Revista Brasileira 73 - CINEMA - Texto Forças Autocurativas - Lula Mello
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Revista Brasileira 73 - CINEMA - Texto Forças Autocurativas - Lula Mello
E
desenvolvendo,
m 1980, iniciei com a Dra. Nise da Silveira a realização de organizando e
quinze documentários que sintetizam as principais pesqui- divulgando o
sas realizadas por ela e seus colaboradores. Abordando histórias de acervo do Museu
de Imagens do
vida dos frequentadores dos ateliers de pintura e modelagem e temas Inconsciente e
de interesse psicológico, os documentários possibilitam uma maior as pesquisas ali
divulgação desses conhecimentos científicos, não disponíveis nos realizadas. Como
diretor e curador
currículos acadêmicos. organizou diversas
Esse conjunto de documentários deu origem ao curso O Mundo exposições no
das Imagens que reúne mais de 1.500 imagens, a maioria pertencente Brasil e no exterior.
Dirigiu quinze
ao acervo do Museu de Imagens do Inconsciente. Na realização documentários
desses documentários, participaram grandes fotógrafos, importan- audiovisuais que
tes artistas brasileiros, nas narrações e na interpretação de persona- sintetizam algumas
das principais
gens; sua realização envolveu toda equipe do Museu de Imagens do pesquisas realizadas
Inconsciente em diversas etapas, entre as quais destaco a montagem no museu.
realizada por Eurípedes Júnior.
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Para este tema, foi feito o documentário Dissociação, Ordenação: Mandala que
também faz amplificações sobre este símbolo na cultura do homem: na Arqui-
tetura com os planejamentos de cidades, na História das religiões, da Arte etc.
Para definir as dilacerantes vivências do esquizofrênico, Nise da Silveira
escolheu a expressão criada pelo escritor e teatrólogo Antonin Artaud, ex-
traída de um comentário sobre uma pintura do surrealista Victor Brauner:
“O ser tem estados inumeráveis e cada vez mais perigosos.” Artaud conhecia
por experiência própria essas vivências: descarrilamentos da direção lógica do
pensar, desmembramentos e metamorfoses do corpo, perda dos limites da
própria personalidade, estreitamentos angustiantes ou ampliações espantosas
do espaço, caos, vazio e muitas outras condições que a pintura dos frequenta-
dores do atelier de pintura também revelavam. Nise nos diz:
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havia aceitado, anos antes, o desafio de Nise da Silveira para criar e encenar a
inesquecível peça de teatro “Artaud!”.
Mas essas vivências também trazem à luz o lado luminoso da psiquê e as mais
profundas experiências espirituais. Foi o que aconteceu a Carlos Pertuis. Nove
anos após ter sido internado, começou a frequentar o atelier de pintura e intitu-
lou um de seus primeiros trabalhos O planetário de Deus (Fig. 4). A imagem é uma
espantosa mandala macrocósmica com uma flor de ouro no centro, símbolo do
Sol e da divindade. Antes de sua internação, teve uma experiência extraordinária,
quando raios de Sol incidindo sobre o pequeno espelho de seu quarto desper-
tou nele uma visão cósmica que ele identificou como “o planetário de Deus”.
No último período de sua vida, seus trabalhos giraram em torno do deus solar
Mithra. Muitas de suas pinturas eram visualizações dos relatos das experiências
místicas de adeptos de Mithra, ele, um humilde sapateiro que jamais poderia
ter tido conhecimento desses assuntos. Uma delas diz: “– Eu sou uma estrela
vagando contigo e brilhando na profundeza”(Fig. 5). Essas imagens fazem parte
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