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Estudo Hermêutico - Daniel Holanda

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SEMINÁRIO PRESBITERIANO DO NORTE

BACHARELADO EM TEOLOGIA

ANTONIO DANIEL HOLANDA FERREIRA

HERMENÊUTICA 2

RECIFE
2023
ANTONIO DANIEL HOLANDA FERREIRA

HERMENÊUTICA 2: Estudo Hermenêutico

Trabalho apresentado como requisito


parcial para avaliação na disciplina de
Hermenêutica 2 do curso Bacharel em
Teologia no Seminário Presbiteriano
do Norte. Professor: Rev. Ms. Adilson.

RECIFE
2023
TEXTO (PERÍCOPE)

1 Coríntios 12:31; 13:1-13

³¹ Entretanto, procurai, com zelo, os melhores dons.


E eu passo a mostrar-vos ainda um caminho sobremodo excelente
¹ Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o
bronze que soa ou como o címbalo que retine.
² Ainda que eu tenha o dom de profetizar e conheça todos os mistérios e toda a
ciência; ainda que eu tenha tamanha fé, a ponto de transportar montes, se não tiver
amor, nada serei.
³ E ainda que eu distribua todos os meus bens entre os pobres e ainda que entregue o
meu próprio corpo para ser queimado, se não tiver amor, nada disso me aproveitará.
⁴ O amor é paciente, é benigno; o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se
ensoberbece,
⁵ não se conduz inconvenientemente, não procura os seus interesses, não se
exaspera, não se ressente do mal;
⁶ não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade;
⁷ tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
⁸ O amor jamais acaba; mas, havendo profecias, desaparecerão; havendo línguas,
cessarão; havendo ciência, passará;
⁹ porque, em parte, conhecemos e, em parte, profetizamos.
¹⁰ Quando, porém, vier o que é perfeito, então, o que é em parte será aniquilado.
¹¹ Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, pensava como
menino; quando cheguei a ser homem, desisti das coisas próprias de menino.
¹² Porque, agora, vemos como em espelho, obscuramente; então, veremos face a face.
Agora, conheço em parte; então, conhecerei como também sou conhecido.
¹³ Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três; porém o maior
destes é o amor.
HISTÓRIA

Contexto histórico e panorama cultural

Corinto era a capital de Acaia que abrangia a maior parte da Grécia e durante
as constantes guerras conseguiu resistir ao Império Persa, mas não conseguiu resistir
à invasão do Império Macedônico e sucumbiu, porém o pior veio a acontecer durante
as invasões do Império Romano, onde, na Batalha de Corinto, Roma não apenas
venceu a guerra, mas incendiou toda a cidade de Corinto, matou todos os homens, as
mulheres e crianças foram vendidas como escravos.
A antiga Corinto foi completamente devastada pelo romano L. Mummius
Achaicus em 146 aC No entanto, cerca de um século depois, a cidade foi ressuscitada
como uma colônia romana, e rapidamente recuperou grande parte de sua
grandiosidade anterior. Décadas depois, o imperador Júlio César autorizou a
reconstrução de Corinto transformando-a numa colônia de Roma e em uma das
principais e mais prósperas cidades romanas no leste do Mediterrâneo
Dado o status da colônia romana, os habitantes iniciais da nova cidade eram,
naturalmente, sintonizados com a cultura romana. Os gregos, por sua vez, sugerem
relutantes em se estabelecerem em grande número nesse local revitalizado. Esses
eventos marcaram uma fase significativa na história de Corinto, onde sua localização
estratégica e papel como centro comercial desempenharam um papel fundamental em
seu renascimento.
A recolonização foi feita por romanos e Corinto além de ter se tornado próspera
e importante, também uma das cidades com maior diversidade cultural contando com
as culturas grega e latina presentes ali. A cultura grega corintiana era conhecida por
sua promiscuidade sexual com cultos religiosos à Afrodite onde as sacerdotisas faziam
sexo no templo com os homens corintianos. Por se tornar uma rota comercial muito
importante no Meditrerrâneo, Corinto acabou intensificando a promiscuidade sexual e
prostituição. Este é o ambiente em que Paulo chegou para a plantação dessa primeira
Igreja em Corinto.
A cidade de Corinto ocupava uma posição geográfica estratégica. Essa
localização estratégica era a garantia de suas riquezas comerciais, pois os
comerciantes e navegadores preferiam enviar suas mercadorias através do istmo em
vez de arriscar-se em uma longa viagem contornando os cabos rochosos e
tempestuosos ao sul do Peloponeso. Era, portanto, um ponto de parada natural na rota
de Roma para o Oriente, sendo o ponto de convergência de diversas rotas comerciais.
A carta 1 Coríntios é uma carta paulina, ou seja, sua autoria é do Apóstolo
Paulo. De perseguidor da Igreja a maior de todos os apóstolos, Paulo escreve esta
carta que na verdade é a segunda, pois uma oura carta foi escrita pelo apóstolo, porém
considera-se que a primeira carta não existe mais. Portanto, o livro de 1 Coríntios é na
verdade a segunda carta que Paulo escreve a esta Igreja.
Paulo esteve em Corinto entre os anos 50 e 52 e permaneceu durante um
tempo se encontrando com Áquila e Priscila como está relatado em At. 18, 1. Neste
tempo, Paulo plantou uma Igreja de pessoas modestas como em 1 Co 1, 26, mas
Paulo se dirige para Éfeso um tempo depois e acredita-se que é no ano 56 que , de
Éfeso, Paulo escreve aos Coríntios.
Paulo que tinha formação judaica escreveu esta carta para corrigir esses
gentios que não viam problema em conviver com imoralidades sexuais e estavam
criando divisão na igreja com interpretação de uso de dons e talentos de forma a deixar
o culto desagradável a Deus.
Todos esses problemas chegaram até Paulo que estava em Éfeso, então a carta
de 1 Coríntios é escrita e relembro aqui o seguinte trecho:
“¹ Eu, porém, irmãos, não vos pude falar como a espirituais, e sim
como a carnais, como a crianças em Cristo.
² Leite vos dei a beber, não vos dei alimento sólido; porque ainda
não podíeis suportá-lo. Nem ainda agora podeis, porque ainda sois
carnais.
³ Porquanto, havendo entre vós ciúmes e contendas, não é assim
que sois carnais e andais segundo o homem?
⁴ Quando, pois, alguém diz: Eu sou de Paulo, e outro: Eu, de Apolo,
não é evidente que andais segundo os homens?” (1 Coríntios 3:1-4)
A cultura promiscua grega adentrou na Igreja que convivia com irmãos na qual
era sabido que estava se deitando com a esposa de seu pai, ou seja, sua madrasta.
Outros casos de relações conjugais feriam os valores morais de Deus.
Assim como no Brasil bradamos e nos exaltamos discutindo sobre nossos times
de Futebol, a vitória do São Paulo sobre seus rivais Palmeiras, Corinthians e na final o
Flamengo fazendo do São Paulo F.C. o campeão da Copa do Brasil 2023, assim eram
os gregos em relação aos seus pensadores filósofos: “Sou de Sócrates”, “sou de
Platão”, “sou de Aristóteles”. Na Igreja também se dividiram em “Eu sou de Apólo”, “Eu
sou de Paulo”, “Eu sou de Pedro” e a pior classe deles que se diziam “Eu sou de
Cristo”, mostrando sua face rebelde e insubmissa diante das autoridades da Igreja,
havia irmão processando outro no tribunal, os “fracos” na fé sendo escandalizados ao
comerem determinadas carnes.

LITERATURA

Cânon – Contexto maior da Escritura

A Igreja de Corinto parece ter sido agraciada com todos os dons do Espírito e de
fato estavam vivendo um momento de fervor espiritual, porém estavam criando uma
falsa doutrina de que o maior dom de todos era o dom de línguas. Além de Paulo já ter
tratado sobre os problemas acima citados, Paulo inicia o capítulo 12 chamando os
corintos, que assimilaram cultura grega e prezam pela sabedoria, de tolos. Talvez não
haja insulto maior para estes que misturavam filosofia grega com cristianismo pregando
o dualismo e que um conhecimento especial os fazia chegar a Deus. Estes são os
Gnósticos. Paulo tentará corrigir nos capítulos 11, 12, 13 e 14 tudo o que se refere a
problemas no culto. No capítulo anterior, Paulo tentará corrigir diversas práticas que
estão desconforme com a Palavra e enquanto redige aos coríntios nos deixa uma carta
que podemos aplica-la nos dias atuais. Paulo ensinou que o desprezo que sentiam
pelos dons que edificam o próximo como o dom da profecia, por exemplo e admoestou
aqueles que queriam introduzir no meio da Igreja uma falsa doutrina.
O apóstolo ensinará sobre a unidade do corpo de Cristo que o cabeça e que há
diversidade nos dons e que todos não podem desejar falar em línguas ao mesmo
tempo, pois um corpo assim formado por línguas seria uma grande bestializada língua.
Esses dons são doados por Deus conforme lhe apraz e devem ser usados para
edificação mútua e não para autopromoção como é o caso de dons que falam mais de
si mesmo do que pensa em edificar o próximo. É exatamente neste ponto que aponto
para um contexto canônico maior na história da redenção, pois Paulo inicia a perícope
escolhida para este trabalho dizendo que o amor é o maior dentre os dons espirituais e
era exatamente isso que faltava entre aqueles rebeldes da Igreja do Corinthians, digo,
dos coríntios. “Amar ao próximo como a ti mesmo” é o segundo maior mandamento e
era o que faltava àquela Igreja. O texto de 1 Coríntios 13 quando trata que “sem amor
nada serei” está se conectando com um ensinamento mais amplo sobre o amor
encontrado em outros livros da Bíblia, como os ensinamentos de Jesus registrados nos
Evangelhos e a ênfase em amar o próximo presente em todo o Novo Testamento. Essa
ênfase no amor como um princípio fundamental é uma característica central da
mensagem cristã porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho
amado. Paulo em 1 Co 13 aponta para essa parte da redenção.

Gênero literário da perícope

A Primeira Epístola aos Coríntios, que inclui o capítulo 13 sobre o amor,


pertence ao gênero literário conhecido como epístola. As epístolas são cartas escritas,
e no contexto da Bíblia, são cartas escritas por apóstolos ou líderes cristãos para
comunidades específicas ou indivíduos. As epístolas do Novo Testamento, como a de
Paulo aos Coríntios, muitas vezes abordam questões teológicas, éticas e pastorais,
fornecendo instruções e encorajamento aos destinatários.
O autor pode escrever seu texto num gênero como este que é epístola e se
utilizar de outros gêneros dentro do seu.

Linguagem

Análise do Discurso

Paulo ensina que embora os dons espirituais sejam preciosas dádivas de Deus
para a Sua Igreja, e devemos buscar os mais excelentes entre eles, há um caminho
ainda mais sublime: o caminho do amor. A igreja de Corinto havia momentaneamente
perdido de vista esse princípio vital. O amor, quando cultivado, tem o poder de
provocar reflexos profundos tanto na vida cotidiana quanto na liturgia da comunidade.
Apesar do zelo pela busca dos dons que consideravam os melhores, Paulo apresentar-
lhes-ia um caminho ainda mais excelente, aquele que é guiado pelo amor. O amor é
uma evidência verdadeira de crentes cheios do Espírito Santo, pois sem o amor o
crente pode ser contemplado com todos os dons mas nada será.
Devemos lembrar que “amor” neste capítulo, e até mesmo em todo o Novo
Testamento, não é um dom, mas fruto do Espírito. Paulo inicia montando uma estrutura
textual interessante usando uma figura de linguagem chamada Hipérbole que traz uma
ideia de exagero dando um exemplo padrão “falasse a língua dos homens” e um
exemplo exagerado “falasse a língua dos anjos”, um exemplo padrão “dom de
profetizar e um exemplo exagerado “conheça todos os mistérios e toda a ciência”. Essa
estrutura é fundamental para esclarecer que não existe o dom de línguas falado nos
dias de hoje de palavras com sílabas desconexas pelas igrejas pentecostais. Portanto,
língua dos anjos aqui nessa estrutura inicial do capítulo 13 não é real, mas sim uma
figura de linguagem.
Posteriormente, a partir do verso 4 Paulo passa a listará qualidades do amor
que contrastam com a vida da Igreja de Corinto. Nenhuma qualidade listada para o
amor está presente na vida da Igreja, mas eles tem todos os dons. Ao lermos as
qualificações que Paulo dá ao amor, o texto nos leva a refletir sobre como andava a
vida espiritual da Igreja de Corinto.
O amor jamais acaba, no fim, entre irmãos, não precisaremos mais da
esperança e a fé acabarão, mas o amor permanecerá.
E o perfeito que é tratado no final é uma discussão que leva a alguns caminhos
distintos. Alguns teólogos apresentam o perfeito como Cristo, outros como o Cânon.

Semântica – termos significativos e sentido das palavras

O que mais me chamou a atenção foi a estrutura dos três primeiros versos
sendo uma Anáfora, figura de linguagem que repete uma palavra ou expressão no
início de duas ou mais frases sucessivas e dentro dessa estrutura de Anáfora existe a
Hipérbole criando frases exageradas e o pior é que tem muitos enganados por aí que
fizeram uma teologia falsa em cima dessa estrutura paulina.
Outro ponto interessante que é necessário investigação mais aprofundada é
que parece que os versículos de 8 à 13 formam um “quiasmo” apontando que o
objetivo principal destes versos é proclamar que virá o perfeito e aniquilará a ignorância
a respeito do que é em parte.
Figuras de linguagem

“Ainda que”, “Ainda que”, “Ainda que” são expressões que iniciam os versos
de 1 – 3, portanto é classificado como uma figura de linguagem chamada Anáfora.
Paulo também usa dentro da Anáfora hipérbole como as expressões:
 “e dos anjos” (Lingua)
 “e conheça todos os mistérios e toda a ciência”
 “a ponto de transportar montes”
 “E ainda que eu distribua todos os meus bens entre os pobres e ainda que
entregue o meu próprio corpo para ser queimado.”

TEOLOGIA

Aplicação e Proclamação

Um tema teológico muito abordado em 1 Coríntios 13 refere-se a


Pneumatologia, a doutrina do Espírito Santo, quando aos três primeiros versos ser
estruturados para combater uma doutrina falsa de que existe língua dos anjos e que
cristãos da igreja de Corinto estavam buscando e criando uma teologia na qual o dom
de língua seria o dom superior acima de todos os outros deixando de lado até mesmo o
amor fraternal entre os irmãos. Expondo a falência da vida espiritual naquela igreja,
pois de acordo com Paulo eles nada são sem amor. Essa teologia equivocada da igreja
de Corinto fere a Pneumatologia no sentido de que nem todos devem buscar o mesmo
dom, mas que no momento em que ouvimos a pregação do evangelho da nossa
salvação o Espírito Santo nos batiza e nos enxerta no corpo de Cristo e junto com o
Espírito Santo, que vem habitar em nós, recebemos o dom do Espírito Santo nas quais
ou na qual aprouve a Deus decidir qual dom o indivíduo receberá para que haja
diversificação nos dons e para que tudo seja feito para edificação da Igreja. Levamos
em consideração também que há dons que podemos buscar e desenvolver na igreja
mas em regra geral o dom do Espírito é uma decisão de Deus sobre qual dom ele
conceder.
Outro ponto interessante é sobre o atributo comunicável de Deus: o amor, pois
não podemos amar uns aos outros com a perfeição como Deus ama seus filhos, mas
esse atributo é comunicado aos homens para que amamos uns aos outros e este é o
segundo maior mandamento de acordo com Cristo “ame o teu próximo como a ti
mesmo”, que é um resumo dos últimos seis mandamentos dentre os dez.
A igreja de Corinto havia abandonado essa prática tão básica na vida da igreja
e com a listagem de Paulo sobre o amor ser paciente, benigno, não ser ciumento, não
se ensoberbecer, não ser inconveniente, não ser interesseiro, não se alegrar com a
injustiça, não exagerar que é o que ele faz nos três primeiros versos com a hipérbole,
toda essa listagem aponta para tudo o que faltava na vida espiritual da igreja de
Corinto. O amor que é um atributo comunicável de Deus é tão importante que Paulo diz
que este não passará, mas a esperança e a fé passarão. e o amor permanecerá o
amor jamais acabará.
Outro ponto teológico interessante é sobre o conhecimento de Deus, na qual o
verso 9 apresenta que conhecemos em parte, pois o conhecimento de Deus nos
aproxima dEle cada vez mais e quanto mais conhecemos a Deus mais nos
conhecemos a nós mesmos e seguindo pela linha de que o perfeito é Cristo, temos a
teologia que nos dá esperança da segunda vinda de nosso Salvador e Redentor Jesus
Cristo. Todos esses problemas na igreja de Corinto, vistos no meio da Igreja, como o
culto exposto através dos versos 4 a 7 como uma lista de qualidades que faltavam na
igreja de Corinto, como vemos dos versos 1 a 3 as deturpações doutrinárias em busca
de reconhecimento humano, temor de homens, logo, identificamos que Cristo já não
era mais o centro da adoração na igreja de Corinto e Cristo deve ser o centro de
qualquer culto, em qualquer igreja, de qualquer lugar, Cristo é o centro de todas as
coisas.

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