Apostila - Umbanda Ritualística e Conceitos Aplicados - Pai Davilson (Yaçutara)
Apostila - Umbanda Ritualística e Conceitos Aplicados - Pai Davilson (Yaçutara)
Apostila - Umbanda Ritualística e Conceitos Aplicados - Pai Davilson (Yaçutara)
AGRADECIMENTOS
Esta apostila é o fruto de grandes esforços coletivos em prol de um bem maior: levar o conhecimento
sobre a Umbanda àqueles que a buscam para seu desenvolvimento espiritual.
Agradeço:
a Zamby, nosso Pai Supremo, aos Sete Orixás e à Corrente Astral de Umbanda
a todos os meus filhos de Santé, que não só colaboraram fortemente para a concretização dessa
apostila como são sua razão de ser
Que este material guie seus leitores pelos caminhos da Senhora da Luz Velada, trazendo verdade,
sanando dúvidas e fortalecendo sua confiança como trabalhadores da Luz.
Saravá,
Pai Davilson
(Yaçutara)
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CONFRARIA SENHORA DA LUZ VELADA
Templo de Umbanda Caboclo Oriaguaçu
ÍNDICE
1. W. W. da Matta e Silva ............................................................................................................. 5
2. Movimento Umbandista – O que é Umbanda? ....................................................................... 6
2.1. Cultura Umbandística ............................................................................................................. 6
2.2. O que é Umbanda? ................................................................................................................. 8
2.3. Fases da Umbanda .................................................................................................................. 9
3. Os Princípios Básicos da Umbanda......................................................................................... 13
3.1. Umbanda como Religião ....................................................................................................... 13
3.2. Lei de Ação e Reação (Causa e Efeito) ................................................................................. 13
4. As Sete Linhas de Umbanda ................................................................................................... 15
4.1. As Sete Linhas ....................................................................................................................... 15
4.2. O número 7 ........................................................................................................................... 20
5. Os Exus..................................................................................................................................... 21
5.1. Significado do termo Exu ...................................................................................................... 21
5.2. Ciclos de Exu ......................................................................................................................... 22
5.3. Algumas relações sobre Exus ................................................................................................ 26
5.4. Adendo sobre os Exus das Almas ......................................................................................... 27
6. A Raiz de Guiné ....................................................................................................................... 29
7. A Mediunidade na Umbanda.................................................................................................. 35
7.1. O trabalho mediúnico ........................................................................................................... 35
8. Tipos de Incorporação............................................................................................................. 37
8.1. O que é semi-inconsciência? ................................................................................................ 37
8.2. Fase semi-inconsciente ......................................................................................................... 38
8.3. Fase inconsciente.................................................................................................................. 39
9. Mecânica de Incorporação ..................................................................................................... 40
10. Sincretismo e Graus de Entendimento................................................................................. 44
11. Ritual e Disciplina .................................................................................................................. 48
11.1. Conduta moral dos médiuns .............................................................................................. 48
11.2. Modelo de instruções gerais para médiuns da Corrente Astral de Umbanda ................... 48
11.3. Modelo de disciplina interna para os médiuns de uma tenda ........................................... 51
11.4. Adendo: o ato de bater cabeça .......................................................................................... 52
12. A Roupa de Santé .................................................................................................................. 53
13. Guias, Talismãs, Símbolos e a Cruz Triangulada .................................................................. 55
13.1. Colares ritualísticos e talismãs............................................................................................ 55
14. Cachimbos, Charutos e Curiadores....................................................................................... 59
14.1. Cachimbos e charutos......................................................................................................... 59
14.2. Curiadores........................................................................................................................... 60
14.3 A Umbanda é Magia ............................................................................................................ 61
15. Pontos Cantados ................................................................................................................... 62
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CAPÍTULO 1
W. W. DA MATTA E SILVA
Woodrow Wilson da Matta e Silva é mais conhecido como W. W. da Matta e Silva, Pai Matta, ou ainda,
Mestre Yapacani, como era chamado por seus filhos espirituais.
Nascido em Garanhuns, Pernambuco, no dia 28 de junho de 1917 e falecido em 17 de abril de 1988, foi
um médium e escritor brasileiro que teve a sua própria história misturada à criação da Primeira Escola
de Umbanda Esotérica do Brasil.
Seu trabalho e pesquisa apresentaram a Umbanda como uma ciência e uma filosofia baseada em
quatro das principais fontes do conhecimento humano: a Ciência, a Religião a Filosofia e a Arte.
W. W. da Matta e Silva escreveu nove obras durante sua jornada em prol da disseminação do
Movimento Umbandista:
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CAPÍTULO 2
MOVIMENTO UMBANDISTA - O QUE É UMBANDA?
2.1. Cultura Umbandística
É comum se ouvir dizer sobre Umbanda Limpa ou Branca, Umbanda Traçada, Umbanda Esotérica,
Kardecista, Iniciática, Umbanda no Angola, Umbanda no Gêge, Umbanda no Mina, Umbanda no Nagô e
outras tantas classificações desse tipo, que nos impressionam dada variedade de designações para
esse "movimento mágico religioso". Umbanda é coisa séria, para gente séria. A Umbanda se sente
desmerecida com o tratamento que lhe dispensam boa parte dos Terreiros onde se vê mais
"animismo" do que "mediunismo"; mais interesses egoístas do que magia; mais deslealdade do que
autenticidade; mais personalismo do que espiritualismo. Portanto, podemos afirmar que a Umbanda é
produto de evolução espiritual ou religiosa.
Na verdade, a eclosão do Movimento Umbandista foi decorrência das necessidades kármicas que
fizeram reunir, no solo brasileiro, representantes das raças branca, amarela, negra e remanescentes da
vermelha. Assim, o Brasil possibilitou o encontro de coletividades que alimentavam rivalidades entre si
e, de alguma forma, mantinham em seus sistemas religiosos fragmentos do Conhecimento Verdadeiro
usurpado pela Humanidade em sua trajetória terrena.
O Brasil, conhecido pelos índios pré-cabralianos como BARA-TZIL (Terra da Cruz ou Terra da Luz),
deveria ser o local do surgimento do Movimento Umbandista porque, originalmente, havia recebido a
revelação do AUMBANDAM na época dos Lêmures, no apogeu da Raça Vermelha, no Tronco Tupy. Foi
aqui também que a Tradição foi deturpada em sua essência, resultando na Cisão do Tronco Tupy nos
grupos Tupy-Nambá e Tupy-Guarany que defendiam, respectivamente, o Princípio Espiritual e o
Princípio Natural. Embora os Tupys tenham voltado ao seu caminho evolutivo original algum tempo
depois, os resultados de sua Cisão ainda se fazem sentir até hoje, persistindo na mentalidade humana
o dilema entre o Espírito e a Matéria.
Aqueles seres do Tronco Tupy não mais encarnam no Planeta e mesmo poderiam partir para outros
locais mais evoluídos do Universo. Entretanto, optaram por trabalhar em prol da Humanidade,
auxiliando-a a encontrar sua via justa de evolução, restabelecendo a Tradição-Una, o AUMBANDAM.
Para servir a este propósito, o Governo Oculto do Planeta, no momento adequado, lançou as sementes
do Movimento Umbandista, visando inicialmente o Brasil, para futuramente revelar os aspectos
cósmicos da Doutrina para todos os povos. E assim, por dentro dos cultos degenerados de várias raças
existentes no Brasil, passaram então a manifestar-se pela incorporação os Espíritos Ancestrais da
Humanidade que se apresentavam, inicialmente, na forma de Índios e, depois, também na forma de
Pretos-Velhos e Crianças. Apresentavam-se desta forma para atingir mais facilmente a coletividade
brasileira, que se identificava sincreticamente com estes arquétipos da Simplicidade, da Humildade e
da Pureza.
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assimilação sincrética de elementos de outras culturas e sistemas filorreligiosos. Este sincretismo visa
estabelecer uma ponte de ligação que permita a transição gradual de indivíduos oriundos de outros
sistemas para a Umbanda.
Embora o panorama geral oferecido por essas variações ritualísticas possa parecer heterogêneo, esta
foi uma estratégia utilizada pelos espíritos da Confraria Cósmica de Umbanda como forma de
minimizar as desigualdades sociais e discriminações de qualquer origem. Portanto, o Movimento
Umbandista é capaz de receber indivíduos com características e concepções muito variadas em relação
à espiritualidade. Para cada um deles, haverá um Terreiro ou Templo que mais se adapte ao seu nível
consciencial.
Como elemento de ligação dos diversos templos, encontra-se a mediunidade através da incorporação
de espíritos que se apresentam nas três formas arquetipais de Caboclos, Pretos-Velhos (mais
adequadamente chamados de Pais-Velhos) e Crianças. Essas Entidades procuram impulsionar,
paulatinamente, as pessoas que procuram os terreiros para patamares superiores de compreensão de
si mesmas, do Mundo Material e do Mundo Espiritual. Obviamente, quanto mais sincrético for um
terreiro, mais distanciado estará da Essência e mais preso estará à Forma. Mesmo naqueles templos
onde predominam a busca da Essência e a verdadeira Iniciação de Umbanda, os rituais abertos ao
público apresentam apenas uma ínfima parte da Doutrina, por respeito e caridade aos consulentes,
guardando para o interior do Templo os fundamentos que esperam o momento certo para serem
revelados.
Grandes transformações ocorreram na Humanidade neste final de século e a Umbanda vem trazendo o
lenitivo possível a todos que a procuram pelos milhares de terreiros, onde Caboclos, Pretos-Velhos e
Crianças baixam através de seus médiuns, orientando consciências e tornando o contato com o Divino
mais próximo e acessível a todos.
Umbanda não é macumba, não é magia negra. Temos absoluta convicção de que haverá um dia em
que o esclarecimento chegará a todos e não sobrará espaço para os mistificadores e aproveitadores,
para os orgulhosos e vaidosos que se utilizam da credulidade de um povo simples, sincero e humilde
para satisfazer seus mesquinhos desejos.
Procuraremos transmitir de forma fidedigna os conceitos que norteiam a mente e o coração dos
Umbandistas, traduzindo para os leigos e iniciantes o real significado da forma de exteriorização da
Senhora da Luz Velada, procurando ainda respeitar os graus conscienciais de todos.
Antes do final deste século, novos rumos serão dados a toda a coletividade umbandista e é necessário
que aceleremos o processo de preparação dos integrantes da Umbanda do terceiro milênio.
É fato que aqueles que tomam contato pela primeira vez com terreiros de Umbanda se veem diante de
um mundo novo, cheio de particularidades, por vezes incompreensível e aparentemente caótico,
principalmente se levarem em conta a imensa gama de variações de ritos por dentro dos diferentes
terreiros. Entretanto, em todos os locais em que se faz Umbanda de fato e de direito, com
honestidade, percebe-se “no ar” que existe um ponto em comum entre todos os locais: o amor pelo
próximo, o respeito e o carinho pelas entidades, a caridade pela caridade e a fé em Deus. Isso tudo
transforma as diferenças em semelhanças e faz a grande família Umbandista do Brasil e do mundo.
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Este sentimento que move o coração dos Umbandistas é a fé alimentada pelos exemplos vindos das
entidades de Umbanda que nos assistem a todos, ensinando-nos a lutar de forma resignada e
destemida por uma humanidade melhor, sem preconceitos ou discriminações.
A luta insistente é feita, entretanto, sem alardes devido à convicção existente entre os Umbandistas e
a certeza de que o progresso deve ocorrer lentamente e ser construído sobre os sólidos alicerces da
razão e do bom senso.
Por isso, não pretendemos impor nossos conceitos a quem quer que seja nem nunca se verá um
Umbandista com um livro na mão, em praça pública, gritando e procurando coagir os cidadãos a se
converterem para nosso culto com ameaças de um Deus impiedoso.
Não queremos lavagens cerebrais ou servidores temerosos sofrendo maciça abordagem através de
meios de comunicação como redes de rádio e televisão adquiridas de forma pouco clara, que
pretendem incutir o pavor tentando denegrir o culto de Umbanda assemelhando-o a cultos satânicos.
Utilizamos os livros como forma de propagação de uma conscientização séria a respeito da Umbanda
porque sabemos que eles são adquiridos livremente pelos verdadeiros interessados e seus conceitos
não são aceitos a não ser de forma espontânea pelo leitor que usa reflexão lógica para o julgamento.
A Umbanda não é uma ramificação do catolicismo, muito menos do candomblé. A influência africana
desempenhou papel relevante na formação da Umbanda, constituindo um de seus principais alicerces
e dando-lhe como contribuição primordial os Orixás. A Umbanda é uma doutrina monoteísta e
espiritualista como o Espiritismo, o Catolicismo, o Protestantismo, o Judaísmo, etc., o que não impede
de haver entre elas diferenças essenciais que lhes dão características próprias. A Umbanda tem seus
sacerdotes, com seus graus iniciáticos. Se religião é todo culto que possui seu panteão de divindades
(também chamado de teologia - relação entre os deuses e os homens), o seu cerimonial ou liturgia
(fórmulas consagradas de orações) e seus praticantes ou sua classificação hierárquica, a Umbanda é
uma religião milenar e cósmica, e não somente uma filosofia.
Expliquemos melhor: a Umbanda é milenar porque seus fundamentos são os mesmos que presidiam o
reencontro com Deus desde o início da raça humana em nosso planeta. É cósmica porque esses
fundamentos culminaram com a união preconizada pelo Movimento Umbandista dos quatro pilares do
conhecimento humano – a Filosofia, a Ciência, a Arte e a Religião – que procuram conduzir as pessoas
ao despertar consciencial para uma existência melhor. Isto tudo unido é Umbanda e traz uma
compreensão maior do próprio Homem, entendendo-o como ser espiritual habitante não apenas de
uma cidade, país ou planeta, mas sim de todo o Universo. O papel de cada um neste contexto cósmico
é revelado pela Umbanda no conhecimento das causas e origens desse mesmo Universo. Dizemos que
a Umbanda é evolutiva referindo-nos, em primeira instância, às formas de apresentação do
Movimento Umbandista que não só têm variações entre os diversos templos, atendendo às
necessidades dos que os procuram, mas também variações evolutivas do ritual de cada um destes
terreiros no decorrer do tempo. Este é o princípio básico de expansão e evolução do Movimento
Umbandista. É claro que, se as pessoas vão evoluindo e adquirindo valores espirituais superiores, é
justo que os rituais reflitam essa evolução abandonando gradativamente os aspectos da forma e
buscando a essência da vida.
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Assim, o caminho para atingir o binômio Sabedoria – Amor que é a Lei de Deus, ou Protossíntese
Cósmica, é através da fé raciocinada e da razão sentimentalizada.
Portanto, entendemos que a Umbanda é patrimônio dos Seres Espirituais de Alta Evolução que
governam o Planeta Terra. Os Seres Humanos encarnados e desencarnados são herdeiros deste
Conhecimento-Uno.
Entretanto, a aquisição desse conhecimento cósmico depende de condições ou pré-requisitos que o
indivíduo deve possuir para que possa compreender a extensão e significado deste patrimônio. Deve
ser também capaz de participar efetivamente da marcha evolutiva do Planeta como um espírito de
horizontes largos e consciência cósmica. Ao processo de amplificação da consciência que conduz à
integração do Ser neste contexto dá-se o nome de Processo Iniciático ou Iniciação, no qual o
pretendente busca o início das causas e origens do nosso Universo a partir do conhecimento de si
mesmo e das leis que regem o Macrocosmo.
O termo Umbanda nunca existiu em outro solo que não fosse o brasileiro. Em sentido mais profundo,
dizemos que Umbanda deriva da palavra AUM – BAN – DAN, que significa O CONJUNTO DAS LEIS
DIVINAS e foi primeiramente revelado no Planalto Central Brasileiro, no início da Humanidade.
Pré-História
Fase do Caboclo Curuguçu, da linha de Ogum, que durante nove anos, com um imenso grupo de
portentosos emissários espirituais, sutilmente foi lançando o termo Umbanda, completamente
esquecido até então.
Somente os indígenas guardaram o vocábulo Macauam ou mesmo Anauam, formas de velar o
vocábulo sagrado Umbanda ou AUMBANDAN. No final do século passado, entre 1888 e 1889,
coincidindo com a abolição da escravatura e a proclamação da República, começou a surgir nos cultos
ditos africanos a manifestação de entidades que se apresentavam como índios ou Caboclos. A entidade
responsável do Movimento Umbandista e que se apresentava em vários terreiros se denominava
Caboclo Curuguçu, que significa “O Grito do Guardião”. Preparou o advento do Caboclo Sete
Encruzilhadas.
1ª fase
Fase do Caboclo Sete Encruzilhadas, com seu aparelho Zélio Fernandino de Moraes, falecido em 1975.
Nessa época, ainda não existia no linguajar de terreiro o nome Umbanda, que só foi revelado anos
mais tarde através do Caboclo das Sete Encruzilhadas, que baixou pela primeira vez em 16/11/1908 em
São Gonçalo, RJ. Foi esta entidade que proferiu o nome do culto que deveria ser instaurado no Brasil.
Inicialmente chamou-o de Alabanda, em seguida Aumbanda e por fim Umbanda. Nessa fase, tivemos a
reimplantação do vocábulo Umbanda e de um ritual que a representasse, pois este era completamente
diferente dos existentes. Foi na verdade o primeiro templo umbandista organizado – não podemos
negar esse fato histórico, a bem da verdade e da justiça.
As deturpações e confusões surgiram, pois alguns não quiseram apenas ser um médium dirigente de
uma Choupana Umbandista, quiseram ser seu “dono” e, por consequência, “dono da Umbanda”.
Surgiriam logo várias congregações, federações, colegiados, confederações, todos com a mesma
finalidade: queriam ser “donos da Umbanda”, brigando, disputando entre si a supremacia que
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pensavam obter, desta ou daquela forma. Infelizmente, até hoje isso acontece, mas que fique claro
que nem Zélio de Moraes, suas filhas, nem W. W. da Matta e Silva jamais fundaram ou pertenceram às
ditas federações.
Na tenda do Caboclo das Sete Encruzilhadas, dirigido por Zélio Fernandino de Moraes, praticava-se um
ritual simples, que inicialmente se estenderia por mais sete tendas e por tantas quantas temos hoje.
Todos usavam roupas brancas, não havia atabaques nas manifestações mediúnicas, nem se usava
aquela enorme quantidade de colares que a vaidade de tantos pede. A despeito da simplicidade do
ritual, entidades como o Caboclo das Sete Encruzilhadas, Pai Antônio e Orixá Malê não só
incorporavam como realizavam feitos espantosos, muitas vezes ensinando e orientando doutores das
ciências humanas e biológicas. Não se usavam atabaques no início do Movimento Umbandista,
desmascarando o argumento falso de alguns “pais de santo” que insistem em dizer que os mesmos
devem ser utilizados por fazerem parte da “tradição” de Umbanda. Entendemos que os mesmos
excitam o inconsciente de seus médiuns, sugerindo incorporações que são, na verdade, manifestações
anímicas apenas para manter o controle sobre sua corrente mediúnica.
A Sagrada Corrente Astral de Umbanda, procurando abarcar a todos, permitiu que outros cultos como
os africanos e os indígenas também se intitulassem Umbanda ou se apresentassem com seus aspectos
ritualísticos. Este processo gerou as interpolações e miscigenações, originando as diferenças de cultos,
algumas até deletérias e não aceitas pelos umbandistas, como o sacrifício de animais.
2ª fase
Fase em que o Caboclo das Sete Encruzilhadas veio preparar o advento do portentoso trabalho do Pai
Guiné, através de seu médium, W. W. da Matta e Silva. Nessa fase, o Movimento Umbandista se
solidificou, pois fortes foram os conceitos expostos pelo grande Mestre. Uma nova luz surgiu em 1956
com seu livro Umbanda de Todos Nós, que deu impulso renovador ao Movimento Umbandista ao
expor conceitos da doutrina secreta de Umbanda. Mestre Yapacani nos presenteou ainda com mais
oito obras no decorrer de sua encarnação.
Tivemos uma fase áurea dentro da literatura umbandista, na qual a obra literária de Matta e Silva
surgiu como estrela de máxima grandeza. Seus escritos revolucionários e seus conhecimentos
transcendem tudo que havia até então sido produzido. Toda ela é fundamentada no bom senso e na
lógica, mostrando e ensinando os aspectos mais profundos, o lado esotérico do Movimento
Umbandista, a fim de induzir a abolição de certos rituais sinistros e em desacordo com o mesmo. Ao
mesmo tempo, apresenta uma nova ritualística, pautada no que há de mais positivo e com o total
consentimento da Corrente Astral de Umbanda. Matta e Silva foi um possante porta-voz da Umbanda,
e ainda hoje suas nove obras não foram totalmente entendidas, pois muitos nem querem entendê-las
e não desejam que os outros as entendam, infelizmente...
3ª fase
Fase atual, daqueles que seguem os conceitos expostos por Pai Guiné através de seu aparelho
mediúnico e foram seus discípulos diretos. Essa 4ª fase transcendeu os portais divisórios entre o
segundo e o terceiro milênios. São conceitos para a Umbanda do Terceiro Milênio.
Nessa fase, sabemos que estamos dentro da fase do Orixá Ogum, a qual pretende abarcar o maior
número de pessoas possível no menor espaço de tempo. É o chamamento para a Nova Era,
simbolizada nos Clarins de Ogum.
Como se pode perceber, a palavra Umbanda tem sete letras. Na Lemúria, na Atlântida e em outros
tempos era vocalizada como AUM – BAN – DAM (era um mantra).
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Portanto, AUMBANDAM ou Umbanda (que é a mesma coisa) tem como significado esotérico ou oculto
CONJUNTO DAS LEIS DE DEUS ou AS LEIS DIVINAS.
No alfabeto mais antigo do planeta, o abanheenga, que foi também denominado de alfabeto adâmico,
temos a seguinte figuração geométrica:
AUM BAN A D
Que também pode ser escrito em um só bloco, assim dando origem ao OXY:
ou
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Esclarecendo que o OXY é o conjunto das três figuras ou dos três caracteres ou letras que dão a base
para a formação dos termos litúrgicos, sagrados, vibrados, místicos, que identificam as SETE
VIBRAÇÕES ORIGINAIS ou as SETE LINHAS em relação com os SETE ORIXÁS que chefiam cada uma das
ditas Linhas.
Portanto, sendo a Umbanda o “Conjunto das Leis de Deus”, vemos que sua finalidade primordial é
levar o homem a agir de acordo com essas Leis. Que essas Leis nos induzam ao Bem, ao Amor e à
Fraternidade. Por isso, dizemos que a Umbanda é LUZ, é a LUZ DAS ALMAS, aquela que redimirá
nossas consciências, e através desse Movimento Umbandista alcançaremos aqueles áureos tempos de
progresso e evolução quando a Ciência, a Religião, a Filosofia e a Arte eram uma só... Um só
conhecimento... Permitindo o reencontro do Elo Perdido da nossa Senhora da Luz Velada, a Umbanda.
YORIMÁ Religião
OXOSSI Filosofia
XANGÔ Ciência
OGUM Arte
AUMBANDAM – CONHECIMENTO-UNO
RELIGIÃO
ARTE
PROTOSSÍNTESE RELÍGIO-CIENTÍFICA
FILOSOFIA
CIÊNCIA
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CAPÍTULO 3
OS PRINCÍPIOS BÁSICOS DA UMBANDA
Trata-se de uma religião monoteísta: acredita e cultua uma única Divindade Suprema que podemos
chamar de Zamby, Tupã, Olodum Maré, Deus, Jeová, Olorum, Orunmilá, etc.
Para a Umbanda:
Sete espíritos de máxima sabedoria e amor que recebem ordens diretas das Divindades: Orixalá,
Ogum, Oxossi, Xangô, Yorimá, Yori e Yemanjá.
Até o ser Espiritual mais simplório e, distanciado das verdades divinas, incrustado naquilo que
denominamos maldade, é abarcado. Não somos perfeitos como Deus, mas temos a possibilidade de
infinito aperfeiçoamento, ou seja, somos perfectíveis.
Todos se aperfeiçoarão e evoluirão dentro desta escala hierárquica. Podemos dizer que só o bem é
eterno.
Orixás – Caboclos, Crianças e Pretos-Velhos – são seres mais elevados espiritualmente, que nos
auxiliam em nosso aperfeiçoamento.
Muitas pessoas fora ou até dentro do meio confundem as origens e os princípios da Umbanda com
outros cultos e religiões. A Umbanda é cristã, tendo Jesus Cristo, nosso Pai, como espírito regente
supremo do Planeta Terra.
A Umbanda tem ciência das sucessivas reencarnações como forma de evolução dos seres espirituais.
Isso não quer dizer que sejamos kardecistas. A Umbanda utiliza a mediunidade, especialmente da
incorporação, para que Espíritos Evoluídos possam se manifestar e nos auxiliar na jornada evolutiva.
A Umbanda é fortemente ligada à natureza, mas sem a matança de animais. Isso é próprio do
Candomblé, que tem seus ritos próprios e respeitamos, embora não concordamos com alguns
"fundamentos".
A Umbanda defende a razão e do bom senso. Por isso, temos o conhecimento universalista de
conciliação e não de fragmentação. Portanto, ao nos referirmos às leis que governam a evolução dos
Seres Espirituais, utilizamos o termo karma, hoje propagado por nossos irmãos de Oriente. Ou seja,
nossa vida hoje é decorrente de nossas ações do passado e que nosso estado futuro depende do que
plantarmos hoje.
Trata-se de um tema que desde a origem do Universo até nossas dificuldades cotidianas, como a
violência, a falta de água, o desmatamento, etc.
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Por não impor verdades que ainda não podemos aceitar é que existem tantas variações de rituais, sem
se perderem os objetivos principais que estão nos corações dos Umbandistas.
Para os que buscam a verdade, a Umbanda se abre como um leque de opções e mostra os reais
fundamentos por preceitos, rituais e no modo de agir.
Enfim, os objetivos podem não ser visíveis, mas são direcionados e controlados pelos espíritos
regentes planetários, fornecedores da Sagrada Corrente Astral da Umbanda, em especial das Santas
Almas Guardiãs do Cruzeiro Divino, não só no meio Umbandista, mas abrangendo toda a humanidade.
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CAPÍTULO 4
AS SETE LINHAS DE UMBANDA
Antes de falar das Sete Linhas, gostaria de falar sobre o fascínio e a importância do número sete em
quase todas as religiões e regiões do planeta.
Temos sete notas musicais, sete dias na semana, na Bíblia, muitos números sete... Jacó serviu Labão
por sete anos, foram sete as pragas do Egito, a lei de Moisés que estabeleceu a semana de sete dias
tendo como base a criação, os israelitas conquistaram a Terra Prometida derrotando sete nações.
Salomão celebrou a inauguração do seu Templo com uma festa que durou sete dias, o exército de
Josué marchou sete dias ao redor das muralhas de Jericó, com sete Sacerdotes tocando cornetas e no
sétimo dia circularam a cidade por sete vezes e gritaram até que as muralhas caíssem. Tudo isso só no
Velho Testamento.
No Novo Testamento encontramos a menção ao sete no Apocalipse cerca de 50 vezes: sete igrejas,
sete selos, sete candelabros, sete tempestades, etc.
Para os rabinos a terra dividiu-se em sete continentes, e as regiões astrais em sete paraísos.
São sete os nomes de Deus, e a pronúncia mais sagrada destes é YHWH, que foi ensinado por sete
sábios aos seus discípulos, por sete anos.
Depois de tantos números sete, presume-se que tal fascinação pelo número sete não seja uma simples
coincidência e sim uma verdade inicial de uma ciência oculta.
Da verdade oculta, somente alguns iniciados têm a chave. Para o leigo e para os fiéis, permanece a
ideia de que o número sete faz parte de algo importante.
Na nossa amada Umbanda vamos encontrar o número sete muitas vezes também.
Quando entramos num terreiro de Umbanda, somos consulentes de uma entidade que se apresenta
como um Caboclo de Ogum, Oxossi ou Xangô e mais raramente de Yemanjá ou Orixalá.
Dizem-nos que temos nosso Anjo da Guarda que é um Orixá Ancestral, que vibratoriamente comanda
um Caboclo, um Preto Velho ou uma Criança que é responsável por nossa evolução kármica e
desenvolvimento mediúnico.
Mas afinal, quem são essas entidades?
São seres muito mais espiritualizados e de consciência mais evoluída do que nós, almas encarnadas, e
que não mais estão no ciclo de reencarnação na Terra, salvo raríssimas exceções em missão sacrificial.
Apresentam-se como Caboclos, Pretos Velhos e Crianças. Já encarnaram tantas vezes, em tantos
estágios e já evoluíram a tal ponto que não precisam mais se prender a essas formas humanas,
dispensando a necessidade de encarnação.
Eles se utilizam dessas formas e apresentações para chegar a nós, almas ainda no ciclo de
reencarnação.
Até de modo inconsciente, quando estamos em frente a uma criança mediunizada com seu “aparelho”
(médium), imediatamente associamos com a pureza, a beleza e a sinceridade. Por outro lado, em
frente a um Caboclo, sentimos a sensação de segurança, coragem e simplicidade. E quem não sentiu
uma sensação profunda de paz e sabedoria ao se sentar diante de um Preto Velho...
Estes são os motivos dessas entidades se apresentarem nessas formas: transmitir as características de
pureza, beleza, fortaleza, sabedoria, simplicidade e humildade para nós.
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O Caboclo lida mais com os aspectos das energias físicas da saúde; a Criança atinge profundamente os
aspectos sentimentais; já o Preto-Velho consegue serenar os pensamentos atordoados das pressões
que trazemos do dia-a-dia.
É gigantesco o trabalho dessas entidades, que procuram plantar no coração dos homens a semente da
vida renovada pela luz de Orixalá, e é um trabalho muito difícil, pois o acesso ao coração humano não é
nada fácil.
Essa é a psicologia da Umbanda que procura servir a todos indistintamente, não olhando credo, cor,
sexo, religião ou posição social. Basta abrirmos o coração para eles. Como já vimos, todas essas
entidades estão dentro de uma hierarquia, seguindo ordens diretas dos Orixás que compõem as Sete
Linhas, sendo Eles: Orixalá, Ogum, Oxossi, Xangô, Yorimá (Pretos Velhos), Yori (Criança) e Yemanjá.
Esses nomes não foram inventados. Cinco deles foram trazidos pelos nossos irmãos africanos, e os
outros dois (Yori e Yorimá) foram revelados por Pai Guiné através de W.W. da Matta e Silva na década
de 1950. Esses sete nomes não são propriedade de nenhum credo ou cultura: são nomes cósmicos e
ancestrais que traduzem pelo som as forças dos sete Orixás que nomeiam.
Os sete Orixás Planetários são os sete espíritos mais elevados do Planeta, nunca encarnaram aqui e sob
o comando de Orixalá formam o governo do Planeta. Esses sete Orixás têm suas forças concretizadas
ou “refletidas” pelos planetas do nosso sistema solar. Por isso, influenciam as características das
criaturas de acordo com o signo de cada um, sendo regido pelo Orixá.
Pelo nosso signo podemos saber qual nosso “Orixá de Cabeça”, que influencia nossa personalidade.
Segue a correspondência entre signo e Orixá:
Nesta encarnação, recebemos a influência de determinado Orixá de acordo com nosso signo
astrológico. O motivo é nossa necessidade desse direcionamento para melhor aproveitarmos a
encarnação. A tendência característica que a influência do Orixá Ancestral tem sobre a nossa
personalidade acaba estimulando o que precisa ser ajustado e diminuindo algumas tendências
negativas da nossa personalidade, o que nos deixa às vezes vulneráveis e sujeitos a doenças, no caso
de nos desviarmos do caminho. Para ter a atuação de nosso Orixá ancestral, não precisamos ser
médiuns - basta estarmos encarnados.
Quando falamos de Anjo da Guarda, estamos nos referindo à nossa Entidade de Guarda, pois temos
uma entidade que nos acompanha mais de perto. Não devemos confundir o Orixá Ancestral ou de
Cabeça com a entidade que nos assiste, pois essa pode ser ou não da mesma vibração do Orixá
Ancestral. Não tem cabimento que queiram atribuir aos Orixás, supremos espíritos, características tão
pequenas e humanas como a guerra associada a Ogum, a ira de Xangô, o ciúme, a inveja, etc. Tudo isso
faz parte de mitos e lendas. Relacionamos Ogum com guerras e batalhas, por exemplo, porque ele nos
traz a força, a vontade e o ânimo para vencer nossas guerras e batalhas internas, pois as maiores
demandas estão dentro de nós mesmos.
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Os Orixás Ancestrais não incorporam, tendo funções de governo planetário, porém estendem suas
vibrações a mais sete abaixo deles, estes a mais sete, e assim sucessivamente. Assim temos:
Orixá Ancestral
7º Grau Chefe de Legião 1x7=7
6º Grau Orixá Menor Chefe de Falange 7 x 7 = 49
5º Grau Chefe de Subfalange 49 x 7 = 343
4º Grau Guia Guia Chefe integrante de Grupamento 343 x 7 = 2041
3º Grau Chefe de Grupamento 2041 x 7 = 16.807
2º Grau Protetores Subchefe de Grupamento 16.807 x 7 = 117.649
1º Grau Integrante de Grupamento 117.649 x 7 = 823.543
É muito difícil alguém incorporar um Orixá Menor. É necessário para isso um médium muitíssimo bem
preparado, um terreiro também muito limpo física e espiritualmente e uma corrente mediúnica muito
segura e centrada. A incorporação de guias também é rara. Os que têm a felicidade de ter o dom da
incorporação recebem os protetores, mas primeiro precisamos incorporar a nós mesmos.
Por tudo isso, não devemos achar que as entidades que nos assistem são melhores ou piores que as do
nosso irmão, visto que todos são espíritos de muita luz.
As entidades de Umbanda trabalham num perfeito entrosamento umas com as outras, através dos
chamados Entrecruzamentos Vibratórios. Para cada uma das sete Vibrações Originais, temos sete
Orixás Menores. Destes sete, o primeiro não intermedia para outras vibrações. Todos os outros Orixás
Menores intermediam para outras linhas. Intermediar é estabelecer uma ligação entre diferentes
vibrações, como uma ponte. Todos os Orixás Ancestrais têm seu par vibracional. Toda energia ativa
tem que ter sua energia passiva, pois tudo no Universo está em perfeito equilíbrio. Sendo assim temos:
Orixalá Odudua
Ogum Obá
Oxossi Ossaim
Xangô Oyá
Yorimá Nanã
Yori Oxum
Yemanjá Oxumaré
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Voltando ao número sete, falaremos agora dos sete Orixás Menores de cada Linha ou Vibração.
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Na Umbanda, consideramos a força vibratória. Por isso, os Orixás são chamados pelos nomes
vibratórios, ou seja, nomes que dão origem a mantras (sons mágicos que movimentam certas forças da
natureza) e que têm um significado próprio dentro de certa magia cabalística, efetuada através dos
sinais. Traduzimos:
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Para concluir o assunto das Sete Linhas (apesar de ainda haver muito assunto), relacionam-se os sete
Orixás com os quatro elementos:
4.2. O Número 7
Na Umbanda: sete são os Orixás que comandam as linhas vibratórias, sete são os dias da semana, sete
são as cores refratadas pelo prisma (Violeta, Amarelo, Anil, Verde, Laranja, Azul, Vermelho), sete foram
as horas de agonia do Mestre Jesus, sete são os Chakras etéricos (Sasharara, Ajna, Visuddha, Anâhata,
Svasbisthana, Manipura, Muladhara), sete são os Plexos na matéria (Coronário, Frontal, Cervical,
Cardíaco, Solear, Esplênico, Básico), sete são as Posições Fundamentais e Liturgias na Umbanda, sete
são as Ritualísticas na Umbanda (Aceitação, Batismo de Lei, Confirmação Iniciática, Cruzamentos ou
Imantações, Ordenação Sacerdotal, Matrimônio, Ritual Intercessório ou de Desligamento), sete são as
letras que compõem a palavra Umbanda.
É também o número dos Sete Planetas Sagrados e Individuais (Urano, Netuno e Plutão são
Transpessoais) e dos sete montes da mão (de mesmo nome dos planetas – Sol, Lua, Mercúrio, Vênus,
Marte, Júpiter, Saturno), sete Arcanjos ante o trono do Criador (Gabriel, Rafael, Yoriel, Miguel, Samuel,
Ysmael, Yramael), sete Planos da Evolução (Plano dos Espíritos Virginais do Criador, Plano do Espírito
Divino, Plano do Espírito, Plano da Vida, Plano do Pensamento, Plano do Desejo, Plano do Mundo
Básico), sete Virtudes Humanas (Esperança, Fortaleza, Prudência, Amor, Justiça, Temperança, Fé), sete
Pecados Capitais (Vaidade, Avareza, Violência, Egoísmo, Luxúria, Inveja, Gula).
Sete é o número perfeito usado para representar inteireza ou realização completa de uma obra, ou
pode se referir ao ciclo completo de coisas como estabelecidas por Deus, que na representação
geométrica pode ser simbolizado por um triângulo sob o quadrado (espírito anima a matéria). O
número 4 (a terra) e o número 3 (o céu), que somados totalizam o 7, representam a totalidade do
universo em movimento, a vida moral, as três virtudes teologais (a fé, a esperança e a caridade) e as
quatro virtudes cardeais (a prudência, a temperança, a justiça e a força).
O sete é poderoso pelo fato de que indica a passagem do conhecido ao desconhecido. O sete era o
símbolo da vida eterna para os egípcios, não é só um número primo, como também é o único
algarismo da década sem múltiplos nem divisores (exceto o um, claro). Sendo sete cores do arco-íris e
sete as notas da escala musical diatônica, podemos considerá-lo como regulador das vibrações. Sete é
o número dos mistérios, da magia, integrando o três (a trindade espiritual) e o quatro (a matéria). O
deus Osíris também era associado ao número sete. Corresponde ao signo de Libra, que é representado
pelo símbolo da balança, emblema do equilíbrio.
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CAPÍTULO 5
OS EXUS
5.1. Significado do termo Exu
O vocábulo Exu é originário da possante Raça Vermelha, surgindo há milhares de anos no seio dessa
poderosa Raça Raiz em pleno solo brasileiro. É claro que o vocábulo Exu é recente, pois primitivamente
era Essuiá. Como Exu tem os mesmo atributos e qualificativos de Essuiá, o mesmo foi preservado no
seio da coletividade umbandista e mesmo na cultura africana, em especial a Yoruba. Assim,
procuramos a origem do termo Exu e fomos buscá-la quando os continentes americano e africano
eram um só, tanto na Lemúria como na Atlântida.
Nessa gloriosa civilização, em épocas que se perdem nas noites dos tempos, encontramos o vocábulo
Essuiá ou Essu, como muitas Entidades Espirituais militantes na Corrente Astral de Umbanda vêm
afirmando quando têm oportunidade, por intermédio de seus médiuns. O karma, como sabemos, tem
reajustes e cobranças. O trabalho dos Exus é executá-los, assim cooperando para o equilíbrio da Lei e
equilibrando também suas próprias necessidades perante a mesma Lei. Os Espíritos que coordenam
todo esse movimento de plano a plano, além dos seus subplanos da kimbanda, são os cabeças de
legião, realmente qualificados como Exus, uma espécie de polícia de choque que fiscaliza e frena o
submundo astral, no Reino da Kiumbada.
Os Exus são considerados como “policiais” que agem pela Lei, no submundo do “crime” organizado. As
“equipes” de Exus sempre estão nestas zonas infernais. Passam a maior parte do tempo nela, mas não
fazem parte dela. Devido a estas características, os Exus, são confundidos com os kiumbas. Há lutas
tremendas no submundo astral, elas acontecem corpo a corpo (pancadarias). Existem até mesmo
armas astrais de ação contundente (matérias astrais mais rijas do que as armas grosseiras do Planeta
Terra).
Os Exus não são Espíritos irresponsáveis, maus, diabólicos ou trevosos, como muitos querem por aí. Os
verdadeiros maus e trevosos são aqueles a quem eles arrebanham, controlam e frenam. Não estamos
afirmando que Exu só faça o bem, segundo o conceito corrente de bem. Exu, na verdade, está acima
do conceito do bem e do mal, porém ligado ao conceito de justiça. Os Exus são os Senhores das forças
de Atrito e Contundência.
Obviamente, essas forças geram os processos de ação e reação e mesmo uma reação pode gerar outra
ação. Assim, o bem e o mal são condições necessárias ao seu próprio aprendizado e equilíbrio perante
as Leis Cósmicas. As funções de Exu são de importância vital para o karma coletivo, grupal e
individual, não podendo ser Exu, portanto, um Ser Espiritual trevoso, agente do mal. Ao contrário é ele
um Ser Espiritual com responsabilidades definidas perante o contexto da Lei Kármica, executor fiel das
ordenações de cima para baixo, emissário executor da luz para as sombras e dessas para as trevas. Exu,
até em muitos e muitos casos, é responsável pelo reencarne e desencarne aqui no planeta Terra,
técnico que é nesse processo.
Na realidade, Exu é guardião da Luz para as Sombras, e das Sombras para as Trevas. É ele que combate
as entidades que possuem as formas mais horrendas e esquisitas. Estes seres ainda encravados no mal
são os chamados kiumbas e são violentos, vingativos e cruéis. Tais criaturas são atraídas de suas covas
no submundo astral pelas nossas próprias atitudes e sentimentos inferiores, sendo que os exus são
como guerreiros que impedem o acesso destes seres às zonas mais superiores. Quando podem, esses
kiumbas mistificam os Exus, ou mesmo Caboclos, Pais-Velhos e Crianças.
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Os preceitos para Exu são entregues nas encruzilhadas das matas e campinas, sempre com elementos
sutis. Exu de Umbanda não pode ser comprado com bagatelas e nenhum Exu de verdade aceita realizar
trabalhos para matar ou prejudicar alguém. Como sabemos Exu é justo, ou seja, está ligado aos
conceitos do “quem deve paga, e quem merece recebe”. Por isso, não existe aquela história de fazer
amizade com Exu para conseguir isto ou aquilo. Com isso, não queremos dizer que Exu é uma entidade
boazinha, mas pensem um pouco: que lógica tem baixar em um terreiro Caboclo, Pai-Velho, Criança
para fazer a caridade, e no mesmo terreiro baixar Exu para praticar o mal?
Exu é de serventia de Caboclo, Pai-Velho e Criança, mas única e exclusivamente para que seja
cumprida a justiça kármica. Exu não é bom nem mau: é apenas justo.
Por isso, devemos tomar cuidado com o que pedimos para Exu, pois quem não sabe o que pede, não
sabe o que quer nem o que irá receber, e muito menos o que merece receber. Exu só trabalha com o
consentimento de entidades superiores, e dá alguma coisa a alguém se o merecimento deste alguém
estiver de acordo com a Justiça Kármica.
Exu não costuma ficar “jogando conversa fora” – ele vai direto ao assunto, orientando e conduzindo
aquilo que tem que ser feito, pois não é só esta a função de Exu.
Exu também é o agente da magia. É ele quem executa os processos mais sutis da magia de umbanda.
Só por isso já podemos deduzir que, para executar a magia e a justiça kármica, não poderiam ser
entidades irresponsáveis e muito menos entidades inferiores. Exu também não pede que seus médiuns
se vistam de “galãs” de ternos, ou de preto e vermelho, e não realiza sessões “fechadas”, onde até o
sexo é praticado em nome de Exu, como sabemos que acontece em muitos terreiros ditos de
“Umbanda”.
Outra distorção que existe é a respeito do Exu Pomba-Gira. Este é um Exu feminino e muitos a colocam
como se fosse uma prostituta. A Pomba-Gira é uma Exu Guardiã com compromissos muito mais sérios
que promover a bagunça e a orgia, como muitos desejam. Ela combate todas as perturbações
relacionadas com o lado sexual, combatendo os magos negros e seus kiumbas.
Terceiro Ciclo
Neste ciclo, encontramos os Exus Coroados. São aqueles que têm grande evolução e já estão nas
funções de comando. São os Chefes das Falanges. Receberam as ordens diretas dos Chefes de Legiões
da Umbanda. Poucos são aqueles que se manifestam em algum médium. Apenas alguns médiuns, bem
preparados, com enorme missão aqui na terra, têm um Exu Coroado como seu guardião karmânico.
São os guardiões chefes de terreiro. Não mais reencarnam, já esgotaram o seu karma há tempos.
Segundo Ciclo
Exus Cruzados são subordinados dos Exus Coroados. Já tem a noção do bem e do mal. São os exus mais
comuns que se manifestam nos terreiros. Também tem funções de subchefes. Fazem parte da
segurança de um terreiro. O campo de atuação destes exus está nas sombras (entre a Luz e as Trevas).
Estão ainda nos ciclos de reencarnações.
Primeiro Ciclo
Exus Espadados são subordinados dos Exus Cruzados. O seu campo de atuação encontra-se entre as
Sombras e as Trevas. Exus Pagãos são subordinados aos exus de nível acima.
Exus Pagãos são aqueles que não têm distinção exata entre o bem e o mal. Aceitam qualquer tipo de
trabalho, desde que se pague bem. São comandados de maneira intensiva pelos Exus de hierarquias
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superiores (Exus Espadados, Exus Cruzados ou Estrelados, Exus Coroados). Quando fazem algo errado,
são castigados pelos seus chefes, e querem vingar-se de quem os mandou fazer essas coisas erradas.
São ex-kiumbas, capturados e depois adaptados aos trabalhos dos Exus. O campo de atuação dos Exus
Pagãos são as trevas. Conseguem se infiltrar facilmente nas organizações das trevas.
São muito usados pelos Exus dos Níveis acima devido esta facilidade de penetração nas trevas. Eles
arrebanham os kiumbas, rabos de encruza e toda sorte de almas aflitas, penadas, desesperadas e
revoltadas.
Assim como na Umbanda existem sete Orixás Menores Chefes de legião, na Kimbanda (que muitos
confundem com Magia Negra e práticas da Kiumbanda) existem sete Exus Guardiões da Luz para as
sombras que são:
A paralela ativa, através do Bem, da Luz e da evolução conseguida pelo Ser espiritual, promove a
neutralização ou equilibra as causas, os efeitos, o choque de retorno – tudo através das ações positivas
previamente conquistadas, promovendo sua ação no próprio karma e precipitando as ações positivas
já constituídas ou criando condições para conquistas futuras.
A paralela passiva promove o choque de retorno devido à constituição de ações negativas, visando a
reequilibrar o indivíduo consigo mesmo e com seus semelhantes. Tudo isso faz sentir sua ação no
próprio karma, para cobrança das Causas e dos Efeitos já Constituídos pelas ações negativas,
precipitando o Retorno e o Choque.
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EXU MARABÔ
Exu de serventia de Oxossi, tem sua legião trabalhando no corte de trabalhos de magia negra. Sua
poderosa legião também atua no corte de trabalhos ou correntes negativas em pessoas que se sintam
atingidas por espíritos perturbadores (kiumbas), promovem descargas em pessoas atingidas por
despeito com repercussão emocional (queda de posição financeira, desemprego etc.), cortam
demandas de saúde física e mental e fazem descarga nos filhos de Oxossi.
EXU GIRA-MUNDO
Exu de serventia de Xangô, trabalha no corte de negativos e desmanche de trabalhos de baixa magia.
Corta correntes numa situação tormentosa, de correntes de atrito de ordem astral, percebendo-se
males cardíacos. Desenrola (dentro da linha justa) casos arrastados na Justiça, quando houver
trabalhos de magia interferindo no andamento. Realiza descarga e desimpregnação nos filhos de
Xangô.
EXU PINGA-FOGO
Exu de serventia de Yorimá (Pretos-Velhos, "o primado da Magia"). Este chefe de Legião tem sua
característica no trabalho que realiza no corte de bozós – trabalhos de magia negra na calunga
(cemitério, casa grande, reino do pó etc.). Também atua no corte de correntes vindas de almas
penadas, aflitas, desesperadas. Corta tudo que for relacionado que se usa menga, ejé (sangue) de
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sacrifícios de animais, bonecos, agulhas, dedal, alfinete, enfim, tudo que se relaciona com o Reino do
Bruxedo. São conhecidos como Exus das Almas, infelizmente muito mal interpretados e mistificados.
Um exemplo de atuação dos exus das almas é exatamente no cemitério, pois lá entra quem já não
pode sair e muitas vezes não queria estar lá (também acontece de não saber do que acontece, mas aí é
outro caso), então se renegam e tentam "tumultuar". Além disso, seres e larvas astrais que desejam
mais do que nunca reformarem seus corpos astrais necessitam de carbono, muito disponível na
calunga, com sangue, vísceras e tudo o que pode ser usado por eles para se "alimentarem". Os exus
das almas também estão onde há cruzeiros, profusão de sangue (abatedouros) e em portais de
comunicação com outros mundos.
EXU TIRIRI
Estes exus de serventia das Crianças trabalham cortando correntes passionais, de falsidade, traições e
vencem demandas que alteram a paz interior. Desmancham trabalhos onde se usam animais
sacrificados e combatem os kiumbas que queiram se passar por Exu Mirim, fato muito normal em
algumas casas de "santo". Seu corpo astral os permite se infiltrar por onde muitos não conseguem.
Muito respeitados em face de sua aparência, pois realizam verdadeiros "milagres".
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Penetremos nos arcanos do Exu Pomba-Gira, e de início, vejamos como surgiu a denominação Pomba-
Gira, nome de guerra dessa valorosa e poderosa “Guardiã” da Kimbanda.
Pomba-Gira vem dos escudos yônicos, ou seja, seus estandartes eram vermelhos e tinham firmados
uma pomba, a mesma Yoná de vários povos. O vocábulo “gira” se deve às suas incansáveis andanças
planetárias, durante suas várias reencarnações, sendo estas sinônimos semânticos de “gira”.
Pomba-Gira não é uma mulher decaída ou prostituta. Ao contrário, é uma guerreira no combate a
essas mazelas que levam homens e mulheres a despenhadeiros mais profundos, com objeção profunda
da consciência. A atuação da Pomba-Gira é poderosa no equilíbrio, nas cobranças e nos reajustes,
desmandos emotivos, passionais, afetivos com toda sua gama de desvios sensórios, do juízo, que
invariavelmente faz as pessoas descambarem para o sexo, como se este fosse lazer ou ativador da
euforia.
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Os Exus das Almas existem e trabalham também dentro de funções karmânicas bem definidas, não
sendo, como muitos querem, emissários de Omolu, que é considerado (sem nenhum fundamento) o
dono dos cemitérios ou o Senhor da Morte. Não estamos com isso afirmando que não existam os exus
que atuam na órbita dos cemitérios.
Os Exus das Almas são aqueles que trabalham ou manipulam as energias livres. Como energias livres,
entendemos toda transformação da matéria em que há liberação de energia. A morte física, ao liberar
o Corpo Astral do Corpo Físico Denso e do Etérico, libera energia, sendo que essas energias, se não
forem transformadas ou armazenadas serão utilizadas por Entidades do Submundo, nas mais diversas
formas.
Também não é difícil perceber que nas encruzilhadas de ruas, onde há uma profusão de correntes
mentais as mais diversas possíveis, coaguladas e condensadas, os kiumbas orbitam, em busca de
satisfazer seus desejos e necessidades mórbidas. Portanto, não se devem fazer as oferendas
ritualísticas a Exu Guardião nessas encruzilhadas de ruas, onde passam todas as formas de
pensamentos e ações, sejam de encarnados ou desencarnados. Muitas dessas Entidades chamam
essas encruzilhadas de ruas de portas cruzadas. Sim, são verdadeiras “portas”, tanto de entrada como
de saída, para as mais baixas regiões do submundo astral e mesmo para as regiões mais baixas e
grosseiras do túnel de triagem, já em plena zona de transição com o baixo mundo astral.
Esses Seres Espirituais que orbitam nas encruzilhadas de ruas, os chamados kiumbas, estão a mando
de verdadeiros magos negros que se encontram em suas cavernas, ou em seus reinos de feitiçarias e
de bruxarias, nas covas, ou nas cavernas do submundo. São os kiumbas que arrebanham as almas
sofredoras, penadas, aflitas e desesperadas, as quais vão engrossar a falange do ódio e da revolta, que
são coordenadas por verdadeiros magos negros.
Os Exus das Almas são valorosos Guardiões das Sombras para as Trevas, sendo muitos deles chamados
de agentes do Exu Caveira, um Guardião de Lei com funções definidas que comanda todos os Exus das
Almas. Um de seus auxiliares é o Exu Tranca-Ruas das Almas, que é o elo entre a Encruzilhada de Lei
(os Entrecruzamentos Vibratórios dos Orixás) e o Campo do Pó (os Entrecruzamentos Vibratórios
Humanos – das correntes de pensamentos pesados, que orbitam invariavelmente no campo do pó ou
cemitério).
O Exu Caveira raramente se apresenta à clarividência, e quando faz não é na forma de esqueleto ou
caveira.
*NOTA: Suas correntes são pesadíssimas. Não é aconselhável evocá-lo, a não ser por intermédio de
uma Entidade Superior (Caboclo, Preto-Velho) que sabe como fazê-lo, ou por um médium magista de
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fato e de direito. Com isso, apuramos que também não se devem evocar os Exus de sua faixa,
principalmente de seus subplanos, tais como Exu Cruzeiro, Exu Kalunga, Exu 7 Catacumbas, Exu
Tridente e outros sem o devido conhecimento e a devida oportunidade.
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CAPÍTULO 6
A RAIZ DE GUINÉ
No final do século XVII, mais precisamente no ano de 1689, época da Santa Inquisição, houve um
marco devido ao nascimento de um garoto, enviado da Primeva Raça Vermelha, chamado Gabriel
Malagrida. Desde pequeno, dava sinais de sua mediunidade aguçada, já ouvindo vozes e causando
fenômenos metafísicos. Seu dom para a pregação e catequese resultou em seus juramentos
sacerdotais à Companhia de Jesus, passando a chamar-se Frei Gabriel Malagrida.
Frei Malagrida tinha predisposições esotéricas, místicas e possuía livros nada ortodoxos relacionados a
Magia e Ocultismo. Após isso ter sido provado pela Santa Inquisição, ele foi julgado e sentenciado à
fogueira em 1761, acusado de feitiçaria e pacto com o Diabo. Em sua encarnação seguinte, Frei Gabriel
Malagrida nasceu no Brasil como um índio que viveu para se desfazer de sua sofrida roupagem de
jesuíta. Mais tarde, essa consciência se manifestaria em Zélio Fernandino de Moraes como Caboclo das
Sete Encruzilhadas.
No final do século XIX, por volta de 1888 e 1889, coincidindo com a abolição da escravatura e com a
proclamação da República, começou a surgir nos cultos ditos africanos a manifestação de entidades
que se apresentavam como índios ou Caboclos. A entidade responsável pelo Movimento Umbandista
nesta fase se apresentava em vários terreiros denominando-se como Caboclo Curuguçu, que significa
“O Grito do Guardião”.
Nesta época, ainda não era utilizado no linguajar dos terreiros o nome Umbanda, que foi revelado anos
mais tarde através do Caboclo das Sete Encruzilhadas, que baixou pela primeira vez em seu médium
Zélio Fernandino de Moraes em 16/11/1908, sendo esta a entidade que proferiu o nome do culto que
deveria ser instaurado a partir de então.
Na Tenda do Caboclo das Sete Encruzilhadas, dirigida por Zélio de Moraes, praticava-se um rito
simples, apenas com algumas praxes doutrinárias do Espiritismo de Kardec, por força da época e das
circunstâncias, as quais foram depois sendo adaptadas à realidade umbandista, com roupas brancas,
sem atabaques nas manifestações mediúnicas, nem a enorme quantidade de colares que a vaidade de
tantos pede. Numa sessão de desenvolvimento, o Caboclo das Sete Encruzilhadas escolheu sete
médiuns para a abertura de outros sete templos, constituídos da seguinte forma:
É importante pontuar que todas as Tendas tinham os nomes de santos católicos, pois o Astral
aproveitou o sincretismo já existente entre Santos e Orixás para diminuir o choque dos novos adeptos
com o rito emergente, visto que sua grande maioria era de formação católica, incluindo Zélio de
Moraes.
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Esse foi todo o advento preparatório para a chegada e manifestação do Pai Guiné por meio de seu
aparelho mediúnico W. W. da Matta e Silva, para instaurar então, a Raiz deixada por Pai Guiné. A Raiz
de Guiné representa o último bastão entre o plano físico e a espiritualidade. Por se tratar de uma
Entidade de Yorimá, representante da energia telúrica (da Terra), não haveria como ser diferente. É a
Raiz da "Expiação" ou Sacrifício Espiritual, pois o mais exigido é a humildade e castidade. Na atualidade
em que vivemos, isso é muito difícil, a busca por nosso aperfeiçoamento como seres espirituais e
físicos é permeada por obstáculos.
Acreditamos ser interessante, antes disso, expor melhor o conceito do que vem a ser de fato uma Raiz.
Das definições dadas pelo Dicionário Michaelis, seguem em negrito as que se aplicam à nossa linha de
raciocínio:
s. f. 1. Parte inferior da planta por onde ela se fixa no solo e tira a nutrição. 2. Parte inferior do dente que se
encrava no alvéolo. 3. A parte escondida ou enterrada de qualquer objeto. 4. Parte inferior; base. 5.
Prolongamento profundo de certos tumores. 6. Origem, princípio, germe. 7.Gram. Palavra primitiva de onde
outras, derivadas, se formam. 8. Mat. O número que é elevado a certa potência.
Com base nessas definições de base, origem, princípio, etc., surge a pergunta:
Onde e como teve início a Raiz do Pai Guiné que hoje seguimos e defendemos?
Desde muito cedo, as Entidades Espirituais que assistiam Matta e Silva demonstravam a importante
tarefa que o Astral tinha a desenvolver através do Mediunismo. Pai Matta morava em uma república
no centro do Rio de Janeiro quando ainda jovem, e por várias vezes teve compromissos profanos
cancelados pelo Astral, mesmo a contragosto, pela manifestação das Entidades que deixavam claro
que as quintas-feiras deveriam ser dedicadas aos trabalhos espirituais. Matta e Silva entendeu muito
bem sua tarefa e, com dedicação e amor, se transformou em referência para muitos umbandistas
como nós.
W. W. da Matta e Silva era o que podemos chamar de um médium “precoce”, pois entre 12 e 13 anos
passou a viver os primeiros fenômenos mediúnicos, principalmente visões. Sua primeira manifestação
mediúnica ocorreu em 1933, aos 16 anos, com a incorporação de Pai Cândido, que mais tarde, em
1954, se apresentou como Pai Guiné, assumindo toda a responsabilidade pela manutenção e equilíbrio
astral de seu filho. Aos 17, começou a visitar vários terreiros de Umbanda em busca de um lugar para
trabalhar. Pai Cândido, no entanto, pedia paciência e lhe dizia que iria ter o seu próprio terreiro.
Aos 21 anos, foi morar na Pavuna, onde finalmente montou seu primeiro terreiro. A partir de então,
usando o nome de Pai Guiné, essa sapientíssima entidade começou a direcionar a vida mediúnica de
Pai Matta. Muitos consideraram uma forma elitista de se fazer Umbanda, mas não perceberam que a
própria doutrina apresentada por Matta e Silva justificaria esta incompreensão, através dos diferentes
níveis de percepção e consciência.
Em conjunto simbiótico, com o Pai Guiné ou com o Caboclo Juremá, Pai Matta trazia-nos mensagens
extremamente relevantes e reveladoras, além de certos fenômenos mágicos. Seu Santuário
denominava-se TENDA DE UMBANDA ORIENTAL (T.U.O.), verdadeira Escola de Iniciação de Umbanda
Esotérica de Itacuruçá, que significa “A Terra da Pedra da Cruz Sagrada”.
Como a T.U.O. existiu por mais de quarenta anos e teve muitas fases diferentes, muitos foram os que
beberam da mesma fonte, mas em épocas e por caminhos diferentes. Em uma dessas fases, no último
pequeno aposento dos fundos da casa de Pai Matta, em Itacuruçá, ele plantou o Axé da T.U.O.,
firmado numa "Otá" (pedra alongada de cachoeira), fincada à meia altura da parede, sobre a qual
repousava a estátua de São Miguel.
Pai Matta sempre defendeu veementemente a Umbanda com muita sabedoria e competência,
apresentando os fundamentos mais herméticos e demonstrando que esta não era (e não é) uma sub-
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Templo de Umbanda Caboclo Oriaguaçu
religião apoiada em mitos e crenças. Sempre defendeu e provou o conceito da Fé Raciocinada. Por
exemplo, inúmeras foram as matérias publicadas em que o Pai Matta chamava a atenção dos irmãos
umbandistas para o fato de que as guias com contas de plástico não atingem o propósito dos que as
utilizam, pois o plástico é isolante e não conduz as energias que muitos pensam estar carregando e
direcionando em seus pescoços.
Depois de a T.U.O. estar fisicamente estabelecida e com a supervisão do Astral, em 1956 foi escrita e
lançada a primeira edição do livro Umbanda de Todos Nós, obra que repercutiu imediatamente em um
grande número de terreiros no país, gerando altos ataques de encarnados e desencarnados, com
Mestre Yapacani e sua família como alvos.
a leitura de Umbanda de Todos Nós – o magnífico livro que faltava ser escrito – proporcionou-me um grande prazer espiritual
e é com a mais viva satisfação que venho trazer-lhe os meus parabéns pela sua obra, que será um marco na história de nossa
religião...
Umbanda de Todos Nós não é só um grande livro; é o melhor que até hoje foi escrito sobre o assunto. Em cada uma de suas
páginas revelam-se a inteligência, a cultura e a erudição do autor, que teve a felicidade, maior entre todas, de fazer falar a
"Senhora da Luz Velada". O prezado confrade, com o seu admirável livro, conseguiu realizar uma obra de divulgação como
nenhum outro escritor que o precedeu ainda havia feito.
Umbanda de Todos Nós será... o livro clássico que todo Umbandista consultará...”
Poucos foram os que ficaram, estudaram, aprenderam e realmente foram consagrados por Mestre
Yapacani, tornando-se Irmãos de Santo e queridos do coração dos humildes, que eram a verdadeira
razão da T.U.O. existir.
Entre eles, citam-se os Iniciados e Discípulos mais antigos: Professor Rodrigues, Tatá Mironga, Lourdes,
Aline, Mirian, Gavião, Caparelli e Mirela Faur, Ivan e Maria Estela, Burtiol, Leonídio, Arlindo e Mestre
Kariumá, que foram a coluna dorsal do atendimento à multidão de aflitos.
Dentre os Iniciados por Pai Matta, temos os Sete Iniciados em Sétimo Grau, consagrados como Mestres
da Raiz de Guiné:
• Mestre Itaoman (Ivan Horácio Costa), primeiro Iniciado por Mestre Yapacani (o Decano) e um dos
fundadores da Ordem do Círculo Cruzado;
• Mestre Yassuamy (Mário Tomar), um dos fundadores da Ordem do Círculo, que secundou Pai Matta
quando sua visão física começou a falhar;
• Mestre Itassoara (Valter Lima e Silva), um dos Mestres no Estado do Espírito Santo;
• Mestre Arabayara (Ovídio Carlos Martins), que foi o fiel depositário das disposições testamentárias
de Pai Matta;
• Dona Sallete, a segunda esposa de Matta e Silva, que foi "Mãe Pequena" para muitos dos posteriores
"filhos" e que emprestou ao Mestre cuidados pessoais, polimento e verniz social;
• Mestre Norberto Nadalini (falecido), a quem Matta e Silva autorizou por escrito e com firma
reconhecida, em 04 de dezembro de 1987, a fundação de uma "escola sobre os fundamentos do
Esoterismo de Umbanda", na região de Votuporanga – SP, hoje desativada;
• Mestre Arapiaga (Francisco Rivas Neto), fundador da Ordem Iniciática do Cruzeiro Divino.
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Porém, tendo em vista as palavras anteriores do próprio Matta, como consta a partir da segunda
Edição de Umbanda de Todos Nós: “Tive ordens de não deixar a direção da Tenda com ninguém.
Ninguém podia e nem devia... e continuo aguardando ordens, é só.". Esta certamente foi última lição
do Mestre Yapacani a seus Discípulos: sua vontade de que cada novo Mestre devesse seguir seu
próprio caminho, como novas mudas daquela majestosa Árvore de Sabedoria e Compaixão que um dia
plantou e fez brotar nas matas de Itacuruçá.
Suas nove obras religiosas foram publicadas com sucesso em várias edições, sendo apreciadas e
estudadas ainda hoje em dia. Abaixo, apresentamos a relação de seus livros publicados pela Livraria e
Editora Freitas Bastos, atualmente Editora Ícone:
• UMBANDA DO BRASIL
Obra que sintetiza e simplifica o conhecimento divulgado nas sete obras anteriores.
Tanto os ensinamentos ministrados diretamente por Pai Matta quanto os contidos em suas nove obras
literárias deram origem a três Ordens Umbandistas Esotéricas:
ORDEM DO CÍRCULO CRUZADO (1968), fundada por seu discípulo Mestre Itaoman
ORDEM INICIÁTICA DO CRUZEIRO DIVINO (1977), fundada pelo discípulo Mestre Arapiaga
ORDEM ESOTÉRICA OLHO DO MESTRE (1988), fundada pelo discípulo Mestre Yassuamy
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Como vemos, formar sacerdotes que buscassem levar suas coletividades do grau de entendimento de
positivo1 a superlativo2 e androgônico3 para teogônico4 era um dos aspectos marcantes da linhagem
deixada por Mestre Yapacani em sua Tenda.
• Entendemos por aspectos do Esoterismo (Filos. Doutrina ou atitude de espírito que preconiza que o
ensinamento da verdade [científica, filosófica ou religiosa] deve reservar-se a número restrito de iniciados,
escolhidos por sua inteligência ou valor moral):
todo o segmento templário que visa à Iniciação (início + ação) de seus adeptos, divulgando o exercício e
a compreensão para o autoconhecimento, no qual se busca o despertar da consciência para as
realidades do "Eu", do Mundo Físico, do Mundo Espiritual e das coisas relativas à Umbanda. Assim,
adquirem-se condições de compreender e propagar seus conceitos mais velados e complexos,
esforçando-se para a restauração do Movimento Umbandista, bem como a orientação e adestramento
do exercício de faculdades mediúnicas e paranormais das pessoas a Ela ligadas, buscando o
crescimento individual e a contribuição para a construção de uma Evolução Universal, promovendo
caridade simplesmente pela caridade e pelo amor incondicional e fraternal, como deveria ser em
qualquer casa de trabalhos umbandísticos.
Nos aspectos do Esoterismo de Umbanda, assim como sua própria definição nos prova, entendemos
que os ensinamentos Esotéricos de qualquer origem se restringem (em formato iniciático) aos que, sob
sua doutrina e suas crenças, mantêm vínculo com o Templo e com os ensinamentos filorreligiosos
claramente ligados ao ocultismo e a fenômenos e manifestações espirituais. Dentro da Raiz de Guiné,
podemos dar como referência os Ritos Internos e Públicos. Nos Ritos Internos, são passados
ensinamentos e informações para os médiuns, tanto por meio do sacerdote quanto por meio das
entidades Astrais que se manifestam em seus “aparelhos”. Ou seja, muito do que é passado aos filhos
de terreiro, no formato Esotérico (Mestre e Discípulo), é passado adiante para os consulentes
frequentadores dos rituais públicos em forma Exotérica.
Estes recebem informações sobre o Movimento Religioso Umbandista em formatos relevantes para
suas realidades e para sua caminhada e evolução kármica. Já os ensinamentos voltados aos médiuns
Umbandistas visam à Iniciação, demonstrando assim a seleção dos que receberão um ensinamento em
sentido Templário ou Iniciático e identificando os que verdadeiramente têm ligação nesse âmbito com
a Raiz de Guiné e com um Templo de Umbanda.
• Entendemos por aspectos do Exoterismo (Filos. Diz-se do ensinamento que, em escolas da Antiguidade,
era transmitido ao público sem restrição, conforme dado e demonstrado o interesse generalizado que suscitava e
a forma acessível em que podia ser exposto, por se tratar de ensinamento dialético 5, provável, verossímil6):
1 Positivo - diz-se do grau que, no substantivo, indica a dimensão normal dos seres, e no adjetivo exprime simplesmente a qualidade
2 Superlativo - que exprime uma qualidade em grau muito alto, ou no mais alto grau
3 Androgônico - diz-se do fator que origina ou estimula os caracteres masculinos ou humanos
4 Teogônico - doutrina mística relativa ao nascimento dos deuses, e que frequentemente se relaciona com a formação do mundo
5 Dialético – 1. Arte do diálogo ou da discussão, quer num sentido laudativo (relativo a, ou que encerra com louvor), como força de
argumentação, quer num sentido pejorativo, como excessivo emprego de sutilezas.
6 Verossímil – 1. Semelhante à verdade; que parece verdadeiro. 2. Que não repugna à verdade; provável.
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todo o ensinamento sem intuito Iniciático, ou seja, tudo o que visa ser passado em linguagem mais
acessível e popular aos que frequentam um Terreiro de Umbanda. Por Exoterismo ainda compreende-
se toda a parte que é visível aos olhos físicos: o Congá, a Cruz Triangulada, os Ideogramas, as taças
com as Pedras correspondentes à vibração dos Orixás, as imagens dos Santos (quando usadas), a areia
sagrada, os charutos, curiadores, a Cruz das Santas Almas, o próprio brado e formas “incorretas” de
falar do Caboclo e do Pai-Velho, bem como a voz infantil das entidades de Yori, etc.
Portanto, foi dentro desses aspectos Esotéricos e Exotéricos que a Raiz de Guiné se destacou com o
ressurgimento do Movimento Umbandista, o Aumbandan. Fazendo novamente referência ao
significado literal de Raiz...
“A parte escondida ou enterrada de qualquer objeto”: Apesar de a Raiz de Guiné ser qualificada por
destacar os aspectos mais internos da Umbanda (aspectos Esotéricos), seu objetivo maior foi
impulsionar a coletividade umbandista da época ao resgate do Aumbhandan, conforme suas
necessidades exigiam.
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CAPÍTULO 7
A MEDIUNIDADE NA UMBANDA
7.1. O trabalho mediúnico
Não é fácil ser médium, e mais difícil ainda é ser médium de Umbanda.
A mediunidade é o elo, é o caminho e a meta das pessoas possuidoras desse dom. Longe de ser um
instrumento passivo, o médium tem o dever de buscar o auto-aprimoramento e a conduta reta, pois
esses são os sintonizadores maiores da mediunidade. É como disse o mestre: “uma árvore má não
pode dar bons frutos” e é plantando que se colhe. Ou seja, nossas afinidades refletem o nível e o tipo
de espíritos que atraímos para o nosso campo mediúnico.
Sabemos como o caminho da matéria é penoso e quantos falsos atalhos existem na trilha da evolução.
Incontáveis deles não nos levam a lugar algum e, para conseguirmos uma sintonia fina com os canais
superiores, precisamos de três coisas básicas: humildade, simplicidade e pureza dos sentimentos,
pensamentos e ações. À primeira vista parece simples, mas quando pisamos no chão, nos damos conta
de nossas fraquezas, que atira-nos a caminhos escuros e incertos. Então, só apelando para o Astral
Superior é que conseguiremos trilhar o verdadeiro caminho da espiritualidade. Assim, caso estejamos
fracos, a fé verdadeira, pautada na razão, nos fortalecerá e, gradativamente, conquistaremos e
domaremos o pior inimigo que está em nosso íntimo: o ego.
O médium de incorporação é aquele que, além da ligação e proteção da corrente espiritual de sua
vibração original (Orixá), possui uma forte ligação com entidades espirituais. Essa conexão vem de
vínculos kármicos e está em acordo com o que foi firmado no astral pelo próprio médium antes de seu
reencarne, quando ele mesmo se compromete a trabalhar pela causa da espiritualidade em
determinado movimento ou culto. Por essa razão que ouvimos pessoas dizerem que, ao falar com
certa entidade, ela lhe aconselhou que vestisse a roupa branca, ou seja, assumisse sua missão kármica.
Vocês que passaram por isso, se conversaram com entidades de fato e foram chamados para o
trabalho, não percam tempo. Procurem um templo que mais se afinize com suas ideias e assumam seu
compromisso, pois certamente serão mais felizes e realizados.
Dentro da mediunidade de incorporação, existem três tipos básicos que caracterizam graus kármicos e
de consciência, expressos nos médiuns de karma probatório, evolutivo e missionário.
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Há também os médiuns de karma evolutivo, que se afinizam e trabalham com entidades no grau de
guias. Eles possuem um mediunismo mais apurado, com possibilidades de desenvolver a clarividência e
a clariaudiência, dependendo da função que lhes foi confiada pelo astral.
Por fim, temos os raríssimos médiuns de karma missionário, que se afinizam e trabalham com
entidades no grau de Orixá Menor. Têm profundos conhecimentos filosóficos, os quais procuram
colocar em prática. São, é claro, Seres Espirituais experientes, mormente nos Conceitos e Princípios da
Lei Divina, e possuem grandes responsabilidades com suas coletividades.
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CAPÍTULO 8
TIPOS DE INCORPORAÇÃO
O médium vê, ouve e percebe determinados assuntos da consulta que sejam importantes para seu
próprio desenvolvimento interior. É como se fosse um aprendizado prático, necessário à resolução de
seus próprios problemas interiores, ou como uma espécie de alerta a determinados problemas com
outros consulentes que porventura aparecerão no futuro.
Na semi-inconsciência, após a desincorporação, o médium se lembra de algumas consultas, as
necessárias ao seu desenvolvimento, e não se lembra de outras, sendo que tal lembrança se dá como
se fossem “fotos” ou cenas paradas, parcialmente enevoadas. E a moral do Umbandista pede que as
consultas lembradas sejam um segredo inviolável que o médium deve guardar consigo, pois é somente
uma forma de aprendizado e nunca deve ser comentado com outros (o que aconteceu, o que sua
entidade falou e etc.), pois ele corre o risco de cair na vaidade destruidora e improdutiva.
O que muitos dizem ser mediunidade “consciente”, não existe, pois o que existe realmente é a
chamada irradiação intuitiva, onde o médium não sente a atuação da entidade em seus movimentos,
ou em sua fala, sendo como uma espécie de “chuva de ideias”. Na mediunidade semi-inconsciente, o
médium possui pouca autonomia em seus movimentos e em sua fala, sendo que nesta modalidade, o
médium, apesar de ver algumas coisas, não consegue pensar. A mediunidade flui como um rio e a
noção do tempo também se altera, como se os consulentes passassem ora em câmera lenta, ora em
ritmo rápido.
É evidente que essas sensações variam muito, pois cada pessoa é uma individualidade e a sensibilidade
de cada uma é diferente, sendo que as lições que os Caboclos, Pais Velhos e Crianças passam a cada
um se resumem e estão intimamente ligadas à vivência e a realidade da missão e da encarnação de
cada ser.
Muitos perguntam se é necessário “rodar” o médium para incorporar. Não há essa necessidade, pois
quem é médium sente os fluidos de contato e a presença de seu mentor sem a necessidade dessa
prática. Também não é verdade que o Caboclo entre no corpo do médium ao incorporar, como se
houvesse um “buraco” em sua cabeça. Nossos mentores se utilizam de um outro “corpo” que
possuímos e que está em uma dimensão semelhante a nossa, o chamado “Corpo Astral”. Ele é a sede
de nossos sentimentos e emoções. É este o corpo que mantemos após o desencarne.
É necessário confiarmos nos mentores e deixar que realizem seus trabalhos. Não se cobre para que
durante as consultas sua entidade “adivinhe” os casos dos consulentes ou profetize sobre o futuro dos
irmãos necessitados. A maior parte deles precisa mais falar que ouvir e você deve ter certeza de que
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seu mentor sabe quando falar e o que falar. Se você interferir, por insegurança, poderá prejudicar a
fala, prejudicar o consulente e a você mesmo com informações erradas.
Não existe a necessidade de se ter atabaques para incorporar, pois sabemos que muitos médiuns só
incorporam com atabaques. O uso de atabaques em rituais onde há incorporação gera, na maior parte
dos casos, aquilo que é chamado de animismo, ou seja, manifestação estereotipada das entidades, tais
como Caboclos que mancam, ou que imitam a estátua de São Sebastião, que é flechado em uma
perna.
Nossos mentores ainda permitem que os atabaques sejam utilizados para que os médiuns da casa não
saiam contrariados, pois muitos necessitam do ritmo para colocarem vários sentimentos para fora, tais
como angústias, aflições e mesmo frustrações. Os Caboclos esperam sempre e com paciência a
mudança de consciência de seus filhos e nunca obrigam, ou agridem o nível de entendimento de
qualquer um.
É a fase em que o corpo astral do médium cede parcialmente a direção de sua máquina física a uma
Entidade afim. Como comparação, é a situação em que o chofer cede seu lugar, mas, como que
“receoso”, conserva a mão esquerda na direção, como que para impedir, em tempo útil, qualquer
falha, mas obedecendo aos movimentos que o outro executa no volante. Fica “semidirigido”. Apenas o
subconsciente sabe, mais ou menos, o que se passa, mas não tem força direta para interferir na
transmissão da Entidade, e em geral, depois do transe, ou conserva uma lembrança confusa do
ocorrido, ou nem mesmo isso.
Estes fatos acontecem quando uma pessoa tem REALMENTE o Dom, na mecânica de incorporação.
Não devemos confundir essas duas variantes com a irradiação intuitiva, que transformaram, por
ignorância, conveniência ou mesmo por sugestão, em puro animismo, quando alimentam criaturas
inexperientes nessas lides com o ilusório título de “médium consciente”.
Vejamos então, para melhor compreender nossa dissertação, por onde atua um Orixá, Guia ou
Protetor, um aparelho de incorporação.
2. NA PARTE SENSORIAL, quando, por intermédio do corpo astral, atua diretamente no cérebro para
coordenar o psiquismo7.
3. NA PARTE MOTORA, quando domina o corpo pelos braços, pernas e demais movimentos de
quaisquer órgãos dos quais quer servir-se.
Na semi-inconsciência positiva, o médium quase não tem domínio de seus movimentos e seus sentidos
são rebaixados, mas não passivos. Seu psiquismo está num sono leve, mas variando de 10 % a 90 %.
Quanto mais experiente for o médium, mais rápido se desliga, podendo estar até com 30 % de
consciência, mas seu complexo mental é frenado, não pensa. É como se suas mentes temporariamente
deixassem de trabalhar. Assim, tudo que lhes sai da boca é palavra da entidade incorporante, que lhes
influencia a fonação completamente.
Faz-se necessário frisar que a mediunidade, como já disse, não é condição inerente a todos os seres e
precisa ser constantemente trabalhada. A mediunidade nunca é perfeita – sempre há o que melhorar.
Portanto, os desenvolvimentos mediúnicos, quando dirigidos por pessoas honestas e capazes, são
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Psiquismo - Conjunto de fenômenos psíquicos
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muito importantes para evolução do médium. Mas só isso não basta: há também a já citada dupla
condição, que tem como um de seus pilares a moral espiritual. Essa não deve ser comparada às
futilidades da moral imposta pela sociedade, mas sim uma moral calcada nos nobres preceitos divinos.
Mediunidade está intimamente associada a uma palavra: AFINIDADE. Se o médium tiver uma conduta
muito desleixada, fútil, se prendendo demais a valores materiais, esquecendo-se dos reais e
verdadeiros objetivos da mediunidade, que são a caridade e o desenvolvimento espiritual, se afinará
apenas com espíritos de baixo calão vibratório, os que são altamente prejudiciais ao complexo
astrofísico do médium, além de atrapalharem de forma incisiva seus passos rumo à evolução.
Alguns médiuns se decepcionam em seu desenvolvimento, por acreditarem que em algum momento
sua entidade vai deixá-los totalmente inconscientes, mas essa não é uma condição a ser buscada.
É preciso entender que os médiuns afins à fase inconsciente são médiuns com um karma duríssimo,
que precisam ser pegos “à força” pelas entidades. Já os semi-inconscientes são aqueles que, de alguma
forma, já têm um certo mérito e maiores condições, além de serem menos logrados por entidades que
queiram se fazer passar por um Preto-Velho, Caboclo ou Exu.
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CAPÍTULO 9
MECÂNICA DE INCORPORAÇÃO
As entidades da vibração de Oxalá atuam no corpo
astral do médium nas regiões dos chakras coronal e
frontal, agindo intensamente nas regiões cefálica,
cervical e cardíaca. Essa atuação produz certas
alterações de fisionomia (suaves e belas). A ligação
dessas entidades com o médium começa pelo alto da
cabeça, por onde desce uma sensação de friagem do
pescoço aos ombros, espalhando-se pelo tórax e
acelerando a respiração e os batimentos cardíacos.
Daí, desce até o plexo solar, onde se liga a todo o
sistema nervoso do médium.
Ao incorporarem, emitem um poderoso mantra, que
se ouve como YURA... PAA ou YESHUÁ. Os mantras
que as entidades emitem não devem ser confundidos
com certos gritos ou distorções anímicas que muitos
médiuns ainda acreditam ser a real manifestação das
entidades. Os mantras têm a função de realizar a
mistura fluídico-vibratória entre entidade e médium,
numa complexa alquimia.
Convém lembrar que além dos chakras usados pela
própria linha, há também a utilização dos chakras
relativos às intermediações. Por exemplo, uma
entidade da falange do Caboclo Guaracy utilizará o
chakra coronal e do plexo solar, devido à
intermediação para Ogum.
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CAPÍTULO 10
SINCRETISMO E GRAUS DE ENTENDIMENTO
“Assim como há inúmeros graus de entendimento, para cada um deles existe um culto que mais lhes
fala a alma.”
Caboclo Sete Espadas
Grau consciencial é o grau que temos de conhecimento de nós mesmos seres espirituais, onde
estamos mais próximos, ou distantes de Deus (ou melhor, Orixalá).
Não devemos nos considerar superiores a quem quer que seja por ter maior ou menor conhecimento
de determinadas leis, ou mesmo por sermos mais inteligentes. Os espíritos evoluem conforme o grau
de entendimento e conhecimento de seu momento de existência. Assim, poderemos continuar a longa
caminhada fazendo o bem para o próximo e para nós mesmos, obtendo nossa evolução humana e
espiritual.
A Umbanda ensina a não criticar e não julgar, porque invariavelmente tomamos a nós mesmos como
parâmetro de comparação – e quem disse que somos donos da verdade? Amai-vos uns aos outros...
É respeitando o grau consciencial de todos que a Umbanda acolhe em seu seio os mais variados rituais,
esperando que gradativamente todos possam nos unir em torno de Orixalá, em sintonia com nossos
mentores. O Caboclo Sete Espadas falou: “Assim como há numerosíssimos graus de entendimento ou
alcance espiritual em nossos milhares de terreiros, há também para cada um deles, um culto ou ritual
que mais lhe fale à alma”.
Infelizmente existe uma má interpretação entre os umbandistas quando se tenta medir o poder da
mediunidade de alguém pelo número de entidades que certa pessoa recebe. É claro que a força da
mediunidade não está nisso e é muito melhor incorporar bem uma única entidade que possa trabalhar
com firmeza que incorporar vinte e não dar uma consulta certa.
Tudo isto é a ganância do ser humano mesquinho, que não pode enxergar suas próprias atitudes, da
nossa incapacidade de pensar além do nosso pequeno mundo individual e compreender as leis de
amor do Pai Celeste. A Umbanda é a própria luz divina clareando os caminhos da evolução. Ela é
chamada de Senhora da Luz Velada porque encobre a verdade total através dos véus de todos esses
processos mencionados, que chamamos de sincretismo. A jornada é longa, mas todos têm
possibilidades infinitas. A esperança é um sentimento justo e conduzirá através da união dos povos à
felicidade de uma existência sem guerras, sem preconceitos, irmanados que estaremos em espíritos,
coração, alma e verdade...
Como mencionando anteriormente, um conhecimento pode ser apresentado em três diferentes níveis:
o positivo, o relativo e o superlativo. No entanto, nossa evolução como seres espirituais se processa
de forma muito lenta, como se fosse uma grande escadaria e cada lance de degraus representasse
esses três diferentes níveis. Cada degrau dessa grande escadaria seria o Grau de Consciência
momentâneo em que cada ser espiritual está. O que é certo para quem esteja no primeiro degrau
dessa evolução pode não ser certo para quem esteja no segundo ou terceiro degrau. Cada ser
espiritual age de acordo com seu degrau, ou seu grau de consciência, e a Umbanda respeita todos
estes graus. Contudo, ela não quer que os seres espirituais fiquem parados, em inércia, estacionados. A
evolução pode ser lenta, mas deve ser constante.
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Enquanto uns se harmonizam com os sons dos atabaques, outros melhor se harmonizam com a letra e
melodia dos pontos cantados. Enquanto uns focalizam imagens para entrarem em contato com as
Entidades, outros focalizam sinais da grafia dos orixás.
Todo conceito ou verdade pode ser abordado de forma externa (sincrética) ou interna, oculta
(esotérica).
Na realidade, a verdade pode ser expressa em três níveis diferentes (e em seus subníveis, se assim for
necessário):
1) Primeiro Nível: Positivo ou Androgônico
Aborda o conhecimento de forma mais objetiva, simbólica, através de mitos, de forma sincrética.
Utiliza-se de uma linguagem mais próxima do homem;
7º Grau Superlativo
3º Nível 6º Grau ou Princípios Esotérico
5º Grau Teogônico (essência)
2º Nível 4º Grau Relativo ou Leis
Cosmogônico (causas)
3º Grau Positivo Fenômenos Exotérico
1º Nível 2º Grau ou (efeitos) (sincretismo)
1º Grau Androgônico
Tendo em vista que a grande maioria dos seres espirituais se encontra no primeiro nível e uma
pequena minoria no segundo, basicamente, o conhecimento é transmitido atualmente em seus
aspectos positivo e relativo, ou seja, nos aspectos exotéricos e esotéricos.
O conhecimento transmitido dentro do 1º nível, o positivo, pode ou não ser expresso através do
Sincretismo, que visa simplesmente a tornar mais acessível o entendimento pelas grandes massas. Na
primeira fase do Movimento Umbandista (Fase de Ogum), o objetivo é chamar o maior número de
pessoas dentro do menor espaço de tempo. São os clarins de Ogum soando aos quatro cantos do
mundo, e dessa forma, nada melhor do que ter os mais variados tipos de rituais que permitam abarcar
a maior quantidade de seres espirituais.
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Nesta fase de chamamento, a função do Sincretismo é muito importante, visando a tornar as verdades
acessíveis, mesmo que ainda apresentadas em pequenos fragmentos. É o início da descoberta.
E o que vem a ser Sincretismo? Segundo o dicionário Aurélio, sincretismo é uma “reunião artificial de
ideias ou de teses de origens disparatadas; visão de conjunto, confusa, de uma totalidade completa;
amálgama de doutrinas ou concepções heterogêneas”.
Várias abordagens do Sincretismo são explicadas através do Mito, definido no mesmo dicionário como
a “representação de fatos ou personagens reais, exagerada pela imaginação, pela tradição; exposição
de uma doutrina ou de uma ideia sob forma imaginativa em que a fantasia sugere e simboliza a
verdade que deve ser transmitida”.
No conceito de Mito acima, fica claro que existe uma verdade a ser transmitida e esta verdade pode
ser velada, oculta ou simbolizada, ou ainda representada de forma imaginativa.
Por exemplo, a história de Adão e Eva pode ser “contada” em aspectos diferentes:
• Aspecto Relativo: Considerando que Adão (ADAM) significa o Princípio Espiritual e Eva, o Princípio
Natural, podemos deduzir que o princípio espiritual interpenetrou a Natureza, gerando a forma
através da energia-massa.
Podemos ainda dizer que o Princípio Espiritual (Adão), o espírito puro, desceu (“caiu”) do Reino
Virginal, interpenetrando o Universo Astral (Eva) ou Reino Natural e dinamizando a energia, assim
concretizando e expressando suas afinidades virginais na matéria, ou seja, na forma.
Às vezes, o sincretismo também busca velar uma verdade de forma a resguardar a verdade e o
conhecimento. O momento histórico deve ser entendido para que os véus sejam superados e
cheguemos perto da verdade em essência. Podemos ilustrar esta função do sincretismo através do
nome dado a Terra Sagrada onde se iniciou a fragmentação do Aumbandam e onde toda a tradição
será resgatada.
O nome Brasil visa resguardar o termo BARATZIL, no qual BARA significa corpo, terra e TZIL significa
luz.
BARATZIL então pode ser “traduzido” como Terra da Luz ou Terra da Santa Cruz (o primeiro nome dado
a esta “nova terra” foi Ilha de Vera Cruz). Visando proteger a Terra da Luz contra as atrocidades
comedidas durante a Inquisição, o termo Brasil foi impulsionado pelo Astral Superior como decorrência
da abundância de madeira pau-brasil presente nestas terras. Contudo, esse termo se propunha a velar
e resguardar o BARATZIL.
Outro relato da importância do sincretismo no resgate do Aumbandam foi a utilização das imagens de
santos católicos nos cultos africanos na época da escravatura. Naquela época, os europeus, católicos,
não permitiam aos escravos africanos as práticas de cultos religiosos, temerosos de que essas práticas
desconhecidas pudessem uni-los. Os europeus permitiam apenas a devoção aos santos católicos, e
como os negros cultuavam os seus orixás representados em pedras (Otá), muitas imagens de santos
católicos em madeira foram esculpidas ocas. Dentro destas imagens, os negros colocavam as pedras
sagradas e dessa forma cultuavam seus Orixás, enquanto os escravagistas imaginavam que estavam
sendo cultuados os santos da Igreja Católica.
Sincretismo é uma palavra originada do grego e, no contexto da Umbanda, significa sistema que
consiste em conciliar os princípios de várias doutrinas filosóficas, correspondência de santos católicos
com os orixás africanos. Ele surgiu como única maneira de os africanos escaparem dos castigos e
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perseguições dos seus senhores e de religiosos que tentavam difundir o catolicismo, impondo a crença
com suas representações católicas.
A função do Sincretismo Religioso é muito importante, por se tratar de uma adaptação importante,
capaz de tornar o culto possível àqueles que ainda necessitam da forma para chegar à essência, devida
a uma incapacidade momentânea de abstração.
No entanto, no devido momento, as consciências desenvolverão suas capacidades de abstração e, pela
lógica e bom senso, entenderão que os santos católicos não podem dirigir as linhas de Umbanda, pois
conforme Matta e Silva explica, as sete linhas não poderiam ter sido “criadas” em cerca de 400 anos,
pois os santos dirigentes das sete linhas encarnaram em diferentes fases da trajetória humana:
Será que não poderíamos afirmar que, enquanto “presos” ao Reino Natural, nossa evolução será
baseada no Sincretismo, independente do grau de entendimento?
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CAPÍTULO 11
RITUAL E DISCIPLINA
Encontraremos nos rituais de inúmeras religiões um sentido comum: o de invocar as divindades e
potências celestes, ou melhor, as forças espirituais. O objetivo é o mesmo: preparação dessas forças e
concepção da corrente religiosa que a pratica. É certo que, em qualquer ritual, dos mais bárbaros aos
mais espiritualizados, encontraremos sempre impulsionando sua tendência, os atos e as práticas que
devem predispor o indivíduo a se harmonizar para realizar invocações. Procura-se por uma relação
mental com deuses divindades, forças, entidades, etc., e em quase todos os rituais, os fenômenos
espirituais acontecem pela mediunidade dos mediadores existentes em qualquer corrente, seja
religiosa ou não. Esses fenômenos são reconhecidos desde as mais remotas épocas, e eram como são
atualmente: invocados e praticados de acordo com certos conhecimentos, regras, controles de
sistemas, ritos e etc.
No entanto, pouquíssimos sabem que os fenômenos espirituais são regidos por uma lei básica que
mantém o que chamamos (e que na verdade sempre se chamou) de Umbanda, desde a mais alta
Antiguidade. Certas modalidades de comunicações, sistemas e práticas são limitadas a certos
agrupamentos de espíritos de acordo com seus graus, possibilidade e consequentes conhecimentos,
sendo tudo coordenado por espíritos superiores, conhecidos em determinadas escolas como “os
senhores do karma”, executores desta lei e invocados pelo sacerdote e iniciados.
São estes mesmos que estão situados na grande lei de Umbanda como os Orixás: são os senhores na
luz, de acordo com a própria Lei do Verbo. Assim, devemos ter em conta que não é dentro de ritos
bárbaros e esdrúxulos8, sem base ou fundamento que se prepara ou leva o psiquismo9 de um aparelho
para obter-se o equilíbrio de seu corpo astral, de modo a harmonizar suas faculdades mediúnicas com
vibrações superiores das entidades que militam na Lei de Umbanda.
É importante que nós médiuns tenhamos como principal regra moral a abstenção10 de crítica violenta.
A percepção de certo ou errado é inerente a quem julga e, pelo que sabemos, nenhum de nós, seres
humanos, está na condição de senhor da Lei. Na verdade, a Umbanda tem princípios básicos que
devem ser seguidos por todos, através de gradativa assimilação.
11.2. Modelo de instruções gerais e conduta moral espiritual e física dos médiuns iniciandos e
iniciados da Corrente Astral de Umbanda
1. Manter, dentro e fora do templo, isto é, na sua vida espiritual ou religiosa particular, conduta
irrepreensível11 de modo a não suscitar críticas, pois qualquer deslize neste sentido irá refletir no
templo, na Umbanda e mesmo no espiritismo, de modo geral.
8
Esdrúxulo - Exótico, incomum, extravagante
9
Psiquismo - Conjunto de fenômenos psíquicos (ligados à alma, à mente e à moral)
10
Abster - Evitar, deixar de intervir, ser sóbrio ou moderado
11
Irrepreensível – Perfeito, impecável, que não merece críticas
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2. Procurar instruir-se nos assuntos espirituais elevados, lendo o Evangelho do Cristo Jesus e outros
livros indicados pela direção Espiritual do Templo, bem como assistindo palestras nesse sentido.
4. Não alimentar vibrações de ódio, como rancor, inveja, ciúmes ou qualquer sentimento ou
pensamento reconhecidamente negativo.
5. Não falar mal nem julgar a alguém, pois não se pode chegar às causas pelo aspecto grosseiro dos
efeitos.
6. Não julgar que seu protetor “é o mais forte, o mais sabido”, muito mais “tudo” que o seu irmão,
médium também.
7. Não tentar impor seus dons mediúnicos, contando, com insistência, os “feitos” de seu guia ou
protetor. Lembre-se de que tudo isso pode ser problemático e transitório12 e não esqueça de que você
pode ser testado por alguém e toda essa conversa vaidosa ruir fragorosamente13.
8. Dê paz a seu protetor no astral, deixando de falar tanto no seu nome, isto é, vibrando
constantemente nele. Assim, você está se fanatizando e “aborrecendo” a entidade. Fique certo que, se
o seu protetor tiver “ordens e direitos de trabalho” sobre você, poderá até discipliná-lo, cassando-lhe
as ligações mediúnicas e mesmo infligindo14-lhe castigos materiais, orgânicos, financeiros, etc. –
principalmente se você for desses que, além de tudo isso, ainda comete erros em nome de sua
entidade protetora.
9. Quando for para a sua “Gira”, não vá aborrecido e quando lá chegar, não procure conversas fúteis.
Recolha-se a seus pensamentos de paz, fé e caridade pura para com o próximo.
10. Lembre-se sempre de que sendo você um médium considerado “pronto” ou desenvolvido, é de sua
conveniência tomar banhos de descarga ou propiciatórios15 determinados pela direção espiritual do
templo. Se for médium em desenvolvimento, procure saber quais os banhos e defumadores mais
indicados, o que será dado pela direção espiritual do templo.
11. Não use guias ou colares de qualquer natureza sem ordem comprovada de sua entidade protetora
responsável direta e testada no templo, ou então, somente por indicação do médium-chefe, se for
pessoa reconhecidamente capacitada.
12. Não se preocupe em saber o nome de seu guia ou protetor antes que ele julgue necessário e por
seu próprio intermédio. Também é conveniente não tentar reproduzir, de maneira alguma, qualquer
“ponto riscado” que o tenha impressionado, dessa ou daquela forma.
13. Não mantenha convivência com pessoas más, viciosas, maldizentes16, etc. Isso é importante para
o equilíbrio de sua aura e dos seus próprios pensamentos. Tolerar a ignorância não é compartilhar
dela.
14. Acostume-se a fazer todo o bem que puder, sem visar a recompensas.
12
Transitório – temporário, passageiro
13
Fragorosamente – de forma ruidosa, estrondosa
14
Infligir – aplicar pena ou castigo
15
Propiciatório - que torna propício, favorável
16
Maldizente - Difamador, falador da vida alheia
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15. Tenha ânimo forte através de qualquer prova ou sofrimento. Aprenda a confiar e esperar.
16. Aprenda a fazer o reconhecimento diário, pelo menos de meia hora, a fim de meditar sobre suas
ações e outras coisas importantes de sua vida.
17. Não confie a qualquer um os seus problemas ou “segredos”. Escolha a pessoa indicada para isso.
18. Não tema a ninguém, pois o medo é a prova de que está em débito com sua consciência.
19. Lembre-se sempre de que todos nós erramos, pois o erro é da condição humana e, portanto,
ligado à dor e a sofrimentos vários. Sem dor, sofrimento, lições e experiências não há karma, não há
humanização nem polimento íntimo. O importante é que não se erre mais, ou não cometer os mesmos
erros. Passe uma esponja no passado, erga a cabeça e procure a senda da reabilitação (caso julgue
culpado de alguma coisa). Para isso, “mate” sua vaidade e não se importe, em absoluto, com o que os
outros disserem de você. Faça de tudo para ser tolerante e compreensivo, pois assim só boas coisas
poderão ser ditas de você.
20. Zele por sua saúde física, com uma alimentação racional e equilibrada.
22. Nos dias de “gira”, regule a sua alimentação e faça tudo para se encaminhar aos trabalhos
espirituais limpo de corpo e espírito.
23. Não se esqueça, em hipótese17 alguma, de que não se devem ter relações ou contatos carnais na
véspera e no dia da “gira” (24 h antes dos trabalhos espirituais).
24. Tenha sempre em mente que para qualquer pessoa, especialmente o médium, os bons espíritos
somente assistem com precisão18, se verificarem uma boa dose de humildade ou simplicidade no
coração. A vaidade, o orgulho e o egoísmo cavam o tumulo do médium.
25. Aprenda lentamente a orar confiando em Jesus – o Regente do Planeta Terra. Cumpra as ordens
ou conselhos de seu guia ou protetor. Ele é seu grande talvez único “amigo de fato” e quer somente a
sua felicidade.
26. Finalmente: se você é um irmão que está na condição de médium-chefe, com toda a
responsabilidade espiritual no terreiro em suas mãos, convém que se “guarde” rigorosamente contra a
vampirização daqueles que só procuram o terreiro e a sua entidade protetora para fins de ordem
material, com casos e mais casos, sempre no plano pessoal. Convém que se guarde, para seu próprio
equilíbrio e segurança, contra esses aspectos que envolvem sempre ângulos escuros relacionados com
o baixo astral, isso não é próprio das coisas que se entendem como “caridade”. Isso é vampirização,
sugação de gente viciada, interesseira que “pensa” ser a Umbanda uma “agência comercial”, e o seu
terreiro, o balcão onde pretendem servir-se através de seu guia ou protetor. Enfim, não permita que o
“baixo astral” alimente as correntes mentais e espirituais de seu templo, pois se isso acontecer, você
dificilmente se livrará dele e será seu “escravo”.
11.3. Modelo de disciplina interna para os médiuns de uma tenda da corrente astral de Umbanda
17
Hipótese - Suposição, possibilidade
18
Precisão - exatidão
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1. Todos os médiuns desta tenda ficam obrigados a comparecer a sessões 20 minutos antes do horário
estabelecido para os trabalhos (geralmente 20h ou 20h30).
2. Ao chegarem à tenda, é obrigação dos médiuns dirigir-se logo ao vestiário para não tomar contato
com outras coisas ou influências reinantes no momento. Qualquer assunto de ordem pessoal e
administrativa do médium ficará para depois da sessão.
3. Os médiuns não poderão fazer uso do vestiário para discussões ou comentários diversos, tampouco
utilizá-lo para fumar e etc.
5. Em dias de sessão, os médiuns devem se abster de uso de qualquer bebida alcoólica, pois se
comparecerem sob qualquer efeito negativo resultante disso estão sujeitos a exclusão da corrente e
até da tenda.
7. Fica terminantemente proibido aos médiuns femininos, em dias de sessão ou trabalho de caridade,
desenvolvimento, etc., comparecerem com pinturas no rosto, dedos e etc. Se eventualmente assim
acontecer, devem retirar toda a pintura antes da sessão.
8. Os médiuns femininos não devem comparecer ou participar dos trabalhos espirituais mediúnicos no
período de sua fase mensal.
10. O médium que tiver diferenças com seus pares, com a direção da casa, ou com o médium-chefe
poderá dirigir a queixa ou pedido de esclarecimento ao presidente ou ao diretor espiritual da tenda; de
acordo com o caso, para as entidades responsáveis por aquela coletividade.
11. Todo médium q falta a três sessões consecutivas sem justificação será afastado da corrente
mediúnica. Na reincidência, esse afastamento poderá gerar até mesmo a exclusão.
12. O médium que se tornar motivo de escândalo, provocar intrigas e promover atritos e desunião
entre irmãos será sumariamente19 desligado da corrente mediúnica e do quadro social da tenda.
13. O uniforme da tenda é exclusivamente o branco. Se eventualmente forem criados outros, todos
deverão seguir o mesmo modelo adotado.
19
Sumariamente – resumidamente, simplesmente
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15. O médium deve se inteirar sobre os banhos e defumadores apropriados a sua natureza mediúnica e
usá-los com regularidade, principalmente nos dias de sessão.
Pense da seguinte forma: nós estamos na condição humana da realidade, onde tudo é formado pela
manifestação física, palpável. O que nos “separa” do mundo astral é como um tecido. Esse tecido varia
de espessura conforme sua localização. Em locais com muita construção, movimentação, muitos
escritórios, casas, etc. esse tecido é mais denso, mais grosso. Já em locais tidos como Santuários o
tecido é bem mais fino, obviamente devido à constante prática da espiritualidade.
Nos terreiros de Umbanda, a prática da Espiritualidade só é possível graças ao Congá! Só com essas
informações, somos capazes de deduzir o motivo do ritual de bater cabeça no Congá. Mas vamos ser
mais específicos...
Bater cabeça é um ato de respeito e obediência aos orixás. Significa que nossa cabeça está se
subordinando humildemente ao poder dos Orixás e aos fundamentos da Umbanda, ou simplesmente
demonstrando obediência pautada em uma fé raciocinada e sincera. Trata-se de uma reverência para
representar entrega total em respeito às firmezas dos Orixás e das Entidades presentes. Além disso, ao
bater cabeça, estamos nos apresentando como instrumentos e como um canal de comunicação entre
os planos Astral e físico. Nessa ação apresentamos nossas virtudes e fraquezas e, por este motivo,
durante esse ritual devemos estar prontos para receber as energias concentradas no Congá e sempre
pedir proteção, sutilização de nossos corpos atrais para as tarefas que serão executadas, renovação de
nossas forças e que com isso possamos sempre conduzir dentro e fora dos trabalhos o amor e a justiça
de nossos atos.
Durante o ritual de bater cabeça, o médium se entrega à Divindade, se entrega ao Outro, tanto o corpo
quanto a alma, e se coloca a serviço do Astral para que Eles, dentro de suas permissões q outorgas,
façam uso de nosso corpo e espírito como melhor lhes convier. O médium deixa a condição de
indivíduo, pois não está batendo cabeça e se apresentando apenas por ele mesmo, mas por toda a
comunidade que necessita dele.
Portanto, muito respeito em nossas palavras, pedidos, pensamentos e ações são necessárias. No
terreiro, o tecido é fino, é onde as Entidades trabalham e se entregam por nós, é onde nós nos
entregamos para Eles. E tudo isso só é possível com o “agô” dos Orixás. Afinal, como diz o ponto
cantado: “Com licença meu Pai, no Seu terreiro nós entrar. Suas bênçãos meu Pai, no seu terreiro
Saravar”.
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CAPÍTULO 12
A ROUPA DE SANTÉ
Na sociedade moderna, as vestimentas não servem apenas para cobrir ou proteger o corpo: elas
representam todo um contexto social. Há a roupa de festa, roupa para dormir, para trabalhar etc. Nas
práticas de Umbanda, também há uma roupa especial, que representa um conjunto de fatores àqueles
que a veste.
De modo geral, as vestes dos médiuns de Umbanda são brancas, pois essa cor traz diversos
significados: o branco da pureza, da limpeza, da igualdade, da transparência, etc. Para que essas
razões fiquem claras, é fundamental que a roupa de todos os médiuns seja confeccionada com o
mesmo tecido, a fim de evitar diferenciações e até mesmo ostentações dentro da corrente.
A roupa deve ser a mesma para homens e mulheres, sendo as túnicas femininas um pouco mais
compridas com o objetivo de serem mais discretas. As peças não devem ser extravagantes nem
apertadas, por motivos óbvios – sempre que possível, devemos evitar nos consulentes e entre os
médiuns os pensamentos e sentimentos sexualizados, sendo esses altamente prejudiciais aos objetivos
dos trabalhos.
A visualização do corpo mediúnico harmônico, em silêncio, todos com roupas brancas e iguais, é fator
importante que acalma os consulentes, que voltam suas atenções para o ritual e não para médiuns
individuais. Aprofundando o que foi dito anteriormente, a roupa branca igual para homens e mulheres
incentiva a igualdade e a humildade. O contrário nos aguça a vaidade e o ego, ao passo que se todos se
vestem igualmente, pelo menos dentro do recinto, todos se sentem iguais. Também não se deve fazer
uso de adornos no corpo (joias, relógios, brincos, etc.), e nem de esmaltes de cores fortes e vibrantes,
no caso das mulheres, pelos motivos já expostos.
Também não se devem usar perfumes, e sim, sua essência pessoal ou de alfazema, que é tida como
essência universal por poder ser utilizada por pessoas de qualquer vibração.
A Roupa de Santé é algo pessoal e não pode ser emprestada de um irmão para outro. As roupas de um
umbandista, quando em atividade dentro de um terreiro, devem ser brancas e muito limpas. Por ser
uma vestimenta sagrada, deve ser usada única e exclusivamente dentro do terreiro, não devendo o
médium vir vestido com ela de casa, pois a mesma viria se contaminando no trajeto das ruas até o
templo, além de colher as vibrações das ruas e pessoas, o que não é devido e nem necessário. O
contrário também é verdadeiro: não se deve retornar para casa com a roupa de Santé. As roupas
devem acompanhar as vibrações do terreiro para que os trabalhos sigam em harmonia.
As roupas para ir até o templo dever ser, preferencialmente, limpas e claras para que se mantenham
as vibrações positivas conseguidas com os banhos preparatórios. Os cuidados com a roupa de Santé
devem ser especiais, devendo o médium lavá-las separadamente e ao término, enxaguá-las com
algumas gotas de sua essência pessoal. Depois de bem passadas, guardá-las dentro de um saco
plástico, podendo-se colocar pequeno chumaço de algodão embebido com a mesma essência para que
se mantenha a boa vibração e a harmonia.
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Em alguns terreiros costuma-se usar um par de tênis brancos como parte da vestimenta, mas
aconselha-se que não sejam usados durante os trabalhos. Em virtude das energias que são
manipuladas durante o ritual, é preciso que se esteja descalço, pois se nossas mãos captam energias,
nossos pés as devolvem para o solo. Se esses polos que nos ligam a terra estiverem impedidos, muitas
cargas negativas começam a sobrecarregar nosso corpo, o que pode inclusive trazer uma série de
doenças para a corrente mediúnica.
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CAPÍTULO 13
GUIAS, TALISMÃS, SÍMBOLOS E A CRUZ TRIANGULADA
Com alguma vivência no “mundo da Umbanda”, pude ver a transição em alguns templos, inclusive
neste que hoje estou. A descoberta é constante, como o Caboclo Aracutinga por diversas vezes
colocou: “olhe à sua volta e observe: tudo é movimento e cada ciclo deste que se finda certamente com
ele aprendemos, reciclamos e renovamos. Renovamos sim, pois o que vivenciamos ontem, hoje não
será igual, já terá transmutado”. A transformação é observada nas vestimentas que hoje são mais sutis
e unificadas, tendo apenas, por necessidades evolutivas e/ou conscienciais, as pembas (símbolos
fluídicos da vibração do indivíduo) bordadas.
As imagens nos Congás já foram abolidas em muitos templos, assim como os tambores não são tão
frequentes. Muitas tendas ainda conservam grandiosas vestimentas, imagens, várias guias coloridas,
cada cor simbolizando o seu orixá/orixás. Quando olhamos tudo isso, vem a pergunta: isso é
necessário? E então observamos a coletividade que ali frequenta e percebemos que sim – são
necessidades e afinidades dos indivíduos daquela coletividade para alcançar a Deus-Uno, e é assim que
os Caboclos, Pais Velhos, Crianças e Exus encontram o caminho para abarcar estas consciências para a
evolução, cada uma a seu tempo.
A Cruz Triangulada
A parte do colar é constituída por 70 Lágrimas de Nossa Senhora, fechando com uma no pé,
prendendo-se à Cruz imantada no triângulo. Esse colar também pode ser de pedras de águas-marinhas,
sendo ligadas por ganchos de cobre, e o colar sendo preso ao talismã propriamente dito.
Esse talismã é composto de uma cruz e um triângulo com vértice para baixo, sobre o qual deve-se
mandar gravar os caracteres cabalísticos, pois sem isso, essa guia talismânica deixa de ser consagrada
pela Cúpula da Corrente Astral de Umbanda. A Cruz no triângulo deve ser feita de uma liga metálica
que tenha cobre (esse elemento é imprescindível na composição desse talismã) e os caracteres a
serem gravados são ordenações identificadoras da Cúpula Espiritual da Corrente Astral de Umbanda,
abonadoras dessa filiação, dessa cobertura, dessa proteção.
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Medidas da cruz:
Haste vertical – 7 cm
Haste horizontal – 5 cm.
Medidas com triângulo: 5 cm de cada linha ou de vértice a vértice. O triângulo deve ser colado ou
encaixado na cruz.
A cruz triangulada é formada por uma Cruz (4 – princípio material) e por um triângulo (3 – princípio
espiritual). A soma reproduz o 7, o setenário. As medidas da cruz são de 7 cm / 5 cm, que somadas dão
12 cm. A quantidade de pedras é de 70, que reduzido, retorna ao setenário.
O 5 é manifesto nos cinco sinais da base do triângulo. Sabemos também que 5 são os Tattwas. Cinco
são as vogais dos Espíritos que, segundo o combinado astral, apresentam se como “Caboclos”.
Portanto, na base do Triângulo temos 5 sinais que associam-se aos “Caboclos”, as Forças Sutis.
Os 2 pontos são fixadores inerciais, e como aparecem nos 4 cantos, associam-se ao 4 x 3 = 12 – que são
as triplicidades movimentando os elementos.
Outras ordens filorreligiosas e quase todo o ocultismo usam o triângulo em seus brasões mágicos ou
simbólicos com o vértice para cima, significando a ascensão ou a volta do ser espiritual à sua fonte de
origem, isto é, no sentido vibratório da projeção de forças de ir ao encontro dos planos superiores.
Isso está correto até certo ponto. Com o vértice para baixo, dizem significar a descida do espírito ao
mundo astral e físico... Portanto, é essa a condição em que nos encontramos há milênios.
Assim sendo e, como somos eternos pedintes, necessitados de proteção, cobertura etc., raríssimos são
aqueles que podem projetar forças para cima, conectados como estamos às mazelas do plano terreno.
Então a Corrente Astral de Umbanda tem o seu Signo Cosmogônico Universal, definido com o vértice
para baixo e assim traduz e vibra como força e corrente de cobertura, apoio, proteção, de cima para
baixo, ou sobre nós. Por isso, ei-lo imantado na cruz.
As guias têm várias finalidades: servem como “arma de defesa” para médiuns que entram em contato
com diferentes modalidades de negativos, para a Entidade que se serve delas para trabalhos de fixação
e eliminação na Magia apropriada pela qual foi preparada e, ainda, de acordo com os fluidos
magnéticos e radioativos com os quais foram vibradas.
Existem dois tipos colares ritualísticos. O primeiro se refere aos “NATURAIS", compostos por elementos
da natureza (minerais, vegetais e animais) tais como cristais de rocha, lágrimas de Nossa Senhora,
capacete de Ogum, conchas do mar, etc. Eles sempre são confeccionados com material condutor,
como fios de cobre, alpaca ou mesmo algodão, e nunca com fios de nylon (salvo exceções). Lembramos
que não confeccionamos esses colares com cristais por vaidade, mas sim porque as pedras naturais
concentram determinadas energias devido a sua estrutura molecular geométrica.
Os fios, contas e peças de plástico são estruturalmente amorfas, ou seja, sem nenhuma projeção ou
modulação energética... Por outro lado, o fio de cobre, por exemplo, é um condutor (ativo), e em
conjunto com cristais quantitativa e qualitativamente selecionados, formam o possante instrumento
radiônico que popularmente chamamos de guias.
Para potencializar ainda esses colares, podemos fazer um talismã utilizando certos clichês astrais que
acionam a movimentação das forças sutis que tanto almejamos... Esses talismãs podem ser feitos de
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diversas formas. Geometricamente, citamos: o pentagrama apontando para cima, que é o símbolo do
homem perfeito (estrela de cinco pontas), ou o hexagrama, que é um símbolo da espiritualidade
(estrela de seis pontas), ou a cruz, que simboliza a espiritualidade e, em outro aspecto, a união do
masculino e do feminino.
No entanto, deve existir sempre um cuidado redobrado quando se fala em magia, pois com magia
podemos tudo, mas tudo tem um preço que cedo ou tarde pagaremos – é a Lei. Enfim, esses colares
naturais são extremamente positivos e são utilizados principalmente com o intuito de nos escudarem
contra os ataques das energias negativas provenientes do baixo astral. Quanto aos colares compostos
de miçangas coloridas, estes se prendem mais ao caráter simbólico e aos aspectos sugestivos emitidos
pelas cores, não possuindo nenhum valor real de atração e reflexão de energias, atuando apenas como
muletas psicológicas (Filosofia Oculta).
Utilizadas como um colar, durante um trabalho espiritual (p/ ex. gira de caridade), pela entidade
incorporada, as guias servem como ponto de atração (imã) e identificação da vibração principal e/ou
falange em particular atuante naquele trabalho e, portanto, como elemento facilitador da sintonia e
isolamento (contra vibrações negativas ou estranhas ao trabalho), para o médium incorporado.
Alguns procedimentos devem sempre ser observados, no tocante ao uso e confecção das guias:
2. Deve-se observar que cada indivíduo e cada ambiente possuem um campo magnético e uma tônica
vibracional que são próprios e individuais (tanto positivo quanto negativo). A confecção ou
manipulação das guias por outras pessoas, ou ainda, seu uso, em ambientes ou situações negativas ou
discordantes com o trabalho espiritual, fatalmente causará uma "contaminação" ou interferência
vibracional.
3. Como elemento de atração e isolamento, funcionam como um tipo de "para-raios", atraindo para si
toda (ou quase toda) a carga negativa ou estranha ao médium, isolando-o até certo ponto. No entanto,
as guias irão permanecer "carregadas", até serem devidamente "limpas".
4. Excepcionalmente, podem ser utilizadas pelo médium, para "puxar" uma determinada vibração, de
forma a lhe proporcionar alivio em seus momentos de aflição. Nestes casos, 10 a 15 minutos de uso
são suficientes.
5. Em qualquer dos casos, a guia irá proporcionar uma interferência no campo magnético do médium.
Dependendo da situação ou circunstância, poderá até mesmo causar-lhe certo desconforto aparente
ou mal-estar, devido a um aceleramento de sua Faixa Vibratória.
7. Apenas em casos muito raros e excepcionais, podem ser utilizadas em outra pessoa, como forma a
favorecê-la com uma vibração positiva específica (notadamente em relação à saúde), observando-se,
contudo o cuidado de ao retirá-las, limpá-las adequadamente antes de serem reutilizadas pelo
médium.
8. Pelos motivos expostos, o uso de guias que pertenceram ou pertencem a outras pessoas é uma
prática normalmente desaconselhável a um médium.
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9. Como vimos, as guias são elementos ritualísticos muito sérios, e como tal devem ser respeitados e
cuidados. Seu uso deve se restringir ao trabalho espiritual, ao ambiente cerimonial (terreiro) e aos
momentos de extrema necessidade por parte do médium. Utilizar a guia em ambientes ou situações
dissonantes com o trabalho espiritual, ou por mera vaidade e exibicionismo, é no mínimo um
desrespeito para com a vibração que representam.
Em resumo: nós ainda temos que usar elementos naturais para tentarmos alcançar 1% (um por cento)
de nossa essência natural e podermos servir de condução/instrumento para aquilo que nos
propusermos a fazer e – por que não – precisamos também de um pouco de sincretismo e simbologia.
Isso é sinal de que temos muito a evoluir.
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CAPÍTULO 14
CACHIMBOS, CHARUTOS E CURIADORES
14.1. Cachimbos e charutos
Estes são elementos usados pelas nossas entidades na quase totalidade dos terreiros e muitos não
sabem a real utilização destes objetos, o que dá margem para que digam que nossos mentores são
viciados e que necessitam fumar. Por conta disso, são considerados entidades ignorantes e ainda
ligadas à Terra, falsa premissa que será desmistificada no decorrer deste capítulo.
Na verdade, a fumaça dos cachimbos e charutos funcionam como uma defumação mais direcionada,
destruindo determinadas cargas que estão mais agregadas ao consulente, através de uma magia
conhecida apenas por eles, as entidades. Lançando a fumaça sobre a aura (os plexos ou feridas) os
espíritos vão atuando em benefício daqueles que os procuram com fé, limpando a aura de larvas
astrais e energias negativas.
O segredo e a utilização desses elementos por parte de nossas entidades, o modo como a fumaça é
dirigida (magia) tem o seu eró (segredo) e não é como muitos utilizam, para alimentar a vaidade, o
vício e a ignorância. Nas mãos do homem comum, o charuto e o cachimbo podem ser até olhados
como vício, mas não quando demonstrados e usados pelas entidades da Umbanda. Ali a fumaça gerada
tem outros aplicativos e atende a outros objetivos que escapam à observação objetiva. Funcionam, na
verdade, como potentes defumadores, sendo muito comum vermos, num terreiro, uma entidade
luminosa descarregando um (a) consulente através de passes magnéticos e de sopros de fumaça.
A zona incandescente20 do charuto ou do cachimbo surge também como um ponto luminoso no Astral,
indicando o ponto exato em que a entidade está trabalhando. Essa brasa é também um ponto de
atração para as falanges auxiliares e um sinal de que aquele território não pode ser invadido por
espíritos zombeteiros.
Os charutos de fumo grosseiro e forte são peculiares à magia dos Exus, enquanto os charutos de fumo
de melhor qualidade são usados por Caboclos. Já os Pretos-Velhos dão preferência aos cachimbos, nos
quais usam diversos tipos de mistura de ervas, como o alecrim, a alfazema e outros, além de utilizarem
cigarros de palha, impregnando21 assim os elementos com a sua própria força espiritual,
transformando o tradicional pito em um eficiente desagregador de energias negativas. Desta maneira,
como o defumador, o charuto ou o cachimbo são instrumentos fundamentais na ação mágica dos
trabalhos umbandistas executados pelas entidades. A queima das folhas atua como um defumador
individual, próprio, dirigido ao objetivo das Entidades, que não trazem nenhum vício tabagista, como
dizem alguns, representando apenas um meio de descarrego, um bálsamo revitalizador e ativador dos
chakras dos consulentes. Vemos assim que, como ensinou um Pai Velho, "na fumaça está o segredo
dos trabalhos da Umbanda".
A Umbanda é muito criticada e achincalhada pelo fato de suas entidades usarem o fumo nas sessões.
Os aproveitadores continuam a dizer que as entidades são atrasadas ou primitivas (ainda hoje em
dia!). As entidades não só não tragam o fumo, como também conseguem por meios próprios de
conhecimentos, impedir sequelas em seus aparelhos.
20
Área mais ou menos delimitada, ou seja, que é aquecido até emitir luz e calor.
21
Introduzir por entre as moléculas de um corpo as do outro.
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14.2. Curiadores
Igualmente, os chamados curiadores, ou bebidas, possuem por trás de sua utilização movimentos sutis
dentro da magia branca, servindo como ativadores de movimentação da força de diversos elementos,
ou mesmo para repor em um aparelho mediúnico as energias que foram utilizadas por uma entidade
em algum trabalho.
É evidente que nenhum mentor vai fazer seu aparelho mediúnico” tomar todas” e ficar bêbado,
cometendo os maiores absurdos em nome da Umbanda. Frisamos ainda, que este aspecto é raríssimo
de ocorrer (a ingestão de bebidas alcoólicas), em virtude das distorções que muitos insistem em
atribuir às entidades de Umbanda, principalmente aos nossos guardiões, os Exus de Lei.
As bebidas alcoólicas, que tantas críticas têm merecido por parte dos leigos no assunto, funcionam
como tônicos e remédios tanto para o médium como para os consulentes. O efeito alcoólico da bebida
é totalmente retirado do médium que, ao término da sessão, está firme em suas pernas e sem
qualquer cheiro de botequim. No entanto, as entidades mais evoluídas da Umbanda não utilizam mais
bebida alguma, porque já atingiram um patamar luminoso que lhes permite obter os mesmos
resultados sem esse recurso.
Vale ressaltar também que os Caboclos e os Pretos Velhos utilizam também bebidas alcoólicas. Os
Caboclos geralmente utilizam as cervejas brancas e pretas. Já os Pretos-Velhos utilizam o vinho tinto.
Cada um tem seus objetivos – tudo depende da necessidade do aparelho, do consulente ou de como a
entidade vai movimentar essa bebida a seu favor.
Quando as entidades que compõem as diferentes falanges estão incorporadas, elas se prestam a
aconselhar seus consulentes e a realizar alguns rituais. Nestas ocasiões, utilizam-se dos quatro
elementos básicos da Natureza: AR, TERRA, FOGO e ÁGUA. Os elementos podem ser minerais, vegetais
e animais. É por isso que, muitas vezes, essas entidades solicitam charutos e bebidas. Cada item pedido
corresponde a determinados elementos naturais, ou seja, utilizam esses elementos a favor do
consulente ou do próprio aparelho.
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CAPÍTULO 15
PONTOS CANTADOS
Os Pontos cantados são evocações na forma de pequenas histórias cantadas ou orações, contando
quem é o Guia e/ou Orixá, sua forma de atuação, sua força diante das dificuldades, sua relação com os
Orixás, um chamamento de um filho que procura ajuda ou proteção, entre outras colocações de
festividade e manifestação de fé.
Os pontos têm sua associação, digamos assim, com os mantras indianos, com os Cantos Gregorianos
da Igreja Católica, ou com os Cantos de Louvor a Deus dos Protestantes. Outra função dos pontos, ao
serem cantados, é fazer descarregar e fluir as emoções dos médiuns em vibrações relacionadas com
seus Guias e/ou seus Orixás, permitindo assim, um perfeito entrosamento e equilíbrio dos médiuns em
seu trabalho.
Um dos fundamentos de vital importância para a harmonização e eficácia dos trabalhos dentro de um
templo umbandista é, sem dúvida, o que diz respeito aos Pontos Cantados (curimbas). Em tempos
imemoriais, o Homem materialista e ligado quase que exclusivamente aos aspectos físicos que o
circundavam, tomado de profundo vazio consciencial, resolveu traçar caminhos que o fizessem
resgatar a verdadeira finalidade de sua existência. Alicerçado em princípios aceitáveis, passou a buscar
a ligação para com o Criador, a fim de se redimir do tempo perdido e desvirtuado para outras ações.
Uma das formas encontradas para a reaproximação com o Divino foi a música, através da qual se
exprimiam o respeito, a obediência e o amor ao Pai Maior. Desta forma, os cânticos tornaram-se um
atributo sócio-religioso comum a todas as religiões, e cada uma delas, com suas características
próprias, exteriorizava sua adoração, devoção e servidão aos desígnios do Plano Astral Superior.
A Umbanda, nossa querida religião anunciada no plano físico em 15 de novembro de 1908, em Neves,
Niterói – RJ, pelo espírito que se apresentou Caboclo das Sete Encruzilhadas, também recepcionou
este processo místico, mítico e religioso da expressão humana. Nos vários terreiros espalhados pelas
Terras de Pindorama (nome indígena do Brasil), observamos com fé, respeito e alegria os vários pontos
cantados sendo utilizados em trabalhos de cunho religioso ou magístico.
Na realidade, os Pontos Cantados são verdadeiros mantras, preces, rogativas, que dinamizam forças da
natureza e nos fazem entrar em contato íntimo com as Potências Espirituais que nos regem. Existe
toda uma magia e ciência por trás das curimbas que, se entoadas com conhecimento, amor, fé e
racionalidade, provocam, através das ondas sonoras, a atração, coesão, harmonização e dinamização
de forças astrais sempre presentes em nossas vidas.
A Umbanda é capitaneada por sete Forças Cósmicas Inteligentes, que são as principais e que, por
influência dos Pretos-Velhos, receberam os nomes de Orixás, sendo que a irradiação ou linha de
Orixalá (Cristo Jesus) precede todas as demais, e portanto as comanda. Todas estas irradiações têm
seus pontos cantados próprios, com palavras-chave específicas e a justaposição de termos magísticos,
de forma que o responsável pela curimba deve ter conhecimento do fundamento esotérico (oculto) da
canção.
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Temos visto em algumas ocasiões determinadas pessoas até com boas intenções, mas sem
conhecimento,
"puxarem" pontos em horas não apropriadas e sem nenhuma afinidade com o trabalho ora realizado.
Tal fato pode causar transtornos à eficácia do que está sendo feito, uma vez que podem atrair forças
não afetas àquele trabalho, ou ainda despertar energias contrárias ao trabalho espiritual.
Quanto à origem, os pontos cantados dividem-se em Pontos de Raiz (enviados pela espiritualidade), e
Pontos Terrenos (elaborado diretamente por pessoas). Os Pontos de Raiz ou espirituais jamais podem
ser modificados, pois se constituem em termos harmônicos metricamente organizados, ou seja, com
palavras colocadas em correlação exata, que fazem abrir determinados canais de interação físico-
astral, direcionando forças para os mais diversos fins (sempre positivos). Quanto aos Pontos cantados
terrenos, a Espiritualidade os aceita, desde que pautados na razão, no bom senso e fé de quem os
compõem.
Às vezes, porém, nos deparamos com algumas curimbas terrenas que nos causam verdadeiro espanto,
quando não tristeza. São composições "sem pé nem cabeça", destituídas de fundamento, com frases
ingênuas e sem nenhum nexo, chegando algumas a denegrirem os reais valores umbandistas. Cantam
curimbas por aí dizendo que Exu tem duas cabeças; que Bombogira (Pomba-gira) é prostituta e mulher
de sete maridos; que Preto-Velho é feiticeiro e mandingueiro; que a Orixá Nanã mora na lama dos rios;
que Ogum é praça de cavalaria, e outras incoerências mais.
E quanto ao plágio (cópia adulterada)? Aí é que a questão se agrava. É que alguns "espertos" andam a
visitar terreiros, ouvindo e decorando pontos pertencentes àqueles templos. Voltam à tenda onde
trabalham ou dirigem, e começam a cantar os pontos aprendidos, com algumas alterações, para
disfarçar é claro, e dizem a terceiros que as curimbas são de sua autoria ou de suas "entidades". Além
de modificarem pontos que podem ser de raiz, estão sujeitos a serem desmascarados quando alguém
toma conhecimento da origem e da real letra das curimbas.
Vimos pelo acima exposto que as curimbas, por serem de grande importância e fundamento, devem
ser alvo de todo o cuidado, respeito e atenção por parte daqueles que as utilizam, sendo ferramenta
poderosa de auxílio aos Pretos-Velhos, Caboclos, Exus, e demais espíritos que atuam dentro da
Corrente Astral de Umbanda.
A harmonia dos sons é uma das mais importantes partes da magia e dela depende, dentro da
Umbanda, a vinda dos chefes para darem a luz necessária, na verdadeira construção dos trabalhos que
se processarão dentro dos rituais, impostos pelas preces de canto, que formam uma das maiores
forças mágicas da Umbanda.
Os pontos de raiz expressam, de maneira sublime, uma mensagem, uma emoção, além de ativarem o
misterioso fogo renovador da fé e de movimentarem uma linguagem metafísica que representa uma
mensagem específica a cada vibração. Estes pontos jamais devem ser modificados, pois são
constituídos de termos harmoniosos, direcionando as formas para os mais diversos fins.
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Quanto aos pontos terrenos, a Espiritualidade os aceita, desde que pautados na razão e bom-senso de
quem os compôs. Geralmente estes pontos são compostos por integrantes da corrente visando a
homenagear determinado Orixá ou falangeiro.
Os pontos devem ser entoados com ritmo e, principalmente, com emoção e respeito, pois são eles que
determinam a corrente vibratória de uma gira, favorecendo ou dificultando a realização da
incorporação ou de determinado ritual. Os pontos cantados mudam de ritmo e mesmo de frequência
de acordo com as vibrações espirituais.
Os pontos cantados são uma das primeiras coisas que mexem com quem vai a um terreiro de
Umbanda pela primeira vez. Os pontos cantados são, dentro dos rituais de Umbanda, um dos aspectos
mais importantes para se efetuar uma boa gira.
Os pontos cantados servem para impregnar certas energias e desimpregnar outras, de acordo com o
ponto, uma vez que cada linha representa uma imagem, traduz um sentimento inerente à vibração
daquela entidade que o canta, ou que o trás, existindo por trás deles uma frequência toda especial,
que se modifica de acordo com a Linha Espiritual.
Procure entoar os pontos cantados adequadamente, sentindo-os e não apenas cantando-os. Sinta-os
em sua alma e verá surpreso, como você canta bem. O ponto cantado é o caminho vibratório por onde
anda a gira. São as correntes condutoras e dissipadoras de certas correntes. É o VERBO SAGRADO,
portanto entoe-os adequadamente, harmoniosamente.
Oxossi – Sons afinados com a natureza e sua harmonia. Predispõem a cultuar-se a natureza interior,
harmonizando-se com a Grande Natureza, com a harmonia interior, com a saúde, com o bem estar.
Xangô – Sons graves, isto é são cantados “baixos”. Predispõem à justa conduta, à ação pautada na
justiça, à responsabilidade, à força espiritual.
Yori – Sons alegres. Predispõem à renovação, à alegria, ao bom ânimo, à fortaleza moral, à pureza de
ideias e ações.
Yemanjá – Sons suaves, destinados à renovação afetiva e emocional. Predispõem ao Amor puro, às
forças vitais, aos ciclos e transformações, aos fluxos e refluxos, à renovação mental, à criação de novos
rumos.
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É importante que entendamos que, quando as pessoas cantam, exteriorizam seus sons interiores. Se
afinados e afinizados, refletem equilíbrio interno. Se desafinados, refletem desequilíbrio interno.
Dominar os sons interiores é a condição para se dominarem os sons Exteriores. Assim, quanto melhor
se expressar num ponto cantado, melhor se expressa consigo mesmo.
É claro que todos esses fundamentos terão valores adequados se os pontos cantados forem
verdadeiros, de raiz, isto é, dados por uma Entidade Incorporada ou através dela ao seu médium, por
sintonia ou inspiração. Reconhecemos que um ponto cantado é de RAIZ quando seu ritmo reflete
harmonia e eufonia. Essa harmonia é observada na letra e na musicalidade. Com os pontos cantados
assim entoados, não fica difícil e se entender que a mediunidade fluirá verdadeiramente bem.
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CAPÍTULO 16
AS GIRAS DE ATENDIMENTO PÚBLICO
As giras de atendimento público, ou giras de caridade (dar de graça o que de graça recebemos) são ao
mesmo tempo a razão da existência do terreiro e o prêmio pelo trabalho desenvolvido, ao longo da
semana, em giras internas e pelo preparo do rito público.
A preparação deste rito ocorre muito tempo antes, até mesmo muitos dias antes da abertura da gira.
Alguns dias antes, todas as dependências do Templo devem ser higienizadas fisicamente. A
higienização física é a primeira etapa de preparação do rito público e deve ser realizada pelos próprios
médiuns da casa. Ao realizarmos a limpeza de nosso Templo, estamos impregnando nossas vibrações
e desta forma favorecendo ainda mais a manifestação das Entidades filiadas à Confraria do Templo.
Devemos lembrar que durante este processo de higienização física, assim como em todos os rituais
internos e externos, nossa mente e coração, pensamentos e emoções devem estar harmonizados e
equilibrados, pois não há como agir corretamente se nossos pensamentos e/ou sentimentos estão em
desarmonia. Aliás, nossas ações são reflexo de nossos sentimentos e pensamentos. Portanto, com
pensamentos e sentimentos equilibrados, nossas ações serão naturalmente harmoniosas.
A preparação do corpo mediúnico também é fundamental para a boa condução da gira de caridade.
Neste dia, serão recebidos para atendimento muitos consulentes, encarnados e desencarnados, com
toda sorte de angústias, rancores, doenças, desarmonias e até mesmo com energias negativas
atreladas aos seus veículos de expressão (corpos mentais, astrais e etéreo-físicos). Portanto, é
fundamental que os médiuns procurem estar bem equilibrados e revigorados, através de banhos de
ervas, defumações, boa alimentação mental, emocional e física, conforme abordado em outro
capítulo.
No dia da Gira de Atendimento Público, o corpo mediúnico deve chegar com uma boa antecedência
para realizar a preparação final para o rito. Ao chegar com antecedência, os médiuns devem buscar
sintonia com os trabalhos que serão realizados. Lembramos aos Irmãos de Fé que nossos pensamentos
e conversas devem ser apropriados para a ocasião, pois como podemos buscar contato com as
Entidades Astrais se pensamos ou falamos impropérios, temos conversas impróprias e sentimentos
mesquinhos pouco antes de entrar no templo?
Ao passarmos pela Casa de Força ou Tronqueira devemos lembrar que estamos ali naquele dia a
serviço do Astral Superior e com finalidade exclusiva de realizar a caridade para com nossos outros
irmãos e não conosco mesmos. Portanto, meus irmãos, buscando iniciar a formação de egrégoras
positivas, sugerimos pedir aos Senhores da Encruzilhada e aos Guardiões Maiores do Templo que
possam permitir que todas as nossas angústias, preocupações, orgulho, vaidade e demais sentimentos
e pensamentos negativos possam ter ficado para fora do Templo, estando assim todos nós, livres de
todo e qualquer pensamento e sentimento em desarmonia e focalizados nos trabalhos que serão
realizados durante a gira.
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Algum tempo antes do início do ritual, os portões do templo devem ser abertos para a entrada dos
consulentes. Neste momento todo o corpo mediúnico já deve estar posicionado e desempenhando as
atividades previamente estabelecidas. Os portões do templo devem ser fechados até a abertura dos
trabalhos e caso algum consulente chegue após este horário deve receber as explicações necessárias a
respeito dos dias e horários estabelecidos ao atendimento ao público.
Após abertura dos trabalhos, o sacerdote realiza as evocações e invocações para a abertura dos
trabalhos e em seguida realiza o ritual da defumação do corpo mediúnico. Não devemos nos esquecer
de que, ao adentrar as dependências do templo, tanto o corpo mediúnico quanto os consulentes
passaram pelo ritual da defumação, cuja função naquele momento era a de propiciar o deslocamento
e desagregação de determinadas cargas negativas. O objetivo desta segunda defumação é a
harmonização dos corpos mentais e até mesmo astrais do corpo mediúnico e dos consulentes com as
vibrações originais e, portanto são selecionadas ervas e essências cuja ação está mais diretamente
ligada ao campo mental.
Após a defumação, inicia-se o processo de gestação do rito, no qual o sacerdote realiza o rito
propiciatório. O rito propiciatório, como o próprio nome diz, propicia ou permite que se inicie o rito. A
função deste ritual é dar condução às energias negativas e formar uma egrégora positiva que permita a
atuação das entidades astrais. Devemos ressaltar que as energias, independentemente da polaridade,
devem ser conduzidas para precipitação ou desagregação e este processo é realizado justamente no
rito propiciatório.
Realizado o rito propiciatório, ou seja, a gestação vibracional do Rito de Umbanda, o corpo mediúnico,
através da condução do sacerdote do templo, busca a conexão através da mediunidade como seus
mentores astrais para atendimento dos consulentes.
As entidades sob roupagem fluídica de Crianças atuam mais diretamente em nossos corpos astrais
(sentimentos). As consultas são muito alegres, porém não são infantis, como pode parecer a alguns. O
principal objetivo destas entidades é fazer com que alcancemos a pureza em nossos sentimentos,
exatamente o que a infância em nossas crianças encarnadas nos faz perceber.
As entidades sob roupagem fluídica de Caboclos atuam mais diretamente em nossos corpos etéreo-
físicos (ações). As consultadas são marcadas pelo vigor das atitudes e simplicidade. O principal objetivo
destas entidades é fazer com que alcancemos a fortaleza moral em nossas ações.
22
Liturgia – características e fundamentos dos rituais de uma religião
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As entidades sob roupagem fluídica de Pais Velhos atuam mais diretamente em nossos corpos mentais
(pensamentos). As consultas são marcadas pela humildade e sabedoria. O principal objetivo destas
entidades é fazer com que alcancemos a sabedoria através da humildade.
Realizadas as giras de Crianças, Caboclos e Pais velhos, temos a gira dos Exus Guardiões, que são
entidades astrais muito responsáveis, ordenados diretamente por Crianças, Caboclos e Pais Velhos. Os
Exus Guardiões trabalham diretamente nas esferas mais densas e dão a condução nos ritos de
Umbanda às energias liberadas pelos consulentes e até mesmo aos seres astrais vampirizantes que
estejam vinculados aos seres encarnados por afinidade.
Cabe ressaltar aqui que o Exu Guardião encerra o giro da gira de Umbanda, assim como o abre. Como
dissemos anteriormente, o rito de caridade deve ser propiciado ou gestado e Exu é a entidade atuante
responsável durante o rito propiciatório.
A gira de Umbanda ou giro de Umbanda em cada rito é na verdade um processo evolutivo onde
nascemos, crescemos, passando pela infância e maturidade, e envelhecemos até a “morte”, para
nascermos novamente no próximo rito de Umbanda, morrermos novamente e assim por diante. A gira
de Umbanda é a Roda de Samsara na própria Roda de Samsara!
O tempo decorrido entre um Rito e outro deve ser associado às nossas experiências pós-morte física,
ou seja, as vivências no astral pós-desencarne, quando analisamos toda a nossa evolução mediante
nossas posturas (pensamentos, sentimentos e ações) quando encarnados perante nós mesmos, nossos
irmãos e toda nossa coletividade, para mais uma vez encarnarmos e buscarmos nosso burilamento23
através de “novas” experimentações.
Concluímos desta forma que o rito de Umbanda, assim como nossa evolução, é um processo contínuo
e não termina! O Rito se reinicia com evolução, se tivermos assimilado os ensinamentos dos nossos
Mestres Astrais, ou com inércia, se voltarmos no próximo rito exatamente no mesmo local de partida.
Para seres em evolução, o rito de Umbanda é uma espiral ascendente infinita; para os seres inertes, é
uma volta em torno do próprio eixo, ou talvez em torno do próprio ego.
23
Burilamento – aperfeiçoamento, aprimoramento
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CAPÍTULO 17
DEFUMAÇÃO
Ninguém sabe ao certo quando a humanidade começou a usar as plantas aromáticas. Estamos
razoavelmente seguros de que os sentidos do homem antigo eram bem mais aguçados, e o sentido do
olfato foi crucial para sua sobrevivência. Há evidência do período Neolítico de que ervas aromáticas
eram usadas em culinária e medicina, e que ervas e flores eram enterradas com os mortos.
A fumaça ou fumigação foram provavelmente um dos usos mais antigos das plantas, como parte de
oferendas ritualísticas aos deuses. Era provavelmente notado que a fumaça de várias plantas
aromáticas tinha efeitos alucinógenos, estimulantes e calmantes, entre outros. Gradualmente, um
conjunto de conhecimentos sobre as plantas foi acumulado e passado a centenas de gerações de Altos
Sacerdotes, Caciques, Xamãs, Espiritualistas, Lamas, etc., cada qual, com suas formas de aplicações
afins à suas crenças, rituais e liturgias.
Isso nos mostra que as plantas aromáticas têm sido honradas de um modo especial desde os tempos
antigos. Já eram utilizadas em rituais religiosos e mágicos, bem como nas artes curativas. Essas três
práticas eram fundamentais para a existência humana (ainda hoje continuam sendo).
A origem da palavra perfume é o latim: per significa através, e fumus quer dizer fumaça. Portanto,
perfume é sentir através da fumaça ou encher de fumaça. Quando o homem descobriu como fazer
fogo, os chamados “perfumes” eram feitos pela queima de arbustos, flores e resinas. Na realidade, o
que hoje chamamos de defumação era antigamente chamada de perfume, como podemos ver pelo
próprio sentido literal do termo.
O uso de ervas, essências e resinas queimadas (incensos) para a produção de fumaça odorífera é a
chamada defumação, sendo um dos principais e mais difundidos métodos de manipulação magística
usado nos terreiros de Umbanda. Contudo, lembramos que este método não é utilizado apenas pela
Umbanda, sendo observado que foi usado pelos Egípcios, Sumérios, Babilônios, Hinduístas e Budistas,
Gregos, Romanos, Índios Nativos Americanos, no Catolicismo, no Judaísmo, no Lamaismo, na Índia, na
China e praticamente em todas as filosofias e religiões do mundo.
Egípcios
A antiga civilização egípcia se devotava ao direcionamento dos sentidos para o Divino. O uso das
fragrâncias era muito restrito. Inicialmente, sacerdotes e sacerdotisas eram as únicas pessoas que
tinham acesso a estas preciosas substâncias. As fragrâncias dos óleos eram usadas em perfumes, na
medicina e para uso estético, além da consagração nos rituais, queimados como incenso. Sobre as
paredes das tumbas dos templos antigos perdidos no deserto, podemos ver com frequência uma
fumaça que sai de um pote, ou um incensário horizontal muito parecido com os atuais. Quando o Egito
se fez um país forte, seus governantes importaram de terras distantes incenso, sândalo, mirra e canela.
Esses tesouros aromáticos eram exigidos como tributo aos povos conquistados e se trocavam inclusive
por ouro. Os faraós se orgulhavam de oferecer aos deuses e deusas enormes quantidades de madeiras
aromáticas, gomas, resinas e perfumes de plantas através de sua queima. Muitos chegaram a gravar
em pedras semelhantes façanhas. As plantas aromáticas eram entregues como tributos ao estado, e
doadas a templos especiais, onde se conservavam sobre altares como oferendas aos deuses e deusas.
Todas as manhãs, as estátuas eram untadas pelos sacerdotes com óleos aromáticos. Queimava-se
muito incenso nas cerimônias do templo, durante a coroação dos faraós e rituais religiosos. Seu uso
também era comum em enterros, para neutralizar odores e maus espíritos.
Sumérios e babilônios
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É difícil separar as práticas destas culturas distintas, já que os sumérios tiveram uma grande influência
dos babilônios e transcreveram muito da literatura dos seus antepassados para o idioma sumério. Sem
engano, sabemos que ambos os povos usavam o incenso. Os sumérios ofereciam bagas de junípero
como incenso à deusa Inanna. Mais tarde, os babilônios continuaram esse ritual, queimando esse
suave aroma nos altares de Ishtar.
Tudo indica que o junípero foi o incenso mais utilizado, mas outras plantas eram usadas também.
Madeira de cedro, pinho, cipreste, mirto, cálamo e outras eram oferecidas às divindades. O incenso de
mirra, que não se conhecia na época dos sumérios, foi utilizado posteriormente pelos babilônios.
Heródoto assegura que na Babilônia queimaram uma tonelada de incenso. Daquela época, nos tem
têm chegado numerosas histórias sobre seus rituais mágicos. O Baru era um sacerdote babilônio
iniciado na arte da adivinhação. Acendia-se incenso de madeira de cedro e acreditava-se que a direção
que a fumaça levantava determinaria o futuro: se a fumaça se movesse para a direita, haveria êxito;
para a esquerda, a resposta era o fracasso.
Hindus e budistas
A Aromaterapia tem sido uma parte essencial do ritual religioso Hindu desde o tempo dos Vedas, cuja
origem se situa por volta de 5.000 a.C. O incenso favorece um estado meditativo, e por isso ele
também foi incorporado pelos budistas, que são naturalmente avessos a rituais externos. É usado na
iniciação de lamas e monges, além de ser oferecido aos bons espíritos nos cultos diários.
Gregos e romanos
Estes povos acreditavam que as plantas aromáticas procediam dos deuses e deusas. Queimavam o
incenso como obrigação e para proteção das casas. Em Roma, usava-se nas ruas e em especial na
adoração do Imperador, tido como representante de Deus na Terra. O povo chegou a consumir tantos
materiais aromáticos que, no ano de 565 d.C., foi decretada uma lei que proibia o uso de essências
aromáticas, com medo de não haver incenso suficiente para se queimar nos altares das divindades.
Judeus
De acordo com o Zohar (do hebraico, esplendor), é considerado como um dos trabalhos mais
importantes da Cabala, no misticismo judeu. Trata-se de comentários místicos sobre o Torá (os cinco
livros de Moisés), escrito em Aramaico e Hebraico medievais. Contém uma discussão mística sobre a
natureza de Deus e considerações sobre a origem e estrutura do universo, a natureza das almas,
pecado, redenção, o bem e o mal e diversos temas relacionados. O Zohar não é só um livro, mas um
grupo de livros que incluem interpretações bíblicas assim como matérias sobre teologia, teosofia,
cosmogonia mística, psicologia mística (e também o que alguns poderiam chamar de antropologia.). De
acordo com ele, oferecer incenso é a parte mais preciosa do serviço do Templo aos olhos de Deus. A
honra de conduzir este serviço é permitida somente uma única vez na vida. Diz-se que quem teve o
privilégio de oferecer o incenso está recompensado pela sorte com riqueza e prosperidade para
sempre, neste mundo e no seguinte.
Católicos
Como esquecer a maravilhosa história dos três Reis Magos, que presentearam com Incenso, Olíbano e
Mirra o Mestre Jesus, quando ele nasceu? Essas resinas aromáticas são presentes mágicos, são
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incensos de alta importância e fragrância. Em várias igrejas católicas, misturas de incensos contendo
resinas de olíbano e mirra são queimadas durante os rituais.
Nossos ancestrais faziam uso de incensos em suas casas porque pensavam que podiam protegê-los das
pragas e doenças. Essa teoria possui alguma verdade: incensos feitos de ervas, incluindo tomilho e
capim limão, há muito são usados por suas propriedades antissépticas e curativas, por exemplo. Essas
e outras ervas eram queimadas em quartos de doentes nos hospitais antes da descoberta dos
antibióticos. Quando realizamos a defumação ou queimamos incensos naturais, o prana das ervas e
moléculas de óleos essenciais são soltos no ar. Em seguida, eles encontram seu caminho através do
sistema olfativo ou dos poros da pele, e chegam ao cérebro, onde se processam efeitos químicos que
podem mudar seu humor e ânimo, ou ainda evocar boas memórias e lembranças por meio de sua
memória olfativa. Essa fumaça aromática pode relaxar, estimular e aumentar nossa energia, levando-
nos a um momento de paz e tranquilidade.
As memórias que incluem lembranças de odores tendem a ser mais intensas e emocionalmente mais
fortes. Um odor que tenha sido encontrado uma única vez na vida pode ficar associado a uma
experiência, e sua memória pode ser evocada automaticamente quando reencontramos esse odor. A
primeira associação feita com um odor parece interferir com a formação de associações seguintes. É o
caso da aversão a um tipo de comida. A aversão pode ter sido causada por um mal-estar que ocorreu
num determinado momento apenas por coincidência, nada tendo a ver com o odor em si e, no
entanto, será muito difícil que ela não volte a aparecer no futuro associada a esse odor.
A memória olfativa é poderosa e raramente falha, pois a membrana interna do nariz é o único lugar
do corpo humano no qual o sistema nervoso central entra em contato direto com o meio ambiente.
Todas as outras informações sensoriais são recebidas primeiramente por meio do tálamo, localizado
entre o epitálamo e o hipotálamo. Por sua vez, o olfato é processado pelo lóbulo límbico, a área dos
impulsos emocionais e sexuais. Ou seja, antes de “sabermos” que estamos em contato com um cheiro,
já o recebemos e reagimos a ele. Por isso, a memória olfativa é tão determinante nas nossas escolhas e
atitudes. O ser humano é capaz de identificar de dois a quatro mil odores diferentes, o que pode gerar
esse mesmo número de reações. Uma das alterações fisiológicas promovidas por odores é a produção
de serotonina, que nos dá a sensação de bem-estar e tem importância vital para o relacionamento
humano. Ela traz espontaneidade e alegria para a nossa rotina e dá leveza aos momentos mais tensos.
É o tempero das relações, a balança que equilibra o nosso dia-a-dia.
Tudo isto nos mostra a ancestralidade da defumação e da própria Umbanda, assim como a importância
da defumação, que vai muito além de um cheiro agradável no ambiente. A defumação é essencial
para qualquer trabalho num terreiro de Umbanda, bem como nos ambientes domésticos. Este ritual é
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praticado com o objetivo de purificar o ambiente (terreiro/residência), bem como o corpo do médium
e a assistência, retirando as energias negativas e preparando o local para que a gira possa ocorrer em
harmonia.
A defumação é um processo ativo de exercício de mediunidade e por isso deve ser tratado com muito
cuidado. Todo mundo que tem em si ou em sua casa um local de concentração de energia, acaba
sendo um atrativo para inúmeras entidades. Assim, ao defumarmos, nem sempre estamos tratando de
afastar demandas contra nós, mas também mantendo o nosso equilíbrio, o equilíbrio do Congá e o de
nossa própria casa.
Qualquer pessoa, com ou sem uma mediunidade ativa, pode perceber quando há uma alteração no
ambiente. Nesses casos, deve-se recorrer à defumação. No caso do terreiro, onde tudo isso é mais
intenso, o início de cada sessão de trabalho deve ser precedido por uma defumação.
Defumar não é um simples processo formal, mas sim uma liturgia. Quem defuma algum lugar sempre
deve se preparar porque vai absorver quaisquer energias do lugar, positivas ou negativas, como um
“para-raios”, ou um "aspirador de pó", em alguns casos. Dessa forma, para executar essa liturgia, é
necessária determinada maturidade na magia, no conhecimento e também nos procedimentos de
preparação e autolimpeza, que para quem faz, vai mais além do que o simples ato de defumar.
Maturidade na magia significa uma sintonia com os mestres e entidades que trabalham junto com o
indivíduo. O conhecimento diz respeito ao método de execução e aos elementos a serem utilizados,
tanto no defumador quanto nos procedimentos complementares.
Em termos de finalidade, o processo de defumação pode ser feito para retirar (ou seja, queimar) a
energia ruim e também para preencher com energia boa, revitalizar. Quando se encontra um
ambiente carregado, geralmente são usados um ou mais defumadores de limpeza, que irão "queimar"
ou esterilizar as energias ruins. Depois disso, é feita uma nova defumação, que irá preencher o
ambiente com a energia que se quer “girando”, evitando um vazio ou um ambiente estéril que não
traga conforto aos consulentes.
Se todos soubessem das propriedades terapêuticas e desobsessoras de uma defumação, ela seria
adotada em suas casas, hospitais, locais de trabalho e outros diversos ambientes, todos os dias. Não há
hora ou dia específico, existindo restrições apenas quanto à colheita das ervas, da mesma forma que
em nossos banhos.
Por todos os motivos expostos, partimos para a importância da escolha adequada das ervas para
atingir o objetivo visado. Obviamente, elas não são encontradas nas casas de artigos religiosos, nos
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defumadores em tabletes e menos ainda naqueles com determinados “objetivos”, como atrair
dinheiro, amor, etc. Além de uma mistura qualquer, esses defumadores ainda recebem corantes, assim
como substâncias para que se queimem sem brasa, tipo pólvora e similares. É claro que estes produtos
são deletérios quando se pretende magia verdadeira, pois nesses casos não se sabe quais são as ervas
nem quem as manipulou.
Na Umbanda, existe uma infinidade de combinações positivas para uso coletivo ou individual, visando
a desagregar certas forças, imantar outras ou ainda atuar em chakras ou plexos energéticos para
alterar o tônus vibratório dos mesmos. Os awôs, ou segredos desta ciência, e a arte na terapia vegeto-
astromagnética são conhecidos pelos iniciados neste mesmo assunto. No caso do uso doméstico ou no
terreiro, incluindo os ritos públicos, utilizamos uma mistura feita com erva-doce (sementes), cravo e
canela em pau, na proporção de três porções de erva doce para uma porção de cravo e uma porção de
canela. O ideal seria colher estas ervas nos dias e horários adequados, como isto normalmente não é
possível, compramos os mesmos em supermercados e até mesmo em casas de artigos religiosos.
DESAGREGAÇÃO
Erva doce
Cravo
Canela em pau
Da mesma forma que os Elementais (cada um afim a um Elemento) são movimentados pelos
Elementares (Espíritos da Natureza), o mesmo acontece com o que conhecemos por súcubos
(femininos) e íncubos (masculinos). Apesar de negativos, esses Elementares são afins a cada um dos
elementos. Assim, cada erva é afim a um Elemento e no momento em que se desloca a fumaça de um
braseiro para entrar em contato com o olfato e com o corpo astral de um ser humano, as larvas astrais
afins ao elemento e à erva que está sendo queimada também são queimadas, em reação à energia
solar (prana) contida nas ervas da Defumação. Dessa forma, as larvas são desagregadas do corpo astral
do consulente.
PURIFICAÇÃO
Sândalo Orixalá
Incenso/Olíbano Ogum
Alfazema Oxossi
Mirra Xangô
Alecrim Yorimá
Benjoim Yori
Verbena Yemanjá
A defumação de purificação é a defumação que faz com que se preencham os espaços “vazios”
deixados pela desagregação, havendo uma erva afim a cada um dos Orixás Ancestrais e,
automaticamente, a cada um dos Elementos.
O tipo do turíbulo, braseiro ou incensário utilizado também é importante, pois deve ser de material
adequado para potencializar a defumação obedecendo às forças sutis da natureza. O tipo
recomendado é o feito de barro e encontrado nas casas de artigos religiosos. O turíbulo de barro nos
direciona para os quatro Elementos, pois os elementos aquosos e telúricos (água e terra) estão
representados no próprio turíbulo, o elemento ígneo (fogo) está nas brasas e a fumaça é o elemento
eólico (ar), resultado final da queima das ervas. Para sua utilização, perfuramos suas bordas em três
locais onde se prenderão os ganchos da corrente (como as utilizadas para sustentação de plantas,
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xaxim, etc.), que servirá de suporte. A corrente tem por função permitir o manuseio do braseiro sem se
queimar ao direcionar a fumaça e também transmitir, como condutor, as cargas negativas atraídas
pelo médium que manipula a defumação, fazendo com que se neutralizem as cargas na brasa.
Os braseiros feitos inteiramente de metal, como os incensórios de igreja, não são recomendáveis por
não permitirem este direcionamento de cargas e poderem até neutralizar a defumação antes de atingir
o alvo, pois o metal é condutor e dependendo do metal, pode liberar parte de sua composição durante
a defumação.
O carvão vegetal é aceso colocando-se abaixo dele um pequeno chumaço de algodão embebido em
álcool (o carvão também recebe um pouco de álcool antes de ser aceso). O braseiro só é utilizado
quando todo algodão e o álcool forem consumidos, deixando apenas o carvão em brasa onde se jogam
pequenas porções da defumação no momento do uso.
Normalmente se deixa uma pessoa responsável pela defumação, de preferência do sexo masculino,
que cuidará desde a compra e a confecção do braseiro até a defumação dos consulentes que entram
no terreiro.
O braseiro deve ser mantido aceso durante toda a gira, para sua utilização durante o ritual e após a
saída dos consulentes, na higienização do templo. Lembramos que, antes de deixarem o terreiro, os
médiuns devem fazer uma limpeza geral (física e Astral) do mesmo, organizando tudo aquilo que foi
utilizado. Portanto, a defumação das ervas de forma sagrada tem seus fundamentos, desde os nossos
pensamentos no momento da defumação até a forma de recebê-la e utilizá-la, como tudo em nossa
Umbanda. Assim, entendemos também o motivo desde a defumação “geral” até as que são feitas mais
diretamente pelas entidades que nos assistem.
É importante ressaltar que eficácia da defumação não é determinada pela quantidade de fumaça
gerada durante o ritual, mas sim pela qualidade que é determinada por vários fatores, como a escolha
das ervas, misturas apropriadas, preparação e execução da defumação com pensamentos e
sentimentos apropriados. Os efeitos do excesso de fumaça durante uma defumação podem ser
comparados aos efeitos que temos em nossos corpos físicos após realizarmos uma alimentação em
quantidade excessiva.
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CAPÍTULO 18
O CORPO FÍSICO E O CORPO ASTRAL
A Umbanda é uma religião naturalmente ritualística – isto é, seus fundamentos são absorvidos através
da prática, saindo do campo mental e materializando-se através de rituais. Um dos fundamentos
importantes dentro da Umbanda, é a manipulação de energias através dos elementos da natureza
para o reequilíbrio de seus praticantes, principalmente dos médiuns que precisam de revitalização
energética diante do desgaste decorrente dos trabalhos nos terreiros. O banho ritualístico é uma das
formas de se fazer isso.
Antes de entrar diretamente no assunto sobre banhos ritualísticos, é necessário comentar alguns
outros tópicos, que tem relação direta ou indireta com os banhos.
O ser humano é constituído de vários corpos (sete no total), sendo que cada um tem suas próprias
funções e níveis energéticos, indo do mais sutil (corpo mental) para o denso (corpo físico). Os corpos
que serão objetos de estudo são o corpo físico e o corpo astral ou perispírito.
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18.2. Os chakras
Chakra Coronal
Situado no alto da cabeça.
É o chakra que capta as energias vindas do plano espiritual. Através dele, recebemos os contatos
mediúnicos. É o elo entre a mente espiritual e o cérebro. O desequilíbrio deste chakra nos causa
depressão, solidão, angústia, etc. Nas manifestações mediúnicas das entidades que trabalham sob a
vibração de Orixalá, é o chakra principal de contato.
Chakra Frontal
Situado na fronte, entre os olhos.
É considerado por muitos como o Terceiro Olho, já que é o chakra da intuição. É o chakra da clareza
mental e espiritual. Responsável pela vidência, audiência e intuição, no campo da mediunidade. O
desequilíbrio deste chakra, provoca memória fraca, conceitos confusos, insônia, etc. Nas
manifestações mediúnicas das entidades, que trabalham sob a vibração de Yemanjá, é o chakra
principal de contato.
Chakra Laríngeo
Situado na altura da garganta.
Também conhecido como Cervical. É o chakra da comunicação. Do dar e receber. O desequilíbrio deste
chakra provoca incertezas, indecisões, gagueira, obesidade, etc. Nas manifestações mediúnicas das
entidades que trabalham sob a vibração de Yori, é o chakra principal de contato.
Chakra Cardíaco
Situado na altura do coração.
É o chakra da harmonização. Responsável pelo equilíbrio, emoções e sentimentos. O desequilíbrio
provoca paixões destruidoras, ódio, inveja, ciúmes, etc. Nas manifestações mediúnicas das entidades
que trabalham sob a vibração de Xangô, é o chakra principal de contato.
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Chakra Gástrico
Situado na altura do baço e estômago.
É o chakra das vibrações afetivas do ambiente. Conhecido também como Solar ou Soliar. O
desequilíbrio provoca medo, timidez, carência, problemas gástricos (úlceras, gastrites, etc.) Nas
manifestações mediúnicas das entidades que trabalham sob a vibração de Ogum, é o chakra principal
de contato.
Chakra Esplênico
Situado na altura do umbigo.
Também chamado de Umbilical. É o chakra onde as energias densas se localizam. O desequilíbrio
provoca problemas emocionais, intensidade no prazer e na dor. Nas manifestações mediúnicas das
entidades que trabalham sob a vibração de Oxossi, é o chakra principal de contato.
Chakra Básico
Situado na altura dos genitais.
Também conhecido como Genésico ou Sacral. É o chakra que controla as funções genitais, procriadoras
e estímulos sexuais. Responsável por receber a energia Kundalini, que reativa os demais chakras. O
desequilíbrio provoca doenças nos órgãos reprodutores, frigidez, dores na coluna, bloqueios,
distúrbios mentais relacionados ao sexo, etc. Nas manifestações mediúnicas das entidades que
trabalham sob a vibração de Yorimá, é o chakra principal de contato.
Enfim, de cima para baixo recebemos a nossa redenção, e de baixo para cima recebemos a nossa
condenação. O assunto é pouco conhecido pelos espiritualistas.
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18.4. O aura
Os polos negativos não têm efeito prejudicial sobre o organismo, pois não têm relação com energias
negativas, que por sua vez são prejudiciais ao organismo dos seres. Se notarmos, os chakras têm a
polaridade positiva na frente e a negativa atrás. Se, num passe, colocarmos a mão esquerda (-) nas
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costas (-) e a direita (+) na parte frontal (+), ativamos as energias, pois há excitação, aquecimento,
força e fluxo magnético.
Se efetuarmos o passe com as mãos invertidas, ou seja, a direita (+) nas costas (-) e a esquerda (-) na
frente (+), criamos um desbloqueio no fluxo energético, acalmando os chakras, causando a calma e o
descongestionamento energético. Cada um destes métodos tem a sua eficiência, ora ativando, ora
acalmando os centros de forças.
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CAPÍTULO 19
BANHOS RITUALÍSTICOS
19.1. Os elementos da natureza
A Umbanda, religião ligada aos Orixás e à natureza, tem como fundamentos a utilização de elementos
da natureza, que são regidos pelos Orixás. Os elementos são:
Os elementos podem estar reunidos ou não em diversos rituais umbandistas, com o intuito de
manipulação de energias. Em todo Universo, temos o prana ou éter vital, que é a energia essencial
para a manutenção da vida em vários níveis energéticos. O Prana é absorvido pelos elementos da
natureza e por nós, direta ou indiretamente. A respiração, o “banho” de sol e a alimentação adequada
são alguns dos meios desta absorção energética.
A vela votiva – Temos os elementos Fogo, Ar, Água e Terra. O Fogo consome o Ar e a resina da vela
(Terra) e transforma a Água, contida na resina da vela, em vapor. Estamos falando apenas do aspecto
material desse ritual, sem contar o aspecto religioso e mágico.
Como podemos constatar, estes elementos estão sempre presentes nos rituais, sendo essenciais para
o bom êxito de cada ação ritualística. A magia, contida em muitos rituais umbandistas, tem a
necessidade de elementos materiais de ligação entre a matéria e o plano espiritual. Vivemos no mundo
da forma, e para movimentarmos determinadas energias sutis, buscamos através dos elementos
materiais o suporte necessário para movimentação de sua contrapartida astral. Esses materiais de
suporte utilizados geralmente são elementos originários dos reinos da natureza (mineral, vegetal e até
mesmo animal).
Devemos ressaltar que a Umbanda é totalmente contrária ao sacrifício de animais, pois como
poderíamos obter a revitalização de nossos corpos através do sofrimento de animais? Porém,
podemos citar como elementos animais utilizados na ritualística o mel, conchas e outros elementos
que podem ser utilizados sem causar sofrimento.
Os ciclos da natureza e os astros influenciam a vida de todos os seres na Terra, pois regulam toda a
vida, trazendo o equilíbrio. Devemos entender o máximo possível sobre estas influências, pois é de
grande importância obter o melhor resultado na extração e manipulação energética.
19.2. As ervas
O elemento vegetal é muito importante para a manutenção e equilíbrio dos seres vivos. Os vegetais
retiram o prana da natureza por meio de processos variados, seja através do sol, da lua, dos planetas,
da terra, da água, etc. São, portanto, grandes reservas de éter vital cujas propriedades foram
descobertas pelo ser humano ao longo do tempo. Damos muitos usos aos vegetais – desde a
alimentação até a magia –, sempre transformando a energia vital através de processos e rituais.
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Os vegetais são diretamente influenciados pela natureza. A lua e o sol são os astros que muito
influenciam a absorção do prana e devemos conhecer estas influências. Vamos focar em uma delas,
que é a influência lunar sobre os vegetais.
As quatro fases lunares têm duração de sete dias cada uma. É necessário conhecê-las, pois duas fases
compõem o que chamamos de quinzena positiva, propícia para a colheita de ervas para rituais
diversos na Umbanda (banhos, defumações, etc.), enquanto as outras duas formam a quinzena
negativa, durante a qual a concentração de éter nas folhas, frutos e flores é muito baixa.
Lua Minguante
Nesta fase lunar, o prana concentra-se na raiz, vitalizando-a, permitindo que ela extraia os nutrientes
necessários do solo. Não é uma fase propícia para a colheita de ervas, pois está na quinzena negativa.
Lua Nova
Esta fase lunar se caracteriza pela “ausência” da lua. É a primeira fase da quinzena positiva, pois o éter
vital se concentra na parte superior do vegetal, isto é, nas folhas, frutos, flores e caules superiores.
Assim, é uma das fases propícias para a colheita de elementos vegetais.
Lua Crescente
É a fase complementar, ou segunda fase da quinzena positiva. O éter vital, ou corrente prânica, ainda
está nas folhas, flores e frutos, dirigindo-se das extremidades das plantas para o seu centro.
Lua Cheia
É a fase que abre a quinzena negativa, não sendo propícia a colheita de ervas para efeitos ritualísticos.
Nela, o prana ou éter vital está no caule principal e dirigindo-se às raízes para completar o ciclo.
Existe também a questão das ervas solares e lunares, que devem ser respectivamente colhidas
durante o dia ou à noite.
De modo geral, os vegetais são condensadores das energias solares e cósmicas. Há ervas que recebem
influxos mais diretos de certos planetas ou luminares, sendo, portanto, ervas particulares desses
planetas. Os corpos celestes são a concretização de certas Linhas de Forças de um determinado Orixá.
Assim, por extensão, temos ervas influenciadas mais diretamente por esse determinado Orixá.
Finalmente, após pequenas dissertações de tópicos introdutórios, adentremos no assunto dos banhos
ritualísticos.
Os banhos ritualísticos são rituais nos quais utilizamos determinados elementos da natureza, de
maneira ordenada e com conhecimento de causa, com o intuito de gerar troca energética entre o
indivíduo e a natureza, a fim de fornecer-lhe reequilíbrio energético e mental.
Estes banhos se prestam para limpar energias negativas, livrar as pessoas de influências negativas,
reequilibrar a pessoa, aumentar a capacidade receptiva do aparelho mediúnico (já que os chakras
serão desobstruídos) ... Enfim, são de grande importância na manutenção dos corpos. Embora o banho
utilize elementos materiais que serão jogados sobre o corpo físico, a contraparte etérica será
depositada sobre os chakras, corpo astral e aura, que receberão diretamente o prana ou éter vital,
bem como a parte astral dos elementos densos.
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Não são apenas os médiuns ativos na Umbanda que devem tomar determinados banhos. Todos nós
podemos usá-los, de modo geral.
Banhos de descarga
Esta categoria de banhos, conhecido também como banho de desimpregnação energética, é a mais
comum.
Eles servem para livrar o indivíduo de cargas energéticas negativas. Conforme vivemos, vamos
passando por vários ambientes e trocamos impressões com todo o tipo de indivíduo. Como estamos
num planeta no início de sua evolução espiritual, a presença do mal e de energias negativas é
abundante.
Toda esta egrégora formada por pensamentos e ações vai criando larvas astrais e toda a sorte de vírus
espirituais que vão se aderindo ao aura das pessoas. Por mais que nos vigiemos, hora ou outra
deixamos nosso nível vibratório cair e imediatamente entramos nessa egrégora. Se não nos cuidarmos,
vamos adquirindo doenças, distúrbios e podemos até mesmo ser obsediados.
O preparo deste banho é bem simples: basta, banhar-se da mistura de um punhado de sal grosso com
água morna ou fria, após um banho normal. Este banho é feito da cabeça aos pés, lavando os dois
chakras superiores (coronal e frontal). Após o banho, manter-se molhado por alguns minutos e
enxugar-se sem esfregar a toalha sobre o corpo, apenas secando o excesso de umidade.
Nesse banho, algumas pessoas pisam sobre carvão vegetal ou mineral, já que eles absorverão a carga
negativa deslocada pela passagem do sal grosso.
Este banho não deve ser realizado de maneira intensiva (com frequência diária ou semanal), pois ele
realmente tira a energia do aura, deixando-o muito vulnerável.
Existem pessoas que usam a água do mar no lugar da água com sal grosso. O efeito é o mesmo.
Pode ser tomado por qualquer pessoa, sendo ou não médium, e deve ser preparado com ervas afins à
vibração original do indivíduo. O banho deve ser realizado após o banho comum, do pescoço para
baixo. As ervas devem passar pelo corpo e, se possível, deve-se colocar um pequeno pedaço de carvão
sob os pés para concentrar as cargas negativas deslocadas.
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Após realização do banho, as ervas e o carvão devem ser recolhidos sem contato direto com as mãos,
com o uso de luvas ou sacos plásticos (material isolante) e preferencialmente encaminhados para
algum sítio sagrado. O material isolante utilizado para recolher as ervas e o carvão deve ser lavado e
guardado para futura utilização e nunca encaminhado juntamente com as ervas.
Banho de fixação
São banhos de caráter mediúnicos, portanto devem ser tomados apenas por médiuns. As ervas
utilizadas para este tipo de banho estão diretamente relacionadas ao Orixá regente do médium e à
entidade atuante, pois a finalidade deste banho é propiciar a ativação de determinados chakras e a
abundância de fluidos eletromagnéticos que permitirão maior conexão do médium com a Entidade
Astral responsável por seu mediunismo.
As ervas deste banho devem preparadas na proporção de duas ervas afins à vibração do médium para
uma erva afim a vibração original da entidade.
Assim como o banho de descarga, o banho de fixação deve ser tomado do pescoço para baixo, nunca
passando pela cabeça. No entanto, enquanto no banho de descarga as ervas passam pelo corpo, no
banho de Fixação as ervas devem ser retiradas, logo, o banho deve ser realizado apenas com o sumo
das ervas.
Banho de elevação
Este banho é utilizado por médiuns já preparados e iniciados. Tomar este banho sem estar preparado
poderá causar diversos distúrbios psíquicos. Este banho visa elevar o médium a níveis superiores de
consciência, fazendo-o se ligar ainda mais com o Eu interior. Tendo em vista tratar-se de um banho
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direcionador a níveis elevados de consciência, o banho deve ser preparado com apenas ervas solares
(vibração original de Orixalá) e necessariamente passará pela cabeça do médium.
Banho de essência
O banho de essência pode ser tomado por qualquer pessoa. Este banho propicia a harmonização com a
vibração original. A preparação consiste em adicionar gotas (número ímpar) da essência afim ao Orixá
Regente numa tigela com água pura e passar o banho pela cabeça, aguardando alguns minutos antes
de se secar após a passagem da água com essência para que ocorra a precipitação energética. Muito
embora as essências sejam, na sua maioria, sintéticas (não são obtidas diretamente das plantas e ervas
e, portanto, não conduzem prana), possuem odores particulares e afins as vibrações originais. Estes
odores estão “gravados” no inconsciente das pessoas e ao termos contato com estes odores afins, as
nossas vibrações originais nos predispõem a níveis mais elevados de consciência e harmonização com
estas forças.
Em todos os banhos em que se usam as ervas, devemos nos preocupar com alguns detalhes:
A colheita deve ser feita em fases lunares positivas, devido à abundância de prana
Ao adentrar uma mata para colher ervas ou mesmo num jardim, sempre saudar Oxossi, que é
responsável pelas folhas
Antes de colhermos as ervas, tocar levemente a terra, para que descarreguemos nossas mãos
de qualquer carga negativa, que é levada para o solo
Não utilizar ferramentas metálicas para colher; dê preferência às suas próprias mãos, já que o
metal faz com que o poder energético das ervas diminua (ele é condutor)
Normalmente usamos folhas, flores, frutos, pequenos caules, cascas, sementes e raízes para os
banhos; dificilmente usamos as raízes de uma planta, pois estaríamos matando-a
Colocar as ervas colhidas em sacos plásticos, que são elementos isolantes, pois até chegarmos
em casa, passaremos por vários ambientes
Lavar as ervas em água limpa e corrente
Os banhos ritualísticos devem ser feitos com ervas frescas – não demorar muito para usá-las,
pois o prana contido nelas vai se dispersando e perde-se o efeito do banho
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A quantidade de ervas que irão compor o banho são 1, 3, 5 ou 7 ervas diferentes e afins com o
tipo de banho. Por exemplo, num banho de defesa, usamos três tipos de ervas (guiné, arruda e
alecrim)
Não usar aqueles banhos preparados e vendidos em casas de artigos religiosos, já que
normalmente as ervas já estão secas, não se sabe a procedência nem a qualidade das ervas,
nem se sabe em que lua foi colhida. Além de não ter serventia alguma, estes produtos têm
apenas efeito autossugestivo
Alguns banhos são feitos com água fria e as plantas são maceradas com as próprias mãos. Só
depois, se for o caso, adiciona-se um pouco de água quente para suportar a temperatura da
água
Banhos feitos com água quente devem ser feitos por meio da abafação e não da fervura da
água com as ervas: esquente a água até quase ferver, apague o fogo, deposite as ervas e abafe
com uma tampa, mantendo essa imersão por uns 10 minutos antes de usar. Alguns dizem que
a água quente não é eficiente para um banho, mas esquecem que o elemento Fogo também
faz parte dos rituais de Umbanda. A água aquecida “agita” a mistura, liberando o prana das
ervas
Acender uma vela para o anjo de guarda e manter-se em oração e concentração, já que se
está realizando um ritual
Não se enxugar esfregando a toalha no corpo; apenas retire o excesso de umidade, já que o
esfregamento cria cargas elétricas (estática) que podem anular parte ou todo o banho
Embora todo o corpo será banhado, a parte da frente do corpo deve receber maior atenção, já
que ali estão as “portas” dos chakras. Além disso, a parte frontal possui uma maior polaridade
positiva, que tem propriedades elétricas de atrair as energias negativas que serão eliminadas
com o banho, recebendo carga positiva e aceleradora
Após o banho, é importante saber desfazer-se dos restos das ervas. Aquilo que ficou sobre o
nosso corpo, nós retiramos e juntamos com o que ficou no chão. Colocamos tudo num saco
plástico e despachamos aquilo que é biodegradável em água corrente.
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CAPÍTULO 20
PRÁTICAS DE UMBANDA
Ser umbandista dentro do terreiro de Umbanda é fácil, mas e fora dele?
(W.W. da Matta e Silva)
Este trabalho possui o intuito de auxiliar os que se interessam pelos conceitos práticos da Umbanda,
expostos com algumas dicas básicas.
Temos ciência de que a Umbanda é uma religião que tem como objetivos principais o burilamento do
espírito, que está em constante evolução. A doutrina umbandista tem uma mensagem muito forte,
preparando todos nós para que cada vez mais possamos ser melhores conosco e com o próximo.
Portanto, não basta sermos excelentes umbandistas dentro do terreiro se fora dele não aplicamos o
que ela nos ensina.
O Umbandista não deve provar nada a ninguém, mas deve ter em mente que suas ações e atitudes
serão analisadas por todos, e mais ainda por aqueles que veem a Umbanda como uma religião sem
doutrina, de militantes ignorantes que nada podem oferecer à sociedade atual. Portanto, o
umbandista de verdade deve mostrar com sua conduta e com suas atitudes os ensinamentos que
recebe dentro do terreiro através de suas entidades espirituais. Através disso é que ele vai fazer com
que a sociedade o reconheça como uma pessoa do bem e as motive a buscar conhecer mais a sua
Religião-Ciência.
Nossa caridade deve começar dentro de nossas casas, de nossos lares, com nossos familiares. É com
eles que temos nossas maiores dívidas kármicas. Como disse André Luiz, “os parentes são o marco vivo
das primeiras grandes responsabilidades do ser encarnado”. O lar é o templo redentor de almas
endividadas. A família é o maior meio de ajuste entre seres espirituais. Portanto, procuremos dar
mais valor à nossa família e agradecer pela oportunidade de resgatar antigas dívidas e ficarmos em
equilíbrio perante a Lei Divina.
Seguem algumas dicas e orientações práticas para utilização imediata em nosso dia a dia.
Já foi falado do terreiro e de suas normas, dos médiuns e sua postura perante a mediunidade, sobre
sua conduta e aperfeiçoamento espiritual, que se desenrola não apenas dentro do terreiro, mas nas 24
horas do dia de um verdadeiro umbandista. Precisamos adquirir bons hábitos de nossas entidades e
crescermos com eles, nos doutrinando com os mesmos.
Por estes fatores, pela vontade acirrada de melhorar e ao mesmo tempo combater as trevas da
ignorância e da maldade personificados pelo Astral inferior com seus kiumbas e pela magia negra, o
médium umbandista se vê constantemente assediado pelas entidades das trevas. Ora, aqueles com os
quais costumava se afinizar no passado não aceitam que este mude de lado. Da mesma forma, os
credores de débitos antigos vêm cobrar com voracidade. Mais ainda, ao procurar auxiliar aqueles
irmãos que sofrem de influências negativas, ele acaba “comprando” esta briga pelo seu envolvimento
com aquele necessitado.
Isto mostra também a firmeza mental que precisamos para não carregarmos essas energias negativas
para nossos lares após o trabalho. Não esqueçamos que o templo é um verdadeiro ambulatório. É
preciso todo um preparo mental, banhos, orações no dia que antecede o rito público. E durante o dia,
fora dos trabalhos espirituais, também podemos pegar essas influências, sendo então necessária
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cautela ao ajudar uma pessoa necessitada. É preciso saber como ajudar e o que fazer na hora certa. A
caridade requer prudência.
Nem sempre o melhor naquele momento é afastar a entidade negativa do lado da pessoa. Às vezes, a
simbiose é grande, apesar dos pesares. Estão unidos não por acaso, e a separação pode levar a pessoa
assediada à morte. Como se diz: “Quem não pode com mandinga, não carrega patuá “.
É lógico que esse médium bem intencionado deve ser, antes de tudo, cauteloso, assim como deve
utilizar de todas as formas possíveis para se tornar invulnerável, impermeável as correntes de magia
negra que enfrenta.
A casa em que habita, onde compartilha a convivência com seus familiares, não foge à regra,
principalmente sabendo-se que esses familiares podem ser inimigos antigos, reunidos para reajustes
kármicos e eventualmente servem como ponte de atração para o baixo astral. Isso é bíblico. Cristo
disse: “É nas famílias que eu colocarei os grandes inimigos.” E é dessa forma que eles agem: inimigos
encarnados em uma família, sofrendo a ação de outro inimigo (desencarnado que ainda não perdoou e
também ainda não alcançou a luz do Astral). O rancor e ódio continuam.
É fundamental que se evite alimentar correntes de intriga, inveja e perseguição dentro de casa.
Algumas outras providências podem ser úteis:
Aproveitamos essa oportunidade para darmos aos irmãos alguns lembretes que se que também fazem
parte da prática diária da Umbanda:
• Para ser um bom médium, é necessário que você busque conhecer a si mesmo, dia após dia. Procure
observar friamente seu caráter, sua personalidade, seus desejos, seus objetivos, etc. Constantemente
e tranquilamente, procure se conhecer.
• Retire de si o ódio, o rancor, a vaidade, o egoísmo e o orgulho. Assim, você estará mais próximo do
seu mentor e principalmente próximo de você mesmo em essência.
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• Procure não julgar seus semelhantes. Sem julgar, busque entender as causas. Afinal, ninguém é juiz,
e pelo que se sabe, o nível de juízo, de julgamento, é dado às grandes Almas, Seres que estão muito
distanciados do plano físico denso. O nosso conceito de moral não equivale ao existente no Astral
Superior.
• Procure higienizar sua mente! Leia bons livros, ouça boas músicas, procure ouvir notícias alegres,
tenha boas conversas, observe belas paisagens e busque estar em constante contato com o Astral
Superior.
• Sempre que possível, pergunte-se por que você quer ser um médium de Umbanda. Faça-o até obter
a resposta verdadeira, mas seja sincero com você mesmo.
• Lembre-se que as palavras e os pensamentos têm força. Somos aquilo que falamos e pensamos ser.
Quanto mais positivos formos, mais positiva será a nossa vida.
Poderíamos escrever muito mais a respeito das práticas umbandistas, mas deixemos que os irmãos
busquem dentro de si outras práticas que o ajudem a buscar o encontro com seu EU superior.
Devemos apenas ressaltar aos nossos irmãos que devemos ser sempre a mesma pessoa, dentro e fora
do terreiro. Procure sempre analisar sua conduta dentro e fora do Templo e responda para si mesmo
se você vive na Umbanda, está na Umbanda ou é da Umbanda.
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BIBLIOGRAFIA
FREITAS, Brasão; SOARES, Roger; OLIVEIRA, William. Cultura Umbandística. 1 ed. São Paulo: Ícone,
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MATTA E SILVA, Woodrow Wilson. Umbanda de todos Nós. 3 ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1969.
RIVAS NETO, Francisco. O Arcano dos Sete Orixás. 3 ed. São Paulo: Ícone, 1999.
_____________. O Elo Perdido. 3 ed. São Paulo: Ícone, 1999.
_____________. Umbanda – A Proto-Síntese Cósmica. 3 ed. São Paulo: Ícone, 1996.
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