Luzia Maya Kikuchi Rev
Luzia Maya Kikuchi Rev
Luzia Maya Kikuchi Rev
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
(versão corrigida)
São Paulo
2019
LUZIA MAYA KIKUCHI
(versão corrigida)
São Paulo
2019
Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins
de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.
Catalogação da Publicação
Ficha elaborada pelo Sistema de Geração Automática a partir de dados fornecidos pelo(a) autor(a)
Bibliotecária da FE/USP: Nicolly Soares Leite - CRB-8/8204
Aprovado em:
Banca Examinadora
sei que acabarei sendo injusta com pessoas que também foram essenciais para a conclusão deste
trabalho. Neste período do doutorado, aprendi que, na vida, às vezes, esquecemos de dar valor
a cada pessoa que cumpre uma determinada função e, mesmo sendo invisível aos nossos olhos,
ela é essencial para o bom funcionamento de um sistema. Um exemplo concreto disso foi
quando houve a greve dos caminhoneiros em maio de 2018. Só com uma manifestação daquela
magnitude é que percebemos o quanto dependemos uns dos outros para viver em sociedade.
E com uma tese de doutorado não poderia ser diferente. Cada pessoa que conhecemos
e com quem compartilhamos experiências, estando ou não relacionados à pesquisa, acabam nos
servindo de inspiração. Isso inclui colegas que conheci em viagens a congressos, em cursos de
secretaria da pós-graduação da FEUSP, professores dos cursos que realizei durante a pós-
graduação e até de alunos que conheci durante a avaliação de trabalhos em uma feira de
Ciências. Todos esses colaboraram indiretamente para que essa pesquisa fosse possível de ser
concluída.
Ao meu orientador Prof. Elio Carlos Ricardo, que já me acompanha desde o mestrado,
cujo seu exemplo de sabedoria e integridade sempre foi motivo de inspiração, não só como
da pesquisa.
Aos colegas do grupo de pesquisa, coordenado pelo Prof. Elio Ricardo, cujas discussões
e trocas de conhecimento sempre foram muito valiosas para o meu crescimento profissional e
pessoal, além de permitir bons momentos de descontração, em momentos que ficamos bastante
aperfeiçoamento de ensino (PAE) e ter me concedido espaço para contribuir de forma direta
com as atividades da disciplina. Tal experiência foi relevante para o aperfeiçoamento da minha
Aos professores Marco Antônio Bueno Filho e Antonio Carlos Brolezzi pelas sugestões
Campus Pato Branco, pela compreensão e cooperação durante os meus afastamentos para poder
Ao meu marido Marcelo, pelo seu amor e apoio em todos os momentos, não só durante
Aos meus pais, que me deram a vida e o privilégio de alcançar horizontes cada vez
maiores.
Aceder à ciência é rejuvenescer espiritualmente,
é aceitar uma brusca mutação que contradiz o passado.
In this work, we raised different levels of operational invariants involving algebraic content,
manifested by students of final years of middle school (equivalent to 8th to 9th grade of K-12),
relying on the cognitive theory proposed by Gérard Vergnaud (1990; 2009; 2014). For this
extent, we developed a qualitative research, conducted in two stages (pilot and final), which we
elaborated some activities involving five types of abilities: perception, generalization of
mathematical concepts, reversibility of mental process, logical reasoning and some types of
mathematical abilities, based on works developed by Krutetskii (1976). At the first stage, we
applied a study for 32 students of 8th grade (K-12), from a public state school, in the
metropolitan area of Sao Paulo, and we analyzed solutions of the students supported by
Organizing Models of Thinking (MORENO et al., 2000), a theoretical and methodological
framework, organizing solutions of the students in question-models. By means of the analysis
of those question-models, we selected nine students, separated in three distinct groups,
according to the level of ability showed on the pilot study, to compose the final stage of the
study. On Group 1, we selected some students who presented a reasonable performance at
preliminary study, although some difficulties could be seen. Group 2 was composed of students
who demonstrated many obstacles, not only on mathematical contents but also in essential
abilities to comprehend Mathematics, for instance, reading and understanding. Finally, on
Group 3, we chose students who clearly showed some emotional aspects involving their
difficulties in the learning of Mathematics and applied activities which are not involved to
mathematical contents, to evaluate other issues influencing on their difficulties with that subject.
Furthermore, we conducted a semi-structured interview with each group after the application
of the written activities. Such dialogue allowed us to raise elements which were not clear on
their solutions, helping us to make a map of conceptions of the students about algebraic ideas
and, thus, to associate with some possible operational invariants, according to the model found
on their solutions. According to those analyses, we could reveal that the level and type of
operational invariant can vary, in the same group, and even show similarities between groups
with different abilities. Consequently, the results indicate that an apparent correct solution could
hide some difficulties in understanding of formal concepts, in addition to that, the didactical
approach can straightly influence to some obstacles and emotional blockage on the students, in
relation to algebraic contents.
1ª Primeira
2ª Segunda
Aplic. Aplicação
Cód. Hab. Código da habilidade
Cód. Sub. Hab. Código da sub-habilidade
Estuds. Estudantes
E3 Estudante 3
E4 Estudante 4
E6 Estudante 6
E13 Estudante 13
E20 Estudante 20
E27 Estudante 27
E32 Estudante 32
Hab. Habilidade
IFRJ Instituto Federal do Rio de Janeiro
MADE Modelo de Análise Didática dos Erros
Nº Número
P. Pesquisadora
PIBID Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência
Programme for International Student Assessment ou Programa
PISA
Internacional de Avaliação de Estudantes
SARESP Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo
TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
SUMÁRIO
CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO.............................................................................................33
1.1. Motivação e contexto da pesquisa ........................................................................33
1.2. Revisão bibliográfica ............................................................................................35
CAPÍTULO 2 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................................45
2.1. A concepção de erro em matemática ....................................................................45
2.2. Tratamento didático sobre os erros .......................................................................48
2.3. Vergnaud e as estruturas multiplicativas ..............................................................52
2.3.1 Isomorfismo das medidas .......................................................................52
2.3.2 Produto das medidas ...............................................................................57
2.3.3 Proporções múltiplas ...............................................................................60
2.4. A teoria dos Campos Conceituais .........................................................................63
CAPÍTULO 3 – METODOLOGIA DE APLICAÇÃO DO ESTUDO PILOTO ....................75
3.1. Introdução..............................................................................................................75
3.2. Elaboração do estudo piloto ..................................................................................77
3.2.1. Objetivo do estudo piloto .......................................................................77
3.2.2. O contexto da escola e os sujeitos envolvidos .......................................77
3.2.3. Características do conjunto de atividades ..............................................80
§ Série I - Problemas com enunciados indeterminados ............................81
§ Série II – Problemas com informações incompletas ..............................82
§ Série III – Problemas com informações excedentes ..............................83
§ Série V – Sistemas de problemas de um único tipo ...............................84
§ Série VII – Sistemas de problemas com transformação gradual
do concreto para o abstrato ....................................................................86
§ Série VIII – Composição de problemas de um tipo apresentado
previamente ..........................................................................................87
§ Série IX – Problemas para provar ........................................................88
§ Série X – Composição de equações usando os termos de um
problema ..............................................................................................89
§ Série XVII – Problemas diretos e inversos ..........................................89
§ Série XIX – Problemas de compreensão e raciocínio lógico ...............91
§ Série XXIV – Problemas com formulações visuais e verbais .............92
3.2.4. Aplicação do estudo piloto .....................................................................93
3.3. Elaboração do estudo final ...........................................................................95
CAPÍTULO 4 – METODOLOGIA DE ANÁLISE DOS ESTUDOS PILOTO E FINAL .....97
4.1. Metodologia de análise dos estudos ......................................................................97
4.1.1. A Teoria dos Modelos Organizadores do Pensamento ..........................97
4.1.2. O que são os modelos e como foram criadas as perguntas-modelo .......99
4.2. Classificação das perguntas-modelo com os campos conceituais e os invariantes
operatórios ..................................................................................................................101
4.3. Análise do estudo piloto ......................................................................................102
• 4.3.1 Habilidade H2: Generalização de conceitos matemáticos - Série V:
Sistema de problemas de um único tipo ..................................................104
o EXEMPLO 1: Multiplicação de dois termos algébricos iguais .....106
o EXEMPLO 2: Soma de termos algébricos diferentes ...................107
o EXEMPLO 3: Multiplicação entre a soma de dois termos ............109
o EXEMPLO 4: Comutatividade na multiplicação de dois
termos algébricos ..........................................................................112
o EXEMPLO 5: Multiplicação entre a soma de dois termos
algébricos .....................................................................................115
EXEMPLO 6: Compreensão da função dos parênteses ................119
CAPÍTULO 5 – ANÁLISE DO ESTUDO FINAL .............................................................131
5.1 Metodologia adotada para elaboração do estudo final ...........................................131
5.2 A escolha do conteúdo e dos campos conceituais para o estudo final ....................132
5.2.1 Protocolo aplicado ao Grupo 1 ...............................................................133
5.2.2 Protocolo aplicado ao Grupo 2 ...............................................................138
5.2.3 Protocolo aplicado ao Grupo 3 ...............................................................143
5.3 Análise dos modelos por grupo .............................................................................143
5.3.1. Respostas do Grupo 1............................................................................144
5.3.1.1 Modelo 1 – Aritmética ............................................................145
5.3.1.2 Modelo 2 – Geometria ............................................................162
5.3.1.3 Modelo 3 – Classes e ordens ...................................................173
5.3.1.4 Modelo 4 – Conjuntos .............................................................188
5.3.2 Respostas do Grupo 2 ...........................................................................216
5.3.2.1 Modelo 1 – Aritmética ............................................................217
5.3.2.2 Caso especial: estudante 4 .................................................................260
5.3.3 Respostas do Grupo 3 ................................................................................274
5.3.3.1 Modelo 5 – Matemática .......................................................................275
5.3.3.2 Modelo 6 – Professor ..........................................................................279
5.3.3.3 Modelo 7 – Lazer ................................................................................283
5.4 Os níveis de invariantes operatórios ..............................................................................290
CAPÍTULO 6 – CONSIDERAÇÕES FINAIS E PERSPECTIVAS DE PESQUISA ..........295
6.1. Habilidades e conteúdos .....................................................................................295
6.2. O fator emocional no aprendizado ......................................................................297
6.3. A relevância do papel do professor .....................................................................300
6.4. Importância da aproximação universidade-escola ..............................................301
6.5. Perspectivas de pesquisa .....................................................................................303
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................................305
ANEXOS ...............................................................................................................................311
ANEXO A – Categorias de análise dos problemas a serem aplicados no estudo.
(Adaptado de Krutetskii, 1976) ..................................................................................313
ANEXO B – Tabela relacionando habilidades e conceitos .......................................315
ANEXO C – Carta de apresentação do protocolo ......................................................317
ANEXO D – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido .....................................319
ANEXO E – Protocolo do estudo piloto ....................................................................321
ANEXO F – Protocolo do estudo final Grupo 1 ........................................................335
ANEXO G – Protocolo do estudo final Grupo 2 .......................................................341
ANEXO H – Protocolo do estudo final Grupo 3 .......................................................347
ANEXO I – Transcrição de áudio – estudante 13 ......................................................351
ANEXO J – Transcrição de áudio – estudante 3 ........................................................359
ANEXO K – Transcrição de áudio – estudante 20 ....................................................371
ANEXO L – Transcrição de áudio – estudante 27 .....................................................401
ANEXO M – Transcrição de áudio – estudante 32 ....................................................407
ANEXO N – Transcrição de áudio – estudante 6 ......................................................411
ANEXO O – Transcrição de áudio – estudante 4 ......................................................423
ANEXO P – Transcrição de áudio – estudante 19 .....................................................427
ANEXO Q – Transcrição de áudio – estudante 22 ....................................................433
ANEXO R – Segunda transcrição de áudio – estudante 4 .........................................443
33
CAPÍTULO 1
INTRODUÇÃO
São diversos os tipos de desafios que todo iniciante na carreira pode enfrentar. No
caso do professor de Matemática, existe a difícil tarefa de lidar com o fato de que muitos
alunos não gostam da disciplina de Matemática, embora essa situação já não seja novidade.
Os motivos da aversão podem ser dos mais diversos, mas a queixa da grande maioria dos
estudantes é em entender os principais conceitos da disciplina.
Desse modo, sempre houve uma preocupação em inovar e trazer atividades
contextualizadas para uma melhor compreensão e aceitação dessa disciplina. Porém, mesmo
com todos esses esforços, algo que se chama a atenção é a repetição de alguns tipos de
obstáculos em diferentes anos e contextos escolares. Por que ocorrem e o que essas
dificuldades têm em comum? Foram essas perguntas que nortearam a pesquisa realizada no
curso de pós-graduação em 2009, para obtenção do título de mestre em Educação em 2012,
nesta mesma instituição onde está sendo concluído o curso de doutoramento. Naquele
momento, foi apresentado o trabalho intitulado “Obstáculos à aprendizagem de conceitos
algébricos no ensino fundamental: uma aproximação entre os Obstáculos Epistemológicos e
a Teoria dos Campos Conceituais”. A proposta foi aplicar atividades inspiradas nas questões
do SARESP (Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo),
envolvendo questões de álgebra, para os alunos do nono ano do Ensino Fundamental, e
analisar suas respostas sob a luz da Teoria dos Obstáculos de Brousseau (1983), classificando-
as em obstáculos epistemológicos, didáticos, ontogenéticos e psicológicos, além de uma
aproximação com a Teoria dos Campos Conceituais de Gérard Vergnaud (1990). Essa
classificação visava a elucidar as dificuldades e obstáculos que os alunos apresentam para a
aprendizagem do conteúdo de álgebra.
Mesmo após o fim desse trabalho, houve sempre um grande interesse em continuar
com pesquisas que envolvem a área de Psicologia e utilizá-la como apoio na interpretação de
aspectos cognitivos na aprendizagem de Matemática, já que o trabalho desenvolvido durante o
mestrado ainda não havia esgotado as possibilidades. Assim, foram pesquisadas diversas
34
literaturas relacionadas à Teoria dos Campos Conceituais, tanto do próprio Vergnaud, quanto
de outros autores, numa tentativa de aprofundar-se na teoria e elaborar uma segunda etapa do
projeto iniciado no mestrado como proposta para o doutorado. De início, foi pensado em
desenvolver-se algo semelhante ao trabalho feito anteriormente, mas com enfoque no
professor. Ou seja, analisar as escolhas didáticas do professor e sua influência no
desenvolvimento cognitivo do aluno, partindo de suportes teóricos como a Teoria dos
Obstáculos de Brousseau e a dos Campos Conceituais de Vergnaud.
Porém, conforme o andamento da pesquisa, foi possível notar que essa não seria uma
opção viável, por dois motivos: primeiro porque seria necessário encontrar um professor da
escola básica que conheça ambas ou, pelo menos, uma dessas teorias, algo que não foi
simples de se encontrar. E o outro motivo é que, mesmo se optássemos em ensinar a teoria,
seria necessário analisar um período maior que um ano, com a mesma turma de alunos e com
este professor, para obter resultados significativos. Com a mudança constante de atribuição de
aulas dos professores, seria inviável realizar tal tipo de análise. Assim, encontrou-se uma
alternativa, ligeiramente diferente da primeira, mas que mantém o foco no desenvolvimento
cognitivo do aluno, sem ancorar os conhecimentos do professor sobre essas duas teorias. No
entanto, haveria alguns pré-requisitos para a escolha da escola, turma e professor para que os
dados obtidos na pesquisa fossem relevantes. Maiores detalhes serão explicados no Capítulo 3
da tese.
Para desenvolver a metodologia desta pesquisa, foram consultadas várias revistas
científicas, banco de dissertações/teses e também em anais de congressos nos quais podem ser
encontrados diversos trabalhos abordando a Teoria dos Campos Conceituais. Embora a teoria
seja bastante complexa e apresente um grande potencial para compreender o processo
psicocognitivo de construção do conhecimento, houve certa dificuldade para encontrar
trabalhos, relacionados à área de Educação Matemática, que explicitasse uma metodologia
sistemática que permitisse uma elucidação de seus esquemas e invariantes operatórios:
elementos principais da Teoria dos Campos Conceituais de Vergnaud. Portanto, a hipótese
seria elaborar um modelo de sistematização como uma ferramenta que auxiliaria o professor
na elaboração de propostas didáticas que fossem coerentes com as dificuldades que os alunos
apresentam. Logo, a saída encontrada para esta pesquisa foi desenvolver uma proposta de
análise sistemática dos aspectos cognitivos dos alunos e, por meio desses resultados, elaborar
propostas didáticas para os professores poderem trabalhar com os alunos em diferentes níveis
de dificuldades. Isso significa diferenciar alunos com dificuldades primárias, impedindo-os de
compreender os conceitos algébricos, e aqueles que já possuem conhecimentos prévios, mas
35
1
Alguns trabalhos que estão diretamente ligados à problemática abordada nesta tese são: Miguel, Fiorentini e
Miorim (1992), Neves (1995), Pinto e Fiorentini (1997), Utsumi (2000), Ribeiro (2001), Quintiliano (2005),
Almeida (2006), Bonadiman (2007), Scarlassari (2007), Gil (2008) e Kikuchi (2012).
36
Observou-se que, na figura 1.1, nos itens C e D, o estudante tenta encontrar o valor de
x mesmo sem existir uma informação de equivalência dessa expressão com algum valor.
Há ainda aqueles que buscam simplificar essa expressão algébrica em um número
natural ou monômio, pois o resultado representado por um monômio parece-lhes incompleto.
Possivelmente, isso ocorre devido ao raciocínio aritmético enraizado nos anos iniciais do
Ensino Fundamental. Veja-se o exemplo da Figura 1.2.
2
Boole publicou um trabalho intitulado The Mathematical Analysis of Logic que apresentou as primeiras ideias
da lógica booleana.
3
Aqui entende-se a Didática como o processo utilizado para ensinar um conteúdo novo a uma pessoa que ainda
não o conhece.
4
Texto original: “Write an equation using the variables S and P to represent the following statement: “There
are six times as many students as professors at this university.” Use S for the number of students and P for the
number of professors.”
5
Translating between symbol systems: Isolating a common difficulty in solving algebra word problems.
Unpublished manuscript, University of Massachusetts at Amherst, Department of Physics and Astronomy,
Cognitive Development Project, 1979.
38
Essa pesquisa foi aplicada por Clement, Lochhead e Monk em 150 estudantes dos
anos iniciais de um curso de engenharia de uma grande universidade7. A porcentagem de
acertos foi de 63% para o primeiro problema e 27% para o segundo. Nos dois casos, os
estudantes representaram a equação algébrica com as informações invertidas: 6S = P em vez
de S = 6P e 4C = 5S em vez de 5C = 4S. Os pesquisadores ainda afirmam que os erros não
foram cometidos por falta de atenção e foi assumido que os estudantes compreenderam o
problema e possuíam, supostamente, habilidades algébricas adequadas para o nível em
questão.
Um problema semelhante a esses dois exemplos foi aplicado por Lochhead (1980)
para 202 membros de uma faculdade e 148 professores do Ensino Médio 8 e houve um
equívoco semelhante aos dos estudantes da pesquisa de Clement, Lochhead e Monk (1981)
com incidência de 35% e 47%, respectivamente.
Para explicar a possível origem desses erros de interpretação, Clement, Lochhead e
Monk (1981) identificaram dois tipos de problema que gerariam essa dúvida de interpretação
entre os estudantes: uma de ordem sintática e outra de ordem semântica.
No caso da ordem sintática, o estudante traduz a sequência de palavras do texto em
uma sequência literal de símbolos de uma equação. Veja-se:
6
Texto original: “Write an equation using the variables C and S to represent the following statement: “At
Mindy’s restaurant, for every four people who order cheesecake, there are five people who order strudel.” Let C
represent the number of cheesecakes and S represent the number of strudels ordered.”
7
No artigo, o autor não informa a instituição. Para maiores informações consultar Herscovics (1989) nas
referências bibliográficas.
8
No artigo, o autor não informa a instituição. Para maiores informações consultar Herscovics (1989) nas
referências bibliográficas.
39
Porém, quando se traduz essa representação diretamente para uma equação, ela não é
equivalente, o que leva ao mesmo equívoco de ordem sintática. Logo, existe a hipótese de que
a tradução direta da linguagem textual interfira na interpretação de problemas algébricos.
Existe ainda a dificuldade gerada pela relação direta entre o concreto e o abstrato.
Uma pesquisa feita por Kaminsky et al. (2008) mostrou que os alunos aprendem álgebra com
mais facilidade por meio de um exemplo abstrato, em comparação com os concretos. A razão
disso, segundo os autores, é pelo fato do modelo genérico permitir, com uma quantidade
mínima de informações, a aplicação para qualquer caso, o que não é possível com os
exemplos concretos, que tem utilização limitada. Portanto, investir no aprendizado de
generalizações parece ter mais eficácia para a transferência de conceitos essenciais de
Matemática do que obter uma coleção de exemplos concretos. Um teste de múltipla escolha,
com 80 participantes, foi aplicado após esse experimento para verificar a capacidade de
transferência de conceitos pelos estudantes. Os resultados mostraram que aqueles que
trabalharam com exemplos concretos fizeram pouca ou quase nenhuma transferência,
enquanto os alunos que aprenderam com exemplos genéricos tiveram uma performance 25%
maior que os primeiros, aproximadamente. Os pesquisadores afirmaram também que esses
resultados são ainda mais relevantes quando se trata de alunos do Ensino Fundamental, nos
quais a capacidade e controle de atenção às informações relevantes é menos acurada do que
um adulto.
Assim, podemos constatar que parte das dificuldades dos alunos tem origem na forma
como eles são apresentados à álgebra. A falta de estímulo para desenvolver e adaptar-se ao
conceito abstrato desde cedo parece afetar a continuidade dos seus estudos em álgebra. No
processo cognitivo de aprendizagem, referindo-se especificamente ao ensino de Ciências e
Matemática, há uma necessidade de rupturas com o conhecimento anterior para a acomodação
de um novo, além do tempo próprio de aprendizagem de cada indivíduo. Isso revela a
40
9
Refere-se aos paradigmas na visão de Kuhn (1978 apud OSTERMANN, 1996, p.186) sobre matrizes
disciplinares, especificamente, do seu componente “exemplar” no qual o estudante, quando confrontado com
situações semelhantes entre dois problemas distintos, saberá estabelecer as devidas relações para aplicar na
forma que se demonstrou eficácia anteriormente.
41
modelo explicativo, pode facilitar a integração desse conceito pelos alunos. Porém, o autor
alerta que, apesar desse esforço por parte do professor, não haverá a garantia de um controle
absoluto sobre o fato do estudante integrar ou não essa nova concepção. Essa terceira etapa de
superação se aproxima das ideias da zona proximal de desenvolvimento proposta por Vigotski.
Para sugerir um tratamento didático, Astolfi apoia-se em Martinand (1986) com a
noção de objetivo-obstáculo, na qual a superação dos obstáculos à aprendizagem já
conhecidos passariam a ser objetivos didáticos. Esta noção de objetivo-obstáculo é relevante
para permitir que o professor possa elaborar as aulas considerando as dificuldades que possam
levar à má utilização de fórmulas e as compreensões equivocadas de conceitos.
Vergnaud (1990) também evidencia as etapas de aprendizagem por meio dos
invariantes operatórios que são formados pelos teoremas-em-ação e conceitos-em-ação. Este
último, aparenta uma aproximação da ideia de localização dos obstáculos de Astolfi (1994)
que são informações nas quais o aluno sabe aplicar, mas ainda não possui autonomia a ponto
de explicitá-las ou generalizá-las para outras situações. Ou seja, são conhecimentos limitados
a uma aplicação muito específica. Por exemplo, quando um aluno utiliza a fórmula de
Bháskara para resolver uma equação de segundo grau, mas não compreende a sua aplicação e
nem é capaz de explicitar o algoritmo utilizado para resolver problemas diferentes, pode-se
concluir que seu aprendizado foi mecânico. Quando os alunos possuem os teoremas-em-ação,
já são capazes de explicitar algoritmos para resolução de problemas, e também sabem como
aplicar e transmitir o conhecimento para outras pessoas e aplicá-lo em exemplos diferentes,
pois podem validar sua aplicação em situações diferentes.
Campos (2014) explica que a forma como Vergnaud relaciona o aprendizado por meio
da mediação do real com o conceito é complexa. Segundo Campos, o acesso aos conceitos
científicos exige uma reflexão sobre eles próprios o que é muito diferente daquela relação
apresentada por Vergnaud. Mas, é durante o processo de apropriação conceitual, por meio de
idas e vindas, que a noção de homomorfismos passa a ser central para o teórico. Essa noção
envolve a relação de significado e significante 10 presentes nos esquemas 11 , que serão
explicados com mais detalhes no Capítulo 2 da tese.
Esses conceitos formulados por Vergnaud fazem parte da Teoria dos Campos
Conceituais (1990). Teoria de origem psicocognitiva que foi criada tendo em vista respeitar
10
Significado e significante são situações que dão sentido aos conceitos matemáticos, segundo Vergnaud (1990).
11
Para Vergnaud (1990), os esquemas são um conjunto de algoritmos e conceitos que organiza o tratamento das
significantes e permite gerar uma classe de condutas diferentes em função de características particulares de cada
uma das situações da classe a qual se endereça. Trata-se, portanto, de um conceito de nível cognitivo.
42
12
Exemplos de trabalhos podem ser consultados nas referências bibliográficas em Campos (2014), Bueno Filho
(2010), Tauceda, Del Pino e Nunes (2013) e Bogovich (2013).
13
I Congreso Internacional de Enseñanza de las Ciencias y la Matemática (CIECyM) - Universidad Nacional del
Centro de la Provincia de Buenos Aires, Tandil: Argentina, 2011.
43
14
Ação e Validação são dois dos três processos elaborados por Brousseau (1983) para justificar o funcionamento
e controle de uma situação didática. Os três processos consistem em Formulação, Ação e Validação.
44
45
CAPÍTULO 2
FUDAMENTAÇÃO TEÓRICA
O erro tem diferentes interpretações de acordo com o contexto. Por exemplo, no nosso
dia a dia, quantas vezes não erramos um caminho ou executamos uma tarefa várias vezes até
aprendermos com perfeição? Nos jogos eletrônicos, esse conceito faz ainda mais sentido, já que
por meio da tentativa e erro é que se supera as dificuldades de cada fase até chegarmos ao
objetivo final.
Porém, no contexto escolar, o erro já é visto de forma bem diferente. Muitas vezes, o
aluno sente-se fracassado pelo seu erro, incapaz e com medo de sanar suas dificuldades por
receio de ser julgado ou punido. Esse tipo de tratamento do erro acaba por perpetuar as
dificuldades e eventuais obstáculos adquiridos ao longo do tempo por meio da repetição desse
comportamento.
Para Astolfi (1999), o erro na aprendizagem é tão antigo quanto o próprio projeto
educacional por si só. Para o autor, enquanto o erro deveria ser tratado como algo banal,
facilmente corrigível, no contexto escolar, ele é tratado de forma dramática e motivo para gerar
angústia e estresse. Já Borasi (1996) relata que a forma como reconhecemos as metáforas pode
afetar a nossa percepção em relação a algum fenômeno. A autora constata esse fator por meio
da literatura vigente da época que tem utilizado duas metáforas para referir-se aos erros, no
contexto de aprendizagem em Matemática. A primeira e a mais popular é considerá-lo como
um “sintoma de uma doença”, termo empregado em áreas médicas. Ou seja, o erro é um
indicador de que há uma má compreensão de um conceito anterior. A segunda metáfora, que
surgiu com o desenvolvimento da Informática, é referir-se aos erros como bugs. Termo
utilizado comumente, até os dias de hoje, quando um equipamento eletrônico apresenta um tipo
de funcionamento anormal. Neste caso, a interpretação dada ao erro é de que uma instrução
inapropriada de um programa de computador não se permite chegar ao resultado esperado. Em
ambos os casos, Borasi considera que as metáforas contribuíram positivamente para uma
aproximação construtiva dos erros nas pesquisas em Educação Matemática. Porém, é preciso
46
também ter cautela em relação a essas mesmas metáforas, pois, tanto no conceito médico de
“doença” quanto no conceito de bug da computação, parte-se de uma premissa de que algo deve
ser evitado e destruído. Isso também implica que é necessária a presença de um especialista
para tratar dos erros, colocando o estudante em uma posição bastante passiva dentro do processo
de aprendizagem (BORASI, 1996).
A correção de um erro, por muitos anos, tem sido considerada como a principal ou única
tarefa por parte do professor. Quando falamos no contexto da Matemática, de forma geral, isso
fica ainda mais evidente, pois há uma preocupação em analisar algoritmos pré-estabelecidos
para chegar a um resultado final, que é único. Essa visão, felizmente, está mudando ao longo
das últimas décadas. Pesquisas que utilizam a análise das respostas dos alunos como
ferramentas didáticas vem ganhando cada vez mais destaque na área de Educação Matemática.
Há diversos autores, tanto no Brasil quanto no exterior, que já revelaram a importância
do estudo dos erros. Segundo Cury (2008), um dos pioneiros a trabalhar com o conceito de
análise de erros foi Hadamard (1945) que, aproveitando as ideias de Poincaré e outros
pesquisadores da época, ressaltou a importância da Psicologia para a compreensão dos
processos de criação e descoberta dos matemáticos. Consequentemente, ela pode ser aplicada
também para o processo de aprendizagem. Em suas discussões, Hadamard (apud CURY, 2008),
por exemplo, difere o erro cometido pelo matemático (ou professor de matemática) daquele
cometido pelo aluno. No caso do especialista, embora esse não esteja livre de cometer
equívocos na resolução de algum problema, ele tem a capacidade de perceber e corrigir o
próprio erro de forma a não apresentar o seu raciocínio, mas somente o produto final, bem
delineado, passando a impressão de que todo processo de conhecimento foi desenvolvido de
forma perfeita e infalível, o que é discutível. Esse tipo de comportamento é reproduzido também
pelos alunos e estes imaginam que, para demonstrar que aprenderam, o mais importante é
chegar no resultado correto de uma única vez. Porém, o processo de aprendizado é mais do que
isso. Para qualquer atividade de conhecimento há um processo de idas-e-vindas, retificação de
erros, verificação de conceitos anteriores e correção quando necessário. É por meio desse
processo que ocorre a acomodação de novos conceitos. Além disso, não é possível afirmar se o
aprendizado ocorreu apenas pela análise das atividades corretamente respondidas.
Independente da resposta estar correta ou incorreta, há um processo de resolução próprio de
cada aluno, que mobilizou seus conhecimentos anteriores. Portanto, a tarefa do professor seria
avaliar quais desses conteúdos estão sendo mobilizados de forma relevante para uma
aprendizagem a longo prazo. Se houver indícios de que há conceitos mal estabelecidos, é
necessário retificá-los, mas como parte do processo de aprendizagem e não de forma punitiva.
47
Cury (2008) também considera que a análise das produções deve ser um dos principais
componentes do trabalho do professor e não apenas um fato isolado. Esse tipo de análise
permite, tanto para o professor quanto para o estudante, ter a chance de compreender a forma
como ocorre a apropriação dos saberes pelos alunos. Ademais, quando um aluno comete um
erro persistentemente, isso é um grande indício de que seja um obstáculo de algum conceito
equivocado, adquirido no passado, e é necessário ser investigado. Brousseau (1989) considera
que os erros muitas vezes não são cometidos de forma acidental, mas são resultados de
aplicações fora do contexto aprendido e, portanto, ineficazes para um novo problema. Por isso,
as recomendações que são sugeridas pelo autor, sobre o tratamento dos erros, são:
Embora já exista um número razoável de trabalhos e pesquisas sobre erros, são poucos
os que fazem uma proposta de tratamento didático sobre os erros. Astolfi (1999) talvez seja um
dos poucos pesquisadores que realizou tal tipo de diagnóstico elaborando um quadro de
tipologia de erros, com as respectivas maneiras de mediar ou remediar cada situação. Veja-se o
quadro 2.1:
Quadro 2.1 – Tipologia dos erros
Erros causados pela complexidade própria do • Análise didática dos núcleos de dificuldade
8
conteúdo. interna à noção, insuficientemente analisadas.
1
No português, a palavra “remediar”, geralmente, tem um sentido pejorativo, como uma solução temporária, não
efetiva. Porém, no francês, ela tem um sentido totalmente oposto, com conotação positiva.
49
Por meio desse quadro resumo, a proposta de Astolfi (1999) é possibilitar a reflexão e a
conscientização sobre o complexo processo de aprendizagem escolar pelos professores. O autor
esclarece que esse quadro pode ainda ser complementado com outros erros, além desses
apontados. No entanto, os tópicos do quadro já seriam úteis para iniciar as discussões sobre o
assunto.
Vale observar que o estudo dos erros não é exclusividade da área de Matemática. Na
área de Linguística, Ciências Humanas e Naturais também existem estudos do tipo. De La Torre
(2007) desenvolveu uma teoria conhecida como MADE (Modelo de Análise Didática dos
Erros) que serve como guia para analisar os erros e o respectivo tratamento didático que deveria
ser aplicado pelo professor. Em seu livro “Aprender com os erros: o erro como estratégia de
mudança” (2007), o autor faz uma discussão, com exemplos, de como cada área analisa os
erros dos alunos, inclusive em Matemática. Autoras como Ramos e Curi (2014b) utilizaram-se
dessa teoria para analisar, por exemplo, os erros referentes à função polinomial de segundo grau
em alunos do primeiro ano do Ensino Médio.
Basicamente, o MADE compõe-se, conforme o esquema da figura 2.1, de três níveis
maiores de processamento de um sistema: Entrada, Organização e Execução. Nela também é
possível observar os componentes de cada um desses níveis.
2
É preciso esclarecer que estamos usando a terminologia utilizada por Brousseau (1983), sobre a teoria dos
obstáculos, para podermos resumir as principais ideias dos resultados da pesquisa de Ramos e Curi (2014b).
52
Antes de apresentar a Teoria dos Campos Conceituais da forma como ela é conhecida
hoje, Vergnaud vinha desenvolvendo as principais ideias ligadas aos processos de
conceitualização progressiva por meio de situações nomeadas como lógicas de classes,
estruturas algébricas, estruturas aditivas e estruturas multiplicativas. Particularmente, essas
duas últimas são as que o teórico deu maior enfoque em seu trabalho (BUENO FILHO, 2010).
Isso se deve não só pelo fato de serem constituintes da matemática básica como essas situações
serem, de certa forma, pré-requisitos para a compreensão de outras duas situações (estruturas
algébricas e lógica de classes).
Para o estudo da álgebra, podemos dizer que muitas dessas situações estão diretamente
envolvidas de forma intrínseca, mesmo havendo a predominância de uma ou de outra. Vergnaud
(1983) enfatiza que, idealmente, as situações deveriam ser trabalhadas de forma conjunta. No
caso das estruturas multiplicativas, por exemplo, é necessário trabalhar de forma intrínseca com
conceitos de multiplicação, divisão, fração, razão, números racionais, função linear e não-linear,
análise dimensional e espaço vetorial. Porém, quando ocorre a didatização desses conceitos,
realiza-se um processo diferente: cada um deles são trabalhados e avaliados de forma individual
como se não fossem dependentes entre si, o que seria inadequado. A proposta dos Campos
Conceituais é justamente fornecer um quadro para a aprendizagem que permita compreender
as filiações e rupturas entre conhecimentos que, como tal, não se dão de forma independente.
No caso das estruturas multiplicativas, elas subdividem-se em três tipos:
Esse subtipo representa as proporções simples diretas entre duas grandezas G1 e G2. Ele
também é popularmente conhecido como “regra de três simples” e talvez seja a estrutura,
geralmente, mais utilizada no cotidiano, pois envolve conceitos como: distribuir uniformemente
objetos e pessoas, determinar o custo de uma produção, calcular a velocidade média, a
distribuição uniforme em retas, superfícies e volumes. O quadro 2.2 representa o esquema desse
tipo de multiplicação:
53
G1 G2
1 !
" #
Fonte: a autora.
Vergnaud (1983) chama a atenção para o fato de que os problemas de multiplicação não
consistem apenas em três termos, mas em quatro termos dos quais o sujeito deve extrair os
três termos que se relacionam entre si. Eles podem realizar essa operação tanto pela lei da
composição binária quanto pela operação unária. A principal diferença entre as duas seria o
tipo de raciocínio adotado para chegar ao resultado. Veja-se um problema aplicado para
exemplificar essas operações:
Exemplo 1: Ana comprou 4 maçãs ao preço de R$ 1,00 cada. Quanto ela pagou no total?3
$% = '(!)*+,!,- ,- /!çã2.
$4 = 56-ç7
! = 56-ç7 ,- 8!,! /!çã.
" = '(!)*+,!,- ,- /!çã2 87/56!,!2.
3
Atividade inspirada no exemplo dado por Vergnaud (1983, p. 129).
54
o aluno for capaz de montar o quadro 2.2, ficará evidente a unidade de cada uma, aplicando-se
o operador escalar (multiplicar 4 vezes) nos dois lados da grandeza.
Quadro 2.3 – Esquema para resolução do exemplo 1 por operação unária (coluna).
Outra possibilidade seria transpor o mesmo operador escalar da primeira linha para a
segunda.
Quadro 2.4 – Esquema para resolução do exemplo 1 por operação unária (linha).
Preço
Maçãs Operação
(R$)
× ?$ 1,00
1 1,00
× ?$ 1,00
4 #
Fonte: a autora.
Há também três tipos de operações que são inversas às duas citadas anteriormente: a
divisão de primeiro e segundo tipo e a regra de três, este seria o caso mais genérico.
No caso da divisão de primeiro tipo, a tarefa seria encontrar o valor unitário de uma das
grandezas para encontrar o resultado final. Veja-se a inversão dos dados do exemplo 1:
Exemplo 2: Ana pagou R$ 4,00 para comprar 4 maçãs. Quanto ela pagou por cada uma?
Quadro 2.5 – Esquema para resolução do exemplo 2 por divisão do primeiro tipo – forma direta.
Preço
Maçãs Função
(R$)
4 4,00 A(4)
Divide-se Divide-se
4 vezes 1 # A(1) 4 vezes
Fonte: a autora.
Se for aplicado o mesmo raciocínio da operação unária, os alunos terão mais facilidade
para efetuar a divisão da primeira linha para a segunda linha como expresso no quadro 2.5. Se
essas linhas estivessem invertidas, provavelmente, os alunos que não estão ainda familiarizados
com esse tipo de raciocínio inverso, teriam dificuldades. Aqui, Vergnaud ressalta uma
55
dificuldade conceitual provocada pela inversão de fatores. Esse mesmo tipo de problema é
encontrado nas estruturas aditivas, quando o estudante precisa resolver uma operação inversa
de subtração. Por exemplo, uma operação como “Tenho 15 bolinhas. Perdi # e fiquei com 9 no
final. Quantas bolinhas perdi?” é mais fácil de ser resolvida do que esta “Tenho # bolinhas.
Perdi 6 e fiquei com 9 no final. Quantas bolinhas eu tinha?”. Na primeira operação, devo
subtrair de 15 o número final para obter o resultado seis. Também posso subtrair um a um até
chegar ao nove. Na segunda operação, preciso efetuar 9 + 6 para poder chegar ao valor inicial,
o que é uma operação inversa.
Quadro 2.6 – Esquema para resolução do exemplo 2 por divisão do primeiro tipo – forma inversa.
Preço
Maçãs Função
(R$)
G1 G2
1 ! = A(1)
# " = A(#)
Fonte: a autora.
Quadro 2.8 – Esquema para resolução do exemplo 2 por divisão do segundo tipo.
Preço
Maçãs Função
(R$)
1 1,00 A(1)
# 4,00 A(4)
Fonte: a autora.
A solução desse tipo de problema seria semelhante ao usado no quadro 2.4, mas com a
inversão da operação para divisão como é possível observar-se no quadro 2.9:
56
Quadro 2.9 – Esquema para resolução do exemplo 2 por divisão do segundo tipo – função direta.
Preço
Maçãs Operação
(R$)
1 ÷ ?$ 1,00
1,00
÷ ?$ 1,00
# 4,00
Fonte: a autora.
Vergnaud (1983) ressalta que esse tipo de raciocínio inverso não é tão simples assim,
principalmente, por ser difícil para a criança lidar com as respectivas unidades de cada grandeza.
Como forma de contornar essa dificuldade, muitos estudantes poderiam fazer a mesma
operação como do quadro 2.3 ou 2.4 e chegar ao mesmo resultado.
Por último, no caso da regra de três, que é um modelo geral para resolução de problemas
contendo quatro termos, é natural os estudantes aplicarem as seguintes propriedades
isomórficas de funções lineares:
A # + #F = A # + A #F
A # − #F = A # − A #F
A H# = HA #
A H# + HF # F = HA # + HF A # F
A # = !#
1
# = A #
!
Vergnaud (1983) explica que as propriedades isomórficas parecem mais naturais para
os alunos por envolver apenas duas grandezas e é propriamente modelada numa função linear.
Portanto, proporções simples diretas também são nomeadas de isomorfismo de medidas para
distinguir claramente a estrutura dos próximos subtipos: produto das medidas e proporções
múltiplas.
57
Para obtenção da unidade da terceira grandeza, no caso do produto das medidas, há uma
forma canônica para obtê-la:
$% = 87/56+/-)*7
$4 = I!6J(6!
$K = á6-!
! = 87/56+/-)*7 ,7 *-66-)7.
" = I!6J(6! ,7 *-66-)7.
Para representar essas informações em um esquema, teremos que trabalhar com uma
tabela de dupla entrada como a 2.1:
58
Tabela 2.1 - Esquema para resolução de um problema de produto das medidas – 1ª classe
COMPRIMENTO (MN )
O = 6 m
LARGURA (MR )
P = 4 m
ÁREA (MQ ) = O × P = RS TR
Fonte: a autora.
É preciso estar muito claro para o aluno que, no caso do produto das medidas,
basicamente, trabalha-se com o produto cartesiano e este é o produto de duas grandezas. No
entanto, segundo Vergnaud (1983), esse conceito não é óbvio para os iniciantes. Por isso, é
importante trabalhar com proporções simples antes de trabalhar com proporções duplas. O autor
ressalta que é possível trabalhar tanto com o conceito de multiplicação quanto com o de divisão.
Contudo, em uma segunda classe de problemas desse tipo, teríamos uma situação no qual o
processo da divisão pode não ser claro. Veja-se a alteração dos dados da tabela 2.1 para ilustrar
esse exemplo:
Tabela 2.2 – Esquema para resolução de um problema de produto das medidas - 2ª classe.
COMPRIMENTO (MN )
O = 6 m
LARGURA (MR )
P = V m
ÁREA (MQ ) = U × V = RS TR
Fonte: a autora.
Veja-se que, para chegar à medida elementar (no caso, a largura em metros), é preciso
lidar com a composta (área em metros quadrados). Decompor unidades de medida é um
conceito que mesmo os alunos que já trabalham há alguns anos com produto das medidas (8º e
9º ano) ainda tem dificuldade.
Vergnaud (1983) esclarece que uma forma de explicar o produto das medidas é aplicar
o duplo isomorfismo ou a proporção dupla. Ou seja, as propriedades escalares e aditivas do
59
isomorfismo de medidas podem ser aplicadas da mesma forma no produto das medidas, desde
que uma das grandezas se mantenha constante. Por exemplo, veja-se o esquema da tabela 2.2,
mantendo-se o comprimento como constante (6 m) e a largura como variável (#). Multiplica-
se esse valor " por um l. Logo, o resultado da área seria: W = 6l# (Tabela 2.3).
Tabela 2.3 – Esquema alternativo 1 de resolução de um problema de produto das medidas – 2ª classe.
COMPRIMENTO (MN )
O = 6 m
LARGURA (MR )
P = l V m
Fonte: a autora.
De forma análoga, se o comprimento passa a ser variável (#) e a largura uma constante
(4 m) e multiplica-se este valor por um l, continua-se a obter a mesma operação: W = 4l#
(Tabela 2.4).
Tabela 2.4 – Esquema alternativo 2 de resolução de um problema de produto das medidas – 2ª classe.
COMPRIMENTO (MN )
O = V m
LARGURA (MR )
P = Sl m
Fonte: a autora.
Tabela 2.5 – Esquema alternativo 3 de resolução de um problema de produto das medidas – 2ª classe.
COMPRIMENTO (MN )
O = l V m
LARGURA (MR )
Fonte: a autora.
No caso das proporções múltiplas, há uma estrutura muito semelhante com o produto
das medidas, principalmente, pelo aspecto da relação aritmética entre uma grandeza de medida
($K ) ser proporcional a outras duas independentes ($% ) e ($4 ). No entanto, suas proporções
possuem um significado próprio de acordo com uma situação fictícia. Isso significa que as
proporções apresentadas nesses problemas não necessariamente têm uma relação geral
aplicável a qualquer tipo de situação. Em outras palavras, seus aspectos aritméticos possuem
uma relação proporcional, no entanto, quando se aplica no mundo real, isso só pode funcionar
sob certas circunstâncias. Por exemplo, quando se quer estimar o consumo total de pães por
uma família de quatro pessoas, no período de uma semana, sabendo que cada pessoa consome
três pães por dia. Veja-se que essa situação só funciona para essa dada família criada para o
problema e para as grandezas envolvidas. Eventualmente, os membros de outra família podem
61
não consumir três pães diariamente ou até mesmo consumir mais do que essa estimativa. Além
disso, pode-se relacionar outras grandezas e não exatamente essas. Vejam-se três exemplos para
ilustrar as ideias das proporções múltiplas.
Exemplo 4: Um fazendeiro quer calcular a média de produção de leite por suas vacas
durante os melhores períodos. Com 17 vacas, ele produziu 70.340 litros de leite em um período
de 180 dias. Qual a média de produção de leite por vaca e por dia?
Veja-se que essa segunda grandeza (custo da diária por pessoa por dia) foi escolhida
arbitrariamente para este problema, mas poderiam ser outras. Poderia ser simplesmente custo
por dia (mais utilizado). Porém, neste caso, o número de pessoas não entraria na conta do gasto
final, somente o número de dias e a diária. Por isso, as proporções múltiplas se diferenciam do
produto das medidas, pois as relações de grandezas são usadas para cada caso específico.
Quando se calcula área ou volume, suas relações entre as grandezas são sempre fixas, por isso,
ela faz parte do produto das medidas.
No caso dos exemplos 4 e 5, tratam-se de problemas de divisão, respectivamente, do
primeiro e segundo tipo, como visto anteriormente no isomorfismo das medidas. A diferença
entre os dois é que, no primeiro caso, se precisa encontrar o valor unitário A(1,1) sabendo que
A 17,180 = 70.340 b (Tabela 2.6) e, no segundo caso, precisa-se encontrar o valor de #
sabendo que A 1,1 e A #, 236 = 500 (Tabela 2.7).
62
TEMPO (DIAS)
1 180
Nº DE VACAS
1 d N, N = V
17 70.340 L
Fonte: a autora.
TEMPO (DIAS)
1 V
1 e, U
PESSOAS
236 fee gh
Fonte: a autora.
Vergnaud (1983) tentou explicitar, por meio dessas estruturas multiplicativas, que
alguns conceitos em matemática, mesmo quando trabalhados desde cedo, não são facilmente
compreendidos pelos estudantes. Esses exemplos que foram mostrados anteriormente são
facilmente encontrados em livros didáticos a partir dos anos finais do segundo ciclo4 do Ensino
Fundamental. O autor explica, por exemplo, que não é claramente definido o limite entre o
estágio concreto e o formal, referindo-se às ideias de Piaget, dentro de um campo conceitual
como o das estruturas multiplicativas. Ele acredita que contrastar números concretos com outros
“puros” seria uma visão muito reducionista de trabalhar com esse conceito. Esse tipo de
simplificação pode gerar equívocos no futuro como tratar grandezas como números ou as
operações numéricas como um estágio concreto de aprendizado de operações. Mas, sabe-se que
existem ideias e teoremas formais a respeito das grandezas e operações que não podem ser
resumidas a essa interpretação.
No entanto, Vergnaud (1983) pondera que algumas propriedades mais gerais de
números racionais não podem ser expressados ou explicados sem os considerar como números
“puros”. Um exemplo disso seriam os casos da “multiplicação em cruz”, como a seguir:
4
Considerando a divisão em quatro ou em três ciclos segundo orientação do MEC (BRASIL, 2006),
correspondendo a uma faixa do quarto e quinto ano do Ensino Fundamental de nove anos.
63
! 8 ! "
= , !, = "8 , =
" , 8 ,
O grande passo dado pela Teoria dos Campos Conceituais foi reunir a ideia de situação.
Ou seja, refere-se a qualquer tarefa matemática que um indivíduo deseja realizar. Para
Vergnaud (1990), um conceito só adquire sentido para a criança quando existem situações e
problemas para resolver. Ou seja, um conceito não deve ser reduzido a sua definição. Deve
64
existir uma classe de situações nas quais um sujeito pode aplicar tais conceitos. Segundo o autor,
existem dois tipos de classe de situações:
1) Uma classe de situações nas quais o sujeito consegue aplicar competências de forma
imediata;
2) Uma classe de situações nas quais o sujeito ainda precisa desenvolver competências.
Para aplicar os conceitos dentro de cada situação é necessário possuir esquemas para a
resolução dos problemas. Conforme Vergnaud, esquema é uma organização invariante de
conduta, para uma dada classe de situações, e pode estar presente nas duas categorias citadas
anteriormente. Ela pode ser usada em diferentes níveis (conhecimentos-em-ação e teoremas-
em-ação), além da possibilidade de existir mais de um esquema para cada classe.
Os conhecimentos-em-ação são ações que um sujeito consegue executar, mas não é
capaz de explicitar o seu processo, pois ainda não tem domínio suficiente. Normalmente, os
conhecimentos-em-ação estão ligados às tarefas operacionais aprendidas no cotidiano, sem um
aprofundamento teórico por trás deste conhecimento. Krutetskii (1976) cita, por exemplo, o
pensamento “em voz alta” no raciocínio dos alunos. Quando um sujeito está aprendendo um
algoritmo ou uma habilidade nova, é normal que verbalize suas ações com o intuito de
memorizar pouco a pouco as informações até se tornar automatizada. Esse tipo de
comportamento pode se repetir em outras situações, tais como: o aprendizado da leitura (só
depois de um tempo, uma criança é capaz de fazer a leitura silenciosa5), uma pessoa que aprende
a dirigir ou operar uma máquina, um sujeito que está se locomovendo de um lugar a outro
verbalizando o nome das ruas e as respectivas direções em que deve seguir, entre outras,
também são exemplos ilustrativos.
No caso dos teoremas-em-ação são ações executadas com o apoio de uma perícia ou
conhecimento erudito sobre o assunto. Ou seja, é passível de ser verificada como verdadeira
sobre o real. Quando esses dois níveis de esquema trabalham juntos e o sujeito é capaz de
desenvolver e aplicar tais esquemas para variadas situações, elas passam a ser chamados de
invariantes operatórios. Esta última se refere a ações suficientemente automatizadas e implícitas
que fazem parte da habilidade cognitiva do sujeito para resolução de uma determinada situação.
5
A leitura silenciosa é uma habilidade desenvolvida pelos monges copistas na Idade Média de acordo com o
contexto da época. Para detalhes, consulte Fischer (2006) nas referências bibliográficas.
65
Exemplo 1: Crianças entre cinco e sete anos de idade já são capazes de perceber que
não é necessário recontar desde o início para encontrar o cardinal de W ∪ j se já
contamos A e B. Esse conhecimento pode ser expresso pelo seguinte teorema-em-ação:
Exemplo 2: Já entre oito e dez anos de idade, a criança é capaz de perceber a relação de
multiplicidade entre a quantidade de objetos comprados e o preço a ser pago. Por
exemplo, se uma quantidade de objetos for multiplicada por um número # ,
consequentemente, seu preço também será # vezes maior. Expressando esse teorema-
em-ação, temos:
A )# = ) ∙ A # , ∀ ) inteiro e simples.
66
“... é azul”
2) Relações binárias (funções proposicionais com dois argumentos, que podemos escrever
como ?4 (#, Y)).
3) Relações ternárias (funções proposicionais com três argumentos, que podemos escrever
como ?K #, Y, p ).
Dizem-se que essas funções proposicionais são construídas dentro de uma ação
cognitiva dos alunos, pois no caso do primeiro exemplo, para o sujeito identificar que um objeto
é azul, ele precisa implicitamente usar a relação de equivalência para diferenciar as
propriedades desse objeto. O resultado final seria apresentar um objeto azul, porém, como
poderia descrevê-lo? Como poderia diferenciá-lo da cor vermelha, por exemplo? Para saber a
definição de azul, é preciso um conhecimento anterior para o reconhecimento desta cor. Por
isso, diz-se também que eles são conhecimentos-em-ação, pois o sujeito pode até não conseguir
explicar a definição de azul, mas sabe distinguir ou dar exemplos de objetos azuis. Otero (2014)
refere-se a essas representações como um “fluxo da consciência” (p. 28) que se explica como
um fenômeno psicológico no qual um indivíduo tem a experiência de esboçar imagens abstratas
em seu pensamento em diferentes níveis de interiorização e que ocorrem de forma espontânea,
sem uma ação necessariamente consciente.
E, por fim, os invariantes do tipo objeto-argumento são a junção das proposições com
as funções proposicionais para criar um sentido de um conceito.
67
Exemplo:
Tome três argumentos: P, R2 e R3 e três objetos: Paulo, livro e mesa.
Paulo = #;
Livro = Y;
Mesa = p.
Assim, dizem-se que os invariantes operatórios não possuem um tipo lógico único para
a construção de um conceito, mas sabe-se que o envolvimento das proposições, funções
proposicionais e os objetos-argumento dão sentido para as situações. Moreira (2002) afirma
que os teoremas-em-ação de Vergnaud possuem uma certa compatibilidade com a teoria de
Modelos Mentais de Johnson-Laird6, principalmente se for pensado em termos de categoria de
6
Uma compreensão melhor sobre as ideias dos Modelos Mentais de Johnson-Laird poderá ser obtida no Capítulo
4 desta tese, com a apresentação da Teoria dos Modelos Organizadores do Pensamento.
68
pensamento. No entanto, há uma diferença entre os dois: os Modelos Mentais são instrumentos
para compreender um conceito enquanto os esquemas de assimilação de Vergnaud são
invariantes de comportamento utilizados em determinadas classes de situações. Ou seja, os
Modelos Mentais possuem um modelo mais “temporário” de construção de ideias e
pensamentos que são passíveis de serem reacomodados para construir um novo modelo. Já os
invariantes operatórios são mais estáveis e, por isso, poderia-se dizer que é um passo posterior
aos Modelos Mentais.
Voltando à ternária dos conjuntos que representa o conceito, existe o conjunto das
situações que dão sentido a ele, que é o primeiro deles. Porém, o que significa uma situação ter
sentido? Para Vergnaud (1990), o sentido envolve esquemas mobilizados dentro do sujeito por
uma situação ou por um significante, ou seja, são as suas condutas e organizações. Por exemplo,
o sentido da adição pode iniciar um conjunto de esquemas relacionados às ideias de símbolos,
números, da álgebra e da linguagem. Porém, isso não significa necessariamente que se deve
mobilizar todos os esquemas possíveis. Em outras palavras, dentro de uma situação dada e de
seu universo, cada sujeito associa a um subconjunto de esquemas possíveis para criar o sentido
próprio. Ou seja, deve existir uma situação para criar o sentido e, consequentemente, provocar
a ação do sujeito e não o seu inverso.
Quando se fala de operacionalidade dos esquemas (segundo conjunto da ternária,
representada por I), precisa-se entender como elas funcionam para possibilitar a mobilização
do pensamento. Basicamente, os esquemas geram uma classe de condutas associadas a uma
situação específica atuando como um organizador do pensamento. Vergnaud (1990) explica
porque isso é possível pelas seguintes explicações sobre o esquema:
4) Permite inferências
Em outras palavras, permite antecipar regras de acordo com as informações e sistema
de invariantes operatórios pertencentes ao sujeito.
7
Rousseau (2015) exemplifica a língua inglesa como uma língua que é necessário aprender a ouvir e a falar. No
caso, a impressão causada pela sua escrita e fala são diferentes, principalmente, para um estrangeiro. A justificativa
se repousa no fato da Inglaterra ter sido conquistada por vários povos e, consequentemente, as pronúncias terem
mudado ao longo do tempo, mas a sua escrita ter permanecido a mesma.
70
aquilo que escrevem. Logo, é preciso criar sentidos e situações para que o conhecimento
algébrico passe a fazer sentido para o aluno enquanto um algoritmo lógico.
Para ajudar a resumir os principais conceitos da teoria, foram montados alguns
diagramas em forma de mapas conceituais, no qual, cada um, responde a uma pergunta
focal. Não será entrando em detalhes teóricos sobre os mapas conceituais, pois o intuito
é utilizá-los apenas como uma ferramenta de apoio para ilustrar os principais conceitos
acerca da Teoria dos Campos Conceituais.
Os mapas conceituais são muito úteis para ajudar na sistematização do
conhecimento de um especialista para que seja compreensível por um não especialista.
Basicamente, cada mapa responde à uma única pergunta focal e formado por
proposições. Cada proposição é composta por um conceito inicial conectada por um
termo de ligação chegando ao conceito final. Cada uma das proposições contidas no
mapa deve ter clareza semântica para ajudar a responder a pergunta focal. Além disso,
cada conceito pode ser detalhado por meio de um novo mapa que responde a uma nova
pergunta focal. Neste caso, optou-se por responder às seguintes perguntas:
Figura 2.3 – Pergunta focal: Qual a definição de “situação” nos Campos Conceituais?
CAPÍTULO 3
3.1 Introdução
A metodologia que foi adotada para elaborar este estudo foi seguir as séries de
classificação de habilidades matemáticas (KRUTETSKII, 1976) e realizar uma adaptação de
acordo com o contexto local dos alunos envolvidos. Foram escolhidas apenas algumas dessas
séries que fossem mais coerentes com as habilidades cognitivas que se pretende analisar,
principalmente, tendo como apoio a Teoria dos Campos Conceituais (VERGNAUD, 2009,
2014). Quanto à análise deste estudo, optou-se por uma abordagem qualitativa que compara
as habilidades apresentadas pelos respectivos sujeitos, por meio de uma categorização das
respostas em perguntas-modelo, criadas com o apoio da Teoria dos Modelos Organizadores
do Pensamento (MORENO et al., 2000c). A ideia foi cruzar os dados obtidos na análise com
os Campos Conceituais que apresentaram mais evidências de dificuldades pelos estudantes.
Com esse levantamento, entende-se que seria possível elaborar quais esquemas e invariantes
operatórios podem ser encontrados, de acordo com uma faixa etária de ensino. Todavia, pode
haver variações de acordo com o indivíduo. E também houve o interesse em analisar tais
aspectos neste trabalho.
É importante ressaltar que o trabalho original de Krutetskii (1976) foi uma pesquisa de
grande porte, envolvendo um grupo composto por vários pesquisadores e desenvolvida ao
longo de doze anos. Houve uma preocupação, por parte do autor, em desenvolver tanto uma
análise quantitativa quanto qualitativa. Por isso, houve um cuidado de levantar uma amostra
razoavelmente grande de dados para uma análise estatística posterior.
Essa pesquisa também envolveu a participação de, pelo menos, 50 professores e 1.000
alunos da região de Moscou, a qual apresenta o número de acertos e erros de cada tipo de
atividade de acordo com cada série. Além da pesquisa quantitativa, Krutetskii teve como
objetivo realizar uma análise qualitativa identificando, dentro dessa amostra, aqueles alunos
com facilidade para resolver problemas matemáticos, entrevistá-los individualmente e
pesquisar como esses estudantes desenvolveram tais habilidades. Foram investigados fatores
76
que relacionassem a habilidade destacada dos alunos em Matemática, como o seu histórico
familiar, escolar, ou de seu desenvolvimento psicocognitivo e até mesmo de gênero, mas não
se chegou a uma concreta indicação de tal correlação. Aparentemente, trata-se de um conjunto
desses fatores, mas não se aponta um único que seja responsável por desenvolver a habilidade
em Matemática.
Já esta pesquisa, focou-se em analisar as principais dificuldades e a forma como os
alunos demonstram a resolução de um problema matemático. Além disso, buscou-se
identificar os diferentes níveis de desenvolvimento cognitivo, por meio da classificação dos
possíveis esquemas e invariantes operatórios envolvendo conteúdos de aritmética, álgebra,
com um pouco de lógica, ou a mistura de todos eles. Krutetskii utilizou também o conteúdo
de geometria. Neste caso, esse conteúdo aparece eventualmente numa característica mista
para possibilitar o olhar apenas no aspecto de transição da aritmética para a álgebra.
Para analisar essas habilidades, foram escolhidos os alunos de oitavo ano do Ensino
Fundamental de uma escola estadual de São Paulo. Selecionou-se esse nível de ensino por
dois motivos: minimizar a chance de desconhecimento sobre o conteúdo, já que se pressupõe
um contato mínimo de um ano com a álgebra. E, teria-se a oportunidade de continuar a coleta
de dados no ano subsequente, com a mesma turma, que estará cursando o último ano do
Ensino Fundamental. Isso garantiria uma certa linearidade dos dados e uma análise mais
aprofundada dos sujeitos escolhidos para a pesquisa.
Outro critério que se considerou importante para a escolha da escola parceira de
pesquisa foi o perfil da professora de Matemática. O perfil desejado foi encontrar um(a)
professor(a) que lecionasse a disciplina há mais de um ano, na mesma escola, e que
conhecesse suficientemente bem os alunos escolhidos para a pesquisa. Esses critérios foram
adotados como forma de garantir a validação prévia dos conteúdos com o(a) professor(a),
para a aplicação do estudo. Esse cuidado evitaria o risco de apresentar um tópico que seria
novidade para os estudantes.
Para encontrar a escola com esse perfil, procurou-se por indicações de instituições,
com colegas da área que lecionam na rede pública, e foi encontrada, nesta escola, uma
docente que leciona há mais de vinte anos nesta mesma instituição e conhece bem as
dificuldades com o conteúdo de álgebra desses alunos. Com o apoio dessa professora, foi
possível validar o estudo piloto previamente e garantir a relevância nos dados que seriam
coletados dentro das hipóteses desta pesquisa.
77
1 Nome fictício adotado para preservar sua identidade.
78
2
Durante as conversas, a professora mencionou diversas vezes a importância da presença do Prof. Dr. Ubiratan
D’Ambrósio em sua banca de defesa de mestrado, cuja admiração pela figura do professor parece ter exercido
muita influência na sua forma de atuação como docente.
79
80
i. Aritmética
1) Eu tenho um valor total de 140 reais guardados em dois cofres. Se eu
transferir 15 reais de um cofre para o outro, terei exatamente o mesmo
valor em cada um destes cofres. (Resposta similar esperada: Qual é o
valor que há em cada cofre?)
2) Fui ao shopping fazer uma compra. Se eu pagar utilizando apenas notas de
2 reais, terei que utilizar 9 notas a mais do que se eu pagasse com notas de
5 reais. (Resposta similar esperada: Qual é o valor da minha compra?)
ii. Algébrica
1) Um homem viveu por ! meses. (Resposta similar esperada: Qual é a idade
desse homem?)
2) Um carro viajou 760 km a uma velocidade média de ! km por hora.
(Resposta similar esperada: Quanto tempo durou essa viagem?)
Nesta série, o aluno deve perceber a informação que está faltando para resolver
o problema. Esta série difere da anterior pelo fato da primeira não ter uma pergunta
direta, mas suas informações serem suficientes para resolvê-las (pelo menos nas
aritméticas). Portanto, o objetivo principal desta série é verificar se o aluno consegue
identificar a estrutura formal de um problema como um todo e perceber as
informações que estão faltando para poder resolvê-lo. Tal nível de complexidade de
raciocínio é possível quando se percebe as relações e os fatos concretos de um
problema. No caso desta série trabalha-se apenas com o conteúdo de Aritmética.
Série II: Leia e resolva os problemas a seguir. Você notou algo de diferente neles?
Explique.
83
84
4
No inglês, essa palavra está denotada como steering devices, que pode ser traduzida como volante, mas na
Língua Portuguesa possui significado específico apenas para controles de direção em formato circular. Isso
causou dúvidas em alguns alunos na interpretação do problema. Porém, não existe, na nossa língua, uma palavra
que fosse genérica o suficiente para traduzir algo que se refere tanto para automóveis quanto para motocicletas.
De qualquer forma, foi utilizada a própria dúvida ou questionamento dos alunos para interpretar-se os dados, já
que não se está interessado em analisar a sua resolução.
5
Aqui optou-se pelo uso popular do significado de peso referente à massa de um corpo e não a definição correta
de Física como a força exercida sobre um corpo pela ação gravitacional.
85
complexidade gradual, ou seja, o item anterior serve como base para resolver o
posterior. Dessa forma, se o aluno tiver dificuldade para resolver qualquer uma delas,
deve sempre retomar o que foi feito no passo anterior como dica para poder resolvê-la.
A atividade B2 é semelhante à B1, mas possui a característica de permitir que o
aluno explique, em forma de texto, as regras distributivas ou o quadrado da soma de
dois termos nas expressões apresentadas. Tais atividades têm como objetivo identificar
os alunos com dois tipos diferentes de habilidade: o primeiro com facilidade em
expressar-se matematicamente e, o segundo, em expressar-se de forma verbal ou
discursiva. Essa identificação permite tratar de forma adequada as estratégias didáticas
mais eficientes de acordo com a característica do aluno.
%
a. "+$ =
' %
b. 1 + "( $% =
%
c. −5! + 0,6!/ % %
=
%
d. 3! − 6/ =
%
e. 1+!+$ =
f. 4! + / ( − " %
=
g. 51% =
h. 3 + 4 + 5 5 + 3 + 4 =
Após resolver as expressões acima, o que você pode afirmar sobre as expressões a
seguir, comparando item a item? Ex.: item a com item 1.
1. " % + $ % =
' %
2. "$ ( + 2" %
=
(
3. −5! % − 0,6!/ % ∙ 2 =
4. 3! + 6/ ∙ 2! =
5. 2 ∙ 1% + ! % + $ % =
6. 4! % + / % − " % =
7. 98( =
8. : + 1 + ! : − 1 + ! =
86
B2 – Quais destas expressões algébricas podem ser resolvidas por meio da fórmula do
quadrado da soma de dois números? Explique o porquê.
a. " + $ %
b. " + $ %
c. " + 2$ %
d. " % + $ %
e. " + 2$ %
f. " + $% %
g. " + 2$ % %
h. " + 2$
i. " + $ % ∙ 2 ∙ (" + 2$)% ∙ 2
j. 2" + 2$ ∙ 2
Série VII – Os problemas a seguir são semelhantes, mas seus resultados são
representados de formas diferentes. Apresente a resolução para cada um deles.
6
O código pode ser consultado no Anexo A.
87
88
Nesta série os alunos são desafiados a provar uma condição dada por um
problema. É uma habilidade que requer uma verificação empírica, mas também de
domínio de processos e conceitos. Não se teve a intenção de verificar uma prova
formal tal como é feito pelos matemáticos, mas foi uma forma interessante de observar
a argumentação e o raciocínio utilizado para realizar essas verificações. Os tipos de
conteúdos foram focados em álgebra e lógica.
4 _
+ _ _ 2
_ _ 0 1
_ _ _ _
× _ 2
1 8 _ 4 8
7 4 9 9 _
_ _ _ 6 6 _
89
inverso depende do quanto esse aluno já possui um invariante operatório (nesse caso
da adição) bem estruturado.
As atividades a seguir têm o intuito de verificar tal tipo de capacidade e
comparar as diferentes dificuldades que os alunos apresentaram para resolvê-las. Essa
verificação serve para alertar o professor que, muitas vezes, a dificuldade que o aluno
enfrenta não necessariamente significa desconhecimento do conteúdo, mas um
invariante operatório, ligado àquela habilidade, ainda não estar desenvolvido. No caso
dos problemas inversos, eles requerem um preparo e mobilização de mais esquemas e
habilidades previamente desenvolvidas, independente do conteúdo abordado. Para
lidar com essas situações, seria necessário variar a forma de apresentação de um
mesmo problema para ajudar o aluno a superar essas dificuldades.
Série XVII – Nas atividades a seguir, você deverá tentar resolver os problemas da
forma como está apresentada no verso A. Se tiver dificuldade, você pode optar em
resolver o verso B. No final, justifique qual foi a dificuldade que o(a) impossibilitou de
resolver o verso A.
a. Um tanque com capacidade de 80 litros foi preenchido com 2/5 de seu volume.
Quantos litros foram preenchidos nesse tanque?
b. Um pai tem 35 anos e seu filho 5. Em quantos anos a idade do pai será 3 vezes
a de seu filho?
c. Apresente a forma fatorada das seguintes expressões: " % − 2"$ + $ % e
"% − $% .
Verso B (Problemas diretos)
%
a. Um tanque foi preenchido com dezesseis litros de água preenchendo ?
da sua
capacidade total. Qual é o volume total desse tanque?
b. A idade de uma mãe é 3 vezes de sua filha hoje; daqui a 10 anos ela terá
apenas 2 vezes a idade de sua filha. Qual é a idade da mãe?
%
c. Desenvolva as seguintes expressões: " − $ e " + $ " − $ .
91
92
Série XXIV – Nas atividades a seguir, você deverá explicar verbalmente ou montar a
expressão algébrica necessária. Tente inserir o máximo de detalhes do seu raciocínio.
i. 3" %
ii. 1
iii. $ ∙ 4
iv. 3$ ∙ 2
(
v. ! (
@
vi. 4"$ A 3 + 2
B ?
vii. "$ 2/ A
? B
b. Nas expressões algébricas a seguir, quais são os expoentes correspondentes a cada
incógnita? Em seguida, dê uma definição apropriada para o que é um expoente.
i. 2" (
ii. $%
iii. −3! % / %
iv. 7!/ D
'
v. %
1=
93
vi. E
F
vii. B
c. Escreva a expressão algébrica correspondente aos que estão a seguir, mas de forma
que os seus coeficientes sejam iguais a 1.
i. 3"$:
ii. 41 % =(
iii. 7!/ ( E
d. Calcule o quadrado da expressão 2" . Dobre o seu resultado. Agora, triplique a
expressão 2! % . Eleve ao cubo o seu resultado. Por último, some os resultados das
duas expressões obtidas.
3.2.4. Aplicação do estudo piloto
A proposta foi incluir a ajuda da professora Ângela para escolher as atividades
mais adequadas para os alunos, das séries que foram separadas do trabalho de
Krutetskii. Assim, elaborou-se um protocolo com todas as atividades que foram
mencionadas no tópico anterior e entregue com antecedência à professora para receber
seu aval. Ela considerou que todas as atividades estavam adequadas para aplicação, já
que os assuntos foram abordados anteriormente com os alunos, embora tenha feito a
ressalva de que algumas séries poderiam ser mais desafiadoras. Pela extensão do
protocolo, sugeriu-se escolher apenas uma ou duas atividades de cada série para
aplicação do piloto e, posteriormente, de acordo com os resultados do estudo, adotar
aquelas que não foram utilizadas, o que foi deixado a nosso encargo. Optou-se por
chamar esse conjunto de atividades de “protocolo” para evitar a conotação de
“avaliação” para os alunos, já que isso poderia interferir psicologicamente no seu
desempenho. Essa nomenclatura foi reforçada tanto em carta de apresentação7 quanto
verbalmente no dia da aplicação. Foi esclarecido que eles não estavam sendo avaliados
7
Vide anexo C.
94
e que não deveriam se sentir intimidados a expor suas dúvidas no protocolo. Foi
incentivado para que escrevam nos mínimos detalhes, o máximo possível, toda a
resolução que fosse apresentada, mesmo que não tivessem certeza da resposta correta.
O estudo piloto foi composto por um protocolo com 12 atividades divididas em
16 sub habilidades distribuídas em 14 páginas. Ele foi aplicado em quatro sessões,
sendo a primeira aplicada no dia 31 de outubro de 2016 e a última em 06 de março de
2017. Cada sessão durou o equivalente a duas aulas de 50 minutos e foram utilizadas
estratégias diferentes de aplicação para cada sessão.
Na primeira, como não se conhecia os estudantes e o ritmo de cada um,
decidiu-se entregar uma página de cada vez para os alunos e, conforme a conclusão,
seria entregue a próxima página e assim sucessivamente até o término das 14 páginas.
Pouquíssimos alunos conseguiram completar as 14 páginas em uma sessão. A grande
maioria resolveu em torno de 9 a 10 páginas.
Entre a primeira e a segunda sessão, analisou-se previamente as primeiras
respostas dos alunos e elaborou-se um conjunto de perguntas-modelo para poder obter
maiores informações dos estudantes a respeito da resolução apresentada por eles. As
perguntas-modelo foram elaboradas com o apoio da Teoria dos Modelos
Organizadores do Pensamento de Moreno et al. (2000c), que será detalhada no
Capítulo 4, como metodologia de análise do estudo. Logo, na segunda sessão, eles
teriam a tarefa de terminar as páginas que ainda não fizeram e analisar suas respostas
dadas na primeira sessão de acordo com a pergunta-modelo que foi deixada para cada
uma delas. A segunda sessão ocorreu no dia 19 de novembro de 2016 e esse
espaçamento de datas ocorreu por conta da disponibilidade de horário das aulas e
também devido aos feriados que coincidiram no mês de novembro. Nesta sessão,
grande parte dos alunos completou o protocolo e pôde revisitar suas respostas e
complementar com mais informações, caso necessário. Apenas alguns alunos não
conseguiram completar os protocolos e, de acordo com as análises de suas respostas,
considerou-se que não seria produtivo insistir na continuação do protocolo e, assim, a
aplicação foi encerrada na segunda sessão com estes.
No dia 22 de fevereiro de 2017, foi feita uma terceira sessão para aplicar-se um
segundo conjunto de perguntas-modelo para aprofundar-se as análises das respostas
apresentadas pelos alunos na segunda sessão e, no dia 06 de março de 2017, a quarta e
última sessão. Como a primeira e a segunda sessão foram aplicadas no final do ano,
95
próximo aos exames finais dos alunos, retornou-se no ano seguinte, assim que a escola
iniciou o ano letivo para ser aplicado o segundo conjunto de perguntas-modelo.
Na realidade, a terceira e a quarta sessão poderiam ser uma única, mas foi
necessário realizar essas duas sessões por conta dos alunos que foram divididos em
duas turmas distintas no ano posterior, sendo que metade dos alunos que se queria
reaplicar o protocolo estava em uma turma e metade na outra, além da grade horária
das aulas serem distintas. Todas as análises detalhadas serão apresentadas no Capítulo
4.
Levando em conta a análise do estudo piloto, partiu-se para a elaboração do
estudo final.
96
protocolo que não envolvesse atividades matemáticas, mas com perguntas dissertativas
sobre a forma como enxergam a disciplina de Matemática, a escola e o seu cotidiano.
Para a análise do estudo final, escolheu-se complementar com uma entrevista
semiestruturada (TRIVIÑOS, 1987, p. 146), na qual foi feito o estudo por meio dos
relatos verbais. Essa metodologia, segundo Luna (2007, p. 53), permite estudar as
representações de um indivíduo para ajudar a compreender a estrutura de suas ações.
Contudo, o autor alerta que, para utilizar tal tipo de método, é necessário ter o
embasamento de uma teoria forte o suficiente que permita realizar o elo entre o
diálogo e a ação. Entende-se que o embasamento teórico-metodológico feito por meio
da Teoria dos Modelos Organizadores do Pensamento, com o apoio das interpretações
das ações pela Teoria dos Campos Conceituais, é adequada para o propósito desta
pesquisa. Os resultados do estudo final podem ser verificados no Capítulo 5 da tese.
No próximo capítulo, serão detalhados os fundamentos da Teoria dos Modelos
Organizadores do Pensamento, que permitiu organizar os dados em perguntas-modelo
para a respectiva análise dos resultados do estudo piloto e, posteriormente, em
modelos, no estudo final.
97
CAPÍTULO 4
METODOLOGIA DE ANÁLISE DOS ESTUDOS PILOTO E FINAL
Montserrat Moreno, Magali Bovet, Genoveva Sastre e Aurora Leal são psicólogas e
escreveram um livro sobre a Teoria dos Modelos Organizadores do Pensamento (MORENO
et al., 2000c). Assim como Vergnaud, tiveram influências piagetianas para a idealização dessa
teoria, Bovet inclusive foi colaboradora direta do teórico suíço. No prefácio do livro, onde
desenvolve as ideias dos Modelos Organizadores, Moreno (2000a) descreve que, na
Psicologia, descobrir constantes é o que permite estudar a diversidade e, por criar referências
naquelas, adquirem um sentido. Porém, após a descrição da regularidade, as atenções passam
a focar-se nas mudanças, ainda mais quando se trata de seres humanos.
A autora discorre também que, na Ciência, há evidências de que as atenções se
voltam para a mudança e não mais para a constante. Exemplos disso seriam as teorias
evolucionistas de Darwin e o conceito de movimento e repouso, introduzido por Galileu, no
qual os dois conceitos adquirem a mesma condição, diferente daquela postulada na mecânica
da Antiguidade na qual o movimento era considerado uma exceção. Ou seja, a mudança passa
a ser aceita como parte de uma regularidade, tornando-se o próprio objeto de estudo.
Na Psicologia, o ser humano é visto como um ser que evolui, isto é, ele muda. Porém,
mesmo dentro desse cenário de mudança, algo permanece, criando uma complexidade para
98
analisar novos fenômenos oriundos da associação entre o que mudou e o que ficou. Mas,
como descrever e interpretar simultaneamente esses fatos? A teoria de Piaget não levava em
consideração esses fatores. Assim, criou-se a necessidade de trazer uma teoria que
contemplasse a incorporação do mundo externo pelo sujeito, ainda que esses conceitos sejam
prematuros, mas que, pouco a pouco, passam a ganhar sua complexidade própria, mesmo
partindo de um cenário estrutural comum à espécie. Em termos dos Campos Conceituais,
poder-se-iam chamar esses conceitos prematuros de conhecimentos-em-ação, pois partem de
um pressuposto comum ao sujeito, formado de experiências anteriores, mas não são conceitos
ainda formalizados.
Nessa nova teoria que buscavam, também deveria ser capaz de envolver o estudo do
funcionamento de sistemas complexos, incluindo tanto o pensamento individual quanto o
coletivo, interpretar o que é denominado como “cognitivo” como “afetivo”, além dos
pensamentos considerados como “científico” ou “cotidiano”. Para isso, as autoras afirmam
que foi necessário desenvolver uma visão pluridisciplinar para permitir a visualização, por
amplos espectros, dos fatores que estão ligados ao desenvolvimento cognitivo de um sujeito.
Buscaram ainda, criar uma teoria funcional que permitisse abordar os procedimentos adotados
pela mente na construção e apropriação de conhecimentos e quais tipos de mecanismo
implicaram em tais mudanças.
Para contemplar essas complexidades, uma referência utilizada pelas autoras para
desenvolver a Teoria dos Modelos Organizadores foi a dos Modelos Mentais de Johnson-
Laird. Este que é autor da obra “La theorie des modeles mentaux” (1993) e, segundo Moreira
(2002), os Modelos Mentais são formas de estruturar estados gerais de como um sujeito
observa o mundo. Isto é, são operações mais gerais do pensamento. Moreno (2000b, p. 37)
também complementa dizendo que, em termos de processos cognitivos, os Modelos Mentais
são fundamentais para a construção do raciocínio, já que este consiste da manipulação das
representações do mundo por um sujeito. Porém, esses modelos podem ser temporários em
alguns casos e, portanto, maleáveis. Ou seja, um Modelo Mental nunca é definitivo, mas
essencial para a construção do pensamento.
A teoria dos Modelos Mentais também possui uma aproximação teórica com os
Campos Conceituais de Vergnaud em termos cognitivos, mas diferem-se na especificidade do
tratamento do pensamento, pois, no caso dos Campos Conceituais, tratam-se das
representações de operações específicas para uma situação didática. Sendo assim, os Modelos
Mentais de Johnson-Laird parecem ter semelhança em termos de invariantes operatórios, mas
seus construtos mentais possuem características temporárias, enquanto para Vergnaud, esses
99
invariantes que passam a ser os esquemas, são mais estáveis, pois se tratam de classe de
situações de um conhecimento.
Observa-se que, ao incorporar aspectos como as representações da psicogênese do
sujeito, fruto do trabalho de Piaget, somadas às características dos Modelos Mentais, os
Modelos Organizadores constituem-se em uma teoria que ajuda a estruturar e dividir as
respostas de um sujeito de acordo com os novos dados obtidos. Ou seja, conforme ele
assimila novos fenômenos ou informações, modifica-se o seu modelo anterior, cria
semelhanças e diferenças transformando em um novo conhecimento até que ele se estabilize e
crie uma regra específica para uma dada situação. Em termos dos Campos Conceituais, são os
chamados de teoremas-em-ação, que são as ações implícitas ligadas a outras específicas como
os conhecimentos teóricos e científicos. Porém, as autoras alertam que essa teoria, por ter uma
característica funcional, não se preocupa em analisar a verdade dentro das respostas do sujeito.
Ela não foi criada com este intuito. Porém, como há o interesse em trabalhar com os Campos
Conceituais de Vergnaud que, por outro lado, não contempla em sua teoria uma forma
funcional de analisar os esquemas e as classes de situações, os Modelos Organizadores
parecem ser uma ferramenta que auxilia na organização e na estruturação de possíveis
invariantes operatórios dos estudantes no aprendizado de conceitos algébricos em Matemática.
Portanto, a principal inovação que caracteriza a teoria dos Modelos Organizadores consiste na
criação de modelos a posteriori, ou seja, partindo de procedimentos e representações dos
próprios alunos (nível individual) criam-se evidências de uma organização em comum de um
certo grupo (nível coletivo). Isso promove a criação de parâmetros e constantes que permitem
analisar de forma generalizada o que partiu de um indivíduo.
Esses modelos, como mencionado no tópico anterior, são maleáveis. Podem mudar
de um sujeito para outro, interconectar-se ou até mesmo dividir-se em submodelos. Por isso,
há riqueza na interpretação de dados. Embora, para quem faz pesquisa, seja sempre
gratificante obter o maior número possível de informações, ao mesmo tempo, sabe-se o
quanto se demanda de energia para organizá-los. Quando se está diante dos dados coletados,
principalmente quando esses dados são subjetivos, como uma resposta dissertativa de um
estudante, é muito difícil encontrar algo em comum para que possam ser agrupados em uma
categoria. Quando se trata da disciplina de Matemática, seria suficiente analisar apenas o
resultado final de um exercício proposto para afirmar que este aluno compreendeu a teoria?
Existem outras variáveis que podem tornar uma resposta, aparentemente correta, como
inválida? São essas variáveis que se quer tratar nesta análise. Mesmo que um aluno chegue a
um resultado correto ou não, seus conhecimentos e conceitos-em-ação possuem uma riqueza e
particularidade que não são necessariamente iguais entre duas pessoas. Ou seja, partir do
individual para analisar um coletivo.
Portanto, o objetivo foi analisar todas as respostas dos estudantes e criar categorias
que evidenciem o seu modelo de pensamento, ou seja, as classes de situações pertencentes aos
conhecimentos em Álgebra que cada um desses alunos mobilizou e o que difere de um aluno
para outro. Porém, para evidenciá-las, seria necessário fazer um acompanhamento linear e
individual de cada aluno, para definir um modelo. E, como se trata de conceitos teóricos, seria
necessário estabelecer alguns pré-requisitos de conhecimentos para que essa análise fosse
viável. Logo, optou-se então por criar as perguntas-modelo. Ou seja, criar um conjunto de
perguntas, por tipo de respostas dos estudantes e, partindo de um mesmo tipo de dúvida,
analisar sua progressão em resposta à pergunta-modelo.
As perguntas-modelo foram geradas de acordo com a resolução que o estudante
apresentou. Ou seja, analisa-se o tipo de solução e, caso não tenha chegado à resposta correta,
cria-se uma pergunta que pode ajudá-lo a interpretar o problema por um outro viés. Quando é
verificado que o tipo de dúvida é semelhante, utiliza-se a mesma pergunta-modelo. Caso
contrário, cria-se outra. Obviamente, trata-se de uma interpretação subjetiva, feita por meio de
comparação das respostas, e as perguntas foram geradas apoiando-se numa experiência
anterior, como docente, com alunos desta faixa etária. Não se pretende criar um método pré-
determinado para classificação das respostas, pois esse não seria o intuito da própria Teoria
dos Modelos Organizadores do Pensamento. A riqueza da interpretação consiste em
categorizar os dados somente a posteriori, ou seja, os resultados da coleta de dados são os que
levarão aos padrões de categorias para análise. Por trabalhar-se com a cognição, esse método
101
é mais relevante por levar em conta detalhes subjetivos trazidos pelos dados coletados, já que
não se pode esperar a priori quais tipos de respostas poderão ser apresentados, tampouco
interpretar de forma objetiva o nível cognitivo, tais como esquemas e invariantes operatórios.
Quadro 4.1 – Quadro com a associação dos campos conceituais envolvidos em cada habilidade,
sub-habilidade e a série de atividades.
perguntas-modelo para verificar possíveis mudanças naqueles que ainda não encontraram a
resposta correta das atividades correspondentes.
Entre as cinco habilidades testadas, foram geradas 99 perguntas-modelo sendo 84
pertencentes ao primeiro conjunto e 15 ao segundo conjunto. No quadro a seguir, é possível
observar as séries, a quantidade de perguntas-modelo e os campos conceituais envolvidos. A
versão completa deste quadro, com as respectivas relações entre habilidades e conceitos, pode
ser consultada no anexo B.
Quadro 4.2 - Quadro com a associação da quantidade de perguntas-modelo por série e os respectivos campos
conceituais envolvidos.
As séries que tiveram esse resultado são aquelas cuja soma da primeira e segunda
aplicação são maiores que o total de perguntas-modelo únicas.
Dentre essas habilidades, a que mais gerou perguntas-modelo foi a habilidade
referente à Série V. Esta série consiste em verificar a capacidade de generalização de
processos e a habilidade de transferir um método de operação já desenvolvido anteriormente
para outra com condições similares. Em termos dos Campos Conceituais, essa série também
envolve os conhecimentos de estruturas algébricas; confirmando-se hipóteses iniciais sobre os
obstáculos dos estudantes estarem relacionados aos processos de generalização e abstração.
Porém, também identificou-se que muitos dos estudantes apresentaram grandes dificuldades
de interpretação de texto para que pudessem prosseguir com instruções simples para realizar
as atividades. Sendo assim, não se pode afirmar com clareza se as dificuldades estão mais
ligadas ao processo de raciocínio matemático, de leitura ou uma combinação de ambos. A
seguir, serão mostrados os exemplos ilustrando algumas das dificuldades encontradas. Serão
analisadas as habilidades do tópico que mais gerou perguntas-modelo.
1
O código utilizará a seguinte formatação: número da habilidade-série-letra por ordem alfabética.
105
Quadro 4.3 – Perguntas-modelo geradas neste tópico e divididas por quantidade de alunos que se
encaixaram em cada pergunta-modelo, respectivamente, na primeira e segunda aplicação.
Nº de Nº de
Código Perguntas-modelo estuds. estuds.
(1ª aplic.) (2ª aplic.)
Aplique a distributiva nesta expressão (1 + 3)(1 + 3) e depois
H2-V-A nesta expressão (a + b)(a + b). Você consegue descobrir a 8 2
fórmula do quadrado da soma de dois termos?
H2-V-B Confira se você aplicou a distributiva em todos os termos. 3 0
O que te faz concluir que esta conta está montada de forma
H2-V-C 1 0
correta?
2
Nesta pesquisa, foi adotada, de forma arbitrária, o gênero masculino para se referir a todos os estudantes
pesquisados.
107
Veja-se outro exemplo na figura 4.2. Pode ser verificado um equívoco semelhante
ao da figura 4.1, no qual a multiplicação !×! e (×( resultam, respectivamente, em 2! e
2( . No entanto, é possível observar que este estudante consegue juntar os termos
semelhantes !(, mas também comete o equívoco de juntar termos diferentes como 2! e 2(
resultando em 4!( . É possível que o estudante tenha deduzido esse raciocínio pela
semelhança de termos para que pudesse realizar a soma algébrica entre eles.
Figura 4.6 – Resposta estudante 10: 1ª tentativa da atividade B1 (1ª parte) – Série V.
Figura 4.7 – Resposta estudante 10: 1ª tentativa da atividade B1 (2ª parte) – Série V.
O estudante 13 (figura 4.11), por outro lado, embora não tenha sido classificado
nos códigos de perguntas-modelo H2-V-A e H2-V-B, entre todos os alunos, foi um dos
que mais se aproximou da resposta correta. Ele teve a mesma dificuldade de não
considerar os termos !( e (! como termos semelhantes, mas diferente do estudante 27
(figura 4.1), aplicou corretamente a operação !×! = !- e (×( = ( - . Também
apresentou a mesma dificuldade de aplicar a distributiva no item B.
113
Figura 4.11 – Resposta estudante 13: 1ª tentativa da atividade B1 (1ª parte) – Série V.
Figura 4.12 - Resposta estudante 13: 1ª tentativa da atividade B1 (2ª parte) – Série V.
Figura 4.13 – Resposta estudante 11: 1ª tentativa da atividade B1 (1ª parte) – Série V.
Figura 4.14 – Resposta estudante 11: 1ª tentativa da atividade B1 (2ª parte) – Série V.3
Embora não seja uma solução “elegante” e não tenha chegado à resposta correta,
por meio dessa explicação da segunda parte, é possível notar uma melhor compreensão
das estruturas algébricas. Se, numa situação hipotética, for analisada apenas a resposta da
primeira parte da atividade, podería-se afirmar, de forma equivocada, que o nível de
compreensão do estudante 11 seria o mesmo de outros estudantes que não aplicaram a
definição do quadrado da soma de dois termos. Porém, com dois tipos de atividades, nos
quais o aluno é colocado para expor o seu raciocínio de formas diferentes (numérica e
verbal), pode-se ter uma visão mais detalhada dos esquemas que o aluno mobiliza para
resolver uma atividade. Por isso, é importante variar os tipos de atividades para avaliação,
como é relevante criar uma metodologia que permita analisar essas respostas e, a partir
delas, mudar as estratégias didáticas necessárias para uma melhor compreensão a respeito
das estruturas algébricas.
3
Transcrição das respostas da figura 4.14:
Item 1: “Se fizermos (! + ()- não seria o mesmo que ! - + ( - , pois no ! - + ( - não poderíamos somar, pois
são termos diferentes. Mas (! + ()- poderíamos obter a multiplicação”.
Item 2: “Não poderíamos realizar a soma, pois os termos são diferentes, assim como não poderia misturar
banana com abacate, mas sim banana com banana”.
115
Neste exemplo (figura 4.15), verifica-se algo semelhante feito pelo estudante 21
(figura 4.8), com a diferença de que, considerando o protocolo deste aluno como um todo,
aplica-se a pergunta-modelo código H2-V-A na segunda aplicação, mas não houve
alteração da resposta. No entanto, observa-se que este estudante conclui que o item a e 1
são iguais e acaba por ignorar dois termos que originariam por meio da aplicação correta
da distributiva (!( 1 (!). O mesmo tipo de resposta foi encontrado no estudante 24
(figura 4.16).
Nos códigos H2-V-C e H2-V-D, não houve nenhuma alteração nas respostas em
contato com essas perguntas-modelo (figuras 4.17 e 4.18). Basicamente, baseado no que
foi desenvolvido na primeira parte da atividade, esperava-se que o estudante pudesse
detalhar o motivo que o levou a concluir que os itens a e b são equivalentes aos itens 1 e
2, respectivamente. Além disso, verificar o que significa afirmar “Porque a conta está
montada de forma correta”. Porém, não houve sucesso nesse intento.
Verbalmente, com alguns esquemas, o estudante explica (figura 4.25): “No item
a, temos o quadrado (! + ()- , da soma (! + ()- de dois números (! + ()- . O
parênteses nos indica que temos que multiplicar os dois (sic)”. O raciocínio está correto,
considerando que a afirmação “multiplicar os dois” é referente ao termo (! + ()
121
multiplicados entre si, embora não seja uma resposta formal ou elegante. No entanto, é
possível notar que há uma compreensão, ao menos aplicada, do que se trata a fórmula do
quadrado de dois termos. O estudante 26 (figura 4.26) também fez a mesma observação,
mas não explicou detalhadamente sua conclusão.
O próximo código que será analisado é o H2-V-I, aplicados tanto para a atividade
B1 quanto a B2. Embora a pergunta-modelo tenha sido gerada para oito estudantes, ela é
semelhante ao código H2-V-H, porém, o principal objetivo desta pergunta-modelo é
verificar se os estudantes percebem a diferença entre as expressões (! + ()- e !- + ( - .
Veja-se a resposta do estudante 5 (figura 4.27) na primeira tentativa de resolução do
protocolo. Ele responde: “Eu já vi isso, mas não me lembro”.
Depois que obteve uma dica por meio da pergunta-modelo H2-V-I (figura 4.28),
houve um progresso na segunda tentativa, no qual é possível observar que há um intento
de realizar o método da distributiva na própria expressão algébrica dada, mas faltou
concluí-la juntando os termos semelhantes !( e (!. Além disso, também não elevou o
último termo ( ao quadrado. No caso dos termos semelhantes, há uma hipótese de que o
aluno tenha dúvida de considerá-los como termos semelhantes. Algo muito comum entre
os alunos dessa faixa etária em Álgebra, o que torna a resolução de equações algébricas
122
Embora a resposta tenha sido muito semelhante aos estudantes 2 (figura 4.24) e
26 (figura 4.26), foram aplicados diferentes códigos de perguntas-modelo analisando o
conjunto do protocolo resolvido por cada um deles. No caso do estudante 23 (figura 4.29),
avaliou-se a possibilidade deste ser capaz de resolver a atividade se fosse exemplificado
com casos numéricos em vez de algébricos. No entanto, não houve alteração da resposta
na segunda tentativa. Muito provavelmente, as dificuldades são anteriores às estruturas
algébricas.
123
Observa-se que o mesmo problema ocorre com o estudante 16 (figura 4.34), mas
este vai um pouco mais adiante e assume alguns valores hipotéticos como proposta para
125
resolução. No entanto, é possível notar que ele não consegue estruturar sua resposta para
explicar a diferença entre os itens da primeira parte da atividade e a segunda.
Figura 4.42 – Resposta estudante 20: 1ª tentativa da atividade B1 (2ª parte) – Série V.
primeira parte da atividade B1. Na justificativa da segunda parte, fica evidente que o
estudante 20 não tem clareza das estruturas algébricas como o estudante 11.
Esquemas
Campo
Conteúdo mobilizados para o Exemplo de dúvida principal referente ao
Conceitual
principal domínio deste esquema
envolvido
conteúdo
Multiplicação de
Confundir 2 ∙ 3 com 22 .
dois termos iguais.
Estrutura
multiplicativa Multiplicação entre Não perceber que a multiplicação
a soma de dois (1+3)(1+3) pode representar uma operação
termos. equivalente a 1+3+3+9.
Multiplicação de
Confundir ! ∙ ! = ! - e representar como
dois termos
! ∙ ! = 2!.
algébricos iguais.
Soma de termos
algébricos Somar ! + ( e resultar em !(.
diferentes.
Confundir a soma de termos iguais como
Distributiva Soma de termos
!( + !( e multiplica-los resultando em
algébricos iguais.
!- (- .
Multiplicação entre
Estrutura Aplicar apenas os expoentes nos termos
a soma de dois
algébrica entre parênteses (! + ()- = ! - + ( - .
termos algébricos.
Comutatividade na
multiplicação de
Não considerar ! ∙ ( = !( e ( ∙ ! = (!.
dois termos
algébricos.
Compreensão da Compreender que o conteúdo dentro dos
função dos parênteses deve ser considerado como um
parênteses. termo único.
Compreensão do
Acreditar que o coeficiente de uma variável
coeficiente de uma
4 é sempre 1.
variável.
Fonte: a autora.
Portanto, por meio da análise do tópico H2-V (Generalização de conceitos
matemáticos com sistema de problemas de um único tipo), encontraram-se alguns
esquemas mobilizados pelos estudantes, referentes ao conteúdo de distributiva.
Obviamente, o nível de mobilização de cada esquema variou de um aluno para outro, no
qual serão aprofundados na análise do estudo final.
Assim, no próximo capítulo, será apresentada a forma como o estudo final foi
elaborado, baseando-se nesses resultados do estudo piloto, para tentar verificar os
diferentes níveis de invariantes operatórios mobilizados por cada um dos alunos
estudados.
131
CAPÍTULO 5
ANÁLISE DO ESTUDO FINAL
Baseando-se nos resultados obtidos no estudo piloto, partir-se-á para uma análise
qualitativa mais detalhada de um grupo seleto de estudantes. No caso, foi optado pela separação
em três grupos:
Quadro 5.1 – Quadro descritivo dos grupos de estudantes do estudo final.
O estudo final foi aplicado em meados de outubro de 2017, com duração de,
aproximadamente, três semanas, que compreende a entrega dos TCLE (Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido) aos responsáveis pelos estudantes e o retorno desses termos
assinados. A aplicação efetiva das atividades durou cerca de duas semanas, que foram feitas
durante as aulas de Matemática, com a autorização do respectivo professor responsável pela
turma. Após a finalização da aplicação, a análise desses dados ocorreu da seguinte forma:
modelos organizadores apenas de modelo X, sendo que X corresponde aos nomes originados
das análises do conjunto de resolução dos estudantes, por grupo.
A entrevista semiestruturada foi crucial para compreender, com um pouco mais de
detalhes, o raciocínio e as estratégias utilizadas para desenvolver a atividade. Muitas vezes,
observar apenas a resolução dos estudantes não permite trazer muitas informações sobre os
esquemas e invariantes operatórios utilizados. Porém, por meio do diálogo, é possível ter um
pouco mais de profundidade e clareza de nossas hipóteses sobre as dificuldades dos estudantes.
Também houve o cuidado de manter uma linguagem mais informal durante a entrevista, de
forma proposital, para que os estudantes ficassem menos intimidados para expressar suas
dúvidas ou desconhecimentos de eventuais termos técnicos apresentados nas atividades, já que
a presença de uma pessoa de fora da escola e a própria situação de entrevista cria uma apreensão
nos alunos.
$ "
A1 A3 "
"
A4 A2
$ $
$ "
a. (2 + 1)&
b. (3 + $)&
c. (54 + 5)&
Durante a análise das resoluções, verificou-se qual seria a opção preferida pelos
estudantes desse grupo. Dessa forma, podería-se traçar um paralelo de quais invariantes
operatórios são comumente desenvolvidos para os estudantes que se encontram nessa fase
escolar. Vale ressaltar que, independentemente da estratégia adotada, eles deveriam ser capazes
de responder à seguinte pergunta, que leva à atividade 2:
Considerar que essas expressões significam a mesma coisa é um erro muito comum
cometido pelos estudantes e, por isso, tentou-se elucidar distintas estratégias de resolução para
que essas diferenças ficassem mais claras ao aluno. Mais adiante, as resoluções apresentadas
pelos estudantes serão comentadas.
1
Exemplos desses erros podem ser encontrados em Kikuchi e Trevizan (2010).
136
3 9
+ 3
4 2
Em termos práticos, isso significa que 39 são formados por 3 dezenas e 9 unidades. Se
somamos com 3 unidades, o resultado é formado por 4 dezenas e 2 unidades. Pois cada
dezena representa 10.
Esse tipo de atividade foi escolhido, pois, no estudo piloto aplicado a esses alunos,
constatou-se que houve muita dificuldade para compreender a composição dos sistemas
decimais. Para verificar os níveis dos esquemas desses estudantes, foram apresentadas as
seguintes perguntas-modelo para ajudá-los a resolver a questão:
A primeira pergunta foi formulada para os alunos que sequer iniciaram a resolução para
que, no segundo dia de aplicação, tentassem resolvê-la. Nesse caso, alguns alunos obtiveram
sucesso em resolver parcialmente a questão passando para a segunda pergunta-modelo e
passaram para um terceiro dia de aplicação do estudo piloto.
No caso da segunda pergunta, seria para aqueles estudantes que conseguiram resolver
parcialmente a questão, mas não completaram até o final. Veja-se um exemplo de uma
resolução incompleta feita pelo estudante 20:
Figura 5.2 - Resposta estudante 20: Primeira tentativa da atividade B - Série IX (estudo piloto).
137
Figura 5.3 -Resposta estudante 20: Segunda tentativa da atividade B - Série IX (estudo piloto).
Deve ser ressaltado, novamente, que tentou-se manter uma linguagem mais coloquial
nos enunciados das atividades para minimizar a barreira da compreensão de vocabulário técnico
na resolução dos exercícios. No momento da entrevista, também houve o cuidado de manter a
conversa em um tom mais informal, para não intimidar o aluno numa eventual falta de
compreensão de um termo técnico. Embora a compreensão de termos técnicos também tenha
correlação com o aprendizado de Matemática, neste estudo, tentou-se afastar esse tipo de
obstáculo para focar-se, majoritariamente, no raciocínio lógico e algébrico dos estudantes.
Por último, na atividade 5, houve uma atividade no estudo piloto que nenhum dos alunos
foi capaz de resolvê-la: definir uma fórmula geral dos números ímpares. Nesse caso, optou-se
por apresentar uma atividade semelhante, mas contendo um exemplo que ajudasse no
desenvolvimento da atividade pelos estudantes:
5. Números consecutivos são aqueles que vêm em uma sequência. E números inteiros são
os números naturais incluindo os números negativos.
Divisível significa que a divisão dá um resultado com resto zero. Por exemplo: 12 é
divisível por 4, pois:
12
=3
4
Sabendo dessas definições, prove que a soma de três números consecutivos inteiros
quaisquer sempre é divisível por 3.
O resultado dessa atividade foi bem positivo, já que todos os alunos deste grupo foram
capazes de responder corretamente a atividade durante a entrevista. Obviamente, houve
138
diferentes níveis de dificuldades entre os estudantes, mas cada um deles desenvolveu uma
técnica própria para compreender e chegar ao resultado esperado.
O Grupo 2 foi representado por estudantes que, embora possuíssem dificuldades dos
mesmos conceitos do Grupo 1, evidenciaram mais obstáculos na compreensão do conceito de
Álgebra elementar. Assim, as atividades foram direcionadas para verificar, passo a passo, a
compreensão dos conceitos de equação e incógnita.
Nesse caso, além do protocolo escrito e uma posterior entrevista semiestruturada,
também foi utilizado o auxílio de um jogo, em forma de aplicativo para dispositivos móveis,
como o Jabara2 da plataforma Mangahigh, desenvolvida pela empresa britânica Blue Duck
Education.
2
Na época da aplicação (2017), este jogo estava disponível para a plataforma Android e poderia ser baixado e
instalado, gratuitamente, pela Google Play. Na época de conclusão desta pesquisa, o jogo passou a estar disponível
apenas na versão online no endereço: https://www.mangahigh.com/pt-br/algebra.
139
4 =2+2
4 =2+4
4 = 10 + 2
140
4. Os números “3”e “7” são “constantes”. Ou seja, qualquer número por si só é chamado
de “constante”. Encontre o valor de 4 na equação abaixo.
4 =3+7
5. O que você resolveu até agora chamam-se “equações”. Uma equação mostra que duas
coisas são iguais. Veja:
4 = 12
a. O 4 é igual a qual valor?
b. Tente representar uma soma que dá o mesmo valor de 4 do item a.
É possível observar que a atividade tem pouca variação quanto à resolução propriamente
dita, mas guarda significados de compreensões de diferentes níveis. Uma resolução mecânica
na qual se faz apenas a soma dos valores de um lado da igualdade ou até mesmo o algoritmo
do “isola o x para um dos lados da igualdade”, pode não ter significado algum para o aluno se
ele não compreendeu a essência da noção de igualdade. Mostrar-se-á, no item 5.3.2, uma das
entrevistas na qual um dos estudantes apresentou essa dificuldade.
Após a resolução dessas atividades, espera-se que o aluno tenha compreendido o
conceito de igualdade em uma equação e, então, que seja capaz de determinar se as equações
apresentadas na atividade 6 são verdadeiras ou falsas.
a. 6 + 3 = 9 ( )
b. 14 = 7 + 7 ( )
c. 3 + 3 = 1 + 5 ( )
d. 1 + 4 = 2 + 3 ( )
e. 13 + 3 = 6 ( )
balança. No caso de encontrar um valor de uma variável, não importando o lado da igualdade,
ela deve ser isolada para encontrar-se o valor correspondente por meio da igualdade.
Na atividade 7, concentrou-se a ideia de operações com números negativos. Operações
com esses tipos de números geram dúvidas nos estudantes, principalmente, por misturar as
regras de sinais da multiplicação com a de adição, memorizadas de forma automática, sem a
real compreensão das operações. Por exemplo, um erro muito comum que foi encontrado é em
relação à regra de sinal “+ com – resulta em –” que é aplicada de forma equivocada na seguinte
operação gerando as seguintes soluções:
Exemplo 1: 2 + −8 = −10
Exemplo 2: 8 + −2 = −10
Nesses casos, nota-se que ambos apresentam o resultado incorreto. O estudante que faz
esse tipo de resolução aplica a regra de sinais, de forma separada, e os números das operações
trabalhadas em módulo3. Ou seja, 2 + 8 = 10 e depois aplica-se a regra de sinais da multiplicação.
Entrar-se-á em mais detalhes no item 5.3.2, na análise do estudante 6.
Assim, a atividade 7 foi dividida em várias partes e apresentadas da seguinte forma:
7. Quando você soma um número positivo com um negativo, você está aplicando uma
subtração. Veja:
7 + −2 = 7 − 2
a. 2 + −2 =
b. 5 + −3 =
c. 8 + −5 =
d. 33 + −12 =
e. 2 + −8 =
3
Valor absoluto de um número sem o número negativo.
142
– 2 + 5 =
4+2=5
Você precisa isolar o 4, ou seja, deixar um lado da igualdade apenas com o 4 e o outro
lado apenas com constantes. Para fazer isso, você precisa eliminar (zerar) a constante
do lado em que está o 4. Veja:
4+2−2=5−2
4+0=5−2
Perceba que quando eu subtraio uma constante dos lados da igualdade, eu tenho que
fazer o mesmo do outro lado. Por isso, subtraímos 2 do lado onde está o 5.
Agora faça o mesmo com as equações a seguir. Apresente o passo a passo do processo
para encontrar o 4.
a. 4 + 12 = 20
b. – 6 + 4 = 30
143
No caso do Grupo 3, foi feita apenas a entrevista semiestruturada, sem relação direta
com atividades envolvendo o conteúdo de Matemática, que se permitiu elucidar as preferências
e anseios dos alunos em relação à suas disciplinas e, assim, encontrar meios que nos
permitissem compreender as dificuldades ou bloqueios existentes em relação à disciplina de
Matemática. Também procurou-se identificar afinidades existentes entre as atividades de lazer
e se seus hábitos do cotidiano, com os seus familiares, podem interferir na possível dificuldade
ou medo em relação à disciplina de Matemática. No estudo piloto, esses alunos expressaram
suas angústias em não poder responder as questões, o que se chamou atenção, e, por isso,
aplicou-se um estudo, que não envolvesse necessariamente a resolução de problemas
matemáticos, mas a forma como os estudantes que possuem esses “bloqueios emocionais”
respondem à entrevista semiestruturada como no questionário a seguir.
QUESTIONÁRIO
Os três estudantes4 que fizeram parte desse grupo foram os que foram nomeados como
3, 13 e 20 desde o estudo piloto.
Escolheram-se esses três estudantes para representar o Grupo 1 baseando-se nos
seguintes critérios:
1. Resolveram todo o protocolo do estudo piloto;
2. Após o contato com as perguntas-modelo do estudo piloto, conseguiram
elaborar ou melhorar as suas respostas;
3. Apresentaram receptividade para dar continuidade à próxima fase da pesquisa.
Outros pontos que justificaram a escolha de apenas três estudantes para cada grupo
foram:
1. Tempo disponibilizado pelo professor e a escola para aplicação das
atividades
O professor de Matemática disponibilizou a intervenção durante as suas
aulas, permitindo a saída dos estudantes para um outro ambiente para que fosse
possível conduzir a aplicação da atividade de forma tranquila e assertiva.
Dependendo do dia da aula, esse tempo variava entre 50 minutos a uma hora e
40 minutos de aula.
Como os alunos são retirados da sala, foi combinado com o professor de
que os mesmos não seriam prejudicados durante a ausência em sua aula, caso
houvesse a entrega de alguma atividade avaliativa.
Outro ponto nevrálgico foi adaptar o nosso calendário de andamento da
pesquisa com o da escola, que possui, durante o ano, atividades extracurriculares,
como feiras, passeios, reuniões de pais e mestres que poderiam conflitar com o
cronograma da pesquisa.
4
Convencionou-se por adotar o gênero masculino para referir-se aos estudantes.
145
sala ficaria vaga por um período, mas depois seria ocupada. Consequentemente,
dever-se-ia fazer a transferência para uma outra sala.
Outro ponto importante é que, por tratar-se de uma pesquisa voluntária,
não foi possível controlar as ausências dos estudantes que, muitas vezes,
atrasava a aplicação do protocolo e da respectiva entrevista. Se fosse aplicado
com um número muito grande de estudantes, não seria possível concluir, no
tempo hábil, as atividades ou deixar-se-ia um intervalo muito longo entre a
resolução do protocolo com a entrevista, o que comprometeria a viabilidade de
análise das respostas dos alunos.
Por conta desses critérios, escolheu-se, de forma muito restrita, o número de alunos que
fariam parte de cada grupo do nosso estudo final. No entanto, após a análise das entrevistas,
acredita-se que os perfis de cada aluno são representativos para as questões que se propôs a
analisar.
Conforme descrito no quadro 5.1, o perfil dos estudantes do Grupo 1 são aqueles que
apresentaram um bom desempenho no estudo piloto, ainda que tenham evidenciado uma ou
outra dificuldade para solucionar alguns problemas. Nesse grupo, identificaram-se
características de estudantes que, no geral, apresentam de razoável a bom desempenho em
Matemática, comparado ao restante da turma.
Nos subtópicos a seguir, elaborou-se alguns modelos que foram identificados nos
estudantes quanto à resolução do protocolo sobre o conceito de distributiva.
mesmo durante o estudo piloto, todos eles apresentaram uma resolução incompleta ou com
algum equívoco de cálculo, conforme apresentado no quadro 4.4 do capítulo anterior.
A diferença entre o estudo piloto e o final consiste na apresentação das formas de
desenvolver a expressão (" + $)& . No estudo piloto, pedia-se apenas para que as expressões
fossem desenvolvidas aplicando-se o princípio de produto notável: o quadrado da soma de dois
termos.
a. (" + $)& =
C
b. (1 + "D $ & )& =
&
5
P: Fala da pesquisadora.
6
E13: Fala do estudante 13.
147
P: Ok. Então, na regra aqui, você vai multiplicar todo o primeiro termo pelo outro primeiro
Linha 38 termo, não é? Será que está todo mundo multiplicado no que você fez aqui? Você colocou
como 25x.
Linha 39 E13: 5x ´ 5x, dá 25... aí depois 5x ´ y para 5... xy?
Linha 40 P: Aham.
Linha 41 E13: Aí depois y ´ 5x que é o 5xy...
Linha 42 P: Aham.
Linha 43 E13: y ´ y que é o y ao quadrado.
Linha 44 P: Isso. Mas e o 5x ´ 5x? Está todo mundo multiplicado?
Linha 45 E13: Não.
Linha 46 P: O que não está multiplicado?
Linha 47 E13: Agora eu não entendi.
Linha 48 P: Aqui, olha: você multiplicou o 5 com o 5, certo?
Linha 49 E13: Sim.
Linha 50 P: Deu 25. E o x? O x ´ x é quanto?
Linha 51 E13: É o x ao quadrado.
Linha 52 P: Aham.
Linha 53 E13: Ah! Entendi! Aqui. Tem que ter “ao quadrado”.
Linha 54 P: Isso. É.
Linha 55 E13: Ah, entendi.
Linha 56 P: Certo.
Linha 57 E13: São dois termos.
Linha 58 P: Isso. São dois termos juntos que está formando um termo só. Está certo?
Linha 59 E13: Dois termos que formam um.
No estudo piloto, esse mesmo estudante tinha dúvidas sobre o esquema envolvendo a
comutatividade na multiplicação de dois termos algébricos. Observe-se a figura 5.7:
148
Comparando as respostas das figuras 5.6 e 5.7 nota-se que esse estudante já compreende
o esquema de comutatividade. Isso é perceptível no trecho do diálogo anterior com esse aluno,
nas linhas 38 a 41.
Observa-se, no segundo negrito, que o estudante automaticamente faz a comutação da
posição do y para obter o termo 5xy (primeiro negrito), o mesmo obtido na primeira
multiplicação. No estudo piloto (figura 5.7), ele não percebia a comutatividade do ab com o ba,
assim, acaba não somando esses termos, considerando-os como termos independentes. No
estudo final, o estudante 13 faz a soma dos termos corretamente, como é possível observar na
figura 5.6.
Houve um intervalo de aproximadamente um ano entre o estudo piloto e o estudo final.
Assim, nota-se que o estudante conseguiu desenvolver esse esquema, durante esse período.
No caso do estudante 3, que utilizou também a distributiva para desenvolver as
expressões dadas, houve um aproveitamento de 100% da atividade. Esse estudante também
apresentou dificuldades para somar termos iguais durante o estudo piloto. Observe as figuras
5.8 e 5.9:
Na figura 5.8 é possível observar o equívoco para somar os termos ab. Comparado ao
estudante 13, este parece não ter dúvidas sobre a comutatividade dos termos ab e ba. No entanto,
149
apresenta a soma como "$ & , seguido de um ponto de interrogação, denotando a dúvida em sua
resolução.
Já na figura 5.9 observa-se que a soma é feita corretamente e, por meio do seguinte
diálogo, durante a entrevista semiestruturada, comprova-se que não possui dúvidas em relação
a esse esquema.
Observa-se que, ao questionar o estudante como ele tem certeza de que o termo 5x
representa um único termo, mas não dois separados, ele pensa e responde que foi “intuição”.
Assim, é possível notar que, nem sempre, os conhecimentos adquiridos pelo aluno são
150
facilmente explicitáveis. O estudante pode até saber resolver corretamente o problema, pois já
fez um número suficiente de resoluções parecidas, mas não necessariamente consegue explicar
porque determinada regra funciona daquela forma. No período de um ano, talvez, esses dois
estudantes puderam retificar algumas dúvidas e, assim, são capazes de desenvolver melhor os
esquemas que lhes faltavam. Porém, há uma diferença do nível de compreensão de cada um
deles. Por isso, o desenvolvimento de esquemas e invariantes operatórios de cada estudante
varia de acordo com sua própria rede de conhecimento no qual se constrói de forma individual.
O estudante 20, em particular, foi muito produtivo para a pesquisa, em termos de
fornecer muitos detalhes para análise, já que demonstrou muita resiliência durante toda
atividade e, em nenhum momento manifestou apatia ou impaciência para chegar ao resultado
correto. Isso permitiu obter muitos pormenores do seu raciocínio, ao menos dos explicitáveis,
e gerar algumas hipóteses de como se pode trabalhar com alguns esquemas para favorecer a
compreensão de conceitos algébricos. Sua entrevista completa, como de outros estudantes,
poderá ser consultada no anexo. Nas próximas análises conterão apenas os trechos mais
relevantes.
Esse estudante, que optou pela aplicação do algoritmo do quadrado da soma de dois
termos, mesmo com o exemplo explicitado no próprio protocolo, ainda apresentou dúvidas no
desenvolvimento. Embora, comparado ao estudo piloto, seu desempenho tenha sido muito
melhor, percebe-se que ainda há um equívoco em uma parte de sua resolução. Observem-se as
figuras 5.10 e 5.11:
Vale ressaltar que foi cometido o mesmo equívoco no item a, do estudo final,
apresentando o resultado como 2 & + 12 + 1& , veja-se o diálogo:
Ao continuar a entrevista com o estudante 20, percebe-se que a dúvida estava no fato
da expressão estar sendo elevada ao quadrado, o que causava o equívoco de elevar todos os
termos ao quadrado. Ou seja, houve uma compreensão parcial de que a expressão (" + $)& ,
quando desenvolvida, gerava uma expressão com três termos. No entanto, havia um erro de
interpretação em relação ao termo central, que é multiplicar o primeiro e o segundo termo por
dois. Comparando as figuras 5.10 e 5.11, é possível observar que as dificuldades que esse
estudante apresenta são diferentes. Ou seja, o seu esquema se modificou no período de um ano.
Porém, não há ainda uma internalização completa do conceito do quadrado da soma de dois
termos comparado ao estudante 3, por exemplo. A justificativa dada pelo próprio aluno foi o
fato do exemplo ter apenas variáveis, dificultando a compreensão do algoritmo. Mais uma vez,
o modelo da Aritmética está fortemente presente nesse invariante operatório.
Outros conceitos que o estudante 20, em particular, apresentou dúvidas foi em relação
à soma de termos semelhantes. Por exemplo, se uma expressão como 9 + 6$ pode ser somada
para tornar-se um único termo (percebe-se aqui que há uma dúvida semelhante à que
153
7
Aqui se utiliza a noção de conceitos matemáticos.
154
O diálogo continua, no qual foi feto um processo passo a passo, para que o estudante 20
compreendesse qual seria a interpretação correta do algoritmo da soma do quadrado de dois
termos. Conforme mostrado no quadro 4.4, nota-se a dúvida sobre o esquema envolvendo a
multiplicação de dois termos algébricos iguais. Com isso, esse estudante demonstra em sua fala
a incerteza na diferença entre multiplicar por dois e elevar ao quadrado.
Algo interessante ocorre no final desse diálogo: o estudante afirma que a multiplicação
de y por y resulta em 5 & . No entanto, tem dúvidas quando a mesma operação é aplicada à
variável x. Ou seja, o estudante persiste com o conceito de que o x deve valer 1. Parece-lhe
difícil aceitar a ideia de que o x pode ser uma variável como outra qualquer. Ele carrega um
valor semântico especial nos problemas.
156
Observa-se pela figura 5.13 que o estudante foi desenvolvendo vários passos até chegar
ao resultado esperado. Foi pedido para que não fossem apagadas as soluções anteriores, para
fins de registro do estudo.
Na resolução da atividade 2, na qual pede-se para que os três estudantes explicassem se
(" + $)& é 7 8/987 :;/ "& + $ & , nota-se que a explicação dada pelos estudantes 13 e 20
(figuras 5.14 e 5.15, respectivamente) estão fundamentados na Aritmética. Já o estudante 3
(figura 5.16), usou um argumento de estrutura multiplicativa, embora sua resposta não seja
suficientemente esclarecedora.
157
Nos diálogos a seguir, cada um dos estudantes explica o que pensou baseando-se nas
respostas dadas na atividade 1:
No caso do estudante 20, por sua fala é possível notar uma insegurança na resposta
apresentada, diferente do estudante 3. Ele explica que, intuitivamente, as duas expressões têm
resultados diferentes, mas não sabe dizer exatamente o motivo. Quando se perguntou qual das
duas apresenta um resultado maior, ele passa a fazer o teste empírico comparando o
desenvolvimento das duas expressões e, finalmente, percebe que uma delas apresenta dois
termos idênticos, mas com um termo a mais do que o outro e, portanto, a expressão (" + $)& é
o que apresenta um resultado maior. Desse modo, as duas expressões são diferentes.
Aparentemente, o estudante 20 (figura 5.15) parece ainda influenciado pela atividade 1,
diferente do estudante 13 (figura 5.14), que ignorou completamente o desenvolvimento
algébrico e partiu direto para uma explicação Aritmética. Embora o novo invariante operatório,
desenvolvido na atividade 1, não esteja ainda totalmente evidente no estudante 20, há uma
diferença nos níveis desses dois estudantes.
160
Por último, o estudante 3 parece convicto de que o motivo das duas expressões não
serem iguais seria o fato de uma apresentar um termo a mais que a outra expressão. Ao ser
questionado sobre o caso dessas expressões serem diferentes, ele afirma que seria a ausência
dos parênteses em uma delas. Insistiu-se para que ele desenvolvesse melhor a sua resposta e,
com ligeira irritação na fala, responde que quando uma soma está dentro dos parênteses, é
necessário que todos os termos sejam multiplicados entre si, ou seja, ele se refere à distributiva
resultante da multiplicação dos (" + $)(" + $) resultando em "& + 2"$ + $ & enquanto a
expressão "& + $ & é resultante da multiplicação de " ∙ " + $ ∙ $. Em um momento do diálogo,
ele afirma que “falta o meio” na segunda expressão, demonstrando que compreendeu a
diferença entre as duas expressões pela ausência de um termo. A título de curiosidade, já que
não era o objetivo dessa atividade, perguntou-se qual delas apresenta um resultado maior.
Indicou-se para substituir os termos por números fictícios, assim como fez o estudante 13.
Assim, por meio dos cálculos, o estudante concluiu que seria a expressão que produz o trinômio.
161
Embora provar algebricamente já teria sido suficiente, por ter feito uma atividade similar
imediatamente antes, os três estudantes só se convenceram utilizando o modelo da Aritmética.
A melhor sugestão para resolver a atividade 2 seria usar a representação geométrica de
produto notável apresentada como exemplo na atividade 1 (figura 5.1). Verifica-se que, na
figura apresentada, os quadrados de lado " e $ estão contidos dentro do quadrado de lado " +
$. Logo, (" + $)& é maior que "& + $ & 8. Embora essa solução geométrica pareça mais intuitiva,
nenhum dos três estudantes sentiu-se confortável em utilizá-la. Segue suas respectivas falas a
respeito da abordagem geométrica:
Eu entendi, mas... é... por exemplo, eu tenho... uma amiga e ela não é muito
boa em geometria. Então, eu acho que isso aí só ia confundir mais (Estudante
3).
Muitas vezes, interpreta-se que a Geometria é mais intuitiva que a Álgebra, por utilizar
representações visuais, como figuras e esquemas 9 , para a compreensão de propriedades
matemáticas. No entanto, por meio das falas desses três alunos, é possível inferir que essa
interpretação nem sempre é verdadeira. Se a abordagem mais utilizada é a algébrica, o estudante
tenderá a associar os seus esquemas, ou até mesmo os algoritmos, no raciocínio algébrico. Por
isso, ressalta-se a importância de, na medida do possível, apresentar uma variedade de
interpretações e abordagens na resolução de problemas matemáticos.
8
Aqui estamos considerando apenas os valores de a e b positivos maiores que zero, já que estamos tratando de
medidas.
9
Nesse caso, referem-se aos esquemas como esboços de imagens, não no sentido de atividade cognitiva do sujeito,
portanto serão utilizadas a fonte itálica para diferenciá-la dos esquemas cognitivos.
162
No estudo piloto, foi constatado que muitos alunos ainda confundem o conceito de área
e perímetro de uma figura bidimensional, mesmo nos anos finais do Ensino Fundamental.
Inicialmente, é necessário que o estudante compreenda esses conceitos para posteriormente
aplicar os seus respectivos cálculos. Porém, é muito comum praticar-se a memorização de uma
série de fórmulas, sem pensar necessariamente nas propriedades que cada figura geométrica
possui. Por exemplo, no caso do quadrado, ele é um retângulo com uma característica especial:
tanto a medida de sua base quanto a da altura são iguais. Por esse motivo, a palavra quadrada
é utilizada também para outros tipos de representações na Matemática, tais como: elevar ao
quadrado ou números quadrados.
Por isso, nesta atividade 3, resolveu-se fazer as seguintes perguntas aos alunos. O intuito
era que eles fizessem a associação desses conceitos além da Geometria:
No caso do estudante 13, é possível notar que também há a presença desses três itens
anteriores, exceto pelo fato de que se confundiu ao explicar a definição de unidade com o
próprio conceito de quadrado.
Já no caso do estudante 20, há a presença desses três itens, mas nota-se uma insegurança
para explicar as suas respostas, comparado aos outros dois colegas. Observa-se que o estudante
tem a intuição de que há quadrados de tamanhos diferentes, mas existe uma hesitação para
definir qual é a principal característica de um quadrado. Ele apenas afirma que, se os lados
tiverem medidas diferentes, ele não pode ser chamado de quadrado e passaria a ser um retângulo.
É válido reforçar que, segundo a definição, o quadrado também é um retângulo, mas
com características especiais. Um retângulo genérico possui as medidas da base e da altura
diferentes. Portanto, um retângulo nada mais é do que um quadrilátero cujos ângulos de sua
base e altura formam noventa graus. Não se entrou nessa explicação com o estudante 20,
naquele momento da entrevista, para não desviar do objetivo principal da atividade, que era
definir o que são números quadrados. Mas, ressalta-se este comentário para alertar os
professores de Matemática que estiverem trabalhando tais conceitos geométricos com seus
alunos, para fortalecer essas definições, pois são dúvidas muito comuns entre os estudantes.
167
Por fim, no item C dessa atividade 3, após definir o conceito de quadrado, pela
explicação geométrica, os estudantes deveriam exemplificar três números quadrados.
Aqui, há um salto da compreensão geométrica para o conceito algébrico, no qual os
estudantes devem associar as características do quadrado para generalizar a definição de um
número quadrado. Deve ser lembrado que a medida de uma área cuja unidade é representada
por unidade (u) quadrada (u2), sendo a unidade (u) podendo ser representada por centímetros,
metros e seus múltiplos.
Portanto, os alunos deveriam representar com números que resultam de uma
multiplicação de dois termos iguais. Observem-se as suas respostas:
Linha 398 P: ((continuando a entrevista depois da pausa)) Bom, então qual a sua dúvida aqui?
Linha 399 E20: Números quadrados... Eu acho que, não sei por que, para mim é todo número
multiplicado por 2. O resultado multiplicado por 2.
Linha 400 P: Aham.
Linha 401 E20: Eu não sei se eu estou certa...
Linha 402 P: Humn, está...
Linha 403 E20: Mas eu... a única coisa que me vem à cabeça são os resultados da... da... de todo
número multiplicado por... De todo número não, né? Quero dizer, que esteja na tabuada
do 2.
Linha 404 P: Aham...
Linha 405 E20: Para mim, é um número quadrado, não sei porquê... Por ser par... Não sei... Não sei
explicar...
Linha 406 P: Pode ser, pode ser.
Linha 407 E20: Pode ser...
Linha 408 P: Aham. É a mesma dúvida da primeira atividade. Lembra quando eu te expliquei a diferença
entre o quadrado e o dobro?
Linha 409 E20: ((hesita um pouco)) Sim... sim!
Linha 410 P: Então, aí você...
Linha 411 E20: ...será que seria o dobro isso aí? ((Pausa)) Sim, eu fiz o dobro!
Linha 412 P: Sim, você fez o dobro. Para ser o quadrado seria como?
Linha 413 E20: ((Silêncio)) Número multiplicado por ele mesmo...
Linha 414 P: Ah... então está certo. Então corrija aqui embaixo. Não precisa apagar o que você fez. Quais
seriam os três exemplos de números quadrados?
Linha 415 E20: Tipo... Ahn... Vamos lá. ((pausa)) 4 × 4 é 16.
Linha 416 P: Aham.
Linha 417 E20: Então, um eu acertei! (rs)
Linha 418 P: Um você acertou, ok.
Linha 419 E20: Então... vou fazer aqui vai... Vou fazer de outro... um 9, por exemplo.
Linha 420 P: Isso!
Linha 421 E20: Que... é o quadrado de 3. E... deixo pensar... ((Silêncio)) 36! Que é o resultado do
quadrado de 6!
Linha 422 P: OK, perfeito, 36, isso aí!
da sua resposta, na figura 5.22. Sempre que possível, pediu-se aos participantes para que suas
respostas não sejam apagadas, para que permanecesse o registro para análise posterior.
É interessante notar que, em termos de invariante operatório, um conhecimento de uma
área (no caso, a Geometria) não se transfere imediatamente para outra (a Álgebra, por exemplo).
Por isso, é interessante o professor de Matemática trabalhar com conteúdos de diferentes
unidades temáticas10 (Álgebra, Geometria, Grandezas e Medidas, Probabilidade e Estatística),
não privilegiando apenas uma dessas unidades. O processo de construção dos esquemas e
invariantes operatórios é longo e, por isso, o aluno deve ser constantemente desafiado e
apresentado a diferentes tipos de raciocínio e conceitos, para que possa construir uma
diversificação de habilidades necessárias para resolução de problemas.
Por exemplo, no estudo piloto, aplicado em 2016 com esses mesmos estudantes, foi
possível verificar as dificuldades de compreensão do conceito de área e volume em uma das
atividades, conforme os exemplos a seguir:
Figura 5.23 – Resposta estudante 3: Primeira tentativa da atividade A – Série VII (estudo piloto).
10
Esta nomenclatura é utilizada na atual BNCC (Base Nacional Curricular Comum) de 2017. No PCN (Parâmetros
Curriculares Nacionais) de 1997, era conhecido como bloco de conteúdos e categorizados da seguinte forma:
Números e Operações, Espaço e Forma, Grandezas e Medidas e Tratamento da Informação.
170
Figura 5.24 – Resposta estudante 13: Primeira tentativa da atividade A – Série VII (estudo piloto).
Figura 5.25 – Resposta estudante 20: Primeira tentativa da atividade A – Série VII (estudo piloto).
Na resolução dos três estudantes é possível observar que o conceito de volume não está
consolidado. Embora o estudante 13 tenha conseguido esboçar a figura em questão, e
identificado as respectivas dimensões, não há uma evidência de compreensão do conceito de
volume. Inclusive, há um equívoco sobre o cálculo de área, que também não está completa.
Caso a atividade requeresse esse cálculo, uma das formas de calcular a área total dessa figura
geométrica seria calcular cada uma de suas seis faces e somá-las. No caso do paralelepípedo,
as faces paralelas entre si possuem a mesma área11 (superior com inferior, direita com esquerda,
traseira com frontal), resultando em três pares de faces paralelas. Assim, seria suficiente
calcular a área de uma das faces de cada par e multiplicar por dois. Por fim, somar a área de
cada par para obter a área total.
No caso desse paralelepípedo, em especial, é composto por quatro faces de mesma área
(3m × 6m = 18 m2) e mais duas faces paralelas entre si, com outra medida de área (3m × 3m =
9 m2). Logo, bastaria multiplicar a primeira área por quatro (4 × 18 m2 = 72 m2) e a outra por
11
No caso do cubo ou hexaedro, todas as faces possuem a mesma área.
171
dois (2 × 9 m2 = 18 m2). Somando esses resultados obtém-se uma área total de 90 m2. Resultado
não evidenciado em nenhuma das resoluções.
Ainda no estudo piloto, aplicaram-se as seguintes perguntas-modelo para esses
estudantes. Não necessariamente foram aplicadas todas elas para cada um deles.
Figura 5.26 – Resposta estudante 13: Segunda tentativa da atividade A – Série VII (estudo piloto).
Figura 5.27 – Resposta estudante 20: Segunda tentativa da atividade A – Série VII (estudo piloto).
12
Essa codificação segue os detalhes do quadro que se encontra no Anexo B.
13
Para fins de comparação de suas resoluções, pediu-se aos estudantes que as respostas posteriores fossem
complementadas no mesmo local, sem apagar a anterior. Nas figuras estão destacadas apenas as respostas
correspondentes à pergunta-modelo.
14
O estudante 3 não respondeu essas perguntas-modelo.
172
Figura 5.28 – Resposta estudante 20: Terceira tentativa da atividade A – Série VII (estudo piloto).
3 9
+ 3
4 2
Em termos práticos, isso significa que 39 são formados por 3 dezenas e 9 unidades. Se
somamos com 3 unidades, o resultado é formado por 4 dezenas e 2 unidades. Pois cada
dezena representa 10.
15
No sistema de numeração decimal, cada algarismo, contado da direita para a esquerda, representa uma ordem.
E o agrupamento composto pela ordem da unidade, dezena e centena é chamado de classe.
174
4 _
+ _ _ 2
_ _ 0 1
ESTUDANTE 3:
Antes de partir para a análise da resolução deste estudante, é necessário salientar que
houve um problema técnico nesta atividade, quando foi aplicado no primeiro dia do estudo
piloto.
Os espaços vazios do resultado da conta (correspondendo à ordem da centena e do
milhar) não apareceram na impressão, como é possível observar na figura 5.29. Isso pode ter
confundido muitos alunos, em um primeiro momento. Já no segundo dia, os espaços faltantes
foram completados e o equívoco esclarecido aos estudantes. Ainda assim, poucos conseguiram
resolver essa atividade.
Partindo para a análise das respostas do estudante 3, pode-se observar que, na figura
5.29, ele chegou muito perto da resposta correta. Imaginou-se, inicialmente, que o problema da
impressão tenha dificultado a resolução. Por isso, na sua segunda tentativa de resolução, foi
apresentada apenas uma orientação para concluir o raciocínio conforme iniciado na figura 5.29.
Para os demais estudantes, aplicaram-se as seguintes perguntas-modelo:
Figura 5.29 – Resposta estudante 3: Primeira tentativa da atividade B – Série IX (estudo piloto).
Figura 5.30 – Resposta estudante 3: Segunda tentativa da atividade B – Série IX (estudo piloto).
Por isso, partiu-se para um diálogo para tentar compreender outros invariantes
operatórios mobilizados pelo estudante nessa atividade.
Linha 159 P: E é por isso que a gente faz esse algoritmo. Vamos supor que a gente não soubesse
armar essa conta. Como que você faria essa conta de soma sem armar?
Linha 160 E3: ((Respira fundo)) É que 39 + 3 é um número pequeno, então dá para resolver
de cabeça.
Linha 161 P: Isso.
Linha 162 E3: Mas, se fosse um número maior... ((Silêncio))
É possível observar que, por meio desse diálogo, o estudante é capaz de aplicar o
algoritmo, mas não consegue explicar, de forma concisa, por qual motivo esse algoritmo é
aplicado dessa maneira. Portanto, foi necessário sugerir outros exemplos para que ele pudesse
discorrer, com mais detalhes, o seu pensamento. Veja-se a continuação do diálogo. A figura
5.32 representa a sua resolução:
ESTUDANTE 13:
No estudo piloto, este foi um dos poucos estudantes que conseguiu resolver a atividade
de completar os dígitos faltantes, embora tenha sido na segunda tentativa. Na primeira tentativa,
que corresponde à figura 5.33, ele havia completado apenas até a ordem da centena.
Figura 5.33 – Resposta estudante 13: Primeira tentativa da atividade B – Série IX (estudo piloto).
Já na figura 5.34 é possível observar que foi capaz de completar corretamente os dígitos
faltantes.
Assim como no caso do estudante 3, não se apresentou uma pergunta-modelo específica
para ajudar na resolução. Só foi feita a orientação para seguir o mesmo raciocínio para terminar
o cálculo apresentado.
Figura 5.34 – Resposta estudante 13: Segunda tentativa da atividade B – Série IX (estudo piloto).
ESTUDANTE 20:
Este estudante foi o que mais apresentou dificuldades para realizar essa atividade,
comparado aos outros dois deste mesmo Grupo 1, tanto no estudo piloto quanto no final. No
estudo anterior, conforme pode-se observar na figura 5.36, na primeira tentativa, ele sequer
conseguiu resolver a atividade.
Figura 5.36 – Resposta estudante 20: Primeira tentativa da atividade B – Série IX (estudo piloto).
Figura 5.37 – Resposta estudante 20: Segunda tentativa da atividade B – Série IX (estudo piloto).
Como o estudante parece ter compreendido parte do problema, foi feita uma terceira
aplicação utilizando a seguinte pergunta-modelo:
Sua resolução resultou na figura 5.38, na qual é possível observar que não houve um
avanço no cálculo inicial em si, apenas apresentou a resposta da pergunta “Qual o resultado
desta conta 18 + 2?” no canto inferior esquerdo da figura. É interessante notar que o estudante
respondeu novamente à pergunta-modelo anterior nessa terceira tentativa, que já estava correta
na segunda vez.
Figura 5.38 – Resposta estudante 20: Terceira tentativa da atividade B – Série IX (estudo piloto).
Figura 5.39 – Resposta estudante 20: Primeira tentativa da atividade 4 (estudo final).
Sendo assim, analisar-se-á o diálogo com o estudante para compreender, com um pouco
mais de detalhes, quais são suas eventuais dificuldades em relação a esse conceito.
Nesse diálogo, esclareceu-se ao estudante que ele está sendo desafiado a resolver a soma
sem utilizar o recurso de “armar a conta”. Assim, ele sugere que poderia ser utilizada uma
expressão numérica para calculá-la. No entanto, nas três linhas finais do diálogo, ele se depara
com um problema: como diferenciar a unidade da dezena no resultado? Ou seja, embora ele
tenha utilizado a estratégia da expressão numérica, o que é válida em uma conta simples como
39 + 3, fica evidenciado o equívoco das ordens (unidade e dezena) no momento de representar
o seu resultado. O nove somado ao três resulta em doze, o que significa que há uma dezena e
duas unidades. Logo, essa dezena deve ser somada às três dezenas já existentes e não colocadas
lado a lado, como o estudante indaga. Veja-se a continuação desse diálogo:
Linha 467 E20: Eu fazia isso direto. Então... eu sempre gravava quantas vezes eu já usei... as duas
mãos.
Linha 468 P: Certo...
Linha 469 E20: Usei o 10, por exemplo, é... teria que ser... 30, por exemplo. Aí, eu vi que já dava 10,
eu gravava na minha mente que... ou eu anotava assim, ó ((faz um risco na folha da
atividade)), que já foi uma vez.
Linha 470 P: Ah... legal. Aham.
Linha 471 E20: Aí eu fazia de novo, marcava outra vez...
Linha 472 P: Aham.
Linha 473 E20: ...marcava por exemplo... 2...
Linha 474 P: Certo.
Linha 475 E20: ... fiz outra vez, marcava três e aí eu sabia quantas vezes (já) foi.
Linha 476 P: Ah... entendi. Interessante. ((aviso sonoro de término da aula)) Ainda quero retomar essa
atividade com você, tudo bem? Mas como bateu o sinal, a gente vai parar por aqui, mas a gente
retoma, tá bom?
Linha 477 E20: (rs) Tá bom!
Nesse trecho do diálogo, fica mais evidente a estratégia utilizada pelo estudante para
realizar o cálculo, sem o uso do algoritmo da soma. De forma constrangida, ele afirma “(...)
seria uma péssima mania, mas...” e mostra os dedos das mãos16. É comum que, nos últimos
anos do Ensino Fundamental, muitos professores de Matemática desencorajem o uso dos dedos
das mãos para fazer cálculos. Tal tipo de recurso é esperado, tipicamente, em crianças pequenas
e, por isso, é compreensível o constrangimento do estudante. A noção de sequência numérica
na criança pode ocorrer em dois níveis diferentes: o da recitação e o da contagem (VERGNAUD,
2014, p.126). E, neste último, há uma correspondência do objeto com o número (no caso, o
dedo da mão com o número). Conforme o amadurecimento dos níveis de abstração de um
indivíduo, o recurso dos dedos da mão passa a ser cada vez menos requisitado. Porém, ainda é
comum que alunos, com treze a quatorze anos de idade, utilizem tal recurso. Isso ocorre devido
ao fato do processo de desenvolvimento cognitivo do ser humano não ser linear. A sua
capacidade de abstração depende de fatores externos e intrínsecos, que não se pode generalizar
a todos os casos.
Continuando a análise do diálogo, indagou-se ao estudante como fazer uma soma com
números maiores que dez. Ele afirma que, nesse caso, utiliza o recurso adicional de memorizar
ou fazer marcações no papel a cada nova dezena. Porém, a explicação foi interrompida pelo
término da aula e foi retomada no encontro seguinte. Segue a continuação do diálogo:
16
Embora o áudio não registre imagens, o gesto foi recuperado pelos registros de memória da pesquisadora.
186
Linha 519 E20: ((silêncio)) Vou contar nos dedinhos só para ter certeza. ((acha graça))
Linha 520 P: Pode contar. Não tem problema nenhum.
Linha 521 E20: Porque da primeira vez eu não contei nos dedinhos, eu fui na... tudo na minha cabeça
mesmo.
Linha 522 P: Então tá bom. Não é proibido usar os dedinhos ((acha graça)).
Linha 523 E20: ((silêncio)) Ih, ((acha graça)) acertei.
A resolução que resultou desse diálogo pode ser visualizada na figura 5.40 a seguir:
Figura 5.40 – Resposta estudante 20: Segunda tentativa da atividade 4 (estudo final).
Por meio do diálogo e da figura 5.40 é possível verificar que o estudante realizou a conta
mentalmente (mesmo montando a expressão na folha de respostas). Depois, realizou a
verificação do resultado, pelo algoritmo da soma, e chegou ao mesmo resultado. Ele alerta que
vai utilizar os dedos, para ter certeza da contagem, e concluiu que chegou ao resultado correto.
É importante salientar que não é condenável o uso dos dedos para o recurso da contagem.
Acredita-se que, conforme a prática, essa ação será cada vez menos utilizada de acordo com o
amadurecimento no nível de compreensão de sequência numérica. Vergnaud (2014, p. 172)
contextualiza que o grande problema de aprendizagem, na regra da adição, está na relação entre
a escrita do número com a quantidade que ele representa. É muito comum, no ensino, observar
a ênfase na técnica17, para ensinar o algoritmo da soma, mas pouca associação da operação com
os objetos, por exemplo, utilizando outras bases além da decimal.
17
Faz-se uma ressalva neste ponto a respeito do uso do material dourado, proposto por Maria Montessori, nos
ciclos iniciais do Ensino Fundamental, que se tornou cada vez mais comum em algumas escolas (MENEGHETTI
e BEGA, 2016) contrariando a unanimidade do ensino apenas por técnicas. Quando esses tipos de materiais são
trabalhados com os alunos, eles têm a oportunidade de compreender o processo das quatro principais operações,
sem depender apenas de algoritmos formais descritivos. No entanto, há ainda uma falta de domínio, por parte dos
professores, no uso de tais recursos, limitando-se à função ilustrativa, na maioria das vezes, como aponta o trabalho
de Passos e Takahashi (2018).
188
Entre os três estudantes desse Grupo 1, esse estudante é o que teve mais dificuldade
para explicar o algoritmo da soma. No entanto, há uma diferença de compreensão de sequência
numérica comparado a um outro estudante do Grupo 2, que será analisado no tópico 5.3.2.
Por fim, chega-se à última atividade desse grupo, no qual os estudantes foram desafiados
a provar a partir de uma definição. Provar é uma das atividades essenciais na rotina de um
matemático. Consiste em verificar a validade de um teorema, partindo de algumas afirmações
consideradas como verdadeiras. Muitas vezes, são nos cursos de ensino superior, como em
Matemática e áreas correlatas, que o estudante tem o primeiro contato com atividades que
verifica a validade de um teorema por meio de provas. Enquanto no ensino básico as atividades
são majoritariamente concentradas em aplicação de fórmulas e teoremas, no ensino superior o
aluno deverá ser capaz não só de aplicar como de verificar a validade dessas fórmulas e
teoremas.
Nesta atividade 5, que consistia no enunciado a seguir, os estudantes são apresentados
a algumas definições a respeito de conjuntos (números inteiros) e também sobre números
consecutivos. Partindo delas, deverá provar que a soma de três números inteiros consecutivos
sempre será divisível por três. Segue o enunciado:
5. Números consecutivos são aqueles que vêm em uma sequência. E números inteiros são
os números naturais incluindo os números negativos.
Divisível significa que a divisão dá um resultado com resto zero. Por exemplo: 12 é
divisível por 4, pois:
12
=3
4
Sabendo dessas definições, prove que a soma de três números consecutivos inteiros
quaisquer sempre é divisível por 3.
ESTUDANTE 3:
No estudo piloto, aplicou-se uma atividade similar aos estudantes na qual eles deveriam
definir a fórmula geral para um número ímpar.
Figura 5.41 – Resposta estudante 3: Primeira tentativa da atividade B – Série VIII (estudo piloto).
Pode-se observar na figura 5.41 que o estudante 3 não teve problemas para encontrar a
fórmula geral para um número ímpar. Embora ele não tenha demonstrado a verificação com
números inteiros, a fórmula serve também para esses; mesmo porque não havia deixado essa
condição explícita no enunciado.
Já no estudo final, pela entrevista, fica mais claro que o estudante 3 apresentou algumas
dúvidas em relação à ideia de generalização. É possível observar na figura 5.41, referente ao
estudo anterior, que o estudante já havia marcado com um ponto de interrogação na palavra
190
fórmula geral. Possivelmente, ele não tinha clareza do que é generalizar. Segue o trecho da
entrevista:
Foi feito o questionamento em relação à generalização por conta da resolução que ele
apresentou, na figura 5.42. Observa-se que a regra de números consecutivos vale apenas quando
o 4 vale 1:
Ao verificar para outros números, o estudante constatou que existe uma sequência, mas
para um subconjunto especial. Veja-se a continuação do diálogo e a figura 5.43.
191
Nesse diálogo, o estudante demonstra que a sequência obtida - dois, quatro e seis além
de três, seis e nove (figura 5.43) – é de números pares consecutivos. Porém, o enunciado pede
para que seja obtida uma soma de três números inteiros consecutivos quaisquer, ou seja, os
números pares fazem parte de um subconjunto, por isso a regra também é válida.
192
Nesse ponto, o aluno já foi capaz de perceber qual a característica de um número inteiro.
Assim, percebeu que a fórmula geral que ele havia expressado (4 + 24 + 34) não funciona
para números negativos ou o próprio zero. Vergnaud (2014, p.33) nomeia essas tentativas de
resolução de problemas como “cálculo relacional”. No caso, são contestações sobre a realidade
para verificar se elas podem ser inferidas ou aceitas. Por exemplo, o autor exemplifica o
algoritmo para soltar uma peça de um quebra-cabeça como na figura 5.44 a seguir:
193
18
Durante o II Colóquio Internacional sobre a Teoria dos Campos Conceituais, no qual o teórico esteve presente,
que foi realizado em Porto Alegre em 2017, foi aplicada uma atividade similar ao da figura 5.44 aos professores
presentes. Algumas pessoas que não tinham uma formação específica em Exatas, por exemplo, tiveram mais
dificuldade para utilizar a regressão logo na primeira tentativa. Foi comum usar a “tentativa e erro”, retirando peça
por peça, até que a peça chave pudesse ser solta. Inclusive, peças que não tinham relação alguma com a peça
principal foram retiradas. Porém, muitas só perceberam posteriormente que algumas barras não precisariam ser
removidas.
194
P: Isso. Só que agora a gente tem que ver como faz para funcionar com os números
Linha 300
inteiros também, tá? Então vamos lá. Vamos retomar isso aqui.
É muito importante que, ao retomar a atividade, o próprio estudante faça essa regressão
do que foi feito e continue seu raciocínio de onde havia parado. Vale ressaltar que as atividades
não ficaram com os estudantes e foram devolvidas apenas durante a aplicação da entrevista.
Logo, pelo diálogo anterior, há bons indícios de que o estudante lembra dos seus passos
anteriores e o que não havia funcionado. A seguir, continua o diálogo no qual ele esboça uma
nova estratégia:
Continua-se, então, o diálogo para que ele verificasse com os números inteiros e o seu
resultado pode ser visto na figura 5.47, na sequência:
Para não se estender mais as análises, que fugiriam um pouco do propósito principal
deste trabalho, a análise do estudante 3 será encerrado por aqui. O diálogo completo pode ser
conferido no anexo.
ESTUDANTE 13:
Esse estudante demonstrou que compreendeu o conceito de sequência, mas não soube
criar uma fórmula genérica para expressá-la. Sua demonstração foi basicamente empírica com
números naturais, escolhidos ao acaso. Não houve um teste sequer com números negativos,
parte dos números inteiros. Assim, ele havia apresentado inicialmente a resolução da figura
5.48. Segue o diálogo referente a esta resolução inicial:
Linha 202 P: É.
Linha 203 E13: Aí eu não sei.
Figura 5.48 – Resposta estudante 13: Primeira tentativa da atividade 5 (estudo final).
Figura 5.49 – Resposta estudante 13: Segunda tentativa da atividade 5 (estudo final).
Figura 5.50 – Resposta estudante 13: Terceira tentativa da atividade 5 (estudo final).
Mas essa estratégia logo é verificada, pelo próprio estudante, que não é a mais
apropriada, que pode ser observado no trecho do diálogo:
Para que ele pudesse continuar o seu raciocínio, foi dada uma pequena dica de partir de
um número conhecido e definir as suas características:
deixando de observar todo o raciocínio exposto pelo aluno. Inclusive, pode-se até observar, em
alguns casos, estudantes que encontram o resultado correto rapidamente, mas não
necessariamente são capazes de efetuar um raciocínio lógico e abstrato para outros casos.
Figura 5.51 – Resposta estudante 13: Quarta tentativa da atividade 5 (estudo final).
ESTUDANTE 20:
Na continuação desse diálogo, fica mais evidente de que há uma dúvida em relação à
definição de números consecutivos. Informou-se que ele deveria pensar em três números cuja
soma resulta nesse número divisível por três. Porém, fica claro que seu equívoco ainda continua
por insistir em pensar na sequência resultante da tabuada.
Figura 5.52 – Resposta estudante 20: Primeira tentativa da atividade 5 (estudo final).
Após provar a definição, passou-se então para mais um conceito que estava faltando na
interpretação desse estudante: os números devem ser inteiros. Para verificar se ele realmente
compreende quais números fazem parte desse conjunto, pediu-se a ele que fosse justificado. No
entanto, por meio desse diálogo, surgiu uma nova dúvida no estudante: a operação com números
negativos. Segue o diálogo:
19
A regra estabelece que a multiplicação entre dois números negativos resulta em um número positivo e a
multiplicação de um número negativo com um positivo resulta em um número negativo.
205
Figura 5.53 – Resposta estudante 20: Segunda tentativa da atividade 5 (estudo final).
É possível observar que, na figura 5.53, a forma como o estudante escreveu a expressão
entre parênteses, ainda gera dúvidas sobre a multiplicação de sinais. Por isso, o sinal de adição
foi colocado posteriormente, localizado mais abaixo da expressão. No trecho do seguinte
diálogo, o aluno explica a sua dúvida:
Percebe-se, por meio desse diálogo, que o estudante apresenta uma dúvida em relação
à soma com números negativos. Essa incerteza é mais comum quando os alunos começam a
aprender números inteiros. Para isso, uma alternativa seria apresentar alguns exemplos do
cotidiano que expresse a ideia de negativos (por exemplo, temperatura e reta numérica). Nesse
caso, começou-se tentando explicar pela ideia de reta numérica, que não ajudou na compreensão
do estudante. Segue o trecho:
Linha 648 P: Então, você vai andar, se você ficar + (-4), você tem que andar para a direita do zero, ou
para a esquerda do zero?
Linha 649 E20: Humn... + (-4)?
Linha 650 P: Isso.
Linha 651 E20: Eu acho que ((silêncio)) para a direita.
Linha 652 P: Direita, para cá, então? Então eu teria que andar quatro casas para cá? 1-2-3-4?
Linha 653 E20: ((silêncio)) Nossa... A sua lógica está... ((acha graça)) ((silêncio))
Linha 654 P: Está confusa, assim?
Linha 655 E20: Muito. Porque... ((silêncio))
Como a explicação não surtiu efeito, usou-se então o exemplo do termômetro, que nada
mais é do que representar a reta numérica na vertical. A simples mudança de representação
facilitou a compreensão do estudante, que percebe a ideia de somar números negativos, como
pode ser comprovado no trecho seguinte:
Após o esclarecimento sobre a soma com números negativos, voltou-se para o objetivo
da atividade em si que consistia em verificar se um número negativo é divisível por três.
Entretanto, o estudante apresentou uma nova dúvida: o que acontece com um número negativo
dividido por três positivo?
Aqui novamente o estudante volta à dúvida da regra de sinais. Embora seja importante
compreender essa regra para realizar a divisão, para verificar a divisibilidade, o fato do número
ser negativo seria indiferente nesse caso. No entanto, acredita-se ser importante esclarecer essa
dúvida que é explicada no seguinte diálogo:
Depois de esclarecer outros tópicos relacionados, mas que não faziam parte do objetivo
principal da atividade, tentou-se retornar ao assunto do enunciado. Iniciou-se explicando o que
é provar e generalizar em Matemática. Depois, ofereceu-se um ponto de partida no qual o
estudante pudesse começar o seu raciocínio:
Linha 723 E20: Ah, porque vem desde o jardim de infância, olha... a... Alfabet... a... ((tsc)) desculpa,
eu tenho a língua presa.
Linha 724 P: ((riso))
Linha 725 E20: Bom. Você entendeu.
Linha 726 P: Alfabeto.
Linha 727 E20: É. Porque aí vem sequentemente (na sequência) a, b, c, d, e, e isso vem se... que nem
o professor, eu acho que a equação é de segundo grau, primeiro grau, que tem... a + b + c
que é igual... a tanto.
Linha 728 P: Certo.
Linha 729 E20: Então para mim isso é uma sequência.
Linha 730 P: Humn, certo. Interessante. Então isso significa que a, b e c, por serem sequenciais no
alfabeto...
Linha 731 E20: Poderia ser sequencial em Matemática.
Uma observação interessante que se pode notar nesse diálogo é a interpretação das
incógnitas como uma própria sequência. Ou seja, A, B e C é uma sequência, de acordo com a
ordem alfabética. Não é a primeira vez que se observa alunos dessa faixa etária apresentando
tal tipo de associação quando começam a estudar Álgebra. Booth (1995, p. 25), na década de
80, conduziu uma pesquisa que apontou um mesmo tipo de associação em alunos britânicos.
Ou seja, é um obstáculo muito comum, não limitado apenas a estudantes brasileiros.
Um ponto curioso ao analisar as respostas do estudante 20 é que, quanto mais se avança
na entrevista, descobrem-se mais conceitos frágeis em seu aprendizado envolvendo a Álgebra
que não se limita ao que se pede na atividade 5.
No seguinte trecho, ele começa, finalmente, a esboçar uma expressão que representaria
uma soma de números consecutivos, mas se depara com um problema de notação ao escrever
as incógnitas (figura 5.54). Os índices de uma incógnita sempre devem aparecer em subscrito
(4C , 4& , 4D ) em vez de sobrescrito (4 C , 4 & , 4 D ), para não confundir com a notação de potência.
Figura 5.54 – Resposta estudante 20: Terceira tentativa da atividade 5 (estudo final).
Ao sugerir que a soma poderia ser representada por soma de quadrados, rapidamente
verifica-se que a sequência gerada não é de números consecutivos. Assim, a próxima hipótese
a ser testada é a soma 4 + 24 + 34, assim como fez o estudante 3, na mesma atividade. Parece
que quando se fala de consecutivos, a Aritmética parece atrapalhar a compreensão de incógnitas
para formular o conceito de consecutivo (o aluno relaciona que, como 1, 2, 3 são consecutivos,
então, por analogia, 4 + 24 + 34 também deve ser). No caso do estudante 13, a definição de
número consecutivo parecia estar mais clara, por isso, conseguiu chegar ao resultado em poucos
passos. Os invariantes operatórios que se mobilizam para responder a uma pergunta pode ter
muito mais passos do que o necessário.
Pode-se observar, na última fala desse trecho, que o estudante tem dificuldade em
associar a incógnita a um número qualquer. Esse tipo de dificuldade é muito comum nos
estudantes iniciantes em Álgebra, pois a Aritmética ainda está muito enraizada em seu processo
lógico de resolução de problemas. Para romper e superar essa dificuldade, enfatizou-se que é
necessário pensar que cada incógnita assume apenas um número e, portanto, é necessário definir
um algoritmo para que a sequência obedeça as regras impostas pelo enunciado. Porém, como a
representação da incógnita usando letras acaba sendo o próprio obstáculo na compreensão do
estudante, utilizou-se a estratégia de pensar como se fossem quadrados vazios que devem ser
preenchidos com números quaisquer. A explicação consta nesse diálogo:
Após a compreensão da ideia de incógnita, que parece ter êxito após o uso do quadrado
no lugar de letras, o estudante passa a se questionar como poderá obter a sequência seguindo
essa lógica. Assim, nesse ponto, chegou-se a explicação similar que foi feito com o estudante
13 que, após a terceira tentativa, já deduziu a sequência geral e concluiu a atividade. No caso
do estudante 20, ele só chegou a essa conclusão após muitas tentativas a mais. Primeiro, ele
obteve a lógica para sequência par e depois para sequência ímpar. No entanto, o enunciado pede
para que sejam quaisquer números inteiros. Questionou-se o estudante o que acontece quando
se multiplica um número por dois? E por três? O que aconteceria quando se multiplica um
número ímpar com um par? E um ímpar com ímpar?
O diálogo continua até que ele compreende o processo de obter uma sequência e a
diferença entre sequências pares e ímpares. Porém, ele ainda continua, sem sucesso, a obter
212
uma sequência sem ancorar o primeiro número ao próximo (figura 5.55). Assim, foi necessário
intervir para que ele pudesse chegar ao resultado:
Figura 5.55 – Resposta estudante 20: Sexta tentativa da atividade 5 (estudo final).
Linha 1267 P: 9. 2 × 4 + 3?
Linha 1268 E20: 8... 11.
Linha 1269 P: 11. 2 × 4 + 5?
Linha 1270 E20: ((silêncio)) 13.
Linha 1271 P: 13. Parece que deu certo, né? Então você entendeu? A informação sempre tem que estar
ancorada no primeiro para você achar uma sequência, né? Claro que esse aqui é uma regra
porque a gente está querendo achar uma sequência consecutiva.
Linha 1272 E20: Aham.
Linha 1273 P: Se fosse, por exemplo, só pares ou ímpares, o que você fez aqui já estaria perfeito. Então, o
segredo é sempre tentar pensar qual é a operação que você tem que fazer para achar o próximo.
Só que sempre lembrando da informação anterior. Daí você consegue achar o próximo.
Gostou?
Linha 1274 E20: ((silêncio)) É complicado, ((acha graça)) mas eu entendi sim, a sua... a lógica assim.
Entendi.
Como o diálogo é muito longo, sintetizou-se uma parte da conversa que resultou na
resolução representada pela figura 5.56 e, consequentemente, na resposta correta 5.57:
Figura 5.56 – Resposta estudante 20: Sétima tentativa da atividade 5 (estudo final).
Figura 5.57 – Resposta estudante 20: Oitava tentativa da atividade 5 (estudo final).
214
20
Dividiu-se esse esquema em estruturas algébricas e multiplicativas, valendo-se das propriedades aritméticas.
215
21
No caso das estruturas aditivas, utilizaram-se as categorias definidas por Vergnaud (2014, p. 200)
216
Neste grupo, os três estudantes foram nomeados como 6, 27 e 32 desde o estudo piloto.
Já a escolha do perfil desses alunos, para representar o Grupo 3, baseou-se nos seguintes
critérios:
1. Resolveu quase todo o protocolo do estudo piloto;
2. Mesmo após o contato com as perguntas-modelo do estudo piloto, não
conseguiram elaborar ou melhorar suas respostas;
3. Apresentou receptividade para dar continuidade à próxima fase da pesquisa.
Vale ressaltar que, conforme descrito no quadro 5.1, o Grupo 2 é composto por
estudantes que apresentaram evidências de problemas de interpretação de texto e dificuldades
de expressão na escrita. Portanto, o protocolo elaborado tenta elucidar o nível de interpretação
de texto de cada um desses estudantes, além de comparar um ou outro modelo encontrado em
comum com o Grupo 1. Embora as atividades não sejam exatamente iguais entre os dois grupos,
elas possuem relativamente o mesmo tema e conceito em questão, com utilização de um recurso
diferenciado, como o jogo digital, por exemplo.
Na etapa 1 do protocolo, apresentou-se um jogo digital, que apresenta como tema as
equações, para que os estudantes jogassem, durante 30 minutos, antes de iniciar a responder as
questões da atividade. Após o término do tempo, os três estudantes opinaram que o jogo é
interessante, intuitivo e que, de alguma forma, ajuda a entender o conceito de equações. No
entanto, dois deles afirmaram que conseguiram passar de uma fase para a outra do jogo, sem
saber exatamente o que estavam fazendo em sua operação. Ou seja, manipularam de forma
mecânica22. Isso é uma fragilidade encontrada em jogos digitais, já que o usuário pode utilizar
o processo de “tentativa e erro” até obter o resultado correto, não necessariamente garantindo
que houve a compreensão da operação realizada. Mas também se relevou esse ponto, neste caso
específico do nosso estudo, já que o tempo de contato com o jogo foi muito curto. Assim,
ressalta-se a importância do uso crítico e consistente dos recursos digitais como material
didático complementar por parte do professor.
Seguem as análises dos modelos encontrados neste grupo, nos subtópicos a seguir.
22
Embora seja relevante, por não ser tema central desta pesquisa, optamos por não desenvolver
em detalhes a discussão sobre a utilização de jogos digitais no ensino de Matemática.
217
Figura 5.64 – Resposta estudante 6: Primeira tentativa da atividade B1 – Série V (estudo piloto).
Figura 5.65 – Resposta estudante 27: Primeira tentativa da atividade B1 – Série V (estudo piloto).
221
Figura 5.66 – Resposta estudante 32: Primeira tentativa da atividade B1 – Série V (estudo piloto).23
23
Transcrição literal da resposta: “A diferença entre ambos e (é) que uma e (é) a conta e a outra (o) resultado”.
222
24
A explicação feita neste trecho em relação ao conceito de incógnita não é a mais adequada. Porém, mantivemos
a transcrição fiel ao que foi gravado no dia da entrevista, para ressaltar a dificuldade de manter um tom de conversa
mais informal, com menos uso de vocabulário técnico, para facilitar a compreensão do aluno.
223
Esse trecho pode indicar que muitos dos equívocos cometidos por estudantes, mesmo
em atividades de Matemática, são originados pela falta de compreensão do próprio significado
das palavras do enunciado, mesmo quando elas não sejam palavras técnicas, relacionadas ao
vocabulário matemático. Não compreender o que se lê também é um obstáculo relevante para
o aprendizado dessa disciplina.
No diálogo com o estudante 27, a explicação inicia-se de forma promissora, pois ele
parece ter compreendido o objetivo da atividade 6 (indicar se a equação é verdadeira ou falsa)
e relata, com as próprias palavras, o que deve ser feito. No entanto, quando se questionou um
fato essencial de uma definição de equação (o significado do sinal de igualdade), o estudante já
demonstra hesitação e afirma que não sabe responder. Por esse motivo, voltou-se para a
atividade 5 e questionou-se a forma como o estudante apresentou sua resolução.
P: Mas, aqui, está vendo que no 6 está representando uma equação? Por exemplo, 6 + 3 = 9. Em
Linha 25
vez de usar o x, se usasse números, como ficaria aqui?
Linha 26 E32: Colocasse 6 + 6 = 12?
Linha 27 P: Isso! Aí, sem usar o 12, que outra opção eu teria além do 12? 6 + 6 é igual a quanto?
Linha 28 E32: ((Silêncio)) Eu não estou entendendo ainda... (rs)
Linha 29 P: Qual (seria) uma outra soma que dá o mesmo resultado 12?
Linha 30 E32: Ah! O 12 positivo com 12 negativo?
Linha 31 P: Humn... sim... Mas aí 12 positivo com 12 negativo dá zero, não é? Se somar...
Linha 32 E32: Ah é! (rs)
P: Então, quantas outras somas? Não tem só 6 + 6 que dá 12, não é? Que outra soma dá 12, aqui,
Linha 33
de resultado?
Linha 34 E32: É... 7 + 5... ((Silêncio)) 7 + 5?
Linha 35 P: 7 + 5, consegue pensar em outra?
Linha 36 E32: É... 8 + 4.
Se essa sequência de atividades fosse apenas corrigido, sem interagir com o estudante
posteriormente, tender-se-ia a acreditar que o estudante 32 compreendeu os objetivos dessas
tarefas. No entanto, bastou modificar um parâmetro e questioná-lo a respeito para verificar que
sua compreensão ainda é parcial. É possível que ele tenha se concentrado em responder as
atividades de forma fragmentada, sem pensar em sua continuidade, o que é comum na maior
parte dos estudantes. É um contrato didático25: há uma pergunta e devo respondê-la.
Por isso, é importante que o professor tenha um olhar atento a essas nuances de
aprendizagem de seus alunos. Muitas vezes, há uma tendência a “generalizar” que um aluno
simplesmente não sabe e não aprende Matemática. Por outro lado, pode-se criar a ilusão de que
ele aprendeu somente pelo fato de ter apresentado uma resposta correta em uma sequência de
atividades. Os dois exemplos dos estudantes 6 e 27 apresentados mostraram que as duas
perspectivas podem ser equivocadas. O fato de terem respondido corretamente as quatro
25
Contrato didático, segundo Brousseau (2000, p. 51), é uma situação didática na qual “o professor tenta
transmitir ao aluno aquilo que pretende que ele faça”.
226
primeiras atividades do protocolo não garantiu a compreensão das atividades que surgem em
seguida, mesmo sendo continuação do mesmo assunto. Isso porque o nível profundo de
aprendizagem, ou seja, aquele no qual o estudante é capaz de explicar e reproduzir em diversos
contextos sempre é um desafio. São os invariantes operatórios e esquemas que trabalham em
níveis diferentes (do mais básico ao mais avançado). Consequentemente, é importante variar os
métodos de avaliação de aprendizagem na escola, não se limitando apenas a avaliações em
formatos de provas com resolução de exercícios, mas também com atividades orais ou em grupo,
para que o aluno possa ter oportunidades diferentes de expressar o seu pensamento.
Dando continuidade às análises, na atividade 6, apenas o estudante 6 apresentou alguns
equívocos para realizar a soma, chegando à conclusão errada sobre a equação correspondente.
Porém, todos os estudantes desse grupo compreenderam o objetivo principal da atividade.
Seguem as figuras 5.70 a 5.72 e as respectivas explicações dos alunos:
É interessante salientar que foram escolhidos números com valores de 1 (um) até 20
para possibilitar um rápido cálculo mental, sem muita dificuldade. Erros de soma com números
menores que dez são esperados em crianças na fase inicial da contagem, mas foi possível
perceber que tais equívocos podem estar presentes em estudantes que já estejam em um nível,
teoricamente, mais avançado do ensino básico escolar. Ou seja, seria importante investigar o
motivo pelo qual algumas crianças têm mais dificuldade que outras para desenvolver o
raciocínio abstrato26.
Na atividade 7 verificava-se a compreensão da operação com números negativos e a
regra de sinais. Essa atividade também foi resolvida sem muitas dúvidas pela maioria, na parte
das operações, como se pode observar nas figuras 5.73 e 5.74.
26
No estudo realizado por Golbert e Salles (2010), com grupos de crianças com, aproximadamente, oito anos de
idade, constatou-se que considerável porcentagem desse grupo (48%) apresentou dissociações entre competência
aritmética e de leitura/escrita. Isto é, competência em uma das habilidades não necessariamente aponta um bom
desempenho na outra e vice-versa. Assim, o estudo sugere que existem habilidades básicas que podem estar
subjacentes aos domínios linguísticos e aritméticos.
229
Linha 121 P: É, mas está certinho. Quer corrigir do outro lado? Pode deixar essa resposta, mas coloque a
resposta certa.
Linha 122 E27: Vou colocar. ((barulho de lápis e folhas sendo paginadas)) ((Silêncio)). Eu nem
lembro o que eu fiz o ano passado, professora...
Linha 123 P: ((ri, achando graça do comentário))
Linha 124 E27: Eu devo ter feito tudo errado... Tudo errado... Meu Deus... ((Silêncio)).
Foi possível notar, por meio desse diálogo, que o estudante 27 compreendia
parcialmente as operações com números negativos. Observa-se que ele é capaz de aplicar a
regra de sinais quando dois sinais diferentes estão lado a lado e quando o primeiro número da
operação é sempre positivo. No entanto, na segunda parte dessa atividade, apresenta-se um
número negativo primeiro e depois um positivo. Nesse caso, o estudante se confundiu na soma
e ainda aplicou de forma equivocada a regra de sinais, subtraindo o 5 de -2, como é possível
notar em sua própria explicação da figura 5.75.
Depois de esclarecido o equívoco, o aluno corrigiu e anotou a resposta correta, conforme
orientado no diálogo, o que pode ser visto na figura 5.77, no lado esquerdo. A resposta anterior
foi mantida propositalmente para fins de análise.
Figura 5.77 – Explicação estudante 27: Atividade 7 – com resposta corrigida (estudo final).
Linha 53 P: Aham.
E32: Ele fala sobre isso e aí ele... começa a dizer... o que seria o positivo com o negativo, qual
Linha 54
é o resultado.
Linha 55 P: Isso. E aí, qual é o resultado?
Linha 56 E32: Aqui na... deu zero. 2 + 2 negativo.
Linha 57 P: Aham.
Linha 58 E32: Na 5... na B deu 2. É 5 + 3 negativo.
Linha 59 P: Aham.
E32: Na 8, a (letra) c deu 3. Que é 8 mais 5 negativo... A (letra) d deu 21 que é 33 + 12
Linha 60
negativo. E a (letra) e deu 6 negativo que é 2 + 8 negativo...
Linha 61 P: Certo, e... aqui... porque você deu 7 = 7? No item acima?
Linha 62 E32: ((Silêncio)) É... eu estou vendo agora que tá errado... (rs)
Linha 63 P: Qual que é o resultado certo?
Linha 64 E32: Aqui... seria 7... 7 que dá 3. 7 = 3.
Linha 65 P: 7 = 3? Por que 7 = 3?
Linha 66 E32: ((Silêncio)) Ah não! (rs) 7 = 5.
P: Humn... O resultado do 7 – 2 é igual a 5. Agora, o que eu não estou entendendo é por que você
Linha 67
está falando que 7 = 5?
Linha 68 E32: Aqui. Ficaria 7 = 5.
P: É, só que 7 é um número, né? É uma constante. Ele só pode ser 7. E 7 não pode ser igual a um
Linha 69 outro número, a não ser que você represente por uma soma, por exemplo, 7 = 3 + 4 ou 7 = 1 + 6.
Aí está certo. Mas 7 só pode ser 7.
Linha 70 E32: ((Silêncio))
Linha 71 P: Então você não pode falar que o 7 é igual a 5.
Linha 72 E32: ((Silêncio))
Linha 73 P: Certo?
Linha 74 E32: Aham...
Linha 75 P: Certo ou não? (rs)
Linha 76 E32: Certo... (rs)
P: Não é porque eu estou dizendo que você tem que concordar! (rs) Você tem que dizer, se tiver
Linha 77
em dúvida.
Linha 78 E32: Não... mas... não teria outro jeito (rs).
Linha 79 P: Humn, porque o resultado aqui, na verdade, você vai só escrever 5, né?
Linha 80 E32: Aham.
P: Você não precisa escrever 7 = 5. Talvez você esteja em dúvida por causa do x, não é? Porque
Linha 81
você sempre tem que achar o x.
Linha 82 E32: ((Silêncio))
Linha 83 P: Aí você está acostumada a escrever “x é igual a tanto”.
Linha 84 E32: É...
Linha 85 P: Aí como aqui não tem o x, aí você viu o 7 aqui no começo...
Linha 86 E32: Ah! É! É mesmo!
Linha 87 P: É isso?
Linha 88 E32: Quando tem o x você precisa eliminar esse número, né?
Linha 89 P: Isso. ((Silêncio)) É isso que você pensou?
Linha 90 E32: Ah, entendi! ((tom de compreensão)) É! É sim! Entendi o que você quis dizer (rs).
Linha 91 P: Certo. Então é isso. Então, beleza. Então isso aqui você confundiu com o x, né?
Linha 92 E32: Sim...
Linha 93 P: Tá, então o resultado correto é?
Linha 94 E32: ((Silêncio)) Aqui eu colocaria... (sussurrando fazendo os cálculos) Seria 5! (rs)
Linha 95 P: 5, perfeito.
Linha 96 E32: Apaga aqui?
Linha 97 P: ((Silêncio)) Aí aqui... é “igual a 5”, né?
Linha 98 E32: É...
Linha 99 P: Aqui? Isso? Igual a 5 negativo ou positivo?
Linha 100 E32: Não, é que aqui eu fui fazer o...
Linha 101 P: Ah tá...
Linha 102 E32: Mas é 5, né?
Linha 103 P: Tá, 5. Ok. E aí? Aqui, o que acontece quando somamos um número negativo com um positivo?
233
Nas oito linhas finais do diálogo anterior, o estudante explica, de forma intuitiva, porque
sabe fazer os cálculos corretamente. Embora a sua explicação escrita sobre a resolução,
representada pela figura 5.76, esteja equivocada, oralmente, o aluno explicou como chegou ao
resultado correto. Em sua justificativa oral, afirma que o sinal do resultado é determinado
27
Esse tipo de padrão pode ser observado também nas respostas do estudante 6, nas figuras 5.58 e 5.67.
234
comparando os dois números que estão sendo somados ou subtraídos. Vergnaud (2014) explica
esse fato à multiplicidade de representações que um sujeito utiliza para raciocinar. No caso
desse estudante, há uma representação algébrica no sentido de comparar os módulos dos
números de cada parcela para determinar o sinal do resultado. Veja-se o seu raciocínio:
ð 2 + (-8) = - 6
o Regra de sinais: + com – igual a –. Logo, o resultado deve ser –.
o -8 + 2 = -6
ð -2 + 5 = 3
o Regra de sinais: – com + igual a –. Logo, o resultado deve ser –.
o Mas, 5 – 2 = 3 (contradição)
Ou seja, o estudante percebe a contradição de seu segundo raciocínio e, por isso, hesita
em uma parte do diálogo dizendo “Porque o negativo com positivo dá nega... dá positivo...
(rs)”. Ele realiza o cálculo invertendo o minuendo28 ou subtraendo e aplicando a regra de sinais
conforme necessário. Com essa inversão, ora a operação passa a ser de adição ora de subtração
e é válida desde que os sinais e as operações sejam equivalentes. Como as operações foram
invertidas de forma correta, seus resultados também estão todos corretos na atividade. Porém,
o estudante não sabe explicar o motivo pelo qual sua técnica funciona. Este exemplo trabalha
perfeitamente dentro da noção de invariante operatório, no qual a criança não desenvolve todas
as invariâncias de funcionamento tais como conceitos, imagens e signos ao mesmo tempo. Elas
podem passar por etapas progressivas e serem adquiridas por associações lógicas relacionadas
ou não ao conteúdo matemático. A título de exemplo, Vergnaud (2014) cita os diferentes níveis
para o conceito de “pai”, que as crianças desenvolvem em tempos diferentes.
28
Minuendo é o valor inicial da subtração e subtraendo é o valor que será subtraído do minuendo.
235
Deixou-se a análise da atividade 7 do estudante 6 por último, por esta conter muitos
elementos interessantes comparados aos outros participantes desse Grupo 2.
É possível notar pelo diálogo anterior, e pela figura 5.79 correspondente à atividade,
que há diversos equívocos cometidos pelo estudante 6. Primeiro, a operação 7 + (-2) foi feita
ignorando-se o sinal negativo do 2 resultando em 9. O segundo erro está em somar o resultado
9 com o 5, desprezando-se o sinal de igualdade. Mesmo pelo diálogo com o estudante, não fica
evidente qual foi o raciocínio realizado pelo aluno. Ele inclusive acha que houve um erro no
cálculo decorrente apenas de uma troca de sinais. Assim, diferente dos outros estudantes, este
apresentou muito mais dificuldades em relação ao conceito de equação.
Na tentativa de compreender os valores apresentados, foi feita uma pergunta específica
para cada um deles:
236
Mesmo com a explicação mais detalhada, ainda é muito confuso o raciocínio que o
estudante tentou expressar nessa atividade. No entanto, fica evidente que o conceito de
igualdade entre expressões foi ignorado e esse formato até criou um certo “desconforto” ao
aluno que expõe essa sensação dizendo “ai, falta uma coisa aqui”. É possível que a causa da
“estranheza” esteja relacionada ao fato de não ser uma expressão aberta que espera por um
resultado como um 7 – 2 = ?.
Nesse estágio, foi necessário recorrer à atividade 6 para que o estudante pudesse
compreender o conceito de igualdade. Veja-se a continuação do diálogo:
E6: Porque... é... você falou para mim que eu poderia escolher entre resolver
Linha 104
essa e essa.
Linha 105 P: Isso.
Linha 106 E6: 7 - 2 é igual a 5.
Linha 107 P: Isso. Aí é 5, o resultado. Certo?
Linha 108 E6: Certo.
Fica evidenciado, por meio desse diálogo, o fato de que a regra de sinais está sendo
ignorada para realizar as operações. Observe-se o seu raciocínio:
ð 2+(-2) =
o 2 + 2 = 4 (ignora-se o sinal de negativo da segunda parcela).
o Regra de sinal + com – é igual a –. Logo, resultado final é –.
o Resultado: - 4
ð 5+(-3) =
o 5 + 3 = 8 (ignora-se o sinal de negativo da segunda parcela).
o Regra de sinal + com – é igual a –. Logo, resultado final é –.
o Resultado: - 8
É possível notar que o fato do subtraendo ser um número maior que o minuendo causou
“estranheza” ao estudante. Mesmo que, nessa fase do ensino, seja esperado que os alunos
tenham familiaridade em trabalhar com resultados negativos. Contudo, nesse diálogo fica
evidente a dúvida do aluno e seu equívoco em relação à regra de sinais, similar aos outros
estudantes desse grupo. Para esclarecer esse conceito de número negativo, partiu-se para um
exemplo concreto, como se pode visualizar no diálogo a seguir.
A correção dos resultados pode ser observada, na figura 5.81, na inscrição feita à lápis,
do lado direito e após o item e. As respostas anteriores, feitas à caneta, foram conservadas para
fins de análise.
Figura 5.81 – Resposta estudante 6: Atividade 7 – segunda parte – segunda tentativa (estudo final).
Figura 5.82 – Resposta estudante 6: Atividade 7 – segunda parte – item E reescrito (estudo final).
Fica bastante evidente que o conceito de números negativos ainda não se preserva em
nível simbólico pelo estudante. Comparado aos outros estudantes, analisados até o momento, é
o que se encontra ainda no nível dos números naturais, sendo o conjunto dos números inteiros
ainda pouco compreendido.
Vale destacar que, esse estudante em particular, além de realizar cálculos com o auxílio
dos dedos da mão, também utiliza riscos agrupados para realizar as operações de soma ou
subtração. Veja-se a figura 5.83.
Figura 5.83 – Resposta estudante 6: Riscos usados para auxiliar nas operações de adição ou subtração (estudo
final).
Questionou-se o aluno o motivo pelo qual ele utiliza esse recurso para realizar os
cálculos e este foi o diálogo correspondente:
No estudo piloto, esse mesmo estudante realizou cálculos de soma sem respeitar a
ordem e classe de cada número, como se pode visualizar na figura 5.84 a seguir.
29
Utiliza-se “significados” no sentido utilizado por Vergnaud (2014, p. 300) sobre as diferentes representações do
pensamento, nas quais são abrangidos os conceitos e pré-conceitos de níveis diferentes.
243
negativos. Aquela noção parece ser mais eficiente do que a ideia de temperatura, por exemplo.
Isso possivelmente é explicado pelo fato do Brasil apresentar poucas regiões com temperaturas
negativas, enquanto o dinheiro está presente, de forma constante, no cotidiano.
A atividade 8 é a última desse protocolo que consiste em apresentar um passo a passo
de resolução de equações. Vale ressaltar que no jogo Jabara utilizado pelos estudantes antes de
iniciar as atividades, conforme o aluno avança de nível, a solução passa a exigir mais passos
para que ele encontre o valor da variável. Observe-se a figura 5.85:
Nesse diálogo, é possível notar que o estudante se sentiu seguro em resolver a atividade
8, mas faz uma ressalva de que os exercícios eram razoavelmente simples. Também se leva em
246
30 Foi publicado recentemente um trabalho com esta temática por Oliveira e Kikuchi (2018) com o título “O
laboratório de matemática como espaço de formação de professores” no periódico Cadernos de Pesquisa, da
Fundação Carlos Chagas.
247
Não foi aprofundada, durante esse diálogo, a questão sobre a resolução da atividade em
si, apenas a indagação sobre a dificuldade que o aluno demonstrou no ano anterior, durante o
estudo piloto. Comparando o seu desempenho com este estudo final, nota-se uma grande
diferença. No estudo anterior, o estudante deixou muitas questões em branco ou, quando
escreveu algo, deixou respostas como “Não é possível resolver. Não está especificado” ou
“Não entendi”. Vejam-se alguns exemplos das respostas de seu estudo piloto nas figuras 5.88
e 5.89:
Figura 5.89 – Resposta estudante 32: Série VII – Itens A e B (estudo piloto).
Linha 14 E32: Ah, porque é bem básica, né? Só isso: + ou − ... x (vezes)...
Pelo trecho anterior, segundo o aluno, as atividades do estudo final ficaram mais fáceis
por exigir mais operações básicas, enquanto o do ano anterior exigia outros conteúdos além
daquelas. Logo, pode-se notar dois estudantes, que tiveram desempenhos semelhantes nesse
estudo final, mas que possuem diferentes níveis de criticidade em suas opiniões. Somente por
meio de um estudo com essa característica – com entrevistas que questionam cada uma das
atividades, abrindo espaço para o diálogo e expressão de suas ideias e opiniões – é possível
diferenciar os diferentes níveis dos estudantes, mesmo dentro de um grupo considerado
razoavelmente similar no início. Também é relevante o papel dos Modelos Organizadores do
Pensamento, pelo fato de categorizar os dados apenas após os dados serem coletados, o que
torna as categorias mais coerentes com o resultado obtido.
Por fim, será feita a última análise deste grupo, com o caso do estudante 6.
Pela figura 5.90, já é possível constatar vários equívocos que, a priori, não são
facilmente dedutíveis. Não se trata apenas de um erro de cálculo, equívoco no sinal ou de
supressão de algum passo, como ocorre, na maioria das vezes, na resolução de equações. Ao
transformar a operação de adição para a multiplicação, nota-se um erro conceitual na resolução
dessa atividade.
250
Antes de partir para o diálogo, destaca-se que esee estudante não compreendia a ideia
de balança. Mesmo quando se tentou explicar de forma abstrata ou por desenhos. Por isso,
utilizou-se a estratégia de construir uma balança de pratos 31 , com material reciclável, para
demonstrar ao aluno, de forma concreta, o conceito de igualdade. Nas figuras 5.91 e 5.92, é
possível conferir a balança e os respectivos objetos que foram usados para demonstração da
ideia de equilíbrio e desequilíbrio.
31
Este material pode ser construído de várias maneiras e que podem ser facilmente encontradas em repositórios
educacionais, numa busca pelo Google, com as seguintes palavras-chave: “balança, equações, materiais recicláveis
para crianças”.
251
Figura 5.93 – Resposta estudante 6: Segunda tentativa da atividade 8 - item a (estudo final).
P: Isso. Você já tinha 12 e está tirando 12. Só que lembra da balança: se eu tirei 12,
Linha 286
para continuar equilibrada quanto eu tenho que tirar daqui? Do 20?
Linha 287 E6: 12 também.
Linha 288 P: 12 também. Então vai ficar 20...?
Linha 289 E6: Menos 12.
Linha 290 P: 20 - 12. Muito bem. Então x é igual a quanto?
Linha 291 E6: ((silêncio)) x é igual a oito.
Embora o estudante, nesse momento, tenha logrado encontrar a resposta certa, não se
sabe o motivo que o levou à representar o número vinte numa soma de duas parcelas de dez.
Uma hipótese seria a interpretação equivocada da própria explicação dessa atividade. Por
exemplo, em um dos passos, deve-se subtrair o valor que se encontra junto à variável x, no
mesmo lado da igualdade, para que se possa isolá-la. Mas, para isso, também é necessário retirar
o mesmo valor do outro lado da igualdade, veja-se a seguinte representação:
4 + 2 = 5
4 + 2 − 2 = 5 − 2
No início do diálogo anterior, o aluno diz em um trecho “(...) 10 mais 10 vai dar 20?”.
É possível que ele tenha interpretado, pela ideia de equilíbrio, que cada número representado
na equação precisa ser dividido em duas parcelas iguais. Ou seja, ele não está observando a
equação como um todo, mas cada número. Novamente, trata-se de uma hipótese que não foi
confirmada. Vergnaud (2014) faz um alerta sobre a ideia de hierarquia entre representações
simbólicas. Basicamente, seria adotar procedimentos e representações que mais favoreçam a
solução de um problema. Nesse caso, seria o equivalente a adotar a representação como a ideia
de equação por balanças. É claro que, no começo, o estudante se confunde, pois há outros
esquemas já mobilizados em seu aprendizado para esse conceito. Mas, ao longo do diálogo, é
possível notar o progresso de sua compreensão sobre o conceito.
254
Figura 5.94 – Resposta estudante 6: Terceira tentativa da atividade 8 - item a (estudo final).
Continuando a análise do último item, no diálogo a seguir, fica evidente que o estudante
ainda tem muita dificuldade para compreender o conceito que foi explicado até o momento.
Como referência, observe-se a figura 5.90, que foi apresentada como solução antes da discussão
a seguir.
Figura 5.95 – Resposta estudante 6: Segunda tentativa da atividade 8 - item b (estudo final).
255
P: Então você tem que fazer a mesma coisa do outro lado, lembra? Você tira, você
Linha 354
tem que tirar do outro lado também.
Linha 355 E6: 30 - 30.
Embora o diálogo pareça ser promissor, ainda notou-se que o estudante realiza as
operações “na tentativa e erro”, sem muita compreensão do que escreve.
Sabe-se que um aprendizado não ocorre em pouco tempo, principalmente, quando a
interação se resume a poucos minutos. No entanto, por meio da análise desse estudante 6, pode-
se inferir que há uma grande lacuna de habilidades e pré-requisitos esperados para a idade, fase
escolar e, também, nesse grupo a que pertence o aluno. Ou seja, seus esquemas mobilizados
para os problemas apresentados são muito mais incipientes, em termos de conteúdo e de
técnicas, comparados aos esquemas de outros estudantes. Por isso, é tão difícil para um
professor identificar uma didática “universal” que atenda todos os estudantes de uma única
turma, mesmo dentre aqueles que possuem dificuldades. Há a necessidade de elaborar caso a
caso.
No caso do estudante 6, teve-se que utilizar diversos recursos, desde exemplos
contextualizados com a realidade até um dispositivo concreto como uma balança.
Aparentemente, o último parece ser mais efetivo para a compreensão desses conceitos por esse
aluno, mesmo que ainda tenha algumas dificuldades para transpor ao contexto abstrato. Veja-
se uma das partes finais do diálogo:
P: Foi o que aconteceu. Então, voltando para a sua equação, aqui você já tinha - 6.
Linha 370 Já estava devendo 6. Você pôs + 6 para ele virar 0. Então, o que você tem que fazer
agora do lado do 30 também? Para ele continuar equilibrado como antes?
E6: ((silêncio)) Ele vem... estou tentando entender o que eu fiz aqui, para fazer
Linha 371
((fala baixa)) Aqui eu tinha tirado 10, não é?
Linha 372 P: Isso.
Linha 373 E6: Isso, não é?
Linha 374 P: Não. Quanto é esse?
Linha 375 E6: 12.
Linha 376 P: 12.
Linha 377 E6: Tem que tirar do 12 também?
Linha 378 P: Isso.
Linha 379 E6: ((silêncio)) Aqui eu tenho que tirar 6 de 30.
P: É. Só que aqui você já não tinha 6. É que você inverteu. Talvez seja isso que está
Linha 380 confundindo. Porquejá estava x - 6. Aí você colocou + 6 para poder zerar esse aqui,
certo?
Linha 381 E6: Certo.
P: Então, se você fez mais 6 de um lado, o que você tem? Olha: você colocou mais
Linha 382 6, esse lado ficou mais pesado. Então, o que você tem que fazer do outro lado para
ele continuar equilibrado?
Linha 383 E6: Acrescentar mais 6.
Linha 384 P: Isso.
Linha 385 E6: ((silêncio)) Vai ficar... ((silêncio))
Linha 386 P: Não, pode colocar aqui mesmo, porque você está igualando.
Linha 387 E6: Mais... 6.
Linha 388 P: Isso. Agora sim.
Linha 389 E6: Mais...
Linha 390 P: Agora você sabe descobrir quanto é que vale x.
Linha 391 E6: x vale 6 + 6... esse aqui não tem?
Linha 392 P: Isso. Isso acabou. Zero. Isso.
Linha 393 E6: ((silêncio)) 36. 36.
Linha 394 P: Isso. Então x é igual a...?
Linha 395 E6: A 36.
Linha 396 P: 6. Perfeito. ((silêncio)) deu para entender melhor essa parte da equação?
Linha 397 E6: Deu.
Figura 5.96 – Resposta estudante 6: Terceira tentativa da atividade 8 - item b (estudo final).
Embora fique constatado que boa parte da resolução foi conduzida pela entrevistadora,
podendo até ser citado um dos paradoxos didáticos de Brousseau (2007) conhecido como o
259
efeito Topázio32 , houve o cuidado de realizar mais um teste para verificar se existe algum
aprendizado para o aluno após sucessivas explicações, utilizando-se de exemplos diversificados.
Essa é a parte final do diálogo e da análise desse estudante.
32
Efeito Topázio é um paradoxo didático, elaborado por Guy Brousseau (2007), no qual o professor conduz o
raciocínio do aluno para que ele chegue na resposta esperada, a fim de ter por evitar um fracasso iminente.
260
Como foi possível observar, os invariantes operatórios mobilizados pelo Grupo 2 variou
até mesmo entre os seus membros. Se for realizada uma análise do ponto de vista de um cenário
maior, pode-se notar algumas similitudes e linhas condutoras de pensamento característicos de
cada grupo, mas mesmo entre os componentes há uma variedade. No quadro 5.6, é possível
observar os diferentes esquemas mobilizados entre esses estudantes. Já no quadro 5.11 pode-se
compará-los com os diferentes níveis de invariantes operatórios do Grupo 1.
O estudante 4 foi um caso no qual se optou por agrupá-lo tanto no Grupo 2 quanto no
Grupo 3. O motivo pelo qual foi feita tal escolha foi o resultado do estudo piloto desse aluno
que demonstraram algumas dúvidas e evidências, de que seria interessante analisá-las, tanto do
ponto de vista do conteúdo matemático quanto no ponto de vista sociocultural, no qual se focou
apenas o Grupo 3. A figura 5.98 representa as respostas que se chamou a atenção.
261
Pode-se dizer, inicialmente, que esse estudante é muito parecido com o último analisado
(estudante 6), em termos de dificuldades e de alguns esquemas mobilizados, mas com a
diferença de que foi muito mais difícil obter suas respostas e até houve uma certa indiferença
em colaborar com a pesquisa. Isso é muito curioso, já que, em nenhum momento, foi imposta
a participação dos estudantes no estudo. O convite foi feito e a cooperação seria de forma
voluntária, sem usar nenhum tipo de constrangimento ou insistência, caso o estudante se
recusasse em participar. É possível que parte da resistência seja apenas insegurança ou medo
de apresentar uma resposta incorreta para a pesquisadora que não o conhece. De qualquer forma,
extraiu-se o essencial para realizar nossa análise.
Observou-se que, em vários trechos do diálogo, uma característica predominante desse
estudante 4 é a resposta evasiva. Respostas pouco elaboradas como “Achei legal...”, “Não sei”
ou ambíguas como “algumas coisas estavam difíceis, algumas coisas estavam fáceis...”, “mais
ou menos” foram frequentes, o que dificultou bastante a análise em termos de conteúdo
matemático. Mas, como são os diferentes níveis de invariantes operatórios que estão sendo
analisados, ainda assim, foram interessantes em termos de comparação com os outros
estudantes. Veja-se o diálogo inicial:
33
Transcrição não literal das respostas: Atividade B1: “Eu não consegui entende (entender). Eu queria muito
resolver esses problemas. Dá vontade de chorar, mas eu queria fazer muito mesmo.”. Atividade B2: “Eu acho
que tem que resolver o de cima e o de baixo e eu esqueci como que faz.”.
262
E4: Porque na vinte ((fase 20)) eu não consegui passar. Aí fiquei, tipo, pensando, pensando...
Aí... eu fui lá e consegui, aí eu pensei, aí eu consegui passar. Só que na vinte... quando eu
Linha 4
cheguei na vinte quatro também consegui. Aí na vinte e cinco estava difícil... Aí... você parou
o jogo...
Linha 5 P: Entendi. E você achou que o jogo te ajudou a entender a atividade?
Linha 6 E4: ((Silêncio)) Mais ou menos...
Linha 7 P: Mais ou menos. Por quê?
Linha 8 E4: Porque... eu não entendi muita coisa do jogo...
P: Humn... E a atividade? O que você achou dessa atividade (comparada) com aquela que você
Linha 9
fez no ano passado?
Linha 10 E4: ((Pausa)) Eu achei... legal...
Linha 11 P: Legal? ((Pausa)) O que você achou legal, por exemplo?
Linha 12 E4: ((Silêncio)) Ai... Tipo... é... algumas coisas ((Silêncio)).
Linha 13 P: Algumas coisas... o quê? (rs)
Linha 14 E4: Algumas coisas estavam difíceis, algumas coisas estavam fáceis.
P: Aham. Por exemplo, essa primeira aqui, o que você achou? Aqui ele fala para descobrir o valor
Linha 15
de x. E fala assim que você precisa... O que você escreveu?
Linha 16 E4: “Precisa colocar o zero”.
34
Transcrição literal da resposta: “Que você precisa coloca (sic) o zero para sumir o x”.
263
35
Transcrição literal da escrita: “Que você precisa soma (sic) os dois lados”.
36
Transcrição literal da escrita: “Que você tem que fazem (sic) nas (?) a mesma coisa soma do (sic) dois lados”.
264
37
Transcrição literal da escrita: “Dá 10 (sic) é o numero abaixo”.
265
Foi possível notar, por meio dessa interação, que a noção predominante de significante
desse estudante é a de representação por imagem. Ou seja, quando se fala de símbolos (como
os números), isso não produz nenhum significado para o aluno. No entanto, quando foram dados
exemplos com objetos que ele enxerga, o estudante consegue identificar se os objetos são iguais
ou não, embora não consiga explicar como constrói este significado em seu pensamento.
Constatação que pode ser vista em sua última fala: “Porque é igual!”.
Vergnaud (2014) afirma que o pensamento trabalha com a ajuda de diferentes sistemas
simbólicos (linguagem, representação de imagens, etc.) e elas podem ser utilizadas em níveis
variados ao mesmo tempo. No caso desse estudante, elementos visuais como cores e formas
ajudaram a criar uma classe de objetos que possam ser consideradas como iguais ou diferentes.
Esses tipos de invariantes são chamados de relacionais e classificatórios. O fato do estudante
não conseguir definir com clareza o motivo pelo qual duas carteiras (escrivaninhas da sala de
aula) podem ser consideradas iguais, independente do estado de conservação delas, é uma
dificuldade de expressar a noção de invariante relacional. Vergnaud (ibidem) traz um exemplo
da noção de paternidade para uma criança. Para ela, é confusa a ideia de que a relação entre pai
e filho é verdadeira tanto para sua própria relação com o pai quanto para a relação de seu pai
com seu avô. Obviamente, aqui se trabalha com objetos diferentes, mas se pode indicar a noção
do invariante relacional como um obstáculo para o entendimento do estudante 4 sobre o
conceito de igualdade.
Continuando o diálogo, tentou-se dar mais elementos como exemplos para que o aluno
pudesse responder à questão 5 e às demais que ficaram em branco. Após a utilização do recurso
266
38
Para ajudar na compreensão dos estudantes, sobre a ideia de igualdade, foi criada uma balança utilizando dois copos
descartáveis e um cabide. Cada copo ficou suspenso em um lado do cabide, por meio de fios de barbante, no qual, utilizando-
se de bolinhas de gude, de tamanhos iguais, ou miniaturas de carros, em cada lado da balança, mostrei a ideia de equilíbrio e
desequilíbrio como forma de expressar a noção de equação, conforme podem ser vistas nas figuras 5.91 e 5.92.
267
39
Aqui está sendo trabalhado com o conceito de equivalência.
268
Com exceção do item a e c nos quais, por meio do diálogo, o estudante se equivocou
nos cálculos, o restante foi respondido corretamente. Vale ressaltar em um trecho do diálogo,
novamente, a falta do significado do conceito de igualdade entre números quando se questionou
o estudante “Por que dezesseis não é igual a seis?” e ele responde “Por que não é!”.
Muitos estudantes acreditam que a Matemática se resume em atividades de
“memorização” e “repetição”. Talvez, em alguns casos, como a aplicação de lemas e axiomas,
uma dessas constatações seja verdadeira. No entanto, a Matemática não se resume a isso. E,
esse tipo de compreensão, por parte dos alunos, pode ser a consequência da forma como a
disciplina foi didatizada na escola. É possível que trabalhos mais empíricos de investigação,
como a metodologia de resolução de problemas, como exemplo, o trabalho de Onuchic et al.
269
(2014), pudessem tirar um pouco o estigma de que a Matemática é uma mera acumulação e
aplicação de regras “inquestionáveis”.
Na atividade 7, demonstrou-se uma forma de aplicação da regra de sinais: quando há
um sinal positivo com um negativo, isso resulta em uma subtração. Após a aplicação da regra
de sinais, a equação torna-se uma subtração simples. Porém, conforme se pode observar na
figura 5.105, o estudante 4 respondeu que o resultado da operação 7 – 2 é nove.
Figura 5.105 – Resposta estudante 4: Primeira tentativa da atividade 7 - primeira parte (estudo final).
O que foi possível notar, pelo trecho anterior, é que o estudante parece não compreender
as operações que realiza na atividade. Há uma incerteza em suas respostas e parece responder
de forma aleatória, por exemplo, quando afirma que aplicou uma divisão para apresentar o
resultado nove. Porém, quando foi questionado se a divisão de sete por dois, realmente,
resultaria em nove, o estudante recuou dizendo que não, embora tenha ficado em silêncio em
270
um primeiro momento. Mesmo tentando explicar o equívoco cometido, o aluno parece não
compreender que a operação a ser realizada deve ser de subtração em vez da adição.
O que dificulta ainda mais a análise é o fato das resoluções desse estudante serem
limitadas a respostas monossilábicas ou até mesmo de silêncio, como é possível notar em
diversos trechos do diálogo com a pesquisadora, o que se limita a tentar entender o possível
raciocínio adotado pelo aluno. Na continuação do diálogo, haverá mais elementos que indicam
o nível de dificuldade com as operações do estudante 4.
“(...) é tarefa do professor, e mesmo que ele não disponha de qualquer outro
testemunho se não aquele fornecido pela observação dos comportamentos da
criança, buscar a parte das relações que ela, criança, bem compreendeu, a parte
que ela compreendeu de modo confuso, e a parte daquelas que ela ignora pura
e simplesmente. Em todo caso, é um enorme erro pedagógico considerar, sob
o pretexto de que o ensino é necessariamente feito de demasiados exercícios
de caráter repetitivo, de que consista ele, ensino, na aquisição, por simples
condicionamento, de hábitos ou de procedimentos já prontos” (VERGNAUD,
2014, p. 313).
Além disso, Vergnaud reforça que as regras só serão adquiridas pelas crianças quando
elas perceberem as ligações que aquelas mantêm com a estrutura relacional dos problemas aos
quais são aplicados. Ou seja, ao notar que o estudante 4 não conseguia associar os números
271
Figura 5.106 – Resposta estudante 4: Segunda tentativa da atividade 7 - primeira parte (estudo final).
Com a aparente compreensão inicial das operações, solicitou-se ao estudante para que
verificasse suas respostas na continuação dessa mesma atividade, como se pode observar na
figura 5.107.
Figura 5.107 – Resposta estudante 4: Primeira tentativa da atividade 7 - segunda parte (estudo final).
Segue o diálogo correspondente para verificar como o estudante retificou suas respostas.
Linha 149 E4: ((Pausa)) É... pela... pelo negócio que você me falou?
Linha 150 P: É... A mesma coisa que aqui. Isso. Só que aqui vai ficar 2 – 2, né? Quanto que dá 2 – 2?
Linha 151 E4: ((Pausa)) Dois?
Linha 152 P: Por quê?
Linha 153 E4: Dois?
Linha 154 P: Por que dois?
Linha 155 E4: ((Silêncio))
Linha 156 P: Você tem dois... tira dois.
Linha 157 E4: ((Pausa)) Então dois... tiro dois? É zero?
Linha 158 P: Zero!
Linha 159 E4: Aham.
Linha 160 P: E aí, esse aqui, cinco tira três.
Linha 161 E4: Cinco... e tira três... Cinco.
Linha 162 P: Cinco tira três... ó, 5 tira 3 ((demonstrando com objetos)).
Linha 163 E4: Dois.
Observou-se que a dúvida inicial ainda continua. Foi necessário reforçar a estrutura
relacional com os objetos concretos para que o estudante compreendesse as operações que
realiza.
Devido ao limite de tempo40, não foi possível dar continuidade ao restante das atividades
7 e 8. Para fins de registro, o estudante 4 não conseguiu responder nenhuma parte da atividade
8, entregando-a praticamente em branco (figura 5.111), exceto, a resposta da primeira parte da
atividade, como se pode observar na figura 5.110. Na figura 5.108 ficaram os registros das
respostas retificadas após o diálogo. E, na figura 5.109, a terceira e última parte correspondente
à atividade 7.
Figura 5.108 – Resposta estudante 4: Segunda tentativa da atividade 7 - segunda parte (estudo final).
40
No dia que foi aplicado este protocolo com o estudante 4, já era a última aula do dia e também o último disponível
para a aplicação dessa pesquisa na escola. Por isso, foi necessário interromper a entrevista referente ao protocolo
um pouco antes do término.
273
nesta pesquisa. Esse resultado também é um indicativo de que há uma diferença no nível de
compreensão em relação ao próprio conteúdo matemático, como se queria evidenciar ao se
classificar os estudantes em diferentes grupos.
Ressalta-se que o estudante 4, indicado com um sinal de asterisco, faz parte tanto do
Grupo 2, quanto do Grupo 3, que será analisado a seguir.
Os escolhidos para este grupo foram os estudantes 19 e 22, além do estudante 4, que
também pertenceu ao Grupo 2, conforme explicado anteriormente.
Embora não tenha sido elaborado questões relacionadas ao conteúdo matemático,
manteve-se a mesma metodologia de análise adotada para esta pesquisa, ou seja, as respostas
dos estudantes foram agrupadas em modelos que, de acordo com a análise de suas respostas,
mostraram-se como predominantes. No entanto, ressalta-se que esses modelos a seguir não têm
o mesmo conteúdo dos anteriores e não se relacionam diretamente com o conteúdo de
Matemática. Porém, considerou-se que são elementos adicionais importantes para ajudar na
compreensão das dificuldades dos estudantes em relação à aprendizagem daquele conteúdo.
Antes de realizar a entrevista com cada um dos estudantes, foi feita uma análise prévia
de suas respostas no questionário por escrito. E, de acordo com os elementos que mais se
chamou a atenção, direcionou-se a conversa para se obter mais detalhes sobre aspectos
relevantes encontrados em suas respostas. No entanto, as anotações constantes nas figuras 5.112
e 5.114 serviram apenas de referência para a condução da entrevista pela pesquisadora e não
foram mostradas aos alunos.
Para fins de organização, manteve-se a numeração sequencial anterior.
41
Transcrição não literal da resposta: “O meu sentimento pela matemática é boa porque ensina muita coisa. Se
você não souber alguma coisa na matemática, não tem como você fazer muitas coisas. Eu, no futuro, quero ser
engenheiro. E, para ser engenheiro, eu preciso fazer cursos e muitas coisas sobre matemática. A matemática faz
muita parte da nossa vida nem para tudo (sic). Mas, em algumas coisas, a matemática precisa ser usada. Se você
não souber a matemática, você não consegue trabalhar em um mercado e loja e etc. E é o que eu acho sobre a
matemática.”.
42
Transcrição não literal da resposta: “Eu gosto de matemática, mas realmente há algumas questões que,
realmente, não entendo. Talvez, em minha opinião, seja a maneira pela qual estão me explicando.”.
43
Transcrição não literal da resposta: “Minha relação em matemática que é (sic) muito difícil as atividades. Eu
preciso muito de ajuda, etc.”.
277
Para compreender um pouco melhor essas respostas, foi feito um diálogo com cada um
dos estudantes conforme a sequência a seguir.
Por meio de sua fala, fica evidente que a importância dada à Matemática é utilitária, ou
seja, de ordem prática para sobrevivência. Por exemplo, ir ao mercado fazer compras é uma
rotina presente quase que na totalidade das pessoas do mundo moderno, independente da
ocupação. O estudante utiliza como exemplo a profissão de operador de caixa para justificar
que não é apenas o engenheiro que precisa saber Matemática, mas até mesmo em atividades
que exigem menos qualificação técnica.
Já no caso do estudante 22, que será analisado a seguir, não há nenhuma menção em
relação à importância dada à disciplina, embora ele relate que goste dela. Em seu diálogo, pode-
se observar apenas os motivos pelos quais a Matemática é tão difícil para ele.
Como já é esperado, o estudante relata que sua maior dificuldade é com a Álgebra.
Segundo a justificativa do aluno, sua dificuldade se deve por conta da seguinte afirmação feita
por um professor de Matemática: “Se não tem número, não é Matemática”. Não se sabe ao
certo o contexto utilizado por esse professor para fazer uma afirmação de tal tipo, mas é notável
que criou um obstáculo na aprendizagem do conteúdo de Álgebra nesse estudante.
279
Este relato demonstra o quanto o professor deve ter cautela em suas afirmações e
definições, já que isso pode criar uma generalização equivocada e gerar um futuro obstáculo
para os estudantes.
No último trecho do diálogo, também se nota a angústia do estudante ao lidar com
sentenças abertas que não têm valor numérico definido. Esse tipo de dificuldade já é bastante
conhecido na literatura pertinente ao assunto44.
Já o estudante 4, relata poucos detalhes sobre a sua dificuldade em Matemática. Apenas
afirma que recorre a vídeos do YouTube45 para tentar sanar as suas dúvidas. Veja-se o seu
diálogo:
No próximo modelo, serão analisados trechos dos diálogos nos quais os estudantes
relacionam suas dificuldades de aprendizagem com a dinâmica da aula dos professores.
44
Em Coxford e Shulte (1995) há inúmeros artigos que relatam tais tipos de dificuldades. E, também na pesquisa
de Ponte, Branco e Matos (2009, p.98).
45
YouTube é uma plataforma digital de compartilhamento de vídeos na qual o usuário pode encontrar conteúdos
diversos, inclusive, de professores que ensinam conteúdos escolares.
280
destacou-se e as observações nas respostas, para que, posteriormente, fosse possível obter mais
detalhes durante a entrevista.
46
Transcrição não literal da resposta: “Uma boa aula é quando o professor consegue desenvolver a aula. Quando
os alunos prestam atenção na aula. Isso, para mim, é uma boa aula”.
47
Transcrição literal da resposta: “Aquela onde todos os alunos possam interagir com a aula, possa ser um pouco
mais animada.”.
48
Transcrição não literal da resposta: “Uma aula boa é aquela sala em silêncio, que o professor ensina bem.”.
281
49
Psuedônimo adotado para preservar o anonimato.
282
50
Os nomes utilizados são fictícios para preservar o anonimato.
283
O estudante 4, assim como o estudante 19, acredita que o principal motivo que gera a
indisciplina na sala é a falta de uma postura firme de alguns professores e não a falta de
motivação, como relatado pelo estudante 22, observe-se o trecho:
A última pergunta que foi feita aos alunos, neste protocolo, foi em relação ao lazer, ou
seja, o que costumam fazer em suas horas livres. Essa pergunta gerou o modelo com o mesmo
nome, já que, dentre todas as citadas, houve uma atividade em comum na maioria: ir ao
shopping center com a família e a leitura. Embora, nesta última, exista uma ressalva que será
explicada mais adiante.
Sabe-se que passear no shopping center é um tipo de atividade usualmente citada como
a preferida, já que, pela pouca oferta de parques públicos que ofereçam uma boa infraestrutura,
ou até mesmo pela sensação de insegurança que sentem ao andar em vias públicas, o centro de
51
Psuedônimo adotado para preservar o anonimato.
52
Psuedônimo adotado para preservar o anonimato.
284
compras acaba sendo o lugar mais atraente para boa parte dos moradores de regiões urbanas.
Embora até exista muitos museus de acesso gratuito ou a preços relativamente populares,
deslocar-se para a capital paulista (onde há mais ofertas de atividades culturais) não costuma
ser um hábito muito comum das famílias que moram na grande São Paulo. Nisso ainda se
acrescenta o alto custo de deslocamento em veículo particular (estacionamento e combustível)
e a escassez de alternativas de transporte público eficiente em muitos casos. Além disso,
segundo o diálogo com os estudantes desse grupo, a maioria tem a figura paterna como o
principal provedor do sustento da família, muitas vezes, com uma dupla jornada de trabalho
com poucos dias de descanso. Isso implica que, comumente, as mães ficam como responsáveis
por cuidar da casa e, por vezes, de sair com as crianças. Sendo assim, o shopping center acaba
sendo uma opção bastante cômoda para o lazer dessas famílias.
No entanto, o estudante 19 citou que já foi ao museu do Catavento53 com a família e
que gostou muito dessa experiência. Curiosamente, esse foi o único aluno que, embora
apresente dificuldades com o conteúdo de Matemática, cita a importância de aprender essa
disciplina, ainda que suas concepções sejam um pouco ingênuas, baseadas em aplicações
utilitárias da Matemática, como citadas anteriormente. Além do museu do Catavento, esse
estudante também citou o interesse em visitar um outro museu: o do Futebol. Isso vai ao
encontro com suas disciplinas preferidas, conforme se pode observar na figura 5.118. Na
sequência, veja-se o trecho do diálogo correspondente:
53
O Centro Catavento Cultural ou Museu do Catavento, localizado na região central da capital paulista, é um local
com atividades interativas para estimular a curiosidade pela ciência nas crianças. Detalhes estão disponíveis no
endereço http://www.cataventocultural.org.br/
54
Transcrição não literal da resposta: “Educação física: porque eu gosto de fazer esporte... Português: é porque
eu gosto de aprender a falar as coisas certas (sic). O português é importante em nossas vidas. Matemática: nós
precisamos aprender Matemática.”.
285
Observe-se agora o diálogo do estudante 22, que relata a rotina de seus pais e, em
sequência, o do estudante 4.
286
No caso do estudante 22, o seu problema de visão é um dos motivos pelo qual sua mãe
evita que ele saia de casa. Durante o diálogo, não ficou claro o que ele costuma fazer de
atividade de lazer junto à família. No entanto, os amigos parecem ter um papel muito importante
55
Em um trecho do diálogo, o estudante citou o trabalho de seu pai: “Meu pai mesmo é taxista, então ele não fica
em casa. Ele sai às 5 da manhã e volta à meia-noite.”.
287
na independência e autoconfiança desse aluno, mesmo com as limitações que sua deficiência
visual impõe.
Já no caso do estudante 4, ele relata que seu pai trabalha muito e costuma não querer
participar das atividades de lazer com a família. No caso desse aluno, também é citado o
shopping center como o local preferido para os passeios com seus familiares.
Nas figuras 5.119 a 5.121, pode-se observar as outras atividades preferidas pelos
estudantes em suas horas de lazer.
56
Transcrição não literal da resposta: “Ah, nas minhas horas livres, eu gosto de fazer muita coisa como: jogar
videogame, jogar futebol e, de vez em quando, ler algum gibi. Na minha hora livre, eu ainda fico andando pelas
ruas, pelo condomínio, sair para o shopping, sair para comer alguma coisa, ficar entre (a) família (sic). E é isso
que eu gosto.”.
288
Como é possível observar nessas últimas figuras (5.119 a 5.121), há a citação da leitura
como um lazer em comum. No entanto, ao se dialogar com os respectivos estudantes, o
estudante 22 é o único que parece realmente ter preferência por livros. No caso do estudante
19, a leitura predominante é de gibis. E, no caso do estudante 4, embora tenha citado que gosta
de ler, ao ser questionado, não soube descrever que tipo de leitura que gosta. É possível que o
fato do tempo de aula ter se esgotado, tenha apressado o entrevistado com as respostas. Vejam-
se nos respectivos diálogos:
57
Transcrição não literal da resposta: “Eu gosto de jogar RPGs online, assistir vídeos de jogos no YouTube, gosto
de ver séries (televisivas), tudo isso, envolvendo coisas místicas. Também gosto de ler.”.
58
Transcrição não literal da resposta: “Fico escutando música e lendo livro e fico quieto”.
289
No caso desse último estudante, é possível perceber uma contradição entre o que havia
escrito no questionário e sua resposta na entrevista. Também questionou-se o que ele quis dizer
ao responder que costuma ficar “quieto”, mas também não houve resposta. Particularmente,
obter respostas do estudante 4 foi mais difícil entre todos os estudantes, pois, muitas vezes, ele
permanecia em silêncio ou respondia de forma evasiva.
Chega-se ao final das análises do Grupo 3 e, nos quadros a seguir, há um resumo
descritivo dos modelos encontrados nesse grupo.
59
O nome foi substituído para garantir o anonimato.
290
Controle da
SIM SIM SIM
indisciplina.
Interação com os
NÃO SIM NÃO
estudantes.
Utilização de uma
variedade de recursos
SIM SIM NÃO
didático-
pedagógicos60.
De acordo com as análises realizadas nos tópicos anteriores, serão feitos dois tipos de
quadros. O primeiro (quadro 5.10) é um painel que resume todos os esquemas encontrados nas
atividades dos Grupos 1 e 2 em todos os modelos, lembrando que o Grupo 2 apresentou apenas
o modelo 1 (Aritmética) com representatividade em suas respostas.
Os nomes dos estudantes estarão abreviados no formato E# sendo:
60
Os recursos “didático-pedagógicos” os quais se referem seriam elementos como: saber explicar um mesmo
conteúdo utilizando contextos diversificados, utilizar recursos metodológicos variados para o ensino de
Matemática, tais como jogos, dinâmicas em aula, etc.
291
• E: estudante
• #: número de identificação dado a ele conforme visto nas análises.
Esses níveis serão classificados dentro dos modelos identificados em cada um dos
grupos e serão indicados com símbolos de + para identificar o grau mais predominante em cada
nível.
Após os quadros, no Capítulo 6, serão feitas as considerações finais e serão apresentadas
algumas perspectivas de pesquisa deste trabalho.
Quadro 5.10: Resumo descritivo de todos os esquemas apresentados por cada grupo em cada modelo 292
CLASSES E
ARITMÉTICA GEOMÉTRICA CONJUNTOS
ESQUEMAS ORDENS
GRUPO 1 GRUPO 2 GRUPO 1 GRUPO 1 GRUPO 1
1
Estrutura aditiva E3 E13 E20 E6 E27 E32 E4* E3 E13 E20 E3 E13 E20 E3 E13 E20
Duas medidas que se compõem
N/A N/A N/A SIM SIM SIM SIM N/A N/A N/A SIM SIM SIM SIM SIM SIM
para resultar em uma terceira.
Uma transformação opera sobre
uma medida para resultar em outra N/A N/A N/A SIM SIM SIM NÃO N/A N/A N/A SIM SIM NÃO N/A N/A N/A
medida.
Duas transformações se compõem
para resultar em uma N/A N/A N/A NÃO SIM NÃO NÃO N/A N/A N/A N/A N/A N/A N/A N/A N/A
transformação.
Estrutura multiplicativa E3 E13 E20 E6 E27 E32 E4* E3 E13 E20 E3 E13 E20 E3 E13 E20
Multiplicação de dois termos
SIM SIM SIM N/A N/A N/A N/A SIM SIM NÃO N/A N/A N/A SIM SIM SIM
iguais.
Multiplicação de dois termos
N/A N/A N/A N/A N/A N/A N/A N/A N/A N/A N/A N/A N/A SIM SIM SIM
diferentes.
Noção de múltiplo e divisor. N/A N/A N/A N/A N/A N/A N/A N/A N/A N/A N/A N/A N/A SIM SIM SIM
Estrutura algébrica E3 E13 E20 E6 E27 E32 E4* E3 E13 E20 E3 E13 E20 E3 E13 E20
Multiplicação de dois termos
SIM SIM NÃO N/A N/A N/A N/A SIM SIM NÃO N/A N/A N/A SIM NÃO NÃO
algébricos iguais.
Comutatividade na multiplicação
SIM SIM NÃO N/A N/A N/A N/A N/A N/A N/A N/A N/A N/A N/A N/A N/A
de dois termos algébricos.
Multiplicação entre a soma de dois
SIM SIM SIM N/A N/A N/A N/A N/A N/A N/A N/A N/A N/A N/A N/A N/A
termos algébricos.
Soma de termos algébricos iguais. SIM SIM NÃO N/A N/A N/A N/A N/A N/A N/A N/A N/A N/A SIM SIM NÃO
Compreensão do coeficiente de
SIM NÃO NÃO NÃO SIM SIM NÃO N/A N/A N/A N/A N/A N/A N/A N/A N/A
uma variável.
Compreensão da função dos
SIM NÃO NÃO NÃO SIM SIM NÃO N/A N/A N/A N/A N/A N/A SIM SIM NÃO
parênteses.
1
No caso das estruturas aditivas, utilizamos as categorias definidas por Vergnaud (2014, p. 200).
Quadro 5.11: Possíveis invariantes operatórios mobilizados pelos grupos por modelo
CLASSES E
ARITMÉTICA GEOMETRIA CONJUNTOS
NÍVEIS ORDENS
GRUPO 1 GRUPO 2 GRUPO 1 GRUPO 1 GRUPO 1
E3 E13 E20 E6 E27 E32 E4* E3 E13 E20 E3 E13 E20 E3 E13 E20
1 - REPRESENTAÇÃO VERBAL ++ ++ +++ ++ ++ +++ + + ++ +++ + ++ +++ + ++ +++
2 - REPRESENTAÇÃO EM
+ + ++ +++ - - - ++ ++ ++ +++ - - + - ++
DIAGRAMAS
3 - REPRESENTAÇÃO
+++ +++ + + +++ ++ - +++ ++ + ++ ++ + +++ +++ +
ALGÉBRICA OU GEOMÉTRICA
Legenda:
Grau Descrição
+++ Nível mais predominante.
++ Nível predominante.
+ Nível pouco predominante.
- Não houve representação desse tipo.
293
295
CAPÍTULO 6
CONSIDERAÇÕES FINAIS E PERSPECTIVAS DE PESQUISA
A proposta inicial foi criar sugestões de atividades nas quais o professor de Matemática
possa reforçar habilidades que ainda não foram desenvolvidas nos estudantes, pois, sem o
domínio daquelas, o aprendizado de qualquer conteúdo matemático pelos alunos seria
comprometido. Além disso, foi proposto o incentivo para utilizar a análise de erros como
ferramenta metodológica para a orientação de propostas didáticas de ensino para o professor.
Por meio da análise do estudo piloto, notou-se que existem alguns tipos de habilidades
que são essenciais para a correta compreensão de uma atividade como: a capacidade de leitura
e interpretação de texto, além da expressão por meio da escrita. Essas habilidades, que foram
baseadas nas pesquisas de Krutetskii (1976), mostraram-se mais importantes que o próprio
conhecimento sobre o conteúdo específico. Tal fato pode ser justificado por alguns exemplos
de atividades nos quais não se requeria nenhum conhecimento específico de álgebra, mas de
leitura e interpretação de texto. Resultados do PISA e SARESP apontam, há muitos anos, que
os alunos no geral estão com a capacidade de leitura e escrita muito aquém do esperado. Como
consequência, muitos estudantes não tiveram sucesso nas atividades, limitando-se a responder
com “Não sei” ou “Eu esqueci, mas a professora explicou no começo do ano”.
Para corroborar com a hipótese de que a dificuldade com os conteúdos não está apenas
relacionado ao fato de não o ter aprendido, mas também na limitação da capacidade de
expressão escrita, aplicou-se um questionário de três perguntas, no qual os alunos poderiam
descrever livremente o que fazem em seu cotidiano fora da escola, o que mais gostam de fazer
e como se auto descrevem. Durante a aplicação dessa atividade, alguns estudantes não
compreendiam o intuito dela e esperavam por instruções explícitas para que pudessem
direcionar o que deveriam escrever. Mesmo sendo esclarecido que se tratava de opinião pessoal
e, portanto, não havia uma resposta certa ou errada, ainda assim, muitos não souberam o que
descrever na folha.
Embora seja natural que esse tipo de atividade suscite bastante dúvida nos estudantes,
já que eles estão acostumados a resolver propostas mais direcionadas e poucas de natureza
296
crítico-reflexiva, foi um pouco surpreendente observar que alguns alunos não são capazes de
descreverem o seu cotidiano fora da escola. Pressupõe-se que tal relato não necessitaria de
muito esforço intelectual para realizá-lo, mas, assim como nas atividades do estudo piloto,
conforme apresentado no Capítulo 4, que não exigiam necessariamente o conhecimento de
conteúdo algébrico, muitos tiveram dificuldades para interpretar e expressar o seu raciocínio ou
o seu pensamento a respeito daquela atividade.
No Capítulo 5, realizou-se uma análise mais aprofundada de alguns estudantes
selecionados e separados por grupos, baseando-se nos resultados obtidos no estudo anterior.
Com isso, foi possível identificar e inferir diferentes níveis de possíveis invariantes operatórios
mobilizados pelos estudantes, envolvendo o conteúdo de álgebra.
Vergnaud (2014) avalia que muitos algoritmos ensinados aos alunos, para a resolução
de operações, por exemplo, a soma, são muito difíceis de serem compreendidos. Nas análises,
a afirmação do teórico ficou evidente na atividade 4, do Grupo 1, na qual os estudantes deveriam
explicar a lógica do algoritmo da soma e, muitos deles, apresentaram bastante dificuldade para
explicitar o seu raciocínio. Levando em consideração que os alunos pesquisados são dos anos
finais do Ensino Fundamental, é indagado, portanto, se o algoritmo da soma seria o melhor
método para ensinar os conceitos de soma aos iniciantes do ensino básico, como ocorre
frequentemente.
No entanto, no Capítulo 2, também mostrou-se que tais dificuldades dos estudantes
podem ser explicadas, segundo Vergnaud (1990), pelo conjunto G pertencente à ternária
!(#, %, Γ) referente às maneiras de explicar os conceitos. O G representa as formas linguísticas
e não linguísticas que permitem descrever simbolicamente o conceito e também faz parte do
processo de aprendizagem. Logo, ao analisar os diálogos dos respectivos estudantes, pode-se
notar alguns aspectos de verbalização voluntária, principalmente no estudante 20 do Grupo 1,
ou de explicações prolixas como encontradas majoritariamente no Grupo 2. Isso, na visão de
Vergnaud (idem), é um indício de que há uma lacuna no aprendizado e o conceito formal ainda
não foi internalizado. Por isso, nesta pesquisa, por meio da análise desses diálogos, foi possível
exemplificar alguns casos, nos quais os estudantes foram capazes de apresentar um resultado
correto, mas mostraram que ainda não internalizaram totalmente tais conceitos. Mas, o que os
alunos pensam a respeito dessas dificuldades em Matemática?
Segundo a visão deles, muito do que se ensina nessa disciplina é resumido em fórmulas
e algoritmos “sem sentido”. Esse ponto de vista fica ainda mais evidente durante o diálogo com
alguns estudantes em respostas como “(...) alguma coisa está errada, mas eu não vou saber
explicar o que está errado...” do estudante 20, após tentar resolver uma expressão da soma do
297
Sabe-se que cada indivíduo tem o seu próprio tempo de aprendizagem e o tempo
expresso pelo calendário dos currículos escolares não corresponde ao tempo que se leva para
ocorrer o aprendizado, o que justifica a perpetuação de dificuldades elementares. Mas também
entende-se que há estudos que apontam aspectos emocionais como obstáculos de aprendizagem.
Veja-se um exemplo do estudante 4 (figura 6.1) e do estudante 15 (figura 6.2), os quais
responderam da seguinte forma a atividade B1 e B2, respectivamente, que foi analisado no
Capítulo 4:
298
Figura 6.1 - Resposta estudante 4: Primeira tentativa da atividade B1 (1ª parte - estudo piloto).1
No estudante 4, que pertence ao caso especial analisado no estudo final, foi possível
notar algumas características em seu comportamento que podem influenciar em sua
aprendizagem, tais como: insegurança, timidez e até uma certa apatia. Esses três atributos
tornaram-se mais evidentes no protocolo do Grupo 3 no qual os estudantes deveriam contar um
pouco de suas preferências e rotinas. Respostas vagas como “Não sei”, “Achei legal...” ou
idiossincrasias como “Fico quieto” quando questionado sobre o que gosta de fazer em suas
horas livres. Esse tipo de comportamento não seria muito típico, ao menos esperado, de um
adolescente típico, na faixa dos treze aos quinze anos de idade. Nesta pesquisa, não se entrou
no mérito de investigar os detalhes dos motivos que podem causar os supostos “bloqueios”
emocionais, mas sabe-se o quanto esse tipo de obstáculo pode estar relacionado ao aprendizado.
Vigotski (2000, p. 28) afirma que “a natureza da atenção voluntária e qualquer função
superior não pode deduzir-se da psicologia individual”, ou seja, um sujeito é um produto das
relações com o seu meio histórico-cultural. Portanto, uma possibilidade de continuidade desta
pesquisa seria nesse âmbito.
1
Transcrição não literal da resposta: “Eu não consegui entende (sic). Eu queria muito resolver esses problemas.
Dá vontade de chorar, mas eu queria fazer muito mesmo.”.
299
Na primeira tentativa de resolução da atividade B1, ele respondeu que não sabe
responder às perguntas, pois tem dificuldades em lidar com contas que envolvem números e
letras. Isso poderia ser um indicativo de que a dificuldade está apenas nas expressões algébricas,
mas não nas aritméticas. No entanto, quando foi aplicada a pergunta-modelo questionando se
300
ele seria capaz de resolver algumas expressões aritméticas e outras apenas com incógnitas, o
estudante reitera a mesma resposta, indicando que a dificuldade não é apenas na habilidade
algébrica, mas em outras anteriores, como mostrado na figura 6.3.
O estudante 15 não foi selecionado para fazer parte de nenhum grupo do estudo final,
pois suas respostas, no estudo prévio, não revelaram traços suficientemente importantes para
uma análise mais detalhada. No entanto, serviu como um exemplo de resposta dada por muitos
estudantes analisados inicialmente no estudo preliminar.
Nas análises dos diálogos do Grupo 3, boa parte deles mencionou que a qualidade do
seu aprendizado em Matemática parece estar relacionada à maneira como o professor explica o
conteúdo. O estudante 22, por exemplo, cita que sua dificuldade com Álgebra é o fato de existir
letras e números juntos. Em sua concepção, não faz sentido existirem letras na Matemática.
Essa noção, segundo ele, vem da seguinte afirmação dada por um professor: “se não tem
número, não é Matemática”. Isso revela o cuidado que um docente deve ter no momento de
explicar e formular conceitos. Conforme já indicado por Brousseau (2001), há a necessidade de
contextualização e descontextualização do saber; de produzir um conhecimento cultural
utilizável. Uma afirmação equivocada, sem esse tipo de trabalho, pode gerar um futuro
obstáculo no aprendizado dos alunos.
Além disso, foi mencionado por esses estudantes que um professor deve ser capaz de
controlar a indisciplina da sala de aula, pois isso compromete a qualidade do aprendizado. No
entanto, foi ponderado que isso não significa ser um docente autoritário. Pelo contrário,
demonstrar-se interessado pelos alunos parece ser o ponto-chave para que os alunos façam
silêncio nos momentos necessários. Os dois professores que foram mencionados pelos alunos
possuem tais características, incluindo-se, a docente que nos motivou a conduzir a pesquisa
nesta escola. Ou seja, novamente um fator emocional vinculado às relações humanas são
primordiais para que a relação professor-aluno, na sala de aula, seja bem-sucedida.
Por isso, mostra-se cada vez mais importante nos cursos de formação de professores
enfatizar tais aspectos e preparar os licenciandos para lidar também com a interação social com
os seus estudantes. Isso não significa se tornar o melhor amigo deles. Porém, o professor deve
301
Quando se elaborou o estudo final, também era uma das intenções incluir as
contribuições da docente da escola participante para elaborar esse estudo, como ocorreu no
estudo piloto. Mas, infelizmente, por intercorrências administrativas2 na escola, isso acabou
não acontecendo. Com essas ações, o intuito era realizar uma pesquisa que permitisse uma
maior aproximação da Universidade com a escola, isto é, uma cooperação de duas vias: das
contribuições práticas do professor e dos conhecimentos teórico-metodológicos do pesquisador.
Com isso, as experiências advindas do contexto escolar, por meio do professor que atua em sala
de aula, ajudariam o pesquisador a analisar e sugerir um segundo olhar sobre o mesmo ambiente
2 No ano seguinte, quando se retornou para dar continuidade ao estudo piloto, houve uma mudança na distribuição
de aulas e a professora referida não lecionava mais para esses alunos que participaram do piloto, além de sua
aposentadoria estar prestes a ser homologada neste mesmo ano, inviabilizando a continuidade da pesquisa com
sua participação.
302
professor de Matemática nesse ambiente. Abordar questões de como o docente pode avaliar
melhor os seus estudantes e também de auxiliar no desenvolvimento das habilidades
matemáticas desses alunos.
Vale ressaltar que o protocolo aplicado ao Grupo 3 foi uma tentativa de levar tais
considerações para análise. Embora tenha sido aplicado esse questionário também para os
outros grupos, optou-se por não associar a essa análise, já que o intuito principal desta pesquisa
foi levantar os invariantes operatórios levando em consideração as atividades que um professor
de matemática típico aplicaria em sala de aula. Mesmo que seja importante o fato do docente
da escola básica levar em consideração aspectos socioculturais dos alunos, sabe-se que
dificilmente ele terá espaço e tempo para fazer uma análise minuciosa desse aspecto. Por isso,
para essa fase desta pesquisa, definiu-se por enfatizar primeiramente os aspectos do conteúdo
matemático em si. No entanto, isso não impede de prosseguir com uma nova pesquisa de viés
sociocultural.
Além disso, seria possível também desenvolver pesquisas voltadas para a formação de
professores associando aspectos cognitivos e socioculturais na aprendizagem dos alunos.
Sabem-se das dificuldades dos alunos em Matemática, mas estão sendo formados professores
que saibam lidar com esses obstáculos? As disciplinas didático-pedagógicas dos cursos de
Licenciatura em Matemática estão preparadas para lidar com essa diversidade da sala de aula?
São as questões de reflexão deixadas como perspectivas de pesquisa.
305
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iniciais: critérios que orientam a escolha e o uso por parte de professores. Revista
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RAMOS, M. L. P. D.; CURI, E. Análise de erro em uma questão sobre função: uma forma
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Rio de Janeiro, v.4, n.3, p. 13-24, set.dez. 2014a.
RAMOS, M. L. P. D.; CURI, E. Modelo de Análise Didática dos Erros: um guia para
analisar e tratar erros referentes à função polinomial do 2º grau. REVEMAT.
Florianópolis, v.9, n. 1, p. 27-42, 2014b.
ANEXOS
Grupo de habilidades Série de atividades Conteúdo Características a serem estudadas
Categoria
No . Descrição No .1 Descrição Cód.2 Designação Objetivo principal Objetivo secundário
Percepção das relações e os fatos
A Aritmética
Problemas com enunciados concretos de um problema.
I
indeterminados Percepção das relações e os fatos
Percepção B Algébrica
concretos de um problema.
Coleta de informações H1 (Interpretação de
Problemas com informações Percepção das relações e os fatos
um problema) II A Aritmética
incompletas concretos de um problema.
Percepção das relações e os fatos
III Problemas com informações excedentes A Aritmética
concretos de um problema.
Generalização e contextualização Simplificação de processos de
V Sistemas de problemas de um tipo único B Algébrica
apoiado em conceitos. raciocínio.
Sistemas de problemas com
VII transformação gradual do concreto para C Mista Capacidade de generalizações. Memória matemática.
o abstrato
A Aritmética Capacidade de generalizações;
Composição de problemas de um tipo
VIII B Algébrica Percepção generalizada de um
apresentado previamente
D Lógica problema.
Generalização de
H2 conceitos A Algébrica Capacidade de generalizar um
matemáticos raciocínio; Desenvolver o raciocínio Tipos de habilidades
IX Problemas para provar
D Lógica lógico; Perceber processos de matemáticas
Processamento de raciocínio simplificado.
informações Capacidade de generalizar um
raciocínio; Desenvolver o raciocínio
Composição de equações usando os lógico; Perceber processos de
X B Algébrica Flexibilidade do pensamento.
termos de um problema raciocínio simplificado; Perceber as
relações e os fatos concretos de um
problema.
Reversibilidade A Aritmética Capacidade para inverter os processos
H3 do processo XVII Problemas diretos e inversos
B Algébrica mentais.
mental
Compreensão, E Geral Utilizar o raciocínio lógico; Memória
Problemas de compreensão e raciocínio Simplificação de processos de
H4 Raciocínio e XIX matemática; Perceber processos de
lógico D Lógica raciocínio.
Lógica raciocínio simplificado
Tipos de Generalizações; Simplificação
Problemas com formulações visuais e
Tipologia H5 habilidades XXIV A Algébrica Tipos de habilidades matemáticas de processos de raciocínio;
verbais
matemáticas Memória matemática.
Anexo A - Categorias de análise dos problemas a serem aplicados no estudo. (Adaptado de Krutetskii, 1976).
1
Mantivemos a mesma numeração definida pelo autor, mas selecionamos apenas as séries que serão incluídas na pesquisa.
2
Fizemos uma mudança no código e designação da categoria do problema para fins de melhor compreensão.
313
Cód.
Cód.
Categoria Hab. Sub. Sub. Hab. Série Campos Conceituais Conceitos envolvidos
Hab
Hab.
A Aritmética I Estruturas aditivas Operações de soma e subtração
B Algébrica I Estruturas algébricas Incógnitas
Percepção Estruturas aditivas Operações de soma e subtração
Coleta de A Aritmética II
H1 (Interpretação de Estruturas multiplicativas Operações de multiplicação
informações
um problema) Operações de soma e subtração
Estruturas aditivas
A Aritmética III Operações de multiplicação
Estruturas algébricas
Equações algébricas
Proporções múltiplas
A Aritmética VIII Estruturas multiplicativas
Produto das medidas
Incógnitas
Estruturas algébricas
A Algébrica IX Operações com incógnitas
Estruturas multiplicativas
Expressões algébricas
Incógnitas
B Algébrica V Estruturas algébricas
Operações com incógnitas
Generalização de
B Algébrica VIII Estruturas algébricas Operações com incógnitas
H2 conceitos
matemáticos Incógnitas
Operações com incógnitas
Processamento de B Algébrica X Estruturas algébricas
Expressões algébricas
informações Resolução de equações
Estruturas multiplicativas Produto das medidas
C Mista VII
Estruturas algébricas Operações com incógnitas
Operações de soma e subtração
D Lógica IX Estruturas aditivas
Operações de multiplicação
Reversibilidade do A Aritmética XVII Estruturas multiplicativas Operações de multiplicação e divisão
H3
processo mental B Algébrica XVII Estruturas algébricas Expressões algébricas
Compreensão; D Lógica XIX Estruturas aditivas Operações de soma e subtração
H4 Raciocínio e
Lógica E Geral XIX Estruturas multiplicativas Operações de multiplicação e divisão
Tipos de
Tipologia H5 habilidades A Algébrica XXIV Estruturas algébricas Expressões algébricas
matemáticas
Anexo B – Tabela relacionando habilidades e conceitos.
315
317
ANEXO C
Carta de apresentação do protocolo
Caro(a) aluno(a):
Também pedimos que faça a sua identificação com nome e data de realização da
atividade para que possamos dar continuidade nas próximas fases da pesquisa. Mas, não se
preocupe, pois seu anonimato será garantido.
Boa atividade!
Luzia M. Kikuchi
(Doutoranda do PPG/FEUSP)
319
ANEXO D
Estou ciente de que participam das atividades alunos da Escola Estadual Antônio de
garantem o sigilo, assegurando a privacidade dos sujeitos quanto aos dados envolvidos na
pesquisa. Declaro compreender que as informações obtidas só podem ser usadas para fins
científicos, de acordo com a ética na pesquisa, e que essa participação não inclui nenhum tipo
de pagamento.
Pesquisadores responsáveis1:
Luzia Maya Kikuchi
Prof. LD. Elio Carlos Ricardo (orientador)
1
Informações e alterações podem ser solicitadas por e-mail luzia.kikuchi@usp.br / elioricardo@usp.br ou pelo
telefone (11) 3091-8260.
321
Nome:
________________________________________________________________________
Caro(a) aluno(a):
Também pedimos que faça a sua identificação com nome e data de realização da atividade para que
possamos dar continuidade nas próximas fases da pesquisa. Mas, não se preocupe, pois seu anonimato será
garantido.
Agradecemos desde já pela sua colaboração que auxiliará pesquisadores e professores a compreender
melhor o ensino de Matemática no Brasil.
Boa atividade!
Luzia M. Kikuchi
(Doutoranda do PPG/FEUSP)
Série I: Leia os problemas a seguir e formule a pergunta do enunciado. Depois, tente resolver
o problema.
Série II: Leia o problema a seguir. Você notou algo de diferente? Explique.
Uma escola recebeu 80 notebooks separados em dois tipos de modelo. O mais simples
custa 800 reais e o modelo mais avançado 1.000 reais. Quantos notebooks de cada tipo a
escola recebeu?
323
Nome:
________________________________________________________________________
Série III: Leia e resolva o problema a seguir. As informações expressas são suficientes?
Explique quais você utilizou.
a. (# + %)' =
)
b. (1 + #* % ' )' =
'
Após resolver as expressões acima, o que você pode afirmar sobre as expressões a
seguir, comparando item a item? Ex.: item a com item 1.
1. #' + % ' =
)
2. ( #% * )' + (2#)' =
*
B2 – Quais destas expressões algébricas podem ser resolvidas por meio da fórmula do
quadrado da soma de dois números? Explique o porquê.
a. (# + %)'
b. # + % '
c. # + 2% '
d. #' + % '
325
Nome:
________________________________________________________________________
Série VII – Os problemas a seguir são semelhantes, mas seus resultados são representados de
formas diferentes. Apresente a resolução para cada um deles.
Nome:
________________________________________________________________________
Série IX – Nos problemas a seguir, você será desafiado a provar as condições apresentadas
pelos problemas ou resolver utilizando a lógica. Nos problemas para provar, tente explicar
da forma mais detalhada possível o que você pensou.
4 _
+ _ _ 2
0 1
328
A professora pediu a uma aluna para pensar em um número. Depois, pediu para somar
12 a ele e dividir esse resultado por 13. Porém, a aluna se confundiu e acabou subtraindo 13
ao número que pensou e dividiu o seu resultado por 12. Por sorte, chegou no mesmo resultado.
Em qual número ela pensou?
329
Nome:
________________________________________________________________________
Data: _____ / _____ / _______
Série XVII – Nas atividades a seguir, você deverá tentar resolver os problemas da forma
como está apresentada no verso A. Se tiver dificuldade, você pode optar em resolver o verso
B. No final, justifique qual foi a dificuldade que o(a) impossibilitou de resolveu o verso A.
Verso A
Um tanque com capacidade de 80 litros foi preenchido com 2/5 de seu volume. Quantos litros
foram preenchidos nesse tanque?
Apresente a forma fatorada das seguintes expressões: #' − 2#% + % ' e #' − % ' .
330
Verso B
'
Um tanque foi preenchido com dezesseis litros de água preenchendo da sua capacidade
.
Nome:
________________________________________________________________________
b. A vegetação está cobrindo um terreno baldio. A cada dia essa área coberta pela
vegetação está dobrando. No oitavo dia, metade desse terreno já está coberto pela
vegetação. Em que dia a vegetação cobrirá o terreno todo?
333
Nome:
________________________________________________________________________
Série XXIV – Nas atividades a seguir, você deverá explicar verbalmente ou montar a
expressão algébrica conforme necessário. Tente inserir o máximo de detalhes do seu
raciocínio.
iv. 8
334
c. Escreva a expressão algébrica correspondente aos que estão a seguir, mas de forma
que os seus coeficientes sejam iguais a 1.
i. 3#%9
ii. 46' 7*
335
(" + $)&
II. Outra forma de chegar a esse resultado é aplicando a distributiva do termo que está
elevado ao quadrado:
Veja que "$ é a mesma coisa que $", pois “a ordem dos fatores não altera o
produto”. Lembre-se que "$ é uma multiplicação. Por exemplo, 2 ∙ 3 dá o
mesmo resultado de 3 ∙ 2, certo?
336
III. Uma terceira forma seria somando as áreas das seguintes figuras que formam um
quadrado:
$ "
A1 A3 "
"
A4 A2
$ $
$ "
,1 = " ∙ $ = "$
,2 = " ∙ $ = "$
,3 = " ∙ " = "&
,4 = $ ∙ $ = $ &
A área total desse quadrado é igual a soma de todas essas áreas A1, A2, A3 e A4
que ficaria:
,/0/"1 = ,1 + ,2 + ,3 + ,4
,/0/"1 = "$ + "$ + "& + $ &
,/0/"1 = 2"$ + "& + $ &
337
a. (2 + 1)&
b. (3 + $)&
c. (54 + 5)&
338
3. Um número quadrado é aquele que resulta da multiplicação da medida dos dois lados
de um quadrado.
339
3 9
+ 3
4 2
Em termos práticos, isso significa que 39 são formados por 3 dezenas e 9 unidades. Se
somamos com 3 unidades, o resultado é formado por 4 dezenas e 2 unidades. Pois cada
dezena representa 10.
340
5. Números consecutivos são aqueles que vêm em uma sequência. E números inteiros são
os números naturais incluindo os números negativos.
Divisível significa que a divisão dá um resultado com resto zero. Por exemplo: 12 é
divisível por 4, pois:
12
=3
4
Sabendo dessas definições, prove que a soma de três números consecutivos inteiros
quaisquer sempre é divisível por 3.
341
ETAPA 1
Nessa primeira etapa, você utilizará um jogo digital de Matemática que te ensinará alguns
processos de resolução de equações. O seu objetivo é conseguir avançar o maior número de
fases em 30 minutos.
ETAPA 2
Na segunda etapa, você resolverá alguns exercícios semelhantes aos apresentados no jogo para
verificar se você conseguiu entender o conceito aprendido no jogo.
! =2+2
Resposta:
342
! =2+4
Resposta:
! = 10 + 2
Resposta:
4. Os números “3”e “7” são “constantes”. Ou seja, qualquer número por si só é chamado
de “constante”. Encontre o valor de ! na equação abaixo.
! =3+7
Resposta:
5. O que você resolveu até agora chamam-se “equações”. Uma equação mostra que duas
coisas são iguais. Veja:
! = 12
a. O ! é igual a qual valor?
Resposta:
1
Aqui foi usado o termo “variável” com o significado de termo desconhecido. Se for seguida a definição
matemática, o correto seria chamá-lo de incógnita, neste exemplo.
2
Mesma nota do rodapé anterior.
343
a. 6 + 3 = 9 ( )
b. 14 = 7 + 7 ( )
c. 3 + 3 = 1 + 5 ( )
d. 1 + 4 = 2 + 3 ( )
e. 13 + 3 = 6 ( )
7. Quando você soma um número positivo com um negativo, você está aplicando uma
subtração. Veja:
7 + −2 = 7 − 2
a. 2 + −2 =
b. 5 + −3 =
c. 8 + −5 =
d. 33 + −12 =
e. 2 + −8 =
3
Aqui deve ser utilizado “expressões” no lugar de equações.
4
Aqui deve ser utilizada “expressão” no lugar de equação.
5
Aqui deve ser utilizado “expressões” no lugar de equações.
344
– 2 + 5 =
!+2=5
Você precisa isolar o !, ou seja, deixar um lado da igualdade apenas com o ! e o outro
lado apenas com constantes. Para fazer isso, você precisa eliminar (zerar) a constante
do lado que está o !. Veja:
!+2−2=5−2
!+0=5−2
Perceba que quando eu subtraio uma constante dos lados da igualdade, eu tenho que
fazer o mesmo do outro lado. Por isso, subtraímos 2 do lado onde está o 5.
Resposta:
345
a. ! + 12 = 20
b. – 6 + ! = 30
346
347
QUESTIONÁRIO
3. Diga quais as matérias que você não gosta explicando o por quê.
349
ANEXO I
TRANSCRIÇÃO DE ÁUDIO – ESTUDANTE 13
CONVENÇÕES ADOTADAS
PALAVRA... = ALONGAMENTO VOCÁLICO, HESITAÇÃO OU INTERRUPÇÃO DE ATO DE FALA.
... PALAVRA = CONTINUAÇÃO DA FALA DO TURNO DO FALANTE QUE FOI INTERROMPIDO.
((PALAVRA)) = COMENTÁRIOS DO TRANSCRITOR.
(PALAVRA) = PALAVRA OMITIDA DA FALA, MAS QUE FOI ACRESCENTADA PARA UMA MELHOR
COMPREENSÃO DA TRANSCRIÇÃO.
IDENTIFICAÇÃO DE FALANTES
P: PESQUISADOR (A)
E13: ESTUDANTE 13
((INÍCIO DA TRANSCRIÇÃO))
P: Bom. Então, você terminou aqui a atividade. O que você achou dessa comparada com a do
Linha 1
ano passado?
Linha 2 E13: Mais fácil.
Linha 3 P: Tá. Em que aspecto?
Linha 4 E13: Mais simples, mais simplificado e mais explicativa.
Linha 5 P: Tá. E aí, a primeira atividade. Explica para mim o que fala a primeira atividade.
Linha 6 E13: Aqui fala para... para expressão algébrica a + b elevado ao quadrado.
Linha 7 P: Aham.
E13: Aí mostra as opções (que você pode usar) aplicando fórmula do quadrado dos dois
termos que diz o seguinte: o quadrado de um termo adicionado ao dobro da
multiplicação do primeiro pelo segundo termo adicionado ao quadrado do segundo
termo. Fica a + b ao quadrado igual a a ao quadrado mais 2ab + b ao quadrado. Aí, o
Linha 8 segundo valor, a segunda fórmula de chegar a esse resultado é aplicando a distributiva
do termo que isso é elevado ao quadrado. Seria a + b ao quadrado é igual a + b ´ a + b,
que é igual a a ao quadrado + ab + ba + b ao quadrado. Que a + b... que a e b, mas ba é a
mesma coisa que a... ordem dos produtos não altera o fa... a ordem dos fatores não
altera o produto.
Linha 9 P: Ok.
E13: Aí fica a + b ao quadrado igual a a + b + a + b igual a a ao quadrado + ab +ba + b
Linha 10 ao quadrado, que é igual à a quadrado mais ab + ab + b ao quadrado. Que também é
igual a a ao quadrado mais 2ab + b ao quadrado.
Linha 11 P: Certo.
E13: Aí na terceira forma seria somando as áreas das seguintes figuras que formam o
quadrado. Seria a + b, a... não, a ´ b, a ´ a ´ b e a ´ b. Que A1 é igual a a ´ b igual a b.
Aí A2 é igual a a ´ b que é igual a b também. A3 que é igual a a ´ a igual a a elevado ao
Linha 12 quadrado. E A4 é igual ab ´ b igual a b ao quadrado. Então o total desse quadrado é
igual à soma de todas as áreas A mais A1, A2, A3 e A4. Então o total seria A1 mais A2,
A3 e A4, que é ab + ab + a ao quadrado mais b ao quadrado ´ ab + a ao quadrado, b ao
quadrado.
Linha 13 P: Tá. E aí você escolheu qual dessas três formas para resolver?
Linha 14 E13: Eu escolhi a... ((silêncio)) a segunda.
Linha 15 P: Tá.
Linha 16 E13: Que é a que eu acho mais fácil. Que é a que eu fazia na minha outra escola.
Linha 17 P: Tá.
Linha 18 E13: Que é fazer (a + b) ´ (a + b).
P: Tá. E por que você acha mais fácil essa da distributiva?
Linha 19
E13: É que... eu acho mais simples, porque é mais fácil pegar. Vamos supor, o (a + b) ´
Linha 20
(a + b): você pega o a ´ a que dá a ao quadrado, e a ´ b que dá ab.
352
Linha 21 P: Tá.
Linha 22 E13: Aí depois pega o b ´ a que é ba, e b ´ b que é b ao quadrado.
Linha 23 P: Aham.
Linha 24 E13: Fica na mesma, mas eu acho que fica mais fácil para mim.
P: Tá. E o que você achou de diferença? Tem três itens, não é? Tem o A... o B e o C. Em
Linha 25
níveis de dificuldade, eles têm alguma diferença?
Linha 26 E13: Não. Não achei não.
P: Tá.
Linha 27
E13: Para mim eu achei que isso ficou a mesma coisa.
Linha 28 P: Tá. A letra C, por exemplo, ele tem alguma coisa de diferente entre A e B?
Linha 29 E13: Sim.
Linha 30 P: Qual é a diferença?
E13: O x e o y. Enquanto um só tem o c + 1, e o B é 3 + b. Daí esse daqui 5x + y. Não está
Linha 31 especificando um número. Só tem... aí você tem que escrever o x e o y. E o outro tem
que escrever só o b e o outro é só o c.
Linha 32 P: Certo.
Linha 33 E13: Então assim é mais difícil. Porém para... só montar a conta... é a mesma coisa.
Linha 34 P: Aham. E você acha que está certinho o que você fez aí de distributiva?
Linha 35 E13: Eu acho que sim.
Linha 36 P: Ok. Por exemplo, esse 5x são dois termos ou é um termo só?
Linha 37 E13: Um termo.
P: Ok. Então, na regra aqui, você vai multiplicar todo o primeiro termo pelo outro primeiro
Linha 38 termo, não é? Será que está todo mundo multiplicado no que você fez aqui? Você colocou
como 25x.
Linha 39 E13: 5x ´ 5x, dá 25... aí depois 5x ´ y para 5... xy?
Linha 40 P: Aham.
Linha 41 E13: Aí depois y ´ 5x que é o 5xy...
Linha 42 P: Aham.
Linha 43 E13: y ´ y que é o y ao quadrado.
Linha 44 P: Isso. Mas e o 5x ´ 5x? Está todo mundo multiplicado?
Linha 45 E13: Não.
Linha 46 P: O que não está multiplicado?
Linha 47 E13: Agora eu não entendi.
Linha 48 P: Aqui, olha: você multiplicou o 5 com o 5, certo?
Linha 49 E13: Sim.
Linha 50 P: Deu 25. E o x? O x ´ x é quanto?
Linha 51 E13: É o x ao quadrado.
Linha 52 P: Aham.
Linha 53 E13: Ah! Entendi! Aqui. Tem que ter “ao quadrado”.
Linha 54 P: Isso. É.
Linha 55 E13: Ah, entendi.
Linha 56 P: Certo.
Linha 57 E13: São dois termos.
Linha 58 P: Isso. São dois termos juntos que está formando um termo só. Está certo?
Linha 59 E13: Dois termos que formam um.
P: Isso. Certo? É isso que tem que tomar cuidado, na hora de fazer a distributiva, pois às
Linha 60
vezes pode esquecer, tá?
Linha 61 E13: Tá bom.
P: Agora, o que você achou da terceira parte? A terceira forma de resolver isso aqui, ainda
Linha 62
nessa atividade?
Linha 63 E13: A terceira forma?
Linha 64 P: Isso. Que é geometricamente.
Linha 65 E13: Isso aqui?
Linha 66 P: Você tinha visto essa explicação, já?
Linha 67 E13: Essa aqui? Eu acho que já. Eu acho que foi na minha antiga escola.
Linha 68 P: Humn.
353
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356
357
E13: Pior que eu não lembro... ((silêncio)) O certo seria isso aqui, olha: x + x + 1 + x + 2,
Linha 253
assim?
Linha 254 P: Isso. Que dá quanto?
Linha 255 E13: ((silêncio)) x mais 1... x mais 5... ((silêncio)) 3x + 1 + 2.
Linha 256 P: Aham. Dá para simplificar mais essa conta?
Linha 257 E13: ((silêncio)) Eu tenho que por igual, não é?
Linha 258 P: Não precisa.
Linha 259 E13: Não precisa?
Linha 260 P: É, porque aqui você não tem igual, não é? Você só achou porque são números.
Linha 261 E13: Sim.
P: Mas aqui você não tem nenhuma igualdade. Então você trabalha com esses números
Linha 262
mesmo.
Linha 263 E13: Então, x + 1 + 2. ((silêncio)). Eu acho que vai acabar parando por aí.
P: Não tem problema, se parar por aí. Então agora vamos ver se dá certo. Se essa fórmula
Linha 264 que criou aqui estiver certa, então você substitui o x por algum número e tem que dar certo.
Tem que dar um resultado que seja divisível por 3. Faz um teste, chute um número para x.
E13: Para x? 4. 3 ´ 4 + 1 + 2... Acho que não vai dar certo, não. ((silêncio)) 3 ´ 4.
Linha 265
((silêncio)) 12 + 1...
Linha 266 P: (12) + 1 + 2, ok? Então...
Linha 267 E13: Ah! 3 dividido... ((silêncio)) 15 dividido por 3, deu 5, 0. Ah, dá certo.
Linha 268 P: Opa, parece que dá certo, não é?
Linha 269 E13: Sim.
Linha 270 P: Tente um número negativo agora.
E13: ((silêncio)) 3 ´ (- 2) + 1 + 2. 3 ´ (- 2) igual a... -6. + 1 + 2 - 3. - 3 dividido por 3,
Linha 271
então (resto) 0.
Linha 272 P: Deu certo também.
Linha 273 E13: Deu certo.
P: Então parece que essa é a fórmula, não é?
Linha 274
E13: É.
P: Então você achou a fórmula. A única coisa que você simplificaria seria isso, olha: aqui, 1
Linha 275
+ 2 não pode ser somando?
Linha 276 E13: Pode. Ah, tem x mais 3.
Linha 277 P: Isso. Então vai ficar...?
Linha 278 E13: 3x... mais 3.
P: Isso. Aí você achou a fórmula para achar qualquer número consecutivo inteiro que seja
Linha 279
divisível por 3.
Linha 280 E13: É assim?
Linha 281 P: É assim.
Linha 282 E13: Nossa. Legal.
Linha 283 P: Bacana, não é?
Linha 284 E13: Aham.
((FIM DA TRANSCRIÇÃO))
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359
ANEXO J
TRANSCRIÇÃO DE ÁUDIO – ESTUDANTE 3
CONVENÇÕES ADOTADAS
PALAVRA... = ALONGAMENTO VOCÁLICO, HESITAÇÃO OU INTERRUPÇÃO DE ATO DE FALA.
... PALAVRA = CONTINUAÇÃO DA FALA DO TURNO DO FALANTE QUE FOI INTERROMPIDO.
((PALAVRA)) = COMENTÁRIOS DO TRANSCRITOR.
(PALAVRA) = PALAVRA OMITIDA DA FALA, MAS QUE FOI ACRESCENTADA PARA UMA MELHOR
COMPREENSÃO DA TRANSCRIÇÃO.
IDENTIFICAÇÃO DE FALANTES
P: PESQUISADOR (A)
E3: ESTUDANTE 3
((INÍCIO DA TRANSCRIÇÃO))
Linha 1 P: Bom, então, você que resolveu essas atividades, o que achou comparadas com as que
fez no ano passado?
Linha 2 E3: Humn... mais fácil... Eu acredito... que esteja certo....
Linha 3 P: Ok. O que você achou mais fácil nessa atividade?
Linha 4 E3: A parte... prática... Porque... passar o que eu estou pensando... pro papel... é
meio complicado.
Linha 5 P: Aham.
Linha 6 E3: É mais fácil você resolver na sua cabeça... Eu... entendo, mas aí explicar o que
eu entendo...
Linha 7 P: ...é mais difícil.
Linha 8 E3: É.
Linha 9 P: Tá. E..., por exemplo, nessa primeira atividade aqui, o que você entendeu? O que ele
está falando nessa primeira atividade? O que era para fazer? Fale um pouquinho para
mim.
Linha 10 E3: Era para...resolver uma expressão...
Linha 11 P: Aham. E... era só isso? Ele só pede para resolver a expressão e é isso?
Linha 12 E3: Não, ele mostra três jeitos de fazer... E eu particularmente achei mais fácil o
segundo, que é multiplicando... (a + b)´(a + b). Porque... tem uma fórmula... do...
quadrado da soma de dois termos... que é: o quadrado do primeiro, somado ao
dobro da multiplicação do primeiro e o segundo termo, somado ao quadrado do
segundo termo. Porém, para aplicar isso... Eu... nunca consegui. Então, eu acho
mais fácil multiplicar (a + b)´(a + b).
Linha 13 P: Certo... E nessa parte aqui, quando você faz essa multiplicação, percebeu que
aparecem dois termos que são iguais?
Linha 14 E3: Sim, sempre tem um igual.
Linha 15 P: Aham.
Linha 16 E3: Porque quando você multiplica a ´ a, a ´ b, depois... quando você for fazer a
segunda parte da soma... é a mesma coisa. Então... se repete.
Linha 17 P: Certo. Por exemplo, esse ab e o ba são iguais?
Linha 18 E3: Sim.
Linha 19 P: Por quê?
Linha 20 E3: Ué? Porque... não altera... É como está escrito...
Linha 21 P: Humn... Mas por que ele não altera?
Linha 22 E3: ... ab e ba... acredito que seja a mesma coisa, como diz o exemplo três: 2 ´ 3 é 6,
3 ´ 2 é igual a 6, não altera a ordem.
Linha 23 P: Certo. Então ab e ba está fazendo algum tipo de operação? Que tipo de operação que
ele faz para que ele não mu....
Linha 24 E3: Multiplica... multiplicação.
Linha 25 P: Multiplicação, legal. Por exemplo, se fosse um número... 23. Se você tivesse escrito
23 e depois escreve 32, eles são a mesma coisa?
360
Linha 69 P: Para fazer isso, não é? Tá... E aí você fez a distributiva, aplicou e depois somou os
termos semelhantes, certo?
Linha 70 E3: Certo.
Linha 71 P: Aham. E você acha que está tudo certinho?
Linha 72 E3: Acredito que sim (rs).
Linha 73 P: É? Vamos ver: a primeira parece que está certa, a segunda também... Ok... E o que
você achou da letra c dessa atividade?
Linha 74 E3: Humpf... ((Silêncio)) É igual as outras.
Linha 75 P: Aham... é completamente igual?
Linha 76 E3: Não... ((hesitação))
Linha 77 P: O que é que tem de diferente?
Linha 78 E3: Nos outros o... o número. Esse estava sozinho, e aí no último é... 5x + 5y. Então
tem... duas incógnitas...
Linha 79 P: Aham... Sim... E como você soube que esse 5x é o termo a? No caso, se fosse uma
fórmula genérica.
Linha 80 E3: ((Silêncio e depois muxoxa)) Ah... Intuição...
Linha 81 P: Tá. Aqui você já considerou o termo inteiro porque muitos alunos costumam
confundir quando tem um número na frente do x. Eles acabam aplicando só no x, por
exemplo. Aí aplica-se só o x ao quadrado...
Linha 82 E3: ... Não... mas o x está junto do 5.
Linha 83 P: É.
Linha 84 E3: Se fosse 5 + x + y ...
Linha 85 P: Pois é... Então tem essas dúvidas, não é? Mas aqui deu para ver que essa parte da
aplicação da distributiva você domina bem. Então, vamos para a próxima atividade.
((Silêncio)) Na outra atividade, levando em consideração um dos exemplos, você precisa
explicar se a soma dos quadrados é o mesmo que (" + $)& . O que você acha?
Linha 86 E3: Não.
Linha 87 P: Por que não?
Linha 88 E3: Ahn... a + b ao quadrado, como eu falei, está multiplicando o conjunto (a + b).
É (a + b)´(a + b). E '( + )( é só a ao quadrado + b (ao) quadrado, não tenho
multiplicação de a ´ a ´ b.
Linha 89 P: Humn... certo. Então, O que está faltando aí? Tem alguma coisa faltando em um dos
dois?
Linha 90 E3: Ah sim, humn... aqui, não tem... parênteses.
Linha 91 P: Só os parênteses?
Linha 92 E3: Quando o... quadrado está fora do parênteses, ele está multiplicando tudo que
está dentro. Como aqui não tem, está multiplicando só... esse... termo.
Linha 93 P: Aham. Mas quando eu desenvolvo esse a + b que está nos parênteses ao quadrado,
não tem uma parte que fica bem parecido com o a ao quadrado + b ao quadrado?
Linha 94 E3: Fica mas... falta o meio...
Linha 95 P: Humn... Falta o meio... Tá... e por que será que acontece isso?
Linha 96 E3: ((Silêncio)) Ué? Aqui tá multiplicando... ((Silêncio))... esse vezes esse, esse vezes
esse, esse vezes esse e esse vezes esse. E esse só está...
Linha 97 P: Aham.
Linha 98 E3: ...elevando ao quadrado do primeiro... Não tem multiplicação...
Linha 99 P: Certo.
Linha 100 E3: Então não tem como extrair um outro termo...
Linha 101 P: Aham... Agora, se a gente pensar assim: vamos supor que esse a e b sejam números,
tá?
Linha 102 E3: Certo.
Linha 103 P: Você pode pensar em algum número. Qual dá o resultado maior? O a + b elevado ao
quadrado? ou a ao quadrado + b ao quadrado?
Linha 104 E3: ((Silêncio)) Imaginado que... o a seja 2 e o... b seja 16. Dá 4... oh! dá... o b é 4. Aí
fica 16 e os dois ficam 4, então dá 20. O a ao quadrado + b quadrado. Agora... se for
o mesmo... 2 + 4 ficaria 6. Só que, como não tem... letra, aí a gente somaria aqui
dentro mesmo e depois elevaria ao quadrado. Então ficaria o 2 + 4... 6. 6 elevado ao
quadrado é 12 e nesse aqui deu 20. Então esse aqui é maior!
Linha 105 P: Aham... 6 elevado ao quadrado é...
362
Linha 146 E3: ((Silêncio, tenta falar alguma coisa, mas pausa e respira profundamente)) É
difícil de explicar...
Linha 147 P: Aham.
Linha 148 E3: Eu não sei fazer...
Linha 149 P: Pode tentar explicar da (sua) forma assim... Eu vejo que você fez um esquema aqui,
não é? Falando que não pode ficar 2 números aqui em baixo...
Linha 150 E3: É, porque aqui (é) dezena e passa para centena.
Linha 151 P: Certo... senão, ficaria 312 o resultado, não é? Se você colocasse o 1 do lado...
Linha 152 E3: Sim.
Linha 153 P: ...tá, então, por isso, tem que subir 1. Mas é justamente isso?
Linha 154 E3: ...Isso é o que você quer que eu explique.
Linha 155 P: É... Por que a gente usa essa notação? É porque o nosso sistema, normalmente, é
dividido em dezenas. Certo?
Linha 156 E3: Sim.
Linha 157 P: ...que é 10 em 10. Mas, por exemplo, se fosse dividido de 20 em 20 aí seria um outro
sistema. Você não subiria o 1, mas a cada 20. Então, toda vez que você tiver até 20, você
poderia colocar do lado. ((Pausa)) Por exemplo, seria um outro sistema de soma e isso
funciona para a regra de agrupar de 10 em 10, por isso que a gente divide as casas em
unidades, dezenas, centenas, milhar...
Linha 158 E3: Sim.
Linha 159 P: E é por isso que a gente faz esse algoritmo. Vamos supor que a gente não soubesse
armar essa conta. Como que você faria essa conta de soma sem armar?
Linha 160 E3: ((Respira fundo)) É que 39 + 3 é um número pequeno, então dá para resolver
de cabeça.
Linha 161 P: Isso.
Linha 162 E3: Mas, se fosse um número maior... ((Silêncio))
Linha 163 P: Por exemplo, se fosse 143 + 521.
Linha 164 E3: Humn... ((Silêncio)) Não pode usar calculadora, não é? (rs)
Linha 165 P: Não... Você pode até rabiscar, desde que a regra seja não armar a conta. ((Pausa))
Como você faria essa conta? Se você quiser até anotar para fazer...
Linha 166 E3: Tá bom. Qual é o número?
Linha 167 P: 143 + 521. ((pausa)) Sem armar!
Linha 168 E3: ((Silêncio)) Sem armar... do tipo... sem subir?
Linha 169 P: Isso, sem fazer essa armação, sem esse dispositivo.
Linha 170 E3: Ah tá.
Linha 171 P: Tem que estar na horizontal, que nem (quando) você bate na calculadora: 143 +...
Linha 172 E3: ...+ 521.
Linha 173 P: Isso.
Linha 174 E3: ((Silêncio)) Não pode fazer assim?
Linha 175 P: Humn... Isso pode.
Linha 176 E3: Tá. ((Silêncio)) Deu errado... (rs)
Linha 177 P: ((Silêncio)) Deu errado?
Linha 178 E3: Aham. ((Silêncio))
Linha 179 P: Quanto deu aí?
Linha 180 E3: 666.
Linha 181 P: Humn.
Linha 182 E3: Humn... ((Silêncio))
Linha 183 P: O que está errado?
Linha 184 E3: ((Silêncio)) Porque aqui já daria 4...
Linha 185 P: Aham.
Linha 186 E3: ... e não 5... ((Silêncio)) Deixe-me ver aqui o que está errado... ((murmurando)):
"1 deu 5, 4, deu 2 e 3... desse jeito não deu..." ((silêncio e depois começa a cantarolar
baixinho: "hum... hum... hum... hum")).
Linha 187 P: Confere a conta armando... Quanto dá?
Linha 188 E3: ((confere a conta em silêncio))
Linha 189 P: Certo. Então só está (errado) por uma unidade. O que você errou aí?
Linha 190 E3: Ah... multipliquei aqui... ah tá... ((pausa)) Deu certo sim.
Linha 191 P: Deu certo. Beleza, mas também você deu sorte, não é? Eu peguei uns números que...
364
P: Bom, Na semana passada, a gente tinha trabalhado com essa atividade, não é?
Que vai até (a) número 5. E nós tínhamos conversado da atividade 1 até 4, não é?
Linha 282
E nós paramos na 5. Bom, você lembra o que a gente estava trabalhando nessa
atividade 5?
Linha 283 E3: Sim.
Linha 284 P: O que era exatamente? Fale um pouquinho da atividade.
Linha 285 E3: Bom, era uma sequência que... você somava três números em sequência
Linha 286 P: Aham.
Linha 287 E3: ...que... dividido por 3, dava um número exato.
Linha 288 P: Isso.
Linha 289 E3: ... (que é) sempre divisível por 3.
Linha 290 P: Aí você tinha verificado que realmente acontece isso.
Linha 291 E3: Sim.
P: Só que ele pede para provar que a soma de três números consecutivos inteiros, ou seja,
Linha 292
o que são números inteiros?
Linha 293 E3: ((Silêncio)) Ué? 1, 2...
P: Sim, porque os naturais são todos os positivos, não é? Por exemplo, 1, 2, 3, 4... infinito,
Linha 294
não é?
Linha 295 E3: Aham.
P: E os inteiros são aqueles que têm os negativos também. Então, -1, -2, -3... mas sempre
são números "redondos", digamos assim. Então, a gente tinha que achar uma forma
Linha 296 genérica para provar que isso está certo. Porque, com números, a gente já verificou que
isso está certo. Como a gente consegue provar colocando uma fórmula? Usando um x,
por exemplo... É aí que a gente tinha parado, não é?
Linha 297 E3: É.
P: Bom, você tinha começado com x, 2x, 3x... certo? E tinha verificado que alguns dão
Linha 298
certo...
Linha 299 E3: ... funciona, mas só nos números naturais.
P: Isso. Só que agora a gente tem que ver como faz para funcionar com os números
Linha 300
inteiros também, tá? Então vamos lá. Vamos retomar isso aqui.
Linha 301 E3: ((Silêncio e som de reorganizar as anotações)) Tá... Eu tentei com x + 2x + 3x...
Linha 302 P: Aham.
Linha 303 E3: * + *( + *,
Linha 304 P: Aham.
Linha 305 E3: ... que também não dá...
Linha 306 P: Aham.
Linha 307 E3: Humn... ((Silêncio))
P: Se você pensar na sequência. Por exemplo, se você quer falar que um número é
Linha 308 sequencial, ele sempre segue uma lógica, não é? Por exemplo, 2, 4 e 6 é uma sequência...
Só que é uma sequência de números pares, por exemplo.
Linha 309 E3: Sim.
P: Agora, se fosse uma sequência de números, um atrás do outro mesmo, de números
Linha 310 naturais, seria 1, 2, 3 ou 10, 11, 12... Então, de acordo com essa característica que você
precisa montar esse x.
Linha 311 E3: De 1, 2, 3, não é?
Linha 312 P: Isso... por exemplo.
Linha 313 E3: Então... Um número acrescentado mais um... sempre... Então...
Linha 314 P: Isso...
Linha 315 E3: ... x... ((Silêncio)) + ...
Linha 316 P: x + 1, aham.
Linha 317 E3: ((Silêncio)) Eu não sei se... Porque esse.... ((Silêncio)).
Linha 318 P: Aham.
Linha 319 E3: Tá... mas eu não sei se isso funcionaria para todos os números...
Linha 320 P: Vamos testar! Bom, você escreveu então x, x + 1 + x + 2, certo?
367
((FIM DA TRANSCRIÇÃO))
370
371
ANEXO K
TRANSCRIÇÃO DE ÁUDIO – ESTUDANTE 20
CONVENÇÕES ADOTADAS
PALAVRA... = ALONGAMENTO VOCÁLICO, HESITAÇÃO OU INTERRUPÇÃO DE ATO DE FALA.
... PALAVRA = CONTINUAÇÃO DA FALA DO TURNO DO FALANTE QUE FOI INTERROMPIDO.
((PALAVRA)) = COMENTÁRIOS DO TRANSCRITOR.
(PALAVRA) = PALAVRA OMITIDA DA FALA, MAS QUE FOI ACRESCENTADA PARA UMA MELHOR
COMPREENSÃO DA TRANSCRIÇÃO.
IDENTIFICAÇÃO DE FALANTES
P: PESQUISADOR (A)
E20: ESTUDANTE 20
((INÍCIO DA TRANSCRIÇÃO))
P: Bom, vamos lá. Primeiro eu queria que você me dissesse um pouco o que você achou dessa
Linha 1
atividade, comparada com aquela que fez no ano passado.
E20: Ah... mais fácil, mas eu não garanto, mesmo assim, que eu consegui resolver tudo
com sucesso, mas... eu tentei, né? Não sou muito boa em matemática, nunca fui na
Linha 2
verdade... Eu gostava antigamente, mas, hoje em dia, eu já tenho bastante dificuldade,
mais do que eu já tinha.. Então...
P: Humn... interessante. Então você gostava de matemática e, de repente, você começou a ter
Linha 3
dificuldade... Me conte um pouco sobre isso.
E20: Foi... quando eu estudava com a Ângela, parece que era bem mais fácil... Agora eu
Linha 4 acho que, por ter mudado de série, pode ter ficado um pouco mais difícil, complicou um
pouquinho... Ainda mais que os professores não ficam mais tão “em cima”...
Linha 5 P: Entendi... e o que você tem mais dificuldade dentro do que está estudando agora?
E20: Dificuldade mesmo... é geometria... Tenho muita dificuldade. Vamos dizer que eu não
Linha 6 tenho muita dificuldade em álgebra e nem em equação. É questão de treinar mesmo,
relembrar, porque eu esqueço as coisas (de maneira) muito fácil.
Linha 7 P: Aham.
Linha 8 E20: Se eu estudo hoje, amanhã eu já não saberia fazer.
Linha 9 P: Entendi...
Linha 10 E20: Mas... eu tento...
Linha 11 P: Entendi, e o que você achou dessa primeira atividade aqui?
E20: ((Silêncio)) Ah... Bom, facilitou um pouco porque eles ajudam, né? Explica bastante,
Linha 12 mas... eu não sei se eu tinha que resolver, se eu (deveria) só fazer (a) expressão ou se eu
acertei fazendo, mas... deu para entender um pouco melhor do que as antigas.
Linha 13 P: Certo... Ele te deu três exemplos de como desenvolver uma expressão algébrica...
Linha 14 E20: ... Sim.
Linha 15 P: ... como o quadrado da soma, não é? E qual você achou mais fácil de entender?
E20: A primeira porque eu sempre... a professora e o professor sempre ensinaram a
Linha 16
primeira.
Linha 17 P: Aham.
Linha 18 E20: Então... deu para relembrar só um pouquinho (rs).
Linha 19 P: Tá e a primeira? o que é mesmo?
Linha 20 E20: É... Álgebra? (rs) Não... é...
Linha 21 P: Não, não, a forma. A primeira forma que ele explica.
Linha 22 E20: Ah tá! É... você faz ao quadrado de a + b...
Linha 23 P: Aham...
Linha 24 E20: Certo? Então... tudo vai virar ao quadrado.
Linha 25 P: Humn.
Linha 26 E20: a ao quadrado, b ao quadrado é a soma de a + b.
Linha 27 P: Tá...
Linha 28 E20: Também... (rs)
Linha 29 P: Tá, entendi (rs). Então você provavelmente usou essa primeira opção para resolver?
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376
Linha 219 P: Humn, se você esquecê-lo, vai ficar quanto? Não precisa apagar, pode deixar.
E20: ((fala baixinho: vou deixar aqui só para eu não esquecer...)) ((Silêncio)) Mas... não
Linha 220
sei... eu pensei que o x ia continuar... Porque do mesmo jeito que o (item) B continuou...
Linha 221 P: Aham.
Linha 222 E20: ...eu imaginaria que o x também continuaria acompanhado do 25...
Linha 223 P: Ele continua, ele está junto com o 5, então não pode ser abandonado.
Linha 224 E20: Eu vou tentar fazer ele (x) ao quadrado!
Linha 225 P: Isso.
Linha 226 E20: (rs) Mas não daria x de qualquer jeito...
Linha 227 P: Por quê?
Linha 228 E20: Porque... x é igual a x e ele não tem valor exato.
Linha 229 P: É... Mas x × x tem um valor, não é?
Linha 230 E20: Que é igual a 1? ((ri nervosamente))
Linha 231 P: Não... (rs) Não é 1, porque você não sabe o valor...
Linha 232 E20: ...o valor dele!
Linha 233 P: Aqui você não colocou? Por que y? Por que y ao quadrado?
Linha 234 E20: ((Silêncio)) Porque é ele multiplicado... por ele mesmo.
Linha 235 P: E o que acontece com o x?
Linha 236 E20: ((Silêncio)) Então vai ficar x ao quadrado!
Linha 237 P: Isso!
E20: Então, espera! Ficaria... ((escreve algo e mostra para a pesquisadora)) Assim?
Linha 238
((pausa)) Ou não? ((tom hesitante))
Linha 239 P: 25x... + x ao quadrado...
Linha 240 E20: ...+ x ao quadrado.
Linha 241 P: Porque você separou x + x ao quadrado?
E20: Porque eu lembro de uma conta antiga que a professora fez e eu lembro que tinha um
Linha 242
x ao quadrado separado... Mas eu não sei se foi esse o motivo...
Linha 243 P: Humn...
E20: ...que ela colocou... Porque eu não sei o que faria... Porque se eu colocasse 25x ao
Linha 244
quadrado, eu teria que multiplicar de novo, será, o 25?
Linha 245 P: Humn... Então, depende... Porque, se fosse 25 aqui, aí sim, você teria que...
Linha 246 E20: ... multiplicar!
Linha 247 P: ...multiplicar o 25 e o 25.
Linha 248 E20: Ou é apenas só o resultado... de um número e de uma letra.
Linha 249 P: Humn...
Linha 250 E20: Por mais que eles estejam acompanhados, estão separados.
Linha 251 P: Humn... Tá...
Linha 252 E20: ((gagueja)) Esse... esse... pode ser o pensamento?
Linha 253 P: Pode, pode ser. Mas, eu quero que você me explique melhor isso. Pode continuar explicando.
E20: Porque... pense: se eles estão realmente acompanhados... o resultado teria que ser
Linha 254
feito, ou a conta, com eles juntos.
Linha 255 P: Aham. Isso.
Linha 256 E20: Certo? Tipo, que nem o 5x... ao quadrado... Então é a junção desses números...
Linha 257 P: Isso!
Linha 258 E20: Os números, não é? Porque é uma letra com um número...
Linha 259 P: Aham.
E20: Mas... Se eu separar o x... para fazer... multiplico com ele mesmo, então, eu posso
Linha 260 separar os dois... Ou não? ((tom hesitante)) Ou o resultado dele vai também interferir no
número que eu já fiz...
Linha 261 P: Aham...
Linha 262 E20: Entendeu?
Linha 263 P: Aham... Entendi.
Linha 264 E20: A minha mente confusa? (rs)
P: Não, eu entendi. Para facilitar (o esclarecimento da) a sua dúvida, o que você pode pensar é
Linha 265 assim: aqui, você tem que pensar primeiro quem é o primeiro termo. Aqui, é só o 5 o primeiro
termo? É só o x o primeiro termo? Ou é o 5x?
Linha 266 E20: Pra mim, 5x é o primeiro termo...
Linha 267 P: Isso. Então isso aqui é o primeiro termo, certo? E o y, é o segundo termo, não é?
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Linha 360 E20: Por isso, na B, eu já fiquei indecisa se era (para) pegar o de a ou não.
Linha 361 P: Humn...
Linha 362 E20: Talvez acho que medidas diferentes podem ser... maior, menor, médio.
Linha 363 P: Aham.
Linha 364 E20: Então, eu... me... me inspirei nesse... nesse... nesse exemplo...
Linha 365 P: No exemplo 3, aham.
E20: Para responder o (item) B, porque eu achava que, realmente, não... não tinha como,
Linha 366
mas tem como. Porque... até que fiquei olhando partes da sala...
Linha 367 P: Aham.
Linha 368 E20: Porque se é MUITO grande... horizontalmente... Vira um retângulo.
Linha 369 P: Aham.
Linha 370 E20: Tanto vertical, tanto horizontal...
Linha 371 P: Aham.
E20: Então pode virar um retângulo, mas, mesmo assim, tem tamanhos diferentes de
Linha 372 quadrado... Por exemplo, o nosso assento é diferente do tamanho de uma borracha
quadrada...
Linha 373 P: Aham.
E20: São medidas diferentes. Então eu acho impossível. Por isso que eu disse que... Aqui,
Linha 374
vamos dizer que não é “realmente”... É mais a figura mesmo... é um exemplo só...
Linha 375 P: Tá, você colocou aí um quadrado de 15 metros...
Linha 376 E20: ... 15 metros, 1 metro e 5 metros...
Linha 377 P: Isso...
Linha 378 E20: É só apenas um exemplo, só para mostrar que eles são de diferentes tamanhos...
Linha 379 P: Aham. E você está falando aí que “não mede 15m de verdade”, não é?
Linha 380 E20: Sim... ((hesitante))
Linha 381 P: É só uma representação?
Linha 382 E20: ((concorda afirmando)) É, é.
P: Certo. Então, as características do quadrado, só para lembrar aqui, são todos os lados que têm
Linha 383 a medida igual, certo? Então não importa se você colocou aqui a nomenclatura, em cima ou na
lateral... ou aqui, certo?
Linha 384 E20: ((Silêncio)) Espera! Todos os lados são iguais? Isso que você está falando?
Linha 385 P: É. Essa é a característica do quadrado ou não?
Linha 386 E20: ((Silêncio))
P: Você falou, na sua explicação, que horizontalmente eles têm a mesma medida e verticalmente
Linha 387 eles têm a mesma medida, mas, e entre eles? Entre o vertical e o horizontal? Eles têm a mesma
medida?
Linha 388 E20: Entre... horizontal e vertical?
Linha 389 P: É.
E20: ((Silêncio)) Têm. Eu acho que sim. Acho que é uma característica muito forte do
Linha 390 quadrado porque eu nunca vi um quadrado que em cima ele seja pequeno e dos lados
maiores...
Linha 391 P: Porque se ele for assim...
Linha 392 E20: ...ele vira outro... outra forma geométrica...
Linha 393 P: Que é o...?
Linha 394 E20: ((hesitando)) Retângulo?
Linha 395 P: Retângulo! Exatamente...
E20: ... agora fiquei meio indecisa com esse, porque... eu tinha... eu realmente aprendi sobre
Linha 396 o número... números quadrados. Só que... eu não tenho a mínima noção do que seja... Eu
presumi que seria... isso...
Linha 397 P: Tá... Aham. Deixa eu só dar uma pausa rapidinho.
Linha 398 P: ((continuando a entrevista depois da pausa)) Bom, então qual a sua dúvida aqui?
Linha 399 E20: Números quadrados... Eu acho que, não sei por que, para mim é todo número
multiplicado por 2. O resultado multiplicado por 2.
Linha 400 P: Aham.
Linha 401 E20: Eu não sei se eu estou certa...
380
381
Linha 444 P: Aí, o que você subiu 1 tinha que somar com 3. Aí vira 42 aqui, não é? Agora, se eu não
tivesse esse recurso, e tivesse que fazer a soma, como você faria?
Linha 445 E20: Se eu não tivesse esse recurso de “subir 1”??
Linha 446 P: É... esse “recurso” de montar a conta... Se você pudesse... Se você tivesse que fazer a conta,
mas sem “armar” dessa forma. Sem usar esse “truque”, vamos dizer, como é que você faria
uma soma?
Linha 447 E20: Quando você diz questão de “montá-lo”, assim, escrita? Ou na mente? Ou
qualquer...
Linha 448 P: Você pode montar no papel, mas desde que você não use esse recurso. De montar a conta e
usar esse algoritmo de: “Ah! Primeiro a casa da unidade, depois a casa da dezena...”. Desse
jeito “montado” que a gente já sabe.
Linha 449 E20: Eu acho que faria tudo na forma... como se fosse uma expressão mesmo...
Linha 450 P: Mostra para mim como você faria.
Linha 451 E20: Por exemplo, humn... ((pausa)) Por exemplo, 39 + 3...
Linha 452 P: Aham.
Linha 453 E20: Eu saberia que daria um resultado que... eu poderia confundí-lo com 142... 412!
Linha 454 P: Aham.
Linha 455 E20: ((Pausa)) Nossa... Mas como eu iria saber que não era esse resultado?
Linha 456 P: É, por exemplo, se você não fizesse a conta, você consegue fazer essa soma sem montar a
conta assim? Desse jeito?
Linha 457 E20: ((gagueja um pouco)) Dá... Ia dar 42.
Linha 458 P: Isso. Como você fez essa conta na mente?
Linha 459 E20: Eu... simples... ((pausa e hesita)) Sei lá... é automático, eu pensei...
Linha 460 P: Eu vi você contando aí...
Linha 461 E20: ...sim, eu tenho... seria uma péssima mania, mas 39 + 3... ((mostra os dedos da mão))
Linha 462 P: Aham, você foi somando, não é?
Linha 463 E20: Somando até dar o resultado 42...
Linha 464 P: Certo... Está certo, esse é um jeito de fazer a soma, não está errado. Pode fazer assim.
Linha 465 E20: Sim...
Linha 466 P: Só que você só tem 10 dedos na mão, não é? Se for mais que 10 dedos da mão como você
vai fazer essa conta?
Linha 467 E20: Eu fazia isso direto. Então... eu sempre gravava quantas vezes eu já usei... as duas
mãos.
Linha 468 P: Certo...
Linha 469 E20: Usei o 10, por exemplo, é... teria que ser... 30, por exemplo. Aí, eu vi que já dava 10,
eu gravava na minha mente que... ou eu anotava assim, ó ((faz um risco na folha da
atividade)), que já foi uma vez.
Linha 470 P: Ah... legal. Aham.
Linha 471 E20: Aí eu fazia de novo, marcava outra vez...
Linha 472 P: Aham.
Linha 473 E20: ...marcava por exemplo... 2...
Linha 474 P: Certo.
Linha 475 E20: ... fiz outra vez, marcava três e aí eu sabia quantas vezes (já) foi.
Linha 476 P: Ah... entendi. Interessante. ((aviso sonoro de término da aula)) Ainda quero retomar essa
atividade com você, tudo bem? Mas como bateu o sinal, a gente vai parar por aqui, mas a gente
retoma, tá bom?
Linha 477 E20: (rs) Tá bom!
(Atividade continua na próxima aula)
Linha 478 P: Bom. Então, retomando a atividade que a gente estava fazendo na semana passada. Nós
tínhamos começado essa atividade quatro, não é? A discussão era sobre o sistema numérico
decimal, de como ela se divide. Você lembra um pouquinho como era?
Linha 479 E20: Lembro. É... Como eu contava antigamente, só nos dedos, sem ter que utilizar
nenhuma conta.
Linha 480 P: Isso. Aí aqui tem o exemplo de uma conta armada, que tem 39 mais 3, mostrando que dá 42.
E aí, ele faz uma pergunta de como usamos esse algoritmo do “sobe um”? Por que a gente usa
isso? E aí você começou a explicar quando a gente encerrou a entrevista. Então (vamos) tentar
retomar o que você estava pensando.
Linha 481 E20: É... Eu lembro que a gente estava... tinha parado, que... Como eu conto nos dedos,
nós temos só dez dedos.
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Linha 527 E20: ((silêncio)) Por 3. Então, isso me complicou muito, porque aqui meio (que)... me vem
na cabeça (que) eram todos os resultados do... da... a... tabuada do 3.
Linha 528 P: Aham...
Linha 529 E20: Que eu sei que todos que eu dividi por 3 sempre vai dar um resultado inteiro.
Linha 530 P: Certo.
Linha 531 E20: E, para mim, eu só entendi isso na minha cabeça. Agora, eu não sei se isso foi o que
a questão quis dizer.
Linha 532 P: Aham.
Linha 533 E20: Não é? Porque para mim está meio... ((silêncio))
Linha 534 P: Tá.
Linha 535 E20: ((estudante lê o enunciado)) “Prove que a soma de três números consecutivos inteiros
quaisquer sempre é divisível por três”.
Linha 536 P: Aham.
Linha 537 E20: Eu só conseguia pensar 6-9, aí vinha... 12 e assim por diante.
Linha 538 P: Isso. Você já está pensando no resultado em si, né?
Linha 539 E20: Resultado. É. ((acha graça))
Linha 540 P: Você teria que pensar na sequência, então, quais são os três números que somados dá esse
resultado, por exemplo, 12?
Linha 541 E20: Quais os três números que formariam 12?
Linha 542 P: Isso. Somados entre eles dá 12.
Linha 543 E20: Três vezes? Ou não?
Linha 544 P: Soma. Então, some três. Soma esse, esse e esse.
Linha 545 E20: ((silêncio)) então eu sei que... por duas vezes consecutivas seria o 6, porque 6 mais 6
é 12.
Linha 546 P: Isso.
Linha 547 E20: Então... ((silêncio)) também não daria. Caramba. ((silêncio)) O 4, talvez.
Linha 548 P: O 4? Sim.
Linha 549 E20: O 4 (somado) três vezes, consecutivamente, daria 12.
Linha 550 P: Isso. Só que, aqui, está falando de uma outra coisa: que não podem ser iguais, têm que ser
consecutivos. O que significa consecutivo?
Linha 551 E20: 4-5-6.
Linha 552 P: Isso.
Linha 553 E20: Nossa... Que daria o número 12?
Linha 554 P: É. 12 é um número que você pegou, mas não precisa ser 12.
Linha 555 E20: Ser 12?
Linha 556 P: Isso. Tem que ser algum resultado, né? A soma desses números consecutivos cujo resultado
vai ser divisível por 3.
Linha 557 E20: Por 3.
Linha 558 P: Isso.
Linha 559 E20: Sim. Por exemplo, eu vou tentar 3... 4 e 5. Então 5... 9... 10-11-12.
Linha 560 P: Humn.
Linha 561 E20: Achei um! ((acha graça))
Linha 562 P: Olha, deu 12.
Linha 563 E20: É.
Linha 564 P: ok.
Linha 565 E20: 3-4-5 então divido por... 3 dividido por... 12 é divisível, certo?
Linha 566 P: Certo.
Linha 567 E20: É... tem que ser 3... ter ser mais que isso?
Linha 568 P: É. Tenta achar três exemplos. Já escreve um, garanta um aí. Antes que você esqueça.
Linha 569 E20: ((silêncio)) 3...4...
Linha 570 P: ok.
Linha 571 E20: Só para não...
Linha 572 P: Aham.
Linha 573 E20: É... deixe-me pensar em outro. Tem que ser realmente consecutivo. Consecutivo, né?
Linha 574 P: Sim. Essa é a regra desse exercício.
Linha 575 E20: É. Então... 6, 7 e 8. Então... 9. 6-7-8-9. 9-10-11... 10-11-12-13-14-15... 15. 16-17-18-
19-20-21-22. Não... Se fosse 21 até... até daria.
Linha 576 P: Quais números?
384
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387
388
eu substituo. Só que aqui não, se eu colocar x, é 3, vai ficar 3, 3, 3. Ou seja '( não me dá
nenhuma informação. Então pode ser qualquer número, então é 6, é 9, é 12. Então você viu que
não tem controle?
Linha 757 E20: Sim...
Linha 758 P: Você tem que fazer alguma coisa que só de substituir já te dá o resultado.
Linha 759 E20: ((silêncio)) E se eu (colocasse) x ao quadrado + x ao quadrado + ((acha graça)) x ao
quadrado?
Linha 760 P: Dá para testar. Vamos testar para ver se dá certo, isso.
Linha 761 E20: ((silêncio)) x ao quadrado + x ao quadrado + x ao quadrado. Só que o x não vai me
mostrar nada, e nem ao quadrado vai mostrar nada.
Linha 762 P: É. Porque vamos supor um número aí.
Linha 763 E20: De... 5.
Linha 764 P: 5. 5 ao quadrado é quanto?
Linha 765 E20: 5 ao quadrado? 5 ao quadrado é 25.
Linha 766 P: Isso. E aí aqui vai ser 5 ao quadrado, 25. 5 ao quadrado, 25.
Linha 767 E20: Sim.
Linha 768 P: Vai ficar 25-25-25, não é sequência.
Linha 769 E20: ((silêncio)) Porque... meu, não sei se eu poderia colocar tipo... um x, 2x, 3x... ((acha
graça))
Linha 770 P: Vamos tentar, vamos lá?
Linha 771 E20: 1x + ... ((silêncio))
Linha 772 P: Aham.
Linha 773 E20: 2x.
Linha 774 P: 2x... Ahn? 3x. Ok.
Linha 775 E20: Seria igual a x ((acha graça)) que é igual a ((acha graça)) x dividido por 3. ((acha
graça))
Linha 776 P: Humn.
Linha 777 E20: Não, né? Nunca vi uma expressão que já teria (um) número assim, tipo logo de cara.
Linha 778 P: Não, é que aqui já está terminando. Esquece essa parte. Você tem que se concentrar só nessa
primeira parte da igualdade. Então, tem que ser... Bom, vamos testar. Chuta um número para o
x.
Linha 779 E20: Eu esqueço que o x pode ser um número.
Linha 780 P: Isso. Tem que ser um número. Então, se for 2, olha, aqui vai ficar quanto? 2 × 2?
Linha 781 E20: 4.
Linha 782 P: 3 × 2?
Linha 783 E20: 3 vezes 2, 6... 9. Não, 6.
Linha 784 P: 6. Então aqui ficou 2-4-6. É uma sequência, mas não são consecutivos, não é? Se fossem
consecutivos pares, estaria certo. Porque se é 2-4-6-8-10, isso aqui é uma sequência par, né?
Linha 785 E20: x + x + x? ((acha graça))
Linha 786 P: Humn...
Linha 787 E20: Mas como é que eu iria saber que é uma sequência?
Linha 788 P: Então.
Linha 789 E20: Só x + x + x?
Linha 790 P: São iguais. Você tem que fazer alguma coisa que modifique o segundo número em relação
ao primeiro. E aí não precisa usar só o x.
Linha 791 E20: Colocar letras diferentes?
Linha 792 P: Não. Colocar números, por exemplo.
Linha 793 E20: ((silêncio)) x... +... ((silêncio)) 2?
Linha 794 P: Humn. E aí, como fica?
Linha 795 E20: Ia fica x... ((acha graça)) iria ser... esse aqui poderia ser o 1...
Linha 796 P: Aham.
Linha 797 E20:... 2.
Linha 798 P: Tá. E o terceiro número?
Linha 799 E20: Mais... 3.
Linha 800 P: Humn.
Linha 801 E20: Por exemplo?
Linha 802 P: ok.
Linha 803 E20: Aí a pessoa iria ter que, no caso, desvendar o x.
389
390
Linha 850 P: Não. Está quase. Eu acho que o problema é de notação. Aqui você está escrevendo
multiplicação. Escreve isso como soma. Em vez de 1x, escreve...?
((sinal do término de aula))
Linha 851 P: Como eu escrevo a soma?
Linha 852 E20: ((silêncio)) x +... ((silêncio)) #$ ? Ou... x + x + 1? Mais...
Linha 853 P: Quase.
Linha 854 E20: Mas é, que nem, eu somei x + x, como que se x é igual a 3, então ficaria 3 + 3.
Linha 855 P: É.
Linha 856 E20: Ah, talvez seja isso e isso.
Linha 857 P: Vamos fazer o seguinte. Como bateu o sinal, a gente termina por aqui. Vamos terminar de
novo essa atividade, tá? Aí eu faço a entrevista na próxima aula. Amanhã tem aula, né?
Linha 858 E20: Tem.
Linha 859 P: Tá bom. Então aí amanhã a gente retoma, pode ser?
Linha 860 E20: Tá bom.
((continuação da entrevista))
Linha 861 P: Bom. Então, retomando o que a gente estava fazendo na segunda-feira, a gente estava no
exercício 5. Nós estávamos fazendo o teste de como provar que a soma de três números
consecutivos inteiros quaisquer sempre é divisível por três.
Linha 862 E20: Sim.
Linha 863 P: Aí você fez o teste com alguns números, inclusive números negativos e você viu que dá
certo, não é? Faltava agora chegar numa fórmula genérica utilizando x. Certo?
Linha 864 E20: Sim.
Linha 865 P: Aí, você tinha feito alguns testes. Por exemplo, x + x + x ou x + 2x + 3x. A gente estava
QUASE chegando na ideia, não é? Aí agora vamos ver se você...
Linha 866 E20: Vamos retomar.
Linha 867 P: Isso. Vamos ver. Você até tinha feito, por exemplo, ao quadrado: x ao quadrado, não é?
Vamos lá.
Linha 868 E20: Então, o mais próximo que eu cheguei foi colocando números.
Linha 869 P: Certo.
Linha 870 E20: ((silêncio)) Então eu acho que... Meu Deus, x... Mas... É mais. Deixe-me ver aqui.
((silêncio)) + 4... +... ((silêncio)) ai, meu Deus, eu não teria nem a mínima noção, ainda.
Linha 871 P: Aqui você tinha terminado. Você tinha feito x + 2, + 3.
Linha 872 E20: Sim.
Linha 873 P: Só que eu tinha falado que, se você colocar 2 e 3 aqui, o x sempre tem que ser 1 para dar
uma sequência, né?
Linha 874 E20: Sim.
Linha 875 P: E não dá para fazer isso. Então você teria que fazer alguma forma de aparecer x também
nesse segundo e no terceiro número. Daí você começou a testar 2x, 3x, x ao quadrado, x ao
quadrado. Aí eu te dei a dica: “como você sabe qual é o próximo número, sabendo o
primeiro?”. Por exemplo, aqui se é o 3, como você sabe que o próximo número é 4?
Linha 876 E20: É... É mais 1.
Linha 877 P: Mais 1. E o próximo?
Linha 878 E20: Mais 1.
Linha 879 P: Mais 1. Então, se você começa com x, então você tem que fazer alguma coisa com... em
relação ao x, né?
Linha 880 E20: Sim. Eu acho que... se eu colocar um X, por exemplo?
Linha 881 P: Aham.
Linha 882 E20: ((silêncio)) Não, mas... ((silêncio)) Mas esse número, é igual a esse.
Linha 883 P: Sim. Só tem 1 na frente, o 1 como ele é neutro, ele pode tanto aparecer ou ficar sem. É a
mesma coisa. Então x e 1x são a mesma coisa.
Linha 884 E20: Mais... ((silêncio)) deixa eu ver... 3X, no caso.
Linha 885 P: Humn. Tá.
Linha 886 E20: Aí o meu pensamento foi o que eu coloquei nesse número, coloquei mais 1x...?
Linha 887 P: Aham.
Linha 888 E20: Ai, nossa. Estou totalmente errada.
Linha 889 P: Por quê?
Linha 890 E20: Porque o x é um valor.
Linha 891 P: Aham.
391
Linha 892 E20: E se eu colocar # + $, não vai ter... 1x, vai continuar o mesmo valor aqui.
Linha 893 P: Isso. Porque, se o x for 2, vai ficar 2, aqui vai ficar quanto?
Linha 894 E20: Aqui vai ficar... 3.
Linha 895 P: Por que 3?
Linha 896 E20: Não. Espera. Me explique de novo.
Linha 897 P: O x, se ele valer 2, esse x vale quanto?
Linha 898 E20: 2.
Linha 899 P: 2 também. Então vai ficar 2-2... e 3x. 3x significa 3? Que operação que é?
Linha 900 E20: ((silêncio)) É... 3x?
Linha 901 P: É. 3x, o que é... Esse x eu sei que é 2, né? Porque se o x vale 2 aqui no primeiro...
Linha 902 E20: ...Multiplicação.
Linha 903 P: Isso. Então aqui vai valer quanto?
Linha 904 E20: Aqui vai valer 3 × 2? 6.
Linha 905 P: Isso. 6. Então vai ficar 3... olha, 2, 2, 6.
Linha 906 E20: Mas aqui é um exemplo. Você falou que esse aqui valeria 2, né?
Linha 907 P: Isso. Um exemplo. Aí a sequência vai ficar 2-2-6...
Linha 908 E20: Tá, mas como você saberia que seria 2? ((acha graça))
Linha 909 P: Não. Eu estou chutando. Poderia ser 5, por exemplo, não é? Se for 5, ainda dá... Mesmo
assim vai dar 5-5 e 15, não é? Então não está dando a sequência que você quer e de números
consecutivos, que é um atrás do outro. Então, por isso que você tem que escrever alguma forma
para quando substituir um número no x por qualquer número...
Linha 910 E20: Ele multiplicado, vai dar o valor da...
Linha 911 P: Isso. Isso. Multiplicado ou somado, mas tem que aparecer esses números consecutivos, um
atrás do outro.
Linha 912 E20: Sim. ((silêncio)) x +... ((silêncio)) Mas, que nem, eu tinha feito, tipo 2x...
Linha 913 P: Aham.
Linha 914 E20: É como se fosse 2 × 1.
Linha 915 P: Se o x valer 1, né?
Linha 916 E20: Sim.
Linha 917 P: Mas o x pode ser 2, pode ser 3, pode ser 4. Certo?
Linha 918 E20: Eu tento demonstrar que x é 1. ((silêncio))
Linha 919 P: Por isso que você tem que partir desse princípio, que valha para qualquer número que seja
o x. Então se você for... achar o número x, 4, então tem que dar sequência 4-5-6. Se for 10, tem
que ser 10-11-12, que tem que aparecer na sua sequência. Então como eu faço para transformar
isso? ((silêncio)) Para que ele fique nessa sequência bonitinha. Quando é número você já sabe,
né?
Linha 920 E20: Humn.
Linha 921 P: Você está somando 1...?
Linha 922 E20: Sim.
Linha 923 P: ... Sempre 1 ao anterior. Se o anterior é x, quanto eu tenho que somar no x? Para você achar
o próximo número?
Linha 924 E20: x + x.
Linha 925 P: x + x? Só que x + x não é a mesma coisa que 2x?
Linha 926 E20: Sim.
Linha 927 P: Então, não parece ser x + x, não é?
Linha 928 E20: x ao quadrado?
Linha 929 P: x ao quadrado é a mesma coisa que qual operação? x...?
Linha 930 E20: Vezes o x.
Linha 931 P: Vezes o x, também não é.
Linha 932 E20: Que... Teria que ser # × # e não x vezes ele mesmo. Não é?
Linha 933 P: Isso. Pensa assim. Por exemplo, se tiver nesse seu raciocínio, ficaria assim: x... e aqui é 2x,
então ficaria 3 e 3 × 2, 6. Mas não é. Aqui está somando 1. Agora, se for x ao quadrado, se o x
é 3, vai ficar 3 ao quadrado, vai ficar 9 aqui. Mas você só está somando 1, em relação ao
anterior. Se esse número vale x, então quanto eu tenho que somar no x para achar o próximo
número?
Linha 934 E20: Meu, está muito difícil. Já não tenho nem... Não tenho nenhuma ideia, não tenho
nenhuma ideia. Não sei... Não consigo entrar na minha cabeça.
Linha 935 P: Vamos fazer o seguinte. Deixa eu fazer um rascunho aqui. ((silêncio)).
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Linha 1030 E20: ((silêncio)) Vamos para o 4. ((silêncio)) Aqui ficaria 4-5-6... ((silêncio)) daria 8. Então
os 2 são números pares.
Linha 1031 P: Humn.
Linha 1032 E20: Mesmo na lógica do ímpar.
Linha 1033 P: Isso. Então parece que aqui a regrinha está valendo na sua sequência. Se você substituir por
um número ímpar, você acha a sequência ímpar. E se você substitui por um número par, ele
acha a sequência par...
Linha 1034 E20: Ele acha a sequência par...
Linha 1035 P: Mas e se for QUALQUER número. Falta achar um (jeito) mais genérico ainda que é: não
importa que número que você substituir no x, vai achar sempre uma sequência ímpar.
Linha 1036 E20: Qualquer número?
Linha 1037 P: É.
Linha 1038 E20: 13!
Linha 1039 P: Humn.
Linha 1040 E20: É qualquer número, né? Pode ser?
Linha 1041 P: Pode ser.
Linha 1042 E20: ((silêncio)) Mas com a lógica do ímpar.
Linha 1043 P: É. Parece que vale tanto para o ímpar quanto para o par, né?
Linha 1044 E20: É. ((silêncio)) Vamos lá. Aqui 13. 14-15. ((silêncio))
Linha 1045 P: Aham.
Linha 1046 E20: Opa... 13. 13... 14-15-16-17... ((silêncio)) Deu número ímpar.
Linha 1047 P: Número ímpar.
Linha 1048 E20: Os dois.
Linha 1049 P: Aham. Mas será que, se eu substituir por um número par, teria que ser alguma coisa que o
primeiro também se modifica na hora que você substitui o número, né? Então, por exemplo, eu
quero sempre achar um número ímpar independente de que número eu colocar para o x. Isso
significa que, no primeiro, ele já tem que se modificar porque você concorda que, como é x, já
está assumindo que aquele número que você escolhe já tem uma característica, né? Se ele é par
ou ímpar...
Linha 1050 E20: É.
Linha 1051 P: Agora teria que ser algum número aqui, desde o primeiro que substituir, não importa que ele
seja par ou ímpar, sempre vai forçar a virar ímpar.
Linha 1052 E20: Um número que faça isso??
Linha 1053 P: É. Na verdade assim, você tem que modificar alguma coisa aqui no x, no primeiro número,
para você achar esse ímpar.
Linha 1054 E20: ((silêncio)) No caso deve ter... ser outro número, que esse aqui não dá mais.
Linha 1055 P: É. Aqui, o x não pode ser. Então você tem que fazer, mexer alguma coisa com o x. Talvez
você tenha que começar com alguma coisa assim. Não só o x. O primeiro número já tem que
somar 2 ou tem que multiplicar, tem que mexer com alguma coisa nele. Não pode ser esse
número puro, x.
Linha 1056 E20: ((silêncio)) E... agora?
Linha 1057 P: Você colocou 3. Aí ficou 5? ((silêncio)) 5 e aqui seria 7, né, que o x é 3. É isso?
Linha 1058 E20: Não. É o resultado.
Linha 1059 P: Ah, já é o resultado? Então você pensou no 1?
Linha 1060 E20: 1.
Linha 1061 P: Tá. O 1. Espera aí. 3-5? Isso. E aí qual seria o próximo?
Linha 1062 E20: O próximo?
Linha 1063 P: É. É que a gente está tentando achar sempre três números, né?
Linha 1064 E20: ((silêncio)) Não. Espera aí. ((silêncio)) Não. ((silêncio))
Linha 1065 P: Aqui era 1, né, o número?
Linha 1066 E20: É.
Linha 1067 P: É 3-5, aqui vai ficar 9, né? É 1?
Linha 1068 E20: É 6.
Linha 1069 P: Ah, é 6? Ah, é 6.
Linha 1070 E20: É. Aqui, 2 em 2.
Linha 1071 P: Ah, bom. Isso.
Linha 1072 E20: ((silêncio)) eu acho que já descobri o número. Tudo que faz dá ímpar.
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Linha 1073 P: É. Só que aí você está começando com número ímpar. Se você colocar um número par,
provavelmente ele vai te dar número par aqui, não é? Tem que ser uma fórmula que não importa
o número que você colocar, ele vira, e ele se transforma.
Linha 1074 E20: Não tem como! Gente, não existe nenhum número mutante!
Linha 1075 P: O que acontece se você multiplica um número, por exemplo?
Linha 1076 E20: Se eu multiplico?
Linha 1077 P: Aham.
Linha 1078 E20: Dobro o (preço) dele? O valor.
Linha 1079 P: Depende, né? Se você multiplicar por 3, ele...?
Linha 1080 E20: É. Ele faz... É o triplo.
Linha 1081 P: É o triplo, né? Agora, o que acontece, por exemplo, se eu multiplicar é... 2, que é um número
par por um número ímpar?
Linha 1082 E20: 2 × 3...
Linha 1083 P: Aham.
Linha 1084 E20: Vai dar o resultado de número ímpar.
Linha 1085 P: 2 vezes 3 é quanto?
Linha 1086 E20: 6.
Linha 1087 P: 6. Então ele transforma em um número par.
Linha 1088 E20: Par. É.
Linha 1089 P: Então a multiplicação parece que tem isso, né? Você pega dois números que são diferentes:
um par e outro é ímpar...
Linha 1090 E20: Mas então sempre sai...
Linha 1091 P: É. Agora será que isso vale sempre? E se multiplicar número ímpar por ímpar?
Linha 1092 E20: Tipo 3 vezes 3?
Linha 1093 P: Isso.
Linha 1094 E20: Ia dar um número ímpar, 9.
Linha 1095 P: Humn. E se eu multiplicar 1 × 3 também dá ímpar? E se eu multiplicar 3 × 5?
Linha 1096 E20: Vai dar um número ímpar.
Linha 1097 P: Ímpar. Então o segredo parece que está aí. De mexer alguma coisa de multiplicar número
par ou ímpar, ou ímpar com ímpar ou par com par. Quando multiplico par com par, qual é o
resultado?
Linha 1098 E20: Par.
Linha 1099 P: Par. Então, ou seja, você tem que brincar com isso, né?
Linha 1100 E20: É.
Linha 1101 P: Multiplicar número par e ímpar. Então você vai ter que forçar o x a multiplicar com algum
número ímpar ou com par.
Linha 1102 E20: Sim. ((silêncio)) Mas é... ((suspiro)) Não. Espera. ((silêncio)) Só tem um número
ímpar aqui. Você percebeu?
Linha 1103 P: Humn?
Linha 1104 E20: Só tem um número ímpar aqui.
Linha 1105 P: Um número ímpar?
Linha 1106 E20: É. Um número ímpar. É o 6.
Linha 1107 P: Não, 6 é par.
Linha 1108 E20: Não, é par, né?
Linha 1109 P: É.
Linha 1110 E20: Então, eu teria que mudar esse aqui. Vou tentar aqui.
Linha 1111 P: Tá.
Linha 1112 E20: ((silêncio)) Por exemplo, fazer um só... ((fala baixa)) ((silêncio))
Linha 1113 P: Você ainda está somando, certo?
Linha 1114 E20: Mas a regra não era somar?
Linha 1115 P: Não. Somar, eu digo, quando você quer a sequência. Só que eu preciso achar primeiro esse
número. Aí, você viu que a estratégia da soma funcionou para esse caso aqui, não é? Por
exemplo, x e é x + 1 e x + 2. Para achar ESSA sequência. Agora, se fosse número ímpar, teria
que ser uma outra regrinha. E o que a gente estava falando agora é que, se você multiplicar um
número par com um ímpar, vai dar resultado ímpar. Não é?
Linha 1116 E20: Sim.
Linha 1117 P: Então você tem que fazer alguma coisa com esse x para multiplicar por um número par, ou
ímpar. Porque dependendo do que você multiplicar aqui, ele vai forçar a virar um outro número.
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Linha 1164 E20: Então, espere aí. A lógica está na cabeça, eu só preciso parar de falar para poder
pensar.
Linha 1165 P: ((risos))
Linha 1166 E20: É... ((acha graça)) então ((silêncio)) a sequência de um... De ímpares, né, você quer
dizer?
Linha 1167 P: Isso. A sequência de ímpares.
Linha 1168 E20: ((silêncio)) Menos 1.
Linha 1169 P: Humn.
Linha 1170 E20: Mais... ((silêncio)) Eita, agora chegou um. ((acha graça)) ((silêncio)) eita, lasqueira.
Linha 1171 P: ((acha graça))
Linha 1172 E20: Espera. Eu posso ir falando a minha lógica? Porque se não... eu vou esquecer.
Linha 1173 P: Pode. Pode. Aí fica no gravador.
Linha 1174 E20: Tá. Bom, espera. ((silêncio)) se x é 5, então vai ser... Não. x não é 5, x é 2. Então eu
poderia fazer algum número que eu multiplicado por 2, É... ((silêncio)) vamos tentar essa
lógica.
Linha 1175 P: ok. É 5x que você está escrevendo aí, né?
Linha 1176 E20: Sim.
Linha 1177 P: Tá. 5x.
Linha 1178 E20: É um 5 meio feio, mas é um 5. ((acha graça))
Linha 1179 P: Tá.
Linha 1180 E20: É... 2 × 2 é igual a 4 mais 1, 5.
Linha 1181 P: Aham.
Linha 1182 E20: Mais 4 × 2 é igual a 8 - 1, 7.
Linha 1183 P: ok.
Linha 1184 E20: 5 × 2, 10. Menos 1, 9.
Linha 1185 P: Humn. Parece que deu certo, né?
Linha 1186 E20: Isso é uma sequência.
Linha 1187 P: Sim.
Linha 1188 E20: 5-7-9.
Linha 1189 P: Isso. Parece que está certo.
Linha 1190 E20: Ah, tem mais coisa... (indignada)
Linha 1191 P: Não. O problema é você substituir por... o x por 2. Será que ele funciona para qualquer
número? Se ele funcionar para outro número, parece que está certo. Tenta um outro número
agora.
Linha 1192 E20: Um número ímpar, por exemplo, pode ser, né?
Linha 1193 P: Pode.
Linha 1194 E20: É... você quebra um pouquinho a cabeça, mas... porém, é... ((silêncio)) 2 × 3 é igual
a 6. Então... então eu poderia colocar 1 × 3... Ah, desculpa. ((silêncio)) Não consigo me
concentrar mexendo em alguma coisa, né?
Linha 1195 P: ((acha graça))
Linha 1196 E20: É. Então, vou escrever 1x... ((silêncio))
Linha 1197 P: Não, não. Essa sequência que você achou, essa fórmula, para testar se ela vale para tudo,
tenta substituir só o x, por um outro número. Faz só o cálculo. Que você substitui por 2...
Linha 1198 E20: Ah, por outro número?
Linha 1199 P: Isso. Porque você substitui por 2 aí, né? E por 2...
Linha 1200 E20: Mas aqui eu teria que abrir a conta de novo, se não eu vou me confundir.
Linha 1201 P: Como assim?
Linha 1202 E20: Ah, não. Essa... Esse aqui: 2-4 e 5 você quis dizer?
Linha 1203 P: Isso.
Linha 1204 E20: Para manter esses números?
Linha 1205 P: Isso. Isso você mantém. Você só substitui o x por um outro número.
Linha 1206 E20: Ah, sim. Tá. Então... eh... ((silêncio)) vou fazer aqui assim igual eu fiz, aí eu resolvo.
Se não eu vou me confundir.
Linha 1207 P: Aham.
Linha 1208 E20: ((silêncio)) Aqui então, vai ser... 2 × 3 é igual a 6, mais 1 é igual a 7.
Linha 1209 P: ok.
Linha 1210 E20: Mais 4x... 4 × 3 é igual a 12.
Linha 1211 P: Aham.
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Linha 1212 E20: 12 - 1, 11. ((silêncio)) Mais... 5 vezes... 5... 5 × 3 é igual a 15 - 1, 14.
Linha 1213 P: Aham.
Linha 1214 E20: Não deu na sequência.
Linha 1215 P: Não deu. Sabe qual é o único detalhe aí? É...
Linha 1216 E20:... Só aqui que deu certo.
Linha 1217 P: É. Sabe qual é o problema? Porque você tem que sempre pensar em ancorar alguma coisa
no primeiro número. Tudo bem você achar 4x - 1, 5x - 1. Só que eles não dizem nada a respeito
do primeiro número. Porque lembra que, para você achar uma sequência, sempre têm que estar
em relação a aquele anterior. Então ele tem sempre uma informação do anterior sendo
carregada. Então, você tem que mexer alguma coisa a partir desse número aqui. Então, se eu
sei que 2x + 1 sempre está dando um número ímpar, então, aqui já está dado que eu sempre
vou achar um número ímpar. Só que, partindo que isso aqui é um número ímpar, por exemplo:
7, qual é o próximo número ímpar?
Linha 1218 E20: Próximo número ímpar? 9.
Linha 1219 P: 9. E o próximo número ímpar depois do 9?
Linha 1220 E20: 11.
Linha 1221 P: Quanto que eu estou fazendo de operação para achar o próximo número aí?
Linha 1222 E20: De 2 em 2.
Linha 1223 P: De 2 em 2. Então o que será que eu tenho que fazer no próximo aqui? O que eu tenho que
somar?
Linha 1224 E20: ((silêncio)) Meu Deus do céu, eu entendi a lógica, mas eu não... ((silêncio))
Linha 1225 P: 2x + 1, eu já sei que ele é um número ímpar, certo?
Linha 1226 E20: Ímpar, isso. Sim.
Linha 1227 P: Eu tenho que somar, como você falou, de 2 em 2 para achar os próximos, certo?
Linha 1228 E20: Sim.
Linha 1229 P: Então o que você tem que fazer? Se eu somar esse número, eu não sei, 2x + 1?
Linha 1230 E20: Eu sei que esse deveria ser 6. Que se está de 2 em 2, o certo é colocar de dois em 2.
Linha 1231 P: Eu estou somando, né? Então aqui 2x + 1, se eu somar mais 2 vai ficar quanto essa equação
aqui?
Linha 1232 E20: O que?
Linha 1233 P: Essa expressão?
Linha 1234 E20: 7 + 2, no caso.
Linha 1235 P: Não, não. Aqui, no 2x + 1 mesmo. Pensa o 2x + 1 como um número. Assim: 2x + 1, esse
aqui eu sei que ele vai dar, um número que eu não sei. Qual que é? Porque depende do x. Mas,
se eu somar 2 nessa expressão, se simplificar essa expressão vai ficar quanto?
Linha 1236 E20: Ela vai ficar... Posso manter o 7?
Linha 1237 P: Por que 7? Onde você está vendo 7 aqui?
Linha 1238 E20: É, porque eu virei por 3. Não é?
Linha 1239 P: Ah, você já está substituindo?
Linha 1240 E20: É. Isso.
Linha 1241 P: Esquece a substituição. Só aqui, ó: 2x + 1?
Linha 1242 E20: Mas como eu vou saber o valor disso? Para poder... somar, resolver a operação?
Linha 1243 P: Aí é que você vai ver o segredo. Por exemplo, aqui eu posso tirar os parênteses?
Linha 1244 E20: ((silêncio))
Linha 1245 P: Para fazer... Vamos supor que você só tenha essa expressão para resolver, essa expressão
algébrica, certo? 2x + 1 + 2. Posso juntar alguma coisa aqui?
Linha 1246 E20: Eh... ((silêncio)) os números que vão com o X?
Linha 1247 P: Isso. Aí vai ficar quanto?
Linha 1248 E20: 2x + 3.
Linha 1249 P: 3, né? Será que agora dá certo? Porque o que eu estou fazendo? Eu não estou pegando esse
número e somando 2, né?
Linha 1250 E20: Sim.
Linha 1251 P: Se eu somar mais 2 nesse número, qual vai ser a próxima expressão? 2x...?
Linha 1252 E20: Mais 3 mais 2.
Linha 1253 P: Que é...?
Linha 1254 E20: x vai ser igual a... 2X mais 5.
399
Linha 1255 P: 2x + 5. Então, 2x + 3... ((silêncio)) 2x + 5 parece que são os números sequenciais de 2x + 1,
porque você está acrescentando de 2 em 2, porque você está carregando uma informação da
anterior. Agora vamos tentar o seu número. Você tinha substituído x por 3. Certo?
Linha 1256 E20: Sim.
Linha 1257 P: Então, esse aqui vai ficar quanto? 2 × 3 mais 1. Que dá?
Linha 1258 E20: Vezes 3 + 1... é 7.
Linha 1259 P: 7. Esse aqui? 2 × 3 + 3.
Linha 1260 E20: É igual a... 7-8-9, 10. Não. 6, 7-8-9.
Linha 1261 P: 9. E este? 2 × 3 + 5?
Linha 1262 E20: 11.
Linha 1263 P: 11. ((silêncio)) Quer testar se ele funciona para todo mundo? Chuta agora um outro número
x.
Linha 1264 E20: É... 4.
Linha 1265 P: 4. 2 × 4 + 1?
Linha 1266 E20: ((silêncio)) 8... 9.
Linha 1267 P: 9. 2 × 4 + 3?
Linha 1268 E20: 8... 11.
Linha 1269 P: 11. 2 × 4 + 5?
Linha 1270 E20: ((silêncio)) 13.
Linha 1271 P: 13. Parece que deu certo, né? Então você entendeu? A informação sempre tem que estar
ancorada no primeiro para você achar uma sequência, né? Claro que esse aqui é uma regra
porque a gente está querendo achar uma sequência consecutiva.
Linha 1272 E20: Aham.
Linha 1273 P: Se fosse, por exemplo, só pares ou ímpares, o que você fez aqui já estaria perfeito. Então, o
segredo é sempre tentar pensar qual é a operação que você tem que fazer para achar o próximo.
Só que sempre lembrando da informação anterior. Daí você consegue achar o próximo.
Gostou?
Linha 1274 E20: ((silêncio)) É complicado, ((acha graça)) mas eu entendi sim, a sua... a lógica assim.
Entendi.
Linha 1275 P: Esse aqui tinha na primeira atividade que vocês fizeram. A maioria não conseguiu fazer; não
conseguiu achar essa fórmula aqui. Eu só pedia essa fórmula aqui, 2x + 1. Como que eu faço
para achar uma fórmula para achar um número ímpar. Era você... A resposta era 2x + 1. Aí
muita gente acabou se confundindo nisso, porque não achava o número, tentava multiplicar,
tentava calcular ao quadrado...
Linha 1276 E20: Eu sei que eu quebrei bastante a cabeça, nas atividades que você já deu.
Linha 1277 P: Mas é bem legal porque... eu vi que você já conseguia entender essa lógica. Por isso que eu
te testei para ver se você conseguia deduzir.
Linha 1278 E20: É. E desenvolver um pouco mais.
Linha 1279 P: É. Mas eu achei bem legal essa atividade aqui, tá bom? Ok. Então terminamos aqui a
gravação da atividade.
Linha 1280 E20: Ah tá, pode ser.
((FIM DA TRANSCRIÇÃO))
400
401
ANEXO L
TRANSCRIÇÃO DE ÁUDIO – ESTUDANTE 27
CONVENÇÕES ADOTADAS
PALAVRA... = ALONGAMENTO VOCÁLICO, HESITAÇÃO OU INTERRUPÇÃO DE ATO DE FALA.
... PALAVRA = CONTINUAÇÃO DA FALA DO TURNO DO FALANTE QUE FOI INTERROMPIDO.
((PALAVRA)) = COMENTÁRIOS DO TRANSCRITOR.
(PALAVRA) = PALAVRA OMITIDA DA FALA, MAS QUE FOI ACRESCENTADA PARA UMA MELHOR
COMPREENSÃO DA TRANSCRIÇÃO.
IDENTIFICAÇÃO DE FALANTES
P: PESQUISADOR (A)
E27: ESTUDANTE 27
((INÍCIO DA TRANSCRIÇÃO))
P: Bom, primeiro eu queria que você me falasse um pouco do jogo. O que você achou dele do
Linha 1
que jogou ontem.
E27: Olha... o jogo é, realmente, interessante. E eu não achei, tipo, como tem a explicação,
Linha 2
te dá um exemplo, eu não achei muito complexo... nada muito... difícil.
P: Certo. E aí depois passava para atividade 2, que é, mais ou menos, na sequência do jogo. Só
Linha 3
que ele vai te falando de uma outra maneira, não é? O que você achou depois de fazer o jogo?
Linha 4 E27: Ah... eu achei que, tipo assim, é... mas tipo... você fala do jogo...
Linha 5 P: Isso, a impressão que você teve depois de jogar e fazer essa atividade.
E27: Acho que tornou mais... fácil fazer depois de eu ter jogado... Porque, no jogo, me
deu vários exemplos e, tipo, fui lendo, e fui passando de nível, né? E, conforme você vai
Linha 6
passando de nível, você vai... você vai se ligando. Você vai aprendendo. E aí eu achei muito
mais fácil fazer... depois do jogo.
Linha 7 P: Certo, e o que você achou dessa atividade com a do ano passado?
E27: ((Silêncio)) Ah... é que o ano passado... (rs) É... tipo... ((Silêncio))... Ah, professora...
Linha 8
(rs)
Linha 9 P: É, se você lembrar (rs) Se lembra de alguma atividade...
E27: ...ano passado, eu não conseguia... Não estou falando, não estou jogando, nem nada.
Linha 10 Mas é que o ano passado eu não conseguia acompanhar, tipo, a gente tem as nossas
dificuldades e tal...
Linha 11 P: Aham.
Linha 12 E27: Só que, no ano passado, eu era muito... não conseguia nem acompanhar...
Linha 13 P: Aham.
E27: Tipo, esse ano eu me esforço mais, né? Só que, ainda assim, eu sou... é mais difícil de
Linha 14 acompanhar, mas eu... me esforço e tal e acho que... ano passado eu tinha muito mais
dificuldade...
Linha 15 P: Aham. Equação é uma coisa que você tinha dificuldade o ano passado?
Linha 16 E27: ((Silêncio)) Tinha...
Linha 17 P: E esse ano?
Linha 18 E27: Ah... acho que não.... ((Silêncio)) Não... Nem tanto quanto o ano passado.
P: Certo. Então vamos ver as atividades? Então... explique um pouquinho (sobre) essa primeira
Linha 19
atividade.
Linha 20 E27: ((Silêncio))
Linha 21 P: O que ele pede para fazer?
Linha 22 E27: Aqui?
Linha 23 P: Isso.
Linha 24 E27: Pede... para somar os dois números do lado oposto do x.
Linha 25 P: Aham.
Linha 26 E27: É... E aí você soma. Você... acha o valor do x.
Linha 27 P: Sim.
Linha 28 E27: Aí você soma 2 com 2 que é 4 e já acha o valor de x.
Linha 29 P: Certo, aí a atividade 2 é semelhante?
402
Linha 78 E27: E aí eu coloco verdadeira. Essa aqui de baixo é falsa. Porque 13 + 3 é 16 e não 6.
Linha 79 P: Certo.
Linha 80 E27: Então, não é igual... e é falso.
P: Certo. Ok, então acho que a gente pode seguir para o próximo. Então o exercício 7 fala sobre
Linha 81 a soma de um número positivo com o negativo. E aí, ele representa a diferença de sinais aqui
pelos parênteses, não é?
Linha 82 E27: Aham.
P: Em separado, porque não podem ficar juntos os dos sinais. E aí pede para calcular. Então,
Linha 83
nesse caso, 7 + (-2) dá 7 - 2 que é igual a 5, certo?
Linha 84 E27: Humn.
P: Não é? E você calculou certinho. Aí, pede para calcular as outras equações. Então, você fez
certinho: 2 – 2, 5 – 3, 8 – 5, 33 – 12... Aí, chegou nesse aqui: 2 – 8 – 6, certo? Então, eu vejo
Linha 85
que você não tem nenhuma dúvida sobre subtração de um número negativo. E aqui? O que
acontece nessa atividade? Quando somamos um número negativo com um positivo?
E27: Eu... fiquei, realmente, meio... perdida... porque eu falei: “nossa... eu não lembro...”.
Aí eu... eu achei que... tipo assim... eu não lembrava de jeito nenhum, eu fiquei até mais
Linha 86
tempo, tipo, respondi tudo, chegou aqui eu simplesmente travei. Aí eu falei: “nossa... e
agora?”.
Linha 87 P: Aham.
E27: Aí eu fui e... pelo que eu (entendi)... “ah, vou colocar isso” para não deixar em branco,
Linha 88 porque eu não consegui responder, professora... Eu esqueci... Simplesmente saiu da minha
mente.
Linha 89 P: Tá...
Linha 90 E27: Aí eu não consegui responder.
P: Está ok. Aí você respondeu aqui -7. Tá, vamos pensar no seguinte então: ali no 2 – 8, você
Linha 91
respondeu que é -6, não é? Por que você sabe que é – 6?
Linha 92 E27: Aonde?
Linha 93 P: Na letra e do item anterior.
Linha 94 E27: Porque, assim, é... 8 vai ser um número negativo.
Linha 95 P: Aham.
Linha 96 E27: É... 2 + 8 seria 10.
Linha 97 P: Aham.
E27: Só que, se eu tenho 2 e eu vou tirar 8 do 2, (que) é positivo, e 8, (que) é negativo. Eu
Linha 98
vou tirar 8 de 2, vai ficar faltando o 6...
Linha 99 P: Certo...
Linha 100 E27: E aí eu mantive o sinal do 8 e ficou 6...
P: Certo, esse raciocínio que você fez de “tirar”, é semelhante ao que você tem que fazer aqui
Linha 101
no -2 + 5. Então, imagina assim, está faltando 2, não é?
Linha 102 E27: Humn.
P: E você... acrescentou mais 5. ((Silêncio)) Então, qual é a conta que você tem que fazer nesse
Linha 103
caso?
Linha 104 E27: Eu... está faltando para mim 2 então?
Linha 105 P: Isso.
Linha 106 E27: Aí eu vou acrescentar mais 5?
Linha 107 P: Isso.
Linha 108 E27: Aí vai ficar 3... então?
Linha 109 P: Aham. 3 positivo ou negativo?
Linha 110 E27: Positivo.
Linha 111 P: Positivo. Por que?
Linha 112 E27: Porque eu tinha dois e... eu devia dois.
Linha 113 P: Aham.
E27: E aí... se eu tenho cinco para pagar eu vou dar os dois que eu devia... e eu fico com
Linha 114
3.
Linha 115 P: Isso, perfeito.
Linha 116 E27: E aí eu errei e coloquei... ((ri nervosamente))
Linha 117 P: Não, não tem problema (rs). Está certinho.
E27: Nossa... eu... está vendo? Eu... nossa... ((tom de indignação)) Se eu pudesse fazer de
Linha 118
novo...
404
Linha 159 P: Então, você acha que, o exemplo, o formato da atividade ajudou a resolver os exercícios?
E27: ((Silêncio)) Ajudou... apesar (do fato) de que... se não tivesse, acho que eu conseguiria
Linha 160
também, mas... ajuda sim.
P: É? ((pausa)) E entre o jogo e a atividade? As explicações da atividade? Qual você acha mais
Linha 161
intuitivo?
Linha 162 E27: ((Silêncio)) Acho que é a atividade...
Linha 163 P: A atividade? Por quê?
E27: ((Silêncio)) Porque, no jogo, é tudo muito... é tudo muito... mecânico, né? Você
simplesmente vai, junta lá e pronto! Deu seu número, você não precisa fazer a conta, você
Linha 164 não precisa somar nada. Ele simplesmente... você só coloca o número e tal e junta os dois
e ele te dá o resultado. Só que o que você tem que pensar: que você vai além, não é? Você
tem que somar, você tem que subtrair...
P: Aham. Certo... ((Silêncio)) Na verdade, eu fiquei na dúvida se você estava nesse grupo ou
no outro 1 . Tinha uma outra atividade que eu tinha preparado para você, mas... pelo seu
desempenho, na atividade do ano anterior, das dúvidas que você tinha, eu falei “O que eu faço?
Linha 165
Bom, vou colocar nesse grupo e ver”. Então, confesso que você foi muito bem na atividade.
Acho que daria para você estar no outro grupo. Para (poder) te testar mais. Eu acho que queria
ver você ter mais dificuldade... (rs)
Linha 166 E27: Ai meu Deus... (rs)
P: ...para testar mais coisas. Mas você foi super bem, tá? Então acho que foi legal, você deveria
Linha 167 se orgulhar, se você acha que não tinha confiança em matemática, pode ficar orgulhosa porque
foi muito bem na atividade, tudo bem?
Linha 168 E27: Obrigada.
((FIM DA TRANSCRIÇÃO))
__________________________________________________________________________________________
1
A pesquisadora refere-se ao grupo 1.
406
407
ANEXO M
TRANSCRIÇÃO DE ÁUDIO – ESTUDANTE 32
CONVENÇÕES ADOTADAS
PALAVRA... = ALONGAMENTO VOCÁLICO, HESITAÇÃO OU INTERRUPÇÃO DE ATO DE FALA.
... PALAVRA = CONTINUAÇÃO DA FALA DO TURNO DO FALANTE QUE FOI INTERROMPIDO.
((PALAVRA)) = COMENTÁRIOS DO TRANSCRITOR.
(PALAVRA) = PALAVRA OMITIDA DA FALA, MAS QUE FOI ACRESCENTADA PARA UMA MELHOR
COMPREENSÃO DA TRANSCRIÇÃO.
IDENTIFICAÇÃO DE FALANTES
P: PESQUISADOR (A)
E32: ESTUDANTE 32
((INÍCIO DA TRANSCRIÇÃO))
Linha 1 P: Bom, o que você achou da atividade? Primeiro sobre o jogo. O que você achou dele?
Linha 2 E32: Ah, eu achei ele interessante, estava bem facinho (facilzinho)...
Linha 3 P: É? E equações? Você tem dificuldade?
Linha 4 E32: Ah, mais ou menos, quando é bem avançado, mas essas assim mais básicas, são fáceis.
Linha 5 P: É? E o jogo? Você acha que ele te ajudou em alguma coisa que você não entendia?
Linha 6 E32: Ajudou até... ajudou. Ele foi dando explicações... e eu fui entendendo e fazendo.
Linha 7 P: Certo... E agora essa atividade, depois de fazer o jogo por 30 minutos, o que você achou?
Linha 8 E32: Ficou mais fácil...
Linha 9 P: É?
Linha 10 E32: É...
Linha 11 P: E comparada à atividade que você tentou fazer o ano passado? O que você achou? (rs)
Linha 12 E32: Achei que essa aqui é BEM mais fácil! (rs)
Linha 13 P: Bem mais fácil? O que tem de diferente? O que te ajudou bastante nessa atividade?
Linha 14 E32: Ah, porque é bem básica, né? Só isso: + ou − ... x (vezes)...
Linha 15 P: Certo... Está te conduzindo melhor, né?
Linha 16 E32: É...
Linha 17 P: Tá. Vamos ver, então a atividade 1, não tem segredo, você fez aqui somando...
Linha 18 E32: É...
Linha 19 P: OK, Aí, você tinha que representar uma soma que dá o mesmo valor de x do item A, né?
Linha 20 E32: Aham...
P: Então aqui você representou x = 6 + 6. Ok, agora, se você fizesse uma representação parecida
Linha 21
com essa do... item 6. Como você faria?
Linha 22 E32: Humn... ((Silêncio)) Como assim?? (rs)
Linha 23 P: Por exemplo, aqui você falou que x = 6 + 6. Está certo?
Linha 24 E32: Aham.
P: Mas, aqui, está vendo que no 6 está representando uma equação? Por exemplo, 6 + 3 = 9. Em
Linha 25
vez de usar o x, se usasse números, como ficaria aqui?
Linha 26 E32: Colocasse 6 + 6 = 12?
Linha 27 P: Isso! Aí, sem usar o 12, que outra opção eu teria além do 12? 6 + 6 é igual a quanto?
Linha 28 E32: ((Silêncio)) Eu não estou entendendo ainda... (rs)
Linha 29 P: Qual (seria) uma outra soma que dá o mesmo resultado 12?
Linha 30 E32: Ah! O 12 positivo com 12 negativo?
Linha 31 P: Humn... sim... Mas aí 12 positivo com 12 negativo dá zero, não é? Se somar...
Linha 32 E32: Ah é! (rs)
P: Então, quantas outras somas? Não tem só 6 + 6 que dá 12, não é? Que outra soma dá 12, aqui,
Linha 33
de resultado?
Linha 34 E32: É... 7 + 5... ((Silêncio)) 7 + 5?
Linha 35 P: 7 + 5, consegue pensar em outra?
Linha 36 E32: É... 8 + 4.
P: 8 + 4, isso. Aí, você entendeu essencialmente aqui, para classificá-lo (como) verdadeiro e falso.
Linha 37
Como você classificou isso como verdadeiro ou falso? Como você verificou?
408
E32: Ah... fui fazendo a primeira conta, né? Dos (itens) de mais (+) aqui... Aí aqui era ao
Linha 38
contrário...
Linha 39 P: Aham.
Linha 40 E32: Aí eu vi aqui que 13 + 3 não daria 6.
Linha 41 P: Certo. 13 + 3 daria quanto?
Linha 42 E32: Dá trez... dezesseis!
Linha 43 P: Dezesseis. Por isso que elas não são iguais e, por isso, é falsa.
Linha 44 E32: Sim...
Linha 45 P: E na letra c e d, por exemplo, que tem soma dos dois lados?
Linha 46 E32: c e d foi... é que aqui ele faz duas representações que daria o mesmo resultado, né?
Linha 47 P: Aham.
Linha 48 E32: Então é verdadeiro, porque 3 + 3 dá 6, 5 + 1 também dá 6.
Linha 49 P: Aham.
Linha 50 E32: E aqui é a mesma coisa: 1 + 4 dá 5 e 2 + 3 dá 5 também.
P: Certo... perfeito. Você entendeu a essência aqui. Agora o 7, o que você entendeu dessa
Linha 51
atividade aqui?
E32: Eu entendi que... eu preciso... ((Silêncio)) é... ele me pergunta o porquê de usar o
Linha 52 positivo e... ((pausa)) É... coisa assim... ((Silêncio)) É, ele quer saber quando eu somo
positivo com negativo...
Linha 53 P: Aham.
E32: Ele fala sobre isso e aí ele... começa a dizer... o que seria o positivo com o negativo, qual
Linha 54
é o resultado.
Linha 55 P: Isso. E aí, qual é o resultado?
Linha 56 E32: Aqui na... deu zero. 2 + 2 negativo.
Linha 57 P: Aham.
Linha 58 E32: Na 5... na B deu 2. É 5 + 3 negativo.
Linha 59 P: Aham.
E32: Na 8, a (letra) c deu 3. Que é 8 mais 5 negativo... A (letra) d deu 21 que é 33 + 12
Linha 60
negativo. E a (letra) e deu 6 negativo que é 2 + 8 negativo...
Linha 61 P: Certo, e... aqui... porque você deu 7 = 7? No item acima?
Linha 62 E32: ((Silêncio)) É... eu estou vendo agora que tá errado... (rs)
Linha 63 P: Qual que é o resultado certo?
Linha 64 E32: Aqui... seria 7... 7 que dá 3. 7 = 3.
Linha 65 P: 7 = 3? Por que 7 = 3?
Linha 66 E32: ((Silêncio)) Ah não! (rs) 7 = 5.
P: Humn... O resultado do 7 – 2 é igual a 5. Agora, o que eu não estou entendendo é por que você
Linha 67
está falando que 7 = 5?
Linha 68 E32: Aqui. Ficaria 7 = 5.
P: É, só que 7 é um número, né? É uma constante. Ele só pode ser 7. E 7 não pode ser igual a um
Linha 69 outro número, a não ser que você represente por uma soma, por exemplo, 7 = 3 + 4 ou 7 = 1 + 6.
Aí está certo. Mas 7 só pode ser 7.
Linha 70 E32: ((Silêncio))
Linha 71 P: Então você não pode falar que o 7 é igual a 5.
Linha 72 E32: ((Silêncio))
Linha 73 P: Certo?
Linha 74 E32: Aham...
Linha 75 P: Certo ou não? (rs)
Linha 76 E32: Certo... (rs)
P: Não é porque eu estou dizendo que você tem que concordar! (rs) Você tem que dizer, se tiver
Linha 77
em dúvida.
Linha 78 E32: Não... mas... não teria outro jeito (rs).
Linha 79 P: Humn, porque o resultado aqui, na verdade, você vai só escrever 5, né?
Linha 80 E32: Aham.
P: Você não precisa escrever 7 = 5. Talvez você esteja em dúvida por causa do x, não é? Porque
Linha 81
você sempre tem que achar o x.
Linha 82 E32: ((Silêncio))
Linha 83 P: Aí você está acostumada a escrever “x é igual a tanto”.
Linha 84 E32: É...
409
ANEXO N
CONVENÇÕES ADOTADAS
PALAVRA... = ALONGAMENTO VOCÁLICO, HESITAÇÃO OU INTERRUPÇÃO DE ATO DE FALA.
... PALAVRA = CONTINUAÇÃO DA FALA DO TURNO DO FALANTE QUE FOI INTERROMPIDO.
((PALAVRA)) = COMENTÁRIOS DO TRANSCRITOR.
(PALAVRA) = PALAVRA OMITIDA DA FALA, MAS QUE FOI ACRESCENTADA PARA UMA MELHOR
COMPREENSÃO DA TRANSCRIÇÃO.
IDENTIFICAÇÃO DE FALANTES
P: PESQUISADOR (A)
E6: ESTUDANTE 6
((INÍCIO DA TRANSCRIÇÃO))
P: Primeiro, eu quero que você me explique, um pouco, o que achou do jogo. O que
Linha 1
achou dele?
E6: No começo era fácil, só que, depois, na hora que começou lá na parte do 20
Linha 2
até o... 23... eu não consegui fazer, começou a ficar um pouco complicado.
Linha 3 P: Aham. Que tipo de coisa que estava complicado lá no jogo?
Linha 4 E6: Na hora... ((falando baixo)) que tinha que trocar os números para... equações.
Linha 5 P: Ah... trocar os números...
Linha 6 E6: É.
Linha 7 P: ... De lado?
Linha 8 E6: É.
Linha 9 P: Assim?
Linha 10 E6: Zeros.
Linha 11 P: Certo.
Linha 12 E6: Quando tinha os zeros.
Linha 13 P: Aham. E você acha que o jogo te ajudou a entender algumas coisas de equação?
Linha 14 E6: Ajudou bastante.
P: Ajudou bastante? Legal. E, depois de ficar 30 minutos jogando, você veio para essa
Linha 15
atividade. Acha que ficou fácil de entender o que está aqui na segunda parte?
Linha 16 E6: No começo sim, só essas últimas partes que eu fiquei... um pouco na dúvida.
Linha 17 P: Então vamos comentar um por um?
Linha 18 E6: Aham.
P: A primeira atividade aqui da etapa dois. Primeiro, eles falam para descobrir o valor
Linha 19 de x. Então ele pede para somar os (dois) números 2 do lado direito da igualdade. Aí
você respondeu que é...
Linha 20 E6: 4.
P: 4. Tá, você fez a soma. Aí a segunda atividade: x é uma variável, e as variáveis
Linha 21 podem ter diferentes valores. Encontre o valor de x somando os valores do lado direito
da igualdade. Aí você também fez a soma, que está direto lá no jogo também, certo?
Linha 22 E6: Aham.
P: Bem simples. Agora na terceira atividade, você viu que ele vale 12, mas na segunda
valia 6, na primeira valia 4, não é? Então ela tem diferentes valores. E aqui no quarto
Linha 23
(exercício) ele está explicando que os números 3 e 7 são constantes, certo? E o que é
um número constante?
Linha 24 E6: Não sei. ((baixo))
P: Por exemplo, 3 não pode ter outro 3. 3 é (igual a) 3, não é? No caso do x, não. Se
você fala: “O número é um x”, o x pode ser qualquer número. Você pode pensar no 1,
Linha 25 o seu colega pode pensar no 10, no 11, pode assumir qualquer valor. Quando você fala
que (algo) é constante, qual é o significado que você tem fora da Matemática? O que
você entende por constante?
Linha 26 E6: ((silêncio))
412
((FIM DA TRANSCRIÇÃO))
__________________________________________________________________________________________
422
423
ANEXO O
TRANSCRIÇÃO DE ÁUDIO – ESTUDANTE 4
CONVENÇÕES ADOTADAS
PALAVRA... = ALONGAMENTO VOCÁLICO, HESITAÇÃO OU INTERRUPÇÃO DE ATO DE FALA.
... PALAVRA = CONTINUAÇÃO DA FALA DO TURNO DO FALANTE QUE FOI INTERROMPIDO.
((PALAVRA)) = COMENTÁRIOS DO TRANSCRITOR.
(PALAVRA) = PALAVRA OMITIDA DA FALA, MAS QUE FOI ACRESCENTADA PARA UMA MELHOR
COMPREENSÃO DA TRANSCRIÇÃO.
IDENTIFICAÇÃO DE FALANTES
P: PESQUISADOR (A)
E4: ESTUDANTE 4
((INÍCIO DA TRANSCRIÇÃO))
P: Bom, então vamos lá. Eu queria que você falasse um pouquinho do jogo. O que você
Linha 1
achou?
Linha 2 E4: Eu achei o jogo legal, só que... um pouco difícil...
Linha 3 P: É? Por que é difícil?
E4: Porque na vinte ((fase 20)) eu não consegui passar. Aí fiquei, tipo, pensando,
pensando... Aí... eu fui lá e consegui, aí eu pensei, aí eu consegui passar. Só que na
Linha 4
vinte... quando eu cheguei na vinte quatro também consegui. Aí na vinte e cinco estava
difícil... Aí... você parou o jogo...
Linha 5 P: Entendi. E você achou que o jogo te ajudou a entender a atividade?
Linha 6 E4: ((Silêncio)) Mais ou menos...
Linha 7 P: Mais ou menos. Por quê?
Linha 8 E4: Porque... eu não entendi muita coisa do jogo...
P: Humn... E a atividade? O que você achou dessa atividade (comparada) com aquela que
Linha 9
você fez no ano passado?
Linha 10 E4: ((Pausa)) Eu achei... legal...
Linha 11 P: Legal? ((Pausa)) O que você achou legal, por exemplo?
Linha 12 E4: ((Silêncio)) Ai... Tipo... é... algumas coisas ((Silêncio)).
Linha 13 P: Algumas coisas... o quê? (rs)
Linha 14 E4: Algumas coisas estavam difíceis, algumas coisas estavam fáceis.
P: Aham. Por exemplo, essa primeira aqui, o que você achou? Aqui ele fala para descobrir
Linha 15
o valor de x. E fala assim que você precisa... O que você escreveu?
Linha 16 E4: “Precisa colocar o zero”.
P: Colocar o zero, e sumir o x. Tá. Só que, aí, ele quer o resultado. Aqui ele está falando que
você precisa somar dos dois lados, certo? Quero dizer, somar de um lado. Precisa somar o 2
Linha 17
com 2. Porque lembra que a primeira atividade do jogo você tinha que arrastar os
quadradinhos, aí virava um só? Quanto ficaria aqui?
Linha 18 E4: ((Silêncio)) Ficaria quatro eu acho.
Linha 19 P: Quatro. Isso, não é? Então aqui era só colocar o resultado.
Linha 20 E4: ((Silêncio))
Linha 21 P: Não é? E, da mesma forma, os outros também. Esse dois, por exemplo, quanto ficaria?
Linha 22 E4: ((Sussurrando fazendo as contas)) Seis.
Linha 23 P: Seis. Perfeito. E aí, e a três?
Linha 24 E4: ((Sussurrando fazendo as contas)) Doze.
Linha 25 P: Doze. Ok, quatro?
Linha 26 E4: ((Sussurrando fazendo as contas)) Dez?
P: Dez. Isso. Aí chega no número cinco. O que você resolveu até agora chamam-se equações.
Linha 27 E a equação está mostrando sempre duas coisas iguais. De um lado de cá da igualdade e do
outro lado. Aqui ele já está te dando: “x = 12”. Isso significa que o x é igual a quanto?
Linha 28 E4: ((Pausa)) A zero?
Linha 29 P: Por que zero?
Linha 30 E4: ((fala bem baixinho)) Ah, não sei.
424
Linha 31 P: ((Silêncio)) Onde você tirou o zero? O que você pensou para achar que é zero?
Linha 32 E4: ((Pausa)) Isso aqui?
P: Aham. Só que isso aqui, ele está falando em relação a isso. Ele está falando que x é igual
Linha 33
a doze, certo?
Linha 34 E4: Aham.
Linha 35 P: Então qual é o valor de x, nisso aqui?
Linha 36 E4: ((Silêncio))
P: Porque igualdade o que é? ((Pausa)) Quando você fala que alguma coisa é IGUAL?
Linha 37
((Pausa)) O que significa?
Linha 38 E4: ((Silêncio e fala baixinho)) Não sei...
Linha 39 P: Se eu falar, por exemplo, que a minha blusa é igual a sua.
Linha 40 E4: ((Silêncio)) Então é igual.
Linha 41 P: Sim, igual. Igual significa, por exemplo, que a minha blusa é igual a sua?
Linha 42 E4: ((Silêncio)) Não...
Linha 43 P: Não. O que você viu que elas não são iguais?
Linha 44 E4: Que a sua é branca e a minha é preta...
Linha 45 P: Isso. A minha é branca e a sua é preta. A minha calça é igual a sua?
Linha 46 E4: Não.
Linha 47 P: Não também. Agora, e essa carteira? Esquece os rabiscos, a carteira em si, é igual a essa?
Linha 48 E4: É.
Linha 49 P: Por que?
Linha 50 E4: ((Pausa)) Porque é igual!
Linha 51 P: O que você vê que é igual?
Linha 52 E4: ((Pausa)) Os detalhes?
P: Os detalhes! Isso. No caso dos números, aqui, ele só está expressando isso. Então, o sinal
de igual, está falando isso: que um lado tem a mesma característica do outro. E o x é um
Linha 53
valor que eu não sei. Mas eu sei que ele é igualzinho a 12. ((Pausa)) Então qual é o valor de
x?
Linha 54 E4: ((Silêncio e fala baixinho)) Não sei...
Linha 55 P: Não sabe? Então vou fazer o seguinte: eu vou pegar um aparato1. Deixe-me só pausar...
((O DIÁLOGO É INTERROMPIDO PARA EXPLICAR VISUALMENTE A IDEIA DE IGUALDADE
POR MEIO DO APARATO))
P: Com essa explicação que eu fiz, da balança, você consegue agora entender? Por exemplo,
Linha 56
vamos supor que esse x seja esse carrinho aqui.
Linha 57 E4: Aham.
Linha 58 P: Então x vale quanto?
Linha 59 E4: ((Pausa)) Vale doze?
Linha 60 P: Vale doze! É doze a resposta. Então, já estava ali a resposta. Quer colocar a resposta?
Linha 61 E4: ((Silêncio))
Linha 62 P: Põe a resposta (rs)
Linha 63 E4: Vou ter que colocar aqui embaixo?
Linha 64 P: Isso.
Linha 65 E4: ((Silêncio))
P: Isso... doze. Agora, quais outras somas que dão (resultado) doze? Me fale dois números
Linha 66
que, somados, o resultado dá doze.
Linha 67 E4: ((Silêncio)) Zero menos x?
P: Zero menos x? Humn... Só que, o x, você não sabe o número. Tem que ser com o número
Linha 68 que você já sabe. ((Pausa)) Pegue dois números que você já sabe e que, somando, vai dar
doze.
Linha 69 E4: Dez... mais dois.
P: Isso! Dez mais dois. Pode colocar... dez mais dois. ((Silêncio)) 10 + 2, né? Não vírgula...
Linha 70
isso, 10 + 2...
Linha 71 E4: Aham.
1
Para ajudar na compreensão dos estudantes, sobre a ideia de igualdade, criei uma balança utilizando dois copos descartáveis
e um cabide. Cada copo ficou suspenso em um lado do cabide, por meio de fios de barbante, no qual, utilizando-se de bolinhas
de gude, de tamanhos iguais, ou miniaturas de carros, em cada lado da balança, mostrei a ideia de equilíbrio e desequilíbrio
como forma de expressar a noção de equação.
425
P: Isso. Ok. Agora pensando nisso aqui, vamos para essa atividade seis. Aqui você falou que
Linha 72
6 + 3 = 9 é falsa. Por que que você concluiu que é falsa?
Linha 73 E4: ((Pausa)) Porque... eu contei... e não deu o mesmo valor...
Linha 74 P: É? 6 mais 3 não é igual a 9?
Linha 75 E4: Não...
Linha 76 P: Quanto que é 6 + 3?
Linha 77 E4: É oito.
Linha 78 P: Oito? Tem certeza?
Linha 79 E4: ((Silêncio))
Linha 80 P: Faz de novo a conta, seis mais três (rs).
Linha 81 E4: ((Sussurrando fazendo a conta)) Espera... ((Silêncio)) Ah, é nove.
Linha 82 P: É nove. Então, ela é verdadeira. Né?
Linha 83 E4: ((Silêncio))
Linha 84 P: Verdadeira... Perfeito. Aí a b está certa, 14 = 7 + 7. A ((letra)) c: 3 + 3 é igual a 1 + 5?
Linha 85 E4: ((Silêncio)) É.
Linha 86 P: Por que?
Linha 87 E4: Porque aqui é... ((sussurra))
Linha 88 P: Humn?
Linha 89 E4: Porque aqui é igual?
Linha 90 P: Sim. Quanto que é?
Linha 91 E4: ((Sussurrando fazendo as contas)) Aqui dá seis.
Linha 92 P: Perfeito.
Linha 93 E4: ((Pausa)) E aqui dá seis?
Linha 94 P: Isso!
Linha 95 E4: Então está... verdadeira.
P: Verdadeira, isso. Perfeito. Aí o outro: 1 + 4 = 2 + 3. Certinho. E o ((item)) E, por que é
Linha 96
falso?
Linha 97 E4: ((Pausa)) Porque... eu contei... e não deu nenhuma soma...
Linha 98 P: Sim, porque 13 + 3 é quanto?
Linha 99 E4: ((Silêncio)) Dezoito?
Linha 100 P: Conte treze. Memorize treze, aí conte três.
Linha 101 E4: ((Silêncio)) Dezesseis.
Linha 102 P: Dezesseis. Dezesseis é igual seis?
Linha 103 E4: ((Pausa)) É...
Linha 104 P: Dezesseis?
Linha 105 E4: ((interrompe a pesquisadora)) Não! Não...
Linha 106 P: Por que?
Linha 107 E4: ((Pausa)) Porque não é!
Linha 108 P: Seis não é dezesseis, não é?
Linha 109 E4: É...
Linha 110 P: Seis é seis.
Linha 111 E4: É.
Linha 112 P: Então...
Linha 113 E4: Sim.
P: Essa é falsa, certo? Ok... agora, a ((atividade)) sete. 7 + -2 que é igual a 7 – 2. Aí você
Linha 114
respondeu aqui...
Linha 115 E4: É nove.
Linha 116 P: Nove? É... Qual é a conta que você fez aqui?
Linha 117 E4: ((Pausa)) Eu... dividi?
Linha 118 P: Dividiu? Dividir 7 por 2 dá 9?
Linha 119 E4: ((Silêncio))
Linha 120 P: Não?
Linha 121 E4: Não... ((Silêncio))
Linha 122 P: ((Pausa)) Não... E 7 - 2 é quanto?
Linha 123 E4: ((Silêncio)) É oit... nove?
P: Aí você está somando dois né? Você tem sete e está somando dois, aí dá nove. Só que
Linha 124
você está tirando, em vez de somar...
426
((FIM DA TRANSCRIÇÃO))
__________________________________________________________________________________________
427
ANEXO P
CONVENÇÕES ADOTADAS
PALAVRA... = ALONGAMENTO VOCÁLICO, HESITAÇÃO OU INTERRUPÇÃO DE ATO DE FALA.
... PALAVRA = CONTINUAÇÃO DA FALA DO TURNO DO FALANTE QUE FOI INTERROMPIDO.
((PALAVRA)) = COMENTÁRIOS DO TRANSCRITOR.
(PALAVRA) = PALAVRA OMITIDA DA FALA, MAS QUE FOI ACRESCENTADA PARA UMA MELHOR
COMPREENSÃO DA TRANSCRIÇÃO.
IDENTIFICAÇÃO DE FALANTES
P: PESQUISADOR (A)
E19: ESTUDANTE 19
((INÍCIO DA TRANSCRIÇÃO))
P: Eu vi o seu questionário e você está falando um pouco sobre o seu sentimento em relação à
Linha 1 disciplina de Matemática no qual você falou que é “bom”. Daí você fala que tem o sonho de ser
engenheiro. De onde vem esse sonho? Tem alguma influência?
Linha 2 E19: É que eu gosto de desenhar... prédio, casa... essas coisas.
Linha 3 P: Então você quer ser engenheiro civil?
Linha 4 E19: Aham.
Linha 5 P: Legal. Tem alguém na sua família que trabalha com isso?
Linha 6 E19: ((silêncio)) Não.
Linha 7 P: Não?
Linha 8 E19: ((muxixa)) tsc tsc.
Linha 9 P: E você fala que a Matemática é importante na sua vida, mas em que aspecto ela é importante?
E19: Ah, se na minha profissão, eu quero ser engenheiro, e você não sabe Matemática,
Linha 10
você não tem como ser engenheiro.
Linha 11 P: Sim.
E19: Não é? Porque você tem que calcular... as coisas lá, não é? Os tamanhos...
Linha 12
centímetros... Ah, a Matemática é importante em tudo, para mim.
Linha 13 P: Certo. E você tem dificuldade em Matemática?
Linha 14 E19: Tenho.
Linha 15 P: Em que aspecto que você tem dificuldade?
Linha 16 E19: É... em álgebra. Álgebra e equações do segundo grau...
Linha 17 P: Aham.
Linha 18 E19: Eu tenho dificuldade...
Linha 19 P: Certo. E tem alguma parte da Matemática que você tem mais facilidade?
Linha 20 E19: Ah... acho que... não.
Linha 21 P: Não? Então, no geral, álgebra é o que você tem mais dificuldade?
Linha 22 E19: É.
P: Humn, entendi... E aí, das matérias que gosta mais, você falou que é educação física e que
Linha 23
gosta de praticar esporte... Gosta de algum esporte em específico?
Linha 24 E19: Futebol.
Linha 25 P: Futebol. Só futebol?
Linha 26 E19: É futebol, basquete... todo esporte eu gosto... vôlei...
Linha 27 P: Humn... Legal. E Português?
Linha 28 E19: Português, Matemática...
Linha 29 P: Humn, legal. Em Português, do que você gosta?
E19: Ah porque... eu tenho que saber Português, não é? Se não saber falar, né... Como as
Linha 30
coisas... tipo... ((silêncio)) Ah... eu não sei explicar...
Linha 31 P: Por exemplo, você gosta de fazer alguma leitura específica?
Linha 32 E19: É, leitura.
Linha 33 P: Que tipo de coisa você lê?
428
Linha 82 E19: Não, a outra era mais próxima de casa, quando eu era pequeno, não é?
Linha 83 P: Humn, sei... E por que você mudou para esta escola?
Linha 84 E19: Ah, porque a minha mãe acha esta escola boa. A disciplina...
Linha 85 P: Certo. E você sente diferença entre a escola que você estudava e esta?
E19: Sim, porque lá era... É que, quando nós éramos pequenos, não bagunçávamos tanto
Linha 86
como bagunçamos aqui. Não tinha tanta bagunça lá quanto tem aqui.
Linha 87 P: Certo... E mesmo assim a sua mãe acha que aqui é melhor?
Linha 88 E19: É. ((silêncio))
Linha 89 P: Você sabe o por quê?
Linha 90 E19: Ah... o por que eu não sei...
Linha 91 P: Ela nunca te explicou? (rs)
E19: É... Só que ela acha bom aqui, pois ela costuma ir a um encontro de casais, na igreja,
Linha 92
e tem aqui também.
Linha 93 P: Ah, entendi.
Linha 94 E19: E aí como tem nesta escola este encontro, ela acha bom aqui.
Linha 95 P: Certo, entendi. Vai ver ela conhece alguém daqui, não é?
Linha 96 E19: É...
P: Entendi. E, falando nisso, o que você considera uma boa aula? Você explicou um pouco aqui
Linha 97 dizendo que é um professor que consegue “desenvolver”. Mas, o que é “conseguir desenvolver
a aula”? Explique um pouquinho melhor.
E19: Ah... tipo, o professor explica. Tem gente que não consegue entender a explicação. Se
Linha 98 ele consegue explicar melhor, e dá para entender, isso já é um avanço. É a parte boa da
aula. Para mim, na minha opinião.
Linha 99 P: Certo.
E19: É... uma aula boa? É um professor desenvolver, como eu falei, conseguir explicar,
passar a matéria que ele precisa... Porque, a professora de Português, ela tem dificuldade
Linha 100
de nos passar a matéria, ela não consegue desenvolver, por causa da bagunça da sala... Ela
não consegue desenvolver as aulas.
Linha 101 P: Entendi...
Linha 102 E19: Já o professor Edgar1 ele consegue desenvolver a aula dele toda.
Linha 103 P: Aham.
E19: Porque ele é mais “grosso”, sabe? Ele brinca com a gente, mas, na hora da aula, ele
Linha 104
não gosta de bagunça e já a professora de Português não consegue segurar (a bagunça).
Linha 105 P: Entendi. Daí por causa da bagunça você acha que a aula não rende?
E19: É, a aula não rende. Ela não consegue explicar, não consegue passar a lição. E é isso
Linha 106
que eu acho...
Linha 107 P: Aham. Mas é só a aula de Português que é mais crítica assim?
Linha 108 E19: Só a de Português.
Linha 109 P: E a de Matemática e as outras? Dá para desenvolver?
Linha 110 E19: Não. Dá para desenvolver.
Linha 111 P: É? Legal. E em relação às suas horas livres? O que você costuma fazer?
E19: Ah eu costumo sair, jogar bola, ler gibi, livro... Essas coisas aí... Mas o meu tempo
Linha 112 livre mesmo eu jogo mais bola porque eu moro em condomínio, não é? Daí vou para a
quadra e jogo mais bola.
P: Aham. E aqui você falou que você gosta de ficar andando pelas ruas... É sozinho ou com os
Linha 113
amigos?
Linha 114 E19: Ah com os amigos. Lá do prédio, nós andamos, saímos, vamos para o shopping...
Linha 115 P: Ah para passear mesmo.
Linha 116 E19: É.
Linha 117 P: Legal. E, na sua casa, mora você e quem mais?
Linha 118 E19: Eu, meu irmão, minha mãe e meu pai. Nós quatro.
Linha 119 P: Entendi. E como que você faz as atividades da escola na sua casa?
E19: Ah, em algumas atividades eu tenho dificuldade, daí peço para a minha mãe me
Linha 120 ajudar. E Matemática eu não tenho muita dificuldade. Só em álgebra, equação de segundo
grau e essas matérias novas que o professor está passando.
Linha 121 P: Certo. E a sua mãe consegue te ajudar?
1
Psuedônimo adotado para preservar o anonimato.
430
E19: Consegue. Porque a minha mãe terminou os estudos. Só o meu pai que não terminou
Linha 122
os estudos...
Linha 123 P: Certo, entendi... E como você costuma se preparar para as avaliações daqui?
Linha 124 E19: ((silêncio))
Linha 125 P: As provinhas...
E19: Para falar a verdade, eu nem estudo para fazer as provas... Mas, tipo... eu posso até
Linha 126 bagunçar, mas na hora que for a explicação eu vou lá para frente, escuto a explicação,
presto atenção... Algumas coisas eu consigo desenvolver e algumas não.
Linha 127 P: Humn.
Linha 128 E19: E aí, no dia da prova, vamos dizer que... eu vou “mais ou menos”.
Linha 129 P: Entendi. Dá para garantir uma nota.
Linha 130 E19: Dá para garantir uma nota.
Linha 131 P: Tá... E na matéria que você tem mais dificuldade? Como você faz para se preparar?
Linha 132 E19: ((silêncio)) Matéria que eu tenho dificuldade?
Linha 133 P: É...
E19: Para se preparar? Eu... vou no caderno e leio algumas coisas que o professor passou,
Linha 134
na matéria que eu tenho mais dificuldade. E pego algumas explicações.
Linha 135 P: De onde que você pega essas explicações?
E19: Do caderno. Porque o professor de Matemática costuma fazer as explicações, para
Linha 136 escrever no caderno, e ele consegue fazer também... ele faz uma conta, tipo, desenvolver e
saber fazer a conta. E é assim...
P: Entendi... E na sua casa? Você tem alguma rotina? Tem alguma tarefa que você sempre faz?
Linha 137
Como é o dia a dia na sua casa?
Linha 138 E19: Ah... normal... Tipo, eu arrumo o quarto... O que a minha mãe me pedir, eu faço.
Linha 139 P: Entendi. Você ajuda muito em casa? Sua mãe te pede muita ajuda sua?
Linha 140 E19: Não, minha mãe não me pede muito, mas, quando ela pede, eu faço.
Linha 141 P: Humn.
Linha 142 E19: Ela não pede muita... ajuda.
Linha 143 P: E os seus irmãos, por exemplo?
E19: Meu irmão também, ele arruma a parte dele e eu arrumo a minha parte. Aí a minha
Linha 144 mãe, tipo, coloca um dia de sábado que eu vou fazer... arrumar o quarto e arrumar a sala.
Aí cada um arruma a sua parte. E ela arruma outras partes.
Linha 145 P: Certo. A sua mãe trabalha fora ou ela cuida só da casa?
Linha 146 E19: Não, só da casa. Só meu pai que trabalha na casa.
Linha 147 P: Entendi. E o seu pai trabalha o dia todo?
Linha 148 E19: O dia todo. É das quatro às oito.
Linha 149 P: Final de semana vocês têm um tempo juntos?
Linha 150 E19: Sim. No dia de domingo.
Linha 151 P: Ah domingo? Então ele trabalha até sábado?
Linha 152 E19: É.
Linha 153 P: Entendi...
E19: Ele trabalha um dia sim e um dia não. Ele trabalha em dois empregos, daí, no dia de
Linha 154
domingo, quando tem as folgas, ele fica em casa.
Linha 155 P: Ah, entendi...
Linha 156 E19: Daí nós saímos...
Linha 157 P: Certo. E o que você gosta de fazer junto com a família?
Linha 158 E19: Ah... sair...
Linha 159 P: Sair mesmo?
Linha 160 E19: É... mais sair.
Linha 161 P: Tem algum lugar em específico?
Linha 162 E19: Ah... para o shopping porque (é para onde) eu gosto mais de ir é o shopping.
Linha 163 P: E parque ou museus? Vocês costumam ir?
Linha 164 E19: Aham. Em parque...
Linha 165 P: Vocês já foram em quais?
E19: Já fui no museu do Catavento... Na cidade mirim... que é uma cidade de bicicletas.
Linha 166
Acho que só...
Linha 167 P: Do Catavento, o que você achou de lá?
Linha 168 E19: Ah é legal o Catavento...
431
((FIM DA TRANSCRIÇÃO))
432
433
ANEXO Q
CONVENÇÕES ADOTADAS
PALAVRA... = ALONGAMENTO VOCÁLICO, HESITAÇÃO OU INTERRUPÇÃO DE ATO DE FALA.
... PALAVRA = CONTINUAÇÃO DA FALA DO TURNO DO FALANTE QUE FOI INTERROMPIDO.
((PALAVRA)) = COMENTÁRIOS DO TRANSCRITOR.
(PALAVRA) = PALAVRA OMITIDA DA FALA, MAS QUE FOI ACRESCENTADA PARA UMA MELHOR
COMPREENSÃO DA TRANSCRIÇÃO.
IDENTIFICAÇÃO DE FALANTES
P: PESQUISADOR (A)
E22: ESTUDANTE 22
((INÍCIO DA TRANSCRIÇÃO))
P: Eu queria que, antes de a gente começar a ler o que respondeu aqui, me contasse
Linha 1
um pouco sobre você. O que você faz no seu dia a dia, na escola?
E22: Ah, em casa eu costumo fazer algumas coisas de casa, tipo arrumar as
camas, levar o lixo, varrer a casa, ajudo a minha mãe assim, no geral. Já na
Linha 2
escola eu costumo fazer as matérias, assim, com um pouco de dificuldade
porque... por causa do meu problema de visão1...
Linha 3 P: Aham.
Linha 4 E22: E então eu tenho que tirar foto da lousa para poder copiar.
Linha 5 P: Ah, entendi. E o que é que você gosta de fazer nas suas horas livres?
Linha 6 E22: Ah, eu gosto de ler livros, em específico de vampiros (rs).
Linha 7 P: Estou vendo. Está lendo o que? O Diário de um Vampiro?
Linha 8 E22: O Diário de um Vampiro.
Linha 9 P: Legal.
E22: É... eu também gosto de jogar muito jogos de RPG, principalmente
Linha 10
online...
Linha 11 P: Certo.
E22: Gosto muito de jogos assim, tal... eu amo ler, jogar, assistir vídeos de
Linha 12 pessoas jogando, reagindo a jogos, reagindo a vídeos, músicas que eu gosto
também.
Linha 13 P: Aham.
Linha 14 E22: Ouvir música eu gosto bastante, às vezes eu até componho algumas.
Linha 15 P: É mesmo?
Linha 16 E22: É.
Linha 17 P: Ah, mas aí você faz curso, alguma coisa assim?
Linha 18 E22: Não, não faço nada.
Linha 19 P: Ah, então você é autodidata?
Linha 20 E22: É. (rs)
Linha 21 P: Olha! ((admirada)) (rs)
Linha 22 E22: É.
Linha 23 P: E que tipo de composição você já fez?
E22: Eu faço música triste... feliz. Em geral, o que eu estiver sentindo, eu
Linha 24
ponho no papel.
Linha 25 P: Ah, legal. E você toca algum instrumento musical?
Linha 26 E22: Não. Mas eu vou começar a fazer aula de música para tocar guitarra.
P: Ah, que legal. E aproveitando que você falou disso, como você se sente em
Linha 27
relação à matéria de Matemática?
1
Já estava ciente de que esta estudante tem baixa visão.
434
Linha 28 E22: (rs) Então, Matemática, eu não... tem coisas que eu entendo e sou boa.
Linha 29 P: Humn.
Linha 30 E22: Tem coisas que, se eu não entendo, eu sou péssima.
Linha 31 P: Certo.
E22: Então, tecnicamente, eu acho que, tem gente que fala que, é o modo da
Linha 32 pessoa me explicar, então eu tento achar outros meios de aprender aquilo que
eu não aprendi ainda.
P: E você consegue me dar algum exemplo? De, por exemplo, uma matéria da
Linha 33
Matemática que você acha fácil, que você domina, e que você não tenha problema?
E22: Eu gosto bastante de divisão, multiplicação, adição... soma e tal... eu gosto
Linha 34
bastante também é... de frações.
Linha 35 P: Aham.
Linha 36 E22: Eu não sou muito boa para esse negócio de x, y.
Linha 37 P: De álgebra?
Linha 38 E22: ((suspira angustiada)) É... Nem um pouquinho boa.
Linha 39 P: Entendi. Qual é a sua dificuldade em álgebra? O que tem de diferente na álgebra?
E22: Por que, uma vez, muitos professores já me disseram que “se não tem
Linha 40
número, não é Matemática”. (rs)
Linha 41 P: Aham.
E22: Então, eu não consigo. (rs) Se tem um x eu já fico “meu Deus, o que eu
Linha 42
faço da minha vida?”
Linha 43 P: Entendi. Você não consegue lidar com o fato de não ter um número ali?
Linha 44 E22: É. (rs)
Linha 45 P: É não saber o número que te dá aquela angústia?
Linha 46 E22: Isso.
P: Ah, entendi. Você gosta de ler também, não é? Então eu acho que até consigo
Linha 47 adivinhar qual matéria que você mais gosta, mas, de qual matéria que você mais
gosta?
Linha 48 E22: Português. (rs)
Linha 49 P: Certo. Mas você gosta tudo de português?
E22: Português, eu sou até que boa em português, porque o fato de eu ler
Linha 50
bastante me dá uma... uma noção de onde colocar vírgula, ponto, acento...
Linha 51 P: Humn...
Linha 52 E22:... onde colocar cada palavra. Então...
Linha 53 P: Você é boa em gramática?
Linha 54 E22: Sou. (rs)
Linha 55 P: É?
Linha 56 E22: Eu gosto de escrever.
P: É? Eu acho que agora não deve ter uma parte de literatura dividida, não é? Eu
Linha 57 acho que talvez até divida lá no livro didático, mas não tem uma matéria específica,
não é? Para isso.
Linha 58 E22: Não, não tem não.
Linha 59 P: Mas você gosta dessa parte de interpretação de texto, de redação?
Linha 60 E22: Gosto. Gosto bastante.
Linha 61 P: É?
E22: Também tem o fato de eu gostar de informática, bastante, pena que não
Linha 62
tem na escola, mas eu gosto bastante de informática.
Linha 63 P: Ah, não tem na escola? Entendi...
E22: Tanto que eu quero seguir o meu... a minha profissão que quero seguir
Linha 64
mesmo é designer de games, então...
Linha 65 P: Ah, interessante.
Linha 66 E22: Eu realmente fico triste porque não tem informática.
Linha 67 P: É, mas, depende da escola, não é?
Linha 68 E22: É.
P: Às vezes, na aula mesmo, você não vai usar muita coisa que vai usar para
Linha 69
desenvolvimento.
Linha 70 E22: É.
435
P: Seria legal você fazer um curso técnico, voltado para jogos. Você já pensou em
Linha 71
procurar algum curso?
E22: Já. Eu estou procurando alguns, aí eu estou vendo se eu consigo a vaga
Linha 72
porque é bem concorrido o designer de games.
Linha 73 P: Ah, é? Onde você está pensando em fazer?
Linha 74 E22: Ah, eu estou pensando em fazer... aqui perto, só que não tem vaga.
Linha 75 P: Ah.
Linha 76 E22: Aí eu estou procurando. Mais para frente, vamos ver. Vamos indo...
Linha 77 P: Entendi. É um curso pago?
Linha 78 E22: É.
Linha 79 P: Ah, entendi.
Linha 80 E22: E é caro…
Linha 81 P: É caro, não é? Desenvolvimento normalmente é caro mesmo.
Linha 82 E22: É.
Linha 83 P: Entendi. E as matérias que você não gosta?
Linha 84 E22: Ah, ((suspiro)) história e geografia.
Linha 85 P: Por quê?
Linha 86 E22: Essa coisa de data, ano... ((silêncio)) pessoa que já morreu.
Linha 87 P: Humn.
Linha 88 E22: A quin... quintilhões de anos atrás.
Linha 89 P: (rs)
Linha 90 E22: Eu não faço nem ideia (rs).
Linha 91 P: Entendi.
E22: Eu não lembro de nada de história. Eu tenho muita dificuldade em
Linha 92
história.
Linha 93 P: Aham.
E22: Geografia, então, meu Deus, me lembra muito história. E eu fico... “qual é
Linha 94
qual?” (rs)
Linha 95 P: Aham.
Linha 96 E22: Eu confundo às vezes geografia com história e fica naquela.
P: Humn. É, mas você sabe que, na verdade, geografia, história, até se você
Linha 97
começar a estudar literatura, eles se cruzam, não é? Tem coisas que são iguais.
Linha 98 E22: É, cruzam bastante...
Linha 99 P: É. Geografia, só não vai cruzar com história na parte de relevo, talvez, não é?
Linha 100 E22: Não é? (rs)
Linha 101 P: E aí é específico. Mas...
Linha 102 E22: É.
Linha 103 P: E então essa coisa de memorizar datas, nomes?
Linha 104 E22: Eu sou péssima... ((silêncio))
P: Mas você não gosta de ler? Você não grava (os nomes d)as personagens, essas
Linha 105
coisas?
E22: Eu li um livro semana passada, já não lembro nem qual é o nome, quando
Linha 106
saiu, não lembro de nada. (rs)
Linha 107 P: Humn. (rs) Então eu acho que você gosta mais do contexto, da história?
Linha 108 E22: É. O momento.
Linha 109 P: Ah, entendi. Certo. Então Matemática não está na lista do que você não gosta?
Linha 110 E22: Não muito. Mas... é.
Linha 111 P: Mas? Está no mediano?
Linha 112 E22: Tá entre o meio termo. (rs)
Linha 113 P: Entendi. E o que você considera uma boa aula?
E22: Ah, eu acho que... ((silêncio)) os alunos interagirem com o professor e tal.
Linha 114
Esse... bate-papo assim.
Linha 115 P: Aham.
Linha 116 E22: Que às vezes não tem, pelo fato da sala mesmo não se... adaptar a isso.
Linha 117 P: Entendi.
E22: Mas também acho bem legal isso. É interessante porque todo mundo fica,
Linha 118 se eu errar... eu... eu vou errar na frente de todo mundo. Não é nem na prova,
assim, na prova ninguém vai ver. Mas...
436
E22: Então geralmente dou uma organizada. Então, lição de casa mesmo, eu
Linha 204
faço, quando dá, na biblioteca.
P: Humn, entendi. E você tem alguma estratégia para estudar para cada tipo de
Linha 205
matéria? Por exemplo, como você estuda para Matemática?
Linha 206 E22: Matemática, eu vou pegando alguns exercícios assim, na internet mesmo.
Linha 207 P: Aham.
E22: E... vou pegando a explicação de alguns professores e vou fazendo em
Linha 208
cadernos separados.
Linha 209 P: Entendi. E você costuma refazer alguns exercícios que foram feitos em sala?
Linha 210 E22: Não muito. Mas às vezes sim, eu faço.
Linha 211 P: E essa estratégia, você acha que funciona?
Linha 212 E22: Funciona bastante. (rs)
Linha 213 P: É? Você vai bem?
Linha 214 E22: É. Mas, algumas coisas, me dá branco só na hora da prova.
Linha 215 P: Ah, claro.
Linha 216 E22: É muito impressionante...
Linha 217 P: (rs) E para as outras matérias, por exemplo, língua portuguesa? Que você gosta...
E22: ...ah, língua portuguesa, eu fico apenas lendo livros, e etc. Porque, língua
Linha 218
portuguesa, não tem muito o que se estudar.
Linha 219 P: Aham.
Linha 220 E22: Então, realmente eu não estudo para língua portuguesa.
Linha 221 P: Entendi.
E22: Porque eu costumo ler bastante, escrever bastante. Então, eu acho que
Linha 222
não tem tanta necessidade. Ter (até) tem, mas não tem tanta.
Linha 223 P: Aham.
Linha 224 E22: Então a quantidade de estudo é menor.
Linha 225 P: Entendi. Então é uma outra dinâmica?
Linha 226 E22: É.
P: E para as matérias que você não gosta, por exemplo, história e geografia, qual é a
Linha 227
estratégia que você usa para estudar?
Linha 228 E22: Eu dou um... jeitinho de encontrar algum professor no YouTube. (rs)
Linha 229 P: Ah, no YouTube?
Linha 230 E22: Sim. (rs)
Linha 231 P: É? Tem professores que ensinam as matérias?
Linha 232 E22: Tem, tem. Matéria, português, tudo.
Linha 233 P: Tem algum canal específico que você assiste?
Linha 234 E22: Ah, canal... é que eu geralmente não olho o canal, canal é só...
Linha 235 P: Ah, você olha o conteúdo?
Linha 236 E22: É.
Linha 237 P: Ah, legal.
E22: Canal mesmo, eu só pego os que eu gosto mesmo, que é tipo... de jogos, de
Linha 238
palhaçadas, essas coisas assim.
P: Certo. Entendi. Legal. E na sua casa você falou que tem o seu pai, a sua mãe e o
Linha 239
seu irmão?
Linha 240 E22: E a minha mãe.
Linha 241 P: É, seu pai, a sua mãe e o seu irmão?
Linha 242 E22: Sim, e eu.
Linha 243 P: Vocês são em quatro pessoas?
Linha 244 E22: Só.
Linha 245 P: E vocês têm animais de estimação?
Linha 246 E22: Não, infelizmente não. Mas eu adoraria ter um cachorro. (rs)
Linha 247 P: Entendi. Ah, então moram quatro pessoas na sua casa?
Linha 248 E22: É.
P: Legal. E na rotina da sua casa? Você me contou um pouco, que o seu pai trabalha
Linha 249
muito, não é?
Linha 250 E22: Sim.
439
3
Em um trecho do nosso diálogo, o estudante citou o trabalho de seu pai: “Meu pai mesmo é taxista, então ele
não fica em casa. Ele sai às 5 da manhã e volta à meia-noite.”.
440
E22: Então, tecnicamente, eu sou muito diferente de muita gente por aí. Os
Linha 326 cegos, podem falar até que... Me falam assim: “tem gente muito pior de visão do
que você, tipo, cegos”. Mas os cegos, eles têm a maneira deles de ver as coisas.
Linha 327 P: Certo...
E22: Tipo, quando uma pessoa pergunta para eles: “O que você tem?” E eles
respondem: “Ah, eu sou cego”. Eles podem explicar facilmente. O meu
Linha 328 problema de visão, eu não posso explicar, tipo, em uma só palavra. Eu tenho
que demorar um pouco para explicar e, ás vezes, a pessoa não entende o que eu
tenho.
Linha 329 P: Aham.
E22: E isso, ás vezes, faz com que a pessoa fique achando que é frescura
Linha 330
minha, mas não é...
Linha 331 P: Sim. E você já conseguiu conversar com alguém a respeito disso?
E22: Sim, os meus amigos. Eles entendem bastante. Eu tenho um amigo meu
Linha 332 mesmo que ele perdeu uma irmã, em um acidente de carro, e ela tinha baixa
visão. Então ele entende muito a minha situação.
P: Certo... Então, você tem, nos seus amigos, alguém para recorrer e para desabafar
Linha 333
pelo menos, não é?
Linha 334 E22: Sim, tenho.
Linha 335 P: E aqui na escola você tem amigos?
E22: Eu tenho algumas amigas, posso dizer assim. Eu converso com todo
mundo que vem conversar comigo. Eu converso, mas eu tenho a impressão de
que eu não sou uma das melhores pessoas para conversar (rs). Porque eu
Linha 336
nunca fui muito de conversar, porque ninguém nunca quis vir para falar
comigo. Então... pelo fato de que eu sempre me senti, quando era pequena, um
“monstrinho” perto de muita gente...
Linha 337 P: Humn...
Linha 338 E22: Então, eu realmente não sou muito de conversar...
Linha 339 P: Entendi. Mas se as pessoas chegarem em você, daí você conversa?
E22: Eu converso. Sou educada, a partir do momento que sejam educados
Linha 340
comigo.
Linha 341 P: Claro. É recíproco, não é? (rs)
Linha 342 E22: Eu tenho a personalidade muito forte. E pavio muito curto! (rs)
Linha 343 P: Sei! (rs) Mas então você tem colegas aqui na escola?
Linha 344 E22: Sim, eu tenho. Algumas. São poucas, mas eu tenho.
Linha 345 P: Ah, que bom, pois nada pior do que se sentir sozinha na escola!
Linha 346 E22: Pois é... (rs)
Linha 347 P: E esses seus colegas entendem a sua...
E22: ...sim, tinha a antiga coordenadora, Adelaide4, que entendia bastante a
Linha 348 minha situação. E agora que trocou de direção e de coordenadora, acho que
está... ainda vou ter que me acostumar com isso.
P: Sim, na verdade, eu vim (fazer a pesquisa) nesta escola por causa da Adelaide!
Linha 349
(rs)
Linha 350 E22: É, eu também vim por causa da Adelaide! (rs)
P: Legal. Bom, acho que é isso. Então, por enquanto, a nossa entrevista fica por
Linha 351
aqui.
((FIM DA TRANSCRIÇÃO))
4
O nome utilizado é fictício para manter o anonimato.
442
443
ANEXO R
CONVENÇÕES ADOTADAS
PALAVRA... = ALONGAMENTO VOCÁLICO, HESITAÇÃO OU INTERRUPÇÃO DE ATO DE FALA.
... PALAVRA = CONTINUAÇÃO DA FALA DO TURNO DO FALANTE QUE FOI INTERROMPIDO.
((PALAVRA)) = COMENTÁRIOS DO TRANSCRITOR.
(PALAVRA) = PALAVRA OMITIDA DA FALA, MAS QUE FOI ACRESCENTADA PARA UMA MELHOR
COMPREENSÃO DA TRANSCRIÇÃO.
IDENTIFICAÇÃO DE FALANTES
P: PESQUISADOR (A)
E4: ESTUDANTE 4
((INÍCIO DA TRANSCRIÇÃO))
P: Eu olhei o seu questionário e queria que me falasse um pouco sobre o que respondeu em
Linha 1 relação à disciplina de Matemática: você disse que acha ela muito difícil e que precisa de muita
ajuda. Você tem alguém que possa te ajudar?
Linha 2 E4: Não tenho...
Linha 3 P: Não? Ninguém na sua casa ou algum amigo...
Linha 4 E4: ((silêncio)) Só na internet...
Linha 5 P: Na internet? Você costuma ver na internet quando tem dúvida essas coisas?
Linha 6 E4: Sim.
Linha 7 P: Onde você procura na internet?
Linha 8 E4: No youtube.
Linha 9 P: No youtube? Canais que explicam...
Linha 10 E4: ((silêncio))
Linha 11 P: Isso é só em relação à Matemática ou qualquer matéria?
Linha 12 E4: ((silêncio)) Só em Matemática.
P: Só Matemática? E você fala que gosta de ciências, da parte do corpo humano... O que você
Linha 13
gosta de estudar no corpo humano?
Linha 14 E4: ((silêncio)) É... saber mais sobre o corpo?
Linha 15 P: O quê?
Linha 16 E4: Saber mais sobre o corpo.
Linha 17 P: Saber mais sobre o corpo... Como funciona, essas coisas?
Linha 18 E4: É...
Linha 19 P: Ah tá... Fora isso, você gosta mais de alguma matéria?
Linha 20 E4: Não...
Linha 21 P: Só ciências que você gosta?
Linha 22 E4: Só ciências... Ciências e educação física.
Linha 23 P: Ah, educação física? Que legal! E em educação física, do que você gosta?
Linha 24 E4: De correr... essas coisas.
Linha 25 P: Ah correr. Você gosta de atividade física?
Linha 26 E4: Sim...
P: Ah legal... E da matéria que você não gosta, Matemática, é porque você acha muito difícil.
Linha 27 Mas, é só por causa disso? Você acha que é difícil porque não entende a matéria ou é o jeito de
explicar do professor? O que você acha?
E4: ((silêncio)) Acho que é o jeito do professor. Do jeito que ele passa na lousa e não
Linha 28
explica, entendeu? Você tem que ir lá na frente, e pedir ajuda.
Linha 29 P: Certo. E você sempre estudou nessa escola?
Linha 30 E4: Não...
Linha 31 P: Onde você estudava?
Linha 32 E4: No colégio Guarulhos.
Linha 33 P: O colégio Guarulhos é particular ou público?
Linha 34 E4: Particular.
444
1
Psuedônimo adotado para preservar o anonimato.
2
Psuedônimo adotado para preservar o anonimato.
445
P: Ah, sim, por isso que elas não conseguem te ajudar também, não é? E o que vocês gostam de
Linha 83
fazer em família?
E4: ((silêncio)) Meu pai, ele não sai muito comigo, tipo, com a gente. Meu pai não gosta, ele
Linha 84
só fala assim para minha mãe sair com a gente. Meu pai nunca saiu com a gente.
Linha 85 P: Ah é? Por quê? Ele está cansado?
Linha 86 E4: Não sei, porque ele sempre trabalha de domingo a domingo.
Linha 87 P: Ah entendi, então ele trabalha bastante. Então deve estar cansado, não é?
Linha 88 E4: Sim...
Linha 89 P: E para onde vocês costumam sair?
Linha 90 E4: Shopping.
Linha 91 P: Shopping? E parque, museus, vocês vão?
Linha 92 E4: Não.
P: Não? Então mais shopping mesmo? Legal... E nas suas horas livres... Eu não entendi o que
Linha 93
você escreveu... o que você escreveu aqui?
Linha 94 E4: Quieto.
Linha 95 P: Quieto? Você fica quieto por quê?
Linha 96 E4: ((silêncio)) Ah porque eu fico quieto... (rs)
Linha 97 P: Mas, você fica fazendo o quê? Você fica que nem uma “estátua” assim? (rs)
Linha 98 E4: ((silêncio))
Linha 99 P: É isso?
Linha 100 E4: É.
((O SINAL DA ÚLTIMA AULA DO DIA TOCA AO FUNDO))
Linha 101 P: Nossa... E livros? Quais tipos você costuma ler?
Linha 102 E4: Eu vou embora.
Linha 103 P: Já estou terminando, só essa última pergunta.
Linha 104 E4: Eu vou ter que ir porque meu amigo está me esperando...
Linha 105 P: Só me responde que tipo de livro que você costuma ler. Já acabou a entrevista.
Linha 106 E4: Não, eu não gosto de livro.
Linha 107 P: Mas... (rs) você falou que lê livros... ((referindo a resposta escrita do questionário))
Linha 108 E4: Ah, eu leio... romances...
Linha 109 P: Romance? De que tipo?
Linha 110 E4: Ah sei lá!
Linha 111 P: Tá bom... estudante 4, obrigada!
((FIM DA TRANSCRIÇÃO))