Artigo Direito Imobiliario1
Artigo Direito Imobiliario1
Artigo Direito Imobiliario1
1. INTRODUÇÃO
Este trabalho tem por objetivo discorrer acerca de algumas questões que
atualmente aparecem com frequência nas ações concernentes aos contratos de promessa
de compra e venda de bem imóvel.
Neste texto serão apresentadas questões comuns encontradas nos processos que
envolvem o Direito Imobiliário e o Direito do Consumidor, sob a ótica jurisprudencial
do Superior Tribunal de Justiça e do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro.
1
Acerca do tema, o entendimento contido nas notas 2, 6 e 7 ao art. 472 do
Código Civil, por Nelson Nery Junior e Rosa Maria de A. Nery, in Código Civil
comentado, 11ª edição, p. 861 e 862:
2
denúncia, por vontade de uma das partes, visto que em seus julgados se pode observar o
emprego dos vocábulos resolução e resilição com o mesmo sentido.
3
pagas de forma diversa da cláusula penal convencionada, os juros moratórios serão computados
a partir do trânsito em julgado da decisão. 5. Recurso especial provido. (REsp 1211323/MS, Rel.
Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 01/10/2015, DJe
20/10/2015).
4
Ainda neste tema, vale mencionar que, a despeito do contrato de promessa de
compra e venda ser irretratável e irrevogável, o Código de Defesa do Consumidor, ao
proteger a parte vulnerável, com a finalidade de equilibrar a relação contratual entre as
partes, admitiu a possibilidade da denúncia unilateral do contrato pelo promitente
comprador inadimplente, de forma que, a partir do CDC, tornou-se abusiva a cláusula
de perdimento, na qual o promissário comprador perderia todas as importâncias pagas, a
título de cláusula penal compensatória.
5
revolvimento do conjunto fático-probatório dos autos, o que é vedado pela Súmula nº 7 desta
Corte. 5. Inaplicabilidade do NCPC ao caso concreto ante os termos do Enunciado nº 1
aprovado pelo Plenário do STJ na sessão de 9/3/2016: Aos recursos interpostos com
fundamento no CPC/1973 (relativos a decisões publicadas até 17 de março de 2016) devem ser
exigidos os requisitos de admissibilidade na forma nele prevista, com as interpretações
dadas até então pela jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça. 6. Agravo regimental não
provido. (AgRg no REsp 1500990/SP, Rel. Ministro MOURA RIBEIRO, TERCEIRA TURMA,
julgado em 26/04/2016, DJe 10/05/2016).
6
do Código Civil, e ainda do art. 6º, V, e do art. 51, IV, ambos do Código de Defesa do
Consumidor, admite-se a redução equitativa da multa estipulada em cláusula penal, quando
excessivamente onerosa. Na esteira de vasta jurisprudência do STJ e deste Tribunal mesmo,
é razoável, no distrato do contrato de compra e venda imobiliária por fato do comprador, a
fixação da retenção no patamar de 10% a 25% das prestações vertidas. As circunstâncias
do caso concreto, revelando mínimos custos operacionais para a construtora e ainda a
retomada do bem com valor de mercado notoriamente valorizado, justifica-se a fixação do
percentual mínimo de 10%. 5. Provimento do recurso em maior parte. (0090774-
80.2014.8.19.0002 – APELAÇÃO; MARCOS ALCINO DE AZEVEDO TORRES - VIGÉSIMA
SÉTIMA CÂMARA CÍVEL CONSUMIDOR; Data de julgamento: 01/06/2016).
7
APELAÇÃO; ANTONIO CARLOS DOS SANTOS BITENCOURT - VIGÉSIMA SÉTIMA
CÂMARA CÍVEL CONSUMIDOR; Data de julgamento: 22/06/2016).
8
hipóteses de resolução de contrato de promessa de compra e venda por inadimplemento
do comprador, esta Corte tem admitido a retenção, pelo vendedor, entre 10% e 25%, do
total da quantia paga. Precedentes. 4. Havendo uso do imóvel por considerável período e a
reintegração nele pelo vendedor, é devida retenção de percentual correspondente a perdas
e danos que suportou, a título de alugueis. 5. Respeitados os parâmetros fixados, os valores a
que o vendedor poderá reter deverão ser apurados pelo juízo de origem, em sede de liquidação
de sentença. 6. Consoante disposto no art. 105 da Carta Magna, o Superior Tribunal de
Justiça não é competente para se manifestar sobre suposta violação de dispositivo
constitucional, nem sequer a título de prequestionamento. 7. Recurso parcialmente provido.
(REsp 1364510/SP, Rel. Ministro MOURA RIBEIRO, TERCEIRA TURMA, julgado em
01/12/2015, DJe 14/12/2015).
9
5. Recurso especial provido. (REsp 1211323/MS, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO,
QUARTA TURMA, julgado em 01/10/2015, DJe 20/10/2015).
10
imobiliária. Consumidor que foi responsável pelo rompimento da avença, motivo pelo qual
deverá responder pelos danos materiais, também mediante a retenção, pelo vendedor, de
parte das prestações pagas. Observância do posicionamento do STJ quanto à admissão da
retenção entre 10% e 25% do total da quantia paga. Razoável percentual de 20%, requerido
pelo Autor, que segue o entendimento da Corte Superior, e contra o qual não houve impugnação
específica pelo 1º Réu. Inexistente julgamento extra petita, considerando a ausência de pedido
autoral de devolução do sinal na sua integralidade. RECURSO DO 1º RÉU AO QUAL SE
NEGA PROVIMENTO. APELO DA PARTE AUTORA AO QUAL SE DÁ PARCIAL
PROVIMENTO PARA DETERMINAR A RETENÇÃO, PELO PROMITENTE-VENDEDOR,
DO PERCENTUAL DE 20% (VINTE POR CENTO) DO VALOR PAGO PELO 1º RÉU, AO
QUAL DEVERÁ SER RESTITUÍDO O VALOR EXCEDENTE. (0002574-60.2014.8.19.0079
– APELAÇÃO; FABIO UCHOA PINTO DE MIRANDA MONTENEGRO - VIGÉSIMA
QUINTA CÂMARA CÍVEL CONSUMIDOR; Data de julgamento: 06/07/2016).
O verbete nº 543 da Súmula do STJ indica que a restituição do preço pago pelo
promitente comprador deve ser imediata e integral, no caso de culpa exclusiva do
promitente vendedor, in verbis:
11
A seguir, analisa-se, sob o enfoque jurisprudencial, alguns destes temas,
presentes na maioria dos pedidos objetos das mencionadas ações judiciais.
12
entendimento de que, descumprido o prazo para entrega do imóvel objeto do compromisso
de compra e venda, é cabível a condenação por lucros cessantes, havendo presunção de
prejuízo do promitente-comprador. 2. Agravo regimental não provido. (AgRg no Ag
1319473/RJ, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado
em 25/06/2013, DJe 02/12/2013).
13
PAGOS PELOS CONSUMIDORES NO PERÍODO DA MORA, A SEREM
CALCULADOS EM SEDE DE LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA, TUDO ATUALIZADO
CONFORME OS CONSECTÁRIOS LEGAIS PERTINENTES. DANOS MORAIS
CONFIGURADOS. VERBA INDENIZATÓRIA MAJORADA PARA R$ 24.000,00, SENDO
R$ 12.000,00 PARA CADA UM DOS AUTORES. PRECEDENTES. COMISSÃO DE
CORRETAGEM. PAGAMENTO DA CORRETAGEM QUE NÃO RESTOU DESCONTADO
DO PREÇO FINAL DO IMÓVEL. AUSÊNCIA DE PREVISÃO CONTRATUAL DE QUE O
ÔNUS DO PAGAMENTO PERTENCERIA AOS CONSUMIDORES. VIOLAÇÃO DO
PRINCÍPIO DA TRANSPARÊNCIA E AO DEVER DE INFORMAÇÃO, CONFIGURANDO
FALHA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO (ART. 6º, III DO CDC). DEVOLUÇÃO PELA
CONSTRUTORA (PROMITENTE VENDEDORA), NA FORMA SIMPLES, DA COMISSÃO
DE CORRETAGEM PAGA PELOS AUTORES QUE SE IMPÕE. PROVIMENTO PARCIAL
DE AMBOS OS RECURSOS. (0019160-78.2011.8.19.0209 – APELAÇÃO - SANDRA
SANTARÉM CARDINALI - VIGÉSIMA SEXTA CÂMARA CÍVEL CONSUMIDOR - Data
de julgamento: 28/01/2016)
Apelação Cível. Ação de Obrigação de fazer c/c pedido declaratório de anulabilidade, repetição
de indébito e antecipação de tutela. Promessa de compra e venda de imóvel. Atraso na entrega da
obra. Sentença que julgou parcialmente procedente o pedido concedendo a antecipação da tutela
determinando que a unidade adquirida pelo autor seja entregue no prazo de 30 dias, sob pena de
multa diária de R$ 300,00, tornando a decisão definitiva; condenando a ré ao pagamento de
lucros cessantes a serem apurados em liquidação de sentença no período de março de 2014 até a
averbação do "habite-se, devidamente corrigidos e acrescidos de juros legais de 1% ao mês a
contar da citação; a restituição de valores de fls. 31, devidamente corrigidos e com juros legais
de 1% ao mês a contar de cada desembolso; e ao pagamento de indenização por danos morais a
cada autor no valor de R$ 25.000,00. JULGANDO IMPROCEDENTES os demais pedidos.
Recurso da ré requerendo em preliminar a apreciação do agravo retido de fls. 174/176; a perda
do objeto referente a obrigação de fazer de entrega do imóvel, já que as chaves foram entregues
em novembro de 2014; a improcedência dos pedidos e/ou, caso se entenda pela manutenção do
dano moral, o que não se espera, seja o mesmo reduzido, além da necessária impossibilidade de
cumulação do pagamento de alugueres com lucros cessantes, bem como o termo inicial dos juros
de mora sobre o dano emergente deverá ocorrer a partir da citação. Agravo retido que se conhece
e se rejeita, o instituto da inversão do ônus da prova não é aplicável automaticamente,
incumbindo ao juízo de origem, destinatário primeiro da prova, aferir, no caso concreto, a
presença das condições necessárias para a sua incidência. Restou plenamente demonstrada a
falha do serviço consubstanciada no atraso injustificado da entrega do imóvel que superou os
180 dias máximos previstos em contrato, já que consta do item L do contrato que o prazo
estimado da obra seria o último dia do mês de Setembro de 2013, com prazo de tolerância de 180
dias, index - 59, fls. 60). Assim, à luz do direito consumerista, exsurge o dever de indenizar.
Danos morais configurados. Verba indenizatória que se reduz para R$10.000,00, vez que atende
aos princípios da razoabilidade e proporcionalidade, considerado o tempo de mora. ( oito meses
). Despesas de alugueres comprovadas de forma suficiente. Juros corretamente fixados, na
forma do art. 397 do CC. Os lucros cessantes consistem naquilo que o Autor deixaria de auferir
com a locação do imóvel, a partir do ato ilícito e no caso dos autos o Autor alega e comprova o
pagamento de aluguel de um imóvel que residia até que a unidade imobiliária adquirida fosse
entregue. Portanto, o imóvel objeto do contrato se destinaria à moradia do Autor, que, em
decorrência do atraso na entrega do bem, teve que pagar aluguel do imóvel onde estão residindo
por mais alguns meses. Dessa forma, uma vez ressarcidos dos valores desembolsados com a
locação, não há que se falar em lucros cessantes, pois nada lucrariam com o bem, tendo em vista
que este se destinaria à própria moradia, de modo que não haverá possibilidade de locar o imóvel
14
e, ao mesmo tempo, nele residir. Na presente hipótese, reputo que os valores recebidos pelo
dispêndio com locação equivalem aos alugueres que o Autor receberia se o imóvel fosse
destinado à locação ou moradia sem custeio de pagamento de verba a outrem neste sentido,
devendo ser o pedido relativo aos lucros cessantes julgado improcedente. Vedação do bis in
idem. Rejeito o pedido de perda de objeto quanto a obrigação de fazer consistente na entrega
unidade adquirida pelo autor no prazo de 30 dias, vez que não foi juntado o termo de entrega das
chaves, conforme mencionado na peça de apelação da ré, desta forma, deverá ser demonstrado
que não há obrigação a ser cumprida quando do cumprimento da antecipação de tutela. Recurso
a que se conhece e que se dá parcial provimento. (0028035-44.2014.8.19.0205 – APELAÇÃO -
NATACHA NASCIMENTO GOMES TOSTES GONÇALVES DE OLIVEIRA - VIGÉSIMA
SEXTA CÂMARA CÍVEL CONSUMIDOR - Data de julgamento: 07/07/2016).
O Superior Tribunal de Justiça, em julgados atuais, tem entendido que nos casos
de atraso na entrega do imóvel é possível que o promitente comprador pleiteie a
condenação do promitente vendedor ao pagamento de multa contratual (cláusula penal)
com qualquer tipo de dano material, vez que a cláusula penal serve para punir o
promitente vendedor pelo inadimplemento contratual, todavia não tem como escopo
reparar os danos sofridos pelo promitente comprador decorrentes da mora. Observe-se:
15
enunciado n. 7/STJ. Precedentes. 2. De acordo com a jurisprudência desta Corte, é possível
a cumulação da multa, de caráter moratório, eventualmente estipulada no contrato de
promessa de compra e venda, com eventuais lucros cessantes decorrentes das perdas e
danos, cuja finalidade é compensatória, o que evidencia a natureza distinta dos institutos.
Incidência da Súmula n. 83/STJ. 3. No tocante à comissão de corretagem, verifica-se que o
Tribunal de origem erigiu seu entendimento totalmente calcado nos elementos fático-probatórios
dos autos, valendo-se deles para concluir que não consta expressamente do contrato firmado
entre as partes que o valor da corretagem seria efetivamente descontado do preço do imóvel, bem
assim que não havia no ajuste previsão de que o pagamento das verbas de corretagem seria de
responsabilidade da recorrida. Rever estas justificativas exigiria a análise das cláusulas
contratuais e a reapreciação do conjunto probatório. Incidência das Súmulas n. 5 e 7 desta Casa.
4. Agravo regimental a que se nega provimento. (AgRg no AREsp 690.181/RJ, Rel. Ministro
MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, julgado em 01/09/2015, DJe
16/09/2015).
16
RECURSOS ESPECIAIS. CONTRATO DE COMPRA E VENDA DE IMÓVEIS NA
PLANTA. ENTREGA DA OBRA. ATRASO. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO.
PROPRIETÁRIO PERMUTANTE. LEGITIMIDADE. CLÁUSULA PENAL.
RECIPROCIDADE. LUCROS CESSANTES. CUMULAÇÃO. POSSIBILIDADE.
EXCEÇÃO DE CONTRATO NÃO CUMPRIDO. PROVA. ÔNUS. RÉU. EXCESSO DE
CHUVAS. ESCASSEZ DE MÃO DE OBRA. CASO FORTUITO. FORÇA MAIOR. NÃO
CONFIGURAÇÃO. LUCROS CESSANTES. TERMO FINAL. REEXAME DE PROVAS.
INVIABILIDADE. SÚMULA Nº 7/STJ. INADIMPLEMENTO CONTRATUAL. DANOS
MORAIS. 1. Os recursos especiais têm origem em ação de indenização por perdas e danos
decorrentes de atraso na conclusão de obra objeto de contrato de compromisso de compra e
venda para fins de aquisição de unidades imobiliárias em empreendimento comercial. 2. O
proprietário permutante do terreno não responde pelos atos de incorporação quando se limita à
mera alienação do terreno para a incorporadora sem participar de nenhum ato tendente
à comercialização ou construção do empreendimento. 3. Na espécie, as instâncias de cognição
plena, à luz da prova dos autos, e analisando os contratos celebrados entre as partes,
concluíram que a alienante permutante do terreno figurou nos contratos de promessa de
compra e venda ora na condição de "vendedora" ora na condição de credora hipotecária,
transmitindo para o adquirente/consumidor a ideia de solidariedade na efetivação do
empreendimento, de forma que não pode ser reconhecida a sua ilegitimidade passiva. 4. A
cláusula penal inserta em contratos bilaterais, onerosos e comutativos deve voltar-se aos
contratantes indistintamente, ainda que redigida apenas em favor de uma das partes. 5. É
possível cumular a cláusula penal decorrente da mora com indenização por lucros cessantes
pela não fruição do imóvel, pois aquela tem natureza moratória, enquanto esta tem
natureza compensatória. 6. A alegação de exceção de contrato não cumprido arguida em defesa
deve ser comprovada pelo réu, pois é seu o ônus de demonstrar o fato impeditivo, modificativo
ou extintivo do direito do autor, nos termos no artigo 333, inciso II, do CPC/1973. 7. Essa
Corte já se pronunciou em inúmeras oportunidades no sentido de que a inversão das conclusões
da Corte local para afirmar, por exemplo, que o excesso de chuvas e a escassez de mão de
obra configuram fatos extraordinários e imprevisíveis, enquadrando-se como hipóteses de caso
fortuito ou força maior, demandaria o reexame do conjunto fático-probatório dos autos. 8. A
conclusão da Corte local para fixar a data da expedição da carta de habite-se como termo
final do pagamento dos lucros cessantes resultou da análise das circunstâncias fáticas, bem
como da interpretação de cláusulas contratuais. 9. O simples inadimplemento contratual não
é capaz, por si só, de gerar dano moral indenizável, devendo haver consequências fáticas
que repercutam na esfera de dignidade da vítima, o que não se constatou no caso
concreto.
10. Recursos especiais parcialmente conhecidos e não providos. (REsp 1536354/DF, Rel.
Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 07/06/2016,
DJe 20/06/2016)
17
revolvimento do material probatório, o que encontra óbice na Súmula 7 do STJ. 5. Agravo
regimental desprovido. (AgRg no AREsp 395.105/RJ, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO
BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, julgado em 28/04/2015, DJe 01/06/2015)
0032427-70.2013.8.19.0202 - APELACAO
0016903-17.2010.8.19.0209 - APELACAO
0043041-61.2014.8.19.0021 - APELACAO
18
prestador de serviços o planejamento do empreendimento imobiliário, já com a incidência de
possíveis condições adversas. Alegação de "dificuldade de contratação de mão-de-obra e de
aquisição de matéria prima", que não se enquadra em excludente de responsabilidade. Atraso
comprovado, que extrapolou, em muito, o prazo de tolerância de 180 dias. Falha na prestação do
serviço caracterizada. Responsabilidade Objetiva, a teor do art. 14 do CDC. Lucros Cessantes.
Possibilidade. Presunção relativo ao prejuízo. Configuração dos Danos Morais. Evento que
ultrapassou o mero aborrecimento cotidiano, ensejando a frustração das legítimas
expectativas dos consumidores. Entendimento jurisprudencial no sentido da ocorrência de
lesões de ordem psíquica quando do atraso na entrega de imóvel destinado à moradia.
Verba indenizatória que não se amolda aos Princípios da Razoabilidade e da
Proporcionalidade, além dos parâmetros desta Corte, devendo ser majorada para
R$10.000,00 (dez mil reais), para cada autor. Jurisprudência e Precedentes citados: 0037205-
85.2010.8.19.0203 - APELAÇÃO DES. REGINA LUCIA PASSOS - Julgamento: 09/04/2014 -
VIGÉSIMA QUARTA CÂMARA CÍVEL CONSUMIDOR; AGRAVO REGIMENTAL
COMPRA E VENDA. IMÓVEL. ATRASO NA ENTREGA - LUCROS CESSANTES -
PRESUNÇÃO - CABIMENTO - DECISÃO AGRAVADA MANTIDA - IMPROVIMENTO;
0045936-21.2011.8.19.0014. Apelação. DES. WILSON DO NASCIMENTO REIS -
Julgamento: 03/12/2015 - VIGÉSIMA QUARTA CÂMARA CÍVEL CONSUMIDOR;0024341-
67.2013.8.19.0087 - APELAÇÃO. DES. MURILO KIELING - Julgamento: 11/05/2016
VIGÉSIMA TERCEIRA CÂMARA CÍVEL CONSUMIDOR; AGRAVO REGIMENTAL NO
AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. COMPRA E VENDA DE IMÓVEL NA PLANTA.
ATRASO NA ENTREGA. MORA. CLÁUSULA PENAL. SUMULAS 5 E 7/STJ. ART. 535.
AUSÊNCIA DE OMISSÕES. SÚMULA 284/STF. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE
NEGA PROVIMENTO;0007667-10.2015.8.19.0001 - APELAÇÃO. DES. SERGIO SEABRA
VARELLA - Julgamento: 13/04/2016 - VIGÉSIMA QUARTA CÂMARA CÍVEL.
CONSUMIDOR. PROVIMENTO DO PRIMEIRO RECURSO E DESPROVIMENTO DO
SEGUNDO RECURSO.
0012134-24.2014.8.19.0209 - APELACAO
19
mesmos são devidos, por haver presunção de prejuízo do promitente-comprador. INCIDENTE
DE UNIFORMIZACAO DE JURISPRUDENCIA Nº 0456973-19.2011.8.19.0001 Compulsando
os autos, verifica-se que a entrega do imóvel estava prevista para 31/01/2013. Com a tolerância
de 180 dias, a previsão de entrega seria 31/07/2013 (documento de fls. 73). Os Autores
receberam as chaves do imóvel somente em 13.06.2014 (documento de fls.472). No caso em
tela, o dano material refere-se ao ressarcimento pelos aluguéis não auferidos no período de atraso
de entrega da obra e os lucros cessantes. 5.1) Danos morais Cumpre ao Poder Judiciário
efetivamente reparar os danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou difusos
causados aos consumidores, mas, sobretudo, compete-lhe efetivamente prevenir a
ocorrência dos mesmos - conforme dispõe o artigo 6º, VI, do Código de Proteção e Defesa
do Consumidor. Seguindo-se por esta trilha de raciocínio, especial relevo assume a teoria
do desestímulo (adotada majoritariamente pela doutrina e jurisprudência pátrias,
inspirada na Escola Francesa), segundo a qual a sanção (quantum indenizatório arbitrado
pela autoridade judicial) deve fixar uma quantia considerável o suficiente para inibir a
reiteração de condutas semelhantes pelo agente. Verba compensatória arbitrada em R$
12.000,00 (doze mil reais), adequada aos princípios da razoabilidade e da
proporcionalidade, sem olvidar a natureza punitivo-pedagógica da condenação. 8) Recurso
não provido.
0035526-66.2014.8.19.0023 - APELACAO
20
necessária para a concessão do financiamento bancário para quitar o saldo devedor, somente foi
efetivada em 15/04/2014, portanto, com mais de quatro meses de atraso. Outrossim, comprovou
o Autor (index 99) que seu nome foi negativado pela terceira Reclamada pelo valor total do
imóvel, tendo sido deferida tutela antecipada para retirada de seu nome dos cadastros restritivos
de crédito. Vale dizer que as Requeridas, por sua vez, não lograram êxito em comprovar a
ocorrência de caso fortuito ou força maior, excludentes de responsabilidade para a demora na
entrega das chaves. A Lei nº 8078/90 adotou a teoria do risco do empreendimento, por meio da
qual todo aquele que se propõe a exercer atividade no mercado de consumo tem a obrigação
legal de responder pelos vícios e defeitos desses mesmos bens e serviços postos à disposição do
Consumidor, sem aferição de culpa. O atraso na entrega da unidade é suficiente para configurar a
falha na prestação do serviço por parte das Demandadas. Em relação ao pedido de
compensação por danos morais, é certo que a espera na entrega do imóvel, com a
consequente rescisão do contrato, causou ao Demandante aflição e angústia, ferindo-se os
direitos da personalidade do Consumidor. Na verdade, os danos morais, no caso em exame,
são in re ipsa, porque inquestionáveis e decorrem do próprio fato. Considerando os fatos
acima narrados, conclui-se que deve ser majorado o valor arbitrado a título de
compensação por danos morais para R$ 20.000,00 (vinte mil reais), atendendo aos
princípios da proporcionalidade e razoabilidade.
0005927-12.2014.8.19.0208 - APELACAO
4. A CLÁUSULA DE TOLERÂNCIA
21
AVISO CONJUNTO TJ/CEDES nº 16/2015. Enunciado 01: Nos contratos de promessa de
compra e venda de imóveis, reputa se válida a cláusula de tolerância, ou cláusula de
prorrogação de 180 dias, desde que pactuada expressamente pelas partes, devendo
eventual reparação ser computada ao término do prazo avençado. Justificativa: Não há
abuso na cláusula de tolerância para a entrega do imóvel, quando esta estiver expressa no
contrato firmado pelas partes, uma vez que, no momento da contratação, esta condição seja
de conhecimento dos contratantes, ou seja, dos compradores. A previsão da cláusula de
tolerância, expressa no contrato, retira a vulnerabilidade do consumidor, pois este fica ciente
de que o prazo de entrega do imóvel comprado poderá sofrer um retardo de até 180 dias.
Dessa forma, não se verifica a característica de abusividade na cláusula de tolerância, pois
pactuada de acordo com a principiologia do Código de Defesa do Consumidor.
22
razão de atraso injustificável na entrega de imóvel. Legalidade da cláusula de tolerância
de 180 dias. Prova que aponta para atraso de quatro meses e 18 dias na entrega do imóvel,
cabendo as Rés a obrigação de indenizar os danos materiais referentes as despesas com
aluguéis no período. Taxa de instalação prevista contratualmente, cujo pagamento compete
ao Demandante. Hipótese que tem o condão de provocar prejuízos, sendo os morais
incontroversos, merecendo redução o quantum debeatur. PROVIMENTO PARCIAL DO
RECURSO DAS RÉS E DESPROVIMENTO DO AUTORAL. (0388383-
53.2012.8.19.0001 – APELAÇÃO; LEILA MARIA RODRIGUES PINTO DE
CARVALHO E ALBUQUERQUE - VIGÉSIMA QUINTA CÂMARA CÍVEL
CONSUMIDOR; Data de julgamento: 12/07/2016).
23
Apelação. Compra e venda de fração de terreno e financiamento para construção. Mora de
nove meses na entrega do imóvel. Fortuito interno. Validade da cláusula contratual de
tolerância. Dano moral. Configuração. Critérios de arbitramento. Lucros cessantes
presumidos. 1. Eventuais revezes nos mercados de insumos e mão de obra, longe de
configurar caso fortuito externo ou de força maior, integram o risco inerente à atividade
comercial explorada pelo incorporador e construtor e, por isso mesmo, não são fatos
suficientes para romper o nexo causal. Ao contrário do alegado pela recorrente, o boom
imobiliário, do qual muito lucraram as empresas do ramo, não importou no atraso
generalizado de todos os empreendimentos em andamento, o que descaracteriza até mesmo
o fortuito interno, o qual, se tivesse ocorrido, atingiria igualmente todas as empresas
construtoras na mesma época e lugar. 2. É válida, em contratos de promessa de compra e
venda de unidade em incorporação imobiliária, a cláusula contratual de tolerância pela
qual se admite uma razoável e costumeira prorrogação do prazo de entrega do bem em
até 180 dias corridos ? dilação essa admitida, mutatis mutandis, pelo próprio § 2º do
art. 18 do CDC. Por outro lado, não encerrando qualquer limitação a direito do
consumidor, referida cláusula não carece do destaque exigido pelo § 4º do art. 54 da
Lei nº 8.078/90, nem tampouco do termo apartado de que trata o § 2º do art. 18 do
mesmo Código, o qual versa sobre prazo para reparo de vícios. 3. É abusiva a prática da
incorporadora de efetuar a cobrança de cotas de condomínio antes de efetivamente entregues
as chaves do imóvel ao adquirente, exceto se comprovado o fato exclusivo do consumidor,
tal como a mora na quitação do saldo devedor prova que não se contém nestes autos,
mesmo porque o financiamento bancário, nessa modalidade transacional ("Programa Imóvel
na Planta"), é obtido ainda durante a fase de construção. 4. O adquirente de imóvel na planta
nutre expectativa legítima e de boa-fé em relação ao momento em que poderá desfrutar do
bem como residência sua. Superado o prazo assumido pelo construtor, configura-se o dano
moral, na medida em que não se trata de um produto qualquer, mas de imóvel que viria a
servir de moradia do casal autor. 5. Não se mostra excessiva a verba compensatória arbitrada
conjuntamente em R$ 10.000,00, para compensação do dano extrapatrimonial decorrente do
atraso de nove meses após o exaurimento do prazo de tolerância para entrega do imóvel, seja
à luz da extensão do dano, seja por força da gravidade da culpa do ofensor, que deixou de
agir com a necessária perícia e cuidado na elaboração e execução do projeto do
empreendimento, o que importou no pronunciado ultrapassamento da data aprazada.
Inteligência do art. 944, caput e § único, do Código Civil. 6. Conforme assentada
jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, o promitente comprador faz jus à
indenização de lucros cessantes pelo período de atraso na entrega do imóvel, pela presunção
de prejuízo decorrente da não fruição do bem, dispensada a prova de que o daria em locação.
Tão mais justa é a essa solução quando o contrato contém cláusula prevendo indenização
pela fruição do imóvel, originalmente concebida apenas contra o adquirente em caso de
resolução contratual, a qual se deve aplicar também, por simetria e equidade, contra o
fornecedor estipulante que incidir em mora na obrigação de entrega do imóvel. É justo, à luz
da comutatividade contratual, que a indenização imposta ao adquirente que indevidamente
frui o bem seja igualmente imposta ao incorporar que indevidamente impede o adquirente de
fruí-lo no momento esperado. Inteligência dos arts. 4º, incisos I e III, e 51, § 1º, inciso II,
ambos do Código de Defesa do Consumidor. 7. Parcial provimento do recurso, apenas para,
considerando a licitude da cláusula dilatória do prazo de entrega do imóvel por 180 dias,
afastar a condenação de pagamento de indenização de lucros cessantes nesse período.
(0008596-93.2014.8.19.0028 – APELAÇÃO; MARCOS ALCINO DE AZEVEDO
TORRES - VIGÉSIMA SÉTIMA CÂMARA CÍVEL CONSUMIDOR; Data de julgamento:
09/03/2016).
24
Importante ressaltar que o STJ também admite a validade da cláusula de
tolerância nos contratos de promessa de compra e venda de imóvel, desde que pactuada,
conforme se verifica do julgado:
26
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO
ESPECIAL. JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE PELA INSTÂNCIA A QUO.
CARÁTER VINCULANTE. INEXISTÊNCIA. CONTRATO DE INCORPORAÇÃO
IMOBILIÁRIA. IMÓVEL ADQUIRIDO NA PLANTA. COBRANÇA DE JUROS
COMPENSATÓRIOS, ANTES DA ENTREGA DAS CHAVES. LEGALIDADE.
DECISÃO MANTIDA. 1. "Cumpre salientar que o juízo de admissibilidade do recurso
especial está sujeito a duplo controle, de maneira que a aferição da regularidade formal
do apelo pela instância a quo não vincula o Superior Tribunal de Justiça" (EDcl no
AgRg no Ag n. 1.339.869/SP, Relator Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA,
julgado em 10/9/2013, DJe 16/1/2013). 2. A Segunda Seção do STJ pacificou o
entendimento de que "não se considera abusiva cláusula contratual que preveja a
cobrança de juros antes da entrega das chaves, que, ademais, confere maior
transparência ao contrato e vem ao encontro do direito à informação do
consumidor (art. 6º, III, do CDC), abrindo a possibilidade de correção de eventuais
abusos" (EREsp n. 670.117/PB, Relator Ministro SIDNEI BENETI, Relator para o
Acórdão Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em
13/6/2012, DJe 26/11/2012). 3. Agravo regimental improvido. (AgRg no AREsp
369.649/PE, Rel. Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA, QUARTA TURMA,
julgado em 01/10/2015, DJe 14/10/2015).
27
MORAL. INOCORRÊNCIA. MERO DESCUMPRIMENTO CONTRATUAL.
APLICAÇÃO DO ENUNCIADO Nº 75, DA SÚMULA DESTE TRIBUNAL.
PROVIMENTO PARCIAL AO RECURSO DO RÉU E NEGADO SEGUIMENTO AO
RECURSO DO AUTOR. (0013379-80.2008.8.19.0209 – APELAÇÃO; ANTONIO
SALDANHA PALHEIRO - QUINTA CÂMARA CÍVEL; Data de julgamento:
02/07/2015).
28
TABELA PRICE. INEXISTÊNCIA DE SALDO CREDOR PARA O AUTOR.
DECISÃO MONOCRÁTICA MANTIDA. AGRAVO, COM FUNDAMENTO NO
ARTIGO 557, § 1º, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. ERROR IN
PROCEDENDO OU ERROR IN JUDICANDO INEXISTENTES. MAUTENÇÃO DA
DECISÃO MONOCRÁTICA. RECURSO NÃO PROVIDO. (0226773-
81.2009.8.19.0001 – APELAÇÃO; WERSON FRANCO PEREIRA RÊGO -
VIGÉSIMA QUINTA CÂMARA CÍVEL CONSUMIDOR; Data de julgamento:
03/02/2016).
29
juros compensatórios antes da entrega das chaves, quando há parcelamento do
preço. Precedentes STJ e TJERJ. Assim, tendo em vista a legalidade da cobrança
efetuada, descabido o pleito de devolução das parcelas pagas com acréscimo de
juros compensatórios no decorrer da obra. No que tange ao recurso dos autores
requerem, em síntese, condenação das rés ao pagamento da comissão de corretagem. A
exegese do artigo 724 do Código Civil determina que a remuneração dos corretores é
responsabilidade dos vendedores, se não houver disposição legal em contrário ou acordo
diverso entre as partes. Não há nos autos qualquer comprovação de que as partes
acordaram que o pagamento da comissão de corretagem seria suportado pelos
compradores do imóvel. Destarte, a imposição da responsabilidade pelo pagamento de
tal verba aos compradores sem prévia e clara comunicação configura desrespeito ao
dever de informação, consagrado no art. 6º, III do CDC. Manutenção dos ônus
sucumbenciais. Primeiro recurso provido e segundo recurso parcialmente provido.
(0371706-16.2010.8.19.0001 – APELAÇÃO; MARIO ASSIS GONCALVES -
TERCEIRA CÂMARA CÍVEL Data de julgamento: 02/06/2015).
30
AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 696.289 - SP (2015/0082835-6) RELATORA :
MINISTRA MARIA ISABEL GALLOTTI AGRAVANTE : ALEXANDRE CRISTOVAO DA
SILVA ADVOGADO : ANDRÉIA LUCIANA TORANZO AGRAVADO : FORTENGE
CONSTRUÇÕES E EMPREENDIMENTOS LTDA ADVOGADO : MARCOS ROBERTO
BUSSAB E OUTRO(S) DECISÃO Trata-se de agravo interposto por ALEXANDRE
CRISTÓVÃO DA SILVA contra decisão que não admitiu o recurso especial fundamentado no
art. 105, III, alíneas a e c da Constituição Federal, interposto contra acórdão proferido pelo
Tribunal de Justiça de São Paulo, nos termos da seguinte ementa: Ação cominatória c.c.
indenização por danos morais e materiais. Compromisso de compra e venda. Atraso na entrega
da obra. Impossibilidade de correção do saldo devedor. Culpa da compromitente-vendedora.
Sentença parcialmente procedente. Correção que consiste em mera reposição do poder de
compra da moeda. Juros incidentes a partir da expedição do Habite-se. Apelo da requerida
provido. Validade da cláusula de tolerância de 180 dias. Precedentes. Atraso configurado,
mesmo após a prorrogação. Incidência de multa. 1% sobre o valor do contrato. Princípio do
equilíbrio contratual. Devida restituição de quantias pagas a título de despesas condominiais e de
IPTU anteriores à entrega das chaves. Precedentes. Dano moral e material afastado. Atraso
inferior a um mês. Não comprovada a propaganda enganosa. Eventual desvalorização que não
permite redução do preço. Devida restituição de comissão de corretagem. Imposição ilegal e
abusiva da construtora. Violação ao dever de informação. Devolução de forma simples, não
em dobro. Improcedência da cautelar. Mantida a sucumbência recíproca. Apelo do
requerente parcialmente provido. (e-STJ, fl. 476)... Brasília (DF), 29 de junho de 2015.
MINISTRA MARIA ISABEL GALLOTTI Relatora (Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI,
01/07/2015).
0041624-70.2013.8.19.0001 – APELACAO
31
"cláusula de tolerância" quando afastadas a iniquidade e a desvantagem exagerada ao adquirente
- como ocorre no caso concreto, conforme previsto na cláusula 19.6.1 . 5) Comissão de
corretagem - A transferência do pagamento da comissão de corretagem, devida pela
incorporadora, ao adquirente se revela abusiva, no caso concreto, à falta de comprovação
dos seguintes pressupostos de validade da estipulação: a) ciência prévia e clareza em tal
estipulação (inclusive nas peças de informação ou de publicidade - artigos 6º, III e 30,
CDC); b) liberdade de aceitação da obrigação pelo terceiro, que efetuará o pagamento em
nome do vendedor e; c) dedução do valor da comissão de corretagem do preço da unidade
imobiliária contratada. Hipótese dos autos que caracteriza cobrança indevida. 6)
Responsabilidade civil - O descumprimento da obrigação de entrega da unidade imobiliária no
prazo convencionado, vencido o prazo de tolerância, implicam na responsabilidade objetiva do
incorporador à efetiva reparação dos danos materiais e morais (art. 6º, VI, CDC) ao adquirente.
8) Liquidação dos danos - A verba indenizatória correspondente deverá abranger os danos
emergentes (perdas materiais efetivas) e os lucros cessantes. Quanto aos lucros cessantes (de
natureza patrimonial ou material), devem ser cabalmente comprovados, NÃO SE PODENDO
CONFUNDIR LUCRO CESSANTE (objetiva e efetivamente apurável) COM DANO
HIPOTÉTICO (não indenizável). 8.1) No caso em tela, diante do descumprimento, a parte ré
deve pagar aos autores, as despesas de locação que estão comprovadas nos autos, relativas aos
meses de 05/01/2012 até a data do habite-se, 23/05/2013. 8.2) Danos morais - Cumpre ao Poder
Judiciário efetivamente reparar os danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou difusos
causados aos consumidores, mas, sobretudo, compete-lhe efetivamente prevenir a ocorrência dos
mesmos conforme dispõe o artigo 6º, VI, do Código de Proteção e Defesa do Consumidor.
Seguindo-se por esta trilha de raciocínio, especial relevo assume a teoria do desestímulo
(adotada majoritariamente pela doutrina e jurisprudência pátrias, inspirada na Escola Francesa),
segundo a qual a sanção (quantum indenizatório arbitrado pela autoridade judicial) deve fixar
uma quantia considerável o suficiente para inibir a reiteração de condutas semelhantes pelo
agente. Verba compensatória (R$ 17.000,00) adequada aos princípios da razoabilidade e da
proporcionalidade, sem olvidar a natureza punitivo-pedagógica da condenação. 9 - Recurso dos
Autores a que se dá parcial provimento, na forma do artigo 557, §1º-A, do Código de Processo
Civil. Recurso das Rés a que se nega provimento, na forma do artigo 557, caput, do Código de
Processo Civil.
0033886-23.2012.8.19.0209 – APELACAO
32
ATUALIZAÇÃO FINANCEIRA. ILEGALIDADE DA COMISSÃO DE CORRETAGEM
NO CASO CONCRETO PORQUE NÃO HAVIA PREVISÃO CONTRATUAL
EXPLÍCITA E POR TER ACRESCIDO AO PREÇO DE OFERTA DO IMÓVEL. ÔNUS
SUCUMBENCIAIS REPARTIDOS NA SENTENÇA. CORREÇÃO. MESMO COM O
RESSARCIMENTO DA VERBA RELATIVA À TAXA DE CORRETAGEM, CADA PARTE
SE MANTEVE VENCEDORA E VENCIDA EM PROPORÇÕES ASSEMELHADAS. REGRA
DO CAPUT DO ARTIGO 21 DO CPC. RECURSO DOS RÉUS A QUE SE NEGA
PROVIMENTO. PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO DO AUTOR.
Art. 122. São lícitas, em geral, todas as condições não contrárias à lei, à ordem
pública ou aos bons costumes; entre as condições defesas se incluem as que
privarem de todo efeito o negócio jurídico, ou o sujeitarem ao puro arbítrio de
uma das partes.
33
eventualmente emitidos e divulgados têm efeito vinculante, sob pena de afronta aos
princípios da transparência, do dever de informar e da boa-fé[i].
Art. 30. Toda informação ou publicidade, suficientemente precisa, veiculada por qualquer forma
ou meio de comunicação com relação a produtos e serviços oferecidos ou apresentados, obriga o
fornecedor que a fizer veicular ou dela se utilizar e integra o contrato que vier a ser celebrado.
Ressalte-se, ainda, que o artigo 4º, inciso III do CDC, coloca em ênfase a
“harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo e
compatibilização da proteção do consumidor com a necessidade de desenvolvimento
econômico e tecnológico, de modo a viabilizar os princípios nos quais se funda a ordem
econômica (art. 170, da Constituição Federal ), sempre com base na boa-fé e equilíbrio
nas relações entre consumidores e fornecedores”, de forma que o contrato entre o
incorporador e o consumidor deve observar esse equilíbrio.
Nº. 543
“Na hipótese de resolução de contrato de promessa de compra e venda de imóvel
submetido ao Código de Defesa do Consumidor, deve ocorrer a imediata restituição das
parcelas pagas pelo promitente comprador - integralmente, em caso de culpa exclusiva
do promitente vendedor/construtor, ou parcialmente, caso tenha sido o comprador quem
deu causa ao desfazimento”.
Nº. 308
“A hipoteca firmada entre a construtora e o agente financeiro, anterior ou
posterior à celebração da promessa de compra e venda, não tem eficácia perante os
adquirentes do imóvel”.
34
9.2 Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro
Enunciado 02, Aviso TJ/CEDES 16/2015 “As chamadas "taxa por serviços de
assessoria técnico imobiliária (SATI)" e "taxa de decoração" das áreas comuns em
incorporações imobiliárias, ainda quando previstas expressamente nos contratos de
compra e venda de unidade autônoma em incorporação imobiliária, são de
responsabilidade do incorporador, vedadas as suas transferências ao adquirente”.
Nº. 336
"As taxas de deslocamento ou interveniência sobre o repasse do financiamento
são de responsabilidade do incorporador e construtor, vedada a sua transferência ao
adquirente, mesmo que prevista contratualmente."
Nº. 333
"Nas demandas em que se discute atraso na entrega das chaves, não configura
"bis in idem" a condenação de multa contratual cumulada com indenização por danos
morais, verbas de origem e natureza jurídicas distintas."
Nº. 98
"Na ação de rescisão de negócio jurídico, por culpa do vendedor, cumulada com
restituição de parcelas pagas, descabe o abatimento de valores referentes à taxa de
35
administração do empreendimento frustrado, mesmo que destinadas ao pagamento de
comissões, intermediações e outras despesas de comercialização, devendo a devolução
efetivada ao comprador ser plena, de modo a assegurar-lhe o exato recebimento de tudo
o que despendeu".
10. CONCLUSÃO
Este artigo aborda muitos dos temas que têm sido frequentes nos processos
judiciais referentes à compra e venda de unidades imobiliárias, pactuadas entre
incorporadoras, construtoras e os consumidores.
36