Location via proxy:   [ UP ]  
[Report a bug]   [Manage cookies]                

Trabalho Final Acústica

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 14

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

ESCOLA DE ENGENHARIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA MECÂNICA
ENG09015 ­ ACÚSTICA APLICADA

Condicionamento e Isolamento Acústico de um Quarto de Hospital

Brunna Nichele de Moura


Eduardo Luís Bergmüller
Gustavo Zeni
Jean Michel Fortes dos Santos

Professora Letícia Fleck Fadel Miguel


letffm@ufrgs.br

Porto Alegre, Junho de 2015.


1. INTRODUÇÃO

A adequada conjugação dos fatores acústicos em relação ao ambiente


permite projetar locais seguros, confortáveis e eficientes.
“Não importa o tipo de trabalho, ele exige no mínimo um local e esse local é
um elemento essencial da situação de trabalho. É a qualidade desse local que
estabelecerá os símbolos funcionais e estéticos que dialogarão constantemente
com seus ocupante” (LAUTIER, 1999 apud MORAES, 2004).

2. DESCRIÇÃO DO AMBIENTE

A proposta deste trabalho é adequar acusticamente um quarto de hospital


(Figura 2.1), tanto na defesa contra os ruídos alheios ao local ­ isolamento acústico
­ quanto no controle de sons no recinto ­ condicionamento acústico. O quarto
localiza­se próximo a uma via com tráfego de veículos motorizados (o nível de
pressão sonora no exterior, tomado pelo nível de ruído médio da via, é de 79 dB), é
compartilhado por duas pessoas e é contíguo a outro quarto, com o qual se
comunica por meio de tubulações de equipamentos hospitalares que atravessam a
parede. Em vista disso, o projeto se fundamentará em princípios básicos de
isolamento acústico, para impedir a intromissão dos ruídos externos e garantir
estanqueidade sonora em relação aos demais recintos do hospital, e de
condicionamento acústico, para criar uma sonoridade agradável dentro do quarto.
Dimensões:
Área: 4 m x 3,5 m = 14 m²
Pé Direito = 3 m
Volume: 14 m x 3 m = 42 m³
Janela: 1,5 m x 1,5 m = 2,25 m²
Portas: 1 m x 2,5 m = 2,5 m²

Figura 2.1 ­​
Planta baixa do quarto de hospital em estudo neste trabalho.

3. NÍVEIS DE CONFORTO ACÚSTICO

A Tabela 3.1 mostra os níveis de ruído para conforto acústico recomendados


pela NBR 10152 e medidos conforme a NBR 10151. Os valores de dB(A)
representam os níveis sonoros aceitáveis para as respectivas finalidades e os
valores de NC representam os níveis sonoros de conforto, sendo esses últimos
considerados para o projeto do quarto de hospital (30 a 40 dB).

Tabela 3.1 ­​
valores de dB(A) e NC segundo a NBR 10152.

4. CONDICIONAMENTO ACÚSTICO

4.1 Coeficientes de Absorção

Para o cálculo do tempo de reverberação do recinto, os valores dos


coeficientes de absorção médios (para 500 Hz) de cada material presente no quarto
utilizados encontram­se na Tabela 4.1.

Tabela 4.1 ­​
Coeficientes de absorção médios para 500 Hz.
Material α​
i

Forro ( fibra mineral 0,6


removível Armstrong
modelo Bioguard
Acoustic [1])

Parede externa (reboco 0,02


liso [4])

Paredes internas 0,08


(chapas de gesso
acartonado, de 9,5 mm,
sem furos na frente,
espaço de 50 mm,
preenchido de lã mineral
[4])

Piso (linóleo [4]) 0.03


Janela 0.10

Porta (madeira [4]) 0,06

Cama 0.35

Pessoas [4] 0,4

4.2 Cálculo das Áreas e Volume

As áreas relativas a cada superfície, encontram­se na Tabela 4.2.

Tabela 4.2 ­​
Cálculo das áreas das superfícies.
Superfície Cálculo Área (Si) [m²]

Forro 4*3,5 14

Parede externa 3*2 6

Paredes internas 3*(4+4+3,5­1) 31.5

Piso 4*3,5 14

Janela 1,5*1,5 2,25

Porta 1*2,5 2,5

Cama ­ 2 (n° de camas)

Pessoas ­ 2 (n° de pessoas)

O volume total do ambiente é calculado por:

V t = 14 * 3 = 42 m³ (4.1)

4.3 Cálculo da Absorção

O cálculo da absorção é feito através da Equação 4.2 apresentada a seguir e


dos dados da Tabela 4.1 e Tabela 4.2.

Ai = Si * αi (4.2)
Os valores de absorção calculados para as diferentes superfícies
encontram­se na Tabela 4.3.

Tabela 4.3 –​
Valores de absorção para as diferentes superfícies do recinto
estudado.

Superfície Absorção (Ai) [Sabine]

Forro 8,4

Parede externa 0,12

Paredes internas 2,52

Piso 0,42

Janela 0,225

Porta 0,15

Cama 0,7

Pessoas 0,8

Total (A) 13,34

4.4 Tempo de Reverberação

O tempo de reverberação é calculado através da equação de Sabine


(Equação 4.3).

T = 0.161 * (V t/A) (3.3)

O que resulta em um tempo de reverberação de 0,51 segundos.

4.5 NBR 12179/1992

Para saber se o tempo de reverberação calculado pela equação 4.3 é ideal


para o ambiente em análise, utiliza­se a Figura 4.1 retirada da norma NBR
12179/1992, que indica os valores máximos e mínimos de tempo de reverberação
para diferentes ambientes em função do seu volume.
Figura 4.1 ­​
Gráfico com os limites máximos e mínimos de tempo de
reverberação segundo a norma NBR 12179/1992. Os pontos em vermelho indicam
a situação do ambiente em estudo.

Comparando­se o tempo de reverberação do ambiente, calculado pela


equação 4.3 e os valores recomendados pela norma NBR 12179/1992 (Figura 4.1),
percebe­se que o ambiente possui um tempo de reverberação adequado. Além
disso, como valor calculado encontra­se próximo ao valor médio estipulado pela
norma pode­se garantir que pequenas alterações no ambiente não irão desqualificar
o condicionamento acústico do local.

5. ISOLAMENTO ACÚSTICO

5.1 Em Relação à Via Pública

A fim de avaliar o desempenho do local em relação ao isolamento acústico, é


conveniente determinar a perda por transmissão na parede que se comunica com a
via, onde está a janela. O cálculo da perda por transmissão foi feito considerando
que o local esteja com a janela fechada. Sabendo que a janela tem esquadria de
alumínio, e, considerando a frequência de 500 Hz, calculou­se, primeiramente, a
perda por transmissão pela parede de alvenaria que possui as dimensões e
propriedades apresentadas na Tabela 5.1.
Tabela 5.1 ­​
Propriedades e dimensões da parede de alvenaria (tijolo maciço)
utilizada no quarto em estudo.
Densidade ­ ρ 1930 kg/m³

Espessura ­ e 20 cm

Módulo de elasticidade ­ E 2.60E+10 N/m²

Coeficiente de Poisson 0,18

Coeficiente de amortecimento ­ η 0,02

Calculou­se, então, a frequência crítica através da equação:

(5.1)

63733,5 ρ(1−ν²)
fc = e E

obtendo­se uma frequência crítica de 85,40 Hz. Em seguida, calculou­se a massa


específica da parede em kg/m²:

m = ρe (5.2)

o que resultou em uma massa específica de 460 kg/m², podendo­se considerar que
trata­se de uma parede pesada. Com esse valor, determinou­se o índice de redução
no intervalo de 20 Hz (limiar da audição humana) e fc/2 através da equação:

R = 20log(mf) − 48 (5.3)

Os valores de R obtidos para f = 20 Hz e f = fc/2 foram 31,28 dB e 37,86 dB,


respectivamente. Então, calculou­se o valor de f1 pela equação:

log(fc)−0,33log(η)−0,267
f 1 = 10 (5.4)

obtendo­se um valor de f1 de 167,93 Hz, sendo que o valor de R(f1) é o mesmo de


R(fc/2).
Para valores de frequência superiores a f1, como é o caso da frequência de
500 Hz, para a qual deseja­se obter o índice de redução acústica, utilizou­se a
equação a seguir:

η
R = 20log(mf) + 10log( fc ) − 45 (5.5)

resultando em um R para a frequência de 500 Hz de 53 dB.

Com esse valor e a utilização dados de padrão de perda por transmissão de


materiais comuns de construção civil, calculou­se a perda por transmissão da
parede externa do quarto pela equação 5.6.

(5.6)

A Tabela 5.2, a seguir, mostra as propriedades da parede e o cálculo da


perda por transmissão:

Tabela 5.2 ­​
propriedades e cálculo da perda por transmissão da parede
externa do ambiente em estudo.
Componentes Ri [dB] Si [m²]

Parede 53 199526,23 8,25 0,000041

Janela 27 501,18 2,25 0,00448

Σ 10,50 0,00452

Valor de R: 33,66 dB

5.2 Em Relação às Áreas Internas do Hospital

Sabendo que as paredes internas divisórias do quarto são compostas por


duas chapas de gesso acartonado de 9,5 mm de espessura com isolamento feito
com lã de vidro com espessura de 50 mm entre elas, considerando a frequência de
500 Hz, utilizou­se a Equação 5.6 para calcular a perda por transmissão nas
paredes internas.

5.2.1 Parede que divide o quarto em estudo de outro quarto

A perda por transmissão da parede de drywall utilizada como divisória entre


os ambientes internos do hospital foi obtida através de informações tabeladas de
fabricantes. Como não foi possível encontrar informações referentes à espessura do
gesso cartonado utilizado, fez­se uma aproximação através da extrapolação de
valores encontrados para outras espessuras de parede porém de mesmo material.
A perda por transmissão da parede que divide o quarto com outro quarto do hospital
é de 41 dB. Vale observar que a abertura na parede para passagem de tubulações
está bem isolada com revestimento acústico de borracha sintética, material
recomendado para isolamento de tubulações evitando vazamentos acústicos por
falta de estanqueidade.

5.2.2 Parede que divide o quarto e o corredor

A Tabela 5.3 mostra as propriedades da parede e da porta e o cálculo da


perda por transmissão:

Tabela 5.3 ­​
Cálculo da perda por transmissão da parede que divide o quarto e o
corredor do hospital.
Componentes Ri [dB] Si [m²]

Parede 41 12589,25 8 0,00063

Porta 31 1258,92 2,5 0,0019

Σ 10,5 0,00253

Valor de R: 36,18 dB

5.2.3 Parede que divide o quarto e o banheiro

A Tabela 5.4 mostra as propriedades da parede e da porta e o cálculo da


perda por transmissão:

Tabela 5.4 ­​
Cálculo da perda por transmissão da parede que divide o quarto e o
banheiro.
Componentes Ri [dB] Si [m²]

Parede 41 12589,25 9,5 0,00075

Porta 31 1258,92 2,5 0,0019

Σ 12 0,00265

Valor de R: 36,55 dB

6. BARREIRAS ACÚSTICAS

Em virtude de que o ambiente em estudo trata­se de um quarto de hospital


compartilhado realizou­se um estudo de melhoria na qualidade acústica do local
através da utilização de uma barreira acústica. Essa barreira localiza­se entre as
duas camas do quarto, aumentando a privacidade dos pacientes, não apenas
acusticamente, mas também servindo como uma barreira visual.
A barreira utilizada possui dimensões de 1 m de largura e altura de 3 m. Ou
seja, a barreira cobre toda a dimensão vertical do ambiente e se estende a partir da
parede em que se localizam as cabeceiras das camas até o início da janela. Assim,
ao mesmo tempo que a barreira proporciona privacidade, não diminui a qualidade
da iluminação natural do ambiente.
A atenuação sonora devido à presença da barreira, considerando fontes
sonoras pontuais, é calculada a partir da equação:

√2πN
Ab = 20 * log(tanh(1,77 ), (6.1)
*√2πN )

sendo N o número de Fresnel, dado por:

N = 2λ (d1 + d2 − d) , (6.2)

sendo λ o comprimento de onda ( λ = c/f), onde c é a velocidade do som (340 m/s) e


f a frequência e d1, d2 e d são representados na Figura 6.1.
Figura 6.1 ­​
Distâncias utilizadas no cálculo de barreiras acústicas finas.

Para os cálculos, considera­se que tanto a fonte sonora quanto o receptor


encontram­se localizados no travesseiro das camas que representa a localização
das cabeças dos indivíduos que ocupam o quarto (Figura 6.2).

d=3m
d1 = d2 = 1,68 m

Figura 6.2 ­​
Distâncias utilizadas no cálculo de barreiras acústicas do
ambiente em estudo.

Assim, tem­se, para diferentes frequências, os seguintes valores de


atenuação (Tabela 6.1):
Tabela 6.1 ­​
Atenuação sonora para diferentes frequências devido à barreira
acústica.
f [Hz] 63 125 250 500 1000 2000 4000 8000

N 0,13 0,26 0,52 1,04 2,08 4,17 8,33 1,66

Ab [dB] 4,86 7,33 10,18 13,16 16,17 19,18 20,00 20,00

Como trata­se de atenuação da voz humana (~500 Hz), considera­se, então,


que a atenuação devido a presença da barreira acústica será, na maior parte do
tempo, de 13,16 dB.
Porém, como o ambiente em estudo é pequeno, e a barreira utilizada
consiste em uma barreira acústica interior, a atenuação sonora também depende de
outros fatores como, por exemplo as características absorventes das outras
superfícies perto da barreira, que podem re­dirigir a energia para a zona de sombra
da barreira. Ou seja, a atenuação calculada é valida apenas como uma estimativa
já que não leva em conta o efeito dos raios refletidos em outras superfícies. Uma
estimativa melhor da atenuação necessita de um estudo mais elaborado e
possivelmente de medições de níveis de pressão sonora obtidos a partir de testes
práticos no ambiente, o que está além do escopo deste trabalho.

7. CONCLUSÕES

A partir das recomendações especificadas na norma NBR 10152 e com as


medições especificadas na norma NBR 10151, projetou­se, para um hospital
localizado em uma via de tráfego moderado (79 dB), um quarto que respeita os
limites de NPS de 30 dB a 40 dB.
Com os cálculos apresentados neste trabalho mostrou­se que uma parede de
alvenaria com espessura de 20 cm e uma janela de vidro simples com esquadria de
alumínio provocam perda por transmissão necessária para que o ruido externo seja
amenizado a níveis especificados no interior do quarto, assim como as paredes de
drywall ​também são suficientes para amenizar o ruído interior entre os demais
cômodos. Também foi verificado o tempo de reverberação no interior do ambiente,
estando este de acordo com a norma 12179/1992 e sendo de 0,51 segundos. A
atenuação sonora produzida pela barreira acústica de 1m largura por 3m de
comprimento foi de 13,16 dB, sendo considerada suficiente para produzir certa
privacidade entre os pacientes.
8. REFERÊNCIAS

[1] Armstrong Brasil. Forros Acústicos. [Catálogo digital]. Disponível em


http://www.armstrong­brasil.com.br/.

[2] Isover. Wallfelt ­ Isolação para Sistemas de Construção à Seco. [Catálogo


digital]. Disponível em http://www.placo.com.br/.

[3] Losso, M. e Viveiros, E.; Gesso Acartonado e Isolamento Acústico: Teoria


versus Prática no Brasil, I Conferência Latino­Americana de Construção
Sustentável, X Encontro Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído, 2004.

Tópicos de Acústica Aplicada​


[4] Miguel, L.F.F, Tamagna, A. ​ , 2007.

Você também pode gostar