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Edna Castro
Paper 023
Revisão de Língua Portuguesa de responsabilidade
do autor.
Resumo:
Introdução
Transcorrida quase uma década desde a implantação, em 1985, dos maiores projetos
industriais do programa Grande Carajás (PGC) na Amazônia, nos interrogamos sobre as
transformações sociais e econômicas desencadeadas no âmbito do trabalho, nas áreas urbanas.
1 A noção de "fronteira" tem sido objeto de debate polêmico no contexto das análises sobre as relações sociais
e políticas no meio rural (fronteira agrícola). Neste texto o termo é utilizado para designar o espaço onde as
relações sociais (no campo do trabalho e fora dele) são transformadas pela presença de múltiplos atores e
incorporando, em alguns casos, processos industriais novos.
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A compreensão sobre essas mudanças passa pela identificação das rupturas nas estruturas
produtivas tradicionais e das possibilidades e limites de sua reprodução. Mas também pelo
reconhecimento do que há de novo quanto aos processos técnicos e às relações de trabalho presentes
nesse cenário regional e urbano. A porta de entrada aqui adotada privilegia a análise das estratégias
empresariais e dos mecanismos de negociação no mercado de trabalho, por parte de seus atores
principais: estado, empresas e trabalhadores. Que práticas estão sendo introduzidas por essas empresas
para responder às suas necessidades de mão-de-obra? Constituem-se como práticas que tendem a
estruturar de forma mais estável esse mercado? Ou se trataria de uma recombinação de regras ja
presentes, implícita ou explicitamente, no mercado?
As observações empíricas aqui tratadas referem-se a algumas das cidades que sofreram fortes
impactos devido a instalação de projetos industriais e de serviços do PGC - com crescente
terceirização via subcontratação de empresas prestadoras de serviços - entre elas Marabá e
Parauapebas no Estado do Pará e de Açailândia no estado do maranhão. Trata-se de espaços recortados
de forma significativa nas décadas de 60 e 70 pelos incentivos fiscais da SUDAM e da SUDENE
destinados à exploração de madeira e gado e marcados por intensa penetração de migrantes de origem
rural provenientes de zonas de conflitos em outras regiões do país os fluxos demográficos foram
facilitados pelas rodovias Belém-Brasília, Transamazônica, PA-70, Pará-Maranhão e mais
recentemente pela estrada de ferro Carajás2.
2 São exemplos, cidades como Marabá, Parauapebas, Tucuruí, Barcarena(PA) e Açailândia (MA) que se
situam entre aquelas, apresentando taxas elevadas de crescimento populacional nos respectivos Estados.
Observou-se profundas mudanças nas formas de uso do espaço e dos recursos ali contidos.Tais mudanças em
parte são resultantes de um estado de conflitualidade entre atores que se disputam em função de interesses,
representações e práticas antagônicas a respeito do uso e apropriação desse espaço. Nesse sentido, o
quotidiano e os modos de vida mudaram bastante. Os trabalhadores e suas famílias foram submetidos a novos
impasses (objetivos e subjetivos) como, por exemplo, aqueles que concernem à impossibilidade de reproduzir
estruturas anteriores de trabalho autônomo.
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por camponeses expulsos da terra em outras regiões do país onde a modernização do campo empurrou
em processo contínuo trabalhadores e famílias em direção à Amazônia. Nesse sentido há um
deslocamento espacial da pobreza e da exclusão social. Os programas de colonização reforçaram esse
processo. Os investimentos aplicados e os fluxos migratórios contribuíram à expansão do mercado de
trabalho assalariado e definiram as bases de sua constituição. É corrente a correlação entre emprego e
interrupção de trajetória migratória que pode ser temporária ou definitiva. De certa forma há um
cruzamento desse processo com um outro que eu chamaria de "oportunidades e reorientações no
percurso migratório" traduzido pelo movimento em direção a novos espaços da fronteira.
Examino três grupos de empresas definidos a partir dos seguintes indicadores: setor de
atividade, histórico da ocupação, tecnologia, processo de trabalho e relações de poder. Esses grupos
são: 1. Empresas dos setores madeireiro e da construção civil; 2. Empresas siderúrgicas (guseiras) e 3.
Empresas do setor mínero-metalúrgico.
No fim dos anos 70, inicia-se a fase de abertura de grandes obras com a construção de
estradas, ferrovias, aeroportos, centros urbanos, distritos e parques industriais, terminais para
abastecimento de derivados de petróleo e construção de uma usina hidroelétrica (Tucuruí). Expande-se
fortemente a mobilização e o recrutamento de trabalhadores. Na construção do projeto ferro Carajás,
as empresas de serviços, subcontratadas pela companhia vale do rio doce (CVRD) reuniam, em 1980,
cerca de 8.000 trabalhadores em seus canteiros de obras; em agosto de 1982, eles eram 27.482. Na
área de entorno, garimpos como o de serra pelada, alcançaram o número de 70.000 homens,
compreendendo uma parte significativa que provinha de obras desativadas do setor de construção
civil. Outro movimento frequentemente observado se fez pelo abandono do garimpo e retorno ao
canteiro de obras. A lógica que emerge nessa dinâmica é, sobretudo, a de deslocamentos, como razão
3 Ver de DEDECCA,C. Un Bilan sur l'évolution de l'emploi et du revenu au Brésil. Actes du Colloque de
Chantilly. Décembre1993. Paris.
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comercial. Naquele estado se concentra. Aproximadamente, 93% dos estabelecimentos nacionais. Essa
atividade sempre esteve associada à disponibilidade de recursos florestais e por isso mesmo apontada
como uma das responsáveis pelo processo de destruição da mata atlântica e de outras áreas florestais
contíguas. Somente em 1957 entraram em operação em minas gerais, 70 altos fornos capazes de
produzir um milhão de toneladas de ferro-gusa por ano, conforme aponta pinto (1989). Embora cerca
de 40% da produção de gusa seja ainda à base de carvão vegetal, naquele estado, houve a introdução
do carvão mineral, sobretudo, em empresas com perfil mais moderno. No caso das usinas instaladas
em cidades localizadas ao longo da estrada de ferro Carajás, a dependência de carvão vegetal, à base
da extração de floresta nativa, é total.
O encarecimento da madeira devido a distância cada vez maior para transportá-la até ao local
de produção de gusa bem como a contestação sobre os efeitos da destruição dos ecossistemas
florestais, contribuíram com o processo de deslocamento dessa atividade em direção à Amazônia
Oriental. O conselho ministerial do PGC aprovou inicialmente um conjunto de 23 usinas siderúrgicas
a serem localizadas em cidades cortadas pela estrada de ferro. Entretanto, das empresas instaladas, a
maior parte se dirigiu para Marabá e Açailândia. Atualmente aquela cidade tem três siderurgias, -
inclusive com problemas sérios de funcionamento -, e Açailândia com quatro altos fornos e novos
empreendimentos em fase de instalação.
No que concerne à estratégia das empresas no mercado de trabalho observa-se uma demanda
orientada à mão-de-obra semi ou não qualificada, seja para o trabalho industrial ou para produzir
carvão vegetal, ambas apresentando condições de trabalho precaríssimas. Porém do ponto de vista da
maior quantidade de trabalhadores engajados, recai na atividade de carvoejamento, pois as siderurgias
embora funcionem em três turnos, contratam cada uma aproximadamente 200 empregados.
4 A dinâmica social desencadeada se faz também pelas lutas conduzidas por diversos grupos - metalúrgicos,
setores urbanos, camponeses etc. - que tem defendido seus interesses frente ao Estado, às empresas públicas e
privadas e aos grandes proprietários de terra. E impossível negar que o mercado de trabalho em Açailância,
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Marabá (e outras cidades da "pré-Amazônia maranhense" e do sul do Pará) resulta em parte da desagregação
da pequena produção.
5 O Programa Grande Carajás foi oficializado em 1980 pelos Decretos-Leis n° 1.813 (24/11) e n° 1.825
(22/12)
6 Ver Relatório da Pesquisa "Exploração Mineral e Transformação nas Relações de Trabalho. UFPA/NAEA.
1992.Belém.
7 O carro-chefe dos projetos de exploração mineral que é de certa maneira o responsável pelo assentamento
da CVRD na Amazônia é o Projeto Ferro Carajás que começou a funcionar em 1985. Trata-se de um
complexo industrial que compreende: a mina (extração e beneficiamento do ferro); a estrada de ferro que
percorre 890 km cortando o sudeste do Estado do Pará, em direção ao Estado do Maranhão e atravessa este
último até sua capital, São Luis; e o porto onde o minério é descarregado em navios cargueiros afim de ser
canalizado ao mercado exterior. Esse complexo se coloca no espaço regional com uma malha de serviços que
extrapola o campo da produção. É o caso dos investimentos direcionados à serviços de infraestrutura urbana
e social, no Núcleo Urbano do Carajás, nas vilas residenciais em outras cidades cortadas pela ferrovia (
Parauapebas, Marabá e Açailância, por exemplo), na sua forte presença institucional e financeira em certas
Secretarias Municipais. Constituem-se como rede de apoio que beneficia igualmente ao funcionamento de
outros empreendimentos da CVRD situados em espaço contíguo, materializando assim as estratégias de
diversificação da empresa, previstas para os anos 80 e que Carajás oportunizaria.
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quanto ao modelo de gestão. Um outro empreendimento que iniciou ao mesmo tempo é o da Alumar (
aliança sob a forma de joint venture , formada pela Alcoa dos estados unidos e da billington
metal/shell) usina de aluminium-alumina, localizada em São Luis e que utiliza como insumo
importante a bauxita extraída no rio trombetas pela mineração rio do norte, cuja produção começou em
1979.
Para poder responder à demanda energética dos projetos citados, foi planificada a usina
hidroelétrica de Tucuruí, de forma a garantir energia a preços subsidiados8. Construída sobre o rio
Tocantins, foi a primeira de um conjunto de hidroelétricas previsto pela política do setor elétrico
brasileiro. Seu custo foi estimado em 4 milhões de dólares para gerar aproximadamente 8.000 MW.
Entrou em funcionamento em 1985.
A corrida pela apropriação dos recursos corresponde a uma nova forma de mise en reserve
das terras na Amazônia, definindo sob medida as prioridades setoriais para os investimentos e, de uma
certa maneira, também os projetos e as empresas, sem perder de vista que é igualmente necessário
controlar o acesso institucional a essas regiões.
8 Ver as análises referentes aos impactos sociais sobre populações rurais e indígenas: Mougeot (1986;1987);
Magalhaes (1986;1988), Castro (1989).
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máquina política federal, revela mudanças no tempo, rearmando o jogo político e as estruturas de
poder, sobretudo naquelas regiões mais tocadas pela ação da modernização econômica9.
9 Os grupos familiares puderam preservar uma parte de seu espaço limitando-se à esferas que, num primeiro
momento, não eram necessariamente envolvidas pela ação "desenvolvimentista" do Estado e das grandes
empresas.
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vinculações comerciais entre serrarias e usinas de gusa. Neste caso, os acordos são celebrados
objetivando a produção do carvão vegetal, fornecendo as serrarias refugo de madeira ou produzindo
também carvão em fornos instalados no fundo de seus pátios industriais.
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A diferença entre esses grupos de trabalhadores aparece mais visível quando se examina a
estrutura hierárquica e de prestigio que mostram como as relações de poder se utilizam de processos
de seleção e de classificação, incluindo ou excluindo de espaços definidos, pessoas, grupos, funções.
Essa organização atravessa do trabalho à vida privada onde os mecanismos de inclusão/exclusão se
constroem a partir do lugar e da função ocupada por cada um na produção. Essa distinção marca o uso
dos espaços urbanos, dos serviços sociais e dos equipamentos coletivos acima enumerados. São
produzidas assim mediações e distinções nas relações sociais fora do espaço de trabalho, entre os
empregados da CVRD e aqueles das empresas subcontratadas, em função de cada lugar na estrutura do
sistema produtivo local e, por via de consequência, de seu lugar de habitação, à Carajás (empregados
da CVRD) ou à Parauapebas (empregados de outras empresas subcontratadas pela CVRD). Mas outra
crivagem se estabelece ao interior desse último grupo, de acordo com a inserção do trabalhador em um
ou outro tipo de empresa e o "peso" desta no mercado. Entram em conta categorias como perfil de
qualificação, duração e montante do contrato de prestação de serviço assinado com a CVRD.
A comparação entre tipo de empregos propostos pelas empresas subcontratadas e pela CVRD
visibiliza o processo de diferenciação no mercado a partir de uma grande empresa. Os trabalhadores
das empresas subcontratadas recebem baixos-salários comparativamente à empresa matriz, estão
sujeitos a jornadas maiores, dormem em quartos coletivos de até 8 leitos ou em pequenas casas de
madeira em parauapebas.
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prevêem, efetivamente, uma descentralização crescente das atividades, transferindo àquelas empresas
as atribuições sobre o controle da produção e da disciplina, do recrutamento e da seleção e sobre os
encargos sociais10.
As relações sociais paternalistas têm, assim, lugar central no modelo de gestão de mão-de-obra
e do cotidiano na "cidade operária", Carajás. Encontramos-nos, portanto, face a uma modalidade de
organização do trabalho que absorve a vida privada e procede através do controle de tempo dedicado
ao trabalho, mas também dos movimentos no campo da vida privada. Implica ainda em uma distinção
social entre os que têm direitos de viver ou de acesso à cidade de Carajás e àqueles cujo trânsito exige
prévia permissão. E esse o objetivo do crachá, a identificação permanente dos movimentos para sair ou
10A Albrás influenciou a redefinição do espaço de trabalho metalúrgico, absorvendo e classificando sob outro
perfil ocupacional, número considerável de trabalhadores. As práticas empresariais são desenvolvidas a partir
de bases diferenciadas do processo produtivo e da gestão do trabalho. As condições de salário e de trabalho
propostas pela empresa são reconhecidas como mais satisfatórias pelo grupo de trabalhadores em relação às
empresas de serviços, tomadas como elementos de comparação.
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entrar nesse espaço urbano. O princípio hierárquico marcado pela cultura da "grande família" permite
à empresa construir relações bastante estreitas entre trabalho e família e de minimizar os conflitos no
campo do trabalho. Constatamos que essas estruturas alimentadas por relações paternalistas presentes
nas empresas menos modernas como aquelas do setor terciário, e as usinas de madeira e siderurgia,
persistem também na grande empresa.
30 CVRD
25 Sub-contradas
20
15
10
5
0
MG MA PA CE GO RJ AP MS PB PE RN RS PI BA PR SP
As condições de trabalho oferecidas pela CVRD dão a essa empresa a preferência dos
trabalhadores. A comparação entre o tempo de trabalho dos empregados da CVRD e aquele das
empresas subcontratadas não se limita a mostrar as diferenças das práticas de recrutamento, ela ensina
bastante sobre alguns determinantes do mercado. A estabilidade relativa do emprego é reforçada por
privilégios urbanos de Carajás que permitem ao trabalhador da empresa poder usufruir de uma vida
familiar com maiores facilidades. Dos empregados da CVRD, 68% são casados contra 40% das
empresas subcontratadas. É possível que seja um reflexo do tipo de contratação da CVRD ou ainda da
composição do operariado das empreiteiras. Mas os dados nos sugerem interrogações sobre possíveis
mudanças no âmbito familiar, nos processos de diferenciação social e na produção de desigualdades a
partir dos lugares ocupados na produção. As estruturas urbanas colocadas à disposição desses
trabalhadores - sobretudo habitação - , o número de dependentes e a idade, mostram como o
recrutamento leva em conta o estado civil e/ou a composição familiar (quadro 2).
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Solte
Casados
iros 68%
53%
CVRD Empresas subcontratadas
No entanto, a realidade mostra que esses operários se integram ao trabalho da usina de forma
marginal, não somente porque uma boa parte dentre eles se inscreve pela primeira vez na condição de
trabalhador assalariado, com carteira profissional e contrato de trabalho, mas também em razão das
insatisfações que eles ressentem em relação de trabalho. Essas empresas preenchem seus postos
qualificados através de recrutamento de trabalhadores provenientes de longe e manifestam interesse de
os proteger pela via salarial ( direta e indireta), enquanto que a maioria dos empregados está submetida
a condições de trabalho que os faz voltar à busca de outras usinas ou locais de trabalho. Cabe ressaltar
que há também um grupo, embora reduzido, de trabalhadores que se consideram "bem sucedido".
Apesar da expansão do regime assalariado, o mercado oferece espaços limitados à expansão do
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emprego formal em relação à demanda. No discurso dos sindicalistas, as empresas de gusa mantêm-se
fora do contexto de uma identidade metalúrgica formada historicamente no processo de luta da
categoria, à nível nacional. Eles se beneficiam da instabilidade, das turbulências desse espaço de
fronteira para pagar salários baixos sem ampliar de forma significativa as chances de ascensão social
dos trabalhadores. As representações idealizadas dos operários sobre o trabalho e a carreira
metalúrgica deslanchada com a instalação dessas usinas de gusa apagam-se rapidamente frente à
realidade do trabalho precário oferecido no mercado..
35 CVRD
30 Sub-contratadas
25
20
15
10
5
0
Ate 2 3 6 7 12 13 - 19 - 25 - 37 - 49 e
18 24 36 48 mais
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sociais idealizados, como portas de entrada a um espaço de ascensão social, aparecem certas cidades
com tradição siderúrgica e metalúrgica do país, notadamente Rio de Janeiro e São Paulo. Para alguns
representam ainda uma alternativa de migração, não descartada, alimentada no sonho.
Como essas informações são transmitidas e quais são suas funções reais? O conjunto desse
conhecimento acumulado ultrapassa de longe o espaço urbano e o da municipalidade. As informações
transitam a longo termo. Para essas formas de comunicação vários meios são utilizados: contatos
pessoais. Telefone ou cartas.essas redes se constituem enquanto que "interações informais" que
respondem à necessidades variadas, que vão desde o fato de encontrar um trabalho, avaliar a evolução
das trajetórias profissionais e/ou geográficas até à elaboração de estratégias de ascensão social,
familiar ou individual.
Redes que funcionam graças a alguns elementos estruturantes, entre os quais as relações
familiares e de vizinhança, como também as relações mantidas com o lugar de origem, em geral no
contexto de pequenas comunidades onde as relações de parentesco e de amizade são essenciais.
Desempenham papel fundamental dado sua eficácia e se apoiam sobre dimensões particularmente
concretas que funcionam. Os trabalhadores consideram que o tempo de residência num centro urbano
é essencial para "descolar" um primeiro emprego no mercado formal e que a duração desta atividade
contará, na ocasião de uma contratação posterior, como ponto de uma negociação por melhores
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condições salariais e de trabalho. Ainda que funcione num quadro marcadamente informal, a eficácia
dessas redes de informação é reconhecida pelas agências de recrutamento bem como pelas empresas.
Conclusões
A industrialização na Amazônia, com a implantação de grandes projetos tem provocado
mudanças que não têm sido suficientemente analisadas. As discussões em certas esferas técnicas e
científicas a propósito dessa evolução abordam de forma bastante superficial a natureza desse
processo. O resultado consiste assim a reafirmar os valores estabelecidos sobre um discurso que
reatualizado continuamente que as estratégias de modernização como possibilidade de um
desenvolvimento regional. Entretanto, muitas dimensões dessa problemática não são sequer
esboçadas. Entende-se que a complexidade das relações sociais que se escondem sob a denominação
superficial de "processo de industrialização" merece ser submetido a um outro exame. Nessa ótica, o
desenvolvimento dos processos técnicos e de gestão do trabalho presentes atualmente num contexto de
globalização, precisariam ser incorporados à análise do que hoje concebemos como o lugar da
industrialização enquanto estratégia para saída de uma situação de crise social, pobreza e desemprego.
O debate hoje, à nível mundial, esboça resultados de uma "desindustrialização" segundo era pensada
naquele contexto desenvolvimentista.
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