Ebook MRIONLINE He Lio e Supercondutividade Na RM
Ebook MRIONLINE He Lio e Supercondutividade Na RM
Ebook MRIONLINE He Lio e Supercondutividade Na RM
Patrocínio
e-Books MRIONLINE©
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, distribuída ou transmitida por
qualquer forma ou por qualquer meio, incluindo fotocópia, gravação ou outros métodos eletrônicos ou mecânicos,
sem a prévia autorização por escrito do editor, exceto no caso de breves citações incluídas em revisões críticas e
alguns outros usos não-comerciais permitidos pela lei de direitos autorais.
CNPJ: 28.896.807/0001-73
Av. Montenegro 163 sala 802
Porto Alegre - RS
CEP 90460-160
mri@mrionline.com.br
www.mrionline.com.br
Página ! 2
Patrocínio
Agradecemos a empresa Air Products e seus colaboradores por tornarem possível a criação e
distribuição deste eBook.
Clique no link abaixo e saiba mais sobre a atuação da AirProducts em Diagnóstico por Imagem!
http://www.airproducts.com.br/
Página ! 3
Sumário
Página ! 4
Imagem por Ressonância Magnética
A Imagem por Ressonância Magnética (IRM ou, simplesmente, RM) é, resumidamente, o resultado da
interação do forte campo magnético produzido pelo equipamento com os prótons de hidrogênio do tecido humano,
criando uma condição para que possamos enviar um pulso de radiofrequência e, após, coletar a radiofrequência
modificada, através de uma bobina ou antena receptora. Este sinal coletado é processado e convertido numa imagem
ou informação.
Produzir um campo magnético alto e homogêneo é fundamental em RM e sem hélio e supercondutividade não
teríamos conseguido avançar até aqui.
Boa leitura!
Alessandro A. Mazzola
Página ! 5
Como gerar um alto campo magnético?
Um campo magnético pode ser gerado por
um material como um imã (natural ou
artificial) ou pela passagem de corrente
elétrica por um fio.
Passar corrente elétrica por um enrolamento de fios (uma bobina) é uma forma fácil de, não só gerar um campo
magnético relativamente alto, mas também controlável. Ou seja, é possível aumentar, diminuir e até mesmo desligar
o campo magnético.
O problema é o que chamamos de resistência elétrica. Na passagem da corrente elétrica por um fio ocorre
resistência a essa passagem e, como efeito, o fio aquece. Ou seja, é difícil elevar o valor da corrente elétrica, e por
Página ! 6
consequência o campo magnético, pois a intensidade da corrente combinada com a resistência pode fazer com que o
fio fique incandescente, como ocorre com aquecedores de inverno.
Os primeiros magnetos usados para RM eram na verdade espectrômetros de Ressonância Magnética Nuclear usados
para análise bioquímica que possuíam um eletromagneto resistivo.
Página ! 7
Outro pioneiro da RM e que dividiu o Prêmio Nobel de 2003 com Lauterbur, o físico britânico Sir Peter
Mansfield, usou, juntamente com outros membros do seu grupo da Universidade de Nottingham, um espectrômetro
com magneto resistivo que operava a 15 MHz e possuía somente espaço para amostras de 1,5 a 2,0 cm de diâmetro.
Quando demonstraram a obtenção de imagens de RM pela chamada técnica de Line Scanning tiveram que usar
o dedo de Andrew Maudsley, que era mais fino que o dos demais do grupo.
Página ! 8
Mas qual é o problema com o uso de magnetos
resistivos?
Para que se tenha um intensidade de campo magnético maior usando
magnetos resistivos é preciso aumentar a corrente elétrica e o número de
enrolamentos.
Porém, por haver resistência à passagem da corrente elétrica, o fio aquece e impede que uma mesma corrente
circule por um tempo maior ou que essa corrente aumente.
Os magnetos resistivos para uso em exames de RM de corpo inteiro necessitam alto fornecimento de energia
elétrica e refrigeração a água. O limite de campo magnético usando magnetos resistivos para exames de RM é de
aproximadamente 0,2 T devido a estas questões térmicas.
Para aumentar a intensidade do campo magnético seria preciso então fazer uso da chamada
supercondutividade, como veremos a seguir.
Página ! 9
Supercondutividade
O fenômeno da supercondutividade foi observado pela primeira vez em 1911, em Leiden, Holanda, por Heike
Kamerling Onnes. Três anos antes, a equipe por ele liderada havia obtido a liquefação do gás hélio, que ocorre a 4,2K,
ou, aproximadamente -268,8 ºC. Baseado nisso, Onnes dedicou-se ao estudo das propriedades elétricas dos metais
em temperaturas muito baixas, empregando o hélio líquido como refrigerante.
A supercondutividade é uma propriedade de certos metais, ligas e cerâmicas onde a sua resistência elétrica cai a
zero quando a temperatura é reduzida abaixo de um valor crítico, valor esse conhecido como temperatura de
transição. Em outros materiais elétricos a resistência diminui a medida que a temperatura cai, mas nunca desaparece
por completo. Nos supercondutores a resistência é realmente zero.
https://www.youtube.com/watch?v=vbc6NcfGau4
Página ! 10
Magnetos e tipos de magnetos
O tipo mais comum de magneto em RM atualmente é o supercondutor!
A função básica do magneto é gerar um campo magnético alto e homogêneo na região em que a parte
anatômica será posicionada. A forma de gerar o campo magnético define os tipos de magnetos que existem hoje:
1. Magnetos Permanentes;
Uma divisão em relação ao design criou uma nomenclatura não muito correta que vem sendo aplicada pelo
mercado: aberto e fechado. O sistema fechado de RM na verdade não é fechado, pois se caracteriza por um cilindro
oco, aberto nas duas extremidades, em que o paciente é posicionado dentro deste cilindro na sua região central, o
também chamado isocentro. O equipamento aberto é assim chamado, pois oferece maior comodidade ao paciente,
uma vez que as partes laterais são abertas ou semiabertas permitindo uma menor sensação de confinamento e
reduzindo assim a claustrofobia.
Página ! 11
Tipos de magnetos
Magnetos Permanentes
São constituídos de imãs permanentes e oferecem
como vantagem a não utilização de energia elétrica e a
configuração aberta. Alguns fabricantes adotam a
construção na forma de um “C”, o que permite ao
paciente acesso facilitado, sensação de maior espaço e
conforto. Entretanto, os magnetos permanentes não
conseguem atingir valores altos de campo magnético,
ficando reduzidos a menos de 0,5T. Alguns marca-passos,
neuro estimuladores e outros equipamentos podem ir
Fonte: www.mriquestions para a sala de exames, mas a regra é: não entra até ser
muito bem avaliado e liberado!
Eletromagnetos
Os eletromagnetos são constituídos por enrolamentos de fios (bobinas) onde a passagem de corrente elétrica
irá produzir o campo magnético. A passagem de corrente elétrica pode ocorrer com a presença da resistência elétrica
(magnetos resistivos) ou com o uso do fenômeno da supercondutividade (magnetos supercondutores)
Página ! 12
Magnetos Resistivos
Este tipo de magneto está praticamente extinto do mercado de equipamento de RM para formação de imagem,
pois o campo magnético irá ser gerado pela passagem de corrente elétrica pelo conjunto de bobinas de forma clássica,
ou seja, com a presença constante da resistência elétrica. Assim, é possível desligar o campo magnético quando não
há exames e religá-lo conforme a necessidade. A desvantagem é o alto consumo de energia elétrica para manter o
campo magnético e a limitação quanto a intensidade do campo magnético produzido. Uma vez que o fio oferece
resistência a passagem de corrente elétrica, a produção de calor é inevitável e, consequentemente, somente valores
baixos de campos (até cerca de 0,3T) são possíveis. Também possuem homogeneidade de campo reduzida e
necessitam ser refrigerados a água. A massa destes magnetos também pode exceder 10.000 kg.
Magnetos Supercondutores
São eletromagnetos compostos de enrolamentos quilométricos de fio de uma liga de nióbio-titânio que,
mergulhados em hélio líquido (criogênico) a uma temperatura próxima do zero absoluto (-273 ºC ou zero kelvin), não
irão oferecer resistência elétrica, atingindo a chamada supercondutividade e, assim, podem produzir um campo
magnético alto, sem a geração de calor e sem custo relacionado a consumo elétrico. Neste tipo de magneto, é critico o
controle dos sistemas relacionados a temperatura, pressão e quantidade de hélio no interior do magneto para que não
ocorra o aumento da temperatura interna. Esse aumento de temperatura elevaria a taxa de evaporação do hélio
(conhecida como boiloff) e poderia chegar ao ponto crítico de resultar no apagamento do campo magnético, o
chamado quenching.
Apesar do custo de produção e comercialização mais alto e a maior necessidade de controle durante sua
operação, os magnetos supercondutores são os mais utilizados no mercado por sua possibilidade de atingir o valores
de campo magnético superiores a 1,5T, sob aspectos clínicos, permite o uso pleno da tecnologia e dos recurso de RM.
Página ! 13
É importante destacar que uma das principais
características de qualidade dos magnetos é a chamada
uniformidade ou homogeneidade do campo magnético.
Um alto grau de homogeneidade corresponde a
pequenas variações no valor do campo magnético e, por
conseqüência, no valor da freqüência de precessão dos
spins.
Página ! 14
taxa de evaporação de aproximadamente 0,4 litros de hélio por
hora, necessitando assim de reabastecimento de hélio líquido a cada
4 a 5 meses e recarga de nitrogênio a cada uma ou duas semanas.
A parte externa do criostato, assim como a parte interna e externa do chamado helium vessel, ou receptáculo
de hélio, são compostos de material não ferromagnético. As paredes da câmara de vácuo são construídas de aço
inoxidável ou de um polímero de vidro reforçado. As blindagens frias possuem espessuras da ordem de 3 a 10 mm e
Página ! 15
são feitas de materiais de baixa emissividade térmica e alta condutividade térmica, como é o caso do alumínio.
O primeiro magneto supercondutor feito na década de 1980 possuía duas câmaras criogênicas: uma mais
interna contendo hélio líquido e outra mais externa contendo nitrogênio líquido. Nesse equipamento, o nitrogênio
Página ! 16
tinha que ser reposto semanalmente e o hélio quase que mensalmente. Na década de 1990, os magnetos já usavam
somente hélio e os reabastecimentos com uma periodicidade maior.
A partir dos anos 2000, passaram a ser usados sistemas de refrigeração do magneto bem mais avançados que
reduziam muito o consumo de hélio (taxa de boil-off), fazendo com que as recargas passassem a ser feitas somente
após alguns anos. Esses sistemas passaram a ser chamados de zero boil-off (ZBO) ou taxa de evaporação zero.
Fonte: Cosmus, Thomas C., and Michael Parizh. “Advances in Whole-Body MRI
Magnets.” IEEE Transactions on Applied Superconductivity, vol. 21, no. 3, 2011, pp.
2104–2109., doi:10.1109/tasc.2010.2084981.
Importante salientar que o consumo é zero se tudo estiver funcionando muito bem e sob controle, além de
condições externas estáveis como fornecimento de energia elétrica e funcionamento da unidade de água gelada
(chiller). Infelizmente quando ocorre desgates de algumas peças do chamado cold head ou do compressor e o
magneto e refrigeração precisam de manutenção, um consumo de hélio passa a ocorrer e muitas vezes é necessário
realizar um reabastecimento.
Página ! 17
Hélio
É o segundo elemento químico da
tabela periódica, com símbolo He
e número atômico igual a 2. A
palavra hélio vem do grego Helios
e significa Sol.
Características
Não possui cheiro, sabor, cor, não é tóxico, é
inerte e faz parte do conjunto de gases nobres da
tabela periódica. Seu ponto de ebulição é o mais
baixo de todos os elementos.
Página ! 18
Algumas observações interessantes sobre o hélio:
• Formado pelo decaimento radioativo de elementos pesados na crosta terrestre (urânio e tório);
• A grande maioria se dissipa na atmosfera onde a concentração de hélio é de ~ 0,001%;
• Separação do ar não é comercialmente viável;
• Apenas encontrado em certos campos de gás natural;
• Onde os gases se formam juntos e cobertos por rocha impermeável;
• Gás natural contendo 0,1% de hélio ou mais já é considerado "rico em hélio“;
https://www.youtube.com/watch?v=svPnGRFrvZw
Página ! 19
Hélio Liquido
Ao contrário de qualquer outro elemento, o hélio irá permanecer liquido mesmo atingindo o zero absoluto em
pressão normal. Este é um efeito direto da mecânica quântica, especificamente o zero de energia do sistema é tão alto
que não permite o congelamento.
Histórico
Foi detectado como uma linha espectral amarela numa observação de um eclipse solar em 1868 por Georges
Rayet, Captain C. T. Haig, Norman R. Pogson e Lieutenant John Hershel. As observações foram posteriormente
confirmadas pelo astrônomo francês Jules Janssen.
A descoberta formal do elemento foi feita em 1895 por dois químicos suecos, Per Teodor Clave e Nils Abraham
Langlet, que encontraram o hélio emanando de minérios de urânio.
Em 1903, grandes reservas de hélio foram encontradas nos Estados Unidos, mais precisamente em Dexter,
Kansas, durante escavações em busca de petróleo.
Durante a perfuração do solo, em 1903, na cidade de Dexter, Kansas, um geiser de gás que não pegava fogo
surgiu e o gás foi coletado pelo geólogo Erasmus Haworth e analisado na Universidade do Kansas como sendo
composto por 72% de nitrogênio, 15% de metano, 1% de hidrogênio e 12% de uma gás não definido. Com uma análise
mais especifica foi descoberto que havia 1,84% de hélio na amostra. Isso mostrou que, apesar de raro na Terra, ele
poderia ser extraído como um subproduto do gás natural.
Página ! 20
De onde o hélio é extraído hoje?
Durante muitos anos os Estados Unidos
representaram mais de 90% do hélio comercialmente
disponível no mundo, enquanto países como Canada,
Polônia, Russia e outras nações produziam o restante.
Desde 2012, a Reserva Nacional de Hélio nos Estados Unidos é responsável por 30% do hélio mundial.
Apesar disso, um projeto de lei proposto no Senado dos Estados Unidos permitiria que a reserva continuasse a
vender o gás. Outras grandes reservas ficavam no Hugoton, no Kansas, nos Estados Unidos, e nas proximidades de
Página ! 21
campos de gás do Kansas e nos limites do Texas e Oklahoma. Novas usinas de hélio foram programadas para abrir
em 2012 no Catar, na Rússia e no estado norte americano de Wyoming, mas não se esperava que diminuíssem a
escassez. Em 2013, o Qatar iniciou a maior unidade de hélio do mundo, embora a crise diplomática de 2017 no Catar
tenha afetado gravemente a produção de hélio no país. 2014 foi amplamente reconhecido como um ano de excesso de
oferta no negócio de hélio, após anos de renomada escassez.
Página ! 22
Riscos
Inalar o hélio pode ser perigoso se ocorre em excesso, não por ele ser tóxico, mas devido a possibilidade dele
substituir o oxigênio necessário para a respiração normal. Mortes já foram registradas, incluindo um jovem sufocado
em Vancouver em 2003 e dois adultos que morreram sufocados no sul da Flórida em 2006. Em 1998, uma menina
australiana (sua idade não é conhecida) de Victoria ficou inconsciente e temporariamente ficou azul depois de inalar
todo o conteúdo de um balão de festa. A inalação de hélio diretamente de cilindros pressurizados, ou mesmo de
válvulas de enchimento de balão, é extremamente perigosa, pois a alta taxa de fluxo e a pressão podem resultar em
barotrauma, rompendo fatalmente o tecido pulmonar.
Os problemas de segurança do hélio criogênico são semelhantes aos do nitrogênio líquido; suas temperaturas
extremamente baixas podem resultar em queimaduras a frio e a taxa de expansão líquido-a-gás pode causar
explosões se nenhum dispositivo de alívio de pressão for instalado. Recipientes de gás hélio a 5 a 10 K devem ser
manuseados como se contivessem hélio líquido devido à expansão térmica rápida e significativa que ocorre quando o
gás hélio a menos de 10 K é aquecido à temperatura ambiente.
Página ! 23
Como já comentamos, o magneto, em condições normais de operação, possui uma quantidade significativa de
hélio líquido em seu interior, usualmente de algumas centenas de litros, mantendo a bobina supercondutora em uma
temperatura de aproximadamente -269ºC. Em uma situação típica de uso, estas temperaturas se mantém isoladas no
interior do magneto, sem serem percebidas ou apresentarem qualquer efeito do lado externo do magneto que possa
ser percebido pelos pacientes ou pessoal técnico de operação da RM. No entanto, em algumas situações especiais,
como durante um reabastecimento do magneto com hélio líquido ou na eventualidade de um quench, uma parte
significativa do hélio líquido, ou mesmo gasoso, mas ainda assim muito gelado, irá entrar em contato com as partes
metálicas da torre do magneto, e do quench tube, até ser liberada sem riscos na forma gasosa para a atmosfera.
Durante esta trajetória, as partes metálicas envolvidas atingem temperaturas baixíssimas, próximas a temperatura do
hélio líquido (aprox. -269ºC).
O risco de enriquecimento de oxigênio passa a existir a partir do momento que o ar ambiente entra em contato
com estas superfícies “super geladas”, provocando a liquefação do oxigênio (aprox. -183ºC). Veja que isso é bem fácil
de ocorrer com o hélio líquido usado na RM. Teremos assim o gotejamento de oxigênio líquido, concentrado e
altamente reativo das tubulações do magneto, podendo resultar em combustão expontânea quando em contato com
diversos materiais ou substâncias.
Um segundo fator ainda importante, é o fato do oxigênio ao ser liquefeito sofrer uma contração de mais de 500
vezes em seu volume, sendo assim, mais ar ambiente será sugado para o interior da sala do magneto, e por
conseguinte, liquefeito. O oxigênio líquido gotejante irá formar poças que fervem por efeito da temperatura
ambiente, podendo enriquecer a concentração de oxigênio na sala a níveis perigosos, tanto para a respiração humana,
quanto pela facilitação de combustão expontânea e o aumento da propagação de chamas de um eventual incêndio.
Explica-se aí o fato de que é proibido abrir fogo com isqueiros ou assemelhados, ou mesmo conduzir chamas, nos
ambientes próximos à trabalhos com criogenia que envolvam ou possam a vir à produzir oxigênio líquido.
Página ! 24
O hélio evapora no
interior do magneto?
Uma parte do hélio líquido acaba virando gás
no interior do criostato, fazendo com que a pressão
aumente, como pode ser visto na figura ao lado. Para
voltar a liquefazer o hélio é preciso resfriar o gás,
senão, a pressão se tornará cada vez mais alta e
poderá abrir válvulas de segurança que jogarão o gás
para fora (dentro da sala de exame ou através do
chamado tubo de quench). Se este processo
continuar, uma grande quantidade de gás hélio será
colocada fora, baixando o nível de hélio líquido no
interior do magneto.
Página ! 25
Então o magneto consome hélio?
Sim e não. Na verdade, nos magnetos modernos é possível ficar anos sem que seja necessária uma recarga de
hélio. Porém, se algum problema ocorrer com o sistema de refrigeração do magneto, por exemplo, por uma falta
prolongada de energia elétrica, uma quantidade maior de hélio liquido irá virar gás e a pressão interna irá subir,
abrindo as válvulas de segurança.
Em algumas situações específicas também pode ser necessário baixar o campo de forma controlada para fazer
alguma manutenção pelo fabricante. Um exemplo, é o processo de refazer o homogeneização de campo magnético
principal, o chamado shimming passivo, e a troca de alguma peça ferromagnética, como o motor de movimentação
da mesa.
Nesse processo de descida e subida do campo, alguns bons litros de hélio podem ser perdidos, levando a uma
redução de 5% a 15% no nível de hélio. Nestas situações é comum o fabricante só realizar este tipo de manutenção se
houver um nível superior a 70% de hélio líquido no magneto, ou de acordo com a especificação mínima do
equipamento.
Na troca de cold head e no seu mau funcionamento, ou mesmo ao parar de funcionar, também pode ocorrer
perdas de hélio que elevam o consumo.
Página ! 26
Partes do sistema de refrigeração
A figura ao lado é uma composição das principais partes do
sistema de refrigeração do magneto supercondutor e é possível
visualizar as seguintes partes principais::
• Compressor;
• Cold Head.
Fonte: www.mriquestions.com
Página ! 27
Compressor
Como o próprio nome já diz, serve para comprimir o
gás hélio a alta pressão que será levado através da linha de
gás hélio ultra puro até o cold head.
Página ! 28
Cabe destacar que o hélio é utilizado como um “gás refrigerante” no circuito compressor ao cold head, participando
apenas do processo de resfriamento, sem contudo nunca se misturar ao conteúdo de hélio líquido e gasoso do interior
do magneto. Vazamentos na linha podem levar a perda do gás hélio e redução na eficiência de trabalho do cold head.
O processo de repressurização exige que o serviço de RM adquira gás hélio ultra puro, tipicamente comercializados
em cilindros de alta pressão (torpedos).
https://www.youtube.com/watch?v=sRpAagV48NQ
Cold Head
A função do cold head é de manter estável o magneto em relação a temperatura interna e condensar o hélio que
virou gás em líquido novamente. Ao entrar numa sala de exames de RM que não esteja adquirindo imagens,
reconhecemos o funcionamento do cold head pelo seu ruído característico (veja o vídeo acima).
Página ! 29
O que é importante controlar no
sistema de refrigeração e no
magneto?
O primeiro item a ser controlado diariamente
pela área técnica é o % de hélio do magneto.
Página ! 30
Riscos quando hélio está abaixo de 50% no
magneto
Todo magneto possui um nível mínimo de preenchimento com hélio liquido para operação, de acordo com o
fabricante. Salvo informações específicas do fabricante, níveis abaixo de 50% devem ser evitados.
Portanto, não deixe o nível do seu magneto sem controle e com menos de 60% para que, assim, você possa ter
tempo de acionar o fabricante ou fornecedor de hélio líquido.
Página ! 31
Quench ou extinção do campo magnético
A palavra quench significa apagar ou extinguir. Ou seja, se refere ao processo de
extinção do campo magnético.
Página ! 32
Um pequena bobina ligada a um circuito independente no magneto pode servir para aquecer a bobina
supercondutora e dar início ao processo de extinção do campo magnético: o chamado quenching!
Normalmente os circuitos de quench podem ser acionados da sala de comando, da sala de exames ou mesmo da
sala técnica.
Estes circuitos também possuem redundância, pois caso não exista fornecimento de energia pela rede elétrica
da instituição, eles possuem uma bateria para acionar o circuito. A bateria é outro item que precisa ser
periodicamente revisado. Verificar se a sua carga está de acordo com as
especificações da cada fabricante e caso esteja abaixo, precisa ser
substituída.
Acidente com cilindro de oxigênio ferromagnético na India em 2014 e falha no circuito de quench do magneto.
Fonte: https://mumbaimirror.indiatimes.com/mumbai/cover-story/Two-stuck-to-MRI-machine-for-4-hrs/articleshow/45103043.cms?
prtpage=1
Página ! 33
Quem, como e quando acionar o botão de quench?
O botão de quench deve ser acionado sempre que o campo magnético principal estiver colocando em risco a
vida de uma pessoa. Desta forma, o acionamento irá acontecer quando um acidente com material ferromagnético
estiver prensando ou ferindo algum paciente, colaborador ou mesmo uma pessoa do público..
É importante comentar que os bombeiros ou brigadistas que farão o combate de um incêndio necessitam entrar
em todas as salas da instituição, seja para combater as chamas, fazer resgates e procurar pessoas, ou mesmo para o
rescaldo e perícia pós incêndio. Desta forma, membros da equipe de RM devem orientar os bombeiros quanto a
possibilidade do campo ainda estar ativo, ou mesmo, da forma de realizar o quench para ter mais liberdade de ação e
não correr riscos de acidentes secundários ao incêndio.
Os seguintes cuidados tem que ser tomados antes de apertar o botão, se for possível:
1. Deixar a porta aberta da sala de exames, pois mesmo havendo o tubo quench para conduzir o gás hélio para fora
da sala, a rápida expansão do hélio no interior do magneto pode deslocar o tubo quench fazendo com que o gás
Página ! 34
acabe saindo em parte, ou na sua totalidade, para dentro da sala de
exames. Ele irá rapidamente substituir o ar ambiente e poderá levar as
pessoas a morrer por asfixia;
2. Pedir que todos evacuem o setor, a não ser que exista necessidade de
auxílio direto a um acidente em curso;
5. Avisar o mais breve possível ao fabricante para que ele tome as medidas Quench e saída do tubo no telhado.
necessárias para proteger o magneto e não deixar que ele aqueça pela Apesar do hélio ser incolor, a fumaça
perda de todo o hélio, ou mesmo que entre umidade para dentro do branca se forma pela baixa temperatura
do gás em contato com o ar atmosférico
magneto formado gelo no criostato. (condensação)
Infelizmente pode! São os chamados quenchs de modo persistente ou modo permanente. Alguns fatores
podem levar a isso. Em geral são fatores que levam a instabilidade do supercondutor especificamente ou do magneto
como um todo: uma descarga elétrica provocada por uma tempestade, uma instabilidade da energia elétrica,
formação de gelo no interior do magneto, instabilidade térmica repetitiva, acomodação mecânica de partes internas,
etc. Uma vez que, pela própria física dos supercondutores, os quenchs espontâneos não podem ser completamente
erradicados, os fabricantes se ocupam em melhorar o projeto dos magnetos no sentido de minimizar o numero de
ocorrências, além de minimizar as chances de dano ao magneto durante o evento de um quench.
Página ! 35
Tubo de Quench
O tubo quench é um item de segurança muito importante,
pois será o responsável por impedir que o gás hélio se expanda
para dentro da sala de exames ou de todo o setor de RM.
Lembrando que o risco é a substituição do ar ambiente pelo hélio,
levando a morte por asfixia.
Página ! 36
Uma sinalização pode ser colocada na saída do tubo quench avisando que este não seja obstruído ou mesmo
alterado sob risco de segurança.
• Ser posicionada de forma a não permitir entrada de chuva, sob risco da água danificar não só o magneto e a
gaiola de faraday da sala de exames (blindagem de radiofrequência), mas também a prevenir que não se forme
gelo no seu interior, gerando risco de explosão em caso de bloqueio;
• Estar numa altura acima do telhado ou do piso de forma que não seja acessível pela livre circulação de pessoas;
• Estar coberto por uma tela com aberturas pequenas de forma que previna a entrada de pássaros e outros
animais, ou mesmo folhas, sob risco de bloqueio no momento de um quench.
Página ! 37
Custa muito caro um quench?
Sim! Muito caro!!!
Como os magnetos possuem, em geral, cerca de 1000 a 2000 litros de hélio e o custo do litro de hélio líquido
nunca é menor que U$ 20,00, a perda total desse volume irá incorrer num gasto de U$ 20.000,00 a U$ 40.000,00,
sem considerar outras despesas de transporte, consultoria técnica e horas de equipamento parado para exames.
Página ! 38
Reabastecimento de hélio liquido em RM
O reabastecimento de hélio líquido de um magneto em RM é um processo que exige várias etapas. Em cada
etapa alguns pontos importantes podem ser destacados para que tudo ocorra da melhor forma possível.
Solicitação ao fornecedor de hélio líquido e gasoso O pedido de orçamento de forma antecipada, assim como a informação do % de hélio presente
no magneto ajudam a estabelecer uma correta programação e previsão de entrega.
Transporte Terrestre Realizado em caminhão próprio, com motorista treinado e preparado para este fim, irá
Chegada do Caminhão Verificar acessos, local de estacionamento e terreno ajudam a empresa fornecedora a fazer com
que o dewar e cilindros cheguem da melhor forma até o setor de RM.
Transporte do Dewar para o Interior do Serviço É importante verificar as dimensões do dewar e das portas e corredores de acesso, pois pode
ser necessário usar dewars menores para acesso em elevadores ou para passar em portas.
Técnico em Criogenia Todo o processo de reabastecimento tem que ser feito por uma pessoa capacitada da empresa
fornecedora do hélio.
Transferência para o Magneto Durante o processo de abastecimento, todos os cuidados de segurança devem ser revisados e
só devem permanecer na sala de exames e no setor de RM pessoas essenciais a atividade de
reabastecimento.
Verificações de Segurança, Funcionamento e Parâmetros do De forma prévia, durante e após o abastecimento, além das verificações de segurança, devem
Magneto e Criogenia ser mantidos registros dos parâmetros do magneto e sistema de refrigeração e criogênia.
Relatórios de Serviço Um relatório detalhado do reabastecimento deverá ser entregue pela empresa para o
responsável da instituição, demonstrando o nível inicial e final de % de hélio no magneto,
parâmetros do magneto etc.
Página ! 39
Dewars
Os cilindros de gás também tem que ser transportados com cuidado e usando o carrinho de transporte apropriado.
Página ! 40
Gás hélio e o processo de transferência
Um sifão de transferência precisa ser inserido no dewar e este precisa ser pressurizado para
que o hélio liquido vá, pelo sifão e pela linha de preenchimento, até o magneto. No magneto
existe a chamada torre de serviço para que, através dela, o técnico de criogenia possa inserir o
outro sifão.
A colocação do sifão na torre do magneto exige que exista uma altura suficiente na sala, sendo
este um aspecto construtivo importante da sala de exames de RM que deve ser observado ainda
no projeto.
Página ! 41
Se as superfícies externas das linhas e sifões de transferência do quench tube,
torre de serviços ou de outros equipamentos atingirem a temperatura de criogenia,
o ar no entorno irá se condensar e existe risco de enriquecimento de oxigênio.
Em 2015, durante a retirada de um magneto de um hospital veterinário em New Jersey, EUA, ocorreu a
explosão do magneto e feriu três trabalhadores que estavam no local. Eles estavam retirando o magneto para a futura
substituição por outro mais novo.
Fonte: https://www.dailymail.co.uk/news/article-2983440/One-man-fighting-
life-two-injured-MRI-machine-exploion-New-Jersey-animal-hospital.html
Página ! 42
Neste outro vídeo, um magneto foi filmado do momento em que teve o vácuo rompido até explodir devido ao
aumento da pressão interna do gás hélio no criostato.
https://www.youtube.com/watch?v=SWnXJFAGk2Y
Página ! 43
Cuidados durante abastecimento e segurança
O hélio liquido se encontra numa temperatura de -269°C
dentro do dewar ou do magneto, desta forma alguns
cuidados muito importantes tem que ser observados:
✴ Riscos ao Sistema Respiratório: exposição das vias
respiratórias e dos pulmões ao gás hélio gelado pode
causar desconforto para respirar e até levar a um
processo asmático;
✴ Queimaduras e Congelamento: a baixa ou baixíssima
temperatura do gás hélio pode causar as chamadas
queimaduras frias e até mesmo o congelamento de
tecidos junto a partes do equipamento. A sensação de
dor pode ser mitigada pelo frio e, portanto, não ser
percebida. Desta forma, o uso de luvas de proteção é
obrigatório;
✴ Expansão do Gás: um litro de hélio líquido se expandirá para aproximadamente 738 litros de gás. Sendo assim, é
preciso cuidado com o ambiente de transporte e abastecimento dos dewars, conforme descreveremos no próximo
item
Página ! 44
Quench durante abastecimento
Segundo o Colégio Americano de Radiologia (ACR) na sua publicação sobre Segurança em RM em 2013 (vide
referências), a segurança quanto aos criogênicos deve ser observada sob os seguintes aspectos além do que já relatado
anteriormente:
✴ Os dewars não devem ser armazenados dentro do setor de RM ou mesmo em qualquer outra parte da instituição
sem que exista um local previamente planejado e aprovado para tal fim, levado em consideração os riscos de
pressão, temperatura e asfixia;
✴ As recargas de hélio só devem ser feitas por pessoal capacitado e não devem ser acompanhadas por mais pessoas
além do estritamente necessário, especialmente na zona IV (sala do magneto ou sala de exames), não somente
pelos riscos associados aos criogênicos, mas também devido a presença do forte campo magnético na sala de
exames;
✴ As salas de exames que possuam magnetos supercondutores devem estar equipadas como sistema de exaustão de
emergência posicionado no teto e no lado oposto ao da porta da sala de exames. Assim, num evento de quench o
exaustor irá retirar o gás hélio da região próxima da porta da sala de exames;
✴ A porta da sala de exames deve ser projetada para abrir para fora. Desta forma, num súbito aumento da pressão
interna da sala de exames devido a um quench onde o gás não conseguiu ser liberado pelo tubo quench e pelo
sistema de exaustão, a porta não ficará trancada pela pressão positiva dentro da sala de exames.
Página ! 45
Um dia teremos magnetos de RM que não utilizem
hélio líquido?
Não existe hoje um magneto supercondutor comercial para RM que não faça uso de hélio líquido para manter a
supercondutividade. Entretanto, todos os principais fabricantes de RM estão testando magnetos que possuem uma
quantidade bem reduzida de hélio líquido no seu interior, algo da ordem de 5 a 15 litros, ao invés dos 1000 a 2000
litros dos magnetos convencionais.
A empresa Philips lançou em 2018 um magneto chamado de BlueSeal, o qual já está disponível para venda. Ele
consiste de um criostato selado com tecnologia de micro resfriamento contendo somente 7 litros de hélio.
Magneto BlueSeal da Philips com somente 7 litros de hélio líquido. Clique no link abaixo para baixar um pdf sobre este novo magneto.
https://philipsproductcontent.blob.core.windows.net/assets/20180614/56eb178e89014309b41ea8ff00b19eba.pdf
Página ! 46
Curiosidade: você sabia que Iphones são alérgicos
ao hélio?
Os átomos de hélio podem causar estragos nos chips de silício MEMS. MEMS são sistemas
microeletromecânicos que são usados para giroscópios e acelerômetros em telefones, e os átomos de hélio são
pequenos o suficiente para atrapalhar o funcionamento desses sistemas.
Link:http://www.mrispins.com.br/2018/11/14/iphones-helio-e-rm/
Página ! 47
Referências
❖ Cosmus, Thomas C., and Michael Parizh. “Advances in Whole-Body MRI Magnets.” IEEE Transactions on Applied Superconductivity, vol. 21,
no. 3, 2011, pp. 2104–2109., doi:10.1109/tasc.2010.2084981.
❖ Mazzola, A.A. Protocolo de Testes de Aceitação em Equipamentos de Imagem por Ressonância Magnética. Radiol Bras 2005;38(3): 195-204.
❖ Kanal, Emanuel, A. James Barkovich, Charlotte Bell, James P. Borgstede, William G. Bradley, Jerry W. Froelich, J. Rod Gimbel, John W.
Gosbee, Ellisa Kuhni-Kaminski, Paul A. Larson, James W. Lester, John Nyenhuis, Daniel Joe Schaefer, Elizabeth A. Sebek, Jeffrey Weinreb,
Bruce L. Wilkoff, Terry O. Woods, Leonard Lucey, and Dina Hernandez. "ACR Guidance Document on MR Safe Practices: 2013." Journal of
Magnetic Resonance Imaging 37, no. 3 (01, 2013): 501-30.
❖ MHRA. Device Bulletin: Safety Guidelines for Magnetic Resonance Imaging Equipment in Clinical Use. 2007.
❖ MRI Working Group. Using MRI Safely: Practical Rules for Employees. 2008.
❖ MailOnline, Dan Bloom for. "Two Hospital Workers Spend FOUR HOURS Pinned to MRI Machine in India." Daily Mail Online. December 30,
2014. https://www.dailymail.co.uk/news/article-2890088/Two-hospital-workers-spend-FOUR-HOURS-pinned-MRI-machine-metal-
oxygen-tank-catapulted-room-device-s-giant-magnet-turned-on.html.
❖ Cosmos TC, Parizh M. Advances in whole-body MRI magnets. IEEE Trans ApplIed Superconductivity 2011: 21;2014-2019.
❖ Mansfield, Peter. The Long Road to Stockholm. A Story of MRI. An Autobiography. Oxford. 2013.
❖ https://www.mriquestions.com/superconductivity.html
Página ! 48