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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

CCAA - CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS APLICADAS


DCF - DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS FLORESTAIS

Ritcharlison Rocha dos Santos Nunes


Thaise Kate Silva dos Santos
Victor Souza Seixas de Oliveira

Sistema Agroflorestal (SAF) no Assentamento Maria Bonita em Simão Dias-SE

São Cristóvão
2023
SUMÁRIO

Introdução ................................................................................................................................ 3
Simão Dias ................................................................................................................................ 3
O Assentamento Maria Bonita ............................................................................................... 4
Justificativa............................................................................................................................... 5
Objetivo Geral .......................................................................................................................... 6
Objetivos Específicos ............................................................................................................... 6
O Projeto (Metodologia) .......................................................................................................... 6
Cronograma.............................................................................................................................. 8
Resultados esperados. .............................................................................................................. 9
Referências bibliográficas ..................................................................................................... 10
Introdução

A região semiárida apresenta mais de onze mil espécies catalogadas sendo os grupos
das leguminosas, gramíneas, euforbiáceas, bromeliáceas e cactáceas os principais
representantes botânicos, além do estrato herbáceo-graminoso. Possui precipitações médias
anuais inferiores a 800 mm com risco de seca superiores a 60%, logo a região está suscetível a
intensos processos de desertificação, sendo sua densidade vegetal diretamente associada à
estação chuvosa, quando a área foliar das espécies arbóreas se intensificam (SA, 2009).

O sistema Agrossilvipastoril garante diversos benefícios de utilização, nas quais há


produção integrada de culturas florestais, culturas agrícolas e/ou animais, possibilitam a
diversificação da produção e o aumento da produtividade e lucro interno, além de proporcionar
maior diversidade de espécies, tornando a atividade viável economicamente e ecologicamente
(VALE, 2004). Em seus diversos trabalhos Franke e Furtado (2001) afirmam que sistemas
agrossilvipastoris apresentam lucratividade significativa. Destacam ainda que esses modelos
podem apresentar rentabilidade superior aos cultivos anuais de soja e milho.

Com tudo, este trabalho propõe a implantação de um Sistema Agrossilvipastoril no


Assentamento Maria Bonita que está localizado no município de Simão Dias na região centro-
sul do estado de Sergipe.

Simão Dias

Simão Dias é o 11° lugar em termos de área entre os municípios do estado de Sergipe
(Ibge, 2022), com uma área de 560,199 km² e 42.578 habitantes, o município possui
precipitação e temperatura médias anuais de 872,3 mm e 24,1 ºC, respectivamente. As chuvas
ocorrem de março a julho (Figura 01) e o clima é tipicamente semiárido (Emdagro, 2022).
Figura 01. Dados da precipitação anual do município de Simão Dias-SE.

Fonte: Weatherspark, 2023

Os principais produtos agrícolas do município são o milho em grão, mandioca, banana


e feijão que atingem rendimentos médios anuais de 4.703 kg/ha, 11.502 kg/ha, 10.756 kg/ha e
868 kg/ha, nesta ordem. Além das culturas plantadas, há uma diversa exploração de rebanhos,
onde destacam-se os galináceos, com rebanho médio acima de 220 mil cabeças, e os bovinos,
com efetivo médio acima de 30 mil cabeças (Emdagro, 2022).

O Assentamento Maria Bonita

O Assentamento Maria Bonita possui 23 anos, foi o quarto projeto de assentamento


implantado no município de Simão Dias, teve o seu início em 1998 quando dois dirigentes do
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), ao percorrerem a Fazenda Poções,
perceberam que a mesma se encontrava totalmente abandonada pelo proprietário, tratando-se
de um latifúndio improdutivo passível de desapropriação. Naquele mesmo ano, houve uma
reunião envolvendo os dirigentes do MST no Povoado Salobra com o intuito de saber se eles
estavam interessados em ocupar o território e após a explicação dos objetivos da ocupação,
orientações e com o retorno positivo por parte dos presentes, o ato de ocupação teria sido
firmado. A emissão de posse pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária de
Sergipe (INCRA) no Assentamento Maria Bonita ocorreu em 14 de dezembro de 2000
(Oliveira, 2019).
O Assentamento, está a aproximadamente 110 km da capital do estado, Aracaju, possui
uma área total de 1.010,7 ha (Incra, 2017), e 131 habitantes (Emdagro, 2022), o que equivale
de 0,3% da população total do município de Simão Dias com um rendimento médio de R$
221,17. No local, podem ser observadas as seguintes atividades: produção de ovinos,
galináceos e milho.

O clima é quente e semiárido, o solo é predominantemente planossolo, são solos


bastante susceptíveis à erosão, apresentando ligeiro excesso d'água no curto período chuvoso e
um grande ressecamento no período seco, tendo o horizonte Bt condições físicas pouco
favoráveis à penetração das raízes (Funceme, 2014).

Na região prevalece a vegetação de caatinga hipoxerófila, onde as espécies de maior


ocorrência são: Anadenanthera macrocarpo (angico); Schinopsis brasiliensis (braúna);
Astronium urundeuva (aroeira); Spondias tuberosa (umbuzeiro); Croton sp. (marmeleiro);
Croton sp. (quebra-faca); Bursera leptophloeos (imburana-de-cambão); Caesalpinia
pyramidalis (catingueira); Cassia excelsa (canafístula-de-besouro); Ziziphus joazeiro
(juazeiro); Cereus jamacaru (mandacaru); Erythrina velutina (mulungu); Mimosa sp. (unha-
de-gato) e Mimosa hostiIis (jurema preta) (Silva, 2018).

Justificativa

No levantamento feito pela Secretária de Assistência Social (SEASC) do Estado de


Sergipe em 2019 apontou casos alarmantes da distribuição de pobreza urbana e rural com foco
no município de Simão Dias e Poço Redondo que juntos mostraram mais de 22.000 pessoas
com problemas ligados ao descarte de lixo, tendo Simão Dias expressado maior pobreza nas
regiões rurais.

Outro levantamento foi referente a falta de acesso ao saneamento básico, com casos
extremos onde os habitantes não possuíam vaso sanitário, sendo Simão Dias o segundo
município com maior destaque na pesquisa, atrás de Lagarto com 13.000 indivíduos.
Apesar dos níveis de pobreza no município de Simão Dias, a região está fortemente
ligada à agricultura tendo como uma das principais fontes de renda da população, sendo
essencial sua permanência e ampliação tecnológica e socioambiental.Cuenca (2016), observou
que no período de 1990 a 2014 os municípios de Poço Verde e Simão Dias foram os maiores
responsáveis pela produção de milho em Sergipe contribuindo com taxas anuais de crescimento
de 25,3% e 25,1% respectivamente.

Os dados obtidos são referentes ao modelo convencional de agricultura,


majoritariamente monocultura, que em âmbitos ambientais pode ser responsável pela escassez
e contaminação de água, degradação do solo e perda da biodiversidade. Na esfera social o
método convencional ocasiona a exclusão de agricultores que não sustentam o cultivo devido
a demanda dos insumos de manejo com alto custo, além de maquinários indisponíveis.

Diante do exposto, se faz necessário a implementação do Sistema Agrossilvipastoril no


assentamento Maria Bonita de Simão Dias, como meio alternativo de suporte para a
subsistência dos moradores locais. O uso de sistema produtivos sustentáveis proporciona um
cenário mais democrático do ponto de vista socioeconômico, somado a formação de um sistema
agrossilvipastoril dinâmico e sustentável na esfera econômica e ambiental, auxiliando também
na conservação do solo e seu uso racional (Padovan, 2012).

Paludo e Costabeber (2012), ressaltam que a agricultura sustentável é uma importante


ferramenta na conservação da biodiversidade e que atua de frente contra a pobreza no âmbito
rural. Somado a isso, o uso de SAF’s com maior biodiversidade possibilita o melhor uso dos
recursos naturais e em decorrência disso os cultivos são manejados com o menor uso de
insumos externos, tornando um sistema mais acessível e barato na agricultura familiar ao
mesmo tempo que gera segurança alimentar base para a comunidade (Padovan e Cardoso,
2013).
Objetivo Geral

O foco do projeto será a produção de alimentos para autoconsumo, além de suprir as


necessidades de lenha e madeira das famílias e contribuir na conservação da biodiversidade
local, uma vez que a introdução do SAF reduz a pressão de uso sobre a vegetação nativa local
e possibilita o uso mais racional do solo
Objetivos Específicos

● Enriquecimento e melhoria da vida do solo pelo não uso do fogo;


● Maior disponibilidade e diversidade de alimentos em quantidade e qualidade
para as famílias, principalmente fora da época de produção, ou seja, durante
escassez das chuvas.

O Projeto

Atualmente, a modalidade de cultivo adotada pelos assentados é a agricultura


convencional, não há sistemas de irrigação e nem o uso de técnicas convencionais, como a
aplicação seletiva de fertilização química ou de agrotóxicos.

Serão utilizados 5 ha para introdução do Sistema Agroflorestal (SAF), o que


corresponde a 0,5% da área total do assentamento, que será dividida em 120 parcelas de 25 x
20 m, 500 m² cada. A governança da área será distribuída entre as famílias assentadas. Durante
o desenvolvimento do projeto, os assentados receberão assistência técnica e oficinas de
saneamento rural.

Na localidade, a produção de árvores ainda não ocorre, desta forma, o desenho da área
prevê o estabelecimento de linhas de árvores em canteiros, consorciadas com cultivos
destinados à produção diversificada de alimentos e/ou forragens nas entrelinhas das árvores.
Além das culturas já trabalhadas, a produção será diversificada com a adição de cultivos que
não são de fácil acesso às famílias, como, banana (Musa ssp.) e sabiá (Mimosa
caesalpiniaefolia).
Características das espécies escolhidas para compor o sistema:

Nome científico Nome vulgar Porte Hábito Usos

Spondias tuberosa umbuzeiro baixo arbóreo A, F, Me, Nm, S

Musa ssp. banana baixo herbáceo A, S, Fe

Mimosa caesalpiniaefolia sabiá baixo arbusto F, Ma, S, L, Ca

Manihot esculenta mandioca baixo herbáceo A, F, P, Fe

Zea mays milho baixo herbáceo A, C

A = Alimentícia, F = Forragem, Me = Medicinal, Ma = Fornecimento de Madeira, Nm =


Fornecimento de Produto Florestal Não-Madeireiro, S = Sombra, C = Ciclagem de Nutrientes, L =
Lenha, Ca = Carvão, P = proteção Agrícola e Animal, Fe = Fertilizante

O SAF terá a seguinte configuração em uma parcela de 500 m² :


Em sua totalidade o sistema irá comportar as seguintes quantidades de plantas:

Item Componente 500 m² Espaçamento Plantio 1 ha 6 ha

1 umbuzeiro 9 10 x 12,5 m Linha 180 1.080

2 sabiá 6 2x2m Entre planta 120 720

3 mandioca 40 1x4m Entre linha 800 4.800

4 milho 60 1x4m Linha 1.200 7.200

5 banana 6 2x2m Entre planta 120 720

Total - 121 - - 2.420 14.520

Durante o processo de instalação e acompanhamento do sistema, o trabalho realizado


será manual através de equipamentos que já estão em posse dos assentados (foice, facão,
enxada, etc.). O controle de ervas daninhas será realizado por meio de capinas regulares. Para
o controle de pragas será realizada a soltura moderada dos galináceos existentes no
assentamento e quando houver a produção de mandioca, a manipueira ou tucupi, poderá ser
utilizado após 48 horas de sua prensagem como fertilizante, defensivo de insetos nas culturas,
controle de parasitos externos nos animais e fonte de nutrientes para os mesmos (Meira e Leite,
2009) .

Cronograma
Resultados Esperados

Com a implantação do Sistema Agrossilvipastoril no assentamento busca-se


suprir as necessidades básicas de consumo para alimentação e renda das famílias locais,
atingindo números viáveis nos indicadores de Taxa Interna de Retorno e Custo-benefício, ao
mesmo tempo que o sistema deve proporcionar maior biodiversidade e conservação do solo
local quando comparado a monocultura de milho. As frutas são consumidas pela família, bem
como, os excedentes são vendidos em feiras agroecológicas e também transformadas em
subprodutos como polpas de frutas e vendidas em estabelecimentos comerciais, gerando renda
para a família. As espécies arbóreas conseguiram contribuir para a conservação do meio
ambiente e para a extração sustentável de produtos florestais não madeireiros e madeireiros (no
caso de espécies exóticas).

Após a realização de uma pesquisa de mercado e por dados do Centro de Estudos


Avançados em Economia Aplicada (CEPEA) da Universidade de São Paulo (USP) constatou-
se um levantamento dos valores referentes ao mês de setembro de 2023, para Banana (Musa
sapientum) onde o quilo está custando o valor médio de 5,30 reais; Para o milho (Zea mays) o
saco de 60 Kg (quilos) está aproximadamente 53,87 reais com taxas de variação inferiores a
0,3%; A mandioca (Manihot esculenta) está em valores médio de 786,77 reais por tonelada;
Referente ao Umbu (Spondias tuberosa) foram encontrados valores de 33,00 reais o quilo,
aproximados (em polpa). Com o exposto percebe-se a viabilidade do modelo para a obtenção
de renda por diferentes culturas em tempos de colheita distintas e principalmente para o uso e
permanência de forma digna das famílias no local em questão.
Referências Bibliográficas

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ciclagem de nutrientes com uso da leguminosa Ingá edulis Mart. para produção de mandioca
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em assentamentos rurais no município de Simão Dias – SE, utilizando o método ISA. 2018.
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de Sergipe, São Cristóvão, SE, 2018.

Endereço para os dados da Secretaria de Estado da Assistência Social e Cidadania de Sergipe


(SEASC - SE): https://assistenciasocial.se.gov.br/institucional/identidade-
estrategica/#:~:text=Canhoba%2C%20Graco%20Cardoso%2C%20Arauá%2C,em%20relaçã
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INCRA - relatório de assentamentos - painel.incra.gov.br

MEDEIROS, M. C.; SOUZA, E. S. Forma Sustentável de Convivência com o Semiárido:


Estudo em Agroflorestas no Sertão do Rio Pajeú. In: III Workshop Internacional sobre Água
no Semiárido Brasileiro. 2019.

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biodiversos no semiárido baiano: A experiência da EFA Mãe Jovina. Cadernos Macambira.

Informações obtidas pela FUNCEME (Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos


Hídricos) através do endereço:
http://www.funceme.br/?p=1014#:~:text=S%C3%A3o%20solos%20bastante%20suscept%C
3%ADveis%20%C3%A0,favor%C3%A1veis%20%C3%A0%20penetra%C3%A7%C3%A3o
%20das%20ra%C3%ADzes.

Fonte utilizadas para a Figura 1: Condições climática do município (Weatherspark) no


seguinte endereço:
https://pt.weatherspark.com/y/31142/Clima-caracter%C3%ADstico-em-Sim%C3%A3o-Dias-
Brasil-durante-o-ano#Figures-Rainfall

Dados para o uso de plantas forrageiras, site Embrapa, 2021:


https://www.embrapa.br/agencia-de-informacao-tecnologica/tematicas/bioma-
caatinga/flora/forrageiras
Fichas Agroecológicas Tecnologias Apropriadas para Agricultura Orgânica PDF, endereço:
https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/sustentabilidade/organicos/fichas-
agroecologicas/arquivos-sanidade-vegetal/26-uso-de-manipueira.pdf

INSA- https://www.gov.br/insa/pt-br/semiarido-brasileiro

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