Kant
Kant
Kant
- Influência do Iluminismo2 que, segundo Kant, representa uma emancipação do ser humano.
Segundo o Iluminismo, o Homem deve pensar por si próprio uma vez que é dotado de razão.
Por esse motivo deve pensar de uma forma autónoma e livre. Por outro lado, o Iluminismo
também corroeu os fundamentos da moral tradicional que se baseava na religião. Assim, houve
necessidade de procurar um novo fundamento para a moral que devia residir na razão humana.
Racional
Sensível Kant
Deixa-se determinar já não pelas suas
Condicionado pelas suas disposições disposições naturais mas por leis
naturais / sensíveis Homem universais provenientes da razão
como ser
Procura do prazer/ felicidade e que o dual
levam até ao egoísmo (sentimentos de Procura ser moral (já não tem um ponto
inveja e interesseiros) de vista egoísta e individual, mas pensa
/age universalmente)
A sua ação tanto pode ser determinada pelas suas inclinações / disposições sensíveis como pelas leis universais
provenientes da razão
Kant recomenda que o Homem seja determinado pela razão, pois só assim consegue atingir a perfeição moral
1
Pensador francês cujas ideias contribuíram para a Revolução Francesa
2Movimento que teve lugar no séc. XVIII que tem como características: O princípio da autonomia da razão, desconfiança em relação ao argumento da
autoridade e nomeadamente aos dogmas religiosos, a ideia de progresso a nível do saber, da civilização e da moral que supõe a perfetibilidade do Homem.
Filosofia- Doc nº 7
A ética deontológica- Kant
“Nada é possível pensar que possa ser considerado como bom sem limitação a não - a única coisa boa sem
ser uma única coisa: uma boa vontade. Discernimento, argúcia de espírito, limitação é a boa vontade
capacidade de julgar e como quer que possam chamar-se aos demais talentos do
espírito, ou ainda coragem, decisão, constância de propósito, como qualidades de - todas as outras capacidades
temperamento, são sem dúvida a muitos respeitos coisas boas e desejáveis; mas humanas podem ser boas (se
também podem tornar-se extremamente más e prejudiciais se a vontade, que haja bem usadas) mas também
de fazer uso destes dons naturais e cuja constituição particular por isso se chama podem ser más (se mal usadas)
caráter, não for boa. O mesmo acontece com os dons da fortuna. Poder riqueza,
honra, mesmo a saúde, e todo o bem-estar e contentamento com a sua sorte, sob - a única coisa que as pode
o nome de felicidade, dão ânimo que muitas vezes por isso mesmo desanda em tornar sempre boas é se elas
soberba se não existir também a boa vontade que corrija a sua influência sobre a forem movidas pela boa
alma.” Kant, Fundamentação Metafisica dos Costumes vontade
“A boa vontade não é boa por aquilo que promove ou realiza, pela aptidão para - O que dá valor à vontade
alcançar qualquer finalidade proposta, mas tão-somente pelo querer, isto é, em si não é o objetivo que ela
mesma, e, considerada em si mesma, deve ser avaliada em grau muito mais alto pretende alcançar (utilidade),
do que tudo o que por seu intermédio possa ser alcançado em proveito de mas sim o seu querer
qualquer inclinação, ou mesmo, se se quiser, da soma de todas as inclinações.
Ainda mesmo que por um desfavor especial do destino (…) faltasse totalmente a - ela vale mais do que
esta boa vontade o poder de fazer vencer as suas intenções, mesmo que nada qualquer coisa que com ela
pudesse alcançar a despeito dos seus maiores esforços, e só afinal restasse a boa podemos obter
vontade (…), ela ficaria a brilhar por si mesma como uma jóia, como alguma coisa
que me si mesma tem o seu pleno valor. A utilidade ou inutilidade nada podem - poderia não haver mais nada
acrescentar ou tirar a este valor” Kant, Fundamentação Metafisica dos Costumes no mundo, mas mesmo assim
a boa vontade manteria o seu
valor “brilharia como uma
jóia”
Filosofia- Doc nº 7
A ética deontológica- Kant
Para Kant, uma ação é correta se e só se, é executada por uma boa vontade. E a boa vontade é aquela que age
motivada pelo puro cumprimento do dever, e não por qualquer interesse ou inclinação pessoal
Para que uma ação tenha valor moral tem de ser realizada porque se reconhece que ela corresponde àquilo que
deve ser feito, isto é, àquilo que todo e qualquer agente moral, independentemente dos seus desejos e preferências
pessoais e subjetivos, deveria fazer nas mesmas circunstâncias.
Estas duas ações são difíceis de distinguir do exterior, pois o seu valor moral é dado pela
intenção – Ética intencionalista (só conseguimos determinar o valor moral das ações se conhecermos as intenções
do agente)
É na verdade conforme ao dever que o merceeiro não suba - o merceeiro que não suba os preços pois tem
os preços ao comprador inexperiente (…). Mantém um preço algum interesse em o fazer não age por dever
fixo geral para toda a gente, de forma que uma criança pode
comprar na sua mercearia tão bem como qualquer outra - ainda que esteja a agir em conformidade com o
pessoa. É-se, pois servido honradamente; mas isso ainda não dever, apenas o faz por interesse e não por
é bastante para acreditar que o comerciante tenha assim reconhecer que esse é o seu dever
procedido por dever e princípios de honradez; o seu interesse
assim o exigia. (…) A ação não foi, portanto, praticada por - logo, a ação não tem qualquer valor moral
dever (…), mas somente com intenção egoísta (…). Kant,
Fundamentação Metafisica dos Costumes
Filosofia- Doc nº 7
A ética deontológica- Kant
“Conservar cada qual a sua vida é um dever, e é além disso uma coisa Comparação:
para a qual toda a gente tem inclinação imediata: mas por isso mesmo - alguém que conserva a vida por
é que o cuidado, por vezes ansioso, que a maioria dos homens lhe inclinação (instinto de sobrevivência)
dedica não tem nenhum valor intrínseco e a máxima (princípio
subjetivo) que o exprime nenhum conteúdo moral. Os homens - alguém que conserva a vida mesmo
conservam a sua vida conforme ao dever, sem dúvida, mas não por quando sente vontade de morrer porque
dever. Em contraposição, quando as contrariedades e o desgosto sem considera que é assim que deve ser (por
esperança roubaram totalmente o gosto de viver; quando o infeliz, com puro dever)
fortaleza de alma, mais enfadado do que desalentado ou abatido,
deseja a morte, e conserva contudo a vida sem a amar, não por Só no segundo caso a ação tem valor 4
inclinação ou medo, mas por dever, então a sua máxima tem um moral
conteúdo moral” Kant, Fundamentação da Metafisica dos Costumes
Princípio objetivo – não é válido só para um sujeito, mas para todos os seres racionais
“O valor moral da ação não reside, portanto, no efeito que dela se - a ação não vai buscar o valor às suas
espera; também não reside em qualquer princípio da ação que precise consequências
de pedir o seu móbil a este efeito esperado. […] Por conseguinte, nada
senão a representação da lei em si mesma […] pode constituir o bem - O sujeito só agirá moralmente se
excelente a que chamamos moral […]. seguir a lei (moral)
Mas que lei pode ser então essa cuja representação, mesmo sem tomar - O sujeito só tornará a sua vontade
em consideração o efeito que dela se espera, tem de determinar a numa boa vontade se seguir em todas
vontade para que esta se possa chamar boa absolutamente e sem as circunstâncias a lei (moral)
restrição? Uma vez que despojei a vontade de todos os estímulos que lhe
poderiam advir da obediência a uma qualquer lei, nada mais resta do que 5
a conformidade a uma lei universal das ações em geral que possa servir - a minha vontade só deve seguir uma
de único princípio à vontade, isto é: devo proceder sempre de maneira máxima que eu queira que se torne lei
que eu possa querer também que a minha máxima se torne lei universal
universal”. Kant, Fundamentação da Metafisica dos Costumes
Isto é, a máxima que vou tomar para guiar a minha ação, será que quero que seja tomada por todos os outros
seres racionais nas mesmas circunstâncias?
Imagina que precisas de dinheiro e que sabes que o Manel só to emprestará se lhe prometeres que lho irás
devolver (mesmo que não tenhas qualquer intenção de o fazer…) Será que deves mentir ao Manel porque isso
é do teu interesse? Tenta universalizar a fórmula. O que aconteceria se esta regra (máxima) fosse
universalizada, isto é, se funcionasse como padrão de comportamento para todos, se todos a seguissem?
Kant não defende que o sujeito deva ver se é bom ou mau que todos ajam de acordo com aquela máxima.
“Não preciso pois de perspicácia de muito largo alcance para Como saber se a máxima pela qual oriento a
saber o que hei-de fazer para que o meu querer seja moralmente minha ação é uma representação do dever?
bom. Inexperiente a respeito do curso das coisas do mundo, Basta perguntar:
incapaz de prevenção em face dos acontecimentos que nele se - Eu quero que ela se torne lei universal (não
venham a dar, basta que eu pergunte a mim mesmo: - Podes tu apenas válida para mim- oriente a minha ação-
querer também que a tua máxima se converta em lei universal? mas válida para todos os outros- oriente a ação
Se não podes, então deves rejeitá-la, e não por causa de dos outros nas mesmas circunstâncias?
qualquer prejuízo que dela pudesse resultar para ti ou para os
outros, mas porque ela não pode caber como princípio numa [Quero que a minha máxima seja adotada por
possível legislação universal. Ora a razão exige-me respeito por todos?]
uma tal legislação […]. [A] necessidade das minhas ações por
puro respeito à lei prática é o que constitui o dever, perante o - Se a resposta for negativa: devo rejeitá-la (não
qual tem de ceder qualquer outro motivo, porque ele é a é representante da legislação universal-
condição de uma vontade boa em si, cujo valor é superior a emanada da razão)
tudo.” Kant, Fundamentação da Metafisica dos Costumes
- a razão exige-me que, se quiser agir
moralmente, devo agir por dever, isto é, devo
tornar a minha vontade numa boa vontade
Filosofia- Doc nº 7
A ética deontológica- Kant
2ª Fórmula da Humanidade
“Age de tal maneira que uses a humanidade, tanto na tua pessoa como na pessoa de outrem, sempre e
simultaneamente, como fim e nunca apenas como meio”
só a pessoa humana pode ser um fim absoluto, tem valor único Porquê?
≠
Para Kant:
- para agirmos moralmente devemos ser
é digno porque é autónomo autónomos, isto é, não ceder aos impulsos
se é livre e autónomo então deve dos nossos desejos imediatos e das nossas
ser responsabilizado pela sua ação inclinações naturais
- devemos procurar formular leis que
qualquer agente racional estaria na
disposição de aceitar
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Dá a si mesmo a lei com a qual se
determina ≠ Heteronomia (uma vontade é
heterónoma quando segue uma lei que lhe
é imposta a partir de fora, de algo que é
diferente de si)
só sendo livre e autónomo é que este pode ser membro do REINO DOS FINS
O problema da indeterminação
Uma mesma ação pode estar associada a várias máximas diferentes, isto é, uma ação pode ser
entendida como sendo motivada por máximas diferentes.
Algumas dessas máximas podem levar-nos a classificar essa ação como moralmente correta,
outra como moralmente incorreta, o que abre a possibilidade de haver falta de rigor na
avaliação que se faz de cada ação
Por exemplo, imaginemos um pai que num domingo de manhã decide ir passear com o seu
filho ao parque. A sua ação pode ser motivada pelo cumprimento do dever (o seu dever como
pai é acompanhar o seu filho) ou pelo prazer de brincar com o filho (uma ação conforme o
dever). Contudo, na ausência de um procedimento preciso que nos permita determinar em
cada caso qual dessas máximas motivou efetivamente a ação, não estaremos nunca em
condições de fazer uma avaliação conclusiva da mesma.
Só o sujeito verdadeiramente saberá a máxima que motivou a sua ação, mas isso não é suficiente pois apenas ele
poderá avaliar a sua ação. Ele pode comunicar-nos a sua intenção. E se mentir?
Filosofia- Doc nº 7
A ética deontológica- Kant
Conflito de deveres
Situações em que dois deveres entram em confronto (por exemplo, posso ter de
mentir para não ter de matar). Kant não nos dá o critério que nos permite escolher o
dever que deve ser respeitado: segundo Kant devemos cumprir o dever em todas as
circunstâncias: mas se temos dois deveres igualmente importantes e que entram em
conflito (são inconciliáveis- por isso não posso cumprir os dois ao mesmo tempo),
como saber qual o que mais importante?
Assim, somos conduzidos a um conflito irresolúvel entre eles, sem ter nenhuma forma
de os hierarquizar e de estabelecer uma prioridade entre eles.
Por exemplo: 9
“Durante a 2ª Guerra Mundial, os pescadores holandeses transportavam, secretamente nos seus barcos, refugiados
judeus para Inglaterra, e os barcos de pesca com refugiados a bordo eram por vezes intercetados por barcos patrulha
nazis. O capitão nazi perguntava então ao capitão holandês qual o seu destino, quem estava a bordo e por aí diante.
Os pescadores mentiam e obtinham permissão de passagem. Ora, é claro que os pescadores tinham apenas duas
alternativas, mentir ou permitir que os passageiros (e eles mesmos) fossem apanhados e executados”.
Os pescadores holandeses encontravam-se na seguinte situação: ou mentimos ou permitimos o homicídio de pessoas
inocentes. As duas representam a violação de duas regras morais básicas “Não mentir” e “não matar”.
Demasiada exigência
Estamos perante uma ética rigorosa e muito exigente. O cumprimento do dever é
incompatível com qualquer cálculo de custos e benefícios. O sujeito deve cumprir o
dever sem atender às consequências da sua ação, mas essas consequências não
poderão conferir valor a essa ação? Eu até posso dizer a verdade, mas se isso trouxer
mais vantagem do que desvantagem, não poderei avaliar esta ação (mentir) de
moralmente boa?
Por outro lado, não admite exceções em qualquer circunstância. Contudo, todos nós
sabemos que existem situações que o não cumprimento do dever é justificado pelas
consequências que a ação contrário poderia acarre