Nota Tecnica Codemat - 01 2023 - Normas SST - Meios Telematicos - Assinada
Nota Tecnica Codemat - 01 2023 - Normas SST - Meios Telematicos - Assinada
Nota Tecnica Codemat - 01 2023 - Normas SST - Meios Telematicos - Assinada
Documento assinado eletronicamente por múltiplos signatários em 13/11/2023, às 18h18min24s (horário de Brasília).
do Trabalhador e da Trabalhadora - CODEMAT, instituída pela Portaria nº
410/2003, com fundamento na Constituição da República, artigos 7º, XXII, 127,
196, 200, II e VIII, e na Lei Complementar n.º 75/93, artigos 5º, III, alínea “e”, 6º,
XX, 83, V , e 84, caput, e considerando a aprovação por unanimidade pelo
Colegiado da Codemat na 2ª Reunião Ordinária de 2023, realizada em 08 e 09
de novembro, expede a presente NOTA TÉCNICA com o objetivo de orientar a
atuação dos membros e das membras do Ministério Público do Trabalho na
aplicação das Normas Regulamentadoras do Ministério do Trabalho e Emprego
e demais normas de proteção da saúde e da segurança no trabalho aos
trabalhadores e às trabalhadoras que laboram com intermediação de meios
telemáticos e informatizados, nos termos que seguem.
CONCEITO E HISTÓRICO
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ambiente de trabalho o local onde a pessoa deve permanecer ou tem de
comparecer, sob controle direto ou indireto da empresa ou pessoa do
empregador, devendo ser adaptado, portanto, às diretrizes das Normas
Regulamentadoras nos pontos em que há similitude das condições de trabalho.
Ainda que o teletrabalho já exista há muito tempo, na última década,
as tranformações vividas no mundo do trabalho, em especial a 4ª Revolução
Industrial, permitiram o crescimento exponencial do teletrabalho por meio de
sistemas informacionais digitais, dos quais as plataformas digitais são um
exemplo. Plataformas digitais podem ser conceituadas como infraestruturas
digitais que permitem que dois ou mais grupos interajam. Plataformas digitais
(ou aplicativos, que podem ser suas interfaces) permitiram que também o
trabalho externo pudesse ser mediado, controlado e organizado por tecnologias
de informação e de comunicação digital.
Dessa forma, o trabalho externo (e.g. transporte privado de
passageiros ou de entrega de refeições/delivery) passou a contar com o auxílio
de plataformas digitais que possibilitaram, por um lado, um incremento na
produtividade do trabalho e maior eficiência na gestão dos negócios, mas, por
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freelance: trabalho na nuvem indiferente à localização do trabalhador, que pode
ser feito remotamente pela internet de forma individualizada; 2. microtask: com
a atribuição de microtarefas coletivas; 3. crowdwork: com a determinação de
tarefas a um grupo indefinido de pessoas de forma criativa baseado em
concurso. Gestões baseadas na localização, por sua vez, envolvem a atribuição
de trabalhos de apresentação, ou seja, serviços em que a localização é
relevante, com o trabalho sendo distribuído por meio de aplicações de software
(aplicativos), como ocorre com serviços de acomodação e serviços de transporte
e entrega de refeições.
Como se vê, enquanto o teletrabalho está normalmente associado
com um contrato de trabalho típico (relação de emprego) e sem as
características de um trabalho externo, o trabalho plataformizado tem sido
associado a uma relação de trabalho mais ampla (e não apenas de emprego),
podendo ser utilizado tanto para trabalhos externos quanto para o teletrabalho
tradicional, qual seja, aquele intermediado por meios telemáticos e
informatizados de comando, controle e supervisão, nos termos do art. 6º,
parágrafo único, da CLT. Em ambos os casos, está-se diante de perigos
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o trabalho realizado por empregados tradicionais, com vínculos de emprego
reconhecidos, que laboram em regime de home office, trabalho remoto ou
teletrabalho, mas também empregados ou trabalhadores que prestam serviços
por intermédio de plataformas digitais de trabalho, sejam elas do tipo cloudwork
ou baseadas na apresentação.
LEGISLAÇÃO E JUSTIFICATIVA
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5. Abster-se de procurar ou aceitar exceções não previstas no quadro legal ou
regulamentar, relacionados a direitos humanos, meio ambiente, saúde, segurança,
trabalho, tributação, incentivos financeiros ou outros assuntos.
[...]
V. Emprego e Relações do Trabalho
[...]
4.
[...]
c) Tomar as medidas necessárias para assegurar saúde ocupacional e segurança
em suas operações.
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fundamentais no trabalho.
PRINCÍPIO 13. A responsabilidade de respeitar os direitos humanos exige que as
empresas: (a) Evitem causar ou contribuir para impactos adversos nos direitos
humanos por meio de suas próprias atividades e enfrentem esses impactos quando
eles vierem a ocorrer; (b) Busquem prevenir ou mitigar impactos adversos nos
direitos humanos que estejam diretamente relacionados às suas atividades e
operações, produtos ou serviços prestados em suas relações comerciais, mesmo
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plataformas digitais de monitorar e avaliar regularmente os riscos e os impactos
de decisões tomadas ou auxiliadas por sistemas de monitoramento ou de
decisões automatizadas, aferindo a adequação das salvaguardas desses
sistemas em face dos riscos e impactos específicos identificados e introduzindo
medidas preventivas e protetivas adequadas. O monitoramento e a avaliação
deverão ser conduzidos por pessoas com competência, treinamento e
autoridade para exercício de tais funções.
Pelas regras do direito internacional, portanto, a responsabilidade em
matéria de direitos humanos acompanha as grandes corporações onde quer que
estejam situadas e independentemente do seu porte econômico, de sua
estrutura jurídica, ou do seu modelo de contratação de mão de obra: seja
mediante a contratação de empregados em um formato fordista, seja por meio
da contratação de autônomos que desempenham atividades relacionadas ao
core business da corporação, prevalece o dever das empresas em assegurar os
direitos humanos de todos os envolvidos.
No ordenamento jurídico nacional, a Constituição da República de
1988, em seu art. 1º, incisos II a V, estabelece como fundamentos do Estado
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Por sua vez, a vedação a condutas discriminatórias entre
trabalhadores consta da Carta Maior (artigos 5º, caput, e 7º, incisos XXX e
XXXII), bem como da Lei n. 9.029/1995, ao estabelecer, em seu art. 1º, a
proibição na adoção de qualquer prática discriminatória e limitativa para efeito
de acesso à relação de trabalho, ou de sua manutenção, por motivo de sexo,
origem, raça, cor, estado civil, situação familiar, deficiência, reabilitação
profissional, idade, entre outros. As disposições são reforçadas pela Convenção
n. 111 da OIT, que visa promover a igualdade de oportunidades e de tratamento
em matéria de emprego e profissão, com o objetivo de eliminar toda
discriminação nessa matéria.
A adoção do teletrabalho e o trabalho plataformizado deverão
observar, indistintamente, os parâmetros e fundamentos da disciplina do uso da
internet, previstos no art. 2º da Lei n. 12.965/2014 (Marco Civil da Internet), a
saber: I – o reconhecimento da escala mundial da rede; II – os direitos humanos,
o desenvolvimento da personalidade e o exercício da cidadania em meios
digitais; III – a pluralidade e a diversidade; IV – a abertura e a colaboração; V –
a livre iniciativa, a livre concorrência e a defesa do consumidor; e VI – a finalidade
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social da rede.
Por outro lado, a própria Constituição da República impõe deveres ao
Ministério Público para a efetivação de tais direitos sociais e individuais
indisponíveis relacionados à saúde e à segurança do trabalhador. Logo, o
Ministério Público do Trabalho instituiu, por meio da Portaria n. 410/2003, a
CODEMAT – Coordenadoria Nacional de Defesa do Meio Ambiente do Trabalho
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efeitos da Súmula n. 736 do Supremo Tribunal Federal – STF, que fixa como
diretriz que “Compete à Justiça do Trabalho julgar as ações que tenham como
causa de pedir o descumprimento de normas trabalhistas relativas à segurança,
higiene e saúde dos trabalhadores”, o que reforça a atribuição constitucional do
Ministério Público do Trabalho.
No horizonte das pesquisas acadêmicas há um relativo consenso
sobre os efeitos deletérios do teletrabalho e do trabalho plataformizado sobre as
condições de trabalho e de vida dos trabalhadores, sejam eles empregados ou
autônomos. Estudos empíricos realizados com trabalhadores têm comprovado
essa precarização, em aspectos como baixas remunerações, extensas jornadas
de trabalho, adoecimento mental, problemas ergonômicos, inversão do ônus
decorrente dos riscos do negócio, falta de cobertura previdenciária, entre outros.
A atuação estatal se faz mais necessária do que nunca diante do novo
fenômeno do teletrabalho e da plataformização do trabalho. Nesse último caso,
essa atuação deve ser ampliada para além do aspecto da relação de emprego,
uma vez que seus efeitos transcendem aspectos contratuais e estão impactando
em mais atendimentos médicos junto ao Sistema Único de Saúde, benefícios
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Apesar da existência no ordenamento jurídico nacional de dispositivos
constitucionais e legais que preveem o direito de trabalhadores e trabalhadoras
a um meio ambiente do trabalho seguro e saudável, a legislação não refere
expressamente que os trabalhadores em home office ou plataformizados
possuem direitos à segurança e à saúde no trabalho, razão pela qual esta nota
técnica se justifica, atendendo ao binômio utilidade e necessidade.
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plataformas digitais. É certo que o liame jurídico existente entre esses
profissionais e as empresas decorre da liberdade contratual existente entre as
partes, contemplada no art. 421 do Código Civil (negócios jurídicos bilaterais),
caracterizado como um acordo de vontades, por meio do qual as partes
constituem, modificam ou extinguem posições jurídicas de expressão
patrimonial, ou seja, a estipulação de obrigações recíprocas (arts. 104 e
seguintes do Código Civil): trata-se verdadeiramente de um contrato jurídico.
Referido negócio jurídico tem por objeto principal uma prestação de
serviços, nos termos do art. 593 e seguintes do Código Civil e art. 730 e
seguintes do mesmo Código, uma vez que, retirado o conteúdo do serviço
prestado (serviço/transporte/entrega), retira-se, por completo, a essência deste
contrato entre as partes, razão pela qual esses profissionais aderentes devem
ser enquadrados, minimamente, como trabalhadores, nos termos do caput do
art. 7º da Constituição da República.
Dessa forma, independentemente da interpretação definitiva que os
tribunais pátrios venham a consagrar acerca do vínculo jurídico existente entre
tais trabalhadores e as empresas proprietárias de plataformas digitais, parece
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932, decidido pelo STF, com repercussão geral, no julgamento do Recurso
Extraordinário 828.040).
Tem-se, ainda, a consagração do princípio da prevenção no direito
ambiental que abrange o meio ambiente do trabalho (art. 200, VIII c/c art. 225 da
CF/88) e a diretriz da política nacional de prevenir acidentes e danos à saúde
que forem consequência do trabalho (Convenção n. 155 da OIT).
A Lei n. 6.019/74 foi recentemente alterada pela Lei n. 13.429/2017,
em seu art. 5º-A, § 3º, para prever que é responsabilidade da contratante garantir
as condições de segurança, higiene e salubridade dos trabalhadores, quando o
trabalho for realizado em suas dependências ou em local previamente
convencionado em contrato, o que certamente se estende a trabalhadores
plataformizados contratados por referidas empresas, mas também a
empregadores que contratam empregados para trabalharem na modalidade
home office. Ademais, conforme alteração do § 2º, do art. 9º da mesma lei: “A
contratante estenderá ao trabalhador da empresa de trabalho temporário o
mesmo atendimento médico, ambulatorial e de refeição destinado aos seus
empregados, existente nas dependências da contratante, ou local por ela
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riscos sobre a segurança e a saúde dos empregados (aqui incluídos os acidentes
do trabalho) e os impactos negativos sobre os direitos humanos, direta ou
indiretamente relacionados com a sua atividade, devem ser monitoradas pelas
empresas (art. 10, II).
Entende-se por acidente do trabalho, nos termos do art. 19 da Lei n.
8.213/1991, aquele infortúnio que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço de
empresa ou de empregador doméstico ou pelo exercício do trabalho dos
segurados especiais referidos no inciso VII do art. 11 da mesma Lei, provocando
lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou
redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho.
Dessa forma, no caso de motoristas de aplicativo,
motociclistas/ciclistas entregadores de refeições, trabalhadores externos ou
trabalhadores em regime de teletrabalho, todo acidente que ocasione tais lesões
pode ser caracterizado como acidente do trabalho, acaso presentes os demais
requisitos legais.
Nas situações envolvendo normas de saúde, segurança e higiene do
trabalho, há ainda entendimento consolidado do Ministério Público do Trabalho
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Codemat n. 31. Vale frisar que a legislação previdenciária, em momento algum,
restringe o rol dos legitimados à emissão da CAT: o próprio art. 22 faz uso das
expressões “empresa” ou “empregador doméstico” como aptos à comunicação
do acidente do trabalho à Previdência Social e, não por outra razão, o § 2º do
mesmo artigo autoriza que poderão formalizá-lo o próprio acidentado, seus
dependentes, a entidade sindical competente, o médico que o assistiu ou
qualquer autoridade pública.
No ordenamento jurídico brasileiro, são também responsáveis pela
reparação civil, o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e
prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele, nos
termos do art. 932 do Código Civil, sendo certo que motoristas de aplicativo,
entregadores de refeições ou empregados em regime de teletrabalho são
prepostos da empresa, sob a ótica dos consumidores finais.
Deve ser salientado que as Normas Regulamentadoras vigentes,
alteradas nos últimos anos, caracterizam uma organização como pessoa ou
grupo de pessoas com suas próprias funções com responsabilidades,
autoridades e relações para alcançar seus objetivos. Inclui, mas não limita a
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empresas contratadas (trabalhadores, MEI ou empresas terceirizadas) para
prestação de serviços que atuem em suas dependências ou local previamente
convencionado em contrato ou referenciar os programas das contratadas
(1.5.8.2 da Norma Regulamentadora 01). Cabe ainda aos empregadores
implementarem medidas de prevenção, ouvidos os trabalhadores, de acordo
com a seguinte ordem de prioridade: I. eliminação dos fatores de risco; II.
minimização e controle dos fatores de risco, com a adoção de medidas de
proteção coletiva; III. minimização e controle dos fatores de risco, com a adoção
de medidas administrativas ou de organização do trabalho; e IV. adoção de
medidas de proteção individual (item 1.4.1). Todo trabalhador, ao ser admitido
ou quando mudar de função que implique em alteração de risco, deve receber
informações sobre: a) os riscos ocupacionais que existam ou possam originar-
se nos locais de trabalho; b) os meios para prevenir e controlar tais riscos; c) as
medidas adotadas pela organização; d) os procedimentos a serem adotados em
situação de emergência; e e) os procedimentos a serem adotados (item 1.4.4).
O item 1.4.3 dispõe que o trabalhador poderá interromper suas atividades
quando constatar uma situação de trabalho que, a seu ver, envolva um risco
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iminente e grave para sua vida ou sua saúde; enquanto o empregador não tiver
tomado medidas corretivas, se forem necessárias, não poderá exigir dos
trabalhadores a sua volta a uma situação de trabalho onde exista, em caráter
contínuo, um perigo grave ou iminente para sua vida ou sua saúde”.
A Norma Regulamentadora 04 estabelece os parâmetros e requisitos
para constituição e manutenção dos Serviços Especializados em Segurança e
Medicina do Trabalho - SESMT, com a finalidade de promover a saúde e
proteger a integridade do trabalhador. Segundo disposição do item 4.2.2, nos
termos previstos em lei, aplica-se o disposto nesta Norma Regulamentadora a
outras relações jurídicas de trabalho. Corolário disso, pode-se concluir, segundo
o item 4.3.1, que compete aos SESMT alcançar empregados em regime de
teletrabalho e trabalhadores plataformizados, de modo a: a) elaborar ou
participar da elaboração do inventário de riscos; b) acompanhar a
implementação do plano de ação do Programa de Gerenciamento de Riscos -
PGR; c) implementar medidas de prevenção de acordo com a classificação de
risco do PGR e na ordem de prioridade estabelecida na NR-01; d) elaborar plano
de trabalho e monitorar metas, indicadores e resultados de segurança e saúde
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esta solicitado; e k) acompanhar e participar nas ações do PCMSO, nos termos
da NR-7.
Além disso, a contratante deve adotar medidas para que as
contratadas, suas CIPA, os representantes nomeados da NR-5 e os demais
trabalhadores lotados naquele estabelecimento, recebam informações sobre os
riscos presentes nos ambientes de trabalho, bem como sobre as medidas de
prevenção, em conformidade com o Programa de Gerenciamento de Riscos, nos
termos do item 5.9.1 da Norma Regulamentadora 5. Neste sentido, a CIPA
instalada em empresas que mantenham empregados em regime de home office
ou de empresas proprietárias de plataformas digitais, nos termos do item 5.3.1,
tem por atribuição: a) acompanhar o processo de identificação de perigos e
avaliação de riscos bem como a adoção de medidas de prevenção
implementadas pela organização; b) registrar a percepção dos riscos dos
trabalhadores, em conformidade com o subitem 1.5.3.3 da NR-01, por meio do
mapa de risco ou outra técnica ou ferramenta apropriada à sua escolha, sem
ordem de preferência, com assessoria do SESMT, onde houver; c) verificar os
ambientes e as condições de trabalho visando identificar situações que possam
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das medidas corretivas e de controle; i) promover, anualmente, em conjunto com
o SESMT, onde houver, a Semana Interna de Prevenção de Acidentes do
Trabalho - SIPAT, conforme programação definida pela CIPA; e j) incluir temas
referentes à prevenção e ao combate ao assédio sexual e a outras formas de
violência no trabalho nas suas atividades e práticas.
As disposições constantes da Norma Regulamentadora 6 que tratam
dos requisitos para aprovação, comercialização, fornecimento e utilização de
Equipamentos de Proteção Individual – EPI – se aplicam não apenas a
empregadores diretos, mas também às organizações, aos trabalhadores, aos
fabricantes e aos importadores (6.2.1). Consoante item 6.5.1, cabe à
organização, quanto ao EPI: a) adquirir somente o aprovado pelo órgão de
âmbito nacional competente em matéria de segurança e saúde no trabalho; b)
orientar e treinar o empregado; c) fornecer ao empregado, gratuitamente, EPI
adequado ao risco, em perfeito estado de conservação e funcionamento, nas
situações previstas no subitem 1.5.5.1.2 da NR-01, observada a hierarquia das
medidas de prevenção; d) registrar o seu fornecimento ao empregado, podendo
ser adotados livros, fichas ou sistema eletrônico, inclusive, por sistema
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demais Normas Regulamentadoras. A despeito das previsões normativas,
empregados que laboram em regime de teletrabalho têm suas condições
ambientais de trabalho (em domicílio) e saúde rotineiramente desconsideradas
por programas como o PGR ou o PCMSO.
A Norma Regulamentadora 17 visa estabelecer as diretrizes e os
requisitos que permitam a adaptação das condições de trabalho às
características psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar
conforto, segurança, saúde e desempenho eficiente no trabalho. As condições
de trabalho incluem aspectos relacionados ao trabalho com máquinas,
equipamentos e ferramentas manuais (aqui incluídas as plataformas digitais de
trabalho), às condições de conforto no ambiente de trabalho e à própria
organização do trabalho, seja em teletrabalho realizado em domicílio, seja para
o trabalho externo plataformizado (17.1.1.1.). O item 17.2.1, por sua vez, prevê
que, nos termos previstos em lei, aplica-se o disposto na NR 17 a outras relações
jurídicas, em nítida cláusula de abertura. Ali está consignado ainda que todo e
qualquer sistema de avaliação de desempenho para efeito de remuneração e
vantagens de qualquer espécie deve levar em consideração as repercussões
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reflexos, e proporcionar corretos ângulos de visibilidade ao trabalhador (item
17.7.3.1). Nas atividades com uso de computador portátil de forma não eventual
em posto de trabalho, devem ser previstas formas de adaptação do teclado, do
mouse ou da tela, a fim de permitir o ajuste às características antropométricas
do trabalhador e à natureza das tarefas a serem executadas (item 17.7.3.2).
Devem ser dotados de dispositivo de sustentação os equipamentos e
ferramentas manuais cujos pesos e utilização na execução das tarefas forem
passíveis de comprometer a segurança ou a saúde dos trabalhadores ou
adotada outra medida de prevenção, a partir da avaliação ergonômica preliminar
ou da análise ergonômica do trabalho – AET (item 17.7.4). Referidos acessórios
digitais devem ser fornecidos gratuitamente, consoante interpretação analógica
a partir do item 4.1. do Anexo II da Norma Regulamentadora 17.
Em síntese, o teletrabalho e o trabalho plataformizado devem ser
realizados de forma a garantir a excelência e as condições de qualidade quanto
ao seu desempenho, favorecendo a proteção social do trabalho, o que exige
necessária observância aos parâmetros da ergonomia previstos na NR 17, seja
quanto aos equipamentos (mesas, assentos etc.), seja quanto à postura física e,
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sempre que o trabalho externo, móvel ou temporário, ocorrer
preponderantemente em logradouro público, em frente de trabalho, deverá ser
garantido pelo empregador: a) instalações sanitárias compostas de bacia
sanitária e lavatório para cada grupo de 20 (vinte) trabalhadores ou fração
(trabalhador, para esta Norma Regulamentadora, não se restringe a empregado,
mas sim ao conjunto de todos os trabalhadores no estabelecimento que
efetivamente utilizem de forma habitual as instalações regulamentadas na
própria NR), podendo ser usados banheiros químicos dotados de mecanismo de
descarga ou de isolamento dos dejetos, com respiro e ventilação, material para
lavagem e enxugo das mãos, sendo proibido o uso de toalhas coletivas,
garantida a higienização diária dos módulos; b) local para refeição protegido
contra intempéries e em condições de higiene, que atenda a todos os
trabalhadores ou prover meio de custeio para alimentação em estabelecimentos
comerciais; e c) água fresca e potável acondicionada em recipientes térmicos
em bom estado de conservação e em quantidade suficiente, sendo certo que o
uso de instalações sanitárias em trabalhos externos deve ser gratuito para o
trabalhador, e que, aos trabalhadores em trabalho externo que levem suas
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I - acessibilidade universal;
II - desenvolvimento sustentável das cidades, nas dimensões socioeconômicas e
ambientais;
III - equidade no acesso dos cidadãos ao transporte público coletivo;
IV - eficiência, eficácia e efetividade na prestação dos serviços de transporte urbano;
V - gestão democrática e controle social do planejamento e avaliação da Política
Nacional de Mobilidade Urbana;
VI - segurança nos deslocamentos das pessoas;
VII - justa distribuição dos benefícios e ônus decorrentes do uso dos diferentes
modos e serviços;
VIII - equidade no uso do espaço público de circulação, vias e logradouros; e
IX - eficiência, eficácia e efetividade na circulação urbana.
[...]
Art. 14. São direitos dos usuários do Sistema Nacional de Mobilidade Urbana, sem
prejuízo dos previstos nas Leis nºs 8.078, de 11 de setembro de 1990, e 8.987, de
13 de fevereiro de 1995 :
[...]
IV - ter ambiente seguro e acessível para a utilização do Sistema Nacional de
Mobilidade Urbana, conforme as Leis nºs 10.048, de 8 de novembro de 2000, e
10.098, de 19 de dezembro de 2000.
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PROCURADORIA GERAL DO TRABALHO
COORDENADORIA NACIONAL DE DEFESA
DO MEIO AMBIENTE DO TRABALHO E DA
SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA
Documento assinado eletronicamente por múltiplos signatários em 13/11/2023, às 18h18min24s (horário de Brasília).
ambiente de trabalho (item 6.3.1 da Norma Regulamentadora 06).
Finalmente, mais uma vez quando se analisa o tema sob o vetor da
interpretação analógica autorizada pelo art. 8º da CLT, verifica-se que a Lei n.
13.103/2015 estabelece, em seu art. 9º que as condições de segurança,
sanitárias e de conforto nos locais de espera, de repouso e de descanso dos
motoristas profissionais de transporte rodoviário de passageiros e rodoviário de
cargas terão que obedecer ao disposto em Normas Regulamentadoras. Dadas
as características semelhantes do serviço prestado – trabalho externo, com
transporte rodoviário – não se vislumbra óbice para tal incidência também em
relação, exemplificativamente, a motoristas de aplicativo ou entregadores de
refeições, ambos trabalhadores por aplicativos. Vale frisar que referido art. 9º da
Lei n. 13.103/2015 foi regulamentado pelo Ministério do Trabalho e Emprego por
meio da Portaria n. 944, de 08/07/2015.
Como se observa, todo o regramento fixado pelas Normas
Regulamentadoras e pela legislação infraconstitucional tem grande potencial
para evitar acidentes do trabalho e doenças decorrentes do trabalho. Em outras
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Documento assinado eletronicamente por múltiplos signatários em 13/11/2023, às 18h18min24s (horário de Brasília).
de trabalho por meio de teletrabalho/home office e ao trabalho plataformizado, a
exemplo de motoristas de aplicativo e entregadores de refeições, concluindo por
sua plena possibilidade.
CONCLUSÃO
Documento assinado eletronicamente por múltiplos signatários em 13/11/2023, às 18h18min24s (horário de Brasília).
Regulamentadora 17 – Ergonomia e Norma Regulamentadora 24 – Condições
Sanitárias e de Conforto nos Ambientes de Trabalho, aplicam-se de forma
imediata aos teletrabalhadores e aos trabalhadores que prestam serviços
interagindo com plataformas digitais de trabalho;
Documento assinado eletronicamente por múltiplos signatários em 13/11/2023, às 18h18min24s (horário de Brasília).
todas as etapas e fases da atividade.
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