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Neurociencia Aprendizagem

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NEUROCIÊNCIA E APRENDIZAGEM

Neurociência é a área multidisciplinar de conhecimento que analisa o sistema nervoso


para entender as bases biológicas do comportamento.

Floyd E. Bloom -The Scripps Research Institute - La Jolla, California

“ ... a aprendizagem é um processo mental que envolve o processamento de


informação e a sua passagem da memória de curto prazo para a de longo prazo. Neste
processo, o conhecimento prévio do aluno e a construção de sentido tem um papel
determinante em toda a aprendizagem”.
(Doolittle, 2002, p. 2).

Objetivos
No final deste capítulo o formando deverá ser capaz de:

Compreender como o sistema nervoso tem influência sobre a


aprendizagem

Fornecer bases teóricas e práticas sobre o conhecimento da


anatomia e funcionamento do sistema nervoso

Compreender as funções cognitivas no processo de aprendizagem

Instrumentalizar a prática pedagógica com subsídios neurocientífico


SISTEMA NERVOSO

CONCEITO
Sistema nervoso é a parte do organismo que transmite sinais entre as
suas diferentes partes e coordena as suas ações voluntárias e
involuntárias. O tecido nervoso surge com os vermes, cerca de 550 a
600 milhões de anos atrás. (Wikipédia)

O grande desafio da ciência é compreender a base biológica da consciência e dos


processos mentais pelos quais percebemos, agimos, aprendemos e lembramos. Um
passo evolutivo importante foi a fusão entre o estudo do comportamento - a ciência da
mente e a ciência neural - a ciência do cérebro.

Existe diferença entre cérebro e mente?

O cérebro é uma estrutura localizada no interior do crânio, que pode ser


visualizado e manipulado. Sua arquitetura é caracterizada por diferentes células,
substâncias químicas como neurotransmissores, hormônios e enzimas.

A mente representa a essência do homem, que emerge da existência de funções


mentais que permite a ela pensar e perceber, amar e odiar, aprender e lembrar,
resolver problemas, comunicar-se através da fala e da escrita, criar e destruir
civilizações. Assim, sem o cérebro, a mente não pode existir, sem a manifestação
comportamental, a mente não pode ser expressada.

O sistema nervoso coordena todas as atividades orgânicas, integra sensações e


ideias, conjuga fenômenos da consciência e adapta o organismo às condições de
momento. Seu substrato morfológico e funcional é o arco reflexo e sua constituição
permite que estímulos deflagrem respostas adequadas a cada um destes estímulos.
Ex. estímulos táteis (carícia) podem resultar em um sorriso.

Os neurônios representam a unidade morfológica e fisiológica do sistema nervoso. São


caracterizados por serem capazes de gerar e conduzir energia eletroquímica (impulso
nervoso). Morfologicamente podemos distinguir nos neurônios as seguintes regiões:

Corpo celular (soma/pericário) - é a “fábrica” do neurônio, o centro metabólico da


célula. Contém diversas estruturas imersas no citoplasma, dentre elas o núcleo que
representa o arquiteto da célula, onde estão os genes, consistindo de DNA, o qual
contém a informação básica para manufaturar todas as substâncias químicas
neurotransmissoras. Em geral do corpo celular originam-se dois tipos de
prolongamentos: o axônio e os dendritos.

Axônios - Geralmente cada neurônio possui apenas um único axônio, que conduz
impulsos do corpo celular em direção a outro neurônio ou para um órgão efetor. Os
sinais elétricos conduzidos pelos axônios são denominados de potencial de ação
ou impulso nervoso e podem percorrer distâncias de alguns milímetros a mais de um
metro. Os axônios de muitos neurônios são envolvidos por uma bainha de mielina. A
mielina protege e isola o axônio, prevenindo a interferência entre axônios à medida que
elas passam ao longo dos feixes e aumenta a velocidade de transmissão do impulso
nervoso.

Dendritos - geralmente são estruturas curtas que se ramificam como galhos de uma
árvore e representam o principal aparato para recepção de sinais de outras células
nervosas. Eles funcionam como “antenas” do neurônio e são cobertas por milhares de
sinapses.
CLASSIFICAÇÃO
De acordo com o número de prolongamentos associados ao corpo celular os neurônios
são classificados em:

Unipolares: um único prolongamento a partir de um polo do corpo celular (soma)


Bipolares: tem dois prolongamentos em polos diferentes do corpo celular, sendo
que os dendritos levam informação para a célula e o axônio transmite essa
informação para outras células.
Pseudo-unipolar: o prolongamento que emerge do corpo celular se divide em
dois, ambos atuando como axônios, um dirige-se para a periferia (pele,
músculos) e o outro dirige-se para a medula espinal.
Multipolares: tem apenas um axônio e muitos dendritos. Representam o tipo de
neurônio mais comum do sistema nervoso nos mamíferos.

Bainha de mielina - A bainha de mielina é um revestimento que envolve alguns tipos


de neurônios e é formada a partir da célula de Schwann. A mielina tem por função
proteger o neurônio e, principalmente, fazer com que o impulso nervoso se propague
com mais velocidade pelo axônio. Um neurônio sem mielina conduz o impulso com
velocidade de no máximo 2 m/s (cerca de 7 km/k, velocidade de uma pessoa
caminhando rapidamente), enquanto que um neurônio com mielina pode conduzir seu
impulso nervoso com velocidade de até 120 m/s (mais de 430 km/h). Dessa forma, de
acordo com a presença de bainha de mielina, os neurônios se classificam em
mielinizadados (mielínicos) e amielínicos.

O processo de mielinização acontece desde a vida intrauterina e se completa após o


nascimento durante a fase de crescimento e desenvolvimento da criança.

Para se ter uma ideia da importância da mielina, basta observar que enquanto não se
alcança um determinado grau de desenvolvimento do processo de mielinização
neuronal não se aprende a falar ou a andar. A estimulação durante essa fase é de
importância crucial para esse processo.

De acordo com a sua função os neurônios podem ser classificados em:

Neurônio sensorial (aferente) - recebe estímulos sensoriais do meio ambiente e


do próprio organismo, transformam estes estímulos em impulsos nervosos e
enviam-no ao sistema nervoso central. A região responsável pela captação do
estímulo é denominada de terminação nervosa sensitiva (receptor), que pode ser
sensível a diferentes
tipos de estímulos: tato, pressão, dor, posição, tensão muscular, concentração
química, luz e outros estímulos mecânicos.
Neurônio motor (eferente) - conduz impulsos nervosos do sistema nervoso
central para um órgão efetor (músculo ou glândula) através de estruturas
denominadas de botões sinápticos (terminais).
Neurônio de associação (interneurônio) - o corpo deste neurônio está sempre
dentro do SNC, e constitui a maior parte da substância cinzenta do SNC e seus
axônios mielinizados formam grande parte da substância branca. Apresentam
várias formas e tamanhos.

Muitos estão diretamente relacionados à entrada de impulsos aferentes e outros, à


saída de impulsos eferentes. Outros, servem para integrar estímulo sensorial com
centros mais elevados a fim de conduzir resposta motora mais apropriada.
SINAPSES

CONCEITO
Os neurônios entrem em contato com outros neurônios, principalmente
através de suas terminações axônicas, passando-lhes informações. Os
locais de conexões são denominados sinapses. As sinapses podem
ocorrer entre neurônios (axônio e corpo; axônio e dendrito; axônio e
axônio) e podem ocorrer também entre neurônios e células não
neuronais denominada de órgão efetor que podem ser as células
musculares (esqueléticas, lisas e cardíacas) e células secretoras
(glândulas).

O impulso nervoso move-se ao longo do axônio, e quando alcança o terminal axônico


do neurônio pré-sintático, vesículas contendo substância química (neurotransmissor)
são liberadas. Estas substâncias provocam reação no neurônio pós-sináptico que pode
ser excitado (capaz de deflagrar o impulso nervoso) ou inibido (não é capaz de gerar
impulso nervoso). A capacidade para integrar, coordenar, associar e modificar os
impulsos aferentes e alcançar uma resposta motora desejada está diretamente
relacionada ao número de sinapse realizada no interior do cérebro e da medula
espinal.

Sistema Nervoso Central Encéfalo

Cérebro
Telencéfalo
Diencéfalo
Cerebelo
Tronco Encefálico
Mesencéfalo
Ponte
Bulbo

Medula Espinal

Sistema Nervoso periférico

Gânglios motores e sensitivos


Nervos motores e sensitivos
Terminações nervosas Sensitivas e motoras

O sistema nervoso consiste de uma parte central, denominada sistema nervoso central
(SNC), formado pelo encéfalo e pela medula espinal que estão alojados no interior do
crânio e coluna vertebral respectivamente. As estruturas que se encontram fora do
crânio e da coluna vertebral constituem o sistema nervoso periférico, formado pelos
nervos, gânglios e terminações nervosas.

A medula espinal é a parte mais caudal do SNC. Estende-se desde a base do crânio
até a primeira vértebra lombar, e portanto não percorre todo comprimento da coluna
vertebral. A medula espinal recebe informações sensoriais da pele, das articulações e
dos músculos do tronco e dos membros e, por sua vez, contém neurônios motores
responsáveis pelos movimentos voluntários e reflexos. Também recebe informações
sensoriais dos órgãos internos e tem aglomerados de neurônios que controlam muitas
funções viscerais. No interior da medula espinal, os grupos sensoriais que recebem
entradas da periferia e os grupos de células motoras que controlam grupos específicos
de fibras motoras não ficam misturados aleatoriamente.

Os sensoriais ficam agrupados na coluna posterior, os motores somáticos na coluna


anterior; e os motores viscerais na coluna lateral.

Tronco encefálico: estrutura do SNC com funções vegetativas vitais. É constituído de


bulbo, ponte e mesencéfalo. Sendo que o bulbo continua-se com a medula espinal e o
mesencéfalo continua-se com o diencéfalo. Recebe informações sensoriais da pele e
das articulações da cabeça, pescoço e face, e contém os neurônios motores que
controlam os músculos da cabeça e do pescoço. Também está relacionado com os
sentidos especializados, como a audição, a gustação e o equilíbrio. Participa da
regulação da respiração e da pressão sanguínea. As entradas sensoriais e as saídas
motoras do tronco encefálico são conduzidas pelos 12 pares de nervos cranianos.
Apresenta uma agregação mais ou menos difusa de neurônios de tamanhos e tipos
diferentes, separados por uma rede de fibras nervosas que ocupa a parte central do
tronco encefálico denominada de Formação Reticular. A formação reticular constituí
juntamente com o diencéfalo o Sistema Ativador Reticular Ascendente (SARA), que
tem ação ativadora sobre o córtex cerebral.

O cerebelo recebe entradas sensoriais da medula espinal, informações motoras do


córtex cerebral,e entradas a respeito do equilíbrio dos órgãos vestibulares do ouvido
interno. A convergência de todas essas entradas torna o cerebelo capaz de coordenar
o planejamento, a cronologia e os padrões de atividade dos músculos esqueléticos
durante o movimento. O cerebelo também desempenha importante função na
manutenção na manutenção da postura e na coordenação dos movimentos da cabeça
e dos olhos.

Diencéfalo: Relacionado com funções vegetativas e cognitivas. O tálamo, processa e


distribui quase todas as informações sensoriais que vão para o córtex cerebral. Está
relacionado com a ativação do córtex cerebral, motricidade e com comportamento
emocional.

O hipotálamo desempenha inúmeras funções, como regulação do sistema nervoso


autônomo, regulação da glândula hipófise, regulação da fome e da sede, participa do
comportamento emocional, e da ativação do córtex cerebral (SARA).

Telencéfalo: é constituído por dois hemisférios cerebrais que se comunicam através


de feixes de axônios. Os hemisférios cerebrais formam, de longe, a maior região do
encéfalo. São constituídos pelo córtex cerebral, pela substância branca subjacente
(principalmente axônios mielinizados e células da glia) e três aglomerados de
substância cinzenta denominados de núcleos: gânglios da base; hipocampo e
amígdala. Na maior parte os hemisférios cerebrais direito e esquerdo constituem
imagens em espelho um do outro. Apesar de cada hemisfério ter funções
especializadas, ambos estão conjuntamente implicados em funções perceptivas,
cognitivas, e com funções motoras superiores, bem como na emoção e na memória.

Córtex cerebral: é a superfície altamente enrugada do hemisfério cerebral, onde


pode-se distinguir os sulcos (depressões) que separam regiões elevadas (giros). Os
sulcos maiores são geralmente (sulco lateral e central), e podem ser usados para
dividir o córtex em quatro lobos: frontal; parietal; temporal e occipital.

Todas as parte do córtex estão relacionadas com o armazenamento de experiências


(memória), troca de impulsos com outras áreas corticais (associação) e a transmissão
dupla de impulsos (aferentes e eferentes) com áreas subcorticais.

O lobo frontal (a) está relacionado com funções intelectuais tais como o raciocínio e o
pensamento abstrato; comportamento agressivo e sexual; fala (área de Broca - a),
linguagem e iniciação do movimento, tanto treinado quando postural. A área rotulada
como (giro pré-central) inicia especificamente o movimento

treinado, e os impulsos desta área motora são conduzidos, ao longo do


tractocorticospinal, diretamente aos neurônios motores dos nervos cranianos/espinais.

O sulco central é considerado a divisão anatômica entre as áreas motoras


anteriormente a as áreas sensoriais posteriormente.

O lobo parietal está relacionado com o reconhecimento de estímulos sensoriais


específicos; o paladar; a habilidade de usar símbolos como meio de comunicação
(linguagem) e a habilidade de desenvolver ideias e as respostas motoras necessárias
para levá-las a termo. O giro pós-central recebe impulsos aferentes ligados à dor,tato,
pressão, tensão muscular e posição das articulações de receptores

de todo o corpo. Quando o impulso alcança esta área torna-se consciente, e o


indivíduo torna-se capaz de discriminá-lo.

O lobo temporal está relacionado ao olfato e á linguagem; ao comportamento


emocional (incluindo raiva, hostilidade e comportamento sexual. A área recebe
impulsos aferentes relacionados à audição.

O lobo occipital , especialmente a área específica rotulada está relacionada com o


recebimento de estímulos visuais do trato óptico.

Funcionalmente falando, os dois hemisférios, em especial com relação ao córtex não


são iguais; ou seja, eles não são imagens especulares um do outro.

De modo interessante, a maioria dos tratos longos que vão ou vêm do córtex ( de
outras área também) de neurônios sensitivos e motores respectivamente, cruzam para
o lado oposto. Assim, grande parte dos receptores do lado esquerdo são
representados do lado direito do córtex, e dos impulsos motores que se original do lado
esquerdo geram atividade muscular no lado direito do corpo.

ÁREAS SENSORIAIS SECUNDÁRIA TERCIÁRIA


PRIMÁRIA
Podem ser denominadas Podem ser denominadas
Podem ser denominadas também de áreas de também de área de
também de área de associação ou associação. Recebem e
projeção. São áreas do interpretativas. Estão integram as informações
córtex que recebem ou dão localizadas no córtex sensoriais já elaboradas por
origem a fibras relacionadas adjacentes às área todas as áreas secundárias
diretamente com a primárias. Função: ocorre a e são responsáveis também
sensibilidade e com a interpretação, ou seja, as pela elaboração das
motricidade. características sensoriais diversas estratégias do
são comparadas com o comportamento. Está
Função: têm-se consciência conceito do objeto existente relacionado também com o
das características na memória do indivíduo, o pensamento e memória.
sensoriais do objeto, sua que permite a sua
forma, dureza, tamanho. identificação. Ex: área pré-frontal; áreas
límbicas (hipocampo).
Ex: Sensorial (giro pós-
central) Motora (giro pré-
central).

ÁREAS CORTICAIS FUNÇÃO LESÃO

Área visual primária Visão de sinais luminosos, Cegueira


linhas brilhantes, cores e
outras visões simples.

Área de associação visual Interpretação do que está Redução acentuada na


vendo interpretação do que se vê,
(área secundária) incapacidade de reconhecer
o significado das palavras
(cegueira verbal ou alexia)

Área auditiva primária Sons simples, porém não surdez


distingue sons inteligíveis

Área de associação auditiva Compreensão do significado Perda da capacidade do


das palavras ou de outras entendimento das palavras
experiências auditivas. e outras experiências
auditivas mesmo quando se
ouve bem.

Córtex sensorial primário Aspectos simples das Depressão da sensação


(giro pós-central) sensações (formigamento sensorial somática.
na pele, dormência, graus
leves de sensações
térmicas)

Área de associação Percepção espacial para as Perda da percepção


sensorial somática distintas partes do corpo, espacial do corpo,
interpretação das diminuição da capacidade
experiências sensoriais de interpretação das
somáticas. experiências sensoriais
somáticas.

Área terciária ou Interpretação dos Incapacidade para ordenar


interpretativa geral do significados complicados as palavras ouvidas em
hemisfério dominante pensamentos coerentes;
das distintas experiências incapacidade para perceber
sensoriais. a mensagem contida em
palavras escritas;
dificuldade de compreensão
em níveis mais elevados
dos significados das
experiências sensoriais
somáticas; alterações
severas do pensamento e
da memória. A perda desta
área, no adulto, resulta em
vida próximo a demência.
ÁREAS RELACIONADAS COM A
LINGUAGEM
A linguagem verbal é um fenômeno complexo do qual participam áreas corticais e
subcorticais. No entanto, o córtex cerebral tem o papel mais importante, e na maioria
dos indivíduos as áreas corticais da linguagem se localizam apenas no lado esquerdo.
Admite-se a existência de duas áreas corticais para a linguagem: uma anterior e outra
posterior, ambas de associação. A área anterior da linguagem corresponde à área de
Broca e está relacionada com a expressão da linguagem. A área posterior da
linguagem situa-se na junção entre os lóbulos temporal e parietal e corresponde à área
de Wernicke. Está relacionada basicamente com a percepção da linguagem.

A área de Wernicke comunica-se a da área de Broca através feixes de axônios. Lesões


destas áreas dão origem a distúrbios de linguagem denominados afasias. Nas afasias,
as pertubações da linguagem não podem ser atribuídas a lesões das vias sensitivas ou
motoras envolvidas na fonação, mas apenas lesão das áreas corticais de associação
responsáveis pela linguagem.

Distinguem-se dois tipos básicos de afasia: motora ou de expressão, em que a lesão


ocorre na área de Broca; sensitiva ou de percepção, em que a lesão ocorre na área de
Wernicke. Nas afasias motoras o indivíduo é capaz de compreender a linguagem
falada ou escrita, mas tem dificuldade de se expressar adequadamente, falando ou
escrevendo. Nos casos mais comuns, ele consegue apenas produzir poucas palavras
com dificuldade e tende a encontrar as frases falando ou escrevendo de maneira
telegráfica. Nas afasias sensitivas a compreensão da linguagem tanto falada como
escrita é muito deficiente. Há também algum déficit na expressão da linguagem, uma
vez que o perfeito funcionamento da área de Broca depende de informações que
recebe da área de Wernicke, através do fascículo arqueado (feixe de axônios). Nos
raros casos em que esse fascículo é lesado, temos a chamada afasia de condução, em
que a compreensão da linguagem é normal (pois a área de Wernicke está íntegra),
mas existe déficit da expressão.

As dislexias estão presentes em muitos indivíduos, no entanto, muitas vezes são


erroneamente diagnosticadas. Não é uma doença, e sim uma disfunção do SNC de
origem constitucional (neurotransmissores) caracterizada pela dificuldade na aquisição
ou no uso da leitura e ou/escrita, que acomete crianças com inteligência normal ou
acima da média, sem défices sensoriais.
BASES BIOLÓGICAS E
COMPORTAMENTAIS

CONCEITO
A atenção para ser processada conta com a atuação de todo o sistema
nervoso desde os receptores do sistema nervoso periférico ao córtex
encefálico.

Como o sistema nervoso é um todo dinâmico, cada uma de suas estruturas pode estar
relacionada a numerosas funções. É no córtex cerebral que as sensações se tornam
conscientes, são processadas e transformadas em percepções, entretanto, não atua
sozinho, para desempenhar suas atividades recebe a colaboração de todo o restante
do sistema nervoso.

O sistema nervoso periférico, através dos receptores e das vias sensitivas envia para o
sistema nervoso central impulsos nervosos originados a partir de estímulos diferentes,
como os visuais, táteis, dolorosos, olfativos, auditivos etc.. Estes impulsos, após
percorrerem várias estruturas neurais, chegam ao córtex cerebral para serem
interpretados.

O tronco encefálico, através da atuação da formação reticular, influencia o


funcionamento do córtex, por meio da ativação ou desativação dos neurônios corticais,
o que guarda uma relação direta com as fases do ciclo de vigília e sono e com os
estados da atenção.

No processo de interpretação, o córtex, devidamente ativado pela formação reticular


seleciona as informações relevantes, mobiliza informações pré-existentes na memória
e as compara com as novas. O hipocampo e o tálamo, enquanto partes do sistema
límbico (sistema relacionado às emoções), são acionados e ajudam a decidir se os
pensamentos promovidos pelo estímulo são suficientemente importantes para
merecerem memória. Por outro lado, de acordo com o significado que este estímulo
ganhou, são programadas as respostas motoras.

As respostas motoras conscientes elaboradas pelo cérebro, após percorrerem diversas


estruturas do sistema nervoso central atingem o sistema nervoso periférico. Percorrem
então, as vias motoras dos nervos e chegam até os músculos para coordenar suas
ações.

Nesta breve descrição das ações neurais envolvidas no recebimento de um estímulo,


no seu processamento mental, e na elaboração de uma resposta motora consciente,
ficou subentendido todo um processo de direcionamento da atenção voluntária em
suas modalidades sensorial, intelectual e motora. Trata-se portanto de uma função
mental complexa que para ser desempenhada envolve amplamente o substrato
orgânico da mente e seus componentes psíquicos. O substrato orgânico aqui
entendido como o conjunto de estruturas macro e microanatômicas que dão suporte a
atenção, e os componentes psíquicos como afetividade, motivação, memória,
linguagem e pensamento. Logo se faz plenamente justificada a afirmação de Campos-
Castelló (1998; 2000) de que a atenção é uma função cognitiva de alta complexidade
em que estão implicados numerosos subprocessos como a percepção, a intenção e a
ação.

Através da atenção focalizamos nossas atividades conscientes, possibilitando a


percepção, a memória e a aprendizagem, pois o direcionamento da atenção promove
uma filtragem da informação não desejada. É portanto, a base sobre a qual se
organiza o caráter direcional e a seletividade dos processos mentais.
TIPOS DE ATENÇÃO

CONCEITO
A atenção desempenha diversas funções relacionadas com o
processamento de informações. selecionando determinados eventos ou
objetos no ambiente sobre os quais se concentra e mantém o foco
enquanto as informações fornecidas por esse objeto são processadas.

De acordo com o tipo de atividade predominante a atenção pode ser classificada em


sensorial, motora e intelectual.

A atenção sensorial corresponde a uma atividade de espera. Os fenômenos


envolvidos são semelhantes na atenção visual, auditiva, gustativa, tátil, etc. Por
exemplo ouvir uma música e identificar que instrumentos musicais estão sendo
executados.
Atenção motora: consiste no aparecimento de movimentos voluntários de uma
tensão ao mesmo tempo sensorial e intelectual. Neste tipo de atenção, a
consciência esta centrada na execução de uma atividade, representa uma forma
de alerta às atividades musculares que devem responder a determinada
orientação. Por exemplo quando se está aprendendo nadar o sujeito pensa no
movimento que tem que realizar focalizando sua atenção para os grupamentos
musculares que vão realizar o movimento, aumentando desta forma o controle
motor e a propriocepção. A criança realiza os esforços supramencionados para
aprender andar, escrever, jogar enfim no aprendizado de todas as suas
atividades motoras até que elas se tornem automatizadas.
Atenção intelectual: é o tipo de atenção que predomina quando nos voltamos aos
aspectos de nossa vida intrapsíquica, atua selecionando os elementos que
ocuparão o foco de nossos pensamentos. É solicitada, quando necessitamos
resolver problemas que envolvem o raciocínio. Ex: montar quebra cabeça,
realizar cálculos matemáticos, planejar o próprio dia, contar a estória de um filme
que assistiu, resumir um texto. Este tipo de atenção conta com forte participação
do córtex pré-frontal.

Esta classificação tem mais um caráter didático , pois em qualquer de suas formas
conhecidas a atenção sempre implica em atividade intelectual, quer seja orientando os
movimentos ou dando sentido às percepções sem perder o seu caráter de
independência.
DESENVOLVIMENTO DA ATENÇÃO
Suas relações com a afetividade, vontade, memória e pensamento

Como é característico das funções mentais a atenção apresenta aspectos inatos e


aspectos que se desenvolvem após o nascimento. É construída em duas vertentes,
uma orgânica e outra psicológica, que se retroalimentam podendo modificar-se durante
toda a vida. É portando causa e consequência do desenvolvimento do sistema
nervoso. Causa porque a criança, a partir das interações sociais, aprende a focalizar
sua atenção, o que contribui para o desenvolvimento dos circuitos neuronais que dão
suporte biológico a esta função. Consequência porque à medida que os circuitos
neuronais vão sendo otimizados aumenta-se a possibilidade de estar atento.

Podemos dizer que a atenção é uma função plástica moldada através de processos
sociais que tem o poder de atuar sobre a plasticidade do tecido nervoso, modificando-o
para que seja otimizada a sua possibilidade de atuação em resposta aos processos
sociais que solicitam a mobilização da atenção.

Nos primeiros meses de vida há um grande predomínio da atenção involuntária, esta é


atraída pelos estímulos mais poderosos ou biologicamente significativos. Este tipo de
atenção quando mobilizado leva a manifestações como voltar os olhos em direção ao
estímulo, parar outras formas de atividades irrelevantes no momento. O exemplo
clássico é o do recém-nascido que para os movimentos de sucção por ocasião da
apresentação de estímulos luminosos. Nota-se portanto que mesmo tendo um caráter
involuntário, a reação de orientação pode ter caráter seletivo, criando a base para o
comportamento organizado, direcional e seletivo.

A atenção voluntária, vai sendo desenvolvida gradativamente, e a criança só adquire


uma atenção estável e socialmente organizada próximo à idade escolar.

No inicio do segundo ano de vida em resposta a uma pergunta simples do tipo onde
está a boneca? A criança dirige-se para o objeto nomeado e procura pegá-lo. Se for
colocado ao lado da criança um objeto não familiar, ao mesmo tempo em que se
solicita a boneca, a criança ao invés de se deter na boneca se detém no outro objeto.
Este estágio de desenvolvimento vai mais ou menos dos 18 aos 28 meses, nele a
resposta de orientação a um estímulo novo suprime com facilidade a forma superior de
atenção socialmente organizada que começou a aparecer. Uma instrução falada é
ainda facilmente sobrepujada pelas informações visuais.

Durante toda a vida a visão constitui-se num sentido que tende a sobrepujar os
demais, e por isto, objetos inseridos no campo visual tendem a atrair a atenção com
grande facilidade. Por este motivo, brincadeiras de cabra cega e outras similares em
que se priva o sujeito da visão colaboram para mobilizar e desenvolver a atenção a
partir de informações provenientes dos outros sentidos.

Por volta dos cinco anos de idade a capacidade de obedecer a uma instrução falada se
torna suficientemente forte permitindo que a criança facilmente elimine os fatores
irrelevantes, distrativos, mas ainda podem aparecer sinais de instabilidade das formas
superiores da atenção.

Na idade escolar está estabelecido um comportamento seletivo estável subordinado á


fala audível de um adulto e a fala interior da própria criança. Muitas vezes a criança lê
em voz alta como forma de reforçar sua atenção pela entrada de informações
auditivas.

A atenção desenvolve-se gradualmente e o ritmo de desenvolvimento é diferente de


uma criança para outra, sendo que as crianças com Déficit de Atenção mostram uma
capacidade para manter a atenção seletiva semelhante à de crianças de idade inferior,
e menor que de seus colegas de mesma idade e sem problemas de aprendizagem.

Interação ente atenção - afetividade.

No processo de aprendizagem temos um imbricamento de funções. De maneira geral


podemos dizer que a afetividade mobiliza a nossa vontade, que mobiliza a atenção de
maneira voluntária para aquilo que vai de encontro ao nosso interesse, colocando o
estímulo no centro de nossa atenção.

Uma vez mobilizada a atenção há um direcionamento dos canais sensoriais para


captarem estímulos oriundos do objeto ou situação que despertou nosso interesse.
Estes estímulos são enviados para o sistema nervoso central, sendo interpretados em
nível encefálico em diversas áreas do cérebro. O novo e o antigo são comparados, as
informações julgadas relevantes são consolidadas e armazenadas no cérebro em
associação direta com outras memórias do mesmo tipo.

A motivação para se manter a atenção direcionada aos estímulos que a estão


solicitando, bem como para julgar se as informações e o pensamento a ela associados
são importantes a ponto de merecerem fazer parte de nossa memória, é dada
principalmente pelo sistema límbico. Os estímulos sensoriais que causam dor ou
aversão excitam os centros de punição límbicos, enquanto os estímulos que causam
prazer, felicidade ou recompensa excitam os centros de premiação límbicos.

Esquematicamente teríamos: afetividade-vontade-atenção-memória-pensamento.

A atenção e a memória tem um papel fundamental para o desenvolvimento da mente


que usa como principal instrumento o pensamento. De acordo com Pernambuco (1991)
“pensar” segundo uma visão psicanalítica, pode ser entendido como “incorporar o
mundo”, ou seja, é o processo pelo qual tomamos contato com a realidade e a
tornamos algo internalizado, que faz parte de nosso cabedal, e que pode ser
reaproveitado em novos contatos com a realidade.

Estas modificações do sistema nervoso são indispensáveis para a consolidação da


memória, que é um dos requisitos fundamentais para a aprendizagem, porém elas não
ocorrerão a contento se não houver mobilização e tenacidade da atenção voluntária.
Segundo (Guyton & Hall, 1997) estudos psicológicos mostraram que a repetição
continuada de uma mesma informação na mente acelera e potencia o grau de
transferência de memória a curto prazo para memória a longo prazo e, portanto,
acelera e potencia a consolidação, pois o cérebro tem uma tendência natural a repetir
as informações recém-descobertas, especialmente as que chamam a atenção. Isto
segundo os autores explica porque uma pessoa pode lembrar pequenas quantidades
de informação estudadas a fundo muito melhor do que grandes quantidades estudadas
superficialmente.

A apresentação de um estímulo especial (visual, acústico, táctil ou doloroso) evoca


uma resposta elétrica nas áreas sensoriais primárias do córtex cerebral. Vamos
imaginar que este estímulo seja uma música que o sujeito está ouvindo usando um
fone de ouvido sem a preocupação de atentar-se para a letra. Se a televisão for ligada
de imediato há uma inibição na área auditiva primária, demonstrando os efeitos da
distração causada por estímulos irrelevantes sobre a atenção. Por outro lado, se o
sujeito receber uma instrução do tipo conte o número de vezes que a palavra amor
aparecer na música a atenção é então atraída pela expectativa ativa e há um
apreciável aumento da atividade na área auditiva primária.

Luria (1981) argumenta que o aumento da amplitude dos potenciais evocados sob a
influência de uma instrução falada, mobilizadora da atenção, é mal definido na criança
de idade pré-escolar, mas vai se formando gradualmente e aparece de forma precisa e
estável por volta dos 12 a 15 anos. Chama atenção para o fato de que é nesta idade
que mudanças claras e duradouras nos potenciais evocados começam a surgir não
somente nas áreas sensoriais do córtex como também nas zonas frontais que estão
começando a desempenhar um papel mais íntimo nas formas complexas e estáveis da
atenção superior, voluntária.(Em outras palavras a atenção intelectual está mais
desenvolvida.).

Partindo-se do principio que a plasticidade neuronal envolvida no desempenho de uma


função cerebral é máxima quando esta função ainda está em desenvolvimento, e que
tal plasticidade reduz-se bastante quando a função se estabiliza, o trabalho de
otimização da atenção voluntária através de instruções faladas deve iniciar-se na idade
pré-escolar e ser intenso até por volta dos quinze anos de idade.

É preciso ter em mente que a atenção voluntária embora precise de um suporte


biológico para ocorrer, sua origem não é biológica e sim social.

É preciso salientar que a atenção voluntária é base fundamental para a aprendizagem,


mas ela também é desenvolvida através da aprendizagem, daí seu desenvolvimento
gradativo e sua forte vinculação com a linguagem.

A atenção voluntária enquanto função mental é operacionalizada a partir de um


substrato biológico (formação reticular do tronco encefálico, sistema límbico, córtex
pré-frontal). Quando este tipo de atenção começa a se desenvolver a partir das
interações com o adulto os circuitos neuronais e as bases cognitivas da criança ainda
são frágeis, por isto ela se distrai facilmente. À medida que a criança é estimulada, que
os objetos vão sendo nomeados ela vai construindo o seu léxico interno. Ao adquirir a
capacidade de nomear os objetos consegue sua autonomia, deixando claro a
importância da linguagem para dar significado as coisas e acontecimentos do mundo
de maneira a permitir ao sujeito considerá-los significantes ou não para ocuparem o
foco central de sua atenção.

Considerando os trabalhos de investigação nas diferentes habilidades: visuais, motoras


e cognitivas, percebe-se que é importante compreender melhor alguns aspectos que
envolvem diretamente a atenção.

De acordo com NAGLIERI e ROJAHN (2001), a atenção é um dos processos


importantes que afetam muitas áreas da vida diária dos indivíduos, como o rendimento
escolar.

Na concepção de LURIA (1981) o homem recebe um imenso número de estímulos,


mas seleciona os mais importantes, ignorando os restantes. Potencialmente ele faria
um grande número de movimentos, mas destaca poucos movimentos racionais, que
integram suas habilidades, e inibe outros. Entre o grande número de associações
possíveis que existe, ele conserva apenas algumas, essenciais para a sua atividade, e
abstrai- se das outras que dificultam o processo racional de pensamento. A seleção da
informação necessária, o asseguramento dos programas seletivos de ação e a
manutenção de um controle permanente sobre ele são convencionalmente chamados
de atenção. O caráter seletivo da atividade consciente, que é função da atenção,
manifesta-se igualmente na percepção, nos processos motores e no pensamento,
complementa Luria (1981).

Para este autor, existem pelo menos dois grupos de fatores que são determinantes da
atenção e que asseguram o caráter seletivo dos processos psíquicos que determinam
tanto a orientação como o volume e a estabilidade da atividade consciente. O primeiro
desses grupos é constituído por estímulos exteriores; o segundo grupo é constituído de
fatores relacionados “com o próprio sujeito e com a estrutura de sua atividade”. Para o
estudo dos mecanismos neurofisiológicos da atenção é fundamental o fato de que o
caráter seletivo da ocorrência dos processos psíquicos, característicos da atenção,
pode ser assegurado apenas pelo estado de vigília do córtex, do qual é típico um nível
ótimo de excitabilidade. Esse nível de vigília (excitabilidade) é assegurado pelos
mecanismos de manutenção do tônus cortical.

De acordo com ASTON-JONES et al. (1999), a atenção pode ser vista de acordo com
três aspectos distintos. O primeiro diz respeito à orientação para os eventos sensoriais,
que são as diferentes formas de atenção: motora, visomotora, auditiva etc. O segundo
refere-se ao controle executivo que relaciona a atenção à memória semântica e à
linguagem. O terceiro é o estado de vigília e alerta sustentado que prepara o sistema
nervoso para os aspectos anteriormente mencionados.

Sabe-se que o nível de vigília e alerta pode variar desde o coma profundo até um
estado de hiperalerta ansioso (WEINTRAUB e MESULAM, 1985). Esse nível pode ser
definido operacionalmente pela intensidade de estímulo necessário para desencadear
uma resposta do indivíduo. A qualidade da resposta em função da intensidade do
estímulo permite caracterizar estados como "estupor", "sonolência", "alerta" e
"hiperalerta" que descrevem, em ordem ascendente, os níveis de vigília e alerta de
uma pessoa.

Segundo WEINTRAUB e MESULAM (1985), as funções atencionais são divididas em


duas grandes categorias. Uma categoria, geralmente associada com as funções das
vias reticulares ascendentes e com o lobo frontal, é responsável pela manutenção de
um tono, ou matriz, atencional geral. Termos como "vigília", "concentração" e
"perseverança" são utilizados para descrever os aspectos positivos dessa matriz
atencional. Qualquer distúrbio nessa matriz atencional leva à impersistência,
perseveração, distratibilidade, vulnerabilidade aumentada à interferência e inabilidade
peculiar para inibir tendências de respostas imediatas, mas não apropriadas.

A focalização e a concentração da consciência são a essência da atenção. Isso implica


privar-se de algumas coisas a fim de interagir eficientemente com outras (ASTON-
JONES et al., 1999; KANDEL et al., 2000).

No homem, o estado de vigília manifesta-se subjetivamente pela consciência do que


está ocorrendo no meio externo ou no próprio organismo. A consciência, através do
estado de alerta (atenção), só permite avaliar o que está ocorrendo em uma
estreitíssima faixa; todo o restante das alterações do meio ambiente e do próprio
organismo é avaliado apenas inconscientemente. Embora seja difícil separá-los,
aparentemente existe um alerta inespecífico, geral, e alertas específicos (várias formas
de atenção: visual, auditiva, visomotora etc.). Os alertas específicos (atenção) se
centram numa faixa estreita de alerta que possibilita a análise de uma quantidade
restrita de informação ao mesmo tempo (TIMO-IARIA, no prelo).

LURIA (1981) afirma que seria um engano imaginar que a atenção da criança pequena
pudesse ser atraída somente por estímulos poderosos e novos ou por estímulos
ligados à exigência imediata. Ele ressalta que a criança vive em um ambiente de
adultos. Quando a mãe nomeia um objeto e o aponta com o dedo, a atenção da
criança é atraída para aquele objeto que, assim, começa a se sobressair dentre os
demais, não importando se ele origina um estímulo forte, novo ou importante.

Dessa forma, continua LURIA (1981), o processo de atenção pode ser observado não
apenas durante o comportamento organizado, seletivo, mas reflete-se também em
indicadores fisiológicos precisos, que podem ser usados para estudar a estabilidade da
atenção.

Além dos trabalhos clássicos referidos por LURIA (1981) abordando os processos da
atenção, outros mais recentes têm demonstrado que o desenvolvimento da atenção
passa pelo desenvolvimento de mecanismos cerebrais inibitórios (van der MOLEN,
2000).

Deve-se entender inibição como o processo da supressão (ou redução) das funções de
uma estrutura ou um órgão pela ação de um outro. Enquanto a capacidade de executar
as funções da estrutura suprimida é mantida, ela pode se manifestar tão logo a ação
supressora seja removida. Tradicionalmente, as teorias do desenvolvimento enfatizam
a importância das mudanças na capacidade de armazenar e processar informação
durante o desenvolvimento cognitivo (van der MOLEN, 2000).

A ideia, prossegue ainda o pesquisador, de que os processos inibitórios no sistema


nervoso também podem contribuir paras as mudanças do desenvolvimento surgiu
muito lentamente a partir de investigações recentes sobre o desenvolvimento cognitivo
em crianças e sobre outros aspectos do comportamento. Essa visão de uma
participação crucial das funções inibitórias durante o desenvolvimento decorre de
achados sobre diferenças etárias na habilidade a partir da aplicação de uma grande
variedade de tarefas que exigiam inibição para a sua execução. Ele exemplifica com o
dado de que a criança, à medida que se torna mais adulta, vai se tornando mais apta a
suprimir respostas reflexas. A criança torna-se menos sensível aos ruídos, em tarefas
que exigem atenção seletiva, e a distratores, em tarefas que envolvem memorização.

Nessa mesma revisão, van der MOLEN (2000) assume que os processos inibitórios se
tornam mais eficientes ao longo da infância, possibilitando uma entrada menor de
informação irrelevante para a memória de trabalho e aumentando, assim, a capacidade
funcional da criança. Essa hipótese se assenta na ideia de que a eficiência do
processamento se dá em função das velocidades de ativação e inibição em termos de
um processo que bloquearia o alastramento da ativação. Essas mudanças na
eficiência de processamento e inibição cerebral ao longo do desenvolvimento da
criança estariam ligadas à maturação do sistema nervoso e, mais notoriamente, à
formação da mielina. A mielinização aumentaria a transmissão linear entre grupos de
células nervosas e reduziria a transmissão lateral (alastramento). Segundo essa
hipótese, o efeito combinado do aumento na velocidade linear de transmissão da
informação nervosa e a redução na interferência potencial entre outros grupamentos
neuronais, num dado processamento, vai resultar em melhor disponibilidade de
armazenamento da memória de curto prazo, de forma a se poder processar outra
informação ou executar uma outra tarefa.

Finalmente, ainda segundo o mesmo autor, revisões recentes sobre a relação entre o
desenvolvimento cognitivo e a maturação cerebral têm ressaltado que os resultados de
vários paradigmas experimentais têm sido consistentes com a noção do crescimento
no desenvolvimento cognitivo associado à eficiência dos processos inibitórios. Essas
evidências incluem achados a partir de tarefas de atenção seletiva, tarefas de
memória, tarefas que requerem habilidade para inibir respostas motoras (incluindo
tarefas de “sinal-de-pare”).
Segundo BRODEUR e POND (2001), muitos estudos sobre o desenvolvimento da
atenção têm consistentemente demonstrado que as crianças melhoram
consideravelmente sua capacidade de responder seletivamente a diferentes estímulos
do meio ambiente aos três e 12 anos. As crianças com desordem de déficit de atenção
parecem demonstrar deficiências em algumas condições seletivas de atenção, mas
não em outras. Por exemplo: crianças com déficit de atenção demonstram dificuldade
em tarefas em que é importante ignorar e inibir respostas a estímulos irrelevantes, mas
desempenham adequadamente tarefas que requerem memória de localização
espacial. Os autores relatam ainda experimentos recentes que têm demonstrado não
existirem diferenças entre o desempenho de crianças com déficit de atenção e o de
crianças normais em tarefas que envolvem habilidades relacionadas à velocidade de
classificação ou habilidades de atenção auditiva seletiva.

Ainda de acordo com BRACY (1995), o primeiro grupo de habilidades (básico) é


representado por aquelas que contribuem para a interface que possibilita receber e
utilizar apropriadamente as informações provenientes dos sistemas sensoriais –
referidas como habilidades executivas da atenção ou habilidades atencionais. Essas
habilidades devem capacitar o indivíduo a monitorar constantemente as informações
provenientes do meio ambiente; reconhecer o que é importante, focalizar o que é
essencial e monitorar uma atividade permanente; continuar monitorando outras
informações como atividade de fundo; alternar entre o que é monitoração de fundo ou
de foco, de acordo com a necessidade; manter o foco por toda a duração do evento
focado e compartilhar o foco com múltiplos eventos, de acordo com a necessidade.

Para HALPERIN (1991), a atenção é o processo de selecionar, a partir do nosso meio,


o que é relevante para o comportamento corrente e ignorar aquilo que não é relevante.
Uma forma eficiente de se avaliar essa capacidade seria através de testes
de performance continuada (TOLEDO, 1999).

De acordo com TOLEDO (1999), o “teste de cancelamento com lápis e papel” é um


teste de performance continuada que avalia a atenção sustentada enfatizando
aspectos da atenção visual.

GELDMACHER (1996) afirma que os testes de cancelamento são comumente


utilizados na avaliação clínica de disfunções vísuoespaciais. Todos os testes de
cancelamento envolvem a identificação e marcação de um determinado estímulo-alvo,
que podem variar quanto à forma e dimensão.

Segundo GELDMACHER (1998), as tarefas de cancelamento são “testes de lápis e


papel” de atenção seletiva e direcionada e têm sido largamente utilizadas nas
avaliações neurológicas, neuropsicológicas e na investigação da atenção seletiva em
indivíduos saudáveis. Dessa forma, os testes podem ser adaptados para diferentes
graus de dificuldade e de exigência da atenção do indivíduo, visto que tais testes de
cancelamento requerem desempenho contínuo e atenção sustentada.
RELAÇÕES ENTRE ESTIMULAÇÃO,
APRENDIZAGEM E PLASTICIDADE
CEREBRAL
Até pouco tempo, acreditava-se que após o nascimento, os neurônios eram incapazes
de se recuperar de lesões e não podiam se autorreproduzir. No entanto, atualmente
sabemos que essa teoria não é completamente verdadeira. No sistema nervoso
periférico está bem estabelecida a capacidade de regeneração dos nervos e
terminações nervosas. E, no sistema nervoso central (SNC), diversos estudos
científicos têm mostrado que os neurônios são capazes de regenerar, se modificar
durante toda a vida, e até mesmo de se autorreproduzirem em alguns locais do
cérebro. Essa capacidade adaptativa do SNC, a habilidade para modificar sua
organização estrutural e funcional em resposta à experiência, ou seja aos estímulos
ambientais denomina-se Plasticidade cerebral.

Essa capacidade de adaptar-se, e modificar-se ocorre através dos seguintes


dispositivos:

eliminação dos neurônios que não são utilizados;


manutenção do dinamismo morfológico e funcional daqueles neurônios que são
utilizados, através do crescimento dos seus dendritos e axônios;
modificação na produção das substâncias neurotransmissoras (moléculas
químicas);
modificação das estruturas envolvidas nas sinapses (dendritos, espinhas
dendríticas, terminal axônico);
formação de novas sinapses.

Nas sinapses, os impulsos nervosos (informações) chegam através dos axônios e


provocam a liberação de neurotransmissores nos locais de “contato”, que podem ser
nos no corpo celular, axônio, dendritos, sendo que este último representa o maior local
de sinapses. Mais dendritos significa mais conexões, e menos dendritos, menos
conexões. A alteração na estrutura dendrítica, implica alteração na organização
sináptica.

Assim, através das sinapses, as informações são transportadas, processadas e


armazenadas no SNC, e representam o fenômeno biológico envolvido com atividades
cognitivas como memória, inteligência e comportamentos e outras atividades não
cognitivas.

Todas as atividades como caminhar, dançar, escrever, ler um livro, memorizar a tabela
periódica tem o envolvimento de sinapses. Novos aprendizados, desenvolvem novas
sinapses, que aumentam o número de comunicações entre os neurônios que são
solicitados para o desempenho de atividades físicas e mentais (vida de relação) e para
o controle de nossas funções vitais (vida vegetativa).

Devido a sua plasticidade, nosso cérebro irá constituir-se durante toda a vida numa
obra de arte inacabada pois, a cada novo estímulo, a cada nova necessidade de
interação e, principalmente, a cada nova aprendizagem, novos circuitos neuronais são
ativados, novas sinapses são formadas. Os neurônios envolvidos aumentam o seu
vigor funcional reduzindo a possibilidade de serem eliminados através da apoptose.

Ao nascimento, o número de neurônios existentes em nosso sistema nervoso é muito


maior do que precisamos para realizar nossas atividades físicas e mentais, no entanto,
o bebê não consegue realizar tarefas que parecem simples como falar, controlar o ato
de urinar, e,simplesmente ficar de pé. Isto decorre da imaturidade biológica do sistema
nervoso, apesar de ter número excessivo de neurônios, estas células ainda não estão
se comunicando adequadamente, devido às poucas conexões neuronais e ao
processo de mielinização incompleto.

Á medida que novos estímulos vão sendo incorporados na vida deste sujeito, novas
conexões são exigidas, e os comportamentos motores, intelectuais, e vegetativos
sofrem processo de amadurecimento.

A plasticidade cerebral não se deve apenas à resposta a eventos externos ao


organismo, mas também à eventos internos, incluindo efeitos hormonais, lesões e
genes anormais.

Como a experiência altera a estrutura cerebral?

Inicialmente é necessário fazer uma reflexão acerca dos locais onde se processam as
funções cognitivas. A inteligência é o produto da exploração de inúmeras informações
visuais, táteis, auditivas, olfativas e gustativas processadas e armazenadas pelo
cérebro. O substrato biológico dessas funções pode ser representado pelas estruturas
que constituem o córtex cerebral (células nervosas e suas conexões).

Em uma das experiências científicas para se comprovar os efeitos do meio ambiente


na plasticidade cerebral, os cientistas criaram dois grupos de ratos. O primeiro grupo
foi criado num laboratório dentro de uma gaiola, com apenas água e comida. O outro
grupo foi criado numa gaiola repleta de objetos de diferentes cores e formas, uma
rampa que dava acesso a um andar superior da gaiola. Ou seja, estes animais além
dos estímulos cognitivos, como visualizar, tocar os objetos diferentes, ainda faziam
atividades físicas.

Quando se fazia testes de inteligência (adaptados para os ratos) os animais da


segunda gaiola tinham desempenho muito melhor. Em outro experimento os cientistas
procederam com o mesmo método, mas analisaram a estrutura do cérebro através de
técnicas histológicas. O primeiro dado interessante foi que houve aumento na
espessura do córtex cerebral. E esse aumento não era devido apenas ao maior
número de células nervosas, mas também ao aumento expressivo das ramificações
neuronais, ou seja, os dendritos e axônios. Em reposta aos estímulos, as partes dos
neurônios que mais se modificaram foram os dendritos, e isto significa que no córtex
cerebral a intercomunicação entre as células. Ou seja, a experiência altera a estrutura
dos neurônios no cérebro, especialmente no córtex. O maior número de estruturas
envolvidas nas sinapses, e portanto o maior número de sinapses. Essas informações
nos levam à ideia de que, a experiência alterando a morfologia, altera o funcionamento
e provavelmente o comportamento do indivíduo. Frente aos estímulos o indivíduo teria
mais opções de respostas.

Nos seres humanos , diversos casos relatados na literatura e novos exames por
método de ressonância magnética funcional sugerem que a plasticidade cerebral
observada nos ratos pode ser extrapolada para os seres humanos. Tarefas mentais
como ouvir, falar, fazer um cálculo ou lembrar de algum fato faz áreas diferentes do
cérebro aumentar o seu metabolismo, ou seja consumir mais glicose, e provavelmente
realizar mais sinapses.
Uma questão importante a ser definida é: quanto tempo dura a plasticidade cerebral? A
vida toda, no entanto, ela é máxima aos 7 anos de idade mais ou menos e diminui com
o envelhecimento. Caso interessante relacionando ao tempo de duração da
plasticidade cerebral, pode ser constato por estudo realizado com freiras católicas
vivendo em um convento nos Estados Unidos. As freiras apresentavam uma
longevidade maior do que o restante da população (várias tinham mais de 100 anos).
Aquelas que viviam mais, eram aquelas que praticavam atividades como ensino,
pintura, palavras cruzadas.

Do mesmo modo que a estimulação causa o enriquecimento do nosso cérebro, a falta


dela no início da vida pode ser desastrosa. Crianças abandonadas em orfanatos,
vivendo em ambientes sem praticamente nenhum estímulo ambiental, sem interação
pessoal com os adultos apresentaram desenvolvimento motor e cognitivo semelhante a
crianças com retardo. Um caso que pode ilustrar o texto acima aconteceu com uma
garota que experimentou severas privações sociais, intelectuais e desnutrição crônica
devido a um pai psicótico. Quando foi encontrada aos 13 anos, após ter passado
grande parte de sua vida em um quarto fechado e ser punida por fazer qualquer
barulho, apresentava baixo desenvolvimento. Após trabalho de reintegração dessa
criança, apresentou rápido crescimento e desenvolvimento cognitivo, mas o
desenvolvimento da linguagem permaneceu gravemente retardado. Tais fatos nos
mostram que há um período crítico, ou seja um período do desenvolvimento no qual
algum evento possui uma influência duradoura sobre o cérebro. Por exemplo, para a
linguagem esse período crítico ocorre até os 12 anos de idade aproximadamente.

Sugere-se que a inteligência deve ser influenciada pela experiência. E pode-se dizer
que pessoas educadas em ambientes estimulantes maximizariam seu desenvolvimento
intelectual, e as pessoas criadas em ambientes empobrecidos não atingiriam seu
potencial intelectual.

Há que se tomar cuidado com o significado de ambiente enriquecedor. Por exemplo,


pessoas que vivem em condições de vida precária (ex. favela), não tem o que se pode
chamar de ambiente enriquecedor, mas não significa que não tenha estímulos
cognitivos.

Se as conexões são a chave para o aprendizado, e se a maioria dos neurônios não se


reproduz durante a vida, como essas células conseguem manter esse vigor físico
necessário para suportar a plasticidade cerebral? A reposta vem de substâncias
químicas produzidas pelas próprias células nervosas, denominadas de fatores
neurotróficos, e que agem como nutrientes para os neurônios, promovendo a “saúde”
destas células e otimizando a sua capacidade de realizar novas sinapses.

A quantidade dos fatores neurotróficos está relacionada a vários fatores:

à própria atividade das células, ou seja, quanto mais ativas as células nervosas,
maior a produção destas moléculas;
tipos específicos de estimulação sensorial, principalmente aquelas fora da rotina,
produzem novos padrões de atividades nos circuitos nervosos, e levam à sua
maior produção;
stress provoca o aumento de hormônios corticosteróides, que diminui a
disponibilidade dos fatores neurotróficos.
atividade física aeróbica aumenta a disponibilidade dos fatores neurotróficos.

Deve ficar claro a definição de novas e ricas estimulações para o cérebro e o seu
limite. Pois o excesso de estímulos provoca uma sobrecarga, que conduz ao stress. E
na intenção de estar otimizando o funcionamento cerebral, muitas pessoas acabam por
uma caminho reverso. Ou seja, submetidos ao stress e os efeitos negativos cerebrais,
como diminuição da memória e consequentemente do aprendizado.

Como a mente possui um substrato orgânico, representado pelo sistema nervoso, em


especial pelo cérebro, que dá suporte ao componente psíquico, podemos inferir que a
ampliação da malha neuronal abre novos caminhos que aumentam a capacidade do
cérebro processar o conhecimento através de suas funções neuropsicológicas. Nesta
visão de que funções neuropsicológicas são funções mentais, cuja manifestação
concreta é a capacidade de pensar, pode-se entender a plasticidade como algo muito
mais amplo do que um mero somatório de mecanismos neurofisiológicos adaptativos
que conferem ao sistema nervoso maior ou menor complexidade e sim como algo que
também possibilita ao sujeito durante toda a sua vida modificar ou ampliar a sua
capacidade de pensar.
MEMÓRIA E APRENDIZAGEM

CONCEITO
Memória consiste no processo mediante o qual se adquire, se forma, se
conserva e se evoca a informação.

Muitas das experiências que vivenciamos não esquecemos. Por exemplo, uma visita
às Cataratas do Iguaçu. A exuberância da natureza combinada com a abundância e a
fúria das águas. Cada pessoa guardará essas imagens de forma particular, pois a
memória mescla experiências vividas no ambiente com as nossas vivências interiores.
Assim somos seres "únicos" porque aprendemos e lembramos das nossas
experiências. O conjunto de memórias de cada um determina aquilo que se denomina
personalidade ou forma de ser.

Poderíamos nos perguntar, mas afinal como se processa a memória? Se


fôssemosdefini-la de uma forma simples poderíamos dizer que memória é a aquisição,
o armazenamento e a evocação de informações. A aquisição é também denominada
de aprendizado. A evocação é também chamada recordação, lembrança, recuperação.

A memória de trabalho, também chamada de memória operacional, é a interface entre


a percepção da realidade pelos sentidos e a formação ou evocação de memórias. Para
exemplificar a memória de trabalho poderíamos dizer que é a memória de um número
telefônico que alguém nos diz e esquecemos logo depois de discar. A memória de
trabalho não forma arquivos duradouros, nem deixa traços bioquímicos. É
funcionalmente distinta dos outros tipos de memória, as quais formam arquivos por
meio de uma seqüência de eventos bioquímicos.

Costumamos classificar as memórias, em relação ao seu conteúdo, em dois grandes


grupos: as memórias declarativas (aquelas para fatos ou eventos e qualquer
informação que possa ser expressa conscientemente) e as memórias procedurais, as
quais envolvem basicamente habilidades motoras e/ou sensoriais, também chamadas
de hábitos. O processamento das memórias declarativas envolve o hipocampo, córtex
entorrinal, além de outras estruturas corticais. Entre as memórias declarativas, aquelas
que são mais "carregadas" emocionalmente (aversivas, emocionais) são fortemente
moduladas pela amígdala (conjunto de núcleos nervosos situados nos lobos
temporais). As memórias declarativas sofrem influência do estresse, do humor e da
motivação. As memórias procedurais ou implícitas são adquiridas gradativamente e,
além disso, evocadas de modo inconsciente. Para exemplicar melhor: as memórias
procedurais são as nossas habilidades de montar quebra-cabeças, andar de bicicleta,
nadar. As memórias de procedimentos ou implícitas sofrem pouca modulação pelas
emoções e estados de ânimo.

Do ponto de vista de duração, as memórias classificam-se em curta duração, a qual


dura de alguns minutos a poucas horas, e a memória de longa duração que permanece
dias, semanas e anos. Ambas possuem alterações (traços) bioquímicos. As memórias
de curta e de longa duração são processos separados, mas interdependentes.
A memória é uma função do sistema nervoso. Os neurônios (células nervosas) emitem
prolongamentos aos quais chamamos de axônios, que enviam informações através da
liberação de substâncias, e dendritos que recebem as substâncias liberadas pelas
terminações dos axônios. As substâncias liberadas pelos axônios são chamadas de
neurotransmissores. Os neurotransmissores ao serem liberados em uma pequena
fenda entre os neurônios, denominada sinapse, ligam-se em proteínas da superfície
celular, denominadas receptores. O glutamato é o principal neurotransmissor
excitatório (o qual apresenta um papel fundamental na memória), enquanto o ácido
gama amino butírico (GABA) é o principal neurotransmissor inibitório. Existem muitos
outros aos quais chamamos de neuromoduladores: a serotonina, a dopamina, a
acetilcolina, a noradrenalina. Esses neuromoduladores modulam a memória e estão
diretamente relacionados com o processamento das emoções, com o nível de alerta e
estados de ânimo. Todos sabemos como é fácil aprender ou evocar algo quando
estamos atentos e de bom humor, ao contrário, o quanto nos custa aprender qualquer
coisa ou até lembrar coisas simples quando estamos cansados, deprimidos ou muito
estressados. Todo esse processo é regulado por sinapses noradrenérgicas,
dopaminérgicas e serotonérgicas.

Além dos moduladores citados acima, a consolidação (armazenamento) da memória


de longa duração sofre influência dos "hormônios do estresse", ß- endorfina,
adrenocorticotropina (ACTH), os corticóides, adrenalina, noradrenalina e vasopressina
circulantes. Todos esses hormônios atuam através do núcleo basolateral da amígdala
(responsável pela mediação de memórias emocionais). Com exceção da ß- endorfina,
que inibe a consolidação da memória em qualquer dose, os demais "hormônios do
estresse" melhoram a consolidação em níveis moderados e a inibem em doses ou
concentrações elevadas. Isso explica o que chamamos de "branco" quando estamos
excessivamente estressados.

Nos últimos 15 anos houve um grande avanço nas neurociências, especialmente em


relação aos mecanismos fisiológicos e moleculares da formação, consolidação e
evocação da memória. No entanto, desde o final do século XIX que Ramon y Cajal
(1893), postulou corretamente que as memórias consistem na modificação na forma e
na função das sinapses envolvidas na formação dessas memórias. Esse processo de
modificação sináptica chamamos de plasticidade neuronal. Cada experiência
vivenciada estimula o processo de plasticidade neuronal em diferentes espécies, que
vão desde invertebrados aos humanos.

Embora possamos armazenar tantas experiências quanto possível, podemos dizer que
tão importante quanto o armazenamento de informações é o seu esquecimento. O
fenômeno do esquecimento é fisiológico e desempenha um papel adaptativo. Imagine
só se fôssemos capazes de "guardar" tudo aquilo que vivenciamos com uma riqueza
de detalhes, seria praticamente impossível, pois levaríamos boa parte do nosso tempo
recordando cada detalhe vivenciado. No entanto, quando o esquecimento é patológico,
e prejudica de maneira irreversível a vida cognitiva do indivíduo, estamos diante de um
quadro de doença neurodegenerativa. A mais comum delas é a doença de Alzheimer.
Na sua fase inicial o indivíduo esquece fatos mais recentes. À medida que a doença
evolui, a memória remota do paciente é afetada, culminando com o não
reconhecimento dos parentes e pessoas mais próximas, perda das habilidades e por
fim da sua própria identidade. Essas lesões ocorrem inicialmente no córtex entorrinal e,
a seguir, no hipocampo. A utilização de fármacos para o tratamento da doença de
Alzheimer, bem como de outras demências, até o momento, são pouco específicos e
eficazes. Porém, está bastante claro que o exercício contínuo da memória em suas
diversas formas pode prevenir ou ao menos retardar o aparecimento das demências e
da doença de Alzheimer.
FUNÇÕES NEUROPSICOLÓGICAS
A avaliação neuropsicológica busca investigar quais são as funções neuropsicológicas
que estão envolvidas em processos cerebrais mais complexos (Andrade, 2004). Por
isso se faz necessário que se tenha clareza de quais são essas funções, o que elas
compreendem, em que estão relacionadas e assim por diante.

Desta forma segue-se uma breve descrição das funções cognitivas que são
investigadas durante a avaliação neuropsicológica:

Funções cognitivas Conceito

Atenção Função mental complexa que corresponde


à capacidade do indivíduo de focalizar a
mente e algum aspecto do ambiente ou de
algum conteúdo da própria mente. (Laks,
Rozenthal, Engelhardt,1996)

Memória Sistema integrado que permite tanto


processamento ativo quanto
armazenamento transitório de informações.
Inclui as habilidades de armazenar,
recordar e reconhecer conscientemente
fatos e acontecimentos envolvidos em
tarefas cognitivas, tais como: compreensão,
aprendizado e raciocínio.

Táctil-Cinestésica Reconhecer objetos, através do tato, sua


forma e tamanho sem ajuda da visão, e
reconhecer sensações tácteis em sua
localização no corpo, intensidade e direção.
Quem possui inteligência cinestésica tem a
habilidade para usar a coordenação grossa
ou fina na finalidade que precisar.

Funções motoras Implica na análise das praxias, isto é, das


formas complexas da construção dos
movimentos voluntários (tônus muscular,
sistema ótico-espacial, regulação verbal do
ato motor).

Funções Superiores Capacidade global agregada do individuo


agir com propósito, pensar racionalmente e
lidar efetivamente com o meio que está
inserido. Reflete a soma das experiências
aprendidas pelo indivíduo que permitem
conceituar, organizar, desenvolver, resolver
problemas e ser criativo.
CONTRIBUIÇÕES DA
NEUROPSICOLOGIA PARA A
INCLUSÃO SOCIAL
Essa preocupação com outros aspectos da vida (como a escolar e a familiar) das
crianças atendidas é o que insere a neuropsicologia numa perspectiva de inclusão
social, ao relevar que as dificuldades não limitam a vida dessas crianças e sim apenas
conferem necessidades que exigem novas estratégias de intervenção.

Quando tratamos de necessidades especiais de ordem cognitiva, uma vez que


crianças que apresentam funções comprometidas necessitam de recursos alternativos
tanto em casa quanto na escola, a intervenção deve buscar minimizar essas
dificuldades e promover aprendizagens.

No âmbito familiar a aceitação das dificuldades é o primeiro passo. É muito difícil para
um pai assumir que seu filho tenha alguma necessidade especial. A sociabilização
pode estar comprometida, pois a família é a responsável pela estruturação de suas
primeiras relações sociais: como esta pessoa se vê e como ela é vista pela família.

Dentro da escola, o contexto de atender necessidades especiais torna-se mais


complexo já que a escola é o local onde a criança experiencia novas relações sociais e
exercita as relações estruturadas no núcleo familiar. Também é o local onde ela é
exigida em conteúdos acadêmicos, que por sua vez exigem a integridade de suas
funções cognitivas. Em crianças que requerem necessidades educacionais especiais,
as exigências acadêmicas devem ser adaptadas as suas reais capacidades.

Por fim, o aspecto primordial da inclusão sempre é o indivíduo em si, com suas
potencialidades e dificuldades, auto-estima e temores, habilidades e necessidades.

A nossa experiência mostra que a visualização, aceitação e superação dessas


necessidades por parte dessas crianças talvez seja o ponto mais necessário e
possivelmente o mais difícil.

Com todas estas pontuações, observa-se a importância da implantação de um serviço


de neuropsicologia nos centros de neurologia, uma vez que mesmo considerando
todas as dificuldades no atendimento hospitalar público, pela falta de tempo, dinheiro e
muitas vezes pela carência da população, um atendimento de qualidade pode ser
proposto, e com isso muitos resultados positivos podem ser encontrados.
GLOSSÁRIO

Arco (acto) reflexo – Recebe através do órgão sensorial – pele, olhos,


ouvidos, entre outros – um estímulo eléctrico , que está ligado a
neurônios sensoriais ou aferentes que o comunicam com a medula
espinal por uma raiz dorsal e, no interior desta, ocorre a sinapse com
neurônios associativos que, por sua vez, transmitem o impulso
a neurônios motores ou eferentes cujos axônios saem da medula por
uma raiz ventral, comunicando-a com um órgão efector que executa uma
resposta ao estímulo recebido – como músculos ou glândulas.

Encéfalo – Protegido pelo crânio, é constituído pelo cerebelo, tronco


cerebral, cérebro e diencéfalo sendo o último constituído
pelo hipotálamo e pela hipófise.

Endorfinas – Substâncias tipo morfina produzido naturalmente pelo


organismo servindo para a redução da dor

Sistema nervoso central (SNC) – Constituído pela medula espinal e


pelo Encéfalo.

Sistema nervoso periférico (SNP) – Constituído pelos gânglios


(conjunto de corpos celulares), terminações nervosas e nervos sendo o
último constituído pelos vasos sanguíneos e pelas fibras nervosas.

Neurônios – É o conjunto de dendrites, corpos celulares, axônios (fibra


nervosa) e telodrendros.

Neurônio motor – Células nervosas que transitem impulsos aos


músculos.

Metabolismo – É o conjunto de todas as reações químicas que ocorrem


no organismo.

Sinapse – É a região de contacto entre a arborização terminal de um


neurônio e a célula seguinte.

Linfa – líquido incolor que circula em vasos que é drenado no sangue.


REFERÊNCIAS
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médicas, 1985.

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