Narrativas de Práticas em Educação e Tecnologia A Trajetória Do Professor Digital
Narrativas de Práticas em Educação e Tecnologia A Trajetória Do Professor Digital
Narrativas de Práticas em Educação e Tecnologia A Trajetória Do Professor Digital
CDD 374.012
A dissertação de mestrado intitulada "NARRATIVAS DE PRÁTICAS EM
EDUCAÇÃO E TECNOLOGIA: A TRAJETÓRIA DO PROFESSOR DIGITAL",
elaborada por Bruno Tonhetti Galasse, foi defendida e aprovada em 12 de dezembro
de 2016, perante banca examinadora composta por Profa. Dra. Adriana Barroso de
Azevedo (presidente/UMESP), Prof. Dr. Marcelo Furlin (UMESP), Prof. Dr. Alan
César Belo Angeluci (USCS).
_________________________________________
Profa. Dra. Adriana Barroso de Azevedo
Orientadora e Presidente da Banca Examinadora
_________________________________________
Profa. Dra. Roseli Fischmann
Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Educação
Programa de Pós-Graduação.
Ao Fábio (in memoriam) pelo grande irmão que tenho saudade e que sei estaria
comigo apoiando em todas as horas e mostrando formas de tornar as coisas
melhores ou mais leves.
À Adriana Azevedo, minha orientadora e amiga de longa data, por me receber como
orientando, mesmo quase no final do percurso formativo do mestrado.
Aos amigos Marta e Elydio (in memoriam) pelo incentivo constante e auxílio na
realização do meu percurso formativo.
Ao Rafael Paes (Rafinha), pelo auxílio na transcrição e o humor leve que facilitam o
cotidiano.
Aos amigos da família “Benfeitor” pela inspiração e acolhimento nas alegrias e nas
adversidades.
Aos alunos que me inspiram a ser um professor melhor e a fomentar uma formação
constante pautada na cidadania, na dialogicidade e na (auto)reflexão.
RESUMO
Introdução ............................................................................................................... 11
Referências............................................................................................................ 117
Apêndices.............................................................................................................. 126
11
Introdução
personagem do jogo, que só fazia movimentos para frente, portanto, era necessário
entender onde ele estava e que espaços poderia ocupar (ele e as caixas). Anos
mais tarde, no mesmo laboratório de informática, começamos a fazer digitações e a
trabalhar com software de pintura (Paint).
De tudo que vivi no ambiente escolar, tenho lembranças das aulas em que
assistíamos a vídeos. Tínhamos um móvel grande de madeira que ficava em uma
sala mais escura, com carteiras universitárias. Essa sala era próxima à sala da
direção da escola, em um prédio mais antigo. Talvez tenha sido nesse ponto que
iniciou o meu interesse pela produção de vídeo, ao perceber a magia de estar
naquela sala e ver como todos paravam para prestar a atenção à tela. A televisão
era grande, de tubo, e o VHS não funcionava sempre bem, ainda assim, eu gostava
muito daquela sala.
Eu conhecia cada espaço daquela escola, porque lá havia passado nove anos
da minha vida. Infelizmente, o prédio dessa escola foi parcialmente demolido e hoje
deu lugar a um estacionamento. Dessa forma, recorro à minha memória toda vez
que desejo lembrar dos barulhos, dos cheiros e das pessoas que lá encontrei e que
até hoje fazem parte da minha vida.
Os anos finais da educação básica, o ensino médio, cursei em outra escola e,
por ter mudado repentinamente, acabei não fazendo muitas amizades. Uma delas,
no entanto, é bem significativa porque o então amigo se tornou meu sócio na Casa
da Joanna, negócio social na área de educação que iniciei, na região do grande
ABC, São Paulo, em 2014.
Há muitos outros fatos vivos na minha memória, mas procurei descrever
aqueles que acredito terem sido relevantes para formarem o professor que sou hoje.
Por isso, ainda que fora da linearidade, gostaria relatar momentos específicos que
vivi em sala de aula e que considero serem as melhores aulas que tive. Cabe
destacar que as aulas de que mais gostei tinham uma característica especial:foram
trabalhadas fora do conteúdo planejado e ocuparam o tempo ocioso na rotina
escolar.
Quando eu estava na 7ª série, em uma daquelas janelas entre bimestres, a
professora de português comentou que não poderia iniciar o conteúdo naquele dia e
então começou a falar sobre o hino nacional (era costume na nossa escola cantar o
hino e hastear a bandeira às quintas-feiras). Ela perguntou se sabíamos o que
significava a letra do hino nacional. De fato, embora repetíssemos há muitos anos o
13
ritual de cantar o hino semanalmente, não sabíamos o que realmente dizíamos. Ela
então explicou algumas estrofes da primeira parte do hino, falou sobre as palavras e
seus significados e explicou a raiz etimológica de algumas delas (algo que até hoje
eu gosto muito de pesquisar). Aquela aula foi muito especial, porque eu comecei a
entender melhor o sentido e a história de algumas palavras. Infelizmente, embora
ela tivesse prometido continuar na aula posterior, nunca concluímos o estudo do
hino nacional.
Outro fato marcante ocorreu durante a viagem de formatura dos terceiros
anos do Ensino Médio. Eu não participei da viagem e optei por ir à escola naquela
semana. Eu gostava ainda mais da escola quando havia poucas pessoas e os
professores proporcionavam experiências diferentes do habitual; eram
oportunidades nas quais eu podia conhecê-los melhor. Naquela semana, o professor
de matemática decidiu revisar um conteúdo passado e explicou como Pitágoras
havia chegado ao seu teorema. Eu, que sempre pensei que as fórmulas e os
teoremas haviam sido criados por seres fantásticos, quase super-heróis, descobriria
naquele dia como uma pessoa comum havia desenvolvido algo que até hoje se
estuda na escola. O professor expôs o problema que Pitágoras enfrentava quando
criou o teorema, mas para isso, ele contou a história, demonstrou o problema e
seguiu o raciocínio que Pitágoras teria percorrido até chegar à fórmula como
solução. Senti-me muito próximo de um teórico, que por estigma sempre se referia a
alguém de inteligente suprema e, na maioria das vezes, já morto, pois os teóricos
eram tratados assim.
É interessante resgatar esses momentos, sob uma perspectiva de
pesquisador, agora que estou no mestrado, porque percebo como já estava
presente na minha história essa busca por uma escola que preencha a vida de
sentido e que busque a construção da aprendizagem para compreender a vida.
Ao mesmo tempo em que faço a rememoração da escola, é preciso marcar
pontos importantes que definem a pessoa que sou hoje. Meu primeiro curso
universitário foi o de Comunicação Social; ao concluir o curso, iniciei a Pedagogia,
ambos na Universidade Metodista de São Paulo. Isso também é relevante, porque
durante meu primeiro curso foram muitos os momentos de busca pela reflexão sobre
a função social da profissão que havia escolhido; reflexões essas que me fizeram
buscar os estudos na área da educação.
14
Figura 1 - CAMPOS, Marcelo. Talvez isso... Rio de Janeiro: Casa 21, 2007.
16
2
As impressoras 3D utilizam materiais como plástico e derivados para imprimir protótipos. A partir da
diversidade de materiais, elas têm sido utilizadas para produzir diferentes produtos. Têm representado um
grande avanço para a concretização de ideias, materialização de projetos e relevante potencial de avanço na
produção personalizada de produtos.
3
Regime do presidente Hosni Mubarak, que esteve no poder durante trinta anos.
4
Rede social que só aceita postagens de mensagens com no máximo de 140 caracteres.
5
Uma das mais poderosas redes sociais da atualidade devido à quantidade de pessoas que se utilizam
diariamente para comunicação e utilização dos recursos da ferramenta, como vídeos, fotos, bate-papo e
mensagens.
24
6
Termo criado por John Rawls (2001) que explicita a criação de uma necessidade social fictícia de forma
universal a partir da necessidade de indivíduos. Cria-se uma necessidade como se todos fossem iguais ou
precisam da mesma coisa, desviando a possibilidade de se fazer justiça e do olhar para os indivíduos.
28
da vida humana, a busca pelo entendimento por meio de uma auto revisão, a qual
se faz em parceria com outras pessoas e autores.
Tal postura epistemológica é tratada por Freire P. na moldura da curiosidade
ingênua e da curiosidade epistemológica.
7
A Educomunicação tem buscado espaço para se tornar um campo de conhecimento. O termo nasceu das
inter-relações da Comunicação e da Educação, tendo como princípio os trabalhos desenvolvidos no terceiro
setor como rádios comunitárias e imprensa local. Atualmente há cursos de licenciatura, bacharelado e de pós-
graduação lato sensu de Educomunicação.
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por vezes, engessada, limita os saberes dos estudantes e ainda os coloca em ritmos
únicos de aprendizagem, padronizando a qualidade da aprendizagem com
avaliações externas que não dão possibilidade de exploração do saber local. Desse
modo, ao pensar em uma pedagogia libertadora ensejada por grandes vultos como
Paulo Freire, é possível encontrar em Gallo (2011) uma questão fundamental já
trazida há muitos anos por Foucault.
Apesar da maioria das escolas serem tradicionais e, por efeito, vêm somando
anos e anos de necessária análise e de compreensão, não se pode esquecer que há
certas escolas da cidade, do campo, organizadas em periferias, em cidades
pequenas, e que de certa forma se diferenciam das demais e se constituem em bons
modelos de organização, em especial por contemplarem a regionalidade e as
características onde estão inseridas para contextualizarem a educação.
Alguns trabalhos mais recentes têm contribuído com essas discussões e
abordagens por ajudarem a ecoar as vozes dos educadores dessas escolas para
além de seus espaços predeterminados. É o caso de documentários como Quando
sinto que já sei (LOVATO, PEREZ e LIMA, 2014), cuja abordagem se dá em
selecionadas escolas brasileiras de práticas pedagógicas destacadas e conta com
depoimentos de professores, diretores, coordenadores, estudantes e comunidade,
37
8
Crowdfunding é o nome dado a forma de receber financiamento coletivo. Nas plataformas de financiamento
coletivo as pessoas tomam conhecimento de projetos e voluntariamente decidem contribuir financeiramente.
Cada contribuição financeira retorna para a pessoa com a uma recompensa. Atualmente, as plataformas mais
conhecidas de crowdfunding são: Catarse, Picante e Benfeitoria.
38
menos prestigiados na experiência escolar. Isso acontece com a aula de artes, por
exemplo, que ocorre uma ou duas vezes na semana, às vezes destacada como
relevante apenas para algumas idades, visto que a disciplina não se encontra em
todos os ciclos e níveis escolares.
Justamente por seu caráter científico, a tecnologia entra na escola, em grande
parte das vezes, como um reforço ao racionalismo e à lógica. A exatidão encontrada
nos recursos tecnológicos corrobora para uma visão limitada, menor do que ela
pode representar para o espaço escolar. No entanto, a descoberta e a
ressignificação da tecnologia pelo viés da criatividade têm permitido um olhar
diferenciado à prática por meio de uma visão mais ampla e de desenvolvimento
global.
Pelas possibilidades da tecnologia digital, professores têm se apropriado dos
recursos e das suas linguagens para fomentar novas discussões e realidades que
auxiliam o estudante na possibilidade de construção, desconstrução e reconstrução
da realidade. Não tem sido incomum encontrar experiências com o uso de
aplicativos e de redes sociais para tal.
Cabe salientar que Prensky (2001) fala de uma realidade vivida em seu
contexto. No Brasil, esse pano de fundo, onde a maioria está imersa em tecnologia
desde a infância até a universidade, não representa a realidade no momento.
Verifica-se ainda em outras pesquisas essa relação entre diferentes gerações
e o uso e as apropriações que as mesmas fazem da tecnologia.
Retomando Presnky (2001), dois termos importantes que o autor traz são:
imigrantes digitais e nativos digitais. Tais termos auxiliam na compreensão dessa
relação entre diferentes gerações encontradas, no caso da pesquisa, na escola.
Nativos Digitais para Prensky (2001) refere-se à geração que nasceu num
mundo em que seu cotidiano as pessoas já se apropriam das tecnologias digitais,
como smartphones e tablets, por exemplo.
O termo passa a ser não só uma forma de compreender aqueles que
nasceram com as tecnologias imersas no cotidiano, mas verificar como essas
pessoas lêem o mundo e ainda o compreendem, codificam e decodificam.
Como imigrante digital Presnky (2001) conceitua as pessoas nasceram num
período anterior, mas que buscam se aproprias das novas tecnologias.
Tomados esses conceitos e a relação entre gerações para o cotidiano escolar
quando verificamos a tentativa do docente na postura do “fazer para” o aluno, no
caso das tecnologias pode apresentar importantes riscos, uma vez que o imigrante
digital (Prensky, 2001) pode simplificar ou tipificar um uso de um recurso sem
considerar a apropriação que seus estudantes já fazem dele.
Vale lembrar que, embora o docente possa ser um usuário dos mesmos
recursos, o fato de não ter nascido no ambiente imersivo em tecnologia pode
representar uma apropriação diferente e, portanto, mesmo com a tentativa de tornar
a aula mais prazerosa ou próxima dos estudantes, pode representar uma opção
verticalizada, tomada por quem não considerou que os estudantes pudessem
participar e se envolver com sua aprendizagem.
É comum entender que a apropriação do meio utilizado por si só garantirá
maior interatividade ou maior imersão dos estudantes aos conteúdos apresentados.
Para isso, Livingstone (2011) faz uma reflexão sobre como o uso de diferentes
gerações pode ser interpretado:
9
Na mitologia grega o tempo era dividido em duas formas de expressão. Chronos significava o tempo
que se pode medir, sequencial. Kairós significava o tempo qualitativo, como tempo de contemplação,
a experiência de um momento.
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O mesmo acontece quando uma análise aligeirada é feita para toda a classe de
professores.
Pensar os professores do século XXI num sentido estreito seria igualar a
todos em um modelo existente, encontrado em todas as escolas, cujos hábitos e
comportamentos fossem reproduzíveis em todos os níveis e espaços escolares –
sem dúvida, um erro.
Ainda que a mudança de século se dê pelo tempo cronológico, pela simples
virada da meia noite de um ano para outro, não se pode tipificar os professores do
século XXI ou igualá-los pelo tempo em que estão inseridos.
Neste item, portanto, busca-se tecer impressões relacionadas às premissas
que o tempo (Kairós) tem trazido às escolas, com as mudanças sociais,
comportamentais e individuais, desafiando o professor nas suas mais diversas
competências.
Uma vez que o tempo chronos e o kairós podem conviver e é possível a
educação acontecer nas fronteiras e nas brechas, valioso se faz pensar, numa visão
crítica, a necessidade de uma constante reflexão sobre tal tema, uma vez que a
escola, inserida numa sociedade de produção, pautada pelo tempo poderá
reproduzir uma lógica mercantilista quando se afasta do exercício de (auto)reflexão.
Longe de esculpir um modelo de professor, pelo contrário, busca-se identificar
características ligadas ao ofício docente que são cada vez mais demandadas não só
desse profissional, como daquilo que o cerca, ou seja, uma reflexão sobre o espaço
escolar, seus tempos e sua organização.
A profissão docente exige uma ampla preparação para que possa ser
qualificada e apropriada àqueles que estão nos bancos escolares nas mais diversas
circunstâncias e regiões. Cada educando traz na bagagem um histórico de vida, de
familiar e de cultura. Dayrell (1996, p. 10) destaca que
A aprendizagem não deve ser tratada como uma mera apropriação dos
conteúdos curriculares, mas pelo desenvolvimento de uma postura epistemológica
que visa significar a experiência do educando com o fazer científico no meio social
em que este vive e, portanto, uma nova postura diante do mundo em que está
inserido.
A tecnologia, nessa relação entre educador e educando para a configuração
de uma construção do conhecimento protagonizada pelo educando e pelo educador
como aprendiz, pode ser um elemento catalisador posto seu potencial agregador de
diferentes sujeitos e gerações.
Considerando a relação entre educador e educando como propulsora para a
compreensão e aprendizagem do mundo, não se pode desprezar um fator cada vez
mais presente nos dias atuais: as novas gerações, conforme abordado
anteriormente, têm chegado às escolas com seus recursos tecnológicos e
dispositivos móveis. O uso que deles se fazem são os mais diversos. Não se
encontra, no entanto, um significativo uso por parte dos alunos dentro do ambiente
escolar, o que já não se reflete quando do uso nos seus lares.
10
Comitê Gestor da Internet no Brasil tem a atribuição de estabelecer diretrizes estratégicas
relacionadas ao uso e desenvolvimento da internet no Brasil.
53
A entrada das tecnologias na educação é um fato que deve ser observado por
diferentes prismas, visto que não somente as diferentes tecnologias têm suas
especificidades, como também a educação tem seus matizes e suas variações.
É necessário atentar-se à uma visão mais macro e crítica e não incorrer em
uma visão reducionista, ainda muito comum, que é a de achar que a tecnologia é a
solução de todos os problemas ou simplesmente, sua causa, ou ainda uma visão
apocalítica (de que tecnologia vai acabar com a humanidade) e integrada (de que a
tecnologia é a solução para todos os problemas da humanidade) (ECO, 2015).
Presumir que ela é o mal do século ou ainda o maior benefício que a humanidade
pode ter, desprezando-se todos os demais adventos seria retirar todas as questões
que envolvem quando da entrada da tecnologia na educação e todas as
reorganizações que ela promovem, propõe e suscita.
Deve-se lembrar que os recursos e avanços tecnológicos, mesmo dentro das
salas de aula, podem não terem sido concebidos para este fim. A História mostra
que muitas tecnologias surgiram por diversos fatores. Alguns, inclusive,
prioritariamente para fins militares, como as primeiras linguagens codificadas (código
Morse, por exemplo) e mesmo com a rede mundial de computadores..
generalizada (LEMOS, 2003) vivida atualmente, mas que ao mesmo tempo, não
consegue extinguir ou resolver problemas da humanidade que deveriam ser mais
simples, como a fome, por exemplo.
Nosso mundo vive contrastes paradoxais, pois, se uma parte dele tem
uma hipertecnologia que nos permite falar em pós-humanidade, outra
parte está numa miséria tão grande que não é possível falar nem
mesmo em humanidade. No Brasil, vivemos estas duas realidades, e
os professores precisam desenvolver a capacidade de trabalhar com
estas duas situações, tanto no sentido de superar os fatores de
desigualdade e desumanização como no sentido de viver, com
desembaraço e competência, as realidades de um novo mundo que
vai sendo gestado. (NETO e FRANCO, 2010, p.12)
11A pesquisa Juventude Conectada da Fundação Telefônica foi iniciada em maio de 2013 e teve
como objetivo entender o comportamento do jovem na era digital e as transformações e
oportunidades geradas a partir daí. A pesquisa está apresentada em quatro eixos de investigação:
educação, ativismo, empreendedorismo e comportamento. Foram entrevistados 1.440 jovens, além
de entrevistas com 8 especialistas.
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Todavia, não basta ter aparelhos e recursos na escola e não saber fazer um
bom uso dos mesmos. A tecnologia e os meios de comunicação precisam ser
apropriados pelos diferentes sujeitos que estão na escola, em especial, educadores
e educandos. Para tal apropriação é necessário uma nova alfabetização, um
multiletramento nas linguagens que os recursos utilizam.
Essas mudanças são fatos que antes não eram noticiados e que hoje
interferem nas relações políticas, econômicas e sociais dos países. As facilidades de
locomoção por diferentes regiões também contribuem para que a cultura da vida em
rede se torne mais necessária.
Facilmente, pode-se falar com pessoas que estão a milhares de quilômetros
de distância, evidenciando que o local e o global interagem gradualmente.
Neste ponto, Katz & Aakhus (2004) colaboram ao ir mais a fundo nos
desdobramentos do contato perpétuo e observam como as mídias
móveis passaram a afetar a vida e as interações sociais dos indivíduos
na sociedade contemporânea [...] primeiro, a individualidade passa a
superar os laços primários e as relações face-a-face: “amizade,
intimidade, família e os vizinhos deixam de ser as principais fontes de
significado, e tornam-se os objetos de deliberação de mais um
domínio da realidade”. (KATZ e AAKHUS, 2004, p. 232. Tradução
nossa). Com a predominância das relações horizontais, fomentadas
pelas mídias sociais, fragilizam-se também a intimidade e
profundidade nos tratos humanos. Para os autores, também perdem-
se alguns critérios de qualidade ou censura no fluxo de informações, o
que leva a superação de determinados usos e costumes, cujo
“surgimento de um mundo de significados irá acabar com o jeito
pragmático da vida cotidiana.” (KATZ e AAKHUS, 2004, p. 234.
Tradução nossa).
12
Aplicativo para troca de mensagens, fotos e vídeos. Desenvolvido para celulares.
65
13
Termo referente ao potencial de algo ser usado com o objetivo para que foi criado.
66
14
Considera-se sustentabilidade de sua espécie como a capacidade do ser humano tende de habitar o espaço
em que está inserido produzindo o mínimo de resíduo possível e possibilitando que outras espécies florescem
pelo mínimo de intervenção no ecossistema. Neste sentido, é uma compreensão de regulação da espécie que
entende que ao permitir que o ecossistema se regule por si só, garante a continuidade da própria espécie
(GADOTTI, 2009).
67
O fato das pessoas estarem representadas por uma foto ou ainda por avatar 15
imprime a sensação de maior de poder. É como se utilizassem uma máscara que
confere uma despreocupação com a escolha das palavras. As redes sociais e a
internet permitem a disseminação do preconceito de forma muito mais rápida e,
consequentemente, o impacto é muito maior.
As pessoas criam “coragem” para falar mais por acharem que não serão
identificadas ou descobertas e, dessa forma, aproveitam o possível anonimato para
enfatizarem seu comportamento. Mais uma vez, verifica-se que a internet não criou
o bulling, mas está claro que as pessoas encontram na internet uma possibilidade de
colocar em prática aquilo que desejam fazer na vida real.
Outra questão importante do cyberbulling é que a internet tem memória. Isso
quer dizer que os atos de preconceito e intolerância são muito mais perenes do que
os cometidos na vida off-line
É preciso rememorar que as tecnologias não são as promotoras autônomas
nem de pontos positivos nem de pontos negativos que acontecem na escola. Elas
são ferramentas que ampliam o que antes era considerado como evento isolado.
Os aplicativos e as redes sociais, são mais uma forma de conectar as
pessoas, as quais modificam a sua relação temporal de conversa e de troca (que
antes eram realizados apenas presencialmente) evidenciam problemas e eventos
que antes ficavam restritos a pequenos grupos ou às conversas paralelas e
“bilhetinhos”.
Por isso, da mesma forma que a internet pode ser a propulsora de grandes
ideias, invenções da maior disseminação e promoção da ciência que a humanidade
realizou até então, pode também realçar e ajudar a compreender as relações sociais
15
Imagem de personagem ou boneco aleatório que representa a pessoa no mundo virtual. O avatar personifica
as falas que ficariam anônimas na internet. Entretanto, nem sempre as pessoas utilizam seu nome real nos
avatares, é muito comum utilizarem o nickname (apelido).
16
Sigla que se refere à multijogadores. Os jogadores assumem o papel de personagens, suas descrições e
características.
70
17
Tolerância: limiar da paz – Manual educativo para utilização das comunidades e das escolas. UNESCO (1995).
71
Dessa forma, uma pedagogia apaixonada tem sido negada por aqueles que
tentam sobrepor à pedagogia o olhar científico analítico, duro, sem humanização.
Por essa razão, fazer ciência não pode ser privilégio de alguns educandos,
mas o educador deve estar consciente e preparado para atuar em todas as formas e
extensões para que o olhar científico possa ser uma prática entre os estudantes.
Disso resulta a promoção de uma educação mais democrática, que fomenta a
pesquisa e lança luz à descoberta, tantas vezes negada no ambiente escolar.
trabalho baseadas na sua história de vida e mesmo afirmá-las pode se dar num
processo de ação-reflexão necessária para que haja uma autorreflexão.
Essas ponderações são fundamentais e esta pesquisa, inspirada nas
narrativas de alguns professores de educação básica e sua metodologia, busca
justamente essa reflexão sobre a docência.
Ser docente é ser pessoa antes de ser profissional, ser estudante antes de
professor, por isso essas dimensões se confundem e se entrelaçam no fazer
docente e exigem maior atenção durante a formação.
O autor alerta para a concepção menos linear de formação, que busca por
diversas maneiras a expressão autêntica dos professores, mas que também
considera a comunidade acadêmica.
Com a entrada das tecnologias na escola, em especial a tecnologia digital,
novos arranjos e possibilidades pedagógicas se tornam reais, oportunizando que os
educandos participem do planejamento de sua própria educação, quando a escola
se abre para aprender com eles ou ao menos repensar seu planejamento por
intercorrências.
Mais do que se apropriar do uso, este estudo trata da necessidade da escola
assumir o seu caráter reflexivo com o uso das tecnologias. Não é mais possível
pensar o mundo sem as tecnologias digitais ou ainda afirmar que se trata de um
modismo com o uso do celular e outras tecnologias. A tecnologia se “popularizou” e
está nos lares de grande parte dos brasileiros.
Cabe salientar, que nestes novos tempos, é papel da escola propor a reflexão
para que os educandos construam suas trajetórias pensando a tecnologia de forma
a extravasar a mera apropriação dos seus recursos tecnológicos.
Gosto de ser homem, de ser gente, porque sei que a minha passagem
pelo mundo não é predeterminada, preestabelecida. Que o meu
“destino” não é um dado, mas algo que precisa ser feito e de cuja
responsabilidade não posso me eximir. Gosto de ser gente porque a
História em que me faço com os outros e de cuja feitura tomo parte é
um tempo de possibilidades e não de determinismo. (FREIRE, P.
1996, p. 53)
várias regiões e condições sociais distintas possam utilizar e vivenciar práticas com
tecnologia.
Atualmente, ainda há um grande número de recursos cujo custo com
tecnologia representa uma parte considerável do projeto. Este fato, na maioria das
vezes, acaba inviabilizando os projetos. É um desafio para educação e para uma
nova economia que se tem denominado como economia colaborativa ou economia
criativa e que vai mostrando possibilidades diferenciadas de consumo.
Talvez, um dos fatores mais relevantes seja o fato das pessoas se pautarem
mais no uso e no benefício que determinados produtos oferecem. Nesse sentido, as
pessoas não precisam adquirir determinado produto ou recurso para atingir seu
objetivo; existem alternativas como as compras coletivas e os usos de caráter
rodiziado.
É importante ressaltar essa questão, porque é muito comum entender que
democratizar o acesso significa oferecer em igual condição e posse a todos, o que
pode acarretar num consumo desenfreado.
Os novos modelos de economia têm desafiado não só a educação como
também a várias outras áreas, a exemplo da administração e da economia, fazendo
com que poucos profissionais consigam enxergar soluções viáveis para os
problemas que as escolas enfrentam hoje. Muitos acabam sobrevalorizando a falta
de recursos para aquisição, manutenção, reposição dos instrumentos tecnológicos,
aliando ainda ao argumento da falta de pessoas especializadas, o que resulta no
adiamento da renovação do parque tecnológico das escolas.
São muitas as questões que envolvem não só a aquisição dos equipamentos,
mas a sua perenidade com vistas a possibilitar ao professor o desenvolvimento
pleno de suas atividades.
Conforme indica a pesquisa da CGI (2015, p. 349), 75% dos professores
apontam que a ausência de suporte técnico ou manutenção dificulta o uso de
computador e da internet.
Nesse sentido, cabe entender a responsabilidade dos diferentes agentes
escolares; compreender que os professores atuam somente na parte pedagógica e
quando conseguem auxiliar na manutenção de algumas máquinas o fazem por
querer ajudar a escola.
Igualmente, a equipe gestora de uma escola que não possui manutenção
pode tender a liberar o uso dos recursos com menor frequência com o objetivo de
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que mais pessoas possam utilizar os recursos, ainda que haja um tempo maior de
duração.
Embora haja um sentido nesse pensamento, ele acaba por permitir que as
propostas com os recursos tecnológicos não contemplem todas as necessidades,
uma vez que não permitem o uso total dos recursos.
18
Escola de Frankfurt é o termo criado para definir um período em que a maioria dos teóricos se opunha à
comunicação de massa defendendo que sua prática era tamanha que poderia influenciar as pessoas a fazerem
o que a comunicação desejasse.
88
3. Metodologia e Análise
3.1 Metodologia
TEMATIZAÇÃO
Refinamento:
identificação
Definição de
das primeiras Refinamento e Refinamento e
temas,
Textualização unidades de ressignificação ressignificação
subtemas...
significado
CICLO DE VALIDAÇÃO
Cada sujeito relatou uma prática com o uso de tecnologia em sala de aula. A
prática foi escolhida pelo próprio pesquisado, pois a relevância para a pesquisa
estava em buscar que fatores emergiam do relato do professor e não ater-se à
prática em si.
Os participantes da pesquisa seguem ordem alfabética e estão identificados
por haver concordância na divulgação de seus nomes, registro esse feito por
assinatura no termo de participação da presente pesquisa:
Profa. Sueli Rosa Gama Medeiros - professora da Rede SESI (CE SESI
416). Graduada em ciências sociais pelo Centro Universitário São Camilo (1998).
Complementação pedagógica – habilitação em administração escolar pela
Universidade Bandeirante de São Paulo (2004). Pós-graduada em didática e
metodologia e aprendizagem da história pela Faculdade de Educação São Luis
(2007). Experiência como docente no ensino fundamental II e médio.
Sua narrativa foi sobre a utilização de vídeos e redes sociais para a
compreensão da internet na vida cotidiana.
Profa. Zuleika Ramos Tani - professora do Centro Paula Souza (Etec Getúlio
Vargas). Graduada em letras pela Universidade Paulista (2010), em administração -
comércio exterior pelo Centro Universitário Ítalo-Brasileiro (2000) e em secretariado
executivo bilíngue pela Universidade Anhembi Morumbi (1994). Pós-graduada em
administração -recursos humanos pela Universidade Paulista (2014). Especialista
em filosofia e sociologia pela Universidade Gama Filho (2012). Mentora e
coordenadora do CAP: Centro de Aperfeiçoamento Profissional MERITUM (2010-
2012). Experiência como professora do Ensino Fundamental II, Médio e Técnico.
Relatou a experiência com a utilização de games para o ensino da sociologia
com alunos do ensino médio.
Após muitas leituras sobre os relatos das experiências dos professores que
integram esta pesquisa, junto ao embasamento teórico e suporte metodológico
apresentados, chego a uma interpretação do fenômeno em foco. Reconhecendo que
não se pode apreender a totalidade de um fenômeno de maneira absoluta, admito a
influência existente da bagagem teórico-experiencial para a interpretação das
narrativas desta pesquisa.
3.2.1 Parceria
3.2.2 Motivação
Hoje, para muitos alunos, a escola não tem qualquer sentido, nem
representa um projeto no qual eles próprios ou as suas famílias sintam
que vale a pena investir. A pedagogia, habituada a lidar com as
questões da motivação num quadro de adesão à ideia de escola, fica
desarmada perante estes alunos. Já não estamos apenas face a um
desafio de diferenciar na homogeneidade mas de construir uma
pedagogia que valorize a diversidade (NÓVOA, 2011, p. 41).
Uma das possibilidades encontrada pela professora Zuleica foi a inserção dos
jogos na sua prática.
3.2.3 Protagonismo
Professora, sabe aquele jogo? Será que não dá para encaixar tal
teoria de tal filosofo, de tal sociólogo que está falando?’ Coisas que eu
nem pensei, eu ainda não tinha me preparado para aquele jogo e para
aquela fase, e o aluno chega e fala ‘Olha, é assim’, e é verdade,
muitas vezes eu falei para ele ‘não sei, deixa eu jogar para depois eu
responder’ e esse relacionamento de ‘deixa eu jogar para depois eu
aprender’ eles começam a pensar que, opa, espera aí, se uma
professora está falando que vai jogar para me ensinar então porque o
jogo não pode transformar nisso (ZULEICA).
3.2.4 Formação
3.2.5 Desafio
Um dos temas presentes nas narrativas é o desafio, seja ele trazido por um
elemento terceiro "fui provocado por minha orientadora do doutorado a realizar
práticas com tecnologia" (CÉSAR) ou na tentativa de inovação motivada pela própria
necessidade de desacomodação.
3.2.6 Restrição
3.2.7 Mediação
“Eles são uma geração que sabe mexer na internet, sabe buscar as
informações, mas ainda precisa da mediação do professor para que as informações
sejam transformadas em conhecimento” (DENISE)
3.2.8 Reflexão
ao repensar o que realmente a faz ter uma prática inovadora. “Tive momentos que
ter o melhor equipamento tecnológico em sala era o mais importante pra mim. Hoje
ter uma metodologia bem estruturada é que faz sentido, a tecnologia é o de menos”.
Por fim, conforme as narrativas permitem interpretar
CONSIDERAÇÕES FINAIS
aulas, bem como inovar, tendo como sujeito participativo nessa avaliação e prática,
seus alunos com suas opiniões e sugestões.
Assim, aponta-se a pesquisa narrativa (auto)biográfica (NÓVOA e FINGER,
2010) e a abordagem hermenêutico-fenomenológica (FREIRE, 2012) como de
extrema importância para a obtenção dos resultados que se frisa, mais uma vez, é
resultado do olhar interpretativo do pesquisador para as narrativas dos participantes,
junto do arcabouço teórico levantado.
Espera-se que a pesquisa possa trazer contribuições para as áreas da
educação, comunicação e educomunicação, compreendendo que a partir dos
levantamentos realizados e dos resultados obtidos, novas temáticas e possibilidades
de estudo se abrem.
Por fim, releva-se a extrema importância que a presente pesquisa possibilitou
para que novos conhecimentos fossem construídos e outros olhares descobertos, na
crença de que este estudo se encerra contribuindo para que novas aprendizagens,
reflexões e conhecimentos possam se realizar o futuro.
117
REFERÊNCIAS
BRUNER, J. Fabricando histórias: direito, literatura, vida. São Paulo: Letra e Voz,
2014.
LOVATO, A. S.; PEREZ, R.; LIMA, A. Quando sinto que já sei, 2014. Duração: 78
min.
PRETTO, N.L.; ASSIS, A. Ensaio: cultura digital e educação: redes já! In PRETTO,
NL. (org.); SILVEIRA, SA. (org.). Além das redes de colaboração: internet,
diversidade cultural e tecnologias do poder. [online]. Salvador: EDUFBA, 2008.
TURKLE, S. Life on the screen: identity in the age of the internet. New York:
Touchstone, 1995.
ESCLARECIMENTOS:
_______________________________________________
O que fez você pensar isso nesse ano e nos anos anteriores não? Quando se
formou?
Nos anos a sala de informática, ou seja, os recursos tecnológicos eram. Ou seja, se
danificar a responsabilidade era do professor, pois não tem verbas para o
concerto. Já neste ano as portas da sala de informática foram abertas. Os motivos
ainda não sei. E também fui provocado por minha orientadora do doutorado a
realizar práticas com tecnologia para o desenvolvimento de minha pesquisa. Creio
também que não sabia deste recurso e fui um pouco tradicional em minha prática
docente, sem muitas mudanças.
Você acha que sua formação inicial tendo trabalhado com tecnologia propiciou
que você chegasse de forma mais aberta, disponível, para trabalhar com
tecnologias e, em especial, com o geogebra?
Não acho, pois em minha formação inicial a apresentação da tecnologia educacional
ocorreu de forma muito superficial. E o geogebra foi um caso isolado de
apresentação.
Você pretende continuar trabalhando com tecnologia?
Sim, com certeza, pois a prática desenvolva esse ano pode gerar um maior
interesse nos alunos. Pelos estudos da matemática também pude observar uma
maior participação, preocupação e responsabilidade pelos discentes e também uma
melhora significativa no rendimento escolar.
Qual a principal diferença que você nota entre as turmas anteriores sem
tecnologia e essa?
Sem tecnologia as turmas não eram participativas em sala de aula. Agora com a
tecnologia eles perguntam mais e estabelecem um diálogo entre aluno e aluno e
também entre aluno e professor em relação ao conteúdo ministrado e no
esclarecimento de dúvidas.
19
EMEI – Escola municipal de educação Infantil
20
POIE – Professor orientador em informática educativa
Hoje, depois de participado da construção do documentário 21 o uso da tecnologia e
linguagem midiática na educação infantil sigo a linha do documento de acreditar que
esta organização de espaço - um laboratório de informática com um professor de
informática com uma aula na "grade" para cada turma - não faz muito sentido, pois
na educação infantil as linguagens se integram, se relacionam
Por uma opção eu sempre colocava as crianças em duplas. Isso foi muito
importante, a medida que ia conhecendo as crianças e registrando suas
capacidades direcionava as duplas. Muitas discussões ocorriam entre elas, pois
enquanto um estava com o mouse o outro dava opinião em tudo. A maioria, em boa
parte do tempo, organizava bem esta dinâmica (Primeiro você, depois eu) no uso
dos computadores. O objetivo era um uso totalmente autônomo, as turmas de seis
anos chegavam em um LIE22 com computadores desligados. Tinham que ligar,
colocar a senha, acessar o software, fechar todas as telas e depois desligar.
As crianças menores, no início, tinham dificuldades em segurar o mouse. Então
começava por aí, uma aprendizagens mais técnica, utilitarista mesmo.
A dinâmica das aulas era a seguinte: primeiramente a roda de conversa para: definir
a proposta do dia, contar uma história ou avaliar a aula anterior. Depois as duplas
eram formadas para o uso do computador.
Superado o desafio da ferramenta o uso pelas crianças é muito intuitivo e curioso. O
"aperta qual, prô" era cada vez mais raro.
Como se deu seu interesse por unir a tecnologia à educação? Qual foi a
contribuição da sua formação inicial para isso?
21
Doc – Documentário. Mais informações sobre o assunto tratado por Marcelo aqui:
http://portal.sme.prefeitura.sp.gov.br/Portals/1/Files/17138.pdf
22
LIE - Laboratório de informática educativa
do LIE me provocou a pensar mais na utilização das linguagens midiáticas com
propósitos pedagógicos e daí percebi que não tinha formação suficiente.
Contudo, eu fui ser POIE justamente na escola que criou o que seria a Primeira
Rádio Infantil... a Rádio Jacaré FM. Na inauguração da Rádio, com presença de
autoridades, também estavam presentes alunos de uma EMEF, da Rádio Graciosa,
para cobrir o evento. Ali conheci a Educomunicação. Ela, ao longo do tempo, se
tornou o pano de fundo, a base conceitual para a integração das linguagens
midiáticas nos processos educativos.
Começa livremente sim. na tentativa e erro. Depois de um tempo como POIE uns
três meses, comecei a participar de dois processo formativos: encontros entre os
POIEs de EI, organizados pela DRE-PJ, conheci os outros LIEs, atividades, etc. um
espaço de troca provocado pela mediadora da DRE-PJ.
O outro eram as formações oferecidas pelo Programa Nas Ondas do Rádio, fiz os
cursos: Aprender e Comunicar, Gestão de Projetos Educomunicativos e Nas Ondas
do Vídeo.
Quando realizei minha formação com Especialista em Educomunicação já não
atuava mais no LIE.
Depois de me apropriar um pouco mais sobre educomunicação, entendi que não
importa as linguagens utilizadas, o giz, a tela, a fotografia, o desenho na areia, o que
importa são as pessoas e suas interações.
A tecnologia ainda não substituiu o contato e o sentimento humano, pois penso que
é a troca de emoções e sensações que produz conhecimento marcantes.
O resultado desta proposta você pode ver nos links abaixo, são blogs/sites
elaborados pelos próprios alunos, é também um dos recursos tecnológicos que
utilizo nas minhas aulas.
http://cincomosqueteiros.wixsite.com/alssw
http://segundo-a-historia.webnode.com/inconfidencia-mineira/
http://acontecimentoshist.wixsite.com/acontecimentosht/historias-na-era-digital
http://passinhodoromano21.wixsite.com/caminhandonahistoria/tecnologia-e-suas-
influencias
Essa ideia não partiu da minha formação inicial, mesmo pois quando me formei o
tema tecnologia não fazia parte parte dos debates acadêmicos como hoje. O que
motiva trabalhar desta forma com certeza é a busca por aproximar alguns temas da
realidade dos meus alunos.
Trazer alguns temas para serem adaptados à realidade dos alunos motiva a sua
participação e consequentemente facilita esse processo de aquisição e produção de
conhecimento.
Não consigo precisar a data exatamente, mas desde de 2010 procuro sempre
trabalhar com uma proposta que envolva as novas tecnologias. A possibilidade
surgiu quando percebi que poderia atrelar essa ferramenta à aprendizagem dos
alunos, pois é algo que eles gostam e muitos dominam muito bem.
A sua pergunta me fez relembrar de um trabalho desenvolvido em 2010 com uma
turma de 9º ano sobre o período da Ditadura Militar no Brasil, eles tinham alguns
temas e deveriam produzir um vídeo explicitando o tema do grupo.
Você pode verificar um dos vídeos de 2010 no link a seguir:
https://www.youtube.com/watch?v=KMqqTAoiqSE
Para o uso da tecnologia e das propostas você discute com colegas, faz
formação, como é para se atualizar?
Eu vejo que em muitas propostas os alunos se envolvem, veem nesse recurso uma
aliada para a própria aprendizagem. É lógico que numa sala de aula tem aqueles
que dominam demais esses recursos, outros que embora sejam nativos digitais
apresentam um certa dificuldade, por isso procuro fazer um trabalho colaborativo,
onde um ajuda o outro, mostro produções de anos anteriores, deixo que eles
também sugiram técnicas, aplicativos, etc. isso com certeza favorece a qualidade de
alguns trabalhos.
Hoje não consigo ver as minhas aulas sem nenhuma proposta sem tecnologia, já faz
parte da minha dinâmica e rotina.
Meu pai quando era pequeno simplesmente adorava jogar canastra, buraco, poker,
ele adorava cartas, sempre gostou, e desde que eu era pequenininha ele reunia
amigos, parentes, primos, irmãos e todos iam para minha casa, eu lembro disso até
hoje, pra jogar, e varava a noite jogando, e com tempo a gente foi crescendo e
vamos aprender isso e aquilo, e daí eles foram aprendendo como é que era jogar,
jogar cartas é muito delicioso.
Vai crescendo né, a gente vai subindo na vida, de altura, de conhecimento, e vai
trazendo isso para cá, até hoje quando minha família se reúne a gente joga cartas, é
até um momento de união da família, de fazer com que as pessoas tanto que mais
novas e mais velhas consigam se comunicar, então o jogo está aí.
Depois vai crescendo, daí começaram os jogos digitais, eletrônicos, tecnológicos,
passou um pouco mais de tempo casei, e meu primeiro filho logo de cara quando
perguntamos o que ele queria ser quando crescer ele disse "quero ser testador de
videogames", e nossa reação foi "como testador de videogame?", profissão que na
época nem se falava, mas ele insistia, então ele fez faculdade de jogos digitais, e
minha maior frustração, meu filho sabe disso, foi o primeiro jogo que ele fez, que era
um de naves, em que você tinha que acertar uma nave em cima da tela, e ele que
programou, e eu não conseguia passar da primeira fase, ele fez tão bem que fiquei
frustrada porque não conseguia passar, então assim, em casa a gente sempre tem a
disputa, é isso e aquilo, todo mundo tem a sua senha, seu login, seu personagem,
independente do jogo que for, vira e mexe nós estamos jogando, um disputando
com o outro, e na parte de movimentação física a gente joga boliche, joga basquete,
fica disputando quantas cestas ou pontos fizemos, a gente faz com que a diversão
dos jogos fiquem dentro de casa, é uma forma de união da família também. Por
outro lado, a parte interessante, é saber que seus filhos estão sendo direcionados
para algo bom, existem tantas coisas ruins no mundo, e isso é uma coisa legal, é
uma coisa que faz com que haja união, então você não perde o filho no meio do
caminho. Conversando com outras mães, amigas que tem filhos, elas dizem que
estão preocupados com os filhos quando estão fora de casa, e comigo não, muitas
vezes meu filho fala que quer ficar em casa, porque "vamos jogar?", e essa é a parte
interessante, saber que eles estão próximos da gente por algo que eles gostam.
Teve várias vezes que eu passava lição de casa que era para jogar, e eu punha na
lousa "Na fase tal, acontece isso, oque que vai acontecer, repare nesse aspecto..."
aí alguns alunos falavam "Professora, posso tirar uma foto da sua escrita na lousa?
Porque meu pai não vai acreditar que eu tenho que jogar para fazer lição de casa".
Muitos pais vieram me perguntar na semana da GV oque que era, eu tenho pais
com preconceito, que não aceitam jogos, que eles acreditam que não vai fazer nada
para o filho, e eu não tenho como forcar, eu só falo que não tem problema, que ele
não vai perder nota, mas que ele vai estudar da forma tradicional, vai ter que ler o
livro, vai ter que fazer o resumo, vai ter que fazer as atividades e exercícios que a
gente se propôs a fazer, mas a maioria deles, claro, prefere os jogos. Então alguns
pais são muito preconceituosos, eles não aceitam, não admitem, e outros que estão
começando a aprender e ver a importância disso, e aqueles que nem eu, que jogam,
que adoram, que querem que os filhos façam isso também, então tem três pontos aí,
que precisam ser trabalhados, já tive reclamação aqui de pais, que vieram conversar
comigo, que achavam que eu estava distorcendo a educação, e na hora em que
mostrei para eles os aspectos, eles deram uma chance para tentar entender. Esses
pais ainda não me retornaram com um "OK", porém eu tenho o "OK" dos filhos que
estão falando que os pais estão permitindo fazer o trabalho em cima disso, o
preconceito é gerado por algo que você não conhece, então não conhece, não vou
fazer, a partir do momento em que você se envolve com o assunto, você pode
despertar algo interessante, e é trazer o filho para perto de você, né? É parar de
brigar com ele, oque que é mais fácil? Você brigar com seu filho todo dia sobre a
escola, ou mostrar para o filho que ele pode aprender com isso. Nós temos hoje
educação a distância, oque que é educação a distância? É você trabalhar com
computador, você vai estudar através do computador, então você pode pegar ali a
sua vídeo-aula, que você vai estar com ela aberta, e você vai entrar em um monte
de outras coisas, pode estar com Facebook, com jogos online, mas vai da sua
capacidade de concentração, e o jogo te traz essa concentração, se você foca no
jogo, você vai saber que é só o jogo, não adianta você estar no jogo e ir pesquisar
no Youtube para ver como é que se passa de uma fase, já perdeu, isso ensina
também você a estudar, se você se foca naquele tempo, você não precisa depois ir
para o outro lado, ou você faz uma coisa ou outra, então vai direcionando o aluno
nisso também.
Fale um pouco mais sobre a mudança que ocorreu depois que você começou a
trabalhar com os jogos.
É, e não sou só eu que falo que senti isso, os alunos ficaram mais unidos, mais
focados, os trabalhos em grupo saíram muito melhores, mas existem pesquisas
provando isso, os alunos que jogam, que eles têm um foco nisso, eles conseguem
um desenvolvimento maior, eles conseguem aprender e perceber o mundo diferente.
A tecnologia hoje mudou, a gente consegue as informações muito rápidas e a gente
precisa ter um retorno também rápido, e deixar isso para depois... A gente fala muito
de imediatismo, mas como não ser imediato se você antigamente para fazer uma
pesquisa tinha que ir a biblioteca, pedir ajuda para a bibliotecária para ver qual era o
livro que você iria usar, como você iria usar, as vezes não sabia nem qual que era a
página, você tinha todo um trabalho, hoje você entra em segundos e ja tem tudo que
você precisa ali, você já tem a informação. Então nós precisamos ser ágeis, inclusive
também os país de aprender, que tem que mudar a forma de fazer com o filho, não
adianta falar para o filho sentar e ficar quieto, porque? Qual é o objetivo de ficar
quieto? Porque não posso fazer isso, tem que fazer o outro? Você tem que explicar
e o jogo te permite isso, ele te explica, ele explica situações, mesmo jogos que tem
mais violência, ou alguma coisa assim, eu concordo, não é esse tipo de jogo que a
gente que ter em sala de aula, mas até eles tem alguma motivação vai fazer o aluno
aprender alguma coisa, então precisa saber o que está por traz disso, acho que o
grande desafio da humanidade hoje é, o que está por traz dos jogos e como que ele
pode fazer você viver.