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E Agora - Chama o Médico - PDF

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E AGORA?

CHAMA O MÉDICO?
Tudo o que você precisa saber antes de ter
seu CRM na mão!

POR DR. PABLO RUAN


Dr. Pablo Ruan
E AGORA? CHAMA O MÉDICO?

CRM SP 206887
E agora? Chama o Médico?

INTRODUÇÃO

Tudo bem, meu amigo médico!? Nem vem com esse papo de que ainda não é médico,
assuma logo essa responsabilidade porque ser médico não é um diploma, é se assumir
dessa maneira pra você e pra quem tá perto de você.

Se você já está próximo de terminar a faculdade isso já deve estar implícito em você.
Se você ainda não chegou no internato, mas já frequenta hospital, você deve ir
observando o comportamento médico, isso fará toda a diferença na sua carreira
profissional.

Eu preparei esse e-book pra você a fim de que minhas experiências te tragam alguma
segurança, mas que essa segurança seja mais precoce do que foi comigo... Eu digo isso
porque sei que você, assim como a grande maioria, vai sair da faculdade com diversos
medos e receios. Mas, eu estou aqui pra tentar mudar um pouco esse dilema. Você vai
terminar esse e-book com vontade de atender seus pacientes (ou pelo menos com menos
medo... ciente de que você não é a única pessoa do mundo que não se sente preparado
para lidar com outras vidas) com vontade de fazer diferença na vida deles e sabendo
como funciona o mercado de trabalho médico em todas as regiões do país, com relatos
reais de médicos que passaram o que você vai (ou não) passar.

Busquei colegas por todo o Brasil, a fim de te mostrar as principais diferenças de


segmentos de trabalho, na medicina, pra recém-formado... eu trago pontos estratégicos
pra você e te abro a minha vida financeira.

Espero que aproveite e que seja útil para te mostrar, através das minhas dificuldades e de
outros colegas, que você é mais que capaz!

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E agora? Chama o Médico?

DEDICATÓRIA

Ao meu pai, que morreu aos 35 anos, tão jovem. Quando ele faleceu, eu tinha apenas 12
anos de idade. Cada vez que atendo um paciente desta idade penso que poderia estar
salvando ele, e isso me torna um médico ainda melhor. Carrego o sobrenome dele no
meu jaleco, uma homenagem eternizada.

À minha mãe, a real idealizadora de tudo que aconteceu na minha vida até hoje, eu sou
médico porque ela apostou no meu sonho, no meu talento e me encorajou dia após dia.

Acima de tudo, gostaria de dedicar à Deus, o meu pai real. Esse, que está Vivo, todos os
dias, dentro de mim

Finalmente e não menos importante, dedico esse ebook a todos os colegas médicos que
me ajudaram mandando seu relato pra enriquecer esse material, vocês são excelentes e
me deram coragem pra lançar esse material com a certeza de que ajudarei pessoas por
todo o país.

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E agora? Chama o Médico?

A MINHA INTENÇÃO

O que eu quero com este quase livro é te ensinar o que a faculdade não te ensina, te dar
dicas que o professor médico nunca te falou e te mostrar que é possível ser recém-
formado e ser um médico de qualidade.

Vou te resumir a minha história de quase 3 anos como médico, meus altos e baixos, meus
maiores desafios, meus medos, os paradigmas que quebrei e a trajetória que me trouxe
onde estou. Além disso, vou falar do que ninguém costuma abrir: a real vida financeira.

Antes de mais nada, decida o caminho que você quer seguir na carreira médica. Não me
venha com essa de: ah, passei no internato em Ginecologia e Obstetrícia (GO) e amei,
então vou ser GO.

Meu amigo... ter afinidade com professor bom, se apaixonar por uma especialidade por
encontrar um ótimo preceptor no caminho não é o decisivo (e nem deve ser) pra definir
sua trajetória profissional. Por favor, entenda que você é maior que isso.

Entenda também que essa história de que “a Medicina está acabando e que é difícil ser
médico no Brasil hoje” não é bem uma verdade. Sabe o que é difícil? É encontrar um bom
médico! E eu quero que você seja esse bom médico. Qualquer péssimo médico ganha no
mínimo 10-12 mil reais mensal (isso é triste, mas é verdade) então tira logo isso da sua
cabeça.

A medicina está vivíssima, quem tá morto é quem se alimenta desse pensamento


medíocre levando em consideração o que chefe, com 40 anos de carreira, compara com o
atual cenário médico... Porque na época dele, o médico era o prefeito da cidade e tinha
autoridade política, era mais respeitado junto à sociedade...

São novos tempos, novas perspectivas e novo modelo de se tornar um bom profissional.

Lembrando que isso não desmerece toda a trajetória dos nossos chefes e nossos
professores... Eles são verdadeiros pioneiros, desbravaram e conquistaram muitos
campos de trabalho e atuação médica em suas épocas... mas sabemos também que o
mundo inteiro tem se adequado às evoluções e não pode ser diferente com a medicina.

Bom, chega... Vamos direto ao ponto!

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E agora? Chama o Médico?

DO DIA QUE FORMEI AO MEU PRIMEIRO PLANTÃO

Eu formei no dia 29/08/2019, às 17 horas. Sim, lembro até as horas, e você também não
vai esquecer. Foi o dia em que colei grau pela Universidade Federal do Acre (UFAC).

Antes de estudar na UFAC, cursei um tempo numa faculdade privada em outro estado,
mas foi praticamente só o ciclo básico. Por fazer quase metade do curso no serviço
privado e ter finalizado no público, vejo que a diferença não está na faculdade, e sim no
aluno.

Mas... tudo bem! Isso você já sabia...

Pra já te adiantar a verdade: eu sempre estive entre os 10 melhores alunos da turma, em


alguns períodos entre os 5 melhores… OK! Isso muda o quê? Absolutamente nada!

Isso é importante? Talvez sim. Isso deve ajudar no teu ego (que pode inflar ou não), as
notas vão ajudar no teu histórico (que nunca me pediram ao me contratar - nem eu me
lembro mais minhas notas) então isso interferiu ZERO na minha carreira médica até aqui.
Sei que existem serviços que vão cobrar isso numa entrevista de residência, mas aqui eu
tô falando de carreira médica e não de processo seletivo voltado pra residência, então é
nisso que vamos focar.

Bom... não me importam as tuas notas até aqui, me importam 3 coisas: tua vontade, tua
coragem e teu desejo em ajudar pessoas. Se você tiver pelo menos dois desses pontos já
vai ser bom. Se você tiver os 3, vai voar na medicina.

Voltando… Cara, eu moro no Acre. É, infelizmente, um estado longe dos grandes centros
e com pouca tecnologia aplicada à saúde. Mas aqui, temos um SUS que funciona (VIVA O
SUS) quase igual ao restante do país. Sempre ouvi de colegas que formaram e foram pra
grandes centros que era o melhor a se fazer, pensando principalmente no aspecto
financeiro. É mentira? Não! E foi assim que fiz.

Quer a realidade nua e crua? Pega então!

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E agora? Chama o Médico?

Formei num dia, comprei as passagens pra ir embora pra São Paulo e na outra semana já
estava lá. E foi isso. Eu nunca tinha PISADO em São Paulo, mas ok. Sempre fui de me
desafiar, então esse era só mais um desafio que eu certamente venceria (eu não tinha
dúvidas). Parece que coragem eu tinha. Conversei com minha família e falei que iria
embora. Qual a resposta de todos? (exceto minha mãe – mãe, te amo! Obrigado por tudo)

- Como assim?
- Por quê?
- Você tá louco?
- Você conhece São Paulo?
- Tá, mas você já tem emprego certo lá?
- Por que você não fica aqui mesmo?
- É muito mais fácil tentar trabalho na sua cidade!

Tapei os ouvidos e comprei minha passagem.


Não tinha casa, não tinha emprego, não tinha tirado CRM ainda (ERREI FEIO NISSO).

ATENÇÃO: se você está numa cidade menor e pretende ir pra um grande centro
trabalhar TIRE PRIMEIRO SEU CRM NA CIDADE PEQUENA porque sai mais rápido!
Quando você chegar na cidade maior você já consegue no mesmo dia um visto
provisório para atuar como médico e isso faz você não perder tempo e dinheiro como eu
perdi.

Se você fizer a cagada que eu fiz de não tirar CRM na cidade de menor porte e deixar pra
fazer tudo em São Paulo (ou outro grande centro) como eu fiz, você pode esperar até
QUINZE DIAS pra receber seu cadastro e até lá você estará jogando dinheiro fora, tipo
uns 20 mil reais... Posso falar com propriedade de São Paulo, não sei como funcionam em
outros estados, mas em qualquer lugar onde a demanda de formandos for alta, a
burocracia vai ser demorada. Duas amigas formaram comigo tiraram o CRM na cidade
menor e conseguiram visto provisório imediato em São Paulo!

Pra você entender: se você já tem um CRM de origem você pode atuar em qualquer lugar
do país, após se apresentar no CRM daquela região, já que eles logo te liberam o chamado
“visto provisório”. É como se fosse uma licença pra você atuar até que esteja
definitivamente fazendo parte do conselho da região em que se encontra.

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E agora? Chama o Médico?

Voltando...

Minha mãe topou que eu fosse porque sempre apostou nas minhas estratégias de vencer
na vida, mas falou: eu só posso lhe dar 4 mil reais e vou precisar que você me devolva
depois pois não tenho esse dinheiro sobrando. Na época, respondi: lhe devolvo logo e
ganharei muito mais! Ela riu.

Peguei a grana EMPRESTADA e voei pra São Paulo!

Postei uma foto no story que dizia assim: “bora ali, realizar mais sonhos? Deus na frente
sempre”

Cheguei em São Paulo com meu dinheiro contado, sem casa pra morar, tudo em São
Paulo é muito mais caro... Aluguel então, nem se fala. Fiquei morando no hotel. Vale a
pena? Não sei, mas é o que eu tinha. Fiquei num Ibis e gastava em torno de R$135 na
diária, ou seja, os exatos 4 mil. Corri para o CRM, solicitei o meu... A previsão, como eu
disse, ERAM DE 15 DIAS ÚTEEEISSS. Ficava dando F5 a cada segundo no site, esperando
meu CRM sair e estudando algumas coisinhas, ainda decidindo sobre provas de
residência.

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E agora? Chama o Médico?

UMA PAUSA PARA A POLÊMICA DA RESIDÊNCIA

Sobre residência: a gente se cobra muito em ter que entrar logo na residência, se
especializar logo, que não dá pra ser “apenas” médico. Mas isso não é uma regra, pelo
contrário...

Trabalhar ou partir direto para residência?

Você quer e precisa ganhar dinheiro? Vá trabalhar!!!


Você não quer e não precisa ganhar dinheiro? Vá trabalhar!!!
Talvez eu esteja sendo muito radical, mas eu defendo isso.

“Pablo, você acha que vale a pena trabalhar antes da residência?” Eu tenho plena
convicção que todo mundo DEVERIA trabalhar como médico antes de especializar.

Motivos: acho que é se limitar demais saber “só uma coisa” na medicina. Claro, sei que
nossa profissão tá cada vez mais segmentada, mas é muito bom você ter uma base sólida
e atuar com mais segurança e clareza nas condutas. Por experiência própria, o tempo que
trabalhei como médico me trouxe uma base muito boa pra que eu pudesse cuidar melhor
dos meus pacientes durante a residência médica...

Quem sofre com sua inexperiência profissional são os seus pacientes. Não é à toa que é
fácil ver colegas correndo de intercorrências, de intubação e manejo de paciente grave
(ou nem tão grave), de acesso central, pelo simples motivo de não dominarem aquilo e se
afastarem da chance de alguém precisar deles numa intercorrência.

Por favor, não estou criticando esses médicos. Eles dominam incrivelmente suas áreas de
especialidade, mas com certeza eles seriam ainda maiores se dominassem um pouco de
urgência, emergência e procedimentos médicos.

Tem especialista que nunca deu um plantão na vida!

Tá, pode ser uma escolha da pessoa e beleza, mas sem dúvidas quem trabalhou está, no
geral, mais preparado pra cuidar de um paciente como um todo. Além disso, está pronto
pra possíveis problemas que possam ocorrer no caminho, as famosas intercorrências.

Você pode fazer o que bem entender da sua carreira, mas eu te peço uma coisa, não seja
limitado.

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E agora? Chama o Médico?

Isso foi o que mais me motivou a fazer cirurgia, a “não limitação”. As próximas palavras
podem soar arrogantes, então já deixo claro que a clínica é soberana (vocês não precisam
me matar).

Pensei: se eu sou um puta clínico eu sou incrível! Mas se eu sou cirurgião, e além disso
sou um puta clínico, eu me torno quase que imbatível… E isso não é só sobre o meu ego, é
sobre oferecer ao meu paciente o que há de melhor em mim, todo o meu potencial
investido numa vida que está em minhas mãos...

Outro bom motivo: preparar sua vida financeira!

Sejamos verdadeiros, qual área profissional te permite formar hoje e amanhã estar
ganhando 2 mil reais em 24h? É por isso que te falei antes que esse papo de “a medicina
está ruim” é uma grande mentira. Talvez num futuro distante o mercado médico se torne
mais difícil, mas ainda que você não seja destaque na profissão, você consegue levar uma
boa vida. Você deve se limitar a isso? Óbvio que não, porque ser “só bom” se você pode
ser o melhor?

Ah, se você considera isso pouca grana saiba que cerca de 80% da população brasileira
tem esse valor (ou menor que ele) como salário mensal!

Você pode ganhar dinheiro de várias maneiras na Medicina como recém-formado. Vou
te dizer algumas e mostrar minha opinião sobre elas.

Unidade Básica de Saúde: antes de ir pra São Paulo eu estava procurando onde trabalhar,
não tinha contatos lá então já fui dando a cara a tapa. Mandei e-mail com meu currículo
ao Complexo Hospitalar Santa Marcelina. Eles tinham vagas para UBS disponíveis... Eles
me chamaram pra entrevista e fui. No fim da entrevista quiseram me contratar.

Não acho que isso seja por nenhum mérito meu. Creio que era necessidade deles mesmo.
A oferta era boa: 17 mil reais bruto, com carteira assinada, todos os direitos (incluindo
férias e 13º salário) e trabalhando apenas 4 dias na semana, ou seja, tinha uma folga na
semana ALÉM do final de semana.

Topei? Não hahahahaha!

Vi que esse não era meu perfil (eu já sabia disso... mas sei lá, queria ter essa opção como
carta na manga caso não conseguisse outras oportunidades).

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E agora? Chama o Médico?

Fui embora e nunca mais respondi o RH de lá.

IMPORTANTE: Não faça isso! Eu acabei fechando portas e isso não é bom.

Responda, diga o motivo pelo qual naquele momento não vai assumir a vaga, mas não
deixe no vácuo um serviço de saúde dessa proporção que é o Santa Marcelina. Aqui você
aprende com meus erros também! Eles também têm sistema de plantões e pagam bem,
procure saber melhor!

Pausa para o networking:


E-mail deles pra currículo: medicogeneralista@aps.santamarcelina.org
Por nada!

Outra forma de levantar dinheiro como recém-formado são os famigerados plantões.

Plantões avulsos em UPAS: O que mais rola em São Paulo é você trabalhar, sem vínculo,
para empresas que terceirizam o serviço de saúde pública. Exemplo: as prefeituras
contratam empresas de serviço através de licitações e elas são responsáveis pelo corpo
clínico das unidades de saúde.

É difícil entrar nesses grupos? Não mesmo, qualquer médico consegue, basta ter seu
CRM. (Me chama no direct do instagram (@drpabloruan) que posso te direcionar melhor).

Você então participa de grupos no WhatsApp onde existe um responsável técnico por
determinada UPA e um escalista (responsável por montar a escala mensal daquela
unidade – bem criativo o nome né!?).

Lá eles soltam as vagas e você passa a fazer parte da escala. Depois que você entra em um
grupo ou começa a fazer plantões, o networking já funciona bem e você vai conhecer
outros colegas na mesma situação que você, aí você vai ser indicado pra outras unidades,
plantões melhores, serviços mais tranquilos e dicas do dia a dia. Essa relação você precisa
construir diariamente.

Uma dica boa é estar sempre pronto pra pegar um plantão. Muitos colegas acabam
desistindo do plantão que tinham e passam pra outro colega que queira, pagando até a
vista o valor do plantão. Foi isso que fiz e levantei 8 mil a vista em uma semana de CRM
(minha dívida já estava paga!!!) valeu, mãe!

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E agora? Chama o Médico?

Outro ponto: é bom construir uma relação com pelo menos uma ou duas unidades, que
aquele seja seu lugar mais “fixo”. Aí você passa a conhecer toda a equipe, chefes, perfil de
pacientes daquela região e a equipe de enfermagem que trabalha lá. Isso facilita MUITO
teu trabalho e dia a dia, você se ajuda!

Falo isso porque é muito mais fácil e prazeroso trabalhar num ambiente em que você
conhece a equipe, sabe com quem contar e sabe que vão lhe ajudar. Se torna uma troca de
experiências muito boa, além de você virar um dos médicos de confiança daquela
unidade.

Isso vale também pra você começar a amadurecer como médico. Quando você já lida
bem com um local e equipe de trabalho, você se torna mais seguro pra ir avançando nas
suas condutas e procedimentos (principalmente por ter um apoio por trás caso algo dê
errado). Então, você vai se tornando um médico de melhor qualidade e se for de
confiança do chefe daquela unidade (que geralmente precisa ser alguém com experiência
médica) esse chefe vai te ajudar a tomar condutas mais difíceis, de orientar em
procedimentos e isso te faz crescer MUITO!

Quando ainda era R1 de cirurgia (parecem que fazem mil anos, mas tem poucos meses
kkkk) eu já tomava conduta frente aos plantonistas que eram chamados pra
intercorrências da minha enfermaria, pelo simples fato de cansar de ver condutas
descabidas para os meus pacientes. Isso foi me dando maior segurança e visão de
autocrítica em enxergar que eu era sim um bom médico e poderia oferecer um cuidado
melhor que muitos médicos ao meu redor. Isso não é porque sou genial, é só a bendita
experiência que te falei!

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E agora? Chama o Médico?

O PRIMEIRO PLANTÃO DA VIDA

No dia 13/09/22 depois do meio-dia saiu meu tão esperado registro. Corri na rua pra
fazer um carimbo e as 19h estava no meu primeiro plantão da vida.

Meu primeiro plantão foi numa periferia de Mauá – SP, ali no ABC Paulista.

Quando cheguei, minhas pernas já tremeram ao saber que a noite só eram dois médicos e
enquanto o outro descansava eu seria responsável por QUALQUER paciente que entrasse
naquela unidade.

Lá pelas 3h da manhã fiquei sabendo que tinham 3 pacientes “internados” na sala


vermelha, inclusive um intubado, quando me chamaram pra manejar um pico
hipertensivo de um dos internados.

O que eu quero deixar claro é que você deve ter muito cuidado com os primeiros
plantões que vai pegar. Não se preocupe, não falta trabalho, isso é conversa pra boi
dormir. Porém, faltam lugares dignos pra se trabalhar. Gravem bem essas palavras pra
que vocês entrem nas “frias” já conscientes delas.

Os escalistas não estão preocupados com a sua inexperiência, se você vai se dar bem ou
não, se vai matar alguém ou salvar. Eles querem apenas um CRM pra colocar na escala e
deixar como bode expiatório caso algum problema ocorra, afinal eles sempre vão alegar:
O médico é você, doutor!

O nosso código de ética médica diz duas coisas importantes que você precisa ter ciência:

No capítulo III:

É vedado ao médico:
Art. 9º. Deixar de comparecer a plantão em horário preestabelecido ou abandoná-lo sem
a presença de substituto, salvo por justo impedimento.
Parágrafo único. Na ausência de médico plantonista substituto, a direção técnica do
estabelecimento de saúde deve providenciar a substituição.

O que eu quis dizer com isso? Se você pegou o plantão, ele é seu. E você precisa ir. Com
medo, com pavor, com insegurança... precisa (salvo os justos impedimentos como diz o
código)! E digo mais, se o colega que vai “te render” (ou seja, pegar o plantão de você) no
fim do plantão não chegar, quem fica é você até que a direção técnica dê conta de outro.

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E agora? Chama o Médico?

O plantão é seu até que tenha outro médico com quem você possa deixar o plantão. Ou
você fica, ou chama polícia, faz B.O. e outras coisitas mais... Resumo da obra: não é mole.

Seguindo... meu primeiro paciente foi uma mulher jovem em crise de ansiedade. Como
fiquei feliz em fazer aquele diagnóstico de cara. Pense: Ufa, sou médico!

A questão aqui era tratar a crise, dar uma atenção psicológica e encaminhar a paciente
para seguimento numa unidade básica de saúde. Entenda que apenas tratar a crise te
torna um médico omisso e as vezes nós somos tentados a fazer isso pela correria. Muito
cuidado!

Segundo caso: não fazia ideia do que era. Conversei e mandei embora. Acontece. Tenho
certeza que você vai lembrar disso aqui quando precisar fazer o mesmo (obs.: não era
nada grave, foi para casa com sintomáticos e bem orientada a retornar caso piorasse ou
não melhorasse naturalmente). Aliás, isso acontece com certa frequência. E
especialmente para quem trabalhar em UBS, o retorno programado do paciente é uma
boa maneira de acompanhar a evolução, o seu tratamento, observar se o quadro que
você não conseguiu identificar fica mais clássico e permite direcionar melhor e até
mesmo aprender.

Terceiro caso: viciado em morfina, com cara de que me mataria se eu não prescrevesse.
Acontece e muito também. Demorei a entender o perfil desses pacientes.

Te digo: tem brigas que não valem a pena você comprar. A gente sai da faculdade com
uma ideia de medicina que não é real. Entender a realidade de cada paciente é o que vai te
fazer diferente.

Um ponto legal de lembrar aqui é sobre atestado médico. Assim que formar você vai
negar muitos pedidos de atestado por saber que o paciente não precisa ou está tentando
te enganar. Depois você vai cansar e vai fingir que deixou ser enganado por ele.

Outro caso: sífilis! Essa é fácil, né!?

Depois de umas 30 fichas atendidas... Chegou uma dor abdominal que eu demorei pra
fazer o diagnóstico e com certeza isso refletiu no comprometimento desse paciente mais
a frente.

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E agora? Chama o Médico?

Os médicos formam sem saber diferenciar um abdome agudo de uma GECA, de uma
gastrite, de uma constipação. Ou até sabem o que é um abdome agudo, mas não sabem o
que deve ser cirúrgico é o que não é.

Não sabem diferenciar uma hérnia inguinal redutível de uma estrangulada, não sabem
dizer se aquela cólica biliar aponta pra uma colecistite, ou será que já não é pancreatite?
Esses são poucos dos diagnósticos diferenciais de uma dor abdominal e dentro deles,
alguns necessitam de internação, alguns precisam de mesa cirúrgica e outros não. Para
uns: antibiótico de cara, outros não. Uns: avaliação do cirurgião geral agora!!! Outros
podem ir pra casa.

E você? Você pertinho de se formar, que já se formou ou que está entrando no curso
agora e já sabe o que quer fazer de especialidade e não quer se dedicar a saber tudo de
medicina: Você sabe diferenciá-los e ofertar ao teu paciente a melhor conduta médica?

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E agora? Chama o Médico?

O PACIENTE PODE TE ENGANAR

Na madrugada do meu segundo plantão eu atendi um paciente que entrou com muita dor
abdominal (esse que contei logo antes) e ele disse: “Doutor, eu tenho pedra no rim, não
estou aguentando de dor”. Foi o ponto alto. Eu, cheio de convicção, com o diagnóstico
entregue a mim de graça... Você acha que eu deitei ele pra examinar o abdome?

Claro que... NÃO.

Afinal, ele mesmo me disse o diagnóstico e não se aguentava de dor. Eu apenas peguei
ficha e meti tramadol nele! Cerca de 1h 30min depois ele volta dizendo que não melhorou
nada! Eu pensei: como assim meu Deus? E agora? Fiz dipirona, anti-inflamatório e
opioide. Certo que ele poderia não estar 100%... Mas piorar? Não fazia sentido. E não fazia
mesmo…

Ele voltou e eu fiz mais medicação... Não lembro como foi exatamente, mas lembro com
clareza que em algum momento da nossa conversa depois da medicação não estar
fazendo efeito que “a barriga estava doendo”.

Um filme passou na minha cabeça (tá, um pouco de exagero)... mas eu imediatamente


retruquei: “Como assim barriga? O senhor disse que era dor no rim!”

Ele (teve a audácia): “Ah doutor, não sei explicar... Tá tudo doendo.”

NESSE MOMENTO, por conta dessa fala que escapou dele... eu o deitei, examinei...
Blumberg positivo, abdome super distendido. . . . . . .

Comecei a investigar, pergunta aqui, pergunta ali, interroguei pensando em obstrução e a


história casava. Pedi uma radiografia de abdome e quando chega... tava lá, um lindo
volvo!!! (Se você me acompanha nas redes sociais, já viu essa radiografia e essa história
por lá)...

Aí foi aquilo né: Internação, acionar transferência urgente pro hospital de referência mais
próximo onde haveria cirurgião. Paciente era diabético, hipertenso, os rins já sofreram
no passado e agora estava com sofrimento de alça por volvo.

Fiz tudo o que podia (tentando correr atrás do prejuízo)


Lá pelas 8h da manhã ele foi transferido.
Meu diagnóstico demorou, o transporte demora, tudo demorou.

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E agora? Chama o Médico?

E desfecho dele?

Eu não sei... mas não posso omitir que ali tinha alta morbimortalidade envolvida.

Dá pra entender o quanto um ponto simples relacionado a anamnese ou exame físico


define todo um desfecho de um paciente? O seu raciocínio não define uma petição, uma
pensão alimentícia, um crime, uma obra, uma contabilidade... Define prognóstico. Define
óbito ou vida!

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E agora? Chama o Médico?

PROCEDIMENTOS MÉDICOS

Vamos tocar nessa ferida? Vocês estão preparados?

Bom, quando nos formamos, somos clínicos. É isso que você vai ser quando formar!
Clínico faz acesso venoso central? Deveria fazer. Clínico passa dreno de tórax? Não
necessariamente, mas deveria ter noção e coragem, no dia que precisar você estará
pronto. A única coisa que você não pode fazer nessa passagem de dreno de tórax é pegar
uma artéria intercostal (hahaha, me siga para mais dicas!)

Sobre o famigerado e temido “acesso central”

Quando rodei no internato em cirurgia eu colei nos R1 e descolei 5 acessos em 3 meses.


Sai com expertise em veia profunda? Não! Mas sai com noção e coragem de fazer.

Quando cheguei em São Paulo, eu era um dos únicos médicos que fazia acesso central na
UPA. Pasmem!!! Meu grande amigo Vinicius Voltolini, um puta médico desde recém-
formado, também era um dos poucos médicos na “nossa UPA” que fazia acesso central.

A questão é: você não é obrigado a saber... mas, cá entre nós, é melhor que você saiba! Se
você não sabe te sobram dois caminhos: aprender ou aceitar ser limitado!

Você ainda tá no internato? CORRA atrás de aprender!


Você já é médico? Cola em outro médico que saiba fazer e aprenda. Você é capaz!!!

Quando você tentar achar um motivo eu te lembro o principal: aprenda pelo bem do seu
paciente.

Se sua mãe entrar na emergência e o médico não souber fazer um acesso central, do qual
ela precisa naquele momento, você ficará triste e chateado por isso. Se coloque no lugar!

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E agora? Chama o Médico?

SOBRE A FACULDADE

Dias atrás, antes de finalizar esse ebook (pleno maio de 2022) eu vi alunos de medicina,
transtornados com o que foi cobrado na prova de clínica cirúrgica. Exemplo: professor
cobrar hérnias raras e não colocar NENHUM caso clínico de abdome agudo (nem
inflamatório, obstrutivo, nada...).

Infelizmente, isso não é raro. A maioria das escolas médicas e dos professores ainda
trabalham e valorizam esse modelo antigo. E pasmem, não é diferente nas provas de
residência médica, onde muitas vezes são cobradas coisas minimamente especificas das
especialidades médicas, que muito mais avaliam sua capacidade de decorar textos do que
de ter um raciocínio clínico e saber conduzir um caso.

Esse modelo antigo e ultrapassado, onde o sistema de formação não percebeu ainda o
que ele precisa que novos médicos saibam, contribui para a insegurança de muitos
estudantes e recém-formados. Todos os dias um médico diferente pede uma avaliação
da cirurgia geral com hipótese de “dor abdominal a esclarecer”. É errado ele fazer isso?
Não. Mas ele pode esclarecer essa dor antes de solicitar a avaliação da cirurgia. Assim
como todos os médicos, ele tem a autonomia de examinar o paciente, solicitar, se
necessário, os exames elucidadores e então, procurar a avaliação cirúrgica para esse
diagnóstico... Afinal, o papel do cirurgião é avaliar se o quadro é cirúrgico ou não. Mas o
papel do médico que primeiro atendeu esse paciente é desvendar que quadro é esse para
solicitar apenas avaliações necessárias. Até porque, nem toda dor abdominal é sinônimo
de faca, certo?!

E isso vale para o contrário também! Antes de ser cirurgião, você deve saber manejar a
clínica minimamente. Não é porque o paciente está internado e começou com uma
coceira no corpo que você precisa chamar a dermatologia.

A lição aqui é: desde você não esteja cometendo uma iatrogenia fazendo prescrições e
procedimentos que você não tem domínio nenhum, você PODE e DEVE avaliar SEU
paciente e tentar manejar o que consegue. Não consegue manejar ou não faz ideia do que
seja? Tente facilitar a vida de quem você está pedindo para avaliar. COMO? Solicite os
exames que você julgar necessários e faça um encaminhamento digno. Escreva tudo de
importante do caso pra poupar o tempo do colega que vai avaliar o SEU paciente. Até
porque, ele também é profissional, e também tem o tempo curto como o seu, certo?!

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E agora? Chama o Médico?

APRENDA O FEIJÃO COM ARROZ

Continuando o que citei logo acima, é essa a bandeira que levanto: o bom médico precisa
saber o feijão com arroz da medicina, ou seja, o dia a dia, as doenças comuns. Ele não
precisa saber de patologias raras.

O raro pra você, é raro pra mim, por isso é chamado de raro.

Você não soube diagnosticar o raro? É por isso que o nome dele é raro!

Agora, você não soube diagnosticar ou mesmo suspeitar de uma pneumonia? Uma
tuberculose? Uma dengue? Uma apendicite? Uma DIP? Uma colecistite? Uma pancreatite?
Uma TVP? Aí a gente pode se complicar um pouquinho…

Existem temas necessários pra você estudar e dominar 80% dos seus plantões e eu quero
te ajudar com isso. Se quando eu formei eu tivesse em mãos esse e-book, escrito por
outro Pablo, meus caminhos teriam menos pedras e percalços.

Quero te ajudar a chutar algumas dessas pedras.

Não sou a favor da política de: “me lasquei então meu próximo colega também deve se
dar mal”.

O conhecimento só é conhecimento de verdade quando difundido, e a experiência só se


torna história quando contada!

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E agora? Chama o Médico?

QUANTO VOCÊ PODE GANHAR?

Amigo, o céu é o limite. Ou melhor, sua condição física e PRINCIPALMENTE mental são
os verdadeiros “limites”.

A gente forma com uma sede absurda de trabalhar e ganhar dinheiro e não tem nada de
errado nisso, só precisamos tomar cuidado com a velocidade em que nos colocamos à
disposição de tanto trabalho e cargas horárias absurdas.

Quando comecei a trabalhar eu ganhava em torno de 15, 17 mil reais ao mês. Fui tomando
gosto e coragem e cheguei a ganhar EM UM MÊS mais de 40 mil reais.

Conheço vários amigos que ganharam igual ou até mais. A grande pergunta é: Onde está
todo esse dinheiro? O meu eu sei, mas te garanto que a grande maioria dos médicos torra
toda a grana e começam a entrar num ciclo vicioso de “escravo de plantão”.

Cuidado com dinheiro! Ou melhor... defina bem pra onde vai o dinheiro que você ganha.
Você vai ganhar muita grana, não se preocupe, só saiba aplicar.

21
E agora? Chama o Médico?

USANDO O NETWORK

Esse e-book seria só meu relato, minha história e minhas sugestões... Mas pensei: “minha
realidade é só minha realidade e não pode ser tratada como realidade geral. Então vou
resolver isso.”

Para isso, busquei colegas médicos espalhados por todo o Brasil e pedi a eles relatos de
suas realidades como recém-formados. Como foi quando se formou? Trabalharam? Se
sim, onde? Trabalham ainda? Qual a visão dos setores em que passaram? Qual a valor do
plantão na região que se encontra?

Temos relatos sobre urgência e emergência, plantão de porta, Unidade Básica de Saúde,
plantões de Pediatria (você não precisa ser pediatra para fazê-los), plantão em
enfermaria, experiência médico do exército e outros.

Vamos valorizar esses colegas que se disponibilizaram pra também ajudar vocês?

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E agora? Chama o Médico?

RELATOS DOS COLEGAS

Antes de começarmos, queria deixar uma breve legenda para você que está no começo
do curso e ainda não manja muito sobre os valores de plantões e etc.

A maioria dos serviços médicos são pagos num valor bruto, ou seja, sem o desconto de
impostos. O total de impostos que incide sobre o salário médico é de 27% (muito né?!).
Então o Valor Líquido = Valor Bruto – 27%.

Alguns programas são isentos de impostos em seu início, como é o caso do Mais Médicos.
Isso muda sempre, pois o contrato é mudado com frequência, mas no geral, o primeiro
ano de pagamento do Mais Médicos é isento de impostos, ou seja, desse desconto de 27%.

Mas, vamos aos relatos!

23
E agora? Chama o Médico?

# REGIÃO NORTE

FELIPE MARREIRO – RIO BRANCO – AC


“Logo quando me formei, a maior parte dos plantões que eu fiz foram repasses. O sistema
de repasse é bom, porém, não confiável. Você depende que outra pessoa não queira fazer
o plantão para receber, e logo vem a dúvida: por que a pessoa não quis esse plantão?
Durante esses plantões, acabei passando pelas três salas de uma UPA.
• A verde, é o trabalho mais braçal: casos simples e repetitivos, em grande demanda;
• A amarela é como uma enfermaria: passar visita nos pacientes, examinar novamente,
ler os exames que chegaram, modificar as prescrições de acordo com o que você viu;
• A vermelha, semelhante a amarela, com um adicional: intercorrências graves,
intubação, parada, acesso central, a menos indicada para quem acabou de se formar.
Agora, rodo em setor da Observação Adulto e da Sala de Emergência Clínica do Hospital
de Urgência e Emergência de Rio Branco.
• Observação Adulto: visita, exame físico, exame laboratorial, exames de imagem
complexo e acompanhamento de especialistas, visando diminuir ao máximo o tempo de
internação do paciente no setor, podendo também transferi-los para outros serviços
intra e extra hospitalares.
• Sala de Emergência Clínica: acaba funcionando como UTI temporária, onde você
estabiliza os pacientes, recebe intercorrências, por ser setor porta aberta, solicita vaga em
UTI. No geral, tentar manter o paciente vivo e em processo de recuperação.
Atualmente, meu setor favorito é a Emergência, a qual você lida com casos em que
precisa ter agilidade de raciocínio para salvar uma vida. No setor de observação, por falta
de vagas para transferências, acabamos exercendo clínica médica pura, também muito
interessante (o melhor setor para um recém formado aprender a ser médico, na minha
opinião).”

ANTÔNIO MENDES – RIO BRANCO E CRUZEIRO DO SUL – AC


Apesar de ter me formado na última semana de dezembro de 2021, durante o mês de
janeiro de 2022 fiquei ocupado com as provas de residência e a burocracia para tirar meu
registro no Conselho Regional de Medicina do Acre. Também soube nesse mesmo mês
que havia sido convocado para o Serviço Militar Obrigatório e designado para servir na
cidade de Cruzeiro do Sul. Então minha vida profissional como médico começou em
fevereiro, já estabelecido no interior do estado – algo que eu definitivamente não tinha
planejado.

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E agora? Chama o Médico?

Com relação ao Exército, posso ser bem curto e grosso e dizer que não vale a pena, a
menos que por algum motivo você tenha interesse na área militar. Algo que eu não tenho,
caso não fique perceptível pelo meu tom neste parágrafo. Até porque, mesmo focando
puramente em números, não vale a pena. Indo de encontro ao que alguns colegas
aventaram, o salário como médico temporário do exército não faz jus à carga horária de
trabalho, especialmente porque não existe uma carga horária definida para nós. Quem
deu sorte, ganhou a compreensão dos superiores hierárquicos para trabalhar apenas
meio expediente, por exemplo. Para os não-tão-agraciados (como eu e meus colegas), é
uma jornada de trabalho integral, que totaliza um pouco mais de 40 horas de trabalho
por semana, sem considerar os sobreavisos e apoios/missões, por um salário que gira em
torno de R$ 7.600-8.100. Fazendo atualmente as 43 horas/semana, o que totaliza
172h/mês, fica algo em torno de R$ 47 por hora.

Multiplicando esse valor por 12 horas, seria como fazer um plantão por R$ 564 (e de
novo, sem considerar a carga horária extra que você gasta com sobreavisos e
apoios/missões). E caso queiram que você trabalhe mais de 60 horas por semana, não há
nada que lhe ampare para se opor a tal decisão. A única “vantagem” de servir ao exército,
que eu vejo na verdade como o “parabéns por fazer o mínimo” dessa situação toda, é a
possibilidade de trancar a vaga de residência médica por 1 ano, como foi o meu caso.

Mas deixando o Exército de lado, comecei a trabalhar também na Unidade de Pronto


Atendimento de Cruzeiro do Sul. Para trabalhar lá é necessário ter um contrato com a
Secretaria de Saúde do Estado do Acre (SESACRE), que estabelece um número mínimo de
10 plantões de 12 horas por mês, em uma carga horária semanal de 30 horas por semana,
sendo cada plantão no valor de R$ 780. O Acre, sem dúvida, é um dos estados que paga
pior seus médicos. Porém nem tudo é derrota por aqui (só 95% desse relato). Algumas
vantagens do contrato é que, por ser CLT, você tem direitos trabalhistas garantidos, seu
salário já vem com a dedução de impostos (o que vai te facilitar a vida no ano seguinte
para declarar o imposto de renda), férias a partir de 1 ano de trabalho e agora, com o
reajuste salarial que ocorreu em abril/2022, auxílios para alimentação e insalubridade.

Comparando apenas números, o Hospital Regional do Juruá paga melhor, porque o


pagamento é por pessoa jurídica (PJ). Lá os plantões saem por R$ 1.000 ou até mais,
dependendo do setor. Porém, as vantagens que eu citei de um contrato como pessoa
física não ocorrem no caso da PJ. Além disso, senti que não estava preparado ainda para
trabalhar em uma unidade terciária, que é referência para a região. Para quem está
começando, considero a UPA um bom ponto de partida para ganhar experiência,
principalmente porque os plantonistas aqui dividem tanto o ambulatório quanto a
emergência da unidade.

25
E agora? Chama o Médico?

Com relação a minha prática médica em si, posso dizer que está bem diversificada. No
Exército atuamos no Posto Médico da Guarnição, o que seria análogo a uma Unidade
Básica de Saúde. Como atende militares e as suas famílias, atendo desde queixas
ortopédicas, demandas de saúde, até doenças crônicas não transmissíveis, puericultura e
pré-natal. Na UPA, além dos atendimentos de caráter ambulatorial (IVAS, GECA, dores
osteomusculares), já abordei diversos casos de malária, dengue (inclusive grupo C), e
algumas urgências e emergências como: crises hipertensivas, crises de broncoespasmo
em crianças, convulsão, IAM, EAP, AVC, TCE e por aí vai. No começo só de pensar em
atender uma emergência vinha um frio na barriga. No entanto, conforme estou
adquirindo experiência, atender urgência e emergência é cada vez mais prazeroso. Eu
vejo que o importante é ter o básico na mente (semiologia e raciocínio clínico), porque,
salvo algumas exceções, sempre dá pra checar os detalhes de uma conduta caso você
esteja em dúvida, ou pedir apoio para o seu colega de plantão para discutir o caso e a
abordagem. Os primeiros plantões nunca são bons e você sempre sai com a sensação que
poderia ter feito melhor. E é literalmente sobre isso, você sempre pode fazer melhor. Isso
inclusive vai te estimular a estudar, e eventualmente aprender, em um ritmo
completamente diferente da faculdade. Minha dica é: sempre encare a prática médica
com humildade e não tenha medo de errar, tenha medo de não se preocupar se você está
errando.”

Antônio Mendes
Médico pela UFAC
Atuando no Exército pelo Serviço Militar Obrigatório
Aprovado na Residência de Neurologia

FRANCISCO RÔMULO – MÉDICO DO EXÉRCITO POR 1 ANO


“Fala, galera! Acredito que uma das fases mais difíceis na carreira do médico seja o
momento de recém formado. Muito provavelmente é por esse motivo que você esteja
lendo esse e-book neste momento, não é mesmo? No internato, ficamos muito
empolgados em poder colocar a medicina em prática. Poder atender o paciente e testar
toda aquela bagagem de conteúdos acumulados ao longo dos anos nos ciclos básico e
clínico.

Esse entusiasmo, em grande parte, garantido também pela sensação de segurança de


ainda ter alguém (preceptor) que diretamente estará ali para te auxiliar em momentos de
dúvidas e maior complexidade do caso. Tudo isso gera uma ansiedade pelo tão sonhado
CRM. A possibilidade de tomar as suas próprias condutas. Mas, ao mesmo tempo, um
misto de ansiedade e felicidade. Saber que em um dia você é um estudante, que tem
alguém para sempre te amparar nas condutas, e no outro dia você acorda com o título de
médico, sendo único responsável por tudo que assina e carimba, traz uma sensação de
angústia e medo em muitos (e acreditem, isso é normal).
26
E agora? Chama o Médico?

Com o CRM na mão, você precisa agora decidir onde iniciar seus primeiros dias de
trabalho.

Geralmente, as primeiras oportunidades surgem em unidades de pronto atendimento (PA


particular/ UPA), sala vermelha, SAMU e UBS. Muitas dessas oportunidades chamativas,
mas, não se engane, se tem vaga, muitas vezes é porque ninguém aceitou trabalhar lá.
Certo? Então nessa indecisão inicial sobre os primeiros passos, muitas vezes, uma boa
opção é começar a se programar lá no início do sexto ano. Quais as suas opções assim
que formar? Pois bem, uma delas é o servir ao Exército Brasileiro (EB) como médico ou
alguma das outras forças (Marinha ou Força Aérea).

No Acre, o mais frequente é que todos acabem servindo ao EB. Uma experiência única
certamente. O processo de seleção para o médico no exército começa a ser organizado já
no início do ano, quando as comissões de seleção são organizadas dentro das OM
(Organizações Militares). Todo médico (gênero masculino), na conclusão do curso em
solo brasileiro, tem obrigação de se apresentar às forças armadas. Isso não significa que
irá servir àquela força, mas necessariamente precisa se apresentar. Algo parecido com o
processo de regularização ao serviço militar quando o homem completa 18 anos de idade.

A diferença principal é que aos 18 anos você pode ser incorporado como soldado recruta.
Na apresentação ao final do curso, caso seja incorporado, você ingressará como
Aspirante a Oficial e, após 6 meses, será promovido a segundo-tenente. A seleção
geralmente inicia por volta de novembro. Quando a força já está de posse da lista
fornecida pelas Instituições de Ensino Superior com o nome de todos os formandos do
gênero masculino naquele ano. De posse da lista, a força informa a data que todos devem
comparecer em unidade militar em posse dos documentos necessários para o processo
de seleção dos Oficiais Médicos Temporários (OMT). Quando se apresenta em posse dos
documentos, você pode, assim como quando completa 18 anos, informar se tem interesse
em se voluntariar como OMT ou não.

Obviamente, em caso de necessidade, mesmo que não seja seu desejo, você pode ser
convocado para incorporação para cumprir serviço militar obrigatório. Tanto para
aqueles que se voluntariaram quanto para os que foram convocados de forma
compulsória, o tempo mínimo de serviço prestado é de 1 ano, podendo ser prorrogado a
depender da necessidade da força. Concluindo esse tempo obrigatório, o médico também
pode, caso seja do seu interesse, necessidade da força e desempenho, solicitar
prorrogação do tempo de serviço. Podendo, então, servir como OMT por até 8 anos.

27
E agora? Chama o Médico?

Uma preocupação de alguns, nesse momento, poderia ser em relação à vaga de


residência médica, uma vez que, como já citado, o processo de seleção para o EB inicia
por volta de novembro e conclui em jan/fev com a incorporação dos selecionados em
março/abril, mesmo período oficial de início da residência médica no Brasil.

Porém, caso esteja prestando serviço militar obrigatório, o médico tem direito a solicitar
reserva de vaga da residência médica durante esse ano em que estará servindo. Podendo
retornar no ano seguinte para continuidade de sua formação profissional. Pois bem, o
médico ingressa como Oficial nas forças armadas. Inicialmente é um aspirante a Oficial e,
posteriormente, se cumprir todos os requisitos, é promovido a segundo-tenente e pode
continuar sendo promovido a cargos superiores se continuar servindo ao longo desses 8
anos possíveis (claro, se for cumprindo cada etapa necessária - incluindo realizando
Teste de Aptidão Física, Teste de Tiro etc). Quando ingressa na força, então, o médico
passa a ser considerado um militar, devendo cumprir com todos os deveres da função e
podendo desfrutar de seus direitos.

Nos primeiros 45 dias, geralmente, passamos por um treinamento chamado de Estágio de


Adaptação em Serviço em que recebemos instruções básicas sobre a vida militar e as
funções dentro da OM. Temos instrução de sobrevivência na selva, tiro, treinamento
físico militar, hierarquia e disciplina e todos os trâmites que envolvem a vida militar.
Após isso, o médico, comumente, é designado pelo Comandante da OM para o seu posto
de serviço. Dependendo de onde serve, esse posto pode ser um posto de saúde, hospital,
unidade de fronteira ou médico de fundação sanitária (nesse local, por exemplo, o
médico acaba desenvolvendo algumas atividades como Perito de Organização Militar).

O militar, em teoria, está à disposição da força 24h por dia e 7 dias da semana. Sendo
assim, deve saber que deve estar sempre a postos caso seja acionado. Na prática, cada OM
organiza as atividades de seus médicos de acordo com a disponibilidade. O salário é um
soldo de Aspirante a Oficial do Exército e, quando promovido, soldo de segundo-tenente
(com direito ao plano de saúde do EB chamado de Fusex e outros adicionais, como o
adicional para o médico que serve em região de fronteira, que pode chegar a um
acréscimo de 2%/dia no valor do soldo).

Ao longo do ano servindo como militar, o médico precisa estar disposto a cumprir as
determinações do seu dever como o Treinamento Físico Militar e Testa de Aptidão Física.
Além disso, precisa compreender que existe uma hierarquia muito bem estabelecida
dentro da força e você deverá sempre tratar com respeito aos seus superiores e estar
aberto a cumprir as obrigações que a sua função exige.

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E agora? Chama o Médico?

Para quem tem dificuldade com hierarquia, isso pode ser um problema, mas também
pode ser uma oportunidade de grande aprendizado. Hierarquia e disciplina são os
princípios do Exército Brasileiro e espera-se que suas condutas sejam pautadas como tal.

Por fim, servir como OMT pode ser uma excelente oportunidade para ingressar no
mercado de trabalho como recém formado. Com uma remuneração justa, direitos
trabalhistas e muitas vezes ambiente de trabalho mais adequado do que muitos unidades
de saúde que você encontrará fora da organização militar.

Uma oportunidade de fazer uma reserva para a residência médica também, uma vez que
a sua vaga estará trancada e você poderá retornar no ano seguinte normalmente. OBS:
Para as mulheres, o processo é muito semelhante. A única diferença é que não há
obrigatoriedade para o serviço. Ele é apenas voluntário para as mulheres que assim
desejem.

Então, é isso, galera! Espero ter ajudado de alguma forma a pensar as possibilidades de
trabalho nesse momento de recém-formado. Estou à disposição para quaisquer outras
eventuais dúvidas. Que o início da sua atuação como médico seja próspero!”

Francisco Rômulo
Residente em Clínica Médica - ISCMPA/UFCSPA
Atuou como OMT por 1 ano no EB.

KAROLYNE LINS - ACRE


“Meu nome é Karolyne, sou residente de GO. A GO não é a especialidade melhor paga.
Diferente dos plantões da clínica, que por vezes você tem uma folguinha durante o
plantão, na GO não existe isso. Os plantões da obstetrícia são sempre corridos e sem
descanso pois a todo momento tem alguém em trabalho popular. Inicialmente eu
trabalhava em uma Clínica popular com ambulatório de Go. Essas clínicas geralmente
pagam muito mal, eu recebia 400 reais por período e atendia cerca de 20 pacientes. Mas é
um valor livre de impostos e pagam em dinheiro, o que é bem vindo pro residente.

Eu escolhi GO porque é uma especialidade completa, ela tem tudo em uma especialidade:
ambulatório, cirúrgica, procedimentos. Para quem não sabe decidir se prefere a clínica
ou a cirurgia, é uma área a se pensar. Eu já sabia que queria GO desde o meu internato,
porque me identifiquei especialmente com a parte da obstetrícia (não me identifiquei
tanto com a gineco.

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E agora? Chama o Médico?

A especialidade me permite pensar melhor no futuro pois quero e tenho planos de ter
filhos e essa versatilidade da GO me permite, por exemplo, focar em ambulatórios e
trabalhar minha própria agenda em determinadas fases da vida, a depender dos meus
objetivos pessoais. É diferente da cirurgia geral, por exemplo, que não tem essa
versatilidade. Além de poder fazer pequenos procedimentos que pagam muito bem,
como a parte de medicina fetal.

Sobre a especialidade e plantões na área: a partir do R3 você pode dar plantão como
especialista da área. Eu preferi dar plantões mais no final do R3 pois não me sentia muito
segura. A área da GO é muito visada para processos, e tomar um processo ainda no R3
pode complicar muito a sua vida. Sem falar que quando você dá plantão com outro
colega médico, qualquer problema que ocorrer, recai sobre você também!

Minha primeira experiência de plantão foi: Cheguei cedo pro plantão da GO, o
plantonista não me passou o plantão, me falando dos casos. Estava ocorrendo um parto
de gemelar, que foi indicada para o CC pois o bebê já estava coroando e ninguém havia
me passado a história ou alguma informação da paciente. O plantonista mal me viu e foi
embora. Graças a Deus era uma dicoriônica/diamniótico (ou seja, duas placentas e duas
bolsas), de modo que se os dois tiverem cefálicos, pode fazer parto normal. O primeiro
bebê nasceu bem, o segundo bebê não nascia. Começou a fazer bradicardia e tivemos que
fazer uma cesárea de emergência. FOI UMA PÉSSIMA EXPERIÊNCIA.

·Trabalhei em 2 lugares:

· NORTE
o R$ 1.800/1.900 – bruto. Com desconto de 27% - Manaus
§ Essa era o melhor plantão de Manaus, que era por um plano de saúde, ou seja,
Particular. Era um plano de saúde mais barato, mas, mesmo que mais barato, era muito
cheio. Não para nunca. E tem um porém: em plantões particulares existe a pressão pelo
atendimento breve, pois o pessoal reclama da demora.
§ As vantagens desse plantão: tinha sobreaviso;
§ Desvantagens: se você não atender os pacientes logo, começam a te cobrar
produtividade te ligando
o R$ 900 bruto - Acre

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E agora? Chama o Médico?

§ Falta estrutura e medicamentos, existem apenas 2 maternidades pro estado todo pelo
SUS. A gente percebe que a qualidade dos profissionais é um pouco pior (EXISTEM
MUITOS PROFISSIONAIS DE EXCELÊNCIA NO ACRE, MAS, quando se compara com o
Sul, a maioria lá é de excelência). No Acre o profissional faz de tudo um pouco, isso pode
ser muito bom, pois amplia seu conhecimento, e muito ruim, pois você vai ter que
manejar coisas que não deveria ter que manejar. Sem comentar a insuficiência de exames
e demora dos mesmos: no Acre, tem 1 cardiotocógrafo para todo o hospital, que é a única
maternidade do estado.

· SUL
o Trabalhei em um Interior próximo a porto alegre (Santa Casa de Gravataí): pagava RS
1.600 – bruto. Mas muito bem assistido. Cardiotocografia quando precisar, exames na
hora, pre-natais sensacionais, profissionais muito melhor preparados e muita
subespecialização, o que faz com que você tenha o profissional certo para cada problema
que aparece”.

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E agora? Chama o Médico?

# REGIÃO NORDESTE

RAIMUNDO – CEARÁ
“Primeiramente gostaria de agradecer meu amigo Pablo por esta oportunidade de
compartilhar com vocês um pouco da minha experiência após esses dois anos de
formado, também quero agradecê-lo pela infinita paciência que ele teve comigo.
Obrigado e desculpas meu amigo.

Em segundo lugar quero parabenizá-lo ainda por esta iniciativa, e espero que os relatos
aqui lidos sejam úteis para alguém pois como já dizia à internet "O inteligente aprende
com os próprios erros entretanto o sábio aprende com o erro dos outros."

Me lembro como se fosse hoje, me formei e agora? Tive um grande desafio lançado para
mim, me formei durante o auge da pandemia de COVID-19, eram muitas dúvidas e
sempre procurava informações com meus colegas das turmas mais antigas. Como sou do
Ceará e gosto muito desse estado, logo tratei de voltar para minha terra e agora vou
contar um pouco da minha experiência como médico nesse estado.

Primeiro conselho: Nunca aceite a primeira proposta de emprego sem antes analisar
muito bem e sem antes conversar com outroS médicoS que ali trabalham. Tô falando
sério, minha primeira experiencia profissional como médico foi em uma UBS em uma
pequena cidade do interior do Ceará, aceitei tal emprego pois iria morar muito próximo
de minha família, porém o salário era muito pouco e para piorar a prefeitura costumava
atrasar muito, mais de 3 meses sem receber (Isso ainda acontece naquela cidade e em
muitas outras no interior do nordeste.) Para piorar a situação tem prefeitura que ainda dá
calote, isso mesmo, não pagam os salários atrasados quando você pede demissão.

Trabalhar em uma UBS no interior do Ceará não é a atividade mais empolgante do


mundo, porém é bem tranquilo. Para aqueles que gostam de conhecer os pacientes e seus
familiares, criar laços, acompanhar e manejar doenças crônicas esse é o lugar certo. Aqui
se pratica a chamada Slow Medicine, e você tem a oportunidade de entender o processo
de adoecimento, os pacientes são amáveis e costumam te trazer presentes. Você consegue
enxergar o contexto biopsicossocial em que o paciente se encontra e a equipe
multidisciplinar ajuda muito. Chega a ser bonito né? Infelizmente é tudo mentira, você é
basicamente uma máquina de renovar receitas e coitado de você se não o fizer, não é à
toa que benzodiazepínicos estão entre os mais vendidos do Brasil. Para terminar essa
parte de UBS o salário, no interior desse estado maravilhoso o valor pago líquido é em
média 10.000 reais 32h semanais.

32
E agora? Chama o Médico?

Após alguns meses, apenas na UBS decidi que o mais importante era trabalhar em um
lugar em que eu fosse devidamente reconhecido e que me pagasse em dia. Me mudei de
cidade e fui trabalhar em um hospital de uma cidade pequena também no interior do
meu estado. Foi uma experiência extremamente enriquecedora, antes de você trabalhar
em um hospital de cidade pequena, deve ter em mente que você será o obstetra, o
ortopedista, o pediatra e nas horas vagas você vai ser o médico generalista. Por tais
motivos foi uma experiencia muito enriquecedora, aprendi muito e me sentia fazendo
alguma coisa diferente de renovar receita de diazepam, mesmo esse ainda vindo ao
hospital, inteiro né? Agora falando em valores, esses plantões de cidade do interior são
muito calmos, você atente poucas pessoas por dia e são compatíveis com estudo se você
quiser, o plantão noturno acaba depois das 22h, não chega mais ninguém no hospital
depois dessa hora, às 24h pagam em média 1600 líquido. Como falei aprendi muito, fiz
muito parto, reduzi muita luxação, realizei muita IOT, COVID né.

Após algum tempo surgiu a oportunidade de trabalhar na emergência de um hospital


regional e aqui estou até hoje. É muito empolgante trabalhar com paciente grave, saber
que você vai fazer toda a diferença no desfecho clínico do paciente, e nada no mundo
paga quando um paciente que você reverteu uma PCR volta ao hospital para te agradecer.
Aqui me senti realizado, uma sala de emergência onde tenho quase tudo à minha
disposição, ventiladores modernos, bombas de infusão modernas, vídeo laringoscópio,
USG FAST, tomografia, todo tipo de droga, mesmo no auge do COVID nesse hospital
regional nunca faltou Etomidato ou qualquer outra droga que eu necessitei. Aqui
finalmente eu consegui pôr em prática todo o conhecimento médico que eu tanto
batalhei para adquirir, sem falar nas especialidades que sempre tem de plantão, pediatria,
obstetrícia, cirurgia, ortopedia e por aí vai. Atualmente meu salário sempre vem no dia
certinho e o valor desse plantão na emergência é de 1400 reais líquido às 12h.

Agora ando pensando em desacelerar um pouco a rotina de plantões e começar os


estudos para ingressar em uma boa residência, querendo ou não, plantão acaba com as
nossas energias.

Espero que eu tenha contribuído um pouquinho para tirar as dúvidas de vocês, espero
que alguém tenha aprendido com meus erros. Quero mais uma vez agradecer ao meu
amigo Pablo por me abrir esse espaço para conversar com vocês e mais uma vez, Pablo
desculpa a demora!”

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E agora? Chama o Médico?

IGOR D’ÁVILA – MARANHÃO


“Bem.. como esse ebook é direcionado para médicos e estudantes de medicina, vamos
pular a parte romântica do “medicina por amor!” e falar de questões objetivas
relacionadas a situação profissional. Ajudar as pessoas 1é realmente gratificante, mas é
claro que a gente busca realizações pessoais na profissão.

INICIO DA CARREIRA COMO GENERALISTA


Me formei em 2016 e iniciei a carreia como médico generalista no interior do maranhão,
para onde fui atraído por melhores valores salariais. Enquanto no Acre, lugar onde reside
minha família, o valor do plantão de emergência em UPAs e PS gira em torno de 600
reais, no interior do maranhão eles pagavam até 1250 reais pelas mesmas 12 horas de
trabalho. Quando a gente sai da faculdade cheio despesas e de sonhos, é claro que o fator
financeiro conta. Outro motivo pela qual optei por não ficar no meu estado foi a questão
empregatícia; No Acre a rede privada é muito tímida, os municípios geralmente não tem
hospitais municipais e tudo fica centralizado nas mãos do governo do estado, o único
grande empregador na área, e dessa forma, capaz de ditar o valor do salario e as regras
do trabalho, afinal, se você não quiser trabalhar em emergência para o governo do
estado, onde iria trabalhar? Além disso, outro ponto que em minha avaliação contou de
forma negativa foi a distancia entre as cidades. Não da pra você atender no PSF em sena
Madureira e ir ali em feijó (223 km) dar um plantão de porta. Foi então que fui em busca
uma região mais densa e com mais opções.

IDA AO MARANHÃO
Os desafios estavam apenas começando. O salario era bom, mas nem tudo era perfeito.
Ouvi muito falar em “calotes” de prefeituras e atrasos de salários, até que um dia eu
mesmo acabei sendo vítima... E a medida que a quantidade de formados aumentava na
região, decorrente das inúmeras faculdades de medicina abertas nas ultimas décadas,
percebia o valor do plantão diminuindo.

Duas situações me marcaram muito...

A primeira: Lembro que um dia, quando ameacei deixar a escala de um dos hospitais pelo
atraso de 4 meses de salario, ouvi da secretaria (falou sorrindo) que se eu saísse, tinha
mais 3 pra entrar no meu lugar no dia seguinte.

A segunda situação foi no município ao lado, a formatura do afilhado do prefeito, e para


meu azar queria justo o meu dia da escala. Não teve outra, me dispensaram para colocar
o garoto. Então eu me olhei no espelho, cansado, sem dormir bem há meses, 25 kg mais
gordo e com alopecia por estresse, tomei uma decisão. Eu vou sair dessa vida, dinheiro
não é tudo.

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E agora? Chama o Médico?

A ESCOLHA DA ESPECIALIDADE
Baseado em tudo o que tinha vivido, pensei em que tipo de vida queria levar para os
próximos 30 anos. Cirurgias incansáveis? Traumas? Fratura exposta? Adrenalina? Ou
ambulatório, exames de imagem e acompanhamento longitudinal de pacientes? É claro
que já deu pra perceber que eu sou da turma do “A clinica é soberana”. Optei pela
residência de clinica médica e voltei ao Acre, aproveitando para passar um tempo a mais
perto dos meus pais. Depois optei por cardiologia, uma especialidade que me daria uma
certa autonomia de prefeituras e governos estaduais, afinal, todo mundo precisa de
cardiologista e com um estetoscópio e uma boa anamnese, da pra você se virar em
qualquer lugar. É claro que essa é a minha visão das coisas! A escolha da especialidade se
baseia muito na sua personalidade e no estilo de vida que você pretende ter.

A CARREIRA DE CARDIOLOGISTA
Ser cardiologista é maravilhoso! O cardiologista é necessário, e é bom se sentir útil. Seu
paciente vai te chamar pelo nome, vai te levar pequenas lembranças e vai na maioria das
vezes estabelecer um vinculo afetivo.
O estilo de vida e a carreia variam a depender do local onde você mora. Em salvador,
onde moro, se inserir no mercado de trabalho e ser conhecido vivendo puramente de
ambulatório é quase uma utopia. Você terá que passar uns bons anos dando plantão de
uti e com certeza terá que fazer uma subespecialidade para obter algum destaque. Já há
cidades do interior e capitais menores em que você ainda consegue chegar ganhando
espaço com mais facilidade. No mundo médico e digital de hoje, sabemos que quem se
destaca mesmo geralmente está fazendo vídeos engraçados no instagram ou dancinhas
no TikTok ou prescrevendo produtos milagrosos para emagrecimento ou beleza. É nesse
mundo, que ser um profissional bem formad, capacitado e útil, fazendo a diferença real
na vida de quem precisa de verdade, não tem preço.

CONCLUSÃO
Se o seu sonho é de realmente ser médico, siga firme, mas se seu objetivo é puramente
financeiro, há outras maneiras se ser bem sucedido. Sobre o caminho até aqui, ninguem
disse que seria fácil, mas sabe o que é mais engraçado? Mesmo passando por todos esses
esses obstáculos, eu faria tudo de novo.”

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E agora? Chama o Médico?

JAIR MACIEL - ALAGOAS


“Meu nome é Jair, sou formado pela UFAC. Assim que me formei, como todo recém-
formado, eu tinha medo de emergência. Para evitar a emergência, eu comecei
trabalhando com USF, saúde básica. Não me identifiquei tanto pois aos poucos eu fui me
engajando em serviços de emergência, que me chamavam mais a atenção.
Vivi a pandemia do Covid-19, que gerou uma mudança muito brusca no mercado,
obrigando quase todos os profissionais a trabalharem com emergência.
Em seguida, após um tempo na emergência, comecei a trabalhar com UTI.
Atualmente estou em Alagoas, trabalho no setor do Agreste em Alagoas. Trabalho com
emergência atualmente, apesar de não ter feito residência ainda. Sou emergencista em 2
UTI’s, uma de trauma e uma de clínica, além de trabalhar na porta da UPA e no SAMU.
Para mim é uma coisa bem gratificante, e penso em me especializar em cirurgia torácica
no futuro. No serviço privado eu faço consultas.
Aqui a média do plantão, pelo estado, recebo R$ 3.400 líquido, por plantão. No SAMU
recebo R$ 2600 e na emergência/UPA, recebo em torno de R$ 2500/2750 pois nos fins de
semana se paga mais.”

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E agora? Chama o Médico?

# REGIÃO CENTRO-OESTE

MURILO CAMILO DUARTE - GOIÁS


“Sou médico, formado pela Universidade de Rio Verde – Goiás, desde julho de 2019.
Ainda no final da faculdade fui aprovado em um concurso público municipal de uma
cidade do interior de Goiás, próxima a minha cidade natal. Atuei na Unidade de Pronto
Atendimento de Rio Verde em plantões, com um valor médio de R$ 1.000,00 a cada 12
horas, assim que me formei, enquanto aguardava a convocação para o concurso. Logo
depois, assumi por três meses uma Unidade Básica de Saúde, conciliando com plantões
em um Hospital Municipal de médio porte – onde se realizava cesarianas e cirurgias de
pequeno porte por especialistas. Em janeiro de 2020, assumi o concurso público e, desde
então, sou responsável por uma UBS, trabalhando 40 horas semanais, de segunda a
sexta-feira, com salário base de R$ 12.000,00. Além do serviço na atenção primaria,
mantenho plantões noturnos em outra UBS, para atendimentos de urgência e
emergência, com valor médio de R$ 900,00 a cada 12 horas. A experiência de trabalhar
na atenção primaria e de uma rotina, às vezes cansativa, pela monotonia, pacientes
frequentes, baixa complexidade e salários um pouco abaixo da média esperada. Mas, ao
mesmo tempo, permite a liberdade com os horários, tempo livre para plantões, estudos e
atividades sociais, além de um cuidado mais intenso com pacientes crônicos, idosos,
projetos em escolas, atenção domiciliar e cuidados paliativos. No momento, priorizo uma
maior qualidade de vida, por conseguir conciliar trabalho (plantões e atenção básica) e
vida pessoal, na minha região natal, o que, sem dúvida, e um ponto positivo de trabalhar
no interior. Mas aspiro uma residência, ainda em estudo e preparação.”

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E agora? Chama o Médico?

# REGIÃO SUDESTE

VINÍCIUS VOLTOLINI – SÃO PAULO


“Eu sou formado desde dezembro/2019.
No começo, trabalhei em porta de pronto socorro e enfermaria de UPA e de hospitais. O
salário gira em média de 1000-1200 aqui em São Paulo nessas áreas. Logo que formado, o
que tem de disponível mesmo (e o que normalmente a gente tem coragem de pegar, né), é
a porta de PS. Eu nunca gostei muito desse setor, porque a grande maioria dos casos não
são pertinentes ao PS, são muitos casos repetidos e a impressão que eu tinha é que eu
estava lá apenas pra atender rápido e zerar a espera. Mas é um ótimo lugar pra se
começar e perder o medo!

Como não fazia muito o meu perfil, já de começo me arrisquei em enfermaria/sala


amarela, e achei bem melhor. Tem bastante tempo pra olhar cada paciente, entender o
que tá acontecendo e tentar tomar uma conduta com base num seguimento, até com a
possibilidade de você mesmo ver se a terapia tá dando resultado. Mas são casos mais
cheios de comorbidades, arrastados... a maioria com pacientes idosos, o que também não
faz muito o meu perfil.

Depois de uns 4 meses de formado, comecei a dar plantão em emergência. Tinha


estudado bastante pra isso, já que não estava completamente feliz nos outros setores. O
salário deve estar em uns 1200-1350

É um setor muito diferente dos demais, as coisas são muito mais dinâmicas e
movimentadas, o que acaba me agradando mais. Tem plantões que chega SAMU o dia
todo, com casos muito diferentes (cardíaco, neurológico, renal, respiratório, intoxicação..
tudo num só dia) e igualmente importantes, que normalmente requerem que a gente
tome uma atitude que muda completamente o desfecho do paciente, onde a gente vê que
as vezes a resposta a terapêutica é muito rápida! Tem a parte negativa de, por ser em
serviço público, faltar recursos e sempre depender de uma transferência (que muitas
vezes demora semanas pra acontecer), e também o próprio cansaço (tem plantões que
não tem nem como tomar água - não é comum, mas acontece)

Hoje eu faço residência cirurgia cardíaca em um hospital particular, é um universo bem


diferente. Além da cirurgia eu dou plantão na UTI do hospital. Esse é um valor de plantão
que varia muito, já vi uma média de 1500-2200, dependendo do hospital (falando dos
particulares).

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E agora? Chama o Médico?

A rotina de UTI é um pouco diferente da sala vermelha, normalmente os pacientes já


estão internados e não necessariamente com aquela urgência, mas também tem bastante
intercorrências e procedimentos no plantão... embora costume ser mais tranquilo
(fisicamente) do que a emergência, acho que demanda muito mais conhecimento médico

O universo do hospital particular é MUITO diferente. Além de toda a perfumaria


envolvida, temos acesso a praticamente tudo o que quisermos usar. Desde medicações,
até exames e interconsultas com qualquer especialidade.

Isso, por um lado, é ótimo pro paciente. Mas também tem que levar em consideração que
o paciente acabava sendo dividido entre muitas especialidades no mesmo hospital, o que
as vezes pode atrapalhar um pouco o seguimento pro médico assistente.”

VINÍCIUS AVELAR – SETE LAGOAS – MINAS GERAIS


“Me chamo Vinícius Avelar Palhares, atualmente moro em Sete Lagoas, na região
metropolitana de Belo Horizonte - MG.

Me formei em medicina em Maio/2019, na FASEH (Vespasiano-MG) e de lá pra cá já


peguei bastante plantão e passei alguns apertos também. Comecei trabalhando na região
de BH, em pronto-atendimentos de policlínicas e hospitais, além de posto de saúde.
Alguns não tinham tantos recursos como exames de imagem e até mesmo de sangue
disponíveis de imediato, então você tinha que exercer ao máximo sua capacidade de
raciocínio clínico e manejar o paciente conforme sua percepção do quadro. Apesar da
falta de recursos a equipe era boa é isso faz toda a diferença. Sempre tive receio de
plantão, até hoje ainda tenho, mas tento sempre manter a calma e pensar no que posso
fazer de melhor para tirar o paciente daquela situação. Hoje faço residência em Cirurgia
Geral, estou no segundo ano. Não me vejo fazendo outra especialidade no momento, mas
pode ser que isso mude, ou até o mercado me mude! Já são quase três anos que formei e a
média de plantões não subiu tanto assim, nos primeiros locais que trabalhei, lembro de
ter visto apenas um aumento no valor dos plantões, assim mesmo ficando em torno de
R$900,00 a R$1000,00 bruto. Quando paga a mais do que isso é um plantão bem
disputado, se for em um bom local com estrutura para trabalho ou as vezes somente um
local que está com uma série de atrasos e déficits em pagamentos à colegas médicos.
Sempre importante procurar saber as condições de trabalho (físicas, recursos e até
mesmo de pagamento) antes de aceitar um plantão ou um contrato de trabalho.”

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E agora? Chama o Médico?

BAGGIO FOLHADELA – INTERIOR DE SÃO PAULO- BOTUCATU /


“Sou formado desde 2019, pela Faculdade São Lucas (RO). Após formado fui morar em
SP- interior Botucatu em 2020.Trabalhei alguns meses em plantão no PS na cidade de
Botucatu e região associado atenção básica em várias unidades de saúde e intercalando
com plantões em SP capital (porta e emergência).

Em junho 2020 me inscrevi no Programa Mais Médicos e fui morar em Brusque (SC) e
trabalhei por um ano no Mais Médicos e plantões na região de Brusque, Itajaí,
Navegantes, Balneário Camboriú, Camboriú, Botuvera, Guabiruba. Plantões de Covid,
plantões de porta, enfermaria COVID... peguei de tudo.

Em 2021 me mudei para São Paulo e iniciei a residência de Anestesiologia em Guarujá,


onde moro. Por aqui já trabalhei com plantão de UTI em Guarujá - UTI EMÍLIO RIBAS,
plantões na região de porta no início e emergência. Atualmente trabalho com UTI e
plantões de anestesiologia Bertioga, Guarujá e São Paulo. Valores de plantão na cidades
de São Paulo variam em torno de 1.300 a 1.450 líquido. SC tem valores menores variando
de 1.000 a 1.200 bruto.”

LETÍCIA FERNANDES – CONSELHEIRO LAFAIETE / OURO BRANCO– MG


Então, me formei dia 05 de agosto de 2021 e meu primeiro plantão foi na emergência
pediátrica num hospital na minha cidade, Conselheiro Lafaiete - MG, no dia 28 de agosto.
Durante a faculdade, apesar de ter tido contato com emergência devido às práticas da
Liga de Pediatria, nunca foi algo que eu me imaginei fazendo depois de formada (eu
achava que só tinha perfil pra ambulatório haha). Meu objetivo sempre foi entrar na
residência assim que terminasse a graduação, porém como tinha um intervalo entre as
provas e a data da formatura, acabei optando por fazer alguns plantões enquanto
estudava.

Em Setembro peguei 4 plantões fixos, mas no fim das contas, acabei fazendo 11 e, quando
me dei conta, eu estava amando trabalhar na emergência!

Claro que a gente passa algumas dificuldades, tem sempre um pouco de segurança
insegurança rondando algumas condutas, mas eu tive muita sorte de ter pessoas bacanas
trabalhando comigo e que me ajudaram a evoluir enquanto médica e na vida pessoal! Fiz
amizade com pessoas que confio e que hoje considero amigas queridas, principalmente a
equipe de enfermagem com quem tanto aprendi!

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E agora? Chama o Médico?

Nunca imaginei que em 7 meses de trabalho eu faria transporte de RN grave pra UTI de
outra cidade, que entubaria crianças e nenéns e muito menos que eu teria que lidar com
tantas situações delicadas e confortar tantos pais aflitos, mas sou grata pelo tanto que isso
me ajudou a entender o que eu precisava pra me encontrar na medicina.

Em paralelo a esse hospital, onde eu fazia maior parte dos plantões, também trabalhei na
emergência clínica de um hospital particular em uma cidade vizinha (Ouro Branco - MG)
onde as condições de trabalho, tecnologia e suporte eram infinitamente mais atraentes...
mas não era o que me deixava mais realizada no final do dia. Trabalhava também uma
vez por semana no Pronto Socorro de Lafaiete, onde aprendi muito, mas também onde
mais me desgastei, emocionalmente e fisicamente.

No fim desses 7 meses de experiências e tantos acontecimentos, eu não tenho dúvidas


que meu propósito e o que enche meu coração é cuidar das crianças, com quem posso
gastar todo meu conhecimento sobre Frozen e Patrulha Canina haha

Hoje, fazendo a residência que eu sempre sonhei, uma das poucas certezas que eu tenho é
que a melhor coisa que eu fiz foi ter trabalhado após sair da faculdade... o que eu aprendi
nesses meses, a faculdade não passou perto de me ensinar. Aproveitar a graduação pra
adquirir o máximo de conhecimento teórico e prático é essencial e indiscutível, mas tem
coisas que a gente só entende depois.

Sobre os valores:
- Emergência PED: 1000 reais (840 livre) 12h
- PA Ouro Branco: recebia como PJ uma média de 1500-1800 livre por plantão (porque
era por produtividade), porém tem toda a questão de gerar as notas fiscais, pagar por
isso, pagar contador etc etc.
- PS: 1037 em dia de semana e 1400 finais de semana, como era contrato com a prefeitura,
tinha férias, 13º, vale alimentação etc...

Letícia Fernandes
Residente em Pediatria

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E agora? Chama o Médico?

BEATRIZ MOREIRA – SÃO PAULO


“Quando damos o primeiro passo fora do ambiente acadêmico, longe da esfera pacata de
cobertura dos inúmeros docentes, nos damos conta da imensa responsabilidade que nos
cabe ser, profissionalmente, a cada um que nos procura. As incertezas, inseguranças, o
medo inevitável de ser incapaz ou insuficiente a quem te procura, acomodam-se
perfeitamente no colossal frio na barriga do primeiro plantão. É normal, passageiro.
Depois do primeiro, do segundo, você passa a se incorporar ao meio, entendendo as
dificuldades, enxergando de perto as limitações e imposições que ele pode provocar na
execução de seu serviço diário. Exercer as faculdades ocupacionais que você tanto lutou
para ter é um sonho, embora seja bem desgastante e cansativo, pelas mesmas condições
supracitadas. Trabalho em diversos locais em São Paulo, entre eles, unidades de pronto
atendimento e unidades básicas de saúde, o fluxo é bem importante, variando entre 50 a
70 atendimentos por dia. O registro deles, em diversos lugares, infelizmente ainda é
manual. Na grande maioria das unidades, o que importa é a quantidade de atendimentos
e sua rapidez em casa um deles. Em ubs, aquilo que aprendemos de cuidado continuado é
bem difícil de ser visto na prática. A autocobrança de não se deixar ser englobado nesse
ambiente desumanizado acaba sendo um exercício diário. É sempre importante
questionar o que é realmente válido a ser passado a cada paciente em atendimento, e o
perfil de profissional que você quer ser, apesar das circunstâncias. O desgaste mental e
físico são inevitáveis. O retorno financeiro e sua independência podem ser uma
realidade. Nesse meio, tudo tem seu preço. Com tempo você passa a analisar quanto vale
sua saúde mental em certas ocasiões/condições. O importante é não esquecer de sua
formação e nem das razões pelas você está ali.”

CARLA CAPITA – SÃO PAULO – SP


“Me chamo Carla, sou médica generalista e estou formada há 3 anos pela Universidade
São Lucas em Porto Velho. Atualmente trabalho desde que formei em São Paulo, em duas
unidades completamente distintas.

A primeira, em um ambulatório de assistência médica (AMA), que é gerenciada por uma


empresa em regime de CLT, no qual atualmente tenho uma carga horária de 24 horas
semanais. A segunda, atuo no setor de emergência , no Hospital São Luiz
Gonzaga,gerenciada por uma empresa, em regime PJe faço plantão de 12 horas semanais.

O Salário hoje varia de R$ 1.200,00 a R$: 1.500,00. locais que pagam maiores valores, cada
vez mais exigem residência médica.

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E agora? Chama o Médico?

Mercado de trabalho: Quando cheguei em São Paulo, havia muito oferta de trabalho,
praticamente se quisesse trabalhar todos os dias haveria plantões disponíveis. Hoje,
apesar de haver ainda um mercado grande de trabalho na cidade, vem diminuindo
gradativamente, de acordo com a grande demanda de médicos formados
semestralmente/anualmente. Atualmente faço 30 horas semanais pois estou me
preparando para residência. Melhores condiçoes de trabalho, exigem cada vez mais
profissionais qualificados.

-Experiências:
HOSPITAL GERAL DE GUARULHOS julho/2019 a julho/21: setor porta (PS) e enfermaria
* SETOR PS: Atendimento de fichas verdes e amarelas com casos de baixa e média
complexidade. Setor muito rico para aprendizado para recém formado.

*SETOR ENFERMARIA DA CLÍNICA MÉDICA: Atendimento a pacientes internados de


média a alta complexidade. Setor que exige um pouco de experiência, pois neste cenário
o médico irá lidar com casos complexos, além de se deparar com alto fluxo de PCR, óbito
e manejo clínico, no qual você irá decidir se este paciente está apto a alta hospitalar ou
tranfêrencia para UTI. Unidade excelente para quem quer fazer residência de clínica
médica, pois além de uma rotatividade enorme de casos, o médico aprender a lidar com
vários desafios, desde discursão de casos clínicos, interação médico paciente, incluindo a
família, e não menos importante o aprendizado de apresentação a más notícias, que vai
desde cuidados paliativos a óbito. Este sem dúvida, foi o local que mais enriqueceu para
minha formação médica. não permaneci por muito tempo neste hospital, pois o mesmo é
muito complexo e necessita de um bom líder para gerenciar uma unidade de grande
porte. Tive o privilégio de trabalhar com excelentes profissionais, mas todos os meus
coordenadores foram para outras unidades devido a melhoria de proposta salarial.

*SETOR AMBULATÓRIO DE ASSISTÊNCIA MÉDICA (AMA) - Julho/21 até o momento:


Atendimento de fichas azuis, verdes e amarelas. Unidade que exige atendimento rápido,
pois trabalham com produção. Média de atendimentos diário 60 a 100 fichas em 12 horas.
Posso dizer que neste unidade não me foi enriquecido nada a nível de aprendizado.
Infelizmente de 100% de pacientes atendidos, 80% solicitam atestado médico sem
realmente precisar. Único beneficio, regime CLT e maior salário atualmente.

*SETOR EMERGÊNCIA - Janeiro/21 até o momento: Atendimento de paciente graves e


complexos. Setor que exige bastante experiência médica. Cenário no qual o médico se
depara com muita PCR e casos graves, no qual é impresindivel o manejo com IOT,
punção de cateter venoso central e manejo com drogas vasoativas. Este realmente é o
local que mais me sinto útil como profissional.”

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E agora? Chama o Médico?

ANELISE ZIMMERMANN - RIO DE JANEIRO – RJ


“Sou formada desde dezembro de 2019. Inicialmente, trabalhei em Posto de Saúde da
Família e plantões em Unidade de Pronto Atendimento. Na minha opinião, todo médico
recém-formado deveria ter esta experiência, antes de entrar para qualquer residência
médica/ especialização, ainda mais se estiver na dúvida de qual caminho seguir. Acredito
que passar um período atuando em posto de saúde da família e/ou Unidade de Pronto
Atendimento, te faz evoluir profissionalmente e também como pessoa, pois você lida
com as mais diversas situações clínicas e até mesmo burocráticas e percebe a sua
responsabilidade e papel como médico diante de cada paciente e com a equipe de
trabalho. Lembrando que o ano de 2020 foi marcado pela pandemia da COVID-19, sendo
assim, trabalhar no Posto de Saúde da família foi desafiador para mim, pois além de
atender os casos de COVID, tive que ser exercer um pouco de cada especialidade, pois
nenhum hospital de referência na região estava aceitando casos para internação/
investigação clínica, o que me fez estudar muito mais para oferecer um bom e adequado
tratamento e até mesmo fazer diagnósticos mais específicos, evitando desfechos
desfavoráveis, e facilitando os devidos encaminhamentos para cada especialidade,
contando é claro, com ajuda de toda equipe.

No posto de saúde, você passa a ter mais segurança para tomar condutas e decisões. Com
humildade, você aprende muito e troca experiências com a enfermagem, técnicos e
funcionários que já trabalham há muitos anos no local; coloca seus conhecimentos em
prática abordando cada caso em várias áreas (clínica médica, doenças crônicas,
puericultura, saúde da mulher, pré-natal, parto, saúde mental etc); percebe a importância
de uma boa evolução/ anamnese em prontuário; aperfeiçoa procedimentos clínicos e
cirúrgicos básicos; além de praticar a relação médico-paciente, que para mim é muito
importante nos dias de hoje. Você consegue acompanhar o cuidado e a evolução dos
pacientes, verificar os tratamentos realizados, se suas condutas foram acertivas, o que
funcionou , o que não funcionou, aprende a “ se virar” com os recursos disponíveis, além
de ter o retorno e carinho dos pacientes que é impagável e gratificante.

Percebo o quão decadente estão os atendimentos médicos atualmente (considerando que


muitas vezes somos pacientes também), com falta de qualidade, de olho no olho, de
exame físico, de conhecimento, atenção, educação e cuidado. Sendo assim, com o
mercado médico de hoje, cada vez mais competitivo, lembre-se de que prestar um bom
atendimento e ter uma boa relação com o paciente e equipe, independente se você
conseguirá resolver ou não o problema, te darão destaque profissional onde quer que
você esteja.

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E agora? Chama o Médico?

Já na UPA, você atende situações de urgência em que deve estar mais preparado para
tomar decisões rápidas e certeiras, lidar com pressão, estabilizar o paciente, saber
conduzir uma parada cardiorrespiratória, além de adquirir experiência com alguns
procedimentos (por exemplo: sutura). E se não estiver preparado para atuar numa sala
vermelha, não faça! O mesmo vale para assumir uma Emergência Clínica/ Trauma, UTI,
SAMU.

No início da carreira, você muitas vezes vai achar que não sabe de nada. Calma! Não
tenha medo de pedir ajuda/ opiniões para colegas mais experientes e professores
acessíveis. É no dia a dia da prática clínica que vamos adquirindo confiança e
experiência.

Falando de remuneração, a medicina ainda é uma área que te traz um retorno financeiro
bom. Você pode trabalhar e pagar suas dívidas pendentes da faculdade, do dia a dia e
pode até se programar financeiramente para viver melhor no período de residência
médica. O primeiro estado que fui trabalhar foi no Paraná (litoral), devido a questões
familiares. A média de salário por plantão de 12 horas em UPA gira em torno de R$ 1000-
1200,00 (líquido), e o salário por 40 horas semanais em Posto de Saúde, gira em torno de
R$ 14.000, 00 líquido.

Atualmente, moro no Rio de Janeiro, e os valores de UPA são semelhantes, há muitas


opções de trabalho, porém em várias regiões inclusive mais distantes, sendo assim,
desconheço das condições de trabalho e segurança dos locais. Para hospitais particulares
no Rio de Janeiro , as condições de trabalho são sem dúvida melhores, mas você precisa
de indicações, análise de currículo e ter empresa/PJ.

Outra opção hoje em dia, é a Telemedicina, que na minha opinião, veio para somar após a
pandemia. Há muitas situações e condições clínicas que podem muito bem ser
conduzidas e orientadas através da telemedicina, reduzindo a sobrecarga, as longas filas
de espera e o fluxo intenso (muitas vezes desnecessário) dos pronto atendimentos. Nada
substitui um bom exame físico, mas há casos que são simples de resolver e muitas vezes
as pessoas precisam apenas de orientação ou direcionamento para uma especialidade
correta. Obviamente ao iniciar um atendimento de telemedicina, no qual você identificar
algum sinal de gravidade no paciente, você irá orientá-lo a buscar imediatamente o
pronto atendimento. Você precisa ter uma boa relação com computador/ internet e
sistemas de cada empresa, saber fazer uma boa anamnese e ao mesmo tempo ser prático
e objetivo, sem perder a qualidade do atendimento.

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E agora? Chama o Médico?

Os valores nem sempre se comparam aos plantões presenciais, mas geralmente as


empresas pagam por hora e por produtividade, e eu já tive a experiência de receber um
pagamento “extra” em torno R$ 15.000 no mês, trabalhando no conforto da minha casa.
Cada empresa tem suas exigências de contratação (PJ, tempo de experiência médica,
currículo, indicação) e devido a alta procura na área, vejo que está cada vez mais difícil
conseguir ser contratado, apesar da demanda e procura pelo serviço estar aumentando.

O ritmo de plantões pode ter um bom retorno financeiro, mas não são todos que
aguentam manter essa rotina por anos e anos. Uma dica: se você quer seguir uma
especialidade, nunca deixe o ritmo de estudos de lado. Uma vez que você começa a dar
plantões (até sem limite), trabalhar e ganhar dinheiro, você se emociona com isso, cada
vez quer ganhar mais, adquirir mais coisas, mas fica esgotado, perde o foco, ritmo e
ânimo para retomar os estudos. Teremos cada vez mais médicos formados e a princípio,
o mesmo número de vagas nas residências, sendo assim, ficará cada vez mais difícil de
entrar. Tudo dependerá do seu foco, persistência e organização. Reduza as horas de
trabalho, organize uma rotina de estudos e não deixe a saúde física e mental de lado
(saiba administrar um tempo para si mesmo, praticar atividade física e para descontrair).
A residência não é fácil, você ganhará bem menos, trabalhará muito, será muito cobrado,
porém é o período que você aprenderá e viverá intensamente cada detalhe da
especialidade em que você atuará daqui a para frente. Sendo assim, persista e não desista,
até passar!!! Se você ainda tem dúvidas, busque opiniões e até mesmo acompanhe colegas
médicos da sua especialidade de interesse, saiba a rotina, as áreas de atuação ,
remuneração e subespecialidades, para não perder tempo.

Atualmente estou me especializando em Dermatologia no Rio de Janeiro (Instituto de


Dermatologia Professor Rubem David Azulay - Santa Casa da misericórdia- IDPRDA),
com duração de 3 anos e sou apaixonada desde sempre por esta área. Embora não tive
Dermatologia durante a faculdade/ internato, buscava acompanhar os dermatologistas
da cidade e me associei à liga de Dermatologia para ter mais contato com a especialidade.
A dermatologia tem várias subáreas e o serviço no qual faço parte, abrange boa parte
delas: clínica dermatológica, dermatopediatria, dermatopatologia, cirurgia dermatológica
e cosmiátrica, centro de estudos de cabelo e de unhas, micologia, doenças de mucosas,
alergia, cosmiatria ( tratamentos e procedimentos estéticos), psicodermatoses, laser,
oncologia/linfoma, ultrassonografia em dermatologia, dermatoscopia/ mapeamento
corporal para cânceres de pele, fototerapia, ambulatórios específicos como
psoríase/hanseníase/ infecções sexualmente transmissíveis/ feridas/ vitiligo/ pele
negra/transsexual, e possibilidade de passar por enfermaria dermatológica.

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E agora? Chama o Médico?

Sendo assim, é uma especialidade que considero difícil, frente aos inúmeros diagnósticos
possíveis. As doenças de pele e anexos estão “estampadas” nos pacientes, e por isso,
afetam muito a qualidade de vida, suas relações interpessoais e laborais, auto-estima,
psicológico, causando preconceito e estigma social. Poder tratar, amenizar ou melhorar
suas queixas, traz uma satisfação enorme.

Você que escolheu a medicina irá viver inúmeras experiências tanto boas quanto ruins,
pois você estará lidando com a responsabilidade de vidas e até mesmo perdas. Faça o seu
melhor sempre nesta profissão linda e desafiadora, aceite as críticas construtivas, seja
humilde, tenha empatia, busque sempre melhorar, nunca deixe de estudar, se
especializar, mas também nunca esqueça de cuidar da sua saúde mental e física, ter
tempo para vida social, pois a rotina pode te consumir e você precisa estar bem para
cuidar bem do próximo 😊. Sucesso!”

Anelise Zimmermann
Residente em Dermatologia

REBECA MEGALE – RIO DE JANEIRO – SÃO PAULO


“Eu escrevo esse depoimento numa sexta feira pós plantão, após uma semana intensa de
trabalho, cansada e muito cansada.

Cansada da pediatria ? Não, isso é algo que julgo impossível. Escolhi a pediatria ainda
criança quando via meus pais falando dos casos das crianças deles, nossos jantares eram
embalados ao som de casos clínicos pediátricos e eu mesmo sem entender nada prestava
atenta atenção em tudo.

Estou formada na faculdade tem 3 anos, sendo 2 deles vividos durante a pandemia dentro
de uma residência de pediatria. Nos 3 primeiros meses de formada que antecederam a
residência eu já trabalhava como pediatra, nesse tempo achava que sabia muita coisa.
Afinal durante a faculdade sempre fiz meu mundo girar em torno disso, liga de pediatria,
atendimentos comunitários, discussões com meus pais e sempre a mesma certeza : farei
pediatria.

Enfim, nos 3 primeiros meses antes de entrar na residência, trabalhando com pediatria
99% dos meus casos eram os mesmos : resfriado, diarreia, broncoespasmos, o arroz com
feijão da pediatria.... o que todos pensam... até você realmente atender uma criança que
vai muito além, aquele 1% que ou você sabe ou passa batido... e esse 1% naquele dia era o
meu maior calcanhar de aquiles : hematologia! a criança tinha uma hemoglobina de 4,
toda descompensada, baixo peso, baixa estatura e eu foquei muito nisso, nesse numero 4
e a descompensação e a necessidade de transfusão naquele momento.

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E agora? Chama o Médico?

E agora o que fazer ? Será que é seguro ? Quais os efeitos colaterais ? E descobri que não
sabia o que fazer, que aquilo poderia ser fatal se eu não soubesse imediatamente o que
fazer.

Realmente, a pediatria é 99% das vezes tranquilas, ou talvez a maioria pense assim pois a
gente só reconhece aquilo que conhece, se não estuda e não sabe nunca vai saber
reconhecer a gravidade. Percebo isso claramente hoje, exatamente na data de hoje. Uma
criança internada com 2 antibióticos, tratando há 2 dias como pneumonia que '' não
melhorou'' e na verdade era um pneumotórax extenso em todo pulmão direito. A outra
internada com '' dengue'' tinha todos os sinais e sintomas classicos de sarampo ( no auge
das campanhas e vacinação sobre isso), outra de 2 anos e 8 meses internada como
''sindrome nefritica'' até feito penicilina benzatina..... São tantas coisas que a gente vê,
tantas complicações.... mas sabe porque todos acham que a pediatria não tem nada ?
Porque não são essas pessoas que pegam as complicações das coisas não feitas
adequadamente.

Fazer residência, estudar e focar a vida a isso faz toda a diferença e essa diferença não é
pra gente, pra sermos melhores, essa diferença é na vida daquela criança e daquela
família, é saber tratar aquele 1% que faz toda a diferença.

O salário da pediatria era mais alto que da clínica médica, isso até o COVID (qwsx pelo
que eu me lembro), ganhavámos em 2018/2019 em torno de 1000-1300 e seguimos
ganhando isso. Hoje em alguns lugares como SP exigem ( inicialmente até apertar a
situação já que não tem tanto pediatra como precisa) que tenha algum grau de
especialidade. No RJ quando fiz residência não exigiam isso e eram com essas duplas que
eu via MUITA coisa errada acontecendo. SP paga entre 1300-1600 dependendo do local,
distância periférica. No RJ paga menos, em região mais nobre paga 1000-1300 e nos
particulares chega a ser pior, o ruim do RJ é que tem muito local bem perigoso de
trabalhar, não tem muito hospital municipal e com isso menos oportunidades de trabalho
para pediatria. O salário da UTI é um pouco mais alto, algo em torno de 1600-1800 reais,
se for rotina ganha mais. O consultório quem faz nosso preço é a gente e vou falar, os
pais pagam sim e muito por uma consulta de qualidade por mais que isso demande da
gente um tempo extra.

O que eu gostaria de passar para você, futuro formando é que a pediatria ainda é linda
sim, cada sorriso, cada obrigada, cada criança que melhora. Pediatria não é sí
amoxicilina, pediatria tem doença também e doença séria e muito grave, pode ser apenas
aquele 1% mas perder 1que seja por não saber o que fazer é perder muito!

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E agora? Chama o Médico?

A residência faz sim diferença na nossa formação, a prática de todos os dias, a rede de
apoio, a formação. A pediatria é sim uma das especialidades mais lindas do mundo, a
gente tem a honra de ver aquele ser novo nascer, a honra de acompanhar e desenvolver,
se envolver com aquela família. Temos a oportunidade também de nao querer esse
vínculo e trabalhar apenas no pronto socorro, podemos escolher trabalhar apenas com
os mais graves e ficar na UTI. A gente tem a honra de escolher o que quiser fazer, desde
que a gente faça bem feito.”

TAÍS GUIMARÃES – SÃO PAULO INCLUINDO ABC PAULISTA – VISÃO DE CHEFE


“Me formei em dezembro de 2017, sai da faculdade com uma dívida enorme dos meus
pais que resolvi assumi e assim me vi com 23 anos precisando ganhar dinheiro para
sustentar minha família, sendo que nunca tinha trabalhado.

Fiz faculdade no rio e tinha vontade de voltar para minas , logo que me formei tentei
voltar para a minha cidade natal, mas o que consegui era plantão para fevereiro, plantão
de 6h pagando 300 reais mais uma porcentagem por atendimento ou internação . Pela
minha urgência financeira optei por ir para São Paulo onde meu irmão que também era
médico já estava e já me arrumava plantão para o dia seguinte.

Quando cheguei em São Paulo me assustei com tamanha oferta, é um lugar que se você
quiser dar plantão 24h do dia nos sete dia das semanas você consegue. O plantão em
média tinha o valor de 1000 reais. Logo comecei a trabalhar em UPA, lugar que dá um
medo de início mas que todo recém formado deve enfrentar. Fazia mais 100h seguidas de
plantão. Atendimento de porta, com muita sinceridade, é um saco ! Por fim , já não
aguentava mais ouvir que “acordei com a barriga ruim”, “dor de cabeça , acho que é
sinusite, me dá uma bezentacil, preciso de um atestado”. Você estudar 6 anos pra tratar
GECA é um absurdo e era assim que me sentia, mas precisava de dinheiro e esta era a
única forma imediata.

Após três meses de formada comecei a fazer plantão na emergência da UPA, no susto
pois nunca tive experiência em procedimentos ou drogas , mas estudava nos intervalos e
me arrisquei. Nunca tive vergonha de pedir ajuda se não soubesse ou se não conseguisse
fazer os procedimentos. Apesar de ser casos mais complicados e que exigia de verdade
conhecimento médico, eu trabalhava em um local que não tinha muita estrutura e por
isso muitas coisas não dava pra ser colocado em prática do que era estudado e isso me
frustrava muito. Por ter uma responsabilidade maior o salário era por volta de 1200 mas
ainda não achava que compensava.

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E agora? Chama o Médico?

Nessa vida fui ficando , mas com consciência de que não era isso que eu queria para
minha vida.

Fiz um concurso comecei a trabalhar em UBS, vi de perto a incoerência e o quanto a


população sofre com a ma gestão da saúde. Enquanto na UPA falava para os pacientes
procurar a UBS para fazer acompanhamento, na UBS via que não tinha vaga para
consultas, não tinha insumos, população não tem dinheiro para comprar medicações,
não tem noção mínima de hábitos saudáveis. Ou seja era um encaminhamento de um
serviço ao outro sem qualquer resolução do caso. No concurso recebia por hora, cerca de
120 reais/hora, com direito a férias, décimo terceiro, folga abonada, vários direitos
trabalhistas mas que ainda assim pra mim não foram suficientes para seguir .

Trabalhei ainda no SAD, vi ainda mais de perto a pobreza da população e junto a


ignorância aos cuidados de saúde . Apesar das limitações era um trabalho que gostava
pois era possível o acompanhamento do pciente e observar a melhora do pciente é algo
muito gratificante.

Em dezembro de 2019, novo emprego e em nova área. Assumi a responsabilidade técnica


de uma UPA, medo e insegurança por ser tão nova e com tamanha responsabilidade mas
enfrentei. Vi os recém formados chegarem com medo e me via na responsabilidade de
acolhê-los e prestar todo suporte que eles precisavam. A parte da burocracia de papéis
eu odiava, fazia por obrigação, mas sempre gostei da assistência direta ao paciente. Em
março começou a pandemia e aí sim um caos, toda a equipe com medo, uma doença que
não sabíamos nada. Enfrentamos e neste momento foi fundamental a confiança entre a
equipe médica e de enfermagem, um apoiando o outro .

Vi que os recém formados chegavam ainda mais despreparados pois foi adiantado a
formatura sem ter completado todos os estágios , a grande maioria sabia tratar a fase
inicial do COVID ou seja gripe, pois se o paciente complicasse um pouquinho, eles se
desesperavam. Eu enquanto RT ficava ao lado, garantindo que eles não estavam sozinhos
e que se fosse necessário algum procedimento faríamos juntos. Enquanto fiquei de RT
ensinei muitos a intubar, passar central, paracentese, toracocentese, manejo de drogas,
uma experiência diferente, gratificante por acompanhar a melhora tanto dos pacientes
quanto dos médicos. O salário não era ruim, tinha uma flexibilidade de horário, mas a
pressão política me fez desistir.

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E agora? Chama o Médico?

Nesse meio tempo fiz pós graduação em geriatria, sei que não é o ideal, não ter RQE não é
nada bom, mas consegui muitos pacientes. Hoje em dia trabalho apenas na geriatria,
consultório particular, ILPI e ambulatório de convênio. Tive que abri uma empresa, onde
recebo todo meu salário por PJ. Taxa de imposto menor, consigo manejar meus horários
e ganhar bem mais em termos de hora trabalhada quando comparado ao plantão. O
objetivo final é ficar só no consultório mas ainda estou no caminho.”

REBECCA ROLIM – NORDESTE - SUDESTE


“Assim que formei, voltei para meu estado de origem, Paraíba. Os plantões em Upas da
capital e hospitais de emergência dos interiores próximos, geralmente pagam em torno
de 700-850 reais 12h, preço abaixo da média geral, logo não optei por ficar na capital. A
USF, em 2020, estava pagando em torno de 9000 bruto, 4 dias na semana, horário
corrido das 8-14h, também não achei bom negócio. Então recebi proposta de ir para o
sertão, trabalhar em USF que funcionavam como Unidade Mista, durante o dia
funcionava Estratégia da Família e a noite, plantão de emergência. Pagavam bem por ser
cidade pequena do sertão, conseguia fazer entre 20-30 mil mensal. Porém, apesar dos
plantões noturnos terem fluxo baixo e leve-média complexidade, era médico único com
pouquíssima ou quase nenhuma estrutura. Não tínhamos exames laboratoriais, ECG e
raio x. Haviam poucas medicações injetáveis, apenas um laringoscópio e um tubo
número 8,0 já aberto. Contávamos com uma ambulância a serviço, para transporte para
Unidade de referência, quando necessário. De vez em quando, haviam partos naturais. A
unidade acolhia adulto, pediatria e gestantes. A experiência é árdua, porém muito
engrandecedora, a clínica de fato é soberana nos pequenos hospitais de interiores.

Com 4 meses, passei na residência médica para Anestesiologia no RJ. Havia juntando
dinheiro, porém as dívidas com formatura e medcurso levaram meu dinheiro embora
(rs). Logo, antes mesmo de chegar ao RJ, procurei trabalho por grupos de Whats e
consegui contrato com Upa, todo sábado 24h, na sala de emergência. O valor do plantão
no sudeste é em torno de 1000-1500 reais 12h, líquido. Então consegui me sustentar com
1 plantão semanal e a bolsa da residência. Foi bemm puxado, pois o R1 consome muito o
seu tempo, mas tem dado certo até então. Estou no terceiro ano de residência, agora já
consigo trabalhar com plantões na área da anestesiologia nos dias que tenho day off na
residência.”

Rebeca Rolim
Residente em Anestesiologia

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E agora? Chama o Médico?

MONALISA FÉLIX – MINAS GERAIS


“Comecei nesse setor por indicação de uma amiga, que já trabalha nesse local. Tive certa
experiência com pacientes mais complexos, então aceitei a proposta porque não podia
escolher muito (ou ia ficar sem emprego haha). Durante meu internato, eu era muito pró-
ativa e sempre procurava procedimento pra fazer, mesmo que não fossem os grandes
procedimentos (IOT, dreno de tórax, acesso venoso central), o que me ajudou bastante.
Além disso, eu me certifiquei que tinha pessoas mais experientes à disposição caso eu
precisasse, tanto na UPA como pra tirar uma dúvida por celular, por exemplo. Tudo isso
me encorajou a assumir emprego numa sala de emergência. Sempre tenho medo e receio
de fazer alguma coisa errada, de não saber como proceder, mas também sempre peço
confirmo com alguém mais experiente se a minha conduta tá no caminho certo.

- Sala vermelha (UPA). Prefiro porque são menos pacientes por vez, em teoria, mas odeio
porque às vezes são pacientes muito graves e que demandam cuidados que não estão
disponíveis

- Se for contratado pela prefeitura, que é responsável pela administração das UPAs em
MG, ganha 4000 mil reais para fazer 4 plantões por mês, um por semana. O extra é 1000
reais durante a semana e 1200 reais aos finais de semana”

Monalisa Félix
Residente em Radiologia

RAFAELA ROCHA – SÃO PAULO

Formei em 2018 e comecei a atuar Pelo programa Mais Médicos no interior de São Paulo
em 2019. O programa funciona como uma bolsa de estudos, isso significa que na prática
devemos trabalhar 32 horas por semana e temos um “day off” que geralmente serve para
fazermos a especialização (medicina de família e comunidade) que é obrigatória, e após 4
anos de atuação na atenção básica + especialização concluída vc pode prestar prova de
título da especialidade.

O salário é de aproximadamente 11,5 mil que vc recebe pelo governo federal, e um auxílio
alimentação e moradia pela prefeitura que vc escolheu (que varia muito de município,
mas geralmente é em torno de 2-3 mil ). Alguns colegas faziam plantões, aos fins de
semana ou noturnos, que na minha região é em torno de 1200-1300, lembrando que a
maioria dos hospitais são pequenos, mas o atendimento é porta e tem escassez de
especialistas disponíveis na maioria das vezes.

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E agora? Chama o Médico?

Acredito que atuar na atenção básica seja uma experiência única é imprescindível para
uma formação médica, criar vínculo com a população, com a equipe.
Dentre as vantagens do programa:

- Os horários dos atendimentos são fixos, isso significa que temos 30 dias de férias,
feriados e fins de semana, isso significa que quem está querendo “tempo” pra estudar
para as provas de residência, é uma boa opção.
- Pra quem é recém formado, trabalhar na atenção básica te dispõe mais tempo para
estudar, para acompanhar o paciente e entender o caso, além de treinar a sua relação
médico paciente como nunca.
-O salário do mais médicos somados ao auxílio, ao benefício de isenção do imposto de
renda, as férias, licença maternidade, e trabalhar somente 4 dias semanais, normalmente
ainda é melhor do que a maioria dos salários da atenção básica pelas prefeituras.

Por outro lado, a parte ruim é que dependendo de qual município ou região você atuar,
pode ser uma região distante com pouca estrutura, e muitas vezes a medicina vai ser
baseada no que tem.
-Não tem décimo terceiro
-Teoricamente não pode fazer plantão no seu dia de “day off”
-O programa mais médicos, foi substituído pelo programa médicos pelo Brasil, que tem
algumas novas regras e valores.

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E agora? Chama o Médico?

# REGIÃO SUL

MARCELLO SOUTO – SANTA CATARINA


“Bom me formei em dezembro de 2018, porém, com o alistamento obrigatório no
exército brasileiro após a formatura, fui convocado para servir no hospital militar de
Porto Velho. Chegando lá, fui escalado para compor a equipe da sala de emergência,
ainda que a maioria dos atendimentos eram de média a baixa complexidade. Foi uma
experiência de grande valia, aprendi muito nesse ano que trabalhei como médico do
exército e inclusive recomendo para todos que estiverem em dúvida sobre qual
especialidade seguir. Nesse tempo já havia passado na residência, então tive a vaga
segura pelo EB, onde me preparei, estudei e aprendi com meus colegas e superiores no
ano de 2019. Porém como qualquer recém formado, tinha enormes dúvidas e
insegurança, algo que independentemente de onde tenha se formado, vão surgir.
Em 2020 entrei para residência de medicina de emergência em Florianópolis, onde
realmente venho me aprimorando e aprendendo cada vez mais. A partir de então, tive
várias percepções sobre a formação e a necessidade de fazer uma residência, que ao meu
ver, é de suma importância. Dentro da nossa profissão, temos a necessidade de
compartilhar experiências com profissionais acima de nós, e é exatamente o que a
residência te proporciona. Além disso, é recheada dos desafios do dia-dia. Portanto, hoje,
se pudesse dar uma dica a um recém formado diria: cuidado com os plantões e os
lugares, tenham cuidado com plantões em locais sem o mínimo de recurso, e o principal
- tenham em mente a sua real capacidade. Não somos super-heróis. Independente de
como tenha sido sua formação, ou dedicação, TODOS saem sem experiência e isso só se
conquista com tempo e vivência.”

THAIS CHALUB – RIO GRANDE DO SUL


“Formei em Fev/2021 , no segundo ano da pandemia , bem na segunda onda. Na falta de
médicos e excesso de casos, o MP solicitou que a faculdade nos formasse, no intuito de
ter mais médicos em linha de frente no Hospital de Campanha Covid em Rondônia.
Acho que nunca aprendi tanto quanto nos primeiros meses, iniciei logo de cara em uma
enfermaria COVID, bastante insegura mas por estar na cidade em que me formei a
maioria dos plantonistas eram colegas e conhecidos, então o ambiente de trabalho era
muito bom, aprendi bastante, chegávamos a ser em 10 médicos num turno.
Até então eu achava que não gostava de enfermaria e descobri que me interessava após
passar por isso, tem uma rotina, tem um visitador, vez e outra acontecem as
intercorrências, mas fora isso é mais calmo que as emergências. Nunca gostei de
emergência, então não trabalhei em porta.

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E agora? Chama o Médico?

# REGIÃO SUL

Os salários na região norte são um pouco mais baixos que no sul e Sudeste. Por um
período, os plantões eram em média 68,00 a hora, enfermaria e uti. Após a saída de
vários médicos recebemos um incentivo e a hr/ plantão na enfermaria passou a ser ± R$
95,00/hr e em UTI ± R$ 135,00. Aliado a isso comecei a fazer uns extras em clínica
popular. São consultas mais ambulatoriais em que o valor era por produção, e pagamento
no dia, em dinheiro, então acaba que vc ganha bem se atender muito. Eram em média 40
atendimentos numa manhã.

Além disso, trabalhei no serviço de atendimento médico domiciliar do estado,


monitorávamos os casos de covid por telefone e fazíamos visita domiciliar, nos
servidores do estado. Como eu era contratada do estado, esse valor eu recebia como
extra, então era um pouco mais que os valores da enfermaria. Existem prós e contras, o
valor não era tão bom c quando comparado a outros lugares, mas eu estava em um
ambiente totalmente familiar, trabalhando com pessoas que eu conhecia, ter essa
intimidade na equipe facilita muito.

6 meses depois recebi uma proposta de trabalho em SC, para fazer o mesmo recebendo
140,00 a hora. Então eu trabalhava em enfermaria COVID, com +- 28 leitos, 40 hrs na
semana (12 Plantões) e Recebia 1680 por plantão de 12 hrs .

No emprego anterior eu tinha que fazer 60 hrs + extras pra ganhar o mesmo valor.

Prós e contras: cidade totalmente nova, não conhecia equipe, não conhecia as pessoas do
hospital, alguns nos viam como médicos recém-formados, do norte, que vieram só pegar
vaga dos outros, além do preconceito em geral que nós sofremos quando estamos em
outros estados, etc. Mas o valor era bem superior ao que eu recebia antes.

Aproveitei para juntar um dinheiro e estudar para as provas de residência, já que os


gastos são altos com passagem, hotel e valor das provas.

Iniciei a residência em março de 2022, no Rio Grande do Sul, por enquanto não estou
trabalhando, mas aqui na região tem bastante oportunidade de emprego, das mais
variadas formas. Tanto UPA, quanto UBS. Em geral as empresas tomam conta das escalas,
O que não acontece na região norte. Então é possível receber por CNPJ, que acaba
descontando um pouco menos de imposto.

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E agora? Chama o Médico?

Os valores são em média 110 a 120,00 / hr líquido, e os valores chegam a 180 e 200,00 em
feriados, em Porta e Hospital. Nas UBS geralmente ,40 hrs, 12-15 mil. E tem bastante vaga,
em várias cidades próximas e em capital. Sempre falo para os meus amigos que no sul
não falta emprego, e tem pra todos os perfis de médico.”

BRENDA LIMA – RIO GRANDE DO SUL


“Logo que saí da faculdade, vim pro RS a trabalho, comecei em UBS e fazia alguns
plantões clínicos na UPA, passei na residência de cirurgia.
Foram anos cansativos, conciliar residência médica com carga horária excessiva,
plantões da residência, plantões pra sobrevivência.
Durante a residência conseguia fazer cerca de 4 plantões por mês, juntando com a bolsa
da residência, ganhava cerca de 7-8 mil reais por mês.
Atualmente trabalho no setor de urgência e emergência. A maior desvantagem (aqui, leia-
se o ódio) é o retorno financeiro. Mas é um serviço muito bom, amo pela resolução que
podemos dar aos casos.
A média de valores dos plantões por aqui, na clínica geral é de R$120,00 a hora, líquido...
ou seja, um plantão de 12h costuma pagar cerca de R$ 1.440,00 líquido.

SAYLE OLIVEIRA – SANTA CATARINA


“Cheguei em Santa Catarina em Janeiro/2015, natural de Rio Branco-AC, formado em
Porto Velho-RO e apoiado naquela expectativa de vida melhor perto do mar. A 1° cidade
litorânea que morei e trabalhei foi São Francisco do Sul (São Chico, nome popular),
cidade mais antiga de SC. Lá trabalhei em UBS e Upa como seletista da prefeitura. Na
época fiz contato via e-mail e telefone, hoje contratam via processo seletivo no site da
prefeitura. Upa e Hospital são privatizados e desconheço os valores de plantão atual mas
acredito que contratem conforme necessidade. A cidade é bem pacata, tem praia e só, pra
alguns isso basta. Vale a pena pra quem tem expectativa de morar em um lugar mais
tranquilo, sem fazer questão de contato com as "coisas da cidade grande" (shopping,
variedades, festas). Um ponto negativo é que no acesso até São Chico, uma via estadual,
tem trânsito intenso sempre com grande piora no fds e verão. Por causa do litoral é uma
cidade muito procurada para lazer sofrendo os resultados disso (cidade cheia no verão,
muito cheia na virada do ano). A cidade é também portuária o que agrava o trânsito.
Mesmo sendo a mais antiga é sempre um mercado em ascensão com oportunidades na
área privada (consultórios e clínicas), medicina do trabalho (Porto). As praias são lindas.
Eu particularmente acho que é uma cidade pra passear, porém morei 1 ano lá e foi um
boa experiência. Oriento que se optar por São chico tentar diversificar áreas de trabalho
lá mesmo (consultório, UBS, plantão) e evitar trabalhar em outra cidade pra não
enfrentar o trânsito.

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E agora? Chama o Médico?

Outra cidade litorânea e portuária que morei aqui foi Itajaí. Uma população bem maior,
melhor estrutura e inúmeras possibilidades no mercado médico. Trabalhei em UPAs
como seletista da prefeitura, consultório e porta de hospital de referência (Hospital
Marieta - filantrópico). Atualmente contratam por processo seletivo na prefeitura e
conforme necessidade no Marieta. A cidade tem oportunidades no setor privado e cresce
intensamente. Por ser um bom lugar pra morar no litoral os valores de Plantões são mais
baixos se comparados a outras cidades. A minha experiência no sus da cidade não foi das
melhores. Na Upa mesmo com um alto fluxo de pacientes o ambiente de trabalho era
organizado e calmo, poucos problemas de falta de médico na escala. Porém a rotina de
encaminhamento dos pacientes mais graves para a referência era bem confusa, várias
vezes pacientes eram levados sem contato e o médico da Upa que transportava os
pacientes graves para o hospital (IOTs, IAM, AVCs). Na referência a experiência foi bem
pior. Quando trabalhei como plantonista da porta o fluxo era bem intenso, cuidávamos
dos pacientes observados e ainda tinha a responsabilidade de atender o telefone e aceitar
ou não pacientes da Upa e de outros municípios. E era apenas 1 plantonista na porta. É
válido citar que esse cenário era o que acontecia em 2017/2018, não sei como estão esses
ambientes agora.

A cidade de Itajaí é maravilhosa, tem ótimas praias, um bom arsenal de praças,


restaurantes e bares, boa estrutura. Porém como é portuária o trânsito é bem caótico
(Caminhões na cidade) e a BR 101 que é a via que liga Itajaí à outras cidades, está quase
sempre engarrafada.

Itajaí fica ao lado de Balneário Camboriú, cidade litorânea super conhecida do estado que
também tem inúmeras oportunidades no mercado médico. Com hospitais privados e
referência no sus (Hospital e Maternidade Ruth Cardoso) costuma ser um mercado mais
fechado já que é a queridinha do estado. O Ruth Cardoso contrata conforme necessidade
por empresa privada. Os valores para plantonista são mais baixos. Trabalhei no Caps de
Balneário Camboriú e me deparei com problemas graves na saúde básica (nada diferente
de qualquer lugar do Brasil), mas como era Balneário, a Dubai brasileira, isso me
surpreendeu. Falta de medicações eram comuns e as UBSs tinham demanda altíssima
bem como grande dificuldade de acompanhar adequadamente os pacientes
encaminhados do CAPS. A cidade é maravilhosa como dizem, várias opções de lazer e
uma localização privilegiada. Acho um ótimo lugar pra morar, desde que não se importe
em estar no destino turístico mais procurado de SC.

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E agora? Chama o Médico?

Hoje trabalho e resido em Joinville, cidade mais populosa de SC (mais habitantes que
Florianópolis) e um centro industrial. Ótima estrutura, várias opções de lazer, porém tem
um quê de interior (costumo dizer que é uma grande cidade pequena). Um ambiente
calmo e pacato tem oportunidades interessantes em setor público e privado (Hospitais de
referência, UPAS, hospitais privados, UBS e clínicas). A prefeitura contrata por processo
seletivo e a hora plantão atual nas UPAS é R$ 96,00. Os hospitais de referência pagam um
pouco mais, bem como os hospitais privados. A complexidade e o fluxo de atendimentos
são altos, demandando do médico conhecimento e aptidão em emergências. O setor
privado também é acessível se você tem experiência e "boa fama na praça" (indicações).

Pra quem deseja residências médicas Joinville também é um ótimo lugar pra crescer
profissionalmente.

O estado de Santa Catarina é um ótimo destino pra quem deseja uma vida estável e
tranquila. Não é o lugar de melhores salários do Brasil mas é um bom lugar pra exercer a
medicina com segurança e estabilidade.

Ps: não venham pra cá pra não saturar o mercado. Rsrs”

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E agora? Chama o Médico?

AGRADECIMENTOS

Para finalizar esse material de qualidade e inédito (duvido que você já tenha lido tão nua
e cruamente as realidades dos diversos lugares no Brasil)...

Gostaria de agradecer.

Como sempre, agradecer primeiramente a Deus, que tem sempre me guiado e abençoado
lá de cima.

Gostaria de agradecer também a cada colega médico, os que são amigos de longa data e
os que acabei conhecendo por meio desse e-book, pela disposição em me ajudar e ajudar
outros tantos futuros médicos e recém-formados, como todos nós já fomos um dia.

Obrigado por sua contribuição, por sua sinceridade, por seu esforço e por sua paciência.
Nada disso seria possível sem vocês. Desejo sucesso em suas jornadas e, claro, estarei
sempre à disposição para retribuir!

Gostaria de agradecer ao meu novo amigo e grande colaborador João Neto. João, sem
você, tudo que temos alcançado ainda estaria em papéis e muitas conversas
idealizadoras. Sua contribuição tem sido de ajuda ímpar em cada passo que tenho dado
nos meus objetivos.

Por fim, e não menos importante, gostaria de agradecer a todos que têm me apoiado e
dado força nessa jornada. Ninguém vence sozinho. Cada pequena palavra de força, cada
pequeno gesto de apoio tem um peso muito grande no resultado. Espero poder retribuir
a todos um dia!

A você, meu colega médico (espero que você não esteja se esquivando dessa
responsabilidade novamente), que chegou até aqui em sua leitura, fica meu mais sincero
desejo de SUCESSO na sua jornada.

Espero, profunda e sinceramente poder ter contribuído, nem que seja um pouquinho,
com suas dúvidas, sua curiosidade e reduzindo seus anseios também!

Espero ter te mostrando um pouco da minha realidade e ter conseguido mostrar


também, partes de tantas outras histórias de luta e superação que vimos por aqui.

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E agora? Chama o Médico?

Um dia, não muito longe, você estará por aí também, contando a sua história...

Não tenha dúvidas disso!


Não será fácil, mas eu te garanto: vai valer a pena!
Boa sorte nessa caminhada. Aproveite cada momento. E aprenda com eles também.
Cuide bem de cada um que passar por seu caminho. E, de igual forma, cuide bem de você!

Fica com Deus.


Muito obrigado!

Pablo Ruan Monteiro | CRM SP 206887


Médico pela Universidade Federal do Acre
Residente em Cirurgia Geral
Professor Universitário

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