O Modelo Computacional
O Modelo Computacional
O Modelo Computacional
APLICADA AO
ENSINO DO INGLÊS
Larissa Hainzenreder
O modelo computacional
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Introdução
Como falante nativo de língua portuguesa e aprendiz de língua inglesa,
você deve ter notado que a forma com a qual você se relaciona com
as duas línguas difere em vários aspectos. Se uma língua nativa e uma
língua não nativa se comportam diferentemente no falante, deve-se
admitir que há algo de particular nos seus processos de aquisição. Com
base nessas particularidades, há muitas teorias em Linguística Aplicada
que se dedicam a investigar a aquisição de língua estrangeira a partir da
definição de modelos que, segundo os autores, melhor representam o
que acontece na nossa mente durante a exposição a uma segunda língua
e melhor solucionam o problema da aquisição. Entre esses modelos, está
o modelo computacional.
Neste capítulo, você vai estudar as diferenças entre o modelo com-
putacional de aquisição de segunda língua e as abordagens mais tradi-
cionalmente estudadas, identificando sua abrangência e seus limites.
quais são as propriedades das línguas naturais que lhes permitem serem
aprendidas em primeiro lugar. Já a pesquisa de aquisição de segunda
língua (L2) tenta
Apesar de a abordagem natural, como se vê, ter sido intimamente associada ao modelo
do monitor de Krashen, existem algumas diferenças na percepção dos autores sobre
o estudo consciente da gramática. Para Terrell, algum grau de estudo consciente da
gramática pode, sim, ser benéfico à aquisição de uma segunda língua, enquanto, como
dito, Krashen defende que o estudo consciente da gramática não tem efeito sobre a
capacidade do aprendiz de produzir um discurso na segunda língua.
O estado inicial diz respeito aos princípios e elementos comuns aos falantes
de todas as línguas naturais. A teoria linguística desse estado é chamada de
Gramática Universal (GU). Os estados transitórios e o estado final, nessa
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que possibilite descrever o conhecimento que será adquirido e como ele será
representado (PEARL, 2010; YANG, 2012).
Quando algo é computado, um input é tomado e processado de acordo com a
predefinição de certos procedimentos necessários para a produção de um output,
de modo que conhecer “a natureza e as estruturas das informações envolvidas”
no input e no output é imprescindível para a modelagem computacional, visto que
somente nessas condições é que se pode “partir para o ‘nível algoritmo’, o nível
em que a solução é descrita” e que esclarece os “mecanismos de processamento
disponíveis e suas propriedades” (FARIA, 2013, p. 09). Desse modo, a especi-
ficação dos dados que servem de input e das informações necessárias para sua
interpretação requer um suporte teórico empírico que satisfaça o estabelecimento
dos parâmetros de avalição do modelo, os quais determinam se a aquisição foi
bem ou malsucedida, além de comparar os tipos de erros que são cometidos pelo
aprendiz durante o processo de aquisição, bem como a ordem em que ela ocorre,
com o comportamento desenvolvido pelo modelo (PEARL, 2010). Conforme
Faria (2013), a questão particular que se coloca no modelo computacional de
aquisição de linguagem é a necessidade de especificar “as propriedades formais
do problema” por meio da caracterização do que “significa ‘saber uma língua’”
(o output desejado), dos dados de input e de sua natureza e das “propriedades e
restrições eventualmente impostas sobre os procedimentos de processamento
e aprendizagem disponíveis ao aprendiz” (FARIA, 2013, p. 09).
Com a crença de que o modelo computacional é a melhor opção para formu-
lar uma teoria completa sobre a aquisição de segunda língua, já que processa
informações considerando os aprendizes de L2 como “máquinas inteligentes”
que processam input em uma “caixa preta mental” na qual estão mecanismos
previamente adquiridos que tornam possível ao aprendiz internalizar novos
conhecimentos e usá-los em tarefas de output, Ellis (1995) apresenta o seu
modelo computacional de aquisição de segunda língua (Figura 1):
O modelo de Ellis (1995, 1998) parte da ideia (A) de que o input, isto é, o insumo
ao qual os aprendizes estão expostos, quando manipulado pelo aprendiz, poderá
causar interferência direta no desenvolvimento da sua interlíngua, o que pode ter
uma consequência positiva na aquisição da competência gramatical do aprendiz.
Contudo, é possível que o intake, isto é, o input que é absorvido pelo aprendiz,
não participe do conhecimento implícito da língua-alvo devido a um insucesso
da intervenção direta na interlíngua, o que implica o processamento parcial da
gramática, tornando-se parte da memória de médio ou longo prazo (ELLIS, 1999).
A relação entre o insumo absorvido e a interlíngua representa o conheci-
mento explícito (B). A instrução explícita é recomendada no tocante a elementos
gramaticais específicos e seus significados, como uma medida para se evitar
o fenômeno da fossilização. A abordagem da instrução explícita associada ao
input pode equipar o aprendiz com o mínimo de conhecimento da língua-alvo,
motivando-o, por conseguinte, a seguir para a próxima etapa da aprendizagem:
a produção-prática (ELLIS, 1999).
A produção-prática da língua-alvo (C) é “o momento em que se devem
criar oportunidades” de o aprendiz praticar e produzir a estrutura específica
da língua-alvo, focando na produção correta da linguagem (comparando com o
Programa Minimalista, o sucesso dessa etapa dependeria da fixação paramétrica
proposta por Chomsky). Esse momento é seguido da correção dos erros (D), na
qual são expostas as evidências negativas do processo de aquisição em oposição
às evidências positivas (A). A correção de erros pode servir à testagem de hipó-
teses, rejeitando as que são falsas e prevenindo que a interlíngua do aprendiz de
L2 apreenda generalizações (overgeneralizations) (NASSAJI; SWAIN, 2000).
Distanciando-se completamente da abordagem natural, na qual, como você
viu na seção anterior, a correção de erros é quase que inteiramente desconside-
rada, Ellis acredita na sua eficiência, principalmente durante atividades “primei-
ramente baseadas no significado”, na medida em que atendem às “necessidades
comunicativas” (ELLIS, 1999). Outro ponto de diferença entre as abordagens é
que, no modelo computacional de aquisição de segunda língua proposto por Ellis,
o aprendizado consciente da gramática — isto é, de elementos linguísticos —
durante o input é indispensável para o sucesso do intake (ELLIS, 1999, p. 66).
Sendo o modelo computacional, antes de tudo, um modelo de processamento
de informação, de certa forma, Ellis também rejeita a hipótese da GU para a
aquisição da linguagem. Segundo o autor, não há algo como uma capacidade
inata, mas, sim, faculdades cognitivas cujo papel, no aprendiz de L2, é processar
a informação disponível no input para atingir uma representação mental da
língua-alvo (ELLIS, 1999). Ou seja, processar uma informação não é um proce-
dimento natural, pelo contrário, é uma atividade cognitiva exercida pelo falante.
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Leitura recomendada
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