Location via proxy:   [ UP ]  
[Report a bug]   [Manage cookies]                

Hempel - O Papel Da Indução Na Ciencia (Tradução de Trecho)

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 1

O Papel da Indução na Ciência

(extraído de Filosofia das Ciências da Natureza,, de Carl Hempel)

Por vezes concebe-se a indução como um método que conduz, através de regras mecanicamente
aplicáveis, de factos observados a princípios gerais correspondentes. As regras de inferência indutiva
proporcionariam assim cânones eficazes de descoberta científica; a indução seria um procedimento
mecânico análogo à rotina familiar para multiplica r números inteiros, a qual conduz, num passo finito
de passos predeterminados e mecanicamente realizáveis, ao produto correspondente. Na verdade,
não dispomos agora de um procedimento indutivo mecânico e geral, [...] nem se pode esperar que
alguma vez se descubra um procedimento como esse, já que – para indicar apenas uma razão – as
hipóteses e teorias científicas costumam ser formuladas em termos que não ocorrem de forma
alguma na descrição das descobertas empíricas em que se baseiam e que servem para explicar. Por
exemplo, as teorias sobre a estrutura atômica e subatômica da matéria contêm termos como
“átomo”, “eléctron”, “próton” e “nêutron”, mas baseiam-se em descobertas laboratoriais [...] que
podem ser descritas sem estes “termos teóricos”.
Não existem, então, “regras da indução” com aplicabilidade geral, pelas quais hipóteses ou
teorias possam ser derivadas ou inferidas mecanicamente a partir de dados empíricos. A transição
dos dados para a teoria exige imaginação criativa. As hipóteses e teorias científicas não são
derivadas dos factos observados, mas inventadas de modo a explicá-los. […]
No seu esforço de encontrar uma solução para o seu problema, o cientista pode soltar a sua
imaginação e o curso do seu pensamento criativo pode ser influenciado até por noções
cientificamente questionáveis. Por exemplo, no seu estudo sobre o movimento planetário, Kepler
foi inspirado pelo seu interesse numa doutrina mística sobre números e por uma paixão por
demonstrar a música das esferas. Porém, a objectividade científica é salva- guardada pelo princípio
de que as hipóteses e teorias científicas, embora possam ser livremente inventadas e propostas na
ciência, só podem ser aceites no corpo do conhecimento científico se passarem pelo escrutínio
crítico, que inclui particularmente o confronto de previsões apropriadas com observações ou
experiências cuidadosas. [...]
[M]esmo muitos testes com resultados inteiramente favoráveis não comprovam
conclusivamente uma hipótese; proporcionam-lhe apenas um apoio mais ou menos forte. Assim,
embora a investigação científica seguramente não seja indutiva no sentido estrito [...], pode-se dizer
que é indutiva num sentido mais amplo, na medida em que envolve a aceitação de hipóteses a partir
de dados que não as implicam dedutivamente, mas que as confirmam ou lhes dão um “apoio
indutivo” mais ou menos forte. E quaisquer «regras da indução» terão de ser concebidas, à
semelhança das regras da dedução, como cânones de validação, e não de descoberta.

Você também pode gostar