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INSTITUTO DE PSIQUIATRIA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO


PROGRAMA DE ENSINO E PESQUISA EM PSIQUIATRIA FORENSE

À EXMA. SRA. DRA. RENATA GIL DE ALCANTARA


VIDEIRA

LAUDO PSIQUIÁTRICO

REFERENTE: PROCESSO Nº. 2008.001.151110-7

AUTOR: MINISTÉRIO PÙBLICO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

RÉU: CARLOS ROBERTO ARANTES BELO

Rio de Janeiro, 01 de julho de 2009.

_______________________

Dr. Sósthenes Delai


CRM 52.86543-5

IPUB: Avenida Venceslau Brás, 71, fundos, Praia Vermelha, Rio de Janeiro, RJ, Brasil, Cep 22.290-140
Telefone 55 21 2295-9549 Fax 55 21 2543-3101 Email: ipub@ipub.ufrj.br Website www.ufrj.br/ipub
INSTITUTO DE PSIQUIATRIA
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
PROGRAMA DE ENSINO E PESQUISA EM PSIQUIATRIA FORENSE

INTRODUÇÃO:

SÓSTHENES DELAI, abaixo assinado, médico residente do Instituto de Psiquiatria da UFRJ /


IPUB, inscrito no CREMERJ sob o número 52.86543-5, tendo em vista solicitação feita pelo Tribunal
de Justiça, Comarca da Capital, Cartório da 40ª Vara Criminal, vem apresentar o Laudo Psiquiátrico
de CARLOS ROBERTO ARANTES BELO, ao mesmo tempo em que autoriza sua utilização para
os fins de direito que se fizerem pertinentes.

COMEMORATIVOS:

O presente Laudo Psiquiátrico se destina a responder o Incidente de Insanidade Mental de


Carlos Roberto Arantes Belo, incurso no artigo 147 do Código Penal (ameaça), praticado no dia
08/05/2007. Foi elaborado com base em entrevista realizada em 26 de junho de 2009. Estava
presente na entrevista o Dr. Leonardo Dias, médico, inscrito no CREMERJ sob o número de registro
52.77872-9, especialista em Psiquiatria Clínica e em Psiquiatria Forense.
Relata o examinando: O seu Aldo e o cara do bar mataram meu filho de onze anos “a facada” há
três anos. O senhor tem filho? Isso já “tá” tudo certo com a moça, eu não tenho nenhum problema na
justiça. Ela pegou vinte mil meu no banco, pagou cinco mil na oficina pra concertar o carro e ficou com
quinze. Já ta tudo certo.

IDENTIFICAÇÃO:

CARLOS ROBERTO ARANTES BELO (RG 2553051-0 IFP / RJ), sexo masculino, melanodérmio.
Nascido em 30/08/1947, atualmente com 61 anos de idade. Brasileiro, natural do Rio de Janeiro,
carioca. Solteiro. Ensino fundamental incompleto. “Flanelinha”. Filho de Hilário Belo e Doralice
Arantes.

HISTÓRIA MÉDICA ATUAL:


(Comprometida pelo estado psíquico do paciente)

Examinando internado no IPUB no dia 09/03/2009. Segundo o boletim de atendimento médico


emergencial, apresentava quadro de inquietude psicomotora, pensamento desorganizado, idéias
delirantes de grandeza e de cunho persecutório, heteroagressividade e ameaça a transeuntes.
Segundo informações colhidas com terceiros, o Examinando era etilista desde, pelo menos,
1984. À época apresentava quadros de agitação e “delírio”. Com o apoio de moradores da
localidade onde trabalhava, começou a tratar-se. Interrompeu a ingesta de derivados etílicos e ficou
assintomático por aproximadamente vinte anos. No entanto, abandonou o tratamento há cerca de
cinco anos e passou a usar cocaína (SIC). Desde então, voltou a apresentar alteração de seu
comportamento, tornando-se hostil e suspicaz.
Permanece internado e em tratamento farmacológico com: haloperidol 10mg/dia, biperideno
6mg/dia e clorpromazina 100mg/dia. Houve melhora importante do da suspicácia, da inquietude
psicomotora e da heteroagressividade, mas mantém o quadro delirante sistematizado.

ANTECEDENTES PESSOAIS FAMILIARES E PATOLÓGICOS:


(Comprometido pelo estado psíquico do paciente)

Paciente morador de rua. Pais falecidos, sem causa conhecida. Relata ter tido um filho, e que este
fora assassinado há cinco anos. Nega doença psiquiátrica na familia.
Nega HAS, DM, tuberculose, meningite e passado de crises convulsivas. Nega
hemotransfusão, alergia medicamentosa ou alimentar. Nega tabagismo. Etilista crônico durante
muitos anos, abstêmio há vinte anos. Usuário de cocaína, nos últimos cinco anos.

IPUB: Avenida Venceslau Brás, 71, fundos, Praia Vermelha, Rio de Janeiro, RJ, Brasil, Cep 22.290-140
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EXAME PSÍQUICO:

Na hora acordada, o examinando é por mim desperto e levado para realização da entrevista.
Diz não se recordar desse compromisso, embora tivesse sido anteriormente comunicado. Ao ser
solicitado, acompanha-me lentamente à sala de exame, sentando-se no local indicado. Usa vestes
institucionais e seu estado de higiene é precário, apresentando odor corporal fétido, dentes em mau
estado de conservação e unhas sujas. Sua fascies aparenta cansaço. Bastante emagrecido.
Informa corretamente os dados de sua identificação, mas não a data atual, precisando
somente o dia da semana. Mostra-se pouco à vontade com o exame, perguntando freqüentemente o
motivo de tantas interpelações. Por vezes o seu discurso se torna totalmente incompreensível, com
dificuldade em organizar cronologicamente os fatos ocorridos. Irrita-se com alguns
questionamentos e, em dado momento, levanta-se da cadeira e sai da sala, mas, reconduzido por
mim, retorna.
Quando indagado sobre a sua versão do crime e quem seria Custódio, responde com o
volume de voz algo elevado (extrato literal do discurso): Mataram meu filho de onze anos a facada, o
Seu Aldo e o cara do bar! Você tem filho? Que seu Custódio o quê! Aquele ali é copiado! Seu Custódio e a
Dona Sônia tão morto! Tão dentro dum container num navio. Aqueles lá são falsos! Eles querem me roubar.
O apartamento que eles moram é meu.
Diz ser irmão do Pelé e que tem uma irmã chamada Doris Deis, casada com o filho do Saddam
Hussein. Informa possuir vários imóveis e que, inclusive, o apartamento que Seu Custódio reside
pertence a ele. Relata que inventou um medicamento capaz de curar todas as enfermidades e cuja
fórmula vendeu para os russos. Acredita ter alguém querendo lhe prejudicar e que está sendo
filmado permanentemente, por câmeraslocalizadas no teto, as quais, inclusive, procura e tenta
apontar.
Quando perguntado sobre o significado do dito popular “de grão em grão a galinha enche o
papo”, responde: é milho. Repete imediatamente três palavras anteriormente proferidas por mim e,
após cinco minutos, quando solicito para que sejam novamente repetidas, lembra-se de apenas
uma. Apresenta mímica facial contida, modulando discretamente somente quando fala do crime.
Não evidencia ver ou ouvir nada que eu também não possa. Diz querer sair logo do hospital uma vez
que estaria ficando doente aqui. Também deseja voltar a tomar conta dos carros, na rua em que
anteriormente trabalhava.

SÚMULA PSICOPATOLÓGICA:

 Aparência e autocuidado: Aparência descuidada, higiene ruim.

 Atitude: Suspicaz e pouco colaborativo.

 Consciência: Clara.

 Orientação: Orientado.

 Atenção: Normovigil e hipotenaz.

 Sensopercepção: Sem alterações.

 Memória: Eumnêmico.

 Nexos afetivos: Ausentes.

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 Humor: Indiferente.

 Afetos: Esmaecidos.

 Pensamento: Curso normal. Nexos associativos afrouxados. Conteúdo com preponderância fora
dos padrões da normalidade no que tange auto-referência, grandeza e prejuízo.

 Linguagem: Vocabulário pobre.

 Inteligência: Compatível com a escolaridade.

 Juízo de Realidade: Aparentemente preservado.

 Consciência do Eu: Sem aparente alteração.

 Vontade / Pragmatismo: Hipobúlico / Hipopragmático.

 Psicomotricidade: Normal.

 Juízo de Morbidade: Ausente.

 Planos para o Futuro: Presentes e exeqüíveis.

Diagnóstico Sindrômico:
Síndrome Apato-Abúlica.
Síndrome Delirante.

Diagnóstico Nosológico (Pela CID10):


F20 - Esquizofrenia.

Considerações Psiquiátrico-Forenses:

O examinando evidenciou, ao exame pericial, sintomatologia condizente com Esquizofrenia


(F20 pela CID 10). Os transtornos esquizofrênicos se caracterizam em geral por distorções
fundamentais e características do pensamento e da percepção, e por afetos inapropriados ou
embotados. Usualmente mantém-se clara a consciência e a capacidade intelectual, embora certos
déficits cognitivos possam evoluir no curso do tempo.
Os fenômenos psicopatológicos mais importantes incluem o eco do pensamento, a
imposição ou o roubo do pensamento, a divulgação do pensamento, a percepção delirante, idéias
delirantes de controle, de influência ou de passividade, vozes alucinatórias que comentam ou
discutem com o paciente na terceira pessoa, transtornos do pensamento e sintomas negativos.
A evolução dos transtornos esquizofrênicos pode ser contínua ou episódica, com ocorrência
de um déficit progressivo ou estável, ou comportar um ou vários episódios seguidos de uma
remissão completa ou incompleta.
A sua sintomatologia positiva (notadamente delírios e alucinações) está, indubitavelmente,
contida pelo uso do antipsicótico (haloperidol). Fora isso, apresenta diversos sintomas negativos,
entre eles a perda da iniciativa, apatia e o prejuízo nas relações interpessoais, o afeto embotado,

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afrouxamento dos enlaces associativos, déficit progressivo e, além disso, a crítica sobre sua
sintomatologia muito prejudicada.
Por se tratar de uma patologia grave, com prejuízo importante em diversos campos da
esfera psíquica (mais precisamente os afetos, a vontade, o pragmatismo, o juízo de realidade e o
pensamento) o Autor se encontra totalmente e definitivamente incapacitado de exercer toda e
qualquer atividade laborativa.

RESPOSTAS AOS QUESITOS:

1 - O acusado era, ao tempo da ação, por motivo de doença (alcoolismo, dependência


toxicológica ou qualquer outra), inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato?
Sim.

2 - O acusado era, ao tempo da ação, por motivo de doença (alcoolismo, dependência


toxicológica ou qualquer outra), inteiramente incapaz de determinar-se de acordo com
esse entendimento, ou seja, de caráter ilícito do fato?
Sim.

3 - O acusado era, ao tempo da ação, por motivo de doença (alcoolismo, dependência


toxicológica ou qualquer outra), parcialmente capaz de entender o caráter ilícito do fato?
Não.

4 - O acusado era, ao tempo da ação, por motivo de doença (alcoolismo, dependência


toxicológica ou qualquer outra), capaz de determinar-se de acordo com esse
entendimento, ou seja, do caráter ilícito do fato?
Não.

5 - Queiram os senhores peritos prestar quaisquer esclarecimentos que entenderem


necessários.

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