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ROOTS 11

Parceria com
a igreja local

ROOTS: Recursos para Organizações com Oportunidades de Transformação e Socialização ROOTS


ROOTS 11
Parceria com a igreja local ■ ROOTS 7 – Participação infantil. Examina a importância
de incluir as crianças na vida comunitária e no
Escrito por Rachel Blackman
planejamento, na implementação e na avaliação de
Traduzido por Miriam Machado, Wanderley de Mattos Jr, projetos.
Christina Daniels
■ ROOTS 8 – HIV (VIH) e AIDS (SIDA): começando a agir.
Ilustrações: Bill Crooks
Examina como as organizações cristãs de desenvolvi-
Design: Wingfinger mento podem responder aos desafios trazidos pelo HIV
(VIH) e pela AIDS (SIDA), reduzindo o seu impacto,
A autora gostaria de agradecer a Alan Murray, David White,
prevenindo a propagação do HIV e lidando com
David Mundy e Dewi Hughes pelas suas idéias e orientação
questões de HIV e AIDS dentro das organizações.
durante a elaboração deste livro. Obrigada também às
organizações parceiras da Tearfund que o testaram em ■ ROOTS 9 – Reduzindo o risco de desastres nas nossas
campo. comunidades. Examina um processo chamado
“Avaliação Participativa do Risco de Desastres”, o qual
Saber como as publicações da Tearfund são utilizadas
permite que as comunidades considerem as situações
pelos parceiros e por outras organizações ajuda-nos a
de possível risco que enfrentam, as suas vulnerabili-
melhorar a qualidade das futuras publicações. Se desejar
dades, as suas capacidades e o que podem fazer para
fazer comentários sobre este livro, por favor, escreva para
reduzir o risco de desastres.
a Tearfund ou envie um e-mail para roots@tearfund.org
■ ROOTS 10 – Governabilidade organizacional.
Entre os outros títulos da série ROOTS estão: Examina princípios e questões de governabilidade,
■ ROOTS 1 e 2 – Kit de ferramentas para a defesa de para que as organizações possam melhorar a
direitos. Um conjunto de dois livros separados: estrutura da sua governabilidade ou estabelecer um
Compreensão da defesa de direitos (ROOTS 1) e Ação corpo diretivo, se já não tiverem um.
prática na defesa de direitos (ROOTS 2), os quais só Todos podem ser obtidos em inglês, francês, espanhol e
podem ser obtidos em conjunto. português.
■ ROOTS 3 – Auto-avaliação de capacidade. Uma ferra- Para obter mais informações, escreva para Resources
menta de levantamento organizacional para permitir às Development, Tearfund, 100 Church Road, Teddington,
organizações determinar as necessidades de desenvolvi- TW11 8QE, Reino Unido, ou envie um e-mail para
mento de suas capacidades. roots@tearfund.org
■ ROOTS 4 – Construindo a paz dentro das nossas
comunidades. Pontos de aprendizagem retirados de © Tearfund 2007
estudos de casos de parceiros da Tearfund que
ISBN 978 1 904364 75 7
estiveram envolvidos no trabalho de incentivo à paz
e à reconciliação em comunidades. Publicado pela Tearfund. Uma companhia limitada.
Registrada na Inglaterra sob o no. 994339.
■ ROOTS 5 – Gestão do ciclo de projetos. Aborda o
Instituição beneficente registrada sob o no. 265464.
processo de planejamento e gestão de projetos usando
o ciclo de projetos. Descreve ferramentas de planeja- A Tearfund é uma agência cristã evangélica de assistência
mento, assim como os levantamentos de necessidades e e desenvolvimento, que trabalha através de parceiros
de capacidades e a análise das partes interessadas. locais para trazer auxílio e esperança às comunidades
Também descreve claramente como desenvolver um carentes por todo o mundo.
marco lógico. Tearfund, 100 Church Road, Teddington,
■ ROOTS 6 – Captação de recursos. Mostra como elaborar TW11 8QE, Reino Unido.
uma estratégia de captação de recursos e traz idéias Tel.: +44 20 8977 9144
para ajudar as organizações a diversificarem a sua base E-mail: roots@tearfund.org
de financiamento. http://tilz.tearfund.org/Portugues
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Parceria com
a igreja local
Rachel Blackman

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Conteúdo
Introdução 5
Seção 1 Definição de igreja local e seu papel 7
A missão da igreja: Missão integral 10

Seção 2 Relação entre as organizações cristãs e as igrejas locais 17


2.1 A necessidade de organizações cristãs e igrejas 17
2.2 Estabelecimento de boas relações 23

Seção 3 Abordagens para o trabalho com as igrejas locais 27


3.1 Mobilização da igreja 27
3.2 Mobilização da igreja e da comunidade 33
3.3 Empoderamento da igreja para a defesa e a promoção de direitos 42

Seção 4 Questões-chave a serem consideradas 47


4.1 Mudança de foco das organizações cristãs 48
4.2 Trabalho em parceria 53
4.3 Boa liderança 58
4.4 Envisionamento para a missão integral 64
4.5 Facilitação da mobilização 71
4.6 Incentivo à utilização de recursos locais 76
4.7 Monitoramento e avaliação 79

Seção 5 Recursos e contatos 85


Glossário 87

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Introdução
Este livro está voltado para as organizações cristãs que procuram transformar as comunidades
através do trabalho de desenvolvimento, assistência em situações de desastre e defesa e
promoção de direitos. Estas organizações podem ser denominações eclesiásticas, departa-
mentos de desenvolvimento de denominações, redes cristãs, seminários ou organizações não
governamentais (ONGs) cristãs. Reconhecemos que, em alguns aspectos, estes tipos de
organização são diferentes. Entretanto, como este livro é baseado na idéia de que a igreja local
é essencial para a transformação comunitária, reunimos todas estas organizações cristãs num
só grupo, porque achamos que elas podem desempenhar um papel semelhante no
empoderamento das igrejas locais. Mencionamos tipos específicos de organização cristã
quando elas desempenham um papel diferente das outras.
Neste livro, descrevemos o que queremos dizer com missão integral e mostramos o papel
essencial da igreja local nela. Afirmamos que, através do empoderamento da igreja local para
praticar a missão integral, as organizações cristãs podem influenciar muito mais a trans-
formação comunitária do que trabalhando diretamente na comunidade e isoladamente da
igreja local.
Para isto, as organizações cristãs podem ter de mudar a sua forma de pensar e o seu papel.
Uma das questões principais é libertar-se da idéia de implementar somente projetos
compactos e limitados por prazos no âmbito comunitário. Como a missão integral consiste no
trabalho das igrejas locais de chegarem até as comunidades em todos os aspectos da vida,
achamos útil usarmos a palavra “iniciativa” ao invés de “projeto” ao nos referirmos às
atividades das igrejas. O motivo disto é que muitas atividades de missão integral podem ser de
pequena escala e contínuas, a tal ponto, que se tornam parte da vida comunitária. Na verdade,
com freqüência, as pessoas pobres querem participar mais na comunidade do que nos
projetos. A melhor coisa que a igreja local pode fazer é oferecer às pessoas pobres um lugar na
comunidade, em que se sintam bem-vindas. Uma pequena iniciativa comunitária pode ser
uma maneira de fazer isto.
Algumas atividades de missão integral realizadas pela igreja local podem precisar ser apoiadas
por organizações cristãs, devido à necessidade de especialistas ou equipamento. Assim, estas
atividades podem se parecer mais com projetos tradicionais. Entretanto, neste livro, fazemos
uma distinção entre projetos e iniciativas, com base em quem assume a liderança. Usamos a
palavra “projeto” para descrever o trabalho feito na comunidade liderado por uma organização
cristã. Usamos a palavra “iniciativa” para descrever uma atividade que é iniciada pela igreja
local e pertence a ela, mesmo que receba algum insumo de uma organização cristã.
Um dos maiores desafios para as organizações cristãs, inclusive a Tearfund, no empodera-
mento da igreja local para a missão integral é largar mão do poder que temos sobre as igrejas
locais e comunidades no que diz respeito aos nossos recursos, contatos e capacidade técnica. É
tentador usarmos a igreja local para os nossos próprios fins. Esperamos que este livro seja útil
para encontrarmos a melhor maneira de servir à igreja local e, através dela, aos propósitos de
Deus no mundo.

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O objetivo deste livro é ser prático e fazer com que as pessoas pensem. Portanto, não há
espaço suficiente para torná-lo um manual completo, que permita a uma organização cristã
mobilizar uma igreja local sem consultar outros recursos. Entretanto, levantamos questões
importantes, damos algumas idéias práticas para provocar uma maior discussão e oferecemos
uma lista de outros recursos úteis.
Este livro começa por definir igreja local e missão integral. Na Seção 2, examinamos diferentes
modelos de interação entre igrejas locais e organizações cristãs. Na Seção 3, examinamos três
abordagens para o trabalho com as igrejas locais. A Seção 4 traz questões-chave a serem
consideradas ao se trabalhar numa estratégia visando a uma interação maior com as igrejas
locais.

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Seção ROOTS 11 PA R C E R I A C O M A I G R E J A L O C A L

1 Definição de igreja local


e seu papel
Antes de examinarmos como trabalhar com a igreja local, é necessário definir o que queremos
dizer com o termo “igreja”. O Novo Testamento usa a palavra “igreja” das seguintes maneiras:
■ um encontro de seguidores de Jesus. Este é o uso mais comum da palavra.
■ um ajuntamento de crentes que se encontram numa casa
■ todos os crentes de uma certa localidade – as pessoas que pertencem a um grupo de
crentes, mesmo que não estejam reunidas
■ crentes de uma certa localidade, sob o cuidado de um grupo de presbíteros
■ todos os crentes em todas as partes – a igreja mundial.
Há elementos comuns em todas as descrições de igreja dadas no Novo Testamento. Estes são:
■ A igreja consiste num grupo de pessoas. (Nota: Igreja não se refere a prédios.)
■ O grupo de pessoas são seguidores de Jesus Cristo.
■ A igreja é a comunidade em que Deus vive através do seu Espírito.
A igreja é a expressão da congregação divina aqui na Terra. Ela é o agente de transformação
principal de Deus no mundo. A diferença fundamental entre os usos da palavra “igreja” dados
acima é a localidade. Por exemplo, esta palavra pode se referir a um grupo de pessoas que se
reúnem numa casa ou a todos os crentes em todas as partes. Como a igreja é uma comuni-
dade de pessoas que seguem Jesus Cristo, é apropriado que elas se reúnam regularmente. Não
é possível para todos os cristãos do mundo se reunirem, por mais maravilhoso que fosse!
Portanto, os cristãos precisam se reunir em pequenos grupos, geralmente no local em que
vivem. O termo que usamos para este agrupamento é “igreja local”.
Este termo não se refere apenas aos crentes que se encontram num prédio construído
especialmente para este propósito. A “igreja local” pode se encontrar num prédio comunitário,
no saguão de uma escola ou na casa de alguém. Ela geralmente é sustentável e não deve ser
totalmente dependente de financiamento, pessoal ou recursos externos para a sua existência. A
definição de igreja local da Tearfund é, portanto, uma “Comunidade sustentável de cristãos
locais, acessível a todos, onde o louvor, o discipulado, o cuidado e a missão são colocados em
prática.” Neste livro, usamos o termo “igreja local” para nos referirmos a grupos como este e
usamos a palavra “igreja” sozinha para nos referirmos ao corpo mais amplo de Cristo.

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Definição de ROOTS 11 PA R C E R I A C O M A I G R E J A L O C A L
igreja local e
seu papel

ESTUDO Características da igreja local


BÍBLICO
■ Leia Atos 2:42-47 e Atos 4:32-35. • É assim que as nossas igrejas locais são?
• Faça uma lista de todas as atitudes e ações Se não, que características estão faltando
do povo de Deus. e por quê?
• Examine cada item da lista e discuta o seu • Se fôssemos pessoas do século I, que
significado. Alguns são objetivos, mas não seguissem Jesus Cristo, como
outros podem precisar ser discutidos mais poderíamos descrever este grupo de
a fundo para se entender o seu significado pessoas que se encontravam regular-
e a sua relevância. Por exemplo, a palavra mente para louvar a Deus e davam suas
“perseverar” dá um sentido de com- coisas?
promisso ou promessa obrigatória, • Examine Atos 2:47, que diz que os
semelhante aos votos matrimoniais. Discuta seguidores de Cristo “caíam na graça de
especialmente o significado destes termos: todo o povo”. O que isto significa? É esta
a doutrina dos apóstolos (Atos 2:42); a a situação dos cristãos hoje em dia? Na
“comunhão” (Atos 2:42); o “partir do pão” nossa situação local, a que características
(Atos 2:42); “tudo em comum” (Atos 2:44) e da igreja inicial deveríamos ser mais fiéis
“um só o coração e uma só a alma” (Atos para sermos a igreja que Deus quer que
4:32). sejamos?

Apesar de reconhecer que as igrejas locais precisam de líderes, o Novo Testamento não
determina uma forma específica de relacionamento mútuo para os líderes (tais como os
presbíteros, bispos ou diáconos) e as igrejas que lideram. Como resultado, não é de
surpreender que uma variedade de estruturas eclesiásticas ou denominações tenham se
formado com o passar dos séculos. As denominações e as redes podem ser úteis para a
prestação de contas pastoral, para compartilhar o aprendizado, recursos e dons, e úteis para
permitir que as igrejas locais sejam ouvidas no âmbito nacional.
Os líderes cristãos discutem se as diferentes estruturas são certas ou erradas, mas a história
mostra que Deus pode abençoar as pessoas através de qualquer estrutura cristã e que a
devoção do líder é muito mais importante do que o cargo que possui. A história também
mostra o fato de que as estruturas eclesiásticas podem, às vezes, passar a existir para os seus
próprios fins. Quando isto acontece, é necessário voltar a focar a estrutura no seu verdadeiro
propósito, que é criar congregações locais de cristãos.
A igreja é chamada para mostrar o reino de Deus como um sinal visível do seu reino no
mundo. A igreja é chamada para ser o sal e a luz (Mateus 5:13-16). A igreja deve influenciar
as situações de forma a melhorá-las, preservar as boas coisas e trazer a restauração.

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Definição de ROOTS 11 PA R C E R I A C O M A I G R E J A L O C A L
igreja local e
seu papel

ESTUDO O papel da igreja: imagens da igreja


BÍBLICO
■ Leia 1 Pedro 2:4-12. Pedro usa várias • Quais são os sacrifícios espirituais que
imagens da igreja, que mostram o seu devemos fazer? Para responder a esta
papel: pergunta, examine as seguintes passagens:
Romanos 12:1; Efésios 5:2; Filipenses 4:18;
Uma casa espiritual (versículos 5-8).
Hebreus 13:15-16.
Pedro usa a imagem de um prédio para
• Quem se beneficia com estes sacrifícios
descrever o povo de Deus.
espirituais?
• Uma pedra angular é uma pedra grande,
que sustenta duas paredes em ângulo Uma nação santa (versículo 9). Usar a
reto. O que aconteceria com o prédio, se expressão “nação santa” lembraria
a pedra angular fosse retirada? Quem a imediatamente aos judeus da sua própria
pedra angular representa? Por que é história, quando a nação de Israel foi salva da
importante que ele seja a pedra angular escravidão no Egito. Isto foi um exemplo do
e não qualquer pedra das paredes? que estava por vir quando Jesus veio para
• Quem as outras pedras do prédio levar tanto os judeus quanto os gentios para o
representam? Observe que, sem estas reino de Deus.
outras pedras, não haveria prédio. Não • Santo significa “separado”. O que você
podemos ser cristãos isoladamente: acha que Pedro quer dizer ao se referir aos
precisamos estar juntos numa cristãos como uma nação santa?
comunidade. O templo era o lugar mais
Um povo que pertence a Deus
sagrado para os judeus, pois era visto
• De que maneira podemos mostrar que
como a morada de Deus. Pessoas de
pertencemos exclusivamente a Deus, que é
todas as partes do mundo conhecido
o Rei de toda a Terra? (veja os versículos
viajavam até o templo para louvar a
9-12)
Deus. Da mesma forma, a casa espiritual
• Qual é o resultado disto? (versículo 12)
existe para que as pessoas possam se
encontrar com Deus. O PAPEL DA IGREJA
Um sacerdócio santo (versículo 5). No • O que esta passagem bíblica nos diz sobre
Antigo Testamento, o papel do sacerdote o papel da igreja?
era agir como intermediário entre Deus e o • Ser diferente do mundo significa estar
povo de Israel. Os sacerdotes recebiam os isolado do mundo?
sacrifícios das pessoas e, em seu nome, • De que forma a nossa igreja local pode se
apresentavam-nos a Deus no altar. tornar mais parecida com a comunidade de
Entretanto, com a morte e a ressurreição de crentes que Pedro descreve?
Jesus Cristo como o sacrifício máximo, já • De que forma as organizações cristãs
não há mais necessidade para o tipo de podem incentivar as igrejas locais a se
sacerdote do Antigo Testamento. Nesta tornarem mais parecidas com a comuni-
passagem, vemos que todos os que dade de crentes que Pedro descreve? É
confiam em Jesus são sacerdotes santos. possível que, de alguma forma, as ações
Leia o versículo 5. das organizações cristãs, na verdade,
• Qual é o papel dos sacerdotes santos impeçam que as igrejas locais se tornem o
descrito aqui? que Deus quer que elas sejam?

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Definição de ROOTS 11 PA R C E R I A C O M A I G R E J A L O C A L
igreja local e
seu papel

A missão da igreja: Missão integral1


A pobreza é multidimensional. Ela consiste na falta das necessidades básicas. As pessoas
freqüentemente pensam nas necessidades básicas como simplesmente necessidades físicas, tais
como alimento, vestuário e abrigo. Porém, a pobreza tem outras dimensões, tais como a
pobreza social (falta de oportunidade para interagir com outras pessoas), a pobreza política
(falta de capacidade para influenciar pessoas em posição de poder) e a pobreza espiritual (falta
de relacionamento com Deus através de Jesus Cristo).
Vendo a pobreza desta forma, podemos dizer que a maioria das pessoas no mundo são pobres
de uma forma ou de outra – ocasionalmente, às vezes ou todo o tempo. Por exemplo, uma
pessoa materialmente rica pode não possuir redes sociais ou pode ser espiritualmente pobre.
Por outro lado, uma pessoa materialmente pobre pode ter uma família que a apóie e ser
cristão, sentindo-se, assim, social e espiritualmente rica.
A igreja é chamada para atender às necessidades das pessoas, amando-as da maneira que Deus
as ama. A igreja é o agente de transformação de Deus nas comunidades. Entretanto, com o
passar dos anos, as igrejas passaram a interpretar a sua missão de amar os outros de maneiras
diferentes:
■ Algumas igrejas concentraram-se somente nos aspectos espirituais da pobreza. A sua
expressão do amor pela comunidade é através da proclamação do evangelho.
■ Algumas igrejas expressam o amor concentrando-se nas necessidades materiais das pessoas,
sem prestar atenção suficiente às necessidades espirituais. Elas demonstram o evangelho
sem necessariamente proclamá-lo.
■ Algumas igrejas têm procurado ativamente atender a todas as necessidades, mas não fazem
uma ligação entre elas. Elas tratam a proclamação e a demonstração do evangelho
separadamente.
Nesta seção, examinamos a “missão integral”. Este termo é usado para descrever a missão da
igreja de atender às necessidades das pessoas de maneira multidimensional. Na nossa opinião,
a proclamação e a demonstração do evangelho não devem ser separadas. Missão integral
significa falar sobre a nossa fé e vivê-la de forma não dividida, em todos os aspectos da vida.
Sem a missão integral, pode-se limitar o quanto o reino de Deus pode ser mostrado e
ampliado neste mundo.
Como as igrejas tendem a separar a proclamação e a demonstração do evangelho,
explicaremos a missão integral nesta seção, mostrando por que não se deve fazer esta
separação.

1 Esta seção baseia-se principalmente no trabalho de Tim Chester em seu livro Good news to the poor.

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Definição de ROOTS 11 PA R C E R I A C O M A I G R E J A L O C A L
igreja local e
seu papel

Explicação dos Proclamação significa contar às pessoas sobre o evangelho, o que é chamado, às vezes, de
termos usados “evangelismo”.
nesta seção
Demonstração significa mostrar às pessoas o que significa fazer parte do reino de Deus, como, por
exemplo, ajudando fisicamente os outros a reduzirem a pobreza, como a pobreza física ou política. Isto
é chamado, às vezes, de “ação social” ou “envolvimento social”, pois consiste em atender às
necessidades na sociedade.

O termo missão integral vem do espanhol “misión integral” e pode também ser chamada de
“ministério integral”, “desenvolvimento integral”, “desenvolvimento cristão” ou “desenvolvimento
transformacional”.

Estudo de caso Exemplo de missão integral no nordeste do Brasil


Um homem no povoado de Caroá, no nordeste do Brasil, ouviu sobre
Jesus em programas de rádio transmitidos pela Ação Evangélica (ACEV).
Ele convidou dois pastores para falar no seu povoado e, como resultado,
16 pessoas tornaram-se cristãs.

Quando a ACEV começou a estabelecer uma igreja no local, ela viu que as
pessoas precisavam de acesso à água segura. Construir um poço era um

Foto: Jim Loring, Tearfund


desafio: este era um novo empreendimento para os evangelistas da ACEV.
Contudo, eles viram que o seu trabalho prático complementava o seu
trabalho espiritual. Um dos membros da comunidade comentou, “O poço
começou tudo. Ele mostra que Deus nos ama e que, através de irmãos e
irmãs em Cristo, Ele nos abençoa”. Um membro da comunidade
coleta água no poço provido
Desde então, houve muitas mudanças na comunidade, inclusive a criação pela ACEV.

de um sistema de empréstimo de animais e um reservatório provido pelo


governo após o trabalho de defesa e promoção de direitos realizado pela
comunidade. Agora, cerca de metade dos membros da comunidade são cristãos.

A necessidade de que a igreja esteja envolvida na


demonstração do evangelho
O envolvimento social faz parte do que Deus espera que os cristãos façam:

O envolvimento Deus preocupa-se com as necessidades básicas das pessoas, sejam elas espirituais ou materiais.
social está O envolvimento social faz parte do seu caráter (por exemplo, veja Salmos 146:7-9). Ele se
fundamentado no opõe às pessoas responsáveis pela injustiça e coloca-se ao lado das vítimas da opressão. Isto
caráter de Deus não significa que Deus favoreça as pessoas pobres, tratando-as com preferência. Todas as
pessoas são importantes para Deus, o que é visto na sua graça para todas as pessoas, sejam elas
ricas ou pobres. Entretanto, num mundo que favorece os ricos e os poderosos, as ações de
Deus sempre serão vistas como favorecendo o contrário.
O caráter de Deus revela-se mais completamente na pessoa de Jesus Cristo, que mostrou e
pregou a preocupação pelos pobres (Lucas 4:18-19; Mateus 4:23; Mateus 9:35-38; Mateus
14:14; Lucas 12:33).

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Definição de ROOTS 11 PA R C E R I A C O M A I G R E J A L O C A L
igreja local e
seu papel

Somos chamados Deus espera que tenhamos a mesma preocupação pelos oprimidos (veja Provérbios 31:8-9 e
para cuidarmos Isaías 1:10-17). Devemos cuidar das pessoas à nossa volta (Marcos 12:28-34). Jesus contou a
das pessoas à parábola do bom samaritano (Lucas 10:25-37), que mostra que devemos cuidar das pessoas
nossa volta independentemente das diferenças sociais e culturais.

Estudo de caso Exemplo de missão integral no Reino Unido


No Reino Unido, onde a família extensa não é tão valorizada
quanto em outras partes do mundo, muitas pessoas idosas
sentem-se sozinhas e isoladas. Algumas não podem sair
devido à doença, deficiência ou idade e, assim, raramente

Foto: Adele Robertson


têm a oportunidade de conversar com outras pessoas.

A Mount Florida Parish Church, na Escócia, passou pelo


processo de Igreja, Comunidade e Mudança da Tearfund,
Pessoas idosas e os amigos voluntários
o qual mobiliza as igrejas locais no Reino Unido para a almoçando juntos no Natal, no salão da igreja.
prática da missão integral. No final do processo, foi visto
que um grande problema era a solidão das pessoas idosas. Assim, a igreja, criou um “serviço de
amizade”, em que as pessoas idosas recebem visitas de voluntários em casa e, conforme o caso, são
levadas para passear.

Isto ajudou a aumentar a auto-estima e a autoconfiança das pessoas idosas. Uma pessoa disse, “Eu
passo o resto do dia sozinho. Então, é bom ter alguém para conversar … para me alegrar.” Uma outra
pessoa, que sofria de depressão, viu que as visitas lhe proporcionavam um novo interesse em viver e
começou a perguntar ao voluntário sobre a sua fé cristã.

As ligações entre a proclamação e a demonstração do evangelho


Há uma ligação natural entre a demonstração e a proclamação:
■ Quando a proclamação do evangelho leva ao arrependimento das pessoas que respondem a
ele, há implicações sociais. Jesus Cristo torna-se o Senhor de todos os aspectos da vida
delas, resultando numa transformação que vai além do aspecto espiritual. Em reconheci-
mento à autoridade de Cristo e devido ao desejo de agradá-lo, os cristãos começam a
procurar mostrar a justiça e o amor de Deus no seu próprio estilo de vida, nas suas relações
e na sociedade como um todo. Tiago 2:15-18 incentiva-nos a praticar boas ações para
provarmos a nossa fé em Cristo. A proclamação, portanto, leva ao envolvimento social.
■ Este envolvimento social (demonstração), por sua vez, traz conseqüências para a
proclamação, pois os cristãos testemunham a graça transformadora de Jesus Cristo.

Devemos sempre estar cientes da nossa motivação e do que estamos testemunhando e garantir
que estes sejam comunicados às pessoas à nossa volta. O envolvimento social tem de ser uma
parte integral da missão da igreja, mas é importante que ele seja posto em prática juntamente
com a proclamação do evangelho. Conforme mostra o quadro ao lado, o envolvimento social
complementa a proclamação, e a proclamação complementa o envolvimento social. Os cristãos
são incentivados a fazer as duas coisas. Não podemos fazer uma isoladamente da outra.

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Definição de ROOTS 11 PA R C E R I A C O M A I G R E J A L O C A L
igreja local e
seu papel

Às vezes, há uma tendência para separar a morte e a ressurreição de Jesus desta vida terrena.
Embora a sua morte e a sua ressurreição sejam de importância fundamental, podemos
aprender muito com a vida e o ministério de Jesus na Terra. Seu estilo de vida e suas ações são
um exemplo para a missão da igreja, assim como o que ele pregou. A Declaração Miquéias
sobre a Missão Integral diz2: “Assim como foi na vida de Jesus, ser, fazer e dizer são essenciais
para a nossa tarefa integral”.

A proclamação e a A proclamação é reforçada pelo nosso envolvimento social O evangelho é interpretado no contexto
demonstração são da vida e das ações das pessoas que o compartilham e das relações que mantêm entre si. Se um
inseparáveis cristão falar do evangelho a outra pessoa, mas não mostrar provas de que é cristão, cuidando dos
outros, o valor do evangelho percebido pela pessoa que escuta será menor. O envolvimento social é
uma propaganda do reino de Deus, em que as relações com Deus e entre as pessoas são restauradas
(Mateus 5:14-16).

O envolvimento social age como uma placa de sinalização Porém, se ele for colocado em prática
sem comunicar o evangelho, poderá indicar o caminho errado para as pessoas:

■ Ao invés de apontar para Deus, ele poderá apontar para nós mesmos.

■ Ele poderá comunicar erroneamente que a salvação consiste em praticar boas ações.

■ Ele poderá negar a importância da reconciliação com Deus, por indicar que a melhoria da situação
econômica e social é tudo que importa.

O envolvimento social ajuda as pessoas na sua vida terrena, mas sua bênção não vai além disso.

NOTA: Embora seja importante proclamar o evangelho assim como demonstrá-lo, as pessoas não
devem nunca ser forçadas a se converterem. Alguns grupos religiosos podem querer que as pessoas
se convertam para a sua religião para que, só então, possam receber ajuda. Acreditamos que isto é
completamente errado. É vital que os cristãos compartilhem o amor incondicional com todos, através
das palavras e das ações. A relutância em ajudar as pessoas de uma religião diferente significa
negarmos, a nós mesmos e a elas, a graça de Deus.

2 A Declaração Miquéias foi escrita em 2001, num encontro organizado pela Rede Miquéias, uma coalizão de igrejas e agências evangélicas de
todas as partes do mundo, comprometidas com a missão integral. Para obter mais informações, consulte o site www.micahnetwork.org

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Definição de ROOTS 11 PA R C E R I A C O M A I G R E J A L O C A L
igreja local e
seu papel

Estudo de caso Exemplo de missão integral em Mali


O pequeno povoado de Diré, em Mali, tem sofrido
desertificação nas últimas décadas. Uma igreja batista
local está agindo para combater a invasão do deserto
e garantir que parte da terra continue cultivada. A
igreja, com apenas 15 membros, chama este projeto

Foto: Richard Hanson, Tearfund


de “Boa SEMENTE”. O terreno de dez hectares é
compartilhado por oito habitantes locais, que cultivam
arroz, painço, melões e legumes.

Além de permitir que as pessoas alimentem suas


famílias, a igreja espera que o projeto complemente o
seu evangelismo por mostrar aos habitantes locais A igreja e os membros comunitários cultivando a
terra juntos.
como são realmente os cristãos. O Coordenador do
Projeto diz, “Estamos felizes em compartilhar esta terra com outras pessoas, porque as amamos …
As pessoas acreditam em coisas falsas sobre nós … Se elas puderem trabalhar lado a lado conosco
nos campos, elas descobrirão como realmente somos e em que realmente acreditamos.” Um dos
membros da comunidade comentou, “Ainda não sou cristão, mas a minha impressão é que eles são
pessoas muito boas e o que ensinam é verdade”.

Estudo de caso Exemplo de missão integral nas Filipinas


A paz e a ordem representavam um grande problema
num dos bairros da Cidade de Quezon. Havia até
cinco assassinatos por dia entre as gangues rivais de
adolescentes. Um pastor decidiu mudar-se para a
área violenta do bairro e viver entre as gangues. Esta
foi uma iniciativa do Projeto VIDA, uma parceria entre
a Igreja Bíblica de Batasan e a ISAAC, uma

Foto: Jabez Production


organização não governamental cristã.

Gradualmente, à medida que o pastor compartilhava


sua vida com os adolescentes, eles começaram a
compartilhar a sua com ele. A vida de muitos foi Ex-membros de gangues estudando para obter
transformada. Um ex-membro de uma gangue diz, diplomas.
“O pastor deu o exemplo de uma vida melhor. Ele foi
um mentor para nós, ensinando o que era bom e o que era mau, e nós encontramos a plenitude na
palavra de Deus.” Muitos dos adolescentes não freqüentavam a escola. A Igreja Bíblica de Batasan
ajudou-os a estudar e obter diplomas. Antes do projeto, as lojas locais fechavam às seis horas da
tarde, por causa das brigas entre as gangues à noite. Agora, as lojas ficam abertas até muito mais
tarde, pois o bairro é muito mais pacífico.

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1
Definição de ROOTS 11 PA R C E R I A C O M A I G R E J A L O C A L
igreja local e
seu papel

REFLEXÃO ■ Você concorda com a definição de igreja local dada neste livro? Ela reflete a nossa própria
percepção do que é a “igreja local” na nossa comunidade? Se não, o que é diferente?
■ A missão integral é praticada pelas igrejas na nossa comunidade? Se não, a proclamação é
feita sem a demonstração ou a demonstração é feita sem a proclamação?

Resumo
■ Definimos a igreja local como uma “comunidade sustentável de cristãos locais, acessível a
todos, onde o louvor, o discipulado, o cuidado e a missão são colocados em prática”.
■ Discutimos sobre o que é a missão integral: falar sobre a nossa fé e vivê-la de forma não
dividida, em todos os aspectos da vida.
■ Identificamos a missão integral como uma parte importante do papel da igreja local.

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16 R E C U R S O S R O O T S D A T E A R F U N D
Seção ROOTS 11 PA R C E R I A C O M A I G R E J A L O C A L

2 Relação entre as
organizações cristãs
e as igrejas locais
Conforme discutido na Seção 1, as igrejas locais desempenham um papel na proclamação e na
demonstração do evangelho. Entretanto, com muita freqüência, o papel da igreja limita-se a
proclamar o evangelho. Isto poderia ocorrer porque:
■ a liderança da igreja acredita que o papel principal da igreja é proclamar o evangelho e
pode não ter ouvido falar na missão integral ou pode não acreditar nela
■ algumas organizações cristãs não reconhecem o papel da igreja local na demonstração do
evangelho. Ao invés disso, elas trabalham diretamente com a comunidade. Como
resultado, a igreja local não assume a sua responsabilidade de cuidar das pessoas, porque vê
as organizações cristãs fazendo isto em seu lugar. A igreja local pode até ver a si própria
como beneficiária.

2.1 A necessidade de organizações cristãs


e igrejas
Em muitos lugares, as organizações cristãs e as igrejas locais não têm nenhuma relação entre
si. Este é especialmente o caso das ONGs cristãs, ao invés de outros tipos de organização
cristã. As organizações cristãs têm uma função, mas o seu trabalho não deve ser feito
isoladamente da igreja local. Elas devem trabalhar juntas, e cada uma deve trabalhar naquilo
em que é boa.

Pontos fortes da PRINCIPAL AGENTE DE TRANSFORMAÇÃO DE DEUS A igreja local é um posto avançado do reino de
igreja local Deus e é usada por Deus para transformar comunidades.
PRÓXIMA DAS PESSOAS POBRES A igreja local existe na base da comunidade. Ela está presente
entre as pessoas pobres e, muitas vezes, consiste em pessoas pobres. A igreja local é, portanto,
um contato direto com o conhecimento local. Ela também se beneficia com as relações com
outras pessoas e organizações na comunidade, porque os membros da igreja local geralmente
representam uma seção transversal da comunidade. A igreja local faz parte da comunidade,
enquanto que uma organização cristã pode ser vista como um “intruso”.
PRESENÇA PERMANENTE Enquanto que uma organização cristã pode deixar a comunidade, a
igreja existe para as pessoas da comunidade e provavelmente permanecerá ali por muito mais
tempo que uma organização cristã.

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Organizações ROOTS 11 PA R C E R I A C O M A I G R E J A L O C A L
cristãs e as
igrejas locais

TRABALHO CRISTÃO SUSTENTÁVEL Para que o trabalho cristão seja sustentável, é necessária uma
presença cristã permanente. É isto que a igreja local oferece. Sem isto, quando uma
organização cristã segue adiante, o trabalho deixado para trás pode começar a perder a sua
distinção cristã.
CONTEXTO NATURAL NO QUAL A FÉ PODE SER EXPLORADA As organizações cristãs concentram-se no
trabalho de assistência em situações de desastres, desenvolvimento e defesa e promoção de
direitos, enquanto que a igreja local tem uma agenda mais ampla, inclusive a provisão de um
espaço para os que investigam a fé cristã.
REDES A igreja local é, com freqüência, membro de várias redes. Há vínculos com outros
grupos de base da comunidade, através dos membros da igreja e do trabalho com outros
grupos para a realização de iniciativas comunitárias. Há vínculos também com a igreja mais
ampla, através de denominações e alianças cristãs. A participação em outras redes facilita a
aprendizagem.
RECURSOS A igreja local possui muitos membros que podem ser mobilizados. Isto é especial-
mente útil para as iniciativas que exigem mão-de-obra intensiva. Além disso, algumas igrejas
locais possuem prédios que servem de local para que os membros da comunidade se
encontrem para discutir questões locais. Em tempos de crise, os prédios das igrejas podem
oferecer um refúgio seguro.

Pontos fortes das ESPECIALISTAS TÉCNICOS As organizações cristãs possuem funcionários com uma boa
organizações compreensão sobre questões de pobreza e metodologia. Elas podem ter conhecimento
cristãs especializado, que ninguém mais na comunidade possui, como, por exemplo, conhecimento
sobre engenharia hidráulica ou nutrição.
EQUIPAMENTO Algumas organizações podem possuir tecnologia que geralmente não existe
dentro da comunidade, como, por exemplo, equipamento de perfuração de poços ou
equipamento e suprimentos médicos.
EXPERIÊNCIAAs organizações cristãs podem trabalhar em várias comunidades e, com o tempo,
adquirir uma idéia geral das questões locais, regionais e nacionais. Elas também aprendem o
que funciona e o que não funciona na região e na cultura local.
OS FUNCIONÁRIOS das organizações cristãs são dedicados ao trabalho de assistência em situações
de desastres, desenvolvimento e defesa e promoção de direitos, sem a competição entre as
prioridades, que os funcionários das igrejas locais podem enfrentar.
ACESSO A FINANCIAMENTO E À CAPACIDADE DE LIDAR COM ELEEmbora as igrejas locais e as comuni-
dades devam ser incentivadas a usar os seus próprios recursos para financiar suas atividades,
algumas destas iniciativas exigem financiamento externo, tais como a perfuração de poços e a
construção de prédios comunitários resistentes às ameaças de desastres naturais. As organi-
zações cristãs podem ter acesso a financiamento que não pode ser diretamente acessado pela
igreja local. Por exemplo, uma ONG ou um departamento de desenvolvimento de uma
denominação tem mais chances de conseguir um financiamento de um doador institucional
do que uma igreja local. Isto ocorre porque as ONGs geralmente estão registradas como
organizações e possuem especialistas para elaborar propostas, gerir financiamentos e escrever
relatórios.

Tanto as organizações cristãs quanto as igrejas locais têm muito a oferecer e podem se
beneficiar muito com o trabalho conjunto. Elas podem interagir de muitas formas diferentes,
conforme mostram os diagramas ao lado.

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Organizações ROOTS 11 PA R C E R I A C O M A I G R E J A L O C A L
cristãs e as
igrejas locais

Uma organização cristã trabalha


diretamente com a comunidade.
Modelo de Organização Nenhum vínculo com a igreja
Comunidade
isolamento cristã local. A igreja local pode ou não
estar praticando a ação social na
comunidade.

Igreja
local

Uma organização cristã trabalha


Modelo de diretamente na comunidade, mas
Organização
envolvimento Comunidade envolve a igreja local no seu
cristã trabalho através do incentivo à
oração. Ela pode consultar a igreja
local, já que esta geralmente
representa uma seção transversal
da comunidade. A igreja local pode
fornecer voluntários para partici-
Igreja parem de projetos realizados pela
organização cristã. Estes podem
local ser projetos de assistência em
situações de desastre ou de
desenvolvimento. A organização
cristã pode incentivar os membros
da igreja a participarem de campa-
nhas de defesa e promoção de
Implementação direta de projetos direitos.
A comunidade faz uma associação
Relação de apoio
entre o trabalho da organização
cristã e o testemunho da igreja
local.

Modelo de Organização Igreja


empoderamento local Comunidade
cristã

Uma organização cristã envisiona e mobiliza a igreja


local para praticar a missão integral na comunidade. Especialistas
A igreja responde às necessidades da comunidade técnicos
ou mobiliza a comunidade para responder às suas
por exemplo, de
próprias necessidades. A organização cristã, ou
organizações
outras organizações, pode ser convidada para
cristãs
trabalhar diretamente na comunidade a fim de
oferecer os especialistas que a igreja local ou a
comunidade não possui.

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cristãs e as
igrejas locais

Estudo de caso Exemplo do modelo de envolvimento


Em 2005, a cidade de Mumbai, na Índia, sofreu inundações graves. A agência de assistência em
situações de desastres e desenvolvimento EFICOR forneceu à organização cristã ACT (Association of
Christian Thoughtfulness) o dinheiro para responder à situação.

A ACT reuniu membros de diferentes igrejas da região e deu-lhes cerca de três horas de treinamento.
Isto permitiu que as igrejas locais fizessem um levantamento das necessidades das suas comuni-
dades. Foram dados vales às famílias que se qualificavam para receber auxílio. No dia seguinte, os
membros da igreja participaram da distribuição do auxílio, certificando-se de que apenas as pessoas
com vales o recebessem.

Um mês mais tarde, as igrejas locais fizeram visitas de acompanhamento às famílias que haviam
recebido o auxílio. Muitas das pessoas estavam impressionadas com a forma como a igreja havia
respondido às suas necessidades, com amor e compaixão, num momento de crise. Como resultado
das visitas de acompanhamento, foi estabelecida uma nova igreja local de língua hindi.

REFLEXÃO ■ Concordamos com os pontos fortes das organizações cristãs e das igrejas locais arroladas
nesta seção? Podemos lembrar de algum outro ponto forte?
■ Que pontos fracos das organizações cristãs ou das igrejas locais podem obstruir o seu
trabalho conjunto?
■ Sabemos de outros modelos de interação entre organizações cristãs e igrejas locais que
não foram mencionados na página 19? Se a resposta for sim, quais são eles?
■ Que modelo mais se parece com o nosso estilo de trabalho?

■ Quais são as vantagens e desvantagens de cada modelo?

■ Que modelo gostaríamos de seguir?

Observações sobre o modelo de empoderamento


O modelo de empoderamento é bastante radical e geralmente exige uma mudança tanto na
organização cristã quanto na igreja local:
Pode ser necessário mudar a forma de se pensar.
■ Para a igreja local, isto consiste em compreender a importância da missão integral e
reconhecer a experiência e o conhecimento especializado da organização cristã.
■ A organização cristã talvez precise compreender o valor do trabalho que está sendo feito e
facilitado pelas igrejas locais na comunidade.
Freqüentemente é necessária uma mudança de papel.
■ A igreja precisa se tornar o principal agente de transformação, realizando iniciativas na
comunidade ou com ela.

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cristãs e as
igrejas locais

■ O papel da organização cristã precisa deixar de ser principalmente o de implementador de


projetos e passar a ser o de apoiador da igreja local, à medida que esta pratica a missão
integral. A organização cristã talvez tenha de realizar alguma implementação nas bases, mas
é a igreja local, a quem o processo pertence, que o solicita.

Novos possíveis Papel da igreja local – praticar a missão integral na comunidade


papéis
Papel da organização cristã – incentivar, apoiar e intensificar o trabalho da igreja local, à medida que
esta pratica a missão integral.

Foi visto, por experiência, que a igreja local precisa estar disposta a:
■ estar aberta para aprender sobre a missão integral
■ incentivar os membros a descobrirem ou redescobrirem seus dons e recursos e usá-los
■ ter coragem ao sair para servir à comunidade, especialmente se a igreja normalmente for
introspectiva
■ reconhecer que não é uma especialista em assistência em situações de desastres,
desenvolvimento e defesa e promoção de direitos e, portanto, estar disposta a pedir
ajuda às organizações cristãs quando necessário.

A experiência mostra que o modelo de empoderamento funciona melhor quando a


organização cristã:
■ age como catalisadora quando a igreja local precisa de envisionamento
■ age como facilitadora para ajudar a igreja local a praticar a missão integral
■ afasta-se da comunidade e permite que a igreja local faça e seja vista fazendo o trabalho na
comunidade. O foco deve ser a igreja local. O processo de desenvolvimento deve pertencer
à igreja local, ao invés de pertencer à organização cristã.
■ oferece aconselhamento, treinamento e apoio quando necessário para que a igreja local
desenvolva sua capacidade
■ age como pioneira para estabelecer novas igrejas locais quando não há nenhuma com que
trabalhar. Nem todas as organizações cristãs possuem a experiência e os especialistas para
fazer isto, mas todas devem, pelo menos, considerar a possibilidade de trabalhar lado a
lado com outras organizações cujo foco seja estabelecer igrejas, quando não houver
nenhuma igreja local. As organizações cristãs devem pensar sobre como o seu trabalho
pode melhor proporcionar o ambiente para que as igrejas possam se estabelecer e crescer.

A tabela da página 22 mostra diferentes tipos de organizações cristãs e como os seus papéis
específicos podem precisar mudar para que as igrejas locais sejam empoderadas para praticar a
missão integral.

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cristãs e as
igrejas locais

Diferentes tipos de TIPO DE DESAFIOS DA ABORDAGEM


organização cristã e ORGANIZAÇÃO TRADICIONAL POSSÍVEIS NOVOS PAPÉIS

mudança específica Departamento de Tentação de implementar • Envisionar e treinar os pastores e os membros da igreja em
de papel se elas desenvolvimento projetos sem nenhum ou missão integral
seguirem o modelo da denominação com pouco contato com as
• Treinar os pastores em desenvolvimento de liderança
igrejas locais ou envolvi-
de empoderamento
mento por parte delas • Oferecer aconselhamento sobre a idealização e a implementação
de iniciativas comunitárias
• Facilitar a aprendizagem entre as igrejas locais e entre estas e
outros agentes de desenvolvimento
• Assistir com financiamento para grandes iniciativas
comunitárias. Isto pode consistir em facilitar a transferência de
verbas de igrejas ricas para igrejas pobres, ou de doadores do
Hemisfério Norte
• Usar redes para oferecer apoio em defesa e promoção de
direitos para as igrejas locais

Aliança ou Implementar projetos, • Envisionar e treinar os pastores e os membros das igrejas em


Associação muitas vezes, sem o missão integral
Evangélica envolvimento dos
• Coordenar a comunicação entre as igrejas participantes sobre
membros
temas-chave e questões relativas à missão integral
• Facilitar a aprendizagem entre as igrejas locais
• Treinar pastores em desenvolvimento de liderança
• Aconselhar sobre onde encontrar recursos (especialistas e
habilidades) disponíveis, como, por exemplo, vinculando as
igrejas locais a ONGs cristãs
• Usar redes para oferecer apoio em defesa e promoção de
direitos às igrejas locais

Escola teológica Teóricos, ao invés de • Treinar os estudantes em missão integral


práticos. Treinamento no
• Treinar os estudantes em desenvolvimento de liderança
uso da Bíblia, mas não
necessariamente em como • Oferecer oportunidades para que os estudantes façam estágios
o ensinamento bíblico está em ONGs cristãs ou em igrejas envolvidas na missão integral
relacionado com a redução como parte do curso
da pobreza

ONG cristã Tendência a implementar • Treinar os líderes e os membros da igreja local a atuarem como
projetos sem nenhum ou facilitadores de mudança
com pouco contato com as
• Treinar os pastores das igrejas em desenvolvimento de liderança
igrejas locais
• Oferecer aconselhamento e especialistas para apoiar as
iniciativas das igrejas, se solicitado pela igreja e pela
comunidade, inclusive sobre levantamentos de necessidades,
aconselhamento técnico específico e boa prática
• Oferecer estágios para os estudantes de teologia

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cristãs e as
igrejas locais

2.2 Estabelecimento de boas relações


Algumas organizações podem preferir um trabalho-piloto com apenas uma ou duas igrejas
locais para começar. Entretanto, vale a pena considerar o impacto que isto pode ter nas
relações entre estas e outras igrejas da comunidade. Procure evitar causar conflito entre as
igrejas locais. Tanto quanto possível, procure interagir com todas as igrejas desde o início,
mesmo escolhendo uma ou duas delas como igrejas-piloto para um trabalho mais focalizado.
Nem sempre é fácil para as organizações cristãs encontrar igrejas locais com as quais possam
trabalhar com êxito. Os seguintes são exemplos de problemas comuns que as organizações
cristãs podem enfrentar. Sugerimos algumas respostas que podem ajudá-las a superar estes
problemas.

DESAFIO A igreja local pode não compreender o que é missão integral Muitas igrejas separam os aspectos
espirituais e físicos da vida. Isto pode ocorrer, em parte, por causa da influência dos
missionários do Hemisfério Norte, que, anos atrás, freqüentemente adotavam uma visão
dualista da vida. Poucas escolas teológicas ensinam sobre a missão integral. Muitos pastores,
portanto, não possuem a estrutura teológica ou o conhecimento prático para responder com
eficácia às necessidades dos pobres nas suas comunidades.
SUGESTÃO DE Invista tempo envisionando os líderes da igreja local sobre a missão integral. Use estudos
RESPOSTA bíblicos e encontre exemplos locais da missão integral na prática que possam ser visitados.

DESAFIO As igrejas locais podem pensar que o governo deve fazer tudo e que não é função da igreja lidar
com questões sociais ou políticas.
SUGESTÃO DE Invista tempo envisionando os líderes da igreja local sobre a missão integral para mostrar que
RESPOSTA a igreja deve tentar influenciar os poderosos. O Kit de ferramentas para a defesa de direitos
(ROOTS 1 e 2) pode ser útil.

DESAFIO O discipulado pode ser fraco O envolvimento social é importante, porque mostra que o
evangelho vale a pena. Entretanto, se os membros da igreja não estiverem tentando levar
vidas distintivas, o impacto do trabalho da igreja pode enfraquecer.
SUGESTÃO DE Identifique outras organizações que possam apoiar as igrejas locais no discipulado dos
RESPOSTA membros.

DESAFIO Muitas igrejas locais que não respondem às necessidades da comunidade usam uma abordagem de
assistência social Muitas vezes, isto pode ser paternalista e feito de uma forma que faz com
que as pessoas dependam da assistência da igreja. Uma abordagem de assistência social pode
ser útil para lidar com as necessidades imediatas e de curto prazo, especialmente em tempos
de crise. Entretanto, são preferíveis abordagens que lidem com questões de desenvolvimento
e empoderamento de longo prazo, pois as abordagens de assistência social, no final, acabam
criando a dependência.
SUGESTÃO DE Invista tempo envisionando os pastores e os membros da igreja local sobre os benefícios do
RESPOSTA empoderamento da comunidade para responder aos seus próprios problemas. Ofereça
treinamento no uso de ferramentas participativas.

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cristãs e as
igrejas locais

DESAFIO Algumas igrejas podem usar mal o auxílio, tentando coagir as pessoas a se converterem ao
cristianismo Por exemplo, elas podem incluir como beneficiários somente as pessoas que
freqüentam os cultos da igreja regularmente.
SUGESTÃO DE Confronte as igrejas locais sobre esta questão ou não trabalhe com elas.
RESPOSTA
DESAFIO Os estilos de liderança das igrejas podem restringir a missão integral Se a liderança das igrejas
não seguir o exemplo de Cristo, de liderança servil, o sucesso da missão integral pode ser
limitado. Por exemplo, alguns líderes acham que somentes eles podem ter um vínculo direto
com Deus e, portanto, acreditam que devem tomar todas as decisões relativas à igreja local.
Isto pode ter muitas conseqüências:
• Pode retardar a implementação de iniciativas e até interromper totalmente algumas delas.
O fato de todas as decisões terem de passar pelo pastor pode atrasar o processo.
• As decisões podem ser tomadas por um líder sem qualquer treinamento ou conhecimento
adequado. Assim, as iniciativas da igreja podem acabar sendo irrelevantes ou fracassar.
• Haverá pouca prestação de contas, porque todas as decisões são tomadas apenas por uma
pessoa, que não tem interesse em prestar contas a ninguém mais. Se o líder controlar as
verbas, pode ser tentador usá-las para o próprio benefício e para aumentar o seu poder.
• O líder pode achar que o seu papel é estar no controle, ao invés de empoderar os outros.
Isto pode torná-lo menos aberto a abordagens sustentáveis, que enfatizem a participação e
o empoderamento.
• Alguns membros da igreja podem ficar frustrados, resultando em tensão e desunião.
• Uma liderança como esta pode ter um impacto negativo na maturidade espiritual dos
membros da igreja, pois eles talvez nunca tenham a oportunidade de usar os seus dons.
SUGESTÃO DE Ofereça treinamento sobre a boa liderança. Já que a boa liderança tem mais a ver com o
RESPOSTA coração e o caráter do que com outras habilidades, o ensinamento deve se concentrar na
graça de Deus e no exemplo da cruz.

DESAFIO As igrejas podem não ter a capacidade de trabalhar com a missão integral Por exemplo:
• Elas podem não ter pessoal habilitado ou achar difícil treinar seus membros devido ao
baixo nível de alfabetização ou à falta de instrução.
• Elas podem ter sistemas financeiros precários e uma governança ineficaz. Isto causa um
impacto na capacidade da igreja de usar o financiamento externo e prestar contas e
produzir relatórios sobre eles com eficácia.
• As igrejas não são agências de assistência em situações de desastres e desenvolvimento.
O trabalho de assistência em situações de desastres e desenvolvimento é apenas um aspecto
do seu ministério e, portanto, pode, nem sempre, ser prioritário.
• Quando os cristãos são a minoria num país, eles podem não ter conexões com a
comunidade mais ampla. A perseguição e o medo da violência podem desencorajar
algumas igrejas a se tornarem mais evidentes dentro da comunidade.
SUGESTÃO DE Ofereça-lhes treinamento para desenvolver sua capacidade e autoconfiança. Por exemplo, a
RESPOSTA Seção 4.6 deste livro, sobre como usar os recursos locais, pode ajudar a resolver questões de
financiamento.

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cristãs e as
igrejas locais

As organizações cristãs devem estar cientes de que a sua forma de trabalhar pode não ser
apropriada para o trabalho com as igrejas locais. Isto inclui:
■ procurar ser profissional
■ prazos curtos para os projetos
■ estruturas e processos inflexíveis
■ tendência a impor a sua própria agenda ou a agenda dos doadores
■ exigência de produção excessiva de relatórios ou mecanismos de prestação de contas não
realistas
■ funcionários que podem não estar comprometidos com a igreja local.
As organizações cristãs devem resolver estas questões para que o seu trabalho com as igrejas
locais seja eficaz. As Seções 4.1 e 4.2 dão uma idéia melhor de como estas questões poderiam
ser resolvidas.

Algumas organizações cristãs podem decidir parar de trabalhar diretamente na comunidade e,


ao invés disso, fazer da mobilização de igrejas o foco do seu papel. Estas organizações seguem
o modelo de empoderamento descrito na página 19. Entretanto, pode ser difícil para as
organizações cristãs encontrar financiamento de doadores para este tipo de trabalho. Pode
levar tempo para que se criem relações com as igrejas locais e estas sejam mobilizadas, para, só
então, poder-se levar adiante qualquer ação na comunidade. As organizações cristãs que
desejarem incentivar as igrejas locais a mobilizar as comunidades para responder aos seus
próprios problemas podem achar difícil obter financiamento, porque, no estágio das
propostas, os resultados ainda são desconhecidos.
É importante que as organizações cristãs não explorem as igrejas locais. Por exemplo, as
organizações cristãs podem achar maravilhoso que as igrejas possam mobilizar voluntários
com tanta facilidade. Pode se tornar uma tentação ver a igreja local apenas como uma fonte
de mão-de-obra gratuita. Qualquer relação com a igreja local deve ser vista dentro do contexto
da igreja local e da sua missão, não apenas como um modo de satisfazer os objetivos da
organização cristã.

REFLEXÃO ■ Quais destes desafios se aplicam à nossa situação local?

■ Como podemos superá-los?

Resumo
■ Examinamos os pontos fortes das organizações cristãs e das igrejas locais.
■ Consideramos modelos diferentes de relações entre as organizações cristãs, as igrejas locais
e a comunidade.
■ Exploramos os obstáculos para as relações entre as organizações cristãs e as igrejas locais e
como estes podem ser superados.

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Seção ROOTS 11 PA R C E R I A C O M A I G R E J A L O C A L

3 Abordagens para o trabalho


com as igrejas locais
Na Seção 2, examinamos modelos de interação entre as organizações cristãs e as igrejas locais.
Nesta seção, examinaremos diferentes abordagens para se trabalhar com as igrejas locais. Estas
são ilustradas com estudos de casos detalhados das organizações parceiras da Tearfund. As
abordagens são as seguintes:
3.1 Mobilização da igreja – As organizações cristãs mobilizam as igrejas locais para
trabalharem na comunidade. Esta abordagem é mais adequada para o modelo de
empoderamento (página 19).
3.2 Mobilização da igreja e da comunidade – As organizações cristãs mobilizam a igreja
local, a qual, por sua vez, mobiliza a comunidade para que se ajude a si mesma. Esta
abordagem é mais adequada para o modelo de empoderamento.
3.3 Empoderamento da igreja para a defesa e a promoção de direitos – As organizações
cristãs empoderam a igreja local para defender e promover questões comunitárias. Esta
abordagem é adequada tanto para o modelo de envolvimento quanto para o modelo de
empoderamento.

Estas abordagens não são opções separadas. As organizações podem usar diferentes abordagens
com diferentes igrejas locais, de acordo com o contexto local. Com o tempo, pode ser bom
que as organizações desenvolvam seu trabalho com a igreja local. Por exemplo, elas podem
começar com uma abordagem de mobilização da igreja em resposta a uma crise e passar para
uma mobilização da igreja e da comunidade. O empoderamento da igreja para a defesa e a
promoção de direitos poderia ser a única abordagem usada com uma determinada igreja local
ou poderia ser usado juntamente com outras abordagens.

3.1 Mobilização da igreja


A mobilização da igreja é o ato de mobilizar a igreja local para responder às necessidades da
comunidade na qual está sediada. O foco desta abordagem são os pastores da igreja local e
suas congregações. Os pastores são envisionados para praticar a missão integral (veja a Seção
4.4, sobre envisionamento). Os pastores, então, envisionam suas congregações.
Esta abordagem não mobiliza a comunidade mais ampla, mas procura capacitar a igreja local
para atender às necessidades da comunidade. Neste sentido, ela é uma abordagem de
assistência social, porque a igreja responde às necessidades percebidas pela comunidade.
Os elementos comuns de um processo de mobilização da igreja são:
■ envisionar os pastores
■ envisionar as congregações
■ estabelecer uma equipe central para gerir a iniciativa
■ recrutar voluntários

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3
Abordagens ROOTS 11 PA R C E R I A C O M A I G R E J A L O C A L
para o trabalho
com as igrejas
locais

■ oferecer treinamento aos voluntários


■ apoiar os voluntários.
Em alguns lugares, é possível que as igrejas locais já compreendam a necessidade da missão
integral, mas talvez ainda não a estejam praticando, por falta de autoconfiança ou de
especialistas. O processo de mobilização da igreja pode, assim, concentrar-se menos no
“porquê” da missão integral e passar mais tempo concentrando-se em “como”.

Estudo de caso ZOE (Zimbabwe Orphans through Extended hands)


Devido ao HIV (VIH) e à AIDS (SIDA), o número de
órfãos em Zimbábue está crescendo rapidamente.
Cada vez mais, as pessoas estão reconhecendo que
os orfanatos tradicionais não são adequados e que a
igreja precisa responder de forma mais eficaz. A ZOE
foi estabelecida para incentivar as igrejas locais a
cuidar dos órfãos e apoiá-las nisto.

A ZOE é uma organização com uma estrutura

Foto: Karyn Beattie


mínima. Durante os primeiros nove anos do seu
trabalho, eles não tinham nenhum funcionário
empregado, e, mesmo agora, eles têm apenas oito.
Isto foi proposital. O fundador não queria que a ZOE Um voluntário com alguns dos órfãos aos seus cuidados.
se tornasse uma organização que implementasse
projetos, mas sim uma agência que envisionasse e facilitasse as igrejas locais para que agissem.

A ZOE responde aos pedidos de ajuda dos líderes das igrejas locais para atender às necessidades das
suas comunidades. A ZOE reúne todos os líderes de igrejas da região para um encontro de um dia, a
fim de envisioná-los. Os estudos bíblicos desempenham um papel importante, porque ajudam os
líderes a compreenderem a responsabilidade da igreja local. Quando os pastores retornam às suas
congregações para compartilhar a visão, geralmente, muitas pessoas apresentam-se como voluntárias
para cuidar de órfãos na comunidade em nome das igrejas locais.

Cada voluntário cuida de cinco famílias no máximo. Os voluntários procuram visitar cada uma delas
uma vez por mês pelo menos. O fato de os voluntários retornarem regularmente tem um impacto
positivo nas famílias, especialmente se o lar foi abandonado pela família extensa. Quando os
voluntários fazem visitas, eles procuram identificar as necessidades, procuram sinais de abuso,
escutam, ajudam de forma prática, compartilham recursos, compartilham algo da Bíblia e oram com
as famílias. Uma das atividades comuns praticadas pelos voluntários é o aconselhamento sobre a
alimentação e sobre como procurar ajuda médica. Os voluntários mantém registros das suas visitas e
apresentam relatórios sobre elas num encontro mensal de voluntários e líderes da igreja local. Isto
ajuda a assegurar que o trabalho com os órfãos pertença à igreja local e assegura também que os
voluntários sejam apoiados no seu trabalho.

Desde o início do processo, a ZOE esclarece que não fornecerá outros recursos além de treinamento,
uma vez que este trabalho é uma atividade e uma responsabilidade da igreja. As igrejas locais,
portanto, assumem a responsabilidade pelos voluntários e ajudam-nos a apoiar as famílias através de
contribuições regulares ou ajuda prática. Por exemplo, um voluntário poderia chamar outros
membros da igreja para ajudar a reparar um telhado ou preparar a terra para uma família aos seus
cuidados.

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para o trabalho
com as igrejas
locais

ALVOS ■ Conscientizar as igrejas locais sobre a importância de se ministrar aos órfãos de forma integral e
treiná-las para fazerem isto com eficácia.
■ Fortalecer o trabalho das igrejas já envolvidas no trabalho de cuidado dos órfãos através de
treinamento e apoio.

ETAPAS DO 1 Encontro de treinamento para envisionamento, oferecido a todos os líderes de igrejas locais após
PROCESSO um pedido inicial de algumas delas. O encontro de treinamento:
• usa estudos bíblicos e abordagens de treinamento participativo para examinar o papel e a
responsabilidade da igreja e as necessidades dos órfãos locais.
• transmite a mensagem de que a primeira necessidade dos órfãos não é de recursos físicos,
tais como alimento ou moradia, mas sim, de amor, interesse, apoio e cuidado. Estas
necessidades podem ser atendidas somente por pessoas locais que as amem.
2 Os pastores compartilham a visão com suas congregações e fazem uma lista de voluntários e
outra de órfãos no local.
3 Encontro de treinamento de voluntários, facilitado pelos funcionários da ZOE ou por um
coordenador de área voluntário, com o local e a logística organizados pela igreja local. As
questões vistas são: encontrar órfãos, fazer visitas, manter registros, identificar necessidades e
envolver as estruturas comunitárias existentes.
4 Visita aos programas implementados pelos voluntários.
5 Encontro mensal dos líderes das igrejas locais e voluntários para compartilharem suas
experiências, o que aprenderam e problemas.

Outras atividades facilitadas pela ZOE são:


■ Treinamento especializado para ajudar as igrejas locais a oferecer uma assistência maior, como,
por exemplo, começar uma iniciativa de geração de renda, reconhecer o abuso infantil ou oferecer
apoio psicológico.
■ Encontros de treinamento de treinadores para coordenadores de áreas voluntários, que participam
de encontros de treinamento para envisionamento.
■ Visitas de intercâmbio para permitir que os voluntários aprendam uns com os outros. A ZOE
oferece alguma verba para isto.

IMPACTO O impacto do trabalho da ZOE é extraordinário. Sete anos após o seu início, o programa já tinha levado
as igrejas locais a cuidar de 15.000 órfãos. Então, houve um crescimento repentino. No ano seguinte, o
número de órfãos cuidados cresceu para mais de 40.000. Isto ocorreu, em parte, devido ao número de
famílias necessitadas, por causa da seca e do desemprego, mas também porque o número de igrejas
participantes do programa aumentou. O número de voluntários cresceu de 550 para 1.013, e o número
de igrejas participantes aumentou de 121 para 191 no mesmo ano. Três anos mais tarde, havia 600
igrejas trabalhando no programa e 2.000 voluntários apoiando quase 100.000 crianças.

A freqüência à igreja aumentou na maioria das áreas que começaram programas de assistência a
órfãos. Como o programa mostra a igreja local como uma comunidade interessada, ela passou a ser
respeitada.

LIÇÕES O FATO DE A ZOE CONCENTRAR-SE NO TREINAMENTO SIGNIFICA QUE, PARA EXPANDIR O SEU TRABALHO,
APRENDIDAS SÃO NECESSÁRIOS MAIS TREINADORES O trabalho foi tão bem-sucedido, que agora há uma grande
demanda de outros líderes de igrejas locais para receber treinamento. Assim, foram escolhidos alguns
voluntários para se tornarem “coordenadores de áreas voluntários”, que podem facilitar alguns dos

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para o trabalho
com as igrejas
locais

encontros de treinamento da ZOE. Esta abordagem mostrou ser mais empoderadora e sustentável do
que adquirir novos funcionários.

PODEM SER NECESSÁRIOS ALGUNS RECURSOS EXTERNOS O grau de necessidade e o número de órfãos
são tão altos que as igrejas locais freqüentemente têm dificuldade para prestar os cuidados mais
básicos. São necessários recursos externos para suplementar os recursos com que as igrejas e os
voluntários já contribuem. Entretanto, os recursos precisam ser geridos de uma maneira que não
desempodere a iniciativa local e cause dependência. O foco precisa ser aumentar a independência,
como, por exemplo, através de iniciativas de geração de renda.

COMO O PROCESSO É SIMPLES, É FÁCIL REPLICÁ-LO EM OUTROS LUGARES Pode levar apenas de 3 a 6
meses a partir do pedido de ajuda inicial do pastor para que os voluntários comecem a visitar os
órfãos.

No início do processo de mobilização da igreja, os pastores de uma variedade de igrejas locais


poderiam ser envisionados juntos. Os pastores poderiam vir de igrejas da região ou de uma
denominação. Pode ser uma boa idéia envisionar os funcionários da denominação, visando à
apropriação nos níveis mais altos da estrutura da igreja. Muitos pastores de igrejas locais
independentes pertencem a redes fraternais de ministros, o que proporciona uma forma
excelente de se relacionar com grandes números de igrejas locais. As redes tendem a ter uma
estrutura e um foco local, o que permite um bom trabalho em rede, cooperação, unidade e a
troca de recursos.

Estudo de caso Projeto Transforma: Paz y Esperanza, Peru


San Juan de Luringancho é um bairro pobre da cidade de Lima, no Peru. Há mais de 430 igrejas
evangélicas no bairro. A Paz y Esperanza, uma organização cristã, iniciou o Projeto Transforma para
incentivar as igrejas a atenderem às necessidades na região.

ALVOS Incentivar e capacitar as igrejas evangélicas para que possam desenvolver ações de transformação
nas suas comunidades com uma perspectiva de missão integral.

ETAPAS DO 1 Criar relações entre os funcionários do Projeto Transforma e os pastores locais.


PROCESSO
2 Pesquisas realizadas para identificar as atitudes das igrejas locais quanto à missão integral.

3 As constatações das pesquisas são apresentadas aos pastores locais.

4 Identificação de cinco questões principais que as igrejas locais tinham interesse em resolver.

5 Encontros de treinamento para todos os pastores e membros das igrejas. No final do treinamento,
os participantes pegaram as idéias e aplicaram-nas nas suas próprias igrejas.

6 Acompanhamento intensivo e facilitação de igrejas selecionadas nas áreas mais pobres.

Os funcionários do Projeto Transforma procuraram criar relações com os líderes das igrejas locais.
Eles convidaram pastores-chave para formar um grupo consultivo. Eles também convidaram os
pastores para liderar as devocionais dos seus funcionários e compilaram e distribuíram um guia
mensal de orações escrito pelos pastores. Uma vez que as relações estavam mais profundas, o
Projeto Transforma fez uma pesquisa com os pastores para ver o que eles compreendiam por missão
integral dentro das igrejas locais e até que ponto eles a praticavam.

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para o trabalho
com as igrejas
locais

Foram feitas as seguintes constatações:


■ As igrejas locais raramente se concentravam em
atender as necessidades das pessoas fora da igreja.
■ As igrejas locais tendiam a oferecer apoio uma só vez
às pessoas, ao invés de apoio contínuo.
■ Nas ocasiões em que as igrejas haviam tentado atender

Foto: Ian Horne


às necessidades da comunidade, poucas haviam feito
primeiro um levantamento das necessidades.

Quando as constatações foram apresentadas num café da


manhã para os pastores locais, muitos se interessaram em receber o treinamento do Projeto
Transforma. Foi oferecido treinamento aos pastores sobre as cinco questões principais que as igrejas
locais estavam interessadas em resolver. Algumas das igrejas locais, então, trabalharam juntas. Por
exemplo, o Projeto Transforma trabalhou com quatro igrejas para fazer um levantamento de
necessidades na comunidade local. O apoio educacional para as crianças foi visto pela comunidade
como uma necessidade importante. Assim, as igrejas decidiram oferecer um programa de férias de
quatro semanas para as crianças da região.

Os funcionários do Projeto Transforma visitavam as igrejas regularmente, envisionando e oferecendo


ferramentas e recursos para que os pastores das igrejas envisionassem suas congregações sobre a
missão integral. O Projeto Transforma ajudou os pastores a pensarem sobre idéias e a começar
iniciativas. Foi realizado um retiro para dez pastores para promover a união e ajudá-los a desenvolver
uma visão conjunta para a transformação comunitária em San Juan de Lurigancho.

IMPACTO O processo é contínuo, mas já há sinais do impacto:


■ A autoconfiança das igrejas aumentou, e elas querem fazer mais nas suas comunidades.
■ Cento e vinte crianças participaram do programa educacional infantil de férias. Os líderes da
comunidade onde ficava o clube de férias ficaram tão satisfeitos com o que as igrejas estavam
fazendo, que ofereceram um terreno para uma igreja local, para que pudesse ser construída uma
igreja no centro da comunidade.

LIÇÕES O COMPROMISSO DOS LÍDERES COM A MISSÃO INTEGRAL É ESSENCIAL Foi mais difícil mobilizar as
APRENDIDAS igrejas cujos líderes não tinham nenhuma experiência de trabalho com as pessoas pobres.

AS QUESTÕES DE GÊNERO DEVEM SER CONSIDERADAS No início, alguns dos encontros de treinamento
eram realizados nos sábados de manhã. Este não era um horário adequado para as mulheres. No
futuro, o treinamento será programado para horários mais viáveis para elas, assim como para os
homens.

Pontos fortes da mobilização da igreja


Esta abordagem reconhece os valores da igreja local. Ela procura aproveitar, ao invés de
ignorar, o testemunho, a experiência e as relações da igreja local.
Esta abordagem pode ser mais rentável na hora de atender às necessidades da comunidade
do que a implementação dos projetos pela própria organização cristã. Uma vez que foram
investidas verbas na mobilização da igreja local, os membros da igreja podem disponibilizar
recursos, que não podem ser facilmente quantificados, mas que podem beneficiar muito a
comunidade. Estes recursos podem ser voluntários, dons, habilidades, dinheiro, amor e

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para o trabalho
com as igrejas
locais

orações. Se uma organização cristã fosse realizar um projeto semelhante por si mesma, o
projeto seria mais caro por causa dos custos com os funcionários e o escritório. Ele também
poderia ter menos impacto. Por exemplo, poderia haver menos apoio em forma de oração
para o projeto.
Esta abordagem é mais sustentável do que a realização de projetos individuais. Cada vez que
uma organização realiza um projeto, há custos específicos para aquele projeto, tais como o
tempo dos funcionários, materiais e assim por diante. Sempre que é realizado um novo projeto
lá fora, há uma nova série de custos. Entretanto, uma vez que a igreja local é mobilizada, ela
pode atender a uma variedade de necessidades comunitárias naquele momento e no futuro. As
verbas iniciais investidas na mobilização da igreja, portanto, têm um efeito multiplicador e
podem resultar num impacto maior na comunidade.
A abordagem pode ajudar as igrejas locais a se concentrarem numa questão específica, que
pode ter sido óbvia na comunidade antes do início do processo. Depois de mobilizada, a
igreja torna-se mais capaz de responder a uma crise, se esta ocorrer, ou realizar novas
iniciativas.
Esta abordagem pode mostrar resultados tangíveis num curto espaço de tempo.

Pontos fracos da mobilização da igreja


As iniciativas resultantes dos processos de mobilização da igreja normalmente são bastante
básicas, porque os membros da igreja podem não ter conhecimento técnico. Esta falta de
conhecimento especializado pode fazer com que as questões principais da iniciativa não sejam
identificadas ou resolvidas. Isto pode resultar num trabalho ineficaz e, no pior caso, ter um
impacto negativo na comunidade. Embora as igrejas possam, muitas vezes, oferecer recursos
que as organizações especializadas não podem, pode haver situações em que as iniciativas das
igrejas mal informadas causem mais mal do que bem. Portanto, as organizações cristãs têm a
função de fornecer conhecimento especializado.
Há o risco de que as igrejas locais realizem iniciativas irrelevantes para a comunidade. A
igreja local pode fazer pressuposições incorretas sobre as necessidades da comunidade.
Uma vez que os processos de mobilização da igreja tendem a usar uma abordagem de
assistência social, há o risco de que a comunidade passe a depender da igreja. Embora seja
bom que os membros da comunidade vejam a igreja como interessada, esta abordagem pode
resultar no seu desempoderamento.
Como as iniciativas das igrejas tendem a ser simples e responsivas, elas podem não resolver
as causas fundamentais dos problemas da comunidade. Embora a capacidade da igreja de
atender às necessidades imediatas seja um ponto forte, pode haver muito pouca mudança
sustentável como resultado do seu trabalho. Isto é uma pena, já que, em muitos países, a
igreja tem o potencial e os recursos para ser uma forte defensora e promotora da mudança. As
organizações cristãs, ao mesmo tempo em que mobilizam uma igreja local para a ação
na comunidade, poderiam também treiná-la em defesa e promoção de direitos (veja a
página 42).
Esta abordagem depende muito da liderança e do incentivo de cada líder de igreja.
Entretanto, nem sempre é fácil para as organizações cristãs trabalhar com os pastores, pois
estes podem ter prioridades diferentes.

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para o trabalho
com as igrejas
locais

Os pastores e as igrejas têm uma agenda mais ampla do que atender às necessidades da sua
comunidade. As demandas da vida da igreja podem fazer com que, às vezes, a resposta às
necessidades fora da igreja não seja o seu foco principal e receba menos atenção.

3.2 Mobilização da igreja e da comunidade


A mobilização da igreja e da comunidade consiste em mobilizar a igreja local para agir como
facilitadora na mobilização da comunidade inteira para que ela atenda às suas próprias
necessidades.
Esta abordagem é diferente da “mobilização da igreja” porque, uma vez que a igreja local foi
mobilizada, ela se torna uma facilitadora, ao invés de provedora. A igreja local procura
envisionar e empoderar os membros da comunidade para que identifiquem e atendam às suas
próprias necessidades, ao invés de satisfazer necessidades para eles. A igreja local, portanto,
trabalha com a comunidade, ao invés de para ela. A comunidade está no controle, mas não é
necessariamente deixada sozinha após a mobilização. A igreja local pode oferecer apoio
contínuo à comunidade, e as organizações cristãs podem ter de oferecer apoio técnico, se
solicitado pela comunidade, para que as necessidades sejam satisfeitas.
A mobilização da igreja, conforme vimos, pode ser útil numa crise para atender a uma
necessidade em particular. Porém, quando não houver nenhuma necessidade urgente
específica na comunidade, mas houver uma pobreza contínua, a abordagem da mobilização da
igreja e da comunidade é preferível. Isto é porque ela tem mais chances de ser sustentável, por
pertencer mais à comunidade. As iniciativas desenvolvidas têm mais chances de ser prioridades
para os membros da comunidade, porque esta abordagem incentiva os membros a identifi-
carem as necessidades e responderem a elas por si mesmos. Os membros da comunidade,
portanto, valorizam as iniciativas mais do que se a igreja local simplesmente agisse como
provedora.
Embora tanto esta abordagem quanto a abordagem da mobilização da igreja consistam na
mobilização da igreja local, esta abordagem consiste num processo de mobilização adicional,
conforme mostra a tabela abaixo.

MOBILIZAÇÃO DA IGREJA MOBILIZAÇÃO DA IGREJA E DA COMUNIDADE

Mobilizar a igreja Envisionar os pastores e os membros para Envisionar os pastores e os membros para
praticarem a missão integral praticarem a missão integral

Treinar a igreja Treinar a igreja para identificar as Treinar a igreja para envisionar e mobilizar a
necessidades e oferecer treinamento técnico comunidade
na resposta a uma necessidade identificada
específica

Ação da igreja na A igreja atende a uma necessidade na A igreja envisiona e mobiliza a comunidade
comunidade comunidade para atender às suas próprias necessidades

Ação comunitária Nenhuma ou, talvez, trabalho com a igreja A comunidade identifica as necessidades e
local de forma limitada responde a elas com os seus próprios
recursos sempre que possível

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para o trabalho
com as igrejas
locais

Estudo de caso Wholistic Development Organisation, Camboja


No Camboja, muitas comunidades foram desempoderadas nos anos 70, porque o regime opressivo
do Khmer Vermelho reduziu a capacidade das pessoas de cuidar das famílias, tomar decisões
comunitárias e participar de atividades comunitárias. Como resultado, muitas vezes, as respostas das
igrejas locais para as necessidades são voltadas para a assistência em situações de desastres, o que
cria dependência.

A Wholistic Development Organisation (WDO), uma organização cristã, queria desafiar a dependência
e servir de facilitadora junto às igrejas locais para que estas empoderassem as comunidades para agir.
Eles treinaram facilitadores cristãos, os quais envisionaram as igrejas locais. As igrejas locais
escolheram seis membros para formar um grupo cristão central, que trabalhou com a comunidade
para identificar problemas e possíveis soluções. Os facilitadores e o grupo cristão central apoiaram as
comunidades à medida que elas resolviam os seus próprios problemas.

ALVOS Estabelecer grupos cristãos centrais com a capacidade de implementar a missão integral através da
facilitação de iniciativas comunitárias que contribuam com a segurança alimentar, a geração de renda
e a saúde.

ETAPAS DO 1 Seleção e treinamento de facilitadores. A WDO emprega cristãos comprometidos e ativamente


PROCESSO envolvidos na sua própria igreja local, com uma paixão por servir os pobres como facilitadores
de desenvolvimento comunitário. Eles recebem treinamento em desenvolvimento comunitário,
liderança, gestão, organização de pessoas, como lidar com o trauma, facilitação criativa de
encontros em grupos e desenvolvimento de caráter e valores através de estudos bíblicos
semanais.
2 Seleção de comunidades-alvo. A WDO identifica comunidades de acordo com a necessidade e a
maturidade da igreja local e sua liderança.
3 Formação de grupos cristãos centrais com base na comunidade. Os facilitadores de desenvolvi-
mento comunitário usam os estudos bíblicos e discussões com os membros da igreja local para
ajudá-los a identificar sua visão para o futuro da sua comunidade e, então, como planejar a
execução da visão. A igreja local elege um pequeno grupo de cristãos para formar um grupo
cristão central, o qual age como catalisador e organizador do processo.
4 Análise das necessidades da comunidade e planejamento da ação. O grupo cristão central reúne a
comunidade inteira para discutir e identificar as causas fundamentais dos seus problemas e
identificar possíveis soluções. Eles também estabelecem que recursos locais estão disponíveis e
que contribuições os membros da comunidade podem fazer em termos de tempo, mão-de-obra,
materiais e dinheiro.
5 Ação. A comunidade age para resolver seus problemas com a facilitação do grupo cristão central
de facilitadores de desenvolvimento comunitários. Uma vez que a comunidade mostrou estar
disposta a contribuir com os seus próprios recursos, a WDO oferece uma verba inicial para apoiar
as iniciativas na forma de empréstimo. Os ressarcimentos do empréstimo são mantidos dentro da
comunidade como fundo rotativo.
6 Desenvolvimento da capacidade do grupo cristão central. Os facilitadores de desenvolvimento
comunitário investem tempo no desenvolvimento dos membros do grupo cristão central ao longo
do processo até que eles possam finalmente gerir as iniciativas da comunidade com um mínimo
de ajuda.

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para o trabalho
com as igrejas
locais

IMPACTO A Trapeang Keh era uma comunidade pobre, com terra seca, migração para fora da área, saúde
precária e dívida. Havia pouca confiança ou cooperação entre os membros da comunidade. A igreja
tinha quatro membros, e estes eram perseguidos e marginalizados pelo resto da comunidade. Após o
processo de mobilização, os membros da comunidade começaram a trabalhar juntos para resolver
seus problemas, como, por exemplo, cavando poços aperfeiçoados e estabelecendo sistemas de
irrigação.

As atitudes e as relações entre os membros


da comunidade mudaram. Há menos
problemas sociais, porque os homens não
precisam mais migrar. As discussões
comunitárias incentivaram os homens a

Foto: Jabez Production


escutarem as mulheres. O respeito dos
homens pelas mulheres, portanto,
aumentou. Há menos violência doméstica e
uma maior divisão das tarefas “femininas”
A comunidade reunida para discutir questões locais.
com os homens, tais como trabalhar na
horta, buscar água e cozinhar. Há menos discussões e brigas no povoado e menos alcoolismo. A
tomada de decisões é mais justa e mais inclusiva.

As atitudes em relação à igreja também mudaram. A autoconfiança dos cristãos para cuidar do
próximo e compartilhar sua fé aumentou. Há menos perseguição e todas as famílias, com exceção de
duas, agora freqüentam a igreja local.

LIÇÕES AS PESSOAS QUE PASSARAM PELA POBREZA TENDEM A SER OS MELHORES FACILITADORES
APRENDIDAS Os facilitadores não precisam ter qualquer qualificação ou experiência em desenvolvimento. Na
verdade, as pessoas com qualificações formais tendem a estar menos dispostas a permanecer nas
comunidades ou viajar para áreas remotas e não ficaram na WDO por muito tempo. Os facilitadores
estavam dispostos a passar tempo na comunidade, inclusive passar a noite, o que muitos agentes de
desenvolvimento não queriam fazer. Isto levou à formação de relações profundas, que aumentaram o
sucesso do processo de mobilização.

A CRIAÇÃO DE RELAÇÕES AJUDA A SUPERAR A DEPENDÊNCIA DA COMUNIDADE No início do processo,


as comunidades freqüentemente resistiam às abordagens participativas e à ênfase na importância do
envolvimento e da responsabilidade comunitária. A WDO superou este desafio, investindo tempo em
cada comunidade, criando relações e compartilhando a visão do trabalho.

AS PESSOAS PODEM ACHAR QUE AS ESTRUTURAS DE PODER EXISTENTES SÃO AMEAÇADAS PELO
PROCESSO Às vezes, as pessoas acham que as estruturas de poder locais, tais como os comitês de
desenvolvimento dos povoados, são ameaçados, porque o processo empodera as pessoas pobres,
dando-lhes uma voz. O processo freqüentemente alcança mais numa comunidade em alguns meses
do que os comitês de desenvolvimento em anos.

O PROCESSO FUNCIONA MELHOR COM IGREJAS LOCAIS BEM ESTABELECIDAS Quando as igrejas eram
jovens e imaturas demais, elas não eram capazes de assumir a responsabilidade por atuarem como
catalisadoras para o processo de mobilização. Elas viam o processo como uma oportunidade para
crescer e ofereciam assistência como incentivo para que as pessoas se convertessem, ao invés de
uma oportunidade para mostrar que a igreja local se interessa pela comunidade.

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para o trabalho
com as igrejas
locais

Estudo de caso Processo de Avaliação Participativa (PAP), Uganda, Tanzânia e Sudão

O processo de avaliação participativa (PAP) foi realizado em vários lugares na África Oriental. Ele foi
usado por vários motivos. Por exemplo:
■ Em Soroti, Uganda, os funcionários da Pentecostal Assemblies of God (PAG) ficaram frustrados
com o fato de que os programas existentes tinham batalhado pela apropriação local e que a
energia e os recursos locais haviam sido pouco usados.
■ A Diocese de Ruaha, na Tanzânia, tinha ficado insatisfeita com as abordagens de desenvolvimento
tradicionais.
■ No norte do Sudão, a Fellowship for Africa Relief queria desenvolver a capacidade da igreja local e
da comunidade.
■ No sul do Sudão, a ACROSS queria construir uma igreja local ao invés de implementar projetos.

O PAP consiste em envisionar e mobilizar igrejas locais para capacitar as comunidades para
responderem às suas necessidades. Depois de envisionar os líderes da igreja local e os funcionários
da denominação, os líderes das igrejas são equipados para compartilhar a visão sobre a missão
integral com suas congregações. Os estudos bíblicos desempenham um papel-chave no processo de
envisionamento, sendo realizados, às vezes, por três ou quatro dias. Um outro aspecto importante é a
necessidade de que as igrejas locais vejam que possuem a capacidade de catalisar a mudança nas
suas comunidades. Isto consiste, em parte, em reconhecer os recursos locais que a igreja e a
comunidade possuem e, em parte, em ter confiança nas próprias capacidades.

Uma vez que a igreja local tiver sido envisionada, é feito contato com os líderes comunitários, e a
possibilidade de um trabalho conjunto para mobilizar a comunidade é discutida. A comunidade é,
então, envisionada e conduzida por vários estágios, que consistem em identificar questões locais que
precisem ser resolvidas e os recursos que a comunidade pode usar para resolvê-las. São escolhidos
vários membros da igreja e da comunidade para ajudar a facilitar o processo, o que aumenta a
apropriação local.

ALVOS Colocar a igreja local em contato com a teologia e a prática da missão integral em todos os âmbitos,
de maneira a envisioná-la e mobilizá-la para agir como agente de mobilização comunitária, auxiliando
as comunidades a identificarem e atenderem às suas necessidades.

ETAPAS DO 1 Encontros de treinamento para o


PROCESSO envisionamento dos funcionários das
denominações e pastores sobre a missão
integral. Os participantes selecionam cinco ou
seis igrejas-piloto e nomeiam 15–20 pessoas,
Foto: Isabel Carter

que serão treinadas como facilitadores.


2 Treinamento de facilitadores. Os facilitadores
são treinados para envisionar os membros da
Um encontro de treinamento para o envisionamento de
igreja local sobre a missão integral. pastores em Ruaha, Tanzânia.
3 Envisionamento da igreja local.
4 Mobilização de recursos da igreja local. Os facilitadores são treinados em habilidades para ajudar
as igrejas a mobilizarem e usarem os seus próprios recursos. Eles, então, implementam o
treinamento nas igrejas locais.
5 Criação de relações entre a igreja e a comunidade. Após treinamento, os facilitadores organizam
encontros entre as igrejas-piloto, os líderes comunitários e os membros comunitários. Nos

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para o trabalho
com as igrejas
locais

encontros, são selecionadas três pessoas da igreja local e três pessoas da comunidade para
liderar e moldar o processo de mobilização. Os membros das comunidades decidem como estas
pessoas serão chamadas. Em Soroti, elas eram conhecidas como “Agentes de Recursos da Igreja
e da Comunidade”. No sul do Sudão, elas eram chamadas de “Despertadores”.
6 Coleta de informações sobre a comunidade. Os Facilitadores e os Despertadores são treinados na
coleta de informações e, então, trabalham com a comunidade e uma Equipe de Coleta de
Informações nomeada por ela para descobrir informações detalhadas sobre a comunidade.
7 Análise das necessidades da comunidade. Após treinamento, os facilitadores trabalham com a
comunidade para analisar as informações coletadas e decidir que questões devem resolver.
8 Estabelecimento da meta comunitária e planejamento da ação. Após treinamento, os facilitadores
ajudam a comunidade a elaborar metas realistas e planos de ação.
9 Implementação e monitoramento da comunidade. Após treinamento, os facilitadores equipam os
líderes comunitários e os Despertadores para criarem comitês de desenvolvimento comunitários,
implementar os planos de ação e monitorar o progresso.
10 Renovação da apropriação do processo por parte da denominação. É realizado um novo encontro
para os participantes do encontro de treinamento para envisionamento realizado no início do
processo. O aprendizado e os resultados do processo até então são compartilhados com eles para
incentivar a apropriação e o apoio para as próximas etapas do processo. Eles são incentivados a
planejarem a replicação do processo em outras partes da região.
11 Treinamento e apoio contínuos para os comitês de desenvolvimento comunitário. Os funcionários
da organização cristã encontram-se com os comitês de desenvolvimento comunitário para
identificar necessidades contínuas de treinamento. Estas podem ser: treinamento em gestão
financeira, supervisão, monitoramento e avaliação, gestão do ciclo de projetos, planejamento de
ação comunitária e gestão de desastres.
12 Replicação. O processo inteiro é repetido com mais igrejas locais e comunidades. Os encontros de
treinamento são organizados pelos facilitadores do primeiro processo, ao invés de um consultor
externo ou funcionário da organização cristã.

O processo resultou em transformação em vários aspectos da vida comunitária. A transformação


pode ser mais facilmente observada nas evidências visuais, tais como novos prédios ou poços, e o
maior número de pessoas freqüentando a igreja. Mas há evidência de que uma transformação mais
profunda e pessoal ocorreu na vida das pessoas como resultado do processo, conforme mostra o
quadro abaixo.

“Estávamos adormecidos antes, mas agora “Deveríamos nos unir para enfrentar os
temos uma visão.” Membro da comunidade no problemas; o meu problema hoje será o
Norte do Sudão problema de outra pessoa amanhã.” Pastor

“O PAP ajudou-nos a sabermos quem somos.” no Norte do Sudão

Membro da igreja no Sul do Sudão “Antes de o nosso pastor ouvir falar do PAP,

“Se nos deixassem sozinhos agora, e todos conhecíamos a palavra “cooperação”, mas não

nos abandonassem, seríamos capazes de a colocávamos em ação. Agora colocamos!”

continuar até o fim.” Pastor no Sul do Sudão Membro da comunidade, Sul do Sudão

“Nossos olhos foram abertos e todos são mais “A maior mudança que o processo me trouxe

capazes de se expressar.” Membros da foi a compreensão de que eu posso realizar,

comunidade, Norte do Sudão mas preciso planejar: as coisas não acontecem


sozinhas simplesmente.” Pastor em Ruaha

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para o trabalho
com as igrejas
locais

IMPACTO O processo teve um impacto significativo no âmbito da igreja. Por exemplo:


■ As igrejas locais em Soroti que concluíram o processo informaram uma mudança na atitude dos
membros da igreja. As pessoas vêem que o seu papel é dar e não ganhar. As contribuições em
dinheiro e em espécie aumentaram dramaticamente. As igrejas cresceram significativamente,
tanto espiritualmente quanto em número. A Superintendência Geral da PAG Uganda gostaria que
todos os distritos adotassem o processo de mobilização da igreja e da comunidade nas suas
igrejas locais.
■ Em Ruaha, os habitantes locais estão se envolvendo mais nas atividades do dia-a-dia da igreja
local e participando, com entusiasmo, na sua missão, o que antes eles viam como
responsabilidade do pastor.
■ No sul do Sudão, o processo resultou numa união maior. As igrejas locais comunicam-se melhor
umas com as outras, e os homens e as mulheres trabalham juntos com maior eficácia.

No âmbito da comunidade, ocorreram muitas mudanças:


■ Uma comunidade mobilizada em Soroti decidiu agir contra um líder comunitário que havia
roubado dinheiro da comunidade. A comunidade inteira reuniu-se e foi até a casa dele para exigir
a devolução do dinheiro; e conseguiu. Isto incentivou muito a comunidade.
■ Numa comunidade em Ruaha, os membros da igreja e da comunidade forneceram os materiais e
a mão-de-obra necessários para reconstruir a casa de uma pessoa da comunidade, que havia sido
incendiada. Antes do processo, os habitantes locais teriam ajudado a apagar o fogo, mas teriam
esperado que ela reconstruísse sua casa sozinha. Numa outra comunidade, a igreja começou
grupos de geração de renda, com a criação de aves e a apicultura. Uma outra comunidade
identificou a necessidade de construir uma casa para o professor. Eles conseguiram tantos
materiais que viram que tinham o suficiente para construir três casas e não apenas uma.
■ No norte do Sudão, o processo reuniu as comunidades cristã e muçulmana, que não mantinham
nenhum contato antes. Juntas, estas comunidades atenderam à sua necessidade de água potável,
angariando US$ 5.000 e instalando encanamento para servir 1.400 moradias. Elas também
começaram outras iniciativas, tais como o trabalho de geração de renda, aulas para adultos, um
jardim de infância e a compra de um gerador para fornecer eletricidade para a comunidade.
Algumas pessoas gostariam de repetir o processo com as suas novas comunidades quando
retornarem para o sul do Sudão.
■ No sul do Sudão, as iniciativas comunitárias foram: a construção de uma igreja e de uma escola
primária, a abertura de latrinas e a construção de uma ponte permanente.

LIÇÕES O PROCESSO PODE SER CARO E PODE LEVAR MUITO TEMPO Este processo exige alto insumo, porque
APRENDIDAS precisa de muitos encontros de treinamento, e, nos intervalos entre eles, o treinador precisa servir de
mentor. Este processo pode ser afetado pela possibilidade de as pessoas irem embora e por
influências externas. Ele pode ser lento demais para ser eficaz em áreas de instabilidade e nas áreas
urbanas, em que as pessoas se mudam com maior freqüência.

ESTE PROCESSO ESPERA MUITO DOS MEMBROS DA IGREJA E DA COMUNIDADE Os facilitadores e os


Despertadores têm de dedicar muito tempo ao processo, participando dos encontros de treinamento e
mobilizando a igreja e a comunidade. Pode ser necessário que eles se afastem de casa para isto. Em
média, um facilitador pode trabalhar meio-turno no processo por 18 meses. Há o risco de que o
Despertador possa se mudar para outro lugar ou deixar o processo, o que aumentaria a quantidade de
trabalho dos Despertadores restantes. Os membros da comunidade têm de comparecer a encontros
comunitários e ajudar a coletar e analisar informações sobre a comunidade. Estes encontros podem
não ser num horário adequado, especialmente para as mulheres.

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para o trabalho
com as igrejas
locais

AS PESSOAS NÃO SÃO PAGAS PELO SEU TEMPO E PELAS SUAS DESPESAS, TAIS COMO OS CUSTOS DE
VIAGEM O fato de que o processo foi realizado com sucesso em diferentes lugares mostra que há um
comprometimento considerável com o processo por parte de todas as pessoas envolvidas. Pode ser
necessário que a organização cristã financie os custos com os facilitadores nas etapas iniciais do
processo, para que eles não fiquem sem dinheiro.
Porém, uma vez que o processo começar a mobilizar
as pessoas, a igreja ou a comunidade pode começar a
valorizar a contribuição dos facilitadores ou
Despertadores e angariar dinheiro para pagar os
custos de alimentação, hospedagem e transporte. Por
exemplo, uma comunidade no sul do Sudão construiu

Foto: Nick Burn


uma casa nas terras da igreja para hospedar pessoas
como os facilitadores durante suas visitas. Uma outra
forma de apoiar os facilitadores e Despertadores é
Membros da comunidade e casas de professores, as
dispensá-los de contribuir com materiais ou dinheiro quais estão sendo construídas sem recursos de fora
para as iniciativas comunitárias. da comunidade.

DEVE-SE INVESTIR TEMPO SUFICIENTE NO TRABALHO COM OS LÍDERES COMUNITÁRIOS, pois o seu apoio
é fundamental para assegurar que uma grande proporção da comunidade compareça aos encontros e
seja mobilizada.

PODE SER DIFÍCIL REALIZAR O PROCESSO NAS ÁREAS RURAIS REMOTAS Os funcionários da
organização cristã têm de ser capazes de viajar até a comunidade regularmente, é necessário um local
para o treinamento, os facilitadores precisam ser capazes de viajar até as comunidades-piloto, e é
necessário que haja pessoas instruídas suficientes para atuarem como Despertadores.

PODE SER MUITO DIFÍCIL USAR O PROCESSO NUMA COMUNIDADE EM QUE JÁ HAJA PROGRAMAS DE
ONGS, porque é difícil romper a síndrome da dependência. ONGs podem vir à comunidade durante o
processo e oferecer soluções rápidas.

O ATAQUE ESPIRITUAL É VISTO COMO DESAFIO PARA O PROCESSO Isto não é de surpreender, já que o
processo desenvolve e equipa a igreja local. Portanto, o apoio em forma de oração para o processo
é vital.

Pontos fortes da mobilização da igreja e da comunidade


Esta abordagem muda as atitudes em vários âmbitos. A atitude da igreja local para com a
comunidade torna-se mais positiva, à medida que os membros da igreja descobrem o seu
chamado para servir aos pobres. A atitude dos membros da comunidade para com a igreja
melhora à medida que eles vêem a igreja olhando à sua volta e procurando fazer algo de
positivo na comunidade. As atitudes entre os membros da igreja e da comunidade melhoram
à medida que as pessoas começam a se escutar e trabalhar juntas.
A abordagem incentiva as comunidades a dependerem mais dos seus próprios recursos
e menos das organizações cristãs e de outras instituições.
Como esta abordagem incentiva o uso dos recursos locais e muda as atitudes, ela é mais
sustentável do que outras abordagens de desenvolvimento. Como é a igreja local que
mobiliza a comunidade, há menos contato entre a comunidade e os facilitadores externos. A
maior parte desta abordagem é, portanto, facilitada e monitorada dentro da comunidade.

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para o trabalho
com as igrejas
locais

Esta abordagem incentiva a replicação. Uma vez que uma igreja local mobilizou uma
comunidade, ela pode compartilhar o que aprendeu com outras igrejas locais à sua volta,
para que elas possam mobilizar suas comunidades. Se houver apoio de funcionários da
denominação no estágio inicial, é mais provável que a abordagem seja replicada além das
igrejas e comunidades-piloto, porque haverá apropriação num nível mais alto. Há evidência de
que, uma vez que as pessoas vêem mudanças positivas numa comunidade, elas se inspiram e
se envisionam para fazer mudanças na sua própria comunidade também.
Esta abordagem pode resultar numa liderança melhor da comunidade. Como a mobilização
da comunidade incentiva as pessoas a se envolverem mais na tomada de decisões sobre
questões comunitárias, a liderança da comunidade passa a prestar mais contas e torna-se mais
transparente. O processo pode fazer com que os líderes corruptos sejam confrontados ou
retirados. Além disso, o processo pode produzir novos líderes comunitários, pois ele geral-
mente consiste em treinar facilitadores locais, os quais adquirem habilidades, autoconfiança e
experiência para se tornarem líderes capazes.
Como é a igreja local que mobiliza a comunidade, a comunidade começa a ver a igreja de
uma forma mais positiva. Como resultado, a igreja local pode crescer em número. Já que esta
abordagem deve trazer união para dentro da comunidade, as pessoas passam a ter menos
medo de serem vistas indo à igreja, e esta torna-se um local de encontro natural. Esta
abordagem também incentiva o discipulado, pois os membros da igreja são incentivados a
estudar a Bíblia e recebem responsabilidade pelo trabalho. O uso de estudos bíblicos para
mobilizar a igreja local ajuda a fazer desta abordagem um estilo de vida, ao invés de um
processo individual.
O trabalho de desenvolvimento tradicional resume-se em organizações oferecendo recursos à
comunidade e, talvez, pedindo a ela que faça uma pequena contribuição. Os processos da
mobilização da igreja e da comunidade são diferentes. As comunidades e as igrejas locais são
incentivadas a considerarem os seus próprios recursos primeiro e, depois, abordarem as
organizações cristãs para obter o que estiver faltando. Esta abordagem é mais sustentável e
empoderadora do que as outras.

Pontos fracos da mobilização da igreja e da comunidade


A mobilização da igreja e da comunidade pode levar tempo. Mudar as atitudes e superar a
relutância dos membros da igreja em interagir com a comunidade leva tempo.
O trabalho pode perder o impulso inicial. Às vezes, é difícil que a igreja local consiga a
apropriação total. Uma vez que os processos começam a se concentrar na mobilização da
comunidade, alguns membros da igreja podem perder o interesse e o entusiasmo.
Esta abordagem pode consistir em muitos encontros de treinamento e um grande investi-
mento de tempo das pessoas e verbas das organizações cristãs.
Os processos da mobilização da igreja e da comunidade podem levar muito tempo: até três
anos. Os resultados tangíveis na comunidade só ocorrem depois de muito tempo. A qualidade
do trabalho, portanto, pode ser afetada, à medida que as pessoas perdem o interesse ou se
mudam para outros lugares. Esta abordagem é mais vulnerável aos fatores externos, o que
pode resultar na mudança de necessidades da comunidade e no abandono de iniciativas.
Um dos pontos fortes desta abordagem é que ela se concentra nas necessidades identificadas
pela comunidade e, assim, traz a mudança sustentável. Entretanto, ao se depender apenas das

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para o trabalho
com as igrejas
locais

perspectivas da comunidade na identificação das necessidades, algumas questões fundamen-


tais podem ser ignoradas. Por exemplo, a comunidade pode não identificar as melhorias na
higiene como uma necessidade, mesmo identificando a água segura. Se a comunidade resolver
a questão da água segura, cavando poços, mas não se concentrar na melhoria da higiene, pode
não haver nenhuma melhoria perceptível na saúde. O HIV (VIH) e a AIDS (SIDA) são uma
outra questão de desenvolvimento que pode ser ignorada na identificação das necessidades por
falta de conhecimento ou por estigma, mas que, depois de receber atenção, pode ter um
grande impacto na vida da comunidade. Uma outra questão importante é a redução do risco
de desastres. A redução do risco de desastres consiste em tomar medidas para evitar futuros
desastres ou torná-los menos destrutivos. Esta questão pode não ser identificada pela
comunidade, porque seus membros podem estar se concentrando na resolução de problemas
que estão ocorrendo no momento. Porém, a falta de atenção para esta questão pode resultar
num sofrimento generalizado no futuro, se um desastre realmente ocorrer numa comunidade
despreparada. Um bom facilitador pode assegurar-se de que estas questões sejam levantadas no
estágio da identificação das necessidades.
Esta abordagem geralmente precisa de facilitadores hábeis. Os facilitadores devem ter uma
boa compreensão teológica, habilidades de facilitação excelentes e uma atitude humilde e
servil, com o compromisso de empoderar os outros. Os facilitadores fornecidos pela
organização cristã geralmente mobilizam as igrejas locais. Os facilitadores da igreja local
geralmente, então, mobilizam a comunidade. Estes facilitadores locais podem já ter as
habilidades necessárias ou podem precisar ser treinados pela organização cristã.
A abordagem pode resultar em relações hostis com uma denominação. À medida que as
igrejas locais são empoderadas, elas podem começar a pedir para tomar mais decisões
participativas e com prestação de contas dentro da hierarquia da denominação.
As organizações cristãs podem achar difícil obter financiamento para esta abordagem, já que
os resultados em termos de iniciativas comunitárias são indefinidos até quase o final do
processo.
A abordagem pode provocar expectativas não realistas. Embora as comunidades sejam
incentivadas a usar os recursos locais para realizar as iniciativas comunitárias, pode ser
necessário apoio externo para algumas prioridades. As organizações cristãs nem sempre têm
verbas ou especialistas para realizar tais iniciativas.

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para o trabalho
com as igrejas
locais

3.3 Empoderamento da igreja para a defesa


e a promoção de direitos
A defesa e a promoção de direitos consistem em se falar contra a injustiça. Consistem em
mobilizar as comunidades para que analisem seu contexto, empoderando-as para se
envolverem mais nos processos políticos e ajudando-as a defender seus direitos humanos. A
igreja local geralmente está bem posicionada para realizar o trabalho de defesa e promoção de
direitos:
■ Os líderes das igrejas têm influência, mesmo nos ambientes seculares. Em muitos países,
eles são reconhecidos pelo seu papel legítimo de falar sobre questões morais. Os líderes das
igrejas, muitas vezes, têm uma voz mais poderosa do que as organizações cristãs.
■ As igrejas locais freqüentemente são formadas por um grande número de pessoas. Alguns
tipos de trabalho de defesa e promoção de direitos beneficiam-se com o poder resultante
de um grande número de pessoas.
■ As igrejas locais estão presentes nas comunidades de base, o que lhes permite compreender
muito bem as questões e representar as comunidades de forma eficaz. Permite-lhes também
trabalhar com as comunidades para realizar o trabalho de defesa e promoção de direitos.
As igrejas locais que fazem parte de uma denominação podem estar numa posição ainda mais
estratégica para fazer mudanças, uma vez que as denominações se beneficiam com o poder
resultante de um grande número de pessoas e uma variedade de ligações externas em cada
nível da hierarquia.

Estudo de caso Pastores realizando o trabalho de defesa e promoção de direitos no Maláui


A Eagles, uma organização cristã do Maláui, envisionou
vários pastores para praticar a missão integral. Os pastores
formaram um grupo chamado “Amor em Cristo” e juntos
identificaram as pessoas mais necessitadas das suas
comunidades e agiram para cuidar delas. Com o tempo,
trabalhando juntos na comunidade e sendo treinados pela
Eagles, os pastores decidiram que deveriam se envolver no
trabalho de defesa e promoção de direitos. Eles perceberam
Foto: Eagles

que algumas questões precisavam de mais do que uma


resposta prática.
Um agricultor e um líder de igreja num
Por exemplo, o grupo tinha ouvido falar que os líderes locais terreno cuja venda eles ajudaram a impedir.
haviam assinado um acordo com uma empresa de açúcar,
que forçaria os agricultores locais a plantar somente açúcar nas suas terras. Os líderes locais não
haviam consultado os agricultores, e os agricultores não estavam satisfeitos com o acordo. Assim, o
grupo de pastores organizou a comunidade para formar um comitê, que discutiria as preocupações
dos agricultores com os lideres comunitários. As negociações foram bem-sucedidas, e a empresa de
açúcar não pôde seguir adiante com os seus planos.

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para o trabalho
com as igrejas
locais

A igreja local pode realizar o trabalho de defesa e promoção de direitos:


■ para apoiar o seu trabalho prático. Ele pode ser útil para incentivar as igrejas locais a
realizarem o trabalho de defesa e promoção de direitos ligado às suas iniciativas práticas,
pois a maioria dos problemas da comunidade têm raízes estruturais e políticas. As
iniciativas práticas podem lidar apenas com os sintomas da questão. A defesa e a promoção
de direitos podem ser usadas para lidar com as causas e levam a um desenvolvimento mais
sustentável.
■ independentemente do trabalho prático que faz. Por exemplo, ela poderia fazer parte de
uma rede de defesa e promoção de direitos e tomar parte em protestos e campanhas através
de cartas para exigir justiça sobre uma questão, enquanto realiza uma iniciativa prática na
comunidade relativa a uma outra questão.

Estudo de caso Defendendo e promovendo a mudança em Zimbábue


Quando milhares de pessoas foram deslocadas dos seus lares em Zimbábue, como resultado de uma
“operação limpeza” do governo, as igrejas locais da cidade de Bulawayo foram as primeiras a reagir.
Elas abriram seus prédios para abrigar as famílias afetadas e, com a ajuda de uma organização cristã,
ofereceram alguns artigos de emergência, como alimentos e cobertores.

A organização cristã aproveitou a oportunidade para mobilizar as igrejas locais para falarem em nome
das pessoas deslocadas. Os líderes das igrejas reuniram-se e recusaram-se a permitir que as autori-
dades mudassem as famílias para campos de detenção até que as instalações dos campos fossem
aceitáveis. Eles também se certificaram de que o impacto da “operação limpeza” fosse claramente
documentado, para que as Nações Unidas e a mídia por todo o mundo pudessem ser informadas.

O resultado foi que este grupo de defensores e promotores de direitos de igrejas locais cresceu e
passou a ter mais voz na defesa dos pobres. Um ano depois dos despejos forçados, as congregações
locais fizeram uma passeata para protestar contra o fato de que o governo não estava tentando
encontrar novas moradias para as pessoas que haviam sido deslocadas e garantir que elas não
fossem esquecidas.

O número de igrejas envolvidas no trabalho com a defesa e promoção de direitos agora aumentou,
formando um grupo nacional para este tipo de trabalho. A organização cristã oferece treinamento a
grupos de igrejas locais por todo o país. Uma vez treinadas, as igrejas locais trabalham individual-
mente, juntas em âmbito comunitário e em âmbito nacional para defender e promover várias questões
que causam preocupação.

Métodos de defesa e promoção de direitos que as igrejas locais poderiam ser incentivadas a
usar:
TRABALHO EM REDE – incentivar as igrejas locais a interagirem com mais contatos e redes para
criar novas alianças e um movimento para a mudança. Estas redes podem ser de igrejas locais,
nacionais ou internacionais ou redes com agências seculares.
LOBBY– incentivar as pessoas a falarem diretamente com as pessoas que têm influência para
melhorar a situação. Os membros da igreja podem realizar este tipo de trabalho de defesa e
promoção de direitos em nome da comunidade.

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para o trabalho
com as igrejas
locais

CONSCIENTIZAÇÃO – incentivar as igrejas locais a informarem as suas congregações e a


comunidade mais ampla sobre a situação, de maneira a torná-las cientes das questões. Isto
pode ser feito em cultos da igreja, encontros da comunidade, eventos públicos e através da
distribuição de folhetos e de treinamento.
MOBILIZAÇÃO – incentivar as igrejas locais a persuadirem tantas pessoas quanto possível a
entrarem em contato com os responsáveis pelas decisões e exigir a mudança. Isto pode ser
feito através da organização de passeatas para mostrar a força do sentimento das pessoas ou
pedindo-se às pessoas que escrevam cartas para os que estão no poder.
ORAÇÃO – incentivar as igrejas locais a pedirem a Deus que intervenha, uma vez que a injustiça
pode ser resultado de forças e poderes espirituais.

Para obter mais informações sobre como realizar o trabalho de defesa e promoção de direitos,
consulte o Kit de ferramentas para a defesa de direitos (ROOTS 1 e 2).
Alguns métodos da defesa e promoção de direitos podem não ser adequados para serem
usados pelas igrejas em certas situações:
■ Em países governados por regimes opressivos ou corruptos, as igrejas podem decidir que os
métodos abertos de defesa e promoção de direitos não são adequados. Entretanto, o
trabalho de defesa e promoção de direitos sutil e não confrontador poderia ser uma opção.
Por exemplo, os bispos e os líderes de igrejas locais bem conhecidos poderiam criar relações
pessoais com membros do governo a fim de persuadi-los a mudar as políticas. Em alguns
lugares, a igreja pode ter um certo grau de proteção para falar, que outros grupos talvez
não tenham. Entretanto, a igreja precisa ter cuidado para não se associar demais com as
pessoas no poder, especialmente se estas forem injustas. Um outro exemplo do trabalho
não confrontador de defesa e promoção de direitos é educar os habitantes locais sobre os
seus direitos como cidadãos para que possam se manifestar. Poderia ser útil para as igrejas
locais criar vínculos com organizações cristãs internacionais que possam, em seu nome,
fazer lobby internacionalmente contra os regimes opressivos.
■ Em países em que a igreja é a minoria ou é perseguida, as igrejas precisam ser muito
cuidadosas sobre até que ponto se engajar na defesa e na promoção de direitos. Há o
perigo de que elas possam criar ainda mais antagonismo com o Estado e colocar sua
situação em risco. Entretanto, criar alianças com outros grupos minoritários poderia ser
benéfico e proporcionar mais força devido ao número maior de pessoas envolvidas.
■ Embora as igrejas locais possam ser uma força propulsora para a mudança, devido à sua
capacidade de representar as comunidades de base e pela força resultante do grande
número de pessoas envolvidas, elas podem não ter o conhecimento especializado para
realizar a defesa e promoção de direitos de forma eficaz. Se as igrejas não mostrarem que
compreendem totalmente questões complexas, elas podem perder a credibilidade com as
pessoas que tomam as decisões. As igrejas geralmente são melhores falando de questões de
princípio geral do que propondo soluções para questões relativas a políticas. O trabalho em
rede e o apoio de organizações especializadas em defesa e promoção de direitos podem
melhorar a capacidade das igrejas locais para realizar este trabalho de forma eficaz.

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para o trabalho
com as igrejas
locais

Estudo de caso Mobilização da igreja local para a defesa e a promoção de direitos em Honduras
Como parte do programa Deborah, que visa a
reduzir a violência doméstica na zona central de
Honduras, a organização cristã Proyecto Aldea
Global mobilizou igrejas locais para realizar a
defesa e a promoção de direitos. Os principais
alvos do trabalho de defesa e promoção de

Foto: Esther Stansfield


direitos eram as pessoas que cometiam violência
doméstica.

Foi produzido um manual para pastores, com


ferramentas para ajudá-los a conscientizar as Passeata de protesto contra a violência doméstica.
pessoas sobre a violência doméstica dentro das
suas congregações. Entre outras coisas, este manual traz resumos de sermões, conversas com
jovens e orientação sobre como aconselhar as vítimas da violência doméstica. Os pastores foram
convidados a participar de seminários, onde os manuais foram usados e distribuídos. Foram
distribuídos também cartazes, que os pastores podiam afixar nos prédios das igrejas. Os pastores
também foram incentivados a usar fitas roxas para mostrar seu apoio à campanha.

Foram organizados uma passeata e um rali para promover a “Paz na família”, aos quais pediu-se que
os membros das igrejas e os pastores comparecessem. Quatrocentas pessoas participaram da
passeata pela cidade de Siguatepeque para conscientizar os outros sobre a violência doméstica, para
mostrar aos habitantes locais que esta é inaceitável e para que as pessoas que a sofrem pudessem
descobrir onde conseguir ajuda. A passeata saiu no rádio e na televisão cristãos. Como resultado, o
número de mulheres que agora se apresentam para fazer queixas de violência doméstica e procurar
ajuda aumentou dramaticamente.

REFLEXÃO ■ Quais destas abordagens seriam mais adequadas para a nossa situação?

■ Que estruturas precisariam ser estabelecidas para que pudéssemos realizar este tipo de
trabalho?
■ Que pesquisas precisariam ser feitas?

Resumo
Nesta seção, examinamos três maneiras de se trabalhar com as igrejas locais:
■ Mobilização da igreja
■ Mobilização da igreja e da comunidade
■ Empoderamento da igreja para a defesa e a promoção de direitos.

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Seção ROOTS 11 PA R C E R I A C O M A I G R E J A L O C A L

4 Questões-chave a serem
consideradas
Examinamos a igreja local e o seu papel central na missão integral. Examinamos também
formas como as organizações cristãs podem trabalhar com as igrejas locais para libertar este
potencial.
Esta seção examina questões-chave que devem ser consideradas pelas organizações cristãs, se
desejarem trabalhar mais diretamente com as igrejas locais.
Para começar, pode ser útil que a organização cristã se pergunte se precisará mudar
fundamentalmente sua visão, seu foco e sua estrutura para ter uma parceria mais eficaz com as
igrejas locais. A Seção 4.1 explora esta questão e oferece algumas diretrizes úteis.
Em segundo lugar, a organização cristã pode achar útil pensar sobre o que “parceria”
realmente significa antes de começar a trabalhar mais diretamente com as igrejas locais. A
Seção 4.2 oferece alguma orientação sobre isto.
Em terceiro lugar, no estágio inicial da mobilização da igreja, a organização cristã precisa
pensar sobre como influenciará os líderes das igrejas, pois estes são essenciais para o processo.
Os bons líderes podem fazer uma grande diferença para o resultado. A Seção 4.3 traz modelos
e ferramentas para ajudar as organizações cristãs a contribuírem para o desenvolvimento de
bons líderes.
Em quarto lugar, uma organização que quiser entrar em parceria com as igrejas locais
precisará pensar sobre como envisionará essas igrejas para a tarefa da missão integral. A Seção
4.4 oferece orientação, estudos de caso e ferramentas sobre isto.
Uma quinta área-chave, que deve ser considerada pela organização cristã, é como facilitar a
mobilização da igreja e da comunidade. A Seção 4.5 traz idéias e ferramentas importantes para
isto.
Uma sexta área, crucial para a sustentabilidade e o empoderamento, é como a organização
cristã poderá incentivar as igrejas locais e as comunidades a usarem os recursos locais para
financiar suas atividades. A Seção 4.6 dá orientação sobre isto.
Finalmente, para fins de prestação de contas e qualidade das iniciativas, a organização cristã
precisará pensar sobre como irá monitorar e avaliar o seu trabalho e as parcerias com as igrejas
locais. A Seção 4.7 traz algumas idéias sobre isto.

Não há espaço suficiente neste livro para uma discussão detalhada destas questões. Cada uma
delas merece um livro inteiro só para si. Porém, achamos que pode ser útil apresentar algumas
idéias iniciais e algumas ferramentas. A Seção 5 dá exemplos de outros recursos, caso as
organizações desejem considerar estas questões de forma mais detalhada.

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4
Questões-chave ROOTS 11 PA R C E R I A C O M A I G R E J A L O C A L
a serem
consideradas

4.1 Mudança de foco das organizações cristãs


Algumas organizações cristãs podem ter de mudar consideravelmente antes de poderem
começar a trabalhar com as igrejas locais. Este é o caso especialmente das organizações cristãs
que desejam seguir o modelo do empoderamento (página 19). Elas talvez precisem mudar
seus valores, sua missão e sua estrutura entre outras coisas. Há duas opções principais para
iniciar a mudança:
■ Uma parte da organização realiza um trabalho-piloto com uma igreja local.
■ Mudar a organização inteira de uma vez, geralmente partindo do topo em direção à
base, através de um processo de mudança organizacional.

4.1.1 TRABALHO-PILOTO COM UMA IGREJA LOCAL


Às vezes, uma ou duas pessoas entusiastas podem influenciar a maneira como a organização
inteira funciona, servindo de modelo de novas atitudes e usando novas práticas-piloto. Assim,
os funcionários comprometidos em equipar uma igreja local para a missão integral poderiam
começar a se envolver com um número limitado de igrejas locais e encontrar novas maneiras
de trabalhar com elas, usando os pontos fortes das igrejas assim como os seus. O resto da
organização continua como de costume. Se der certo, estes funcionários devem compartilhar o
que conseguiram com o resto da organização. Isto pode ser tudo que é preciso para motivar a
organização como um todo para mudar seu foco e sua forma de trabalhar. Se isto não ocorrer,
no mínimo, outros funcionários abrir-se-ão para o processo de envisionamento. O modelo
desenvolvido poderia, então, ser usado para a organização inteira. Esta mudança estrutural
evolutiva é geralmente mais suave do que o processo de mudança organizacional.

4.1.2 PROCESSOS DE MUDANÇA ORGANIZACIONAL


O compromisso com o trabalho com as igrejas locais pode exigir uma reorientação
fundamental da missão e da visão da organização, uma nova estrutura e um plano estratégico
que reconheça o papel da igreja local. Se houver pelo menos alguns funcionários com visão
para trabalhar com uma igreja local, o processo de mudança organizacional pode ser uma boa
maneira de envisionar outros funcionários. Sem este envisionamento e esta mudança dentro
da organização, qualquer tentativa de trabalhar com as igrejas locais por parte de uns poucos
funcionários comprometidos provavelmente não terá recursos suficientes e será ineficaz,
insustentável e causará divisão dentro da organização.
O processo de mudança organizacional pode ser especialmente útil para uma denominação
que precise reavaliar a maneira como trabalha na comunidade (veja o estudo de caso da
página 51). Muitas vezes, este tipo de trabalho é realizado por departamentos de desenvolvi-
mento e não envolve as igrejas locais. Ao invés disso, a denominação pode empoderar as
igrejas locais para praticar a missão integral. Para uma ONG, o processo de mudança
organizacional pode permitir que ela trabalhe mais diretamente com as igrejas locais. Seja qual
for o resultado, o processo de mudança organizacional pode ser o mesmo tanto para as
denominações quanto para as ONGs.
Os processos de mudança organizacional variam de acordo com o facilitador, o tipo de
organização e a situação atual da organização (muitas vezes, este tipo de processo acontece
quando a organização está em crise). Porém, depois de examinar vários processos de mudança
organizacional, identificamos alguns elementos comuns:

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4
Questões-chave ROOTS 11 PA R C E R I A C O M A I G R E J A L O C A L
a serem
consideradas

■ Revisão da organização.
■ Revisão e reelaboração da visão e da missão.
■ Revisão da estratégia da organização e reelaboração do plano estratégico. A análise FFOA
(pontos fortes, pontos fracos, oportunidades e ameaças) é uma ferramenta que pode ser
usada para esta revisão.
■ Treinamento para funcionários em diferentes níveis da organização.
■ Habilidades específicas para os funcionários que implementarão o trabalho com as igrejas
locais. Este treinamento pode incluir habilidades de envisionamento e facilitação e como
envisionar e trabalhar com pastores de igrejas.
Os processos de mudança organizacional nas organizações grandes geralmente exigem pelo
menos dois facilitadores. Uma vez que o processo leva muito tempo, não é realista pensar que
apenas um facilitador será capaz de conduzir a organização ao longo do processo inteiro. Em
certos momentos do processo, serão necessárias habilidades diferentes, desde habilidades para
lidar com questões estruturais e de capacidade de alto nível até habilidades em mobilização da
comunidade nas bases. Assim, faz sentido ter uma equipe de facilitação, cujos membros
possam ser trazidos para facilitar o processo em momentos específicos.
Os facilitadores devem ser independentes e, portanto, neutros. Esta neutralidade é
importante, pois a mudança organizacional pode ser um processo delicado e doloroso para os
funcionários e pode revelar ou causar conflitos. Um facilitador de fora da organização deve ser
imparcial. Há mais chances de os funcionários se abrirem sobre seus sentimentos e suas
opiniões com alguém que não esteja envolvido nas operações da organização. Os facilitadores
independentes também podem melhorar a qualidade da revisão, uma vez que têm um ponto
de vista novo sobre a organização e permissão para confrontar. Eles podem fazer perguntas
adequadas relacionadas com a organização como um todo. Uma pessoa já envolvida na
organização pode simplesmente estar preocupada com as questões relacionadas com o seu
próprio trabalho e, assim, não seria um facilitador apropriado para um processo como este.
Por outro lado, os facilitadores de fora podem não ter uma compreensão da organização e
podem ter valores diferentes. Portanto, os facilitadores devem ser selecionados
cuidadosamente.

O compromisso dos líderes seniores com o processo de mudança é vital. Sem o compromisso, a
facilitação torna-se inútil, por maior que seja.

Pontos fortes dos processos de mudança organizacional


Os processos de mudança devem criar uma organização comprometida com a prática da
missão e estruturada em cima dela. Isto torna a organização mais focalizada e eficaz no que
diz respeito a fazer mudanças reais.
Estes processos podem ser especialmente bons para uma denominação eclesiástica, pois as
estruturas já estão presentes para permitir que a nova visão e o treinamento sejam
transmitidos de cima para baixo às igrejas locais. Uma vez que o processo de mudança foi
concluído, o impacto nas bases pode ser sentido após um espaço relativamente curto de
tempo.

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Questões-chave ROOTS 11 PA R C E R I A C O M A I G R E J A L O C A L
a serem
consideradas

Embora caros, os processos de mudança são rentáveis, pois lidam com questões no centro da
organização e asseguram que todos os funcionários estejam trabalhando para alcançar a
mesma meta. Uma vez que as questões centrais foram resolvidas, o impacto positivo do
processo pode chegar, aos poucos, às comunidades de base.

Pontos fracos dos processos de mudança organizacional


Os processos de mudança organizacional são vulneráveis ao fracasso:
• Estes processos podem levar anos, ao invés de meses, para serem concluídos. Durante este
tempo, o comprometimento da organização, da liderança e dos funcionários com o
processo pode oscilar. Funcionários importantes podem sair da organização, e o ambiente
externo pode mudar. Este processo pode ser frustrante para as pessoas envolvidas, porque
os resultados tangíveis só são vistos no final do processo.
• Estes processos dependem do tempo que os funcionários têm para participar. Pode ser
difícil especialmente para os funcionários seniores dar atenção completa ou prioridade ao
processo.
• Estes processos dependem da presença de funcionários hábeis, que possam desenvolver,
implementar e gerir o plano de mudança. Freqüentemente o processo de mudança
organizacional é necessário, justamente porque já há falta de funcionários hábeis para
começar.
• Estes processos podem confrontar as relações de poder e, assim, perder facilmente o
apoio dos funcionários seniores.
• Todos os funcionários dentro da organização precisam estar comprometidos com o
processo. Se este pertencer somente a uma pequena equipe dentro da organização, o
processo pode perder a eficácia e o impacto. Não é suficiente que a liderança
simplesmente invista recursos e pessoal no processo. Ela precisa estar pessoalmente
envolvida.
• Estes processos são um modelo de mudança de cima para baixo. Embora isto seja um dos
seus pontos fortes, por torná-los eficazes e eficientes, também pode ser visto como um
ponto fraco, porque uma abordagem como esta não dá o exemplo da boa prática de
desenvolvimento. Corre-se o risco de que a denominação estabeleça a sua agenda, e as
igrejas locais simplesmente a sigam. É importante que a igreja local se aproprie do trabalho
e assuma a liderança.

No caso de um processo de mudança na denominação, há o risco de que o impacto não vá


além da igreja local. A esperança é que, uma vez que a igreja tenha mudado, a comunidade se
beneficie. Porém, as igrejas locais freqüentemente estão voltadas para dentro, ao invés de para
fora. O vínculo entre a igreja e a comunidade deve ser investigado e tratado como parte do
processo de mudança.
Uma vez que os processos de mudança organizacional envolvem o treinamento de funcio-
nários, com a intenção de que eles depois passem o que aprenderam adiante, a qualidade do
treinamento poderia se deteriorar até chegar aos membros da igreja local, que podem estar
recebendo um treinamento de segunda ou terceira mão.

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a serem
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Estudo de caso Projeto Gilgal (Kale Heywet Church, Etiópia)


A Kale Heywet Church (KHC) é uma denominação da Etiópia. Ela consiste em 6.000 igrejas e mais de
5 milhões de membros. A KHC estava se tornando uma organização dividida, em que os funcionários
das sedes principais estavam perdendo contato com as igrejas locais. A KHC era vista como
burocrática, com a tomada de decisões tendo que passar por toda a hierarquia até chegar ao topo.
Isto tendia a restringir a iniciativa local.

Foi decidido que era necessário um processo de mudança organizacional para unificar a denominação
e assegurar que as igrejas locais fossem melhor representadas dentro das estruturas da KHC e
melhor apoiadas por elas. Esperava-se que o processo resultasse em igrejas locais mais envolvidas
no atendimento às necessidades das pessoas pobres nas suas comunidades.

Depois de uma revisão dos ministérios da KHC nos âmbitos nacional e regional, foi trazido um
consultor para trabalhar com os principais representantes da KHC para desenvolver um Plano de
Mudança Estratégica. O principal aspecto deste Plano era envisionar e treinar todos os membros da
denominação sobre questões tais como trabalho em equipe, tomada de decisões e planejamento de
projetos. Para assegurar que todos recebessem treinamento, foi usado um modelo “cascata”. Quatro
treinadores treinaram 300 líderes de região, os quais, por sua vez, treinaram dois treinadores em cada
igreja. Os dois treinadores de cada igreja, então, treinaram as suas congregações. Um outro aspecto
do Plano foi o treinamento de funcionários em gestão da mudança organizacional.

ETAPAS DO 1 Revisão dos ministérios nos âmbitos nacional e de regional.


PROCESSO
2 Corpo central estratégico (constituído por representantes do conselho administrativo, alguns
funcionários das sedes e alguns líderes regionais) treinado por um consultor em gestão de
mudanças e planejamento estratégico ao longo de cinco encontros de treinamento.
3 Desenvolvimento de um Plano de Mudança Organizacional.
4 Implementação do Plano, inclusive treinamento de todos os membros da KHC. O consultor fez
visitas regulares por um período de três anos para treinar e servir de mentor para os treinadores.
Os funcionários da KHC foram treinados para gerir a mudança organizacional.
5 Mobilização das igrejas locais para praticar a missão integral na comunidade.

IMPACTO Este processo durou seis anos e continua em andamento. Ele usou grandes quantias de verbas para
pagar o trabalho de consultoria, a contratação de quatro funcionários de tempo integral e a produção
de materiais de treinamento. Entretanto, há alguns sinais promissores do impacto:

Impacto sobre a ■ As atitudes e o estilo de muitos líderes que trabalham na sede da KHC melhoraram. Agora, as
liderança da KHC pessoas sentem-se capazes de dar suas idéias e opiniões nos debates e nas discussões, sem se
sentirem constrangidas ou atacadas.
■ Nas regiões, os líderes usam um estilo de liderança em que há mais facilitação. A prestação de
contas financeira melhorou.
■ Nos distritos, há um cuidado maior com a seleção de líderes e mais disposição para o trabalho
em equipe.
■ Nas igrejas locais, os líderes estão mais comprometidos com a missão integral, melhores no
planejamento estratégico, mais preocupados com o bem-estar e os pontos de vista dos membros
das igrejas, inclusive das mulheres e dos jovens, e prestam mais contas às suas congregações.

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Impacto na estrutura Houve mudanças significativas na estrutura organizacional da KHC. Por exemplo, foi formado um
organizacional Programa de Empoderamento da Comunidade e Desenvolvimento de Capacidades. Foram iniciados
outros programas para resolver questões como a prevenção e o tratamento do HIV (VIH) e promover
a alfabetização e a educação.

Impacto nas As igrejas estão começando iniciativas sem esperar pela permissão dos seus superiores hierárquicos.
igrejas locais

Impacto na Foram começadas muitas iniciativas, as quais tiveram um impacto positivo nas comunidades locais.
comunidade Por exemplo, houve uma diminuição de 40 por cento nos índices de tifo, malária e mortalidade infantil
em quatro comunidades onde foram construídas farmácias.

Impacto no Numa comunidade, formada por uma tribo marginalizada, a maioria dos 5.000 membros tornaram-se
crescimento da igreja cristãos, como resultado de um trabalho de reconciliação inspirado pelo processo.

LIÇÕES A APROPRIAÇÃO DO PROCESSO POR PARTE DA LIDERANÇA SÊNIOR É VITAL Embora a liderança sênior
APRENDIDAS tenha dado início ao processo, à medida que este foi adiante, tornou-se mais difícil para alguns dos
líderes interagirem com ele. Em todos os estágios, é necessário que haja uma liderança e uma visão
clara para o processo.

É IMPORTANTE DESENVOLVER A CAPACIDADE DA EQUIPE DE TREINAMENTO para satisfazer expectativas


realistas. Se isto não for feito, os funcionários podem ficar exaustos, retardando o progresso do
processo.

O PROCESSO PRECISA SER FLEXÍVEL para lidar com as igrejas locais que começam a implementar seu
treinamento antes que todas as estruturas de apoio estejam estabelecidas. Caso contrário, as
iniciativas da igreja local podem ser mal projetadas ou mal geridas.

PENSE SOBRE COMO CONTINUAR O TREINAMENTO DE ALTO PADRÃO Isto consiste em motivar e apoiar
os treinadores e evitar que se dependa demais dos materiais escritos.

AS QUESTÕES DE GÊNERO PRECISAM SER RESOLVIDAS ABERTAMENTE Não é suficiente pressupor que
as mulheres participarão do treinamento. Elas podem não participar por falta de verbas, índices baixos
de alfabetização ou por não serem normalmente incentivadas a participar na liderança ou nas
atividades das igrejas por toda a denominação.

REFLEXÃO ■ Que novo papel a nossa organização poderia assumir?

■ Nossa organização precisaria mudar consideravelmente para assumir este novo papel?

■ Se a resposta for sim, que opção escolheríamos – o trabalho-piloto ou o processo de


mudança organizacional? Ou será que podemos pensar numa opção melhor?
■ Por que escolhemos esta opção?

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4.2 Trabalho em parceria


As organizações cristãs podem desejar considerar a possibilidade de estabelecer parcerias com
as igrejas locais. Isto torna as relações mais formais e pode formar a base para um trabalho
conjunto mais eficaz.

Estudo de caso ACT (The Association for Christian Thoughtfulness), Índia


A ACT existe para motivar as igrejas locais a praticarem a missão integral. Este estudo de caso é
sobre apenas uma igreja local com a qual a ACT trabalha.

O pastor procurou a ACT, porque queria trabalhar em parceria. A ACT pediu ao pastor que reservasse
algum tempo durante os cultos de domingo para que ela falasse sobre o seu trabalho. A ACT usou
este tempo para envisionar os membros da igreja sobre a necessidade de que eles assumissem a
responsabilidade pela sua comunidade. As pessoas que entenderam a visão, então, fizeram uma
pesquisa na comunidade para descobrir quais eram as necessidades.

A igreja local e a ACT fizeram um memorando de entendimento verbal, em que discutiram questões
financeiras e técnicas.

A ACT facilitou encontros de treinamento para pessoas da igreja local, as quais atuariam como
“animadores”. Estes encontros de treinamento consistiam em treinamento numa série de questões de
desenvolvimento e ofereciam uma oportunidade para que os animadores compartilhassem suas
experiências e aprendessem uns com os outros. A ACT também facilitou quatro encontros por ano,
em que os pastores de várias igrejas locais podiam discutir êxitos e fracassos e, então, orar por eles.

A igreja local foi envolvida na educação da comunidade sobre o HIV (VIH) e a AIDS (SIDA). Como
resultado, as atitudes e o comportamento das pessoas mudaram. Foi aberta uma pré-escola, sendo
que 90 por cento das crianças passaram para a escolarização formal. Foram criadas relações entre a
igreja local e a comunidade. Muitas pessoas de língua hindi começaram a freqüentar a igreja de língua
tamil, e, desde então, estabeleceram uma igreja de língua hindi.

Algumas A parceria é uma relação entre duas pessoas ou dois grupos, que existe para um propósito
observações comum. Os grupos entram em parceria porque podem alcançar mais juntos e concretizar um
sobre a parceria propósito de forma mais eficaz.
A verdadeira parceria não consiste em exploração. Ambos os parceiros têm algo a oferecer à
relação e algo a ganhar com ela. Às vezes, a parceria consiste em compartilhar recursos, tais
como especialistas, conhecimento, equipamento, conexões, oração ou voluntários.
Infelizmente, quando há troca de dinheiro, o doador é, às vezes, visto como mais poderoso do
que o que recebe. Na parceria verdadeira, é necessário que ambos os parceiros participem da
tomada de decisões. Se somente um dos parceiros tomar decisões, o outro parceiro será mais
como alguém que foi contratado para realizar uma determinada tarefa, mas não tem nenhuma
responsabilidade pelo rumo do trabalho como um todo. Isto não é parceria.

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a serem
consideradas

Os parceiros não realizam as mesmas tarefas juntos o tempo todo. As melhores parcerias
ocorrem, porque os parceiros possuem pontos fortes diferentes em termos do que podem
fazer. Eles desempenham papéis que se complementam. Talvez eles só trabalhem naquilo em
que são bons e, assim, não realizem muitas tarefas juntos.
As parcerias exigem transparência. As intenções e as ações de cada parceiro devem ser
esclarecidas ao outro parceiro. Os parceiros, portanto, devem prestar contas um ao outro.
Contudo, as parcerias também exigem confiança, para que cada parceiro possa ter certeza de
que o outro estará usando seus pontos fortes com responsabilidade, para o benefício do
propósito que a parceria está tentando alcançar. Como os parceiros precisam estar comprome-
tidos em trabalhar juntos, a parceria geralmente se baseia em valores comuns, e isto pode
durar muito tempo. A relação é tão importante quanto o propósito que os parceiros querem
alcançar. Caso contrário, a parceria poderia fracassar antes de se alcançar o propósito.
Alan Fowler estuda as ONGs há muitos anos e identificou algumas questões muito
importantes, que devem ser consideradas para que as parcerias sejam bem sucedidas3. Embora
o conselho dele esteja voltado para parcerias entre ONGs dos Hemisférios Norte e Sul, ele
também se aplica a parcerias entre as ONGs do Sul e as igrejas locais:
■ Saiba claramente o porquê da existência da relação. Cada parceiro deve saber claramente
por que quer a parceria e ser realista quanto àquilo com que pode ou não contribuir.
■ Aplique o princípio da interdependência. Se cada parceiro não for dependente do outro de
alguma forma, eles não estarão realmente em parceria.
■ Concentre-se na relação, ao invés de no projeto. Um projeto é um veículo para explorar as
relações, mas não é a base para uma parceria.
■ Crie um processo para o controle compartilhado. Evite o desequilíbrio de poder que
freqüentemente ocorre nas relações, especialmente nas que envolvem a transferência de
verbas. Estabeleça processos e estruturas conjuntas, que resultem num controle
compartilhado.
■ Invista na sua própria reforma. Para que a parceria funcione bem, pode ser necessário que
um dos parceiros invista no desenvolvimento do outro no início da relação. Caso
contrário, pode haver um desequilíbrio de poder na relação, porque um dos parceiros
depende demais do outro.

REFLEXÃO ■ Que parcerias já temos, tais como com outras organizações cristãs, departamentos
governamentais, etc.?
■ O que aprendemos com estas parcerias que pode ser útil para formar parcerias com as
igrejas locais?
■ Se já estivermos em parceria com as igrejas locais, consideramos esta relação uma parceria
verdadeira? O que funciona bem nestas parcerias no momento? O que não funciona bem?

3 Fonte: A. Fowler (2002) “Beyond partnerships: getting real about NGO relationships in the aid system”,
em Fowler, A e Edwards, M (Editores) The Earthscan Reader on NGO Management, Londres, 2002

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a serem
consideradas

Formação de parcerias
Diferentes organizações cristãs têm diferentes tipos e profundidades de relações com as igrejas
locais:
■ Elas podem não ter nenhum contato com as igrejas locais.
■ Elas podem ter algum contato com a igrejas locais, mas, talvez, apenas para angariar
dinheiro entre os membros das igrejas.
■ Elas podem envolver as igrejas locais no seu trabalho, pedindo-lhes que orem.
■ Elas podem consultar as igrejas locais sobre várias questões relacionadas com a
comunidade.
■ Elas podem convidar as igrejas a fornecerem voluntários para projetos.
■ Elas podem apoiar a igreja local na prática da missão integral na comunidade.

REFLEXÃO ■ Que tipos de relação mencionados acima poderiam ser descritos como parceria? Por quê?

Em todos os tipos de relações, exceto a última, a organização cristã está no controle e


determina a agenda. O último tipo de relação é uma parceria em que há apropriação e tomada
de decisões conjuntas. Isto exige uma mudança radical, de organizações cristãs que envolvem
as igrejas locais no seu trabalho para igrejas locais que envolvem as organizações cristãs no seu
trabalho.
As parcerias podem levar anos para serem formadas e se tornarem significativas. Elas podem
precisar passar por um processo de maior interação. Por exemplo, no início, a igreja local pode
estar envolvida na oração e, possivelmente, no financiamento para o trabalho de uma
organização cristã. Gradualmente, a igreja local pode mostrar um comprometimento maior
com a organização, fornecendo mais voluntários para o trabalho dela. À medida que a relação
se aprofunda, a igreja pode querer se apropriar do trabalho realizado pela organização cristã na
comunidade e pedir à organização que a apóie nisto.
A parceria é difícil às vezes, mas pode ser recompensadora e proveitosa. O quadro da página
56 dá algumas dicas sobre as quais refletir na hora de considerar uma parceria com as igrejas
locais.

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a serem
consideradas

Dicas sobre a ■ Parceria não significa apenas trabalhar em conjunto para mudar o mundo lá fora. A parceria
parceria com as também muda as pessoas que a formaram. Esteja preparado para isto, e aprendam um com o
igrejas locais outro. Assegure-se de que a igreja local compreenda as implicações do trabalho com a
comunidade: que o processo transformará a forma de pensar e o comportamento da própria igreja
e não apenas da comunidade.

■ Esteja preparado para que o processo leve muito tempo. Podem ser necessários meses para que a
igreja local esteja pronta para trabalhar com a comunidade, e algum tempo depois disto, para que
haja mudança na comunidade.

■ Procure compreender a cultura, a estrutura, o etos e a forma de pensar de cada igreja local.

■ Evite trabalhar com apenas um grupo dentro de uma igreja local, se houver risco de que isto cause
divisões. Sempre que possível, procure trabalhar com a igreja local como um todo.

■ Evite trabalhar com igrejas com uma liderança fraca ou com lutas pelo poder. A liderança é
considerada um fator-chave para que as igrejas pratiquem a missão integral com sucesso (veja a
Seção 4.3).

■ Reconheça que a agenda da igreja local abrange outras coisas além do trabalho de assistência em
situações de desastres e desenvolvimento.

■ Assegure-se de que o foco seja a igreja local e não a organização cristã. As organizações cristãs
devem cuidar para não impor a sua própria agenda. A igreja local geralmente conhece a
comunidade melhor do que a organização cristã.

■ Esteja preparado para prestar apoio financeiro quando necessário. Embora a igreja e a comunidade
devam ser incentivadas a atender às suas necessidades com os próprios recursos, algumas
necessidades podem exigir mais verbas do que a comunidade pode mobilizar.

Idéias práticas Aqui estão algumas idéias práticas de como as organizações cristãs podem começar parcerias
com as igrejas locais:
■ Para começar, pode ser melhor descobrir que igrejas locais da área já estão praticando a
missão integral. Isto ajudará a organização cristã a observar como as igrejas praticam a
missão integral, descobrir que tipos de apoio ela pode oferecer e aprender sobre parceria.
Mais tarde, quando a organização tiver criado autoconfiança neste novo estilo de trabalho,
ela poderá procurar envisionar outras igrejas locais para que pratiquem a missão integral.
■ As parcerias devem basear-se nos mesmos valores centrais e num propósito comum.
Através de discussões iniciais com o pastor e possivelmente com outras pessoas na liderança
da igreja local, pode-se ver se os valores são os mesmos e se o propósito é comum.
■ Vejam os benefícios da possível parceria para a missão de cada parceiro. O principal foco
deve ser o reino de Deus.
■ Considerem juntos os pontos fortes e fracos de cada parceiro. Se um parceiro tiver um
ponto fraco, que possa limitar o que a parceria quer alcançar, veja como podem trabalhar
juntos para superá-lo.
■ Conversem sobre como cada parceiro pode contribuir para a parceria e o que cada parceiro
espera do outro. Pode ser útil, então, escrever tudo isto num acordo de parceria.

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consideradas

■ A parceria pode ser uma relação simples no início, baseada numa tarefa específica, mas,
com o passar do tempo, a parceria deve se desenvolver. Como a parceria consiste em
relações, ambos os parceiros devem estar preparados para uma relação de longo prazo
desde o início, mesmo que estejam trabalhando inicialmente para alcançar uma meta
simples.
■ Comecem com uma iniciativa-piloto para criar autoconfiança nos novos papéis e na
parceria.
■ Comuniquem-se freqüentemente. Estejam abertos para aprender um com o outro.

Estudo de caso Parceria com a igreja local em Mumbai, Índia


A organização cristã Inter-mission Cares em Mumbai, na Índia, tem um forte compromisso com o
trabalho com a igreja local. Ela nunca começa nenhum projeto de desenvolvimento comunitário na
área, sem o apoio da igreja local. Ela mapeia a área, identifica as igrejas e encontra-se com os
pastores.

Uma vez que a Inter-mission Cares encontra um pastor que esteja interessado em entrar em parceria,
ela lhe pede que escreva uma carta solicitando que ela venha trabalhar com a sua igreja. O motivo de
se pedir esta carta é ter certeza de que o comitê da igreja tenha discutido a possibilidade e
concordado em trabalhar junto com a Inter-mission Cares, formalizar a relação, garantir a apropriação
do trabalho por parte da igreja e assegurar a prestação de contas da Inter-mission Cares.

O envolvimento mínimo que a Inter-mission Cares pede da igreja local é que ela forneça um prédio e
ore pelo trabalho. Porém, o envolvimento da igreja é geralmente muito maior do que isto.

Quando a Inter-mission Cares começa o seu trabalho na comunidade com a igreja local, ela sempre
procura passar o seu trabalho para a igreja local com que está em parceria. Isto faz com que a igreja
local se mantenha numa posição mais alta na comunidade que a Inter-mission Cares. Numa avaliação
do trabalho comunitário da Inter-mission Cares, foi visto que as pessoas de uma comunidade não
tinham sequer ouvido falar da organização. Elas só sabiam do envolvimento da igreja local no projeto.

REFLEXÃO ■ Devemos considerar a possibilidade de começarmos parcerias com as igrejas locais?

■ Se a resposta for sim, que igrejas locais da nossa região seriam boas parceiras?

■ Que questões devemos considerar antes de abordá-las?

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4.3 Boa liderança


A boa liderança é essencial para que a igreja local consiga chegar até uma comunidade.
■ Como o líder da igreja ou o pastor tem autoridade dentro da igreja local, o seu apoio para a
missão integral pode ter um impacto significativo na prática da missão integral entre os
membros da igreja. Os pastores precisam dar o seu apoio à missão integral, mesmo que não
estejam pessoalmente envolvidos na mobilização dos membros da igreja para praticá-la.
■ Se o pastor delegar responsabilidade pela liderança da missão integral da igreja local a um
membro ou grupo de membros da igreja, é importante que eles sejam selecionados com
base na sua capacidade ou no seu potencial para a liderança. Sem uma boa liderança,
qualquer tentativa de envisionamento e mobilização dos membros da igreja para praticar a
missão integral provavelmente fracassará, mesmo que eles sejam bem-sucedidos no início.
As iniciativas realizadas pela igreja local geralmente exigem uma liderança focalizada, a qual,
com tantas outras responsabilidades, o pastor pode não ser capaz de oferecer. Porém, se o
trabalho for liderado por membros da igreja, os pastores devem ser mantidos informados
sobre o progresso. Sempre que possível, os pastores devem ser envolvidos no trabalho, mesmo
que de forma mínima, como exemplo para os outros. Os pastores desempenham um papel-
chave na proclamação do evangelho da igreja, e para que a igreja mostre que leva a missão
integral a sério, o pastor também deve fazer sua parte para demonstrar o evangelho. Pode
haver momentos em que os pastores precisem usar sua posição de forma estratégica, como a
melhor pessoa para agir em nome da igreja local e da comunidade. Por exemplo, uma igreja
local pode querer engajar-se no trabalho de defesa e promoção de direitos para mudar as
políticas governamentais. Os pastores poderiam usar suas redes e sua influência como voz
moral reconhecida e legítima nas questões públicas.
Se as igrejas locais fizerem parte de uma denominação, os líderes da denominação têm a
função de oferecer cuidados pastorais para os líderes da igreja local, dar o exemplo da boa
liderança e oferecer apoio às igrejas para a prática da missão integral.

O que é a boa liderança?


A boa liderança tem mais a ver com o caráter do que com as habilidades. É útil que os líderes
possuam certas habilidades, tais como a capacidade de delegar, habilidades de facilitação e a
capacidade de tomar decisões, mas estas sozinhas não fazem de uma pessoa um bom líder. Por
exemplo, uma pessoa pode ter habilidades para delegar, mas a sua personalidade pode não
impor o respeito necessário para que as pessoas levem a sério as responsabilidades que lhes
foram delegadas.
É importante não confundir liderança com gestão. A diferença geral é que os líderes têm
visão, enquanto que os gestores administram as tarefas para alcançar a visão que lhes foi
estabelecida. Nem todos os bons líderes são bons gestores, e nem todos os bons gestores são
bons líderes.
A passagem da Bíblia 1 Timóteo 3 descreve as características fundamentais de um bom líder
cristão:
BOM EXEMPLO (versículos 2-8, 11) Os líderes têm influência. Assim, as pessoas que os seguem
procuram orientação neles. Elas se orientam tanto pelas suas ações quanto pelas suas palavras.
Paulo fala sobre as qualidades dos bons líderes de igreja dentro da cultura daquela época. O

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resto da Bíblia mostra-nos que Deus deseja que todos os cristãos tenham estas qualidades –
não apenas os líderes. Porém, Paulo menciona essas qualidades na sua carta sobre os líderes
para Timóteo, porque ele reconhece que os líderes inspiram as pessoas que lideram.
CAPACIDADE PARA ENSINAR (versículo 2) Os bons líderes devem ser capazes de ensinar clara e
fielmente a Bíblia às pessoas.
HUMILDADE (versículos 3 e 6) Um bom líder serve às pessoas à sua volta, inclusive as pessoas
que lidera. Ele reconhece a responsabilidade da sua liderança, mas a sua motivação é servir,
não o benefício pessoal.
FÉ EM DEUS (versículo 9) Os bons líderes devem manter-se fiéis à verdade.

ESTUDO Liderança servil


BÍBLICO
É tentador para os líderes abusar da sua • Como nos podemos incentivar uns aos
responsabilidade. A visão mundana de outros para sermos líderes servis?
liderança é que os líderes devem ser ■ Leia João 13:1-17.
servidos pelas pessoas que lideram. Porém,
• O que é notável quanto ao estilo de
uma visão de liderança voltada para Deus
liderança de Jesus?
inverte esta idéia.
• Como nos sentiríamos se fôssemos um
■ Leia Mateus 20:25-28. Jesus sabe que dos discípulos? Os discípulos provavel-
está para morrer. Ele passou os últimos mente se sentiram assombrados, pois
anos ensinando seus discípulos com o lavar os pés dos outros não é uma tarefa
fim de equipá-los para fazerem agradável, e Jesus era o seu Mestre e
seguidores de Jesus depois que ele Senhor (versículo 13).
morresse e tivesse ido para o céu. • O que Jesus manda?
• De que maneira os discípulos são • Servir aos outros é sempre uma tarefa
diferentes dos outros líderes? agradável? Observe que Jesus lavou os
• Qual deve ser a sua motivação pés de todos os seus discípulos,
(versículo 28)? inclusive os de Judas, que estava a
• Pense em alguns exemplos locais reais de ponto de traí-lo.
cada tipo de liderança. • De que forma podemos liderar dando o
• Como podemos nos tornar líderes servis exemplo?
melhores?

REFLEXÃO ■ Que características procuramos num bom líder?

■ Existe o risco de que procuremos características que não sejam importantes?

■ A liderança é um dom que pode ser desenvolvido ou um chamado de Deus?

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Jesus é o modelo do bom líder. Ele tinha mais poder, sabedoria e compreensão do que
qualquer líder poderia desejar. Contudo, o seu ministério foi sempre servir e incentivar.
Embora seus discípulos tenham cometido muitos enganos e o tenham deixado desapontado,
ele continuou a incentivá-los, apoiá-los e desafiá-los. Entre outras coisas, Jesus:
■ tinha um conhecimento e uma compreensão profunda das Escrituras
■ passava parte do seu tempo em oração, porque queria ser guiado por Deus
■ compartilhava o fardo da liderança através da delegação e do treinamento de outros para
assumirem responsabilidades da liderança.
Os líderes cristãos mais eficazes reservam tempo para identificar dons e potencial nas pessoas e
incentivá-las a se desenvolverem como cristãos individuais e porem sua fé em ação. Um bom
líder assegura-se de que todos tenham a oportunidade de participar, sejam eles do sexo
masculino ou feminino, jovens ou velhos.

Líderes devotos ■ Os líderes devotos influenciam as pessoas para que sigam Cristo, ao invés de seguirem a eles
(1 Coríntios 11:1).

■ Os líderes devotos influenciam as pessoas para que usem seus dons, ao invés de admirarem os
dons do seu líder (Efésios 4:11-13).

■ Os líderes devotos influenciam os outros para a maturidade e não para a dependência


(Efésios 4:11-13).

■ Os líderes devotos sabem que é Deus que influencia as pessoas, e não as suas próprias
capacidades (2 Coríntios 12:7-10).

■ Os líderes devotos influenciam os seus seguidores para servirem aos outros (Marcos 10:42-45).

Adaptado de Servant leadership facilitator manual, de Sila Tuju,


para o Centro Chalmers para o Desenvolvimento Econômico e de Desenvolvimento.

A liderança nem sempre é fácil e não é um dom que todos possuem. As pessoas na liderança
estão numa posição de poder, fácil de ser abusada. Com o poder, vem a responsabilidade para
usá-la com sabedoria, para o bem de todos. Os líderes correm o risco de assumir responsabili-
dade demais, sem delegar algumas delas aos outros, o que pode torná-los menos eficazes em
decorrência do cansaço ou de doenças.
Só porque uma pessoa é um bom líder, não quer dizer que ela seja a pessoa certa para liderar
uma iniciativa em particular:
■ Diferentes líderes têm diferentes estilos de liderança. Por exemplo, alguns podem envolver
as pessoas quando toma decisões, enquanto outros podem consultar as pessoas e, então,
tomar a decisão eles mesmos. Alguns líderes estabelecem limites para guiar as pessoas que
lideram, enquanto outros lhes dão liberdade para agir. Alguns líderes podem ter muita voz,
enquanto outros são quietos e lideram através das ações. Diferentes situações exigem
diferentes estilos de liderança. Os líderes podem ter de adaptar o seu estilo ou encontrar
outra pessoa para liderar.

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consideradas

■ Um líder pode ter compromissos que o impeçam de assumir novas funções de liderança.
Por exemplo, ele pode já ter uma função de liderança noutro lugar e não ter tempo ou
energia para assumir outras responsabilidades como líder. Ou, num determinado
momento, ele pode estar com problemas pessoais, tais como questões familiares que
precise priorizar.

Para superar algumas destas questões de liderança, pode ser útil que a pessoa que está
liderando um trabalho tenha uma equipe de pessoas para ajudá-la. Isto tem as seguintes
vantagens:
MELHOR TOMADA DE DECISÕES por meio da discussão em grupo das questões, mesmo que o líder
seja o responsável por tomar a decisão.
MELHOR GESTÃO DAS ATIVIDADES O líder pode não ter habilidades de gestão, mas outros membros
da equipe talvez as tenham. Os membros da equipe também podem ter outros conhecimentos
e habilidades úteis para o trabalho.
APOIO PARA O LÍDER Como a liderança não é fácil, a equipe poderia oferecer apoio emocional,
espiritual e prático para o líder. A presença da equipe dá uma oportunidade para que o líder
delegue responsabilidades para pessoas em quem confia.

Desenvolvimento da liderança para a missão integral


As organizações cristãs que desejam trabalhar com as igrejas locais devem estar cientes da
necessidade de bons líderes e devem procurar apoiar as igrejas no desenvolvimento da
liderança. Existem várias necessidades ou opções de desenvolvimento da liderança que podem
ser relevantes:
TREINAR OS PASTORES ENQUANTO ESTÃO NO SEMINÁRIO para que estejam equipados para mobilizar as
igrejas e apoiar iniciativas práticas realizadas pela igreja. Isto consiste em educar e empoderar
os pastores para que compreendam, ensinem e implementem a missão integral. Além de
ensinar a teologia da missão integral, o treinamento prático poderia incluir habilidades de
envisionamento e facilitação e metodologias de desenvolvimento. O desenvolvimento da
liderança é outra área em que os estudantes deveriam ser treinados. Os pastores precisam ser
capazes de identificar líderes em potencial nas suas congregações e oferecer-lhes treinamento e
oportunidades de liderança.
Os pastores
ENVISIONAR E TREINAR PASTORES QUE JÁ ESTEJAM TRABALHANDO NAS IGREJAS LOCAIS
podem precisar ser envisionados primeiro para, só então, compreenderem a necessidade de
que a igreja demonstre o evangelho.
■ Muitas vezes, os membros da igreja têm uma visão para a missão integral, mas têm
dificuldade em agir, porque o pastor não compreende a necessidade da missão integral.
■ Quando nem os membros da igreja nem o pastor estiverem cientes da necessidade de
missão integral, os pastores são as melhores pessoas para envisionar as pessoas por motivos
práticos e estratégicos. É mais fácil concentrar-se nos pastores, pois eles, muitas vezes,
encontram-se regularmente para discutir questões da área local, do distrito, da região ou
do país. Um encontro de envisionamento ou de treinamento para os pastores pode ter um
impacto amplo, pois eles freqüentemente retornam para suas igrejas e transmitem o que
aprenderam. Estrategicamente falando, os pastores são as melhores pessoas para envisionar
os outros, porque eles têm autoridade dentro da igreja local e são vitais para influenciar os
valores e as crenças dos outros. Uma vez convencidos da necessidade de missão integral,

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a serem
consideradas

eles provavelmente convencerão os membros das igrejas, o que propiciará a realização de


iniciativas.
■ Se as igrejas locais fizerem parte de uma denominação, pode ser útil envisionar também os
líderes da denominação, pois estes podem oferecer um apoio valioso para as igrejas locais
que estão praticando a missão integral.
Uma vez que os pastores foram envisionados, eles podem envisionar os membros da igreja:
■ por si próprios através de sermões, encontros e exemplo
■ trazendo um facilitador de uma organização cristã
■ mandando líderes em potencial para serem treinados em missão integral, os quais
retornarão para envisionar e treinar outros membros da igreja.

APÓIE AS PESSOAS QUE LIDERAM INICIATIVAS Seja o pastor ou um outro membro da igreja o líder de
uma iniciativa, esta pessoa precisará de treinamento e apoio consideráveis. O treinamento
poderia abranger habilidades relacionadas com a liderança, tais como o trabalho em equipe
eficaz, motivação de pessoas e delegação de responsabilidades. Pode ser necessário treinamento
em questões relacionadas com as iniciativas, tais como captação de recursos, levantamento de
necessidades e monitoramento e avaliação. Quando oferecerem treinamento, as organizações
cristãs devem evitar ser técnicas demais, pois alguns membros de igrejas podem ter tido pouca
escolarização. O conteúdo do treinamento deve estar baseado numa estrutura bíblica e ser
acompanhado por materiais relevantes para os que estão fazendo o treinamento. Por exemplo,
os materiais escritos podem não ser apropriados se as pessoas não forem alfabetizadas. Os
materiais devem ser produzidos no idioma local. O treinamento deve dar oportunidades para a
reflexão pessoal e para que a pessoa aprenda vendo e fazendo. Isto poderia ser feito através de
visitas a outras igrejas locais que estejam praticando a missão integral. A organização cristã e o
pastor da igreja devem atuar como mentores continuamente para os líderes conforme o caso.

Estudo de caso Programa Interno do Union Biblical Seminary, Índia


Muitos seminários da Índia só treinam os pastores para ensinar a Bíblia. Nem sempre eles os treinam
em cuidados pastorais para os membros da igreja e ação social na comunidade. A maioria dos
estudantes de teologia não vêm de famílias pobres e, portanto, podem não ter sido expostos
diretamente a questões de pobreza.

O Union Biblical Seminary queria ajudar os estudantes a compreender o que era a missão integral.
Para fazer isto, foi criado um programa para oferecer aos estudantes um estágio de sete meses numa
organização cristã. Estes estágios visam a desenvolver as habilidades, a visão e a compreensão dos
estudantes. Os estudantes podem acabar trabalhando com pessoas como trabalhadores sexuais
comerciais, crianças de rua ou comunidades faveladas. As atividades realizadas pelos estudantes
podem ser: dar uma educação básica às crianças de rua, aconselhar pessoas com HIV (VIH) e AIDS
(SIDA) e trabalho administrativo básico nos postos de saúde de favelas.

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a serem
consideradas

ALVOS Dar aos estudantes de teologia a oportunidade de trabalhar em comunidades pobres para incentivá-
los a usar uma abordagem de missão integral no seu futuro ministério cristão.

ETAPAS DO 1 Os funcionários do Seminário selecionam de nove a quinze estudantes do segundo ano. O


PROCESSO número de estudantes depende do interesse e da capacidade das organizações cristãs locais que
estão oferecendo vagas para estágio.
2 Os estudantes são encaminhados para uma organização, com a qual convivem e para a qual
trabalham pelos sete meses seguintes. Pede-se aos estudantes que escrevam um diário das suas
experiências e do que aprenderam.
3 Os estudantes encontram-se todos os meses com um mentor por meio dia, para conversar sobre
as suas experiências e refletir sobre como o seu estágio os está moldando ou desafiando na sua
compreensão teológica. As sessões também são usadas como uma contribuição adicional para a
base bíblica para a missão integral.
4 No final do estágio, os estudantes retornam ao Seminário, onde compartilham o que aprenderam
com os outros estudantes através de devocionais e apresentações.

IMPACTO Os estudantes que participaram do programa disseram ter havido mudança nas suas atitudes e na sua
forma de pensar. Na graduação, muitos queriam motivar sua igreja a se engajarem na missão integral.
Um estudante foi trabalhar para a organização em que havia feito o seu estágio, num cargo
especialmente criado para incentivar as igrejas em Mumbai a colocarem em prática a missão integral.
Um outro estudante participa ativamente de uma rede de igrejas de Mumbai que responde ao HIV
(VIH) e à AIDS (SIDA).

Após o estágio, a influência dos estudantes sobre o corpo docente e outros estudantes também foi
positiva.

As organizações que ofereceram estágios também se beneficiaram com o programa. Ter voluntários
por sete meses permitiu-lhes expandir seu trabalho e elas se beneficiaram com o conhecimento
teológico dos estudantes.

LIÇÕES OS ESTÁGIOS DEVEM SER SELECIONADOS CUIDADOSAMENTE, DE ACORDO COM CADA ESTUDANTE
APRENDIDAS Às vezes, os estudantes não possuem as habilidades adequadas para trabalhar com a organização em
que conseguiram estágio. Para que o estágio traga benefícios tanto para o estudante quanto para a
organização que o recebeu, deve-se fazer uma consulta completa com os estudantes e as
organizações antes de designar as vagas para estágios. Antes do estágio, o estudante deve ser
orientado pela faculdade e pela organização.

O PAPEL DO MENTOR É VITAL Alguns mentores querem ensinar demais nas sessões. Os estudantes
precisam de um bom apoio e espaço para falar de preocupações pessoais e identificar questões
importantes que precisarão ser exploradas ao retornarem à faculdade.

O ESTÁGIO DEVE SER ESTRUTURADO DE FORMA A PERMITIR QUE AMBOS, O ESTUDANTE E A


ORGANIZAÇÃO, TENHAM BENEFÍCIOS REAIS COM O PROGRAMA Por exemplo, no início do estágio, a
organização deve estabelecer com o estudante uma série de metas e uma programação para as
atividades. Ela deve oferecer supervisão através de encontros de revisão regulares para avaliar o
progresso e refletir sobre a aprendizagem. A organização poderia pedir ao estudante que fizesse uma
pequena pesquisa aplicada, que pudesse beneficiar o trabalho da organização.

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a serem
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A AVALIAÇÃO FORMAL DO ESTÁGIO DEVE SER UM ASPECTO IMPORTANTE DO PROGRAMA


Tanto o estudante quanto a organização que lhe ofereceu o estágio devem escrever um relatório após
o mesmo. Isto incentiva o aprendizado pessoal assim como o organizacional, que poderá moldar o
futuro desenvolvimento do programa.

DEVEM-SE DAR OPORTUNIDADES AOS FUNCIONÁRIOS PARA QUE ELES PRÓPRIOS ADQUIRAM
EXPERIÊNCIA DE TRABALHO COM AS PESSOAS POBRES, como, por exemplo, trabalhando lado a lado
com os estudantes nos estágios por uma ou duas semanas. Isto pode aumentar muito a capacidade
dos funcionários para apoiar os estudantes antes, durante e após os estágios.

REFLEXÃO ■ Podemos pensar em líderes de igrejas locais que sejam um bom exemplo da boa liderança?
De que forma eles são bons líderes?
■ Que aspectos da liderança precisam ser desenvolvidos nas igrejas da nossa região?

■ Os líderes das igrejas locais estão comprometidos com a missão integral? De que forma
poderíamos envisioná-los e treiná-los?

4.4 Envisionamento para a missão integral


Envisionamento é o processo de transmitir uma visão para outras pessoas. O resultado é que
outras pessoas começam a se apropriar da visão. Isto as incentiva a transmitir a visão adiante
e agir.

Diferença entre Envisionamento significa mudar o coração e a mentalidade dos outros através da motivação e da
envisionamento e inspiração.
mobilização
A mobilização geralmente vem depois do envisionamento e consiste nas pessoas colocando a visão
em prática e concretizando-a.

As organizações cristãs que procuram trabalhar com as igrejas locais geralmente percebem que
as igrejas locais estão em estágios diferentes na sua atitude para com a missão integral e na
prática desta. Algumas igrejas locais podem já estar praticando a missão integral com sucesso e
talvez não achem que precisem trabalhar com uma organização cristã. Entretanto, a maioria
das igrejas ainda têm de considerar a necessidade de missão integral, e as que compreendem
esta necessidade podem não ter a autoconfiança para praticá-la. Portanto, para que as relações
com as igrejas locais valham a pena, as organizações cristãs podem precisar envisioná-las.

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a serem
consideradas

Identificação da visão atual


Antes do processo de envisionamento, pode ser útil descobrir qual é a visão atual. Isto permite
que o processo de envisionamento seja feito sob medida para a situação atual da igreja. É
possível que a igreja local não tenha nenhuma visão ou que nunca tenha identificado uma
visão conjunta. Ou que a sua visão seja sobre a mudança interna, com pouca consideração
pela missão da igreja na comunidade. A visão pode ser limitada pelo que a igreja acha que
pode alcançar, dados os seus recursos naquele momento.
O exercício abaixo poderia ser realizado só com o pastor ou com a equipe de liderança da
igreja. Entretanto, uma vez que, para ter sucesso, a missão integral deve ter o comprometi-
mento da igreja inteira, este exercício deve ser feito com todos os membros da igreja sempre
que possível. Os membros da igreja poderiam discutir a visão juntos, ou cada membro
poderia responder a um questionário simples. O método usado para identificar a visão deve
ser escolhido de acordo com a idade e o grau de alfabetização dos membros e sua atitude em
relação às questões de gênero.
Na maioria dos casos, o melhor método pode ser dividir os membros em pequenos grupos de
discussão para responder às perguntas e, depois, escrever e apresentar as conclusões. Pode-se
pedir às crianças ou pessoas não alfabetizadas para desenharem o que compreendem da visão
da igreja em folhas grandes de papel e, então, explicar aos outros membros. Nas igrejas em
que os pontos de vista das mulheres não têm tanta prioridade quanto os dos homens, pode ser
necessário dividir os grupos de acordo com o sexo das pessoas e dar às mulheres as mesmas
oportunidades que os homens para apresentarem suas conclusões. Ao analisar as conclusões,
reserve tempo para considerar as semelhanças e as diferenças entre as visões dos grupos. As
semelhanças provavelmente representarão a visão atual da igreja como um todo.

Perguntas-chave 1 Como queremos que a nossa igreja seja daqui a cinco, dez ou vinte e cinco anos? Considere
questões como: pessoas (número, sexo, idade), louvor, união, missão (o que a igreja faz) e
maturidade espiritual.

2 Como queremos que a nossa comunidade seja daqui a cinco, dez ou vinte e cinco anos?

O motivo de se fazer a segunda pergunta é compreender a atitude da igreja em relação à


missão integral:
■ Se a resposta para esta pergunta não incluir melhorias materiais e espirituais na vida das
pessoas, o processo de envisionamento deverá se concentrar na importância da missão
integral.
■ Se a resposta para esta pergunta incluir melhorias materiais e espirituais na vida das
pessoas, verifique se a igreja vê seu papel nisto. Se a igreja não vir o seu papel na
transformação da comunidade, o processo de envisionamento deverá se concentrar na
importância da missão integral.

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a serem
consideradas

Se as respostas para as perguntas 1 e 2 estiverem de acordo com a missão integral, ainda pode
ser útil dar uma olhada nela como parte do processo de envisionamento, pois é importante
que todos os membros da igreja estejam comprometidos com a visão. Entretanto, este
provavelmente não será o foco do processo de envisionamento. Neste momento, identifique
até que ponto a igreja local colocou em prática sua visão para a missão integral.
• Se a igreja identificar obstáculos para a ação, tais como a falta percebida de recursos e
capacidade, o processo de envisionamento deverá incentivar a igreja a descobrir dons e
potencial existentes entre os membros da igreja.
• Se a igreja já estiver praticando a missão integral, o processo de envisionamento deverá ajudar
os membros a identificarem os êxitos e os fracassos, os pontos fortes e os pontos fracos.
Descubra se a igreja poderia se beneficiar trabalhando com uma organização cristã. O
envisionamento pode não ser necessário neste caso, mas o trabalho conjunto pode ser útil.
O envisionamento não consiste apenas em ajudar os membros da igreja local a considerarem a
necessidade de missão integral a fim de motivá-los a agir. Ele consiste também em inspirar a
igreja sobre as abordagens que usará ao praticar a missão integral. O processo de
envisionamento pode, portanto, incentivar a igreja local a considerar os valores bíblicos que
podem melhorar a qualidade do seu trabalho na comunidade. Estes valores podem ser:
■ Valorizar as pessoas como tendo sido criadas à imagem de Deus, independentemente de
sexo, idade, capacidade, etnia, etc. Isto resulta em iniciativas inclusivas, que podem ter
um forte impacto nas pessoas que não costumavam ser tratadas como iguais na
comunidade antes.
■ Comunicação com Deus. A oração deve dar apoio ao processo inteiro. Precisamos pedir a
Deus sua graça, sua força e sua orientação. É também importante escutar a Deus através
do estudo da sua Palavra e da reflexão sobre o que estamos aprendendo sobre Ele e como
Ele trabalha na vida dos membros da igreja e da comunidade ao longo do processo.
■ Libertar as pessoas para que usem seus dons. Isto está relacionado com a descoberta de
dons entre os membros da igreja. Está relacionado, também, com a libertação de potencial
na comunidade. Caso contrário, corre-se o risco de que as pessoas se tornem dependentes
da ajuda externa e não tenham oportunidades de concretizar o potencial que lhes foi dado
por Deus.
■ Unidade. Chegar até a comunidade é muito difícil. Se houver divisões dentro da igreja,
estas poderão tornar-se ainda maiores durante a implementação das iniciativas na
comunidade. Contudo, para que o trabalho cause um impacto positivo, a igreja precisa ser
vista como modelo. Portanto, as igrejas devem ser unidas, tanto dentro de cada igreja
individual quanto entre as igrejas de uma região.

O processo de envisionamento deve servir de modelo destes valores. As pessoas freqüente-


mente precisam experimentar estes valores por si próprias para compreender a sua importância
antes de usá-los e promovê-los na comunidade.

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a serem
consideradas

Métodos de envisionamento
Primeiro, é necessário decidir quem precisa ser envisionado e quem deve facilitar o processo
de envisionamento.
■ Ao invés de começar o processo pela igreja local, se esta fizer parte da denominação, pode
ser bom, primeiro, envisionar os líderes no distrito, na diocese ou mesmo no âmbito
nacional. A menos que a missão integral conte com o apoio destes líderes, as igrejas locais
podem não ser capazes ou relutar em agir depois de envisionadas. Este envisionamento
poderia ser realizado por uma organização cristã.
■ No que diz respeito à igreja local, pode ser útil envisionar os pastores primeiro, já que, sem
o seu compromisso, os membros da igreja podem fracassar na tentativa de praticar a
missão integral. Os pastores de uma região poderiam ser reunidos para um encontro de
treinamento para envisionamento facilitado por uma organização cristã ou funcionários e
líderes seniores comprometidos da denominação.
■ É importante que todos os membros da igreja sejam envisionados, pois todos eles devem
ser incentivados a se apropriarem da missão integral e se envolverem nela. A ação social
precisa fazer parte da razão de ser das igrejas. Este envisionamento poderia ser facilitado
por líderes da denominação, pelo pastor ou pela organização cristã.

A Tearfund produziu um Guia PILARES chamado Mobilização da igreja. Este Guia contém
materiais baseados em discussões para grupos de igrejas e poderia desempenhar um papel
importante no envisionamento das igrejas locais e na sua mobilização para a ação. O Guia
cobre 23 tópicos, tais como o papel da igreja, liderança servil, o valor dos pequenos grupos de
estudo bíblico, habilidades de facilitação e planejamento para o crescimento. Não são
necessários líderes treinados para se usar o Guia. Veja a Seção 5 para obter mais informações
sobre como a acessar esse Guia.
É vital que o processo de envisionamento com a igreja local inclua o estudo bíblico. Para que
o trabalho realizado pela igreja seja benéfico, ele precisa ser motivado pela Palavra de Deus e
baseado nela. Os estudos bíblicos da Seção 1 deste livro podem ser úteis. As seguintes
passagens bíblicas também podem ajudar a atender a várias necessidades de envisionamento:
Unidade (1 Coríntios 12:12-31); Dons (Romanos 12:3-8); Valorização das pessoas (João
4:1-26); Comunicação com Deus (Lucas 11:1-13).

ESTUDO Sal e luz


BÍBLICO
■ Leia Mateus 5:13-16. Esta é uma • O que significa a igreja ser “a luz do
passagem do “Sermão da montanha” de mundo”? (versículo 14)
Jesus. • Se somos o sal e a luz, que impacto
• Quais são as características naturais e os deveríamos estar causando na nossa
usos do sal? comunidade e na igreja?
• O que Jesus quis dizer quando disse “Vós • O que poderíamos fazer para causar
sois o sal da terra”? (versículo 13) um impacto maior na nossa comuni-
• De que maneira poderíamos perder a dade e na igreja?
nossa “salinidade”?

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Questões-chave ROOTS 11 PA R C E R I A C O M A I G R E J A L O C A L
a serem
consideradas

Pessoas diferentes têm estilos de aprendizagem diferentes. Algumas aprendem escutando,


outras aprendem vendo e outras aprendem fazendo. É importante considerar estes três estilos
de aprendizagem durante o processo de envisionamento:
■ Ao examinar o que a Bíblia diz:
• Pode ser útil que o pastor ensine sobre a missão integral nos sermões, porque ele possui
autoridade e geralmente é respeitado. Porém, não é garantido que todos os membros da
igreja absorvam e deixem o que o pastor tem a dizer influenciar sua vida.
• É importante que os próprios membros da igreja sejam capazes de descobrir e discutir o
que a Bíblia diz. Portanto, o estudo bíblico em grupos, em que todos os participantes
discutem a passagem, é uma boa idéia. Este pode ser um método mais eficaz que os
sermões, se as pessoas aplicarem o que a Bíblia diz na sua vida. Este método precisa ser
adaptado, se o trabalho for com membros da igreja não alfabetizados. Por exemplo, um
membro do grupo poderia ler a passagem em voz alta duas ou três vezes. Eles poderiam,
então, fazer uma pergunta que leve à discussão, relendo os versículos relevantes para o
grupo quando necessário.
• Algumas pessoas podem não se encaixar totalmente no processo de envisionamento até
virem o impacto deste. Assim, pode ser útil visitar ou organizar encontros com outras
igrejas locais que já estejam envolvidas na missão integral.
■ No final do processo de envisionamento, alguns membros de igreja podem ainda não estar
convencidos de que seja necessário que sua igreja demonstre o evangelho. Talvez, somente
quando a igreja estiver mobilizada e agindo, eles comecem a compreender o importante
papel da igreja.
■ No final do processo de envisionamento, reúna os membros da igreja para identificar uma
nova visão para a igreja. É importante que todos os membros da igreja saibam e
compreendam a visão da igreja. O pastor pode mencionar a visão quando necessário, pois
poderá haver momentos no futuro, em que a igreja precise ser reenergizada.

Estudo de caso Envisionamento de igrejas locais no Quirguistão


O cristianismo é recente no Quirguistão. Muitas igrejas enfatizam principalmente a pregação do
evangelho e estão menos preocupadas com as necessidades das pessoas pobres. Até o colapso da
União Soviética, em 1991, a abordagem do sistema político era impedir que as pessoas tomassem
iniciativas para melhorar sua vida. Isto afetava o processo de tomada de decisões, a capacidade das
pessoas de tomar parte na vida pública, a qualidade da liderança e o bem-estar das pessoas. A igreja
não participava dos assuntos sociais e políticos, porque não tinha a motivação, as habilidades ou o
conhecimento para isto.

O (Centro de Iniciativas) Suiuu Bulagy, uma organização cristã, incentiva e equipa igrejas locais para
desempenharem um papel maior na sociedade. Seu trabalho consiste em envisionar as igrejas locais
e oferecer treinamento, informação e oportunidades de trabalho em rede.

No início, foi difícil formar vínculos com as igrejas locais. Elas não estavam interessadas em interagir
umas com as outras, porque não confiavam no ensinamento das outras igrejas. No primeiro encontro
de treinamento, havia somente dez pessoas, de diferentes igrejas. Quando os participantes voltaram
para as suas igrejas, os pastores e os membros das igrejas não apoiaram o seu desejo de realizar
iniciativas na comunidade. Os pastores só queriam que eles prestassem atenção ao crescimento
espiritual.

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Questões-chave ROOTS 11 PA R C E R I A C O M A I G R E J A L O C A L
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consideradas

O Suiuu Bulagy decidiu que os pastores das igrejas locais precisavam ser envisionados sobre a
missão integral. Eles fizeram uma conferência para os pastores e convidaram uma pessoa conhecida
para falar. Esta pessoa sabia falar com autoridade, e a sua presença na conferência incentivou os
pastores a comparecerem. Os pastores começaram a compreender o trabalho do Suiuu Bulagy e
quiseram cooperar com ele.

No ano seguinte, foi realizada uma conferência para pastores sobre o papel da igreja na proteção dos
direitos humanos. Um palestrante conhecido veio à conferência e ajudou o Suiuu Bulagy a fazer um
treinamento na defesa e na promoção de direitos com os pastores. Os pastores ficaram tão entusias-
mados, que formaram uma aliança. Há planos de uma nova conferência, e o Suiuu Bulagy agora
consegue mobilizar as igrejas locais para participar de eventos, tais como a limpeza das ruas da cidade.

Estudo de caso Mobilização dos pastores em Moçambique


O HIV (VIH) e a AIDS (SIDA) causam cada vez mais preocupação
em Moçambique. Contudo, muitas igrejas locais não queriam fazer
nada. Elas achavam que era imoral falar sobre o HIV e a AIDS,
porque muitos os consideravam uma punição de Deus.

Foto: Jorge Cambinda


A Kubatsirana, uma organização cristã, foi criada na cidade de
Chimoio para mobilizar e treinar pastores para responder ao HIV e
à AIDS. Desde que a Kubatsirana foi criada pelos pastores, foi
relativamente fácil envisionar outros pastores. Na cultura local, há Os voluntários de uma igreja local
mais probabilidades de as pessoas ouvirem as mensagens de têm um uma horta comunitária para
produzir legumes para pessoas que
outras pessoas iguais a elas. Foi criado um comitê de pastores vivem com o HIV e a AIDS.
para envisionar outros pastores na área. Eles visitavam igrejas
locais nos domingos e apresentavam a visão, a missão e os programas da Kubatsirana. Isto
incentivou os pastores e os membros da igreja a participarem do treinamento. A Kubatsirana
incentivou as igrejas mobilizadas a visitarem iniciativas implementadas por outras igrejas locais para
que elas pudessem aprender e fortalecer suas próprias atividades.

Como resultado do trabalho da Kubatsirana, muitas igrejas agora estão trabalhando juntas para
resolver questões relacionadas com o HIV e a AIDS. As igrejas locais estão cuidando das pessoas
doentes. Há menos discriminação por parte das igrejas locais contra as pessoas que vivem com o HIV
e a AIDS. Há mais membros da igreja fazendo testes e aconselhamento voluntário. As igrejas estão
prestando cuidados domiciliares aos doentes e encontrando famílias substitutas para cuidar das
crianças órfãs. Algumas igrejas estão oferecendo aulas profissionalizantes para as pessoas afetadas
pelo HIV e pela AIDS, tais como carpintaria, costura e alfabetização.

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Questões-chave ROOTS 11 PA R C E R I A C O M A I G R E J A L O C A L
a serem
consideradas

Envisionamento da comunidade
O processo de mobilização da igreja e da comunidade consiste no envisionamento e na
mobilização da comunidade pela igreja. Para que ocorra uma mudança sustentável, a comuni-
dade precisa se apropriar do processo e contribuir para ele. Portanto, o envisionamento é muito
importante. As comunidades geralmente precisam ser envisionadas em duas áreas-chave:
■ ajudar os membros da comunidade a compreender que eles próprios são agentes de
mudança
■ ajudar os membros da comunidade a compreender que eles têm a capacidade e os recursos
para transformar sua comunidade.

O exercício das páginas 70 e 71 pode ser usado para envisionar membros da comunidade em
relação a estas questões.

Um segredo ALVO Incentivar os membros da comunidade a perceberem que têm o melhor conhecimento sobre a
numa caixa sua região.

Pegue uma caixa de papelão sem buracos. Coloque nela vários objetos encontrados no local. Estes
podem ser: um saco de sementes, algumas pedras, um martelo e alguns pregos. Feche a caixa, para
que ninguém possa ver o que há dentro dela.

Num encontro com os moradores locais, divida os participantes em quatro grupos e dê a cada um
deles um método diferente para descobrir o que há dentro da caixa (veja abaixo). Comece com o grupo
A e termine com o grupo D. Eles têm de ser específicos sobre os detalhes, tais como a cor, o formato
e o tamanho. Cada grupo deve fazer a atividade que lhe foi dada na frente dos outros. Eles devem
decidir em grupo o que acham que há dentro da caixa e compartilhar suas idéias com todos.

■ Os membros do grupo A só podem caminhar ao redor da caixa antes de decidirem o que acham
que há dentro dela.

■ Os membros do grupo B só podem pegar a caixa e cheirá-la ou chacoalhá-la.

■ Os membros do grupo C podem vendar uma pessoa, e esta pode colocar a mão dentro da caixa e
tocar nos objetos, sem tirá-los. Os outros não podem olhar dentro da caixa.

■ Os membros do grupo D podem tirar os objetos um a um e descrevê-los.

Depois disto, pergunte aos participantes o que


aconteceu no exercício:

• Por que o grupo A sabia tão pouco sobre o


que havia na caixa? O que ajudou cada um
dos outros grupos a entender mais sobre o
“segredo”?

• Se o “segredo” na caixa fosse composto de


conhecimentos e recursos importantes da
região, quem saberia mais sobre ele e
quem saberia menos?

Fonte: Guia PILARES Mobilização da comunidade

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Questões-chave ROOTS 11 PA R C E R I A C O M A I G R E J A L O C A L
a serem
consideradas

Plano dos sonhos Este exercício geralmente é usado depois que a


comunidade teve uma oportunidade para discutir os
problemas que enfrenta. Pergunte se eles querem
continuar nesta situação. A resposta geralmente é
“não”!

Faça esta pergunta: Como deveria ser um futuro


melhor? Peça às pessoas que fechem os olhos e
sonhem sobre como elas gostariam que a sua
comunidade fosse daqui a 10 anos, depois, daqui a
20 ou mesmo 30 anos. Depois de cinco minutos,
reúnas as pessoas e converse sobre o que as pessoas
viram nos seus sonhos. Faça uma lista de alguns dos
aspectos. Depois, peça aos membros da comunidade
para desenharem os sonhos numa folha bem grande
de papel. Isto pode consistir em desenhar um mapa
da comunidade, com desenhos de todas as mudanças
que eles querem, como, por exemplo, uma represa,
hortas, uma escola e até uma universidade! Este
desenho é um sonho que pertence a toda a comunidade.

Pode-se consultar o desenho durante todo o resto do processo de mobilização, para que as pessoas se
incentivem ou para identificar as questões que precisam ser resolvidas a seguir. Uma alternativa é
pedir aos membros da comunidade para que façam uma lista das questões principais levantadas no
desenho. Esta lista pode ser usada durante o planejamento.

Baseado no Guia PILARES Mobilização da comunidade

REFLEXÃO ■ Quais das idéias de envisionamento desta seção nos deixaram entusiasmados e por quê?

■ Experimente, em grupo, algumas das ferramentas desta seção. Elas poderiam ser usadas
com eficácia com pastores e igrejas locais na nossa região?

4.5 Facilitação da mobilização


Os facilitadores desempenham um papel vital na criação de relações entre as organizações
cristãs e as igrejas locais e na prática da missão integral. Seu papel diz respeito às seguintes
áreas:
Na organização cristã:
■ envisionamento de funcionários dentro da organização cristã e dos líderes das igrejas sobre
os benefícios do trabalho conjunto
■ criação de relações entre as organizações cristãs e as igrejas locais
■ provisão de facilitação e apoio contínuo

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Questões-chave ROOTS 11 PA R C E R I A C O M A I G R E J A L O C A L
a serem
consideradas

Na igreja local:
■ envisionamento de pastores sobre a importância da missão integral
■ envisionamento de membros da igreja sobre a importância da missão integral
■ treinamento de membros da igreja em metodologias de assistência em situações de
desastres
■ desenvolvimento e defesa e promoção de direitos
■ treinamento de membros da igreja em habilidades de facilitação
■ criação de relações entre as igrejas locais e a comunidade
■ provisão de facilitação e apoio contínuo.

Na comunidade:
■ envisionamento de membros da comunidade
■ facilitação da mobilização da comunidade.

Os facilitadores podem pertencer a uma organização cristã, podem ser consultores externos ou
podem ser membros de igrejas locais.

Papel do facilitador
O papel do facilitador é diferente do papel do professor. O professor explica novos conceitos e
idéias, enquanto que o facilitador é um capacitador e não sabe todas as respostas.

O facilitador pode ser comparado a uma parteira, que ajuda a trazer algo novo e maravilhoso para fora.
Ele não cria a vida, mas oferece apoio e auxílio num momento crucial.

O papel do facilitador é ajudar um grupo a trabalhar de maneira harmoniosa e eficaz para


alcançar suas metas. Todos devem participar no trabalho para alcançar a meta, pois isto
aumenta a qualidade do trabalho. A participação nem sempre ocorre naturalmente, pois
algumas pessoas são dominantes, e outras são tímidas ou não têm confiança. O facilitador,
portanto, desempenha um papel importante no empoderamento das pessoas, garantindo que
todos sejam capazes de participar nas discussões, na tomada de decisões e na realização de
tarefas. O facilitador valoriza o conhecimento e as opiniões de todos e incentiva os outros a
fazerem o mesmo. O facilitador extrai conhecimento e idéias do grupo, permitindo que os
membros aprendam uns com os outros e pensem e ajam juntos. Isto pode consistir na
introdução de exercícios em grupo e em perguntas para dar início a discussões e incentivar
novas formas de pensar sobre as situações. O facilitador deve evitar dar respostas e soluções,
porque o grupo deve estar no controle, ao invés do facilitador. Porém, o facilitador pode
oferecer idéias ou informações ao grupo quando achar necessário.
No caso do envisionamento, o facilitador pode dar ao grupo exercícios para fazer (como os
exercícios das páginas 70 e 71) ou uma passagem bíblica para estudar, para lhes dar uma base
para a discussão. O facilitador pode, então, facilitar discussões e outros encontros a fim de
ajudar a igreja a tomar decisões conjuntas. No caso da mobilização da igreja ou da
comunidade, o facilitador pode precisar facilitar metodologias participativas para ajudar os
participantes a compreender sua situação e determinar áreas que precisem ser melhoradas.

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Questões-chave ROOTS 11 PA R C E R I A C O M A I G R E J A L O C A L
a serem
consideradas

Às vezes, o facilitador precisa assumir um papel de treinador. Por exemplo, o facilitador


poderia dar treinamento em metodologias de desenvolvimento a membros da igreja que não
tenham nenhum conhecimento ou experiência de desenvolvimento. Portanto, o facilitador
pode ter de oferecer muito conhecimento e muitas informações. Porém, isto pode ser feito
através da facilitação e do empoderamento. Mesmo que o papel do facilitador se torne mais
semelhante ao papel de um treinador, pode ser útil chamá-lo de facilitador para garantir que o
controle permaneça nas mãos dos participantes. O treinamento deve ser interativo e levar em
conta os diferentes estilos de aprendizagem, inclusive a aprendizagem adquirida fazendo-se
algo. Portanto, as habilidades de facilitação são tão importantes para as sessões de treinamento
quanto para a discussão participativa em grupo. Os facilitadores experientes trazidos durante o
estágio de envisionamento, podem desempenhar um papel importante na identificação e no
treinamento de facilitadores em potencial entre os membros da igreja e na comunidade, pois,
durante o estágio da mobilização, pode ser bom ter mais facilitadores provenientes das
comunidades de base.

Identificação de facilitadores
A boa facilitação depende tanto das atitudes e do caráter do facilitador quanto das suas
habilidades.

CARÁTER HABILIDADES

■ Humildade ■ Capacidade de fazer perguntas adequadas


■ Disposição para aprender ■ Resolução de conflitos
■ Compaixão ■ Saber ouvir
■ Valorizar os outros – seu foco são os outros e a ■ Capacidade de compreender rapidamente a
situação deles, ao invés da sua situação local
■ Sociável ■ Capacidade de resumir as idéias dos outros
■ Flexível ■ Incentivador, motivador, capacitador
■ Paciente ■ Boas habilidades de comunicação
■ Receptível, seguro e inclusivo
■ Autoconfiante

As pessoas com as atitudes e o caráter necessários são facilitadores em potencial e, muitas


vezes, têm uma habilidade natural para facilitar. Porém, pode ser útil dar-lhes treinamento
para garantir que tenham todas as habilidades necessárias para se tornarem bons facilitadores.
As pessoas com algumas das habilidades necessárias, mas sem as atitudes e o caráter certos,
podem não ser bons facilitadores.
Não pressuponha que as pessoas autoconfiantes serão bons facilitadores. Elas podem ficar
tentadas a falar demais e assumir o controle. Não se deve pressupor, tampouco, que os
professores escolares ou os pastores de igrejas sejam bons facilitadores. Pode ser difícil para eles
mudar sua abordagem educativa para uma abordagem de facilitação. Porém, as pessoas que
mostrarem interesse na aprendizagem participativa podem ser bons facilitadores.

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Questões-chave ROOTS 11 PA R C E R I A C O M A I G R E J A L O C A L
a serem
consideradas

Habilidades de facilitação
Pode-se oferecer treinamento nas habilidades mencionadas na tabela acima. Não há espaço
neste livro para examiná-las detalhadamente, mas damos algumas dicas para os facilitadores e
procuramos lidar com alguns dos desafios que os facilitadores podem enfrentar. Para obter
mais informações, veja o Manual de habilidades de facilitação da Tearfund.

Dicas para os ESTEJA PREPARADO Quando os bons facilitadores estão trabalhando, parece que eles fazem o seu
facilitadores trabalho sem nenhum esforço ou preparação. Porém, eles passaram um tempo considerável
planejando, pesquisando e praticando. Eles têm de pensar sobre o tópico que será introdu-
zido, que perguntas fazer para guiar as discussões em grupo, como as discussões serão
registradas e como incentivar as pessoas a aplicarem o que discutiram e aprenderam nas
discussões.
SEJA FLEXÍVEL Embora os facilitadores precisem estar preparados, eles também precisam estar
abertos para a mudança de planos, se necessário. As necessidades e os interesses dos membros
do grupo devem guiar a discussão para que ela seja relevante.
SEJA ANIMADO Se os facilitadores quiserem que os outros se entusiasmem, eles mesmos terão de
ter entusiasmo.
INCENTIVE O HUMOR O humor pode ajudar a criar um ambiente descontraído e produtivo.
SEJA CLARO Se o facilitador for confuso, o grupo poderá também ficar confuso e rapidamente
perderá o interesse. O facilitador precisa se comunicar claramente e verificar se os membros
do grupo entenderam tudo.
ACEITE SEUS PRÓPRIOS ENGANOS E LIMITAÇÕES Os facilitadores cometem enganos e fazem
suposições erradas. Se o facilitador reconhecer isso, tais enganos poderão ser transformados em
oportunidades valiosas para a aprendizagem.
SEJA PERSPICAZ O facilitador precisa observar o humor e os sentimentos das pessoas. Observe
como as pessoas se comportam entre si e a sua comunicação verbal e não verbal. Se necessário,
converse individualmente e em particular com as pessoas que parecem chateadas ou distraídas
ou com as que não estão respeitando os outros.
Cada pessoa tem um estilo de
USE UMA VARIEDADE DE TÉCNICAS, MÉTODOS E ATIVIDADES
aprendizagem diferente. A variedade mantém todos envolvidos e reforça a aprendizagem.

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Questões-chave ROOTS 11 PA R C E R I A C O M A I G R E J A L O C A L
a serem
consideradas

Como lidar com os Perguntas difíceis • Sugira onde obter informações para
desafios responder à pergunta, como, por exemplo,
• Durante a preparação, procure prever que
Adaptado do Manual de
perguntas as pessoas poderão fazer e pense publicações e departamentos do governo ou
habilidades de facilitação, de ONGs.
Tearfund
sobre possíveis respostas. Porém, não é
possível prever todas as perguntas. • Não tenha medo de dizer que não sabe todas

• Aproveite a sabedoria de outros membros as respostas. Diga que tentará descobrir a

do grupo. resposta para a pergunta para a próxima sessão.

Gestão de conflitos • Se as divergências estiverem relacionadas com

• Esteja atento para possíveis divergências e o tópico da discussão, ajude os participantes a

tensões. Estas podem já existir entre os identificarem as questões sobre as quais

membros do grupo, ou podem surgir como discordam. Depois, incentive o respeito mútuo e

resultado das discussões. conduza os participantes a um acordo, mesmo


que o acordo seja concordar que discordam.
• Incentive as pessoas a resolverem juntas
suas divergências, mantendo em mente as
suas metas comuns.

• Se as divergências não estiverem


relacionadas com o tópico da discussão, peça-
lhes que as resolvam após a sessão.

Como lidar com pessoas dominantes • Divida o grupo em grupos menores.

Para fazer com que alguém pare de dominar a • Introduza um sistema de quotas, em que cada
discussão, as seguintes técnicas podem ser pessoa só pode contribuir com um determinado
usadas: número de argumentos para uma discussão.

• Convide outras pessoas para falar, • Introduza um objeto fácil de segurar. A única
chamando-as pelo nome. pessoa que poderá falar é a pessoa que o estiver
segurando. Certifique-se de que o objeto seja
passado adiante com freqüência.

• Dê à pessoa dominante responsabilidades


dentro do grupo. Por exemplo, peça-lhe para fazer
anotações sobre a discussão. Isto fará com que
escutem mais e falem menos.

Como trabalhar com pessoas tímidas • Dê-lhes responsabilidades pelas anotações,

• Coloque-as em grupos menores, onde pois, para esta função, pode ser preciso fazer

provavelmente se sentirão mais confiantes comentários.

para falar. • Se necessário, converse com elas em particular,

• Peça ao grupo para discutirem as perguntas para descobrir os motivos do seu silêncio.

em duplas primeiro.

• Mencione e use as idéias que as pessoas


tímidas deram para a discussão, para que elas
saibam que são importantes e têm valor.

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Questões-chave ROOTS 11 PA R C E R I A C O M A I G R E J A L O C A L
a serem
consideradas

Os facilitadores treinados como parte de um processo de mobilização da igreja ou da


comunidade devem receber treinamento e apoio contínuos.
Durante o Processo de Avaliação Participativa na África Oriental (veja a página 36), foi
oferecido apoio aos facilitadores da seguinte forma:

ARA
TICA TICA E IGUAL P
PRÁ MENTOR PRÁ MENTOR IS ÃO D M O MENTOR
RIA V O RIA
TEO M O
EM
O RE UAL C TEO
CO S IG

Por exemplo, foi oferecido treinamento aos facilitadores em envisionamento de igrejas locais.
Eles, então, envisionaram duas igrejas locais-piloto sob a orientação e a supervisão de um
mentor. Depois, eles envisionaram mais igrejas locais sozinhos. Todos os facilitadores, então,
reuniram-se com o mentor para refletir sobre o seu progresso e receber um novo treinamento.

REFLEXÃO ■ Podemos pensar em facilitadores em potencial na nossa organização ou nas igrejas locais?

■ Poderíamos usar as informações contidas nesta seção para treiná-los para envisionar e
mobilizar as igrejas locais?
■ Que outra forma de apoio lhes poderíamos dar?

4.6 Incentivo à utilização de recursos locais


Muitas pessoas vêem as organizações cristãs simplesmente como uma fonte de financiamento
e outros recursos para as iniciativas comunitárias. Isto pode ser porque a única experiência que
elas têm com as organizações cristãs é receber a sua assistência durante uma crise. Ou talvez
seja porque os projetos realizados por organizações cristãs na região não precisem de nenhuma
contribuição dos membros da comunidade.
É bom incentivar os habitantes locais a contribuírem com as iniciativas locais. A sua
disposição para contribuir está ligada à apropriação e à sustentabilidade, pois mostra que eles
valorizam a iniciativa. Se eles não estiverem dispostos a contribuir, provavelmente é porque
não estão muito interessados na iniciativa e esta não é relevante. Conseqüentemente, se for
realizada, a iniciativa poderá fracassar e não valerá a pena levá-la adiante. A ferramenta do
quadro a seguir pode ser usada para ajudar os habitantes locais a identificarem os recursos
locais que podem ser usados para o benefício da comunidade inteira.
Nas comunidades muito pobres, algumas organizações cristãs nem pensam em incentivar os
habitantes locais a contribuírem, porque eles são pobres demais. Entretanto, esta atitude pode
ser desempoderadora quando as pessoas já acham que não têm nada para oferecer. Isto pode

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Questões-chave ROOTS 11 PA R C E R I A C O M A I G R E J A L O C A L
a serem
consideradas

fazer com que elas achem que o “desenvolvimento” vem de fora da comunidade e que há
pouco que elas possam fazer, exceto esperar pela ajuda. Mesmo em tempos de crise, a
participação da comunidade é extremamente importante.

Recursos Toda a comunidade possui vários


comunitários recursos diferentes. É importante ajudar NATURAIS

OS
as pessoas a compreender e valorizar

HU
IR

MA
estes recursos, os quais podem ser

CE
AN

NO
ignorados às vezes. Se os membros da

FIN

S
comunidade estiverem cientes da
abundância de recursos que possuem, eles

SO

S
talvez possam ser capazes de lidar com os

CO
CI

SI
problemas da comunidade com uma nova

AI


S
confiança.
ESPIRITUAIS
Existem seis tipos principais de recursos:

NATURAIS Estes recursos incluem a terra, as árvores, as


florestas e a água.

HUMANOS Estes recursos incluem a saúde, as habilidades, o conhecimento e a mobilidade.

FINANCEIROS Estes recursos incluem o dinheiro, o acesso a empréstimos, as oportunidades de


poupança e o apoio do governo.

SOCIAIS Estes recursos incluem a cultura, as tradições, as organizações, os grupos locais, a família
extensa, o acesso a contatos externos e as redes.

FÍSICOS Estes recursos incluem os prédios, as ferramentas, as estradas, as bombas de água, o


transporte e a eletricidade.

ESPIRITUAIS Estes recursos são a força e o ânimo que as pessoas adquirem com a sua fé. Para os
cristãos, os recursos espirituais são: pertencer a uma igreja local, ter acesso a uma Bíblia e a liberdade
para orar.

Explique os diferentes tipos de recursos aos membros da comunidade. Depois, para cada tipo, peça às
pessoas para identificarem os recursos específicos que existem na sua própria comunidade.

Uma vez que os recursos tiverem sido identificados, descubra:

■ quais dos recursos os membros não haviam considerado antes

■ em que recursos a comunidade é rica

■ em que recursos a comunidade é pobre. Muitas comunidades são pobres em recursos financeiros,
mas podem ser ricas em termos de recursos humanos, sociais e espirituais. Às vezes, um tipo de
recurso pode ser usado no lugar de um outro que esteja faltando.

Adaptado do Guia PILARES Mobilização da comunidade

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Questões-chave ROOTS 11 PA R C E R I A C O M A I G R E J A L O C A L
a serem
consideradas

As pessoas pobres podem não ter dinheiro para contribuir. Porém, geralmente há algo com
que podem contribuir, como materiais, mão-de-obra ou tempo. As contribuições não
precisam cobrir todos os custos de uma iniciativa. Ao invés disso, elas devem ser adequadas à
capacidade de contribuir das pessoas:
■ Não adianta nada que as pessoas contribuam com muitos dias de trabalho para uma
iniciativa, se sua vida acabar sendo afetada de forma negativa como resultado. Da mesma
forma, se as pessoas forem contribuir financeiramente, não se deve esperar que elas usem
todas as suas economias. Caso contrário, se houver uma crise, a comunidade pode não ser
capaz de lidar com a situação, e as pessoas podem ser levadas a uma pobreza ainda maior.
■ Por outro lado, se as pessoas não forem incentivadas a contribuir suficientemente, pode
não haver apropriação da iniciativa, e o trabalho poderá não ser sustentável.

As organizações cristãs devem incentivar as igrejas locais e suas comunidades a contribuírem


com seus próprios recursos para as atividades. Os membros das igrejas e das comunidades
devem ser incentivados a fornecer a maior parte dos insumos, ao invés de esperar que a
organização cristã os forneça. É importante que as igrejas locais e as comunidades comecem
com o que têm antes de pedir o apoio das organizações cristãs. Os membros das igrejas
especialmente devem ser conscientizados sobre os princípios bíblicos de se dar com
generosidade e sacrifício.
É claro que há alguns insumos cujo financiamento é caro demais e além da capacidade da
igreja local e da comunidade As organizações cristãs devem oferecer apoio nesta situação.
Entretanto, somente quando a igreja local e a comunidade mostrarem que podem contribuir
com algumas atividades é que a organização cristã deve se oferecer para financiar o resto da
iniciativa.
As organizações cristãs devem pensar sobre que forma de financiamento oferecer. Talvez nem
sempre seja apropriado que as organizações cristãs ofereçam apoio na forma de dinheiro. As
estruturas das igrejas e a das comunidades nem sempre têm bons sistemas de gestão financeira
e podem sentir-se tentadas a desviar verbas para outras necessidades, como, por exemplo, para
a construção ou manutenção de prédios da igreja ou para financiar enterros. Assim, pode ser
melhor que a organização cristã compre os insumos caros, tais como telhas para telhados, e os
entregue à comunidade. Ou a organização cristã poderia oferecer acesso a equipamentos, tais
como a máquina para um poço de água, um misturador de cimento, os quais, caso contrário,
teriam de ser comprados ou alugados pela igreja local e pela comunidade.
Pode-se usar uma abordagem de financiamento “meio a meio” para fazer com que as igrejas
locais e comunidades não dependam demais das organizações cristãs. O objetivo desta
abordagem é promover a apropriação local, sem ultrapassar os limites financeiros da igreja
local e da comunidade. Nesta abordagem, as organizações cristãs colocam verbas à disposição
das iniciativas comunitárias, mas as comunidades só podem acessá-las, se puderem contribuir
com a metade da quantia necessária. Por exemplo, se uma iniciativa custar US$ 5.000, a igreja
e a comunidade deverão contribuir com US$ 2.500, para que a organização cristã contribua
com o restante. Ou a organização cristã poderia concordar em pagar o telhado de um prédio
comunitário, mas só depois que a comunidade tiver pago e construído o prédio. Na Etiópia, a
Urban Ministries financia um trabalhador comunitário para envisionar e mobilizar a
comunidade, e a igreja local financia o outro.

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Questões-chave ROOTS 11 PA R C E R I A C O M A I G R E J A L O C A L
a serem
consideradas

É importante ter cuidado para não transformar as igrejas locais em organizações cristãs. As igrejas
locais e as organizações cristãs não são a mesma coisa. Conforme vimos na Seção 2, elas possuem
pontos fortes, pontos fracos e papéis diferentes. Mesmo que possam acontecer coisas maravilhosas
quando as igrejas locais e as organizações cristãs trabalham juntas, estes papéis diferentes são
importantes por si mesmos. Sempre haverá a necessidade de uma igreja local, com a missão integral
no topo da sua agenda. Sempre haverá a necessidade de organizações cristãs para apoiar as igrejas
locais na prática da missão integral. As organizações cristãs também serão necessárias para trabalhar
diretamente na comunidade, se não houver nenhuma igreja local.

REFLEXÃO ■ As igrejas locais e as comunidades freqüentemente dependem do financiamento externo na


nossa região?
■ Poderíamos usar a ferramenta da página 77 com a igreja local ou a comunidade e ajudá-las
a identificar seus recursos?
■ Como podemos incentivar os habitantes locais a contribuir mais para as iniciativas na sua
comunidade?

4.7 Monitoramento e avaliação


É importante avaliar o desempenho pelas seguintes razões:
PRESTAÇÃO DE CONTAS Devemos ser bons mordomos dos recursos com os quais Deus nos
abençoou.
■ As pessoas que realizam o trabalho (igrejas locais ou organizações cristãs) devem prestar
contas às pessoas a quem o trabalho procura ajudar: os membros da comunidade. Se não
houver nenhuma prestação de contas aos beneficiários, a iniciativa poderia existir
simplesmente para o prazer da igreja local ou dos doadores e ter uma relevância e um
impacto mínimo. Quanto maior o grau de prestação de contas aos beneficiários, maior
será a qualidade da iniciativa e mais empoderados se tornarão os beneficiários.
■ As pessoas a quem foram confiados os recursos devem mostrar às pessoas que os
forneceram que os usaram com sabedora e que eles produziram frutos. Estes recursos
podem ser: dinheiro, tempo, materiais e oração. As pessoas que fornecem estes recursos
podem ser: os membros da igreja local, membros da comunidade, igrejas estrangeiras e
doadores institucionais.
■ A organização cristã e a igreja local que trabalham em parceria devem avaliar o desem-
penho da sua parceria. Cada uma deve contribuir com o que disse que contribuiria e deve
ter a oportunidade de falar com o outro parceiro, se achar que o desempenho não está
indo bem. Se os parceiros não prestarem contas um ao outro, a parceria inteira poderá
desintegrar-se, e o trabalho, fracassar.

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Questões-chave ROOTS 11 PA R C E R I A C O M A I G R E J A L O C A L
a serem
consideradas

Pessoas que contribuem com orações

Linhas de prestação
de contas
Pessoas que Pessoas que contribuem
contribuem com materiais
com dinheiro

Beneficiários

Organizações Igreja
cristãs local

APRENDENDO LIÇÕES Através da medição, da análise e da reflexão sobre o nosso desempenho,


podemos aprender lições que nos ajudarão a melhorar nossos planos atuais e enriquecer nosso
trabalho no futuro.
Para avaliarmos o desempenho, é necessário ter objetivos a serem alcançados. Os indicadores
mostram quando alcançamos estes objetivos. Os métodos usados para avaliar o desempenho
são o monitoramento e a avaliação. O monitoramento é feito continuamente, como, por
exemplo, mensalmente, para garantir que o trabalho esteja indo bem. Monitorar o que foi
alcançado através de indicadores mostra as mudanças que esperamos ver. A avaliação é feita no
final de uma iniciativa para verificar o seu impacto. A avaliação oferece uma oportunidade
para verificar as mudanças positivas e negativas que não esperávamos ver. Para ter mais
informações sobre como estabelecer objetivos e fazer o monitoramento e a avaliação, consulte
Gestão do ciclo de projetos (ROOTS 5).
Ao mobilizar as igrejas locais para praticarem a missão integral, o desempenho deve ser
medido em vários níveis:
UMA ORGANIZAÇÃO CRISTÃ MONITORANDO E AVALIANDO O SEU TRABALHO Um dos problemas para as
organizações cristãs que desejam incentivar a mobilização da igreja e da comunidade é que
pode ser difícil encontrar doadores que estejam dispostos a financiar este tipo de trabalho.
Muitos doadores gostam de saber qual será o impacto na comunidade. Porém, até que a
organização cristã tenha mobilizado a igreja e a comunidade, é impossível dizer que tipo de
iniciativa ocorrerá na comunidade.
As organizações cristãs poderiam pedir verbas aos doadores somente para o envisionamento e a
mobilização das igrejas locais. As principais despesas seriam a remuneração dos facilitadores e os
locais para o treinamento. Entretanto, elas podem precisar de um certo financiamento dos
doadores para ajudar a igreja local no trabalho que realiza na comunidade, como, por exemplo,
prover especialistas técnicos, equipamento e materiais que a igreja local e a comunidade não têm
condições de pagar. No estágio da proposta, a quantia deste financiamento será desconhecida,
pois os tipos de iniciativas que serão realizadas e a quantidade de apoio que a organização cristã

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Questões-chave ROOTS 11 PA R C E R I A C O M A I G R E J A L O C A L
a serem
consideradas

precisará prestar ainda não foram determinados. Alguns doadores podem estar preparados para
atender a estas necessidades financeiras através de uma extensão da proposta mais tarde.
A tabela a seguir examina dois níveis de objetivos para uma organização cristã que deseja
incentivar a mobilização da igreja e da comunidade. Os resultados a médio e longo prazo são
os objetivos de nível mais alto. Os resultados a curto prazo são os objetivos mais específicos,
que devem levar à realização dos resultados a médio e longo prazo.

Objetivos em FASE RESULTADOS A MÉDIO E LONGO RESULTADOS A CURTO PRAZO


potencial para a PRAZO (objetivos de nível mais alto) (objetivos específicos que levam aos resultados a médio e longo prazo)

mobilização da igreja 1 Desenvolvimento da capacidade • Maior conhecimento sobre o mandato bíblico para o engajamento da
e da comunidade da organização cristã de apoiar as igreja local na missão integral dentro da organização cristã.
igrejas locais que estão praticando
• Formação de estruturas e processos adequados para o
a missão integral.
desenvolvimento da capacidade das igrejas locais para realizarem a
missão integral.

2 Envisionamento e preparação das • Formação, por parte da liderança da igreja local, de estruturas e
igrejas locais para se engajarem processos para o desenvolvimento da capacidade para a missão
na missão integral. integral dentro da igreja local.
• Mais conhecimento sobre o mandato bíblico para o engajamento da
igreja local na missão integral na congregação local.
• Mais habilidades e conhecimentos para engajar-se na missão integral
na congregação local.
• Mais conhecimento sobre as causas e conseqüências da pobreza
dentro da comunidade (inclusive as necessidades, vulnerabilidades e
capacidades da comunidade) na congregação local.

3 Mobilização das igrejas locais (e • Formação, por parte da liderança da igreja local e da comunidade, de
comunidades) para identificar e estruturas e processos para o engajamento na missão integral para
lidar com as causas e conse- lidar com as causas e conseqüências específicas da pobreza na
qüências específicas da pobreza e comunidade.
responder a uma crise.
• Elaboração de um plano de ação para lidar com as causas e
conseqüências específicas da pobreza identificadas na comunidade.
• Elaboração de um plano de ação para desastres, que possa ser
implementado antes ou quando uma ameaça de desastre atingir uma
comunidade.
• Mobilização, por parte da igreja local e da comunidade, de recursos
para implementar o plano de ação.

4 Resolução das causas e • Concretização dos alvos específicos do plano de ação.


conseqüências específicas da
pobreza na comunidade.

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Questões-chave ROOTS 11 PA R C E R I A C O M A I G R E J A L O C A L
a serem
consideradas

UMA IGREJA LOCAL MONITORANDO E AVALIANDO O SEU TRABALHO DE MISSÃO INTEGRAL As igrejas locais
devem monitorar e avaliar seu trabalho pelas seguintes razões:
■ Se uma organização obtiver financiamento de um doador para envisionar a igreja local, o
doador pode exigir relatórios das iniciativas que a igreja realizar na comunidade ou com
ela, para mostrar que cada fase do envisionamento causou um impacto.
■ Se o doador financiar insumos para a iniciativa na comunidade, será exigido que a
organização cristã e a igreja local avaliem o seu desempenho.
■ Se uma igreja for adiante, após o processo de envisionamento, e praticar a missão integral
sem nenhum apoio externo, ela deverá ser incentivada a monitorar e avaliar seu trabalho.
Sempre haverá pessoas a quem a igreja local deverá prestar contas, mesmo que estas não
peçam à igreja para fazer relatórios sobre o seu trabalho. Por exemplo:
• os membros da igreja altamente envolvidos em iniciativas devem prestar contas à igreja
mais ampla e a outras igrejas que estejam prestando apoio financeiro e em forma de
oração. Isto os ajuda a se sentirem envolvidos no que está acontecendo e sentir que Deus
está trabalhando na vida das pessoas da comunidade.
• as igrejas locais que fazem parte de uma denominação poderiam fazer relatórios sobre o
progresso e o impacto para a liderança e nas conferências anuais. Isto pode ajudar a
envisionar e incentivar outras igrejas locais para que se engajem na missão integral.

É importante lembrar que as igrejas locais não são organizações. Elas têm uma agenda mais
ampla. As organizações cristãs, portanto, precisam pensar cuidadosamente sobre até que ponto
devem esperar que os membros da igreja se tornem “profissionais da área do desenvolvimento”
em termos de monitoramento e avaliação. Elas devem pensar sobre as áreas em que têm mais
vantagem e podem ser mais eficientes que as igrejas locais. Há três opções principais:
■ A organização cristã poderia assumir a maior parte da responsabilidade pela avaliação do
desempenho. Esta opção poderia ser boa, se a organização cristã prestar contas a doadores
institucionais e, assim, tiver interesse em que haja uma boa produção de relatórios. Ela
pode ser adequada também para o trabalho com uma igreja que estiver realizando o
trabalho de missão integral pela primeira vez.
■ A organização cristã poderia trabalhar com a igreja local para monitorar e avaliar o
impacto. Elas poderiam ter uma apropriação conjunta e trabalhar juntas, dividindo as
tarefas conforme o caso.
■ A igreja local poderia ser treinada para avaliar o desempenho por si mesma. Ela poderia
treinar dois ou três dos seus membros ou, talvez, alguns membros da comunidade, em
monitoramento e avaliação do desempenho. Assim, ela teria a capacidade para realizar
iniciativas no futuro, sem o apoio técnico da organização cristã. Isto pode ser benéfico para
as igrejas que mostram potencial para praticar a missão integral sem apoio externo. Porém,
há o risco de que as pessoas treinadas deixem a igreja no futuro. É importante que o
treinamento que receberam seja transmitido a outros membros da igreja.

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Questões-chave ROOTS 11 PA R C E R I A C O M A I G R E J A L O C A L
a serem
consideradas

TRABALHO DE MONITORAMENTE E AVALIAÇÃO REALIZADO CONJUNTAMENTTE PELA ORGANIZAÇÃO CRISTÃ E PELA


IGREJA LOCAL Pode ser útil que as organizações cristãs se encontrem com cada igreja local com
que estão trabalhando para revisar seu trabalho conjunto uma ou duas vezes por ano.
As questões a serem exploradas poderiam ser:
Revisão do que foi alcançado
■ O que foi alcançado desde a última revisão? Lembre-se de celebrar o que foi alcançado!
■ Todos fizeram o que disseram que fariam? Se não, por quê?
■ Alguém contribuiu mais com o trabalho do que disse que contribuiria?
■ Você acha que o trabalho feito em conjunto teve mais impacto do que se a organização
cristã e igreja local tivessem trabalhado separadamente? Discuta os pontos fortes e fracos.

Revisão da parceria em si (se houver uma parceria)


■ Ambos os parceiros acham que há prestação mútua de contas?
■ Ambos os parceiros acham que a sua contribuição foi valorizada pelo outro?
■ Os parceiros ainda têm os mesmos valores? Se não, pode não valer a pena continuar a
parceria.
■ Os métodos de comunicação são adequados ou eles deveriam ser ampliados?
■ Que questões afetaram a parceria de maneira positiva ou negativa desde a última revisão?

O futuro
■ Há alguma maneira como a organização cristã e a igreja local poderiam expandir seu
trabalho conjunto e, assim, aumentar o seu impacto?
■ Há alguma habilidade ou conhecimento relevante para o sucesso do trabalho que nem a
organização nem a igreja possuem? Se houver, a sua capacidade poderia ser desenvolvida?
■ De que maneira a relação poderia ser aprofundada no futuro, se for o caso?
■ Há algum ponto forte que a organização ou a igreja local poderia oferecer para o trabalho?

REFLEXÃO ■ Se acharmos que a mobilização da igreja e da comunidade é um objetivo adequado para a


nossa organização, sabemos de organizações financiadoras que possam oferecer apoio
para isto?
■ Como podemos apoiar as igrejas locais no monitoramento e na avaliação do seu trabalho
de missão integral?

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5 Recursos e contatos
Leitura ■ Blackman R (2003) ROOTS 5: Gestão do ciclo de projetos Tearfund Reino Unido
recomendada ■ Clarke S, Blackman R e Carter I (2004) Manual de habilidades de facilitação
Tearfund Reino Unido
■ Carter I (2004) Guia PILARES: Mobilização da igreja Tearfund Reino Unido
■ Carter I (2003) Guia PILARES: Mobilização da comunidade Tearfund Reino Unido
■ Chester T (2004) Good news to the poor: sharing the gospel through social involvement
Inter-Varsity Press
■ Chester T (2002) Justice, mercy and humility: integral mission and the poor Paternoster Press
■ Evans D (2004) Creating space for strangers Inter-Varsity Press
■ Gordon G (2002) ROOTS 1 e 2: Kit de ferramentas para a defesa de direitos
Tearfund Reino Unido
■ Hughes D com Bennett M (1998) God of the poor Operation Mobilization
■ Myers B (1999) Walking with the poor: principles and practices of transformational
development Orbis Books
■ Padilla R e Yamamori T (Editores) (2004) The local church, agent of transformation
Ediciones Kairos
■ O Church, Community and Change é um programa de treinamento liderado por
facilitadores, que ajuda as igrejas do Reino Unido e da Irlanda a responderem às necessidades
das suas comunidades. Para obter mais informações, envie um e-mail para:
CCC@tearfund.org. Há uma versão em espanhol dos livros, com adaptação do contexto
para a América Latina, a qual pode ser obtida através de Ediciones Kairos, José Mármol
1734, B1602EAF Florida, Prov Bs As, Argentina. E-mail: edicion@kairos.org.ar

Sites ■ www.integral-mission.org/blog
Fórum de discussão on-line para a missão integral.
■ http://tilz.tearfund.org/Topics/Church+and+Development.htm
Seção sobre igreja e desenvolvimento do site tilz da Tearfund.
■ www.micahnetwork.org
A Rede Miquéias é um grupo de organizações cristãs de assistência em situações de desastres,
desenvolvimento e justiça de 75 países. Seu objetivo é desenvolver a capacidade dos seus
membros para responder às necessidades dos pobres, praticar a missão integral e realizar o
trabalho de defesa e promoção de direitos.
■ www.lareddelcamino.net
A Rede Del Camino é uma comunidade de líderes de igrejas e organizações cristãs
comprometidos com a missão integral na América Latina.

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contacts

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Glossário
Este glossário explica o significado de certas palavras conforme foram usadas neste livro.

ação social / processo em que uma igreja local atende às necessidades materiais da sociedade. Também
envolvimento social chamado de “demonstração”

ameaça de evento ou situação natural ou causada pelo homem, que poderia causar perigo, perdas
desastre ou danos

assistência em ajuda oferecida às pessoas necessitadas após um desastre


situações de
desastres

assistência social provisão de auxílio para pessoas necessitadas, muitas vezes, sem a sua participação

beneficiário alguém que se beneficia com uma iniciativa

catalisador algo que faz com que uma mudança aconteça

coagir usar a pressão para fazer com que as pessoas façam coisas que não querem fazer

congregação o mesmo que “igreja local”

defesa e promoção ajudar as pessoas a resolver as causas fundamentais da pobreza, trazer justiça e apoiar o bom
de direitos desenvolvimento, através da influência das políticas e das práticas dos poderosos

demonstração mostrar às pessoas o que significa fazer parte do reino de Deus, como, por exemplo, através
do interesse pelos outros. Também chamado de “ação social” ou “envolvimento social”.

denominação sistema em que as igrejas locais estão organizadas e vinculadas

desertificação processo através do qual a terra se torna seca, e quase nada pode ser cultivado, tornando-a um
deserto

deslocado forçado a se mudar do seu lar habitual

despejo quando as pessoas são forçadas a saírem de seus lares

diocese distrito sob a autoridade de um bispo

doador pessoa ou organização que dá apoio financeiro

empoderamento processo através do qual as pessoas adquirem autoconfiança e se tornam agentes de mudança

envisionar transmitir uma visão para outras pessoas

evangelho as boas novas de Jesus Cristo

explorar tirar vantagem de alguém ou de alguma coisa para o benefício pessoal

facilitador alguém que ajuda um processo a acontecer, incentivando as pessoas a encontrarem suas
próprias soluções para os problemas

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Glossário ROOTS 11 PA R C E R I A C O M A I G R E J A L O C A L

igreja local comunidade sustentável de cristãos locais, acessível a todos, onde o louvor, o discipulado, o
cuidado e a missão são colocados em prática

iniciativa atividade ou série de atividades realizadas pela igreja local ou comunidade para lidar com uma
questão comunitária

mão-de-obra descreve uma atividade que exige uma grande quantidade de insumo humano
intensiva

Memorando de documento que estabelece as intenções e as responsabilidades de duas ou mais partes, que
Entendimento concordaram em trabalhar juntas numa questão específica

mentor pessoa que oferece conselho e apoio às pessoas menos experientes

missão integral falar sobre a nossa fé e vivê-la de maneira completa em todos os aspectos da vida

mobilização ato de mobilizar a igreja local para responder às necessidades da comunidade


da igreja

mobilização da ato de mobilizar a igreja local para atuar como facilitadora na mobilização da comunidade
igreja e da inteira para atender às suas próprias necessidades
comunidade

mobilizar ajudar as pessoas a colocarem uma visão em prática e fazerem com que ela se concretize

multidimensional com aspectos diferentes

ONG organização não governamental

organização cristã organização cristã que procura transformar as comunidades através do desenvolvimento, da
assistência em situações de desastres e do trabalho de defesa e promoção de direitos. Não é o
mesmo que igreja local.

parcialidade um ponto de vista a favor ou contra algo

parteira uma pessoa que assiste partos

participativo descreve uma situação em que muitas pessoas estão participando

piloto substantivo relativo à experimentação de algo antes de implementá-lo mais amplamente

pobre / pobreza que não tem as necessidades básicas, tais como alimento, roupas, abrigo, redes sociais, voz
política, fé em Deus

prestação de contas explicar decisões, ações ou a utilização de recursos às partes interessadas

proclamação falar às pessoas sobre o evangelho. Também chamado de “evangelismo”

projeto atividade realizada por uma organização cristã diretamente numa comunidade

replicação repetição de um processo num outro lugar

secular não preocupado com assuntos religiosos ou espirituais

sustentabilidade quando há continuidade nos benefícios de uma iniciativa

tangível que pode ser sentido ou visto

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Parceria com a igreja local
Escrito par Rachel Blackman

ISBN 978 1 904364 75 7

Publicado pela Tearfund

17798-(0607)

100 Church Road, Teddington, TW11 8QE, Reino Unido P

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