Manual Procedimentos 22-07-2013
Manual Procedimentos 22-07-2013
Manual Procedimentos 22-07-2013
DE
PROCEDIMENTOS
DOS SERVIÇOS DE APOIO À VÍTIMA DE CRIME NA APAV
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Índice
I A ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE APOIO À VÍTIMA 9
1. O que é a APAV 11
2. Contexto de surgimento 13
4. O voluntariado social 25
ANEXOS 31
2. Estagiários 54
3. Ambiente de trabalho 56
2. Impacto da vitimação 63
3
IV TÉCNICAS DE COMUNICAÇÃO 93
1. O processo de comunicação 95
ANEXOS 101
ANEXOS 119
4
1.2.10 Recurso 150
5
8. Responsabilidades parentais 187
8.2.1 O exercício das responsabilidades parentais em caso de divórcio ou separação judicial 188
ANEXOS 191
ANEXOS 253
1. Génese 262
2. Estrutura 262
ANEXOS 271
6
IX PROCESSO DE APOIO ONLINE 278
2. Estrutura 280
7
8
I A ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA
DE APOIO À VÍTIMA
9
10
1. O que é a APAV
A Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) é uma instituição particular de
solidariedade social, pessoa colectiva de utilidade pública, que tem como objectivo
estatutário promover e contribuir para a informação, protecção e apoio aos cidadãos
vítimas de infracções penais.
VISÃO
MISSÃO
11
• APOLÍTICA e NÃO CONFESSIONAL;
• que se rege pelo princípio da IGUALDADE DE OPORTUNIDADES e de
TRATAMENTO;
• que se rege pelo princípio da NÃO DISCRIMINAÇÃO em função do género, raça ou
etnia, religião, orientação sexual, idade, condição sócio económica, nível de
escolaridade, ideologia ou outros;
• que promove a justiça e práticas RESTAURATIVAS na resolução de conflitos;
• que presta serviços GRATUITOS, CONFIDENCIAIS e de QUALIDADE a todas as
vítimas de crime;
• centrada na VÍTIMA como/a utente, respeitando as suas opiniões e decisões;
• uma VOZ ACTIVA na defesa e promoção dos direitos, das necessidades e interesses
específicos das vítimas;
• um centro de CONHECIMENTO, INVESTIGAÇÃO e QUALIFICAÇÃO nas
temáticas das vítimas de crime e de violência.
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2. Contexto de surgimento
2.1 Enquadramento internacional
Na tríade punitiva Estado/Delinquente/Vítima, o vértice da vítima de crime era, e é, o
mais frágil. Muito embora o Código Penal, o Código de Processo Penal e a legislação penal
avulsa anteriores e os actualmente vigentes confiram à vítima um estatuto e direitos
ímpares nos sistemas jurídicos comparados, não existia em Portugal qualquer organização
para apoiar de forma individualizada, qualificada e humanizada um cidadão vítima de
crime.
No início dos anos 80, alguns países começaram a debater a problemática da vítima de
crime nas suas diferentes vertentes, o lugar da vítima no Direito Penal vigente em cada
país, a organização das associações e serviços que prestavam apoio à vítima, as questões
éticas e as problemáticas da vítima.
As realidades jurídicas continuam obviamente diferentes de país para país, bem como as
opções em termos de serviços públicos ou associações privadas, mas as questões éticas e
deontológicas na prestação de serviços aos cidadãos vítimas de crime são convergentes, e
assentam em alguns pilares fundamentais:
• o apoio à vítima de crime é acção necessária e fundamental para o equilíbrio da
comunidade e para a pacificação social;
• o tratamento a conferir a cada vítima deve ser individualizado, já que a sua reacção
ao crime e posterior reconstrução vivencial é muito variável e pessoal;
• os serviços devem ser gratuitos;
• o acesso aos serviços e a qualidade de resposta deve pautar-se pelo princípio da
igualdade, não havendo lugar para qualquer forma de discriminação.
Com base nestes princípios estruturantes, diversas organizações internacionais têm
produzido importantes instrumentos jurídicos, que vêm progressivamente contribuindo
para a cristalização de um conjunto de direitos fundamentais da vítima de crime.
Em 29 de Novembro de 1985, a Assembleia Geral da Organização das Nações
Unidas adoptou por unanimidade a Resolução 40/34 e anexos: Declaração dos Princípios
Fundamentais de Justiça relativos às Vítimas de Crimes e de Abuso de Poder. Seguiram-se
as Resoluções 1989/57 e 1990/22, do Conselho Económico e Social, relativas à sua
aplicação.
Na mesma altura, o Conselho da Europa adoptou as Recomendações ns.º R(85)11
(sobre a posição da vítima no quadro do direito penal e do processo penal) e R(87)21
(sobre assistência às vítimas e prevenção da vitimação).
Os direitos das vítimas de crime foram incluídos no Plano de Acção sobre Liberdade,
Segurança e Justiça da Comissão Europeia e Conselho de Ministros da União
Europeia, em Viena, em Dezembro de 1998. Nesta sequência, a Comissão Europeia
adoptou, em 14 de Julho de 1999, uma Comunicação ao Parlamento Europeu, ao
Conselho e ao Comité Económico e Social sobre Vítimas de Crime na União Europeia, com
vista ao estabelecimento de acções e padrões de actuação e reflexão.
Marco fundamental nesta evolução é a Decisão-Quadro relativa ao Estatuto da
Vítima em Processo Penal, decisão-quadro 2001/220/JAI do Conselho da União
Europeia, resultante de iniciativa da República Portuguesa durante a presidência
13
portuguesa da União Europeia (primeiro semestre de 2000) e aprovada e publicada
durante a presidência sueca (15 de Maio de 2001).
A Decisão-Quadro relativa ao estatuto da vítima no processo penal destaca a necessidade
de ter em conta os seguintes aspectos concernentes às vítimas de crime:
• as vítimas de crime têm direito a um elevado grau de protecção, independentemente
do Estado Membro em que se encontrem, pelo que os Estados Membros deverão
aproximar as suas leis e regulamentos na medida do necessário para alcançar este
objectivo.
• as necessidades das vítimas de crime devem ser consideradas e preenchidas de uma
forma compreensiva e coordenada, evitando soluções parciais, que podem dar azo ao
fenómeno da vitimação secundária. Como tal, as disposições da Decisão-Quadro não
se referem única e exclusivamente a fazer face às necessidades das vítimas de crime
no âmbito do processo penal, uma vez que cobrem medidas directa ou indirectamente
relacionadas com o mesmo, que devem ser tidas em conta antes e após o processo
penal.
• as normas e práticas relativas ao estatuto e aos principais direitos das vítimas de crime
devem ser aproximadas, em particular no que se refere ao direito a serem tratadas
com respeito pela sua dignidade, de prestarem e de receberem informação, de
compreenderem e de serem compreendidas, de serem protegidas ao longo do
processo penal e de verem minimizadas as desvantagens de residirem num Estado
Membro que não aquele em que o crime foi cometido.
• o envolvimento de serviços especializados e de serviços de apoio à vítima antes,
durante e após o processo penal é da máxima importância.
• a formação adequada deve ser prestada às pessoas que entrem em contacto directo
com vítimas de crime, com o intuito de alcançar os objectivos do processo penal.
• o recurso aos pontos de contacto e às redes interinstitucionais existentes nos diferentes
Estados Membros é de grande importância, quer no âmbito do sistema judiciário quer das
organizações de apoio à vítima.
A 30 de Abril de 2002, o Conselho da Europa adoptou a Recomendação Rec(2002)5
aos Estados Membros, relativa à protecção das mulheres contra a violência. Este é
certamente um dos instrumentos mais abrangentes na área da protecção das vítimas:
definindo o conceito de violência contra as mulheres como qualquer acto de violência de
género, do qual resulta sofrimento físico, sexual ou psicológico para a mulher, abarca
problemáticas tão distintas como a violência doméstica, o turismo sexual, os crimes de
guerra, a mutilação genital, etc.
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Sucintamente, a Recomendação foca as seguintes áreas, que considera essenciais para o
apoio às vítimas no espaço europeu: o acesso à informação por parte da vítima; o acesso
desta a todos os recursos disponíveis para ser indemnizada; o direito à indemnização pelo
Estado; o direito a beneficiar de medidas de segurança relativas à cobertura de pessoas e
bens por danos causados pela vitimação; o direito à protecção, nomeadamente física e
psicológica, face à possibilidade de haver vitimação repetida, e à privacidade; o direito à
confidencialidade; e ainda o direito a ser atendida e apoiada por equipas de profissionais
especialmente formadas, pelo que os Estados-Membros devem promover a formação dos
profissionais sobre as vítimas e a vitimação, em especial aqueles que mais directamente
trabalharão nesta área: agentes policiais, agentes da Protecção Civil e de outros
organismos destinados à intervenção em acontecimentos de choque e profissionais de
Saúde, dos Serviços Sociais e da Educação. A Recomendação foca, ainda, o direito da
vítima ao acesso à mediação vítima/infractor, em consonância com a Recomendação R
(99) 19 do Conselho de Ministros, sobre mediação penal, bem como ao benefício de uma
coordenação das diversas instituições e serviços nacionais e locais, estatais ou não, de
voluntariado ou não, em cada Estado-Membro, em ordem a existir entre todos uma
resposta adequadamente coordenada. A Recomendação aponta ainda a necessidade de
os Estados-Membros assegurarem o mesmo ao nível internacional, bem como de manter
os temas das vítimas de crime na opinião pública, nomeadamente através de campanhas
de sensibilização e de promover a investigação científica no campo da Vitimologia, de
modo a conhecer cada vez mais e melhor os impactos e riscos da vitimação, a eficácia
das legislações existentes nos Estados-Membros, tanto em matérias penais como
criminais e a contribuir para o desenvolvimento de políticas de apoio às vítimas baseadas
em estudos fidedignos sobre estas.
15
O Plano Estratégico é um documento essencial para o planeamento do
desenvolvimento de qualquer organização. O Plano Estratégico da APAV identifica e
consagra as grandes metas a atingir num horizonte temporal de cinco anos. Os objectivos
consagrados neste documento destinam-se a ser desenvolvidos na vigência anual de cada
Plano de Actividades, de acordo com a Estratégia. Propõe-se a adopção, em cada Plano
Anual de Actividades, de prioridades constantes e prioridades específicas para cada ano.
O Plano Estratégico é igualmente um valioso instrumento de gestão, de marketing e de
política associativa.
Nesse sentido, e tendo em conta que o Plano Estratégico surgiu num momento crucial da
vida da Associação - o do aprofundamento da sua consolidação -, procurou-se que o seu
processo de evolução e maturação fosse caracterizado pela participação das equipas
técnicas, voluntários, técnicos de apoio à vítima e utentes. Por conseguinte, foi sugerida a
realização de uma sessão de debate nos serviços centrais de Sede, GAV, Unidades e
Casas Abrigo, na qual se desenvolvesse a análise, o estudo, o debate e a apresentação de
sugestões para o documento supra mencionado. Este processo teve um resultado muito
positivo, caracterizado por uma elevada participação, concretizadora de sugestões
pertinentes para a consubstanciação do Plano Estratégico 2008-2012.
16
Para a realização da missão da APAV e a melhoria contínua do seu desempenho, o Plano
Estratégico continua a privilegiar a inovação, a criatividade, a responsabilidade, a
motivação dos recursos humanos, a formação, a qualidade, a permanente perspectiva
multidisciplinar e as parcerias com outras instituições.
A nota dominante destes últimos anos tem sido a multiplicação das actividades
desenvolvidas. Tendo sempre como meta a sua finalidade última – o apoio a vítimas de
crime –, a APAV tem-se posicionado em várias frentes, desenvolvendo, no seio da ampla
rede de parcerias em que se insere, um conjunto de projectos de que cumpre destacar:
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• APAV Açores: a missão da APAV Açores é a prossecução, na Região Autónoma dos
Açores, dos objectivos estatutários da Associação. Conta com uma estrutura regional
dotada de autonomia de coordenação e de gestão das actividades da APAV (nas suas
diversas áreas de actuação). Sem prejuízo da unidade nacional e da personalidade
jurídica una da Associação, a APAV Açores goza de autonomia: técnica (relativamente
aos procedimentos técnicos e modelos de intervenção em vigor na Associação);
administrativa (relativamente aos procedimentos e normas em vigor na Associação);
financeira (um centro de custos próprios, conta bancária própria; orçamento anual
gerido pela respectiva gestora, de acordo com o plano de actividades e com o quadro
de procedimento técnicos em vigor para a APAV). A autonomia da APAV Açores é
garantida através de um Regulamento próprio que a consagra, aprovado pela
Assembleia Geral da Associação que criou e regulamentou a estrutura regional;
• Unidades Especializadas: ao nível dos Serviços Centrais de Sede foram criadas
unidades especializadas, cuja missão é desenvolver as respectivas áreas numa vertente
concentrada e especializada. A sua composição integra pelo menos um profissional por
cada unidade, com a colaboração flexibilizada de outros profissionais da APAV ou
externos. Existem as seguintes unidades: a) Unidade para a Qualidade; b) Unidade
Estatística; c) Unidade de Igualdade de Oportunidades; d) Unidade de Inclusão Social;
e) Unidade Contabilístico-financeira; f) Unidade de Justiça Restaurativa; g) Unidade de
Marketing, Comunicação e Imagem; h) Unidade de Recursos Humanos; Unidade
Jurídica e de Contencioso.
• Presença nas comissões de protecção de crianças e jovens: a APAV tem vindo a
aumentar a sua participação nestas entidades não judiciárias de protecção e promoção
dos direitos das crianças e jovens em risco, quer ao nível das comissões restritas quer
na modalidade alargada;
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• promover os direitos das vítimas de crime na Europa, no processo penal e face às
instituições;
• promover a troca de experiências e conhecimentos entre os seus membros na partilha
de saberes e da boa prática nos serviços de apoio à Vitima.
Os membros do VSE realizam uma conferência e assembleia anual, onde se discutem
questões gerais de apoio à vítima, os direitos e os desenvolvimentos e iniciativas de cada
país. O VSE publica uma Newsletter semestral com as novidades de cada país e
organização, e um Directório Anual dos Serviços de Apoio a Vítimas de Crime na Europa.
19
1. fazer sugestões ao Programa de Actividades Anual da Fundamental Rights Agency
(FRA);
2. fazer comentários e sugestões de acompanhamento e monitorização do Relatório
Anual da FRA;
3. informar sobre os resultados e recomendações advindas de conferências,
seminários e reuniões relevantes para o trabalho da Agência.
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que lidam com as vítimas destes crimes – técnicos de apoio à vítima, profissionais de
educação, profissionais de saúde, polícias – (2002 – 2003);
• MUSAS II – Tendo em conta o impacto positivo do Projecto MUSAS, este deu origem
ao Projecto de Redes Transnacionais MUSAS II – formação e sensibilização sobre as
crianças vítimas de crime, também co-financiado pela Comissão Europeia no âmbito do
Programa Leonardo da Vinci – Redes Transnacionais, que decorreu no período de
Outubro de 2005 a Outubro de 2007. O Projecto MUSAS II permitiu: aferir e
implementar a formação sobre apoio a crianças vítimas nos serviços de apoio à vítima;
elaborar o relatório do estudo de impacto da formação; conceber o folheto informativo
sobre crianças vítimas e criar do portal Web sobre crianças vítimas de crime;
• VICTIMS & MEDIATION - O Projecto Vítimas & Mediação, promovido pela APAV,
teve como finalidade contribuir para a protecção dos direitos e interesses das vítimas
de crimes no âmbito da mediação vítima-infractor, através da promoção da cooperação
transfronteiriça e intercâmbio de boas práticas, da promoção da troca de informação e
do desenvolvimento de estudos e investigação. Iniciado em 2006, teve a duração de
21
dois anos, ao longo dos quais decorreram: três visitas de estudo (Portugal, Reino
Unido e Holanda) culminadas cada uma com um workshop para intercâmbio de
informação e boas práticas, sendo que cada workshop se debruçou sobre um tema
específico: contacto, informação e preparação das vítimas para o processo de
mediação; formação de mediadores sobre as problemáticas específicas das vítimas de
crimes; articulação entre os serviços de mediação e os serviços de apoio à vítima; um
estudo assente na criação e aplicação de instrumentos de investigação relativos ao
posicionamento e tratamento das vítimas de crimes em programas de mediação; um
seminário de encerramento do projecto, realizado em Portugal; publicação, em edição
bilingue (português e inglês) dos resultados do estudo e das comunicações
apresentadas nos workshops e no seminário, tendo em vista a divulgação e
disseminação dos principais resultados do projecto.O projecto contou com a parceria
do Gabinete para a Resolução Alternativa de Litígios (GRAL), da Direcção Geral das
Políticas de Justiça (DGPJ), da Universidade Católica Portuguesa (UCP), do Victim
Support Scotland (Escócia), do Slachtofferhulp Nederland (Holanda) e do Servicebüro
für Täter-Opfer-Ausgleich und Konfliktschilichtung (Alemanha) e teve como grupos-alvo
representantes de autoridades governamentais e outros organismos públicos, técnicos
de serviços de apoio a vítimas de crimes, mediadores e outros técnicos de serviços de
mediação, formadores de técnicos de apoio a vítimas e formadores de mediadores.
• PAX – Projecto sobre vítimas de terrorismo. Promovido pela APAV, o Projecto PAX foi
co-financiado pela Comissão Europeia através do Programa Prevenir e Combater a
Criminalidade, integrado no Programa Geral Segurança e Protecção das Liberdades, da
Direcção-Geral Justiça, Liberdade e Segurança. Este projecto teve como objectivos: 1.
Promover a partilha de saberes; 2. Promover o desenvolvimento de competências
psicossociais e jurídicas; 3. Promover a cooperação entre os profissionais e as
organizações de apoio à vítima na União Europeia, bem como com as forças policiais;
4. Contribuir para reforçar a cooperação e promover o desenvolvimento de redes ou de
organizações que apoiam e representam as vítimas na Europa.
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2.4 Evolução do número de processos de apoio
O crescimento da APAV é visível não só pela multiplicação das suas actividades mas
sobretudo pelo aumento substancial do número de pessoas apoiadas: de 1990 a 2010
foram desenvolvidos cerca de 104 000 processos de apoio, correspondentes a um total de
cerca de 180.000 crimes. Tendo em conta que na maior parte dos processos de apoio
existe mais que uma vítima, a APAV terá apoiado um universo estimado de 210.000
pessoas em vinte anos de existência. Os dados estatísticos mostram que a APAV tem sido
procurada maioritariamente por vítimas dos denominados crimes contra as pessoas –
violência doméstica, crimes contra a liberdade e a autodeterminação sexual, ofensas à
integridade física, injúrias e ameaças. Este facto deve-se ao tipo de apoio, que vai mais
ao encontro das necessidades sentidas pelas vítimas destes crimes – sobretudo o apoio
psicológico e social.
Mas o aumento do número de vítimas de outros crimes – crimes contra o património, por
exemplo – que procuram a APAV é um sinal da previsível diversidade que exigirá uma
cada vez maior versatilidade à Associação.
• director executivo,
• assessoria técnica da Direcção,
• secretariado executivo;
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todos localizados nos serviços centrais da Sede, e
A APAV conta actualmente com Gabinetes de Apoio à Vítima nas seguintes cidades:
• Vila Real
• Braga
• Porto
• Coimbra
• Santarém
• Cascais
• Odivelas
• Lisboa
• Setúbal
• Portimão
• Albufeira
• Faro
• Loulé
• Tavira
• Ponta Delgada
Para fazer face aos encargos decorrentes desta plêiade de solicitações, o suporte
financeiro da Associação tem sido garantido por um conjunto de fontes, nomeadamente:
24
• montantes resultantes de outros Protocolos, celebrados para finalidades específicas,
como sejam a abertura de Gabinete de Apoio à Vítima, abertura da Casa de Abrigo,
etc.;
• verbas provenientes da realização, pelo Centro de Formação da APAV, de acções e
cursos de formação em outras instituições, serviços e organismos;
• co-financiamento por outras instituições – nomeadamente, a Comissão Europeia, em
virtude das candidaturas da APAV a programas comunitários – de projectos
desenvolvidos pela APAV;
• quantias entregues à APAV por arguidos ou condenados em processo penal – a título
de condição para a suspensão provisória do processo ou de pena acessória – por
determinação do tribunal.
4. O voluntariado social
O voluntariado social é, pois, a mais pura expressão do empenho das pessoas que
constituem uma comunidade em dinâmica relacional constante, ao mesmo tempo que
reflecte as frustradas tendências do Estado-Providência que, em outros momentos
históricos, procurou substituir essa vontade civil e responder por si só a todas as
problemáticas sociais.
O voluntariado social constitui actualmente uma frente válida de acção sobre os vários
problemas das comunidades, a par do Estado, que apenas pode providenciar, não a
única, mas outra frente, assumindo, assim, um carácter moderado na acção: nem
ausente, nem presença exclusiva, antes auxiliado pela vontade civil, vontade livre que
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têm as comunidades de se preocupar e actuar sobre os problemas que aos dois dizem
directo respeito.
Mas a lei que enquadra o voluntariado não se reduz apenas a um conjunto de direitos e
deveres. Ela é essencialmente um instrumento que visa promover e consolidar um
voluntariado sólido, qualificado e reconhecido socialmente.
DEVERES
para com os destinatários:
• respeitar a vida privada e a dignidade da pessoa;
• respeitar as convicções ideológicas, religiosas e culturais;
• actuar de forma gratuita e interessada no bem estar do destinatário;
• contribuir para o desenvolvimento pessoal e integral do destinatário;
• garantir a regularidade do exercício do trabalho voluntário.
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para com a entidade promotora:
• observar os princípios deontológicos por que se rege a sua actividade;
• conhecer e respeitar a filosofia, estatutos, programas e metodologias de trabalho da
entidade promotora;
• observar as normas de funcionamento da entidade promotora;
• actuar de forma diligente, isenta e solidária;
• zelar pela boa utilização dos bens e meios postos ao seu dispor;
• participar em programas de formação, para um melhor desempenho do seu trabalho;
• dirimir conflitos no exercício do seu trabalho de voluntário;
• garantir a regularidade do exercício do trabalho voluntário;
• utilizar devidamente a identificação como voluntário no exercício da sua actividade.
27
DIREITOS
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acompanhamento e avaliação por parte do/a Gestor/a passam por garantir que os
pressupostos e as acções típicas do apoio à vítima estão a ser cumpridos;
• voluntariado social para outros serviços: esta modalidade abrange os
voluntários com ou sem formação académica superior que, em vários âmbitos, que
não o do atendimento a vítimas, colaboram com a APAV. São exemplos desta
modalidade investigadores, relações públicas, secretários, designers, enfermeiros,
médicos, etc. Estes voluntários estão presencialmente nos serviços da APAV (por
exemplo, na Sede, ou numa casa de abrigo), cumprindo um horário;
• voluntariado social amigos pro bono : esta modalidade também abrange
voluntários com ou sem formação académica superior que, em vários âmbitos, que
não o do atendimento a vítimas, colaboram com a APAV. Ao contrário da
modalidade anterior, o/a amigo pro bono não cumpre necessariamente um horário
presencial nos serviços da APAV, podendo organizar os seus trabalhos conforme as
suas disponibilidades, estando em sua própria casa e/ou no seu local de trabalho.
29
30
ANEXOS
31
32
Estatutos da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima com as alterações
aprovadas em Assembleia Geral Extraordinária de 5 de Junho de 2006:
Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, pessoa colectiva n.º 502 547 952, de utilidade
pública, instituição particular de solidariedade social (Diário da República, III Série, n.º
159, de 12/7/90 e III Série, nº 27, de 1/2/91), registada sob o n.º 74/90, a fls. 149 v.º e
150 do livro n.º 4 das associações de solidariedade social.
CAPÍTULO I
Da denominação, natureza, sede, âmbito e objectivo
ARTIGO 1.º
1 - A Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) é uma instituição particular de
solidariedade social, com sede na Rua José Estêvão, 135, letra A, 1150 – 201Lisboa,
freguesia de São Jorge de Arroios, Lisboa.
ARTIGO 2.º
A Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, adiante designada por Associação, ou APAV,
é de âmbito nacional e tem como objectivo promover e contribuir para a informação,
protecção e apoio à vítima de infracções penais.
ARTIGO 3.º
1 - Para a realização do seu objectivo, a APAV propõe-se, nomeadamente:
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g) Estabelecer contactos com organismos internacionais e colaborar com entidades em
que outros países prosseguem fins analógicos.
ARTIGO 4.º
1 - Os serviços prestados pela Associação serão gratuitos.
2 - O disposto no n.º 1 não prejudica a possibilidade de reembolso, desde que a situação
sócio-económica dos utentes o justifique.
3 - Poderá ainda haver lugar à comparticipação dos utentes, de acordo com as normas
legais aplicáveis e o fixado nos acordos de cooperação celebrados.
ARTIGO 5.º
A Associação é uma organização independente, apolítica, não confessional e promotora
do voluntariado, que se rege pelos princípios da igualdade de oportunidades e de
tratamento e da participação equilibrada entre homens e mulheres e da não discriminação
em função do género, raça ou etnia, religião, orientação sexual, idade, condição sócio-
económica, nível de escolaridade, ideologia ou outro.
CAPITULO II
Dos associados
ARTIGO 6.º
Podem ser associados da APAV as pessoas singulares maiores de 18 anos e as pessoas
colectivas.
ARTIGO 7.º
1 - A APAV terá duas categorias de associados:
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2 - Os associados que promoveram a iniciativa da criação da Associação e asseguraram o
lançamento da respectiva actividade serão considerados fundadores.
ARTIGO 8.º
1 - A admissão de associados efectivos é feita pela direcção da Associação, mediante
proposta assinada pelo candidato e por um associado, efectivo ou fundador, no pleno
gozo dos seus direitos.
2 - A atribuição da qualidade de associado honorário é feita pela assembleia geral, sob
proposta fundamentada da direcção.
3 - A qualidade de associado é conferida pela inscrição no livro respectivo, que pode
consistir em suporte informático que assegure a segurança, confidencialidade e
integridade do seu conteúdo, que a Associação obrigatoriamente possuirá, e pela emissão
do cartão, em que deverá figurar a categoria ou categorias, quando for o caso.
4 - Os candidatos não admitidos pela direcção poderão recorrer para a assembleia geral
no prazo máximo de 30 dias a contar da notificação da decisão.
ARTIGO 9.º
São direitos dos associados:
ARTIGO 10.º
São deveres dos associados:
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ARTIGO 11.º
1 - Os associados que violarem os deveres estabelecidos no artigo anterior ficam sujeitos
às seguintes sanções:
a) Repreensão;
b) Suspensão de direitos até um ano;
c) Demissão.
2 - Serão demitidos os associados que por actos dolosos tenham prejudicado gravemente
a Associação.
3 - A aplicação das sanções previstas nas alíneas a) e b) do n.º 1 é da competência da
direcção.
4 - A demissão é da competência da assembleia geral, mediante proposta devidamente
fundamentada de qualquer órgão social ou associado.
5 - A aplicação de qualquer sanção será obrigatoriamente precedida de audiência prévia
do associado.
6 - A aplicação de uma sanção é notificada ao associado por carta registada, podendo o
mesmo, mediante requerimento fundamentado, recorrer ou reclamar, consoante os casos,
para a assembleia geral no prazo de 10 dias.
7 - A suspensão de direitos não desobriga o associado do pagamento da quota.
ARTIGO 12.º
1 - Os associados efectivos só podem exercer os respectivos direitos se tiverem em dia o
pagamento das suas quotas.
2 - Não são elegíveis para os órgãos sociais os associados que, mediante processo
judicial, tenham sido destituídos daqueles órgãos ou dos de outra instituição particular de
solidariedade social ou tenham sido declarados responsáveis por irregularidades
cometidas no exercício da suas funções.
ARTIGO 13.º
A qualidade de associado individual não é transmissível, quer por acto entre vivos quer
por sucessão, não podendo o associado incumbir outrem de exercer os seus direitos
pessoais, salvo o disposto no artigo 25.º.
ARTIGO 14.º
Perdem a qualidade de associado:
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ARTIGO 15.º
O associado que por qualquer forma perder essa qualidade deverá, obrigatoriamente,
devolver o cartão e não terá direito a reaver as quotizações que haja pago, sem prejuízo
da sua responsabilidade por toda a actuação no período em que foi membro da
Associação.
CAPITULO III
Dos órgãos sociais
Secção I
DISPOSIÇÕES GERAIS
ARTIGO 16.º
São órgãos da APAV a assembleia geral, a direcção e o conselho fiscal.
ARTIGO 17.º
1 - O exercício de qualquer cargo nos órgãos sociais é, em regra, gratuito, podendo
todavia justificar-se o pagamento de despesas dele derivadas.
2 - Se o movimento financeiro e a complexidade da gestão da Associação justificarem a
actividade prolongada de um ou mais membros dos órgãos sociais, podem estes receber
uma remuneração, a fixar pela assembleia geral.
ARTIGO 18.º
1 - A duração do mandato dos órgãos sociais é de três anos, devendo proceder-se à sua
eleição no mês de Dezembro do último ano de cada triénio.
2 - O mandato inicia-se com a tomada de posse perante o presidente da mesa da
assembleia geral ou seu substituto, o que deverá ter lugar na 1.ª quinzena do ano civil
imediato ao das eleições.
3 - Quando a eleição tenha sido efectuada, extraordinariamente, fora do mês de
Dezembro, a posse poderá ter lugar dentro do prazo estabelecido no n.º 2, ou dentro do
prazo de 30 dias após a eleição, mas, neste caso e para os eleitos do n.º 1, o mandato
considera-se iniciado na 1.ª quinzena do ano civil em que se realizou a eleição.
4 - Quando as eleições não sejam realizadas atempadamente considera-se prorrogado o
mandato em curso até à posse dos novos órgãos sociais.
ARTIGO 19.º
1 - Em caso de vacatura da maioria dos lugares de cada órgão social, depois de
esgotados os respectivos suplentes, deverão realizar-se, no prazo máximo de um mês,
eleições parciais para o preenchimento das vagas verificadas e a posse deverá ter lugar
nos 30 dias seguintes à eleição.
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2 – O termo do mandato dos membros eleitos nas condições no número anterior
coincidirá com o dos inicialmente eleitos.
ARTIGO 20.º
1 - As candidaturas para os órgãos da APAV deverão ser subscritas pelos próprios
candidatos.
2 - As candidaturas para cada um dos órgãos da Associação serão efectuadas em
separado.
3 - As candidaturas para as eleições ordinárias serão apresentadas até 15 dias antes da
data de realização da assembleia geral para eleição dos órgãos sociais e para as eleições
extraordinárias serão apresentadas com 10 dias de antecedência.
ARTIGO 21.º
1 - Os membros dos órgãos sociais só podem ser eleitos consecutivamente para dois
mandatos para qualquer órgão da Associação, salvo se a assembleia geral reconhecer
expressamente que é inconveniente proceder à sua substituição.
2 - Não é permitido aos membros dos órgãos sociais o exercício de mais de um cargo na
Associação.
ARTIGO 22.º
1 - Os órgãos sociais são convocados pelos respectivos presidentes e só podem deliberar
com a presença da maioria dos seus membros.
2 - As deliberações são tomadas por maioria de votos, tendo cada associado direito a um
voto.
3 - Em caso de empate, o presidente sem direito a voto de qualidade.
4 - As votações respeitantes às eleições dos órgãos sociais ou a assuntos de incidência
pessoal dos seus membros serão feitas obrigatoriamente por escrutínio secreto, caso que
é admitido o voto por correspondência, nos termos da lei.
ARTIGO 23.º
1 - Os membros dos órgãos sociais são responsáveis civil e criminalmente pelas faltas ou
irregularidades cometidas no exercício do mandato.
2 - Além dos motivos previstos na lei, os membros dos órgãos sociais ficam isentos da
responsabilidade se:
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1 - Os membros dos órgãos sociais não poderão votar em assuntos que directamente lhes
digam respeito ou nos quais sejam interessados os respectivos cônjuges ou pessoas com
quem convivam em união de facto, ascendentes, descendentes, adoptados e afins.
2 - Os membros dos órgãos sociais não podem contratar directa ou indirectamente com a
Associação, salvo se do contrato resultar manifesto benefício para a mesma.
3 - Os fundamentos das deliberações sobre os contratos referidos no número anterior
deverão constar das actas das reuniões do respectivo órgão social.
ARTIGO 25.º
Nas reuniões da assembleia geral o associado impossibilitado de comparecer poderá
fazer-se representar por outro, mediante carta dirigida ao presidente da mesa com a
assinatura reconhecida nos termos da lei, caso em que cada associado presente não
poderá representar mais de um dos ausentes.
ARTIGO 26.º
Duas reuniões dos órgãos sociais lavrar-se-ão sempre actas, que serão obrigatoriamente
assinadas pelos membros presentes ou, quando respeitem a reuniões da assembleia
geral, pelos membros da respectiva mesa.
Da assembleia geral
ARTIGO 27.º
1 - A assembleia geral é constituída por todos os associados admitidos há, pelos menos,
três meses que tenham o pagamento das quotas regularizado e não se encontrem
suspensos.
2 - A assembleia geral é dirigida pela respectiva mesa, que se compõe de um presidente,
um 1.º secretário e um 2.º secretário.
3 - Na falta ou impedimento de qualquer dos membros da mesa da assembleia geral,
competirá a esta designar os respectivos substitutos de entre os associados presentes, os
quis cessarão estas funções no termo da reunião.
ARTIGO 28.º
Compete à mesa da assembleia geral dirigir e coordenar os trabalhos da assembleia,
representá-la e, designadamente:
a) Decidir sobre os protestos e reclamações respeitantes aos actos eleitorais, sem prejuízo
de recurso nos termos legais;
b) Conferir posse aos membros dos órgãos sociais eleitos.
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ARTIGO 29.º
1 - Compete à assembleia geral, designadamente:
2 - Compete ainda à assembleia geral deliberar sobre outras matérias não compreendidas
na competência legal ou estatuária dos demais órgãos sociais.
ARTIGO 30.º
1 - A assembleia geral reunirá em sessões ordinárias e extraordinárias.
2 - A assembleia geral reunirá ordinariamente:
a) No final de cada mandato, durante o mês de Dezembro, para a eleição dos órgãos
sociais;
b) Até 31 de Março de cada ano, para discussão e votação do relatório e conta de
gerência do ano anterior;
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c) Até 15 de Novembro de cada na, para apreciação e votação do orçamento e do plano
de actividades para o ano seguinte;
ARTIGO 31.º
1 - A assembleia geral deve ser convocada para as reuniões pelo menos com 15 dias de
antecedência.
2 - A convocatória é feita por meio de aviso postal, expedido para cada um dos
associados, dele constando o dia, hora e local da reunião e a respectiva ordem de
trabalhos, e através de anúncio publicado nos dois jornais de maior circulação na área da
sede da associação.
ARTIGO 32.º
1 - A assembleia geral reunirá à hora marcada na convocatória se estiver presente mais
de metade dos associados com direito a voto ou uma hora depois com qualquer número
de presentes.
2 - A assembleia geral extraordinária que seja convocada a requerimento dos associados
só poderá reunir se estiverem presentes, pelo menos, três quartos dos requerentes.
ARTIGO 33.º
1 - Salvo o disposto nos números seguintes, as deliberações da assembleia geral são
tomadas por maioria absoluta dos votos dos associados presentes e dos ausentes
devidamente representados.
2 - As deliberações sobre as matérias constantes das alíneas f), h), i), j), l), m) e n) do
artigo 29.º só serão válidas se obtiverem o voto favorável de, pelo menos, três quartos
dos associados presentes.
3 - No caso da alínea g) do artigo 29.º as deliberações requerem o voto favorável de três
quartos da totalidade dos associados no pleno gozo dos seus direitos, salvo se o número
de associados igual ao dobro dos membros dos órgãos sociais se declarar disposto a
assegurar a permanência da Associação, qualquer que seja o número de votos contra.
ARTIGO 34.º
As demais normas de funcionamento da assembleia geral constatarão de regulamento, a
aprovar por aquele órgão social.
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Da direcção
ARTIGO 35.º
1 - A direcção da Associação é constituída por sete membros: um presidente, um vice-
presidente, um secretário, um tesoureiro e três vogais.
2 - Haverá simultaneamente igual número de suplentes, que poderão substituir membros
efectivos nas suas ausências e impedimentos, tornando-se efectivos à medida que se
derem vagas e pela ordem em que tiverem sido eleitos.
3 - No caso de vacatura do cargo de presidente será o mesmo preenchido pelo vice-
presidente e este substituído por um suplente.
4 - Os suplentes poderão assistir às reuniões da direcção, mas sem direito a voto.
ARTIGO 36.º
Compete à direcção gerir e representar a Associação, incumbindo-lhe, designadamente:
42
ARTIGO 37.º
A direcção reunirá obrigatoriamente uma vez por mês, sempre que for julgado
conveniente e ainda por proposta do conselho fiscal.
ARTIGO 38.º
1 - Para obrigar a Associação são necessárias e bastantes as assinaturas de quaisquer
três membros da direcção, ou as assinaturas do presidente e do tesoureiro.
2 - Nas operações financeiras são obrigatórias as assinaturas do presidente e do
tesoureiro.
3 - Nos actos de mero expediente bastará a assinatura de qualquer membro da direcção.
ARTIGO 39.º
As competências dos membros da direcção e as respectivas normas de funcionamento
constarão de regulamento, a aprovar por aquele órgão social.
Do conselho fiscal
ARTIGO 40.º
1 - O conselho fiscal é composto por três membros: um presidente e dois vogais.
2 - Um dos membros do conselho será obrigatoriamente revisor oficial de contas, a
designar pela Ordem dos Revisores Oficiais de Contas a solicitação da Associação ou do
Ministro da Justiça.
3 - Haverá simultaneamente igual número de suplentes, que se tornarão efectivos à
medida que se derem vagas, mas o suplente que for revisor oficial de contas, designado
nos termos do número anterior, substituirá o membro efectivo que tiver a mesma
qualificação.
4 - No caso de vacatura do cargo de presidente, será o mesmo preenchido pelo primeiro
vogal e este por um suplente.
ARTIGO 41.º
Compete ao conselho fiscal exercer a fiscalização interna da Associação, designadamente:
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e) Dar parecer sobre o orçamento, relatório e conta de gerência e sobre todos os
assuntos que o órgão executivo submeta à sua apreciação;
f) Dar parecer sobre a celebração de contratos, acordos de cooperação e de gestão bem
como sobre a capitalização de fundos e pedido de empréstimos;
g) Elaborar o relatório anual da sua acção de fiscalização.
ARTIGO 42.º
O conselho fiscal pode solicitar à direcção elementos que considere necessários ao
exercício da sua competência, bem como propor reuniões extraordinárias para discussão,
com aquele órgão, de determinados assuntos cuja importância o justifiquem.
ARTIGO 43.º
O conselho fiscal reunirá obrigatoriamente uma vez por cada trimestre e sempre que o
julgar conveniente.
CAPÍTULO IV
Da estrutura e organização interna
ARTIGO 44.º
1 - A APAV integrará os serviços que a direcção julgue necessários para a cabal
prossecução dos seus objectivos.
2 - A orgânica, estrutura e funcionamento dos serviços constarão de regulamento interno,
a elaborar pela direcção, e a aprovar pela assembleia geral.
ARTIGO 45.º
1 - Para assegurar o normal funcionamento dos serviços, de acordo com as deliberações e
orientações dos órgãos sociais, poderá a direcção nomear de entre os associados um
secretário-geral, que não poderá ser membro daqueles órgãos.
2 - O secretário-geral assistirá às reuniões da direcção e providenciará a preparação dos
instrumentos de gestão, bem como dos estudos, informações e propostas adequados à
tomada de decisões.
3 - A direcção poderá delegar algumas das suas competências no secretário-geral.
ARTIGO 46.º
1 - Para a adequada prossecução dos objectivos da APAV, poderá a direcção constituir
comissões ou grupos de trabalho para colaborarem em projectos e acções no âmbito da
respectiva competência.
2 - Os grupos de trabalho poderão ter carácter temporário ou permanente.
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ARTIGO 47.º
1 - A direcção poderá criar a estrutura desconcentrada que se revele mais adequada à
prossecução dos objectivos da APAV em todo o território nacional, ouvida a assembleia
geral.
2 - A APAV poderá criar comissões regionais, distritais, concelhias, por comarca ou círculo
judicial, ou outras.
3 - O âmbito, a composição e o funcionamento de cada comissão ou subcomissão serão
fixados pela direcção, que os poderá alterar de acordo com a evolução da estrutura e a
capacidade de intervenção da associação.
4 - As unidades desconcentradas poderão integrar, para além de associados e
cooperadores voluntários, representantes de entidades públicas ou particulares cuja
elaboração, pela sua competência ou actividade na respectiva área geográfica, se revele
conveniente e adequada à prossecução dos objectivos da Associação.
CAPÍTULO V
Recursos financeiros e humanos
ARTIGO 48.º
1 - Constituem receitas da APAV:
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ARTIGO 49.º
Constituem recursos humanos da Associação os cooperadores voluntários e os
profissionais, quer admitidos pela Associação quer cedidos por entidades públicas e
privadas.
CAPÍTULO VI
Disposições finais e transitórias
ARTIGO 50.º
1 - No caso de extinção da Associação, competirá à assembleia geral deliberar sobre o
destino dos seus bens, nos termos da legislação em vigor, bem como eleger uma
comissão liquidatária.
2 - Os poderes da comissão liquidatária ficam limitados à prática dos actos meramente
conservatórios e necessários, quer à liquidação do património social quer à ultimação dos
negócios pendentes.
ARTIGO 51.º
1 - Enquanto a assembleia geral não proceder à eleição dos órgãos sociais, nos termos
estatuários, pelo período mínimo de três anos a contar da data da publicação dos
presentes estatutos, a Associação será dirigida por uma comissão instaladora.
2 - A comissão instaladora será constituída por sete associados de entre os fundadores,
exercendo um deles o cargo de presidente.
3 - Caberá ao presidente distribuir as funções pelos membros da comissão instaladora.
4 - A substituição dos membros da comissão instaladora será feita pelo respectivo
presidente, ouvidos os fundadores, de entre os associados efectivos.
ARTIGO 52.º
A comissão instaladora cabe representar e dirigir a Associação, nomeadamente adoptar
todas as providências necessárias às estruturação, funcionamento e defesa dos interesses
da APAV, assumindo todas as competências cometidas aos órgãos sociais nos termos
estatuários.
ARTIGO 53.º
As normas de funcionamento, bem como o plano de actividades, orçamento, relatório e
conta da Associação, elaborados pela comissão instaladora serão aprovados pelos
associados fundadores.
ARTIGO 54.º
Findo o período de instalação, cabe à comissão instaladora elaborar o relatório e os
documentos de prestação de contas, bem como convocar a primeira assembleia geral
para eleição dos membros dos órgãos sociais.
46
Mesa da Assembleia Geral
Sede e Lisboa, 5 de Junho de 2006
João Gabriel Rucha Pereira – associado n.º 62
Presidente da Mesa da Assembleia Geral com funções para a reunião da Assembleia Geral
de 5 de Junho de 2006 (por impedimento de Armando Acácio Gomes Leandro – associado
n.º 3 - nos termos do art.26, n.º 3 dos EAPAV)
Isabel João Dias Lourenço – associada n.º 204
1ª secretária da Mesa da Assembleia Geral
Sofia dos Santos Vasconcelos de Macedo – associada n.º 200
2ª secretária da Mesa da Assembleia Geral
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48
II O TÉCNICO DE APOIO À VÍTIMA
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50
1. O/A Técnico/a de Apoio à Vítima
Técnico/a de Apoio à Vítima é alguém que, no âmbito das suas funções, é possuidor/a
das devidas habilitações, que lhe permitem identificar, acompanhar e avaliar vítimas de
violência doméstica, assegurando deste modo uma resposta válida, célere e eficaz ante as
necessidades e pedidos de ajuda recebidos.
O apoio às vítimas de crime exige-lhe um perfil de competências sem as quais não poderá
desempenhar cabalmente o seu papel nem servir adequadamente a APAV, podendo
apontar-se duas dimensões essenciais: a competência pessoal e a competência técnica.
Para além de possuir estas duas competências, o TAV deve ainda promover em si próprio
a existência de condições pessoais para o desempenho da sua actividade, bem como
contribuir para um saudável ambiente de trabalho, fundamental para que o trabalho
desenvolvido atinja padrões mais elevados.
Competência Pessoal
Esta é a competência que todo o voluntário social tem que deter, dela necessitando para
a resolução de problemas que afectem outras pessoas. Com clareza se pode afirmar que,
sem ela, nenhum voluntário social será capaz de desenvolver correctamente a sua
actividade nas causas que livremente buscou para servir.
51
• tolerância e respeito: o TAV deve manifestar um comportamento não
etnocêntrico, respeitando os valores e costumes culturais das vítimas sem impor os
seus, desde que aqueles não colidam com as normas constitucionais ou legais
vigentes;
• autogestão emocional: de igual modo, só a pessoa que manifesta adequada
gestão emocional das suas vivências é capaz para o atendimento a vítimas de
crime, função de reconhecida exigência, por força das populações que recorrem ao
GAV, com múltiplas problemáticas caracterizadas pelo drama e pela
vulnerabilidade; estas realidades, e outras, como a exposição do TAV a eventuais
ameaças por parte de agressores de vítimas em processo de apoio, podem ser
delicadas para o seu equilíbrio emocional, também dependente da vida pessoal,
cuja dinâmica relacional com as ocupações profissionais é evidente, pelo que saber
gerir a própria realidade emocional, o stress adicional dos trabalhos no GAV e a
frustração que por vezes trazem constitui um lugar de obrigatoriedade para o TAV;
• vocação, disponibilidade e vontade pessoal para a Solidariedade Social:
esta vocação, de natureza exclusivamente pessoal, ainda que legitimada e tornada
pública nas sociedades de todos os tempos e, em particular, nas sociedades
contemporâneas, é exigência visível na própria natureza jurídica da APAV:
Instituição Particular de Solidariedade Social. Se o TAV não detiver intrinsecamente
esta vocação, não poderá corresponder positivamente às solicitações inerentes ao
seu papel, ou seja, se o princípio da Solidariedade Social não tomar lugar no seu
quadro axiológico de referência, o seu trabalho será vão, desprovido do sentido de
missão.
• sentido de compromisso e responsabilidade para assumir tarefas num
período mais ou menos longo no tempo: a estabilidade da equipa de TAV é
factor indispensável para o bom funcionamento dos GAV e, particularmente, para a
eficácia dos processos de apoio à vítima.
Competência Técnica
A competência técnica do TAV abrange, primacialmente, duas faces:
52
Condições Pessoais
O TAV, ao lidar diariamente com as problemáticas das vítimas, está exposto tanto à
frustração constante - quer pela desistência das vítimas dos seus processos de apoio
quer pelas dificuldades subjacentes a esse processo em termos de respostas institucionais
-, como ao stress adicional.
O TAV deve zelar pela manutenção de óptimas condições pessoais para o cumprimento
adequado das suas responsabilidades no apoio à vítima, usando estratégias simples,
como:
• encarar o stress como um desafio a ser ultrapassado e não como algo incontornável
que lhe controla o comportamento, isto é, ter uma atitude positiva perante o problema
do stress;
• partilhar com os outros TAV e/ou com o/a Gestor/a do GAV as suas experiências no
processo de apoio à vítima, tanto no quotidiano como nas reuniões promovidas no
GAV, principalmente nas de dinâmica de grupos;
• reconhecer e respeitar os limites do seu próprio corpo, assegurando períodos mínimos
de descanso e relaxamento;
• reconhecer e respeitar as normas básicas de saúde, mantendo uma dieta equilibrada,
não fumando e evitando o excesso de cafeína e de álcool;
• praticar desporto e/ou fazer qualquer outro tipo de exercício físico;
• investir em actividades agradáveis nos tempos livres, de gosto pessoal, como ler,
conviver com amigos ou passear.
53
domínio teórico-conceptual de temáticas – como a violência doméstica - que, não sua
essência, se afiguram extremamente complexas.
2. Estagiários
Desde muito cedo que a APAV recebeu e contou com a colaboração de estagiários. De tal
modo que estes, apesar de estarem diferentemente enquadrados do ponto de vista
institucional, foram sendo equiparados aos voluntários. No âmbito do apoio directo às
vítimas, surgiu, até, a designação de Técnico de Apoio à Vítima Estagiário (TAVE), por
analogia à de Técnico de Apoio à Vítima Voluntário (TAVV).
Os estágios que têm sido realizados na APAV ao longo dos anos podem classificar-se em
duas categorias:
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Estágios profissionais
São sempre decorrentes do enquadramento num plano de integração no mercado de
trabalho, feitos, por exemplo, pelos centros de emprego e formação profissional (Instituto
do Emprego e Formação Profissional) da área de domicílio da APAV. Decorrem geralmente
durante nove ou doze meses e implicam que a APAV e o centro respectivo garantam
certas condições previstas num contrato de formação previamente celebrado. Estas
podem prever uma remuneração, ou não. Na Associação, os estágios profissionais podem
ser
• Estágios profissionais para apoio à vítima. Estes estágios são, de facto, os mais
comuns, sendo realizados nas áreas de Psicologia, Direito e Serviço Social e no
contexto de cada gabinete de apoio à vítima. Neles, os estagiários prestam os
mesmos serviços de apoio à vítima que os técnicos de apoio à vítima voluntários
(TAVV);
• Estágios profissionais para outros serviços. Estes estágios são menos frequentes
que os anteriores, sendo realizados em áreas diversas, geralmente nos serviços de
sede. Os estagiários não prestam qualquer tipo de apoio directo às vítimas ou a outros
utentes da APAV.
Surgem, por vezes, algumas dúvidas sobre esta condição. É fácil estabelecerem-se estas
dúvidas no quotidiano, quando, entre outros aspectos, a sua actividade parece
assemelhar-se em muito à de outros técnicos de diversa condição. Esta situação verifica-
se em especial quando tanto o estagiário como o voluntário são técnicos de apoio à
vítima, isto é, desenvolvem processos de apoio com as vítimas que recorrem à
Associação.
Ainda que essas semelhanças pareçam esbater a sua condição face às outras, convém
sempre notar que existem diferenças.
• Técnico de Apoio à Vítima (TAV). É todo o técnico que presta serviços de apoio
directo e especializado às vítimas e outros utentes da Associação. Tem um vínculo
laboral com esta que se traduz, entre outros direitos e deveres, na sua
remuneração;
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vítimas e outros utentes da Associação. Tem um compromisso com a APAV, que
se traduz em direitos e deveres, mas que não aufere dos seus serviços qualquer
remuneração;
Naturalmente, têm todos estes técnicos grandes semelhanças nas suas diversas
condições: são todos vocacionados para o apoio directo e especializado à vítima; têm um
vínculo, ou compromisso com a APAV; e as suas designações, elas próprias, são muito
semelhantes entre si.
Mas, em relação ao técnico de apoio à vítima estagiário (TAVE), convém reter estas
características, que o fazem distinto:
3. Ambiente de trabalho
O TAV não pode descurar que toda a sua actividade deve ser realizada num ambiente
favorável ao bem-estar das pessoas com que partilha o espaço físico e os trabalhos
desenvolvidos. Em suma, o bem-estar de quem consigo convive no GAV. Uma convivência
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agradável é crucial para a manutenção de condições favoráveis aos diversos processos de
apoio que no GAV decorrem.
Assim, cada TAV deve sentir-se responsável pela criação e/ou manutenção de óptimas
condições, agindo com gentileza para com todas as pessoas que trabalhem ou contactem
o GAV.
Importa realçar as seguintes normas de convivência:
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58
III O ATENDIMENTO A VÍTIMAS DE CRIMES
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1. A população que contacta a APAV
Procedimentos
- atender;
- abrir processo, de modo a que este contacto fique registado;
- elucidar sobre o âmbito, finalidades e limitações da APAV;
- efectuar o despiste imediato, isto é, não criar condições de continuação futura de
solicitações agora feitas;
- encaminhar, se for caso disso, para a rede de cooperação institucional.
61
• utentes que não se consideram vítimas de crime e que na realidade o são,
nomeadamente,
- mulheres que são vítimas de violência doméstica e/ou crimes sexuais por parte do
cônjuge ou companheiro e desconhecem que a lei os considera crime (por exemplo,
uma mulher contacta a APAV e pergunta que vítimas são apoiadas nos seus serviços:
quando informada, desculpa-se do seu contacto e diz não ser vítima de crime,
revelando contudo que o seu marido se embriaga e lhe bate muito);
Procedimentos
- atender;
- abrir processo, preenchendo processo de apoio online;
- identificar o(s) crime(s) no contexto do discurso do/a utente;
- informar o/a utente que é vítima de crime;
- promover a consciencialização do/a utente sobre os seus direitos;
- se o contacto não for presencial, sensibilizar o/a utente para se deslocar à APAV, de
preferência ao GAV geograficamente mais próximo da sua área de residência, de
modo a realizar um diagnóstico mais real da situação;
- prosseguir com o processo de apoio da APAV ao nível dos apoios jurídico, psicológico e
social, procedendo às diligências conducentes a uma resposta válida, célere e eficaz
para a satisfação das necessidades e pedido do utente.
• terceiros que têm conhecimento de alguém que foi ou está a ser vítima de
crime, nomeadamente,
- vizinhos de vítimas de crime (por exemplo, vizinhos de mulheres e crianças vítimas de
violência doméstica e/ou crimes sexuais ou de idosos e deficientes dependentes de
familiares que os maltratam);
- colegas de escola ou de trabalho;
- profissionais (por exemplo, técnicos de serviço social, agentes policiais ou pessoal
hospitalar que desejam encaminhar vítimas de crime).
Procedimentos
- atender;
- abrir processo, preenchendo processo de apoio online;
- identificar o crime;
- salientar a importância de terem contactado a APAV com a preocupação por outrem;
- informar sobre os direitos da vítima de crime em questão;
- sugerir a mediação junto da vítima de crime com a finalidade de esta contactar o GAV
geograficamente mais próximo da sua área de residência;
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- se as vítimas de crime em questão forem menores de idade, e tratando-se de crime
público, a APAV, através de ofício assinado pelo Gestor do GAV, denuncia a situação
ao tribunal competente;
- se as vítimas de crime em questão forem idosos ou deficientes, deve articular-se com o
serviço local de acção social da Segurança Social e com as autoridades competentes,
salvaguardando a segurança da vítima.
Procedimentos
- atender;
- abrir processo, preenchendo processo de apoio online;
- identificar o(s) crime(s);
- prestar apoio aos níveis emocional, jurídico, psicológico e social, procedendo às
diligências conducentes a uma resposta válida, célere e eficaz para a satisfação das
necessidades e pedido do utente.
2. Impacto da vitimação
Antes de nos referirmos ao impacto da vitimação, importa recordar os conceitos de vítima
e crime, de acordo com a visão da APAV.
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A vitimação pode decorrer de um evento (choque), que ocorre brusca e inesperadamente,
de forma irreversível, que não é familiar à vítima e está fora do seu controlo e que
ameaça, directa ou indirectamente, o seu bem-estar psíquico, constituindo uma
experiência muito angustiante que requer uma adaptação psicológica, podendo originar
sequelas psico-sociais.
O primeiro nível explica-nos que uma pessoa pode experimentar um dano sem se
reconhecer como vítima, mesmo no caso de existirem lesões e sofrimento resultantes da
culpa dolosa de terceiros. A cultura, tradição e certos credos podem justificar uma
racionalização que os leve a considerar estes comportamentos como normais e admissíveis
ou, até, a considerarem-se, eles próprios, como responsáveis pelo dano que estão a sofrer.
A violência doméstica representa um exemplo deste tipo de situações, já que as vítimas
revelam frequentemente de sentimentos de culpa.
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parte do autor do crime (ameaças de agressões físicas mais graves à própria ou a
próximos, ou até ameaças de morte).
Factores sociais e psicológicos podem impedir a vítima de denunciar, o que pode levar à
vitimação continuada, tirando o ofensor vantagem da falta de acção da vítima. O valor do
sucesso nas sociedades modernas poderá ser também um obstáculo. Para muitos a vítima
é fraca, apesar de inocente. Como resultado, a vítima poderá ser prejudicada caso
denuncie a situação. Por isso, por exemplo, poderá ser mais difícil para os homens admitir
terem sido vítimas e procurarem o apoio adequado.
As tarefas e necessidades das vítimas passam por restabelecer o mundo como o preferem
e conhecem. Isto envolve sair da inércia e apreensão relativamente à tomada de decisões,
sair do isolamento e estabelecer contactos e redes de suporte, evitando o perigo e criando
um porto seguro. Este processo requer a correlação de três elementos: esforço activo; o
sentimento de segurança e ajuda activa por parte de terceiros. É através deste processo
que a vitimação poderá ser evitável, prevenida e possível de ultrapassar.
À medida que as pessoas vão denunciando os crimes de que são vítimas, maior se torna o
interesse da sociedade e de pessoal técnico acerca do problema. O passo seguinte deve
obviamente passar pela criação de políticas sociais adequadas e implementação de
estruturas de apoio.
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2.2 Consequências da vitimação
No caso da vítima directa, as consequências físicas são, em geral, as mais valorizadas
em termos médico-legais, por estar em causa a qualificação jurídico-penal de uma conduta
e(ou) a reparação de um dano corporal, podendo variar de lesões muito simples até lesões
mortais.
A capacidade de cada pessoa ultrapassar o trauma poderá estar associada a factores tais
como, o tipo de trauma (natureza e severidade do crime, duração, contexto,
circunstâncias situacionais); a disposição individual (estado de saúde prévia, sua
experiência anterior, idade, aspectos culturais e demográficos); a percepção inidividual
(percepção do trauma, expectativas e motivação) e o suporte de terceiros (familiares,
amigos e serviços de apoio).
Após uma situação de vitimação, uma pessoa pode permanecer em estado alterado por
períodos variáveis. É classificado como estado de stress agudo quando a pessoa
apresenta alguns dos sintomas típicos da PPST, mas volta ao seu padrão de
funcionamento normal dentro do primeiro mês. De acordo com os critérios do DSM IV,
quando um determinado número de sintomas persiste por mais de um mês, é classificado
como PPST.
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As consequências sócio-económicas e familiares traduzem-se por perturbações a
nível escolar, laboral e familiar, com consequente enfraquecimento deste núcleo. São
perturbações com importantes repercussões, mas o seu peso global não está estimado no
nosso país.
Uma outra forma de vitimação prende-se com a circunstância da vítima se poder encontrar
inesperadamente num papel de homicida, sofrendo assim uma dupla vitimação, apenas por
agir em defesa própria ou de terceiros, sem que muitas vezes haja depois uma adequada
compreensão do fenómeno por parte dos diversos profissionais intervenientes.
Também a comunidade em geral pode ser considerada vitimizada por estes processos, na
sequência dos seus custos sócio-económicos, que não podemos depreciar e que estão
relacionados com: perdas directas de bens; cuidados de saúde a curto e longo-prazo;
sistema de segurança, de justiça e contencioso; serviços sociais (como por exemplo com o
apoio às vítimas); diminuição do rendimento e absentismo escolares e profissionais;
desemprego; redução do tempo de vida activa por incapacidade (reforma
precoce); anos de vida perdidos (mortalidade precoce, suicídio, homicídio); custos para a
segunda geração (como acontece no caso da violência doméstica, com o fenómeno
do contágio transgeracional da agressividade) (Magalhães, 2005).
Apesar de cada pessoa reagir de forma diferente à vitimação, atendendo ao tipo de crime,
às circunstâncias em que este ocorreu, à relação com o autor do crime, às características
da vítima, entre outras variáveis, importa referir algumas reacções comuns:
Físicas
• Perda de energia
• Diminuição dos níveis de resistência
• Dores musculares
• Dores de cabeça e/ou enxaquecas
• Distúrbios ao nível da menstruação
• Arrepios e/ou afrontamentos
• Problemas digestivos: aumento ou diminuição do apetite, náuseas
• Alterações na tensão arterial
• Lesões externas e/ou internas
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Psicológicas
• Sentimento de solidão
• Culpa
• Impotência
• Raiva
• Irritabilidade
• Desconfiança
• Tristeza
• Flashbacks
• Falta de motivação
• Perturbações pós-stress traumático
• Ideação suicida
• Enurese nocturna ou diurna
A nível social
• isolamento
• tensões familiares e conjugais
• medo de estar sozinho
• evitamento de locais que causam um sentimento de insegurança
• Desemprego
• Redução do tempo de vida activa
• Estigmatização/exclusão social
• Diminuição do rendimento escolar
• Absentismo escolar
Atender uma vítima de crime não é uma mera actividade de importância periférica nos
trabalhos da APAV: é o seu cerne, de onde provem todo o sentido e todo o incentivo para
continuar outros trabalhos. Terá de ser, portanto, alvo da maior dedicação por parte do
técnico, que não pode descurar que é aí que reside a sua missão, é aí que se encontra
com a pessoa que lhe dá a designação de TAV: a vítima a solicitar apoio.
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Como tal, os seus procedimentos deverão ser reflectidos e ponderados, de modo a haver
a mais adequada resposta à solicitação da vítima.
O TAV deverá envidar todos os esforços no sentido de evitar ou, pelo menos, minimizar a
ocorrência de fenómenos de vitimação secundária.
Vitimação secundária é o fenómeno que ocorre sempre que se verifica uma discrepância
entre os interesses, necessidades e direitos da vítima e as respostas
institucionais proporcionadas pelos diversos sistemas: judicial, saúde, social e
sociedade civil. É a não obtenção (em tempo útil), por parte da vítima, daquilo que é
justo, necessário, suficiente e adequado por parte das instituições e da sociedade para
fazer face aos efeitos da situação de vitimação.
O TAV deve desde logo zelar para que não ocorram fenómenos de vitimação secundária
no âmbito da relação do/a utente com a APAV, desenvolvendo o processo de apoio com
competência, com sensibilidade e de forma temporalmente eficaz. Em duas palavras:
cumprindo os procedimentos preconizados neste Manual.
Para além disso, deve o TAV fazer tudo o que estiver ao seu alcance para combater a
vitimação secundária no contacto da vítima com outras instituições, através de uma
eficiente mediação junto das entidades, serviços e organismos com quem o/a utente terá
que contactar. Como?
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Podem elencar-se as três vias pelas quais as vítimas se dirigem à APAV, solicitando o seu
apoio:
• presencial (num GAV, na UAVIDRE ou, excepcionalmente, num local externo à APAV)
• chamada telefónica
• por escrito
De entre estas três vias, deve privilegiar-se a presencial, por ser a que permite um melhor
conhecimento da vítima e das suas problemáticas, levando assim a um apoio mais
efectivo. Assim, uma das vertentes dos outros dois tipos de atendimento – telefónico ou
por escrito – é a sensibilização da vítima para, quando possível, se deslocar a um GAV,
preferencialmente o mais próximo da sua residência.
• o/a utente deve ser recebido de forma gentil e imediatamente encaminhado para a
sala de espera ou, se o TAV estiver disponível, para a sala de atendimento;
• o/a utente não deve esperar mais de quinze minutos para ser atendido; contudo, se tal
não for possível, deve ser explicada ao/a utente a razão para a demora, solicitando-se
a sua compreensão;
• na zona de espera, o/a utente deve ter uma cadeira ou sofá onde se acomodar, bem
como revistas e/ou jornais;
• os utentes devem ser atendidos por ordem de chegada, salvo aqueles que tiverem
previamente solicitado atendimento a determinada hora; deve contudo dar-se
prioridade aos idosos, aos que manifestarem sinais de se encontrarem em situação de
crise, abaixo abordada, e aos que apresentarem sequelas físicas que se possam
considerar constrangedoras diante de outros utentes que esperam;
• se o/a utente vier acompanhado/a, solicitar ao acompanhante que aguarde na sala de
espera, salvo se o utente manifestar expressamente a vontade de que aquele esteja
presente no atendimento;
• no espaço reservado ao atendimento, deve convidar-se o/a utente a sentar-se no lugar
mais confortável;
• se o/a utente manifestar sinais de estar a vivenciar uma situação de crise, como chorar
e/ou tremer, deve-se oferecer-lhe lenços de papel e um copo de água; se desejar
fumar, deve-se oferecer-lhe um cinzeiro;
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• não se deve conversar de pé com o/a utente quando este estiver sentado;
• se o/a utente trouxer consigo crianças, deve solicitar-se a outro TAV que cuide delas
durante o atendimento, de preferência noutro espaço do GAV, onde possam brincar
com brinquedos e jogos apropriados;
• deve acompanhar-se o/a utente à saída do GAV.
Para que se faça um atendimento fora do espaço físico da APAV, é necessário que o TAV
tenha em consideração o processo de apoio, usando os seguintes critérios:
Um atendimento fora do espaço físico da APAV pode ser aquele que é feito em casa da
vítima. Trata-se da deslocação de um TAV ou mais (de preferência dois) a casa de um
utente, onde fará um atendimento presencial semelhante ao que faz no GAV, mas agora
num espaço físico distinto. É, cada vez mais, uma prática eficaz, sendo actualmente
incentivada e incrementada junto dos TAV, quer sejam trabalhadores sociais, quer sejam
psicólogos ou juristas. Um processo de apoio na APAV exige uma abordagem
multidisciplinar, logo, as visitas domiciliárias podem/devem ser realizadas por TAV de
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várias formações académicas. Tratando-se de uma forma delicada de intervenção no
terreno, a sua realização implica que se efectue uma avaliação quanto à necessidade de
ser feita uma visita, ou se esta pode ser dispensada, usando-se os critérios acima
apontados.
Uma vez autorizado o atendimento fora do espaço físico da APAV pelo respectivo gestor
de GAV, o TAV deve ter em consideração os seguintes aspectos:
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Alguns aspectos são fundamentais num atendimento em casa da vítima:
O TAV deve considerar importante o facto de estar a entrar num espaço físico distinto de
qualquer outro espaço de atendimento, uma vez que é o próprio domicílio da vítima.
Assim, deve procurar apresentar-se em casa desta com toda a serenidade. Deve mostrar-
se à vontade em casa do visitado, sem manifestar desagrado, repugnância ou
deslumbramento, ou qualquer outra atitude menos própria quanto ao que o rodeia (por
exemplo, tapar o nariz por causa do mau cheiro; ou contemplar demoradamente a
decoração faustosa).
Em algumas situações, o TAV deve respeitar o pudor do visitado com especial cuidado
(por exemplo, se este for um doente, pode querer que o TAV saia do quarto para que
outros profissionais façam a sua higiene diária, etc.);
Mais do que num atendimento no espaço físico do GAV, o atendimento deve decorrer
num ambiente de grande empatia com o visitado. Esta implica que o TAV seja um pouco
mais coloquial e gentil – sem, no entanto, parecer artificial. O facto de estar a ser visitado
em sua própria casa pode colocar o visitado numa situação de maior sensibilidade em
relação ao TAV.
Daí que este deva preparar o próprio atendimento com uma atitude própria de que é bem
recebido para uma visita: com cumprimentos simpáticos; e entrada em casa com toda a
discrição e elegância (isto é, sem entrar apressadamente, mas com moderação e pedindo
licença, esperando que seja indicado o caminho, etc.).
Uma conversa inicial sobre assuntos triviais (por exemplo, sobre o clima; ou sobre o
caminho tomado para encontrar a morada; ou sobre o trânsito) deve preencher os
momentos em que se prepara um lugar improvisado para o atendimento (por exemplo,
uma cadeira junto à cama, onde o visitado está convalescente).
É preferível, no entanto, que o TAV decline simpaticamente a oferta de chá, café ou água,
se estes lhes forem oferecidos.
• O atendimento
O TAV deve tomar o atendimento em casa da vítima como início (se esse é realmente o
primeiro atendimento), ou como continuidade, de um processo de apoio.
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Durante a visita, o TAV deve comportar-se como num atendimento presencial, atendendo,
no entanto, à particularidade de estar num espaço físico diferente do espaço do GAV.
Deve também procurar, se possível, que o próximo atendimento seja realizado no GAV.
Deve evitar a dependência emocional do visitado em relação à realização de futuras
visitas; ou a sua acomodação, não querendo sair de casa, mesmo podendo fazê-lo;
• Segurança
O TAV deve zelar pela sua própria segurança durante o atendimento, fazendo-se sempre
acompanhar por outros profissionais ou mesmo com uma escolta policial, previamente
solicitada junto da esquadra ou posto de polícia local pelo gestor do GAV.
Para zelar pela segurança da vítima, para além de ter ponderar a efectuação do
atendimento num horário considerado seguro pelo próprio (por exemplo, horário de
trabalho do agressor), o TAV deve alertar o visitado para a necessidade de manter sob
discrição aquela visita em relação a terceiros.
Também deve alterar para a necessidade de não deixar à vista materiais que possam
denunciar a sua ligação à APAV (por exemplo, folhetos, cartões, etc.) ou outros vestígios
(por exemplo, uma Ficha de Atendimento rasurada e invalidada, mas amachucada no
caixote do lixo; ou um número de telefone marcado no telemóvel, etc.).
O TAV deve procurar que não sobressaiam na sua presença no bairro, no prédio, ou à
porta de casa do visitado, certos sinais de identificação que podem denunciar a presença
da APAV (por exemplo, levar na mão uma capa com o logótipo da Associação; ou deixar
folhetos e manuais da APAV no automóvel estacionado, etc.).
Nestes dois contextos, o TAV terá em conta todos os aspectos acima referidos.
No entanto, será também necessário que o gestor de GAV solicite ao centro hospitalar ou
ao estabelecimento prisional o atendimento, que implicará o acesso do TAV à pessoa
internada ou ao recluso.
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Em certos casos, convém que estes atendimentos sejam realizados fora do horário de
visitas, de modo a garantir que o TAV não se cruza com os visitantes habituais do
doente/recluso, colocando, assim, a confidencialidade do atendimento em risco.
É também possível, e desejável, que o gestor e o TAV peçam a colaboração dos serviços
sociais do centro hospitalar e da Direcção Geral dos Serviços Prisionais e/ou da Direcção
Geral de Reinserção Social (para os estabelecimentos prisionais).
Estas visitas são, geralmente, de pais de crianças que estão com as respectivas mães
numa casa de abrigo da APAV ou numa outra instituição, ou ainda numa outra morada
que deve permanecer secreta/discreta. Decorrem no espaço físico da APAV, não porque
seja obrigação da Associação acolhê-las, mas porque, não havendo, em muitos casos, um
contexto mais adequado para tal, a APAV aceita colaborar com o Tribunal.
• Rigor. Estas visitas têm uma periodicidade e um horário (por exemplo, todas as
quartas-feiras, das 14 horas às 15 horas) fixados pelo Tribunal, e que devem ser
cumpridos pelo TAV com o máximo rigor.
• Tranquilidade. As visitas não poderão interferir no decurso normal dos trabalhos da
APAV. Devem decorrer sem perturbação e sem indiscrições (por exemplo, deve haver
brinquedos no lugar da visita, de modo a proporcionar aos pais a oportunidade de
brincar com as crianças – no entanto, é importante assegurar que o façam sem muito
ruído ou que se movimentem pela sala de espera ou por outras salas);
• Confidencialidade. As visitas devem devorrer num lugar resguardado do GAV (por
exemplo, uma sala de atendimento);
• Vigilância. O TAV deve vigiar permanentemente a visita dos pais às crianças, de
preferência acompanhado por outros TAV. Esta vigilância deve ser discreta, mas
atenta. Devem ser prevenidas tentativas de sequestro das crianças durante as visitas;
• Imparcialidade. O TAV não deve manter diálogos com os pais visitantes sobre os
processos de apoio em que se se inserem as crianças. O TAV deve ter tratá-los com
dignidade e respeito, sem fazer juízos de valor;
• Conhecimento/orientação do gestor. A realização das visitas deve ser do
conhecimento e/ou estar sob a orientação directa do gestor de GAV ou UAVIDRE.
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3.2 Atendimento telefónico
Ao telefone, o TAV deve ter especial cuidado, visto não estar diante do/a utente, tendo
apenas como instrumento a sua voz e o discurso. Para além do que acima, em sede de
atendimento presencial, ficou escrito acerca da comunicação verbal e que, na quase
totalidade, tem aqui aplicação, há outros aspectos específicos que importa referir.
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avaliada e como tal o apoio prestado será mais consentâneo com as suas
necessidades: o TAV deve indicar a morada e o horário do GAV, ou de outro
geograficamente mais próximo da área de residência da vítima;
• terminar a chamada, perguntando ao interlocutor se deseja deixar o seu nome e
contacto e apresentando-se, caso não o tenha feito no início da conversação;
• agradecer e disponibilizar a APAV para futuros contactos, com expressões como muito
obrigado por nos ter contactado, estaremos sempre ao dispor....
Estas missivas são recebidas pelo/a Gestor/a do GAV, que as encaminha para o TAV cuja
competência seja a mais adequada face à problemática apresentada. Elaborada a
resposta pelo TAV, o/a Gestor/a deve confirmá-la, mediante a junção de um ofício em
que a apresenta ao/a utente.
As missivas devem ser respondidas no prazo de quinze dias após a sua recepção, dando-
se prioridade às que abordam problemáticas que se afigurem mais urgentes.
• acusar a recepção da missiva enviada pelo/a utente, indicando a data do seu envio
e/ou da sua chegada;
• se a problemática não for crime, referir o âmbito e a finalidade da APAV e encaminhar
para os serviços competentes;
• se a problemática apresentada pelo/a utente o indiciar como vítima de crime,
reconhecer-lhe esse estatuto;
• informar brevemente sobre os direitos da vítima e da forma de os exercer;
• sensibilizar a vítima para o atendimento presencial no GAV geograficamente mais
próximo da sua residência;
• agradecer ao/a utente o seu contacto;
• assinar e identificar-se: nome e função na APAV (Técnico de Apoio à Vítima).
Convém ter sempre em mente que, caso o/a utente não aceda à sugestão para se
deslocar ao GAV, esta resposta escrita poderá ser o único contacto que o TAV manterá
com aquele, pelo que se afigura de extrema importância o fornecimento de alguma
informação acerca dos procedimentos cuja adopção se pode afigurar útil tendo em conta
a problemática apresentada, como sejam os contactos das instituições ou serviços a que
o/a utente pode recorrer para fazer face às necessidades de segurança, saúde ou outras
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que apresenta; os processos judiciais de que se pode socorrer; os apoio sociais de que
pode beneficiar, etc.
Ainda que seja sempre aberto processo, com o respectivo preenchimento de uma Ficha
de Atendimento, apenas se pode falar em processo de apoio propriamente dito quando é
desenvolvido um conjunto articulado de diligências – designadamente vários
atendimentos, contactos com outras instituições, sessões de apoio psicológico, auxílio na
elaboração de peças processuais para o processo criminal, etc. - em prol do/a utente
durante um determinado período de tempo.
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atendimento inicial. É um momento de avaliação mútua no qual ambos estão
extremamente preocupados com aquilo que outro pensa.
O/a utente apresenta-se sempre com muitas expectativas, medos, fantasias, etc. Está
geralmente inseguro sobre o que se espera dele e tem muitas vezes receio de revelar a
um estranho, ainda que saiba que se trata de um técnico, informações muito pessoais.
Estes medos e expectativas são trazidos para o primeiro atendimento e podem exercer
alguma influência sobre o TAV, pelo que importa que sejam abordados de forma clara,
para se poder iniciar o processo de apoio. Para além de responder a este tipo de
percepções e de dúvidas do/a utente, o técnico vai também experimentar as suas
próprias ansiedades: receio de ser visto como incompetente, de fracassar no controlo da
conversa, de não saber o que dizer, de o/a utente se mostrar pouco cooperativo ou hostil,
de não conseguir responder adequadamente às necessidades do/a utente. De modo a
que esta ansiedade inicial não afecte significativamente o primeiro atendimento, impõe-se
ao TAV um esforço no sentido de promover o alívio de tensões e medos, de modo a
proporcionar um espaço produtivo para o/a utente e para si mesmo.
Algumas sugestões para o TAV diminuir a tensão e ansiedade iniciais:
• conhecer o espaço físico do atendimento, pois o estar familiarizado com este contribui
para se sentir à vontade;
• interiorizar que não é obrigatório responder a todas as perguntas formuladas pelo/a
utente;
• sentir que quase tudo o que disser é reparável;
• consciencializar que não tem de formular todas as perguntas nem de obter respostas
para todas as perguntas que fizer: existem sempre oportunidades para esclarecer algo
que ficou mais confuso;
• permitir ao/a utente os tempos de pausa ou de silêncio e intervir sobre eles só quando
lhe parecer estritamente necessário: o silêncio durante a sessão não é
necessariamente um mal;
• evitar expressar, verbal ou corporalmente, estranheza ou confusão: é preferível, em
casos de absoluta necessidade, abandonar a sala para consultar o/a Gestor/a.
Qualquer TAV, independentemente da sua área de intervenção, tem que estar habilitado
a efectuar o primeiro atendimento, quer em nome da multidisciplinariedade que se
preconiza na APAV – obviamente sem prejuízo da não invasão de competências alheias,
estranhas, por serem inerentes a outras áreas de intervenção – quer também porque,
neste atendimento, mais do que um apoio especializado, se pretende alcançar outras
finalidades, enunciadas de seguida.
Pode contudo suceder que o/a utente identifique imediatamente a sua problemática como
sendo, por exemplo, de âmbito jurídico, devendo nestes casos o primeiro atendimento
ser, se possível, efectuado por um TAV jurista, quer por uma razão de optimização de
recursos humanos – envolve-se desde o início apenas um TAV, cujas competências são
provavelmente as adequadas para aquela situação -, quer porque muitas vezes a
problemática se resume ao esclarecimento de uma dúvida, o que faz esgotar o processo
no primeiro atendimento.
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O primeiro atendimento tem três finalidades:
• recolha de informação – esta recolha deve ser tão vasta quanto possível, mas
sempre dentro dos limites do necessário, por um lado, e do adequado ao momento,
por outro; deve procurar recolher-se informação a três níveis:
Quanto mais pormenorizada e útil for a informação recolhida, mais correcta será a
avaliação da(s) problemática(s) e o levantamento das necessidades ao nível jurídico,
psicológico e social e, consequentemente, mais eficientes serão as estratégias de
intervenção delineadas. Contudo, caso o discurso da vítima revele contradições, dúvidas
ou omissão de informação importante, o TAV deve explorar outras fontes de informação
(familiares, amigos e/ou instituições), mediante prévia autorização do/a utente.
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• avaliação do grau de risco e definição de plano de acção e de segurança - que
consiste num conjunto constituído: a) pela a análise da situação presente e
identificação das situações de risco; b) pela projecção da situação futura e outras
medidas realizáveis nas condições reais prevendo ao máximo as situações de risco:
importa recolher e explorar alguns dados, que permitam começar a avaliação do grau
de risco - o detalhe dos incidentes de agressão, os padrões de severidade e de
frequência, a identificação dos sinais de alarme, as extensões das lesões provocadas -
enquanto indicador da severidade envolvida -, o risco de comportamento suicida ou
homicida e a existência de factores de risco de ocorrência de violência severa – a
posse de arma pelo agressor, por exemplo. Para o efeito, o TAV pode pedir à vítima
para descrever como poderá ocorrer um eventual crime (incluindo pessoas,
circunstâncias, locais, pensamentos e estados emocionais) e para referir alguns
pensamentos e comportamentos (acções) mais eficazes, de modo a evitar um eventual
crime.
O TAV deve concentrar-se no presente, uma vez que o pedido de ajuda do/a utente se
centra quase sempre em problemas actuais, embora estes possam ter origem num
passado mais ou menos recente. Este ênfase no presente não deve contudo impedir a
construção da história de vida do/a utente, fundamental para uma abordagem
compreensiva da problemática.
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Porém, também o TAV tem, e deve fazer prevalecer em determinados casos, o seu direito
à autonomia técnica. Esta questão coloca-se na medida em que podem surgir situações
em que o técnico considere não dever seguir a vontade da vítima.
Exemplificando: se uma mulher vítima de violência conjugal solicita apoio, apesar de não
querer proceder à ruptura da relação, o TAV tem de respeitar essa decisão e apoiá-la
igualmente, respondendo aos seus pedidos. Porém, imagine-se que esta mulher tem um
filho menor que é igualmente maltratado, não pretendendo contudo a mãe que esta
situação seja denunciada. Aqui sobrepõe-se o interesse superior do menor: a protecção
deste tem um valor mais elevado. Caso a vítima mantenha a sua decisão, o TAV deve, em
princípio, denunciar a violência de que o menor é alvo, contrariando, de certa forma, a
autonomia da vítima.
Para que o princípio da autonomia seja de facto garantido, há que promover aquilo que
se designa por decisão informada, e cujos pressupostos são os seguintes:
• a vítima deve estar na posse das capacidades necessárias para poder decidir;
• deve existir liberdade de decisão - a vítima não pode ser coagida ou forçada,
competindo ao TAV avaliar o grau de liberdade de cada pessoa para determinada
decisão;
• a vítima deve ser informada sobre os seus direitos, alternativas possíveis e
procedimentos a adoptar perante cada uma das alternativas, devendo esta informação
ser fornecida de modo a que a vítima a compreenda na íntegra, tendo como tal em
conta a sua capacidade de assimilação.
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Exemplificando esta multidisciplinariedade num processo de apoio a uma criança vítima
de violência doméstica: compete ao TAV da área social a exploração da retaguarda
familiar da criança, através de um diagnóstico da situação a vários níveis (relacional,
económico, de saúde, social e institucional), de modo a aferir os seus recursos e as
potencialidades de mudança. Por outras palavras, o TAV deve avaliar a necessidade de a
criança ser afastada da família; o papel do TAV da área de psicologia é também fulcral:
avaliar o impacto causado no menor, para poder depois trabalhar com ele na
ultrapassagem desses efeitos nefastos; por sua vez, ao TAV da área jurídica compete
proceder ao enquadramento legal da situação, orientando, com a maior objectividade, o
seu percurso judicial. Tudo isto com vista à protecção da criança, o que inclui a adopção
de medidas o menos traumatizantes possível para ela.
Este estado da vítima deve ser tido em conta pelo TAV, pelo que cumpre enunciar os seus
principais traços. Assim, a situação de crise abarca as seguintes repercussões:
Estes dois traços definem aquilo que normalmente se designa por negatividade da
situação de crise. Perante esta negatividade, o TAV deve, no contexto da sua relação com
a vítima, centrar-se no desejo de mudança que esta circunstância também comporta,
desejo que a vítima, durante este período de desequilíbrio, coloca nessa relação, para que
possa ser apoiada. Deste modo, a situação de crise também se apresenta como um
desafio: é a positividade da situação de crise, que o TAV deve explorar na intervenção
junto da vítima.
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A intervenção perante uma situação de crise deve, assim, pautar-se pelas seguintes
etapas:
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Neste tipo de intervenção, o TAV deve adoptar as seguintes estratégias:
• explorar as características do período crítico: neste período, a pessoa em crise
responde mais facilmente à ajuda; o contacto inicial é o fundamental: os objectivos
são os de ganhar confiança, estabelecer entendimento e identificar claramente os
eventos recentes relevantes, sobretudo aqueles que levam a pessoa a procurar ajuda.
Através de um inquérito minucioso acerca das últimas 48 horas obtém-se muita
informação útil, que permitirá apontar para problemas chave.
• clarificar: é importante clarificar quais são as exigências a que pessoa tem de fazer
face, incluindo obrigações práticas. Deve prestar-se atenção ao estado mental do/a
utente: se existem ideias suicidas, qual o grau de ansiedade, de agitação e de
angústia e, em particular, se a sua condição permite dar os passos cuja
implementação imediata se impõe.
• avaliar: avaliar o apoio da família ou dos amigos- rede de suporte primária - e a
natureza da situação em casa do/a utente. Desta forma, é possível formar uma
imagem completa do/a utente, não só do passado e do desenvolvimento dos seus
problemas, mas também de como este os resolveu anteriormente e da qualidade de
recursos disponíveis. Esta avaliação poderá ter de esperar até que a desorganização e
o desamparo, muitas vezes associado a um estado grave de descompensação,
diminuam, ou até que seja possível efectuar um outro atendimento ao/a utente, numa
situação emocional mais estável e compensada.
• diminuir a activação e a angústia: é comum o/a utente encontrar-se numa
situação extrema de activação e de angústia, pelo que se torna necessário utilizar
meios psicológicos para os reduzir: passando o tempo e falando com o/a utente de
uma forma segura e tranquilizante.
• reforçar a comunicação adequada: reforçar a conversa normal e relevante com
o/a utente, prestando-lhe atenção e desencorajando o comportamento agitado,
persistente ou não comunicativo.
• mostrar interesse e calor e encorajar a esperança: o TAV deve transmitir ao/a
utente que se interessa, está disposto a ouvir, é empático e estimula a esperança de
uma resolução positiva, o que promove a autoconfiança do/a utente.
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A intervenção na crise comporta duas fases. Numa primeira fase da intervenção, o TAV
deve reconhecer ao/a utente o estatuto de vítima, mostrando-se disponível para:
• escutar a sua versão dos factos e circunstâncias situacionais adjacentes ao crime;
• respeitar as suas reacções psicológicas, valores, dificuldades, condições de vida e
necessidades;
• facilitar-lhe a libertação de emoções e sentimentos negativos.
A APAV, reconhecendo que os utentes que recorrem aos seus serviços têm necessidades
específicas, que reclamam, por isso, intervenções especializadas, preconiza três áreas de
actuação ou, se se quiser, três tipos de apoio:
• Apoio Jurídico
• Apoio Psicológico
• Apoio Social
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É fundamental que o TAV adeqúe o conteúdo do Relatório do Processo de Apoio a Vítima
às razões subjacentes à sua formulação. Tal não significa esconder ou prestar falsas
informações, mas sim seleccionar a informação a transmitir com base no princípio da
confidencialidade e no respeito pela privacidade da vítima, fornecendo apenas a
necessária à intervenção solicitada ou esperada por parte desse outro organismo.
O Relatório de Processo de Apoio à Vítima tem de ser claro, conciso e objectivo. E não
obstante a necessidade de adequar o seu conteúdo à necessidade concreta que leva à
sua elaboração, pode elencar-se um conjunto de elementos que devem estar sempre
presentes.
• Identificação:
- da vítima
- do agressor
- do(s) filho(s)
• Problemática:
- encaminhamento para GAV
- história de pré-vitimação
- história de vitimação
- processos judiciais
- história profissional e/ou escolar
- estado de saúde
- rede de suporte primária e secundária
• Intervenção:
- redefinição do projecto de vida da vítima
- avaliação / parecer técnico
O Relatório de Processo de Apoio à Vítima deve ser acompanhado por um ofício, no qual
o TAV formaliza o pedido relativo à vítima em questão. Deve ainda acrescentar que a
fundamentação para a solicitação efectuada consta do relatório que anexa. O TAV deve
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terminar o referido ofício agradecendo a colaboração prestada e colocando-se ao dispor
do destinatário para prestar qualquer esclarecimento adicional.
Caso a solicitação de relatório seja efectuada por advogado, o pedido referido no ponto
anterior deve ser acompanhado de Procuração ou comprovativo de nomeação oficiosa.
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ANEXOS
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DECLARAÇÃO DE AUTORIZAÇÃO PARA TRANSMISSÃO DE INFORMAÇÕES
Mais autorizo que, caso seja solicitado à APAV algum esclarecimento ou informação
adicional relativos à minha situação, os mesmos possam ser prestados.
Autorizo ainda que, caso um Técnico de Apoio à Vítima da APAV seja notificado por
autoridade policial ou judiciária para prestar depoimento no âmbito de processo judicial,
na qualidade de testemunha ou perito, o mesmo possa revelar os factos de que tem
conhecimento relativamente à minha situação.
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IV TÉCNICAS DE COMUNICAÇÃO
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1. O processo de comunicação
No atendimento presencial, deve estabelecer-se entre o TAV e o/a utente que solicita
apoio um processo de comunicação e empatia, em que este comunica primeiramente
como emissor e o primeiro deve, enquanto receptor, assegurar uma boa recepção e
compreensão.
Algumas técnicas há, pois, a apresentar para que o TAV possa estabelecer esta
comunicação, sendo que, em primeiro lugar, compete-lhe apresentar-se como Técnico de
Apoio à Vítima: este é sempre o primeiro passo a dar no início do atendimento, devendo
estar perfeitamente interiorizado pelo TAV.
Comunicação verbal
• ouvir
- prestar atenção como ouvinte, recebendo a mensagem que este emite verbalmente e
apreendendo os seus conteúdos, tanto racionais, como emocionais;
- responder não-verbalmente, mostrando ao ouvinte que está a prestar atenção ao seu
discurso, através do uso de sinais, como sejam manter os olhos fixos nos seus, acenar
com a cabeça ou utilizar interjeições;
- não interromper o/a utente, de modo a não tirar conclusões prematuras sobre o que
este está a dizer.
• reformular
O TAV deve expor os conteúdos emitidos pelo/a utente no seu discurso, de modo a
certificar-se de os ter apreendido adequadamente, podendo também fazer uso de
exemplos simples que os expliquem em concreto. Isto é importante também para que o/a
utente se certifique de que está a ser ouvido com atenção, o que o encoraja a continuar.
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• questionar
O TAV deve questionar o/a utente sempre que este não tenha emitido toda a informação
necessária ao processo de apoio e/ou ao encaminhamento, ou quando a informação
tenha sido contraditória ou menos clara.
- questões abertas, que geralmente implicam conteúdos mais ou menos vastos e/ou
complexos ou que envolvem abstracção e cujas respostas não serão simples e/ou
curtas, como Que receio tem de ir a Tribunal?, Como se sente agora? ou O que o
preocupa?;
- questões fechadas, que geralmente implicam conteúdos simples e cujas respostas são
simples e curtas, como A que horas é o julgamento?, Como se chama? ou Qual a sua
idade?.
Contudo, o TAV deve ter especial cuidado em evitar que o/a utente se sinta interrogado,
pois tal pode levar à sua inibição ou à adopção de uma atitude defensiva. Para tal, deve
promover um equilíbrio entre as questões abertas e as questões fechadas, o que facilitará
a comunicação.
O TAV deve estar disponível para que o/a utente se expresse espontaneamente,
auxiliando-o na libertação de emoções e/ou sentimentos, com expressões como Não se
reprima, chorar é natural e pode fazer-lhe bem, esteja à vontade..., É natural que se sinta
assim abalado..., Chorar não é motivo de vergonha... ou Desabafe, pode fazer-lhe bem.
O TAV deve encorajar a expressão de emoções e/ou sentimentos sobretudo quando o/a
utente se encontrar em situação de crise. Contudo, o TAV não deve ter a iniciativa de
sugerir ou impor que o/a utente expresse as suas emoções e/ou sentimentos se este não
tiver manifestado vontade de o fazer, pois poderá ainda não estar preparado para tal.
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• informar
O TAV deve informar o/a utente dos seus direitos, de como exercê-los, dos vários
recursos de que pode dispor na comunidade e das diversas opções que pode tomar,
abstendo-se contudo da emissão de juízos e opiniões pessoais, pois essa actuação pode
incutir no/a utente uma ideia de submissão e de inexistência de autonomia de decisão.
Não deve fornecer informação desnecessária, impraticável, irrealista ou incorrecta.
• resumir
O TAV deve resumir todos os aspectos do discurso do/a utente e do seu próprio discurso,
de modo a certificar-se de que se compreenderam adequadamente. Resumir é igualmente
um modo de colmatar falhas de informação de ambos, informação que, por esquecimento
ou falta de oportunidade no contexto dos discursos, não foi referida.
O TAV deve estar atento à comunicação não-verbal, enquanto vector enriquecedor dos
conteúdos verbalizados, mas também transmissor per si de informação. Assim,
97
2. Gestão de reclamações e/ou conflitos
Desde 2008, e de acordo com a legislação em vigor, cada Unidade Orgânica da APAV
possui livro de reclamações e folheto de sugestões/reclamações.
São várias as razões que poderão dar origem a uma reclamação relativamente aos
serviços que a APAV presta, nomeadamente o descontentamento do/a utente face ao
serviço que lhe foi prestado, o desconhecimento do tipo de ajuda que lhe poderá ser
disponibilizada, ou ainda questões ligadas a desequilíbrios mentais do/a utente, entre
outras.
Desta forma, e uma vez que nem sempre é possível evitar que as mesmas aconteçam, é
importante que o TAV tome conhecimento dos procedimentos a adoptar em caso de
reclamação.
Procedimentos
• Identifique-se, caso não o tenha feito antes do início da reclamação;
• Procure deslocar-se para uma zona calma (caso esteja na presença de outras
pessoas), sentar-se com o/a utente e procurar compreender as necessidades deste e
satisfazê-las na medida do possível, informando-o sobre o que irá fazer em seguida;
• Caso não consiga evitar que a reclamação tome lugar, solicite a presença do Gestor e
informe o/a utente que a APAV possui o folheto de sugestões/reclamações e livro de
reclamações;
• Concentre-se no problema e não na pessoa e mostre-se tolerante;
• Mantenha a calma e preste atenção ao que o/a utente diz e faz, tentando permanecer
atento e neutral, não deixando que a sua expressão facial demonstre o contrário;
• Mantenha um tom educado e procure tranquilizar o/a utente;
• Evite envolver-se em discussões e actue com profissionalismo;
• Evite contradizer o que o/a utente diz;
• Evite dizer que o/a utente é grosseiro, agressivo e ou mal educado;
• Procure colocar-se na posição do/a utente e trate-o como gostaria que o tratassem a
si;
• Faça perguntas que do seu ponto de vista ajudem na resolução do problema,
demonstrando ao/a utente que a formalização das mesmas não são uma forma de
encontrar culpas ou desculpas;
• Evite adoptar uma postura defensiva e apresentar justificações para o sucedido;
• Uma vez que não há sistemas nem pessoas infalíveis, um sincero pedido de desculpas
será certamente aceite pelo/a utente, desde que acompanhado de uma eficaz solução
para o problema;
• Deverá acordar um procedimento para a resolução do problema;
98
• As soluções encontradas têm de ser aceitáveis para ambas as partes. Caso o/a utente
efectue uma reclamação injustificada, devido a desconhecimento do âmbito de
intervenção da APAV, é fundamental dar-lhe explicações a esse nível de forma clara e
concisa;
• Despeça-se afavelmente, demonstrando-se disponível para o futuro.
99
100
ANEXOS
101
102
Modelo de Atendimento por Escrito
V APOIO PSICOLÓGICO
105
106
Introdução
A linha de rumo adoptada neste capítulo obedece a uma lógica binária. As duas etapas
em que foi estruturado correspondem a dois momentos que o TAV da área de
psicologia deve interiorizar: o momento de compreender e o momento de proceder.
107
• Silêncio – Embora tenha muitas utilidades serve sobretudo para dar espaço à
reflexão.
• Exploração – Consiste em fazer perguntas sobre conteúdos específicos
considerados pertinentes pelo TAV psicólogo/a.
• Reestruturação – Consiste em reorganizar o material e os conteúdos expressos
de uma outra forma, de modo a permitir, à vítima, uma mudança de
perspectiva sobre o mesmo tema.
• Interpretação – Consiste em dar ou acrescentar sentido a algo que foi expresso
despido desse sentido para uma “abertura” do pensamento do/a utente.
• Humor – Consiste em colocar uma “piada” e destina-se a desdramatizar uma
situação, criar distanciamento em relação ao problema enunciado e/ou tornar
menos ansiogénico um assunto de difícil abordagem.
• Generalização - Consiste em enunciar a dominância de um conteúdo ou de uma
problemática a partir da proximidade e/ou semelhança de materiais expressos,
para ajudar a vítima a compreender melhor como tende a fazer generalizações
abusivas.
• Focagem – Consiste em escolher de entre todo o material enunciado, aquele
que parece mais relevante ou mais prometedor de ulteriores desenvolvimentos.
• Ecoar – Consiste na repetição de uma palavra ou de uma interrogação sobre
qualquer coisa que acabou de ser dita, para assinalar à vítima o
reconhecimento emocional, sintonia e atenção por parte do/a TAV. O ecoar
pretende, para além do estabelecimento do vinculo relacional, permitir ao
utente, no momento em que se vai desviar de um tema problemático ou
demasiado ansiogénico, o retorno ao assunto.
Realça-se ainda que, a observação na entrevista clínica e em todo o processo é um
aspecto fundamental que se deve ter em linha de conta. O/A TAV psicóloga/o deve
centrar-se não só no discurso verbal, como também na comunicação não verbal, isto é,
na mímica, postura, olhar, nos silêncios e nas expressões faciais.
108
A avaliação inicial deve ser, desde logo, terapêutica - ao mesmo tempo que se mapeia,
através da narrativa do sujeito e dos sentimentos expressos, os recursos afectados e
os ainda disponíveis, deve-se instalar um clima de confiança e facilitar a expressão
emocional. Quanto a intervenção em si, esta deve focar a problemática mais relevante
do sujeito (incluindo os seus principais medos) e a partir daí ajudar a construir
estratégias de resolução de problemas ou aceder a sentimentos latentes (culpa,
agressividade, revolta., etc.), de forma a torná-los conscientes e permitir a sua
naturalização. Em suma, procura-se estabelecer uma aliança terapêutica positiva na
construção de um ambiente “Holding activo” (a atitude do técnico deve ser gratificante
e estimulante), para uma rápida adaptação do utente ao real.
Na concretização dos seus objectivos, e tal como postula Leal (2004), o psicólogo pode
socorrer-se de algumas técnicas tais como:
• Sugestão - Induzir uma ideia ou sentimento no sujeito, para sugerir cenários
alternativos.
• Securização - Tranquilizar e reforçar a auto-estima da vítima através da
expressão de concordância com uma ideia, pensamento, atitude ou decisão.
• Aconselhamento - Recomendação de atitudes ou decisões com vista a reforçar
aspectos saudáveis da personalidade do sujeito, reduzir sintomas ou evitar
crises.
• Catarse - Para facilitar a sua expressão de sentimentos e emoções.
• Educação - Com carácter pedagógico e informático, esclarece o sujeito sobre
assuntos ou situações relevantes.
• Clarificação - Tornar mais claro o que o sujeito disse para sua maior
compreensão acerca dos seus sintomas, afectos, e comportamentos.
• Confrontação - Para uma maior descriminação das realidades externas e
internas e promover o auto-conhecimento.
109
• verificar a eficácia: avaliar em conjunto com o/a utente o resultado obtido e
quais os benefícios positivos e negativos que este lhe trouxe.
A mudança que desejamos obter/atingir é aquela que o/a utente é capaz de construir,
tendo em conta os seus recursos (internos e externos).
• o/a utente deve conhecer desde logo qual o dia (ou dias) da semana e hora a que
as sessões decorrerão;
• o/a utente deve ser informado de que cada sessão tem uma duração compreendida
entre os 50 a 60 minutos.
Neutralidade
A neutralidade significa responder ao/a utente sem acrescentar nada de pessoal, de
preconcebido: exige-se a ausência de opiniões pessoais, de auto-revelações, de
manipulações e de outras respostas desenquadradas do processo de apoio psicológico.
Tal não significa indiferença ou falta de preocupação, mas permite ao/a utente a sua
livre expressão emocional e afectiva sem constrangimentos introduzidos pelo TAV.
110
Anonimato
O anonimato é outra regra básica para o funcionamento em boas condições do apoio
psicológico. Assim, o TAV deve evitar auto-revelações, isto é, expor a sua vida privada
e pessoal dentro do registo terapêutico. Uma grande quantidade de informações sobre
a vida pessoal do TAV perturba o desenvolvimento da relação com o/a utente, que se
pretende profissional e benéfica para o mesmo. As formas mais comuns de violação do
anonimato são:
Privacidade
A presença de privacidade é uma condição necessária ao bom desenvolvimento do
acompanhamento psicológico e que vai produzir no/a utente uma sensação de
segurança e protecção.
Sigilo
O sigilo impõe que nenhuma informação, de qualquer natureza, relativa ao/a utente,
seja transmitida a terceiros sem o consentimento daquele.
111
1.3 Sessão de apoio psicológico: momentos fundamentais
Como iniciar uma sessão
Existem três abordagens possíveis para dar início a uma sessão de apoio psicológico:
• uma delas consiste em simplesmente não dizer nada, o que pode permitir que
o/a utente transmita imediatamente ao TAV o que se passa com ele;
• outra abordagem possível é a formulação de uma questão aberta semi-
directiva, como por exemplo: Como se passaram consigo as coisas durante esta
semana? ou Como se sentiu desde que nos vimos na última vez? ou De que
gostaria de falar hoje?;
• a terceira opção para o inicio da sessão consiste em perguntar algo mais
específico, que se pode referir a qualquer tema mencionado na sessão anterior ou
relativo a qualquer “tarefa” prescrita pelo TAV ao/a utente. Esta opção coloca nas
mãos do técnico a responsabilidade de dirigir a sessão.
Qualquer que seja a abordagem que o TAV de Psicologia escolha, é sempre importante
analisar o afecto e o humor do/a utente, como pistas para direccionar a sessão. Todas
estas informações fundamentarão a avaliação que o TAV de Psicologia fará, no sentido
de adaptar o seu estilo e de escolher a direcção em que vai encaminhar a sessão.
112
utente sabe quando é a próxima sessão. No entanto, o estilo de término de uma
sessão pode variar consoante as características do/a utente.
Desde o início do Processo de Apoio que o TAV de Psicologia deve fazer um breve
resumo do que foi falado, com uma dupla finalidade:
• para que o/a utente perceba que é escutado com atenção;
• e para que possa complementar ou modificar o seu discurso, ou para que possa
esclarecer alguns pontos mal compreendidos ou não correctamente assimilados
pelo TAV de Psicologia.
113
Finalização do processo
A finalização de um caso é um processo contínuo e gradual, que começa na primeira
sessão. Muitas vezes, é difícil saber qual o momento adequado para finalizar um Processo
de Apoio Psicológico. Assim, este é um aspecto que deve ser muito bem pensado e
preparado em sessão, tanto pelo/a utente como pelo TAV de Psicologia, para que possam
ser evitados danos no processo de apoio psicológico.
Assim, a forma mais útil de decidir quando terminar um Processo de Apoio Psicológico
consiste em rever os objectivos e relembrar ao/a utente o que já conseguiu
atingir, isto é:
• procurar averiguar se o/a utente tem uma noção clara do que fez para resolver a
sua situação;
• perguntar se o/a utente sabe o que fazer se a situação se repetir;
• averiguar se o sofrimento do/a utente está minimizado ou até ultrapassado.
Quando tiver respostas positivas por parte do/a utente, ou seja, quando souber que
este adquiriu as competências necessárias para manter as melhorias, prepara-se a
finalização do Processo de Apoio Psicológico.
Embora o Processo de Apoio Psicológico na APAV possa ser complementar a outro tipo
de apoio mais especializado de saúde mental, é importante que o TAV de Psicologia
tenha em atenção os factores de risco e os indicadores de estagnação no processo de
recuperação, de maneira a saber em que circunstâncias deve encaminhar o/a utente
para o serviço de apoio adequado (exemplo: Serviços de Psiquiatria).
114
3. Avaliação psicológica
Para além da entrevista inicial, o TAV de Psicologia pode utilizar outros instrumentos
para recolha de informação relativa ao/a utente, bem como para estabelecer um
diagnóstico que sirva de orientador do processo de apoio psicológico:
• cronogramas;
• genogramas;
• biogramas;
• instrumentos de avaliação psicológica.
115
complementares acerca do caso (entrevista, história de vida ou outro tipo de
referências).
De referir ainda que a fase de avaliação tem lugar, normalmente, nas três primeiras
sessões do processo de apoio psicológico, sendo que, após este período, o recurso a
instrumentos de avaliação pode ser bastante prejudicial para a relação terapêutica
estabelecida entre o TAV de Psicologia e o/a utente. Caso a avaliação seja
indispensável após esta fase, deverá ser feita por outro TAV de Psicologia.
Outro aspecto fundamental para esta utilização é o respeito pelos direitos de autor
(copyright) que impedem, nomeadamente, a reprodução e adulteração dos materiais.
A APAV não se responsabilizará pelo uso indevido dos testes de avaliação psicológica
quando os TAV não respeitarem as regras definidas para a utilização dos mesmos.
Estas indicações relativas aos instrumentos de avaliação psicológica não dispensam a leitura
das Directrizes Internacionais para a Utilização de Testes disponível, disponíveis em
www.cegoc.pt ou em www.intestcom.org.
116
informações relevantes reunidas pelo TAV durante o processo de avaliação e
intervenção desenvolvido com um/a determinado/a utente.
Na eventualidade de ser uma situação já em acompanhamento, o ponto de partida para
esta compilação será a informação sistematizada no Processo de Apoio Online. Este facto
vem reforçar a necessidade da informação estar organizada de uma forma lógica e de fácil
leitura e compreensão (fazendo uso do guião para a recolha de informação para a
intervenção psicológica), uma vez que, perante a ausência do TAV responsável pelo
processo, o gestor ou outro TAV de Psicologia deverão consultar esta informação e
seleccioná-la de modo a responderem, com a maior celeridade possível, à solicitação
efectuada.
Na elaboração do Relatório de Avaliação Psicológica, podemos identificar 3 momentos
fundamentais:
117
O relatório deve conter uma linguagem simples, desprovida de termos técnicos que possam
inibir a compreensão do conteúdo por parte de um profissional que não domine a
linguagem da psicologia. O ideal será que qualquer pessoa possa entender o conteúdo
expresso, pelo que, a título de exemplo, não devem ser apresentados quaisquer dados
relativos à codificação dos instrumentos. Também não devem ser emitidas opiniões
pessoais, juízos de valor ou extrapolações face aos dados apresentados. O conteúdo deve
dar resposta apenas à solicitação particular efectuada.
118
ANEXOS
119
120
GUIÃO PARA RECOLHA DE INFORMAÇÃO PARA A INTERVENÇÃO
PSICOLÓGICA
1 - Identificação do nº de processo
2 - Dados de identificação relevantes
a. Nome
b. Data de Nascimento
c. Nacionalidade
d. Naturalidade
e. Estado civil
f. Contacto
g. Habilitações académicas
h. Actividade professional
5 - Avaliação da situação
7 - Descrição das sessões (registo das actividades da sessão que deve incluir os
seguintes elementos: objectivos da sessão, narração dos momentos principais da
sessão)
121
8 - Utilização de instrumentos (identificação e justificação dos instrumentos de
avaliação utilizados; descrição e análise sucinta dos resultados)
(Nota: o material produzido pelos utentes (p.e. desenhos) deverá ser anexado às
sessões e identificado).
122
RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA
2. Fontes e Metodologia
a. Descrição do nº de sessões realizadas, local e o motivo do
acompanhamento;
b. Indicação da metodologia utilizada (por exemplo, descrição do número
de sessões realizadas e fontes de informação e indicação dos instrumentos de
avaliação, se utilizados);
c. Referência a recurso de dados do boletim para o processo de apoio e
relatórios sociais, se existirem;
3. Descrição
Descrição sucinta do das sessões no sentido de se apresentar uma avaliação da
situação apoiada em elementos decorrentes do apoio (sempre se são feitas citações
devem aparecer entre aspas, em itálico, seguidas da expressão (sic) e da recolha de
informação realizada. A título de exemplo “o meu marido torturava-me muito” (sic). No
caso de terem sido utilizados instrumentos de avaliação, procurar integrar estes dados
de forma clara e concisa.
O Relatório de Avaliação Psicológica deve ser datado e assinado pelo TAV de psicologia
que efectuou a avaliação e o redigiu (identificando-se como Técnico de Apoio à Vítima
e como psicólogo) e pelo gestor do respectivo GAV.
123
124
VI APOIO JURÍDICO
125
126
INTRODUÇÃO
Este é, de longe, o capítulo mais extenso do presente manual, o que se deve ao facto
de se pretender abordar, ainda que de forma sucinta, todas as temáticas de
surgimento mais frequente no quotidiano dos GAV.
Não se tratando de uma abordagem exaustiva, a leitura deste capítulo não dispensa,
consequentemente, a consulta dos diplomas legais, tendo em vista uma transmissão
de informação o mais completa e correcta possível ao/a utente.
É de grande importância que o TAV esclareça a vítima acerca da forma como decorre o
procedimento criminal, ajudando-a a situar-se no mesmo, elucidando-a sobre as várias
etapas e respectivos conteúdos e intervenientes e explicando-lhe qual o papel que
pode assumir.
127
1.1 Esclarecimentos prévios
Antes de entrar na marcha do processo propriamente dita, importa proceder a dois
esclarecimentos prévios.
O Ministério Público
O primeiro refere-se a uma das entidades com um papel mais activo ao longo de todo
o procedimento - o Ministério Público.
• informar a vítima da notícia do crime, sempre que tenha razões para crer que ela
não a conhece;
• informar a vítima sobre o regime do direito de queixa e as suas consequências
processuais, bem como sobre o regime jurídico do apoio judiciário;
• sem prejuízo do disposto no artigo 82.º-A, informar ainda a vítima sobre o regime
e serviços responsáveis pela instrução de pedidos de indemnização a vítimas de
crimes violentos e os pedidos de adiantamento às vítimas de violência doméstica,
bem como da existência de instituições públicas, associativas ou particulares, que
desenvolvam actividades de apoio às vítimas de crimes;
• informar a vítima, em especia, nos casos de reconhecida perigosidade potencial do
agressor, das principais decisões judiciárias que afectem o estatuto deste.
A lei penal opera esta distinção com base, essencialmente, na gravidade dos ilícitos,
ou seja, no maior ou menor desvalor que o comportamento do agente assume face
128
aos valores sociais vigentes. Assim, os crimes tidos como mais graves – homicídio,
terrorismo, roubo, violência doméstica, etc. - denominam-se crimes públicos, os
“intermédios” – ofensas à integridade física simples, burla simples, etc. – semipúblicos
e os menos graves – injúrias, difamação, etc. - particulares.
Há contudo uma nuance importante, respeitante aos crimes semipúblicos, e que não
se pode deixar passar em claro. Referiu-se acima que a classificação que distingue
entre crimes públicos, semipúblicos e particulares atende primacialmente à gravidade
dos ilícitos. Relativamente a certos crimes, contudo, a lei tempera este critério da
gravidade com outro: ou da protecção da intimidade, da privacidade da vítima.
Quase todos os crimes contra a liberdade sexual, quando cometidos sobre adultos,
são, apesar da sua indubitável gravidade, crimes semipúblicos, o que tem como
principal consequência o facto de o procedimento criminal só se iniciar mediante a
produção de uma declaração de vontade da vítima, consubstanciada na apresentação
de queixa. Com efeito, em muitos destes crimes, a importância da perseguição do
agente como forma de protecção da comunidade sucumbe face a outra protecção tida
aqui como prioritária: a da intimidade da vítima. Sabendo-se que o procedimento
criminal vai inevitavelmente acarretar a exposição de aspectos de abordagem
particularmente difícil, deixa-se na disponibilidade daquela o impulso necessário ao
início do procedimento criminal.
Estas referências tanto podem estar contidas no próprio artigo que prevê o crime como
aparecer um pouco mais à frente, num artigo autónomo.
129
1.2 Processo comum
Daqui decorre a diferença entre queixa e denúncia: enquanto esta representa uma
declaração de conhecimento relativamente a determinados factos consubstanciadores
da ocorrência de um crime público, podendo ser realizada por qualquer pessoa, aquela
é uma declaração de vontade do ofendido, que através da sua apresentação manifesta
pretender a abertura de procedimento criminal contra o(s) autore(s) de um crime
semipúblico ou particular.
A queixa – tal como a denúncia - não está sujeita a formalidades especiais, podendo
ser efectuada verbalmente ou por escrito, embora seja mais conveniente apresentá-la
por escrito e levar uma cópia, que será carimbada pela autoridade que receber a
queixa, servindo de comprovativo da sua apresentação. Se o relato for feito oralmente,
será reduzido a escrito pelo funcionário que o recebe e assinado pela autoridade e pela
vítima/ofendido.
130
A denúncia anónima só determina a abertura de inquérito se dela se retirarem
indícios da prática de crime ou se ela própria constituir crime (por exemplo, de
difamação, denúncia caluniosa, etc.).
É a vítima do crime que apresenta a queixa (ao contrário da denúncia, que pode ser
realizada por qualquer pessoa). No entanto, se aquela for menor de 16 anos ou não
possuir discernimento para entender o alcance e o significado do direito de queixa,
este pertence ao representante legal e, na sua falta, às pessoas legalmente indicadas –
cônjuge não separado de pessoas e bens, pessoa, de outro ou do mesmo sexo, com
quem o ofendido viva em condições análogas às dos cônjuges, descendentes,
adoptados, ascendentes, adoptantes, irmãos e seus descendentes. É também a estas
pessoas que pertence o direito de queixa no caso de o ofendido ter falecido sem a
apresentar.
131
por via electrónica:
O Sistema de Queixa Electrónica (SQE) constitui um balcão único virtual que faculta a
apresentação por via electrónica de denúncias de natureza criminal, incluindo queixas-
crime, pelos cidadãos que tenham sido ofendidos ou tomaram conhecimento da prática
de um crime contra terceiros.
Para aceder ao SQE bastará ao cidadão digitar a expressão «queixas electrónicas» num
motor de busca à sua escolha.
Assim que a queixa ou denúncia tenha sido submetida, o SQE produz automaticamente
um documento confirmativo da recepção da queixa, enviando um e-mail para a caixa
de correio do queixoso com a indicação de um link para uma página de validação em
que o cidadão terá de inserir o número de registo da queixa que apresentou; o cidadão
deve seguidamente autenticar (certificação) a submissão da queixa electrónica por um
dos seguintes meios:
O prazo para apresentação de queixa, em qualquer das suas formas, é de seis meses,
contados a partir da prática do crime, estabelecendo no entanto a lei, para os casos
em que o crime só é conhecido depois deste período, que o prazo começa a contar na
data em que o ofendido tiver conhecimento dos factos e dos seus autores. Se o
132
representante legal do ofendido menor de 16 anos não exercer o direito de queixa,
poderá este fazê-lo a partir da data em que perfizer 16 anos, extinguindo-se o prazo
de seis meses a contar da data em que o ofendido fizer 18 anos.
1.2.2 Inquérito
Nesta fase, cuja direcção cabe ao Ministério Público, assistido pelos órgãos de polícia
criminal (PJ, PSP, GNR e SEF), os objectivos são:
A lei deixa ao critério do Ministério Público quais as diligências que devem ser
realizadas, sendo, contudo, obrigatória a audição do arguido. Estas diligências são, na
sua grande parte, efectuadas pelos órgãos de polícia criminal, importando fazer aqui
uma referência à repartição de competências entre estes.
133
conveniência e violação da medida de interdição de entrada e outros com estes
conexos, nomeadamente o tráfico de pessoas.
Sendo esta uma fase de investigação, é por excelência o período processual de recolha
de prova, pelo que se elencam de seguida os meios de prova e de obtenção de prova
legalmente previstos. Contudo, o que abaixo se refere tem aplicação para outras fases
processuais, como sejam a instrução – também ela uma fase de investigação – e o
julgamento – enquanto momento de produção e apreciação de prova.
O Código de Processo Penal prevê expressamente sete meios de prova que podem ser
utilizados no intuito de apurar:
A prova não pode ser obtida mediante tortura, coacção ou ofensa da integridade física
ou moral das pessoas; se isso suceder, será nula (ou seja, não poderá ser
considerada).
A testemunha é ouvida sobre factos de que tenha conhecimento directo - aqueles que
viu ou, mais correctamente, que chegaram até si através dos sentidos. Se o
depoimento da testemunha resultar do que ouviu dizer a certas pessoas, tal só servirá
como prova se essas pessoas forem chamadas a depor.
134
• ex-cônjuge do arguido, ou pessoa, do outro ou do mesmo sexo, que com ele
conviva ou tenha convivido em condições análogas às dos cônjuges, relativamente a
factos ocorridos durante o casamento ou a coabitação;
• pessoas obrigadas a segredo profissional (embora estas, em determinados casos,
possam ser obrigadas a testemunhar).
A testemunha pode fazer-se acompanhar por advogado sempre que tenha que prestar
depoimento, não podendo contudo este intervir na inquirição.
Os TAV são frequentemente arrolados como testemunhas, quer pela vítima constituída
assistente, quer pelo Ministério Público, quer, com menos frequência, embora possa
suceder, pela defesa.
Nos casos em que é chamado a depor acerca da situação concreta (por exemplo, o
TAV que desenvolveu o processo de apoio junto da vítima é questionado sobre a
informação que a vítima lhe transmitiu, o impacto e consequências da vitimação, o
estado actual da vítima, por exemplo), o TAV deve previamente definir com o/a utente
quais os factos que este/a o autoriza a relatar e quais o que continuarão cobertos pelo
dever de confidencialdiade.
135
1.2.2.1.1.1 Protecção de testemunhas
• ocultação
Oficiosamente ou a requerimento do Ministério Público, do arguido, do assistente ou da
testemunha, pode o Tribunal decidir, com base em circunstâncias que indiciem elevado
risco de intimidação da testemunha, que a prestação de declarações que deva ter lugar
em acto processual público decorra com ocultação da imagem, cumulativamente ou
não com distorção da voz, de modo a evitar-se o reconhecimento da testemunha.
• teleconferência
Tratando-se da produção de prova de crime que deva ser julgado pelo tribunal
colectivo ou pelo júri, e sempre que ponderosas razões de protecção o justifiquem, é
admissível a utilização da teleconferência, devendo a prestação de depoimento (que
pode ser efectuado com ocultação da imagem, cumulativamente ou não com a
distorção da voz) ocorrer em edifício público (de preferência em instalações judiciárias,
policiais ou prisionais) e na presença de um magistrado judicial; a utilização da
teleconferência é decidida a requerimento do Ministério Público, do arguido ou da
testemunha.
136
- indicação, no processo, de residência diferente da residência habitual;
- transporte em viatura fornecida pelo Estado para poder intervir em acto processual;
- disponibilização de compartimento, eventualmente vigiado, nas instalações
judiciárias ou policiais a que tenha de se deslocar e no qual possa permanecer sem
a companhia de outros intervenientes no processo;
- benefício de protecção policial, extensiva a familiares, a pessoa que com ela viva em
condições análogas às dos cônjuges ou a outras pessoas que lhes sejam próximas;
- usufruto na prisão de um regime que lhe permita estar isolada de outros reclusos e
ser transportada em viatura diferente;
- alteração do local físico de residência habitual.
137
- durante o inquérito – o depoimento da testemunha especialmente vulnerável
deve ter lugar o mais brevemente possível;
O arguido é ouvido várias vezes ao longo do processo. Assim, se tiver havido detenção
(e caso não deva ser julgado em processo sumário), o primeiro interrogatório terá que
realizar-se nas 48 horas subsequentes: o arguido é presente ao juiz de instrução para
que este, depois de o inquirir sobre os factos que lhe são imputados, valide (ou não) a
detenção e lhe aplique, se entender necessário, uma medida de coacção. Não se está
obviamente ainda na fase de instrução, pelo que a competência do juiz de instrução
para este acto processual é explicável pelo conteúdo do mesmo - a aplicação de uma
medida de coacção tem que ser decretada por um juiz (com excepção do termo de
identidade e residência, que também pode ser aplicada pelo Ministério Público). Caso
não seja presente de imediato ao juiz de instrução, o arguido detido é ouvido
sumariamente pelo Ministério Público que depois, ou o liberta, ou providencia a sua
apresentação ao Juiz de Instrução.
138
Na fase de inquérito, o arguido é ouvido pelo Ministério Público (ou, se este delegar
esse poder, por órgão de polícia criminal); nas fases de instrução e julgamento é
interrogado pelos juizes respectivos.
O arguido nunca presta juramento pelo que não está legalmente obrigado a dizer a
verdade (a não ser quanto à sua identificação pessoal). Pode mesmo recusar-se a
responder, não significando isso que confessa os factos que lhe são imputados.
Nem o arguido, nem o assistente nem as partes civis podem depor como testemunhas:
por exemplo, num processo em que haja vários arguidos, não pode um deles arrolar
outro como sua testemunha.
Acareação é o acto que consiste em colocar frente a frente duas ou mais pessoas
(arguidos, assistentes, testemunhas ou partes civis) sempre que houver contradição
entre as suas declarações.
Processa-se da seguinte forma: a entidade que presidir à diligência começa por ler as
declarações entre as quais há contradição; depois, pede às pessoas acareadas que as
confirmem ou modifiquem, ou que contestem as das outras pessoas, formulando, se
necessário, perguntas que contribuam para o apuramento da verdade.
139
1.2.2.1.5 Reconstituição do facto
140
processuais devem conhecer directa e pessoalmente das provas, para obterem uma
visão conjunta dos fundamentos.
Em suma: de modo a garantir uma prova importante para o apuramento dos factos,
permite-se a sua produção antecipada, podendo depois o auto de declarações
resultante ser lido em audiência de julgamento. Contudo, a tomada de declarações
para memória futura não significa obrigatoriamente que a vítima não prestará
depoimento em julgamento, desde que seja possível e não puser em causa a sua
saúde física ou psíquica.
141
• Revistas - havendo indícios de que alguém oculta na sua pessoa quaisquer
objectos relacionados com um crime ou que possam servir de prova, essa pessoa
pode ser sujeita a revista, mediante autorização emanada de autoridade judiciária
(autorização cuja cópia deve ser apresentada ao revistado antes da revista);
142
A realização de exames médico-legais é muito importante pois podem constituir
importantes meios de prova no processo judicial. Ainda que alguns profissionais
entendam que a sua realização não acrescentará informações úteis ao processo
judicial, além de que poderão contribuir para a vitimação secundária, importa não
descurar a sua utilidade no domínio judicial (pela recolha de indícios da violência
concretizada contra a vítima) e também na reparação da própria vítima de crime e de
violência: o exame médico-legal pode constituir um momento tranquilizador e
reparador perante a violência e o(s) crime(s) vivenciados.
É preciso, por isso, que o TAV, no âmbito do processo de apoio, tenha a preocupação
de aconselhar à vítima a ida imediata ao Instituto Nacional de Medicina Legal ou a um
hospital (onde poderá ser vista por um médico-legista).
143
• A expectativa do próprio TAV em relação aos resultados dos exames poderá gerar
alguma ansiedade em todos os interveniente. Nesse sentido, e com o objectivo de
tranquilizar e proteger a vítima, o profissional deverá procurar efectuar uma gestão
adequada da ansiedade de todos os intervenientes antes, durante e após a
realização dos exames.
• Levar roupa lavada: o TAV deve indicar à vítima que leve roupa lavada para vestir
após a realização dos exames médico-legais, caso a roupa que esta utiliza no
momento é a mesma que tinha vestido durante a vitimação. O TAV deve tentar
assegurar que a roupa a vestir depois dos exames pertença ao guarda-roupa
habitual da vítima, pois será com peças realmente suas que se sentirá melhor. Se
não for possível que alguém vá a casa buscar a roupa, o TAV deve comprar ou
retirar de uma reserva da sua instituição as peças necessárias, que respeitem o
estilo de vestir e os tamanhos utilizados pela vítima.
144
Preparar a vítima:
O TAV deve explicar à vítima o que são os exames médico-legais.
Preservação de vestígios:
É importante que o TAV aconselhe a vítima a preservar os eventuais vestígios até à
realização dos exames.
• Abstinência de toques: o TAV deve recomendar à vítima que não mexa nas partes
do seu corpo que estão sujas depois da violência, evitando a destruição e/ou
eventual contaminação dos vestígios.
• Urgência: O TAV deve recomendar à vítima que decida realizar os exames médico-
legais o mais rapidamente possível. Não só os indícios podem desaparecer
145
passadas poucas horas, como, e principalmente, será muito o desconforto da
vítima de violência.
- se não recolheu prova bastante de que houve crime, e/ou de que o arguido não o
praticou, e/ou se o procedimento criminal for inadmissível (por ex. por o crime ser
semipúblico e não ter havido queixa, ou por o arguido ter entretanto morrido, ou
por ter havido prescrição), profere despacho de arquivamento;
- se, apesar de haver indícios suficientes, o Ministério Público considerar que o
arguido deve ser dispensado da pena (nos casos em que a lei penal o admite),
pode, com a concordância do juiz de instrução, proferir despacho de
arquivamento;
- se, havendo prova bastante, o crime for punível com pena de prisão não superior a
cinco anos, pode o Ministério Público, oficiosamente ou a requerimento do arguido
ou do assistente, determinar, com a concordância do juiz de instrução (e desde que,
relativamente ao arguido, o grau de culpa não seja elevado e não haja condenação
ou suspensão provisória anteriores por crime da mesma natureza9, suspender o
processo, impondo ao arguido determinadas regras de conduta que, se cumpridas
durante o prazo fixado, levarão o Ministério Público a, findo esse período, proferir
despacho de arquivamento;
- se considerar que foram recolhidos indícios suficientes de que houve crime e de
quem o praticou, e entender não haver lugar a nenhuma das duas soluções
anteriores, o Ministério Público profere despacho de acusação.
146
• quanto aos crimes particulares
Nestes crimes, a decisão de acusar ou não cabe ao ofendido (que entretanto, e
obrigatoriamente, se constituiu assistente): finda a investigação, o Ministério Público
notifica-o para que ele, atendendo às diligências desenvolvidas durante o inquérito,
decida se deduzirá acusação. Nessa notificação, o Ministério Público indica se foram
recolhidos indícios suficientes da verificação do crime e de quem foram os seus
autores. Se o assistente nada fizer, o processo será arquivado: dado o reduzido valor
para a sociedade dos crimes particulares, se o assistente não acusar o Ministério
Público também não o poderá fazer.
1.2.5 Instrução
Esta é uma fase facultativa: só há instrução se, nos termos atrás requeridos, for
requerida pelo arguido e/ou pelo assistente. Se tal não tiver sucedido, o processo,
findo o inquérito, ou segue directamente para julgamento (se tiver havido acusação),
ou é arquivado.
A instrução é dirigida por um juiz – o juiz de instrução – que vai confirmar ou não a
decisão final do inquérito: o juiz de instrução vai apreciar os indícios probatórios
recolhidos durante o inquérito, e vai, se achar conveniente, levar a cabo outras
diligências probatórias – actos de instrução - (com a colaboração dos órgãos de
polícia criminal).
147
Há depois lugar a um debate perante o juiz de instrução – o debate instrutório -, no
qual participam o Ministério Público, o arguido, o seu defensor, o assistente e o seu
advogado. Neste debate, os intervenientes vão discutir se, das diligências levadas a
cabo durante o inquérito e a instrução, decorrem indícios suficientes que permitam
submeter o arguido a julgamento.
Estamos portanto perante uma segunda fase de investigação, que visa a comprovação
judicial da decisão final do inquérito.
148
processo, durante a fase de inquérito, do segredo de justiça, ficando essa decisão
sujeita a validação pelo juiz de instrução no prazo máximo de 72 horas.
Nestes casos em que tiver sido determinado o segredo de justiça pode o Minstério
Público, durante o inquérito, opôr-se à consulta de auto, obtenção de certidão e/ou
informação por sujeitos processuais caso considere, fundamentadamente, que tal pode
prejudicar a investigação ou os direitos dos participantes processuais ou das vítimas,
cabendo a decisão ao Juiz de Instrução.
1.2.8 Julgamento
Se no fim do inquérito houve acusação (ou se, tendo havido instrução, o juiz de
instrução proferiu despacho de pronúncia) o processo segue para o tribunal de
julgamento.
149
superior a oito anos e a sua intervenção tenha sido requerida pelo Ministério Público,
pelo assistente ou pelo arguido (tem sido muito rara a sua intervenção).
1.2.9 Decisão
Encerrada a audiência, será proferida decisão, que se denominará:
• sentença, se emanada de tribunal singular;
• acórdão, se proferida por tribunal colectivo ou de júri;
1.2.10 Recurso
Recurso é o meio de impugnação de uma decisão judicial (proferida por juiz(es)): a
regra é a de que as decisões judiciais são recorríveis, pelo que se pode interpor
recurso não só da sentença (ou acórdão) mas de qualquer decisão proferida por juiz
ao longo do processo (salvas as excepções legalmente previstas). Pode, por exemplo,
logo na fase de inquérito, interpor-se recurso da decisão judicial que aplique ao
arguido uma medida de coacção, ou (como atrás se referiu), no fim da instrução,
recorrer do despacho de não pronúncia.
150
e/ou (uma vez que há situações que admitem duplo grau de recurso)
• Processo Sumário
• Processo Abreviado
• Processo Sumaríssimo
Como daqui já resulta a séria probabilidade de que o detido tenha cometido o crime,
prescinde-se das fases de investigação (inquérito e instrução), sendo aquele
apresentado imediatamente ou no mais curto prazo possível (sem exceder as 48h) ao
Ministério Público junto do tribunal competente para julgamento, para que este, depois
de, se o julgar conveniente, o interrogar sumariamente, o apresentar imediatamente a
julgamento. Caso o arguido tenha requerido prazo para preparação da sua defesa, o
151
Ministério Público pode interrogá-lo, para validação da detenção e libertação. Se o
julgar conveniente, o Ministério Público pode apresentar o arguido ao juiz de instrução
para efeitos de aplicação de medida de coacção.
A vítima pode constituir-se assistente ou intervir como parte civil se assim o solicitar,
mesmo que só verbalmente, no início do julgamento.
Esta forma de processo foi criada a pensar nos crimes de emissão de cheque sem
provisão e nos crimes de difamação através da comunicação social, crimes em que a
prova está praticamente feita porque é de base documental. Daí o facto de se
pretender dotar estes processos de maior celeridade, através do encurtar das várias
fases processuais.
152
1.3.3 Processo sumaríssimo
A forma sumaríssima, aplicável a processos relativos a crimes puníveis com pena de
prisão não superior a cinco anos ou só com pena de multa, tem como finalidade
simplificar o procedimento criminal, através da obtenção de um consenso: finalizado
o inquérito, o Ministério Público, por iniciativa do arguido ou depois de o ter ouvido e
quando entender que, àquele caso concreto, deve apenas ser aplicada ao arguido uma
pena ou medida de segurança não privativas da liberdade, apresenta um requerimento
ao tribunal (singular) no qual, após a descrição dos factos, da prova existente e das
disposições violadas, justifica as razões pelas quais entende que ao arguido não deve
ser aplicada pena de prisão, e termina indicando a sanção que propõe. Tratando-se de
processo por crime particular, este requerimento depende da concordância do
assistente.
Depois:
• se o juiz concordar, manda chamar o arguido e pergunta-lhe se também concorda;
em caso afirmativo, fica o arguido condenado naqueles termos e o processo termina
ali;
• se o juiz não concordar, ou se, mesmo concordando, o arguido não aceitar a sanção
proposta pelo Ministério Público, o processo é reenviado para outra forma
processual.
Não sendo permitida nesta forma de processo a intervenção de partes civis, é contudo
permitido ao tribunal arbitrar uma quantia de reparação à vítima.
• crimes públicos são aqueles em que, devido a sua gravidade, basta que o
Ministério Público tenha conhecimento da sua ocorrência para instaurar o
procedimento criminal;
• nos crimes semipúblicos exige-se uma declaração de vontade do lesado ou do
seu representante legal - queixa - para que o Ministério Público possa dar início ao
processo, abrindo inquérito, sendo a partir daí a tramitação igual à dos crimes
públicos;
• nos crimes particulares o início do processo é idêntico ao dos crimes
semipúblicos: o Ministério Público só pode abrir inquérito se o lesado ou o seu
representante legal tiverem apresentado queixa; só que, para além disto, exige-se
ainda ao lesado que se constitua como assistente para que, findo o inquérito, se
considerar que há indícios suficientes para levar o arguido a julgamento, deduza
acusação - se o não fizer, o processo é arquivado; estes crimes só podem ser
processados na forma comum ou na forma abreviada.
153
1.5 O assistente
O assistente é o ofendido/queixoso que assume a posição de colaborador do MP.
Compete ao assistente:
• intervir no inquérito e na instrução, oferecendo provas e requerendo as diligências
que considerar necessárias (pode, por exemplo, requerer a aplicação de uma
medida de coacção ao arguido/ agressor);
• deduzir acusação independentemente da do Ministério Público;
• nos crimes particulares, deduzir acusação particular, mesmo que o Ministério
Público não acuse;
• recorrer das decisões que o afectem, mesmo que o Ministério Público não recorra.
Constituindo-se como assistente, o ofendido não pode ser ouvido como testemunha,
embora possa prestar declarações perante o Tribunal (sem que preste juramento),
ficando sujeito ao dever da verdade.
Nos casos em que não é concedido apoio judiciário, o ofendido deve pagar taxa de
justiça. A taxa de justiça devida pela constituição como assistente é auto liquidada no
montante de 1 Unidade de Conta, podendo ser corrigida, a final, pelo juiz, para um
valor entre 1 UC e 10 UC, tendo em consideração o desfecho do processo e a concreta
actividade processual do assistente.
154
• perigo de fuga;
• perigo para a obtenção e conservação da prova do crime;
• perigo para a ordem pública;
• perigo de continuação da actividade criminosa.
Todas as medidas de coacção são aplicadas por Juiz, excepto a medida de Termo de
Identidade e Residência, que pode ser também aplicada pelo Ministério Público ou por
órgão de polícia criminal.
155
1.6.2 Vigilância electrónica
Neste contexto, importa abordar a utilização de meios técnicos de controlo à distância
para fiscalização do cumprimento da medida de coacção obrigação de permanência na
habitação.
O sistema adoptado em Portugal baseia-se na rádio frequência, é o mais vulgarizado
em todo o mundo e visa a monitorização telemática posicional, isto é, a vigilância de
determinada pessoa em local previamente definido. O arguido é portador de um
dispositivo de identificação pessoal (DIP) - vulgo pulseira electrónica - que transmite
sinais em rádio frequência codificados, a intervalos de tempo curtos. Este dispositivo
de identificação pessoal é o “bilhete de identidade electrónico” do arguido enquanto
sujeito à Vigilância Electrónica.
156
Quando proceder à revogação, o juiz, consoante os casos, fixa outro meio menos
intensivo de fiscalização do cumprimento da obrigação de permanência na habitação
ou impõe ao arguido outra ou outras medidas de coacção.
No âmbito do crime de violência doméstica poderá ser aplicada ao arguido a pena
acessória de proibição de contacto com a vítima a qual pode incluir o
afastamento da residência ou do local de trabalho daquela. O cumprimento desta pena
acessória pode ser fiscalizado por meios técnicos de controlo à distância.
O assistente não tem legitimidade para recorrer de decisão que aplicar, mantiver ou
substituir medidas de coacção (apesar de, em muitos casos, ter indubitavelmente
interesse em fazê-lo).
Este instituto há-de ser de utilização simples, isto é, sem grandes formalismos, e
rápido na actuação; não é um recurso, é uma providência extraordinária com a
natureza de acção autónoma com fim cautelar, destinada a pôr termo em muito curto
espaço de tempo a uma situação de ilegal privação de liberdade.
157
1.7 Libertação do arguido ou condenado
Sempre que considerar que pode haver perigo para a vítima, o tribunal tem o dever de
a informar:
• da data da libertação do arguido que se encontra em prisão preventiva
• da data da libertação de preso no termo do cumprimento da pena de prisão
• da data da libertação de preso para início do período de liberdade condicional
• da fuga de preso
A falta de contestação pelo demandado civil não implica confissão dos factos alegados
pelo lesado/demandante civil.
158
• Danos morais (ou não patrimoniais): são os prejuízos que, sendo
insusceptíveis de avaliação pecuniária, dado estar em causa a saúde, o bem-
estar, a honra e o bom nome da vítima, apenas podem ser compensados com a
obrigação monetária imposta ao autor do crime. Por exemplo, dor física e dor
psíquica (resultante de deformações físicas sofridas), perda do prestígio ou
reputação, etc.
N.B.: mesmo que não seja admissível recurso quanto à matéria penal, pode ser
interposto recurso da parte da sentença relativa à indemnização civil.
159
conhecer o direito e o ordenamento legal, com vista a proporcionar um melhor
exercício dos direitos e o cumprimento dos deveres legalmente estabelecidos;
160
financeira implícita calculada com base nos activos patrimoniais (bens imóveis, bens
móveis sujeitos a registo, participações sociais e valores mobiliários);
• deduções relevantes para efeitos de protecção jurídica – encargos com necessidades
básicas do agregado familiar e encargos com a habitação do agregado familiar.
O rendimento relevante para efeitos de protecção jurídica é o montante que resulta da
diferença entre o valor do rendimento líquido completo do agregado familiar e o valor da
dedução relevante para efeitos de protecção jurídica.
A estes elementos são aplicadas fórmulas de cálculo que permitirão apurar:
• se o requerente não tem condições para suportar qualquer quantia relacionada com os
custos de um processo, devendo igualmente beneficiar de consulta jurídica gratuita;
• se o requerente tem condições objectivas para suportar os custos de uma consulta
jurídica sujeita ao pagamento prévio de uma taxa, mas não tem condições objectivas
para suportar pontualmente os custos de um processo, beneficiando de apoio judiciário
na modalidade de pagamento faseado;
• se o requerente não se encontra em situação de insuficiência económica.
Se, perante um caso concreto, o dirigente máximo dos serviços de segurança social
competente para a decisão sobre a concessão da protecção jurídica entender que a
aplicação dos critérios legais conduz a uma manifesta negação do acesso ao direito e
aos tribunais pode decidir de forma diversa daquela que resulta da aplicação daqueles
critérios. Imagine-se uma situação em que o requerente pretenda interpor uma acção
judicial de valor muito elevado o que implica, consequentemente, custas judiciais
também extremamente elevadas. Da aplicação dos critérios legais (cujas fórmulas não
tomam em consideração os encargos do acção em concreto em que o requerente está
envolvido) pode resultar a não insuficiência económica do requerente que, contudo,
não tem na prática meios para custear as taxas de justiça daquele processo.
161
conservatórias (como por exemplo os processos de divórcio por mútuo
consentimento).
162
A decisão sobre a concessão de protecção jurídica compete ao dirigente máximo dos
serviços de segurança social da área de residência ou sede do requerente, devendo ser
notificada ao requerente e, se o pedido envolver a designação de patrono, também à
Ordem dos Advogados.
Não havendo decisão final quanto ao pedido de apoio judiciário no momento em que
deva ser efectuado o pagamento de taxa de justiça e demais encargos do processo
judicial, procede-se do seguinte modo:
163
• se não for ainda conhecida decisão do serviço de segurança social competente, fica
suspenso o prazo para proceder ao respectivo pagamento até que tal decisão seja
comunicada ao requerente;
• tendo havido já decisão do serviço de segurança social concedendo apoio judiciário
em modalidade de pagamento faseado, o pagamento da primeira prestação é
devido no prazo de 10 dias contados da data da sua comunicação ao requerente,
sem prejuízo do posterior reembolso das quantias pagas no caso de procedência da
impugnação daquela decisão;
• tendo havido já decisão negativa do serviço da segurança social, o pagamento é
devido no prazo de 10 dias contados da data da sua comunicação ao requerente,
sem prejuízo do posterior reembolso das quantias pagas no caso de procedência da
impugnação daquela decisão.
164
A protecção jurídica pode ser retirada oficiosamente ou a requerimento do Ministério
Público, da Ordem dos Advogados, da parte contrária ou do patrono nomeado, sendo o
requerente sempre ouvido.
Pode mesmo ser instaurado procedimento criminal se, para beneficiar da protecção
jurídica, o requerente cometer crime.
165
Podem requerer esta indemnização:
• as vítimas de danos graves para a respectiva saúde física ou mental directamente
resultantes de actos de violência praticados em território português;
• em caso de morte da vítima, as pessoas a quem a lei concede o direito a alimentos
e as que vivessem em união de facto com a vítima;
• as pessoas que auxiliaram a vítima ou colaboraram com as autoridades na
prevenção da infracção, perseguição ou detenção do delinquente, relativamente aos
prejuízos que por causa disso sofreram.
Este regime legal de indemnização pelo Estado não se aplica nos seguintes casos:
• quando o dano for causado por um veículo terrestre a motor (nos casos em que o o
responsável não é conhecido ou não beneficie de seguro automóvel - que é
obrigatório -, o Fundo de Garantia Automóvel garante, verificados certos requisitos,
o pagamento de indemnizações por danos decorrentes deste tipo de sinistros);
• quando forem aplicáveis as regras sobre acidentes de trabalho ou em serviço (casos
em que a responsabilidade é da entidade empregadora que, em princípio, a terá
transferido para uma companhia de seguros).
A indemnização é fixada em termos de equidade, tendo como limite máximo 340 UC.
Este limite máximo é reduzido para metade no caso de a não concessão de qualquer
indemnização ao requerente no âmbito do processo penal ou fora dele se dever a facto
unicamente imputável ao requerente, nomeadamente por não ter deduzido pedido de
indemnização cível ou por dele ter desistido.
166
O pedido de indemnização pode ser apresentado até um ano a partir da data do facto
criminoso ou, se houver processo criminal, até um ano após a decisão que lhe põe
termo. A vítima que à data do acto de violência fosse menor pode apresentar o pedido
até um ano depois de atingida a maioridade ou de ser emancipada.
O pedido, que deve ser deduzido em formulário próprio, é enviado para a Comissão
de Protecção às Vítimas de Crimes Violentos. Está isento do pagamento de
quaisquer custas ou encargos para a vítima, podendo inclusivamente os documentos e
certidões necessárias para a instrução deste processo ser obtidos gratuitamente.
Quem obtiver ou tentar obter uma indemnização nos termos deste regime com base
em informações falsas ou inexactas pode ser punido com pena de prisão até 3 anos ou
multa.
167
4. Justiça Restaurativa - mediação vítima - infractor
4.1 O que é a Justiça Restaurativa
A Justiça Restaurativa é uma corrente relativamente recente nas áreas da vitimologia e
da criminologia. Surgida em meados da década de 70, nasce associada à proclamação
do fracasso da denominada justiça retributiva, incapaz de dar respostas adequadas ao
crime e às problemáticas específicas de vítimas e infractores.
A Justiça Restaurativa é assim uma forma diferente de perspectivar como é que todos
nós, enquanto vítimas, infractores, autoridades policiais e judiciárias e comunidade em
geral devemos responder ao crime. É um novo padrão de pensamento, que vê o crime
não meramente como violação da lei, mas como causador de danos às vítimas, à
comunidade e até aos infractores. Centra-se na activa participação das vítimas,
agressores e comunidades, muitas vezes concretizada através de encontros entre
estes, num esforço para identificar a injustiça praticada, o dano resultante, os passos
necessários para a sua reparação e as acções futuras que possam reduzir a
possibilidade de ocorrência de novos crimes.
168
passando este a ser encarado como um acto de uma pessoa contra outra, violador de
uma relação no seio de uma comunidade, em vez de um acto contra o Estado. A tónica
é colocada no comportamento anti-social e na brecha aberta nas relações comunitárias;
• o elemento participativo ou democrático – este elemento é a pedra de toque de
todo o conceito: só pode falar-se em justiça restaurativa se houver um envolvimento
activo das vítimas, infractores e, eventualmente, da comunidade, guindados a “actores
principais” no âmbito destes procedimentos;
• o elemento reparador – os processos restaurativos são orientados para a reparação
da vítima: pretende-se que o infractor repare o dano por si causado, e o facto de este e
a vítima estarem envolvidos no procedimento permite ir ao encontro das reais e
concretas necessidades desta.
169
• tomar consciência dos efeitos do crime na vítima e compreender a verdadeira
dimensão humana das consequências do seu comportamento, o que mais
facilmente conduzirá ao seu verdadeiro arrependimento;
• pedir desculpa;
• proporcionar à vítima justa reparação pelos danos causados;
• actuar no futuro de acordo com a experiência e conhecimentos entretanto
adquiridos;
• aumentar o nível de auto-conhecimento e de auto estima;
• promover a sua reinserção social – reabilitando-o junto da vítima e da sociedade e
contribuindo para a redução da reincidência.
A justiça restaurativa tem sido levada à prática através de diversos modelos que, embora
eivados de princípios, valores e características atrás descritos, diferem razoavelmente entre
si, radicando essas diferenças nas origens culturais que os inspiram. O modelo mais
utilizado, designadamente na Europa, é a mediação vítima-infractor.
170
4.2 A mediação vítima-infractor
Mas o que é a mediação vítima-infractor? É, em primeiro lugar, um processo, ou seja,
um conjunto de actos sequencialmente organizados de modo a atingir uma
determinada finalidade. Este processo possibilita à vítima encontrar-se com o infractor
na presença de um terceiro imparcial – o mediador. Ambos os intervenientes
expressam o seu ponto de vista e os seus sentimentos acerca do crime: a vítima tem a
oportunidade de confrontar o infractor com o impacto do seu acto, este tem por sua
vez a oportunidade de assumir perante aquela a responsabilidade pela sua conduta e
de compreender o mal que esta provocou. Para além disto, vítima e infractor têm a
possibilidade de delinear, em conjunto, um plano de “restauração”, de reparação do
dano causado, plano que se afigure justo e adequado àquele caso concreto.
Cumpre aqui proceder a uma importante distinção entre mediação directa e indirecta:
na mediação directa vítima e infractor encontram-se efectivamente, “cara-a-cara”; na
mediação indirecta tal não sucede, pelo que o contacto entre aqueles é efectuado
através de um intermediário – o mediador -, que ou transmite oralmente a cada um as
mensagens do outro, ou entrega as cartas ou os depoimentos gravados em áudio ou
video. Se é certo que a mediação directa é mais consentânea com os princípios e
características da justiça restaurativa e tem provado na prática ser mais eficaz e
171
satisfatória, não é menos verdade que a mediação indirecta tem sido também
profusamente (nalguns casos até maioritariamente) utilizada, pois muitos casos há em
que vítima e/ou infractor, querendo embora participar num processo de mediação, não
pretendem encontrar-se directamente com o outro o que, em nome da autonomia e da
voluntariedade que lhes assiste, é aceite pela entidade responsável pela mediação.
172
Se a autoridade judiciária é, assim, a gatekeeper da mediação, a entidade responsável
pela implementação desta prática é a Direcção Geral de Reinserção Social (DGRS), do
Ministério da Justiça: enquanto órgão auxiliar da administração da justiça que tem
como objectivos a reintegração social de delinquentes e o apoio à jurisdição de
menores, e reconhecendo as potencialidades da utilização da mediação no contexto
das finalidades propugnadas pela LTE e o facto de esta ser um meio de resolução de
conflitos originados pela prática de facto ilícito que melhor materializa o Principio da
Intervenção Mínima - um dos princípios orientadores da intervenção tutelar educativa –
a DGRS decidiu, na ausência de outras entidades públicas ou privadas de mediação,
criar em 2002 o Programa de Implementação da Mediação em Processo Tutelar
Educativo: programa de acção, a nível nacional, destinado a criar e a fomentar
melhores condições técnicas e logísticas para a execução de decisões das autoridades
judiciárias que determinem processos de mediação.
Relativamente ao menor:
• reconhecimento por parte do menor da sua responsabilidade e/ou participação nos
factos imputados e nos danos por eles provocados;
• capacidade e vontade em conciliar-se e/ou em encontrar soluções reparadoras do
dano provocado;
• vontade de participar no processo de mediação com vista a solucionar o conflito e
a cumprir os compromissos assumidos.
Relativamente à vitima:
• avaliação dos danos e do grau de vitimação;
• capacidade e interesse em conciliar-se e em ser reparado;
• vontade de participar num processo de mediação.
173
Tal como preconizado na Recomendação Nº R (99) 19 do Conselho da Europa, tem-se
ainda em conta na avaliação das partes as diferenças relacionadas com factores como
a idade, maturidade ou capacidade intelectual, enquanto factores essenciais para um
cabal entendimento do sentido deste processo.
Se o menor revela vontade em conciliar-se e/ou executar uma acção reparadora mas
não é possível a realização da mediação ou não se obtém acordo, essa predisposição
não é ignorada, sendo aquele incentivado e apoiado pelo programa a procurar outras
soluções, como sejam a reparação à comunidade, por exemplo sob a forma de
prestação de tarefas, ou a prossecução de objectivos de formação pessoal ou escolar.
Esta lei veio dar cumprimento ao artigo 10º da Decisão-Quadro do Conselho da União
Europeia relativo ao Estatuto da Vítima em Processo Penal, que obriga os Estados-
Membros a implementar mecanismos de mediação nos seus ordenamentos jurídicos.
Complementarmente foram aprovadas três Portarias (ns.º 68-A/2008, 68-B/2008 e 68-
C/2008, todas de 22.1) e um Despacho (n.º 2168-A/2008, também de 22.1) que
regulamentam aspectos específicos deste programa.
174
dos casos em que a vítima é menor de 16 anos, quando o arguido é uma pessoa
colectiva ou quando se trata de crimes contra a liberdade ou a autodeterminação
sexual.
• caso tenham sido recolhidos indícios de se ter verificado crime e de que o arguido
foi o seu agente, pode o Ministério Público em qualquer momento da fase de
inquérito, se entender que desse modo se pode responder adequadamente às
exigências de prevenção, remeter o processo para mediação, disso dando
conhecimento à vítima e ao arguido.
• a mediação pode também ser requerida pela vítima ou pelo infractor.
• não resultando da mediação acordo ou se o processo de mediação não estiver
concluído no prazo de 3 meses (prorrogável por mais 2 meses por solicitação do
mediador, em caso de forte probabilidade de acordo), o mediador informa disso o
Ministério Público, prosseguindo o processo penal.
• a assinatura de acordo equivale a desistência de queixa por parte da vítima e à não
oposição por parte do arguido, podendo aquela, caso o acordo não seja cumprido
no prazo fixado, renovar a queixa no prazo de um mês, sendo reaberto o inquérito.
• o acordo não pode incluir deveres cujo cumprimento se deva prolongar por mais de
6 meses.
• nas sessões de mediação, os intervenientes devem comparecer pessoalmente,
podendo fazer-se acompanhar de advogado.
• o teor das sessões de mediação é confidencial, não podendo ser valorado como
prova em processo penal.
• pelo processo de mediação não há lugar ao pagamento de custas.
• pode candidatar-se às listas de mediadores penais quem tiver mais de 25 anos,
tiver licenciatura ou experiência profissional adequadas e estiver habilitado com um
curso de mediador penal reconhecido pelo Ministério da Justiça.
• os serviços de mediação funcionarão junto de alguns dos julgados de paz,
aproveitando a logística e a organização destes.
5. Internamento compulsivo
A Lei n.º 36/98, de 24.7, regula a problemática da saúde mental e, designadamente, o
internamento compulsivo de portadores de anomalia psíquica.
175
• crie, por força dessa anomalia, uma situação de perigo para bens jurídicos de
relevante valor, próprios ou alheios, de natureza pessoal ou patrimonial, e que se
recuse a submeter-se ao tratamento médico necessário;
Quanto aos sem abrigo, alcoólicos e toxicodependentes, só podem ser internados nos
termos desta lei com fundamento numa anomalia psíquica associada e não pelo facto
de serem toxicodependentes, alcoólicos, etc.
O médico psiquiatra que acompanha o doente mental não tem o dever de requerer o
internamento compulsivo, em nome da preservação da relação de confiança entre o
médico e o doente. No entanto, o médico pode dirigir-se ao delegado de saúde para
que este faça o requerimento de internamento.
176
Sempre que possível, o requerimento deve ir acompanhado de elementos que possam
contribuir para a decisão do Juiz, como por exemplo relatórios clínico-psiquiátricos e
psicossociais.
O internando tem o direito de ser informado sobre os seus direitos, de estar presente
em actos processuais, de ser ouvido e assistido por defensor (o defensor não tem de
ser um advogado, podendo ser, por exemplo, o médico do internando), de requerer
diligências e de recorrer da decisão. Os seus direitos são também garantidos através
do mecanismo do habeas corpus, que qualquer cidadão pode accionar.
177
O internado é submetido aos tratamentos indicados, com a garantia de não ser sujeito
a electrochoques ou a intervenção psicocirúrgica sem o seu consentimento escrito ou
do seu representante legal. Nos casos de psicocirurgia exige-se ainda um parecer
escrito favorável de dois psiquiatras.
178
• podem requerer a revisão da situação de internamento e apresentar reclamações à
Comissão de Acompanhamento (que deve integrar um representante das
Associações de familiares e utentes de saúde mental).
O familiar mais próximo do internando e a pessoa com quem ele viva em união de
facto podem requerer diligências no decurso do processo, sendo obrigatória a
comunicação a estes familiares do internamento e a decisão de manutenção do
internamento de urgência.
Sempre que um familiar ou um profissional verifique que o adulto apresenta sinais que
podem comprometer a livre e esclarecida formação e/ou expressão da vontade deve,
179
de imediato, solicitar ao médico que normalmente acompanha a pessoa ou a um
especialista da área da saúde mental o respectivo relatório clínico.
180
No caso específico dos maiores em situação de incapacidade, o familiar ou o técnico
que assumir o papel de gestor de negócios deve procurar agir com bom senso e
procurando cumprir as seguintes linhas de actuação:
• intervir apenas em caso de urgência;
• garantir a qualidade de vida do incapacitado;
• evitar tomar decisões que afectem irreversivelmente a vida ou o património do
incapaz;
• procurar conhecer e respeitar, sempre que possível, a vontade real e presumível do
maior incapaz;
• garantir a transparência da gestão, aconselhando-se com outras pessoas que
constituam a rede informal de apoio do incapaz, sobre as decisões tomadas ou a
tomar que afectem com mais relevância a vida do maior com incapacidade;
• criar e manter actualizado um processo individual do incapaz, perceptível, que
constitua um documento caracterizado do indivíduo, no qual devem ser registados
todos os dados relevantes para a intervenção, quer ao nível pessoal, quer ao nível
financeiro:
Podem ser interditos do exercício dos seus direitos todos aqueles que, em virtude de
anomalia psíquica, surdez-mudez ou cegueira (devendo estas causas ser
incapacitantes, actuais e permanentes), se mostrem incapazes de governar as suas
pessoas e bens.
181
São anuláveis os negócios jurídicos celebrados pelo interdito depois do registo da
sentença de interdição.
• inabilitados por outra causa que não seja anomalia psíquica: inibição legal
parcial do poder paternal;
• inabilitados por anomalia psíquica: não podem casar e têm inibição legal total
do poder paternal.
182
O Tribunal competente é o tribunal cível do domicílio do interditando ou inabilitando,
iniciando-se o procedimento com a apresentação da petição inicial, que deve conter:
• justificação da legitimidade para propor a acção;
• factos que fundamentam o pedido de interdição ou inabilitação;
• grau de incapacidade do interditando ou inabilitando;
• indicação das pessoas que, segundo a lei, devem compor o conselho de família e
exercer a tutela ou curatela.
183
O regime da tutela é definido por referência ao poder paternal: o tutor tem os mesmos
direitos e obrigações que têm os pais no contexto do poder paternal, com algumas
especificidades.
Estão proibidos ao tutor determinados actos – como dispor a título gratuito dos bens
do interdito ou tomar de arrendamento ou adquirir bens ou direitos daquele – sendo
que a prática de alguns outros – contrair empréstimos, repudiar herança ou ceder
direitos de crédito, por exemplo – depende da autorização do tribunal.
O tutor tem direito a receber uma remuneração, cujo montante é definido pelo
tribunal.
O tutor deve prestar contas ao tribunal sempre que tal lhe for exigido e quando
terminar a gerência, sendo responsável pelo prejuízo que por dolo ou culpa causar ao
incapaz.
7. O direito a alimentos
Quando uma pessoa não tiver possibilidade de prover à sua subsistência e uma outra
esteja em condições de a sustentar, pode surgir, em determinadas circunstâncias e
relativamente a certas pessoas, uma obrigação alimentar. Essa obrigação de prestar
alimentos verifica-se normalmente no âmbito familiar, sendo, nesse caso, expressão da
solidariedade devida naquele aspecto entre os membros da família.
184
Alimentos são tudo o que é indispensável ao sustento, habitação, vestuário e, no caso
dos menores, à sua instrução e educação, podendo a obrigação de os prestar recair
sobre:
• cônjuge ou ex-cônjuge;
• descendentes;
• ascendentes;
• adoptado;
• irmãos;
• tios, durante a menoridade do alimentando;
• madrasta e padrasto, relativamente a enteados menores que estejam, ou
estivessem no momento da morte do cônjuge, a cargo deste;
• outras pessoas com base em obrigações legais, tais como doações, testamentos,
etc.
Os alimentos são fixados atendendo-se aos meios de quem houver que prestá-los e à
necessidade daquele que houver de recebê-los. É também valorada a dignidade do
alimentando, uma vez que os alimentos não são devidos quando o credor se mostrar,
pelo seu comportamento, indigno de os receber daquele que os deve prestar.
Depois do divórcio, cada cônjuge deve prover à sua subsistência. Qualquer cônjuge
tem direito a alimentos, independentemente do tipo de divórcio. Na fixação do
montante dos alimentos deve o tribunal tomar em conta a duração do casamento, a
colaboração prestada à economia do casal, a idade e estado de saúde dos cônjuges, as
suas qualificações profissionais e possibilidades de emprego, o tempo que terão de
dedicar, eventualmente, à criação de filhos comuns, os seus rendimentos e proventos,
um novo casamento ou união de facto e, de modo geral, todas as circunstâncias que
influam sobre as necessidades do cônjuge que recebe os alimentos e as possibilidades
do que os presta. O tribunal deve dar prevalência a qualquer obrigação de alimentos
relativamente a um filho do cônjuge devedor sobre a obrigação emergente do divórcio
em favor do ex-cônjuge.
185
Nos casos de separação de facto, o dever de assistência entre o casal não se extingue,
desde que a separação não seja imputável a qualquer dos cônjuges. Se um dos
cônjuges for o responsável pela separação, é a este que incumbe o dever de
assistência.
Para obter uma prestação de alimentos, deve o interessado intentar uma acção
judicial, na qual deve alegar e provar a sua legitimidade, os seus rendimentos, as
suas necessidades e os rendimentos daquele de quem se pretende obter a prestação,
concluindo com a dedução do pedido, consubstanciado num determinado montante
mensal.
186
Se a obrigação vier a ser cumprida, pode o tribunal dispensar de pena ou declarar
extinta, no todo ou em parte, a pena ainda não cumprida.
8. Responsabilidades parentais
8.1 Noção de responsabilidades parentais
Responsabilidades parentais são um conjunto de direitos e deveres atribuídos aos pais
e que regulam as relações entre si e os seus filhos menores, tendo em vista a
segurança, saúde, sustento, educação, representação e administração dos bens
destes.
Os filhos devem respeito e obediência aos pais, e estão sujeitos ao exercício das
responsabilidades parentais até à sua maioridade ou emancipação (através do
casamento, cuja idade mínima é de 16 anos). Porém, e atendendo à maturidade dos
filhos, os pais devem ter em conta a sua opinião nos assuntos familiares importantes e
devem reconhecer-lhes autonomia na organização da sua própria vida.
187
8.2.1 O exercício das responsabilidades parentais em caso de divórcio ou
separação judicial
Nos casos de divórcio ou separação judicial de pessoas e bens, a regulação do
exercício das responsabilidades parentais é homologado pelo tribunal com base num
acordo dos pais (e a requerimento destes) ou, na falta de entendimento entre estes, é
determinado pelo tribunal (a requerimento dos pais ou outra pessoa a quem incumba o
exercício das responsabilidades parentais ou do curador, a quem a necessidade de
intervenção judicial pode ser comunicada por qualquer pessoa). Em qualquer dos
casos, o tribunal competente é o da área de residência do menor.
O exercício das responsabilidades parentais relativas às questões de particular
importância para a vida do filho são exercidas em comum por ambos os progenitores
nos termos que vigoravam na constância do matrimónio, salvo nos casos de urgência
manifesta, em que qualquer dos progenitores pode agir sozinho, devendo prestar
informações ao outro logo que possível.
188
8.3 Limitação e inibição do exercício das responsabilidades
parentais
Quando os pais violam culposamente os deveres para com os filhos, saindo estes
gravemente prejudicados, ou quando não tenham condições para os cumprir, devido à
inexperiência, doença, ausência ou outras razões, poder-se-á verificar a limitação do
exercício das responsabilidades parentais ou mesmo a inibição desse exercício por
parte de qualquer dos pais.
Estas medidas podem ser requeridas pelo curador (Ministério Público), por qualquer
parente do menor ou por pessoa a cuja guarda o menor esteja confiado. A inibição
pode abranger ambos os progenitores ou apenas um deles e referir-se a todos os filhos
ou apenas a algum ou alguns.
Neste âmbito cumpre ainda referir que em sede de Direito Penal pode igualmente
haver lugar à inibição do exercício das responsabilidades parentais: em casos de
condenação por crime contra a liberdade ou autodeterminação sexual ou por crime de
violência doméstica pode, atenta a gravidade do facto e a sua conexão com a função
exercida pelo agente, ser este inibido do exercício das responsabilidades parentais por
um período de 2 a 15 anos (no caso dos crimes sexuais) ou de 1 a 10 anos (em
situações de violência doméstica).
189
O montante a pagar pelo Fundo é fixado pelo Tribunal – atendendo à capacidade
económica do agregado familiar do menor, ao montante de prestação de alimentos
fixado e às necessidades específicas do menor -, a requerimento do Ministério Público
ou daqueles a quem a prestação de alimentos devia ser entregue, e não pode exceder,
mensalmente, 4 Unidades de Conta.
190
ANEXOS
191
192
DEPARTAMENTO DE INVESTIGAÇÃO E ACÇÃO PENAL DE LISBOA
MARIA SILVA, casada, bancária, contribuinte fiscal nº 200 000 000, residente na Rua
do Comércio, nº 56, 5°, 1100 - 150 Lisboa, vem efectuar
DENÚNCIA
contra
JOSÉ SILVA, casado, reformado, residente na Rua do Comércio, nº 56, 5º, 1100-150
Lisboa,
1º
2º
Desde que se reformou, há cerca de dois anos, José Silva tem patenteado um
comportamento agressivo relativamente à denunciante, injuriando-a e ameaçando-a
com crescente frequência, tendo-a também molestado por vezes com alguns
empurrões.
3º
No passado dia 27 de Maio de 2002, José Silva injuriou uma vez mais a denunciante
por, na sua opinião, esta não ter engomado devidamente uma camisa.
4º
193
5°
Ao mesmo tempo, José Silva gritou várias vezes "tu não me falas assim senão dou
cabo de ti'.
6º
A ora denunciante fugiu para a rua, tendo pedido a uma vizinha que a acompanhasse
ao hospital.
7º
8°
Estas lesões foram consequência directa das agressões sobre si perpetradas por José
Silva.
Prova Testemunhal:
A denunciante
194
DEPARTAMENTO DE INVESTIGAÇÃO E ACÇÃO PENAL DE LISBOA
MARIA SILVA, casada, bancária, contribuinte fiscal nº 200 000 000, residente na Rua
do Comércio, nº 56, 5º, 1100 - 150 Lisboa, vem apresentar
QUEIXA
contra
JOSÉ SANTOS, solteiro, reformado, residente na Rua do Comércio, nº 56, 4°, 1100-
150 Lisboa,
1º
2º
Com efeito, José Santos, proprietário do 4° andar do prédio no qual a ora queixosa
reside, tinha o som da sua televisão num volume excessivamente elevado.
3°
Apesar de este facto ocorrer com alguma frequência, tendo já levado a várias
chamadas de atenção a José Santos quer por parte da ora queixosa quer de outros
vizinhos, nunca havia atingido as proporções daquela madrugada: o volume estava
ainda mais elevado do que em qualquer outra vez, e nunca a situação se havia
arrastado até uma hora tão tardia.
4º
A ora queixosa foi então bater à porta de José Santos, tendo-lhe solicitado que
baixasse o volume do som da televisão.
195
5°
José Santos reagiu de forma bastante agressiva, gritando "em minha casa faço o que
eu quero”.
6º
A queixosa tentou explicar a José Santos que no dia seguinte teria que se levantar
bastante cedo para ir trabalhar, e que não conseguiria descansar se este mantivesse o
volume do som da televisão tão elevado.
7°
8°
Um vizinho, residente no 3º andar, e que havia subido ao 4º andar para saber o que
se passava, presenciou a agressão.
9°
10º
11°
Em consequência directa das agressões sobre si perpetradas por José Santos, a ora
queixosa apresentava diversos hematomas na face e nas costas.
196
Nestes termos, deve ser instaurado procedimento
criminal contra José Santos, pela prática de um crime de
ofensas à integridade física simples, p. e p. pelo artº
143° do Código Penal.
Prova testemunhal:
A queixosa
197
198
DEPARTAMENTO DE INVESTIGAÇÃO E ACÇÃO PENAL DE LISBOA
1ª SECÇÃO
PROCESSO nº 1000/02.8TDLSB
MARIA SILVA, casada, bancária, contribuinte fiscal nº 200 000 000, residente na Rua
do Comércio, nº 56, 5°, 1100 - 150 Lisboa, vem respeitosamente requerer, nos termos
da alínea a) do nº 1 e do nº 3 do artº 68° do Código de Processo Penal, a sua
A requerente
199
200
DEPARTAMENTO DE INVESTIGAÇÃO E ACÇÃO PENAL DE USBOA
2ª SECÇÃO
PROCESSO nº 1001/02.6 TDLSB
MARIA SILVA, casada, bancária, contribuinte fiscal nº 200 000 000, residente na Rua
do Comércio, nº 56, 5°, 1100 - 150 Lisboa, vem deduzir, de acordo com os arts° 71º e
seguintes do Código de Processo Penal
Contra
JOSÉ SANTOS, solteiro, reformado, residente na Rua do Comércio, nº 56, 4º, 1100-
150 Lisboa,
1º
A Demandante dá aqui por inteiramente reproduzida a Douta acusação do Ministério
Público.
2º
Em virtude das agressões perpetradas pelo Demandado, descritas na queixa que deu
origem aos presentes autos, a Demandante necessitou de tratamento hospitalar, pelo
qual despendeu a quantia de 25 € (vinte e cinco euros). (documento nº 1)
3°
Mais necessitou a Demandante de adquirir medicamentos - analgésicos e cicatrizante -
no valor de 20 € (vinte euros). (doc.. nº 2)
4º
Ao agredir a Demandante, o Demandado rasgou, inutilizando-a, a camisa que aquela
tinha vestida, no valor de 45 € (quarenta e cinco euros).
201
5º
A agressão sofrida causou na Demandante forte perturbação, quer por nunca
anteriormente haver experienciado uma situação semelhante, quer por o agressor ser
uma pessoa que a Demandante encontra - e vai continuar a encontrar - diariamente.
6º
Ainda actualmente, passados já alguns meses sobre a ocorrência, a Demandante sente
algum receio de cada vez que entra no seu próprio prédio, temendo uma nova acção
violenta por parte do Demandado, seu vizinho.
7º
Esta perturbação foi e é sentida por aqueles que mais de perto convivem com a
Demandante.
8º
A Demandante cifra assim em 1500 € (mil e quinhentos euros) a indemnização a
receber a título de danos não patrimoniais.
9º
Tudo no valor de 1590 € (mil quinhentos e noventa euros).
202
Prova testemunhal:
A Demandante
203
204
DEPARTAMENTO DE INVESTIGAÇÃO E ACÇÃO PENAL DE LISBOA
1ª SECÇÃO
PROCESSO nº 1000/02.TDLSB
MARIA SILVA, casada, bancária, contribuinte fiscal nº 200 000 000, residente na Rua
do Comércio, nº 56, 5º, 1100 - 150 Lisboa, vem respeitosamente requerer a V. Excia.,
ao abrigo dos artsº 281º e 282° do Código de Processo Penal, a
1º
O presente processo teve origem numa denúncia efectuada pela ora requerente de um
crime de violência doméstica sobre si perpetrado pelo seu marido - do qual entretanto
se divorciou -, José Silva.
2º
3º
205
4º
Pretende apenas a denunciante que o arguido não volte a interferir na sua vida, o que
pode ser adequadamente alcançado através da suspensão provisória do presente
procedimento criminal.
A requerente
206
DEPARTAMENTO DE INVESTIGAÇÃO E ACÇÃO PENAL DE LISBOA
1ª SECÇÃO
PROCESSO nº 1000/02.TDLSB
MARIA SILVA, casada, bancária, contribuinte fiscal nº 200 000 000, residente na Rua
do Comércio, nº 56, 5º, 1100 - 150 Lisboa, vem respeitosamente requerer a V. Excia.,
que seja atribuída a
COMPENSAÇÃO A TESTEMUNHAS
E.D.
A requerente
207
208
Exemplo de Requerimento para Internamento Compulsivo a apresentar pela autoridade de saúde
_ _ _(nome do médico)_ _ _,
Autoridade de Saúde do Concelho de _ _ _ _ _, requer a V. Ex.ª, nos
termos do Artigo 12º, e do nº 1 do Artigo 13º, do Decreto-Lei nº 36/96, de 24 de Julho, (Lei de
Saúde Mental), o
INTERNAMENTO COMPULSIVO
A. ____________________;
B. ____________________ ;
C. _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ ... ....
_ _ _ _ _ _ _ _, aos _ _, de _ _ _ _ _ _ _ _ de 20 _ _.
A Autoridade de Saúde
______________________
(assinatura e vinheta ou selo branco)
209
210
TABELA DE CRIMES/QUADRO SINÓPTICO
crime Accção Típica Categoria Moldura Penal
Violência Infligir maus tratos físicos ou psíquicos, incluindo castigos Público Prisão de 1 a 5 anos.
doméstica corporais, privações da liberdade e ofensas sexuais, de modo
reiterado ou não, a: Há agravações.
. cônjuge ou ex-cônjuge;
. pessoa de outro ou do mesmo sexo com quem o agente
mantenha ou tenha mantido uma relação análoga à dos cônjuges,
ainda que sem coabitação;
. progenitor de descendente comum em 1º grau;
. pessoa particularmente indefesa, em razão de idade, deficiência,
doença, gravidez ou dependência económica, que com ele coabite.
Maus tratos . infligir maus tratos físicos ou psíquicos ou tratar cruelmente, Público Prisão de 1 a 5 anos.
. empregar em actividades perigosas, desumanas ou proibidas, Há agravações.
. sobrecarregar com trabalhos excessivos,
a pessoa que esteja ao seu cuidado, a trabalhar ao seu serviço ou
a pessoa menor ou particularmente indefesa
Ameaça Ameaçar com a prática de crime contra a vida, a integridade física, Semipúblico Prisão até 1 ano ou multa
a liberdade pessoal, a liberdade e autodeterminação sexual ou até 120 dias.
bens patrimoniais de considerável valor.
Há agravações
Coacção Constranger, por meio de violência ou ameaça com mal Público Prisão até 3 anos ou multa
importante, a uma acção ou omissão ou a suportar uma actividade.
Semipúblico quando Há agravações.
praticado entre cônjuges
ou pessoas em situação
análoga, ascendentes e
descendentes, adoptantes
e adoptados
Sequestro Deter, prender, manter presa ou detida outra pessoa ou de Público Prisão até 3 anos ou multa.
qualquer forma privá-la da liberdade.
Há agravações.
Escravidão Reduzir outra pessoa ao estado ou à condição de escravo ou Público Prisão de 5 a 15 anos.
alienar, ceder ou adquirir pessoa ou dela se apossar com a
intenção de a manter na situação anterior.
Tráfico de Aliciar, aceitar, transportar, alojar ou acolher pessoa para fins de Público Prisão de 3 a 10 anos.
pessoas exploração sexual, exploração do trabalho ou extracção de orgãos,
por meio de violência, rapto ou ameaça grave; através de ardil ou Há agravações.
manobra fraudulenta; com abuso de autoridade resultante de uma
relação de dependência hierárquica, económica, de trabalho ou
familiar; aproveitando-se de incapacidade psíquica ou de situação
de especial vulnerabilidade da vítima; ou mediante a obtenção do
consentimento da pessoa que tem o controlo sobre a vítima.
Rapto Raptar outra pessoa, por meio de violência, ameaça ou astúcia, Público Prisão de 2 a 8 anos.
com intenção de:
Há agravações
. submeter a vítima a extorsão;
. cometer crime contra a liberdade ou a autodeterminação sexual
da vítima;
. obter resgate ou recompensa;
.constranger a autoridade pública ou um terceiro a uma acção ou
omissão, ou a suportar uma actividade.
211
Crime Acção Típica Categoria Moldura Penal
Coacção sexual A- Constranger outra pessoa, por meio de violência, ameaça grave, Semipúblico A- Prisão de 1 a 8 anos
ou depois de, para esse fim, a ter tornado inconsciente ou posto
na impossibilidade de resistir,a sofrer ou a praticar, consigo ou com
outrem, acto sexual de relevo.
B- Prisão até 3 anos
B- Constranger outra pessoa, abusando de autoridade resultante
de uma relação familiar, de tutela ou curatela, ou de dependência Público quando resultar
hierárquica, económica ou de trabalho, a sofrer ou a praticar, suicídio ou morte da
vítima ou quando for Há agravações
consigo ou com outrém, acto sexual de relevo.
praticado contra menor
Violação A- Constranger outra pessoa, por meio de violência, ameaça grave, Semipúblico A- Prisão de 3 a 10 anos
ou depois de, para esse fim, a ter tornado inconsciente ou posto
na impossibilidade de resistir, a sofrer ou a praticar, consigo ou
com outrem, cópula, coito anal ou coito oral;
Público quando resultar B- Prisão até 3 anos
B- Constranger outra pessoa, abusando de autoridade resultante suicídio ou morte da
de uma relação familiar, de tutela ou curatela, ou de dependência vítima ou quando for
hierárquica, económica ou de trabalho, a sofrer ou a praticar, praticado contra menor
Há agravações
consigo ou com outrém, cópula, coito anal ou oral; sofrer
introdução vaginal ou anal de partes do corpo ou objectos.
Lenocínio Profissionalmente ou com intenção lucrativa, fomentar, favorecer Público Prisão de 6 meses a 5 anos
ou facilitar o exercício por outra pessoa de prostituição.
Se forçado: prisão de 1 a 8
anos
Há agravações
Importunação Importunar outra pessoa praticando perante ela actos de carácter Semipúblico Prisão até 1 ano ou multa
sexual exibicionista ou constrangendo-a a contacto de natureza sexual até 120 dias
Público quando resultar
suicídio ou morte da Há agravação
vítima ou quando for
praticado contra menor
Abuso sexual de A- praticar acto sexual de relevo com ou em menor de 14 anos, ou Público A- prisão de 1 a 8 anos
crianças o levar a praticá-lo com outra pessoa
B- prisão de 3 a 10 anos
B- praticar cópula, coito anal, oral ou introdução vaginal ou anal de
partes do corpo ou objectos C- prisão até 3 anos; se
praticados com intenção
C- importunar menor de 14 anos ou actuar sobre menor de 14 lucrativa: prisão de 6 meses
anos, por meio de conversa, escrito, espectáculo ou objecto a 5 anos
pornográfico.
Há agravação
Recurso à A- Quem, sendo maior, praticar acto sexual de relevo com menor Público A) pena de prisão até dois
prostituição de entre 14 e 18 anos, mediante pagamento ou outra contrapartida anos ou pena de multa até
menores 240 dias.
Ou, no mesmo contexto
B) pena de prisão até 3
B- Praticar acto sexual de relevo consistente em cópula, coito anal, anos ou pena de multa até
oral ou introdução vaginal ou anal de partes do corpo ou objectos. 360 dias.
Há agravações
B) praticar este crime por meio de violência ou ameaça grave; B) pena de prisão de 2 a 10
através de ardil ou manobra fraudulenta; com abuso de autoridade anos
resultante de uma relação familiar ou de dependência económica
ou de trabalho; actuando profissionalmente ou com intenção Há agravação
lucrativa; aproveitando-se da incapacidade psíquica ou de situação
de especial vulnerabilidade da vítima.
Difamação Dirigir-se a terceiro, imputando a outra pessoa, mesmo sob a Particular Prisão até 6 meses ou multa
forma de suspeita, um facto, ou formular sobre ela um juízo, até 240 dias
ofensivos da sua honra ou consideração, ou reproduzir uma tal
imputação ou juízo. Há agravações
Injúria Injuriar outra pessoa, imputando-lhe factos, mesmo sob a forma Particular Prisão até 3 meses ou multa
de suspeita, ou dirigindo-lhe palavras, ofensivos da sua honra ou até 120 dias
consideração
Há agravações
Violação de . introduzir-se sem consentimento na habitação de outra pessoa ou Semipúblico Prisão até 1 ano ou multa
domicílio ou aí permanecer depois de intimado a retirar-se; até 240 dias
perturbação da
vida privada . telefonar para a habitação de outra pessoa ou para o seu
telemóvel, com a intenção de perturbar a vida privada, a paz e o
seu sossego. Há agravações
212
CRIME ACÇÃO TÍPICA CATEGORIA MOLDURA PENAL
Violação de . sem consentimento, abrir encomenda, carta ou qualquer outro Semipúblico Prisão até um 1 ano ou
correspondência escrito que se encontre fechado e lhe não seja dirigido, ou tomar multa até 240 dias
conhecimento, por processos técnicos, do seu conteúdo, ou
impedir, por qulaquer modo, que seja recebido pelo destinatário;
Há agravações
. sem consentimento, divulgar o conteúdo de cartas, encomendas
ou escritos fechados.
Furto Subtrair coisa móvel alheia, com ilegítima intenção de apropriação Simples: Simples: prisão até 3 anos
para si ou para outra pessoa. - semipúblico ou multa
ou
- particular, se praticado Qualificado:
por familiar próximo da 1º grau- prisão até 5 anos
vítima ou a coisa furtada ou multa até 600
tiver valor diminuto e for dias
destinada à satisfação
imediata de uma
necessidade do agente ou 2º grau: prisão de 2 a 8
de “familiar próximo” anos
Qualificado: público
Abuso de Apropriar-se ilegitimamente de coisa móvel que lhe tenha sido Simples: Simples: prisão até 3 anos
confiança entregue por título não translativo de propriedade - semipúblico ou multa
ou
- particular, se praticado Qualificado:
por “familiar próximo” da
vítima ou a coisa 1º grau: prisão até 5 anos
ilegitimamente apropriada ou multa até 600 dias
for de valor diminuto e
for destinada à satisfação
imediata de uma 2º grau: prisão de 1 a 8
necessidade do agente ou anos
de “familiar próximo”
Qualificado: público
Roubo Subtrair, ou constranger a que lhe seja entregue, com ilegítima Público Prisão de 1 a 8 anos
intenção de apropriação para si ou para outra pessoa, coisa móvel
alheia, por meio de violência contra uma pessoa, de ameaça com
perigo iminente para a vida ou para a integridade física, ou pondo- Há agravações
a na impossibilidade de resistir.
Dano Destruir, no todo ou em parte, danificar, desfigurar ou tornar não Simples:semipúblico Simples: prisão até 3 anos
utilizável coisa alheia. Qualificado: público ou multa
213
214
VII APOIO SOCIAL
215
216
APOIO SOCIAL E OS RECURSOS COMUNITÁRIOS
217
[enquanto trabalhador social], é a cultura profissional e o local de trabalho que
delimitam as fronteiras entre estas profissões». (Bouquet & Garcette, 2005, cit. por
Santos, 2009) e «ainda que diferentes profissionais trabalhem em parceria junto de
uma mesma realidade social, as interpretações que dela fazem são diferenciadas,
consoante a sua cultura e formação profissional. Distintas serão também as
metodologias, métodos e estratégias empregues durante o processo de intervenção
social.» Todas as profissões sociais partilham o mesmo objectivo: «acompanhar e
auxiliar determinados tipos de população, a fim de facilitar a sua inserção» (Bouquet &
Garcette, 2005, cit. por Santos, 2009).
Intervém, assim, nos seguintes sectores: Segurança Social e Protecção Social (Centros
Distritais de Solidariedade e Segurança Social e Instituições Particulares de
Solidariedade Social), Trabalho e Desemprego (Centros de Emprego e Centros de
Formação Profissional), Saúde (Centros Hospitalares, Centros de Saúde, Unidades de
Saúde e Instituições de Saúde Mental), Educação e Estabelecimentos de Ensino,
Autarquias Locais (Câmaras Municipais e Juntas de Freguesia), Justiça e Reinserção
Social (Estabelecimentos Prisionais e Instituto de Reinserção Social), em
departamentos de recursos humanos de empresas e outras organizações ou comissões
locais.
218
a especificidade dessas necessidades; desenvolver recursos, programas e políticas
sociais, de forma a satisfazer as necessidades da comunidade; promover programas
sociais e serviços de saúde através da pesquisa e do encorajamento das comunidades
e organizações para se tornarem responsáveis pela identificação das suas
necessidades; ajudar as pessoas a promover o seu funcionamento social e/ou pessoal
através da disponibilização de serviços inexistentes ou do encaminhamento para
serviços já em funcionamento; coordenar e trabalhar com organizações
governamentais ou não-governamentais, privadas, cívicas, religiosas, empresariais
e/ou comerciais para combater os problemas sociais através da consciencialização e da
aplicação de programas que dêem resposta aos referidos problemas; investigar,
planear e desenvolver programas e políticas sociais e de saúde.
219
Conceito Definição
de Intervenção em Crise; Modelo Psicossocial,etc. modelos oferecem uma visão simplificada
da realidade, mas um pouco incompleta.
Neles reside uma vantagem: é a
simplificação da complexidade do mundo
real e a facilidade para a sua
compreensão; [...] todo o modelo é uma
expressão abstracta da realidade; [...]
sem dúvida que os modelos constituem
auxiliares efectivos e úteis para fazer
avançar o pensamento com uma
estratégia cognitiva mais segura e precisa;
[...] os modelos servem para orientar as
estratégias de acção a fim de actuar sobre
a realidade. São muito úteis para facilitar
a expressão de determinadas situações;
[...] ajudam a reflexão teórica, na medida
em que são sistemas conceptuais que
pretendem representar aspectos de
sistemas reais (Ander-Egg, 1995).
«Algo a ser copiado», um ponto de
referência, um critério. Em Ciências
Sociais, um modelo «é sistematização de
um conjunto de dados, permitindo a
melhor compreensão do todo, a
descoberta de novas hipóteses, a
identificação de lacunas, as áreas que
necessitam de provas, tornando-se um
ponto de referência para um objecto a ser
construído ou estudado 2 ”.
O objectivo principal do modelo de
intervenção é a mudança. O conceito de
mudança pressupõe a definição do que se
quer mudar, o porquê e quem quer
mudar.
«expressão introduzida no campo das
ciências sociais, para designar o conjunto
de actividades realizadas de maneira mais
ou menos sistemática e organizadas, para
actuar sobre um aspecto da realidade
Intervenção Social social com o propósito de produzir um
impacto determinado. Toda a forma de
intervenção social necessita de métodos e
técnicas de acção que têm uma
intencionalidade dada por um marco
ideológico, político e filosófico de quem
realiza estas acções» (Ander-Egg, 1995).
2
In, KAPLAN, A. (1969) – A conduta na pesquisa – S. Paulo, Herber
220
Conceito Definição
221
Definindo estes conceitos podemos, assim, referir que consoante a(s) problemática(s)
apresentada pela vítima de crime o trabalhador social actua, em situações de crise e
de emergência, mas também dá resposta aos problemas de natureza pessoal e social
do dia-a-dia. Utiliza uma variedade de práticas, técnicas e acções em consonância com
a abordagem holística do ser humano e do ambiente que o rodeia.
Contudo para que possa, de forma correcta, intervir terá de elaborar o diagnóstico
social. O Diagnóstico Social é um processo contínuo, segundo Florence Hollis (1965)
«é uma tentativa» de conhecer uma dada realidade mas que necessita para ser
oportuno, ser completo, claro e preciso.
Verifica-se, assim, que o diagnóstico social é uma das primeiras fases, no processo de
intervenção social e é um elemento fulcral de toda a prática social. A sua elaboração
necessita da aplicação de uma metodologia de pesquisa-acção, com base numa atitude
de curiosidade científica permanente e, ainda segundo Richmond, porque «a máquina
do diagnóstico» não funciona sem a imaginação e criatividade do Trabalhador Social.
222
2.1.1 Modelo Interaccional Sistémico
O Modelo Interaccional Sistémico, segundo Vieira (1985), consiste na «intervenção do
agente profissional em benefício do indivíduo, para capacitá-lo na orientação da sua
vida, existindo assim interacção entre indivíduos dentro de uma sociedade. Este
modelo é constituído por um sistema que abriga diferentes elementos interaccionais:
objectivos totais, reais e legítimos; o ambiente que está fora do sistema; os recursos
dentro do sistema ou meios para desenvolver as tarefas; os componentes (pesquisa,
análise, síntese, relacionamento Trabalhador Social-Utente, entre outros); a
administração do sistema que controla planos de intervenção, estabelecimento de
objectivos e prioridades, avaliação e controle da aplicação do plano e uma correcta
utilização dos recursos e dos seus componentes».
Payne (2002) refuta que este modelo se baseia na Teoria dos Sistemas de Von
Bertalanffy: «teoria biológica que propõe que todos os organismos são sistemas,
compostos por subsistemas, os quais por sua vez, são parte de super-sistemas. Esta
teoria é fundamental à compreensão específica de indivíduos, famílias, pequenos
grupos, e comunidades. Este modelo, na intervenção social com crianças e jovens
vítimas de crime funciona, funciona como enquadrador, na medida em que a pessoa
que recorre a um serviço está envolvida numa série de outros sistemas e subsistemas.
A intervenção do trabalhador social neste tipo de situações também funciona a nível
familiar, uma vez que é produtivo trabalhar não apenas com a vítima, mas também
com os restantes membros da família (rede primária). Para além de operar a nível
individual e familiar, a rede social também pode ser trabalhada (intervenção em rede),
já que não se pode dar resposta às necessidades de uma pessoa sem atender aos
organismos que estão na comunidade e sem potenciar todos os recursos da mesma.
Logo, tenta-se uma articulação das diversas redes sociais, no sentido de dar uma
resposta adequada ao problema. Há todo um conjunto de organismos que actuam na
rede social que podem influenciar e de se articular no sentido da consecução de uma
resposta muito mais profunda às diversas situações.
223
2.º Nível - se houver tempo e for oportuno, o estado de crise deve ser
relacionado com eventos ou experiências passadas e levar o cliente a novos
modos de perceber, pensar, sentir, e procurar uma certa adaptação ao
presente.
3
In, RANQUET, Du Mathilde (1996) – Los Modelos en Trabajo Social – Rio de Janeiro, Agir Editora, 3ª edição.
224
O acompanhamento psicossocial é apoiar, acompanhar e tentar que a vítima de crime
se organize, de modo a adquirir as condições necessárias para se reorganizar,
eliminando assim os factores de risco.
Neste método, o Trabalhador Social centra-se na vítima de crime, essa, que possui um
problema e que procura uma instituição onde possa ser ajudado por um Técnico
através de um determinado método.
Deste modo, este método debruça-se sobre o indivíduo com o objectivo de procurar
compreender o que o rodeia e o modo como isso afecta a sua relação consigo próprio
e com os outros. O Trabalho Social de Casos caracteriza-se assim, numa relação íntima
entre a adaptação do indivíduo e o melhoramento das condições sociais, definindo-se
desta forma como a capacidade do sujeito de participar activamente no seu processo
de socialização e de ajustar-se a si mesmo. A melhor ajuda que se presta à pessoa, é
consciencializá-la da sua possibilidade de se aperfeiçoar.
Nas duas primeiras fases, há uma relação dialéctica com todo o processo, sendo que o
sucesso de cada uma depende do êxito da anterior. O êxito da intervenção está
principalmente dependente do estudo e do diagnóstico do problema.
225
O diagnóstico, como vimos anteriormente, deve ser elaborado com base na informação
recolhida no(s) primeiro(s) atendimento(s), não sendo, no entanto, estanque irá sendo
reajustado ao longo do processo de apoio, quer em função de novos elementos, quer
em função da evolução e apropriação do processo e de papéis pela vítima.
Devemos esclarecer, junto da vítima e seus familiares e/ou amigos, desde o início do
processo de apoio, qual o nosso papel nesse mesmo processo, desmistificando a ideia
muitas vezes existente de que solucionaremos todos os seus problemas, como que por
magia. É fundamental afastar tal pressuposto, clarificando quais as suas funções e
limitações no âmbito daquele processo.
O objectivo básico da capacitação, na visão de Rees (1991, citado por Payne, 2002), é
a justiça social, dando às pessoas, através de apoio mútuo e de aprendizagem
partilhada, capacidades para darem pequenos passos no sentido de uma maior
segurança e igualdade política e social. E Philp (1979) «utiliza a advocacia para
demonstrar que, no modelo de trabalho social que interpreta, a advocacia é
patenteada no sentido de interpretar ou demonstrar o valor dos utentes para grupos
poderosos na sociedade» (Payne, 2002).
226
de muitos serviços de assistência, esses benefícios estão frequentemente baseados em
direitos legais.
O TAV deve esclarecer, junto da vítima, desde o início do processo de apoio, qual o
seu papel nesse mesmo processo, desmistificando a ideia muitas vezes existente de
que solucionará todos os seus problemas, como que por magia. É fundamental afastar
tal pressuposto, clarificando quais as suas funções e limitações no âmbito daquele
processo.
O confronto com a inexistência de tal omnipotência pode ser interpretado pela vítima
como uma recusa de ajuda por parte do TAV, o que pode desencadear nela
sentimentos de revolta para com o técnico, pelo que se torna essencial a clarificação
dos papéis não só deste mas também de todos os agentes sociais envolvidos.
3.1 Acolhimento
Começando por analisar a questão do acolhimento, visto este ser um pedido
recorrente em situações de violência doméstica, quer em situações de crise, quer
noutras, diga-se desde já que as possíveis respostas à satisfação desta necessidade
são diferentes, consoante se trata de um acolhimento imprevisível ou planeado.
227
A necessidade de um acolhimento imediato emerge num período de crise: é
frequente que as vítimas abandonem a casa de morada de família sem previamente o
terem planeado. Fazem-no no meio de uma agressão bastante violenta, receando pela
sua segurança e mesmo pela vida. Após saírem de casa, muitas vezes durante a noite,
concluem que não têm para onde ir, solicitando ajuda profissional.
O TAV tem nesta fase um papel preponderante para o restante processo de apoio, pelo
que deve ser perspicaz e firme, mas também acolhedor. O seu papel prende-se
essencialmente com três funções:
a. valorizar o acto de pedir ajuda, prestando apoio emocional,
b. elaborar o diagnóstico da situação e
c. avaliar o grau de risco.
Tais funções não se esgotam, de forma alguma, neste momento, mas encontrarão a
sua continuidade ao longo do processo de apoio.
Os casos em que tal não se torna exequível são múltiplos: em primeiro lugar, o suporte
fornecido pela família pode apresentar-se num registo punitivo, de acordo com o senso
comum e com o papel culturalmente atribuído à mulher na conjugalidade; por outro
lado, ainda que a vítima tenha o apoio de familiares e amigos, a morada destes é,
geralmente, conhecida do agressor, o que levanta questões ao nível da segurança de
todos os actores sociais envolvidos.
228
Em cada distrito existe, assim, uma resposta de carácter imediato, cabendo ao técnico,
em parceria com a vítima e outros serviços, encontrar uma resposta alternativa em 48
horas.
229
• Casas de abrigo
Desde 1991 que tem vindo a ser publicada legislação no sentido de garantir a
protecção adequada às vítimas de violência doméstica, nomeadamente através da
criação de casas de abrigo. As casas de abrigo são locais seguros para mulheres
vítimas de violência doméstica, com ou sem filhos. Estas poderão permanecer na casa
de abrigo o tempo que for necessário, dentro limite máximo de permanência
estabelecido.
Devemos saber exactamente que critérios usam para o acolhimento. Por exemplo, no
caso de uma criança, teremos que saber qual a idade limite que apontam para acolher.
Existem também outros centros de acolhimento que se destinam a outros problemas,
as regras e a intervenção não foram estruturadas a pensar nas particularidades das
vítimas, pelo que não se encontram adaptadas às reais necessidades destas. Por esta
razão, se se tratar de um vítima de violência doméstica, devemos fazer o possível para
que a vítima seja acolhida numa casa vocacionada para vítimas deste tipo de crime, de
forma a reduzir a possibilidade de ocorrência de episódios de vitimação secundária.
Uma vez mais, devemos conhecer o funcionamento e requisitos das casas abrigo, de
forma a poder informar correctamente a vítima, não lhe criando falsas expectativas.
Esta deve ficar ciente de que uma eventual resposta positiva pode não surgir tão
brevemente quanto desejável, pelo que, em situações de urgência, pode ter que
recorrer-se a outras alternativas, como as referidas anteriormente e as que se seguem.
230
• Acolhimento Familiar de Pessoas Idosas e Adultas com Deficiência
O Acolhimento Familiar de Pessoas Idosas e Adultas com Deficiência (Decreto-lei nº
391/91 de 10 de Outubro e Despacho conjunto nº 727/99 de 23 de Agosto) tem como
objectivo acolher temporária ou permanentemente, em famílias consideradas idóneas,
pessoas idosas e adultas com deficiência garantido um ambiente sócio-familiar e
afectivo, tendo em vista uma alternativa ao meio familiar e ainda evitar o recurso à
resposta institucional.
231
estes Lares são Centros Distritais do Instituto de Segurança Social e IPSS que dispõem
destes serviços.
• Pensões / residenciais
Esta deve ser a última alternativa a que recorremos, uma vez que é sempre uma
resposta inapropriada e desajustada, mas que serve, muitas vezes, de tábua de
salvação. As instituições dispõem geralmente de verbas económicas bastante reduzidas
para usar este recurso. Por outro lado, pode mesmo causar uma situação de vitimação
secundária: são pensões/residenciais em que o ambiente não é o mais agradável e em
que os quartos são exíguos, para além de nem sempre não garantirem condições de
segurança. No entanto, em situação de urgência, pode tornar-se realmente um recurso
inevitável;
Todas as respostas analisadas até ao momento são de carácter temporário, pelo que
devem ser percepcionadas, tanto pelos profissionais como pela vítima, como uma
ponte para a obtenção de recursos que viabilizem a sua autonomia e independência.
232
• Programa Porta 65 – Jovem
O Programa Porta 65 – Jovem é um sistema de apoio financeiro ao arrendamento por
jovens, isolados, constituídos em agregados ou em coabitação, criado pelo Decreto-Lei
n.º 308/2007, de 3 de Setembro e regulado pela Portaria n.º 1515-A/2007, de 30 de
Novembro.
Podem candidatar-se a este programa jovens com idade igual ou superior a 18 anos e
inferior a 30 anos (no caso de casais de jovens, um dos elementos pode ter até 32
anos) que reúnam as seguintes condições:
Uma percentagem elevada de vítimas não reúne a globalidade dos requisitos exigidos
pelo IGAPHE para o subsídio de arrendamento para jovens. Nestes casos, o TAV deve
efectuar a mediação entre a vítima e os serviços locais do ISS (o da anterior morada
de família e o da nova morada), os quais poderão proporcionar um apoio para o
pagamento inicial de renda de uma casa.
O TAV deve analisar com a vítima os seus recursos e a possibilidade de no futuro vir a
fazer face ao encargo. O objectivo principal da atribuição do apoio é a pertinência
deste para a futura autonomia de vítima. Neste sentido, apenas reunidas as condições
para assegurar a autonomia e estabilidade socioeconómica da vítima é que o apoio é
facultado.
233
• Serviços Locais do Instituto de Segurança Social (ISS); do Centro de
Segurança Social da Madeira (CSSM); e do Instituto para o
Desenvolvimento Social dos Açores (IDSA).
3.2 Alimentação
Quando a vítima de crime se vê obrigada, por questões de segurança, a abandonar a
casa de morada de família, ou se encontra numa situação de grave carência económica
surgem por vezes necessidades ao nível alimentar.
234
• Instituições Particulares de Solidariedade Social vocacionadas para a
prestação destes bens 4
Existem algumas instituições nacionais ou locais, como o Banco Alimentar Contra a
Fome (verificar qual a IPSS, Junta de Freguesia entre outras, que faz a distribuição dos
bens) a AMI ou a Cruz Vermelha, que visam a prestação de apoio em bens alimentares
a cidadãos que se encontrem em situação de elevada carência económica temporária
ou de longa duração.
o Refeitório/Cantina Social
Estes Refeitórios/ Cantinas Sociais têm como objectivo satisfazer as necessidades
básicas e sensibilizar e informar sobre as respostas mais adequadas tendo em conta as
problemáticas da população que recorre àquele serviço. Presta apoio, para além do
fornecimento de refeições, na higiene pessoal, tratamento de roupas e actividades
ocupacionais.
Mais uma vez se repete que compete ao TAV efectuar o levantamento das diversas
instituições existentes na sua área de intervenção, seus objectivos gerais e específicos,
bem como os seus procedimentos e normas de funcionamento. Só assim está
habilitado a proceder a um adequado encaminhamento da vítima.
Nestes casos, a (re)inserção profissional torna-se primordial, uma vez que permite um
nível de autonomia mais consistente e sólido. Através do desenvolvimento de uma
4 À semelhança do estabelecido para a prestação de apoio alimentar, também se preconiza o apoio material geral
(designadamente mobiliário e vestuário) proporcionado por múltiplas IPSS
235
actividade profissional, a vítima pode adquirir uma nova vida social, um suporte ao
nível da identidade (individual e colectiva) e uma fonte de rendimentos.
236
• Associações de imigrantes e para imigrantes;
• Associações sindicais e de empregadores;
• Escolas com oferta de vias profissionalizantes de nível secundário;
• Outras associações relevantes na dinamização e desenvolvimento local.
• Clubes de Emprego
Em vários concelhos do país existem clubes de emprego - centros com informação
sobre a oferta de emprego local -, nos quais os cidadãos em situação de desemprego
podem inscrever-se.
Perante uma situação de desemprego da vítima, o TAV deve inteirar-se do seu meio de
subsistência, identificando a (in)existência de prestações de desemprego atribuídas
pelo Instituto de Solidariedade e Segurança Social, que podem ser de três tipos:
• Subsídio de desemprego
• Subsídio social de desemprego
• Subsídio de desemprego parcial
Quer a saída seja realizada com um dos pais (frequentemente a mãe), quer seja uma
retirada imposta por ordem judicial, o procedimento de transferência do processo
escolar deve ser efectuado sigilosamente, de forma a garantir a segurança das vítimas.
Para que tal seja garantido, o TAV deve articular-se com ambas as escolas, bem como
com a Direcção Regional de Educação competente.
5 Não é objectivo deste manual debruçar-se sobre os requisitos necessários à obtenção de prestações de desemprego
(ou subsídios de outra natureza), uma vez que já existem documentos elaborados contendo estas informações:
consultar o Guia do Beneficiário / Guia do Contribuinte da Segurança Social, do Ministério do Trabalho e da
Solidariedade e da Secretaria de Estado da Segurança Social e das Relações Laborais.
237
Convém o técnico saber que o Ensino está estruturado da seguinte forma:
O ensino básico inicia o percurso de educação formal que se deve prolongar num
processo de formação ao longo da vida. Os princípios orientadores da organização e da
gestão curricular estabelecem que deve ser assegurada uma formação geral, comum a
todos os alunos. Esta formação visa garantir o desenvolvimento dos interesses e das
aptidões dos estudantes, promovendo a realização individual, em harmonia com os
valores da cidadania.
238
Os planos de estudos dos cursos integram:
• Componente de formação geral – Visa assegurar o desenvolvimento cultural,
pessoal e social dos jovens;
• A componente de formação científica – Visa a aquisição e o desenvolvimento de
um conjunto de saberes e competências de base do respectivo curso;
• A componente de formação tecnológica – Visa a aquisição e o desenvolvimento
de um conjunto de saberes e competências técnicos do respectivo curso.
Além da avaliação das disciplinas das várias componentes do curso, está prevista a
realização de uma Prova de Aptidão Tecnológica, no ano terminal do curso, após o
final das actividades lectivas e da realização do estágio. Esta prova consiste na defesa
de um trabalho/produto que evidencie as aprendizagens profissionais adquiridas pelo
aluno.
A conclusão dos cursos depende da aprovação em todas as disciplinas e nas áreas não
disciplinares do plano de estudos respectivo, bem como aprovação no estágio e na
prova de aptidão tecnológica;
Estes cursos conferem um diploma de conclusão do nível secundário de educação e,
ainda, de um certificado de qualificação profissional de nível 3.
Este ensino visa desenvolver a vocação artística dos jovens, promovendo uma
aprendizagem sólida que permita a inserção no mercado de trabalho artístico, após a
finalização do curso secundário, ou a progressão de estudos no ensino superior. Nas
áreas das Artes Visuais e dos Audiovisuais, a opção vocacional realiza-se no ensino
secundário. A Dança e a Música, que requerem precocidade e sequencialidade, devem
ser preferencialmente iniciadas no ensino básico.
O nível secundário implica uma formação artística com maior exigência e relevância no
currículo.
Cada uma destas áreas artísticas oferece a opção por:
• Artes Visuais: Design Gráfico, Cerâmica, Equipamento, Ourivesaria, Têxteis,
Realização Plástica do Espectáculo;
• Audiovisuais: Cinema e Vídeo, Fotografia, Luz, Multimédia e Som;
• Dança: Dança Clássica, Moderna e Contemporânea;
• Música: Execução Instrumental, Canto e Canto Gregoriano.
As componentes de formação geral são idênticas para todos os cursos do ensino
artístico especializado. As componentes de formação específica, técnica e técnico-
artística e científica variam de acordo com os cursos e com os planos de estudos das
escolas que os ministram.
239
c) Cursos com Planos de Estudos Próprios
Os cursos de nível secundário com planos de estudo próprios, a funcionar em
estabelecimentos de ensino particular e cooperativo em regime de autonomia
pedagógica, visam responder às necessidades de qualificação da população dos
concelhos e/ou regiões nos quais estão inseridos. Dirigem-se a um público específico
que pretende obter uma formação prática, tecnológica e científica sólida que lhe
possibilite:
• A preparação para o desempenho de uma profissão;
• A preparação para o prosseguimento de estudos;
• A aquisição de aprendizagens concretas em áreas da sua apetência.
Os cursos com planos próprios têm por referência os planos de estudo dos cursos de
nível secundário oferecidos nos estabelecimentos de ensino público.
240
Os CET são formações pós-secundárias não superiores com a duração aproximada de
um ano (entre as 1200 horas e as 1560 horas). Incluem uma formação em contexto de
trabalho com uma carga horária entre 360 e 720 horas.
A aprovação num CET confere o nível 5 de qualificação do Quadro Nacional de
Qualificações e um diploma de especialização tecnológica (DET). Este diploma é
conferido após o cumprimento de um plano de formação com um número de créditos
ECTS (Créditos segundo o European credit transfer and accumulation system)
compreendido entre 60 e 90. O número de créditos ECTS exigido é acrescido de 15 a
30 para quem ingressar no CET sem o 12.º ano. As cargas horárias das diferentes
componentes são acrescidas do número de horas necessário à obtenção dos referidos
créditos.
Nestes casos, a conclusão do CET confere o reconhecimento do nível secundário de
educação.
O Plano de formação dos CET integra:
1. componente de formação geral e científica;
2. componente de formação tecnológica;
3. formação em contexto de trabalho.
241
referenciais de formação associados ao nível 2 de qualificação do Quadro
Nacional de Qualificações destinam-se, prioritariamente, a adultos que não
concluíram o 3.º ciclo do ensino básico.
• Vias de Conclusão do Nível Secundário de Educação – As vias de
conclusão do nível secundário de educação destinam-se a candidatos com
idade igual ou superior a 18 anos, que tenham até seis disciplinas em falta de
um plano de estudos já extinto. Por cada disciplina em falta, o candidato terá
de realizar um exame ou 50 horas de formação. As vias de conclusão do nível
secundário de educação concretizam-se através d a via escolar e a Realização
de módulos de formação correspondentes a Referenciais de Formação inscritos
no Catálogo Nacional de Qualificações
3.5 Saúde
• Acção de Saúde para Crianças e Jovens em Risco - Rede Nacional de
Núcleos de Apoio às Crianças e Jovens em Risco 6
A “Acção de Saúde para Crianças e Jovens em Risco” (ASCJR) foi criada pelo Despacho
nº 31292 de 5 de Dezembro, tendo como principal objectivo a criação de uma resposta
estruturada do Serviço Nacional de Saúde ao fenómeno dos Maus Tratos, através do
desenvolvimento da “Rede Nacional de Núcleos de Apoio às Crianças e Jovens em
Risco” quer a nível dos Cuidados de Saúde Primários, quer a nível dos Hospitais com
atendimento Pediátrico.
242
b) Adequar os modelos organizativos dos serviços nesse sentido, incrementar a
preparação técnica dos profissionais, concertar os mecanismos de resposta e
promover a circulação atempada de informação pertinente.
Hospitais
• Médico/a pediatra
• Enfermeiro/a
• Técnico/a de Serviço Social
• Outro(s) profissional(ais) (preferencialmente das áreas de saúde mental e/ou
outros sectores, nomeadamente, serviços jurídicos)
b) Atribuições
• Contribuir para a informação prestada à população e sensibilizar os
profissionais do sector administrativo e técnico, dos diferentes serviços, para a
problemática das crianças e jovens em risco.
• Difundir informação de carácter legal, normativo e técnico sobre o assunto.
• Incrementar a formação e preparação dos profissionais, na matéria.
• Colectar e organizar a informação casuística sobre as situações de maus tratos
em crianças e jovens na área de intervenção do Núcleo.
• Prestar apoio de consultadoria aos profissionais e equipas de saúde no que
respeita à sinalização, acompanhamento ou encaminhamento dos casos.
• Gerir, a título excepcional, as situações que transcendam as capacidades de
intervenção dos outros profissionais ou equipas da instituição e que, pelas
243
características que apresentam, podem ser, ainda, acompanhadas na instituição
– nomeadamente as que envolvam matéria de perigo.
• Portaria n.º 965/2009, de 25 de Agosto, Portaria Conjunta do Mistério do
Trabalho e da Solidariedade Social e do Ministério da Saúde, que estabelece a
articulação entre as unidades de saúde e os serviços da segurança social, nos
termos do artigo 101º-D do Código do Registo Civil.
• Fomentar o estabelecimento de mecanismos de cooperação com as diversas
Unidades Funcionais/Serviços Hospitalares.
• Estabelecer a colaboração com outros projectos e recursos comunitários, em
particular no primeiro nível de intervenção, que contribuem para a prevenção e
acompanhamento das situações de crianças e jovens em risco.
• Ajudas Técnicas7
As Ajudas Técnicas são um direito do doente, independentemente da sua situação
económica. São prescritas sempre pelo médico e destinam-se a ser usadas fora do
internamento hospitalar.
As Ajudas Técnicas podem ser utensílios simples – Ajudas Técnicas simples, sem
grande complexidade, ou ser Ajudas Técnicas complexas envolvendo alta tecnologia,
nomeadamente electrónica, informática ou telemática.
7
Informação retirada do site do Instituto Nacional para a Reabilitação – www.inr.pt
244
comunicação, dispositivos para virar folhas, amplificadores de som, telefones), as
adaptações para os carros (assentos e almofadas especiais, adaptações personalizadas
para entrar e sair do carro, adaptações para os comandos do carro), elevadores de
transferência, próteses (sistemas que substituem partes do corpo ausentes), ortóteses
(sistemas de correcção e posicionamento do corpo), etc.
Tem como destinatários as pessoas com deficiência, pessoas idosas ou pessoas que
necessitam de as utilizar de forma temporária ou definitiva e são meios indispensáveis
ao bem estar, autonomia, integração e qualidade de vida destas mesmas pessoas.
4. Intervenção no terreno
245
No entanto, alguns Gabinetes de Apoio à Vítima, e dentro da razoabilidade, sempre a
praticaram com alguma constância, em particular em casos de doentes, pessoas idosas
ou de reclusos. Esta experiência e a necessidade de garantir o acesso por todas as
vítimas de crime a serviços gratuitos de apoio à vítima fizeram emergir o interesse pela
possibilidade de implementar este tipo de intervenção no âmbito dos processos de
apoio da APAV.
Actualmente, esta intervenção deve ser incentivada e incrementada junto dos TAV,
não apenas junto dos trabalhadores sociais, mas também junto dos TAV que são
psicólogos e juristas, tendo em conta a natureza do processo de apoio em questão.
• Segurança no acesso à vítima, desta e do TAV. O TAV deve ter como critério a
segurança, dele próprio e da vítima, durante uma intervenção no terreno. Em casos
nos quais o autor da vitimação pode surgir repentinamente, e havendo razões
plausíveis para temer a sua reacção, não estão reunidas condições de intervenção.
Esta poderá, no entanto, ser garantida por uma escolta policial, quando solicitada
pelo gestor de GAV e concedida pelas autoridades policiais competentes;
246
4.2 Visitas domiciliárias
Uma das formas de intervenção no terreno mais usada na APAV tem sido a visita
domiciliária. Trata-se da deslocação de um TAV ou mais (de preferência dois) a casa
de um utente, onde fará um atendimento presencial semelhante ao que faz no GAV,
mas agora num espaço físico distinto. É, cada vez mais, uma prática eficaz, sendo
actualmente incentivada e incrementada junto dos TAV, quer sejam trabalhadores
sociais, quer sejam psicólogos ou juristas. Um processo de apoio na APAV exige uma
abordagem multidisciplinar, logo, as visitas domiciliárias podem/devem ser realizadas
por TAV de várias formações académicas.
Uma vez autorizada a visita domiciliária pelo gestor de GAV, o TAV deve ter em
consideração os seguintes aspectos:
247
- capa de superfície dura para escrever em caso de falta de mesa;
- folhetos da APAV;
- cartões de visita da APAV;
- roupas, fraldas (conforme as necessidades da vítima, previamente conhecidas),
etc.
Assim, deve procurar apresentar-se em casa desta com toda a serenidade. Deve
mostrar-se à vontade em casa do visitado, sem manifestar desagrado, repugnância ou
deslumbramento, ou qualquer outra atitude menos própria quanto ao que o rodeia
(por exemplo, tapar o nariz por causa do mau cheiro; ou contemplar demoradamente
a decoração faustosa).
Em algumas situações, o TAV deve respeitar o pudor do visitado com especial cuidado
(por exemplo, se este for um doente, pode querer que o TAV saia do quarto para que
outros profissionais façam a sua higiene diária, etc.);
• Empatia com o visitado. Mais do que num atendimento no espaço físico do
GAV, a visita domiciliária deve decorrer num ambiente de grande empatia com
o visitado. Esta implica que o TAV seja um pouco mais coloquial e gentil – sem,
no entanto, parecer artificial. O facto de estar a ser visitada em sua própria
casa pode colocar o visitado numa situação de maior sensibilidade em relação
ao TAV.
Daí que este deva preparar o próprio atendimento com uma atitude própria de que é
bem recebido para uma visita: com cumprimentos simpáticos; e entrada em casa com
toda a discrição e elegância (isto é, sem entrar apressadamente, mas com moderação
e pedindo licença, esperando que seja indicado o caminho, etc.).
Uma conversa inicial sobre assuntos triviais (por exemplo, sobre o clima; ou sobre o
caminho tomado para encontrar a morada; ou sobre o trânsito) deve preencher os
momentos em que se prepara um lugar improvisado para o atendimento (por exemplo,
uma cadeira junto à cama, onde o visitado está convalescente).
248
A observação pode ser, pois, um excelente contributo para o processo de apoio. O TAV
deve estar atento, sem, no entanto, se fixar muito neste ou naquele aspecto do
ambiente doméstico.
Alguns aspectos podem ser observados:
O TAV deve anotar posteriormente o que observou em casa do visitado, depois de ter
o ter comentado com os outros profissionais, já depois da visita. As anotações, que
devem ser feitas nas folhas anexas da Ficha de Atendimento, poderão ser muito úteis
ao próprio processo de apoio, disponibilizando dados que, de outra forma, dificilmente
poderiam ser apreendidos;
• Desenvolvimento de um processo de apoio. O TAV deve tomar a visita
domiciliária como início, ou como continuidade, de um processo de apoio.
O TAV deve levar consigo um caderno e uma caneta, de modo a registar todos os
dados necessários.
Deve também procurar, se possível, que o próximo atendimento seja realizado no GAV.
Deve evitar a dependência emocional do visitado em relação à realização de futuras
visitas; ou a sua acomodação, não querendo sair de casa, mesmo podendo fazê-lo;
• Segurança. O TAV deve zelar pela sua própria segurança durante a visita
domiciliária, fazendo-se sempre acompanhar por outros profissionais ou mesmo
com uma escolta policial, previamente solicitada junto das autoridades locais pelo
gestor/a do GAV.
Para zelar pela segurança do visitado, para além de ter ponderar a efectuação da visita
num horário considerado seguro pelo próprio (por exemplo, horário de trabalho do
249
agressor), o TAV deve alertar o visitado para a necessidade de manter sob discrição
aquela visita em relação a terceiros.
Também deve alterar para a necessidade de não deixar à vista materiais que possam
denunciar a sua ligação à APAV (por exemplo, folhetos, cartões, etc.) ou outros
vestígios (por exemplo, uma folha de anotações rasurada e invalidada, mas
amachucada no caixote do lixo; ou um número de telefone marcado no telemóvel,
etc.).
O TAV deve procurar que não sobressaiam na sua presença no bairro, no prédio, ou à
porta de casa do visitado, certos sinais de identificação que podem denunciar a
presença da APAV (por exemplo, levar na mão uma capa com o logótipo da
Associação; ou deixar folhetos e manuais da APAV no automóvel estacionado, etc.).
Em certos casos, convém que estas visitas sejam realizadas fora do horário de visitas,
de modo a garantir que o TAV não se cruze com os visitantes habituais do
doente/recluso, colocando, assim, a confidencialidade do atendimento em risco.
250
5. O TAV Como dinamizador de parcerias: A mediação social
251
252
ANEXOS
253
254
RELATÓRIO DE PROCESSO DE APOIO À VÍTIMA
1. IDENTIFICAÇÃO
1.1. VÍTIMA
Nome: Ana Maria de Sousa Costa Silva
Idade: 42 anos
Estado Civil: Casada
Escolaridade: 4.º ano de escolaridade
Morada: Rua da Igreja, 1000
Valbom - Gondomar
1.2. AGRESSOR
Nome: José António Guimarães Silva
Idade: 43 anos
Estado Civil: Casado
Morada: Rua da Igreja, 1000
Valbom - Gondomar
Relação com a vítima: Cônjuge
255
Nome: Alexandra Maria Costa Silva
Nascimento: 12-04-1990
Estado Civil: Solteira
Morada: Rua da Igreja, 1000
Valbom - Gondomar
Escolaridade: 4.º ano de escolaridade
2. PROBLEMÁTICA
A vítima dirigiu-se pela primeira vez ao Gabinete de Apoio à Vítima do Porto no dia 26
de Julho de 2002, acompanhada pela filha de 5 anos. Foi encaminhada para o gabinete
pela assistente social da Junta de Freguesia de Valbom.
Está casada há 12 anos, tendo sido, desde sempre, vítima de violência doméstica por
parte do cônjuge que, entre outros comportamentos, a viola frequentemente e
ameaça-a caso recuse ter relações sexuais com ele, e priva-a de ver as filhas. Estas
assistem constantemente aos episódios de violência entre os pais.
Para além das três filhas, o casal teve uma outra menina, mais velha, que faleceu com
três meses, devido a um derrame cerebral. A vítima considera que a Alexandra ficou
traumatizada, não tendo superado o problema. Encontrava-se brincar com a irmã
quando esta começou a não se sentir bem. Para além disso, a senhora Ana Maria
confessa que ficou perturbada psicologicamente, a ponto de me darem como doida.
Por tal razão teve acompanhamento no Hospital Conde Ferreira (hospital psiquiátrico
do Porto). Por sua vez, o progenitor adoptou uma postura de indiferença face aos
acontecimentos. Neste sentido, foi o pai da vítima e uma irmã que a ajudaram a
ultrapassar a situação.
256
A vítima não tem qualquer relação com a mãe. Esta abandonou o marido e os seis
filhos quando a vítima tinha seis anos de idade. É filha mais velha, mantendo uma
ligação afectiva mais forte com a irmã do meio. Esta irmã, quando completou 18 anos,
apresentou queixa contra o progenitor por maus tratos físicos infligidos a si e aos
irmãos. A senhora relembra alguns episódios, acrescentando que, actualmente, o pai a
apoia no que lhe é possível.
257
2.4. Situação profissional
A senhora é funcionária num lar de 3.ª idade, no qual trabalha há seis meses,
auferindo 400 € (quatrocentos euros) mensais. O cônjuge tem vindo a criar conflitos
no lar, particularmente nos dias em que a vítima assegura os turnos da noite. Por este
motivo, a entidade patronal acordou com a vítima que o mês de Setembro seria o seu
último mês de trabalho naquele lar.
É também beneficiária do Rendimento Mínimo Garantido, pelo que recebe 160 € (cento
e sessenta euros) mensais.
3. INTERVENÇÃO
3.2 Avaliação
A vítima pretende reorganizar o seu projecto de vida, juntamente com as filhas, o mais
longe possível do Porto, pelo que nos parece que o acolhimento temporário na vossa
instituição se afigura crucial. Perspectiva ingressar no mercado de trabalho o mais
rapidamente possível, de forma a autonomizar-se. Deste modo, planeia,
posteriormente e com as devidas condições criadas, arrendar uma casa, para si e suas
filhas.
258
Ex.ma Senhora
Dra. Conceição Pinto
Casa Abrigo para Mulheres Vítimas de
Violência Doméstica
Rua das Flores, 300
4000 PORTO
Somos a solicitar acolhimento para a vítima ANA MARIA DE SOUSA COSTA SILVA e
três filhas menores. Junto anexamos Relatório de Processo de Apoio à Vítima, com a
sustentação da nossa solicitação e de forma a possuírem um maior número de
elementos para procederem à avaliação do caso.
259
VIII CÓDIGO DE CONDUTA.
CONFIDENCIALIDADE E SEGURANÇA.
260
261
1. Génese
Contudo, o Código de Conduta é algo mais do que uma mera orientação. Outra razão
para a sua criação é a necessidade da existência de um corpo de normas
fundamentais, um conjunto de injunções que, mais do que linhas de rumo, se
apresentem como verdadeiras obrigações cujo cumprimento por parte dos TAV é
absolutamente essencial. Daí a forma de redacção escolhida: O TAV deve... ou O TAV
não deve....
Uma outra razão para a sua criação prende-se com o acentuar de uma imagem de
responsabilidade, de seriedade e de credibilidade da APAV, quer no interior da sua
estrutura, quer para o exterior: a existência de um Código de Conduta reflecte o
alcançar de uma solidificação ao nível de princípios e de práticas que é sinónimo de
estabilidade da Associação.
2. Estrutura
262
O Grupo I é claramente um grupo de princípios, basilares no desempenho da
actividade enquanto TAV:
Entre outros aspectos abordados, este grupo visa acautelar duas vertentes
fundamentais: por um lado, é imperioso garantir que do atendimento a um utente não
vai resultar, para o TAV ou para terceiro, a obtenção de qualquer vantagem
patrimonial, quer porque o serviço prestado pela APAV é gratuito, quer porque a
angariação de clientela ou a indicação de profissionais está rigorosamente vedada.
Por outro lado, não deve o TAV permitir que, na relação que estabelece com o/a
utente, surja ou se desenvolva qualquer motivação de cariz pessoal, nefasta para
um eficaz desenrolar do processo de apoio.
263
• Dever de sigilo
• Necessidade de autorização para a transmissão de informações
• Atendimento apenas em locais que garantam a confidencialidade
• Necessidade de autorização para pronunciamento público
O Grupo IV foca questões relacionadas com a conduta perante a APAV e outros TAV,
através de algumas características cuja presença é indispensável para levar a bom
porto um trabalho de equipa e para garantir alguma reserva, quer da identidade do
técnico, quer da imagem da própria Associação. Daí as limitações no que concerne aos
contactos a fornecer ao/a utente e à utilização de elementos identificativos da APAV,
incluindo a designação Técnico de Apoio à Vítima.
264
não utilizar referências à APAV em contextos estranhos à associação
3. Confidencialidade e segurança
3.1 Fundamento
O dever de confidencialidade decorre de três vectores que o TAV não deve esquecer:
265
• deve normalmente respeito a uma ética profissional ou a um código deontológico
que consagra o conceito de segredo profissional;
• qualquer fuga de informação, deliberada ou acidental, pode simultaneamente
fazer perigar toda a intervenção que se está a desenvolver e colocar em risco a
integridade física, e até mesmo a vida, ou os bens patrimoniais dos utentes, dos
seus familiares e/ou amigos e, igualmente dos próprios TAV e dos familiares e/ou
amigos destes.
Convém assim concretizar um pouco mais aquilo que, sob a forma de princípios gerais,
foi vertido naquele Código.
Para que o TAV mantenha fidelidade a esta condição é necessário que, no quotidiano,
tenha especiais cuidados no contacto com terceiros, para os quais não pode deixar
transparecer informações acerca dos utentes do GAV sem a sua prévia autorização.
Destes terceiros, além daqueles a quem os utentes expressamente autorizaram a
cedência de informações, exceptuam-se os técnicos das instituições implicadas no
mesmo processo de apoio (rede de cooperação institucional).
É necessário que o TAV tenha bem presente a perigosidade em que pode precipitar o/a
utente ao não salvaguardar a confidencialidade: veja-se o exemplo das mulheres
vítimas de maus tratos por parte do cônjuge ou companheiro ou as crianças vítimas de
crimes sexuais por parte do pai ou de algum familiar próximo, que podem, em virtude
do desrespeito da confidencialidade, ser alvo de represálias por parte dos seus
agressores.
3.2 Procedimentos
3.2.1 no GAV
• manter toda a documentação relativa a processos de apoio encerrada em armários
equipados com fechadura;
• impedir que esta documentação, ou cópias, saia do GAV;
• não deixar esta documentação exposta em locais de frequência de utentes;
• assegurar a privacidade do/a utente durante o atendimento;
• não permitir que os utentes que se encontram no espaço do GAV sejam
fotografados ou filmados;
• não falar dos processos de apoio nas zonas de espera e/ou presença de terceiros
e/ou utentes
• assegurar que o espaço reservados aos TAV seja de acesso restrito, isto é,
permitir a entrada apenas a pessoas autorizadas pelo/a Gestor/a;
266
• se for o último a sair do GAV e tiver a incumbência de o fechar, deve desligar as
luzes e equipamentos (aquecimentos, ventoínhas, computadores) e fechar a porta
do GAV.
3.2.3 ao telefone
Os TAV têm que ter presente que as mensagens ou os próprios telefonemas podem
ser interceptados pelos agressores, o que poderá conduzir ao agravamento do
processo de vitimação, pelo que devem adoptar os seguintes procedimentos:
267
3.2.4 com o/a utente
O TAV deve ajudar o/a utente a guardar a confidencialidade sobre o seu próprio
processo de apoio, sobretudo nos casos em que coabite com o agressor:
• ajudar a estabelecer os dias e horas em que não é arriscado vir até à instituição;
• ajudar a formular um eventual pretexto para apresentar ao agressor se, por
qualquer motivo extraordinário, este regressar a casa antes da chegada do/a
utente;
• aconselhar a nunca proferir o nome das instituições ou dos profissionais que o
estão a apoiar;
• recomendar precaução em relação a objectos denunciadores ou suspeitos (como,
por exemplo, cartões da instituição, números de telefone na agenda, etc.), sendo
necessário que estes sejam devidamente ocultados em locais da casa insuspeitos
ou, de preferência, em casa de familiares ou amigos;
• ajudar o/a utente a reflectir sobre quem escolher, de entre familiares e amigos,
para confidenciar a sua situação e o processo de apoio, pois estes podem nem
sempre ser inteiramente de confiança;
• definir com o/a utente as precauções a ter na utilização do seu próprio telefone: no
caso de ser um telefone de rede fixa, o/a utente deve não só ter o cuidado de
telefonar apenas quando o agressor não estiver em casa, mas também de prevenir
- não efectuando determinadas chamadas deste telefone - a possibilidade de este
vir a solicitar uma factura detalhada; o telemóvel também pode ser pouco
preservador da confidencialidade, pois o agressor pode consultar todas as
chamadas que o/a utente fez e recebeu, pelo que convém que estes registos sejam
apagados da memória do aparelho. Por vezes é então preferível que o/a utente use
um telefone público ou de algum familiar ou amigo, de preferência vizinhos, para
onde o TAV possa telefonar, evitando despesas do/a utente;
• quando acompanhar um/a utente e sentir que estão a ser perseguidos, mudar de
percurso e/ou procurar um local onde haja outras pessoas;
• caso o utente falte sem avisar a um atendimento ou outra diligência previamente
marcada, o/a TAV poderá contactá-lo para saber se aquele se encontra bem, qual
o motivo da falta e se tem disponibilidade para agendamento de novo atendimento
ou diligência.
268
Quando um/a utente ou terceira pessoa se torna agressivo/a, o TAV deve:
• utilizar a técnica ERICA:
Lembre-se: Que eles estão a ser difíceis por razões próprias. Não por sua causa.
Forma de actuação:
• Não personalize as situações (lembre-se que não o estão a atacar a si)
• Mantenha a calma e escute a pessoa
• Concentre-se na situação e não na pessoa
• Não a contradiga
• Não discuta
• Não lhe diga que é grosseiro/a ou mal educado/a
• Interprete correctamente o comportamento
• Encaminhe a pessoa para a melhor solução
• Gratifique-se por acalmar uma pessoa agressiva
269
270
ANEXOS
271
272
CÓDIGO DE CONDUTA
273
CÓDIGO DE CONDUTA
Sem prejuízo das regras constantes dos códigos deontológicos que regem a actividade
profissional de cada técnico em função na Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, a sua
conduta no âmbito da actividade desenvolvida na Associação deve pautar-se pelas seguintes
regras:
I DA C ONDU TA G ER A L
2. O TAV não deve explorar a relação especial de confiança com o/a utente para
interesse próprio, evitando o envolvimento pessoal com este.
3. O TAV deve abster-se de intervir nos processos de apoio quando haja uma relação
de parentesco, de afinidade, de amizade ou profissional com o/a utente ou com o
agressor, ou quando entre aquele e estes haja ou tenha havido uma situação de
litígio, judicial ou extrajudicial.
274
III DA CON FID ENCIA LIDA D E
1. O TAV tem o dever de sigilo quanto aos factos, documentos e decisões de que
tenha conhecimento em virtude do desempenho das suas funções e que não sejam
públicos e notórios.
2. O TAV apenas deve fornecer informações a terceiro, particular ou instituição, após
a obtenção de uma autorização expressa por parte do/a utente.
3. O TAV apenas se pode pronunciar publicamente sobre as situações de que tenha
conhecimento em virtude da actividade desenvolvida após uma autorização
expressa por parte do Gestor do GAV em que exerce funções.
IV DO FUNC ION AMEN TO EM EQ UI PA
275
276
277
IX PROCESSO DE APOIO ONLINE
278
279
1. Importância do correcto preenchimento do Processo de
Apoio Online (PAO)
2. Estrutura
280
2.1 Ficha Atendimentos
A ficha atendimentos destina-se a registar os atendimentos/ diligências
realizados/as no âmbito do processo de apoio. Em qualquer atendimento deve ser
preenchida a data e hora em que foi efectuado.
Os campos de preenchimento são os seguintes:
Data;
Hora de Início;
Hora de Fim;
281
2.3 Ficha Contacto
A ficha Contacto destina-se ao registo de informação acerca do primeiro contacto
do/a utente/vítima com a APAV, bem como da existência ou inexistência de crime.
Os campos de preenchimento são os seguintes:
Tipo de Contacto;
Realizado por;
Referenciação para a APAV
Existência de crime ou de alguma das seguintes formas de violência:
assédio sexual, discriminação, stalking?
282
• No item (concelho de residência) deve ser indicado o concelho e
não a localidade de residência da vítima, pois a localidade mostra-se
muitas vezes insuficiente para localizar o concelho pretendido.
283
Existência de arma cuja posse exija registo;
Se sim, que tipo de armas?
Armas legais?;
Local do crime;
Tipo de vitimação (meses/anos);
Crimes
Crimes contra as pessoas:
Vida ou integridade física;
Liberdade pessoal;
Crimes sexuais;
Honra, reserva da vida privada ou outros bens jurídicos pessoais.
Crimes contra a vida em sociedade.
Crimes contra o estado.
Violência Doméstica:
Sentido estrito;
Sentido lato.
Crimes rodoviários.
Crimes contra o Património.
Contra-ordenações.
Queixa/denúncia;
Se sim, quando apresentou queixa?;
Nº de queixas/denúncias;
Local da queixa/denúncia;
Situação processual;
Tribunal/serviços do ministério público onde se encontra o processo;
Juízo;
Secção;
Nº processo;
Denunciou a situação a outras entidades?;
Se sim, quais?;
Foi deduzido pedido de indemnização cível?;
Foi deduzido pedido de indemnização ao Estado? (às vítimas de crimes
violentos);
Foi deduzido pedido de indemnização ao Estado? (às vítimas de violência
conjugal);
284
“Qualquer conduta ou omissão de natureza criminal, reiterada e/ou
intensa ou não, que inflija sofrimento físico, sexual, psicológico ou
económico, de modo directo ou indirecto, a qualquer pessoa que resida
habitualmente no mesmo espaço doméstico ou que, não residindo, seja
cônjuge ou ex-cônjuge, companheiro/a ou ex-companheiro/a,
namorado/a ou ex-namorado/a, ou progenitor de descendente comum,
ou esteja, ou tivesse estado, em situação análoga; ou que seja
ascendente ou descendente, por consanguinidade, adopção ou
afinidade.”
Partindo desta definição a APAV distingue:
a) Violência Doméstica em sentido estrito: são actos criminais
enquadráveis no art. 152º do Código Penal: maus-tratos
psíquicos; ameaça; coacção; injúrias; difamação e crimes
sexuais;
b) Violência Doméstica em sentido lato: que inclui outros crimes
em contexto doméstico, como a violação de domicílio ou
perturbação da vida privada; devassa da vida privada (imagens,
conversas telefónicas, emails; revelar segredos ou factos
privados; etc.); violação de correspondência ou de
telecomunicações; violência sexual; subtracção de menor;
violação da obrigação de alimentos; homicídio:
tentado/consumado; dano; furto e roubo.
• O preenchimento da categoria de crime é essencial, devendo por isso ser
preenchida sempre;
• Nos itens (local de queixa) e (situação processual) deve indicar-se o número de
queixas em cada local e em cada situação processual, respectivamente;
285
Notas importantes para o preenchimento da Ficha Apoio Prestado:
• O item (Existência de Recursos aquando do pedido/contacto de apoio
à APAV) é de resposta múltipla, podendo conter mais do que um item
assinalado;
• Intervenção na crise constitui um processo de apoio pontual e imediato, pelo
que não deve ser confundido com avaliação do grau de risco; desde que o/a
utente apresente sinais que indiciem que se encontra em situação de crise este
item deve ser assinalado, ainda que o/a utente não seja vítima de crime;
• Independentemente do/a utente ser ou não vítima de crime, deve ser
assinalado na Ficha Apoios qual o tipo de apoio que lhe foi prestado.
1. Botões de Ajuda
Tipo de Família
Família Reconstruída
Família composta por adultos e crianças de uma segunda união, em que nem todos
têm laços de consanguinidade entre si - ex: padrasto/madrasta
Família Alargada
Família nuclear + ascendentes e/ou descendentes ou familiares colaterais – ex:
primos e irmãos
286
Se sim, que tipo de arma?
Arma branca
Exemplo: faca
Arma de fogo
Exemplo: revólver, pistola, espingarda
Arma de ar comprimido
Exemplo: “pressão de ar”
Aerossol de defesa
Exemplo: “spray”
Arma de alarme
Exemplo: dispositivo com a configuração de arma de fogo destinado unicamente a
produzir efeito sonoro
Arma eléctrica
Exemplo: dispositivo unicamente a produzir descarga eléctrica momentaneamente
neutralizante da capacidade motora humana
Boxer
Exemplo: “soqueira”
Crimes
Ofensa à integridade física:
-grave (exemplo: amputação de membro, desfiguração grave e permanente,
afectação grave da capacidade de trabalho, mutilação genital feminina, doença
dolorosa ou permanente, anomalia psíquica grave, perigo para a vida)
-outra (qualificada, privilegiada, por negligência)
Maus-tratos
- que não violência doméstica, por exemplo, violência nas instituições.
Ameaça/Coacção
-“chantagem”: constranger outra pessoa, através de violência ou ameaça, a fazer
ou deixar de fazer algo.
Sequestro
-deter, prender, manter presa ou detida ou de qualquer forma privar de liberdade
outra pessoa
Rapto
-com a finalidade de extorsão, prática de crime sexual, obtenção de resgate ou
levar autoridade ou terceiro a fazer ou deixar de fazer algo
287
Assédio sexual
-com prática de actos sexuais
Lenocínio
-exploração da prostituição de crianças ou adultos
Importunação sexual
-actos exibicionistas ou “toques” nos transportes públicos
Pornografia de menores
-utilizar criança em material pornográfico ou produzir, disseminar, divulgar ou
possuir este material
Difamação
-A em conversa com B, imputa a C um facto, mesmo que sob a forma de suspeita,
ou formula sobre ele um juízo ofensivo da sua honra ou consideração
Injúria
-A dirige a B palavras ou imputa-lhe factos, mesmo sob a forma de suspeita,
ofensivas à sua honra ou consideração
Carjacking
-roubo de veículo. Se incluir a prática de outro (s) crime (s), como por exemplo
rapto, deve também assinalar-se este (s)
Extorsão
-A, com intenção de com seguir para si ou para terceiro enriquecimento ilegítimo,
constrange B, por meio de violência ou ameaça, a uma disposição patrimonial que
acarrete prejuízo para este ou para outrem – exemplo: A ameaça B que, se esta
não assinar um cheque em branco e lho entregar, foge com o filho de ambos
Terrorismo
-é o uso de violência, física ou psicológica, através de ataques localizados a
elementos ou instalações de um governo ou da população governada, de modo a
incutir medo, terror, e assim obter efeitos psicológicos que ultrapassem largamente
o círculo das vítimas, incluindo, antes, o resto da população do território
288
Escravidão
-é a prática social em que um ser humano tem direitos de propriedade sobre outro
designado por escravo, ao qual é imposta tal condição por meio da força
Assédio Sexual
-é um tipo de coerção de carácter sexual praticada geralmente por uma pessoa em
posição hierárquica superior em relação a um subordinado
Discriminação
- fazer uma distinção):
tipo de discriminação - racial; religiosa, sexual, por idade, nacionalidade ou género
289
290
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291