Location via proxy:   [ UP ]  
[Report a bug]   [Manage cookies]                

Sentenca Proc. 72 Gracinda Retificado

Fazer download em docx, pdf ou txt
Fazer download em docx, pdf ou txt
Você está na página 1de 6

REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE

TRIBUNAL JUDICIAL DO DISTRITO DA MACHAVA


2ª Secção Cível

Processo nº 72/15/A

SENTENÇA

I. Relatório
Veio neste Tribunal Judicial do Distrito da Machava , o autorAguiar Sarmento
Guiamba, antigo Combatente da Luta de Libertação Nacional, de 75 anos de idade,
filho de Sarmento João Saranga Guiamba e de Sofia Joaquim Amaral Mfumo, residente
do bairro Mussumbuluco,Quarteirão 2 Célula “A” casa nº 17 contactávelatravés do
telemóvel n° 827369570, devidamente representado pelo seu mandario judicial as folhas
10 da Petição inicial, intertar nos termos do artigo 4 nº 1 e 2 alínea b) conjugados com o
artigo 1033 do CPC a Acção Declarativa de Condenação Sub a forma de processo
Especial Sumario para a Restituição da Posse, contra o Reu, Bonifácio Andela
Chambule, maior,natural de Maputo, residente do bairro Sikwama, bairro de
Mussumbuluco próximo ao Cemitério, pedindo que lhe seja restituído a posse dos
terrenos com os nºs 320, 321, 322, 375 e 379 sitos no bairro de Mussumbuluco próximo
ao Cemitério de Texlom, nos seguintes termos e fundamentos:----------------------------------
 O A, adquiriu mediante concessão os terrenos com os nºs 320, 321, 322, 375 e
379localizados no bairro de Mussumbuluco próximo ao Cemitério de Texlom
------------------------------------------------------------------------------------------------------------
----

1
 Num dos terrenos A, havia construído uma casa de construção precária na qual
procedia a venda de material de construção. ------------------------------------------------
 Em 2001 o R solicitou ao A, o uso provisório daquela casa de construção precária
por um período de 6 meses renováveis automaticamente afim de servir de
estaleiro, comprometendo-se a pagar a renda em entrega de duas carradas de
areia por mês de acordo com o termo de compromisso a fls. 2 e 3----------------------
 Pelo incumprimento de pagamento da renda, A interpelou ao R verbalmente
assim como por escrito para honrar o compromisso, o que R não o fez, que pela
insistência do A, acabou retirando os seus materiais, sem permitir que o A
exercesse a sua actividade naquele espaço ---------------------------------------------------
 No mês de Junho de 2014, o A descarregou naquele espaço, o seu material para
início da sua actividade, e R simplesmente carregou tudo e foi descarregar em
casa de A, manifestando sério impedimento de o A retomar ao seu terreno, pois,
aquando do início das suas actividades, R destruiu sem o consentimento do A, a
construção precária que ali existia---------------------------------------------------------------
 O R impede ao A de fazer-se ao seu espaço alegando que tal o pertence pois
ocomprou não se sabendo a quem. ----------------------------------------------------------
Citado regularmente o R, na sua própria pessoa conforme o mandado em enexo as a fls.
12 dos autos, com base no artigo 783 do CPC, contestou nos seguintes termos:
 Que tinha conhecimento de que o terreno objecto da presente acção era usado
como machamba pela família Guiamba (família do autor), e em 2001 terá de facto
entrado em contacto com o autor no sentido de lhe ceder o mesmo para fins de
exploração comercial (estaleiro de produção de blocos) ----------------------------------
 Que passados cerca de 11 anos de exploração de boa - fé, o R terá sido informado
que o espaço em litígio vinha sendo explorado pela irmã do A, o que levou o R a
suspender as rendas que prestara naquele durante os onze anos, e, em Agosto de
2012, a irmã do A, terá cedido todos os direitos sobre o espaço ao R, sob o
contrato de trespasse de terreno, a fls.16 dos autos—--------------------------------------

2
 Que com base nesses documentos (contrato de trespasse do terreno e a
declaração do bairro), o R terá seguido todos os procedimentos legais para a
regularização do terreno, tendo-lhe sido concedido o direito sobre o mesmo
espaço e a ele foi emitida a Certidão de Registo Predial para todos os efeitos
sobre a prova da titularidade do espaço e do imóvel a fls. 18 dos autos---------------

O Tribunal é competente em razão da matéria, hierarquia e nacionalidade ------------------


As partes são legitimas e gozam de personalidade e capacidade jurídica.---------------------
O processo é próprio.----------------------------------------------------------------------------------------
Não existemquestões previas nem nulidades ou excepções que obstam o conhecimento
da causa. --------------------------------------------------------------------------------------------------------
Cumpridas todas as formalidades legais e realizada a audiência e julgamento há uma
questão a resolver de modo a apurar se o A tem o direito de exigir do R a restituição da
posse daquele imóvel, cumprindo apreciar e decidir:-----------------------------------------------
II. Fundamentação
Discutida a Acção, ficaram provados os seguintes factos:
A. O Autor cedeu o imovelao Réupara exploração comercial (estaleiro de produção
de blocos) no dia 13 de Setembro de 2001, mediante pagamento de renda
conformeas folhas 6 e 7 dos autos. -------------------------------------------------------------
B. O Autor interpelou o Réu de forma a abandonar o espaço no dia 14 de Junho de
2011, que este não chegou de abandonar (documento a fls. 10 dos autos). -----------
C. O imóvel, ora espaço em litigio pertencia aos pais do autor e era usado como
machamba da família Guiamba (família do autor).
D. O Reu proíbe a entrada do Autor no mesmo. Provado por testemunhas a fls. 20
dos autos. ---------------------------------------------------------------------------------------------
Motivação
Reportam os factos, em função das provas colhidas, que essas têm por função a
demonstração da realidade dos factos, nos termos do artigo n° 341 do Código Civil. E
mais, sabe-se quanto a ónus de prova que, aquele que invocar um direito cabe fazer a

3
prova dos factos constitutivos do direito alegado, nos termos do artigo 342 n° 1 do
mesmo diploma legal.---------------------------------------------------------------------------------------
A convicção do tribunal de considerar o contrato de arrendamento entre o A e R válido,
fundamenta-se no facto de não ter-se apresentado documentos que prova a existência do acordo
entre as a partes.-----------------------------------------------------------------------------------------------
A prova documental é nos termos da lei a que resulta de documento. E diz-se documento,
qualquer objecto elaborado pelo homem com o fim de reproduzir ou representar uma pessoa,
coisa ou facto, tal como estabelece o artigo 362 do CC.--------------------------------------------------
O Reu na sua contestação reconhecer ter celebrado um contrato de arrendamento do imóvel em
causa com o Autor e que o mesmo pertencia a família Guiamba ( família do autor), tendo –se tal
facto como confessado pois a luz do artigo 352 do CC a confissão é o reconhecimento que a
parte faz da realidade de um facto que lhe é desfavorável e favorece a parte contraria.-------------
Sobre a quem pertente o imóvel, ora objecto do litigio, foram ouvidas as testemunhas arroladas
pelo autor e as mesmas disseram que o terreno era dos pais do autor e a quanto da sua morte, era
o autor quem explorava mesmo.-----------------------------------------------------------------------------
Nos termos do artigo 392 do CC a prova por testemunha ee admitida em todos os casos em que
não seja directa ou indirectamente afastado.---------------------------------------------------------------
Com as provas colhidas duvidas nao restas de que o espaço em causa era da pertença da familia
do A pois embora o R tenha o DUAT.-----------------------------------------------------------------------
O R terá requerido o DUAT ao Conselho Municipal da Cidade da Matola mediante o contrato de
transpasse celebrado com a ora irmã do autor.--------------------------------------------------------------
O Reu sabia que o imóvel era da Familia do A e estava na posse do mesmo, tendo ignorado esse
facto e preferido celebrar outro contrato com pessoa diferente do A.-----------------------------------

Do Direito
Conforme resulta que A cedeu o espaço ao R por via de um acordo escrito entre as
partes mediante pagamento de duas carradas de areia por mês, há um contrato de
locacaoéno qual uma das partes se obriga aproporcionar a outra o gozo temporário de
uma coisa mediante retribuicao, nos termos do art. 1022 do Código Civil, -------------------
Não vislumbra quaisquer dúvidas de que o espaço em alusão, não é taxativamente da
pertença do A, mas a este há direito de posse do imóvel nos termos do artigo 1251 do

4
CC, uma vez que este explorava o terreno actuando no exercício do direito real e terá
sido adquirida nos termos da alínea b) do artigo 1263 do
CC.---------------------------------------------------------------------------------------------------------------
----------
Pelo facto do A ter a posse do imóvel pode revindicar a sua restituição quando sinta que
o seu direito fora ameaçado com base no artigo 1033 do CPC.------------------------------------
A irmã do Autor, ora vendedora do imóvel não é proprietária e não apresente qualquer
documento que a dite como tal nem ao menos o DUAT no qual diríamos que o Reu teria
adquirido o mesmo por trespasse nos do nº2 e 4 do artigo 16 da Lei que prevê que os
titulares do DUAT podem o transmitir com benfeitoria existente mediante autorização
da entidade competente.----------------------------------------------------------------------------------
O Reu alega ter comprado o imóvel porem adquiriu o DUAT mediante pedido de
autorização para exploração ao Conselho Municipal da Cidade da Matola nos termos da
alínea c) do artigo 12 da Lei de Terras. -----------------------------------------------------------------
Fundamentos legais e suficientes que levam a concluir que o DUAT e o respectivo
registo de propriedadeque o Reu possui foi adquirido de ma fe.--------------------------------
O registo nos termos do Codigo do Registo Predial pressupõe a aexistencia de registo
anterior neste caso para queo Reu registasse o imóvel teria que apresentar os
respectivos comprovativos do registo anterior.-------------------------------------------------------

III. Decisão
Pelos factos e fundamentos acima descritos,julgo a presente acçãoprocedente, e, por
consequência, em nome da República de Moçambique, Condenodo Pedido o Reu
Bonifácio Andela Chambule a restituicao da Posse do A.----------------------------------------

Fixo o imposto de justiça em 4.000, 00MT (Quatro Mil Meticais), a cargo do R, o máximo
da Procuradoria, e mais encargos processuais, nos termos do artigo 16 do Código das
Custas Judiciais.

5
Registe-se e notifique-se

Matola, 23 de Julho de 2023


AJuíza de Direito D
_________________________________
Gracinda Trahamane do Rosário José

Você também pode gostar