Artigo Rev - Pen.Jur.
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Mestre e Doutor em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Professor Adjunto
da Escola de Direito da Universidade do Estado do Amazonas, no curso de Graduação e no Programa de
Pós-Graduação em Direito Ambiental. Juiz do Trabalho do Tribunal Regional do Trabalho da 11ª
Região. E-mail: tuliomasi@hotmail.com.
² Mestrando em Direito Ambiental pela Universidade do Estado do Amazonas. Pós-Graduado em Direito
Processual Civil pela Faculdade de Direito Damásio de Jesus. MBA em Licitações e Contratos
Administrativos pela Faculdade Educacional da Lapa. Auditor Técnico de Controle Externo do Tribunal
de Contas do Estado do Amazonas. E-mail: kfsmota@hotmail.com.
³ Mestranda em Direito Ambiental pela Universidade do Estado do Amazonas. Pós-graduada em Direito
Civil, Processo Civil e Consumidor pela Faculdade de Ensino Superior da Paraíba. Procuradora do
Município de Manaus - Procuradoria Geral do Município de Manaus e Professora de Direito
Constitucional. E-mail: Mayaraoalmeida19@gmail.com.
possui fundamento em referenciais teóricos, jurisprudenciais e históricos, além
de análise da doutrina e da normatividade que rege a matéria, com cerne nos
axiomas que devem respaldar a internalização de tratados internacionais
ratificados pelo Brasil, em especial do Pacto Internacional sobre Direitos
Econômicos, Sociais e Culturais. Inicialmente, o estudo será focado em
apresentar o Direito Social à Educação e o Ensino Superior no Brasil. Após,
busca-se verificar o Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e
Culturais e sua ratificação pelo Brasil, com foco no compromisso da
implementação progressiva do ensino gratuito. Em seguida, analisa-se a
(in)convencionalidade da decisão do STF no Recurso Extraordinário (RE)
597854. Concluindo o presente estudo, relaciona-se a cobrança por cursos de
especialização lato sensu pelas Universidades Públicas com a teoria dos
princípios, sobretudo os princípios da proporcionalidade e da proteção não
deficiente.
INTRODUÇÃO
5 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Declaração Universal dos Direitos Humanos, 1948.
Disponível em: <https://www.unicef.org/brazil/declaracao-universal-dos-direitos-humanos>. Acesso em:
11 mai. 2021.
6 TRINDADE, Antônio Augusto Cançado. A proteção internacional dos direitos humanos e o Brasil
(1948-1997): as primeiras cinco décadas. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2ª ed. 2000. p .24.
7 TRINDADE, Antônio Augusto Cançado. Repertório da Prática Brasileira do Direito Internacional
Público (período 1941-1960). Brasília: Ministério das Relações Exteriores/Fundação Alexandre de
Gusmão, 1984. p. 231-232.
Sessão, realizada em 19 de dezembro daquele ano (entrando em vigor,
contudo, apenas em 03 de janeiro de 1976). No artigo 13 deste Pacto, o direito
à educação foi tratado como elementar ao pleno desenvolvimento da atividade
humana e de sua dignidade, sendo essencial à capacitação das pessoas e à
formação de uma sociedade livre, tolerante e capaz de cultivar a amizade entre
as nações e os diversos grupos raciais, étnicos e religiosos.
8 SILVA, Túlio Macedo Rosa e. Liberdade sindical e controle de convencionalidade. São Paulo:
Universidade de São Paulo - Faculdade de Direito, 2018. p. 39.
Silva9, tornando anacrônico qualquer diferenciação entre direitos humanos e
direitos fundamentais.
9
Op. Cit.p. 27-28.
10 URA, Nicole Borges de Carvalho. Justiça social: a responsabilização do Estado no fornecimento
do direito à educação. Fórum Administrativo - FA, ano 20, n. 202, p. 36-73, dez. 2017. Disponível em:
https://www.forumconhecimento.com.br/periodico/124/21118/39422. Acesso em: 11 mai. 2021. p. 37.
11 SUNDFELD, Carlos Ari. Fundamentos de Direito Público. 5. ed. São Paulo: Malheiros, 2014. p. 55.
12 ALEXY, Robert. Teoria dos Direitos Fundamentais. Trad. Virgílio Afonso da Silva. São Paulo:
Editora Malheiros, 2011. p. 434, 450 e 499.
E seguindo esta compreensão, Silva13 argumenta que os direitos de
segunda dimensão possuem uma dupla função, “de um lado, serve como
fundamento para assegurar um padrão de vida adequado, enquanto de outro
constitui fundamento garantidor de independência e liberdade”.
Sarlet15 ainda aponta que a Constituição do Brasil é tida por social desde
o seu preâmbulo, e tem localizados já em sua parte inicial os axiomas a guiar
toda a atuação do Estado, pois “os direitos fundamentais constituem
parâmetros hermenêuticos e valores superiores de toda ordem constitucional e
jurídica”.
13
Op. Cit. p. 49.
14 SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 37. ed. São Paulo: Malheiros,
2014. p. 92.
15 SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais. 11. Ed. Porto Alegre: Livraria do
Advogado, 2012, p. 66.
saber; o pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e a coexistência
de instituições públicas e privadas de ensino; bem como a gratuidade do
ensino público em estabelecimentos oficiais, entre outros.
Por sua vez a educação de nível superior no Brasil é regida pela Lei nº
9.394/96 (que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional):
16 HACHEM, Daniel Wunder; KALIL, Gilberto Alexandre de Abreu. O direito fundamental social à
educação e sua maximização por meio da função extrafiscal dos tributos: o exemplo do Programa
Universidade para Todos (Prouni). Revista de Direito Administrativo e Constitucional - A&C, ano 24,
n. 66, p. 153-177, out./ dez. 2016. Disponível em:
https://www.forumconhecimento.com.br/periodico/123/107/863. Acesso em: 12 jan. 2021. p. 159-160.
para o Brasil, em 24 de abril de 1992, na forma de seu art. 27, parágrafo 2°,
dando, posteriormente, ensejo ao Decreto nº 591, de 06 de julho de 1992.
Desta forma, o art. 5º, §2º da Constituição Federal já imprime, por si só,
a ideia da hierarquia constitucional dos direitos humanos enunciados em
tratados internacionais ratificados pelo Brasil, pela própria natureza material
constitucional que tais direitos possuem. Hão de compor, pois, o bloco de
constitucionalidade de nosso ordenamento, como ressalta Canotilho19 ao firmar
que “a orientação tendencial de princípio é a de considerar como direitos
extraconstitucionais materialmente fundamentais os direitos equiparáveis pelo
seu objeto e importância aos diversos tipos de direitos fundamentais”.
17 PIOVESAN, Flávia. Direitos Humanos e o Direito Constitucional Internacional. 15 ed. São Paulo:
Saraiva, 2015. p. 113.
18 DALLARI, Pedro. Constituição e relações exteriores. São Paulo: Saraiva, 1994. p. 162.
19 CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito constitucional. 6. ed. rev. Coimbra: Livraria Almedina, 1993. p.
528.
Segue-se, assim, a posição de que a Constituição Federal é, quanto aos
direitos humanos fundamentais, aberta e passível de complementação, na linha
defendida por Piovesan20:
20
Op. Cit. p. 117.
21
Op. Cit. p. 901.
22
Op. Cit. p. 118.
23
Op. Cit. p. 128.
pois, a força material da norma constitucional em detrimento de formalismos.
Inclusive, este é o mesmo ensinamento do Ministro Celso de Mello quando do
julgamento do HC 87.585-8, em 12 de março de 2008, oportunidade em que
asseverou:
O Pacto ainda impõe (no mesmo art. 13) aos Estados Partes que
assegurem, entre outros: a) educação primaria obrigatória e acessível
gratuitamente a todos; b) educação secundária em suas diferentes formas,
inclusive a educação secundária técnica e profissional, a ser fornecida de
forma generalizada e acessível a todos, por todos os meios apropriados e,
principalmente, pela implementação progressiva do ensino gratuito; c)
educação de nível superior igualmente acessível a todos, com base na
capacidade de cada um, por todos os meios apropriados e, principalmente,
pela implementação progressiva do ensino gratuito.
É expresso, portanto, o comando do Pacto, ratificado pelo Brasil e que
compõe seu bloco de constitucionalidade, de que mesmo a educação de nível
superior deve seguir o direcionamento de uma implementação progressiva de
gratuidade. Esse comando, soma-se, pois, ao art. 206, IV da CF/88 que traz,
como já indicado, a gratuidade em estabelecimentos oficiais.
26 SANTOS, Gustavo Ferreira; TEIXEIRA, João Paulo Allain; ARAÚJO, Marcelo Labanca Corrêa de.
Diálogo entre tribunais e proteção de direitos humanos: dificuldades e perspectivas. Revista de
Direito Administrativo e Constitucional - A&C, ano 24, n. 66, p. 267-282, out./ dez. 2016. Disponível
em: https://www.forumconhecimento.com.br/periodico/123/107/859. Acesso em: 14 jan. 2021. p. 277.
como visto a especialização latu senso) foram expressamente ratificados pelo
Brasil mediante adesão ao Pacto Internacional sobre os Direitos Econômicos,
Sociais e Culturais, o que implica a necessidade de verificação da
(in)convencionalidade da decisão do Supremo Tribunal Federal, no Recurso
Extraordinário (RE) 597854, que possibilitou a cobrança por cursos de
especialização lato sensu.
O ministro Luiz Fux, por sua vez, em seu voto, ponderou que o direito à
educação, por ser um direito fundamental, deve sempre buscar a sua máxima
efetividade, em termos quantitativos e qualitativos. Portanto, para ele, quando
se trata de direitos sociais, a proibição à proteção insuficiente pauta a extensão
da obrigação positiva que pode ser exigida do Estado, in verbis:
29
Op. Cit. p. 103.
Consoante já acima delineado, o Pacto Internacional sobre os Direitos
Econômicos, Sociais e Culturais reconhece a educação como um direito de
todos, sob a razão de que ela visa o pleno desenvolvimento da personalidade
humana e fortalece o respeito pelos direitos humanos e liberdades
fundamentais.
Assim, em seu art. 13, o PIDESC elenca alguns preceitos que devem ser
observados para assegurar o pleno exercício do direito à educação, dentre os
quais, encontra-se a implementação progressiva do ensino gratuito na
educação de nível superior.
30 ALEXY, Robert. Teoria dos direitos fundamentais. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 2017. p. 90-91.
31 SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais. 2. ed. Porto Alegre: Livraria do
Advogado, 2001, p. 99.
32 DWORKIN, Ronald Myles. Levando os direitos a sério. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2010. p.
40.
33 BARROSO, Luís Roberto. Curso de direito constitucional contemporâneo: os conceitos
fundamentais e a construção do novo modelo. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 255.
Com efeito, a técnica da subsunção, em que uma premissa maior
(norma) incide sobre uma premissa menor (fatos) e se chega a uma conclusão,
não é suficiente para tratar de situações que envolva colisão entre direitos
fundamentais ou princípios, pois nestes casos há várias premissas maiores e
uma menor e, assim, ao eleger apenas uma daquelas, estar-se-ia violando a
unidade da Constituição.
Na vida, tudo que não esteja funcionando bem deve ser objeto
de algum tipo de reflexão e de diagnóstico adequado para que
se adotem políticas públicas adequadas. [...] Portanto, nós
precisamos, corajosamente, fazer um diagnóstico a propósito
da universidade pública no Brasil, porque a regra é que existam
greves, e greve, evidentemente, é um recurso extremo quando
as negociações não funcionam. Portanto, nós temos um
sistema que todo ano deixa de funcionar. Alguma coisa está
errada e, portanto, é preciso, eu penso, que as melhores
cabeças se debrucem sobre o problema da universidade
pública, para detectar os problemas e propor as soluções.34
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 37. ed.
São Paulo: Malheiros, 2014.