119
O texto de Jeremias 4.23-27 ilustra bem a ideia de juízo, mas não aniquilação,
“Toda a terra será assolada; porém não a consumirei de todo.”
23
Olhei para a terra, e ei-lasem forma e vazia; para os céus, enão tinham
luz.24Olhei para os montes, e eis quetremiam, e todos os
outeirosestremeciam.25Olhei, e eis quenão havia homem nenhum, e todas
as aves dos céus haviamfugido. 26Olhei ainda, e eis quea terra fértil era um
deserto, e todas as suascidades estavam derribadas diante do SENHOR,
diante do furor da sua ira.27Pois assim diz o SENHOR:Toda a terra será
assolada; porém não a consumirei de todo. 28Por isso, a terrapranteará, e os
céus acima seenegrecerão; porque falei, resolvi e não me arrependo, nem
me retrato.
114
BAVINCK, Herman. 2001, p. 717.
115
CAMPOS, Heber Carlos. O Habitat Humano: O Paraíso Restaurado parte 1. São Paulo: Hagnos, 2014, p.
31.
116
BAVINCK, Herman. 2001, p 726. Cf. tb.: FERGUSON, 2000, 348-49; HODGE, 1980, 577; HENRY, 2008,
p. 355.
117
HENDRIKSEN, William. A Vida Futura Segundo a Bíblia. p. 257.
118
TURRETINI, 2011, p. 707.
119
Ibid, p. 706.
120
BERKOUWER, 1972, p. 223.
121
A. A. Hodge fala do universo passando por uma catástrofe final e sendo limpo do pecado. HODGE,
Archibald A.. Op. cit. p. 577.
122
HENDRIKSEN, William. A Vida Futura Segundo a Bíblia. p.257.
A honra de Deus consiste precisamente no fato de que ele resgata e renova
a mesma humanidade, o mesmo mundo, o mesmo céu, e a terra mesmo
que tenham sido corrompidos e poluídos pelo pecado. Assim como qualquer
um em Cristo é uma nova criação no qual as coisas velhas já passaram e
tudo se tornou novo (2Co 5.17), assim também este mundo passa na sua
presente forma como também, em seguida sai do seu ventre, pelo poder da
palavra de Deus, dando à luz e existência a um novo mundo. Assim como
no caso de um ser humano individual, assim também no final dos tempos
um renascimento do mundo terá seu lugar (Mt 19.28). Isto constitui uma
renovação espiritual, não uma criação física. [...] A substância [da cidade de
Deus] está presente nesta criação. Assim como a lagarta se torna uma
borboleta, como o carbono é convertido em diamante, como o grão de trigo
ao morrer na terra produz outros grãos de trigo, como toda a natureza revive
na primavera e se veste com roupas de celebração, como a comunidade de
crentes é formada a partir da raça caída de Adão, como o corpo da
ressurreição é erguido a partir do corpo que está morto e enterradonaterra,
assim também, pelo poder recriador de Cristo, o novo céu e a nova terra
irão um dia emergir a partir do fogo purificador dos elementos deste mundo,
irradiando glória duradoura e para sempre liberto da “escravidão da
corrupção” (δουλειας της φθορας,douleias tes phthoras [Rom. 8:21]). Mais
gloriosa do que esta bela terra [atual], mais gloriosa do que a Jerusalém
terrena, mais gloriosa até mesmo que o paraíso [original] será a glória da
nova Jerusalém, cujo arquiteto e construtor é o próprioDeus.123
Primeiro, o termo grego que é empregado para novo em 2Pe 3.13 e Ap 21.1 é
καινός (kainós) que significa novo em natureza ou qualidade; e não νέος (néos) que
se refere a novo em tempo ou origem. 125 Kistemaker explica que
Portanto, como afirma Campos, “não haverá nada novo em essência, mas
novo em qualidade.” Pois, “A ideia de Jão não é falar de algo totalmente diferente,
estranho, que está sendo criado, mas dos mesmos elementos antigos sendo
123
BAVINCK2012, 2001, p. 726, 729.
124
HOEKEMA, 2001, p. 330-331
125
Kittel explica que das duas palavras mais comuns para “novo” desde o período clássico, a saber, νέος e
καινός, a primeira significa “o que não existia antes", “o que tem surgido ou apenas apareceu"; a última “o
que é novo e distinto", em comparação com outras coisas. νέος é novo no tempo ou origem, isto é, jovem,
com uma sugestão de imaturidade ou de falta de respeito com o velho. καινός é o que é novo em natureza,
diferente do habitual, impressionante, melhor que o velho, superior em valor ou atração, por exemplo. C.f
KITTEL, Gerhard. Dicionário Teológico do Novo Testamento. São Paulo: Cultura Cristã, 2013, vol. 1, p.
447.429 e 696.
126
KISTEMAKER, Simon. Apocalipse. São Paulo: Cultura Cristã, 2004, p. 696.
transformados, possuindo uma novidade em qualidade, sendo melhores do que as
coisas primeiras, carregadas com maldição.” 127
127
CAMPOS, 2014, p. 25.
128
Cf.: FERGUSON, 2000, p. 349. Cf. tb.: HODGE, 2001, p. 1646. Cf. texto e nota: MURRAY, 2003, p. 331
(nota 28).
129
Em Romanos 8.21-23 vemos claramente a ligação entre a redenção da criação e a redenção do nosso
corpo. Cf.: FERGUSON, 2000, p. 347-48; HODGE,1980, p. 578; HODGE, 2001, p. 1646.
130
Grudem entende que isso causaria a impressão de que Deus cedeu ao diabo a última palavra ao
desfazer a criação que foi feita muito boa (Gn 1.31). (Cf.: GRUDEM, 2010, p. 990.)
131
O “personalismo” ensina que a salvação é restrita as pessoas (seres pessoais), e “considera que as
coisas são de nenhuma importância na glorificação vindoura”. (BERKOUWER, 1972, p. 226).
longe todos os paliativos por que somos ajudados no presente.
Suponhamos que vivemos na região mais abundante do mundo, na qual
não falta nada que possa dar-nos satisfação. Quem é que não se vê muitas
vezes impedido ou proibido por suas próprias enfermidades de usar dos
benefícios de Deus? Quem não se vê forçado a abster-se de seus bens e
jejuar, por causa de sua intemperança? De onde se segue queo cúmulo da
felicidade é a fruição simples dos bens de Deus, limpa detodo vício,ainda
que não nos sirvamos deles para o uso desta vida corruptível.
Outros vão além e perguntam se a escória dos metais ou sua corruptela
estarão ausentes da restituição ou não. Embora de certa forma eu lhes
conceda isso, no entanto, com Paulo,espero a reparação dos defeitos que
adquiriram no início dopecado;reparaçãopela qual toda a criação geme,
como com dores de parto (Rm 8,22). 132
[...] não deveria nos causar tanta surpresa o fato de que algumas descrições
da vida no céu incluem aspectos que em grande medida são parte da
criação física ou material de Deus.Comeremos e beberemosna “ceia das
bodas do Cordeiro” (Ap 19.9). Jesus uma vez mais beberá vinho com seus
discípulos no reino celestial (Lc 22.18). [...] Não há nenhuma razão forte
para dizer que essas expressões são meramente simbólicas, sem nenhuma
referência literal. Será que no plano eterno de Deus banquetes simbólicos e
vinho simbólico e rios e árvores simbólicos poderiam ser de algum modo
superiores a banquetes reais e vinho real e rios e árvores reais? Essas
coisas são apenas alguns dos aspectos excelentes da perfeição e da
bondade da criação física de Deus. Embora tenhamos alguma incerteza
quanto à compreensão de certos detalhes, não parece incoerente com esse
quadro dizer quecomeremos e beberemosno novo céu e na nova terra, e
também desempenharemos outrasatividades físicas. A música, sem dúvida,
é proeminente nas descrições do céu em Apocalipse e podemos imaginar
que tanto asatividades artísticas quanto as musicas serão desenvolvidas
para a glória de Deus. Talvez as pessoas vão trabalhar em todo o campo de
investigação e desenvolvimento da criação pormeios tecnológicos, criativos
e investigativos, exibindo assim a extensão plena da excelência da criação
à imagem deDeus.133
Não devemos pensar que as alegrias do céu são exclusivamente espirituais.
Haverá alguma coisa correspondente ao corpo. Haverá reconhecimento e
relações sociais num plano elevado. 134
132
CALVINO, João. Institutas. III.XXV.11.
133
GRUDEM, 2010, p. 991.
134
BERKHOF, 2001, p. 679.
135
A teologia reformada não é afeita a distinção entre sagrado e profano (secular), pois “os céus e os céus
dos céus são do Senhor, teu Deus, a terra e tudo o que nela há” (Dt 10.14), por isso, toda a nossa vida deve
ser para a glória de Deus.
136
HOEKEMA, 2001, p. 337.
soberania sobre a terra se realizará no estado eterno.” 137 Leandro de Lima sumariza
bem essa ideia:
Alguns autores acreditam que tudo aquilo que o homem produziu de bom até
hoje, desde o Éden, não será deixado de fora da nova terra. Tudo que Deus
concedeu ao homem conhecer e desenvolver em cumprimento ao mandato cultural
será levado para aquele mundo e sociedade santa. Somente aquilo que é ruim e
maculado pelo pecado ficará deste lado da eternidade. Hoekema argumenta isso
com base em Apocalipse 21.24,26 que diz que “os reis da terra lhe trazem a sua
glória. [...] lhe trarão a glória e a honra das nações.” Ou seja, tudo que já de glorioso
– bom e excelente – nesse mundo, será levado para a nova Jerusalém:
137
SHEDD, 1985, p. 66.
138
LIMA, Leandro A. de. Razão da Esperança: teologia para hoje. São Paulo: Cultura Cristã, 2006, p. 638-
640.
139
HOEKEMA, 2001, p. 336.
surgirão uma nova terra, e a Igreja – a nova Jerusalém – descerá com Cristo para
reinar sobre a criação (Ap 5.10; 21.1-2; 22.5). Ao adentrarmos os portões da
eternidade, não nos depararemos com um mundo (e uma vida) estranho e
desconhecido. Nós reconheceremos que é o mesmo mundo no qual agora
peregrinamos como forasteiros. É verdade que será um mundo restaurado e
renovado, mesmo assim ainda poderemos chamar de este mundo,esta terra. É
como reformar uma casa. Primeiro nos retiramos provisoriamente para que outros
façam o serviço de reforma. Depois nós retornamos e a reconhecemos como sendo
a nossa própria casa, muito mais bonita, é verdade, mas ainda o nosso velho e
docelar.
3.1.2. Descontinuidade
Uma coisa é certa quanto ao mundo porvir, nele não haverá pecado, nele não
haverá corrupção, doenças, sofrimento, ou morte (Ap 21.4,27; 22.2). Satanás, seus
anjos e aqueles homens que os serviram nessa vida “sofrerão penalidade de eterna
destruição, banidos da face do Senhor e da glória do seu poder” (2Ts 1.9;cf.: Ap
20.10,14,15; 21.8), portanto, estarão fora do novo céu, da nova terra, da nova
Jerusalém.
140
HENDRIKSEN, 2001, p. 263.
precisamos entender que a renovação de todas as coisas significa simplesmente
voltar ao que era. Quando reformamos uma casa, eventualmente acrescentamos
algum cômodo, derrubamos uma parede, mudamos uma porta ou janela. Portanto, é
possível (mas não provável) que haja alguma novidade. Mas quanto a isso o máximo
que podemos dizer é que Deus é o Senhore Criad or. É el e qu em irá res taur ar
a s u a c riaç ão. Natur al m ent e el e é s ob eran o para restaurar, tirar ou
acrescentar algo ao universo. 141 Contudo, não somos nós quem iremos decidir isso,
portanto, devemos nos precaver de ficarmos elucubrando coisas que não competem
a nós, coisas que Deus não nos revelou nas Escrituras. Nesse sentido, Calvino tem
muito a nos ensinar a não sermos “famintos de vã ciência” como alguns “que não
deixam nenhum canto do céu sem esquadrinhar”:
Como todos os homens pios o admitirão em consenso, uma vez que tão
claramente se ensina na Escritura, deixarão de lado todo tipo de questões
espinhosas, que só lhe podem servir de obstáculo, e não ultrapassarão os
limites que lhes foram assinalados. No que me diz respeito, não somente
me contenho para não me meter numa investigação supérflua de coisas
inúteis, mas, além disso, me acautelo, julgo, para que não alimente a
leviandade de outrem, respondendo-lhes.142
141
Wolters argumenta que não. “Na realidade, a única coisa que a redenção acrescenta que não está
incluída na criação é o remédio para o pecado, o qual é trazido exclusivamente para o propósito de
recuperar a criação sem pecado. Utilizando a linguagem tradicional da teologia, a graça não traz donum
superadditum à natureza, um dom acrescentado no auge da criação; antes, a graça restaura a natureza,
tornando-a íntegra novamente. Se a salvação não traz mais do que a criação, também não traz mesmo. É
toda a criação que está incluída no escopo da redenção de Cristo: esse escopo é verdadeiramente
cósmico.” Cf.: WOLTERS, Albert. Salvação como restauração. In: WOLTERS, 2001, p. 81.)
142
CALVINO, João. Institutas. III.XXV.11.
143
HODGE, 1980.,p. 577.
144
HODGE, Charles. 2001, p. 427.
145
HENDRIKSEN, 2001, p. 263.
fundidos em uma única realidade. Este mundo será “gloriosamente adaptado para
ser a residência permanente de Cristo e sua Igreja”. 146 Deus habitará plenamente
conosco, essa é uma fantástica e abençoadora descontinuidade em relação ao
mundo atual (Ap21.1.7).
A Bíblia ensina que Deus é onipresente, sua glória enche a terra (Is 6.3), o
céu (Jr 23.23) e transborda além do universo, pois “nem o céu, nem o céu dos céus
o podem conter” (1Rs 8.27; 2Cr 6.18). Essa onipresença divina é tão radical que
“nele nos movemos e existimos”, de modo que Deus “não está longe de nenhum de
nós” (At 17.27,28). Por isso, o cristianismo ortodoxo acredita que Deus está presente
com todo o seu ser em cada canto do espaço. Na verdade Deus imanentemente
sustenta e governa toda a criação (Cl 1.17).
Contudo, a Bíblia também afirma constantemente que Deus está no céu (Sl
102.19; 115.3,16; Is 57.15; Hb 9.24). Deus é santo e o homem é pecador, por isso
‘as nossas iniquidades fazem separação entre nós e o nosso Deus’ (Is 59.2). Essas
duas verdades são afirmadas nas Escrituras. A primeira vista parecem afirmações
contraditórias, mas devemos compreender o sentido em que Deus está presente na
criação e o sentido em que Deus está distante dela.
146
HODGE, 1980, p. 578.
147
Providência, cf.: CONFISSÃO de Fé de Westminster. V.I.
148
O argumento de Grudem é de que “Deus está presente de modos diversos em lugares diferentes, ou de
que Deus age diferentemente em locais distintos da sua criação”. Desta forma, as vezes Deus está presente
para punir; outras vezes sua presença é uma presença para sustentar ou manter o universo existindo (Cl
1.17; Hb 1.3); e noutros lugares ele está presente para abençoar (Sl 16.11). “De fato, na maior parte das
vezes em que a Bíblia fala da presença de Deus, refere-se à presença divina para abençoar.” (1Sm 4.4; Êx
25.22). Ver: GRUDEM, 2010, p. 123s.
amorosa presença de Deus e à comunhão e proximidade que podemos ter
comele.149
Talvez até julguemos enganoso dizer que Deus está “mais presente” no céu
que em qualquer outro lugar, mas não seria enganoso dizer que Deus está
presente de modo especial no céu, particularmente para abençoar e revelar
a sua glória. Também poderíamos dizer que Deus manifesta a sua presença
mais plenamente no céu do que em qualquer outro lugar.150
Então, ouvi grande voz vinda do trono, dizendo: Eis o tabernáculo de Deus
com os homens. Deus habitará com eles. Eles serão povos de Deus, e
Deus mesmo estará com eles. E lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a
morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as
primeiras coisas passaram. E aquele que está assentado no trono disse: Eis
que faço novas todas ascoisas.
João não está falando da onipresença de Deus na nova criação, mas da sua
comunhão e manifestação plena nela. Atualmente, por causa da separação causada
pelo pecado, Deus reserva ao céu sua plena comunhão e manifestação a suas
criaturas, mas na consumação essa separação não mais existirá. Berkouwer
adverte-nos contra o perigo de
149
Cf.: GRUDEM,2010, p. 989.
150
Ibid, p. 124
151
BERKOUWER, 1972, p. 218.
152
HODGE, 1980, p. 577
153
GRUDEM, 2010, p. 989.
como o são agora, mas serão um”. 154 Leandro de Lima afirma que “certamente, a
principal razão para a renovação do próprio céu tem a ver com a disposição de Deus
de estar perto do ser humano.” E continua, “a presença plena de Deus na terra
mostra que os céus têm vindo à terra. Terra e céus passaram a estar interligados.” 155
Ambas as grandez as da s alvaç ão – o paraís o e Jerusalém– signific am a
comunhão perfeita entre Deus e o ser humano, ou que o ser humano, sem qualquer
perturbação, está em casa junto de Deus.” 156
[...] a meta de toda a redenção é a união íntima e sem barreiras entre Deus
e seu povo. A frase “eles serão povos de Deus” deixa isto claro. Ela é um
eco da expressão do Antigo Testamento. “Eu serei o seu Deus e eles serão
o meu povo”, que expressa o objetivo tantas vezes repetido da revelação
divina e do seu relacionamento com seu povo. Todas as promessas da
aliança de Deus com os homens, feitas primeiramente a Abraão, renovadas
através de Moisés, e concretizadas em Cristo, foram finalmente realizadas
plenamente.157
154
HOEKEMA, 2001, p. 323.
155
LIMA, Leandro A. de. Op. cit., p. 639,640.
156
POHL, Adolf. Op. cit., p. 469.
157
LADD, George. Apocalipse. p. 206.
158
ROBERTSON, O. Palmer. O Cristo dos Pactos. p. 53. Desta forma nos podemos entender a ênfase que
o Antigo Testamento dá a habitação no meio do seu povo a começar pela construção do tabernáculo (Êx
25.8; 29.42-45; cf. Lv 26.9-13) que era tipo de uma habitação plena que ainda estaria por vir (Ez 37.26-28;
Jo 1.14; Ef 2.22; Ap 21.1-3). Cf. também: ROBERTSON. O Cristo dos Pactos. p. 48-54.
159
BROWN, Daniel A. Op. Cit., p. 174
Assim sendo, uma das características importantes da nova criação é que ela
é caracterizada pela unidade entre o domínio espiritual e o domínio material, entre o
céu e a terra, entre Deus e o homem, e não pela atual separação decorrente do
pecado. 160 Isso é indicado também pela ausência de Templo, que ao mesmo tempo
em que sinalizava a presença de Deus, demonstrava também certa separação. 161
Outra coisa que aponta para isso é a presença do próprio trono de Deus na terra (Ap
22.3-5), e não apenas no céu como diz Isaías 66.1. 162 “Por essa razão, esses dois
lugares estarão definitivamente unidos, não haverá mais separação entre a
habitação dos homens e a habitação de D e u s . Portanto, os habitantes da nova
terra serão também habitantes dos novos céus. A terra e o céu serão uma só coisa,
o lar de Deus e dos homens.” 163 Pohl, acrescenta que:
160
Não é sem razão que Daniel Brown afirma que o pecado de Adão “destruiu não apenas a proximidade e
o relacionamento que desfrutavam com Deus, mas também criou um abismo entre os mundos material e
espiritual em que viviam. Devido ao pecado, a esfera visível da terra e dos céus físicos foram praticamente
separadas do reino intangível do céu espiritual. O jardim do Éden era o lugar no mundo físico onde espirito e
carne viviam lado a lado.” Pouco antes ele afirma que “Aquele cosmos primitivo era muito diferente do atual.
No princípio, o físico e o espiritual estavam muito mais integrados do que estão hoje. O natural e o
sobrenatural conviviam sem muitas barreiras ou diferenciações. [...] E por isso que Deus podia andar com
Adão e Eva pelo jardim na viração do dia (ver Gênesis 3:8). Eles podiam falar com ele, assim como Deus
falava com eles. A interação entre cies era tão próxima que, quando eles pecaram, comendo do fruto que
Deus lhes dissera para não comer, em sua ingenuidade eles buscaram se esconder de Deus atrás de
alguns arbustos!” (BROWN, 2002, p. 147).
161
Cf.: POHL, 2001, p. 463.
162
LIMA, 2006, p. 640.
163
Ibid, p. 640.
164
POHL, 2001, p. 464.
Yahweh será o seu Deus e eles serão o seu povo. Assim, a maior bem-aventurança
dos salvos não é tanto uma criação restaurada e perfeita completamente sujeita ao
seu domínio, mas o grandioso fato de Deus vir habitar conosco manifestando toda a
sua glória e bondade. A maior bem-aventurança não é a beleza do território do
Reino, mas a beleza do Rei Soberano. A maior bem-aventurança é contemplar a
glória do Filho de Deus face a face. “Na nova terra, os cristãos totalmente remidos
vão contemplar para sempre a face do Senhor”, continua Campos, “Essa
contemplação não terá fim; será uma visão interminável de encantamento, que
aponta para as ideias de proximidade, bem-aventurança, honra e poder.” 165 “Quem
mais tenho eu no céu? Não há outro em quem eu me compraza na terra.” (Sl 73.25).
Concluimos com as palavras de Venema que diz,
O fu t u r o d a com u n id ad e d os cr en t e s s erá aq u el e n o
qual a harm oni a or iginal entr e os céus e a t er r a s erá
res tau rad a. A paz, ou sh al om , que m ar ca a vida d a
c ri aç ã o r en o v ad a, s erá e xp res s ad a n a r ec on c i li aç ã o d os
céus e da t err a. O céu, lugar da h abit açã o espec ial de
Deus, d esc erá à t er ra, e Deus h abit ará em m ei o ao seu
p o vo. A P rom es s a d o F u t u ro p a ra os c r en t es t em s eu f oc o
n os c é u s , p o ré m , n ã o e xc lu i a t er ra. P e lo c on t rá ri o, t od a s
as c oi sas serã o unidas em Cr ist o, t anto as d o céu quanto
a s d a t e r r a ( E f 1 . 1 0 ) . 166
DA MORADA ETERNA
165
CAMPOS, Heber Carlos de. O Habitat Humano: O paraíso Restaurado parte 2. São Paulo: Hagnos,
2015, p. 228.
166
VENEMA, 2017, p. 387.
Posto que, no princípio, Deus “criou o céu e a terra” (Gn 1.1) e, no fim, criará
“novo céu e nova terra” (Ap 21.1), podemos concluir que nosso tema oferece um
nítido ponto de união entre criação, queda, redenção e glorificação. Isso revela que
os planos de Deus ao criar o céu e a terra não poderão ser frustrados, quer pelo
homem, quer por Satanás (Jó 42.2). Hendriksen resume bem o que estamos
dizendo:
Deus não muda de plano por causa daquilo que as criaturas fazem. Deus não
improvisa. Deus não tem um “plano B”. O que ele intentou no princípio, ele cumprirá.
Isso é muito importante para a teologia da aliança. Assim como Deus fez a primeira
criação para proclamar a sua glória e para o benefício do ser humano, assim
também será a nova criação. Turretini diz que haverá um duplo objetivo com a nova
criação:
167
HENDRIKSEN2001, p. 261.
168
TURRETINI, 2011, p. 707.
homem em seu ambiente criado”. 169 Deus salva o homem todo e tudo que tem
relação com ele, isso inclui sua alma, seu corpo e seu ambiente. 170
169
ROBERTSON, 2002, p. 89.
170
Hoekema diz que “a Bíblia descreve a pessoa humana como uma totalidade, um todo, um ser unitário.”
Ele também diz que “um dos aspectos mais importantes do conceito do homem é o de que devemos vê-lo
em sua unidade, como uma pessoa integral.” (HOEKEMA. Criados à Imagem de Deus, pp. 232 e 225,
respectivamente).
171
WOLTERS, 2006, p. 95.
quanto nele se contém” (Sl 50.12). Ele o criou e o mantém pelo seu
poder.172
A visão que muitos têm da vida eterna é que vamos “passar a eternidade em
algum lugar do espaço, trajando vestes brancas, tocando harpas, cantando hinos e
pulando de nuvem em nuvem”. 174 O principal problema com essa visão reducionista
da vida por vir é que muitas das próprias pessoas que creem nisso parecem não
gostar muito dessa ideia. Parece uma mesmice interminável e sem cor. Não haveria
tanto problema se as pessoas cressem assim e ao mesmo tempo isso tocasse o
coração e gerasse mais e mais “desejo de partir e estar com Cristo, o que é
incomparavelmente melhor” (Fp 1.23). Mas para algumas pessoas, a melhor coisa
do céu é que não se estará no inferno. E aqui está o grande problema com uma
visão que, além de não ser tudo o que a Bíblia diz sobre a vida eterna; além disso, é
desestimulante, principalmente para os jovens. Então os crentes vivem como
incrédulos sempre preocupados em “aproveitar a vida” agora, porque depois não
terá nada além de um coral celestial.
172
HORTON, 2006, p 162.
173
HOEKEMA, 2001, p. 322.
174
Ibid, p. 323.
A. A. Hodge reconhece que o pensamento de que a vida futura é
completamente diferente da vida atual destrói o poder moral que a esperança
celestial produz em nosso coração. Ele afirma que ter ideias vagas sobre a vida
futura faz com que a nossa simpatia pelas suas características se torne fraca e
distante. 175 Com certeza não conhecemos os detalhes da vida futura – o estilo e
ritmo na nova terra – e não devemos ficar especulando de forma absurda, mas a
“necessidade de sobriedade em falar sobre estes assuntos, não deve levar a
negligenciarmos a igual necessidade de igualdade de convicção.” 176
Saber que haverá uma nova terra_ com seres vivos e plantas, em
resplandecente beleza e harmonia nunca vistas_ sobre a qual recebemos atarefa de
cuidar e governar, é estimulante para a nossa vida aqui. E o melhor de tudo isso é
que Deus estará conosco. Assim como Adão e Eva foram felizes em comunhão com
Deus e tiveram domínio sobre as criaturas antes do pecado, assim também nós
seremos felizes em comunhão com Deus cumprindo o seu mandato de sujeitarmos a
terra, para a glória dele e nossa alegria. Não será uma vida ociosa ou apenas de
canto. 178 Certamente louvaremos a Deus por toda a eternidade, mas faremos isso
não apenas em um culto solene, mas também no contexto da vida diária à medida
que cumprimos o mandato cultural.179 Como afirma Grudem,
175
HODGE, 1980, p. 579.
176
BERKOUWER, 1972, p. 232.
177
Ibid, p. 227.
178
LIMA, 2006, p. 638-39.
179
SHEDD, 1985, p. 66.
180
GRUDEM, 2010, p. 991.
Contra aqueles que tentam obscurecer a visão e antecipação que a Bíblia nos
oferece da vida futura, Berkouwer destaca que Hebreus 11.13 nos mostra que,
embora Abraão não tenha recebido a concretização da promessa, ele a viu e saudou
de longe.181 E foi porque ele pode vislumbrar de longe a pátria celestial que ele pode
peregrinar com alegria na terra da promessa tendo em vista o valor e glória do novo
mundo.
181
BERKOUWER, 1972, p. 233.
182
Ibid, p. 234.
183
POHL, 2001, p. 464.
184
BROWN, 2002, p. 184.
CONCLUSÃO
Procuramos demonstrar que a Bíblia tem muita coisa a nos ensinar sobre
esse assunto. Não que ela descreva cada detalhe da vida futura de modo a não nos
reste nenhuma novidade e admiração quando a nova criação se manifestar, mas nos
fornece informações suficientes para compreendermos que será uma criação
completamente restaurada e limpa de todo mal causado pelo pecado, de modo que,
enquanto estamos em jornada para a terra prometida, possamos, como Abraão vê-la
e saldá-la de longe confessando que somos peregrinos nessa terra, como em terra
estranha, almejando a pátria celestial que Deus tem preparado para nela habitar
com o seu povo.
Como foi para Abraão e aos demais servos de Deus que tiveram essa
esperança, essa verdade bíblica também deve encher o nosso coração de fé e
esperança e gerar em nós o asseio por vermos o cumprimento dessa promessa.
Devemos ter a fé de que o paraíso que foi perdido, será um paraíso recuperado. A
terra que hoje produz cardos e abrolhos, voltará a emanar leite e mel. Todas as
coisas que hoje não vemos sujeitas ao homem, novamente serão sujeitas à nova
humanidade em Cristo. O homem que foi expulso para não comer da arvore da vida,
185
ROBERTSON, 2005, p. 13.
agora poderá comer dela livremente. O homem que fugiu e se escondeu da
presença de Deus, agora morará eternamente com o Senhor e contemplará a sua
face.
Como foi apontado186, aquilo que a Bíblia nos antecipou daquele novo mundo
é como um rascunho que Deus, o Grande Artista, riscou em sua grande tela. Hoje
vemos os contornos e traços sem cor dessa grande obra que Deus tem preparado.
Esses traços já revelam o que podemos esperar dessa nova obra de criação. Mas
naquele dia, quando essa obra já estiver colorida com todas as suar cores,
ficaremos sem palavras para descrever tamanha beleza. Então só poderemos louvar
dizendo:“Que variedade, Senhor,nas tuas obras! Todas com sabedoria as fizeste;
cheia está a terra das tuas riquezas.”– SL 104.24.
186
BROWN, 2002, p. 184.
BIBLIOGRAFIA
BARBOSA, Vagner. Mordomia Cristã. Revista Nossa Fé. Revista do aluno. São
Paulo: Cultura Cristã. 48 p. (sem indicação de data ou período).
BLAISING, Craig A.; BOCK, Darrell L.. Progressive Dispensationalism. Grand Rapids:
Baker Books, 1993.
BROWN, Daniel A. Destino Final: O que a Bíblia Revela sobre o Céu. São Paulo:
Mundo Cristão, 2002.
CALVINO, João. A Instituição da Religião Cristã. São Paulo: UNESP, 2009, tomo II.
902 p.
___ . Romanos. 2ª ed.. Trad. Valter Graciano Martins. São Paulo: Edições
Parakletos, 2001.
CAMPOS, Heber Carlos. O Habitat Huma: O Paraíso Restaurado parte 1. São paulo:
Hagnos, 2014. 440 p..
GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática: Atual e Exaustiva. 2º ed.. São Paulo: Vida
Nova, 2010. 1080 p..
HENDRIKSEN, William. A Vida Futura Segundo a Bíblia. 2ª ed.. São Paulo: Cultura
Cristã, 2004. 271 p..
HODGE, Charles. Trad. Valter Martins. Teologia Sistemática. São Paulo: Hagnos,
2001. 1711 p..
HOEKEMA, Anthony. A Bíblia e o Futuro: A Doutrina Bíblica das Últimas Coisas. São
Paulo: Cultura Cristã, 2001. 323 p..
LADD, George. Apocalipse: Introdução e Comentário. São Paulo: Vida Nova, 1980.
LIMA, Leandro A. de. Razão da Esperança: teologia para hoje. São Paulo: Cultura
Cristã, 2006. 672.
MURRAY, John. Romanos. São José dos Campos- SP: Fiel, 2003, p. 331.
PIPER, John; MATHIS, David (Orgs.). Com Calvino no Teatro de Deus: A glória de
Cristo e a vida diária. São Paulo: Cultura Cristã, 2011. 158p.
PODERÁ Viver para Sempre no Paraíso na Terra. Cesário Lange: Sociedade Torre
de Vigia de Bíblias e Tratados, 1986. 255 p.
REVELAÇÃO: Seu Grande Clímax está Próximo! Cesário Lange: Sociedade Torre
de Vigia de Bíblias e Tratados, 1989. 319 p.
ROBERTSON, O. Palmer. O Cristo dos Pactos. São Paulo: Cultura Cristã, 2002. 286
p.
. O Israel de Deus: passado, presente e futuro: São Paulo: Vida,2005.
SHEDD, Russell. A Escatologia no Novo Testamento. 2ª ed.. São Paulo: Vida Nova,
1985.