E-Book Educando Filhos para A Vida
E-Book Educando Filhos para A Vida
E-Book Educando Filhos para A Vida
Simone Ottoni
Educando filhos
para a vida
Copyright ® 2019 by Editora Conquista Edição e Treinamento Ltda.
Todos os direitos desta edição são reservados à Editora Conquista.
DIRETORA EDITORIAL
Bárbara Chagas
SUPERVISORA EDITORIAL
Ana Carolina Chagas
COORDENAÇÃO EDITORIAL
Simone Ottoni
DIAGRAMAÇÃO
Nilton Teodoro dos Reis
CAPA
Carlos Renato
REVISÃO
Marcos Toledo
ISBN
978-85-5765-039-8
(21) 2146-2592
www.conquistaeditora.com.br
COAUTORES
Simone Ottoni
Fernanda Ligeiro
Patricia Pires
Karla Brando
Mônica Pessanha
Carla Almas
Karine Brock
Nelson Ferreira
Laura Borges
Rafaela Di Guimarães
Nataly Correia
Lyana Juffo
Cibele Vogel
Angela Lupo
Mariana Ferreira
Thainá Matos
Ana Paula Eckert
Mariana Boschi
Marina Magalhães
Grace Falcão
Eder Magri
Denise Franco
Milena Blanco
Beatriz Pakrauskas
Letícia Cordeiro
Raquel Tezelli
PREFÁCIO
Educar filhos para a vida não é uma tarefa fácil, pois é mais do que cuidar
e ensinar boas maneiras. Para alcançar esse objetivo é necessário que os
pais sejam dedicados a dar bons exemplos e a auxiliar seus filhos a en-
frentarem os desafios próprios de cada etapa do desenvolvimento deles.
Este livro nasce do desejo de facilitar esse processo, levando mais infor-
mações aos pais e cuidadores, capacitando-os para essa difícil missão.
No entanto, não deve ser visto como um manual que dita regras a serem
seguidas, mas que possa contribuir para uma reflexão e oferecer formas
de atuação mais assertivas.
Para que esse projeto fosse possível, foi importante contar com a expe-
riência de diferentes profissionais atuantes na área da Parentalidade, com
o mesmo propósito, que é o de auxiliar as famílias a identificarem suas
dificuldades, bem como oferecer alternativas para que elas lidem com
as mais variadas situações, resultando em um ambiente familiar mais
harmônico e saudável.
Com carinho,
Simone Ottoni.
SUMÁRIO
Simone Ottoni
Os Desafios da Maternidade e da Paternidade................................10
Fernanda Ligeiro
A Conexão com o Bebê Durante o Processo Gestacional..............18
Patricia Pires
Agora, Pais. Como Adaptar-se à Rotina do Bebê?..........................26
Karla Brando
Primeiros Passos, Primeiras Palavras.............................................. 32
Mônica Pessanha
Birra: O Que é e Como Lidar com Ela............................................. 38
Carla Almas
A Importância da Brincadeira no Desenvolvimento Infantil...... 44
Karine Brock
A Chegada de Um Irmãozinho: Como Lidar?................................ 52
Nelson Ferreira
A Criança e o Processo de Socialização........................................... 58
Laura Borges
A Criança como Membro de Uma Família Ampla: Relação com Ma-
drasta/Padrasto e Meios-Irmãos......................................................66
Rafaela Di Guimarães
A Entrada no Universo Escolar, e os Desafios Desta Fase..............74
Nataly Correia
Dificuldade de Aprendizagem: É Possível Aprender Mesmo Assim?....80
Lyana Juffo
A Visão que a Criança Tem de Si e do Mundo................................. 86
Cibele Vogel
Filhos por Adoção: A Importância de Revelar a Verdadeira História.....92
Angela Lupo
Como Falar dos Cuidados com o Corpo para Previnir o Abuso Se-
xual?..................................................................................................100
Mariana Ferreira
O Limite da Manifestação do Carinho: Cama Compartilhada, Beijo
na Boca, Banho, Etc.........................................................................108
Thainá Matos
Relação da Criança com Animais de Estimação...........................116
Grace Falcão
Disciplina Positiva: Educar Requer uma Dose Equilibrada de Fir-
meza e Gentileza..............................................................................140
Eder Magri
Pais Permissivos, Autoritários ou Negligentes: Quais os Riscos?.... 148
Denise Franco
Inteligência Emocional na Infância: Uma Conversa para Pais e Fi-
lhos....................................................................................................156
Milena Blanco
Como Lidar com o Uso da Internet?..............................................164
Beatriz Pakrauskas
Como Adotar uma Comunicação Não Violenta?.........................170
Letícia Cordeiro
A Organização Como Fator Diferencial na Educação Infantil...176
Raquel Tezelli
Automutilação na Adolescência: Um Grito Silencioso.................184
Simone Ottoni
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(11) 95756-7194
simone@clinicadafamiliapsi.com.br
@psicologasimoneottoni
clinicadafamiliapsi
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Os Desafios da Maternidade e da Paternidade
Educar filhos é um dos maiores desafios que um adulto pode enfrentar, pois
enquanto os filhos crescem, surge novos desafios e não há um “manual de
instruções” que atenda a todas as necessidades.
Muitos acreditam que o papel de pais começa a ser exercido com o nasci-
mento dos filhos, mas após uma reflexão sobre a mudança gerada durante
a gravidez, boa parte dessas pessoas passa a concordar que esse papel já era
exercido antes mesmo de ter o bebê nos braços.
O homem, apesar de não passar por essas transformações, sente uma mu-
dança significativa em seu jeito de pensar sobre a paternidade, entrando em
contato com inúmeras preocupações (especialmente a financeira) como ser
capaz de prover as necessidades da esposa e filho. Poderá sentir-se ainda mais
impactado ao se conectar com o bebê, se permitindo conversar e acariciar a
barriga da mamãe, acompanhar os exames, participar ativamente das escolhas
e planejamento familiar.
10
Desafios dos pais de bebês
Essa é uma das fases mais importantes, tanto para o bebê quanto para os
pais. A criança demanda maior cuidado e é totalmente dependente. Vale
ressaltar que os pais são as primeiras figuras reconhecidas pelo bebê e, por
meio do contato com eles, se estabelecerá a forma como irá se relacionar com
as demais pessoas.
Geralmente, nessa fase, a relação sexual é posta de lado por conta das deman-
das diversas. Por mais felizes que estejam com a chegada do bebê, o cansaço
é forte companheiro de ambos. Assim, é importante reconhecer e respeitar
os limites de cada um, compreendendo que é uma fase passageira e que, com
o tempo, encontrarão um momento para o casal.
11
O cérebro de uma pessoa se desenvolve até os vinte e um anos, mais ou menos,
mas é na primeira infância que ocorre o maior desenvolvimento, de maneira
que a criança aprende com mais facilidade. Tais experiências servem para
preparar a área do cérebro que desenvolverá todo o conhecimento adquirido.
Sendo assim, estimular a criança fará a grande diferença na aquisição de
conhecimentos, habilidades, atitudes e interesses.
Por volta dos três anos, os pequenos vão adquirindo certa independência
e querem fazer várias coisas sozinhos, como se vestir. Aos poucos, vão ga-
nhando o senso de responsabilidade, aprendendo o que é certo e errado e
entendendo que há coisas permitidas e outras não. Mas tudo isso dependerá
muito de como os pais os orienta.
Todo pai e mãe já foi criança e adolescente, mas na maioria das vezes se
esquecem de como é ser mais jovem e ter que acatar as ordens dos pais. Es-
pecialmente na adolescência, as relações tendem a ficar “estremecidas”, pois
é a fase em que os filhos começam a questionar e discordar de muitas coisas.
12
Saber lidar com os conflitos da idade é o grande segredo para manterem uma
relação harmoniosa e garantir que os filhos continuem se desenvolvendo de
maneira saudável.
O campo de conversa que foi criado nas fases anteriores poderá ser um grande
aliado nesse momento. Pais que adquirem o hábito de conversar com os filhos
sobre temas diversos, conseguem acompanhar os conflitos da adolescência
mais de perto, tendo abertura para falar sobre drogas, gravidez, entre outros
temas.
Sabemos que não adianta proibir, pois quando querem realizar algo encon-
tram uma maneira de fazê-lo às escondidas. Para evitar maiores aborreci-
mentos e danos, sugiro que sejam próximos de seus filhos e os levem a refletir
sobre as consequências de seus atos. Uma proibição deve ser acompanhada de
justificativa convincente, ou seja, que não seja baseada apenas na autoridade.
13
dos seus filhos. Explico também que é preciso considerar que nascemos em
uma época diferente, de maneira que se faz necessário ajustar aspectos de
como fomos criados e de como pretendemos educar.
Da mesma forma que os filhos não nascem com manual de instrução, os pais
não nascem sabendo o que é melhor para seus filhos, tudo isso é construído
com o tempo e convivência. Sem perceber, a maioria acaba repetindo compor-
tamentos que foram aprendidos com os pais e que nem sempre são eficazes.
Reforço que não existem pais perfeitos, mas para quem deseja o melhor para
os filhos, deve dar o seu melhor em tudo o que for realizar.
Para ajudá-los nesse grande desafio de educar filhos para a vida, vou listar
alguns aspectos que considero fundamentais nesse processo:
Demonstre afeto: em qualquer idade, os filhos precisam sentir que são amados.
A demonstração de afeto não é sentida apenas em palavras, aliás, o afeto tem
maior efeito quando é sentido nas atitudes e detalhes: no preparo da comida
favorita, no afago fora de hora, no apoio em um momento difícil (especialmente
quando achamos que não é merecido, como quando tira notas ruins). Cuidado,
amor e atenção são os maiores responsáveis pelo desenvolvimento da criança.
Mais presença, menos presentes: vivemos em uma era em que a ausência tende
a ser compensada com presentes, mas nada substitui a presença dos pais.
Grande parte dos pais trabalha fora e acaba terceirizando muito a educação
do seu filho, mas nem tudo é possível terceirizar, e você deve ter clareza disso.
Trabalhar mais para garantir que os filhos tenham tudo o que não puderam
ter e/ou satisfazer as vontades deles é um caminho muito delicado e perigoso.
Lembre-se de que momentos felizes são vivenciados pela interação e simpli-
cidade; isso custa bem menos!
Sejam pais e não amigos: é importante ser próximo dos filhos, mas até isso
deve ter um equilíbrio. Amigo é com quem trocamos confidências e, por mais
que você deseje estar a par de tudo o que acontece com seus filhos, não é sau-
dável manter uma relação tão estreita a ponto de um se tornar confidente do
outro. Os papeis podem ficar confusos e seus filhos podem ter problemas em
desempenhar esse papel quando precisarem. Portanto, sejam pais próximos,
mas permita que seus filhos elejam alguém para o papel de amigo.
14
Dê apoio e incentivo: quando se sentem apoiados, desenvolvem autoconfiança
e elevam a autoestima, de maneira que são capazes de realizar inúmeras
tarefas da melhor maneira possível. O incentivo é sempre um ingrediente
especial, principalmente em um momento em que os filhos acreditam não
serem capazes de fazer algo.
Dar autonomia: muitas vezes, acabamos fazendo muito por eles (para que
seja feito mais rápido) e vamos tirando deles a possibilidade de cuidarem de
si mesmos. Incentive, encoraje e valorize cada tentativa, ainda que não saia
perfeito, pois é com a repetição que eles mais aprendem.
Campo de conversa: creio que essa é uma das dicas mais valiosas, pois quando
estabelecemos um canal de diálogo, sem julgamentos e imposições, criamos
uma relação de respeito e proximidade. Pais que conseguem conversar com
os filhos sobre temas diversos evitam inúmeros adoecimentos e conflitos.
Espero que a leitura deste capítulo possa levá-lo a refletir e adotar hábitos
mais eficientes, para que você caminhe na direção de uma educação mais
assertiva e positiva.
15
Referências Bibliográficas
SAVASTANO, H.; et al. Seu filho de 0 a 12 anos: guia para observar o desen-
volvimento e crescimento das crianças até 12 anos. São Paulo: IBRASA, 2006.
16
FERNANDA LIGEIRO
CRP 06/122426
(17) 99615-1233
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@maesqueseconectam
maesqueseconectam
17
A Conexão com o Bebê Durante o Processo Gestacional
Gestar um bebê é ao mesmo tempo gestar uma mãe, essa simbiose vai ser
determinante para que a mulher defina seu papel de mãe, despedindo-se de
seu papel de filha, assumindo, assim, um novo papel parental na sociedade.
Falar sobre este tema me remete às lembranças que tenho sobre a minha ex-
periência gestacional, logo não poderia começar este texto sem compartilhar
essa experiência!
A maternidade para mim nunca foi algo idealizado, meu discurso era aquele
famoso “nunca vou ter filhos” típico de uma mulher independente profissio-
nalmente, que visava apenas ao crescimento profissional e viver bem a vida,
viajando e compartilhando finais de semana em festas de família e de amigos,
ou seja, egoísta demais para abrir mão de tanta independência e cuidar de
outro ser humano.
Mas a nossa genética é sábia, e quando me diziam que meu “reloginho bio-
lógico” iria me avisar o momento de ser mãe, eu não acreditava. E não é que
isso aconteceu de fato!
Aos trinta e dois anos fui tocada por uma necessidade em ser mãe, meu corpo
e minha cabeça pediam essa novidade em minha vida, aos poucos fui me
permitindo pensar e desejar cada dia mais a maternidade.
Como engravidar de forma planejada não é algo simples e fácil (quem já vi-
venciou essa espera sabe o quanto é difícil aceitar o tempo do universo para
que isso aconteça), comigo não foi diferente, foram longos dezoito meses
de espera para conseguir meu primeiro positivo e não foi como esperado,
pois pude experimentar a felicidade plena da realização de um desejo, mas
também tive a dura e difícil experiência de ver esse sonho ir embora sem
que ao menos eu pudesse saber ou conhecer se em meu ventre abrigava um
menino ou uma menina.
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Após três meses da perda espontânea, para minha surpresa, fui realmente
abençoada. Por que digo isso? Porque sem ansiedade, sem pressão emocio-
nal, sem esperar, engravidei naturalmente de gêmeos! E assim pude iniciar
a minha jornada na maternidade. Com a confirmação da realização do que
antes ainda era apenas um desejo, comecei a me conectar com aquelas bebês
(estava gestando duas meninas) que começaram a se desenvolver dentro do
meu ventre, assim como muitas mulheres que a partir uma perda gestacional
ressignificam esse vínculo para assim se conectar ao bebê.
Diante disso, lembro-me que assim que descobri a gravidez minhas preocu-
pações com relação à minha alimentação, meus hábitos sociais, meu estilo
de vida em geral se tornaram foco de mudanças, ou seja, minhas escolhas
começaram a se transformar, pois a prioridade era oferecer às minhas filhas
um desenvolvimento seguro e saudável. Essa preocupação de mudar hábitos
alimentares, evitar uso de substâncias nocivas como álcool, tabaco e drogas,
demonstram que a mulher antes mesmo de ter seu filho nos braços já está
estreitando seu vínculo materno fetal.
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No primeiro trimestre da gestação, o embrião já sente as emoções e des-
confortos que sua mãe vivencia positiva e negativamente, percebendo desde
muito cedo o amor e a rejeição. Com a evolução da gestação, o bebê aprende a
dar significado aos sentimentos maternos. E é por volta do terceiro trimestre
da gravidez que ele começa a formar sua personalidade. Vale ressaltar que
a gestação é contada em semanas e não meses (como muita gente diz), isso
porque o desenvolvimento fetal ocorre a cada semana.
Todavia, muitos fatores podem influenciar na relação da mãe com seu bebê,
como: características de personalidade da mãe incluindo empatia, ansiedade
e depressão, atitudes para com a gravidez, situações diversas vivenciadas
durante a gestação, apoio social recebido, relacionamento marital, estágio da
gestação, sintomas físicos, o planejamento desse bebê, a idade da mãe, número
de gestações e perdas perinatais. Todos esses fatores são determinantes para
que essa relação seja desenvolvida e construída de forma positiva ou negativa.
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e do(a) parceiro(a). Ou seja, à medida que a mulher se dispõe a vivenciar suas
transformações corporais e emocionais com o avanço da gestação, respei-
tando seus limites, seus desejos e recebendo compreensão e acolhimento da
família e do parceiro perante às suas escolhas, consequentemente oferecerá
afeto, carinho e muito amor ao seu bebê. Mas se essas transformações foram
veladas, consequentemente não formará um bom vínculo materno, causando
prejuízos emocionais e psicossociais para mãe e para o bebê.
Por isso, a importância da mãe estar sempre conversando com o bebê ainda na
barriga, falar sobre seu dia, seus desejos, seus sentimentos, tentando transmitir
a ele afeto e carinho, pois por meio desse vínculo, dessa experiência, é que
o bebê será capaz de reconhecer essas vibrações, contribuindo assim para o
seu desenvolvimento após o nascimento.
O bebê não é um ser biológico e sim psicossocial, ele conhece a voz e os bati-
mentos da mãe formando assim uma conexão com o ambiente mesmo ainda
dentro do útero. Por isso, não há nada que a mãe faça que não vá influenciar
no desenvolvimento do bebê mesmo ainda na gestação.
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A mãe libera alguns hormônios, sobretudo os neurotransmissores, e passa
para o bebê pelo cordão umbilical. O bebê percebe o comportamento da
mãe associado ao tipo de hormônio, ou seja, se a mãe está muito inquieta,
agitada, nervosa, vai liberar catecolaminas, hormônios liberados em situações
de estresse, transmitindo uma condição insegura e instável ao bebê. Se a
mãe está tranquila, feliz, vai liberar endorfina, e vai transmitir ao bebê uma
condição de bem-estar.
• Durma de oito a dez horas por noite: as mudanças físicas que estão aconte-
cendo em seu corpo para que seu bebê se desenvolva sugam suas energias, por
isso a sensação de cansaço e sonolência em algumas horas do dia, importante
respeitar seus limites e, sempre que possível, descansar.
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• Cante para seu bebê: ele é capaz de reconhecer sons a partir da décima oitava
semana; este estímulo dará a sensação de bem-estar ao bebê, e a sua voz será
um calmante a ele quando estiver em seus braços.
• Faça carinho em sua barriga e permita receber esse carinho se isso for lhe
agradar: um bom momento para isso é hora em que estiver hidratando sua
barriga, aproveite e massageie à vontade. Quando descobrimos a barriga, o
bebê começa a perceber a diferença entre a luz e a escuridão, desenvolvendo
sua visão. Não tenha vergonha de acariciar o ventre a qualquer hora do dia e
de receber essa carícia das pessoas que te admiram e estão felizes por você!
Referências Bibliográficas
23
CASTELLO, L. N.; Moraes, K. F. B. O estabelecimento do contato afetivo
durante a gestação, sob a perspectiva da Gestalt-Terapia; IGT na Rede, Rio
de Janeiro, RJ, 6.10, 29 05 2009. Disponível em: <https://www.igt.psc.br/
ojs/viewarticle.php?id=253>. Acesso em: 12 06 2019.
24
PATRICIA PIRES
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25
Agora, Pais. Como Adaptar-se à Rotina do Bebê?
Pense em uma mudança grande na sua vida. Pensou? Agora multiplica essa
mudança várias vezes. Não há como negar. Para o bem e para o mal, quando um
filho chega, a dinâmica do casal é totalmente alterada. Existem diversos mitos
envolvendo a chegada do primeiro filho. A verdade é que tudo muda mesmo!
Todo bebê causa uma tremenda mudança na vida dos novos pais. Esse início
da parentalidade é como a chegada a uma cidade nunca antes visitada, um
passeio no desconhecido. Por mais que a gente tenha se organizado para
aquilo, nem tudo vai sair como esperávamos. É como se o nosso centro e
todas as nossas prioridades mudassem.
Estudo de caso
1. (*Os nomes originais foram omitidos para preservar a identidade das pessoas)
26
vez, se sente inútil, deslocado e com certo ciúme? Isso, ciúme. Quando chega
em casa do trabalho espera encontrar “a mulher”, mas só encontra “a mãe”.
Paralelamente, também sente medos nunca antes vivenciados como: medo de
ficar desempregado, medo das responsabilidades novas e até medo de morrer.
Casos como o relatado acima são bastante comuns e ainda se repetem, mesmo
com tanta informação disponível. Por mais que o casal se conheça, há um
fenômeno comum que acontece: o baby clash (choque do bebê). Isso ocorre
pela entrada de um novo membro na dinâmica do casal e pode gerar alguns
conflitos. É natural e extremamente comum que os novos pais enfrentem
milhões de dúvidas, medos e inquietações.
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de muitas dúvidas e inseguranças. Mesmo que brevemente, é necessário se
despedir de uma época da vida, afinal, o tempo livre de obrigações ficará mais
escasso, as responsabilidades e cobranças aumentam. É necessário passar por
um período de adaptação para que tudo se ajeite. A rotina com um filho é
dinâmica, intensa e até a relação sexual precisará se moldar a ela.
Não há glamour em ser “multitarefa”, fazer isso é romantizar algo que adoece.
Infelizmente, a sociedade ainda cobra que mulheres trabalhem como se não
tivessem filhos e que sejam mães como se não trabalhassem. É extremamente
necessário criar uma rede de apoio, ela será fundamental para acolher a nova
mãe nesse momento em que ela irá precisar de ajuda para concluir tarefas
domésticas simples, como fazer comida, lavar a louça e organizar a casa, e
também na rotina mais básica, auxiliando no cuidado do bebê quando a
mãe precisa se alimentar, tomar banho e descansar um pouco para voltar a
se dedicar plenamente ao pequeno. A rede de apoio pode ser formada por
qualquer pessoa que faça a mãe se sentir mais segura, que não julgue suas
decisões e que a ajude a viver uma maternidade mais feliz e tranquila.
O lema é: mamãe feliz, bebê feliz. E para essa felicidade virar um círculo vir-
tuoso, o autocuidado é indispensável. Reservar um tempo para cuidar de você
mesma, será quase uma necessidade básica. Pode ser um café com os amigos,
ir para a academia, fazer as unhas, sair para namorar ou um tempo para não
fazer nada! O importante é sentir-se bem, cuidada e feliz consigo mesma!
Isso fará uma diferença tremenda para sua saúde física, emocional e mental.
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meio de uma comunicação empática, faríamos a mesma colocação dessa
forma “sem você não consigo terminar todas as tarefas de casa e isso me deixa
extremamente cansada(o)” aumentando drasticamente a possibilidade da
resolução dos conflitos. Infelizmente, nos habituamos a expressar o que
queremos de forma impositiva e desatenta e isso certamente prejudica
o relacionamento.
Para finalizar este capítulo, queria enfatizar que os primeiros meses, talvez
até anos, podem ser estressantes, assustadores, cansativos e carregados de
emoção. O sucesso na rotina envolve parceria, divisão de tarefas, acolhimento
das vulnerabilidades, responsabilidade afetiva e a prática sistemática de uma
comunicação não violenta.
Falar que o diálogo é a melhor ferramenta que os pais poderiam usar soa
meio clichê, mas é exatamente o que pode salvar uma relação que porven-
tura degringolou com a chegada do bebê. Entender que o aquilo que não é
dito não é sabido, e o que pode ser óbvio para você, para o outro pode não
fazer sentido algum. Entendam que tanto quanto o bebê que chegou, os pais
dessa relação precisam de cuidados. Cuidem-se! E saibam que mesmo que
prolongada, é só uma fase.
29
Referências Bibliográficas
MASSA, L. Sete coisas que mudam no casamento após a chegada dos filhos.
Abril, 2017. Disponível em: <https://bebe.abril.com.br/familia/7-coisas-que-
-mudam-no-casamento-apos-a-chegada-dos-filhos/>. Acesso em: 23 ago. 2019.
ProjetoCria – www.projetocria.com.br/ebook
30
KARLA BRANDO
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Primeiros Passos, Primeiras Palavras...
Todos nós somos influenciados pelos nossos modelos familiares. Quando nos
referimos aos sentimentos de amor, aceitação e valorização, somos estrutural-
mente moldados por nossa família de origem, pelo que escutamos, pelo que
nos contam e, talvez o mais importante, pela maneira como vemos nossos
pais se relacionarem com o mundo. Desta forma, temos que a coerência entre
nossas ações como pais e os valores que queremos passar aos nossos filhos
precisam estar em fina sintonia. Já pararam para refletir sobre as mensagens
claras ou veladas que ensinamos constantemente no dia a dia a eles?
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Ao entrarmos em contato com a ideia de criar um filho temos como referência
a criança que imaginamos. Deslizamos, assim, muito rapidamente para as
imagens que nos lembram alguém perfeito, sem falhas, com grandes qualida-
des e feliz. Sabemos, no entanto, que essas imagens são idealizadas, carregam
nossos sonhos, desejos, expectativas e projetos não realizados.
Em algum nível sempre haverá algum tipo de projeção dos pais sobre seus
filhos. É uma viagem muito maluca mesmo. Contudo, se este processo torna
as partes reféns de uma cadeia geracional onde um deverá cumprir o que o
outro não cumpriu temos um conflito entre realizar a missão pretendida
pela família e a própria necessidade de individuação. É no equilíbrio entre
as expectativas da família e as reais possibilidades da criança que vamos
caminhando para um processo de desenvolvimento e aprendizado integral.
Já Piaget que foi muito criticado por não ter levado em conta esses fatores
sociais e culturais tão valorizados por Vygotsky, tinha seu interesse maior
focado no entendimento de como o conhecimento é formado ou construído.
O aprender para ele é um ato puramente da criança em que uma nova cons-
trução é sempre realizada sobre uma construção anterior. Afirmava que uma
criança só aprende algo quando já está madura o suficiente para desenvolver
a habilidade necessária para tal aprendizagem. A partir da maturidade bioló-
33
gica, consegue assimilar o conhecimento e por intermédio da acomodação o
saber vai se consolidando. Na concepção de Piaget, a criança pode empregar
todas a fontes e formas de informação no processo de construção. O processo
não é recriar o modelo, mas inventá-lo.
Somos educadores do dia a dia, das situações mais simples às mais comple-
xas. Coerência é o esperado. De nada adianta dizer algo que será negado por
nosso comportamento mais adiante. Nossos filhos percebem imediatamente
a distância entre o falado e o executado. Dá uma confusão na mente.
Se perguntarmos agora aos pais o que desejam para os filhos, a maioria res-
ponderia que desejam que sejam felizes. Mas será que na prática é essa mesma
a mensagem que passamos? Estamos comprometidos em facilitar o desenvol-
vimento das potencialidades de nossos filhos ou buscamos o enquadramento
para criarmos sujeitos do sucesso?
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Comprometimento, com a coerência em formar seres humanos, exige o in-
vestimento de tempo e energia. Isso significa sentar com nossos filhos e tentar
entender seus mundos, interesses e histórias. Pais engajados e plenos podem
ser achados em todos os lados do polêmico debate sobre a criação de filhos.
Eles vêm de tradições e culturas diferentes e defendem valores distintos. O que
têm em comum é colocarem em prática os seus valores, adotarem a postura
do não saber, não ser perfeito, não estar sempre certo, mas estar aqui, aberto,
atento, amando e estando presente.
Não há dúvida de que criar filhos requer envolvimento e sacrifício, mas foi
com isso que nos comprometemos quando decidimos ser pai e mãe.
Não podemos dar a nossos filhos o que não temos. Quem somos importa infi-
nitamente mais do que sabemos ou queremos ser. A distância entre a prática e
a teoria é a lacuna de valores. Quantas vezes, muitos de nós, não permitimos
que os filhos façam as coisas do jeito deles? Corremos apressadamente para
apresentarmos a maneira mais fácil e adequada de lidar com os desafios.
Aprender, aprender, aprender... o tempo todo em busca de melhorar sempre.
Calma, muitas vezes está ótimo do jeito que está. Só cabe a nós aproveitarmos
o presente. Celebrarmos as conquistas do agora. Se quisermos que nossos
filhos desenvolvam altos níveis de esperança, precisamos deixá-los travar
suas próprias batalhas, escolher o caminho a seguir, ganhando e perdendo.
Criar um filho que seja esperançoso e que tenha coragem de ser ele mesmo,
significa recuar da superproteção e deixá-lo experimentar a decepção, lidar
com conflitos, aprender a ser impotente, dar a ele a oportunidade de falhar.
Assim é a vida. Para se estar inteiro é preciso acolher nossas dificuldades e
celebrar nossas inúmeras potencialidades.
Conclusão
Ser responsável em conduzir filhos para uma vida significativa é uma tare-
fa desafiadora e constante. Viver bem não tem nada a ver com ganhar ou
perder. Tem a ver com coragem. Em um mundo onde a escassez e a vergonha
dominam e sentir medo tornou-se um hábito, ser real, imperfeito, incomoda.
É até perigoso.
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Podemos ajudar nossos filhos a entender, potencializar e aproveitar a estru-
tura emocional familiar e como lhes ensinamos a combater as insistentes
mensagens da sociedade que diz que devemos buscar sempre a vitória. Nem
sempre dá para ganhar. Somos a soma de nossas decisões. Escolhas e renún-
cias. Somos os melhores que podemos ser.
O fato é que cada um de nós pode lançar mão das ideias e teorias apresentadas.
Mas o propósito desse artigo é trazer para reflexão que, em linhas gerais, há
marcas biológicas importantes no processo de desenvolvimento, mas que cada
criança tem seu tempo de maturação. Se houver um distanciamento muito
evidente entre a idade cronológica e determinada habilidade própria da faixa
etária, procure um especialista para ajudá-lo e buscar caminhos alterativos.
Em educação nada é pronto, tudo é construção.
Referências Bibliográficas
BROWN, Brené. A coragem de ser imperfeito. Sextante, 2016.
36
MÔNICA PESSANHA
(11) 96512-6887
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www.monicapessanha.com
• Colunista nas revistas MALU, no Blog Cheguei ao mundo (da atriz Fer-
nanda Rodrigues) e colaboradora em diversas revistas do país sobre educar
os filhos sem traumas
37
Birra: O que é e Como Lidar com Ela
Imagine você na seguinte situação: sábado à tarde, toda a família reunida para
o passeio no parque. Vocês esperaram a semana inteira para esse evento. No
fatídico dia, tudo se passa tranquilo e muito próximo do planejado: sol, calor,
passeio de bicicleta, sorvete entre outras coisas. Você, pai ou mãe, idealizador
do passeio, suspira aliviado. Por dentro e por fora, é nítida sua felicidade. Na
hora de ir embora, tendo que devolver a bicicleta alugada no parque, seu pe-
queno ou sua pequena entra numa crise de frustração e começa um episódio
de birra. Ele chora, esperneia, rola no chão. Você, por outro lado, começa a
desejar que a terra abra um buraco para que, como avestruz, consiga esconder
seu rosto. Não pela falta de saber como agir, mas como estratégia para fugir
do julgamento dos outros, que mesmo sem emitir uma só palavra, já olham
para você com desaprovação.
Por mais dramático que esse quadro imaginário possa parecer, tenho certeza
de que há muitos pais que o reconhecem muito bem, pois já o vivenciaram
ou conhecem alguém que passou por ele. Esse cenário é típico daquilo que
conhecemos como birra.
38
Percebe-se que esse período é muito importante para o desenvolvimento da
criança entre 24 e 36 meses. Atravessando essa fase, a criança constrói duas
coisas importantes para ela mais tarde: autonomia e confiança.
Não é por acaso, que justamente nessa fase, os pais costumem dizer que seus
filhos têm personalidade e temperamento fortes. Porque é nesse período que
eles terão que lidar com as birras e acessos de fúria. Aqui fica um aviso, ou
melhor, um lembrete: crianças de dois anos reagem com grande veemência
motora ao serem contrariadas. Essa contrariedade pode vir de fontes distintas:
os limites colocados pelos adultos; a incapacidade de executar uma tarefa,
devido à defasagem existente entre a vontade e a competência, por exemplo,
tentar amarrar o tênis; fome ou sono.
Você, leitor, deve estar pensando: quando ela vai falar de birra mesmo? Acal-
me-se, pois o momento chegou! Como havia avisado no início, não dá para
falar de birra sem entender um pouco do desenvolvimento do seu pequeno
ou da sua pequena. Então, vamos começar com uma pergunta crucial: o que
é birra? De forma muito simples, birra é a expressão de sentimentos. É por
meio dela que as crianças manifestam sua frustração e raiva. Acho que aqui
cabem algumas considerações importantes.
Muitas vezes, nos esquecemos que não somos seres apenas psicológicos. Há
em nós uma clara porção biológica, que irá influenciar no nosso desenvol-
vimento. Você deve estar se perguntando: o que isso tem a ver com birra?
Lembre-se de que a birra é uma expressão da raiva, e raiva, por sua vez, nada
mais é do que uma expressão do medo. Medo da perda. Existe em nosso
cérebro uma área chamada amígdalas cerebrais. Essa área do cérebro está
relacionada à nossa reação ao medo. Para vocês terem uma ideia, essa área já
está em pleno funcionamento desde a formação do feto na barriga da mãe, a
partir dos 45 dias, para que possamos nos proteger dos perigos ao nascimento.
É exatamente por isso que um bebê reage aos barulhos externos ou aos mo-
vimentos bruscos da mãe: por medo, por não conseguir saber o que se passa.
É uma reação instintiva e não racional. Assim, toda vez que as amígdalas
cerebrais recebem a informação do meio de que há algo que pode ocasionar
perigo ou perda, elas serão acionadas (Cf. Capeletto&Capeletto, 2012).
39
pernear, atirar objetos. Assim, quando uma mãe pede para filho parar uma
brincadeira e ir tomar banho, isso gera na criança o medo de perder aquele
prazer que estava tendo. Nesse momento, temos uma reação de causa e con-
sequência. O medo de ficar sem a brincadeira aciona as amígdalas que, por
sua vez, aciona a defesa por meio da raiva.
Nunca é demais lembrar: a raiva da criança de dois anos é que vai dar início
a uma vida psicológica que tem que ser administrada pelos pais. São eles, os
cuidadores, a escola e a sociedade que vão de maneira hábil e afetuosa, com
limites, ensinar a criança a lidar com esse desconforto.
40
forma firme, objetiva e, acima de tudo, afetuosa. Quanto menos os limites
estiverem claros e definidos, maior será a necessidade de a criança experimen-
tar seu poder, até que consiga aprender até que ponto ir. Às vezes, a situação
demandará mais rigor do adulto, desde que não se confunda rigor com raiva.
Feito esses apontamentos, agora podemos passar por uma parte mais prática em
relação às birras. Aqui iremos pontuar aquilo que devemos fazer e o que não deve-
mos fazer quando os momentos de birras acontecerem. Alguns desses pontos são:
2. Uma vez iniciada a birra, não vale a pena chamar a criança à razão: nessas
ocasiões, em vez de insistir para que a criança pare de chorar, o adulto deve
explicar que vai esperar que ela se acalme para retomar a conversa.
41
Sim, sei que aplicar essa lista não é fácil porque entendo que diante de um
acesso de birra você precisa respirar fundo e fazer um exercício exemplar de
autodomínio. Não é fácil, mas é possível! Agora, vale uma última palavra
sobre birras. Mesmo que, como vimos, a birra possa ser vista como uma
desorientação da criança e maneira como muitas vezes irá comunicar a frus-
tração que está sentindo, ela pode ser também uma forma de chantagem.
Esta ocorre muitas vezes em locais onde as crianças sentem que terão certa
blindagem, imunidade. Na maioria das vezes em locais públicos ou onde há
pessoas conhecidas que estão familiarizadas com seu dia a dia. Nesses casos,
não se deve ter medo de dizer “não”. Como pais, ajude seu filho ou a sua filha
a perceber que a birra, a desorganização e a falta de lucidez e de autocontrole
não resolvem nada e tampouco são armas permitidas. Dessa forma, estare-
mos preparando nossas crianças não só para serem bons cidadãos, mas para
serem adultos preparados para lidar com as vicissitudes e surpresas – boas e
ruins – que a vida nos traz.
Referências Bibliográficas
BETTELHEIM, B. Uma vida para seus filhos. 21.ed. Rio de Janeiro: Cam-
pus, 1990.
42
CARLA ALMAS
CRP 06/119462
(11) 96382 2859
carlaf.psico@hotmail.com
@carlaf.almas
43
A Importância da Brincadeira no Desenvolvimento Infantil
44
Também em contribuição, a Psicologia pretende descrever e explicar com-
portamentos durante todo ciclo de desenvolvimento humano, infância,
adolescência ou fase adulta.
No período dos três aos seis anos de idade (segunda infância), o cresci-
mento é constante, o apetite diminui e são comuns os problemas com o
sono, aprimoram-se habilidades motoras finas e gerais e aumenta a força
física. O pensamento é um tanto egocêntrico, mas aumenta a compreensão
do ponto de vista dos outros. Aprimoram-se a memória e a linguagem, a
inteligência torna-se mais previsível. Aumenta a independência, a iniciativa
e o autocontrole. Desenvolve-se a identidade de gênero e, o brincar, torna-se
mais imaginativo, mais elaborado e, geralmente, mais social, pois a criança
passa a utilizar a fantasia como componente para muitas brincadeiras.
Podem realizar atividades manuais utilizando tintas, papéis e cores para
expressarem sua imaginação, música e danças que irão contribuir também
para sua capacidade de escuta e habilidades psicomotoras, entre diversos
outros brinquedos ou brincadeiras correspondentes a essa faixa etária.
45
Na terceira infância, entre os seis e os onze anos de idade, o crescimento
torna-se mais lento, a força física aumenta e de um modo geral a saúde é
melhor do que em qualquer outra fase do ciclo de vida. As habilidades de
memória e linguagem aumentam e ganhos cognitivos permitem à criança
beneficiar-se da instrução formal na escola. O autoconceito torna-se mais
complexo, afetando a autoestima, e nessa fase também os colegas assumem
importância fundamental.
46
a cercam, mas também quase que naturalmente desenvolvem uma ação
compartilhada com os pais que irá fortalecer seus vínculos sociais, a co-
municação, a linguagem e o prazer em compartilhar suas descobertas com
um parceiro, princípios fundamentais para um bom desenvolvimento.
Regadas de possibilidades nas brincadeiras, no decorrer do tempo, as com-
petências adquiridas ludicamente darão oportunidades de experiências e
competências mais sofisticadas no contexto das práticas sociais, possibi-
litando uma compreensão maior de si mesmo, das interações sociais que
serão fundamentais para construção de um ser critico, reflexivo e útil para
sociedade, como também da compreensão do mundo e de suas infinitas
mudanças e possibilidades.
47
de se brincar com seus pares, com prazer de compartilhar suas novas
experiências positivas ou não, e novos aprendizados.
48
rar o que estiver ao seu redor, apreender o mundo, conhecer a si mesma,
aumentar suas habilidades e testar suas competências.
Referências Bibliográficas
49
RAPPAPORT, C.; FIORI, W.; DAVIS, C. Teorias do desenvolvimento:
conceitos fundamentais: v 1. São Paulo: EPU, 1981.
50
KARINE BROCK
CRP 04/33870
(32) 98492-9256
karinebrock@hotmail.com
@karinebrock
Psicologa Karine Brock
51
A Chegada de Um Irmãozinho: Como Lidar?
Mas como? É a pergunta que muitos pais se fazem, e não obstante, “agora é
tudo dele” é a indignação que os primogênitos mais enfrentam. Tudo isso
52
pode ser bem resolvido, uma vez que os pais consigam demonstrar ao primo-
gênito a igual importância dos dois filhos. Não existe uma fórmula mágica
para evitar o ciúmes entre irmãos, mas em um primeiro momento existem
dicas importantes, como: contar sobre a chegada de um novo membro em um
momento propício, como em um passeio ou no momento da refeição; deixar
que o primogênito ajude a escolher o nome e enxoval do caçula; identificar
cuidados que o primogênito pode oferecer; criar brincadeiras entre os irmãos
e, dentre outras coisas, ter o cuidado para que a rotina do recém-nascido não
altere o sono e horários, como de alimentação, lazer, atividades escolares do
primogênito.
53
Ressalto que tanto o excesso de zelo quanto a impaciência com os com-
portamentos do primogênito são prejudiciais. É comum atender pais (no
consultório) que estimulam a lógica consumista (por meio de presentes) e
não regram horários e “mimos” dos primogênitos, como forma de suprir a
carência emocional promovida pela chegada de um novo membro na família.
Também se torna frequente os atendimentos as crianças que verbalizam que
os seus genitores são agressivos quando os corrigem, que não esperam elas
terminarem as frases, ou contar algo novo que vivenciaram no dia a dia, por
falta de tempo gerada pelos cuidados exigidos pelo irmão caçula.
Os pais que estão lendo este artigo devem estar se perguntando: como agir
diante de falta de tempo? A contemporaneidade exige muito dos genitores.
Trabalho externo, doméstico, trânsito, contas... e filhos. Enfatizei no primeiro
parágrafo deste capitulo a palavra-chave para uma família com primogênitos
sem carências emocionais: organização/reorganização.
Como último ponto a ser apresentado neste inesgotável tema, destaco a im-
portância dos genitores e outros membros da família (avós, tios, primos,
etc.) em relações de episódios de comparação entre o caçula e primogênito.
É importante que pais, avós, tios, primos e outros familiares evitem a com-
paração e aceitem a individualidade do caçula e primogênito. Dessa forma,
contribuirão também para potencializar a união e parceria entre os irmãos.
54
Ainda que os filhos tenham sido gerados pelo mesmo pai e mesma mãe,
apresentarão diferentes características ligadas à personalidade e isso não deve
ser apontado como aspecto negativo, ao contrário, espera-se que possam ser
aceitos em sua individualidade.
É certo que não existe manual de instruções de “como lidar com a chegada de
um irmãozinho” ou “como cuidar para que o primogênito não sofra com este
momento”, mas existem diversas atitudes dos genitores que podem propor-
cionar este momento mais saudável para a relação familiar, e principalmente
para o primogênito.
Outro aspecto importante é o cuidado que se deve ter para não exigir demais
do filho primogênito, esperando que este passe a atuar como um “ajudante da
mãe” nas tarefas domésticas e cuidados com o bebê. Especialmente quando o
primogênito também é uma criança. Cuidados devem ser responsabilidade
dos pais, às crianças cabe serem cuidadas e viverem a infância. Com isso, não
quero dizer que não possam ajudar nos cuidados, mas sim que não se deve
cobrar do filho mais velho uma responsabilidade que não lhe cabe.
O grande desafio de ser mãe/pai de uma criança exige paciência e amor, mas
se tratando de duas ou mais, é necessário a conciliação da atenção e educação
filtrada de comparações, assim como cuidados com todos e consigo mesmo.
55
Por fim, reforço que realizar atividades com o filho mais velho, ser tolerante
diante de comportamentos negativos e reservar um tempo exclusivamente
com o primogênito são ações essenciais, assim como são ações prejudiciais
a retirada de algum objeto/espaço de convivência, excesso de presentes para
amenizar as relações de ciúmes e preferir ou comparar os filhos.
Referências Bibliográficas
RUFO, M.. Irmãos: Como entender essa relação. Rio de Janeiro: Nova Fron-
teira, 2003.
56
NELSON FERREIRA
CRP 06/127710
(11) 98213-8994
nelson.psicologo@yahoo.com.br
NelsonFerreiraPsicologo
www.nelsonferreirapsicologo.com.br
57
A Criança e o Processo de Socialização
58
de separação. Apesar de ser muito importante para o processo de socia-
lização da criança, esse é um período que requer nova adaptação, pois ao
ser deixada com outra pessoa ou na creche, a criança deverá se acostumar
a essa ausência e aprender que a mãe se afasta, mas retorna algum tempo
depois. Mais adiante, a criança começa a escolher as pessoas com quem se
relaciona: não vai no colo de qualquer pessoa, estranha algumas outras,
passa a selecionar alguns amigos, etc. Dessa forma, sinaliza se percebe
como um indivíduo e que está se desenvolvendo de maneira saudável.
59
de se relacionar com o mundo. A criança nutre um afeto, um sentimento
interindividual de respeito pelos indivíduos que julga superiores a ela
como pais e professores. Diante disso, podemos perceber a possibilidade
de socialização da criança na sua rotina diária: durante seu convívio é
necessário estabelecer uma forma de negociação com seus cuidadores,
para que possa experimentar outras formas de vivenciar tais experiências,
além das que são determinadas por regras impostas por esses cuidadores.
60
que aprendem, geralmente se colocando no papel de pais de seus bichos,
geralmente tratam o animal semelhantemente ao tratamento que recebe
dos pais, é uma forma de mostrar um empoderamento. Embora este
sentimento seja inconsciente, elas assumem esse poder que aprenderam
dos pais que ditavam as regras. A criança tem, a partir daí, a oportuni-
dade de transferir para seu animal de estimação a mesma fala de seus
pais, a mesma postura, as mesmas disciplinas, as mesmas regras, como
se fossem dela. O processo de socialização da criança com os animais
não se limita a isso apenas, precisamos concordar que a criança, assim
como recebe dos pais, tem a capacidade de oferecer aos animais, edu-
cação, carinho, amor e dedicação para o bem-estar desta relação sem
condicionais. Afinal, as crianças acreditam que na hierarquia familiar
elas não são as últimas, acham que são os responsáveis por garantir o
bem-estar de seus animais como se eles fossem seus filhos. O mesmo
ocorre com irmãos caçulas ou crianças menores.
61
A criança, pelo processo de socialização, desenvolve habilidades cog-
nitivas, capacidade de relacionamento, percepção de lugar no mundo,
visão do papel que ocupa na sociedade, a interação entre personagens e
sua diversidade cultural, compreensão de mudança e evolução global e
sua capacidade de adaptação, aceitação de suas limitações, exploração
de suas capacidades e criatividades, autoconfiança, segurança em si mes-
ma, resolução de conflitos, capacidade de lidar com fatores emocionais,
tolerância, frustrações, respeito ao próximo, interação saudável com au-
toridades, capacidade de organização, preservação, evolução... enfim, são
muitos os benefícios que o processo de socialização é capaz de produzir
no desenvolvimento da criança.
62
interação com o mundo utilizando-se da tecnologia possibilita aos pe-
quenos um relacionamento mais próximo com outras pessoas, além de
influenciar e serem influenciados por diversos conteúdos.
63
Referências Bibliográficas
64
LAURA BORGES
CRP 06/121033
(11) 98213-5410
lauraborgespsi@outlook.com
@psicologalauraborges
Laura do Carmo Ferreira Borges
65
A Criança como Membro de Uma Família Ampla: Relação
com Madrasta/Padrasto e Meios-Irmãos
66
podendo acarretar em um maior desafio na educação da criança e até
mesmo na assimilação das informações transmitidas para ela.
Os papéis de mãe, pai, avós, irmãos, tios, entre outros, são claramente
definidos na família tradicional, enquanto que na recasada, não há uma
uma definição plausível. No caso do padrasto e madrasta pode ocorrer
o anseio de se envolverem na educação e responsabilidades quanto aos
cuidados dos enteados, contudo, é importante compreenderem que este
papel cabe aos pais e se estes estiverem confortáveis, poderão envolvê-los
nestes assuntos.
67
com eles. Já as mais velhas ou adolescentes, podem ter memórias menos
agradáveis, já que compreendem mais claramente a separação dos pais e
podem permanecer do lado de um destes, sendo resistentes à convivência
com seu padrasto, madrasta e meios-irmãos.
Também pode ocorrer o ciúme por parte do filho que vê o pai ou a mãe
relacionando-se com seus meios-irmãos: agindo de forma a chamar a
atenção dos pais, demonstrando superioridade ou, ao contrário, se tornar
mais introspectiva e carente. Nesses momentos, podem surgir pensamentos
como: “ele gosta mais dele do que de mim”, “porque ele pode fazer isso e eu
não?”. Um pouco mais adiante falaremos sobre algumas dicas que podem
auxiliar os pais e envolvidos, a fim de minimizar estes sentimentos.
68
É comum que crianças com a mesma idade se relacionem melhor com
seus meios-irmãos, já que geralmente possuem gostos parecidos, brinca-
deiras e forma de comunicar-se equivalentes, identificando-se uns com
os outros. No caso de idades muito distintas, este será um novo desafio a
ser enfrentado: integrá-las e aproximá-las.
Não há uma receita infalível para que a relação da criança com os mem-
bros da família recasada seja mais fácil, mas há algumas atitudes por parte
dos pais e também do parceiro destes que podem auxiliar no manejo das
relações, fazendo com que o convívio seja menos conflituoso e prazeroso
para todos. Aqui deixo algumas dicas e reflexões para os pais, madrastas
e padrastos:
69
Brincadeiras: brinque com seu filho, envolva os meios-irmãos nas brin-
cadeiras e crie um momento em que possam interagir uns com os outros
(opte por atividades em que todas as crianças, independentemente da idade,
possam ser inseridas). Envolva o parceiro neste momento de descontração.
Pequenas escolhas: permita que a criança participe das escolhas que en-
volvem a decoração do quarto, roupa de cama, brinquedos, etc., mesmo
que ela frequente ocasionalmente a casa ou que divida o ambiente com
outras pessoas, é interessante que se sinta pertencente à família e que tenha
seu próprio espaço na residência (decorar o quarto com objetos pessoais,
brinquedos que mais goste, porta-retratos, são opções interessantes).
70
O diálogo do casal: conversem sobre o que caberá financeiramente a cada
um, esclareçam o que podem ou não em relação aos enteados. Façam per-
guntas sobre as dúvidas que possuam acerca do assunto:
Lembre-se também que o fardo pode ser pesado e difícil de carregar e que
não há mal algum em pedir ajuda. Para auxiliá-lo a trilhar este caminho
existem diversas alternativas: conversar com o parceiro, com o professor
da criança pedindo-lhe orientações sobre a melhor forma de enfrentar este
desafio, ler e pesquisar sobre o assunto ou buscar o apoio de um profissio-
nal, como, por exemplo, um psicólogo ou pedagogo. Não se sinta sozinho.
71
Referências Bibliográficas
72
RAFAELA DI GUIMARÃES
CRP 01/13804
rafadigui@gmail.com
@donoqueviralaco
www.facebook.com/donoqueviralaco
73
A Entrada no Universo Escolar, e os Desafios Desta Fase
Parece que foi ontem, as noites mal dormidas, o choro que parecia que nunca
acabaria, os remédios de cólica que nunca davam certo, as mamadeiras, pa-
pinhas, suquinhos. Em um piscar de olhos, os primeiros passos, as primeiras
palavras, o desfralde e um mundo de desafios.
É na da escola que, muitas vezes, teremos que lidar com algumas questões,
antes para nós desconhecidas. Bem-vindos, então, ao universo escolar!
74
Ensine a criança a enfrentar os desafios, e quando não puder superá-los, ensi-
ne-a á ser resiliente. A autonomia é a chave para se ter autoestima e acreditar
em si mesma. Tudo isso pode ser feito por meio de brincadeiras, das tarefas
do dia a dia, e da rotina. Seja verdadeiro em suas colocações, cumpra o que
prometer e, se não puder cumprir, renegocie. Ensine seu filho a acreditar
em você, isso será muito importante para que ele acredite que você voltará à
escola para buscá-lo. Não reprima, nem critique a fragilidade que pode surgir
no momento da iniciação escolar. Reconheça essa angústia como legítima,
e fortaleça a criança; sempre no caminho do enfrentamento e crescimento
emocional; prosseguindo para novas etapas.
75
É claro que para convivermos em sociedade, precisamos nos adequar a rotinas
e regras. Um bebê ao nascer, já se insere em um mundo de regras, e horários
necessários para seu crescimento e desenvolvimento saudável. A escola terá
o papel de ensinar, e aos pais sempre caberá o papel de educar. Cada família,
assim como cada escola, possui suas regras disciplinares e de convivência,
assim como suas rotinas particulares que precisam ser respeitadas. É impres-
cindível que a criança compreenda e acate tais regras, pois isso legitima sua
autonomia. Sua capacidade de querer fazer o certo, de respeitar os colegas, os
professores e também a si mesma, precisa ser movido por um querer interno
e não necessariamente por reguladores externos. O SIM e o NÃO, o PODE e
o NÃO PODE, o CERTO e o ERRADO, o BOM e o RUIM, o comportamen-
to ACEITÁVEL e o comportamento INACEITÁVEL, devem ser ensinados
desde muito cedo, para que possam fazer parte de suas condutas e valores
na prática por onde for. O meio social, sem dúvida, proporcionará pela vida
toda situações desafiadoras, em que nosso conteúdo interno será de extre-
ma importância, na condução de nossos pensamentos, sentimentos, ações e
reações. Portanto, a capacidade de se autocontrolar, deve ser estimulada a se
desenvolver desde muito cedo na criança.
Nós, pais, somos responsáveis em preparar nossos filhos para a vida, para
serem autônomos e confiantes. E, nesse caminho, o AMOR é imprescindível;
mas só o amor não basta! Vários ingredientes emocionais são necessários:
regras geram segurança e confiança e, sem dúvidas, não somente a escola,
mas a vida nos exigirá tais capacidades.
• Monte quebra-cabeças.
76
• Pinte com giz de cera (grosso e fino).
Portanto, não esqueça de que entre as atividades que fazem parte da rotina
da criança precisa existir o tempo para brincar. Porém este brincar precisa
ser saudável, e não eletrônico. Os tablets e aparelhos eletrônicos estimulam
o aumento da ansiedade, acelerando o pensamento, e podendo acarretar
prejuízos no sono e na aprendizagem (dificuldade de foco, por exemplo).
Não podemos deixar que se perca a capacidade da livre imaginação, e da
construção dos pensamentos, que ocorre por meio do livre brincar.
77
Proporcione este espaço para o livre criar, incentive os diálogos e fantasias,
respeite este momento tão rico e tão importante para a aprendizagem da
criança. E, se você se permitir se incluir neste universo imaginário de seu
filho, com certeza a experiência será muito mais significativa!
Lembrando que toda regra tem exceção, e que cada SER é especial e único.
Como seres humanos que são, os filhos inauguram em nossas vidas uma viagem
imprevisível, inusitada e, muitas vezes, arriscada. Porém SURPREENDENTE!
Que possamos ser porto seguro para nossas crianças; nesta desafiadora jor-
nada da escolaridade, que nos reservará grandes desafios; e, no entanto, IN-
FINITAS POSSIBILIDADES!
Referências Bibliográficas
ANTUNES, C. A construção do afeto. São Paulo: Augustos, 2003.
78
NATALY CORREIA
CRP 06/139562
(11) 96671-4558
natyevangelica@gmail.com
@natalycorreiapsico
Nataly Correia
• Pós-graduada em Psicopedagogia
• Analista do Comportamento
79
Dificuldade de Aprendizagem: É Possível Aprender
Mesmo Assim?
Essa é uma pergunta que muitas pessoas me fazem nas escolas, instituições e
até mesmo pais de crianças, pois geralmente queremos enquadrar o outro à
nossa forma de ver o mundo, não percebendo que cada pessoa tem sua forma
de acomodação e assimilação do conhecimento.
Para Piaget, todo ser humano é provido de inteligência, e por isso, toda criança
é capaz de aprender, usando-se da assimilação, ou seja, adaptando-se às no-
vidades por meio do que foi conquistado durante a vida. Já na acomodação,
um novo aprendizado pode ser construído modificando uma ideia que estava
fixada. Acontecendo, assim, uma mudança constante.
80
bém alunos que preferem falar, ou seja, compartilhar o que aprendeu dando
sentido a informação recebida e assim fixando o aprendizado. E por fim,
existem pessoas como eu, que gostam de movimento, assim atrelando uma
atividade física ou dinâmica de grupo, ou praticando o que lhe foi passado,
conseguem melhor adquirir um novo conhecimento.
Outro fator externo que pode fazer com que apareça uma dificuldade de
aprendizagem é a falta de motivação e emoção no conteúdo passado, pois
com motivação, sendo prazeroso e emocionante, há mais chances de um
aprendizado ir para memória de longo prazo. Por isso, é importante que os
alunos gostem do professor, pois a tendência é que ocorra uma associação e
eles tenham um desempenho melhor nas aulas.
81
como, por exemplo: em quais momentos o aluno emite os comportamentos
de dificuldade, quais os estímulos que antecedem esse comportamento, qual
intervenção já foi realizada e se houve efeito. Tudo deve ser anotado, para
ter base, a fim de chamar o responsável pelo aluno e pedir que ele procure
um profissional, que com esses detalhes, avaliará se a criança tem algum
transtorno, deficiência, etc. Nesse momento, será possível a indicação de um
neurologista, psiquiatra infantil, psicólogo, psicopedagogo, fonoaudiólogo
ou outro profissional tecnicamente capacitado para lidar com essa situação.
Essa conversa com os pais deve ser franca, no entanto, acolhedora. Sabemos o
quanto é difícil, mas é a melhor forma para intervir com o intuito da criança
não acumular atrasos. Quanto mais precoce for a intervenção, mais maleável
o cérebro estará e, assim, compensará os atrasos, criando novos caminhos.
Tudo isso é possível graças à neuroplasticidade, mesmo diante de uma difi-
culdade a criança será capaz de aprender, se forem usadas técnicas baseadas
em evidências validadas cientificamente.
82
Apraxia: dificuldade em pronunciar palavras, também pode atrapalhar por
não ser compreendido.
Juntar um aluno que tenha uma forma de aprender mais prática e gosta de ensinar,
para assim adquirir conhecimento, com aquele que se beneficia da repetição e gosta
83
de ouvir, pode ser uma dupla bem dinâmica. Portanto, pensar quem vai sentar
ao lado de quem durante a aula também é um forte aliado para os professores.
Perguntar ao aluno como ele prefere que o conteúdo seja passado também
ajuda, porque ninguém vai conhecê-lo melhor que ele mesmo.
Outra dica é usar aquela habilidade que o aluno tem para ensinar novas coi-
sas, pois todos temos alguma área em que nos destacamos, às vezes, pode ser
desenhar, música, futebol, etc. O importante é se adaptar ao ser humano, que
é único em sua totalidade.
Referências Bibliográficas
PORTES, D. S. A importância das neurociências na formação do professor
de inglês. Rev. Psicopedagogia 2015; 32(98): 168-81. Disponível em: <http://
pepsic.bvsalud.org/pdf/psicoped/v32n98/07.pdf>. Acesso em: 23 ago. 2019.
84
LYANA JUFFO
CRP 05/38148
(021) 98880-7330
lyanajuffo@gmail.com
@psicologalyanajuffo
Psicóloga Lyana Juffo
www.psicologalyanajuffo.com
85
A Visão que a Criança Tem de Si e do Mundo
Da concepção até os dois anos, fase também conhecida como os primeiros mil
dias de vida, temos uma grande janela de oportunidades devido ao grande
desenvolvimento físico e psíquico que ocorre. Essa fase é a mais importante,
pois nela são criadas as bases de todo o desenvolvimento do nosso ser.
86
mãe fica sozinha e sobrecarregada com os cuidados do bebê e da casa, esse
bebê vai sentir essa sobrecarga no contato com a mãe e expressar com choro
e insatisfação constantes. No início da vida o bebê é bastante conectado com
a mãe, sendo capaz de perceber suas emoções e, muitas vezes, as expressa.
Devido a isso, torna-se fundamental que não só os bebês sejam cercados de
cuidados nesse período inicial, como também essa mãe que está vivendo um
momento tão importante. Para que a mãe possa estar bem e disponível para
essa relação intensa com o bebê, ela também precisa ser cercada de cuidados.
No primeiro ano de vida a visão que a criança vai começar a construir sobre
si e sobre o mundo que a cerca está relacionada aos cuidados recebidos e às
emoções sentidas. Como ainda não tem a linguagem verbal bem desenvolvida,
a linguagem corporal e emocional são a melhor forma de comunicação com
esse bebê. Isso é um desafio para a maioria dos cuidadores e uma orientação
que gosto de passar é que os pais parem um pouquinho, respirem profunda
e lentamente algumas vezes e percebam como estão se sentindo. Só conse-
guimos estar disponíveis para o cuidado com uma criança quando estamos
calmos e atentos às nossas próprias emoções. Gosto de usar a analogia do
avião, onde somos orientados a “em caso de emergência durante o voo, colocar
a máscara de oxigênio primeiro em nós mesmos e depois auxiliar idosos e
crianças com as suas máscaras”.
Esse é um aprendizado que serve para toda a vida, principalmente para os pais
nessa difícil missão de educar. Em um momento difícil, pare, respire fundo,
acalme-se primeiro, perceba as suas emoções para depois conseguir atender
às necessidades de seu filho. Dessa forma, seu cuidado será mais efetivo e a
mensagem que a criança vai receber é a de que está tudo bem, pois tem um
adulto passando a segurança que ela precisa.
87
Disciplina Positiva pode auxiliar nessa fase com instruções claras, passa-
das de forma amorosa e baseadas em uma comunicação respeitosa com
a criança, equilibrando gentileza com firmeza. Não funciona dar longas
explicações nessa idade, e sim, você vai precisar falar muitas vezes no
começo! Essa é uma fase desafiadora mesmo! A criança leva tempo para
aprender e esse processo exige paciência, dedicação e muito amor. Ah!
Sim, essa fase vai passar!
Apenas reprimir as emoções dos pequenos dizendo que não pode fazer isto
ou aquilo porque não é o certo, não costuma ser um bom caminho. Uma
boa relação se desenvolve baseada no respeito, e para ensiná-los a respeitar
precisamos praticar esse respeito com eles também. Nomear o que eles
sentem é importante para que aprendam sobre aquela emoção e sobre o
que fazer. Alguns exemplos:
• “Eu sei que você está chorando porque queria brincar mais,
mas agora precisamos ir! Você pode ir brincando com seu
boneco enquanto voltamos para casa”;
• “Tudo bem ficar triste por ter que ir embora. O que lhe aju-
daria a se sentir melhor?”.
Pode ser que você já tenha tentado falar assim e não tenha sentido que foi
bem-sucedido na comunicação. Mas nesses exemplos você respeita o direito
da criança de sentir tristeza, nomeia o sentimento para que ela aprenda e
permite que ela se expresse chorando. Com a repetição em várias situações
88
diferentes, ela vai aprender, se sentir ouvida e acolhida. Um abraço cari-
nhoso também é muito bem-vindo! Falar com calma, olhando nos olhos
da criança, ajuda bastante.
Dessa forma seu filho vai compreender que o que ele sente importa, que
está sendo visto e cuidado por você. Vai se sentir amado e importante,
sentimentos que formam uma boa base para uma autoestima elevada. Por
outro lado, se o contrário for frequente, ou seja, se a criança só ouve que
“não pode porque não”; se não pode chorar para expressar o que sente; se
não for acolhida nos momentos de crise; a criança começa a entender que faz
tudo errado, que não é boa o suficiente e passa a construir crenças negativas
sobre ela mesma que podem acompanhá-la por toda a vida, tornando-se a
base de uma autoestima baixa.
É fundamental prestar atenção nas mensagens que estão sendo passadas para
os filhos no dia a dia. E como a interpretação é muito singular, só conseguimos
saber o que se passa na cabecinha deles com uma boa comunicação, com um
olhar atento e amoroso.
Um bom exercício que nos ajuda a ficar mais conectados com as crianças,
é entrar em contato com a criança que você foi um dia. Você pode tirar um
tempinho para lembrar da sua infância. Como era a sua relação com seus pais?
Como foi o seu início na escola? Como você agia quando estava com raiva? O
que você gostava de fazer? Se for possível converse com seus familiares para
ajudar a lembrar. Do que você sentia falta quando era criança?
Muitas crenças que temos sobre nós mesmos, agora na vida adulta, foram
construídas na infância. Parar e rever a sua história é um bom exercício de
autoconhecimento e vai ajudar bastante na relação com seus filhos.
Seu filho pode ser muito diferente do que foi sonhado ou idealizado por
você um dia. Se essa for a sua dificuldade, existe um trabalho a ser feito no
sentido de abandonar essa idealização e aceitar seu filho como ele é, com
seus encantos e fragilidades. Estimulando a desenvolver seus potenciais, mas
respeitando as suas características e preferências.
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sente amada, aceita e respeitada no que sente desde o início da vida, ela vai se
sentir mais segura diante das experiências que surgirem, tendo os pais como
apoio e base segura, onde encontram ajuda e acolhimento quando necessário.
Finalizando esta reflexão, a visão que a criança vai ter sobre si e sobre o mundo
será baseada, principalmente, nas experiências que ela vai ter desde a gestação
e nos primeiros anos. Essas experiências com seus cuidadores e pessoas mais
próximas serão a base das relações futuras. O autoconhecimento é funda-
mental para que essa relação se construa baseada no amor e no respeito ao
que sentimos, favorecendo a construção de uma boa comunicação que vai ser
aprimorada por toda a vida. Somente com uma boa comunicação é possível
saber se os valores que você considera importantes estão sendo passados ou
não para seus filhos.
É importante lembrar que a Psicologia é uma ciência que existe para auxiliar
nesse processo complexo de educar e do autoconhecimento. Acredito em
uma Psicologia preventiva que ainda não é muito conhecida. O trabalho
do psicólogo não precisa ser solicitado apenas em momentos de crise, esse
trabalho pode ser feito para auxiliar nesse processo de autoconhecimento e
nessa busca por construir relações emocionalmente mais saudáveis e felizes.
Referências Bibliográficas
90
CIBELE VOGEL
CRP 01/7651
(61) 9 8127- 3610
espontanearpsi@gmail.com
@espontaneoser/ @donoqueviralaco/ @espontanear
CibeleVogelPsi/ donoqueviralaco/ Espontanear
91
Filhos por Adoção: A Importância de Revelar a Verdadeira
História
Conta! Conta!... Quantas vezes você quando criança pediu para que lhe con-
tassem a sua história? Sim! Somos feitos das nossas histórias: as que sabemos,
as que nos contaram, as que idealizamos e as que precisamos descobrir. Saber
como chegamos, como era antes de sermos “nós”, saber a nossa história nos
nutre e liberta para que cada um seja autor da própria história.
Pais biológicos, família de origem, genitores... são parte da vida de seu filho,
mesmo que ele tenha chegado recém-nascido. Escolher ser família por adoção
é trazer consigo a certeza de que a história de nosso filho começou antes de
nós e que é direito dele ter acesso a ela. Ao tornarmo-nos pais por adoção
passamos a ser guardiões desse tesouro que é a história de vida dele. O “marco
zero” não foi vivido conosco, mas a maneira como lidaremos com isso será
determinante para o desenvolvimento emocional do filho que chega.
92
Justamente por isso, precisamos acolher e apresentar a história de vida para
que esse nó seja desfeito. Tudo aquilo que é velado ganha uma dimensão
incalculável e, com isso, perdemos a possibilidade real de ressignificar aban-
dono, negligência, impossibilidade de cuidar, de mostrar que velhas histórias
podem ter novos finais quando estabelecemos uma conexão real com aquilo
que nos fez família: a capacidade de amar. Rejeitar parte da história do filho
que chega é simbolicamente rejeitá-lo em sua realidade.
Não podemos esquecer que adoção é uma caminhada partilhada para a vida
toda. Questões sobre sua chegada, nascimento e família biológica sempre
farão parte da história que você está construindo com seu filho, pois é a
história dele e isso jamais poderá ser descartado ou tido como escondido
ou de menor valia. Entrar em contato com a história anterior e dar a ela o
valor adequado é liberar espaço para a vinculação real que acontece quando
podemos ser quem somos e dizer o que sentimos e ainda sentir que somos
amados na integralidade.
Jamais poderemos esquecer que toda adoção se inicia com uma perda. Perda
presente em todos os envolvidos. Para os genitores é a perda de seu fruto
biológico, da relação que poderia ter sido, de uma parte real de si mesmo.
93
Para os pais por adoção a perda de uma possibilidade de estar junto desde
sempre, perda de uma exclusividade histórica e emocional, perda de uma
história idealizada. E para a criança adotada, a perda dos pais de origem, da
primeira experiência de pertencer, da relação que te fez ser alguém. Negar
essas perdas é negar o impacto emocional que isso tem na nossa construção
como sujeito, na maneira como nos relacionaremos com as pessoas e com
o mundo. É entrando em contato com nossas perdas e dores que liberamos
espaço para novas vinculações e pertencimentos.
Dar voz às histórias pessoais tem que ser um movimento de caminhar junto,
de mãos dadas com o zelo e acolhimento com o qual se transporta um tesou-
ro, afinal a verdade da filiação é singular e se faz na relação de quem a vive e
pode contá-la com os fatos que sabe e com aqueles que lhe foi permitido saber.
Para o filho por adoção recuperar a narração da sua própria história é primor-
dial estabelecer um autoamor capaz de fazê-lo seguir adiante, sem acreditar
que deve algo a alguém, que em algum momento ele pode novamente ser
retirado da história ou que ele tem que ser o mais próximo do que esperam
que ele seja para poder “ficar”.
É preciso ter espaço para suprir suas curiosidades, lamentar suas perdas,
expressar suas raivas, dores e indignações; reconhecer-se diferente e ainda
assim pertencer sem que seja necessário “proteger” a história iniciada com
a adoção de sua história de origem. Aquilo que é sabido pode ser amado,
recontado, ressignificado e ter seu lugar de importância na história que nos
faz ser únicos e ser o que somos.
Toda existência espera pelo seu revelar para que possa efetivamente SER! Ao
consultar o dicionário encontramos em primeira linha: “revelar (verbo tran-
sitivo) tirar o véu a; deixar ver, patentear, mostrar, descobrir, fazer conhecer
o que era ignorado ou secreto; divulgar: revelar sua insegurança ou culpa”.
Diante de tantas relações estabelecidas, do convite ao “é preciso ver” como
poderemos ser família sem “a tal revelação?”.
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história naturalmente familiar. Os detalhes íntimos pertencem aos perso-
nagens principais (pais e filhos) e somente a eles; jamais devem ser nutrição
para a curiosidade alheia, ao passo que sendo naturalizados pelos envolvidos
perdem até o posto de excepcionalidade, sendo integrados à história da família
como tantas outras.
Para que possamos ser autores da nossa própria história precisamos conhecer
nossos inícios, rupturas e dar voz aos sentimentos que acompanham esse
processo. Toda adoção nasce de uma perda anterior e isso precisa ser elabo-
rado para que se tenham espaço real para o pertencimento que caracteriza
o ser família.
Ser família por adoção é navegar em mares por muitas vezes desconhecidos,
mas não ignorados. Trazendo consigo a atitude de disponibilidade para a
busca e construção da narrativa que dá razão ao nosso existir. Independen-
temente das dificuldades que serão reveladas nesse caminhar, “é importante
entender a emergência do desejo, mesmo que não enxerguemos os caminhos
para se chegar até ele”. (Schettini, 2009)
95
Diante disso, precisamos ter claro que filho é adotado uma única vez. Se torna
filho e assim o será, mas a sua história com a adoção será para sempre. Ela fará
parte de toda a sua existência e para isso deve ser presente no nosso cotidiano.
Seu filho chegou bebê? Foi uma adoção tardia? Não importa com que idade
chegou; o importante é que você reconheça a realidade da adoção desde o
primeiro contato. “Estamos muito felizes por termos adotado você. Estou
muito contente que você seja nosso. Desde o dia que você chegou e me tornei
seu pai (sua mãe) e...”. Faça de todos os momentos possibilidades de inser-
ção da história familiar a partir da adoção. Se estamos seguros eles também
estarão para naturalizar e relatar “o nascimento por adoção”. Fale sempre,
mesmo que não diretamente sobre a história dele integrando na narrativa o
antes e o agora.
E sobre a história real? Converse sempre! Prepare-se para estar disponível para
responder as perguntas que surgirão. E quando não souber? Diga também:
“Olha, isso eu não sei, mas podemos tentar saber! Quando você chegou, o que
96
soubemos foi...”. A criança não precisa ter acesso irrestrito ao que é sabido,
mas ela precisa saber o que é fundamental para que ela possa “juntar as peças”
da própria história. O importante é não inventar e tampouco mentir. E não
esqueça: a história é importante, mas a maneira como será contada é mais
importante ainda. É nessa narrativa que será reafirmado o vínculo de amor
e cuidado que foi estabelecido no momento que vocês se tornaram família.
Busque saber o máximo sobre a história de origem de seu filho. Guarde com
cautela o “tesouro” que são os registros, a certidão de nascimento originária,
as informações do processo. Uma hora ele pode querer saber mais detalhes
sobre o início e tendo idade e maturidade para tal deve ter seu direito resguar-
dado. Todos nós queremos saber como tudo começou e com filho por adoção
não será diferente. Cuidar desse tesouro para que se seja disponibilizado, se
e quando for necessário, certificará ao seu filho que ele foi amado em sua
integralidade desde o primeiro instante, pois você conhece, respeita a história
de vida dele desde o início, juntamente com tudo que construíram juntos.
Esteja preparado para lidar com as perguntas que vem da escola, dos cole-
gas e da sociedade em geral, fortalecendo-o para que o mesmo se aproprie
da própria história, entendendo que a maneira como um filho chega não é
qualificador do SER filho. Filho é filho e ponto! E a adoção é só mais uma
maneira de se tornar filho e ser família.
Não o nomeie como “filho do coração”. Todo filho é filho do corpo inteiro!
Nasce da barriga de alguém, ao qual seremos eternamente gratos por ter nos
dado o dom da vida, e se torna filho pela capacidade que temos de cuidar,
amar e proteger juntamente com toda a complexidade que é ser família.
97
Confie no vínculo construído por vocês. É na capacidade de ressignificar o
passado e escrever o momento presente que a adoção se estabelece. Tenha
certeza que uma história não precisa substituir a outra para que a relação
pais-filhos esteja estabelecida; que todo filho sendo gerado ou não precisa ser
adotado para que possa pertencer; assim como os pais precisam ser adotados
por seus filhos.
Não se apaga o passado. Não se esconde o que foi vivido, afinal o mais im-
portante da história de uma família não está em onde ela começa, mas em
tudo que a faz permanecer como tal e o pertencimento que se estabelece
pelo amor que permitimos existir além de qualquer determinação genética.
Conhecer nossa origem é o ponto inicial de uma história que tem muito a ser
escrita e elaborada. Sejamos então os autores de uma história rica de partilha
e pertencimento, afinal a vida tratou de juntar quem nasceu para se amar.
Referências Bibliográficas
ELDRIDGE, S. Vinte coisas que filhos adotados gostariam que seus pais
adotivos soubessem. São Paulo: Globo, 2004.
98
ANGELA LUPO
CRP 06/32630
(11) 98184-2988
a.lupoangela@gmail.com
@psicologaangelalupo
Angela Lupo
99
Como Falar dos Cuidados com o Corpo para Previnir o
Abuso Sexual?
100
A crença de que para existir abuso sexual é necessária a conjunção carnal
favorece para que as crianças e adolescentes sejam submetidas ao abuso por
longos períodos. Existem várias formas desse tipo de violência acontecer, por
isso precisamos conhecê-los, a fim de prevenir e tomar as medidas necessárias:
É necessário saber que a maior parte dos abusos em crianças, ocorre dentro
de casa, tendo como principal agressor o pai, seguido de padrasto, avô, tio,
vizinhos e outros. Ocorre de forma lenta e gradativa, seu objetivo final é a
conjunção carnal. Com isso, o agressor “ganha confiança” da criança e a
mantém nessa situação, muitas vezes, por anos.
101
Quadro 1 – Série histórica dos atendimentos no ambulatório de violência
sexual (2014 a 2018) por faixa etária.
A prevenção ao abuso sexual tem sido um tema divulgado pelas mídias so-
ciais, televisão, rádio e jornais, por meio de planos de governo, programas de
prevenção, ações contra a pedofilia e ampliação da lei de proteção às crianças
e adolescentes. Com isso, houve um aumento considerável no número de de-
núncias, conforme observamos na estatísticas apresentadas nos Quadros 1 e 2.
• isolamento, apatia;
102
• perda da espontaneidade;
• agressividade;
• ansiedade, insegurança;
• secreção vaginal;
103
A denúncia tem vários aspectos: o terapêutico e o de prevenção de futuros
crimes, ou seja, a criança defendida inicia o processo de reparação e a res-
ponsabilização do agressor, contribui para que mais crianças abusadas não
sejam abusadas por aquele indivíduo.
A seguir estão algumas dicas de como orientar os menores, de acordo com a idade:
• Entre um ano e meio e três anos: ensine seu filho a nomear as partes do
corpo, inclusive a parte íntima seja pelo nome científico ou por apelidos fa-
miliares. Nomeie como você faz com as outras partes do corpo: olhos, nariz,
boca, etc.
• Entre três e cinco anos: converse sobre as partes privadas do corpo. Ensine
que tem o direito de recusar toques e carinhos, por mais inocentes que sejam
ou pareçam. Nunca force seu filho a beijar ou abraçar alguém caso não sinta
vontade. Quando obrigamos uma criança a receber toques/carinhos sem sua
vontade, ensinamos que ela não é dona do próprio corpo. Oriente a criança
a buscar uma pessoa de confiança, caso necessite de ajuda. O banho é um
momento que favorece esse tipo de conversa. Repita o assunto se perceber
que é necessário.
• Entre cinco e oito anos: oriente a respeito do tipo de carinho que pode ou
não pode ser permitido; ninguém pode tocar nas suas partes íntimas nem fazer
carinhos em que a criança se sinta desconfortável ou constrangida. Motive a
criança revelar a um adulto de confiança sempre que algo estranho acontecer.
• Entre oito e onze anos: deve ser iniciada discussão sobre conceitos e regras
de conduta sexual e informações básicas sobre reprodução humana. É ne-
cessário orientar sobre o respeito ao próprio corpo e o corpo do outro, bem
como o respeito quando o outro diz “não me toque”.
104
É importante salientar que crianças com deficiências, quaisquer que sejam,
são grandes alvos para os abusadores. Precisamos ficar atentos aos comporta-
mentos, pois eles nos dizem muito. Em qualquer tipo de violência, denuncie
e crie uma rede de proteção, e que nela estejam a família e os demais órgãos
competentes, a fim de dar suporte à criança/adolescente.
• [...olhe mais para gente do que para o celular, a gente dá brecha...] (ado-
lescente de dezessete anos que sofreu abuso do pai dos seis aos onze anos).
• [...damos pequenos toques para dizer que não estava tudo bem, não que-
ria ir para casa do meu pai...] (adolescente masculino de treze anos que foi
abusado pelo pai aos 10 anos).
• [...olhe mais para a gente e fique menos no celular, meu pai era um “ho-
mem bonzinho”, por isso conseguia enganar, ele confundia muito a gen-
te...]Criança de 7 anos que sofreu abuso sexual do pai, desde bebê, junto com
sua irmã dois anos mais nova)
[...preste mais atenção em nós, é mais importante ter eles do que coisas...](Ado-
lescente que sofreu violência extrafamiliar aos 14 anos)
105
Referências Bibliográficas
ARCARI, C. Prevenção de violência sexual para crianças. Instituto Cores.
106
MARIANA FERREIRA
CRM -SP 121280
(11) 4999-1368
prodigscontato@gmail.com
@prodigsoficial
Pródigs: Pró-Dignidade Sexual
107
O Limite da Manifestação do Carinho: Cama Compartilhada,
Beijo na Boca, Banho, Etc.
Nada mais gostoso do que dar milhares de beijinhos em seus pequenos e peque-
nas, abraçar, fazer cafuné, beijar o dodói, dar um cheiro, dormir todos juntinhos
na mesma cama, essas são práticas carinhosas muito conhecidas e realizadas
em nossa cultura, mas será que tudo pode? Será que tudo é adequado?
O que parece tão inocente e natural pode ser completamente adulterado quan-
do se trata de abuso sexual infantil. Infelizmente, abusadores e abusadoras
sexuais usam da justificativa do “carinho”, como forma de atrair e manter
as vítimas sob abuso.
108
ensinar a criança, para que tenha a possibilidade de identificar o que pode e
o que não pode ser realizado com ela.
Por mais que sejamos mães e pais cuidadosos, que adoremos expressar nosso
amor por meio do contato físico, é fundamental que saibamos que existe um
limite físico entre o corpinho da criança e o nosso, que existem práticas que
não são adequadas e podem naturalizar o acesso de estranhos.
A criança tem que ter consciência de que possui um corpo que é dela, que tem
partes chamadas de íntimas que só podem ser tocadas em algumas situações
específicas e por pessoas específicas. Não devemos forçar o seu contato físico e
demonstração de afeto com adultos conhecidos ou estranhos, ou com pessoas
que a criança demonstre claramente rejeitar.
É muito comum vermos mães e pais obrigando seus filhos e filhas a beijar
e abraçar outros adultos, como forma de demonstração de boa educação, e
caso não façam o que lhe pedem ou ordenam, são repreendidas com ênfase
pelos seus pais, muitas vezes chamando-as de mal-educadas e, como se diz
lá no interior, de “bichos do mato”.
Quantas vezes ouvi comentários como: deixa de ser bicho do mato menina!
Precisa educar melhor essa mocinha! Que horror, onde estão as boas maneiras?
Pois bem, mal sabia eu que aquele desconforto e até repulsa que sentia em
ter que abraçar e beijar algumas pessoas era totalmente compreensível e que
estava ligado ao meu desenvolvimento do afeto e noção corporal.
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Se não quer beijar, não quer abraçar, não tem importância, não é sinal de
falta de educação, de boas maneiras ou de rebeldia, é apenas o seu direito
de expressar os sentimentos de forma natural e espontânea, pode-se sugerir
que mande um aceno ou um beijo à distância como uma nova forma de
cumprimentar alguém.
Essa diferenciação ficou muito clara para mim durante os atendimentos pe-
riciais, ao longo de dez anos de trabalho com inúmeros casos atendidos, com
um total de aproximadamente três mil casos realizados, principalmente nos
casos de menores de 14 anos de idade, ou seja, de vulneráveis, quanto mais
tenra a idade, mais frequente o uso desses termos. Quando solicitadas a ex-
plicar o que havia acontecido, período anterior à lei do depoimento especial
(13.431/2017), o uso de dodói estava associado à penetração vaginal ou anal,
e carinho para manipulação genital e sexo oral. Já ouvi inúmeras vezes frases
como: “papai fez dodói aqui”, apontando para a região íntima e local aonde
ocorreu a penetração. “o tio faz carinho com a língua em mim, na minha “‘ti-
tica’”. “a tia gosta de fazer carinho com o dedo no meu buraquinho do cocô”.
2. Georges Cognet é psicólogo clínico francês, professor na École des Psychologues Praticiens,
autor do livro Compreender e interpretar desenhos infantis.
110
Devemos evitar brincadeiras e toques desnecessários na genitália da criança,
como beijos, mordidas, beliscões e até mesmo assopros.
O famoso selinho na boca, tão inocente e tão praticado pelos pais e cuidadores,
deve ser evitado também, não só por questões de saúde, mas também porque
infelizmente os agressores sexuais utilizam dessa prática para convencer sua
vítima de que isso é permitido com ele também.
“Ele disse que era carinho”. Essa é uma das expressões que mais ouço em
minha atuação profissional, tanto como Médica Legista durante as perícias,
quanto como Sexóloga Criminal nos eventos que realizo.
Em um dos casos que atendi, uma criança era abusada sexualmente por
conhecido. Ele levava a garota para sua casa e com ela praticava sexo oral e
a obrigava a realizar nele, inúmeras vezes. Quando me contou o que havia
acontecido, disse que ele falou que o que estavam fazendo era carinho, que
todo papai que ama realmente sua filhinha faz isso, que ela só não sabia disso
antes, porque não tinha papai.
111
Diferente do que a maioria das pessoas acredita, o estupro de crianças em
sua maioria, não acontece com o uso da violência e força física, ao contrário,
quem pratica o abuso tem preferência pelas práticas sexuais menos invasivas,
como manipulações genitais, carícias pelo corpo, sexo oral e masturbações,
deixando as penetrações para o final do processo ou quando a vítima já está
desqualificada, para que possam manter a vítima e satisfazer sua própria
libido pelo máximo de tempo possível, por isso que um grande número de
pessoas só descobre que foi vítima de estupro na adolescência, quando rece-
bem informações sobre sexo e sexualidade, conceitos desconhecidos ao longo
da infância. Essa forma de agir, esse padrão de comportamento do agressor
sexual infantil, pode refletir na área pericial também, aonde perícias podem
resultar negativas, ou seja, sem vestígios laboratoriais ou físicos, dificultando
assim o trabalho dos profissionais da perícia.
112
para a manipulação genital por cima da roupa, depois por baixo, tudo de
uma maneira que a vítima acredite que é normal, geralmente essas práticas
acontecem na presença dos cuidadores, sem que eles percebam, para que as
vítimas se sintam ainda mais seguras, pois se a mamãe e o papai estão por
perto, está tudo bem.
Ainda hoje, muitas pessoas confundem falar sobre sexualidade com crian-
ças, com ensiná-las a fazer sexo, que ao tocar no assunto de partes íntimas,
possam torná-las erotizadas ou hipersexualizadas, ou seja, é um grande tabu
para a maioria das famílias. Chego a retirar crostas de sujeira da genitália
de algumas crianças, durante a perícia, as quais nunca foram higienizadas
adequadamente, devido medo de seus pais tocarem a sua parte íntima, com
receio de machucá-las ou promover sensações “inadequadas”.
No entanto, não falar com elas sobre suas partes do corpo, as partes íntimas e
sobre os toques físicos que não podem acontecer, facilita a vida desses agres-
sores sexuais, os quais contam com o silêncio e a ignorância, pois se suas
vítimas nunca ouviram falar, por exemplo, que beijar suas partes íntimas
não é permitido, quando eles forem realizar o ato, e disserem que é apenas
carinho e uma simples brincadeira, elas não terão como não acreditar, pois
não receberam informação diferente.
Referências Bibliográficas
ABDO, C. H. N. Sexualidade Humana e seus transtornos. 5. ed. São Paulo:
Casa, 2014.
113
ARCARI, C. Gogô: de onde vem os bebês?. Curitiba: Caqui, 2019.
114
THAINÁ MATOS
CRP 06/95992
(11) 98754-9279
matospsi@hotmail.com
@matospsicoach
thainamatospsi
• Especialista em Luto
115
Relação da Criança com Animais de Estimação
Mas até que ponto a relação com os bichos de estimação pode ser considerada
benéfica? Essa é uma dúvida que alguns pais de pacientes já trouxeram para os
atendimentos em meu consultório, quando os filhos insistem em ter um ani-
mal de estimação. Não é uma pergunta fácil de responder, pois existem ainda
algumas controvérsias e poucos dados científicos sobre este tema. Porém os
116
estudos e pesquisas realizados até agora, mostram que os humanos podem
se beneficiar muito desta relação, principalmente se tratando das crianças.
Educar nunca foi uma tarefa tão difícil como tem sido com a geração de crian-
ças atuais, pois algumas acabam tendo problemas em lidar com as emoções,
são intolerantes a frustrações, inseguras e têm dificuldades de se colocar no
lugar do outro. Isso porque alguns adultos têm tido dificuldades de perceber
que as crianças precisam proteger suas emoções por meio de atividades lúdicas
como brincadeiras, atividades criativas como música e pintura e também por
intermédio do relacionamento com a natureza, em que podemos incluir o
contato com os animais de estimação.
117
aos seres humanos e vice-versa), pois tocam superfícies potencialmente con-
taminadas e costumam colocar objetos na boca, inclusive as próprias mãos.
Por isso é importante que as crianças pequenas sempre tenham a supervisão
de um adulto durante a interação com animais, a fim de evitar que façam
brincadeiras agressivas ou beijem os animais. Também sendo importante
lembrá-las de lavar as mãos após o contato com qualquer animalzinho.
118
pode dificultar o processo de luto infantil, pois tira-se a oportunidade de a
criança expressar e sentir seu pesar, para conseguir lidar e elaborar a morte
de maneira mais adequada.
Alguns pais têm dúvidas de qual seria o bichinho mais adequado para os
filhos, para essa escolha é importante levar algumas coisas em consideração
como: raça, nutrição, treinamentos, cuidados veterinários, tempo e custos
necessários para cuidar do animal, espaço disponível na casa e as espécies
ou raças que melhor se adaptam ao estilo de vida da família.
Também é importante saber que nem todo animal é adequado para qual-
quer criança. O segredo para o sucesso dessa relação é o respeito mútuo. Aos
cinco anos, a maioria das crianças já demonstram mais autocontrole para
serem orientadas a interagir com segurança com os animais. O que pode não
acontecer com crianças menores, fazendo com que existam mais riscos de
tornar essa interação negativa.
• Aves: são animais que podem exigir treinamento e socialização para serem
apropriados como bichinhos de estimação. Podem ser barulhentas e fazer
sujeira por conta de não controlarem os esfíncteres (músculo que controla a
saída dos excrementos). Tem um custo relativamente barato, porém neces-
119
sitam de gaiola, poleiros e alimentação equilibrada. Podem morder e têm
uma vida mais longa, sendo 10 anos para periquitos até várias décadas para
papagaios, por exemplo. As aves pequenas como periquitos, podem ser mais
sociáveis, porém aves grandes costumam se apegar a um adulto e por isso
talvez não sejam tão indicadas para crianças.
• Peixes: são considerados bons para todos os estilos de vida, porém podem
ter um custo alto, pois a depender da espécie, além do aquário necessitam
também de filtro apropriado e aquecimento. Não exigem muitos cuidados
além da alimentação, porém a limpeza do aquário deve ser feita frequente-
mente. São bons animais para ensinar as crianças sobre cuidado e responsa-
bilidade, apesar de não demonstrarem apego aos seres humanos. Suas vidas
são curtas, sendo de 1 a 2 anos para peixes de aquários comuns e são animais
recomendados para todas as idades.
120
lembrar que qualquer cão pode morder se provocado ou acuado. Sua ex-
pectativa de vida varia de nove a dezesseis anos, sendo que os cães menores
tendem a viver mais que os maiores.
Referências Bibliográficas
BECK, A. M. A saúde e o desenvolvimento da criança e os animais. In: Mc-
CARDLE, P.; et al. (Org.). Os animais em nossa vida: família, comunidade
e ambientes terapêuticos. Tradução de Mônica Saddy Martins. Campinas:
Papirus, 2013, p.65-72.
121
CURY, A. Ansiedade: como enfrentar o mal do século: a Síndrome do Pen-
samento Acelerado: como e por que a humanidade adoeceu coletivamente,
das crianças aos adultos. 1.ed. São Paulo: Saraiva, 2014, p. 107-111.
122
ANA PAULA ECKERT
CRM-SP 91088
(11) 98816-1097
pediatriaintegral.anapeckert@gmail.com
@pediatriaintegral.dranapeckert
Formação
123
Como Falar de Morte e Doenças com Crianças
124
paradas abruptas em tenra idade. A infância nos remete à idade dos des-
cobrimentos, das conquistas e vitórias, nesse início de caminhada não nos
parece justo sermos surpreendidos com obstáculos e paradas abruptas.
A morte não deve ser colocada do lado de fora da vida, uma vez que está
muito próxima de nós. Basta nos depararmos com a violência diária que
presenciamos nas grandes metrópoles, as guerras frias nos países distan-
tes, ataques terroristas pelo mundo e as assustadoras histórias de ataques
a escolas e igrejas. Tudo cada vez mais próximo de nós, noticiados em
horário nobre e amplamente discutidos nas mídias sociais.
Até mesmo nos contos de fadas, por mais difícil que nos possa parecer,
as crianças de alguma forma estão expostas ao tema, seja nas mortes
interrompidas das princesas Branca de Neve e Bela Adormecida, ou no
sutil desaparecimento dos pais da Ana e Elsa, no filme Frozen. Por isso,
o tema deve ser abordado de forma sutil e carinhosa, de modo a não
evoluir para um imaginário distante e amedrontador.
Mas como estar preparados para abordar tais assuntos com nossas crian-
ças? A literatura infantil pode ser um importante recurso mediador na
comunicação com a criança em relação à morte. Um excelente material
de apoio para lidarmos com situações de luto é a publicação “A arte de
falar da morte para crianças”, em que a autora aborda de forma profunda
o tema e percorre pelos aspectos cognitivos e emocionais relacionados
às perdas nas diferentes fases do desenvolvimento infantil, além de de-
mostrar o quão importante é a atenção aos sentimentos expressados por
essas crianças. As crianças que sofrem perdas importantes sentem medo
de serem devoradas pela intensidade de seus sentimentos.
125
anos de idade não têm nenhuma compreensão da morte, devido a sua
incapacidade de apreensão de qualquer concepção abstrata. Entretanto,
nessa faixa etária, a criança é capaz de intuir a morte por intermédio de
sua experiência de dormir e acordar, a qual permite a percepção do “ser”
e “não ser”. Nessa idade, a criança não tem a clareza de que a morte é
irreversível, pois seu entendimento geralmente é baseado na experiência
dos desenhos infantis, em que um personagem pode ser esmagado por
uma bigorna e voltar a andar normalmente no mesmo episódio.
126
A dor é evento presente na maioria dos processos de doenças crônicas e agu-
das. Nos dias atuais, um conceito ampliado de dor, denominado “Dor Total”
descreve o fenômeno da dor em suas dimensões física, emocional, social,
espiritual, interpessoal e familiar.
Precisamos respeitar cada indivíduo e a sua dor, seja ela física ou de caráter
ampliado, uma vez que cada dor é a dor de uma pessoa, com sua história,
sua etnia, personalidade, contexto, momento, etc.
O tema “perda” deve ser discutido com qualquer criança, porém as que
passam por processos de adoecimento podem ter maior necessidade de
obter informações e expressar sentimentos em relação às suas vivências,
fantasias e anseios. Na vivência hospitalar é muito frequente que as crian-
ças vivenciem perdas reais de amizades feitas durante a internação, e essa
127
proximidade pode aumentar em muito o medo da morte e a incerteza
de futuro. Elas também vivenciam as fases clássicas de negação, raiva,
depressão, negociação e aceitação diante de processos de perdas.
128
A morte deve ser exposta à criança de forma concreta e sem metáforas,
e conversas sinceras são a melhor maneira de abordagem deste tema tão
profundo. Para ajudarmos a criança a enfrentar adequadamente suas per-
das precisamos primeiramente nos conectar verdadeiramente com elas,
o que permite confiança mútua, e a partir daí, compreensão e atenção
às expressões de seus sentimentos. A maneira como acolheremos esses
sentimentos influenciará diretamente o modo como a criança vivenciará
a experiência da perda.
Referências Bibliográficas
129
PAIVA, L. E. A arte de falar da morte para crianças: a literatura in-
fantil como recurso para abordar a morte com crianças e educadores.
Aparecida: Ideias e Letras, 2011.
130
PODCAST-IGO?
Marina Magalhães
• Terapeuta Ocupacional
Mariana Boschi
131
Pode Castigo? Considerações Sobre o Uso do Castigo
Como Ferramenta Educativa
Sequência
Eu era pequena. A cozinheira Lizarda
tinha nos levado ao mercado, minha irmã, eu.
Passava um homem com um abacate na mão
e eu inconsciente:
“Ome, me dá esse abacate...”
O homem me entregou a fruta madura.
Minha irmã, de pronto: “vou contar pra mãe que ocê
pediu abacate na rua.”
Eu voltava trocando as pernas bambas.
Meus medos, crescidos, enormes...
A denúncia confirmada, o auto, a comprovação do delito.
O impulso materno... conseqüência obscura da
escravidão passada,
o ranço dos castigos corporais.
Eu, aos gritos, esperneando.
O abacate esmagado, pisado, me sujando toda.
Durante muitos anos minha repugnância por esta fruta
trazendo a recordação permanente do castigo cruel.
Sentia, sem definir, a recreação dos que ficaram de fora,
assistentes, acusadores.
Nada mais aprazível no tempo, do que presenciar a
criança indefesa
espernear numa coça de chineladas.
“é pra seu bem,” diziam, “doutra vez não pedi fruita na rua.”
“É para o seu bem”. Provavelmente você tenha ouvido, ou quem sabe, até
dito esta mesma frase presente no poema de Cora Coralina para justificar
um castigo. Embora comum, a intenção de proteger, ensinar e promover o
bem-estar por meio do castigo é uma ideia de caráter paradoxal. Sem dúvidas,
este é um assunto complexo e que gera muitas divergências, seja entre pais ou
profissionais da saúde e educação. Afinal, pode ou não usar o castigo? Ele é
eficaz? Quais são os seus efeitos a curto e longo prazo? Neste capítulo serão
apontadas algumas evidências e posicionamentos, a fim de esclarecer tais
questões e auxiliar os pais nas escolhas das ferramentas que desejam utilizar
na educação dos seus filhos.
132
Para começar, é importante entender o significado da palavra castigo e as
origens desta prática. Castigo vem do verbo castigar, cuja origem vem do
latim castigare, que significa tornar puro ou purificar. No dicionário, é tido
como pena que se aplica a um culpado, advertência enérgica, imposição de
uma obrigação ou ainda uma sanção aplicada para reprimir uma conduta in-
correta. É uma prática usada em diversos contextos e que ao longo da história
tem um papel central na organização das relações humanas, em resposta à
transgressão de regras sociais. Pode ser mais ou menos severo – da aplicação
de multas à pena de morte; da simples suspensão de privilégios até uma surra
violenta e brutal. Embora comumente associado ao sofrimento físico, pode
ser aplicado de diferentes formas, conforme listado a seguir:
• Castigo físico: inclui bater, seja com a mão ou outros objetos (vara, cinto,
palmatória, chicote, chinelos...), assim como chutar, socar, chacoalhar, em-
purrar, beliscar, puxar os cabelos, queimar, deixar cicatrizes, etc.
133
Em relação às crianças, observa-se uma demora da sociedade para reconhe-
cê-las como cidadãs de direito. Até a década de 1970, havia pouquíssimos
estudos sociológicos relativos às crianças e à infância. No Brasil, a primeira
vez que a criança teve seus direitos reconhecidos pelo Estado foi pelo Artigo
227 da Constituição Federal de 1988, quando se estabeleceu que:
É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao
adolescente, com absoluta prioridade, o direito à saúde, à alimentação,
à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar
e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência,
discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.3
Um exercício de empatia
Vamos propor um exercício. Pense em alguns dos castigos listados anterior-
mente e imagine que foram direcionados a você, talvez vindos do seu chefe,
professor ou parceiro. Por exemplo, você chega atrasado em um compromisso
de trabalho e o seu gerente, para lhe ensinar a ser pontual, o ridiculariza na
frente dos seus colegas e o obriga a trabalhar em pé até o fim do expediente.
Como você se sentiria? Ficaria estimulado a chegar no horário no dia seguin-
te? Talvez sua resposta aqui seja sim, mas provavelmente, a motivação para
mudar viria do medo ou da vergonha. Este pode ser um resultado “positivo”
a curto prazo, pois de fato o seu chefe teria conseguido o que pretendia, a
3. Trecho original da Constituição Federal de 1988. O artigo 227 foi revisado em 2010 pela EC 65.
134
sua pontualidade nos compromissos de trabalho. Mas e a longo prazo? Você
acredita que a atitude do seu chefe o ajudaria a melhorar a sua pontualidade
nos outros compromissos do seu dia a dia? Você se sentiria motivado a co-
laborar com esse chefe em outras situações? Ou você já estaria pensando em
procurar outro emprego?
Esta cena pode parecer extrema e absurda, mas fazemos isso o tempo todo
com as crianças com o objetivo de educá-las e ensinar habilidades de vida
necessárias para a vida adulta, como responsabilidade, respeito e cooperação.
O que é visto como um abuso ou desrespeito a um adulto é frequentemente
aceito como normal no trato com uma criança. Por que esperamos que a
reação das crianças ao castigo seja diferente? Se aceitamos que as crianças
são pessoas com direito à dignidade e respeito, precisamos, então, repensar
as nossas práticas educativas.
Mudança de foco: o castigo faz com que a criança desvie a atenção do pro-
blema a ser tratado e de como solucioná-lo para a punição que está sofren-
do. Isso significa que, ao ser castigada, ela não irá refletir sobre o seu mau
comportamento, mas sim pensar no castigo que recebeu ou na atitude do
adulto – “Isso doeu!” / “Isso foi injusto!” / “Como meu pai foi mau comigo!”.
Perde-se a oportunidade de conduzir a criança a reavaliar o seu próprio com-
portamento e/ou pensar em formas de reparação.
135
Reagir ou pensar?: ao usar o castigo e a punição física, as crianças se sentem
ameaçadas, sendo ativadas as regiões mais primitivas do cérebro, responsáveis
pelas reações de luta, fuga ou paralisação. Como alternativa, você pode utilizar
estratégias mais eficazes para disciplinar, estimulando o cérebro pensante e
racional do seu filho e ajudando-o a refletir sobre suas ações e a tomar decisões
mais assertivas e saudáveis.
Exemplo: crianças veem, crianças fazem. Ao usar o castigo você ensinará seu
filho que esta é uma forma válida para resolver problemas. Se você bate no
seu filho, ele provavelmente irá reproduzir este comportamento em outras
situações ou contextos.
136
partes. Converse com seu filho, encontrem juntos uma solução e testem por
no mínimo uma semana para avaliar os efeitos.
Não leve para o pessoal: as crianças estão o tempo todo buscando entender o
seu lugar e o seu papel na família, escola e outros grupos aos quais pertencem.
O mau comportamento do seu filho pode ser a solução que ele encontrou
para um problema que você não está vendo e não uma ação planejada e
direcionada a você.
137
Referências Bibliográficas
BOSCHI, M. A imagem da criança como princípio para uma educação de
qualidade na primeira infância. Trabalho de conclusão de curso (Graduação
em Pedagogia). Universidade de São Paulo, 2008.
DREIKURS, R.; SOLTZ, V. Como educar nossos filhos nos dias de hoje. Rio
de Janeiro: Record, 1964.
MCMILLAN, H.L. et al. Slapping and spanking in childhood and Its associa-
tion with lifetime prevalence of psychiatric disorders in a general population
Sample. Canadian Medical Association Journal, v. 161, n. 7, 1999.
138
GRACE FALCÃO
CRP 05/23360
(21) 99705-9345
gracefalcao@gmail.com
familia_consciente
Escola de Pais Família Consciente
www.gracefalcao.com
• Meu objetivo sempre foi capacitar pessoas a aliviar suas dores e os pais a
lidar com a nova geração, utilizando recursos e ferramentas eficazes para
harmonizar e conectar as famílias.
139
Disciplina Positiva: Educar Requer uma Dose Equilibrada
de Firmeza e Gentileza
140
todas as formas (inclusive os físicos). A pesquisadora americana Jane Nelsen
(2015) questiona assertivamente: “de onde tiramos a absurda ideia de que,
para levar uma criança a agir melhor, precisamos antes fazê-la se sentir pior?”.
A autora defende o uso da disciplina positiva como caminho para pensar os
processos de disciplina, indisciplina e sanções, questionando profundamente
a forma como lidamos com tais fenômenos.
Segundo Nelsen (2007), onde há muita ordem, mas pouca liberdade não há
escolhas. A regra é: “você faz porque eu mando”. Adultos que tiveram uma
criação autoritária provavelmente têm a autoestima comprometida, sentem-se
incapazes de solucionar tarefas e ultrapassar obstáculos que são comuns a
todos no desenvolvimento natural da vida; são pessoas que possivelmente
terão resultados acadêmicos muito baixos e níveis de estresses muito altos.
Neste sentido, a utilização da punição física como uma prática disciplinar não
apenas reafirma o poder dos pais sobre os filhos, mas também impõe medo,
favorecendo o desequilíbrio na relação e também prejudicando a reciproci-
dade de afeto entre eles. No modelo da disciplina positiva, as regras não são
impostas pelos pais, mas combinadas entre pais e filhos, fazendo com que
a criança saiba que faz parte do processo e sinta que sua opinião também é
importante e respeitada. Quando o filho acerta, também tem o carinho, o
afeto e a validação de suas atitudes. “Decidiremos juntos as regras para nosso
benefício mútuo... quando tivermos problemas, também procuraremos, em
conjunto, as soluções mais proveitosas para todos os envolvidos.”.
É importante saber que os pais não devem agir por impulso ou fazer o que se
têm vontade no calor do momento, mas colocar-se sempre no lugar da criança
e do adolescente e pensar com qual maneira gostariam de ser tratados no
momento de um comportamento inadequado, ou ao chamarem sua atenção
por alguma falha que possam ter cometido. Nesse contexto, convido a uma
breve reflexão: tente se lembrar de como foi seu modelo de criação. Como
seus pais reagiam a algum comportamento que você praticou de maneira
inocente? Quantas broncas você levou e não conseguiu entender o motivo de
tanta raiva ou irritação por parte deles? Quantos castigos pesados você sofreu
por pequenos deslizes? Agora tente lembrar como você enfrentava a situação.
Como expressava a sua emoção? Com choro ou birra? Fazia tudo ao contrário
da ordem recebida ou obedecia cegamente por medo? Qual era o sentimento
que você experimentava em relação aos seus pais naquele momento?
141
Colocar-se sempre no lugar da criança ou jovem é uma estratégia muito uti-
lizada por pais que utilizam a disciplina positiva como método de educação
infantojuvenil. Quando a criança tem boas atitudes, também desfrutam do
carinho, do abraço e da validação de suas atitudes; ela se sentirá, portanto,
incentivada a melhorar e a superar seus próprios desafios. Os adultos que
tiveram pais participativos e que utilizaram um modelo de educar como o da
disciplina positiva possivelmente são pessoas autossuficientes, independentes,
com alto grau de empatia e autoestima elevada. Logo, a disciplina constitui
um elemento indispensável para que o ser humano possa ter civilidade e
senso coletivo.
142
questão. Aplicar o disciplinamento não significa que a criança não possa se
divertir, ao contrário, ela deve, mas precisa paralelamente aprender a colaborar
e adquirir responsabilidades. Os adultos precisam ensinar limites, a ajudar
na organização da rotina familiar, respeitar horários e saber que para cada
atividade existe um momento e um tempo adequado para serem praticados,
e para isso não há necessidade utilizar palavras rudes a fim de se conseguir
o resultado almejado.
143
outras infinidades de sentimentos que existem na subjetividade humana. No
entanto, é importante enxergar o disciplinamento como fundamental para a
mudança social. Isso quer dizer que o docente e os pais não devem almejar a
obediência submissa do aluno ou filho, ou que as relações em aula ou no lar
fluam em um “mar silencioso”, mediante o emprego da violência na criança,
mas que se importem com uma educação a longo prazo, preparando-a para
lidar com os conflitos cotidianos de maneira coerente e respeitosa, ensinando
habilidades sociais para o enfrentamento da vida.
Para ilustrar, darei um exemplo: uma criança de seis anos quer o brinquedo
do seu colega de classe, e este não quer emprestá-lo. Ele ficou irritado e decidiu
que ia pegar a força. Na disputa, o brinquedo quebrou. As mães de ambos
recebem um bilhete da escola relatando o ocorrido. Uma das mães, usando
de paciência e utilizando um tom de voz suave, porém firme, diz para o seu
filho que soube do acontecido com o seu colega e verbaliza que gostaria de
saber o que o levou a querer o brinquedo do colega (perceba que a mãe não
criticou e nem o acusou). O filho explica que ficou com muita vontade de
conhecer o brinquedo novo do colega e quis pegar, e disse que é feio o amigo
não emprestar. A mãe comenta: imagino que o brinquedo deva ser muito
legal, e segue fazendo a pergunta: como foi que seu colega reagiu quando
viu que o brinquedo quebrou? O filho responde: ele chorou e ficou triste.
A mãe novamente pergunta: como você se sentiria se fosse contigo, e o que
gostaria que o colega fizesse para reparar o acontecido? O filho responde que
ia chorar também e que gostaria que o colega pedisse desculpas e comprasse
o mesmo brinquedo para ele. A mãe encoraja o filho e diz que a solução por
ele apresentada foi muito boa e que ele sempre tem boas soluções. Em seguida
a mãe indaga: como você poderia fazer para comprar esse brinquedo para
seu colega? O filho responde que poderá tirar dinheiro do cofrinho que ele
estava juntando para comprar um videogame novo.
144
No exemplo acima, a mãe não utilizou gritos e tampouco punições diretas:
fez primeiro uma conexão e disse que, se o filho tomou essa atitude, foi por
que o brinquedo era muito legal. Em seguida, ela o fez refletir sobre suas
motivações e perguntou-lhe como deveria reparar o acontecido. A criança
entendeu que atitudes como essa gera uma consequência.
Referências Bibliográficas
145
PEREIRA, M. J. M. Disciplina-disciplinamento: da vara de marmelo à
cadeirinha do pensamento. Campinas: UNICAMP, 2003, 174 p. Tese (Dou-
torado) – Programa de Pós-Graduação em Educação, Faculdade de Educação
da Universidade Estadual de Campinas, 2003.
146
EDER MAGRI
CRP 06/99901
(11) 98465-3802
psicologoedermagri@outlook.com
@psicologoedermagri
Psicólogo Eder Magri
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147
Pais Permissivos, Autoritários ou Negligentes: Quais os Riscos?
Agora, se você é pai ou mãe, já sabe do que estou dizendo. Embora a maioria
das pessoas tenha condição biológica de se reproduzir e de gerar filhos,
nem todas elas têm preparo emocional para isso.
Pais saudáveis
Quando você observa quem cuida das crianças e dos adolescentes ao seu
redor, observará que na maioria das vezes esses cuidados são realizados
pelos pais. No entanto, nem sempre esta tarefa é exclusiva dos pais, à medi-
da que outras pessoas, como parentes ou cuidadores, também contribuem
nesse papel.
O mesmo autor fala sobre a função paterna, que na maioria das vezes é
exercida pelo pai. Ele diz: “o pai tem uma função também importante:
‘pode ajudar a criar um espaço em que a mãe circule à vontade’.”.
148
Já o oposto também pode acontecer. O “cuidar demais” ou o “descuido” po-
dem abrir espaço para os riscos na formação e desenvolvimento da criança.
Os riscos
149
Entre os fatores mentais é possível observar: sintomas depressivos, trans-
tornos de ansiedade, entre outros. No caso de fatores de personalidade,
destacam-se: baixa autoestima, estresse, baixo rendimento escolar, menor
socialização, impulsividade, baixa tolerância à frustração, entre outros.
Além disso, estes filhos terão muito mais dificuldade em reconhecer os
próprios limites e o dos outros. Ao entrarem na adolescência, que é um
período marcado pelas novas experiências, aumenta a probabilidade de
tornarem-se frágeis e mais suscetíveis ao consumo de drogas, álcool, ta-
baco, prática de sexo promíscuo, envolvimento em acidentes e mortes no
trânsito, uso excessivo da internet e/ou jogos e suicídio.
Pais permissivos
Vamos considerar um bebê ou uma criança que não recebe limites daquilo
que quer fazer. Ele poderá tornar-se um adolescente e, posteriormente, um
adulto sem limites. E isso abre espaço para que tenham inúmeros prejuízos
no seu desenvolvimento social e individual.
150
Uma criança ou adolescente que não respeita o espaço público ou mesmo
privado e compartilhado será visto e recebido, muitas vezes, com hosti-
lidade. O que poderá ser muito confuso para lidar, pois se em casa ele é
tratado como “rei”, em que todos os seus “súditos” o obedecem e atendem a
seus caprichos, ao se deparar com os limites existentes fora de casa, sempre
virá acompanhado com uma dose extra de sofrimento e dificuldade de
compreensão de tanta diferença ou indiferença.
As consequências não param por aí. Quando os pais não querem frustrar
o filho e fazem todas as suas vontades, certamente não estão se dando
conta de que estão tirando dele a capacidade de lidar com o impedimento
e frustração fora de casa, fazendo-o sofrer mais ainda e com grande risco
de não receber um acolhimento desta dor.
Este diálogo pode e deve acontecer em qualquer idade cuidando para que
a comunicação seja feita de acordo com a idade e nível emocional do seu
filho. Com as crianças deve-se explorar os recursos lúdicos, brincadeiras e
histórias como ferramentas valiosas neste momento. Com os adolescentes
uma conversa franca e atitudes acolhedoras com uma comunicação não
violenta podem contribuir para fluir a relação.
Pais autoritários
151
O bebê nasce e por sua natureza explora tudo ao seu redor. Começa pela
mãe, ele próprio e aos poucos vai expandindo este ambiente. Mas pais
autoritários irão determinar que esta exploração tenha limites, muito res-
tritos por sinal. Aqui existe o risco de mutilar emocionalmente este filho,
à medida que toda manifestação de atitude ou limite dele é determinada
e imposta pelos pais, baseado em experiências vividas com seus próprios
pais ou sem referências.
Nos dias atuais, a sociedade passa por constantes mudanças, elas são mais
visíveis no campo tecnológico, mas os impactos podem ser percebidos em
todos as outras esferas. E ser rígido e inflexível com os filhos pode deixar
traços disso neles. Podem, com isso, faltar vivências em seu desenvolvimento
que lhes permitam sobreviver a todas essas mudanças. E cada vez mais os
filhos acabam percebendo que há um mundo lá fora e que é muito atraente.
Aos pais de hoje, vale refletir e lembrar que um dia já foram filhos em
formação, e que ao comparar os valores familiares de seus pais ou gerações
anteriores, muitas vezes já não cabem ou resolvem problemas mais atuais.
152
Pais negligentes
Ser pais afetivos é mostrar interesse real pelo filho. Perguntar como foi o
dia do dele e não se satisfazer com a primeira resposta genérica que ele der
como: “ah foi normal”, principalmente quando é adolescente, pois existe
uma natural necessidade de preservar um espaço próprio. Entretanto, se
a participação dos pais e a demonstração de um real interesse é um hábito
estimulado desde cedo, quando criança, este hábito perdurará durante a
adolescência e ter essa aproximação será mais tranquilo.
Demonstrar real interesse pelo dia do seu filho vai muito além de cum-
prir um protocolo. Saber dos passos que ele está dando no mundo é uma
verdadeira satisfação.
Conclusão
São grandes entusiastas dos projetos dos filhos aparando as arestas, mas
de modo algum sufocando sua criatividade e seus sonhos.
153
Referências Bibliográficas
154
DENISE FRANCO
CRP 06/61310
155
Inteligência Emocional na Infância: Uma Conversa Para
Pais e Filhos
Lidar com a emoção dos pequenos pode ser desafiador, mesmo para os
mais experientes. As emoções são conhecidas e vivenciadas de forma
universal em todas as culturas e estão presentes nos melhores e piores
momentos da nossa vida. Se somos constituídos por emoções e experi-
mentamos as emoções desde nossa infância, poderíamos supor que essa
não seria a tarefa mais desafiadora na educação dos filhos. Todavia, au-
xiliar os filhos na descoberta das próprias emoções é um grande desafio,
se desejarmos educar crianças capazes de lidar positivamente com suas
emoções e que encontrem formas respeitosas consigo mesmas e com o
mundo para resolver as situações conflituosas do dia a dia.
Emoções não são boas ou ruins, apenas fazem parte de nós, da nossa
história e da nossa interação com o mundo. Ao classificá-las em boas ou
más, corremos o risco de limitá-las, julgando quais devem ser eliminadas
e quais devem ser aceitas. Antes de mais nada, é preciso considerar que
todas as emoções são importantes para a desenvolver harmoniosamente
a inteligência emocional nas crianças.
Os pais são importantes referenciais para ensinar aos filhos logo cedo
que as emoções existem. Sentir medo, raiva, alegria e tristeza faz parte
da vida desde que ele chegou ao mundo. É uma tarefa importante a fa-
mília ajudar as crianças a nomearem suas emoções, para que no futuro
tenham habilidades de vida essenciais para autocontrole e autogestão das
próprias emoções.
156
Existem diversas formas de agir e ensinar sobre as emoções, diante de
uma crise de birra, por exemplo; mas quero destacar aqui duas formas
de intervenções que podem ser úteis para gerenciar os momentos mais
críticos com gentileza e firmeza.
Intervir imediatamente muitas vezes nem é uma escolha a ser feita; é uma
forma de encerrar o conflito emergente. Mas nas intervenções imediatas
nem sempre conseguimos ensinar sobre emoções e habilidades de vida,
visto que longos discursos não costumam funcionar muito bem nessas
situações. Você e a criança possivelmente estão vivendo um momento de
estresse e sabemos que, nessa hora, a aprendizagem fica prejudicada. Nas
intervenções imediatas, que ocorrem no momento do “caos”, os pais po-
dem ajudar traduzindo o que a criança está sentindo: “você está com raiva
porque não pode mexer na tinta agora”. Porém, em outro momento, não
muito distante do fato ocorrido, convoque seu filho para uma conversa
ou uma reunião familiar. Olhe nos olhos, segure nas mãos. Assim você
estará fazendo intervenções posteriores, mostrando que o fato vivenciado
não foi esquecido ou desvalorizado. Cada fato que é verdadeiramente
considerado pela família e, valorizado do ponto de vista emocional, pode
ser transformador. Nesse momento fale que você percebeu que ele estava
de um jeito e que depois que aconteceu o fato, ele ficou de outro porque
ficou com raiva, com medo, ou triste. Explique com afeto, firmeza e genti-
leza que existem formas diferentes e construtivas de se resolver conflitos.
Para terminar a conversa, convide-o a se corresponsabilizar pelas suas
atitudes. Pense e imagine, com seu filho, como pode ele reagir diferente e
positivamente em uma próxima situação semelhante. Dê sugestões, ideias,
imaginem juntos possibilidades de superação e coloque-se à disposição
para estabelecer uma parceria de afeto, respeito e encorajamento. Isso
fará com que ele se sinta aceito e importante, além de seguir o propósito
com mais determinação.
157
que maneja a situação, o ajudará a vencer o medo e não necessariamente
sentirá o medo dele. Com a emoção da raiva nem sempre é assim.
158
as crianças também desejam superar os momentos de tristeza. Os pais
devem ficar atentos se a criança estiver apresentando muitas caracterís-
ticas de melancolia e tristeza com persistência e intensidade aumentadas
e avaliar com um profissional de saúde mental qual é o melhor caminho
para ajudá-la.
Ao ficar triste, seu filho comunica uma realidade interna importante. Essa
é uma ocasião em que os pais podem mostrar aos filhos a confiança e o
acolhimento. Descaracterizar a tristeza, assim como potencializá-la não
é o melhor caminho. Os pais podem usar o momento para dizer ao filho
que sabem o que é a tristeza, que entendem o que ele está sentido e que
essa emoção faz parte da vida. T ambém podem aproveitar essa conversa
para encorajar a criança falando que acreditam que ele será capaz de su-
perar esse momento. Isso estabelecerá entre vocês um vínculo respeitoso,
de confiança e afeto. Quando estiverem falando sobre tristeza, mostre a
ele as vezes que você foi resiliente diante das intempéries da vida e como
sobreviveu às suas próprias tristezas. Conte a ele que quando ficamos
tristes, ficamos também mais introspectivos e refletimos muito sobre nós
mesmos. Ensine a pintar, escrever textos e mostre uma música ou uma
poesia linda que foi escrita em um momento de tristeza.
159
que não podem ser solucionadas e que serão doloridas para os pequenos.
Diante disso eles precisam ser acolhidos, precisam de carinho, de afeto
e de cuidados especiais para superar esse momento. Por esse motivo é
preciso conversar sobre essa emoção na infância. Permita que a criança
experimente a certeza do amor incondicional da família. Um ambiente
de harmonia, acolhimento, compreensão, cooperação e afetividade ser-
vem como contraponto para as situações tristes. Não é possível evitar
a tristeza, mas é possível oferecer segurança e apoio para os momentos
mais doloridos, sejam grandes ou pequenos.
Converse e use seu bom senso para acolher quando for necessário ou
sugerir pequenos enfrentamentos. Não use o medo como um recurso
para controlar comportamentos: “para de chorar senão o bicho vem te
pegar”. O medo é uma emoção difícil para a criança. Algumas vezes ela
precisa de apoio, outras vezes ela precisa de encorajamento, mas em todas
as situações ela precisa de você para traduzir e interpretar a emoção e
sugerir formas construtivas e positivas de manejo.
A alegria é aquela emoção que todo mundo quer sentir. E como é pra-
zeroso e intenso viver a alegria dos filhos. Não há nada que se compare.
Embora a alegria, entre todas as emoções, seja a mais desejada, ela é tão
importante quanto as outras emoções. Conversar sobre alegria é também
um grande aprendizado para pais e filhos. Embora pareça controverso, a
alegria tem pouco espaço nas conversas familiares, pois o foco das inter-
160
venções, muitas vezes, recai sobre a raiva, o medo e a tristeza. Celebrar
pequenas vitórias, agradecer juntos, compartilhar as emoções vivenciadas
traz ganhos emocionais importantes para a criança.
Ensine que a felicidade pode ser uma coleção de bons momentos vividos
e apreciados.
161
Referências Bibliográficas
ADLER, A. C
ooperation between the sexes. N
ew York: Anchor Books, 1978.
162
MILENA BLANCO
(71) 98884-4253
colenamamaedigital@gmail.com
@colenamamaedigital
Cole na Mamãe Digital
163
Como Lidar com o Uso da Internet?
Sendo assim, a maioria das crianças e adolescentes deve ser ensinada a usar
a internet de forma responsável, assim como a maioria das pessoas aprende
a dirigir com responsabilidade. Uma das primeiras coisas que passa pela
cabeça dos pais é proibir o uso da internet. Mas será mesmo que essa é uma
decisão inteligente? Assim como na condução, é preciso educação, prática
supervisionada, regras e limites razoáveis para desenvolver essas habilidades.
Como pai/mãe, obviamente, você quer ajudar seus filhos a navegar nesse
mundo digital com segurança, responsabilidade e com níveis crescentes de
independência. E isso nem sempre é fácil. No entanto, à medida que o uso da
internet se torna mais familiar e mais incorporado à vida cotidiana, os pais
são cada vez mais conectados e antes de pensar em educar nossos filhos, nós
pais, precisamos fazer uma avaliação crítica do nosso comportamento diante
dos dispositivos eletrônicos. Não esqueçam que somos exemplo e entender
as verdadeiras limitações que pais e filhos enfrentam no mundo digital é o
primeiro passo para encontrar estratégias eficazes que a família possa usar
para maximizar as oportunidades e minimizar os riscos.
164
Precisamos assumir essa responsabilidade de monitorar o uso de internet
dos nossos filhos, pois somos pais digitais sim, tanto que sabemos que é um
processo longo e árduo e por isso precisamos de comprometimento, porque
a lista de razões é extensa. Vai de riscos que a internet e as redes sociais re-
presentam para os menores, restringir o tempo de exposição à tela, controle
dos aplicativos e jogos online até o conteúdo que eles consomem.
Uma das perguntas que mais me fazem é “devo monitorar meu filho na
internet?”. E a resposta é sim, você deve, afinal, a Internet está cheia de poten-
cial para as crianças serem expostas a conteúdos inadequados, assim como
interações prejudiciais, como intimidação e assédio.
Se estamos certos de querer que nossos filhos sejam boas pessoas, o próximo
passo é entender como utilizar os meios digitais de forma responsável, crítica,
criativa e cuidar de todos os recursos que a rede oferece, já que a internet é
permanente. E, para ensinar nossos filhos, também precisamos aprender
junto deles, pois somos o exemplo.
Vou compartilhar aqui com vocês cinco ideias para educar crianças e ado-
lescentes digitais que vêm ganhando força com a hashtag #digitalpareting.
1. Diálogo: crie uma conexão com seus filhos, sem diálogo não há confian-
ça. Ouça suas histórias, compartilhe suas experiências, seja receptivo para
que contem seus problemas, tanto no mundo real quanto no digital. Esteja
presente quando criarem um perfil em uma rede social, navegue junto com
seu filho e assista seus youtubers preferidos, observe os jogos, as conversas
com amigos, as postagens. Conversem sobre os usos, os vícios, a grandeza e
os perigos do mundo digital.
165
qualquer coisa sobre outro ser humano, peça para ele se colocar no lugar da
pessoa. Ele iria gostar? Também é importante a criança ou adolescente saber
que conversar com o fone de ouvido nas alturas não é nem um pouco edu-
cado assim como ouvir música com volume muito alto em lugares públicos.
Para ajudar nessa difícil jornada, os pais podem contar com recursos de con-
trole parental disponíveis em diversos dispositivos eletrônicos, inclusive em
canais de TV por assinatura e até mesmo no Youtube. São de fácil down-
load, basta seguir a orientação e o passo a passo. Alguns são pagos, outros
gratuitos como o Google Familylink – que usamos desde o ano passado –,
ele nos permite ter noção de quanto tempo cada filha passa nos aplicativos,
e assim conseguimos dar um limite diário de uso, colocar um horário para
bloquear à noite, além de ele ter um localizador. Um aliado muito importante
para os pais.
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A internet é um espaço público, como uma praça. Não são apenas pessoas
amigas que transitam por lá, por isso é preciso muita atenção ao navegar no
mundo digital para identificar os riscos, que são muitos. Dispersão, ameaças,
pedidos de nudes (fotos sem roupas), encontros reais com pessoas virtuais
são alguns desses riscos.
Precisamos ter certeza que nossos filhos farão boas escolhas quando estão
conectados à internet. Então se as criançsa se tornam obsessivas por jogos ou
redes sociais, se ficam na defensiva ou tentam esconder jogos e determinados
sites, ou ainda mostram sinais de ansiedade sobre sua vida virtual, é um sinal
de que passou da hora dos pais ligarem o alerta vermelho.
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O site ajuda também pessoas que praticaram o cyberbullyng e estão arrepen-
didas, por meio do do Helpline (www.helpline.org.br), um canal de ajuda,
seguro, no qual crianças e adolescentes podem conversar com psicólogos
sem precisar se identificar, sendo ajudados a pensar em alternativas para os
problemas que estão enfrentando no mundo digital.
Certifique-se de que sua conexão com eles seja forte e que eles estejam dis-
postos a ser honestos com você sobre o que está acontecendo em suas vi-
das. Ponha regras fortes em vigor para protegê-los e permitir que eles ganhem
liberdade gradualmente quando estiverem prontos para isso.
Referências Bibliográficas
CUNHA, J. A.; NEJM, R. Diálogo Virtual 2.0: Preocupado com o que acon-
tece na internet, quer conversar?. 4.ed. Salvador: SaferNet Brasil, 2015. 48 p.:il.
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BEATRIZ PAKRAUSKAS
CRESS 23.996
beasocialworker@gmail.com
@stopviolenci
Beatriz Pakrauskas
www.stop-violencia-seja-free.com.br
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Como Adotar uma Comunicação Não Violenta?
Nem sempre foi desse modo, portanto, penso ser interessante resgatar um
pouco de história para entendermos como se desenvolveu o conceito de in-
fância. Na história da humanidade é muito recente o conceito de proteção à
criança, que antes não eram vistas ou ouvidas, além de serem tratadas como
“pequenos adultos”.
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Observamos em comentários nas redes sociais, fóruns e debates, que vários
extratos da sociedade civil, afirma-se a favor da agressão como um método
corretivo e saudável de dar limites aos filhos, sem questionar sua origem e as
consequências físicas, psicológicas e sociais. Esse senso comum colabora em
formato de um escudo protetor da vida privada de cada família, como “lócus
intocável”, e favorece uma forma de esconder os crimes e abusos cometidos
contra as crianças e adolescentes.
Ele refere que uma das dinâmicas que empregava nas oficinas de maternagem
e paternagem era dividir o grupo em dois subgrupos, dando a mesma tarefa:
escrever numa folha de papel um diálogo com alguém em situação de conflito,
e ele sinalizava qual seria o conflito.
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A maioria de nós adultos contemporâneos vivemos uma educação meritocrá-
tica, somos avaliados pelo “merecimento”, diante das falhas e erros devemos
ser corrigidos a base de julgamento, insulto, crítica e agressão física para
entender nosso erro e nos corrigirmos. Esse modo de educação está fixado
em recompensas e punições. Essa forma de viver não traz felicidade e não
gera o estado interior de maravilhar-se diante da vida.
Ainda segundo o mesmo autor, existe uma diferença entre empatia e simpa-
tia. Empatia: exportar-se, levar sua consciência a entender o outro, sentir ou
experienciar a dor de outra pessoa como se fosse a sua própria, sem interesse
de aliviar o sofrimento do outro. Na empatia eu desconsidero meu paradigma,
a fim experimentar o que o outro está vivendo naquele momento.
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A comunicação não violenta é uma importante ferramenta que contribui
efetivamente na ajuda da conexão conosco mesmo e com os outros, restabe-
lecendo uma relação humanizadora e compassiva, com objetivo de solucionar
conflitos pacificamente.
O ponto central é um novo conceito sobre o ser humano, todos nós, temos
aspectos em comum, e a renovação mental é a partir do que nos identifica e
nos une. Deixar de lado a visão pessimista do ser humano, que desfigura a
humanidade no outro e estimula atacar ou se defender.
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Caso exemplar: uma mãe queixou-se ao Dr. Marshall de que o filho se recu-
sava a ir à escola. Ela dizia para ele se arrumar para ir à escola, e ele dizia: não!
Motivada a exercitar a empatia, tentou entender os sentimentos que estavam
escondidos na resposta “não” e as necessidades do filho. Ela disse: “estou
percebendo que você sente frustação de ir à escola, porque tem necessidade
de ter mais tempo para brincar”. O filho respondeu negativamente, disse que
não gostava da escola porque tudo era para o futuro. Estude para ter um bom
trabalho! Estude para ser alguém na vida! Esse discurso não correspondia às
suas necessidades momentâneas. A mãe fez uma conexão empática e, antes
que pudesse responder, foi atender ao telefone; quando regressou, seu filho
estava vestido e pronto para ir à escola.
Dicas:
• Abandone a ideia de que existem pais perfeitos.
• Aprenda com seus erros.
• Evite julgamentos.
• Exercite o diálogo.
• Tome conhecimento das suas necessidades e sentimentos.
Referências Bibliográficas
AZEVEDO, M. A.; GUERRA, V. A longa jornada: da domesticação ao
protagonismo infanto-juvenil. Disponível em: <www.recriaprojetos.com.
br>. Sala do Conhecimento / Nuvem Estudos, 2014.
174
LETÍCIA CORDEIRO
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A Organização Como Fator Diferencial na Educação Infantil
Sempre que tenho a oportunidade, gosto de afirmar aos pais que também
cabe a eles essa linda tarefa de incluir os conceitos da organização ao
desenvolvimento infantil. Meu objetivo é alertar para o quão importante
é a organização na vida do ser e que trabalhar a organização no âmbito
familiar é agregador e fortalece os laços familiares. Isso é grandioso e
eu posso lhe afirmar.
Se criamos nossos filhos para o mundo, qual adulto você pretende apre-
sentar? Um organizado e independente ou aquele que não dá conta de
suas próprias coisas? Penso que esse questionamento é muito sério, mas
ainda não está incorporado em nossa sociedade brasileira no quesito
educação.
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Interessante notar, nesse ponto, que mães e pais acabam “deixando para
lá” a falta de organização dos filhos nos primeiros anos. Os brinquedos
brotam nos lugares mais improváveis e sempre há alguma coisa fora do
lugar, mas por ser tudo tão fofo e legal a prioridade acaba sendo, na ca-
beça dos pais, a liberdade “falsa” de brincar da criança, que deve vir em
primeiro lugar. Só que esta concepção, normalmente atinge seu ponto
máximo na adolescência, quando pode ser bem difícil negociar uma
simples arrumação do quarto.
Os pais precisam, desde cedo e aos poucos, fazer com que a criança en-
tenda que ela também faz parte da rotina de organização – não por uma
imposição, ou porque os seus responsáveis são chatos, mas para mostrar
que, em casa, é papel de todo mundo cuidar dela.
A todo responsável afirmo que é mais fácil ser organizado do que desor-
ganizado e acertar na educação dos conceitos de organização da criança
não tem preço. Uma criança que se encontra em um ambiente organizado
e tranquilo tem liberdade para viver, ser feliz, aprender e criar.
Estudo de caso
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”Um apartamento muito bem decorado e ambientes bem organiza-
dos: cozinha, sala, quartos do casal e de seu outro filho de 22 anos,
com boa distribuição das quantidades de coisas. Limpos. Quando
então paramos na porta do quarto da filha, o único ambiente em
que a porta ficava fechada. Essa mãe me diz, “Letícia, não se as-
suste, esse ambiente é bem diferente dos demais, e eu não consigo
controlar a desorganização de minha filha. Eu desisti e minha única
forma é manter a porta fechada”.
A história contada era de uma filha que não ligava para suas coisas
desde pequena. As duas crianças, no dizer daquela mãe, eram bem
diferentes. O filho sempre tinha facilidade em guardar e manter os
seus pertences. Já a filha, muito desorganizada. Nasceu assim! O
filho, não, era presente de Deus.
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Como ensinar formas de organização
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Dicas para o dia-a-dia
Faça coisas simples, mas que toda criança consiga assimilar. Instale gan-
chos na porta do guarda roupa ou na parede para que a própria criança
pendure os objetos de uso diário como mochila ou pijamas, para parti-
ciparem da organização do ambiente, além de seus brinquedos.
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organização que temos embutidos em nosso ser ou de termos esse tema
em nossa formação pessoal ou em nossos hábitos. Assim, toda criança
tem capacidade de se tornar organizada. Ensine isso ao seu filho.
Conclusão
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Referências Bibliográficas
182
RAQUEL TEZELLI
CRP 01/13601
(61) 9133-2987
rtezelli@gmail.com
@raquell.tezelli
Vamos falar sobre adolescência?
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Automutilação na Adolescência: Um Grito Silencioso
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As modificações ambientais (sociais) e psicológicas são também presentes na
fase da adolescência. O aumento da demanda na grade curricular escolar, as
exigências de mudança de comportamento perante a família e a sociedade,
a aceitação do jovem pelo seu “novo eu”, a familiarização do mesmo diante
de seu corpo, a descoberta de sua sexualidade e a vivência das práticas se-
xuais são fatos que fazem o jovem se questionar e buscar as respostas dessas
interrogações. Esse é o início da busca de sua identidade, que possui tempo
indeterminado no percurso dessa caminhada.
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Todo indivíduo possui uma história de vida que advém de vivências duran-
te sua caminhada e, ao analisar os motivos de um ato de automutilação, é
necessário considerar as variáveis nas áreas de sua vida com a finalidade de
evitar a generalização a respeito do mesmo.
O fato é que um jovem com o psicológico saudável não age desse modo para
chamar a atenção de algo ou alguém. Essa prática expressa claramente um
pedido de ajuda e a prioridade é atender a essa súplica.
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que evocou determinado comportamento há uma probabilidade de prevenir
sua ocorrência futura. Para isso, Skinner defende que todo contexto ou situa-
ção que altere o comportamento em alguma instância deve ser considerado
nessa análise.
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Em um ambiente onde houve abuso sexual e/ou estupro em alguma fase de
sua vida, o jovem costuma ter uma mistura de sentimentos que transpassam
desde repulsa e nojo a compaixão de si. Nesses casos, é muito comum o abu-
sador ser conhecido da família ou ser integrante da mesma, o que resulta na
omissão da vítima, pois caso ela verbalize, podem acontecer conflitos fami-
liares desastrosos que serão mais uma culpa a ser carregada. Desse modo, a
vítima opta pelo silêncio e esse segredo poderá lhe acompanhar pelo resto da
vida e, é possível que lhe acompanhe pelas e feridas por todo o corpo.
A ajuda ensurdecedora
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É recorrente a família ficar estática e desesperada ao se deparar com tais
comportamentos na sua realidade familiar. Outro fato comum é um jovem
que se automutila chegar para a sessão de psicoterapia acompanhado por
um membro familiar que não são os pais. Afinal, os pais têm dificuldade em
aceitar que seu filho pratica tal ato e carregam uma culpa ensurdecedora que
os fazem se envergonhar perante outras pessoas.
No âmbito familiar e social, as pessoas que convivem com esses jovens víti-
mas e autores da automutilação podem lhes oferecer ajuda. A principal ajuda
é disponibilizar a escuta para que o indivíduo verbalize o que lhe acontece
internamente mesmo que o jovem não se expresse em um primeiro momento.
No início é comum o jovem ser resistente a essa conversa, mas após algumas
tentativas do familiar ou do amigo, ele pode aceitar e, gradualmente, ver-
balizar aquilo que o sufoca. Porém, é importante ressaltar que essa escuta é
com foco no desabafo do adolescente, no interesse da pessoa em acolher suas
palavras e sua dor. Assim, não é o momento de emitir opinião ou julgamentos
a respeito, mas de demonstrar aos poucos ao jovem que ele precisa de ajuda
profissional, e, se for o caso, acompanhá-lo nessa primeira consulta.
Nesse contexto, se você percebe que seu filho ou alguém conhecido tem re-
corrido à automutilação, ofereça ajuda e fale sobre a importância em buscar
tratamento profissional com psicólogo e, na maioria dos casos, acompanha-
mento com psiquiatra. Além desses profissionais, o indivíduo é constituído de
corpo e mente, o que torna importante incluir na rotina desse jovem exercícios
físicos e uma boa alimentação. Afinal, um tratamento na sua totalidade deve
considerar essas duas instâncias como parceiras que dependem uma da outra
para manter o funcionamento humano em harmonia.
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Referências Bibliográficas
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