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VERBUM (ISSN 2316-3267), n. 9, p. 55-68, jul.

2015 – CLEMILTON PEREIRA DOS SANTOS

A LÍNGUA LATINA E O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA:


QUESTÕES DE ENSINO DE LÍNGUA MATERNA SETE DÉCADAS
DEPOIS DO ACORDO MEC/USAID

Clemilton Pereira dos SANTOS1


Doutorando em Letras/MACKENZIE-SP
Mestre em Letras/UFMS
Docente da UEMS

RESUMO
Se nos propusermos a estudar a historiografia do ensino de línguas, no Brasil, perceberemos
momentos em que o ensino se apresentava dividido entre uma formação voltada para o povo, educado
para o executar de tarefas e uma formação voltada para as elites, educados para pensar e emitir ordens
à massa trabalhadora. A par deste dualismo ideológico, vamos verificar, mediante entrevistas
desenvolvidas, como professores de línguas que atuam na educação básica veem o papel do ensino de
língua latina na formação de cidadãos por meio do ensino escolar na atualidade.
Palavras-chave: Língua latina. Língua portuguesa. Inter-relações. Importância da língua latina.

Introdução

Recentemente, os estudos filológicos têm sido bombardeados por comentários do tipo


“abandona isso, você tem certeza de que quer pesquisar ou continuar seus estudos nesta área
tão esquecida?”. Ou até mesmo “ainda desenvolvem pesquisas nessa área?”. Há alguns dias,
uma acadêmica do curso de Letras me procurou tendo em vista o fato de ter elaborado projeto
na disciplina de Introdução à Metodologia Científica sobre a importância da Língua Latina
para os professores de Língua Portuguesa. Sua dúvida correspondia à suposição de prosseguir
seus estudos na área e não ter um respaldo quanto à orientação para estudos posteriores em
universidades regionais. Minha resposta sempre foi a de que temos que garimpar os caminhos.
Se toda pesquisa é oriunda de uma problemática, o projeto “O ir e vir da Língua
Latina: contribuições metodológicas para o ensino da Língua Latina e da Língua Portuguesa”,
cadastrado junto à Pró-reitoria de Pesquisa e Pós-graduação, da Universidade Estadual de
Mato Grosso do Sul, em execução no curso de Letras da Unidade Universitária de Jardim,
surge nos idos de 2008 quando então o professor colaborador, na UEMS, oferecia-me a
disciplina de Língua Latina, em razão de que poucos professores se “aventuravam” em
ministrar estes conteúdos, seja pelo fato de que quase nenhum conhecimento sobre esta área

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Endereço eletrônico: clemilton.ps@uems.br
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do conhecimento tinham ou não conheciam metodologias mais adequadas para o trabalho


com a disciplina, seja pelo fato de desconhecerem, na prática, qual o lugar que o estudo do
Latim ocupa nos cursos de Letras.
Como modo de atestar nossa fala inicial, cito Viaro (1999) que, em um ensaio básico
aos estudantes das Letras, intitulado “A importância do Latim na atualidade”, nos apresenta
muitos exemplos em torno desse questionamento. Dúvidas à parte, aceitei, desde a época de
2008, trabalhar com Latim na Universidade, mesmo ciente das dificuldades que encontraria,
encontrei e ainda encontro.
Declinações, terminações, tabelas, conjugações, “exceções”. Percebe-se que o estudo
da Língua Latina tornava-se cada dia mais maçante aos acadêmicos, também pelo fato de
tentar explicar a eles qual a grande importância do Latim para os estudos tanto na
universidade, quanto para o trabalho nas escolas, enquanto professores de Língua Portuguesa,
de literatura, de língua inglesa, mas não obtive êxito, pois minha formação, por um motivo ou
outro, não me oportunizou tal discussão, reflexão e aprendizado.
“E aí, para que estudamos, professor?” O estopim, que culminou com a ação de pensar
o projeto, partiu de uma prova aplicada aos alunos da licenciatura em Letras, na Universidade
Estadual de Mato Grosso do Sul, Unidade Universitária de Nova Andradina. Naquela ocasião,
uma acadêmica, quando questionada sobre a importância da Língua Latina para o futuro
profissional da área da linguagem, responde:

O primeiro motivo sobre as razões que levam a Língua Latina a ser considerada “persona non grata”
dos cursos de Letras, certamente, é a ausência de metodologia de ensino que ultrapasse os tradicionais
e extensos exercícios de declinação e conjugação. (L. K., Acadêmica do 2º ano do curso de
Letras/UEMS - Unidade de Nova Andradina)

Problema reafirmado, detectado na palavra dos alunos envolvidos, procuramos a


professora Letícia Pereira de Andrade, amante e estudiosa da Filologia, a fim de partilhar com
ela essa angústia. Dessa conversa e dos novos horizontes que se abriam para os estudos e
oportunidades na academia, transpomos da Literatura, da Analise do Discurso e da Semiótica
para os estudos filológicos, com o intuito de aprendermos mais sobre a importância que o
Latim tem para o Português.
“Loucos”, “doidos”, adjetivos mais não faltam. Argumentos em favor da
impossibilidade de separar Língua Portuguesa da Língua Latina também não. A
obrigatoriedade do ensino da Língua Latina nos currículos devia ser defendida assim como o
é com as outras disciplinas curriculares, uma vez que o Latim está vivo: seu sangue corre nas
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veias do Português, Espanhol, Francês etc. Por outro lado, para trazer a língua de volta às
universidades, é preciso muito esforço, já que a grande maioria acredita que é uma língua
morta, sem importância para os graduandos de todos os cursos, quando, na verdade, ela é a
disciplina de maior importância para todos, porque há Latim no nosso dia a dia e muitos nem
sabem, como as palavras que dizemos, por exemplo ‘et cetera’, que usamos abreviada ‘etc.’,
ou então ‘Curriculum Vitae’, ‘status quo’, entre várias outras expressões.
Até aqui, fiz um relato de uma experiência que me levou a refletir sobre o percurso do
Latim nos cursos de Letras. Doravante, apresento alguns pontos teórico-conceituais que
embasam a importância, bem como sua necessidade nos cursos de Letras, primordialmente,
mas também, seu valor como língua viva ainda nos dias atuais. Um dos objetivos, neste
artigo, é traçar a rota que ancora o estudo da Língua Latina nas universidades do Brasil.

Tratando das questões do Latim

Resistências à parte, nos cursos de Letras, o Latim tem presença confirmada, pelo
menos nos quatro primeiros semestres. Quando se questiona acerca da importância do estudo
da Língua Latina nos cursos de Linguagem, diversos teóricos tentam uma resposta.
Primeiramente, Napoleão Mendes de Almeida (2000), com a Gramática Latina, nos apresenta
um prefácio intitulado “A verdadeira importância do Latim” e destaca a função da Língua
Latina quanto ao ato de instigar a cognição tanto de matemáticos, magistrados, quanto de
físicos e letrados, ou seja:

Ser culto não é conhecer idiomas diversos. Não é conhecimento do inglês


nem do francês, que vem comprovar cultura no indivíduo. Tanto marinheiro,
tanto mascate, tanto cigano há a quem meia dúzia de idiomas são familiares
sem que, no entanto, possuam cultura. [...] Não é para ser falado que o Latim
deve ser estudado. Para aguçar seu intelecto, para tornar-se mais observador,
para aperfeiçoar-se no poder de concentração de espírito, para obrigar-se à
atenção, para desenvolver o espírito de análise, para acostumar-se à calma e
à ponderação, qualidades imprescindíveis ao homem de ciência, é que o
aluno estuda esse idioma. (ALMEIDA, 2000, p. 8)

Almeida (2000) indaga também acerca da ausência da prática do pensamento, do


raciocínio por parte dos discentes que, diante das inúmeras facilidades que a educação básica
oferece, a fim de facilitar a vida e o aprendizado dos conteúdos, cria uma justificativa de que
pensar é perder tempo.

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Muitos indagam a razão da fatuidade, da leviandade, da aridez intelectual da


geração moça de hoje. É que tendo aprendido a ler pelo método analítico, tão
prático e fácil, julga o estudante que a disciplina que pratica e facilidade no
aprendizado não lhe contiver não lhe trará proveito, senão tédio e perda de
tempo. (ALMEIDA, 2000, p. 9)

E mais, “raciocinar é, partindo de idéias conhecidas, diferentes, chegar a uma terceira,


desconhecida, e é o Latim, quando estudado com método, calma e ponderação, o maior fator
para aguçar o poder de raciocínio do estudante, tornando-lhe mais claras e firmes as
conclusões”. (ALMEIDA, 2000, p. 9)
Para tal debate, pertinente nos é levantar a importância dos estudos filológicos para os
estudos da linguagem. Queiroz e Teixeira (2008) explicam que

o filólogo apresenta as questões sócio-histórico-culturais que permeiam a


história de qualquer língua... o léxico de uma língua conserva uma estreita
relação com a história cultural da comunidade. [...] na medida em que o
léxico recorta realidades de mundo, define, também, fatos de cultura.
(QUEIROZ E TEIXEIRA, 2008, p. 70)

Posto isso, defendemos que a língua registra e acumula as aquisições culturais,


pereniza fatos e dados que o tempo e as mudanças estruturais impõem à vida da sociedade;
coloca, numa espécie de arquivo morto do conhecimento, os usos linguísticos que se tornam
desativados no saber dos povos.
Nesse ponto, é a língua que assegura a continuidade do conhecimento e, de forma
recorrente, avança e recua no tempo, retrata as influências pelas quais passam os grupos
humanos, traduz as ansiedades que assinalam as diferentes épocas. Por outro lado, como
explicita Silva (2006), o imediatismo advindo dos tempos modernos promoveu uma
desvalorização do pensamento crítico, da reflexão, o qual tem seu advento nos anos 60 com o
tecnicismo, cujo ensino é voltado para a produção industrial. Fator este aliado a nossa forte
tradição normativa, um dos responsáveis pela desvalorização dos estudos latinos.
Segundo Viaro (1999), em consonância com Almeida (2000), o imediatismo pode
explicar a desmotivação para o aprendizado do Latim em um país que tem a maior população
de fala românica do mundo? Para ele, o Latim

[...] parece estar das necessidades mais prementes da Sociedade, sendo


necessário revitalizar o valor que o Latim tem como um ótimo meio para
aguçar a percepção etimológica das raízes do Português (e de outras línguas,
[...]), o exercício da análise sintática, o raciocínio lógico, a ampliação de
vocabulário e a curiosidade para entender outros momentos históricos e o
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desenvolvimento das sociedades e do pensamento até os dias de hoje. As


conseqüências, num segundo momento, aparecerão na compreensão mais
clara da ortografia portuguesa, na solução lógica das flexões irregulares e
das exceções, no questionamento da nomenclatura tradicional e no vasto
repertório histórico-filosófico que o aluno adquirirá, estando, assim, pronto
para estabelecer suas próprias analogias e defender seus pontos de vista com
mais clareza. (VIARO, 1999, p. 10-11)

Nessa perspectiva, os métodos utilizados para o ensino da Língua Latina, em que o


aluno do curso de Latim era levado a decorar enormes tabelas de declinação e a resolução de
exercícios sintáticos sem refletir sobre as bases da língua, colaboraram bastante para a falta de
interesse. Viaro (1999) coloca que

os métodos antigos em muito pecaram, dando ao ensino do Latim o caráter


penoso das infinitas tabelas a serem decoradas pelo aluno, que, por sua vez,
não via sentido naquilo. Muitas vezes até textos inteiros tinham de ser
decorados. Não querendo tirar o mérito dessa metodologia, que, por seguro,
ajudava em muito a desenvolver a memória dos alunos, acredito que
atualmente a postura é outra. (VIARO, 1999, p. 11)

Mas, o que dizer do ensino do Latim na era da tecnologia? Nós, professores, somos
questionados, principalmente na educação básica, acerca dos nossos métodos de ensino. É
preciso ser lúdico, ser prático e, simultaneamente, interagir, a fim de que no processo ensino-
aprendizagem o aluno conheça, reflita, manipule e produza, ou seja, torne-se um pensador
crítico. Muitos autores da atualidade comentam muito em “produto final” e uso de tecnologias
diferenciadas. Na próxima seção, apresentamos nossa pesquisa com 12 professores que atuam
com o ensino da disciplina na cidade de Nova Andradina/MS e Jardim/MS.

Análise e discussão de nossos dados

No caso do Latim, realizando um recorte em nosso projeto de pesquisa, frente às


consequências que a “extinção” da Língua Latina proporcionou a nossos estudos e práticas
docentes no tocante ao trabalho com a Língua Portuguesa, realizamos uma pesquisa com 12
professores, conforme posto ao final da seção anterior.
Foi aplicado um questionário com duas perguntas:

1ª – Qual a importância do Latim no ensino de Língua Portuguesa? Justifique com exemplos.


2ª – Você acredita que o Latim é importante para o ensino de Língua Portuguesa? Como

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você o utiliza?

Mantivemos a identidade dos professores participantes da pesquisa oculta, atribuindo a


numeração arábica para cada respondente.
A seguir, reproduzimos as observações dos professores entrevistados2:

1ª pergunta: Qual a importância do Latim no ensino de Língua Portuguesa? Justifique com


exemplos.

Prof. 1
A Língua Portuguesa tem como língua materna o Latim, desse modo a influencia é
notória e o uso da mesma abrange todo e qualquer âmbito na esfera gramatical.

Prof. 2
Sabemos que uma das origens da Língua Portuguesa é o Latim e que ainda o usamos
apesar de ser considerada uma língua morta.

Prof. 3
Primeiramente tem sua participação em varia língua, mas na Língua Portuguesa é
importante ressaltar que a Língua Latina está presente em nossas raízes, ou seja, em nossa
Língua Portuguesa, pois cada palavra que falamos vem do Latim, mas em nossa língua tem
outros significados. Ex. advogado (advocar), domingo (dominus), mestre (magister), Antonio
(antonius), etc.

Prof. 4
O “estudo” do Latim com certeza é importante no ensino de Língua Portuguesa.
Quando vamos ensinar uma língua devemos ter conhecimentos básicos que nos darão suporte
para entendimento mais profundo sobre o que estamos “vendo”. O Latim nos da uma
compreensão em relação às classes gramaticais e/ou funções que cada palavra exerce na frase
muito interessante graças as suas desinências. Com isso passamos a compreender a Língua

2
A opção foi a de reproduzir tal qual a resposta dada. Não houve acertos de ordem gramatical ou textual.
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Portuguesa de uma forma mais completa, tornando seu aprendizado mais palpável. Todo
conhecimento adquirido só tem a ajudar no momento em que formos repassá-lo.

Prof. 5
O Latim tem grande importância para o ensino de Língua Portuguesa, pois por meio
de seu estudo é possível identificar o surgimento de conceitos essências para se aprender o
Português, e principalmente as transformações sofridas por uma língua ao longo do tempo.
Além disso, o Latim fornece a possibilidade de entendimento sobre a origem de palavras e
suas definições atuais.

Prof. 6
A importância é fornecer elementos valiosos para o mais rápido e seguro
conhecimento dessas mesmas línguas.

Prof. 7
Primeiramente é porque o Latim é a língua mãe da Língua Portuguesa e muitas
dúvidas oriundas do Português podem ser explicadas no Latim.

Prof. 8
É importante conhecer e saber como surgiu o Português e seus aspectos históricos
devido as influencias sofridas durante muito tempo e o Latim é parte dessa historia, por
exemplo a historia do Latim vulgar, os laccus onde ele foi falado e onde continua sendo
falado em outra raiz no caso o Português, estudar a colonização e perceber a língua
manifestada e ainda perceber a evolução no Português atual, etc.

Prof. 9
É importante conhecermos como se originou a línguas que fazemos uso, acredito que
conhecendo a historia, ou seja, o Latim compreenderemos as diferenças que ocorrem na
pronuncia dos povos que vivem em Portugal e também dos vocábulos diferenciados entre os
continentes americano e europeu.

Prof. 10

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Hoje sabemos que a Língua Portuguesa é derivada, quase em sua totalidade, pelo
Latim, portanto seu nível de importância para a Língua Portuguesa é essencial.

Prof. 11
Eu achei muito bom para eu estudar Latim na faculdade, mas não o uso ao dar aulas de
Língua Portuguesa.

Prof. 12
A importância do Latim é porque podemos ajudar os alunos a ver que nossa língua
mãe teve uma origem, e que além de tudo tem uma forte influencia ainda nos nossos dias para
sabermos o significado de muitas palavras nos nossos dias.

Constatamos que todos os professores estão cientes da importância da Língua Latina,


“seu nível de importância para a Língua Portuguesa é essencial”, como afirma o entrevistado
Prof. 10, ou, conforme o Prof. 3, “[...] é importante ressaltar que a Língua Latina está presente
em nossas raízes, ou seja, em nossa Língua Portuguesa, pois cada palavra que falamos vem do
Latim, mas em nossa língua tem outros significados. Ex. advogado (advocar), domingo
(dominus), mestre (magister), Antonio (antonius), etc.”
É perceptível o fato de que todos destacam as influências sofridas pelo Português e a
importância do Latim como base para o aprendizado da língua portuguesa nos mais diversos
aspectos: etimológicos, fonéticos, morfológicos e históricos; no entanto, a exemplo do que
ocorre na prática em sala de aula, há poucos profissionais capazes de estabelecer uma ponte
entre a língua latina e a língua portuguesa, e alguns até destacam, vagamente, ter sido bom
estudar latim, mas destacam que não o usam ao dar aulas de língua portuguesa ou, quando
reconhecem, não apresentam elementos concretos com intuito de provar a importância da
Língua Latina.
Na segunda questão, Você acredita que o Latim é importante para o ensino de Língua
Portuguesa? Como você o utiliza?, procuramos enfatizar uma postura mais concreta do
professor frente ao suposto uso da Língua Latina nas aulas de Língua Portuguesa, já que todos
os professores disseram estar cientes da importância da Língua Latina destacando ora
superficialmente questões semânticas, ora questões gramaticais, lexicais e fonéticas. Vamos
às respostas dos professores:

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Prof. 1
Acredito que sim. Mas para utilizá-lo principalmente em escola publica, seria
necessária ao educador uma formação mais aprofundada nesse contexto, do contrário fica
como esta, apenas uma pequena introdução ao tema reconhecendo a importância da língua
principalmente no uso dos radicais latinos que é freqüente na sala de aula.

Prof. 2
Acredito que para o aprendizado da língua em si não é tão importante; para saber as
origens da nossa língua, como ela surgiu, pois assim, os alunos reconheceriam um pouco
sobre a mesma, o porquê usamos, temos em nossa língua certos vocábulos, apesar de a nossa
língua (Português do Brasil) ter várias contribuições. Na verdade nós o utilizamos como
comentado anteriormente sem perceber.Mas usá-la na estrutura da língua, no ensino da
gramática, eu não sei.

Prof. 3
Com certeza é importante, pois a Língua Portuguesa deriva do Latim, mas na minha
metodologia, não utilizo os questionamentos do Latim em cima da disciplina de Língua
Portuguesa e o referencial escolar não nos traz que o professor deva utilizar a importância do
Latim em nossa língua.

Prof.4
Não trabalho com Língua Portuguesa, somente com Língua Inglesa, porém, acredito
que na pratica de sala de aula não seja muito fácil fazer assimilações entre uma língua e outra,
talvez fosse interessante até exemplificar frases em Latim para, por exemplo, entender melhor
o uso de determinadas preposições em detrimento a outras. Para exemplificar regência verbal
e nominal. Penso que seja possível em alguns momentos recorrer ao Latim, principalmente
aos alunos que apresentam maiores dificuldades de compreender o funcionamento de nossa
língua, para aqueles que falam parecer estar “estudando grego” nas aulas de Língua
Portuguesa.

Prof. 5
Por meio do Latim a aprendizagem se dará de forma significativa e contextualizada,
buscando o surgimento, ou seja, a origem das palavras e seu processo de formação, além da

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analise dos conteúdos da gramática. Utilizo o Latim desta maneira, apresentando aos alunos
como uma palavra é formada e a transformação sofrida pela Língua Portuguesa.

Prof. 6
O Latim um língua que ser mantêm viva, também na musica e nos bandas estimulando
seu uso na literatura.

Prof. 7
Sim é importante, eu utilizo também no Inglês quando analisamos o caso do “j”, já que
surgiu apenas na língua Português analisando os sinais que aparece na cruz INRI Jesus de
Nazaré Rei dos Judeus.

Prof. 8
Depende de como for abordado, de que fundamento, qual o objetivo de se ensinar
Latim. Acho que o estudante tem que conhecer, saber que ele existe ,que o Latim faz parte da
cultura e da formação da LP , porém penso que ninguém precisa estudar com muito afinco,
a menos que queira se especializar por que o importante é o aluno conhecer e saber que
Latim foi importante e faz parte da nossa cultura.

Prof. 9
Com certeza, faço uso quanto as desinências ao radical da palavra e o que mais os
alunos questionam: a flexão dos verbos.

Prof. 10
Sim, é importante utilizar para demonstrar aos alunos a origem de sua linguagem.

Prof. 11
Não acho, pois não consegui aprender nada quando a estudei. Nem sequer como
poderia aplicá-la.

Prof. 12
Bem, com a grave deficiência do ensino nas escolas brasileiras, fica difícil dizer o que
uma língua como o Latim tem real importância no ensino de Língua Portuguesa.

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Dentre as respostas dos professores, as referentes aos respondentes 11 e 12 chamam


muito a nossa atenção, pois se percebe uma dificuldade que abrange boa parte dos docentes,
ou seja, a angústia frente ao desconhecido modo de utilizar a Língua Latina para os estudos da
Língua Portuguesa na atualidade:
Outro aspecto importante, verificado nas respostas, diz respeito ao fato de alguns
professores mencionarem a utilização da Língua Latina mediante os estudos da gramática
aplicada, dos usos das preposições, na ortografia, na flexão verbal, na morfossintaxe, regência
verbal e nominal. Contudo, verificamos que o como utilizar-se concretamente está vago para
eles, caso do respondente 4.
Nesse ponto, cumpre-nos explicitar que nos chama a atenção a resposta do Prof. 3 que
nos deixa clara a ideia de que o ensino é importante, no entanto exime-se da responsabilidade
de tratar das questões relacionando latim com língua portuguesa mencionando não haver
exigência alguma por parte dos Referências curriculares elaborados pela Secretaria de
Educação de Mato Grosso do Sul e adotados nas escolas. Com todo respeito à liberdade de
expressão de cada profissional, ressaltamos a crítica ao engessamento dos conteúdos
curriculares e o anseio dos profissionais da educação comprometidos com um ensino
significativo e contextualizado em trabalhar conteúdos que acreditam ser fundamentais aos
seus alunos. Talvez também nos falte uma política de incentivo aos estudos de língua e
cultura clássicas e suas reatualizações no ensino de das línguas neolatinas, principalmente
voltados para o ensino de língua portuguesa.
Uma questão bastante pertinente figurou na resposta do Prof. 8: “o importante é o
aluno conhecer e saber que Latim foi importante e faz parte da nossa cultura”. Isso nos
chama a atenção porque demonstra que vivenciamos impasses frente à necessidade de uma
formação mais aprofundada, Prof. 1 e a opinião declarada de que não é preciso estudar com
afinco, Prof. 8, pois estudar a fundo latim é objeto dos especialista. Essa última posição
evidencia-nos o desconhecimento da importância do latim e de metodologias possíveis de
serem adotadas com objetivo de estabelecer a interação entre língua latina e língua portuguesa
e consequentemente o desinteresse pelo aprendizado mais profícuo de português frente à
desmotivação pelo ensino da relação entre as línguas, não só entre latim e português, mas as
línguas neolatinas como se ao professor não coubesse dominar o conteúdo de forma bastante
significativa para o oferecer de momentos de interação em sala de aula de qualidade

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proporcionando o aprendizado significativo. Ser professor, em todos os momentos, faz-se


pertinente ser especialista naquilo que ensina e no como ensina.
Na análise que empreendemos aqui, constatamos que as respostas comprovam a
necessidade e urgência em estabelecer a ponte entre a mãe e a filha no quesito estudo de
língua, refletindo e propondo meios de valorizar e tornar viáveis metodologias de ensino no
âmbito da estrutura da linguagem, bem como e por excelência, relativamente à valorização da
cultura latina para os dias atuais; no entanto, é preciso lembrar que tanto as universidades
quanto à educação básica precisam estar engajadas para a valorização do Latim.

Conclusão

Nesse artigo, propusemos, inicialmente, uma reflexão a partir de nossa prática com a
Língua Latina e de como os estudantes e os professores enxergam o Latim nos dias atuais. A
partir disso, fizemos uma pesquisa para se ter uma visão mais científica disso. Aplicamos um
questionário com 2 perguntas que embasaram nossa análise da realidade atual do Latim no
Brasil, principalmente na universidade e em relação aos professores na educação básica.
Nesse sentido, chegamos a algumas conclusões: quando uma língua renuncia suas
origens, torna-se incompleta; “apaga” sua história e não dá respostas concretas a seu povo, o
porquê fica em segundo plano, assim como seu autor. É justamente por esta falta de
observação que o Latim está “esquecido” nas salas de aula de Língua Portuguesa, o conteúdo
é meramente “repassado”. Em muitos momentos, o ensino não fomenta as causas, um dos
fatores que desmotivam a aquisição do saber, por parte do aluno, e implica certa dificuldade
para uma aprendizagem crítica da Língua Portuguesa.
Furlan (2006), reportando-se a pesquisas desenvolvidas por Antenor Nascentes, por
meio de dicionário etimológico da Língua Portuguesa, publicado em 1955, destaca termos no
português 96,7% dos vocábulos de origem latina: “O vocabulário fundamental do português é
formado sobretudo de palavras latinas de base hereditária”. (FURLAN, 2006, p. 26). É bem
verdade que o latim, hoje, não é falado especificamente por nenhum povo. Mas os povos
ocidentais têm em comum um patrimônio cultural veiculado pelo latim que uma pequena
incursão desvela uma diversidade de aspectos atuais, sejam eles na botânica, no direito, na
mídia, na variante popular adotada pelas populações mais distantes dos grandes centros do
país.

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Embora, atualmente, o Parâmetro Curricular Nacional de Língua Portuguesa (PCN)


não solicite claramente que o professor ou estudante estabeleça relações entre o português e o
latim, enquanto língua de origem, diante das opiniões dos profissionais da educação
compilados aqui podemos verificar o anseio por aprendizado dessas interfaces, de forma
minuciosa, a fim de contribuir para o estabelecer da ponte entre o latim e a língua portuguesa,
beneficiando a cada interação entre ambas as línguas a solidificação das estruturas da língua
portuguesa.
Infelizmente, tal reintrodução dos estudos culturais greco-latinos nas escolas é algo
que necessita ecoar nos ouvidos de autoridades que, em muitos casos, politicamente tratando,
perpetuam ideais colonialistas norte-americanos, ou melhor, promovem ações de
reestruturação curricular “modistas” consolidando estruturas de dominação denominadas por
Mignolo (2005) de colonialidade do saber, uma espécie de catapulta que arremessa nossos
atores educacionais a categoria de reprodutores muitas vezes de opiniões e posturas típicas
das ideologias imperialistas.
A opção de ensinar qualquer língua está atrelada também à imersão em valores
políticos, sociais e, principalmente, culturais de um povo. É inegável nossa posição geográfica
enquanto sul-americanos, contudo, é preciso ter muita cautela para não apagarmos nossa
identidade latino-americana.

Referências

ALMEIDA, Napoleão Mendes de. Gramática latina. São Paulo: Saraiva, 2000.

ANDRADE, Letícia Pereira de. O ir e vir semântico: Latim/Português. Disponível em:


www.filologia.org.br/revista/35/08.htm. Acesso em: 15.fev.2011.

FURLAN, O. A. Latim para o Português: Gramática, Língua e Literatura. Florianópolis:


Editora da UFSC, 2006.

MIGNOLO, W. D. La idea de américa latina: la herida colonial y la opción decolonial.(trad.


Silvia Jawerbaun y Julieta Barba). Barcelona, Espanha: Gedisa editorial, 2005.

QUEIROZ, R. C. R de; TEIXEIRA, M. C. R. Contribuições da Filologia para o ensino de


línguas. Revista Philologus, Ano 14, n. 42. Rio de Janeiro: CiFEFiL, set./dez.2008.

SILVA, A. C. da. Latim no ensino fundamental. Revista Philologus. Ano 16, n. 36. Rio de
Janeiro: CIFEFIL., set./dez.. 2006.

VIARO, Mário Eduardo. A importância do Latim na atualidade. Revista de Ciências


Humanas e Sociais. São Paulo: Unisa, v. 1, n. 1, 1999. p. 7-12.
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ABSTRACT
If we propose us to study the history of language teaching in Brazil, realize, times when the school
presented itself divided between oriented training to the people, educated to perform tasks and focused
training for the elite, educated to think and issue orders to the working masses. Alongside this
ideological dualism, we verify through interviews developed as language teachers working in primary
education see the role of the Latin language teaching in the formation of citizens through school
education today.
Key words: Latin language; Portuguese language; Interrelations; Importance of Latin.

Envio: Abril/2014
Aprovado para publicação: Junho/2016

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