Agenda Da Gerer - Festas Populares - 1º Bim 2022
Agenda Da Gerer - Festas Populares - 1º Bim 2022
Agenda Da Gerer - Festas Populares - 1º Bim 2022
1º BIMESTRE
2022
2
Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro
Subsecretaria de Ensino
Coordenadoria de Educação Integral e Extensão Curricular
Gerência de Relações Étnico-Raciais
Ficha Técnica
Gerente Revisão
Joana Elisa Costa Oscar Fernanda Nascimento Crespo
Luciana Guimarães Nascimento
Assistente
Luciana Guimarães Nascimento
Pesquisa e Elaboração
Supervisão Joana Elisa Costa Oscar
Luciana Guimarães Nascimento Fernanda Nascimento Crespo
Luan Ribeiro da Silva
Design
Pedro Vitor Guimarães Rodrigues Vieira Luciana Guimarães Nascimento
Rachel Nascimento da Rocha Rachel Nascimento da Rocha
Renata Francis Teodoro
Diagramação
Thayssa Menezes e Silva
Rachel Nascimento da Rocha
3
SUMÁRIO
TEXTO INSPIRADOR ...........................................................................5
APRESENTAÇÃO .................................................................................6
INTRODUÇÃO ......................................................................................8
PARA COMEÇAR.................................................................................12
FESTAS POPULARES
1. Carnaval.........................................................................13
2. Festas Religiosas: aspectos socioculturais...............19
3. Folia de Reis..................................................................25
4. Festas Juninas..............................................................30
5. Jongo ............................................................................35
6. Rodas de Samba ..........................................................40
7. Afoxés............................................................................46
8. Cirandas.........................................................................51
9. Festas do 20 de Novembro...........................................57
10. Feiras e Bailes ..............................................................63
NOSSAS INSPIRAÇÕES......................................................................70
FIQUE DE OLHO………........................................................................72
CONTATOS ………...............................................................................73
4
5
Prezadas equipes,
6
Dessa vez, ressaltaremos a importância da cultura nacional,
hoje estruturada em tradições e crenças fortemente
influenciadas por saberes de origens afro e indígenas, para
evidenciarmos a força da cultura popular na construção sócio
identitária da população brasileira, exaltando as
ressignificações que as manifestações festivas, a partir de
suas origens, desenvolveram nesse território ao longo da
nossa história.
Almejamos, com isso, ressaltar uma narrativa de prestígio ao
popular, por entendermos que essa é a matriz epistemológica
das relações que se desenham no cotidiano da maioria dos
grupos que dão vida e movem o Brasil.
Acreditamos que, através da Agenda “Festas Populares:
histórias, culturas e territorialidades”, possibilitaremos o
reconhecimento das potências que forjam a(s) cultura(s) no
Brasil, oportunizando a desconstrução de narrativas
preconceituosas que rondam o imaginário social quando se
trata do conceito de popular e de tudo que dele deriva.
Vamos (re)contar essa história!
7
O trabalho com a educação para as relações étnico-raciais
não pode estar desvinculado da valorização das diferentes
culturas que formam o Brasil, e que se encontram no espaço
escolar. Compreendendo que não é possível definirmos uma
“cultura nacional”, vide a multiplicidade de indivíduos que
compõem a população brasileira, valorizar as diferentes
culturas coaduna com pressupostos inclusivos, e favorecem a
busca pelo fortalecimento das diferentes identidades,
sobretudo aquelas que ao longo dos séculos são
estigmatizadas, a partir de uma hierarquização que
menospreza saberes não ocidentais.
Diante disso, cabe à educação comprometida com a inclusão
social dos indivíduos historicamente subalternizados em
espaços de saberes formais, resgatar valores positivos sobre
as diferentes existências, percebendo que as variadas formas
de saber, entender e agir no mundo é que constituem
tradições, formando crenças, costumes e modos de ser que
definem determinados territórios. Não podemos negligenciar a
exaltação da diversidade étnico-racial como marca da
trajetória histórico-social brasileira.
8
Nesse sentido, o tema da Agenda da GERER desse primeiro
bimestre, evoca as culturas que caracterizam o Brasil híbrido,
rememorando tradições significativas para os sortidos grupos
que formam a população brasileira, e que estão nas
comunidades escolares.
Ao destacarmos as festas populares como caminho para a
efetivação de uma educação para as relações étnico-raciais,
convidamos as comunidades escolares a explorarem a
positividade da diversidade, enobrecendo saberes que
comumente são categorizados como inferiores, ou mesmo
marginalizados. Explorar a história, a memória das diferentes
manifestações culturais que se apresentam em forma de festa,
requer atenção aos significados construídos em uma dinâmica
de circularidade de saberes que apontam para movimento e
renovação, em um processo coletivo no qual a energia
positiva é que deve sobressair.
Desse modo, convidamos vocês a mergulharem nesse
compromisso com a elevação do popular, entendendo que a
estigmatização desse grupo social gera preconceitos e
9
discriminações que ofuscam a caminhada dos nossos/das
nossas estudantes.
O entendimento crítico de que o popular é marcado por
propriedades de grupos étnico-raciais historicamente
excluídos e, também por isso é alvo de preconceitos, permite
defender a urgência dessa pauta no currículo, rompendo com
hierarquizações e alinhando um modelo educativo para a
equidade.
A partir das multifacetadas manifestações festivas no território
brasileiro, em especial no território carioca, esperamos que o
trato pedagógico das relações étnico-raciais seja aprimorado,
compreendendo que as festas simbolizam a ressignificação de
práticas culturais de diferentes origens, influenciadas por
nossa ancestralidade indígena e afrodescendente, base para
a formação do popular .
Desejamos que as equipes pedagógicas aprofundem essa
pesquisa e desenvolvam um rico trabalho com as
comunidades escolares, avançando para o combate à
segregação de identidades.
Bom trabalho!
10
.
11
.Para começar…
12
CARNAVAL 13
HISTÓRIAS, CULTURAS E TERRITORIALIDADES
CARNAVAL
Foto: http://www.multirio.rj.gov.br/
AGENDA DA GERER
" Apesar de o carnaval ser um período festivo em que o Brasil
ritualiza e festeja sua identidade, ainda é, na mesma medida, o
1º BIMESTRE 2022
tempo em que as diferenças de raça, classe e gênero gritam aos
nosso olhos. Combater os abismos sociais que a festa nos revela é
fundamental para a construção de um país mais igualitário“.
(Vinícius Natal)
.
O Carnaval do Brasil é uma das festas mais conhecidas
do mundo. No Rio de Janeiro, onde representa a maior
festa popular, a população vive a celebração de
diferentes formas, sempre com muita alegria e
animação, exaltando a multiplicidade do festejo,
configurando uma manifestação diversa, agregadora e
multifacetada. O carnaval carioca tem características
próprias, acontecendo não apenas nos dias oficiais,
mas se estendendo por um calendário alternativo,
geralmente, nos meses que antecedem o festejo nos
dias principais, movido por ensaios de blocos e escolas
de samba. Quando o prefeito entrega as chaves da 14
cidade ao Rei Momo, é oficializada a festa.
AGENDA DA GERER
das escolas de samba, nas oficinas de costura, e em
rede de apoio como seguranças, profissionais da
1º BIMESTRE 2022
limpeza, vendedores ambulantes. Dessa forma, o
carnaval também é considerado um setor gerador de
empregos.
AGENDA DA GERER
resistem suas origens populares, marcando gerações,
1º BIMESTRE 2022
construindo a História da cidade, recontando o passado
e projetando o futuro com a irreverência típica que faz
dessa a maior festa popular carioca.
16
CURIOSIDADES:
O carnaval é festejado por todo o Brasil, sempre
exaltando as características locais.
Embora os desfiles de escolas de samba das cidades do
Rio de Janeiro e de São Paulo sejam os mais conhecidos,
também há desfiles de agremiações em Porto Alegre
(RS), em Fortaleza (CE), em Vitória (ES), em Estância
(SE) e João Pessoa (PB), com fortes marcas da
população local.
Os blocos carnavalescos também se espalham pelo
Brasil, arrastando foliões com muita animação, como nos
AGENDA DA GERER
casos dos blocos de Olinda (PE), com seus bonecos
1º BIMESTRE 2022
gigantes embalados pelo frevo, maracatu e afoxés; os
blocos em Salvador (BA), cujos trios elétricos tem no axé
o principal ritmo, porém sem deixar a variedade de ritmos
musicais de lado; os blocos de Ouro Preto, que celebram
diferentes ritmos da música nacional e internacional em
carros de som e palcos espalhados pela cidade.
- Sites:
Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro: http://liesa.globo.com/
Sebastiana – Associação Independente dos Blocos de Carnaval de Rua da Zona Sul, Santa
Teresa e Centro da Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro.
http://www.sebastiana.org.br/
Folia Carioca – Associação Carioca de Blocos e Bandas
https://www.foliacarioca.com.br/
Museu do Samba: http://visit.rio/que_fazer/museu-do-samba/
- Vídeos/Documentários:
Um Rio de Histórias - A história do carnaval https://bit.ly/3sjpbkl
A ESCOLA DO CACHORRO SAMBISTA - https://bit.ly/3soNHjW
O samba que Mora em Mim – Documentário - https://bit.ly/3ow9tBn
Bate-bolas: a tradição do subúrbio carioca agora tem rosto de mulher -
https://bit.ly/3GAVnom
Escola de Bamba - https://bityli.com/hsbqD
Blocos de carnaval do Rio (1) - https://bityli.com/CZMoo
Marchinhas de carnaval retratam o Rio de Janeiro - https://bityli.com/xBCrs 18
FESTAS RELIGIOSAS
19
HISTÓRIAS, CULTURAS E TERRITORIALIDADES
FESTAS RELIGIOSAS
AGENDA DA GERER
Foto reprodução: https://www.youtube.com/watch?v=fb-lhd3IIdo
“Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, ou por
1º BIMESTRE 2022
sua origem, ou sua religião. Para odiar, as pessoas precisam
aprender, e se elas aprendem a odiar, podem ser ensinadas a amar,
pois o amor chega mais naturalmente ao coração humano do que o
seu oposto. A bondade humana é uma chama que pode ser oculta,
jamais extinta”.
(Nelson Mandela. Livro "Long Walk to Freedom", 1995)
20
Segundo a constituição de 1988, o Estado Brasileiro é
laico e garante a todo cidadão o direito de professar sua
fé, independente do seu teor e de seus ritos, contanto que
sejam praticados em ambientes privados.
Não existe uma hegemonia religiosa no Brasil,
exatamente por termos diversas influências em nossa
formação. As crenças e as sabenças dos povos
originários, dos povos africanos, dos europeus e outros
que chegaram ao país, constituem essa multiplicidade de
ligações com o Divino. Fato é que, o domínio de novas
terras pelos europeus se deu também no campo religioso,
já que os povos oprimidos foram obrigados a professar a
AGENDA DA GERER
fé dos colonizadores. No Brasil, o catolicismo fez parte da
1º BIMESTRE 2022
estratégia de dominação do país, que previa a catequese
dos povos originários. Posteriormente, o processo de
apagamento da memória ancestral dos negros trazidos
forçadamente de várias regiões do continente africano,
considerados pelos portugueses como sem alma,
batizando-os e dando-lhes novos nomes de origem
europeia. Em ambos os casos, a fé desses indivíduos
subjugados não fora respeitada.
No caso dos povos africanos, um dos meios utilizados
para que conseguissem continuar manifestando suas
crenças, sem punição, foi associar os Orixás aos Santos
da Igreja Católica. Como consequência desse hibridismo
religioso, houve o fortalecimento de festas religiosas que
passaram a receber influências culturais do povo negro,
algumas colocando-os em lugar de protagonismo, já
outras, colocado-os à margem.
21
Algumas festas religiosas na cidade do Rio de
Janeiro:
AGENDA DA GERER
é hibridizado a Oxóssi e a Ogum, respectivamente
1º BIMESTRE 2022
orixás representativos da caça e da guerra.
AGENDA DA GERER
3) Estas festas religiosas são alguns exemplos da
1º BIMESTRE 2022
influência colonial e do sincretismo religioso no
Brasil:
● Círio de Nazaré - Festa tradicional de Belém/PA.
● Festa do Bonfim - Festa tradicional de
Salvador/BA.
● Congadas- Festa tradicional em Minas Gerais,
● Festa da Boa Morte - Festa tradicional de
Cachoeira/BA
Que tal investigar com seus alunos e alunas os
aspectos culturais, históricos e de territorialidade
que as festas religiosas movimentam?
Sites:
FOLIA DE REIS
AGENDA DA GERER
Foto: https://www.flickr.com/photos/pit_thompson/88431244
1º BIMESTRE 2022
“Dê a paz a sua casa pra nossa folia
Em nome dos santos reis
E do santo filho de Maria”
(Roque Augusto Ferreira)
.
A Folia de Reis é uma manifestação cultural que
comemora e louva os três Reis Magos: Gaspar,
Melchior - ou Belchior- e Baltazar. Eles que visitaram
Jesus Cristo dias depois do seu nascimento, segundo
os católicos. Essa festividade acontece todo dia 6 de
Janeiro, vindo depois dos reisados, que ficam em festa
entre os dias 24 de dezembro e dia 5 de janeiro,
representando o tempo de andança dos reis.
De origem europeia, a Folia de Reis chegou ao Brasil
junto com os Portugueses durante o período da
colonização.
26
A história bíblica conta que, após Jesus nascer, os três
reis foram avisados por uma estrela cadente que o
Messias havia chegado. Apesar de não terem datas
historicamente marcadas, os católicos colocaram a data
de 6 de Janeiro como o dia que eles conheceram o
menino Jesus.
Tradicionalmente esse folguedo é formado pelo mestre,
os três reis, o festeiro, o coro, o bandoleiro e os
palhaços que fazem malabarismos e recitam versos, as
"chulas". O mestre entoa toadas em que sua voz chama
a resposta de outras vozes. Os festejos são
AGENDA DA GERER
organizados por devoção ou pagamento de promessa,
1º BIMESTRE 2022
que duram sete anos. No Estado do Rio, o ciclo de
peregrinação da Folia de Reis é chamado giro ou
jornada.
Nascida no morro da Mangueira, a Sagrada Família da
Mangueira é uma das últimas remanescentes dos
tradicionais reisados nas favelas. Todos os anos, a
Folia percorre com cantorias e rezas as ruas e casas de
várias comunidades do Rio. Seus 13 integrantes,
liderados pelo mestre Hevalcy Silva, atravessam a
cidade de ônibus, paramentados de uniformes e de
instrumentos na mão.
Mestre Hevalcy brinca em folias desde os oito anos e,
além de cantar e tocar violão, ele rege os músicos com
um apito. Assim como os colegas, está na folia porque
teve uma graça alcançada.
27
CURIOSIDADES:
O grupo Folclórico de “Folia de Reis Flor do Oriente” é
uma das folias mais antigas do Brasil em atividade.
Criado na década de 70, em Minas Gerais, e com sede
no bairro Vila Rosário, em Duque de Caxias, tem o
compromisso de manter viva essa tradição. Tombada em
2016 como Patrimônio Cultural e Imaterial do município
de Duque de Caxias.
Outras cidades da Baixada Fluminense, como São João
de Meriti, Mesquita, Belford Roxo, Guapimirim e
Queimados, também possuem folias. Em São João de
AGENDA DA GERER
Meriti, mestre Pedro, da Folia de Reis Estrela do Oriente
1º BIMESTRE 2022
Deus é o Nosso Guia – único grupo da cidade –, tem a
responsabilidade de garantir a manutenção desse
folguedo na cidade vizinha.
Todo ano, em 06 de Janeiro a Flor do Oriente e suas
irmãs ganham as ruas da Baixada Fluminense, cantando,
dançando e rezando a folia dos Santos Reis.
29
FESTAS JUNINAS
30
HISTÓRIAS, CULTURAS E TERRITORIALIDADES
FESTAS JUNINAS
AGENDA DA GERER
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Anarri%C3%AA..._(3676662708).jpg
1º BIMESTRE 2022
/Onde dizem que a fogueira ainda aquece o coração
/Pra dizer com alegria, mas chorando de saudade/
Não mudei, nem São João, quem mudou foi a
cidade”
(Luiz Gonzaga)
AGENDA DA GERER
Grande; Amanhecer do Sertão, da Ilha do Governador e
1º BIMESTRE 2022
as sexagenárias Show de Ramos e Quadrilha do
Sampaio são exemplos de grupos que passam de uma
centena, se somados aos do Grande Rio, e seguem
promovendo a difusão dos saberes brincantes do arraiá
e o fortalecimento dos laços entre as comunidades de
diversos bairros.
Além de iniciativas independentes, entidades como a
“Federação de Quadrilhas” (FIGDQUERJ), “Liga de
Quadrilhas” (Liquabaferj) e “Festrilha do Rio” têm
promovido festas juninas em ruas e outros espaços
populares como o Guadalupe Country Clube; o Clube
CRIR, dos industriários de Realengo; a quadra da
Escola de Samba São Clemente, na Cidade Nova; do
Arrastão de Cascadura; e do Grêmio Esportivo de
Rocha Miranda, por exemplo.
32
CURIOSIDADES:
Evidência da pluralidade dos festejos de junho, no Rio
de Janeiro, é o Brilho de Lucas, bumba-meu-boi
fundado por migrantes maranhenses entre as décadas
de 1970 e 80 na zona norte da cidade. Promovida há
mais de 30 anos na casa da família Silva Costa sempre
no sábado mais próximo do 24 de junho - dia de São
João Batista - a festa em torno da lenda da morte e
ressurreição do boi já chegou a reunir por volta de mil
brincantes no bairro de Parada de Lucas, segundo a
AGENDA DA GERER
pesquisadora Aline Ferreira Paes (2014).
Geralmente associado às regiões norte e nordeste, o
1º BIMESTRE 2022
bumba-meu-boi está presente em diversas partes do
país e, desde 2012 integra a lista de Patrimônio Cultural
do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (IPHAN).
34
JONGO 35
HISTÓRIAS, CULTURAS E TERRITORIALIDADES
JONGO
AGENDA DA GERER
Foto: Roda de jongo no quintal da casa de Tia Maria. Foto e acervo Alcinoo Giandinoto. Disponível em: http://www.multirio.rj.gov.br/
1º BIMESTRE 2022
Ó Deus nos Salve o Cruzeiro das Almas
Meu povo Bantu.”
(Lazir Sinval)
AGENDA DA GERER
conjuntura em diversos momentos históricos - o Jongo
1º BIMESTRE 2022
era dançado e cantado nos terreiros das fazendas e
entoado durante o trabalho nas lavouras. Essa
manifestação cultural é um dos fios de manutenção
histórico-cultural da população negra e tem grande
contributo para a difusão do pensamento abolicionista
brasileiro.
Na década de 1960, o Jongo da Serrinha, levado pelas
mãos do mestre Darcy Monteiro, construiu um caminho
que ganhou os palcos teatrais, dando visibilidade à
comunidade, seguindo uma trajetória de cooperação
iniciada com o teatro iniciada tempos antes. Arte e
política, no sentido amplo de engajamento para o
fortalecimento social, se unem nessa manifestação que
hoje é composta por comunidades jongueiras
tradicionais e grupos populares diversos.
37
CURIOSIDADES:
O Jongo influenciou o nascimento do Samba e, as
similaridades entre os dois são inegáveis A umbigada,
presente no Jongo, na língua quimbundo chama-se
“semba”, termo que, possivelmente, originou o nome
samba.
O Jongo da Serrinha é uma importante organização
tradicional que há 60 anos se dedica à manutenção das
tradições jongueiras, importante referência de difusão
cultural, construção crítica e de movimentação da
economia local. É um dos participante da Rede de Jongo
e Caxambu da qual participam cerca de 12 comunidades
AGENDA DA GERER
jongueiras somente no Rio de Janeiro. Fica localizada no
1º BIMESTRE 2022
bairro de Madureira, na favela da Serrinha.
Na nossa Rede Municipal de Educação, homenageamos
algumas referências jongueiras como Patronos das
escolas. Duas delas são: Escola Municipal Mestre Darcy
do Jongo e Creche Municipal Tia Maria do Jongo ambas
na 5ª CRE, em Madureira.
RUFINO, Joel. Ah, meu filho, o Jongo tem suas mumunhas!: um estudo com
os jongueiros e suas narrativas. Dissertação. Disponível em:
https://bityli.com/kEkKU. Acesso em: 25/01/2022.
39
RODAS DE SAMBA
40
HISTÓRIAS, CULTURAS E TERRITORIALIDADES
RODAS DE SAMBA
AGENDA DA GERER
Foto: https://diariodorio.com/250-rodas-de-samba-sao-legalizadas-pela-prefeitura-do-rio-ate-o-fim-do-ano/
“Samba,
1º BIMESTRE 2022
Negro, forte, destemido,
Foi duramente perseguido,
Na esquina, no botequim, no terreiro”
(Nelson Sargento)
.
“A roda é o início de tudo − estava presente antes mesmo
de o samba ser samba, é anterior a ele. Sua característica
mais evidente é o clima doméstico, familiar”, define Roberto
Murcia Moura em No princípio, era a roda: um estudo sobre
samba, partido-alto e outros pagodes. As primeiras rodas
surgiram nas moradias festivas das tias baianas na Praça
Onze - destruídas com a construção da Avenida Presidente
Vargas. É neste contexto social e cultural que o século XX
começa no Rio: a então capital da nova República,
receptora de milhares de negros que migravam da Bahia,
serviu de catalisadora de diversos movimentos artísticos e
manifestações culturas africanas. 41
Eram os primeiros anos após o fim da escravidão
(1888), os artistas dessa época, proibidos pela polícia
de mostrar sua música em público, buscavam refúgio
nas casas das tias baianas, mulheres que ganhavam a
vida vendendo sua culinária ou costura. Após
celebrações de rituais do Candomblé , e posteriormente
da Umbanda, se reuniam para, entre versos e batuques,
criar, resistir e forjar o samba carioca.
A segunda e definitiva fase do samba carioca acontece
anos depois, no final dos anos 20. No bairro Estácio,
nas proximidades da Praça Onze e ao pé do Morro de
São Carlos, surge uma geração de artistas dispostos a
AGENDA DA GERER
mudá-lo completa e definitivamente. Eram tempos de
1º BIMESTRE 2022
Ismael Silva, Bide, Brancura, Nilton Bastos e muitos
outros. "O samba carioca é de Ismael Silva. Foi uma
coisa de vanguarda, planejada. O samba que o Zeca
Pagodinho e o Martinho da Vila fazem, nasceu com o
Ismael Silva. Assim como a bossa nova tem dono, a
jovem guarda tem dono e a Tropicália tem dono, o
samba carioca também tem dono.” frisa Paulo Lins,
autor de Cidade de Deus e Desde que o samba é
samba.
Com o passar dos anos, o samba foi se modificando,
ganhando outros arranjos e personagens no cenário,
mas a roda de samba esteve sempre presente e até os
dias atuais, elas continuam sendo um espaço de
divertimento, de reverência aos ancestrais e aos mais
velhos que fizeram muito para que o samba figurasse
42
como marca registrada da cultura carioca.
Por fim não podemos deixar de mencionar a tradicional
roda de samba do Cacique de Ramos, que há pelo
menos 50 anos se mantém ativa. É simplesmente o
local de origem do grupo Fundo de Quintal, a referência
maior em grupos de samba na história do gênero.
As rodas hoje
Nos dias atuais, existem muitas rodas de samba
espalhadas pela cidade, com atrativos e públicos
distintos. Uns são mais tradicionais, dão ênfase ao
samba raiz e as canções que não são tão radiofônicas,
AGENDA DA GERER
já outras rodas apostam na mescla com o pagode,
atraindo multidões, saindo um pouco do teor intimista,
1º BIMESTRE 2022
de quintal das rodas de outrora. Abaixo vamos listar
duas rodas que são sucesso atualmente e possuem
propostas diferentes, porém o fator comum entre elas é
a exaltação da cultura negra e a celebração do ritmo.
● Samba da Feira - Surgiu na casa de Mário
Castilho, em Piedade, zona norte carioca.
Começou como uma brincadeira, que virou um
dos eventos de samba e pagode mais conhecidos
e populares do Rio. Cresceu tanto, que desde o
dia 3 de dezembro de 2016, passou a acontecer
nos Armazéns do Engenhão, localizados na parte
externa do Estádio Nilton Santos, no Engenho de
Dentro.
● Awurê - Há dois anos, quatro amigos se reuniram
para produzir uma roda que reafricanizasse o 43
samba, tão embranquecido ao longo de sua história
e, mais que isso, um evento que fosse referência de
cultura negra. Assim, o Awurê — termo iorubá que
significa um desejo de boa sorte — ganhava a cara
que tem hoje. Se no início foi difícil e eles chegaram
a ter público de apenas 20 pessoas, hoje a roda, que
é mensal, atrai de 600 a 700 de diversos cantos da
cidade.
CURIOSIDADES:
AGENDA DA GERER
Samba, a Central do Brasil e também Oswaldo
1º BIMESTRE 2022
Cruz, se transformam para receber o grande
evento. O Trem do Samba. A roda de samba
nos vagões.
44
ALTOÉ, Larissa. Rodas de samba: onde nasce e se mantém o
ritmo afro-brasileiro. Multirio, Rio de Janeiro, 02 de dezembro de
2019. Disponível em: https://bityli.com/mkBbx
45
AFOXÉS 46
HISTÓRIAS, CULTURAS E TERRITORIALIDADES
AFOXÉS
AGENDA DA GERER
Foto: Reprodução Wikimedia
1º BIMESTRE 2022
Tem um mistério
Que bate no coração
Força de uma canção
Que tem o dom de encantar”
(Edmilson De Jesus Pacheco)
.
Nas culturas de matrizes africanas e indígenas a
oralidade, mesmo não sendo a única linguagem, é central
para mobilização e continuidade da história e tradições. A
palavra afosè, de origem iorubá, remete-se ao poder de
realização através da fala, do canto, da enunciação.
Teóricos da análise do discurso pautam, a partir da
década de 1960, o que as culturas dos povos tradicionais
preconizam há séculos: a palavra dá sentido, organiza,
situa e até produz mundos. Nos apropriando da palavra
afosè, trazida por nossos antepassados, Afoxé passou a
denominar blocos de rua que partiram dos terreiros de
religiões de matrizes africanas para ganhar a rua em 47
cortejos ao ritmo do Ijexá. Além disso, algumas pessoas
também chamam por afoxé o próprio ritmo do Ijexá. Afoxé
também nomeia um instrumento musical cuja rede de
contas envolve uma cabaça.
Estima-se que a origem provável dos Afoxés venha da
festa “Domurixá”, celebrada em passado remoto no
reino Iorubá, na cidade de Lagos, Nigéria. Esta
celebração homenageia Oxum, Deusa da nação Ijexá.
Em 1895, sete anos após a abolição oficial da
escravatura, na cidade de Salvador (BA), a primeira
capital do Brasil, chamada à época de “São Salvador da
Baía de Todos os Santos”, mostrou ao mundo o
AGENDA DA GERER
primeiro grupo de afoxé chamado “Pândegos da Folia”.
1º BIMESTRE 2022
Os Afoxés levaram o Ijexá para as ruas, para o carnaval
e para o gosto da Música Popular Brasileira (MPB),
tendo músicas gravadas por vários artistas. Algumas
das músicas criadas no ritmo Ijexá foram popularizadas
como sambas.
Através da saudação ritualística aos Orixás, os cortejos
mantém e difundem a cultura de matrizes africanas e
afrobrasileiras, levantam a questão do racismo religioso e
pedem paz. Um exemplo disso é o Bloco Afoxé Filhos de
Gandhi, fundado por estivadores portuários de Salvador
no dia 18 de fevereiro de 1949 e, no Rio de Janeiro
fundado em 1951, com sede ao lado do Jardim
Suspenso do Valongo, na Pequena África, sendo
considerado o Afoxé mais Antigo e Tradicional do Rio
de Janeiro.
48
CURIOSIDADES:
Além de Salvador, os Afoxés estão presentes no
carnaval brasileiro em diversas cidades como Recife,
Olinda, Ribeirão Preto, São Paulo, Rio de Janeiro, Juiz
de Fora, Belo Horizonte, entre outras.
No Rio de Janeiro, alguns dos Afoxés dos quais
temos conhecimento são:
Filhos de Gandhi
Agbara Dudu
Afoxé estrela D'Oiá
AGENDA DA GERER
Filhos da Paz
Oju Obá Axé
1º BIMESTRE 2022
Raízes Africanas
Iê Zambi Aiê
Zimbauê
Águas de Oxalá
Afoxé Ilê Alá
50
CIRANDAS 51
HISTÓRIAS, CULTURAS E TERRITORIALIDADES
CIRANDAS
AGENDA DA GERER
Foto: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Ciranda_Final_(16124070017).jpg
1º BIMESTRE 2022
Ela é de todos nós
A melodia principal quem guia
É a primeira voz.”
(Lia de Itamaracá)
AGENDA DA GERER
pescadores e operários de construções, na beira do
1º BIMESTRE 2022
mar, nas ruas e nos terreiros. Sua composição emerge
de uma interação entre o canto e a dança. Os temas
das letras não eram fixos. Em geral, versavam sobre a
agricultura, o campo, a natureza, o amor, as praias e
regionalismos. Isso fez com que fossem associadas às
camadas populares e caracterizadas como uma
expressão genuína do povo.
A partir da década de 1970, enquanto dança de roda de
adultos, a ciranda conquistou grandes cidades, como
Recife e Olinda. E começou a se tornar um produto
turístico: foram criados, por exemplo, festivais de
ciranda.
Danças de roda estão presentes em diferentes países e
são marca da cultura popular de diversos estados
brasileiros. Em cada local, possuem especificidades,
características, conotações e sentidos particulares. 53
Já no Rio de Janeiro, existem inúmeros grupos de
danças populares que tecem saberes corporais e
educativos sobre as Cirandas e as demais danças
circulares. Grupos e coletivos que ganham os espaços
urbanos tecendo as ruas de movimento, ancestralidade
e conhecimentos através do rodar de suas saias.
Na tradicional Feira do Rio Antigo, popularmente
conhecida como Feira da Lavradio, que acontece todo o
primeiro sábado do mês, é possível encontrar o Grupo
Dandalua. Eles apresentam um repertório de danças
AGENDA DA GERER
populares como Ciranda, Jongo, Coco e Maracatu
1º BIMESTRE 2022
numa experiência múltipla e diversa no coração da
Cidade.
Numa das mais renomadas Universidades do Brasil, a
Universidade Federal do Rio de Janeiro, foi concebida a
Companhia Folclórica do Rio-UFRJ, constituída por
professores, funcionários e alunos das suas diversas
unidades. Tendo como intuito pesquisar e divulgar a
cultura popular brasileira, esse grupo artístico, produz
espetáculos de música, danças e folguedos brasileiros,
promovendo atividades e eventos científicos e culturais,
além de cursos de extensão e educação continuada.
Sendo assim, fomentando a valorização do patrimônio
imaterial ao oferecer vários cursos de formação
profissional da UFRJ e para o público em geral.
54
CURIOSIDADES:
Em 12 de janeiro de 1944 nascia Maria Madalena Correia
do Nascimento, uma das maiores lideranças cirandeiras
do país, na Ilha de Itamaracá em Pernambuco.
Cantava ciranda desde os 12 anos e, aos 19, já se
apresentava em teatros e praças. Também foi cozinheira
de um restaurante na ilha e merendeira de uma escola
estadual, profissão que seguiu exercendo em paralelo à
carreira artística.
Lia de Itamaracá, foi o nome social pelo qual ela ganharia
reconhecimento e o título de Rainha da Ciranda pelas
AGENDA DA GERER
grandes mídias locais de Recife e pelo resto do Brasil,
1º BIMESTRE 2022
com a ajuda da canção “Essa ciranda quem me deu foi
Lia...”.
Em 2005, Lia de Itamaracá recebeu o título de Patrimônio
Vivo de Pernambuco.
Em entrevista ao jornal Brasil de Fato Lia diz:
“Na ciranda me batizei e estou aqui com a ciranda no
meio do mundo”.
❖ Que tal investigar com seus alunos e alunas
os aspectos culturais, históricos e de
territorialidade que essas festas
movimentam?
Sites:
Centro nacional de Folclore e Cultura Popular.
https://bityli.com/MWfpV
Instituto Estadual do Patrimônio Cultural
https://bityli.com/tdfYR
56
FESTAS DO
20 DE NOVEMBRO 57
HISTÓRIAS, CULTURAS E TERRITORIALIDADES
FESTAS DO
20 DE NOVEMBRO
AGENDA DA GERER
Foto: https://www.youtube.com/watch?v=yfowRIlDw4E
1º BIMESTRE 2022
Zumbi dos Palmares quando sambo
O príncipe herdeiro
Dos quilombos do Brasil”
(Paulo César Feital / Altay Veloso)
AGENDA DA GERER
da cultura afro-brasileira.
1º BIMESTRE 2022
No Centro da Cidade do Rio de Janeiro acontece
tradicionalmente um evento em homenagem ao Dia da
Consciência Negra, no monumento Zumbi dos
Palmares, localizado na Avenida Presidente Vargas. A
lavagem da estátua de Zumbi dos Palmares já faz parte
dos festejos da data, assim como a capoeira, dança
música e também as mais variadas homenagens à
comunidade negra.
Os festejos de 20 de Novembro estão ligados à história
de um tradicional clube carioca, localizado no bairro do
Andaraí, e que é ponto de encontro para a resistência
negra, o Renascença Clube. Criado em 1951, por um
grupo de homens negros de classe média que não
conseguiam acesso a outros clubes sociais da região
devido a sua cor, o clube hoje pode ser definido como
59
templo da resistência negra na Zona Norte da cidade
por promover a celebração da negritude e sua história.
O Renascença nasceu como um berço de resistência e,
tradicionalmente oferece ao seu público a famosa
feijoada de Zumbi, com direito a roda de samba e
outras manifestações culturais negras.
Na zona oeste, a festa que já virou tradição acontece
no Ponto Chic, em Padre Miguel, onde um palco é
montado em frente a estátua de Zumbi dos Palmares. A
comemoração ao Dia da Consciência Negra conta com
AGENDA DA GERER
apresentações de grupos folclóricos da cidade e das
1º BIMESTRE 2022
baterias das escolas de samba do bairro, Mocidade
Independente de Padre Miguel e Unidos de Padre
Miguel.
No texto A Festa e a Cidade, de Marcos Felipe Sudré
Souza, o autor destaca a importância do debate sobre
as festas para as cidades a partir do seguinte ponto:
“discutir a Festa como forma de experimentação da
cidade, do espaço urbano vivo, tão necessário para o
homem”. (SOUZA, 2010, p. 9). O que nos leva a refletir
que é imprescindível experienciarmos a cidade a partir
de suas dimensões culturais, seus símbolos e
significados, para então, analisarmos as manifestações
culturais a partir de uma lógica de pertencimento,
identidade e inclusão.
60
CURIOSIDADES:
Do outro lado da Baía de Guanabara, na cidade de
Niterói, acontece o Festival Viva Zumbi, onde é
celebrado o Dia da Consciência Negra. O Festival, que
já conta com mais de 10 edições, é organizado pelos
movimentos sociais da cidade e o pelo poder público,
sendo iniciado com a Caminhada da Consciência
Negra, seguida pela lavagem da Estátua de Zumbi,
embalada pelo som dos berimbaus da capoeira, além
de literatura e debates, destacando a ancestralidade e a
AGENDA DA GERER
cultura da população negra.
A programação inclui também uma feijoada, servida
1º BIMESTRE 2022
gratuitamente, tendas temáticas com oficinas artísticas
e shows com a central dos Ogãs, e as baterias das
escolas de samba da cidade. A entrada é franca.
61
BRASIL. LEI Nº 12.519 DE 10 DE NOVEMBRO DE 2011. INSTITUI O
DIA NACIONAL DE ZUMBI E DA CONSCIÊNCIA NEGRA. D.O.U. DE
11/11/2011, P. 7. Disponível em: https://bityli.com/NaxTh Acesso em:
07 Fev. 2021.
Matérias:
FEIRAS E BAILES
AGENDA DA GERER
Foto: https://rederiohoteis.com/feiras-de-artesanato-no-rj/
1º BIMESTRE 2022
fazeres, na prática da rua, na prática das
comunidades, a gente pode começar a reconstruir
uma ideia mais generosa de país.”
FEIRAS: (Luiz Antonio Simas)
.
As primeiras referências às feiras aparecem em meio ao
comércio e às festividades religiosas. A própria palavra
latina feria, que deu origem à portuguesa feira, significa dia
santo, feriado.
No Brasil, o costume veio com os portugueses e há
registros de feiras desde a época colonial. Existia a
presença das populares quitandas, ou feiras africanas, que
eram mercados em locais preestabelecidos que
funcionavam ao ar livre. Vendedoras negras negociavam
produtos da lavoura, da pesca e mercadorias feitas em
casa. Do mesmo modo, uma grande variedade de produtos
que chegavam de navio era comercializada informalmente
na Praça XV, no Rio de Janeiro. Até que em 1711, o
64
Marquês do Lavradio, vice-rei do Brasil, oficializou-as.
Dentre as milhares de feiras que traduzem a sociabilidade
dos cariocas, destacamos três que são muito importantes,
pois recebem pessoas de outros bairros e até municípios
vizinhos. A Feira de Acari, a Feira das Yabás e a Feira do
Rio Antigo (Lavradio).
AGENDA DA GERER
feira ocorre há décadas e garante o sustento de muitas
1º BIMESTRE 2022
famílias de moradores. “Tem de tudo, é um mistério”,
como dizia Jorge Ben.
Bailes
Baile Charme- Os bailes charme e suas manifestações
têm origem na zona norte do Rio. O termo "Charme" foi
cunhado pelo DJ Corello em um baile no clube
Mackenzie, nos anos 1980, localizado no Méier. Antes
de chegar em Madureira, o Charme circulou e ganhou
fama em bairros como Marechal Hermes e Abolição. Em
AGENDA DA GERER
1990 inicia a história do maior Baile Charme do Brasil e,
1º BIMESTRE 2022
mais ou menos nessa época, foi oficialmente
inaugurado o espaço Rio Hip Hop Charme, embaixo do
Viaduto Negrão de Lima, em Madureira (que tinha como
nome de batismo “Projeto Charme na Rua”). Todos os
sábados, salvo exceções, o público está lá marcando
presença. A estimativa de público em uma noite de baile
já chegou a 1500 pessoas. Desde 2013 a festa ganhou
o título de Patrimônio Imaterial Cultural da Cidade. Além
dos bailes, hoje nesse espaço acontecem oficinas, tanto
de Charme quanto de stiletto, no projeto Rio Charme
Social, que foi criado a pedido dos frequentadores do
baile. Cada oficina tem a duração de 3 meses.
66
Baile Funk - Os bailes funks surgiram na década de 80
herdando elementos dos bailes black da década de 70
como: moda característica, música em alto som,
danças criativas e público de maioria negra. No início
da década de 90, nasce o estilo conhecido como o
funk carioca e entram em cena os bailes de galera.
Como em um LP, o baile se dividia entre lado A e lado
B. Os “raps” como Endereço dos Bailes, dos MCs
Júnior e Leonardo, Rap da Cidade de Deus, de Cidinho
e Doca e Rap do Salgueiro, de Claudinho e Buchecha,
entre outras, são exemplos de músicas marcantes
AGENDA DA GERER
deste período.
Nos anos 2000, o protagonismo que antes pertencia
1º BIMESTRE 2022
aos clubes, passa para as favelas cariocas. Em
especial, a Cidade de Deus. Outro legado importante
para o funk nessa época foi o ‘tamborzão’, base
marcante que sintetiza muito bem a união entre os
gêneros eletrônicos norte-americanos e traços da
música afro-brasileira. Apesar deste protagonismo, o
baile da Cidade de Deus era apenas mais um em meio
a centenas que ocorriam em favelas cariocas. Alguns
dos mais famosos eram o baile do Buraco Quente (na
Mangueira), Chatuba (no Complexo da Penha), e
Árvore Seca (no Lins),
Em meados de 2015, o 150 BPM chega para
revolucionar o funk carioca. O ritmo acelerado das
batidas ganha instantaneamente as favelas da cidade
para depois conquistar o asfalto. 67
Pouco tempo depois das primeiras experimentações
no andamento, o DJ Polyvox criou a primeira base
originalmente produzida em 150bpm.
O título de principal centro irradiador do funk carioca
foi concedido ao baile da Gaiola, onde outros DJs,
como Rennan da Penha, também tratavam de
aperfeiçoar as produções em 150bpm. O Baile da
Gaiola tornou-se um fenômeno entre a juventude
carioca e contribuiu para que o funk produzido no Rio
de Janeiro retomasse a relevância no cenário
nacional.
AGENDA DA GERER
CURIOSIDADES:
1º BIMESTRE 2022
- O primeiro baile charme do Viaduto de Madureira foi
realizado com equipamentos emprestados do DJ
Marlboro.
- Antes do Viaduto, o baile charme mais famoso da
cidade era o do Disco Voador, em Marechal
Hermes.
- Os bailes da Furacão 2000 chegaram a mobilizar
mais de 150 mil pessoas por final de semana no Rio
de Janeiro.
Matérias/Sites:
Haroldo Costa
Ator, produtor, diretor, estudioso e comentarista de
carnaval, Haroldo Costa nasceu no Rio de Janeiro, em
1930. Tambémn foi jurado de programas de auditório.
Tem sete livros publicados: “Fala Crioulo”, “100 Anos de
Carnaval no Rio de Janeiro”, “Salgueiro: Academia do
Samba”, “Na Cadência do Samba”, “Salgueiro: 50 Anos
de Glória”, “As Escolas de Lan” e “Ernesto Nazareth:
Pianeiro do Brasil”.
Marta Abreu
Martha Abreu é professora adjunta do Departamento de
História da Universidade Federal Fluminense. Historiadora
(UFRJ), mestre em História pela Universidade Federal
Fluminense (1987) e doutora em História pela Universidade
Estadual de Campinas (1996), atua nas áreas de História do
Brasil e História da Diáspora Africana nas Américas,
desenvolvendo trabalhos nas temáticas: cultura popular,
música negra, patrimônio cultural, pós-abolição, memória da
escravidão e relações raciais, séculos XIX e XX - pesquisa e
ensino de História. É consultora do Pontão de Cultura
71 do
72
Você também pode acessar o site da GERER através do QR Code acima. Para isso, basta
apontar a câmera do seu celular em direção a ele, para que a página do site seja identificada.
( https://linktr.ee/gerer.smerj )
73