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Unicamp2022 2fase 1dia

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R E DAÇ Ã O 1

Você tem 15 anos e tem conta em redes sociais desde


os 13 anos. Há seis meses, contudo, seu número de
seguidores quintuplicou e alcançou a marca de quase um
milhão. Desde que se tornou um/a digital influencer,
vários parentes e amigos passaram a alertar seus pais
sobre os perigos de sua superexposição na internet,
enfatizando a importância de eles (seus responsáveis
legais) acompanharem todas as postagens e todos os
comentários recebidos nas suas redes. Seus pais foram
até mesmo aconselhados por alguns amigos a fecharem as
contas que você mantinha, sob a alegação de que a
atividade poderia configurar um tipo de trabalho infantil
(isto é, uma atividade que envolve crianças com idade
inferior a 16 anos). Outros não viram problema com a sua
fama e até perguntaram se seus pais já tinham se
informado sobre como “monetizar” os seus perfis.
Após refletir sobre essas opiniões divergentes, você
decide escrever, em um de seus perfis, um extenso post
(“textão”) a respeito. No seu texto, você a) narra a sua
trajetória até se tornar digital influencer e b) relata suas
impressões acerca dessa experiência, assumindo um
posicionamento sobre o fato de crianças e adolescentes
atuarem como digital influencers.
Para escrever seu post, leve em conta a coletânea de
textos a seguir:
1. Cyberbullying é o bullying realizado por meio das
tecnologias digitais. Pode ocorrer nas mídias sociais,
plataformas de mensagens, plataformas de jogos e
celulares. É o comportamento repetido, com intuito de
assustar, enfurecer ou envergonhar aqueles que são
vítimas.
(Disponível em https://www.unicef.org/brazil/cyberbullying-o-que-
eh-e-como-para-lo. Acessado em 13/09/2021.)

2. Apesar de a maior parte das plataformas exigir idade


mínima de 13 anos para a criação de um perfil, não há
um controle rígido, o que faz com que o acesso de
crianças e adolescentes às redes sociais seja livre. E é
justamente por isso que o papel das famílias e das escolas
é crucial para protegê-los e conscientizá-los dos riscos da
superexposição. A premissa de que as novas gerações
“nascem sabendo” lidar com a tecnologia é totalmente
enganosa e mascara a fragilidade delas perante os
inúmeros riscos e perigos que as mídias sociais
escondem. Os jovens precisam de controle parental,
acompanhado de diálogo, para desenvolverem uma
relação saudável com as redes. Controlar o uso não
significa proibi-lo, mesmo porque o universo digital é
parte fundante da cultura e sociabilidades juvenis
contemporâneas. Entre os conteúdos deliberadamente
nocivos e os construtivos, há uma gama imensa de riscos
implicados, como os próprios comentários de estranhos –
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diversas plataformas, inclusive, já permitem que o usuário
não receba mensagens de desconhecidos.
(Adaptado de Mariana Mandelli, Morte de adolescente reacende
debate sobre exposição digital. 05/08/2021. Disponível em
https://www1.folha.uol.com.br/educacao/2021/08/morte-de-
adolescente-reacende-debate-sobre-exposicao-digital.shtml.
Acessado em 13/09/2021.)

3.

A. C.
Celebridade brasileira do YouTube que ficou conhecida
por seu canal “Vida de Amy”, onde posta desafios, vídeos
de brinquedos e vlogs, a adolescente A. C. ganhou mais
de 550.000 inscritos e ainda foi reconhecida como a
primeira YouTuber surda oralizada do Brasil.
Antes da Fama
Aos três meses, ela começou a ser treinada por
fonoaudiólogos, e aprendeu a falar e escrever em
português.
Curiosidades
Em julho de 2014, ela postou o vídeo “Novos presentes
para minha boneca Reborn”, que teve mais de 4 milhões
de visualizações logo depois de postado.
(Texto adaptado. Imagem editada. Disponível em https://pt.famous
birthdays.com/people/amanda-carvalho.html. Acessado em
20/11/2021.

4. A ampliação do acesso de crianças e adolescentes a


celulares, tablets e outras telas portáteis criou uma nova
modalidade de trabalho infantil: os youtubers mirins.
Nessa atividade, crianças e adolescentes gravam vídeos
periodicamente em seus canais no YouTube e são
remunerados por fabricantes de produtos para os quais
fazem propagandas, ou são remunerados pela própria rede
social, quando há anúncios inseridos ao longo do vídeo.
A atividade é prejudicial tanto para a criança ou adoles-
cente que mantém o canal, quanto para o público infan-
tojuvenil que o assiste. A advogada do Programa Criança
e Consumo do Instituto Alana, Livia Cattaruzzi, lista o
consumismo e o materialismo, a diminuição de brinca-
deiras criativas, a obesidade infantil, a erotização precoce,
a violência e a segregação de gênero como algumas
consequências da exposição à publicidade infantil.
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(Adaptado de Cristina Sena, Matéria originalmente publicada no site
do Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil
(FNPETI). Disponível em
https://livredetrabalhoinfantil.org.br/noticias/ reportagens/youtubers-
mirins-forum-nacional-discute-nova-modalidade-detrabalho-
infantil/. Acessado em 11/09/2021.)

Comentário à proposta de Redação 1

A primeira proposta da Unicamp pediu ao


candidato para desenvolver um “textão”, ou seja, uma
postagem nas redes sociais, posicionando-se como
um(a) digital influencer de 15 anos com um milhão de
seguidores. Nesse texto, o candidato deveria narrar
sua trajetória, podendo relatar experiências que
serviriam de base para o desenvolvimento de
posicionamentos sobre os perigos e as vantagens
(profissionais, financeiras e pessoais) dessa exposição.
Para guiar o desenvolvimento temático, foram
apresentados textos que abordam os impactos
negativos da superexposição, como o cyberbulling, o
incentivo ao consumismo e, até mesmo, a erotização
precoce. Além desses aspectos, poderiam ser citados o
desenvolvimento de depressão, baixa autoestima na
formação do jovem e até aparecimento de pensa-
mentos suicidas diante de comentários negativos.
Outro ponto relevante à temática e que caberia na
proposta é o papel dos pais no controle da vida virtual
dos filhos: a atenção às publicações e aos comentários
dos seguidores é vital para assegurar a saúde mental
desses jovens.
Ao desenvolver a narração, o candidato poderia
relatar os vídeos ou conteúdos de suas primeiras
postagens, o número inicial e final de seus seguidores
e até evidenciar experiências positivas ou negativas
dentro da família, da escola ou em outros campos
sociais.
Junto com esse relato, o candidato poderia desen-
volver análises críticas, utilizando-se de estratégias
argumentativas para evidenciar e comprovar os
pontos negativos e/ou positivos das vivências
narradas, ressaltando (a) a importância dos pais na
carreira dos influencers mirins, (b) o aspecto
profissional e financeiro e (c) o impacto dessa carreira
no desenvolvimento emocional da infância e da
juventude.
É importante atentar às características do gênero
proposto: a manutenção da interlocução com os se-
guidores, a linguagem acessível e a concisão do texto.

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R E DAÇ Ã O 2
Você é um/a jovem que está cursando o seu segundo
ano de graduação em Geografia, na Unicamp. Entusias-
mado/a com a possibilidade de estrear na pesquisa
acadêmica, você submeteu seu projeto de Iniciação Cien-
tífica (IC) para uma agência brasileira de fomento à
pesquisa. Após análise da comissão avaliadora, seu
projeto de pesquisa foi aprovado por mérito, mas não
obteve o financiamento desejado. Motivo: o corte de
verbas no orçamento destinado à ciência e à pesquisa no
Brasil em 2021.
Você, que tem se mostrado um/a universitário/a bri-
lhante, com um currículo invejável, sente-se indignado/a
com a impossibilidade de desenvolver sua pesquisa cien-
tífica sem o necessário investimento. Decide, então, se
unir a outros jovens pesquisadores brasileiros que vi-
venciaram a mesma experiência frustrante para escrever
um manifesto, de autoria coletiva, a ser lido na reunião
anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência
(SBPC). Nesse texto, vocês a) apontam o corte de verbas
destinadas à ciência e à pesquisa no Brasil, b) denunciam
os consequentes prejuízos desses cortes e c) convocam a
comunidade científica para o repúdio a essa política de
sucateamento da ciência e da pesquisa em curso no Brasil
atual.

Iniciação Científica (IC) é uma modalidade de


pesquisa acadêmica desenvolvida por alunos de
graduação nas universidades brasileiras em diversas
áreas do conhecimento. Os alunos desenvolvem seu
projeto de pesquisa (coletivo ou individual),
acompanhados por um professor orientador, que pode
estar ligado ou não a um laboratório de pesquisa ou a
algum centro de pesquisa financiador (por exemplo:
CAPES, CNPq, PIBIC, FAPESP etc.). Desde 2016, o
valor da bolsa de iniciação científica varia de R$ 400
a R$ 700 mensais aproximadamente, a depender da
agência de fomento.
(Adaptado de
https://pt.m.wikipedia.org. Acessado em 25/10/2021.)

Para escrever seu manifesto, leve em conta a coletânea de


textos a seguir:
1. A bióloga Thabata Cavalcanti dos Santos, 27 anos, faz
mestrado na Universidade Federal do Ceará (UFC). Ela
ingressou no curso em 2021, ciente das dificuldades que
iria encontrar em tempos da pandemia da Covid-19, mas
não achou que seria tão difícil a ponto de pensar em
desistir. A estudante sabe que sua trajetória profissional é
fruto de anos de investimento de recursos públicos. Foi
aluna da escola pública e entrou na universidade por meio
da lei de cotas. “Sempre agarrei as oportunidades com
todas as minhas forças. Mas vejo que o que demorou anos
e anos para o país construir, na área de ciências, está
sendo destruído na canetada por um Governo”, afirma.
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Sem incentivo financeiro para pesquisa, ela não consegue
vislumbrar um futuro. Relatos como o de Thabata Santos
são comuns hoje na área de ciências do Brasil. “Hoje
formamos profissionais para trabalhar no exterior”,
lamenta Denise Freire, pró-reitora de pós-graduação e
pesquisa da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ). Freire lembra que são necessários anos de
investimentos públicos em educação básica, saúde,
universidade, mestrado e doutorado. E no momento em
que o profissional está pronto para começar a dar retorno
ao país, ele precisa sair de sua área de atuação em busca
de oportunidades. “Temos fuga de cérebro para trabalhos
precarizados. Estamos entregando de mão beijada um
patrimônio nacional.”
(Adaptado de Regiane Oliveira, Pesquisadores se formam para
trabalhar no exterior sob desmonte da ciência nacional. 08/11/2021.
Disponível em https://brasil.elpais.com/brasil/2021-11-
08/pesquisadores-se-formam-para-trabalhar-no-exterior-sob-
desmonte-da-ciencia-nacional.html?utm_medium=Social&utm_sour
ce=Twitter&ssm=TW_BR_CM#Echo box=1636379412.
Acessado em 21/11/2021.)

2. APAGÃO DA CIÊNCIA
Valores previstos no Projeto de Lei Orçamentária (PLOA)
para 2021, comparados ao orçamento deste ano.
OBS. Os percentuais identificados “créditos suplemen-
tares” representam valores condicionados à disponibili-
dade de recursos e aprovação parlamentar para serem
utilizados (chamada Regra de Ouro).

Fonte: SBPC, com base em dados oficiais da LOA 2020 e PLOA


2021.
(Adaptado de Herton Escobar, Orçamento 2021 condena ciência
brasileira a “estado vegetativo”. 29/01/2020. Disponível em
https://jornal.usp.br/universidade/politicas-cientificas/orcamento-
2021-coloca-ciencia-brasileira-em-estado-vegetativo/. Acessado em
25/11/2021.)

3.

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(Disponível em https://horadopovo.com.br/manifestantes-repudiam-
em-todo-o-pais-os-cortes-na-ciencia-feitos-por-bolsonaro/.
Acessado em 03/12/2021.)

4. Nos últimos anos, a ciência brasileira tem sido alvo de


repetidos cortes orçamentários. Esses cortes ameaçam
projetos científicos e tecnológicos que estão em anda-
mento, como também projetos futuros, o que inclui o
financiamento de bolsas de estudo para jovens pesqui-
sadores que estão no início da carreira científica. No
Brasil, jovens pesquisadores em programas de mestrado
e doutorado ganham, respectivamente, uma bolsa de
estudos de R$ 1.500 e R$ 2.200 mensais, e esses valores
não são ajustados desde 2013. Com a alta dos preços de
produtos e serviços, o poder de compra das bolsas
diminuiu em mais de 60%. A maioria dos estudantes
depende exclusivamente dessa renda mensal para manter
sua alimentação, saúde, moradia, vestimenta e transporte.
Em muitos casos, ainda dão suporte no sustento da
família. Como jovens pesquisadores brasileiros, nós
exigimos suporte financeiro adequado. Se o Brasil não
reavaliar imediatamente seu orçamento para ciência e
tecnologia, o país corre o risco de perder toda uma gera-
ção de cientistas brasileiros.
(Adaptado de texto de manifesto coletivo, intitulado Sobrevivendo
como um jovem pesquisador no Brasil. Traduzido de Surviving as a
young scientist in Brazil. Disponível em
https://www.science.org/doi/10.1126/science.abm8160.
Acessado em 21/11/2021.)

Comentário à proposta de Redação 2

Na proposta 2 da redação da Unicamp, o can-


didato deveria atentar às instruções da banca para
redigir um manifesto (gênero discursivo), adequado
à proposta (cumprir os 3 itens descritos) e à
interlocução (jovens pesquisadores e membros da
Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência –
SBPC.
Os 3 elementos obrigatórios no desenvolvimento
textual são:
a) apontar corte de verbas destinadas à ciência e à
pesquisa;
b) denunciar os consequentes prejuízos dos cortes;
c) convocar a comunidade científica para o repúdio
a essa política de sucateamento da ciência e da pesquisa
em curso no Brasil atual.
Para redigir o manifesto, o candidato poderia usar
um vocativo, por exemplo, Senhores da Comunidade
Científica; apresentar no final um desfecho, já que o
manifesto é de autoria coletiva, como “jovens pesqui-
sadores”. O texto deve ser redigido na primeira pessoa
do plural (voz coletiva), ser persuasivo, induzindo os
ouvintes a apoiar a causa e incentivar medidas que
pressionem o governo a rever a verba destinada à
pesquisa.

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No texto, o candidato poderia incluir informações
apresentadas dos quatro textos da coletânea. Para
contemplar o item “a”, poderia valer-se da fala da pró-
reitora de pós-graduação Denise Freire, que ressalta a
necessidade de investimentos públicos em todos os
níveis da educação (texto 1); poderia apontar os percen-
tuais que indicam diminuição dos investimentos em
ciência e pesquisa no Brasil (texto 2); mostrar o repúdio
de manifestações de estudantes contra os cortes na
ciência feitos pelo Presidente da República e contra a
falta de reajustes nas bolsas de estudos para jovens
pesquisadores (textos 3 e 4). Para o item b, os prejuízos
desses cortes, era possível mencionar a “fuga de
cérebros para trabalhos precarizados” por falta de
oportunidades em suas áreas de atuação; a existência e
a continuidade de projetos científicos e tecnológicos;
assim como a perda de toda uma geração de cientistas
brasileiros que deixam de atender às necessidades do
desenvolvimento científico no País.
Por fim, como parte do discurso persuasivo de con-
vocação para repúdio a essa política de sucateamento
da ciência e da pesquisa, item c, o candidato poderia
apelar para que os ouvintes não permitissem que
histórias como a de Thabata Cavalcanti (texto 1), que
chegou a pensar em desistir da pesquisa, não se
repitam. Seria possível também atentar para o
descontentamento que se pode ver em manifestações de
rua e no ambiente acadêmico científico, sugerindo
maior adesão dos membros da comunidade científica
presente à causa e mais cobrança dos órgãos competen-
tes sobre ações de investimentos em projetos científicos
e pesquisas, como o aumento das bolsas de estudos
cujos valores, apresentados no texto 4, são insuficientes
como suporte financeiro para os jovens pesquisadores
brasileiros.

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PORTUGUÊS

1
“Lygia é uma escritora que trabalha com mistérios e
pequenas revelações. Porém não se entenda errado: sua
escrita não é religiosa, nem mística. Se há religiosidade,
é no modo como ela escava a banalidade em busca de seu
miolo. Se há misticismo, ele se esconde em sua inclinação
para valorizar as zonas subterrâneas da existência.”
(José Castello, “Lygia na penumbra” in Seminário dos Ratos. São
Paulo: Companhia das Letras, 2009, p. 170.)
“Etimologicamente, o grego alegoria significa ‘dizer o
outro’, dizer alguma coisa diferente do sentido literal.
Regra geral, a alegoria reporta-se a uma história ou a uma
situação que joga com sentidos duplos e figurados, sem
limites textuais (pode ocorrer num simples poema como
num romance inteiro), pelo que também tem afinidades
com a parábola e a fábula.”
(Adaptado de Carlos Ceia, E-dicionário de termos literários.
Disponível em https://edftl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/alegoria.
Acessado em 18/08/2021.)
a) No conto “Seminário dos ratos”, há um fato banal que
se torna extraordinário no percurso narrativo. Descreva
esse fato e apresente dois elementos do enredo que
colaboram para a construção do conflito narrado.
b) Há, no conto de Lygia Fagundes Telles, a elaboração
de uma alegoria. Identifique qual é o elemento central
dessa alegoria e explique seu sentido, considerando o
período em que o conto foi publicado.
Resolução
a) O fato banal, além da realização de mais um
seminário, o sétimo, pelos burocratas para se
discutir mais uma vez a infestação de ratos no
país, é o surgimento de um ruído esquisito no local
onde haveria o seminário. Esse barulho vai
gerando um conflito à medida que fica mais forte,
repercute no assoalho, faz com que ele trema e
ganha posteriormente a dimensão de “zona vul-
cânica”. Surge, então, um cheiro estranho, os
telefones param de tocar e se percebe que esse som
esquisito prenunciava a invasão dos ratos, to-
mando o prédio em que seria realizado o
seminário. Um outro elemento que colabora para
a construção do conflito é a crítica, verídica, da
imprensa sobre os gastos excessivos para esse
seminário, o local isolado da reunião e a inépcia
do governo, pois já se chegara ao sétimo seminá-
rio. Essas críticas são tachadas como provenientes
de jornalistas de esquerda ou de “amigos dos
ratos”.

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b) A narrativa do conto Seminário dos Ratos, pu-
blicado em 1977, tem como tema central o VII se-
minário do governo para combater a proliferação
de ratos no país. No final do conto, os ratos
invadem o prédio público, tomando-o.
Depreende-se do tema central um outro sentido, o
alegórico: a inoperância e a opressão do governo
militar no período de Ernesto Geisel (1974-1979),
que tenta, frustradamente, reprimir os que podem
desestabilizar um status quo injusto e empobrecido
da população, segundo Lygia Fagundes Telles. Os
inimigos da burocracia ineficaz e descompro-
missada com problemas que afetam o povo são
principalmente “os amigos dos subversivos”, os
ratos.

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2
O tempo acaba o ano, o mês e a hora,
A força, a arte, a manha, a fortaleza,
O tempo acaba a fama e a riqueza,
O tempo o mesmo tempo de si chora.

O tempo busca, e acaba o onde mora


Qualquer ingratidão, qualquer dureza,
Mas não pode acabar minha tristeza,
Enquanto não quiserdes vós, senhora.

O tempo o claro dia torna escuro,


E o mais ledo prazer em choro triste,
O tempo a tempestade em grã bonança.

Mas de abrandar o tempo estou seguro


O peito de diamante, onde consiste
A pena e o prazer desta esperança.
(Luís de Camões, 20 sonetos. Campinas: Editora da Unicamp, 2018,
p. 121.)
a) Identifique quatro antíteses poéticas constitutivas do
núcleo temático desse soneto.
b) Esse soneto de Camões defende uma tese em seu
percurso argumentativo. Apresente essa tese e explique
as partes que constituem o percurso argumentativo do
poema.
Resolução
a) São antíteses poéticas constitutivas do núcleo
temático desse soneto os pares: “claro” e “escuro”
(verso 9); “ledo prazer” e “choro triste” (verso
10), “tempestade” e “grã bonança” (verso 11),
“pena” e “prazer” (verso 14).
b) A tese defendida no soneto de Camões é a de que
o tempo destrói tudo. A progressão argumentativa
exemplifica essa tese: “O tempo acaba o ano, o
mês e a hora” (verso 1), “O tempo acaba a fama e
a riqueza” (verso 3), “O tempo busca e acaba o
onde mora” (verso 5). Há, porém, apenas uma
ressalva nessa exemplificação, pois os versos “mas
não pode acabar minha tristeza, / enquanto não
quiserdes vós, senhora” (versos 7 e 8) indicam que
a tristeza do eu lírico não cessará com o tempo,
mas o eu poemático tem esperanças de que a
passagem dos dias abrande o “peito de diamante”
de sua amada e, assim, ela o aceite.

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3
“Quando o batel alcançou a boca do rio já estavam ali 18
ou 20 homens pardos, todos nus, sem nenhuma coisa que
lhes cobrisse suas vergonhas. Traziam arcos nas mãos e
suas flechas. Vinham todos rijos para o batel, mas Nicolau
Coelho lhes fez sinal para que pousassem os arcos e eles
os pousaram. Ali não pudemos entender a fala deles nem
os ouvir direito, por o mar quebrar na costa.”
(Pero Vaz de Caminha, Carta de achamento do Brasil. Campinas:
Editora da Unicamp, 2021, p. 64.)

“A primeira cena do contato, em que um imaginado ruído


do mar impede a audição, vai se replicar pelo restante da
carta, em que outros discursos indígenas, como a possante
oratória dos antigos tupi, serão ignorados, não compreen-
didos ou observados com perplexidade. Numa outra cena
da carta de Caminha, um ancião, visivelmente um líder
tupi, recepciona os viajantes com um discurso, encarado
com espanto por Pedro Álvares Cabral, que lhes vira as
costas e segue sua caminhada pela ‘nova terra’.”
(Adaptado de Sheila Hue, Pero Vaz de Caminha, o ouro e as vozes
silenciadas dos indígenas. Disponível em
https://oglobo.globo.com/cultura/pero-vaz-de-
caminha-ouro-as-vozes-silenciadas-dos-indigenas-25155244.
Acessado em 16/08/2021.)
a) Identifique, na Carta de Pero Vaz de Caminha, dois
aspectos fundamentais do projeto colonizador portu-
guês. Explique esses aspectos.
b) Explique as duas cenas mencionadas na Carta de Ca-
minha, relacionando-as à situação atual dos povos
indígenas.
Resolução
a) O projeto colonizador português tinha como meta
principal a expansão imperialista na busca por
matérias-primas que fossem vendidas na Europa
com larga margem de lucro (mercantilismo),
incluindo-se, nesse projeto, a expansão territorial
de Portugal e o propósito de ampliação da fé cris-
tã. É evidente que, nessas expectativas, havia forte
interesse na exploração do território da nova terra
em busca de metais preciosos e do empreendi-
mento agrícola. Para isso, era necessário conquis-
tar também o indígena.
b) Na primeira cena destacada da Carta de Pero Vaz
de Caminha, os indígenas recepcionaram os nave-
gadores portugueses empunhando arcos e flechas
e em posição de rigidez física, o que indica a pre-
disposição de proteção diante do estranho recém-
chegado. Logo depois, atendendo ao pedido do
português Nicolau Coelho, os nativos baixaram
suas armas, numa demonstração de que enten-
diam não haver perigo; revelando, portanto, um

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comportamento amistoso, receptivo, mas também,
de certa forma, submisso às ordens de Nicolau
Coelho.
Na segunda cena, ressalta-se a falta de audição
entre os portugueses e os indígenas em decor-
rência do barulho das ondas do mar que impe-
diam os lusitanos de escutarem o que os nativos
diziam. No entanto, em outra ocasião, quando o
líder ancião tupi discursa recepcionando os
portugueses, Cabral não lhe dá atenção e vira-lhe
as costas. Essa atitude revela, portanto, desdém do
colonizador pelos índios.
A partir das duas cenas, pode-se aproximar a
situação vivenciada pelos nativos, em abril de
1500, à situação atual em que, por mais que os
indígenas procurem defender suas terras, cultura,
língua, os invasores, como por exemplo, o garimpo
ilegal, mais poderosos, mantêm a agressão, sub-
metendo-os à obediência, à dominação e ao exter-
mínio, sem lhes respeitarem os direitos e sem ouvir
as vozes indígenas, empurrando-os para espaços
que não condizem com as necessidades de quem
originalmente era o proprietário da terra, conde-
nando o indígena à perda da saúde, da integri-
dade, da aplicação das leis, tentando, assim,
destruir-lhes a identidade cultural e política.

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4
Leia, a seguir, um excerto do roteiro e a sinopse do filme
Saneamento Básico, o Filme (2007), com direção e
roteiro
de Jorge Furtado.

Texto 1 (Roteiro)
“CENA 21 – FÁBRICA
(...)
JOAQUIM (lendo): O monstro da fossa, roteiro de
Marina Marghera Figueiredo. Ah é?
MARINA: Com a colaboração de Joaquim Figueiredo.
JOAQUIM: Colaboração...
MARINA: Quem escreveu fui eu. Você só inventou a
história.
JOAQUIM: Tá bom. (lendo) Nossa história começa numa
pequena e tranquila comunidade ao pé de uma montanha.
Uma brisa refrescante traz do vale o aroma das corticeiras
em flor. (para de ler) Como é que você vai filmar isso?
MARINA: O quê?
JOAQUIM: O aroma das corticeiras em flor.
MARINA: Não vou filmar, quem vai filmar é o Fabrício.
JOAQUIM: E como o Fabrício vai filmar o aroma das
corticeiras em flor?
MARINA: Isso é só um roteiro. A Marcela disse que tem
que ter dez páginas, estou enrolando, só tenho três
páginas prontas. Não gostou? Escreve você! (...)”
(Disponível em:
http://www.casacinepoa.com.br/sites/default/files/saneam1.txt.
Acessado em 21/06/2021.)

Texto 2 (Sinopse)
“Moradores de uma pequena vila se juntam para pleitear
a construção de uma estação de tratamento de esgoto.
Para conseguir o dinheiro, eles precisam fazer um filme
de ficção.”
(Disponível em: https://globoplay.globo.com/saneamento-basico-o-
filme/t/fcDXBmQBH1. Acessado em 21/06/2021.)
a) Considerando a função dos gêneros textuais roteiro
cinematográfico (texto 1) e sinopse (texto 2), cite duas
características que lhes são comuns e duas que os
diferenciam.
b) O uso da metalinguagem torna humorística a cena 21
do roteiro. Selecione dois trechos e explique, a partir
deles, como o humor é produzido.
Resolução
a) O roteiro é uma descrição detalhada de como as
cenas serão desenvolvidas. Já a sinopse expõe a
síntese do filme já pronto, para que o público tome

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conhecimento do enredo e se interesse por ele.
Além da função informativa, ambos têm em
comum a temática — fazer um filme de ficção —
e a presença de personagens — “Joaquim”,
“Maria” e “moradores”.
Quanto às diferenças, tem-se, no roteiro, a
discussão de como certas cenas serão filmadas, ou
seja, descreve-se minuciosamente o cenário, como
as personagens vão atuar etc., detalhes que apa-
recem no diálogo entre moradores. Já na sinopse,
há apenas um resumo do enredo, sem a presença
de diálogo e tantos dados — o que a faz mais
curta. Outra diferença é que, no roteiro, as
personagens discutem como o filme será rodado,
ou seja, há metalinguagem com a produção de um
filme dentro do filme. Já a sinopse, ao focar na
complicação narrativa do enredo, apenas divulga
o filme, objetivando o interesse do público.
b) O humor metalinguístico aparece na discussão
sobre como filmar o aroma das flores (“Como é
que você vai filmar isso?”), pois um filme é
incapaz de transmitir uma percepção olfativa. Isso
causa irritação na personagem Marina, que, para
se justificar, afirma que “Isso é só um roteiro”, ou
seja, não é o filme definitivo.

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5
A imagem e o excerto abaixo foram extraídos do livro do
artista plástico Mulambö.

Texto 1

Queria um pincel me deram


uma vassoura
Pintura sobre vassoura, 2018.
0,30m x 1,40m

Texto 2
“Através da ideia de referências e tudo mais, penso na
minha figura como força. Um corpo periférico sorrindo e
criando é inspiração porque crescemos sem saber que é
possível. (...)
No começo do meu trabalho, eu não tive referências de
artistas negros, suburbanos ou qualquer outro tipo de
coisa que dialogasse comigo. Nossas mãos são
normalmente relacionadas a trabalhos braçais,
subalternos e tudo mais, então eu sempre procurei mostrar
meus braços fazendo os trabalhos. Não no sentido de
valorizar o precário, romantizar o processo e blá blá blá,
a ideia era justamente o contrário, sabe? Mostrar que para
aquele trabalho acontecer tive que catar madeira na rua,
porque não tinha dinheiro pra tela. (...).
Sou Mulambö e sou João.
Meu trabalho somos nós, mesmo que eu seja um só.”
(Fonte: Mulambö. Mulambö – o livro. Edição do autor, 2020, pp.
28-30.)
a) Qual o significado da expressão “blá blá blá”? Ex-
plique o sentido que essa escolha lexical assume nesse
texto.
b) O texto 1 traz a reprodução da obra Queria um pincel
me deram uma vassoura. Relacione a obra e seu título
com a ideia de “escassez de referências” de que o
artista fala no texto 2.
Resolução
a) “Blá blá blá” é uma onomatopeia que significa
“conversa ou conteúdo sem relevância”, que, no
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texto, foi empregada pelo autor para ironizar o
excesso de informação acadêmica sobre a elabo-
ração artística, discurso distante da sua realidade
de artista de periferia.
b) O título da obra “Queria um pincel me deram
uma vassoura” pode ser analisado em dois as-
pectos. O primeiro, “Queria um pincel”, diz
respeito ao ímpeto artístico do autor que não
encontrava correspondência na realidade, uma
vez que ele não tinha referências de outros artistas
como ele (negros, suburbanos ou que dialogassem
consigo). O segundo, “me deram uma vassoura”,
pode ser associado aos trabalhos braçais ofertados
com frequência ao grupo social dos negros, meta-
forizados na imagem da vassoura. Além disso,
relaciona-se à forma como ele conseguiu sustentar
o seu trabalho artístico (tive que catar madeira na
rua) no começo de sua carreira, subvertendo o
“braçal” em “obra de arte”.

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6
Numa questão da 1.a Fase do vestibular Unicamp 2022,
você leu que, na tradição dos povos indígenas, todo
conhecimento de plantas, de cura, de mitos e narrativas é
produzido de maneira oral, transmitido por seus anciãos
e anciãs; deste modo, tal conhecimento precisa ser
registrado e mantido pelos jovens. Leia, agora, o texto a
seguir:
Em junho de 2020, o pesquisador Fernando Cespedes
transformou sua tese de doutorado (USP-2019) em
podcast para levá-la a um público mais amplo. “É muito
importante criar um ambiente sonoro de alta-fidelidade e
que faça o ouvinte mergulhar nos sons, porque a ideia é
recriar uma experiência de contação de histórias”,
explica. Assim como o texto escrito, os sons são
elementos narrativos, e tanto o ritmo quanto o desenho
de som são essenciais para revelar o ser-sonoro e captar
a atenção do ouvinte.
“A escuta nos obriga a reconhecer tudo o que está ao
redor, já que ela não reconhece barreiras”, reflete o
pesquisador. E aponta a dominação histórica da visão, no
mundo europeu, como responsável por isolar e
transformar em objeto tudo que está fora. “Não há
pálpebras nos ouvidos. Então, o principal ganho de
cultivarmos uma relação mais sonora com o mundo é nos
aproximarmos e nos incluirmos nele, abandonarmos a
ideia de um mundo externo, fora de nós. Foi essa noção
de um mundo externo – que pode ser domado ou
conquistado – que guiou o colonialismo e a pior face do
capitalismo. Não é à toa que sociedades nas quais a escuta
é elemento central são mais sustentáveis e integradas aos
seus ambientes.”
(Adaptado de Luiz Prado, Podcasts revelam como a música cria o
mundo e a humanidade. Jornal da USP, 31/08/2020.)
a) Considerando o primeiro parágrafo do texto, cite uma
proposta que poderia contribuir para a conservação da
memória das narrativas dos povos indígenas e
justifique sua resposta.
b) Indique dois ganhos e duas perdas em nossas relações
com os mundos sonoros e visuais, mencionados no
segundo parágrafo.
Resolução
a) Uma proposta que contribuiria para a conser-
vação da cultura dos povos indígenas seria a gra-
vação, tanto na língua original quanto em
português, de suas narrativas tradicionais. Essas
gravações, feitas pelos próprios jovens das tribos,
asseguraria a conservação e a disseminação dessas
culturas além de “revelar o ser-sonoro e captar a
atenção do ouvinte”. Com isso, pode-se alcançar
também a valorização dessas culturas pelos não
indígenas por meio da transmissão dessas gra-
vações.
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b) O mundo visual apenas registra o recorte que o
observador acha relevante da realidade ao seu
redor, levando ao isolamento dessa realidade,
transformando-a em objeto. Esse olhar, segundo
o autor, “guiou o colonialismo e a pior face do
capitalismo”.
Já os mundos sonoros, em que ocorre a escuta do
outro, conduzem o ouvinte à aproximação com o
outro e a inclusão do enunciador nessa narrativa
sonora. Para o autor, essa relação mais sonora
produz sociedades “mais sustentáveis e integradas
aos seus ambientes”.

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7
7. Em julho de 2021, a atriz e youtuber Antônia Fon-
tenelle fez um comentário sobre o DJ Ivis, preso por
agredir sua ex-mulher, Pamella Holanda. Ao se posicionar
contra as agressões, Fontenelle disse:

Criticada por celebridades da Paraíba, como o cantor


Chico César e a ex-BBB Juliette, pelo uso da expressão
preconceituosa “esses paraíbas”, Fontenelle tentou se
explicar, afirmando, em outro tweet, se tratar de uma
força de expressão: “Paraíba eu me refiro a quem faz
paraibada, pode ser ele sulista, pode ser ele nordestino,
pode ser ele o que for”. Em seguida, recebeu novas
críticas:

a) Por que a explicação de Fontenelle continuou sendo


preconceituosa? Reescreva a primeira frase do primei-
ro tweet, desfazendo o preconceito enunciado por ela.
b) Explique o jogo de palavras no tweet de Chico César a
partir do tweet de Juliette. Em seguida, explique a
característica atribuída ao termo “paraíba” pelo artista.
Resolução
a) A explicação de Fontenelle continua preconcei-
tuosa, pois relaciona uma característica negativa a
uma origem ou localidade. O sufixo “-ada”, pre-
sente em “paraibada”, tem sentido pejorativo (o
mesmo de “trapalhada”, por exemplo), o que
reafirma o preconceito de Fontenelle em relação à
Paraíba e à maneira dos paraibanos agirem.
Reescrevendo a primeira frase do tweet, desfazen-
do o preconceito, tem-se:
As pessoas fazem um pouquinho de sucesso e
acham que podem tudo.
b) O jogo de palavras está em “força de expressão” e
“expressão de força”.
“Força de expressão” significa expressão exagera-
da, estereotipada para qualificar algo ou alguém,
geralmente difundida e aceita pela maioria, o que
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condiz com a expressão “paraibada”, criticada
por Chico César. O elogio feito pelo cantor com o
uso da “expressão de força” remete positivamente
aos paraibanos, como capacidade de realização,
poder, energia.

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8
O excerto a seguir é da música Ismália, do artista
Emicida, e é cantada no documentário AmarElo – é tudo
pra ontem. O trecho remete à chacina de Costa Barros,
no Rio de Janeiro, em 2016. Em participação especial,
Fernanda Montenegro declama o poema Ismália, de
Alphonsus de Guimaraens (1870-1894), inserido na
música do rapper.
Emicida:
Cinco vida interrompida
Moleques de ouro e bronze
Tiros e tiros e tiros
O menino levou 111
Quem disparou usava farda (Ismália)
Quem te acusou nem lá num tava
(Ismália)
É a desunião dos preto junto à visão
sagaz (Ismália)
De quem tem tudo, menos cor,
onde a cor importa demais

Fernanda Montenegro:
“Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.

No sonho em que se perdeu,


Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...

E, num desvario seu,


Na torre, pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...

E, como um anjo pendeu


As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...

As asas que Deus lhe deu


Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar..."
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Emicida:
Olhei no espelho, Ícaro* me encarou:
"Cuidado, não voa tão perto do sol
Eles num guenta te ver livre,
imagina te ver rei"
O abutre quer te ver no lixo pra dizer:
"Ó, num falei?!"

No fim das conta é tudo Ismália, Ismália


Ismália, Ismália
Ismália, Ismália
Quis tocar o céu, mas terminou no chão
Ter pele escura é ser Ismália, Ismália
Ismália, Ismália
Ismália, Ismália
Quis tocar o céu, mas terminou no chão
(Terminou no chão)
*No mito grego, Ícaro e Dédalo ficaram presos num labirinto,
então construíram asas artificiais com cera e penas para fugirem
voando. Dédalo alertou o filho para não voar perto do Sol, pois
a cera poderia derreter; nem perto do mar, o que deixaria suas
asas pesadas, fazendo-o cair. Ícaro não ouviu o conselho do pai
e morreu no mar.

a) Quem são as “Ismálias” na música de Emicida?


Transcreva dois versos desse rap que justifiquem a sua
resposta.
b) O excerto traz imagens simbólicas do voo. Explique o
conselho de Ícaro na música, considerando o poema
declamado e a denúncia de Emicida nesse rap.
Resolução
a) No texto de Emicida, as “Ismálias”, que ousam
voar e, por isso, morrem, são os pretos pobres de
periferia. Comprovam essa identificação as
passagens “ter pele escura é ser Ismália, Ismália”
e “Quis tocar o céu, mas terminou no chão”. No
primeiro exemplo, a pele escura é fator de
punição; no segundo, há intertextualidade com a
morte de Ismália do poema de Alphonsus de
Guimaraens, morreu, “terminou no chão”.
b) Ícaro, na letra de Emicida, a partir de sua
experiência e tomando o destino, como exemplo,
de Ismália, dá o seguinte conselho: não queira
voar, isto é, sair de uma posição submissa e
impositiva, pois a consequência é a morte. No
contexto do rap de Emicida, essa advertência deve
ser entendida como um aviso de que o preto não
deveria buscar ascensão socioecônomica num
status quo racista que não superou ainda a discri-
minação étnica, de base escravagista. Esse esforço
para o homem negro é, no texto, uma loucura, voo
de Ícaro, tem consequência trágica: a morte.
Trata-se, portanto, de uma crítica à desigualdade
étnica e social.
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INGLÊS

9
In May 2021, the International Society for Stem Cell
Research released new guidelines that relaxed the 14-day
rule, an international consensus that human embryos
should be cultured and grown in the lab only until 14 days
postfertilization. The change allows scientists, in
countries where it is legal, to seek permission to continue
research beyond this point. Roughly between days 14 and
22, the embryo enters gastrulation. Studying later stages
would allow scientists to better understand the nearly one-
third of pregnancy losses and numerous congenital
disabilities thought to be triggered at these points in
development.

Implantation
Sperm Egg

Blastocyst

Bilaminar disc Gastrulation

Amniotic
cavity

Yolk sac
Primitive
streak
Ectoderm
Mesoderm
Endoderm

Lifting the limit


So far, researchers have been able to study human
embryos until 14 days of development, which is about a
week after they would usually implant into the womb.
With the limit lifted, researchers are permitted to explore
what happens next.
(Adaptado de The future of lab-grown embryos - 03 set 2021;
Nature News – https://www.nature.com/articles/d41586-021-02400-1.
Acessado em 16/09/2021.)

As respostas devem ser apresentadas em português.


a) Explique o que é a regra dos 14 dias. De acordo com o
texto, que mudança essa regra sofreu recentemente e
quais são os seus impactos?
b) Considerando as informações do texto e a figura dos
estágios iniciais da embriogênese humana, qual é o
período aproximado da implantação do embrião e onde
ela ocorre? Qual é a importância da gastrulação na
embriogênese?

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Resolução
a) Trata-se de um consenso internacional segundo o
qual os embriões humanos deveriam ser
cultivados e desenvolvidos em laboratorio somente
até 14 dias pós-fertilização. A mudança permite
que os cientistas, nos países onde o estudo é
legalizado, busquem permissão para continuar a
pesquisa além desse período. Essa mudança
permite o estudo do embrião na fase de gastru-
lação, na qual seria possível aos cientistas
compreender melhor a causa de aproximada-
mente um terço dos abortos espontâneos e
numerosas deficiências congênitas que poderiam
ser causadas nesses pontos do desenvolvimento
embrionário.
b) Segundo o texto, o período aproximado da
implantação do embrião ou nidação é de 7 dias e
ocorre na parede do endométrio do útero.
Nessa fase de gastrulação ocorre a diferenciação
dos primeiros tecidos embrionários ( ectoderma e
mesentoderma), a formação do intestino primitivo
(arquênteron) e a formação do blastóporo, que nos
equinodermas e nos cordados irá originar o ânus.
(animais deuterostômios).

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10
Leia o texto a seguir e responda, em português, às
perguntas.

The Genocide Convention was the first human rights


treaty adopted by the United Nations in December 1948
and marked the international community’s commitment
to ‘never again’ after the atrocities committed during the
Second World War. According to the document, genocide
is a crime that can take place both in time of war as well
as in time of peace. According to Article II of the
Convention, “genocide means any of the following acts
committed with intent to destroy, in whole or in part, a
national, ethnical, racial or religious group, as such:
• Killing members of the group;
• Causing serious bodily or mental harm to members of
the group;
• Deliberately inflicting on the group conditions of life
calculated to bring about its physical destruction;
• Imposing measures intended to prevent births within
the group;
• Forcibly transferring children of the group to another
group.”
(Adaptado de https://www.un.org/en/genocideprevention/genocide-
convention.shtml. Acessado em 17/09/2021.)

a) Por que a adoção do documento é significativa para a


história? Cite e explique o acontecimento histórico que
levou à criação desse documento.
b) Além do assassinato de membros de um grupo
específico, cite outro ato que, segundo o Artigo II da
convenção, caracteriza o genocídio. Em seguida, cite e
contextualize um crime de genocídio – ocorrido após
a adoção da Convenção – oficialmente reconhecido
pela ONU.
Resolução
a) [I] A Convenção das Nações Unidas para a
Prevenção e Repressão do Crime de
Genocídio foi marco na defesa dos direitos da
pessoa humana – sobretudo das minorias e
de grupos insurretos.
O estabelecimento desta Convenção foi
motivado pelo holocausto judaico – pelo
genocídio que vitimou milhões de indivíduos
durante a vigência das Leis Nuremberg na
porção da Europa ocupada pela Alemanha
sob regime nazista.

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b) Segundo o artigo II da Convenção, são atos
considerados genocídio: dano grave à integridade
física ou mental de membros de um determinado
grupo; submissão intencional do grupo a con-
dições de existência que lhe ocasione destruição
física total ou parcial; medidas destinadas a
impedir os nascimentos no seio do grupo;
transferência forçada de menores do grupo para
outro.
Embora a Convenção tenha sido adotada pela
maior parte dos membros da ONU – Organização
das Nações Unidas –, a prática de genocídio não
foi extinta. Eventos com esta tipificação penal
ocorreram – após a entrada em vigor da
Convenção, em 1951 – como por exemplo: o
Genocício dos tutsi, em 1994, Ruanda, quando
grupos da etnia hutu promoveram o assassinato
de membros da etnia tutsi, principalmente; o
genocídio bósnio, 1995, promovido pelo governo
sérvio contra população bósnia muçulmana, na
Bósnia-Herzegovina (ex-integrante da Iugoslávia),
a fim de realizar uma “limpeza étnica”,
massacrando milhares de indivíduos; genocídio
dos rohingyas, em 2016, que consistiu numa forte
repressão à minoria rohingya – muçulmana – pelo
governo de Mianmar, que resultou em milhares de
mortos e de deslocados.

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