Artigo 07 - Cumbane - 01-06-2021 - Revisto Pelo Autor
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Artigo 07 - Cumbane - 01-06-2021 - Revisto Pelo Autor
em Moçambique
Resumo
Introdução
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ensino; redução do número de funcionários no local de trabalho, com a introdução do
regime de rotatividade laboral; encerramento de estabelecimentos de diversão noturna,
bares e outros locais de venda e consumo de bebidas alcoólicas; redução da lotação
permitida nos transportes de passageiros.
Neste período, a Comunicação Social tem reportado casos de violência, que se
enquadra em diferentes esferas criminais. Por exemplo, a Rádio Moçambique, na sua
página on-line, noticiou em 8 de Junho, a detenção de um indivíduo suspeito de
homicídio precedido de violação sexual a uma cidadã de 68 anos, no povoado de
Chólue, Distrito de Chimbunila, no Niassa, no fim-de-semana anterior. Ainda, a Rádio
Moçambique na edição de 16 de Junho, referiu-se ao aumento de crimes contra a
liberdade sexual na província de Maputo, durante os meses de Abril e Maio, que
coincidiram com a declaração do Estado de Emergência no País, com um registo de 33
casos contra 26 em igual período do ano passado (RM, 2020).
Por seu turno, o Jornal Notícias, na edição on-line de 7 de Junho, reportou um
caso de homicídio seguido de suicídio de um agente da Polícia da República de
Moçambique (PRM), afeto ao Comando da Cidade de Maputo, no Bairro de Malí,
Distrito de Marracuene, província de Maputo. Na edição de 21 de Junho, o mesmo
Órgão de Comunicação Social relatou a detenção, no dia anterior, na 2.ª Esquadra da
PRM, na Matola, província de Maputo, de oito indivíduos, incluindo uma mulher,
indiciados de consumo e venda de estupefacientes (JN, 2020).
Existe uma percepção de que as medidas de confinamento ou restrição de
circulação de pessoas dentro e fora do país criam um ambiente favorável para a
ocorrência de actos de violência, embora essa relação não esteja explicada. Se no
ambiente familiar o confinamento parece abrir espaço para o aumento da exposição das
vítimas de violência doméstica, devido a maior proximidade daquelas ao agressor,
parece existirem outros fatores como o stress do cotidiano, as dificuldades financeiras e
de relacionamento que se afiguram decisivos para a tendência da violência.
O encerramento das fronteiras tem sido associado aos crimes de tráfico de
drogas e de pessoas, considerando-se que elas não foram totalmente encerradas,
admitindo-se casos excepcionais no interesse do Estado, apoio humanitário, saúde e
transporte de carga. Tal exceção pode ser aproveitada pelos criminosos para o tráfico de
drogas e de pessoas. Acresce-se a isso a tendência do aumento da exposição dos
cidadãos à utilização de facilitadores de migração ilegal.
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A questão central é: qual é a tendência da criminalidade durante os três meses da
vigência do Estado de Emergência em Moçambique? Para responder este
questionamento elaborou-se o seguinte objetivo: Avaliar a tendência criminal em
Moçambique durante a vigência do Estado de Emergência. Especificamente, pretende-
se verificar a variação da criminalidade durante o período em análise; e relacionar a
tendência da criminalidade com certas medidas decretada nesse âmbito.
O estudo considera que, por meio das estatísticas criminais, é possível conhecer
a relação entre a criminalidade e os diferentes fatores, quer sejam sociais, políticos,
jurídicos, ambientais ou outros. Não obstante a relevância das estatísticas oficiais, é
importante não perder de vista a existência das chamadas cifras negras e cifras
douradas. As primeiras referem-se aos crimes não comunicados às autoridades, quer por
inércia ou desinteresse das vítimas ou outras causas, dentre as quais os erros de coleta e
a tratamento de dados. As cifras negras são, de grosso modo, representadas pela
ausência de dados de delito comum ou crimes de rua, como furtos, roubos, estupros, e
outros. Por sua vez, as cifras douradas cobrem os crimes do colarinho branco, praticados
por indivíduos com forte influência, capazes de manipular o poder do Estado e, por isso,
muitas vezes, os seus crimes não são apurados ou, quando apurados, não são revelados.
São os casos de crimes de sonegação fiscal, as falências fraudulentas, a lavagem de
dinheiro, os crimes eleitorais (Filho, 2013). Por isso, a análise estatística feita teve
sempre presente a noção dos conceitos de criminalidade real (totalidade de crimes
cometidos) versus a criminalidade revelada (quantidade de crimes que constam dos
registos oficiais).
Revisão Bibliográfica
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considerado crime pode não ser futuramente e não ter sido no passado. Por exemplo, o
adultério e o aborto já foram considerados crimes em Moçambique, mas hoje deixaram
de o ser.
De entre as diversas teorias que buscam explicar o problema do crime, o
presente texto discute algumas das chamadas teorias sociológicas, nomeadamente a
Escola de Chicago, a associação diferencial, a anomia, a teoria de controlo. Em
oposição às denominadas teorias biológicas de Cesare Lombroso, que supõem que
algumas pessoas nascem criminosas e que os criminosos são fisiologicamente distintos
dos não criminosos, as teorias sociológicas têm em comum a proposição de que o crime
é enformado por fatores externos ao indivíduo, como suas experiências na família, na
escola, na amizade e na vizinhança (SANTOS, 2016).
A Escola de Chicago é um paradigma de pensamento desenvolvido na
Universidade do mesmo nome, nos Estados Unidos da América, entre 1920 e 1930,
pelos sociólogos Clifford Shaw e Henry McKay. Também denominada teoria ecológica
ou de desorganização social, este paradigma teve como precursores mais destacados
Albion W. Small; Robert Ezra Park (1864-1944); Ernest Watson Burgess (1886-1966);
Roderick Duncan McKenzie (1885-1940) e William Thomas (1863-1947). A tese
central da teoria ecológica é de que o espaço físico e as relações humanas influenciam
no estilo de vida do indivíduo e no nível de controlo social, sendo que a mobilidade e a
fluidez reduzem o efectivo controlo social nas grandes cidades, abrindo espaço para
altos índices de criminalidade.
A associação diferencial, teoria de Edwin Sutherland (1883-1950), defende a
tese de que o crime é resultado de aprendizagem directa ou indirecta com pessoas mais
próximas, num processo de influência para acções mais favoráveis à violação da lei. As
pessoas aprendem o crime ou a respeitar as leis em função das suas relações com as
outras. Alguns fatores como o grau de supervisão dos pais, o nível de coesão dos grupos
de amizade, a percepção dos jovens sobre os outros com problemas de delinquência, são
determinantes para o envolvimento ou não do indivíduo no crime (SANTOS, 2016;
CERQUEIRA e LOBÃO, 2004). A teoria de associação diferencial também aborda os
crimes do colarinho branco afirmando que a associação entre os diferentes atores neste
tipo de crime é um factor chave para a sua prática (SUTHERLAND, 1945, 2012).
A teoria de anomia, ou abandono às regras de convivência em sociedade, de
Robert Merton, tem a sua gênese nas ideias de Émile Durkheim e explica o crime com
base nas tensões existentes na estrutura da sociedade, que, no entender dos sociólogos,
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são a base da desorganização social e das suas patologias, de entre as quais o crime. O
crime seria resultante da frustração do indivíduo em alcançar as suas aspirações ou
metas, devido aos condicionalismos estruturantes da sociedade (SANTOS, 2016).
A teoria de controle defende que todo o indivíduo tem potencialidades para o
crime, sendo que a sua efetiva participação depende das objetivas condições favoráveis
e do grau de controle exercido pelas autoridades (SANTOS, 2016). Neste âmbito,
emergem algumas teorias que têm em comum o espaço como elemento de influência da
criminalidade, designadamente: a Teoria das Atividades de Rotina. Segundo esta teoria
o crime ocorre quando coexistem três elementos (vítima, potencial agressor e a presença
ou ausência de elementos dissuasórios); a Teoria das Janelas Quebradas, que advoga a
necessidade de resolução proativa dos problemas, para que não se agigantem; a Teoria
da Escolha Racional, que sustenta que o criminoso avalia as vantagens e as
desvantagens dos seus actos e toma a decisão em função dos ganhos que vislumbra com
a sua atitude; e a Teoria da Prevenção Situacional do Crime, que prescreve a redução de
oportunidades da prática de crime e o aumento dos riscos para o potencial criminoso
(SANTOS, 2016, pág. 55).
Francois et al.(2015), no Distrito Municipal de Ho, no Ghana, estudaram as
causas e tendências da criminalidade e chegaram à conclusão de que a negligência
parental, a pobreza, o desemprego, a pressão dos colegas e o abuso de drogas eram as
principais causas do crime. Shader (2004) categoriza os factores de risco da
criminalidade em pelo menos cinco dimensões: do indivíduo, da família, do grupo, da
escola e da comunidade. A presente análise não contempla o estudo de fatores
individuais, o enfoque está ao nível social.
Em relação à estrutura familiar, são apontados os seguintes factores de risco:
deficientes competências parentais, tamanho da família, um histórico familiar de
violência, como pais conflituosos e anti-sociais (Shader, 2004; Derzon, 2010). No que
tange à influência do grupo, estudos estabelecem uma relação entre envolvimento em
um grupo com parceiros criminosos e comportamento criminoso (Shader, 2004, p. 6).
Como efeito da teoria de associação diferencial, opera-se um processo de aprendizagem
decorrente de contacto com outros indivíduos criminosos.
Quanto à escola, a literatura refere que políticas educativas que privilegiam
medidas como a reprovação do aluno, suspensão ou expulsão da escola provocam um
efeito adverso, contribuindo para a formação de delinquentes no futuro (Shader, 2004).
Na mesma perspectiva, Loeber (2003) relaciona algumas características das escolas com
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a probabilidade de as crianças se envolverem com o crime, no presente ou no futuro, são
exemplos: baixos níveis de satisfação pouca cooperação entre professores; má relação
aluno-professor; prevalência de normas e valores que apoiam comportamentos anti-
sociais; erro na definição das regras e expectativas de conduta; e uma aplicação
inadequada de regras, estas condições influenciam na propensão de delinquência
juvenil, segundo o autor.
Relativamente à comunidade, numa perspectiva da Escola de Chicago, os
estudos citados apontam para uma forte ligação entre a propensão à criminalidade e
residir num bairro com sérios problemas de pobreza, tráfico e consumo de drogas, com
possibilidade de contato com armas de fogo, fraca estrutura de controle social,
solidariedade urbana, alta rotatividade residencial (Shader, 2004; Loeber, 2003).
Da revisão teórica, fica evidente que o crime não pode ser explicado a partir de
um único factor, sendo resultado da interacção entre factores individuais, sociais e
político-sistémicos.
Material e Métodos
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partir de Janeiro de modo a permitir a comparação entre os primeiros três meses do ano,
período antes da declaração do Estado de Emergência, e os três meses seguintes à
declaração. Propositadamente, foi excluído o mês de Julho por considerar-se que a
terceira prorrogação do Estado de Emergência foi acompanhada pelo relaxamento de
certas medidas de maior impacto em indicadores socioeconómicos e demográficos
importantes no controle da criminalidade como a autorização do retorno gradual às
aulas e a retomada de certas atividades econômicas.
Para a análise dos dados foi utilizada estatística descritiva, utilizando medidas de
tendência central, como o cálculo de variação (BUSSAB; MORETTIN, 2017), a fim de
extrair a tendência da criminalidade no período estudado.
Resultados e Discussão
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Total 4325 4129 -196 -4,53
Fonte: Comando Geral da PRM (ANO).
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Considerações Finais
Referências Bibliográficas
JN. Jornal Notícias. Detidos por venda e consumo de drogas. 2020. Disponível em:
<<https://www.jornalnoticias.co.mz/index.php/capital/maputo/97613-detidos-por-
venda-e-consumo-de-drogas>. Acesso em: 08/06/2020.
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LOEBER, R. Child delinquency: Early intervention and prevention. US Department
of Justice, Office of Justice Programs, Office of Juvenile Justice and Delinquency
Prevention, 2003.
RM. Rádio Moçambique. Niassa: Indivíduo a contas com a Polícia suspeito de violar e
matar cidadã em Chimbunila. 2020. Diponível em:
<https://www.rm.co.mz/rm.co.mz/index.php/component/k2/item/11395-niassa-
individuo-a-contas-com-a-policia-suspeito-de-violar-e-matar-cidada-em-
chimbunila.html. Acesso em: 8 e 16/06/2020.
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