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GOVERNO DO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL

SECRETARIA DE ESTADO DE JUSTIÇA E SEGURANÇA PÚBLICA


Coordenadoria-Geral de Perícias
Instituto de Criminalística Hercílio Macellaro
M 11 1
AT
O 0 19 7 7 L
GR
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O DO

LAUDO PERICIAL Nº 167.322

RE:169.562
DATA: 21/08/2023
NATUREZA DA PERÍCIA: EXAME EM PEÇAS MECÂNICAS
LOCAL: RUA DR. ANÍBAL DE TOLÊDO, 345 - COORDENADORIA GE-
RAL DE PERÍCIAS.
REQUISITANTE: DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL FABIANO ARLINDO
ALVES
REQUISIÇÃO: OFÍCIO N⁰ 544/2ªDP/TLAGO/DGPC/2023
PERITO RELATOR: ALEXANDRE MAGNO BERNARDO FONTOURA

OBSERVAÇÃO:
ESTE LAUDO DEVERÁ SER ENCAMINHADO PARA A 2ª DELEGACIA DE POLÍCIA
CIVIL – 2ª DP – DE TRÊS LAGOAS/MS.
REFERÊNCIA: IP Nº117/23/2DP-TL BO Nº 273/2023/2DP-TL
COM O LAUDO SEGUEM AS EMBALAGENS 00213239,00314902,00314931.

Rua Dr. Aníbal de Tolêdo, 345 - Bairro Vila Santa Dorotheia - CEP: 79.004-060 - Campo Grande/MS
Fone: (67) 3345-6703 Fax: (67) 3345-6720
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EXAME EM PEÇAS MECÂNICAS


1 PREÂMBULO
Aos 21 (vinte e um) dia(s) do mês de agosto do ano de 2023, no Instituto de
Criminalística /CGP/SEJUSP/MS e em conformidade com o disposto no artigo 178 do
Decreto-Lei nº 3.689, de 03 de outubro de 1941, foi designado pelo Diretor, Perito
Criminal Emerson Lopes dos Reis, o Perito Criminal do Núcleo de Perícias Externas,
Engenheiro Mecânico Alexandre Magno Bernardo Fontoura, para proceder ao Exame
em peças mecânicas.

2 HISTÓRICO
Em atenção à solicitação feita via ofício em nome do(a) Delegado(a) de Polícia
Fabiano Arlindo Alves, da 2ª Delegacia de Pollícia Civil de Três Lagoas – 2DP-TL,
visando instruir o IP 117/2023/2-DP-TL, foi iniciada a perícia requisitada nas depen-
dências da Coordenadoria Geral de Perícias, conforme passa a relatar este signatário.

3 DOS MATERIAIS RECEBIDOS


O Perito Relator recebeu 04 (quatro) embalagens plásticas de segurança pa-
drão CGP/SEJUSP/MS de N. 018160-C, 00285031, 00224588 e 00266804, lacradas
e acompanhadas dos respectivos FCCs (Formulários de Cadeia de Custódia), cujos
conteúdos seguem descritos no item “5.1 – DOS MATERIAIS RECEBIDOS”, no corpo
deste Laudo.

4 DOS OBJETIVOS DOS EXAMES


Depreende-se da solicitação a realização de exames periciais para fins de
descrição, análise de funcionamento, compreensão do mecanismo, sequência e
causa raiz da falha dos componentes mecânicos do sistema de transmissão de po-
tência de um automóvel do tipo caminhão o qual se envolveu em um sinistro com
vítima fatal.

1
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5 DOS EXAMES
Concluídas as análises quantitativas e qualitativas acerca do material rece-
bido, o Perito Relator passa a apresentar os resultados dos exames periciais através
de descrição, fotografias, modelos tridimensionais assistidos por computador, técnica
de fotogrametria e diagramas, executados sistematicamente, de acordo com o método
científico, seguindo a um conjunto ordenado de procedimentos, se apoiando na ciên-
cia e na lógica, à luz da Criminalística.

5.1 DOS MATERIAIS RECEBIDOS


Após o processo de abertura das embalagens N. 00266804, 0018160-C,
00224588 e 00285031, constatou-se respectivamente:
a) 4 (quatro) parafusos acompanhados de 5 (cinco) porcas e de 1 (um) parafuso
com fratura na região próximo da cabeça;
b) 1 (um) flange do diferencial traseiro;
c) 1 (uma) junta universal (cardan), composta por semieixos, cruzetas e garfos.

5.2 DA ANÁLISE DOS MATERIAIS


Nesta seção, será apresentada a definição a descrição técnica e a avaliação
técnica dos materiais recebidos, de maneira pormenorizada, sendo suas característi-
cas de fabricação confrontadas com aquelas observadas nas peças de referência (ge-
nuínas), examinadas durante visita às concessionárias da cidade de Três Lagoas –
MS e de Campo Grande – MS.

5.2.1 Dos parafusos e porcas


Parafusos são elementos de fixação empregados na união não permanente
de peças, já que possibilitam a montagem e desmontagem dos elementos unidos por
meio de seu aperto ou desaperto. São peças formadas por um corpo cilíndrico roscado
e uma cabeça. Já as porcas são peças de forma prismática, geralmente metálica, com
um furo roscado no qual se encaixa um parafuso.
2
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5.2.1.1 Dos parafusos e porcas genuínos


Conforme apresentado ao perito1, a empresa Volvo Caminhões emprega no
acoplamento diferencial/cardan de caminhões parafusos passantes2, com corpo intei-
ramente roscado, de cabeça sextavada contendo inscrições da sigla “SBE3” e da
classe “10.9 SB”.
A empresa volvo emprega porcas contendo rosca interna e diâmetro variável
conforme o parafuso utilizado. A montagem do conjunto é realizada por meio do en-
caixe da porca ao corpo roscado, do lado oposto à cabeça do parafuso, conforme
ilustra a fig. 04.

Cabeça

Porca

Figuras 01 a 03: Ilustram parafusos genuínos empregados pela empresa Volvo. A


primeira fotografia foi tirada na concessionária Volvo de Três Lagoas enquanto as

1
Durante visita à concessionária Rivesa Volvo Caminhões, observou-se que, para o con-
junto cardan/diferencial, são empregados os parafusos descritos nessa seção, variando seu
diâmetro nominal segundo o modelo do caminhão.
2
Nesse tipo de montagem os parafusos atravessam, de lado a lado, as peças a serem uni-
das, passando livremente nos furos. Ressalta-se que para garantir seu aperto, eles necessi-
tam de porcas na extremidade oposta à cabeça.
3
Segundo pesquisas, a sigla SBE remete a uma das maiores fabricantes de parafusos da
Europa que fica sediada na Itália, a “Società Bulloneria Europea”, com produção anual em
torno de 70.000 toneladas.
3
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outras foram tiradas na Rivesa Volvo Caminhões, situada em Campo Grande- MS.

Cabeça
Porca

Corpo cilíndrico roscado

Figura 04: Ilustra a vista explodida de um modelo tridimensional assistido por


computador do conjunto parafuso e porca.
5.2.1.2 Dos parafusos periciados
Possuem montagem passante, diâmetro nominal M144, cabeça com formato
sextavado, classe 10.9, corpo cilíndrico totalmente roscado, distância de passo de 1,5
mm, comprimento útil em torno de 46 mm e fabricante Hassmann5 legível 6 na região
da cabeça. Ao compará-los com o padrão (genuíno) foram observadas as mesmas
características, salvo a diferença da fabricante.

4
Parafusos com rosca métrica apresentando 14 mm de diâmetro nominal, medido por em-
prego de paquímetro.
5
Empresa metalúrgica fundada em 1955, no Estado do Rio Grande do Sul.
6
Para o parafuso fraturado as características aparentavam semelhança apesar da ausência
da cabeça a qual impossibilita a leitura de sua classe e de seu fabricante.
4
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Figura 05: Ilustra um dos parafusos periciados.


5.2.1.3 Das porcas periciadas
Foram recebidas para análise 5 (cinco) porcas hexagonais M14, que se en-
caixavam perfeitamente aos parafusos avaliados, com as mesmas características das
porcas genuínas.

5.2.2 Do flange do diferencial traseiro


O flange do diferencial é uma peça que possibilita o acoplamento rígido com
o eixo cardan por meio de parafusos e superfície estriada. Para um bom funciona-
mento é importante que os parafusos estejam adequadamente apertados, isto é, sem
folgas, para que eles não sofram solicitação por tração ou cisalhamento acima de seu
limite de escoamento em regiões críticas7.

Eixo Cardan

Diferencial
Flange

Figura 06: Ilustra acoplamento entre o eixo cardan e o diferencial.

7
No caso dos parafusos as regiões do filete da rosca possuem maior concentração de ten-
são conforme será apresentado ao longo deste trabalho.
5
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Furo passante

Superfície estriada

Figura 07: Ilustra flange do diferencial com suas regiões estriadas


e furos passantes.
5.2.2.1 Do flange do diferencial traseiro genuíno
A peça genuína examinada apresentava aparência metálica, formato discoide,
regiões estriadas contendo em seu centro furos passantes com acabamento liso.

Figuras 08 e 09: Ilustram flange do diferencial traseiro genuíno empregado pela empresa
Volvo. Em destaque a região de um dos furos da peça apresentando superfície lisa.
6
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5.2.2.2 Do flange do diferencial traseiro periciado


Observou-se, durante exame visual, que a peça periciada apresentava apa-
rência metálica com certa oxidação e presença de sujidades terrosas sobre sua su-
perfície, formato discoide, regiões estriadas com severas avarias e marcas de rosque-
amento sobre acabamento dos furos.
A deformação observada nas avarias e no acabamento dos furos pode ter
sido gerada por um excesso de torque aplicado aos parafusos durante a montagem,
por um aperto insuficiente dos parafusos ou porcas levando ao movimento do flange
do cardan em relação ao diferencial (“atropelamento” entre as peças), solavancos e
impactos repetidos gerando tensões excessivas nas estrias com deformação gradual
ou mesmo a instalação das peças de forma desalinhada gerando pontos de concen-
tração de tensão.

Figuras 10 e 11: Ilustram flange do diferencial traseiro do caminhão periciado e seu


número de série aparente. Apesar de seu desgaste, é uma numeração compatível
com sequenciais de peça genuína, sem vestígios de adulteração.
7
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Para ilustrar, de maneira mais detalhada, as avarias das superfícies estriadas


da peça periciada, foram empregadas técnicas de fotogrametria8 de forma que um
modelo tridimensional foi construído a partir de uma malha gerado por uma nuvem de
pontos.

Figuras 12 e 13: Reconstrução tridimensional da flange do diferencial traseiro feita por


meio da técnica de fotogrametria digital.

8
Técnica capaz de extrair informações referentes a formas, feições, dimensões e posições
de objetos no espaço através de imagens digitais.
8
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Figuras 14 e 15: Reconstrução tridimensional da flange do diferencial traseiro feita por


meio da técnica de fotogrametria digital.
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Figuras 16 e 17: Avarias nas superfícies dos furos do flange do diferencial periciado.

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5.2.3 Do eixo cardan


Os cardans, também conhecidos como eixos cardan ou árvores de transmis-
são, são componentes essenciais em sistemas de transmissão de veículos e máqui-
nas. São capazes de transferir energia de rotação e torque entre partes móveis, per-
mitindo que diferentes componentes girem em ângulos variáveis.
Em geral, um eixo cardan é composto de cruzeta, garfo, semieixo e, em suas
extremidades, dos flanges, por meio dos quais é possível acoplá-lo ao diferencial de
um veículo, proporcionando a transmissão de torque e velocidade angular.
O flange do cardan possui regiões estriadas e furos, semelhantes ao flange
do diferencial. A aderência do acoplamento é aprimorada pelo encaixe proporcionado
pelas regiões estriadas. A explicação para isso se deve ao fato de as superfícies es-
triadas nas peças permitirem uma maior área de contato, desde que os parafusos
estejam apertados com torque suficiente. Além disso, uma montagem alinhada do eixo
cardan preserva os elementos mecânicos das vibrações inerciais excessivas oriundas
do desalinhamento e das diferenças de fase.

Flange

Cruzeta Garfo

Flange acoplada ao flange do diferencial traseiro

Flange acoplada ao flange do diferencial dianteiro

Figuras 18 e 19: Vista explodida do modelo tridimensional assistido por computador do eixo
cardan.

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Furo

Região estriada

Figura 20: Vista de topo de modelo tridimensional assistido por computador do flange do
eixo cardan.

Regiões estriadas

Sentido axial

Figura 21:Vista frontal de modelo tridimensional assistido por computador do flange


eixo cardan. Os retângulos destacam os dentes das regiões estriadas.

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5.2.3.1 Do eixo cardan genuíno


O eixo cardan genuíno era empregado em veículos pesados e apresentava
um estado usado. Era composto, como esperado para essa peça, de dois semieixos,
duas cruzetas, dois garfos e dois flanges, os quais permitiam acoplamento aos flanges
dos diferenciais traseiro e dianteiro de um veículo. Por fim, possuía acabamento liso
nos furos dos flanges, e nenhuma deformação aparente nas regiões estriadas, con-
forme ilustram as imagens a seguir.

Figuras 22 a 25: Ilustram um eixo cardan genuíno em estado usado e seus furos
passantes lisos na região do flange.
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5.2.3.2 Do eixo cardan periciado


Observou-se, durante exame visual, que o cardan periciado apresentava eti-
queta da fabricante volvo e um estado usado, indicado pela presença de sujidades
terrosas e desgaste sobre toda sua superfície. Era composto pelos mesmos compo-
nentes da peça genuína examinada.
Cabe ressaltar que foram observadas marcas de rosqueamento sobre o acaba-
mento dos furos presentes nos seus flanges. Nesse sentido, em comparação aos fu-
ros de acabamento liso da peça genuína, é possível inferir que as marcas observadas
na peça periciada são fruto da montagem inadequada do conjunto cardan/diferencial
no caminhão periciado, causando desgaste anormal oriundo da interação entre os
elementos de fixação (porcas e parafusos) e as superfícies lisas dos furos.

Figuras 26 a 29: Ilustram marcas nos furos do flange do cardan periciado e etiqueta
aparente da fabricante volvo.
5.2.3.3 Da manutenção do eixo cardan periciado
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Segundo documentação apresentada ao Perito (Anexo B), durante o período de


manutenção o cardan periciado foi desmontado pelo menos duas vezes. Salienta-se
que a cada desmontagem e sucessiva remontagem, além da troca dos parafusos,
sejam observados os terminais internos do cardan. Em caso de desalinho, essa peça
pode apresentar diferenças de fase em uma ou em ambas as extremidades, de ma-
neira independente. A posição de montagem do eixo cardan reflete fortemente na vi-
bração de toda a estrutura, inserindo inércias de rotação.

Figura 30: Ilustra instruções sobre a montagem do cardan.

Durante operação, as vibrações são capazes de afrouxar os parafusos, por


exemplo, levando-os a trabalhar contra o metal do furo. Como consequência seriam
observadas marcas de rosca sobre o acabamento inicialmente liso dos furos da peça,
como aquelas observadas no cardan periciado (Fig. 26-28).
Conforme documento de montagem do sistema cardan/diferencial fornecido
pela empresa Volvo Caminhões (vide Anexo A), a cada nova montagem os parafusos
e porcas devem ser substituídos. Entretanto, não foram observados porcas ou para-
fusos nos itens substituídos listados na ordem de serviço de manutenção corretiva
apresentada (vide Anexo B).
6 CONSIDERAÇÕES TÉCNICAS
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Nesta seção, serão avaliadas a composição, a classe, as propriedades mecâ-


nicas, e tópicos teóricos sobre o mecanismo da falha, referentes a um9 dos parafusos
fraturados, responsáveis pela união do conjunto cardan/diferencial traseiro. Para em-
basar esta seção foram apresentados métodos consagrados nos ramos da mecânica
da fratura e da fractografia, além do estado da arte10 sobre análise de falha de metais.

6.1 DA DEFINIÇÃO DE FRATURA


A fratura simples11 consiste na separação de um corpo em duas ou mais par-
tes, em resposta à imposição de uma tensão estática. Uma fratura também pode ocor-
rer em razão da fadiga, isto é, quando são aplicadas tensões cíclicas (distribuídas de
maneira a variar ao longo do tempo). No caso do presente trabalho o material fraturou
durante serviço, indicando uma possível falha por fadiga.

6.2 DOS MODOS DE FRATURA


De acordo com a deformação apresentada por um metal, é possível classificá-
lo em dois modos de fratura: dúctil e frágil. Os metais dúcteis apresentam tipicamente
considerável deformação até se romper. Os metais frágeis, por outro lado, apresentam
normalmente pouca ou nenhuma deformação até a fratura. Entretanto, dúctil e frágil
são termos relativos e opostos, como o branco e o preto.
Em certas aplicações é preferível um material com comportamento dúctil, em
outras é preferível que ele se comporte de maneira frágil. Contudo, existem casos em
que o mais desejável são propriedades intermediárias, como tons de cinza (nem preto
nem branco) ao invés de seus extremos. É o caso dos parafusos, vasos de pressão,
ferramentas manuais, molas, eixos etc.

9
Durante levantamento do local a Perita Pâmela Rodrigues (URPI TL) não encontrou os ou-
tros parafusos que falharam.
10
Estado da arte é o mapeamento das produções acadêmicas já existentes sobre um deter-
minado tema, reunindo as principais conclusões sobre ele através desses estudos.
11
Definição segundo CALLISTER, W.D., Ciência e Engenharia de Materiais: Uma introdu-
ção. LTC 2020.
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6.3 DA COMPOSIÇÃO DO PARAFUSO FRATURADO


Segundo catálogos de fabricantes de parafusos, os parafusos de classe 10.9
geralmente são concebidos em aço médio carbono média liga. Nesse contexto, além
de quantidades de Ferro (Fe) e carbono (C), pode apresentar elementos aditivos como
níquel, cromo, vanádio, molibdênio, silício, manganês, enxofre e fósforo, até certo li-
mite da sua composição.
Com o objetivo de estudar a composição do parafuso fraturado foi realizada, por
meio do microscópio eletrônico de varredura (MEV), a espectroscopia por energia dis-
persiva (EDS) através da análise dos elementos presentes na superfície da fratura. A
análise quantitativa ficou prejudicada seja pelas quantidades significativas de areia
sobre a superfície fraturada seja pela exposição ao ar atmosférico por longos períodos
durante os exames macroscópicos.

Figura 31: Ilustra elementos presentes sobre a superfície de fratura do parafuso


analisado no EDS.

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Foram observados Fe e C em proporções compatíveis com a composição ob-


servada em ligas de aço, além de Silício, Cálcio, Manganês, Oxigênio, Cromo, Alumí-
nio, Potássio em menores proporções. Ressalta-se que a areia12 depositada na su-
perfície da peça também é composta da maioria desses elementos.

6.4 DA CLASSE DOS PARAFUSOS E DAS PROPRIEDADES MECÂNICAS


A simbologia para identificação da classe de resistência consiste em dois alga-
rismos, separados por meio de um ponto. O algarismo à esquerda do ponto deve ser
multiplicado por 100, para obter o valor da resistência à tração. Já o segundo alga-
rismo indica o valor percentual em cima do primeiro valor obtido, fornecendo o limite
de escoamento da peça. Ou seja, um parafuso de classe 10.9 teria 1.000 MPa de
resistência a tração e 90% de 1.000 Mpa, isto é, 900 MPa de limite de escoamento.
Quanto maior for a classe do parafuso, maior será sua capacidade de suportar força,
porém menor será sua ductibilidade (capacidade do material sofrer deformação antes
de falhar). Na prática, a aplicabilidade de cada uma das classes é baseada na exigên-
cia mecânica da junta onde os parafusos serão aparafusados.

Figuras 32 e 33: Ilustra parafuso modelo apresentado no site da fabricante13 e


parafuso retirado do caminhão.

12
A areia possui os elementos Al, Si, K, Mg, Na, Ca, Ti em sua composição.
13
A explicação sobre a classe dos parafusos pode ser consultada por meio do link
https://hassmann.com.br/blog/o-que-sao-classes-e-graus-de-resistencia/ . A história da em-
presa foi narrada pela revista do parafuso, em sua 24ª edição acessível por meio do link
http://www.revistadoparafuso.com.br/v1/modelo/noticia.php?id=378.
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A empresa Hassmann informa em seu website que seus parafusos passam


pelo processo de laminação de rosca, conferindo melhores propriedades mecânicas
comparados ao processo de usinagem das roscas. Além disso, em consulta a tabelas
fornecidas pela empresa, nota-se que os valores mínimos para os parafusos em es-
tudo foram de 1040 MPa para limite de resistência e 32 HC de dureza.
Devido à falta de equipamento e de garra (suporte) específica, a comprovação
dessas informações por meio de ensaios mecânicos ficou prejudicada. Entretanto,
vale ressaltar que pela avaliação de sua composição, no item 6.3, não foram consta-
tadas impurezas que pudessem fragilizar as propriedades mecânicas esperadas (con-
taminação por hidrogênio ou outras impurezas).

Figura 34: Tabela apresentada no site da fabricante Hassmann14 ilustrando o


valoresperado para as propriedades mecânicas segundo a classe de resistência.

14
Conforme consta no site da fabricante através do link https://hassmann.com.br/wp-con-
tent/themes/hassmann/images/pdf/Tab036-Rev06-Propriedades-Mecanicas-dos-Parafu-
sos.pdf.
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6.5 DA FRACTOGRAFIA DA SUPERFÍCIE FRATURADA


A superfície fraturada foi analisada à luz do conceito da fractografia. Em 1903,
Ewing e Humfrey deram início a fractografia ao utilizar a microscopia para análise de
falha. Trata-se de uma técnica cujo objetivo é determinar a causa da falha de estrutu-
ras de engenharia por meio do estudo da superfície fraturada, empregada para seu
registro e análise de suas características, gerando dados relevantes à compreensão
de sua formação.
O termo fractografia é formado da união dos termos “fractus” e “grapho” sendo
empregada para descrição da topografia da superfície da fratura ocorrida.
Este registro pode ser feito a nível macroscópico (de 1mm a 100 µm) e mi-
croscópico, para dimensões menores que 100 µm (tipicamente por microscópio de
varredura). Tradicionalmente, quando aplicada a dimensões microscópicas recebe a
denominação de microfractografia.
O exame do aspecto visual da fratura, feito com a vista desarmada ou com
pequenas ampliações (até 50x), permite identificar o mecanismo de falha ocorrido,
associando-o com a história de utilização do componente. Permite, ainda, inferir o
local onde se iniciou a falha, o sistema de tensões que a produziram, além de outras
informações.
Cada tipo de fratura possui determinada morfologia específica a nível micro-
estrutural que a individualiza. Por isso, para analisar e estudar os mecanismos de
fratura nos materiais, mesmo que estes não estejam tão bem caracterizados a nível
macroscópico, torna-se necessária a utilização da microscopia (especialmente eletrô-
nica de varredura – MEV). A análise microscópica da superfície fraturada é uma téc-
nica importante não apenas para a determinação do real mecanismo de falha, mas
também para sua correta documentação.
Uma falha não ocorre unicamente pela geração de uma trinca ou fratura, mas
quando isso ocorre, é possível obter informações que descrevem as condições nas
quais a falha foi gerada através da análise fractográfica.

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A figura 35 elenca algumas características morfológicas gerais de trincas for-


madas por fratura dúctil e frágil em aços. Destacam-se alguns pontos observados no
parafuso analisado.
O parafuso teve sua superfície de fratura analisada de maneira macroscópica
por meio do microscópio trinocular presente no Instinto de Criminalística. Para a aná-
lise microscópica (microfractografia), empregou-se o Microscópio Eletrônico de Varre-
dura (MEV), presente na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). O
MEV é um equipamento com elevada capacidade de ampliação, cuja resolução é fun-
ção do comprimento de onda da radiação utilizada. Como o MEV utiliza um feixe de
elétrons para formar sua imagem, no lugar de fótons, seu poder de resolução não fica
limitado ao comprimento de onda da luz visível. Assim, o limite de resolução é 1.000x
maior que um microscópio óptico, além de ser capaz de realizar a microanálise quí-
mica de um ponto da amostra (EDS).

Figura 35: Características morfológicas gerais (micro e macro) de trincas formadas


por fratura dúctil e frágil em aços.

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Conclui-se do exposto que os exames macroscópicos e microscópicos são


complementares. Por isso, ambos foram empregados, com o objetivo de promover um
estudo completo sobre a superfície fraturada do parafuso periciado.
De um lado, o exame visual macroscópico apresentou:
a) Marcas de praia;
b) Região de lábios de cisalhamento;
c) Aspecto fosco da maior parte da superfície;
d) Aspecto brilhoso em pequena porção da superfície;
e) Marcas de catraca;
f) Superfícies fibrosas e lisas.
Por outro lado, o exame visual microscópico apresentou:
g) Presença de vazios (dimples);
h) Presença de estrias indicando fadiga e sentido de propagação da trinca;
i) Presença de marcas de catraca indicando origem da trinca como sendo na
base do filete, região conhecida por concentrar tensão no material.

Em geral, parafusos possuem aplicações nas quais é preferível apresentar um


comportamento dúctil-frágil, conforme discutido no item 6.2. No parafuso em estudo,
foi observado um mecanismo dúctil, embora com pequena plastificação (devido a sua
alta tensão de escoamento) compatível com um parafuso de classe 10.9 (de elevada
dureza).
Do ponto de vista macroscópico, a peça apresenta duas regiões bem definidas
(Fig. 45), sendo a primeira lisa, plana e reduzida em superfície, com marcas de praia
e marcas de catraca visíveis a olho nu. Já a segunda apresentava área considerável,
superfície rugosa, mas com algumas áreas lisas, com bordas inclinadas e apresen-
tando lábios de cisalhamento. Do ponto de vista microscópico, ao analisar as regiões
indicadas pelos índices 1,2,3 (Fig. 38) foram observadas marcas de catraca, estrias e
alvéolos (dimples), respectivamente. As duas primeiras morfologias remetem à fadiga
e última à fratura dúctil, conforme quadro apresentado na fig. 35.
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Figuras 36 e 37: Ilustram parafuso com superfície fraturada e parafusos íntegros retirados
do diferencial dianteiro ligado ao cardan do caminhão.

2
1

Figura 38: Macrofractografia do parafuso fraturado, indicando 1-marcas de catraca;


2 – marcas de praia; 3 – superfície fibrosa; 4 – lábios de cisalhamento.

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Figuras 39 e 40: Destacam superfície lisa onde foram constatadas marcas de praia
(a) e marcas de catraca radiais (b).

Figura 41: Microfractografia (por meio do MEV) do parafuso fraturado indicando


marcas de catraca.
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Figura 42: Microfractografia (por meio do MEV) indicando estrias e sentido de


propagação da trinca.

Figura 43: Microfractografia (por meio do MEV) indicando alvéolos (dimples).

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Areia e outras impurezas

Figura 44: Microfractografia (por meio do MEV) indicando vista aproximada dos
alvéolos (dimples).

6.6 DO RESULTADO DOS EXAMES FRACTOGRÁFICOS


Além do comportamento dúctil-frágil, a superfície de fratura apresentou duas
grandes regiões. Uma região lisa com marcas de catraca, marcas de praia, reduzida
em superfície e plana, caracterizando fratura frágil com ocorrência de fadiga, cuja
trinca se originou no entalhe do filete da região roscada, conhecida por ser um con-
centrador de tensão em parafusos. A origem da trinca é indicada pela presença das
marcas de catraca e seu sentido de propagação é indicado pelas marcas de praia
(macroscópicas) e estrias (microscópicas).
A segunda região é mais fibrosa, com maior superfície, com lábios de cisalha-
mento (macroscópicos) e vazios (dimples – microscópicos), apresentando certa ca-
racterística dúctil. Entretanto, também apresenta regiões lisas, indicando certa carac-
terística frágil, comum em superfícies de fratura rápida que culminam após a propa-
gação da fadiga.
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Figura 45: Regiões presentes na superfície fraturada indicando um comportamento


dúctil-fragil e presença de fadiga (na região 1). As setais azuis indicam sentido de
propagação das trincas região 1 → região 2.

6.7 DO ESTADO DA ARTE SOBRE FRATURA DÚCTIL E FADIGA


Casos reais presentes na literatura técnica são apresentados nessa seção com
o objetivo de ilustrar as similaridades das características morfológicas entre esses ca-
sos e o caso em pauta.

Figura 46: Lábios de cisalhamento indicando fratura dúctil semelhante às encontra-


das no parafuso periciado.
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Figura 47: Superfície de fratura por fadiga semelhante ao caso do parafuso periciado.
A região vermelha é semelhante à região 1 observada no parafuso, e a região verde
indica a região catastrófica (rapid failure) semelhante a região 2 do parafuso
analisado.

Figura 48 e 49: Regiões de fratura semelhantes ao caso estudado.

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Figura 50: Marcas de catraca radiais (ratchet marks) em vermelho indicando origem
da fadiga semelhante às encontradas no parafuso periciado.

Figura 51: Alvéolos (dimples) indicando característica de fratura dúctil

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a nível microscópico, semelhante às encontradas no parafuso periciado.

Figura 52:Presença de estrias. A seta vermelha indica sentido de propagação da fa-


diga, semelhante às encontradas no parafuso periciado.

Figura 53: Marcas de praia sentido de propagação da fadiga com morfologia seme-
lhante às encontradas no parafuso periciado.
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Figura 54: Ilustra superfícies de fratura por fadiga produzida em componentes enta-
lhados com seções transversais redondas e retangulares sob certos níveis de tensão nomi-
nal (Fonte: ASM Handbook, vol. 11: Failure Analysis and Prevention, figura 18, p.111). Os
retângulos em vermelho destacam o caso do parafuso fraturado em estudo.

Torque aplicado na cabeça

Corpo inteiramente roscado

Figura 55: Trata-se de uma simulação por elementos finitos com o intuito de mostrar que a
rosca mais próxima da cabeça do parafuso é um concentrador de tensão (indicado pela co-
loração avermelhada).

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7 CONSIDERAÇÕES TÉCNICO-PERICIAIS
Ante ao exposto, pode-se destacar os seguintes pontos de relevância pericial:
➢ A análise fractográfica (em escala macro e microscópica) revelou que a falha
do parafuso fraturado se deu pelo mecanismo de fadiga, com a região de falha
catastrófica apresentando comportamento de natureza dúctil-frágil;
➢ As marcas de catraca radiais revelaram que a trinca se originou na região da
base do filete próximo a cabeça (região conhecida por ser um grande concen-
trador de tensão em peças desse tipo, conforme ilustrado na fig. 55);
➢ As marcas de praia (macroscópicas) e as estrias (microscópicas) indicaram o
sentido de propagação da trinca (sentido das setas azuis da fig. 45);
➢ O modo de falha dos outros parafusos restou prejudicado, uma vez que eles
não foram recuperados quando dos exames periciais no local do sinistro;
➢ A presença e o formato das avarias constatadas nas superfícies estriadas do
flange do cardan e do flange do diferencial permitem inferir a dinâmica do
evento (falha), possibilitando estabelecer a ordem em que os parafusos se sol-
taram;
➢ As avarias das regiões estriadas do flange do cardan também são consequên-
cia da interação desta peça com o pavimento asfáltico, fruto de seu desprendi-
mento, prejudicando parcialmente a análise.

15
Elencados tais pontos, tudo indica que houve um aperto inadequado dos
elementos de fixação do conjunto cardan/diferencial traseiro, em algum momento de
sua vida útil, uma vez que essa ação culmina na geração de tensões superiores à
tensão de escoamento na região de maior concentração de tensão, desencadeando
o fenômeno conhecido como fadiga, com seu início por meio da propagação da trinca,

15
Emprego de carga/torque acima ou abaixo do limite recomendado para aquele parafuso
específico, ou com ferramenta não indicada, conforme série de normas DIN
912,931,934,6912,7984,7990, ilustradas no link https://www.fabricadoprojeto.com.br/tabela-
de-torque-e-pre-carga-para-parafusos-metricos-din912-din931-din934-din6912-din7984-
din7990/ .
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a qual se desenvolve em estágios (Estágios I,II e III) , levando certo tempo até a falha
(ruptura) destes componentes.
Ressalta-se que são fatores essenciais e indispensáveis para a manutenção
adequada de peças de fixação a escolha das características dos elementos de fixação
(classe de resistência, diâmetro nominal, composição, comprimento da região ros-
cada, tipo de rosca etc.), o emprego de instrumentos recomendados, como torquíme-
tros, e o respeito aos procedimentos de montagem e desmontagem das peças, au-
mentando a resistência desses elementos à fadiga.
A fadiga e falha dúctil do parafuso analisado também pode indicar que o sis-
tema de transmissão (cardan, diferencial etc.) possa ter sofrido desalinhamento, falta
de ajuste adequado ou carregamento desigual. Essas condições podem introduzir ten-
sões adicionais nos parafusos contribuindo para a fadiga e a subsequente falha.
Quanto ao design dos parafusos escolhidos para fixação do cardan/diferencial,
cabe ressaltar que eles possuem rosca até a região da cabeça, fator que agrava a
concentração de tensão. Entretanto, vale lembrar que referido sistema possui altas
cargas, necessita de elevada rigidez, para garantir união firme e estável e resistência,
propriedades presentes em parafusos dessa natureza (classe 10.9 com corpo inteira-
mente roscado são mais resistentes e rígidos).

8 DA DINÂMICA DO EVENTO
Em relação à dinâmica da falha, o formato das deformações das superfícies
estriadas nos flanges do diferencial e do cardan permite inferir que houve, inicial-
mente, o desprendimento dos parafusos em duas regiões estriadas (as regiões menos
deformadas), sendo que os dois parafusos restantes, que ainda suportaram os esfor-
ços aplicados, mantiveram as peças presas axialmente, mas não transversalmente,
permitindo seu giro gerando uma deformação angular devido às diferenças de fase
(ou de velocidade de rotação, uma peça girando mais rápido que a outra por exemplo).

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Os motivos do desprendimento dos primeiros parafusos restam desconhecidos,


uma vez que, sem as peças, a análise de falha desses elementos de união ficou pre-
judicada.
9 DOS QUESITOS
1. AS PEÇAS APREENDIDAS SÃO ORIGINAIS DO VEÍCULO VOLVO, MODELO FH
540 6X4T, PLACAS QQZ-5710, ANO DE FABRICAÇÃO 2019/ MODELO 2020, ORA
APREENDIDO?
As peças apreendidas são componentes do sistema de transmissão de potên-
cia do veículo. Elas se dividem entre eixo de transmissão do cardan, flange do
diferencial traseiro e elementos de fixação. Em relação aos elementos de fixa-
ção, todos apresentaram marca aparente HASSMANN, diferente da fabricante
apontada pela empresa Volvo, que seria a fabricante europeia SBE (Società
Bulloneria Europea). Já em relação as outras peças, a peça cardan apresentou
etiqueta com a logomarca da empresa Volvo (Fig.29) e o flange do diferencial
traseiro possui número de série aparente (Fig. 11). Portanto, essas peças são
originais de fábrica.

2. CASO SEJAM, APRESENTAM ALGUM INDÍCIO DE DESGASTE ANORMAL OU


PROVENIENTE DE FALTA DE MANUTENÇÃO OU MANUTENÇÃO INSUFICI-
ENTE?
O eixo de transmissão cardan e o flange do diferencial traseiro periciados apre-
sentaram em seus furos passantes marcas de rosca, ao invés de estarem lisos
conforme foram fabricados. Sendo assim, esse desgaste indica incongruências
na montagem (por emprego de torque inadequado por exemplo), ocasionando
a deformação das superfícies lisas dos furos pelos parafusos (que são feitos
de aço - um metal mais duro que as peças).

3. CASO NÃO SEJAM PEÇAS ORIGINAIS DO VEÍCULO, É POSSÍVEL APONTAR


QUE SEJAM ADEQUADAS AO MODELO DO VEÍCULO?

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Os parafusos utilizados não são originais/genuínos, entretanto apresentam


classe de resistência 10.9, conforme indicado em sua cabeça. Portanto, pos-
suem a mesma classe dos parafusos genuínos. Nesse contexto, as proprieda-
des mecânicas, apresentadas no website do fabricante, mostram que esses
elementos de fixação possuem uma boa resistência. Logo, infere-se que os
parafusos possam ser empregados para fixar as peças do sistema de transmis-
são, sem nenhum prejuízo.

4. TENDO EM VISTA O ANO DE FABRICAÇÃO E MODELO DO VEÍCULO VOLVO


MODELO FH 540 6X4T, PLACAS QQZ-5710, ANO DE FABRICAÇÃO 2019/ MO-
DELO 2020, BEM COMO SUA QUILOMETRAGEM ATUAL (APROXIMADAMENTE
500.000 QUILÔMETROS), É POSSÍVEL INFERIR SE HOUVE DESGASTE NORMAL
E PREVISÍVEL DAS PEÇAS APREENDIDAS?
O desgaste aparente nos furos, conforme comentário do quesito 2, não são
típicos mesmo para um veículo com certa quilometragem. Portanto, houve erro
de montagem o qual causou interferência entre a superfície roscada do para-
fuso e a superfície lisa do furo.
Já o parafuso fraturado apresentou falha por fadiga, iniciada na região da rosca,
a qual é conhecida por ser um concentrador de tensão. De maneira geral, a
fadiga de um parafuso é prevista, uma vez que os cálculos de projeto levam em
conta a vida em fadiga, aplicando para isso um coeficiente de segurança.
Visto que o parafuso apresentou rompimento por fadiga antes de uma vida con-
siderável, então necessariamente houve aperto inadequado, ação que culmi-
nou na inserção de cargas excessivas aplicadas sobre ele, em algum momento
de sua vida útil, de forma a ter inserido uma tensão acima da tensão limite
suportada naquela região (na base do filete) a qual iniciou (desencadeou) o
fenômeno conhecido como fadiga, posteriormente levando à falha.

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5. AS PEÇAS EM QUESTÃO SÃO DE SUBSTITUIÇÃO PERIÓDICA?


De maneira geral, elementos de fixação como porcas e parafusos não
são trocados periodicamente. Entretanto, no caso em pauta, o caminhão sofreu
consideráveis manutenções no sistema de transmissão. Conforme ilustra do-
cumentação (Anexo B), foi feita a manutenção do diferencial traseiro pelo me-
nos duas vezes, algo fora do comum mesmo para um veículo desse porte. Sob
esse pano de fundo, seria possível que fossem originados diversos desalinha-
mentos devido aos problemas apresentados podendo ter gerado cargas exces-
sivas sobre os parafusos. Segundo instruções presentes no documento de
montagem do conjunto diferencial/cardan, por segurança, a cada montagem/
remontagem, devem ser empregados porcas e parafusos novos (vide Anexo
A).

10 ENCERRAMENTO
Nada mais havendo a acrescentar, foi encerrada o presente Laudo, que,
redidigo pelo Signatário, lido e considerado conforme pela segunda signatária, segue
digitado no anverso de 42 (quarenta e duas) folhas mais a capa. Ilustram este trabalho
55 (cinquenta e cinco) figuras insertas no corpo do texto e 03 (três) imagens nos
anexos. Uma via digitalizada do Laudo ficará arquivada neste Instituto de
Criminalística. O Laudo possui 01 (um) apêndice e 01 (um) anexo somando um total
de 06 (seis) páginas.
Assinado de forma digital
por ALEXANDRE MAGNO
BERNARDO
FONTOURA:04250197131
Dados: 2023.12.06
11:15:31 -04'00'

Alexandre Magno Bernardo Fontoura


Perito Criminal

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] CALLISTER, W.D., Ciência e Engenharia de Materiais: Uma introdução. LTC,


2020.

[2] METALS HANDBOOK, Volume 11 Failure analysis and prevention. USA:


ASM (American Society for Metals), 2002.

[3] METALS HANDBOOK, Volume 12 Fractography. USA: ASM (American So-


ciety for Metals), 1987.

[4] PLUVINAGE, G. E JALLOUT, S. Concepts of Fracture Mechanics.Université


de Metz, France e University of Allepo, Syria, 2010.

[5] GONZÁLEZ-VELÁZQUEZ, J.L., Fractography and failure analysis. Vol. 24.


Switzerland: Springer International Publishing, 2018.

[6] GONZÁLEZ-VELÁZQUEZ, J.L., Mechanical behavior and fracture of engi-


neering materials. Cham: Springer International Publishing, 2020.

[7] JONES, D.R.H., Failure analysis case studies II. Elsevier, 2013.

[8] GONZÁLEZ-VELÁZQUEZ, J.L., A practical approach to fracture mechanics.


Elsevier, 2020.

[9] DIETER, G.E., BACON, D., Mechanical metallurgy. Vol. 3. New York:
McGraw-Hill, 1976.

[10] Morais, Willy & Gonçalves, Marcus & Nunes, André & Filho, Celso. (2014).
A Análise da falhas: Parte 1 - Fundamentos das falhas, fratura e o papel do aço.
Siderurgia Brasil. A.15. 18-23.

[11] Morais, Willy & Wagner, Morais & Vieira, Diógenes & Fernando, Lacerda &
Vilela, Henrique & Farias, Eduardo. (2014). Metal Mecânica Morfologias básicas
das superfícies de fratura A análise de falhas: Parte 2. Siderurgia Brasil. V.15.
18-20.

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[12] Morais, Willy & Sacchetta, Celso & Filho, Fernando & Vilela, Henrique &
Barcala, Ronaldo. (2014). Morfologias das fraturas por mecanismos degradati-
vos A análise de falhas: Parte 3. Siderurgia Brasil. A.15. 20-25.

[13] Morais, Willy & Tavares, Marcio & Farias, Eduardo. (2014). A Análise de
falhas - Parte 4: Início de uma Análise de Falhas. Siderurgia Brasil. A.15. 34-39.

[14] Wulpi, Donald J. Understanding how components fail. ASM international,


2013.

[15] ANDERSON, T.L., Fracture Mechanics,Fundamental and aplications, 3ed 2005.

[16] CAZAUD, R. ET AL. La fatigue des métaux. Paris: Dunod, 1969.

[17] SCHREUS, P.J.G. Fracture Mecanics. Eindhoven : University of Technology, 2011.

[18]https://www.csgm.com.br/manutencao-industrial/melhorando-os-resultados-
atraves-da-analise-de-falha-mecanica-e-mecanica-da-fratura/.

APÊNDICE

GLOSSÁRIO DE TERMOS EMPREGADOS NA SEÇÃO 6–CONSIDERAÇÕES


TÉCNICAS

Marcas de praia: são marcas de dimensão macroscópicas as quais indicam


interrupções nos períodos de propagação das fraturas por fadiga em metais
dúcteis. Elas se formam durante a propagação da trinca (fase II) e apresentam
padrão circular ou semicircular.

Estrias: são marcas de dimensão microscópica e estão sujeitas à observação


por meio de um microscópio eletrônico (tanto por MET como MEV). Cada estria
representa a distância de avanço de uma frente de trinca durante um único ciclo
de aplicação de carga. A largura entre as estrias depende, e aumenta, em fun-
ção do aumento da faixa de tensões. Pode haver milhares de estrias em uma
única marca de praia.

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Marcas de catraca: são os degraus que separam duas trincas de fadiga vizi-
nhas que estão se propagando ao mesmo tempo.

Alvéolos: conhecidos como dimples, são pequenas cavidades que caracteri-


zam, a nível microscópico, fraturas dúcteis.

Lábios de cisalhamento: conhecidos como shear lips, são protuberâncias for-


madas nas bordas mais externas das superfícies de fratura dúctil, causadas por
altas cargas cisalhantes em combinação com alterações abruptas do estado de
tensão até o final da fratura. São formadas no estágio final da fratura (Estágio
III) permitindo identificar a zona final de fratura, e, portanto, a sequência e loca-
lização do ponto de início.

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ANEXOS

A INSTRUÇÕES DE MONTAGEM/MANUTENÇÃO DO CARDAN SEGUNDO


EMPRESA VOLVO (DOCUMENTO INTERNO)

Imagem 1: Instruções de montagem da árvore de transmissão (cardan) segundo documento interno


da concessionária volvo (Rivesa) apresentado ao Perito. Os retângulos vermelhos destacam a neces-
sidade de sempre utilizar porcas e parafusos novos a cada montagem e o torque recomendado.
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B DOCUMENTOS DE MANUTENÇÃO DO CAMINHÃO (PERÍODO 2021-2023)

Imagem 2: Documento de manutenção corretiva datado de 17/07/2021, não apresentou parafusos e


porcas novos na listagem das peças trocadas durante reparo do caminhão.
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Imagem 3: Documento de manutenção corretiva datado de 30/03/2023, não apresentou nenhuma das
peças trocadas durante reparo do caminhão.

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