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Alefe de Jesus Gonçalves - TCC II Completo

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UNIVERSIDADE CEUMA

PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO
CURSO DE PSICOLOGIA

ALEFE DE JESUS GONÇALVES

DESCOBERTA DA SEXUALIDADE HUMANA NA ADOLESCÊNCIA EM PESSOAS


COM DEFICIÊNCIA VISUAL: uma análise do filme “Hoje eu quero voltar sozinho”

SÃO LUÍS
2021
ALEFE DE JESUS GONÇALVES

DESCOBERTA DA SEXUALIDADE HUMANA NA ADOLESCÊNCIA EM PESSOAS


COM DEFICIÊNCIA VISUAL: uma análise do filme “Hoje eu quero voltar sozinho”

Artigo científico apresentado ao curso de graduação


em Psicologia da Universidade CEUMA, como
requisito obrigatório para a obtenção do grau de
psicólogo.
Orientador: Roberto Guimarães

São Luís
2021
DESCOBERTA DA SEXUALIDADE HUMANA NA ADOLESCÊNCIA EM PESSOAS
COM DEFICIÊNCIA VISUAL: uma análise do filme “Hoje eu quero voltar sozinho”

Alefe de Jesus Gonçalves1


Roberto Guimarães2

RESUMO
O presente trabalho aborda como se dá o processo de descoberta da sexualidade no período da
adolescência em pessoas com deficiência visual, tendo como ponto de análise o filme “Hoje
eu quero voltar sozinho”, sendo a descrição do processo o objetivo geral do mesmo. Como
objetivos específicos busca-se: elencar as contribuições da Psicologia ao processo de
descoberta da sexualidade humana; investigar quais as influências das questões de gênero e
deficiência visual no processo de descoberta da sexualidade; correlacionar a descoberta da
sexualidade a partir da perspectiva de Leonardo, personagem principal do filme, com as
revisões bibliográficas acerca do tema proposto. A metodologia proposta engloba a pesquisa
qualitativa, de abordagem descritiva, sendo utilizado o procedimento de pesquisa
bibliográfica, por meio da revisão da literatura, para embasar e buscar responder a situação-
problema exposta, recorrendo-se portanto a artigos científicos, trabalhos acadêmicos,
dissertações, teses, sites e toda a informação disponível sobre o tema, além de utilizar o “Arco
de Maguerez” para análise crítica de cenas relevantes que representam a temática explorada.
Evidencia-se que questões de gênero e deficiência visual interferem no processo de
descoberta da sexualidade na adolescência, dificultando-o, especialmente no que diz respeito
à dinâmica familiar e aos preconceitos dirigidos ao adolescente.

Palavras-chave: Adolescência. Deficiência visual. Sexualidade.

ABSTRACT
The present work discusses how the process of discovering sexuality in the period of
adolescence occurs in people with visual impairments, having as a point of analysis the film
“Today I want to go back alone”, the description of the process being its general objective.
The specific objectives are: to list the contributions of Psychology to the process of
discovering human sexuality; investigate the influence of gender and visual impairment on the
process of discovering sexuality; correlate the discovery of sexuality from the perspective of
Leonardo, the main character of the film, with the bibliographic revisions on the proposed
theme. The proposed methodology encompasses qualitative research, with a descriptive
approach, using the bibliographic research procedure, through literature review, to support
and seek to answer the exposed problem-situation, therefore using scientific articles,
academic works, dissertations, theses, websites and all available information on the topic, in
addition to using the “Arco de Maguerez” for critical analysis of relevant scenes that represent
the theme explored. It is evident that issues of gender and visual impairment interfere in the
process of discovering sexuality in adolescence, making it more difficult, making it,
especially in regard to family dynamics and prejudices towards the teenager.

Keywords: Adolescence. Visual impairment. Sexuality.

1
Graduando em Psicologia pela Universidade CEUMA. E-mail: alleffedejesus@gmail.com
2
Prof. Doutor em Psicologia da Universidade CEUMA. E-mail: betoguimaraesr@hotmail.com
4

1 INTRODUÇÃO

A sexualidade humana é envolta de vários tabus e especificidades, que se constitui por


meio de um constructo social, histórico e cultural. A sociedade tende a conceber a sexualidade
a partir de alguns modelos e padrões já ‘validados’, bem definidos, chegando até a ser
excludentes. Neste sentido, em contraponto, propõe-se pensar a sexualidade além das
questões usuais, comumente conhecidas, faladas e divulgadas.
Propõe-se aqui uma reflexão ao questionamento “como pensar a sexualidade no
contexto da deficiência visual?” Especificamente aliada ao processo de descoberta e
experimentação na adolescência. Para tanto, optou-se por abordar a temática a partir da
análise fílmica de “Hoje eu quero voltar sozinho”, do diretor brasileiro Daniel Ribeiro, que
conta a história de Leonardo, um adolescente cego em busca de independência.
Assim, o tema da presente pesquisa engloba alguns conceitos relevantes de serem
abordados, seguindo-se uma trajetória teórica para embasar a problemática explorada, a
esclarecer e relacionar alguns conceitos importantes, como: deficiência, deficiência visual,
adolescência, sexualidade, deficiência e sexualidade. Estas são variáveis bem específicas e
pouco convencionais para os campos de estudo do tema tratado, o que faz denotar ainda mais
sua relevância e contribuição acadêmica e social.
Busca-se compreender, principalmente, como elementos como a deficiência visual e a
orientação sexual interferem diretamente no processo de descoberta da sexualidade na
adolescência, no sentido de entender e descrever seus aspectos, influências e ruídos envoltos
no processo.
O objetivo geral da temática compreende, portanto, descrever sobre o processo de
descoberta da sexualidade na adolescência em pessoas com deficiência visual, a partir da
análise do filme “Hoje eu quero voltar sozinho”. Como objetivos específicos buscou-se:
elencar as contribuições da Psicologia ao processo de descoberta da sexualidade humana;
investigar quais as influências das questões de gênero e deficiência visual no processo de
descoberta da sexualidade; correlacionar a descoberta da sexualidade a partir da perspectiva
de Leonardo, personagem principal do filme, com as revisões bibliográficas acerca do tema
proposto.
Adolescência é sinônimo de transformação, uma etapa de busca pela independência e
construção da identidade rumo à fase adulta. Elementos como a puberdade e o estímulo de
características sexuais primárias e secundárias representam o maior fenômeno responsável por
5

diversas mudanças que fazem parte dessa fase da vida (CAMARGO, et al. - e outros, 1994;
GEJER; KLOURI, 2002).
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a adolescência engloba as idades
de dez a dezenove anos. Já no Brasil, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), de 1990,
entende que o período da adolescência vai dos doze aos dezoito anos. Entendida como uma
etapa de transformação pela sociedade, a adolescência é o período durante o qual o jovem se
prepara com responsabilidade para a vida adulta (BALEEIRO, 1999).
Uma etapa repleta de transformações, caracterizada por mudanças na anatomia,
fisiologia e de caráter social, psicológico, além de fazer aflorar sentimentos como
inadequação, indefinição, dúvidas e questionamentos, conflitos, insegurança na busca de
identidade e liberdade. Tais sentimentos acabam por induzir os adolescentes a assumirem
comportamentos para os quais não estão preparados, como: experimentar drogas e iniciar
relacionamento sexual precocemente, etc (FONSECA et al, 2010).
Na urgência de vivenciar a juventude de forma frenética e intensa o espaço para
amadurecimento e reflexão é quase inexistente, o que faz com que a prática do processo de
descoberta da sexualidade os torne mais suscetíveis a contrair o vírus HIV ou outras doenças
sexualmente transmissíveis, incita também a gestação precoce, aborto e até mesmo casos de
violência sexual, podendo comprometer seus objetivos futuros na vida (FONSECA et al,
2010).
Leonardo, assim como seus colegas de turma, passa por esse momento de grandes
mudanças, da infância para a adolescência, porém com um fator individual em relevo que o
difere socialmente dos demais, sua deficiência visual. Ao longo da narrativa do filme vamos
percebendo sutilmente essa transição, aliada às dificuldades incomuns vividas pelo
personagem em detrimento de sua condição física.
A sexualidade nada mais é do que uma consequência das experiências humanas numa
circunstância ampla, resultante da interação de fatores biológicos, psicológicos,
socioeconômicos, culturais, éticos e religiosos e está ligada ao desenvolvimento global do
indivíduo, constituindo um dos elementos de sua personalidade (GLAT, 2004; NUNES,
2005).
É a maneira de construir, aprender, ser, compreender e viver o mundo e de se
expressar por meio da integração “corpo-mente”, sendo o reflexo e a base para o que se
entende como masculinidade ou feminilidade do indivíduo sendo um ingrediente do
desenvolvimento da identidade do indivíduo com reflexo nas relações física e mental.
(BRÊTAS, 2004; GLAT, 2004; OSÓRIO, 1992), sendo a forma dessa expressão também
6

variada independente da pessoa ter ou não uma deficiência, a sexualidade, seus sentimentos e
comportamentos terão diversas formas de se apresentar e quando bem conduzida, coopera
para o bom desenvolvimento da afetividade e das relações interpessoais, o que contribui para
uma melhor valorização de si mesmo e em adaptação à sociedade (GEJER, 2001; GIAMI,
2004; KAUFMAN, et al., 2003; MAIA, 2006).
Um desenrolar saudável da sexualidade voltada a crianças e adolescentes é
intrinsecamente conectada aos relacionamentos humanos, a busca pelo equilíbrio e controle
emocional e a manifestação dos sentimentos influenciada por questões familiares, aspectos
morais, sociais, culturais e religiosos (COSTA et al., 2001). Vale ressaltar que a sexualidade
engloba não apenas a descoberta do outro mas também, e principalmente, a descoberta sobre
si mesmo, que acontece de diferentes formas, como a sensorial ou a cognitiva de linguagem,
apresentando-se como elemento que forma essa identidade (CANO et al., 2000; DAVIM et
al., 2008; MATOS et al., 2005; ROMERO et al., 2007).
Neste sentido, o processo de descoberta da sexualidade é um despertar para Leonardo
que se percebe vivendo uma espécie de aventura, onde ele se permite ser e fazer o que sempre
quis, se libertando completamente até mesmo de sua deficiência visual que, pela primeira vez,
deixa de ser um impeditivo para que o mesmo sinta e viva o que deseja, apesar das
dificuldades vivenciadas.
Segundo a Organização Mundial de Saúde, por intermédio da Classificação
Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF), caracteriza deficiência como
“problemas nas funções ou nas estruturas do corpo, com um desvio significativo ou uma
perda.” (OMS, 2003, p. 09). O Guia de Deficiência Visual do Ministério da Saúde propõe que
a visão é “o canal mais importante de relacionamento do indivíduo com o mundo exterior”
(OMS, 2003, p. 07). Assim, a presença da deficiência visual implica na participação também
da família, da escola e da sociedade para ajudar a enfrentar os obstáculos vivenciados devido
a esta.
Discutir sobre sexualidade na sociedade ainda surge acompanhada de preconceito.
Quando esse tema é voltado para a pessoa com deficiência, o quadro é ainda pior (BRASIL,
2009). Vivenciar a sexualidade engloba o sentir e proporciona marcas e memórias
significativas para o indivíduo. A visão é um dos sentidos de bastante relevância e que
desempenha um papel importante no processo de compreensão do mundo, visto que confere
sentido aos objetos, ideias e aprendizados, algo que acontece também na perspectiva sexual.
De acordo com o senso comum, é difundido e expressado um certo estigma
relacionado à sexualidade de jovens com algum tipo de deficiência, sendo necessário que os
7

aspectos de crescimento e desenvolvimento biopsicossocial e sexual alcancem ampla e


adequada proporções, evitando que esses adolescentes se tornem suscetíveis a riscos,
responsabilidades e liberdades, sem o devido preparo (LEITE et. al., 2007).
Assim, sabe-se que pessoas com deficiência visual passam por várias situações de
exclusão, seja social, educacional, na saúde, ou outras (CLARKE et al, 2011; CASTRO et al,
2014; CARANDINA et al, 2008), que é relacionada normalmente à sua própria deficiência ou
mesmo às dificuldades do ambiente em que estão inseridas e onde realizam as atividades do
dia a dia.
Pessoas com deficiência visual passam por adversidades quando tentam expressar sua
sexualidade, principalmente devido ao preconceito, que se manifesta de várias formas, e
também pela falta de informação sobre sua sexualidade (FRANÇA, 2013). De modo a se
conhecer e se relacionar consigo mesmo, com o outro e com o meio, a pessoa com deficiência
visual deve viver experiências corporais que possibilitem essas descobertas (NASÁRIO,
2011). Porém, existe uma percepção positiva da sexualidade, quando se compreende esta
como manifestação natural do ser humano, caracterizada por envolver doação, intimidade,
afirmação da orientação sexual, e que pode propiciar experiências positivas na vida, bem
como o matrimônio (FRANÇA, 2013).
Exemplificando, Dantas, et al. (2014) apontam que a sociedade ainda percebe a pessoa
com deficiência como incapaz e a sua sexualidade é invisível. Existe grande resistência por
parte da sociedade de perceber as pessoas com deficiências como homens e mulheres. Para as
autoras, o senso comum reduz a pessoa com deficiência a uma criança eterna, dependente de
cuidados, desconsiderando as potencialidades destas pessoas. Torna-se necessário reconhecer
a sexualidade e o empoderamento das pessoas com deficiência, rompendo com paradigmas
estabelecidos.
É direito de todos os adolescentes receber orientações e informações acerca de sua
sexualidade, bem como sanar dúvidas sobre seu corpo e ter a segurança de que as
transformações advindas dessa etapa da vida são normais. Quando se trata dos não videntes,
estes experienciam essa fase da mesma forma que os videntes, porém com uma diferença
óbvia, em que neles não há a visão do corpo transformado, apenas a sensação (SANTOS,
1999 apud FILGUEIRAS, 2010). Vale ressaltar que tal deficiência está dividida em duas
categorias: o indivíduo com cegueira total e o com baixa visão, sendo que aquele definido
como cego total não possui a percepção da luz e o com baixa visão apresenta graus menores
de perda de visão (MASINI et al, 2006).
8

Outra variável relevante a ser citada é a diversidade sexual, que remete ao


reconhecimento de várias possibilidades de expressar a sexualidade, visto que se tratam de
relações entre homens e mulheres, homens e homens, mulheres e mulheres, sobretudo, a
homossexualidade (RONDINI; TEIXEIRA FILHO; TOLEDO, 2017). A aceitação da
diversidade sexual na sociedade varia de acordo com os costumes de cada época
(FOUCAULT, 1993).
A discussão acerca da diversidade sexual compreende falar também sobre a própria
evolução da humanidade (COITINHO FILHO, 2017). A sexualidade não é voltada
estritamente para o gênero feminino ou masculino, ela também se expressa pelas diversas
formas de manifestação das orientações sexuais afetivas, bem como da identidade de gênero e
do sexo (BUTLER, 2008; SANTOS, 2014). Complementa-se, portanto, o entendimento sobre
a diversidade sexual enquanto manifestação própria do ser humano (LOURO, 2004).
Ao longo do tempo, alcançou-se o entendimento de que ser heterossexual, bissexual
ou homossexual estava relacionado a uma opção sexual (BESSA; RONDINI; TEIXEIRA-
FILHO, 2011). Contudo, alguns estudos afirmam que não se trata de uma opção do indivíduo,
mas de uma orientação; dessa forma, o termo “orientação sexual” passou a ser utilizado pela
sociedade, o qual “[...] significa para onde o desejo de uma pessoa é direcionado, ou seja, com
quem ela ou ele tem prazer: por uma pessoa do mesmo sexo, por uma do sexo diferente do seu
ou se pelos dois sexos [...]” (BRASIL, 2011, p. 12).
Ao mesmo tempo em que se percebe um certo obstáculo vivido por Leonardo em
detrimento de sua deficiência com relação ao processo de vivenciar algumas situações da vida
por conta própria, assim percebemos também, durante o processo individual de descoberta da
sua sexualidade, com a exploração de sua orientação sexual. Por meio de um processo bem
natural, sem gerar estranheza num primeiro momento, e que é recíproco por parte de Gabriel,
seu primeiro amor.
Assim, o aprofundamento do tema faz-se necessário para entender o nível de
influência e impacto dessas variáveis no processo de descoberta da sexualidade na
adolescência. O filme traz luz a uma temática e é a representação de uma realidade bem
latente vivenciada por milhares de jovens com necessidades especiais.
9

2 MÉTODO

O objeto de estudo proposto é o processo de descoberta da sexualidade na


adolescência em pessoas com deficiência visual, a partir da análise do filme “Hoje eu quero
voltar sozinho”, explanado por meio de pesquisa qualitativa, abordagem descritiva, sendo
utilizado o procedimento de pesquisa bibliográfica, por meio da revisão da literatura, para
embasar e buscar responder a situação-problema exposta.
Com o propósito de atender aos objetivos deste estudo escolheu-se a pesquisa
qualitativa. Reis (2010, p. 67) afirma que a abordagem qualitativa “tem o objetivo de
interpretar e dar significados aos fenômenos analisados sem empregar os métodos e as
técnicas estatísticas como base do processo de análise de um problema”. Cooper e Schindler
(2016, p. 145) reiteram que “pesquisa qualitativa é projetada para dizer ao pesquisador como
(processo) e por que (significado) as coisas acontecem de determinada forma.”
Assim, a escolha da pesquisa qualitativa revela o desejo de compreender,
principalmente, como a deficiência visual e a orientação sexual interferem no processo de
descoberta da sexualidade na adolescência, no sentido de entender e descrever seus aspectos,
influências e ruídos no processo.
Em relação a coleta de dados foram utilizados como instrumentos a análise fílmica e a
pesquisa bibliográfica. Segundo Penafria (2009), a análise fílmica diz respeito ao processo de
decomposição de um filme. Para Aumont (2004, p. 10), "o objetivo da análise é apreciar
melhor a obra ao compreendê-la melhor". Enquanto isso, Vanoye e Goliot-Lété (2006)
afirmam ainda que analisar uma obra audiovisual implica em duas etapas importantes:
decompor (descrever) e, em seguida, estabelecer e compreender as relações entre os
elementos decompostos, ou seja, interpretar.
Na análise fílmica utilizou-se especificamente o método para análise do “Arco de
Maguerez”, que trata de uma teoria de problematização, onde é definido um problema através
de uma observação da realidade. Sendo assim, define-se pelo começo de um processo de
adaptação de informações utilizadas pelos integrantes motivados a considerar a realidade em
si, com seus próprios olhos, identificando as características com o propósito de colaborar para
uma renovação da realidade já observada (BERBEL, 2007).
As etapas da análise do arco englobam: 1) a observação da realidade com um olhar
crítico e atento em relação ao que o filme pode contribuir com a temática estudada; 2) na
etapa dos pontos-chave, primeiro separam-se as principais cenas de interesse a contribuírem
com o estudo realizado; 3) já nas teorizações, estudam-se os aspectos de interesse da obra em
10

conjunto com a fundamentação teórica relacionada ao assunto. Com isso, pretende-se


compreender melhor o problema abordado no filme e, assim, atentar às variáveis que
contribuem para a problemática.
Quanto à pesquisa bibliográfica, Martins e Theóphilo (2016, p. 52), discorrem que:

Uma pesquisa bibliográfica procura explicar e discutir um assunto, tema ou


problema com base em referências publicadas em livros, periódicos, revistas,
enciclopédias, dicionários, jornais, sites, CDs, anais de congressos etc. Busca
conhecer, analisar e explicar contribuições sobre determinado assunto, tema ou
problema.

Em relação ao critério de inclusão, foram utilizados artigos, teses, dissertações,


compreendidos entre o período de 2015 a 2021, de âmbito nacional, pesquisados nos
principais acervos digitais, como Google Acadêmico, Periódicos Eletrônicos em Psicologia
(PePSIC), Scientific Electronic Library Online (SciELO), além da Biblioteca Digital
Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD). A escolha dessas fontes de informação se justifica
pela abrangência de estudos desenvolvidos no âmbito nacional e internacional. Foi adotada a
busca do material que aborda os conceitos “sexualidade na adolescência” & “deficiência
visual” & “homossexualidade”. Quanto ao critério de exclusão, não foram utilizados artigos
nacionais e internacionais compreendidos no período anterior a 2015.
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3 RESULTADOS

A seguir, pode-se observar a descrição geral do filme escolhido (Hoje Eu Quero Voltar
Sozinho), na qual discorre-se a trama vivenciada pelo personagem central, Leonardo, de
forma geral, fazendo alusão ao seu cotidiano. Em seguida, apresenta-se a seleção e separação
das cenas por categorias, considerando-se as mais relevantes e que abordam especificamente
os objetivos propostos pela pesquisa.

3.1 Descrição geral do filme

“Hoje Eu Quero Voltar Sozinho” é um filme brasileiro dirigido, produzido e


roteirizado por Daniel Ribeiro. O longa-metragem é estrelado por Ghilherme Lobo
(Leonardo), Fabio Audi (Gabriel) e Tess Amorim (Giovana), baseado no curta-metragem “Eu
Não Quero Voltar Sozinho”, interpretado pelos mesmos atores. O filme não se trata de uma
continuação do curta, mas uma narrativa diferente para a mesma história.
O longa-metragem põe em destaque uma etapa da vida de Leonardo (Guilherme
Lobo), um adolescente que apresenta duas condições com marcas profundas de rotulação
social: a deficiência visual e a descoberta da homossexualidade. Ao longo da trama, os
conflitos entre os personagens revelam os seguintes problemas: relações familiares,
preconceito, busca por autonomia, vida escolar, ser diferente, deficiência. Também traz luz ao
enfrentamento de impasses, como a descoberta da sexualidade, os desejos e emoções íntimos
e intrinsecamente relacionados à adolescência.
Uma vez definida a linha teórica de análise, o filme “Hoje eu quero voltar sozinho”
(RIBEIRO, 2010) foi utilizado como corpus de investigação. Nesse filme foram selecionadas
cenas que denotam algum tipo de interação, ou pré-interação, indicativa de homossexualidade
ou que permita uma caracterização das interações dos personagens que veem a manifestar
essa faceta da sexualidade humana.
Giovana é a melhor amiga de Leonardo, uma jovem adolescente, também em processo
de descoberta e vivência de experiências, que nutre por ele mais que um afeto e amizade, um
amor platônico, uma ligação que lhe desperta ciúmes e até um certo nível de possessividade
mais tarde, quando Gabriel (o aluno novo) chega à escola e se torna mais próximo de
Leonardo, conforme as circunstâncias se desenrolam ao longo da trama.
Gi, como é chamada carinhosamente por Léo, é a pessoa mais próxima do
personagem, que o leva e traz da escola diariamente, o convida para sua casa para tomar
12

banho de piscina, o ajuda com questões pessoais, como seu desejo de fazer intercâmbio,
mesmo sem entender e até discordar da vontade do amigo. Ela também o defende em alguns
momentos na escola, quando este é hostilizado pelos demais colegas devido sua condição de
deficiência visual.
No enredo, é com o convívio de Gabriel, que a amizade entre Giovana e Leonardo
começa a mudar. Além de ser extremamente cuidadosa com ele, ela também acaba
descobrindo que o sentimento nutrido pelo amigo vai muito além da amizade, mas não tem
coragem de o declarar. Como Giovana sempre foi atenciosa com ele, Leonardo não consegue
distinguir o verdadeiro sentimento da amiga do cuidado que ela tem com ele, nem do amor
anterior e nem dos ciúmes diante da aproximação de outras pessoas.
Leonardo, até então restringido à amizade de Giovana, começa a notar em Gabriel uma
nova amizade e novos sentimentos. A relação entre os três acontece e a aproximação entre
Leonardo e Gabriel acontece diariamente na escola e nas atividades escolares que requerem a
interação com as duplas e, à proporção que Giovana se distancia, surge um espaço para
aproximação entre Gabriel e Leonardo.
No decorrer do tempo, entre aulas, trabalhos escolares e festas, Leonardo começa a
notar que está sentindo algo pelo Gabriel, porem, não entende isso logo no início. Através
dos sentidos do tato e do olfato e do convívio com Gabriel, Leonardo percebe a atração, e as
sensações vivenciadas no enamoramento, que muitas vezes não é perfeitamente recíproco,
pois Gabriel aparenta-se impreciso entre a amizade e o amor romântico. Desse modo,
Leonardo experiencia em segredo os novos sentimentos e sensações causados pelo afeto que
sente pelo Gabriel.
Lentamente, Leonardo e Giovana vão retomando à amizade, até ao ponto em que
pretende declarar os seus sentimentos pelo Gabriel à amiga. Assim que o Leonardo revela os
desejos que tem por Gabriel, Giovana fica confusa e pede um tempo para assimilar a
novidade. Leonardo confronta Gabriel sobre a noite em que se beijaram na festa, a qual este
alegou anteriormente não se lembrar de nada da festa, e só então Gabriel admite gostar de
uma pessoa, que a beijou mas tem medo de não ter seu sentimento correspondido. Leonardo
então se levanta e o beija. E assim, já perto do fim da trama, se inicia um relacionamento
amoroso entre ambos.

3.2 Categorias para discussão

A partir dessa análise, foi feito um levantamento das principais cenas que ilustram a
13

temática explorada e que são divididas em categorias que englobam e buscam responder aos
objetivos específicos da pesquisa. As cenas primordiais para análise são:

Categoria 1 - A respeito da transição para adolescência e sua especificidade ao


jovem deficiente visual
CONJUNTO DE CENAS 1
Leonardo tem algumas conversas com sua avó e os pais sobre desejos de morar só,
constituir família, fazer intercâmbio, até atividades mais simples como ficar sozinho em casa
ou voltar sozinho para casa.

CONJUNTO DE CENAS 2
Alguns colegas de turma de Leonardo, que são preconceituosos em relação à sua condição
física, praticam bullying com o mesmo em sala de aula e também no pátio da escola.

Categoria 2 - Considerações sobre o despertar da sexualidade e descoberta da


homossexualidade
CENA 3
Leonardo treina beijar no vidro do box do banheiro.

CENA 4
Leonardo cheira o casaco que Gabriel esqueceu em sua casa e dorme vestido nele.

CENA 5
Gabriel surpreende Leonardo com um beijo roubado.

CENA 6
Leonardo confronta Gabriel sobre “amnésia” em relação ao beijo e ambos se beijam
novamente.

CENA 7
Confirmação do relacionamento afetivo entre Leonardo e Gabriel ao saírem da escola de mãos
dadas, em resposta aos comentários preconceituosos de colegas da turma.
14

Categoria 3 - Abordando como a dinâmica familiar influencia na sexualidade da


pessoa com deficiência visual
CONJUNTO DE CENAS 8
Leonardo é bastante consciente sobre sua condição física e demonstra aceitá-la bem, ao
contrário de sua mãe, que o limita bastante e o trata com nítida diferença em algumas cenas,
em especial quando este decide voltar sozinho da casa da avó e acaba chegando muito tarde
em casa, sem avisar. O mesmo acontece na cena em que este revela aos pais seu desejo de
fazer intercâmbio.
15

4 DISCUSSÃO

Para discussão do tema proposto, separado e numerado por partes, inicia-se


relacionando os conceitos adolescência e deficiência visual, culminando naquele que diz
respeito ao despertar da sexualidade e descoberta da homossexualidade. Encerra-se a
discussão com o tópico que faz menção à dinâmica familiar e sexualidade da pessoa com
deficiência visual.

4.1 Relacionando conceitos: adolescência e deficiência visual

Desde o início do filme, fica claro que Leonardo anseia por mais autonomia e
independência na realização de atividades simples, como se barbear e voltar para casa
sozinho, até ações mais complexas, como o desejo de fazer intercâmbio, morar sozinho, entre
outras. Esses desejos são comuns nessa etapa da vida, visto a adolescência em si já ser uma
fase de descoberta, transição e experimentação da realidade.
Muitas ideias e dúvidas podem surgir, as emoções ficam à flor da pele, conflitos
internos e externos influenciam nos pensamentos e atitudes, por exemplo, ao conversar com o
pai, Leonardo percebe que ir para o intercâmbio era uma forma de fugir da briga com os pais,
ao invés de encará-la. Isso mostra que, mais uma vez, o personagem vive conflitos e dúvidas,
mas, ao final do processo, adquire um ganho de consciência, uma maturidade de pensamentos
e ações, exatamente como a fase da adolescência requer que aconteça.
Segundo Machado (2016), a Organização Mundial de Saúde (OMS) define a
adolescência como o período da vida dos 10 aos 20 anos e a juventude dos 15 aos 24 anos de
idade. Os anos coincidentes correspondem à fase tardia do desenvolvimento, denominando
young people e youth (jovens e juventude) ao período entre os 15 e 24 anos de idade.
Para Becker (2017), enquanto lida com seus conflitos interiores e mudanças corporais,
o adolescente se encontra em uma sociedade contraditória e cuja complexidade gera muita
confusão na sua cabeça. Ele se defronta hoje com uma cultura em intensa mutação, valores
velhos e decadentes se contrapondo a novas ideias e conceitos, sem que haja sequer tempo
para sua assimilação.
Segundo o art. 2º da Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015, isto é, do Estatuto da Pessoa
com Deficiência (BRASIL, 2015, on-line):

Considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo de
16

natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou


mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em
igualdade de condições com as demais pessoas.

A capacidade visual pode ser subdividida em três níveis funcionais: visão normal,
baixa visão (deficiência visual moderada e grave) e a cegueira. Para que o indivíduo seja
considerado com deficiência visual (DV), tem-se que as intervenções médicas especializadas
não o capacitam a ter a visão funcional novamente (WHO, 2013). Assim, indivíduos que
apresentam visão nula ou diminuída, que limitam suas atividades diárias são classificados
como deficientes visuais (HALLAHA; KAUFFMAN, 2009).
Conforme demonstrado no filme, Leonardo apresenta deficiência visual total e requer
atenção especial. Além disso, apesar de andar com seu bastão entre os ambientes, demanda
apoio de colegas para se deslocar até em casa, por exemplo. Pelo próprio cenário em que se
passa o filme, é denotada uma limitação de espaços a que Léo tem acesso. Seu mundo é
limitado quase que diariamente à escola - sua casa - a casa da avó - a casa de Giovana, e este
tem sua liberdade de mobilidade reduzida, visto que apesar de já ser adolescente, sua
condição o priva de realizar tarefas simples sozinho, como se deslocar, seja pela própria
característica de sua deficiência ou por imposição social, dos pais (especialmente a mãe), ou
de Giovana, em relação ao seu desejo de realizar intercâmbio por exemplo.
Suas relações interpessoais também são limitadas, inicialmente, à sua amizade com
Giovana. Em alguns momentos percebe-se, de fato, a dificuldade de Léo em socializar com os
demais colegas da escola dada sua deficiência ser encarada por estes de forma preconceituosa
e hostil. Seu ambiente na escola é caracterizado por preconceito, intolerância, bullying,
impaciência e provocações dirigidas a ele por parte da maioria dos colegas de classe, devido
sua condição e as especificidades e cuidados que esta demanda, como instrumentos, recursos
e materiais didáticos específicos, além de acompanhamento e atenção especial.

4.2 Despertar da sexualidade e descoberta da homossexualidade

Um fato interessante e que é de uma sensibilidade e acuracidade genuína foi


representado pela cena em que Leonardo treina beijar no vidro do box do banheiro de sua
casa, enquanto toma banho. Esta é uma ação bastante comum entre os adolescentes que estão
no início do processo de descoberta da sexualidade e denota curiosidade e vontade de
experienciar um acontecimento único e ansiosamente aguardado na vida de qualquer
adolescente, o primeiro beijo. Salienta-se também que sua deficiência visual em nada o
17

impede de sentir as sensações geradas por essa ação em sua completude, exatamente como
aconteceria com um adolescente vidente.
A interação entre Léo e Gabriel vai se afunilando e nota-se exatamente o momento em
que Léo começa a entender sua orientação sexual como homossexual e, consequentemente,
passa a nutrir um sentimento pelo amigo, quando ele pega o casaco que Gabriel esqueceu na
casa dele e o sente e cheira, chegando a dormir aconchegado com o casaco. Essa é uma das
cenas iniciais indicativa de sua descoberta sexual.
Em relação ao tópico sexualidade, o filósofo francês Michel Foucault (1993) produziu
uma obra em três volumes intitulada História da Sexualidade, entre 1976 e 1984. Em 1976
publicou o primeiro volume, que recebeu o subtítulo de A vontade de saber (FOUCAULT,
1993). Nessa obra Foucault tomou a sexualidade como uma criação discursivo-institucional,
cuja função seria o controle dos indivíduos e das populações. Para Foucault (1993, p. 100):

A sexualidade é o nome que se pode dar a um dispositivo histórico: não à realidade


subterrânea que se aprende com dificuldade, mas à grande rede de superfície em que
a estimulação dos corpos, a intensificação dos prazeres, a incitação ao discurso, a
formação dos conhecimentos, o reforço dos controles e das resistências, encadeiam-
se uns aos outros, segundo algumas grandes estratégias de saber e poder.

Assim, pode-se inferir que a sexualidade constitui parte importante da formação do


indivíduo sobre seu corpo, mente e identidade. Além de se descobrir um ‘ser sexual’, o
indivíduo desenvolve e estimula sua identidade e liberdade, promovendo assim uma sensação
de verdadeira completude, aliada aos demais campos de sua vivência como ser humano.
Ainda, Gesser (2015, p. 559) se refere à sexualidade como “um fenômeno complexo e
multifacetado, o qual incorpora aspectos culturais, históricos, biológicos e políticos que
atravessam e constituem a experiência das pessoas nesse âmbito.”
Ainda, quando se fala em sexualidade, principalmente nos dias atuais, outra questão
surge à tona, o tema ‘orientação sexual’ que, de acordo com a Secretaria de Educação
Fundamental:

Busca-se considerar a sexualidade como algo inerente à vida e à saúde, que se


expressa desde cedo no ser humano. Engloba o papel social do homem e da mulher,
o respeito por si e pelo outro, as discriminações e os estereótipos atribuídos e
vivenciados em seus relacionamentos, o avanço da AIDS e da gravidez indesejada
na adolescência, entre outros, que são problemas atuais e preocupantes (BRASIL,
2000, p. 107).

No interior do fascículo de Orientação Sexual há um subitem denominado Relações


de Gênero, com duas páginas e meia de texto. A inserção do tema se dá enquanto conteúdo
18

específico da Orientação Sexual. Os objetivos para a abordagem são:

[...] combater relações autoritárias, questionar a rigidez dos padrões de conduta


estabelecidos para homens e mulheres e apontar para a sua transformação. A
flexibilização dos padrões visa permitir a expressão de potencialidades existentes em
cada ser humano que são dificultadas pelos estereótipos de gênero. Como exemplo
comum pode-se lembrar a repressão das expressões de sensibilidade, intuição e
meiguice nos meninos ou de objetividade e agressividade nas meninas (BRASIL,
2000, p. 144).

Acerca da orientação sexual, a cena ápice da trama, no clímax do filme, que indica a
correspondência de Gabriel ao sentimento de Léo é um beijo roubado que aquele dá neste, ao
sair da festa de uma das colegas de turma, Karina, da qual inclusive Léo sente ciúmes, pois
acredita que Gabriel gosta dela, o que se prova não ser verdade nas cenas seguintes.
Momentos antes do beijo, Léo reclama que ninguém o deixa livre para fazer o que quer,
sempre tentam controlá-lo e nem sequer dar o primeiro beijo ele pode. É nesse momento que
Gabriel o puxa e o beija.
Já próximo das cenas finais do filme, Leonardo confronta Gabriel, questionando-o
novamente se este realmente não se lembrava de nada do que havia acontecido na noite da
festa. Gabriel então admite que beijou uma certa pessoa, de quem diz gostar, mas como a
pessoa (Leonardo) não falou nada sobre o beijo nem sobre se seus sentimentos seriam
recíprocos, ele teve vergonha de confessar o que havia acontecido. É então que Leonardo se
levanta e beija Gabriel. Esta cena marca o início do relacionamento entre ambos,
compreendendo-se então a identificação e orientação sexual de Leonardo como homossexual.
Depreende-se assim que, aliado ao processo de descoberta da sexualidade que, desde
já, constitui-se num evento natural porém inicialmente complexo, a também ‘descoberta’ da
orientação sexual é um fator que pode causar estresse e estereótipos traumatizantes, partindo
do pressuposto desta como ‘diferente’ do que o senso comum da sociedade entendem e
aceitam culturalmente como ‘correta’, considerando o gênero do indivíduo. Uma terceira
variável pode tornar a temática ainda mais complexa, a deficiência visual.
Os adolescentes com deficiência visual encaram diversas dificuldades ao
expressar sua sexualidade, tanto pelo preconceito quanto pela carência de informações sobre
sexualidade. Trata-se de uma comunidade que sofre de exclusão social e que necessita de
recursos diferentes e criativos para que o processo de aprendizagem seja realizado e
compreendido com eficácia (COZAC; PEREIRA; CASTRO, 2016).
Em duas cenas do filme é representado nitidamente o preconceito contra a
homossexualidade, em que alguns colegas de classe fazem comentários pejorativos
19

direcionados à relação de, até então, amizade, entre Leonardo e Gabriel, insinuando que
ambos são, na verdade, um casal. Já na cena final do filme, os colegas tecem provocações
novamente, onde Giovana e Gabriel caminham com Léo em direção ao portão da escola,
sendo que a resposta de Léo é uma reação não verbal e de afeição, ele até então se apoiava no
braço de Gabriel, passa então a segurar na sua mão. Esta é uma resposta clara e óbvia acerca
de seu novo status de relacionamento.
Cuthbert (2017) desenvolveu uma exploração qualitativa que identificou a prevalência
da assexualidade e suas características psicológicas e fisiológicas em pessoas com diferentes
tipos de deficiência. Todos os participantes relataram que, para a sociedade, ser deficiente
define a totalidade do sujeito, inclusive sua identidade sexual. Alguns rejeitam a
medicalização e a ideia de associar a assexualidade à deficiência, alegando que não existe
uma cura e/ou causa, pois trata-se de uma maneira de ser no mundo.
Bezerra (2010) afirma ainda que as pessoas com deficiência visual apresentam o
mesmo desenvolvimento afetivo-sexual que pessoas videntes; querem conhecer seus corpos e
o respectivo funcionamento, o que as faz explorar o ficar e o namorar antes do casamento
como qualquer pessoa. No entanto, essa curiosidade por parte da pessoa com cegueira nem
sempre é bem-vista pelos outros, o que caracteriza a visão conservadora mantida por alguns.

4.3 Dinâmica familiar e sexualidade da pessoa com deficiência visual

A mãe de Leonardo sempre demonstra uma preocupação e superproteção excessiva em


relação ao filho, teme pela sua vida a todo instante, cuidando para que até as tarefas mais
simples sejam feitas por ela e não por ele. Em um dado momento, no início do filme,
Leonardo decide voltar sozinho da casa da avó para a casa dos pais, demorando para chegar, o
que causa uma grande preocupação e alarde por parte de sua mãe, principalmente, assim que
este chega em casa. Sua mãe é a primeira a tratá-lo como diferente, deixando claro ou
subentendido, em diversos momentos da trama, fato que o irrita e incomoda bastante. Seu pai,
por outro lado, se mostra mais aberto, apesar de também apresentar um certo nível de
proteção paternal.
Isso demonstra que, de fato, as pessoas com deficiência muitas vezes se sentem
inferiorizadas no ambiente familiar e social, sendo vistas como alguém incapaz de realizar as
próprias tarefas, sem autonomia ou como um indivíduo que não será capaz de interagir com
outras pessoas, seja socialmente, emocionalmente ou sexualmente. Além de informações e
atitudes deturpadas de pessoas do convívio diário da pessoa com deficiência visual, isso
20

também leva a uma negação de suas habilidades e potenciais por parte dos deficientes visuais.
Leonardo logo desenvolve o desejo de sumir, fugir, fazer intercâmbio, só para ficar
longe dos pais e daquela sensação de aprisionamento e vigilância constante a qual se sente
submetido. Pode-se até caracterizar essa ‘vontade’ como emoção comum presente em muitos
adolescentes que confrontam seus pais, por diferentes motivos, sem sucesso, como uma
espécie de ato de rebeldia perfeitamente normal, típico dessa fase. Não se pode, porém,
banalizar o seu sentir, na medida em que indivíduos com deficiência visual têm,
frequentemente, necessidades e requerem cuidados especiais, sendo portanto necessário que
os ambientes e as pessoas estejam adaptados e aptos a atender suas necessidades, até mesmo
com atenção especial.
O desenvolvimento biopsicossocial do indivíduo concentra-se em fatores sociais,
econômicos e culturais, o que não é diferente para os deficientes visuais. Na atualidade,
muitas são as opiniões sobre a importância da dinâmica familiar na aprendizagem e no
desenvolvimento das pessoas com deficiência visual, tendo em vista sua relevância no
processo de construção do indivíduo, seja em termos de questões familiares ou de aceitação, a
dinâmica familiar tornou-se um fator intimamente relacionado ao desenvolvimento pessoal.
Além da compreensão de sua deficiência, isso pode gerar tanto visões positivas e construtivas,
como visões negativas e destrutivas.
Alguns responsáveis de crianças com deficiência visual, segundo Da Silva et al.
(2017), costumam ter o comportamento superprotetor e acabam não fornecendo informações
suficientes sobre sexualidade e as mudanças normais que o corpo humano passa, às vezes por
medo ou por não saber como passar tais informações para eles devido à falta de material.
Em síntese, no que concerne à sexualidade da pessoa com deficiência visual, o apoio
familiar é fundamental para que o deficiente visual tenha uma vida sexual completa e
saudável e busque sua autonomia, identidade e independência. No entanto, para que isso
aconteça de forma assertiva, os métodos sociais, econômicos, políticos e educacionais
precisam andar de mãos dadas. Apenas dessa forma é possível, de fato, integrar a pessoa com
deficiência à sociedade de forma completa.
21

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O processo de descoberta da sexualidade, apesar de natural, é complexo. Ao ser


retratado numa perspectiva em que se apresenta também uma orientação sexual diferente da
que é aceita normalmente pelo senso comum na atualidade, que é a homossexual, aliando-se a
esta uma terceira variável, a deficiência visual, notou-se de forma representativa, pelo filme,
que muitas questões permeiam esse processo e precisam ser desmistificadas.
Conforme citado por alguns autores, a sexualidade na adolescência é composta por
mudanças de diversas ordens, como características físicas, emocionais e de mentalidade.
Leonardo representa todas as variáveis que se buscou analisar com a pesquisa: um jovem no
processo de descoberta de sua sexualidade, que possui desejos e sonhos, e começa a entender
que tem uma orientação sexual própria, ao mesmo tempo em que lida com as dificuldades que
sua condição física impõe, sua deficiência visual.
Constatou-se por meio da análise realizada a partir das inferências bibliográficas com
o filme “Hoje eu quero voltar sozinho” que é considerado tabu falar e tratar sobre a
sexualidade do jovem deficiente visual, ainda mais quando este é homossexual, pois ele passa
por dificuldades como o processo solitário de descoberta de si mesmo, sua individualidade,
construção da personalidade e sexualidade, além do enfrentamento a preconceitos, como dos
próprios colegas de classe, no caso representado por Leonardo.
Além disso, a dinâmica familiar também influencia no crescimento do adolescente não
vidente e, consequentemente, no seu processo de descoberta da sexualidade, no sentido de
privá-lo da liberdade de realizar certas escolhas e tarefas sozinho, como o trajeto casa-escola,
intercâmbio e sair com os amigos. A superproteção é um fator que limita sua evolução,
comprometendo sua capacidade de desenvolver novas habilidades e realizar tarefas de forma
autônoma, o que, no caso de Leonardo, o leva a omitir fatos de sua vida íntima e pessoal,
fazendo com que este saia escondido de casa ou tenha o desejo de fazer intercâmbio como
forma de fugir do olhar e ‘vigilância’ constantes dos familiares.
Conclui-se também a importância de se realizar um trabalho psicoterápico de
psicoeducação com as famílias, que possa servir de base para orientar e aconselhar, visando
beneficiar as pessoas com deficiência e também cuja orientação é homossexual, gerando
assim mais qualidade de vida e compreensão entre as partes envolvidas no processo de
descoberta da sexualidade do adolescente. É um assunto relevante no âmbito social e
acadêmico, pois engloba uma parcela de pessoas ainda consideradas ‘invisíveis’, ou melhor
invisibilizadas, perante a sociedade, porém escasso a nível de pesquisas científicas recentes.
22

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Brasil: Vitrine Filmes / Films Boutique.
27

ANEXOS
28

ANEXO I: TERMO DE ACEITE - ORIENTAÇÃO DE TCC

Eu, Roberto Mendes Guimarães, professor(a) desta Universidade, lotado (a) na


Coordenadoria do Curso de Psicologia, aceito orientar o discente Alefe de Jesus Gonçalves,
matrícula n.º PS17051MCC1, na elaboração do seu TCC, cujo projeto é intitulado
Descoberta da Sexualidade Humana na adolescência em pessoas com deficiência
visual: Uma análise do filme “Hoje eu quero voltar sozinho”

Ressalta-se que os direitos e deveres do discente e do orientador seguem o


estabelecido nas Resoluções específicas do CEPE e do Curso de Psicologia, que dispõe sobre
o TCC.
Nome do (a) aluno (a): Alefe de Jesus Gonçalves CPD: 87552
Coordenadoria do Curso de Psicologia,

Declaro, na oportunidade, conhecer o cronograma de trabalho da Coordenadoria do


Curso, comprometo-me a elaborar o Trabalho final de Conclusão de Curso dentro dos prazos
e normas estipulados.

Atenciosamente,

Assinatura do (a) aluno (a)

ACEITE DO (A) ORIENTADOR(A):

Assinatura do (a) orientador (a)

São Luís, 06 de abril de 2021


29

ANEXO II: TCC II - ENCAMINHAMENTO

Aluno (a): Alefe de Jesus Gonçalves CPD: 87552


Orientador (a): Roberto Mendes Guimaraes
Título de Trabalho de Conclusão de Curso:
DESCOBERTA DA SEXUALIDADE HUMANA NA ADOLESCÊNCIA EM
PESSOAS COM DEFICIÊNCIA VISUAL: Uma análise do filme “Hoje eu quero voltar
sozinho”

À Coordenadoria do Curso de Psicologia,

Tendo acompanhado a elaboração e examinado a versão final da monografia/TCC


realizada, considero satisfatório o resultado da pesquisa e recomendo seu encaminhamento à
banca examinadora.

Atenciosamente,

Assinatura do (a) orientador (a)

Em: ____de_____________de 20____

DIA E HORA DA DEFESA: _____________________________________


30

ANEXO III: FREQUÊNCIA NAS ORIENTAÇÕES DE TCC

Nome do Aluno: Álefe de Jesus Gonçalves CPD: 87552

N° Data Tarefa Apresentada Orientação para Visto do Aluno Visto do


pelo aluno a semana Professor

Envio de matérias, e
Aguardar leitura a
01/03/2021 discussão sobre
dos temas
horários e normas

Artigos sobre análises


Revisão de artigos
de filmes (A ilha do
08/03/2021 sobre análises de
Medo e Precisamos
filmes
falar sobre Kenvin)

Fazer um
levantamento de
Estudar e formalizar
filmes, junto com
15/03/2021 quais artigos que posso
o método e
eventualmente utilizar
conversar com a
professora
Organização da
Estudar sobre o método tabela sobre os
22/03/2021
Arco Maguerez artigos de análise
de filme
Orientação para
construção da
introdução, definir
29/03/2021 Apresentação da tabela
conceitos dos
sobre análise fílmica
possíveis assuntos
que irei utilizar

Introdução Devolutiva da
05/04/2021
Introdução

Orientação para
Construção do método construção do
12/04/2021
método, definir
análise fílmica.
31

Apresentação do
Devolutiva do
19/04/2021 método
método

Separar cenas e
falas relevantes
26/04/2021 Alterações na
para serem usadas
metodologia
no trabalho

Teorizar as falas e
Construção dos
cenas separadas e
03/05/2021 resultados e discussão
apresenta-las no
resultado

Apresentação dos Devolutiva dos


10/05/2021 resultados e discussão resultados e
discussão

Construção das
Correção/alterações nos
17/05/2021 considerações
resultados e discussão,
finais
atualizar referencias

Considerações finais e Devolutiva das


24/05/2021 resumo considerações
finais e resuma

Correção das Revisão de todo o


31/05/2021
considerações finais e trabalho
resumo

Entrega do
Entrega do Trabalho de
Trabalho de
14/06/2021 Conclusão de Curso
Conclusão de
Curso
32

ANEXO IV: ATA DE DEFESA DE TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO SEM


APRESENTAÇÃO ORAL

1. IDENTIFICAÇÃO DO ALUNO(A)
ALUNO(A): Alefe de Jesus Gonçalves
CPD: 87552
CURSO: Psicologia

2. TÍTULO DO TCC:

3. DATA DA APRESENTAÇÃO:

4. NOTAS

NOTA BANCA AVALIADORA (0,0 – 8,5 pontos):


1. Resumo, Introdução e (0,0 – 3,0 pontos) Avaliador Avaliador
Fundamentação Teórica por avaliador 1 2
O Resumo está adequado ao conteúdo da (0,0 - 0,5 ponto)
pesquisa? Indica o objetivo e método
utilizado?
A introdução apresenta coerência na (0,0 - 0,5 ponto)
apresentação do problema, justificativa e
objetivos?
Fundamenta teoricamente o tema do (0,0 - 1,5 pontos)
estudo?
Redação e coesão textual (0,0 - 0,5 ponto)
Total por avaliador:
2. Método (0,0 – 2,5 pontos) Avaliador Avaliador
por avaliador 1 2
Descreve o tipo do estudo? É apropriado (0,0 - 0,5 ponto)
para atingir os objetivos propostos?
Caracteriza a amostra e o processo de (0,0 - 0,5 ponto)
seleção dos participantes ou etapas da
revisão realizada?
O(s) instrumento(s) está (ão) (0,0 - 0,5 ponto)
caracterizado(s) (autoria, forma de
avaliação, propriedades psicométricas,
quando for o caso)? Cumpre os aspectos
éticos?
Discrimina como ocorreu a coleta e análise (0,0 -1,0 ponto)
de dados?
Total por avaliador:
3. Resultados, Discussão e (0,0 – 3,0 pontos) Avaliador Avaliador
Considerações finais por avaliador 1 2
Os resultados apresentados contemplam os (0,0 -1,0 ponto)
objetivos da pesquisa? Respondem às
33

hipóteses levantadas?
A discussão está apropriada para temática? (0,0 -1,0 ponto)
As considerações finais apresentam os (0,0 - 0,5 ponto)
pontos relevantes da pesquisa realizada?
As limitações da pesquisa são pontuadas (0,0 - 0,5 ponto)
nas considerações finais?
Total por avaliador:
Prezado(a) avaliador(a), favor preencher a média de sua nota
NOTAL FINAL POR AVALIADOR:
Uso exclusivo do docente da disciplina TCC
NOTA DO DOCENTE DA DISCIPLINA (0,0 – 1,5 pontos):
1. Normas ABNT e (0,0 – 1,0 ponto)
formatação/estrutura do artigo
Cumprimento dos prazos: Tarefas 1 e 2 (0,0 – 0,25
ponto)
Cumprimento dos prazos: Tarefas 3 e 4 (0,0 – 0,25
ponto)
Total docente da disciplina:

MÉDIA FINAL:

Prezado(a) avaliador(a) as considerações do trabalho devem ser descritas abaixo conforme


sua posição de avaliação.
Considerações do(a) 1º Avaliador(a):

Considerações do(a) 2º Avaliador(a):

DATA: ___/ ___/20____.

5. JULGAMENTO APROVAD REPROVAD CONDICIONAD


FINAL: O O O

Ciência do aluno em
condicionado:______________________________________________

Responsável pela verificação em condicionado: ___________________________________


34

DATA: ___/ ___/20____.

6. ASSINATURAS
Prezado(a) avaliador(a) é indispensável a sua assinatura
BANCA EXAMINADORA: ASSINATURA

Presidente: Roberto Mendes Guimaraes


Avaliador
01:
Avaliador
02:
35

ANEXO V: CARTA DE ALTERAÇÃO


UNIVERSIDADE CEUMA
PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO
CORRDENAÇÃO DO CURSO DE PSICOLOGIA

Aluno(a): Alefe de Jesus Gonçalves


CPD: 87552
Orientador(a): Roberto Mendes Guimaraes
Título de Trabalho de Conclusão de Curso: DESCOBERTA DA SEXUALIDADE
HUMANA NA ADOLESCÊNCIA EM PESSOAS COM DEFICIÊNCIA VISUAL: Uma
análise do filme “Hoje eu quero voltar sozinho”

Durante a construção do trabalho verificou-se, mediante as pesquisas e leituras de


artigos, que não seria possível alcançar os objetivos de investigar sobre o processo de
descoberta da sexualidade na adolescência, correlacionado com o filme Call me by your
name; investigar como a psicologia pode contribuir no processo da descoberta da sexualidade,
descrever sobre as influências das questões de gênero e como ocorre a descoberta da
sexualidade; correlacionar a descoberta da sexualidade na perspectiva de um dos personagens
do filme, sendo necessária a alteração do tema para a investigação apenas de revisão
bibliográfica.

São Luís, MA 29 de maio de 2020.

_______________________________________________________
Nome do Aluno
36

______________________________
Orientador
Para: Coordenação do Curso de Psicologia e Comissão avaliadora
Data:
De: Alefe de Jesus Gonçalves - Orientando
Dr. Roberto Mendes Guimaraes - Orientador

Assunto: Alteração do título e objetivos.

O artigo científico apresentado ao curso de graduação em Psicologia da Universidade


CEUMA, como requisito obrigatório para a obtenção do grau de psicólogo, intitulado:
DESCOBERTA DA SEXUALIDADE HUMANA NA ADOLESCÊNCIA EM PESSOAS
COM DEFICIÊNCIA VISUAL: Uma análise do filme “Hoje eu quero voltar sozinho”

A partir da análise dos dados e da construção do artigo, percebeu-se que o tema:


Análise de Descoberta da Sexualidade Humana na Adolescência com base no filme CALL
ME BY YOUR NAME, não poderia ser contemplado, visto que seria uma análise
documental, sendo este alterado para uma revisão bibliográfica com o tema: DESCOBERTA
DA SEXUALIDADE HUMANA NA ADOLESCÊNCIA EM PESSOAS COM
DEFICIÊNCIA VISUAL: Uma análise do filme “Hoje eu quero voltar sozinho”. Os objetivos
também sofreram alterações.
Durante a construção do projeto original verificou-se a necessidade de um novo
método e consequentemente de um novo tema mais abrangente. Dessa forma, seria necessário
a execução de um novo método o qual alcançasse dados de pesquisas mais relevantes, já
realizadas para reunir evidências e chegar a uma conclusão, optando assim pelo método de
revisão bibliográfica.
Portanto, considerou-se uma nova alteração de tema e de filme, intitulado
DESCOBERTA DA SEXUALIDADE HUMANA NA ADOLESCÊNCIA EM PESSOAS
COM DEFICIÊNCIA VISUAL: Uma análise do filme “Hoje eu quero voltar sozinho”, há
similaridades de pautas a serem discutidas com o tema anterior, possibilitando uma pesquisa
abrangente.

Objetivo Geral:
37

Descrever sobre o processo de descoberta da sexualidade na adolescência em


pessoas com deficiência visual, a partir da análise do filme “Hoje eu quero voltar sozinho”
Objetivos Específicos:
1. Elencar as contribuições da psicologia ao processo de descoberta da
sexualidade humana.
2. Investigar quais as influências das questões de gênero e deficiência visual no
processo de descoberta da sexualidade.
3. Correlacionar a descoberta da sexualidade a partir da perspectiva de Leonardo,
personagem principal do filme “Hoje eu quero voltar sozinho”, com revisões bibliográficas
acerca do tema proposto.

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