Manual de Ciencia Politica Paginas Iniciais
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CIÊNCIA POLÍTICA
teoria geral da república
MANUAL DE
CIÊNCIA POLÍTICA
teoria geral da república
título
Manual de Ciência Política – Teoria Geral da República
autor
José Adelino Maltez
editor
© ISCSP – Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas
Rua Almerindo Lessa, Campus Universitário do Alto da Ajuda
1300-663 Lisboa
www.iscsp.ulisboa.pt
ISBN 978-989-646-125-6
Maio de 2018
Capa {shutterstock.com}: Detalhe da Escola de Atenas de Rafael, com Platão e Aristóteles ao centro.
A república é, no Estado, liberdade; nas consciências,
moralidade; no trabalho, segurança; na nação, força e
independência. Para todos, riqueza; para todos, igual-
dade; para todos, luz.
antero de quental
agostinho da silva
As nossas anteriores obras generalistas, todas editadas pelo ISCSP, são assim referenciadas:
PGD – Princípios Gerais de Direito, 1991-1992.
SCP – Sobre a Ciência Política, 1993.
PCP-ITP – Princípios de Ciência Política. Introdução à Teoria Política, 1996.
MCP – Metodologias da Ciência Política, 1997.
PCP-PD – Princípios de Ciência Política. O Problema do Direito, 1998.
BPP – Biografia do Pensamento Político I, 2009.
ATP – Pela Santa Liberdade I. Abecedário de Teoria Política. Ideias e Autores dos Séculos XIX e XX, 2014.
PSL-BPP II – Pela Santa Liberdade II. Obras e Cronobibliografias. Séculos XIX e XX, 2014.
Outras obras:
ESPE – Ensaio sobre o Problema do Estado, 1991.
CRI – Curso de Relações Internacionais, 2002.
AS – Abecedário Simbiótico, 2007.
ÍNDICE
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MANUAL DE CIÊNCIA POLÍTICA – TEORIA GERAL DA REPÚBLICA
viii
ÍNDICE
v. o que é o estado?
51. As origens do Estado. . . . . . . . . . . . . . . . 525
52. A unidade na diversidade. . . . . . . . . . . . . . 537
53. O Estado moderno . . . . . . . . . . . . . . . . . 543
54. O Estado como conquista da história . . . . . . . . . 547
55. A justiça e a metapolítica . . . . . . . . . . . . . . 553
56. Os elementos do Estado. . . . . . . . . . . . . . . 563
57. O Estado como cérebro social . . . . . . . . . . . . 569
58. O que é o Estado de direito?. . . . . . . . . . . . . 577
59. O que é a subsidiariedade?. . . . . . . . . . . . . . 585
ix
O QUE É A CIÊNCIA POLÍTICA? I
3. a autonomia do político 47
4. a invenção da política 51
7. o que é a compreensão? 93
tópicos
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MANUAL DE CIÊNCIA POLÍTICA – TEORIA GERAL DA REPÚBLICA
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1. ENTRE A CIÊNCIA E A POLÍTICA
Mas nunca pode esquecer-se que uma ciência social que seja incapaz de
falar da tirania com a mesma segurança com que a medicina fala, por exem-
plo, do cancro, não consegue compreender os fenómenos sociais tais como
são. Não pode, por conseguinte, ser científica (Leo Strauss, Qu’est ce que la
Philosophie Politique? de 1959, Paris, PUF, 1992, p. 95).
O autor deste manual, apesar de uma manifesta conceção do mundo e
da vida, não quer converter qualquer leitor, ou aluno, mas apenas peregri-
nar pelos tópicos fundamentais da coisa pública, embora invoque os seus
mestres-pensadores, aqueles que o provocam neste caminho de procura da
verdade, incluindo os da segunda metade do século XX, quase todos mortos
no dobrar do milénio. Assim se confirma como os professores, quando se
julgam na madura idade, isto é, no pleno exercício da liberdade académica,
não passam de avôs de si mesmos, quando invocam aqueles inspiradores que
lhes ensinaram a caminhar, das anteriores gerações. Nihil sub sole novi.
Daí que não ocultemos autores malditos, de fascistas a comunistas, de
reacionários a progressistas, marcados pelos sobressaltos autoritários e to-
talitários da primeira metade do século XX. Contudo, sempre começamos
por dizer que a doutrinação missionária não cabe à universidade, mas sim às
seitas que, dos seus púlpitos ou das suas redes sociais, podem diabolizar os
republicanos e os monárquicos, os de direita e os de esquerda, bem como os
liberais e os socialistas, proclamando que uns são o bem, e outros, o mal, a
luz contra as trevas, ou o divino contra o diabólico.
Como salienta Antoine Saint-Exupéry (1900-1944), as crenças opõem-se
todas umas às outras. Como só constroem igrejinhas, odeiam-se todas umas às
outras, por terem o costume de tudo dividirem em erro e verdade. O que não é
verdade é erro e o que não é erro é verdade (Citadelle, 1948, PSL-BPP II, p. 422).
Apenas repetimos, como Fernando Pessoa (1888-1935): o melhor regime
político é aquele que permita com mais segurança e facilidade o jogo livre e
natural das forças sociais (construtivas), e que com mais facilidade permita
o acesso ao poder dos homens mais competentes para exercê-lo. É escusado
acentuar que esse regime variará de nação para nação, e, em cada nação, de
época para época.
Felizmente, não sabemos o que nos acontece e isso é o que nos acontece,
não saber o que nos acontece (José Ortega y Gasset). Mas nem por isso, dis-
pomos de uma engenharia conceitual capaz de conciliar o celeste e o profano,
de um dogma que permita a transformação, por meios geométricos, de um
círculo num quadrado com a mesma superfície, o que nos parece material-
mente impossível para quem não atingiu a pedra filosofal (AS, p. 429). Prefiro
viver a verdade que morreu D. Sebastião (Fernando Pessoa).
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MANUAL DE CIÊNCIA POLÍTICA – TEORIA GERAL DA REPÚBLICA
os clássicos
as ciências práticas
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1. ENTRE A CIÊNCIA E A POLÍTICA
são da cidadania, porque quem trabalha não pode estar constantemente mo-
bilizado para a participação nas decisões coletivas.
o contributo romano
escolástica
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MANUAL DE CIÊNCIA POLÍTICA – TEORIA GERAL DA REPÚBLICA
renascimento e cartesianismo
neoescolástica peninsular
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1. ENTRE A CIÊNCIA E A POLÍTICA
iluminismo e revolução
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MANUAL DE CIÊNCIA POLÍTICA – TEORIA GERAL DA REPÚBLICA
a idade contemporânea
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1. ENTRE A CIÊNCIA E A POLÍTICA
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MANUAL DE CIÊNCIA POLÍTICA – TEORIA GERAL DA REPÚBLICA
do behaviorismo ao sistemismo
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1. ENTRE A CIÊNCIA E A POLÍTICA
uma identidade cultural, muitas vezes dita nação. E uma ordem concreta,
normalmente chamada Estado. Isto é, na política, há sempre uma relação
entre os valores e a realidade.
Claro que a ciência política estuda as coisas terrenas, sendo marcada
pelo comparativismo, pelo experimentalismo e pelo apelo à realidade. Não
visa abraçar o céu, como a filosofia política, apenas tratando dos primeiros
princípios, ou estudando a cidade ideal, através de uma construção quase
matemática, pela via contemplativa.
De referir também o movimento de regresso à filosofia prática e à hermenêutica, com Martin Heidegger
(1889-1976), em Sein und Zeit, 1927 (trad. cast. El Ser y el Tiempo, México, Fondo de Cultura Económica,
1960), e Kant und das Problem der Metaphysik, 1929, ou Hans-Georg Gadamer (1900-2002), em Wahrheit
und Methode, 1960 (trad. fr., Vérité et Méthode, Paris, Seuil, 1976). Como este último clama, cabe à razão
prática discernir, em qualquer circunstância, o nosso verdadeiro bem, escolhendo os justos meios para o
atingir, a ponderação razoável sobre o agir, a autonomia da consciência, a razão que se interroga sobre o
bem e o mal (ver PGD-PD, pp. 394 ss.; ATP, pp. 179 e 201). Não faltam os neotomistas católicos, nesta rea-
ção antimoderna, como Jacques Maritain (1882-1973) e Vittorio Possenti (1938-), com La Buona Società,
1983. Refira-se também a escola dita crítica, de Frankfurt, onde se destacam Theodor Adorno (1903-1969),
Max Horkheimer (1895-1973), Walter Benjamin (1892-1940), Erich Fromm (1900-1980), autor de The Fear
of Freedom, de 1941, Karl A. Wittfogel (1896-1988), autor de Oriental Despotism – A Comparative Study
of Total Power, New Haven, YUP, 1957, Franz Neumann (1900-1954), autor de Behemoth. The Structure
and Practice of National Socialism, de 1933-1934, publicado em 1942 (Oxford, OUP), Herbert Marcuse
(1898-1979) e Jürgen Habermas (1929-). Porque, conforme o grito de revolta de Benjamin, a Europa tem
falta de uma ideia radical de liberdade. Aqui, merece um comentário especial o trabalho de Adorno e
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MANUAL DE CIÊNCIA POLÍTICA – TEORIA GERAL DA REPÚBLICA
Horkheimer, de 1944, apenas publicada em Amesterdão no ano de 1947, Dialektik der Aufklärung. Philo-
sophische Fragmente, dito, na versão brasileira, Dialética do Esclarecimento, Rio de Janeiro, Zahar, 1985,
quando tais autores ainda continuam à procura de um marxismo sem proletariado, em nome de um
Hegel dialético, por oposição ao Hegel sistemático, conforme palavras de Adorno, para quem a razão se
torna impotente para captar o real, não pela sua própria impotência, mas porque o real não é a razão.
Estamos a falar no movimento lançado, em 1924, pelo chamado Instituto de Pesquisas Sociais, sobretudo
a partir de 1930, a quem os adversários chamam o Café Marx. Aquilo que Horkheimer qualifica, em
1932, como a teoria crítica, visando suprimir a distância positivista entre a teoria e a prática (ATP, p. 14
e pp. 206-207). Um grupo que é obrigado a sair da Alemanha nazi e a instalar-se nos Estados Unidos,
para voltar à pátria a partir de 1951, quando já abandonam os limites do marxismo estrito, assumindo-se
como mera crítica da realidade burguesa, enquanto contradição entre o ideal e a ação. Como salienta
Horkheimer, a modernidade é tempo do predomínio de uma razão objetiva, que apenas consiste em
ajustar meios a fins, sejam estes quais forem. Logo, qualquer julgamento ético deixa de assentar na racio-
nalidade e a razão fica sem autonomia face à evolução da sociedade e trata de afastar qualquer preocupa-
ção metafísica. Transforma-se, portanto, em mero aparelho de registo de factos, contribuindo para que
o homem perdesse a sua individualidade (Eclipse of Reason, 1947, ver a trad. fr. Théorie Critique. Essais,
Paris, Payot, 1978; PSL-BPP II, p. 417). Numa posição paralela, Ernst Bloch (1885-1977), um neomarxista,
companheiro de Karl Jaspers (1883-1960) e influenciado por Max Weber (1864-1920), com Geist der Uto-
pie, 1918, em nome de uma filosofia da esperança, onde o que importa é aprender a esperar, regressan-
do-se ao direito natural, ao direito da mãe-natureza, o que tem um carácter subversivo, por reivindicar
a dignidade humana, exigindo tanto a libertação económica como a aplicação dos direitos do homem.
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1. ENTRE A CIÊNCIA E A POLÍTICA
da cidadania à complexidade
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