Deficiência Física
Deficiência Física
Deficiência Física
O conceito de deficiência que cada um de nós tem é formado por vários aspectos: nossa
história de vida, nosso contato pessoal e profissional com pessoas com deficiência física e
nossos conhecimentos sobre o tema. Certamente, eles influenciam a visão que temos dos
estudantes que estão conosco na viagem da aprendizagem e do conhecimento.
“pessoas com deficiência são aquelas que têm impedimentos de longo prazo de natureza
física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem
obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as
demais pessoas." (Brasil, 2009).
A CIF traz alterações significativas no olhar sobre a pessoa com deficiência, para além do olhar
predominantemente médico, propondo uma visão mais humanizada e holística e
reconhecendo os aspectos multidimensionais que engendram a subjetividade da pessoa com
deficiência; uma visão que mede o estado funcional dos indivíduos, além de permitir a
avaliação das suas condições de vida e fornecer subsídios para a formulação de políticas
públicas de inclusão social (HASHIZUME, 2020).
Desde 2007, a CIF foi adotada pela legislação brasileira para a implementação do Benefício de
Prestação Continuada (BPC), um benefício assistencial de transferência de renda às pessoas
com deficiência e idosos pobres, (DINIZ, BARBOSA, SANTOS, 2009) e vem ajudando na
avaliação e no diagnóstico, especialmente das pessoas com deficiência física.
Existem vários filmes comerciais que podem ilustrar a deficiência física. Entre eles, sugerimos:
A deficiência física tem diferentes formas de se manifestar: pode ser temporária, permanente,
progressiva, regressiva ou estável; intermitente ou contínua; e pode produzir, direta ou
indiretamente, graus de limitação variados, incluindo distúrbios da fala, da linguagem e do
comportamento e transtornos orgânicos.
As deficiências físicas podem afetar de um até quatro membros de uma pessoa. Por isso, é
necessário que o docente saiba a condição do estudante e quais as limitações e possibilidades
que ele tem para que possa acolhê-lo.
Por exemplo, quando um estudante não pode movimentar as pernas, as atividades que
envolverem a utilização delas ficarão comprometidas, mas é possível que ele não tenha
nenhum problema para escrever.
Outro exemplo muito comum é o das pessoas com paralisia cerebral (PC), uma condição
gerada por falta de oxigenação cerebral, variando de leve a grave. De acordo com a condição,
aparecem sinais musculares, como fraqueza, hipotonia, espasticidade e rigidez. Também é
possível que algumas não consigam falar ou andar. Ainda, pode haver deficiência intelectual
ou epilepsia associadas.
Principalmente, devem ser incluídas na vida social, e a escola é o espaço que, por excelência,
desenvolve o convívio e a vida em comunidade.
Pensar nas manifestações da deficiência física e na forma como elas afetam o indivíduo e suas
relações sociais é importante para entendermos o que deve ser feito na escola e quais
caminhos devemos percorrer para que ações e até mesmo termos excludentes deixem de
fazer parte do cotidiano. Para tanto, podemos nos instrumentalizar assistindo a filmes,
participando de discussões que nos ajudem a refletir sobre a condição da deficiência e nos
abrindo para o diálogo e a compreensão das diferenças. Assim, seremos mais capazes de
brigar por políticas públicas mais eficientes e por condições de acessibilidade nos diversos
espaços e equipamentos de educação, trabalho e lazer, para além do espaço escolar.
É necessário entender que pessoas com deficiência física sofrem, ao longo da vida, condições
ou barreiras que podem gerar um constante processo de luto, que é revivido a cada nova
etapa não conquistada ou conquistada de forma inadequada. A partir do momento da notícia,
passando pela negação, raiva, barganha, lamentação e chegando à aceitação, é um processo
longo.
Embora seja uma experiência muito particular e definida de várias formas, esse processo exige
que reconheçamos internamente a importância da criação de condições para que pessoas com
deficiência física se desenvolvam da melhor forma possível e de dar espaço para serem quem
são, com suas fragilidades e potencialidades.
A acessibilidade diz respeito a todas as áreas da vida diária da pessoa, quer seja na sua
definição, quer seja na legislação.
O direito à acessibilidade é uma das formas de possibilitar que a pessoa com deficiência física
consiga se locomover com segurança, autonomia e independência no local em que vive. No
entanto, obstáculos físicos nas cidades, por exemplo, podem forçar esses indivíduos a
permanecerem isolados em suas residências, o que os impede de usufruir do direito à cidade,
dos espaços públicos e privados e da convivência com outras pessoas, diminuindo sua
participação social como cidadão e suas oportunidades de aprendizagem.
Sabe quando a gente pega uma estrada e algumas coisas acontecem e nos deixam exaustos,
praticamente nos tirando o prazer da viagem? Pode ser o trânsito ruim, um acidente, a falta de
parada para ir ao banheiro, o pneu que fura... Essas situações que dificultam a nossa chegada e
desmotivam nossa viagem são barreiras.
Urbanísticas - Quando as cidades não têm rampas ou outras formas de preparo das ruas e vias
para receber todos os tipos de pessoa.
Transportes - Quando não há, nas diversas formas de transporte, meios para receber e
acomodar pessoas com deficiência.
Tecnológicas - Quando o uso das tecnologias não é acessível impedindo o uso por uma pessoa
com deficiência.
Atitudinais
Por fim, destacam-se aquelas que revelam a falta de empatia, preconceitos e estigmas nas
respostas às barreiras arquitetônicas ou comunicacionais.
Para refletir
João é um menino de 13 anos que frequenta a Escola Estadual Aninha em sua cidade natal e
está no 3º ano do Ensino Fundamental Anos Finais. Ele nasceu com apgar 4 e depois 2. O
diagnóstico dele foi Paralisia Cerebral. Ele apresenta dificuldades na aprendizagem e nos
relacionamentos familiares e com os amigos.
O problema é que a avó materna acusa o genro o tempo inteiro pela dificuldade do menino
dizendo: “Pedro, na minha família não tem ninguém assim, deve ser da sua”. Ele tem uma
pessoa que o ajuda na aula, mas que entende que somente deve fazer os cuidados básicos de
alimentar e higienizar. Quando a professora pediu uma ajuda, ela falou: “A professora é você,
e não eu. Além do que, nem sei isso que você está ensinando”. O menino não pode sair da sala
de aula porque as escadas são difíceis de serem subidas e precisa o tempo todo de ajuda de
diversos funcionários.
Capacitismo
As questões que envolvem as pessoas com deficiência, muitas vezes, vêm diferenciadas pelos
sentimentos daqueles que se relacionam com elas, e não de fato baseadas em seus direitos
fundamentais...
Capacitismo é:
Trata-se de uma demanda urgente que visibilize tal opressão contra as pessoas com
deficiência. Por consequência, deve-se dar maior visibilidade social e política a este grupo. Para
desconstruir as fronteiras entre deficientes e não deficientes, “é necessário explorar os
meandros da corponormatividade de nossa estrutura social ao dar nome a um tipo de
discriminação que se materializa na forma de mecanismos de interdição e de controle
biopolítico de corpos com base na premissa da (in)capacidade” (MELLO, 2016, p. 5).
Muitas vezes, o capacitismo está presente em situações sutis e subliminares, acionado pela
repetição de um senso comum que imediatamente liga a imagem da pessoa com deficiência a
alguma das variações dos estigmas construídos socialmente, aos quais se está habituado e, por
isso, tendem a não serem percebidos e questionados. Porém, quando o capacitismo é óbvio e
visível, ele declara uma outra coisa: ele mostra o quanto esse preconceito ainda é naturalizado
como se fosse aceitável ou inevitável.
A seguir, listamos algumas expressões muito utilizadas culturalmente. Queremos propor que
você reflita sobre seu significado/sentido.
1. “Dar uma de João sem braço”.
3. “Nossa! E eu que não tenho nenhuma deficiência, fico aqui reclamando da vida!”
4. “Mesmo sem os dois braços, ela nada melhor do que eu. É um exemplo de superação."
A aprendizagem pode se tornar mais eficiente se tivermos uma meta a longo prazo. Quando
trabalhamos com um estudante em sala de aula, estamos trabalhando com um futuro
trabalhador. Pensar a pessoa com deficiência dessa forma pode ajudar você, docente, a
compreender um pouco mais a sua responsabilidade com estudantes com deficiência.
• JESUS, Kátia L de Camargo. Inclusão laboral da pessoa com deficiência física. INSS – Gerência
Executiva de Osasco, SP. Disponível em:
http://www.cvs.saude.sp.gov.br/up/INCLUS%C3%83O%20LABORAL%20DA%20PESSOA%20CO
M%20DEFICI%C3%8ANCIA%20F%C3%8DSICA.pdf. Acesso em: 6 abr. 2022.
A educação inclusiva de crianças e jovens e as cotas para pessoas com deficiência física em
empresas como medida para auxiliar na empregabilidade são exemplos de iniciativas que
contribuem para a inserção social e a melhoria da qualidade de vida.
Isso quer dizer que é necessário remover as barreiras que os impedem de aprender. (GALERY
et al, 2017)
As unidades escolares devem oferecer educação para qualquer estudante, com e sem
deficiência. E conseguir oferecer a todos iguais oportunidades de aprendizagem exige reflexão
sobre formas de conduzir as aulas e de se relacionar com as turmas.
é fundamental, para uma proposta educacional voltada para a inclusão, que o professor possa
contar com a participação de colegas e outros profissionais para repensar a estratégia de aula
e rever o plano de ensino.
Assim como cada pessoa com deficiência é única, cada sala de aula deverá ser preparada para
incluir aquele(a) estudante com deficiência, o que exige também que se pense sobre os(as)
colegas de classe das pessoas com deficiência.
As relações estabelecidas entre o estudante com deficiência e seus colegas figuram entre os
componentes mais importantes para a manutenção e a inclusão
satisfatória da pessoa com deficiência na instituição de ensino. Essa importância pode ser
observada desde os primeiros anos da vida escolar, em que, conforme Siems-Marcondes
(2018),
Segundo Masini e Bazon (2005), essas relações são relatadas por estudantes com deficiência
como fonte de muito valor ou de muito sofrimento, a depender da interação estabelecida. Nas
respostas de seu estudo, as autoras constataram que a maioria dos estudantes com deficiência
preza por um bom contato entre os pares, fato que os insere socialmente no ambiente
acadêmico. Destacam-se atividades de lazer, como ir a lanchonetes, festas e demais locais de
entretenimento. Quando isolados desse
A partir disso, ter uma pessoa com deficiência em sala de aula muda as condições de
aprendizagem de todos os envolvidos. Afinal, tornar o conhecimento acessível implica uma
mudança na forma como este vem sendo tradicionalmente apresentado nas salas de aula.
Estas mudanças serão positivas uma vez que se passar a levar em conta as necessidades e
limitações individuais dos estudantes.
Pela diversidade de sujeitos que frequentam a escola e a sala de aula e pela prática tradicional
de sala de aula ser baseada na fala do professor, é de se esperar que essa interação não seja
um processo inicialmente espontâneo e que nem toda interação seja, necessariamente,
produtiva (QUADROS, 2009).
O docente pode oferecer rodas de conversa sobre questões que envolvem a deficiência e a
diversidade em diferentes contextos.
Da mesma forma, pergunte ao estudante como ele necessita que o espaço físico seja
organizado e acomode a disposição das cadeiras para reduzir distrações e garantir o acesso
físico. Se o estudante usar cadeira de rodas ou muleta, pode precisar se sentar nas primeiras
carteiras.
Agora, seguem algumas orientações sobre como os docentes devem se posicionar diante de
alguns comportamentos e situações de estudantes com deficiência física na escola. Anote aí:
Tome nota
Pergunte sempre ao estudante como você deve agir. Ele saberá como orientar você. Caso
sejam crianças pequenas, sem repertório verbal, consulte a família ou os responsáveis. Se você
presenciar um tombo de uma pessoa com deficiência física, ofereça-se imediatamente para
auxiliá-la. Nunca aja sem antes perguntar a ela como prefere ser ajudada e, se ela recusar, não
tome como ofensa.
Mantenha as muletas ou bengalas sempre próximas à pessoa que as usa. Se achar que ela está
em dificuldades, ofereça ajuda e, caso seja aceita, pergunte como deve proceder. As pessoas
têm suas técnicas individuais para subir escadas, por exemplo, e, às vezes, uma tentativa
inadequada de ajuda pode até atrapalhar.
Não se acanhe em usar termos como “andar” e “correr”. As pessoas com deficiência física
empregam naturalmente essas mesmas palavras.
Ao conversar com uma pessoa em cadeira de rodas, sente-se para que vocês fiquem com os
olhos no mesmo nível e ela não precise ficar olhando para cima.
A cadeira de rodas (assim como as bengalas e muletas) faz parte do espaço corporal da pessoa,
é quase uma extensão do seu corpo. Apoiar-se nela é tão desagradável como fazê-lo numa
cadeira comum onde uma pessoa está sentada.
Se parar para conversar com alguém, lembre-se de virar a cadeira de frente para que a pessoa
também possa participar da conversa.
Ao empurrar uma pessoa em cadeira de rodas, faça-o com cuidado. Preste atenção para não
bater naqueles que caminham à frente.
Aprender é um processo que já começou em casa, e precisamos lembrar que muitas famílias
têm suas dificuldades emocionais para lidar com a deficiência física de seus filhos e pouco
investem na aprendizagem. O filme Shade: entre bruxas e heróis, de Rasko Miljkovic, ilustra
bem essa situação. (SHADE: entre bruxas e heróis. Direção: Rasko Miljkovic. Produção: Marko
Jocic. Sérvia/Macedônia: Cineart Filmes, 2019. [Filme-Vídeo].)
Tecnologias Assistivas
Um último ponto importante é a tecnologia assistiva definida por recursos e serviços para as
pessoas com deficiência e que possibilitam a elas autonomia,
Algumas tecnologias assistivas podem ser objetos não eletrônicos, como os seguradores de
lápis ou de colher, os engrossadores de lápis e as pranchas de comunicação; indicados por
profissionais da saúde, como órteses e próteses e adequação postural; muletas e cadeiras de
rodas. Outras, podem ser objetos um pouco mais sofisticados, como relógios digitais, celulares
e computadores com programas específicos; mouses e teclados adaptados; equipamentos de
controle remoto; e até mesmo veículos.
Adaptações importantes para o contexto escolar são aquelas que favorecem a postura, a
mobilidade e a comunicação. Cada estudante com deficiência física tem suas próprias
condições de mobilidade, e a adaptação que a tecnologia pode prover precisa ser
personalizada. Os recursos vão dos mais simples – por exemplo, bengalas – até os mais
complexos, como materiais de aula digitais e sistemas de computação.
• Exemplos de tecnologia assistiva na educação e como usar nas escolas. Educador do futuro ,
11 set. 2020. Disponível em: https://educadordofuturo.com.br/educacao/exemplos-
tecnologia-assistiva-educacao/. Acesso em: 6 abr. 2022.
• Tecnologias assistivas . Escola Digital: Professor. Paraná Inteligência Artificial (PIÁ). Disponível
em: https://professor.escoladigital.pr.gov.br/tecnologias_assistivas. Acesso em: 6 abr. 2022.
Esses materiais podem ser comprados ou desenvolvidos de forma individual para cada
estudante.
A legislação regulamenta a oferta de educação especial no estado de São Paulo, com destaque
para as normas constitucionais, as diretrizes e bases da educação nacional (LDB), as da Base
Nacional Comum Curricular (BNCC) e as do CEE, órgão próprio do sistema estadual de ensino.
Especial do Ministério da Educação. O Governo do Estado de São Paulo, por meio do Programa
de Implantação de Salas de Recursos Multifuncionais, instituído pelo MEC/SEESP por meio da
Portaria Ministerial nº 13/2007 (BRASIL, 2007), integra o Plano de Desenvolvimento da
Educação (PDE), destinando apoio técnico e financeiro aos sistemas de ensino para garantir o
acesso ao ensino regular e a oferta do Atendimento Educacional Especializado (AEE).
Como já vimos, os estudantes que têm direito à sala de recursos são os que possuem
deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e/ou altas habilidades e superdotação. É
destinada às redes municipais e estaduais de educação.
De acordo com o artigo 14º da Resolução 68 (SÃO PAULO, 2017), as ações de caráter
pedagógico complementar, quando desenvolvidas em Sala de Recursos, são realizadas de
acordo com a seguinte conformidade:
1. com turmas formadas por até sete estudantes da própria unidade escolar ou de escolas
diversas da rede estadual de ensino;
1. com turmas formadas por até três estudantes da própria unidade escolar;
De acordo com o Artigo 17 da Resolução (São Paulo, 2017), compete ao docente especializado:
IX – orientar os pais ou responsáveis pelos estudantes, bem como a comunidade, quanto aos
procedimentos educacionais e encaminhamentos sociais, culturais, laborais e de saúde;
Vimos como a legislação nos fornece os pontos importantes para garantir a nossa atuação,
mas o docente precisa ter posturas e ações que vão ajudá-lo a se introduzir nas salas de
recursos.
Por fim, é importante entender que a sala de recursos deve ser conduzida por profissionais
capacitados e que foram treinados especificamente para trabalhar
com os estudantes com deficiência. Por isso, os docentes devem compreender que seu
trabalho não é adaptar o currículo aos estudantes da sala de recursos,
e sim criar a oportunidade do desenvolvimento de habilidades para que eles mesmos atinjam
o currículo como os demais.
Um estudante com deficiência física, assim como os(as) demais colegas, poderá opinar sobre
as atividades que acha mais interessantes, e o docente, por sua vez, vai analisar se essa a
atividade é adequada para alcançar os objetivos para a aprendizagem desse e dos outros
estudantes, mas sem considerar se a atividade é a mais fácil para esse estudante, nem indicar
uma atividade diferente daquelas propostas para os estudantes sem deficiências.
É preciso acolher os estudantes com deficiência física e olhar para cada um deles em busca de
apreender as suas percepções, limitações e potencialidades.
Com certeza, seremos educadores melhores ao olharmos para esses estudantes e valorizarmos
o espaço e a importância que temos na vida deles.
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