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EsPCEx

2024

AULA 04
Realismo e Naturalismo

Professora Luana Signorelli

65
Profa. Luana Signorelli

Sumário
INTRODUÇÃO 4

1.0 REALISMO: A NOVA LINGUAGEM DE REPRESENTAÇÃO 4


1.1 O contexto europeu 8
1.2 Teorias do fim do século XIX 10
1.3 Características gerais do Realismo 12
1.4 Realismo versus Naturalismo 14
1.5 Quadro sinóptico 20

2.0 REALISMO E NATURALISMO EM PORTUGAL 20


2.1 A questão coimbrã 21
2.2 Antero de Quental 23
2.3 Eça de Queirós 25

3.0 REALISMO E NATURALISMO NO BRASRIL 40


3.1 Machado de Assis 41
3.1.1 Romances 48
3.1.2 Contos 59
3.2 Aluísio de Azevedo 62
3.3 Raul Pompeia 68
3.4 Outros escritores do período 72

4.0 A ARTE DO FIM DO SÉCULO XIX 74


4.1 Realismo 74
4.2 Impressionismo 75
4.3 Escultura 76
4.4 Realismo no Brasil 77
4.5 Interpretação de obra realista 77

5.0 RESUMO 77

6.0 CRÍTICA LITERÁRIA 80

7.0 QUESTÕES SEM COMENTÁRIOS 82


7.1. Lista de fixação 107
7.2. Gabarito 120

8.0 QUESTÕES COM COMENTÁRIOS 120


8.1. Lista de fixação comentada 163

9.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 188


9.1. Referências bibliográfica das Imagens 189

10.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS 190

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 2


Profa. Luana Signorelli

Exército Brasileiro

Professora Luana Signorelli

/luana.signorelli Professora Luana @profa.luana.signorelli


Signorelli

Luana Signorelli @luanasignorelli1

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 3


Profa. Luana Signorelli

INTRODUÇÃO
Hoje nós vamos dar continuidade ao nosso Curso Extensivo de Literatura para EsPCEx 2024.
Lembrem-se sempre do nosso lema:

“O segredo do sucesso é a constância no objetivo”.

Segundo o nosso cronograma de aulas, hoje estudaremos o seguinte:

AULA TÓPICOS ABORDADOS


Realismo e Naturalismo
Realismo – características gerais (verossimilhança). Naturalismo –
características gerais (teorias do fim do século XIX). Diferenciação entre
AULA 04 Realismo e Naturalismo. Contextualização no Brasil. Realismo no Brasil.
Machado de Assis – biografia, características estilísticas e obras: romances e
contos. Raul Pompeia – biografia e obra (“O Ateneu”). Naturalismo no Brasil.
Aluísio de Azevedo – biografia e obras: romances. Outros autores e obras
naturalistas brasileiros. Contextualização em Portugal. Poesia – Antero de
Quental. Prosa – Eça de Queiroz. A arte no fim do século XIX.

Hoje abordaremos quadros sinópticos de obras mais importantes. O quadro sinóptico é um


material de apoio que irá poder ajudá-los pouco antes da prova, por se tratar de conteúdos grandes com
muita informação. Tanto é que se quiserem ler a obra inteira, cuidado com os spoilers. Hoje em particular,
vamos fazer a interpretação de texto e a análise sintática ao longo da própria aula.

Então, vamos lá, não percamos tempo!

1.0 Realismo: a nova linguagem de representação


Vamos começar essa aula de hoje observando a figura abaixo.

Carruagem de terceira
classe (1864) de Honoré
Daumier (1808-1879).

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Profa. Luana Signorelli

Este quadro expressa com muita clareza a nova estética realista. Impressiona, à primeira vista, a
escolha dos indivíduos representados. O foco não é a elite, muito menos homens ou mulheres idealizados.
O pintor escolheu passageiros da terceira classe, ou seja, pessoas que viviam em condições miseráveis,
fato que pode ser observado nas roupas simples, no amontoado das gentes e no cansaço evidente dos
personagens da primeira fila. Essa imagem traduz visualmente aquilo que o Realismo literário também
expressa.
Assim como na pintura, o cotidiano passa a ser matéria da literatura. Observe, a título de
comparação, os dois fragmentos descritivos, um do Romantismo, outro do Realismo.

DESCRIÇÃO ROMÂNTICA
“Afastemos indiscretamente uma dobra do reposteiro que recata
a câmara nupcial.
É uma sala em quadro, toda ela de uma alvura deslumbrante, que
realça o azul celeste do tapete de riço recamado de estrelas e a bela
cor de ouro das cortinas e do estofo dos móveis.
A um lado, duas estatuetas de bronze dourado representando o
amor e a castidade sustentam uma cúpula oval de forma ligeira, donde
se desdobram até o pavimento, bambolins de cassa finíssima.
[…]
Correu-se uma cortina, e Aurélia entrou na câmara nupcial. Seu
passo deslizou pela alcatifa de veludo azul marchetado de alcachofras
de ouro, como o andar com que as deusas perlustravam no céu a
galáxia quando subiam ao Olimpo.”
(Senhora, José de Alencar)

DESCRIÇÃO REALISTA
“A carruagem parou ao pé de uma casa amarelada,
com uma portinha pequena. Logo à entrada um cheiro mole
e salobro enojou-a. A escada, de degraus gastos, subia
ingrememente, apertada entre paredes onde a cal caía, e a
umidade fizera nódoas. No patamar da sobreloja, uma
janela com um gradeadozinho de arame, parda do pó
acumulado, coberta de teias de aranha, coava a luz suja do
saguão. E por trás de uma portinha, ao lado, sentia-se o
ranger de um berço, o chorar doloroso de uma criança.”
(O primo Basílio, Eça de Queirós)

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Profa. Luana Signorelli

ANÁLISE DAS DESCRIÇÕES

Nos dois casos, temos a descrição de um ambiente que servirá de cenário para o encontro
amoroso: o quarto no qual Aurélia receberá Fernando Seixas, seu marido (Senhora); e o corredor que dá
a acesso ao quarto alugado, no qual Luísa encontrará seu amante, Basílio (O primo Basílio).
A cena, portanto, é bastante banal, prosaica. No caso da descrição romântica, José de Alencar
tenta dar especialidade que um quarto não possui, o ambiente está acima do ordinário. Tal fato pode ser
notado pelo uso de adjetivos tais como “deslumbrante”, “bela”, “finíssima”, mas não apenas por esses
recursos.
As duas estátuas representam o amor e a castidade e o narrador compara Aurélia com as deusas
do Olimpo. Os objetos ao redor expressam a própria pureza da personagem e lhe dão superioridade
moral. Sugere-se que, para uma pessoa tão nobre, até mesmo o ambiente é superlativo, mesmo que isso
custe a verossimilhança e o bom gosto.

Verossimilhança: essa palavra é muito importante para a crítica


literária. Um texto literário é ficcional, ou seja, ele não versa sobre
o que aconteceu, mas sobre o que poderia ter ocorrido. Apesar de
ser fruto da imaginação, o romance tenta recriar um ambiente ou
uma história que não poderia contrariar o espaço real ou o tempo
cronológico. Por exemplo, o uso de um narrador morto em
Memórias Póstumas de Brás Cubas é uma licença da
verossimilhança.

A escolha dos objetos que serão descritos não tem compromisso com o real, mas com o que eles
simbolizam. O tapete é azul-celeste, numa alusão à natureza tão cara aos românticos. Essa tonalidade se
contrapõe ao dourado das cortinas e estofados, cor relacionada à nobreza dos metais. Isso sem falar no
outro tapete de veludo azul com bordado de alcachofra dourada. O único compromisso do autor é com
a simbologia dos elementos descritos.
Na descrição de Eça de Queirós, os elementos não têm qualquer significado. Ao enumerar, o
narrador se mantém fiel à verossimilhança. O leitor deve ser convencido de que essa escada poderia ter
existido, dada a descrição exaustiva de pequenos detalhes.
Observe que não há transposição entre objeto e valores morais ou espirituais (uma escada não
representa algo como pureza, por exemplo). A materialidade dos objetos se impõe, portanto nada é
idealizado. Pelo contrário.
Vale, nesse ponto, uma observação sobre os tipos de adjetivos e os efeitos produzidos no texto.
Há atributos mais “objetivos” e outros “subjetivos”. Um vocábulo como “bem” ou “mal” reflete um
julgamento de quem emite a opinião (subjetivo). Já as palavras “branco”, “liso”, “rugoso” etc. são
independentes da vontade de quem descreve. Eça abusa desse expediente de objetividade. Além disso,

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Profa. Luana Signorelli

inclui adjetivos que revelam imperfeições em expressões como “casa amarelada”, “degraus gastos” e “luz
suja”.
Por fim, vale a pena destacar a escolha dos objetos a serem descritos. Ele faz questão de direcionar
o olhar do leitor para detalhes que depõem contra o item descrito. Há nódoas na parede, pó acumulado,
cal se despregando da parede etc.
Você deve estar percebendo, corujinha esperta, que o Realismo parece ser o oposto do
Romantismo. Vejamos o que escreveu sobre isso o maior nome do movimento em Portugal, Eça de
Queirós. (LOPES; SARAIVA, 1985).

"[O Realismo] É a negação da arte pela arte; é a proscrição do


convencional, do enfático e do piegas. É a abolição da retórica
considerada como arte de promover a comoção usando da
inchação do período, da epilepsia da palavra, da congestão do
tropos 'realismo'.
É a análise com o fito na verdade absoluta. – Por outro lado, o
Realismo é uma reacção contra o Romantismo: o Romantismo era
a apoteose do sentimento; – O Realismo é a anatomia do carácter.
É a crítica do homem. É a arte que nos pinta a nossos próprios olhos
– para condenar o que houver de mau na nossa sociedade."
Figura: Pixabay

ALMEIDA, Belmiro. Arrufos (1887). Disponível em: Ficheiro da Wikipedia.


Disponível em: https://tinyurl.com/y65wgvdy. Acesso em: 24 set. 2020.

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Pertencente ao Realismo, a obra de Belmiro Almeida caracteriza-se como uma falência da


instituição do casamento na classe burguesa. Percebe-se a indiferença do homem para com o sofrimento
da mulher, representado não só pelo semblante choroso dela, como também pela rosa caída no chão. O
adultério e o fatalismo eram temas comuns representados na arte realista do século XIX.

1.1 O contexto europeu

1840 1857
1848
Proudhon Gustave
Marx publica Flaubert
publica O que O Manifesto
éa publica
Comunista. Madame
propriedade
privada?..., Bovary,
marco do marco do
Socialismo. Realismo
Utópico. francês

Figura 1 – Referências da esquerda para a direita no sentido horário

O século XIX foi abalado por uma série de revoltas e de ideias que mudariam a cara da Europa. Os
conflitos refletiam a luta pela consolidação do poder da burguesia e a tensão entre proletários e
proprietários. Em 1815, Napoleão é derrotado em Waterloo. No mesmo ano, os embaixadores de diversos
países do continente se reúnem para redefinir as fronteiras entre as nações. Na prática, isso significou o
retorno da monarquia ao poder.
Em 1848, Paris assiste a uma nova revolta em moldes muito parecidos aos da Revolução Francesa.
A burguesia, descontente com o governo monárquico, alia-se aos operários de Paris. Essa revolta foi
vitoriosa para a rica classe social, mas não para o proletariado. Os operários organizam protestos que
serão violentamente reprimidos em junho de 1848.

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Profa. Luana Signorelli

Novamente, em 1871, a luta entre burguesia nacional e operários se repete na França. Os


proletários organizados tomam Paris e estabelecem um governo comunitário. A burguesia francesa,
assustada e incapaz de fazer frente aos rebelados, alia-se a um inimigo histórico, a Alemanha, e consegue
enfim vencer a guerra.
Nesse percurso histórico, a divisão entre duas classes com interesses contraditórios se torna
evidente. A “traição” da burguesia significa uma pá de cal nos anseios de uma sociedade mais justa, ideário
promovido desde a Revolução Francesa.
O impacto no pensamento político é grande com consequências nos movimentos sociais. Os dois
grandes teóricos do socialismo viveram no século XIX. Pierre-Joseph Proudhon (1809-1865), filósofo
francês que, juntamente com outros escritores, lançou as bases do Anarquismo e do Socialismo Utópico
(segundo Marx), escreveu O que é a propriedade? Pesquisa sobre o princípio do Direito e do governo. O
pensador defendia a tese de que a propriedade é roubo. Imagine como a obra foi recebida pelas elites do
mundo inteiro…
O outro pensador, Karl Marx (1818-1883), filósofo, sociólogo,
jornalista e revolucionário, escreveu O capital e O manifesto do
Partido Comunista, um tratado analítico-panfletário que tinha o
propósito de preparar as massas para a Revolução. Defendeu o
“Socialismo Científico” para se opor às ideias de Proudhon que, para
ele, eram ingênuas.
Toda essa agitação social e política migra para a cultura.
Escritores e artistas começam a representar a classe dos
trabalhadores que se faz notar (como tema no quadro de Gustave
Coubert, por exemplo). Além disso, esse gosto amargo de traição,
resíduo de 1848 e 1871, tinge a forma como a burguesia se vê. O
escritor, ele próprio filho dessa classe social, registra o cotidiano
medíocre e hipócrita dessa nova ordem. Ao simplesmente registrar
com senso crítico agudo, sem idealizar, como faziam os românticos, os
escritores exibem a vergonha de uma nova era.

Então, o escritor era um burguês e falava


mal da própria burguesia?

Lembra-se da aula anterior que mencionou


a grande ambiguidade da sociedade burguesa? Ela
prometeu ideais libertários e precisa deles, mas não
consegue cumpri-los. Dessa ambiguidade surgem
os movimentos de ideias e movimentos literários.
No Realismo essa crítica é mais cortante.

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E de onde vinham as ideias que levaram operários e artistas a se revoltarem?

É isso o que iremos estudar agora.

1.2 Teorias do fim do século XIX

No final do século XVIII, a Revolução Industrial muda as relações de trabalho. A introdução de


máquinas como o tear mecânico, a fiandeira e a lançadeira móvel, entre outros equipamentos, aumenta
a produtividade. Tais engenhocas, produtos de novas técnicas baseadas na racionalização dos processos
de produção, aumentam a riqueza de forma exponencial.
A ciência/tecnologia deixa de ser área de interesse de diletantes empenhados em discutir o
funcionamento do mundo para fazer parte do cotidiano. O conhecimento científico avança e impacta a
saúde, a indústria, a agricultura e as comunicações. Foi possível usar conceitos de física para o uso
controlado dos raios X, para a produção de eletricidade e para a invenção do telefone, só para citar alguns
exemplos.
O método utilizado pela ciência mostra-se tão eficiente que
surge como tábua de salvação para a resolução de qualquer problema
Fonte: Pixabay.

enfrentado pelo ser humano. Até para problemas políticos?


Problemas sociais? Problemas de relacionamento?
Vários pensadores acreditavam que sim.
Se fosse possível encontrar as causas da ação humana e criar
leis e teorias sobre esse mundo à parte da realidade física, seria viável
organizar a sociedade de uma maneira mais eficiente. Essa ideia levou
os pensadores a tentar estender o método científico para áreas aparentemente resistentes a esse artifício.
É no século XIX que são lançadas as sementes da nova historiografia e geografia, da psicologia e da
sociologia.

A esse otimismo exagerado com o método científico e à tentativa de submeter outras áreas da vida
humana a essa mesma lógica denominaremos cientificismo. Por conta do cenário de pandemia
global devido à Covid-19, é muito provável que este tema seja explorado de alguma forma.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 10


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O primeiro ímpeto dessa tendência se traduz em várias teorias filosóficas: positivismo,


darwinismo, evolucionismo, determinismo e o racismo científico.

TEORIAS DO SÉCULO XIX

POSITIVISMO
• Sistema criado por Auguste Comte (1798-1857). Considerada a ciência como modelo
por excelência do conhecimento humano em detrimento das especulações metafísicas
(místicas) ou teológicas. Tudo poderia e deveria ser explicado e organizado pelo
conhecimento científico.

EVOLUCIONISMO
• Conjunto de doutrinas que dão sustentação à tese positivista, pois considera a
concepção filosófica evolucionista – o desenvolvimento inevitável do real em direção a
estados mais aperfeiçoados – um modelo explicativo fundamental para o incessante
fluxo de transformação do mundo natural, biológico e espiritual (Dicionário Houaiss
Eletrônico/modificado).

DARWINISMO
• Aplicação não justificada cientificamente do conceito de seleção natural de Charles
Robert Darwin (1809-1882) na compreensão das relações humanas. A análise social é
feita pela ótica da luta e da lei do mais forte ou do mais apto. Percebe-se a
solidariedade como um artifício social que mascara os conflitos.

DETERMINISMO
• Princípio segundo o qual os fenômenos, inclusive sociais, estão ligados entre si por
rígidas relações de causalidade e leis universais que excluem o acaso, a
indeterminação e a liberdade. Segundo essa ideia, o homem é determinado pela raça,
pela história e pelo ambiente. Como se o lema fosse: “Diga-me a que raça você
pertence, onde você mora e sua época histórica e direi quem você é”.

RACISMO CIENTÍFICO OU BIOLÓGICO


• É a crença pseudocientífica de que existem evidências que justificam a
superioridade de uma raça sobre outra. Usando como critério o desenvolvimento
da escrita e da ciência, ou europeus acreditavam que a raça branca era superior; a
amarela, intermediária, e a negra e a indígena, inferiores, por não terem nem
escrita nem técnicas sofisticadas.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 11


Profa. Luana Signorelli

Nesse contexto, os escritores tentam dar um outro status à Literatura. Não se trata de um texto
ficcional para entreter leitoras, mas uma narrativa com forte carga de verossimilhança capaz de provar as
ideias cientificistas da época. Torna-se comum, nesse período, o gênero romance de tese, no qual o autor
cria uma história muito próxima da realidade para provar uma opinião.

A literatura deve ser uma espécie de documento da sociedade,


deve fazer refletir sobre a realidade social

CIENTIFICISMO ESTILO /TEMAS

Incluir no texto literário a


visão: Observação da realidade,
descricionismo, análise
Positivista, determinista, psicológica
darwinista

1.3 Características gerais do Realismo

Vamos resumir o que já vimos?

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 12


Profa. Luana Signorelli

O QUE É OBJETIVIDADE E COMO IDENTIFICÁ-LA NO TEXTO?

Objetividade se refere a um estilo pautado por recursos linguísticos cujos efeitos levam o leitor a
acreditar que aquela opinião tem caráter geral, e não particular.
Objetividade vem da palavra “objeto” e se refere à forma analítica e impessoal como tratamos
determinado assunto. Se tivermos de fazer um texto sobre, por exemplo, uma cadeira, adotaremos uma
linguagem com poucos adjetivos valorativos, poucos advérbios e faremos uma enumeração de traços que
não despertaria qualquer emoção. Essa situação mudaria de figura se alguém pedisse que você
descrevesse a cadeira onde seu avô, de quem você tem muitas saudades, se sentava regularmente. Um
jornalista que cobre uma tragédia, por mais emocionado que esteja, deve adequar a linguagem para que
ela seja informativa, não emotiva.
Observe o exemplo abaixo. A linguagem científica com seus termos precisos, uso da terceira
pessoa e referencialidade cria a ilusão de uma verdade inquestionável. A poesia vai em outra direção. O
poeta se vale da primeira pessoa, utiliza figuras de linguagem, pontuação expressiva para criar a ilusão de
que se expressa uma emoção, mesmo que o assunto seja astronomia.

OBJETIVIDADE SUBJETIVIDADE
“Ouvir Estrelas”
POR QUE AS ESTRELAS TÊM CORES DIFERENTES?
“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo,
PETRÔNIO DE TILIO NETO, 12 ANOS, JAÚ (SP).
Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto,
(...)
Que, para ouvi-las, muitas vezes desperto
RAMIRO DE LA REZA, DO OBSERVATÓRIO
E abro as janelas, pálido de espanto...
NACIONAL DO RIO DE JANEIRO (RJ), RESPONDE:
E conversamos toda a noite,
AS ESTRELAS TÊM CORES DIFERENTES PORQUE TÊM
enquanto a Via-Láctea, como um pálio aberto,
TEMPERATURAS DIFERENTES. AS CORES SÃO
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
DEFINIDAS APENAS PELAS EMISSÕES NA CHAMADA
Inda as procuro pelo céu deserto.
FAIXA ÓPTICA, A REGIÃO DO ESPECTRO QUE O OLHO
HUMANO, NU OU COM LUNETA, É CAPAZ DE
Direis agora: “Tresloucado amigo!
CAPTAR. O OLHO HUMANO NÃO VÊ, POR EXEMPLO,
Que conversas com elas? Que sentido
NEM NO INFRAVERMELHO NEM NO ULTRAVIOLETA.
Tem o que dizem, quando estão contigo?”
DA FAIXA VISÍVEL, SUA EFICIÊNCIA É MAIOR NO
AMARELO.
E eu vos direi: “Amai para entendê-las!
FOLHA DE SÃO PAULO – CADERNO MAIS!
Pois só quem ama pode ter ouvido
01/08/93.
Capaz de ouvir e de entender estrelas”.

O que você vai encontrar no movimento do Realismo?

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 13


Profa. Luana Signorelli

Crítica à burguesia, à família, ao casamento, à Igreja e ao clero

Realce aos defeitos e


Combate à idealização romântica
imperfeições

Personagens complexas
Visão objetiva da Descritivismo;
(esféricas): profundidade
realidade verossimilhança
psicológica.

1.4 Realismo versus Naturalismo


Assim como no Romantismo ocorreu uma vertente exagerada em relação aos pressupostos do
movimento, no Realismo acontece algo parecido a partir de dois autores que dão respostas diferentes
aos desafios impostos pelo século XIX.
Gustave Flaubert (1821-1880), escritor francês, dá início ao Realismo com a publicação de
Madame Bovary (1857). O público, acostumado às histórias adocicadas de heroínas virgens que
finalmente encontravam o amor verdadeiro, espantou-se com a narrativa de uma mulher já casada e fútil,
que se entregava a um amante que passa pela cidade onde mora. A história parecia cotidiana demais e
imoral demais para a sensibilidade da época. Além disso, os leitores se irritaram com a descrição quase
fotográfica das cenas.
O romance foi proibido e Flaubert foi acusado de
“imoralidade”. Os críticos perceberam que se expunha a hipocrisia
burguesa no coração da própria classe, a família, e acusavam o autor
de investir contra sua própria classe social. Essa é a vertente que
define o Realismo.
Já o francês Émile Zola (1840-1902) tomou outro caminho. Ele
não foi apenas um escritor, mas também jornalista e importante
crítico político. Em 1866, publica Thérèse Raquin, obra em que mistura
ficção com as ideias cientificistas, compondo aquilo que se
convencionou chamar de “romance de tese”, um gênero ficcional cuja
histórica tem a finalidade de revelar uma verdade social.
Mas é com Germinal que o autor consolida essa nova vertente
que ficará conhecida como Naturalismo. O protagonista do romance
não é exatamente um herói solitário, mas um personagem coletivo, os
trabalhadores de uma mina de carvão que, motivados pelas péssimas
Émile Zola condições em que viviam e pelos ideais socialistas, revoltam-se e
organizam uma greve geral. A manifestação é reprimida com violência.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 14


Profa. Luana Signorelli

Para escrever a obra, Zola passou dois meses trabalhando em uma mina de carvão. O Naturalismo surge
como uma grande novidade temática (inclusive no que diz respeito à aproximação com a ciência).
Além disso, Zola se vale de uma linguagem sem rodeios, utiliza termos considerados “não
literários” e inclui algumas palavras próprias das ciências naturais. Para se ter uma ideia, seguem dois
fragmentos textuais do Naturalismo: um do próprio Zola (Germinal) e outro de Aluísio Azevedo (O
homem).

TEXTO I
“o poço engolia magotes de vinte e de trinta homens, e com tal facilidade que nem
parecia senti-los pela goela.”
“[...] a corda, para dar o sinal embaixo, era puxada quatro vezes, convenção que queria
dizer 'aí vai carne' e que avisava da descida desse carregamento de carne humana.”

TEXTO II
“Pobre velha! Consumia-se numa infernal complicação de moléstias; eram intestinos, era
cabeça, eram pernas, era o diabo! Parecia uma decomposição em vida: fedia como coisa
podre! Já se não alimentava pela boca; os seus gemidos eram arrotos de ovo choco, e os
humores que ela expelia por toda a parte do corpo empesteavam a casa inteira. […]”

Perceberam como o personagem, nesses casos, não têm qualquer especialidade? A tese dos
naturalistas é a de que o homem não se diferencia do animal. Como expressar isso?

Pense rápido, qual a diferença entre homem e animal? A racionalidade. Tire a razão, resta o quê?
O corpo. Eles irão focalizar o corpo usando os seguintes recursos:
Comparações entre homens e animais (zoomorfismo). Exemplo: “daquele lameiro, e multiplicar-
se como larvas no esterco” (O cortiço, Aluísio Azevedo).
 Destacar aspectos fisiológicos que nos igualam aos animais, o cheiro, o hálito, o suor etc.
Exemplo: “os seus gemidos eram arrotos de ovo choco”.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 15


Profa. Luana Signorelli

 Focalizar comportamentos movidos pelo instinto. Exemplo: “Não era a inteligência nem a razão
o que lhe apontava o perigo, mas o instinto, o faro sutil e desconfiado de toda a fêmea pelas outras,
quando sente o seu ninho exposto.”

REALISMO NATURALISMO
Origem: França (1857) Origem: França (1867)
Gustave Flaubert – Madame Bovary Émile Zola – Thérèse Raquin
Representava desvios sociais e sexuais,
Representava desvios morais.
mazelas.
Romance documental, fotografa a realidade para Romance experimental, que pretende apoiar-
dar impressão de vida real, psicologismo. se na experimentação científica e numa tese,
Retrato da alta burguesia da segunda metade do no determinismo, no evolucionismo, no
século XIX. homem é fruto do meio.

Impassibilidade. Narrador em um ângulo neutro,


Arte engajada, preocupações políticas e
não há interesse em agradar ao público, mas sim
sociais.
em retratar a realidade tal qual ela é.

Detém-se nos aspectos mais torpes e


Seleciona os temas, tem aspirações estéticas.
degradantes.
Centra-se nos aspectos externos: atos, gestos,
Reproduz a realidade exterior bem como a
ambientes, personagens e seus instintos,
interior, por meio da análise psicológica.
animalização, zoomorfismo.
Volta-se para a psicologia, para o indivíduo.
Volta-se para o coletivo, para a biologia, a
Nomes: Dom Casmurro, Quincas Borba,
patologia, centra-se mais no social.
Memórias póstumas de Brás Cubas.
Retrata e critica as classes dominantes, a alta Espelha camadas inferiores: o proletariado, os
burguesia. marginais, o povão.
É direto na interpretação, expõe conclusões,
É indireto na interpretação, o leitor tira as suas
cabendo ao leitor aceitá-las ou discuti-las:
conclusões: sutil, sugere.
grotesco, mostra.
O estilo é relegado ao segundo plano; no
Grande preocupação com o estilo.
primeiro, há denúncia.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 16


Profa. Luana Signorelli

O germinal (1885)
CATEGORIA DEFINIÇÃO
ESTRUTURA Romance dividido em VII partes.
Étienne Lantier; família Maheu (casal e 7 filhos); Cathérine; Chaval; sr.
PERSONAGENS
Gregóire, entre outros.
TEMPO A história se passa em 1865.
ESPAÇO Interior da França, na mina de carvão Voreux.
Étienne está à procura de emprego e ele consegue trabalho na mina
como quebrador de carvão. Étienne se aproxima de Cathérine e Chaval
ENREDO sente ciúmes. Étienne se reúne com seus companheiros e discutem ideias
socialistas, ao passo que burgueses como o acionista sr. Gregóire vivem
uma vida de luxo.
Os mineiros vivem numa condição bastante precária de trabalho e suas
reivindicações não são ouvidas. Um acidente – a morte de Jeanlin, um
CONFLITO dos filhos de Maheu – desencadeia uma onda frenética de preocupação.
Sua raiva também é motivada pela injustiça, pois os Hennebeau
recebem os lucros.
Eclode então uma greve, que se torna geral. Grande parte das minas é
CLÍMAX fechada. Os trabalhadores são assolados por problemas como miséria,
fome, doenças, acidentes de trabalho e frio no inverno.
A companhia intima os trabalhadores a voltarem para o trabalho,
enquanto festivamente Gregóire celebra seu noivado com Cécilie. A
obra é repleta de contradições irônicas. Uma enchente invade as minas
e muitos morrem, como Cathérine. Os próprios grevistas se desentendem,
DESFECHO
e Étienne acaba matando Chaval. Étienne abandona esse ambiente
carregado de más lembranças, mas se encaminha para Paris, onde se
encontrará com mais socialistas. A obra se chama Germinal, porque no
fim permanece esse vislumbre de esperança.

Filme: Germinal (1993).


Sinopse: Durante o Século XIX, os trabalhadores franceses eram
explorados pela aristocracia burguesa, que dava condições
miseráveis para seus empregados. Em uma cidade francesa, os
mineradores de uma grande mineradora, decidem realizar uma
greve e se rebelam contra seus chefes, causando o caos. Fonte:
https://www.adorocinema.com/filmes/filme-30245/. Acesso em:
05 jan. 2023. Dica da profa: há também uma série de 2021.

Fonte do cartaz: Imdb.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 17


Profa. Luana Signorelli

Madame Bovary (1856)


CATEGORIA DEFINIÇÃO
ESTRUTURA Romance em XI capítulos.
Charles e Emma Bovary; filha do casal: Berta; Rodolphe; Léon; Héloise
PERSONAGENS
Dubac (primeira esposa de Charles).
Século XIX. Menção a 1835, quando foi construída uma estrada para se
TEMPO
chegar à vila de Yonville-l’Abbaye.
ESPAÇO França (Tostes; Yonville-l’Abbaye).
Charles se casara com uma boa moça de família, Héloise, mas se torna
repentinamente viúvo. Ele se casa pela segunda vez com Emma, uma
ENREDO moça órfã de convento. Emma se casou com um médico de província, mas
se sente entediada e não vê sentido na vida. Desde jovem, lê romances
românticos e idealiza com uma vida que não pode ter.
Emma começa a ter casos com homens. A primeira traição é com
CONFLITO
Rodolphe e a segunda com Léon.
Junto com seus dramas amorosos, depois de ter sido abandonada pelos
CLÍMAX
dois amantes ela ainda se viu atolada em dívidas.
Profundamente deprimida, Emma Bovary se suicida, tomando arsênico.
DESFECHO Tal livro foi tão responsável por abalar os ânimos da época que a
tendência insatisfatória e idealizadora foi chamada de bovarismo.

Gustave Flaubert (1821-1880) é um escritor realista francês. Foi ele quem


introduziu o movimento na França, a partir da publicação de "Madame
Bovary" (ainda em dezembro de 1856), o que escandalizou a população.
Ao ser indagado sobre a personagem, se ela seria inspirada na vida real,
ele responde ironicamente: "Madame Bovary c'est moi!" (Madame
Bovary sou eu). Além disso, também se destaca por obras como "A
educação sentimental (1869) e "Salambô" (1862).

Madame Bovary (2014)


Numa cidade de província na França, Emma vive com seu marido
Charles, um médico modesto que vivia com meios parcos e se contentava
com a sua vida simples numa cidade pacata. Porém, Emma alimentava
sonhos de grandeza, era insatisfeita e queria sempre mais. Essas suas
pretensões a levaram a se envolver em relacionamentos adúlteros,
primeiro com Rodolphe e depois com Leon. O fato é que mesmo depois
disso ela continua insatisfeita e infeliz. Nesse meio termo, ela arruinava o
patrimônio do marido, comprando roupas chiques e frequentando eventos
luxuosos; em suma, contraindo dívidas. O seu sentimento de sufocamento fez com que ela tirasse
a sua própria vida envenenando-se.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 18


Profa. Luana Signorelli

Eis abaixo outros conceitos quanto à Literatura do período que podem lhes ajudar.

LIBERDADE DETERMINISMO

OUTRORA UMA NOVELA ROMÂNTICA, EM LUGAR DE Hoje o romance estuda-o na sua


ESTUDAR O HOMEM, INVENTAVA-O. realidade social.

Hoje, analisa-se a posteriori, por


OUTRORA NO DRAMA, NO ROMANCE, CONCEBIA-SE
processos tão exatos como os da própria
O JOGO DAS PAIXÕES A PRIORI.
fisiologia.

O Romantismo partia do princípio (a priori) de que o homem era livre e, nas narrativas,
os protagonistas tinham a liberdade de inventar desejos que poderiam ser satisfeitos
pela força de vontade; o Realismo partia da análise posterior (a posteriori), sob a
perspectiva de que o homem não tinha liberdade e de que o personagem simplesmente
seguia as determinações do seu instinto ou de seu meio social.

Fatalismo. Doutrina segundo a qual os acontecimentos são


fixados com antecedência pelo destino; atitude moral ou
intelectual segundo a qual tudo acontece porque tem de
acontecer, sem que nada possa modificar o rumo dos
acontecimentos; atitude dos que acreditam nessas ideias;
doutrina filosófica que propensa um rígido determino,
equivalente à curva mítica ou religiosa na inexorabilidade do
destino (dicionário Houaiss). Exemplo: no romance Anna
Kariênina do realista russo Liév Tolstói, a protagonista
presencia no início do livro uma pessoa que morreu sobre os
trilhos do trem, sendo que ao fim do romance ela decide se
suicidar da mesma maneira.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 19


Profa. Luana Signorelli

1.5 Quadro sinóptico

REALISMO

• Enfrentamento da realidade (Realismo) e não fuga da realidade (Romantismo)


• Análise (Realismo) e não fantasia (Romantismo)
• Racionalidade (Realismo) e não sentimentalismo (Romantismo)
• Relações humanas baseadas no interesse financeiro (Realismo) e não relações
humanas baseadas no idealismo (Romantismo)
• Adultério (Realismo) e não amor eterno (Romantismo)

NATURALISMO

• Mistura entre ficção e cientificismo (Positivismo; Darwinismo; Determinismo)


• Temas: agrupamentos sociais, comportamentos pautados pelos instintos (violência,
adultério, homossexualidade).
• Forma: linguagem simples, agressiva, às vezes chula; incorporação de termos
cientificistas; zoomorfismo; destaque a aspectos fisiológicos.
• Romance de tese.

2.0 Realismo e Naturalismo em Portugal

QUESTÕES RELEVANTES/CONSEQUÊNCIAS

 1865: Questão Coimbrã.


 1915: Publicação da Revista Orpheu → Modernismo.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 20


Profa. Luana Signorelli

1850-1864 - Linhas Fundação Ultimato Bancarrota


Revolução
Férreas/ Interligação do Partido Britânico/ do Estado
de Setembro
com a Europa Socialista Crise português
financeira

1836 1871 1875 1890 1891


1814

Conferências do
Casino Lisbonense

Se há duas palavras que podem definir a segunda metade do século XX para os portugueses, estas
palavras são “crise” e “humilhação”. Depois da perda do Brasil como colônia, Portugal não conseguiu mais
se estabilizar. A partir do momento em que a Monarquia Constitucional se consolida no país, uma questão
parece assombrar os intelectuais lusitanos: como fazer para tirar o país do atraso em que ele se encontra?
Essa questão se tornará ainda mais contundente pelo fato de que Portugal, finalmente, se ligará
por via férrea a Paris. A circulação física de pessoas leva à circulação de ideias. Desembarcam, no solo de
Camões, todas as vertentes do cientificismo que encontrarão nas mentes dos jovens de Coimbra uma boa
acolhida.
A pobreza grassa no país. A maior fonte de renda continua a ser o Brasil – imigrantes que partem
para a ex-colônia fazem remessas generosas de dinheiro. A fundação do partido comunista demonstra a
influência estrangeira e a existência de um movimento organizado em torno do operariado ou do
campesinato.
Em 1890, o Reino Unido exige a retirada imediata das forças militares portuguesas da região
compreendida entre Angola e Moçambique, na África. Portugal, sem condições de resistir, cede aos
caprichos ingleses sem sequer tentar uma negociação. A antiga potência marítima teve de renunciar às
suas pretensões, de forma humilhante.
Some-se a isso a bancarrota financeira de 1891 e você entenderá o pessimismo e o ponto de vista
crítico que irão pairar sobre o país.

2.1 A questão coimbrã


A situação de Portugal era a seguinte: diante de um país que dormia em berço esplêndido, a
Universidade de Coimbra se mantinha como polo de divulgação das ideias gestadas na longínqua
“Europa”, que já estava na segunda Revolução Industrial. Os jovens que circulavam nesse ambiente
acadêmico não se conformavam com a pasmaceira lusitana.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 21


Profa. Luana Signorelli

A questão coimbrã representa, no plano cultural, esse grito de alerta. Em resumo, a questão
opunha os poetas românticos com sua literatura conformista aos jovens coimbrãos que defendiam um
caráter revolucionário na literatura.

A Questão Coimbrã em 4 lances

Antero de Quental (1842-1891), jovem


poeta, publica o livro Odes Modernas,
no qual defende que a poesia deve ser
revolucionária.
Feliciano de Castilho (1800-1875),
representante da 1ª geração romântica
e defensor da arte espiritual do
Antero de Quental escreve uma carta Romantismo, ao escrever o prefácio do
aberta que circula em Coimbra e livro de Pinheiro Chagas, critica os
Lisboa. Sob o título “bom senso e bom jovens de Coimbra.
gosto”, ele ataca diretamente Castilho:
“A futilidade num velho desgosta-me
tanto como a gravidade numa criança.
V. ex.ª precisa menos cincoenta annos
de edade, ou então mais cincoenta de
reflexão.” Pinheiro Chagas (1842-1895), poeta
v romântico protegido de Feliciano de
Castilho, responde acusando Antero de
um materialismo ambíguo.

Fonte das imagens: Pixabay.

Essa polêmica, apesar de ser restrita aos círculos intelectuais, levou à difusão dos ideais realistas.
O movimento se consolidará em 1871, no que ficou conhecido como Conferências do Casino Lisbonense.
Antero de Quental, influenciado por Proudhon, propôs a um grupo de intelectuais que discutissem as
novas ideias científicas e a situação de Portugal.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 22


Profa. Luana Signorelli

Entre as conferências, algumas chamavam atenção até pelo título, “Causas da decadência dos
povos peninsulares”, “Os historiadores críticos de Jesus” e “O socialismo”. Somente cinco das dez
programadas ocorreram, pois as últimas foram proibidas a pretexto de que as ideias ali discutidas
atacavam a religião e as instituições do Estado.
Em Portugal, consideram-se dois grandes nomes do movimento: Antero de Quental e Eça de
Queirós. O primeiro é um grande representante da poesia realista. O segundo é considerado um dos
maiores romancistas em Língua Portuguesa. Os dois nos dão, em alguma medida, uma ideia das mudanças
pelas quais passavam a cultura e a Literatura no final do século XIX.

2.2 Antero de Quental


Antero Tarquínio de Quental (1842-1891) teve uma trajetória intensa e trágica. Nascido de uma
família abastada da região dos Açores, pôde, aos 16 anos, ingressar no curso de direito da Universidade
de Coimbra. Na época, Coimbra fervia com as ideias cientificistas que circulavam nos grandes centros
europeus e, ali, a tradição religiosa do jovem foi posta à prova.
Logo, não somente cedeu às novas ideias do século
como também se tornou um dos líderes dos estudantes. Em
1865, Antero edita “Odes Modernas”, livro no qual ele rompe
com o Romantismo e defende uma poesia libertária e
combatente. Assim começou o episódio da Questão Coimbrã,
como já mencionado anteriormente.
Entra em contato com as ideias socialistas, aprende
tipografia e torna-se operário. Entre 1866 e 1868 vivencia a
experiência de ser operário em Paris. Volta a Lisboa e começa
intensa atividade de militância. Inicialmente, participa do
círculo intelectual que promoveu as conferências do Casino
Lisbonense em 1871. Foi um dos fundadores do Partido
Socialista Português. Colaborou com diversos periódicos,
muitos deles de tendências socialistas.
Em 1873, herda uma quantia que lhe permite viver de
rendimentos. Contrai tuberculose. Em 1881, retira-se para
Vila do Conde, onde vive um pouco mais sossegado. Ainda se
envolve com política, pois participa da Liga Patriótica do
Norte, em resposta ao ultimato inglês em 1890. Em 1891, o poeta já dava sinais de depressão profunda
e, no mesmo ano, comete suicídio.
Essa trajetória bastante movimentada está expressa na sua poesia. Nunca abandonou de fato o
ímpeto religioso por uma busca de algo que fosse além do trivial e do cotidiano. Percebem-se alguns
temas que sucedem na poesia.
 Inicialmente, desenvolve uma poesia romântica de cunho religioso;
na fase de Coimbra, torna-se combativo, defende a razão e parece vislumbrar uma época de
mudanças;
 na fase final, o poeta assimila certo pessimismo influenciado pela filosofia do budismo.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 23


Profa. Luana Signorelli

Além dessas fases, é possível fazer outra classificação a partir das poesias do poeta. Ele oscila entre
o otimismo, que se reflete no uso de expressões que se referem à luz e à luminosidade, e o pessimismo,
marcado pela escuridão.
Essa força de dissolução que se percebe nos temas caros ao poeta encontra contraponto na forma:
Antero de Quental foi um dos maiores sonetistas em Língua Portuguesa. A fragmentação interna do poeta
parece necessitar de uma forma que dê alguma permanência fincada na tradição literária.
Para se ter uma ideia da produção de Antero, seguem-se dois sonetos. No primeiro, pode-se
perceber a fase combativa, luminosa, na qual o poeta defendia que as ideias poderiam ser guias para os
homens. No segundo, predomina o pessimismo existencial.

Força é pois ir buscar outro caminho!


Lançar o arco de outra nova ponte
Por onde a alma passe — e um alto monte
Aonde se abre à luz o nosso ninho.

Se nos negam aqui o pão e o vinho,


Avante! é largo, imenso esse horizonte...
Não, não se fecha o mundo! e além, defronte,
E em toda a parte há luz, vida e carinho!

Avante! os mortos ficarão sepultos...


Mas os vivos que sigam, sacudindo
Como o pó da estrada os velhos cultos!

Doce e brando era o seio de Jesus...


Que importa? havemos de passar, seguindo,
Se além do seio D’Ele houver mais luz!

Esse soneto já abre a primeira estrofe com a tese do poeta: “é preciso buscar outro caminho!”.
Parece uma conclamação à coletividade que, aliás, aparece ao final da primeira estrofe, quando o poeta
usa o pronome “nosso”, ou seja, na primeira pessoa do plural.
Essa necessidade não é vista como impossível. O eu lírico incentiva seus leitores “avante” e, por
fim, faz uma comparação com a perspectiva religiosa “doce e brando era o seio de Jesus...”. Na
comparação, o além D’Ele promete ser melhor, pois haverá mais luz.
Nesse poema, Antero parece comungar com as ideias filosóficas correntes de que a ciência e o
conhecimento indicavam um avanço progressista das sociedades. A religião fora uma fase, para além da
fé, haveria a ciência e um mundo melhor a ser buscado. Nesse texto não se observa traço de pessimismo.
O tom é totalmente outro no poema que se segue:

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 24


Profa. Luana Signorelli

No Turbilhão
(A Jaime Batalha Reis)

No meu sonho desfilam as visões,


Espectros dos meus próprios pensamentos,
Como um bando levado pelos ventos,
Arrebatado em vastos turbilhões...
N'uma espiral, de estranhas contorsões,
E d'onde saem gritos e lamentos,
Vejo-os passar, em grupos nevoentos,
Distingo-lhes, a espaços, as feições...

— Fantasmas de mim mesmo e da minha alma,


Que me fitais com formidável calma,
Levados na onda turva do escarcéu,

Quem sois vós, meus irmãos e meus algozes? Fonte: Pixabay.


Quem sois, visões misérrimas e atrozes?
Ai de mim! ai de mim! e quem sou eu?!...

Nesse poema, que manifesta quase uma análise da subjetividade, o eu lírico se vale do sonho para
mostrar sua fragmentação. O eu dividido se reflete em espectros de seus próprios pensamentos. O
resultado disso são lamentos e gritos. Essas imagens, fantasmas do próprio poeta, surgem com algozes.
O poema é inconclusivo. O poeta não reconhece seus fantasmas e não reconhece a si mesmo.
As duas obras mais famosas publicadas em vida são Odes Modernas e Sonetos Completos.

2.3 Eça de Queirós


Eça de Queirós (1845-1900) é considerado um dos grandes
escritores em língua portuguesa. Mudou os rumos da Literatura e da
própria língua portuguesa ao adotar um estilo mais enxuto e trazer para
a prosa literária a linguagem próxima à do jornalismo. Com suas obras,
conquistou fama internacional em vida.
José Maria da Eça de Queirós nasceu em Póvoa do Varzim, em
1845, e morreu na França, em 1900. Chama a atenção em sua biografia o
fato de seus pais só terem se casado quando ele tinha quase 4 anos. O
fato em si aponta para uma família na qual as tradições não eram levadas
tão a sério, o que, sem dúvida, deve ter colaborado para que ele se mostrasse sempre desconfiado diante
das tradições.
Na adolescência foi para um internato e, depois, para Coimbra, onde se formou em Direito. Na
cidade universitária conheceu Antero de Quental, que o influenciou na sua verve crítica. Escreveu artigos
que foram publicados depois com o título de Prosas Bárbaras.

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Profa. Luana Signorelli

Em 1866, mudou-se para Lisboa, onde exerceu advocacia e jornalismo. Em 1871, participou das
Conferências do Casino Lisbonense. Mais tarde, em 1870, começa sua carreira pública, sendo nomeado
administrador do Concelho de Leiria. Três anos depois, ingressou na carreira diplomática. Casou-se aos
40 anos e teve 4 filhos. Morreu em Neuilly-Sur-Seine, cidade próxima de Paris.
A imagem que ficou para a história é a de um escritor combativo, crítico cortante, irônico,
acertando, com suas opiniões, “o homem de bem”, as instituições falidas e corrompidas. Através da
Literatura, ele ambicionava traçar um retrato da sociedade portuguesa sem condescendência, deixando
as ossadas à mostra para a repugnância de quem observava a cena. Há certo pessimismo e fastio com os
homens da sua época, que será parcialmente reduzido com o passar dos anos, deixando despontar uma
ponta de esperança somente nos seus romances finais.
Vale destacar e relembrar que os críticos dividem sua produção literária em 3 fases:

• Prosas Bárbaras: textos influenciados pelos


1ª fase românticos da terceira fase (idealização social)
• Traços românticos

• O Crime do Padre Amaro (1874); Primo Basílio


(1878) e Os Maias (1888), obras
realistas/naturalistas (crítica, patologia social,
2ª fase hipocrisia)
• Crítica das instituições portuguesas: Igreja,
pequena burguesia (classe média), elite,
pessimismo;

• A Ilustre Casa de Ramires (1900), A Cidade e as


Serras (1901, obra póstuma), obras pós-
3ª fase realistas (valorização de Portugal, caráter mais
alegórico do que realista)
• Romance de tese, exaltação da simplicidade
portuguesa, esperança.

Na última fase, Eça de Queirós parece se reconciliar com os homens. Em A cidade e as serras, o
personagem principal, Jacinto (o próprio Eça?), cansado da civilização e dos cientificismos, encontra paz
para sua alma junto ao povo simples das serras portuguesas.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 26


Profa. Luana Signorelli

Nessa obra, ele abandona a crítica mordaz e cria um enredo alegórico. Jacinto é o próprio Portugal
e há nesse enredo uma lição para os “homens de bem” perdidos de sua época. Quase chega a ser uma
fábula moderna. Algo semelhante ocorre em A ilustre casa de Ramires.

CARACTERÍSTICAS DO AUTOR

DESCRITIVISMO

IRONIA

LINGUAGEM OBJETIVA

ANÁLISE DE CARÁTER

Seguem algumas das obras mais importantes do autor.

 O primo Basílio
Romance publicado em 1877, retrata com bastante fidelidade a
sociedade portuguesa. O autor investe contra a classe média lusitana,
correndo o risco de construir personagens estereotipados.
Encontramos o “corno” típico, a mulher fútil, a amiga má companhia
Figura: Pixabay

etc. Desponta como personagem complexa a empregada, Juliana, que


desperta no leitor sentimentos de raiva, de pena e de compreensão.
A obra foi inspirada em Madame Bovary, e alguns críticos
insistem em ver nisso certa falta de criatividade. O romance lusitano,
assim como o francês, se estrutura em torno da traição e do adultério.
Eça, apesar da evidente imitação, transpõe o enredo para a realidade
portuguesa com uma maestria ímpar, até porque se vale de uma linguagem sem adjetivação romântica,
mudando a estilística da língua portuguesa na escrita.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 27


Profa. Luana Signorelli

FICHA DE LEITURA

• Narrador: terceira pessoa, onisciente e que se propõe a apresentar de forma fria e


distante os fatos que serão narrados; uso de discurso indireto.
• Tempo: não tem data definida, mas passa-se na segunda metade do século XIX; a
narrativa é linear.
• Espaço: o espaço predominante é Lisboa. Percebe-se a intenção de Eça em criticar
a sociedade lisboeta.

Enredo
O enredo tem como protagonista Luísa, esposa de Jorge, um engenheiro bem colocado em um
ministério. O cotidiano do casal é extremamente banal. O momento mais excitante dessa vida a dois
acontece quando Jorge recebe seus amigos.
O grupo é composto por D. Felicidade, que sente atração pelo Conselheiro Acácio, outro ilustre
integrante da turma, sujeito caricato e que vomita uma erudição vazia. Há ainda Ernestinho, um arremedo
de escritor romântico; Julião, um estudante de Medicina, crítico oportunista da sociedade portuguesa; e
Sebastião, único personagem que não é caricato e que se mantém leal ao drama humano seja de Luísa,
seja de Jorge.
Os amigos discutem sobre frivolidades como se fossem as coisas mais importantes do mundo.
Essas “palestras” entediantes ocupam uma parte significativa dos primeiros capítulos e são extremamente
irritantes para o leitor. É como se o leitor sentisse na pele o tédio desse estilo de vida.
Por motivos profissionais, Jorge vai ficar algumas semanas longe de Luísa, vai para o Alentejo. No
ínterim, Basílio, primo de Luísa, retorna de Paris para ficar algum tempo em Lisboa. Decide visitar a prima
e, como lhe parecesse bem apessoada, resolve seduzi-la.
A tarefa não foi difícil. Luísa era ávida leitora de romances românticos e sonhava com um amor
mais ardente e aventuroso. Eles trocam várias cartas e se encontram algumas vezes num quarto
denominado por Basílio de “Paraíso”.
Juliana, a empregada ressentida, recolhe algumas dessas cartas comprometedoras à espera do
momento certo para chantagear a patroa. Luísa não tem dinheiro nem ideia de como conseguir a quantia
exigida pela empregada. Para piorar, Jorge retorna e a relação com Basílio esfria.
Nesse contexto, ocorrem várias peripécias que têm como motivação a resolução do impasse. Luísa
tenta ter relações com um homem rico, mas não consegue; faz concessões a Juliana, começa a trabalhar
no lugar da empregada e, lógico, pede dinheiro a Basílio, que se retira de Portugal.
Desesperada, confia seu problema a Sebastião, que se prontifica a ajudá-la. Acompanhado de um
policial, o amigo de Jorge aborda a empregada com ameaças, momento em que ela, assustada, morre
devido a um aneurisma. Tudo parece estar resolvido.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 28


Profa. Luana Signorelli

Luísa, dada a situação estressante, adoece.


Jorge fica ao lado dela, cuidando da saúde da amada.
Nesse momento, o marido recebe uma carta de Paris.

Figura: Pixabay
Basílio escrevera se justificando por não poder ajudá-
la a esconder o adultério. Como ela está acamada,
Jorge abre a correspondência e descobre tudo. Luísa,
ao saber disso, entra em desespero e morre. Jorge se
muda. Basílio volta a Lisboa e, ao saber da morte da
amante, lamenta não ter mais diversão em Lisboa.

Interpretação
O romance pertence à segunda fase do autor. A configuração do círculo de amizades de Jorge é
muito importante para Eça, pois através deles o autor dispara farpas críticas aos lisboetas, que se
consideravam a camada pensante de Portugal.
Em alguma medida, o leitor de Eça reconheceria algum vício exposto na obra de forma irônica e
risível. Vamos aos tipos:
 Indivíduo moralista, arrogante e cheio de erudição fútil, mas que
tinha uma amante bem mais jovem (Conselheiro Acácio).
 Senhora moralista, mas que tinha desejos sexuais e vontades
imorais (D. Felicidade).
 Jovem ambicioso e inteligente capaz de tecer críticas próprias e
contundentes, mas que as usa como forma de ascensão social (Julião).
 Escritor romântico que finge criticar a sociedade quando, na
verdade, adapta o enredo para conseguir aplauso do público valendo-se de
uma narrativa óbvia (Ernestinho).
 Mulher casada que poderia fingir-se de esposa ideal, contanto
que pudesse manter seus relacionamentos adúlteros em segredo (Luísa).
Ao lado, cartaz do filme “O primo Basílio” (2007). Fonte: Imdb.

O primo Basílio (1878)

CATEGORIA DEFINIÇÃO
ESTRUTURA 26 (XVI) capítulos.
Luísa, Jorge, D. Felicidade, Conselheiro Acácio, Ernestinho, Basílio,
PERSONAGENS
Sebastião.
TEMPO Segunda metade do século XIX; a narrativa é linear.
ESPAÇO Predominantemente Lisboa.
Luísa é esposa de Jorge, um engenheiro bem colocado em um ministério.
ENREDO O cotidiano do casal é extremamente banal. O momento mais excitante
dessa vida a dois acontece quando Jorge recebe seus amigos.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 29


Profa. Luana Signorelli

Por motivos profissionais, Jorge vai ficar algumas semanas longe de


Luísa, vai para o Alentejo. No ínterim, Basílio, primo de Luísa, retorna de
CONFLITO Paris para ficar algum tempo em Lisboa. Decide visitar a prima e, como
lhe parecesse bem apessoada, resolve seduzi-la, o que não foi difícil –
ela era uma ávida leitora romântica.
Juliana, a empregada ressentida, recolhe algumas dessas cartas
comprometedoras à espera do momento certo para chantagear a
patroa. Luísa não tem dinheiro nem ideia de como conseguir a quantia
CLÍMAX exigida pela empregada. Para piorar, Jorge retorna e a relação com
Basílio esfria. Desesperada, Luísa confia seu problema a Sebastião.
Acompanhado de um policial, ele aborda a empregada com ameaças,
que morre devido a um aneurisma.

TRECHO DE “O PRIMO BASÍLIO”


Sebastião fechou a porta da sala de jantar, pousou o candeeiro sobre a mesa, onde havia
ainda um prato com côdeas de queijo e um fundo de vinho num copo, deu alguns passos fazendo
estalar nervosamente os dedos, e parando bruscamente diante de Juliana:
– Dê cá umas cartas que roubou à senhora...
Juliana teve um movimento para correr à janela, gritar.
Sebastião agarrou-lhe o braço, e fazendo-a sentar com força sobre a cadeira:
– Escusa de ir à janela gritar, a polícia já está dentro de casa. Dê cá as cartas, ou para a
enxovia!
Juliana entreviu num relance um quarto tenebroso no Limoeiro, o caldo do rancho, a enxerga
nas lajes frias...
– Mas que fiz eu? — balbuciava. – Que fiz eu?
– Roubou as cartas. Dê-as para cá, avie-se.
Juliana, sentada à beira da cadeira, apertando desesperadamente as mãos, rosnava por entre
os dentes cerrados:
– A bêbeda! A bêbeda!
Comentários
A cena representa uma cena íntima desesperada entre Sebastião tentando preservar os
segredos epistolares de Luísa e Juliana tentando revelá-los. Nesse sentido, o texto realista evidencia-
se cheio de intrigas.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 30


Profa. Luana Signorelli

 Os Maias
Esse é considerado o último livro da fase crítica de Eça de Queirós. Nele, o escritor tem como foco
a classe mais alta de Portugal. O enredo, centrado em alguns personagens românticos, serve para que o
autor se posicione contra o movimento anterior. Vale-se do tema de um amor proibido entre irmãos.

FICHA DE LEITURA

• Narrador: terceira pessoa, onisciente.


• Tempo: segunda metade do século XIX, com flashbacks que permitem reconstituir a
história familiar de 3 gerações. O momento em que avô e neto se instalam no
casarão chamado “Ramalhete”, em 1875.
• Espaço: o espaço predominante é Lisboa.

Enredo
A saga dos Maias começa com o casamento de Afonso, rico proprietário, com Maria Eduarda.
Desse enlace, nasce Pedro Maia. O filho teve uma educação romântica e católica. A mãe, por quem o
rapaz tinha verdadeira adoração, morre e Pedro se apaixona perdidamente por Maria Monforte, filha de
um negociante de escravos.
O pai de Pedro se opõe ao casamento e o filho se afasta do convívio paterno. O casal tem 2 filhos,
Carlos Eduardo e Maria Eduarda. Maria Monforte se apaixona por um italiano e abandona o marido e um
dos filhos. Pedro retorna desolado apenas com o filho mais velho, Carlos. Pedro se suicida.
Restam avô e neto. Carlos se forma em medicina.
Monta um consultório e começa a clinicar. Conhece uma
jovem encantadora, Maria Eduarda, que acredita ser esposa
de Castro Gomes. O jovem amante compra uma quinta
afastada para encontrá-la.
Castro, enfim, revela a Carlos que Maria Eduarda não
é sua mulher, mas sua amante. O jovem fica animado com a
perspectiva de poder se casar com ela. Mas ocorre a
reviravolta. Um tal Sr. Guimarães chega de Paris com uma
revelação trágica: Maria Eduarda seria filha de Monforte,
logo, irmã de Carlos.
O avô, Afonso, morre. Maria Eduarda foge para a
França e se casa. Carlos parte numa longa viagem. No final do
romance, encontramos Carlos recordando o passado junto
com seu amigo João da Erga. A conversa com o amigo
transcorre com muita ironia e pessimismo.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 31


Profa. Luana Signorelli

Interpretação
O romance é perpassado pelo pessimismo e tragédia. Expressa o mal-estar que pairava sobre
Portugal. Eça, aparentemente já desencantado com a política, investiga o próprio povo como causa da
decadência do país. No texto, surgem alguns elementos dessa crítica. Há uma discussão sobre a educação
de Carlos – se ele deveria frequentar uma escola católica, portuguesa ou protestante, ou seja, inglesa. A
mãe determina que seja uma educação lusitana. Carlos refletirá esse espírito nada prático, romântico e
indolente. Pensa em ajudar a nação, em fundar uma revista, mas, basicamente, frequenta as rodas sociais
afrancesadas e se entrega a uma paixão que e se revelará trágica.
Além desses elementos já interpretados, o narrador ou mesmo os personagens vão destilando
críticas ao colonialismo, aos impostos e aos governantes.

Os Maias (1878)

CATEGORIA DEFINIÇÃO
ESTRUTURA Livro Primeiro (X capítulos); Livro Segundo (VIII capítulos).
Afonso, Pedro Maia, Maria Eduarda, Maria Monforte, Castro Alves,
PERSONAGENS
João da Ega.
Segunda metade do século XIX, com flashbacks que permitem reconstituir
TEMPO a história familiar de 3 gerações. O ano quando o avô e neto se instalam
no casarão é 1875.
ESPAÇO Predominantemente Lisboa.
A saga dos Maias começa com o casamento de Afonso, rico proprietário,
com Maria Eduarda. Desse enlace, nasce Pedro Maia. O filho teve uma
ENREDO
educação romântica e católica. A mãe morre e Pedro se apaixona por
Maria Monforte, filha de um negociante de escravos.
O pai de Pedro se opõe ao casamento e o filho se afasta do convívio
paterno. O casal tem 2 filhos, Carlos Eduardo e Maria Eduarda. Maria
CONFLITO Monforte se apaixona por um italiano e abandona o marido e um dos
filhos. Pedro retorna desolado apenas com o filho mais velho, Carlos.
Pedro se suicida.
Restam avô e neto. Carlos se forma em medicina. Conhece uma jovem
encantadora, Maria Eduarda. O jovem amante compra uma quinta
CLÍMAX afastada para encontrá-la. Mas ocorre a reviravolta. Um tal Sr.
Guimarães chega de Paris com uma revelação trágica: Maria Eduarda
seria filha de Monforte, logo, irmã de Carlos.
O avô, Afonso, morre. Maria Eduarda foge para a França e se casa.
Carlos parte numa longa viagem. No final do romance, encontramos
DESFECHO
Carlos recordando o passado junto com seu amigo João da Ega. A
conversa com o amigo transcorre com muita ironia e pessimismo.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 32


Profa. Luana Signorelli

TRECHO DE “OS MAIAS”


“Ega declarou muito decididamente ao sr. Sousa Neto que era pela escravatura. Os
desconfortos da vida, segundo ele, tinham começado com a libertação dos negros. Só podia ser
seriamente obedecido quem era seriamente temido... Por isso ninguém agora lograva ter seus
sapatos bem envernizados, o seu arroz bem cozido, a sua escada bem lavada, desde que não tinha
criados pretos em quem fosse lícito dar vergastadas... Só houvera duas civilizações em que o homem
conseguira viver com razoável comodidade: a civilização romana e a civilização especial dos
plantadores da Nova Orleães. Por quê? Porque numa e noutra existira a escravatura absoluta, a
sério, com o direito de morte!... ” (QUEIRÓS, 2000, p. 271).
Comentários
Aqueles jovens veneravam Victor Hugo, dizendo que ele é o campeão heroico das verdades
eternas, e que ele não era um homem, era um mundo. Eles ainda compactuavam o que chamavam
de a Ideia Nova. Em particular, João da Ega é importante, porque ele é essa personagem
dialeticamente contraditória, bancando o democrata, mas no fundo é um falso moralista e machista,
dizendo que era dever da mulher primeiro ser bela, e depois ser estúpida, e que a mulher só devia
ter duas prendas: saber cozinhar e amar bem. Enfim, Ega se passava por intelectual, mas não
consegue se livrar da sua máscara e maneiras burguesas, e por isso comparado ao Mefistóteles, do
Fausto de Goethe, tendo inclusive indo fantasiado assim para o baile dos judeus Cohen.
Entre esses jovens também está o Alencar, escritor de Elvira e do poema A Democracia, versos
históricos. Carlos quando se forma e arranja uma espécie de escritório junto com laboratório, onde
vai para não fazer nada, não trabalhar, matando as suas horas de ócio escrevendo. A civilização lhe
custava caro, esse tédio infindável. Nesse sentido, na Alemanha havia mais comércio, em Portugal
era fastio total. Ega também escrevia para matar o tempo, e era morto pelo que escrevia, nunca
tendo terminado um escrito. A sua grande obra prima chamar-se-ia Memórias dum átomo, e tinha
uma forma autobiográfica.

Ao lado, cartaz da minissérie “Os Maias”


(2001), em 44 episódios. Fonte: Imdb.

A cidade e as serras
A cidade e as serras é uma obra da terceira
fase de Eça de Queirós, momento em que seu
criticismo se arrefece e ele faz uma revisão de suas
convicções. Outrora um feroz crítico do atraso
Figura: Pixabay

português, agora aos 50 e poucos anos, entende o


atraso econômico como uma espécie de benção
para o espírito humano.
Ele escreveu um texto curto (novela) com
características de romance de tese. Eça de Queirós

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 33


Profa. Luana Signorelli

cria uma narrativa para “provar” que o estilo de vida simples da serra supera o da cidade e suas
comodidades tecnológicas.

FICHA DE LEITURA

• Narrador: primeira pessoa, narrador-testemunha. Quem conta a história é José


Fernandes, amigo do protagonista. Trata-se de um narrador muito limitado, ele só
pode contar o que o protagonista disse para ele ou o que ele viu como testemunha.
No caso dessa obra, isso se justifica. José Fernandes encarna a forma de viver do
camponês lusitano e, na sua rusticidade, ele consegue ver o que há de ridículo no
comportamento do sofisticado Jacinto.
• Tempo: Final do século XX, época em que já era possível observar invenções como
telefone, telégrafo e automóvel, que são mencionados no livro (Eça morreu em 1900
e o romance foi terminado a posteriori).
• Espaço: como o nome já diz, o livro se divide em dois espaços: a cidade, que remete
a Paris; e o campo, região de Tormes, onde Jacinto tem sua propriedade rural.

Enredo
O protagonista, o rico Jacinto, nasce em Paris rodeado de todas as comodidades tecnológicas da
época, tornando-se entusiasta da ciência e da modernidade. Acredita que a ciência (teórica) e a potência
(tecnológica) serão capazes de trazer a felicidade perene ao ser humano.
Nesse momento de otimismo, conhece José Fernandes, narrador da obra. O amigo serve como
contraponto crítico, pois encara as crenças de Jacinto com ceticismo. Na segunda visita que José
Fernandes faz ao amigo, percebe que a ilusão cientificista do protagonista vai se transformando em tédio
e desilusão.
A multidão de Paris lhe parece entediante, os aparelhos tecnológicos não lhe despertam mais a
paixão e as relações pessoais e amorosas parecem ser circunstanciais e fúteis. É nesse ponto que o
cosmopolita amigo de José Fernandes recebe uma carta avisando que houve uma tempestade na região
de Tormes, onde fica a propriedade de Jacinto e os restos mortais de seus antepassados foram
descobertos. Ele deveria ir para as serras para participar do sepultamento.
Em verdade, Jacinto jamais saíra de Paris, e essa viagem, para ele, tem o gosto amargo da barbárie,
pelo menos é como ele pensa inicialmente. A caminho, o trem para na Espanha, pois haverá uma
baldeação. Todas as roupas e artigos de luxo ficam no vagão estacionado na plataforma, enquanto, em
outro comboio, o protagonista e José Fernandes partem para Tormes sem nada, a não ser a roupa do
corpo.
Chegando na estação, há outro contratempo: ninguém do solar o espera. Ele
consegue um cavalo para si e um burro para José Fernandes. Irritado, ele pretende ir
para Lisboa no dia seguinte. Mas aos poucos vai sendo seduzido pelas serras, pela
culinária do local, pelo colhimento caloroso que recebe e pela beleza da região.
José Fernandes, quando o encontra, percebe que o amigo está mudado, está
feliz, entusiasmado com o novo modo de vida. Mas, mesmo aí, Jacinto começa

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 34


Profa. Luana Signorelli

perceber que há problemas. Entra em contato com a pobreza extrema de alguns camponeses e vivencia
a experiência de ser confundido com D. Sebastião, o rei renascentista que morreu no século XVI e que,
segundo a lenda, voltaria para trazer glória a Portugal.
O príncipe de grã-ventura, como era chamado, casa-se com uma mulher simples da região,
Joaninha, e resolve trazer aparatos tecnológicos para melhorar a vida dos moradores da Serra. A novela
(uma espécie de romance curto) termina com final feliz e uma nota de esperança de que seria possível
conciliar esses dois mundos, cidade e serras.

Interpretação
Essa novela representa a “conversão” de Eça de Queirós. É interessante notar que o autor, em sua
juventude, defendia o cientificismo e, agora, vê essa fé na ciência como algo exagerado. Jacinto
desenvolvera uma teoria: a de que a Suma Ciência junto com a Suma Potência poderia levar o indivíduo à
felicidade. Ora, guardadas as devidas diferenças, o próprio Eça pensava dessa forma, lá pelos idos de 1871.
A cidade de Paris representava o que havia de mais moderno em 1900; as serras, o que havia de
mais atrasado. A opção pelas serras mostra um certo desencanto do próprio Eça em relação à tecnologia.
A indicação do livro para leitura no século XXI cai como uma luva para aqueles que precisam estar atentos
à ilusão tecnológica. Há trechos bem escritos e muito expressivos de condenação do mundo tecnológico
se considerado à luz do humanismo.
Vale a pena destacar ainda a alegoria utilizada pelo autor. Jacinto é uma figura mitológica, seria
um jovem muito bonito por quem Apolo se apaixona. O deus desce do Olimpo para se aproximar do jovem
e brinca de arremessar o disco das olimpíadas com o rapaz. Zéfiro, enciumado, muda a trajetória do disco
que atinge Jacinto e o mata. Desconsolado, Apolo transforma o amado em uma flor que nasce no campo.
Na história de Eça, algo parecido acontece. Jacinto morre na tórrida

A cidade e as serras (1901)

CATEGORIA DEFINIÇÃO
ESTRUTURA 26 (XVI) capítulos.
PERSONAGENS Jacinto, José Fernandes, Joaninha.
TEMPO Final do século XX (telégrafo e automóvel).
ESPAÇO Paris e Tormes.
Jacinto nasce em Paris rodeado de todas as comodidades tecnológicas
da época, tornando-se entusiasta da ciência e da modernidade. Acredita
ENREDO
que a ciência (teórica) e a potência (tecnológica) serão capazes de
trazer a felicidade perene ao ser humano.
Nesse momento de otimismo, conhece José Fernandes, narrador da obra.
O amigo serve como contraponto crítico, pois encara as crenças de
CONFLITO
Jacinto com ceticismo. Jacinto percebe que a ilusão cientificista do
protagonista vai se transformando em tédio e desilusão.
Houve uma tempestade na região de Tormes, onde fica a propriedade
CLÍMAX de Jacinto e os restos mortais de seus antepassados foram descobertos. A
caminho, no trem para a Espanha haverá uma baldeação. Todas as

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 35


Profa. Luana Signorelli

roupas e artigos de luxo ficam no vagão estacionado na plataforma e


partem só com a roupa do corpo.
José Fernandes, quando o encontra, percebe que o amigo está mudado,
está feliz, entusiasmado com o novo modo de vida. O príncipe de grã-
ventura, como era chamado, casa-se com uma mulher simples da região,
DESFECHO
Joaninha, e resolve trazer aparatos tecnológicos para melhorar a vida
dos moradores da Serra. Termina com final feliz e uma nota de esperança
de que seria possível conciliar esses dois mundos, cidade e serras.

TRECHOS DE "A CIDADE E AS SERRAS"

TRECHO I
Ora nesse tempo Jacinto concebera uma ideia... Este Príncipe concebera a ideia de que o
“homem só é superiormente feliz quando é superiormente civilizado”. E por homem civilizado o meu
camarada entendia aquele que, robustecendo a sua força pensante com todas as noções adquiridas
desde Aristóteles, e multiplicando a potência corporal dos seus órgãos com todos os mecanismos
inventados desde Teramenes, criador da roda, se torna um magnífico Adão, quase onipotente, quase
onisciente, e apto portanto a recolher [...] todos os gozos e todos os proveitos que resultam de Saber
e Poder... [...]
Este conceito de Jacinto impressionara os nossos camaradas de cenáculo, que [...] estavam
largamente preparados a acreditar que a felicidade dos indivíduos, como a das nações, se realiza
pelo ilimitado desenvolvimento da Mecânica e da erudição. Um desses moços [...] reduzira a teoria
de Jacinto [...] a uma forma algébrica:

Suma ciência 

  = Suma felicidade
Suma potência 

E durante dias, do Odeon à Sorbona, foi louvada pela mocidade positiva a Equação Metafísica
de Jacinto.
Eça de Queirós, A cidade e as serras.

Comentários
A equação elaborada por Jacinto, durante o período que vivia em Paris, para sintetizar a
felicidade, torna-se ao fim do romance uma equação que resultava em servidão ou dependência, já
que o protagonista percebe que era como um escravo da tecnologia, que deveria torná-lo feliz.

TEXTO II
Mas o meu novíssimo amigo, debruçado da janela, batia as palmas – como Catão para chamar
os servos, na Roma simples. E gritava:
– Ana Vaqueira! Um copo de água, bem lavado, da fonte velha!
Pulei, imensamente divertido:
– Oh Jacinto! E as águas carbonatadas? E as fosfatadas? E as esterilizadas? E as sódicas?... O
meu Príncipe atirou os ombros com um desdém soberbo. E aclamou a aparição de um grande copo,
todo embaciado pela frescura nevada da água refulgente, que uma bela moça trazia num prato. Eu
admirei sobretudo a moça... Que olhos, de um negro tão líquido e sério! No andar, no quebrar da
cinta, que harmonia e que graça de ninfa latina!

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 36


Profa. Luana Signorelli

E apenas pela porta desaparecera a esplêndida aparição:


– Oh Jacinto, eu daqui a um instante também quero água! E se compete a esta rapariga trazer
as coisas, eu, de cinco em cinco minutos, quero uma coisa!... Que olhos, que corpo... Caramba,
menino! Eis a poesia, toda viva, da serra...
O meu Príncipe sorria, com sinceridade:
– Não! Não nos iludamos, Zé Fernandes, nem façamos Arcádia. É uma bela moça, mas uma
bruta... Não há ali mais poesia, nem mais sensibilidade, nem mesmo mais beleza do que numa linda
vaca turina. Merece o seu nome de Ana Vaqueira. Trabalha bem, digere bem, concebe bem. Para
isso a fez a Natureza, assim sã e rija
(...).
Eça de Queirós, A cidade e as serras.

Comentários
O fragmento reproduz uma cena passada na Quinta de Tormes, local em que Jacinto passa a
morar depois de se ter mudado de Paris. O estranhamento de Zé Fernandes face ao pedido de Jacinto
para que lhe tragam água da fonte, ao invés das águas sofisticadas que sempre preferira, a beleza
natural de Ana Vaqueira, assim como a simplicidade do cenário remetem personagens e leitor às
paisagens bucólicas descritas pelos autores clássicos que tematizavam o locus amoenus e o inutila
truncat, como base essencial para se atingir o equilíbrio e a felicidade.
A expressão “nem façamos Arcádia” alude ironicamente à visão idealizada de Zé Fernandes
relativamente aos dotes físicos de Ana Vaqueira, dona de beleza invulgar, mas, como trabalhadora
braçal e rude, seria insensível a apelos sentimentais.

 A ilustre casa de Ramires


O romance foi publicado em 1900, portanto reflete a terceira fase do autor. A ironia cáustica dá
lugar a uma narrativa mais equilibrada e sóbria. Nessa obra o autor deixa transparecer o otimismo e a
esperança em relação a Portugal.
Chama a atenção a estrutura narrativa em que o autor, à maneira de Almeida Garret, organiza
duas histórias em tempos diferentes e depois as entrelaça.

FICHA DE LEITURA
• Narrador: dois narradores em terceira pessoa. Há um narrador que conta a história
de Gonçalo, e Gonçalo conta a história de seu antepassado.
• Tempo: como é um romance que lida com o passado, há três marcações históricas.
Gonçalo encontra um poema romântico sobre os heróis de sua família da década de
1840; agora, na década de 1890, ele resolve reescrever a história que se passa no
século XII.
• Espaço: há menção a vários locais, mas predomina a Torre da aldeia de Santa
Irineia.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 37


Profa. Luana Signorelli

Enredo
Gonçalo é um português de ascendência nobre que na atualidade está falido e tem dívidas a pagar.
O arrendamento de suas terras não cobre as despesas. Assim, a política lhe parece a maneira mais fácil
de sair dessa situação. Contudo, quem ocupava o lugar de deputado da sua região era um inimigo seu que
tinha mais influência no governo e entre os aldeões. Ele se resolve, então, pela fama. Haveria de, através
da Literatura, fazer-se conhecido. Decide escrever a história de Tructesindo Ramires, um antepassado da
época dos primeiros reis de Portugal.
O narrador passa a contar o que aconteceu à linhagem
de tal nobre protagonista. De forma até irônica, ele vai

Fonte: Ficheiro da Wikipedia <https://tinyurl.com/y6sjmnx6>.


mostrando o declínio da família a partir de 1640, data da
Restauração (época em que termina a união das duas coroas, a
de Portugal com a da Espanha, e os lusitanos restauram sua
Monarquia).
A narrativa do declínio tem como contrapartida, no
presente, a constante humilhação de Gonçalo. Um arrendatário
seu, irritado e bêbado, lança pedras no solar e o nobre senhor
da torre se esconde covardemente. Ele refaz o contrato com
outro arrendatário, mas sem formalizar a ação comercial. Parte
em seguida para Oliveira, onde encontra alguns desafetos. Sua
vida medíocre vai sendo contraposta à dos aventureiros do
passado.
No romance histórico que ele está escrevendo,
Tructesindo se indispõe com o novo rei, pois tinha prometido a D. Sancho que seria o protetor de D.
Sancha. Vai à guerra contra D. Afonso II, mesmo sabendo que poderia perder a batalha. Essa demanda
real é cumprida ao mesmo tempo que o cavaleiro vinga a morte de seu filho. O assassino de seu herdeiro
é Lopo Baião, também fiel vassalo de D. Afonso. A vingança se concretiza.
Quando volta ao solar, sofre nova humilhação. O atual arrendatário, irritado com a falta de palavra
de Gonçalo, põe-no a correr e ele é socorrido pelos empregados.
Seu inimigo político morre e abre-se uma possibilidade de ele entrar para a política. Para tanto,
precisa se aproximar de André Cavaleiro, mesmo sabendo que tal senhor usaria esse pretexto para seduzir
a irmã de Gonçalo. O protagonista fica entre a política e a honra familiar.
De fato, embora as coisas se encaminhem na política, André começa a visitar sua irmã em
momentos que seu cunhado não está.
Sua redenção começa com um objeto. Ele descobre um antigo chicote de prata perdido no sótão.
Após sonhar com os antepassados, ele se torna menos tolerante. Vai andar a cavalo e reage a um valentão
que sempre o molestava. A notícia de sua valentia se espalhou.
Tornou-se deputado e teve êxito literário. Instala-se em Lisboa.
Contudo, quatro meses depois consegue uma concessão na África. Hipoteca suas terras e parte
para a colônia, abandonando a política. Quatro anos depois retorna a seu país, abastado, com saúde
redobrada e orgulhoso de si.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 38


Profa. Luana Signorelli

Interpretação
Esse romance é o mais significativo da terceira fase do autor. Gonçalo é uma alegoria do próprio
Portugal. Descendente de ilustres guerreiros medievais, a nação se encontra degradada e humilhada. O
jovem nobre que se esconde e foge de um arrendatário figurativiza o Ultimato Britânico, quando a
Inglaterra humilhou o país.
Se até a metade do romance Eça faz uma alegoria da condição de Portugal, na metade seguinte
ele expressa, através do desenlace da sua narrativa, certo otimismo e uma prescrição de como deveria
ser a pátria que ele ama.
A certeza que anima o autor é a de que a Lusitânia será grande novamente. A saída para isso,
expressa na trajetória de Gonçalo, passa pela revalorização do colonialismo e pelo desprezo à política.
É fácil perceber nesse enredo traços culturais que servirão de base para a era de Salazar, ou seja,
da ditadura que se estabeleceu em Portugal e que perdurou de 1926 até 1975. Afinal, durante o
salazarismo, a política se restringia a decretos de gabinete e à economia colonial. Tirando esse lado
sinistro, a estrutura do texto e a linguagem bem cuidada fazem do romance uma obra de notáveis
qualidades.

A ilustre casa de Ramires (1900)

CATEGORIA DEFINIÇÃO
ESTRUTURA 12 (XII) capítulos.
Gonçalo Ramires, Titó, Castanheiro, Videirinha, André Cavaleiro,
PERSONAGENS
Gracinha.
Como é um romance que lida com o passado, há três marcações históricas.
Gonçalo encontra um poema romântico sobre os heróis de sua família da
TEMPO
década de 1840; agora, na década de 1890, ele resolve reescrever a
história que se passa no século XII.
ESPAÇO Predominantemente Torre da Aldeia de Santa Irineia.
Gonçalo é um português de ascendência nobre que na atualidade está
falido e tem dívidas a pagar. O arrendamento de suas terras não cobre
ENREDO
as despesas. quem ocupava o lugar de deputado da sua região era um
inimigo seu. Para sair dessa, tenta a fama na Literatura.
Decide escrever a história de Tructesindo Ramires, um antepassado da
época dos primeiros reis de Portugal. O narrador passa a contar o que
CONFLITO aconteceu à linhagem de tal nobre protagonista. De forma até irônica,
ele vai mostrando o declínio da família a partir de 1640, data da
Restauração.
A narrativa do declínio tem como contrapartida, no presente, a constante
humilhação de Gonçalo. Um arrendatário seu, irritado e bêbado, lança
CLÍMAX
pedras no solar e o nobre senhor da torre se esconde covardemente. Sua
vida medíocre é contraposta à dos aventureiros do passado.
O inimigo político morre e abre-se uma possibilidade de ele entrar para
DESFECHO
a política. Tornou-se deputado e teve êxito literário. Instala-se em Lisboa.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 39


Profa. Luana Signorelli

TRECHO DE “A ILUSTRE CASA DE RAMIRES”


Mas Gonçalo, que abominava aquela lenda, a silenciosa figura degolada, errando por noites de
inverno entre as ameias da Torre com a cabeça nas mãos – despegou da varanda, deteve a Crônica
imensa:
(...)
Despido, soprada a vela, depois de um rápido sinal-da-cruz, o Fidalgo da Torre adormeceu. Mas
no quarto, que se povoou de sombras, começou para ele uma noite revolta e pavorosa. André
Cavaleiro e João Gouveia romperam pela parede, revestidos de cotas de malha, montados em
horrendas tainhas assadas! E lentamente, piscando o olho mau, arremessavam contra o seu pobre
estômago pontoadas de lança, que o faziam gemer e estorcer sobre o leito de pau-preto. Depois era,
na Calçadinha de Vila-Clara, o medonho Ramires morto, com a ossada a ranger dentro da armadura,
e El-Rei D. Afonso II, arreganhando afiados dentes de lobo, que o arrastavam furiosamente para a
batalha das Navas. Ele resistia, fincado nas lajes, gritando pela Rosa, por Gracinha, pelo Titó! Mas D.
Afonso tão rijo murro lhe despedia aos rins, com o guante de ferro, que o arremessava desde a
Hospedaria do Gago até a Serra Morena, ao campo da lide, luzente e fremente de pendões e de
armas. E imediatamente seu primo de Espanha, Gomes Ramires, Mestre de Calatrava, debruçado do
negro ginete, lhe arrancava os derradeiros cabelos, entre a retumbante galhofa de toda a hoste
sarracena e os prantos da tia Louredo trazida como um andor aos ombros de quatro Reis!... (...)

Comentários
Como romance histórico, a História é recontada por meio de artifícios literários, como o excesso de
descrição. A atuação política de Gonçalo tem por cenário o período que a história política de Portugal
denomina Regeneração. Facções da burguesia emergente das revoluções liberais alternavam-se no
poder e transitavam do Partido “Histórico” para o “Regenerador” e vice-versa, sem qualquer
constrangimento, ao sabor de conveniências eleitorais. É o que fez Gonçalo para lançar-se candidato.
Representante da aristocracia decadente, desenvolve uma política caracteristicamente paternalista.
Nessa direção, ampara a mulher e os filhos pequenos do agricultor José Casco de Bravaes, que primeiro
mandou prender e depois soltar, quando percebeu nele um eleitor potencial. Distribui favores,
aproxima-se dos pobres, acerca-se dos correligionários com práticas eleitorais clientelistas.

3.0 Realismo e Naturalismo no Brasil

Início da crise mundial


que vai até 1890
Proclamação Governo
da República Floriano Peixoto

1881

1870 1871 1873 1880 1888-1889 1891 1893 1894


30 30 30

Abolição
Realismo

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 40


Profa. Luana Signorelli

O Realismo ocorre num momento muito particular da


História do Brasil. A corte se consolida como o grande espaço
urbano do país, com seus bailes e vida cultural significativa
para uma ex-colônia. Um estilo refinado pautado pela
imitação dos franceses se impõe nos gestos, na erudição na
formação do carioca. Pode-se observar esse ambiente até um
pouco artificial e afetado nas obras de José de Alencar e

Fonte Pixabay
Machado de Assis.
Ao mesmo tempo, o Império está no meio de uma crise
que vai desembocar na República. Desde o fim da Guerra do
Paraguai, o Brasil enfrenta uma crise financeira – o custo da
guerra foi alto – e social. Os escravos participaram no conflito
impondo ao status quo o reconhecimento de pertencimento à
nação brasileira.
A Lei do Ventre Livre e a fundação do Partido
Republicano evidenciam uma realidade social muito mais
complexa. Os negros e os párias sociais que só tinham aparecido nos romances românticos de forma
cômica ou na posição de vilões, ocuparão um espaço significativo, quando não o lugar de protagonista
(no romance O bom-crioulo, de Adolfo Caminha – 1867-1897 –, autor naturalista). Em vários contos e em
alguns romances de Machado de Assis, os negros aparecem não mais submetidos a estereótipos, mas em
cenas que começam a dar uma noção da complexidade social da nação.
O Realismo/Naturalismo, no Brasil, seguiu trajetórias variadas. Aluísio Azevedo e Adolfo Caminha
adotam a linguagem mais grosseira e se valem das ideias cientificistas. Machado de Assis, em alguns
momentos, ironiza a moda filosófica, criticando-a sob a perspectiva de pensadores clássicos, além de
manter fiel a uma linguagem elegante como se fosse um lorde inglês nos trópicos. Raul Pompeia parece
indiferente a essas escolas, realizando um Realismo próprio que se aproxima do que depois virá a ser
chamado de Expressionismo.

3.1 Machado de Assis


Vamos começar com o mais importante autor do
Realismo e da Literatura Brasileira. As histórias de Machado de
Assis são mais simples, nada rocambolescas, até porque, vamos
combinar, ninguém, na vida real, viveria tantas peripécias
quanto as que eram experimentadas pelos heróis românticos.
Apesar disso, a narrativa, dada a ambiguidade e a ironia,
traduz uma complexidade própria do ser humano. As
intervenções do escritor e a análise dos personagens tomam o
espaço destinado à ação.
Filho de gente humilde, aos 15 anos publica os primeiros
versos e é aprendiz de tipógrafo (executor de serviços

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 41


Profa. Luana Signorelli

tipográficos de composição, paginação ou impressão). Posteriormente,


irá ganhar a vida sendo jornalista, profissão a qual lhe rendeu grandes
contatos políticos e literários. Porém, não estava totalmente satisfeito
com tal ofício. Aos 27 anos, ingressa no serviço público, em que ficaria até
o fim da vida.
Foi o fundador e presidente da Academia Brasileira de Letras
(ABL), criada em 1897 e baseada no modelo da Academia Francesa de
Letras (Académie Française). Segundo o crítico literário brasileiro Roberto
Schwarz, na caricatura, “foi possivelmente o maior escritor brasileiro”.
Morreu em 1908 no Rio de Janeiro.
O estilo machadiano é tão particular que, abaixo do quadro biográfico, você encontrará algumas
das características do texto do autor.
Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908) nasceu no bairro do Livramento, região modesta do
Rio de Janeiro. Seus pais eram humildes, o mulato Francisco José de Assis, pintor de paredes, e Maria
Leopoldina. Contudo logo ficou órfão de pai e mãe e foi criado pela madrasta, a lavadeira Maria Inês. Na
adolescência trabalhou vendendo balas e doces. Com 15 anos, conseguiu trabalhar como tipógrafo na
Imprensa Nacional, dirigida, na época, por Manuel Antônio de Almeida, que o encorajou a se tornar
escritor.
Entre 1855 e 1869, trabalha em jornais, inicialmente como revisor e, posteriormente, como
jornalista. Publica, em 1864, uma coletânea de poemas, “Crisálidas”. Com 30 anos casa-se com Carolina
Xavier de Novais, uma portuguesa culta que o influenciará, revelando ao escritor os clássicos da Literatura
Universal.

A partir de 1872, o escritor publica seus romances. Os quatro


primeiros (Ressurreição, A mão e a luva, Helena e Iaiá Garcia)
são românticos. Como Memórias Póstumas de Brás Cubas
(1881), o escritor enverada pelo Realismo. Não se entrega
totalmente à moda literária. Construiu um estilo próprio que
destoa em vários pontos do Realismo tradicional. Quanto ao
Naturalismo, praticamente o ignorou, em alguns pontos
percebe-se, inclusive, sua verve crítica em relação aos
“ismos” que serviram de base para o Naturalismo.

O Realismo de Machado tenta o impossível. Retratar as bases “reais” do comportamento humano.


Ele deixa o fenômeno, aquilo que geralmente é o foco do Realismo, para submergir nas motivações
psicológicas de seus personagens.
Teve contato com vários dos principais escritores do século XIX, foi amigo de José de Alencar e
recepcionou Castro Alves quando o poeta passou pela corte. Participou da fundação da Academia
Brasileira de Letras em 1897. Sua esposa morreu em 1904, e Machado entrou em depressão. Mesmo
assim, algumas obras ainda foram lançadas depois dessa data: Esaú e Jacó (1904), Memorial de Aires
(1908) e Relíquias da casa velha (1906).

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 42


Profa. Luana Signorelli

PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO AUTOR

NARRATIVA NÃO LINEAR

• Os fatos aparecem conforme são lembrados pelo narrador ou pelas personagens.


Corresponde à digressão: ação ou resultado de se desviar do assunto tratado; desvio,
afastamento de um objetivo; evasiva, pretexto, subterfúgio; recurso literário us. para
esclarecer, detalhar, ilustrar ou criticar um assunto (dicionário Aulete).
• O objetivo principal é o retardamento do texto, brincando com as instâncias de
essência e aparência, pois o que parece mais importante (o enredo) de repente passa
a não ser mais, deixando-se entrever outros detalhes.

PESSIMISMO

• A obra de Machado de Assis flerta com o niilismo (não acreditar em nada; o Nada
Absoluto), com uma visão negativa do mundo e do homem. Muitos de seus
personagens são cínicos ou hipócritas.
• É uma vertente que influenciou Machado de Assis por ser contemporâneo do
decadentismo francês, com Charles Baudelauire, por exemplo, e dos movimentos
pessimistas de transição do século XIX para o XX. Verifica-se pessimismo
especialmente no “Capítulo das Negativas” de Memórias póstumas de Brás Cubas.

DESCRENÇA NO CIENTIFICISMO

• As tendências filosóficas (positivismo, darwinismo, determinismo) são muitas vezes


questionadas pelo autor.
• Esse aspecto está presente no emplasto de Brás Cubas, um remédio mágico que
curaria toda a humanidade, quando no fundo Brás Cubas só queria descobri-lo por
fama própria. Também está em Quincas Borba, quando Machado de Assis critica o
surgimento de tantas tendências no século XIX, muitas vezes até mesmo sem
embasamento ou com fundamentos cruéis.

IRONIA

• E humor ácido, advinda da tradição inglesa do humour, bem como o riso são muitas
vezes o modo de lidar com o mundo que o autor encara negativamente. Ficou
conhecido pelo humor machadiano.

METALINGUAGEM

• A metalinguagem é tanto uma função de linguagem quanto um efeito de texto em


que se verifica a linguagem se remetendo a ela mesma. Porém, pode ser um filme se
remetendo a ele mesmo; ou uma fotografia se remetendo a ela mesma → trata-se de
algo se remetendo a si mesmo.
• O comentário do escritor sobre a própria escrita, os próprios capítulos, a própria
obra etc. é um traço evidente de suas obras. Frequentemente, as obras contêm
informações sobre os capítulos, sobre a relação com o leitor, sobre o estilo de escrita
entre outros.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 43


Profa. Luana Signorelli

PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO AUTOR

DIÁLOGO COM O LEITOR


• O uso de imperativos, vocativos ou de perguntas direcionadas ao leitor muitas vezes
de forma jocosa representa o jogo de aproximação/afastamento do narrador; ora ele
quer conquistar e convencer o leitor, ora quer se mostrar superior. Em todo caso,
para o bem ou para o mal, parte do pressuposto de que vai ser lido. Na teoria literária,
esse leitor ideal é denominado de narratário.
• Exemplo: “E Sofia? interroga impaciente a leitora, tal qual Orgon: Et Tartufe? Ai,
amiga minha, a resposta é naturalmente a mesma, – também ela comia bem, dormia
largo e fofo, – coisas que, aliás, não impedem que uma pessoa ame, quando quer
amar. Se esta última reflexão é o motivo secreto da vossa pergunta, deixai que vos
diga que sois muito indiscreta, e que eu não me quero senão com dissimulados.”
(Machado de Assis – Quincas Borba, grifos meus).
PSICOLOGISMO
• Recursos tais como análise dos pensamentos, das sensações e do abismo entre
desejo e convenções sociais fazem parte importante do enredo.
• Opera o trânsito entre a crítica e a denúncia dos costumes sociais (externo) com as
opiniões íntimas (interno). Muitas vezes é empregada a técnica literária do discurso
indireto livre.
INTERTEXTUALIDADE
• Trata-se da menção a outros autores e obras, internacionais e nacionais, inclusive do
próprio autor. O ideal é não procurar todos os autores, pois isso pode atrapalhá-los e
distraí-los. De qualquer forma, os mais importantes serão analisados mais à frente.
• No caso de Machado de Assis, há muita intertextualidade com a Bíblia e outros
autores do cânone, com quem não só quer dialogar, como também rivalizar.
• A intertextualidade também pode ser interna, como é o caso do personagem
Conselheiro Aires, que está presente tanto no romance Esaú e Jacó quanto no
Memorial de Aires.

DISCURSO INDIRETO LIVRE


“Além da variedade de discursos diretos e indiretos, a narrativa de ficção, a partir das últimas
décadas do século XIX, utiliza um tipo de discurso que consiste na combinação dos já existentes,
misturando valores estilísticos de um e de outro: é o discurso indireto livre, que recebeu
denominações diversas dos autores que o estudaram (discurso velado, direto impropriamente dito,
discurso vivido).
(...) O discurso indireto livre, em muitos casos, não deixa claro quem está com a palavra, se o
narrador ou a personagem. O que permite distinguir é estar sendo relatado o pensamento da
personagem, o qual é dela e não do narrador; por mais que este com ela se identifique. Este tipo de
discurso tem, portanto, um cunho acentuadamente psicológico, daí a sua voga no romance realista
que pretendia apresentar com maior profundidade o mundo interior das suas criaturas: seus estados
emotivos, devaneios, reflexões, perturbações alucinatórias, autoanálise etc. O narrador podia ficar
por trás delas, em atitude neutra ou irônica”. (MARTINS, 2011, p. 251, grifos meus).

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Profa. Luana Signorelli

(EsPCEx – 2018)
“Retórica dos namorados, dá-me uma comparação exata e poética para dizer o que foram
aqueles olhos de Capitu. Não me acode imagem capaz de dizer, sem quebra da dignidade do estilo,
o que eles foram e me fizeram. Olhos de ressaca? Vá, de ressaca. É o que me dá ideia daquela feição
nova. Traziam não sei que fluido misterioso e enérgico, uma força que arrastava para dentro, como
a vaga que se retira da praia, nos dias de ressaca. Para não ser arrastado, agarrei-me às outras
partes vizinhas, às orelhas, aos braços, aos cabelos espalhados pelos ombros; mas tão depressa
buscava as pupilas, a onda que saía delas vinha crescendo, cava e escura, ameaçando envolver-me,
puxar-me e tragar-me.”
ASSIS. Machado de. Dom Casmurro. São Paulo: Ática,1999. p.55 (fragmento)

Com "Casmurro, obra" publicada em 1899, depois de "Memórias Póstumas de Brás Cubas" (1881)
e de "Quincas Borba" (1891), Machado de Assis deixa marcas indeléveis de que a Literatura
Brasileira vivia um novo período literário, bem diferente do Romantismo. Nessas obras, nota-se
uma forma diferente de sentir e de ver a realidade, menos idealizada, mais verdadeira e crítica:
uma perspectiva realista. O trecho apresentado acima representa essa perspectiva porque o
narrador
a) exagera nas imagens poéticas traduzidas por “fluido misterioso”, “praia”, “cabelos espalhados
pelos ombros” em uma realização imagética da mulher que o tragava como fazem as ondas de um
mar em ressaca.
b) deixa-se levar pelas ondas que saíam das pupilas de Capitu em um fluido, misterioso e enérgico,
que o arrasta depressa como uma vaga que se retira da praia em dias de ressaca, não adiantando
agarrar-se nem aos braços nem aos cabelos da moça.
c) retira-se da praia como as vagas em dias de ressaca por não ser capaz de dizer a Capitu o que está
sentindo ao olhá-la nos olhos sem quebrar a dignidade mínima daquele momento em que duas
pessoas apaixonam-se.
d) solicita à “retórica dos namorados” uma comparação que seja, ao mesmo tempo, exata e poética
capaz de descrever os olhos de Capitu, revelando a dificuldade de apresentar uma verdade que não
estrague a idealização romântica.
e) ridiculariza a retórica dos românticos ao afirmar que os olhos de Capitu pareciam com uma ressaca
do mar e, por isso, não seria capaz de descrevê-los de maneira poética, traduzindo, assim, o realismo
literário de sua época.

Comentários:
Questão de interpretação de texto literário; conhecimento de movimentos literários e
conhecimento de autores e obras do cânone.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 45


Profa. Luana Signorelli

Alternativa A: incorreta. Não necessariamente exagero. A presença de imagens poéticas não


ocorre em exagero. Predomina a perspectiva realista, uma vez que o narrador espera uma
aproximação que seja uma “comparação exata”.
Alternativa B: incorreta. Não é como se nada adiantasse. Inclusive, ele tenta: “Para não ser
arrastado”. O narrador afirma que lutava contra a força que o arrastava.
Alternativa C: incorreta. Ele estava mais apaixonado por ela que ela por ele. O narrador
não está presente à beira-mar. Ele relembra uma expressão empregada por José Dias.
Alternativa D: correta – gabarito. Apaixonado que estava, tende ao Romantismo. O
narrador procura equilibrar razão e emoção, mas entra em conflito pois não quer que a amada
perca sua aura.
Alternativa E: incorreta. Há um embate entre escolas aqui e nenhuma vence. O narrador
busca a retórica dos românticos, empregando descrição poética em relação a seus olhos, espelho
da alma.

Gabarito: D.

Romantismo
Realismo

Minissérie: Capitu (2008).


Sinopse: aliando o enredo realista com uma
trilha sonora moderna, a série em 5 capítulos
expõe o íntimo das personagens envolvidas
nesse drama, com uma visão lúdica e poética.
Bentinho veste as roupas de todos, um poco
de tudo, trapos das pessoas que passaram por
sua vida. Pois narrar também é isso.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 46


Profa. Luana Signorelli

(ESA – 2023)

Machado de Assis, um dos autores mais importantes da literatura do Brasil, produziu uma obra de
ficção extensa, que pode ser dividida em duas fases: uma, chamada de aprendizagem, de que é
representativa a obra Helena; outra, dita de maturidade, inaugurada com a obra Memórias
póstumas de Brás Cubas. Tais fases se associam, respectivamente, às seguintes escolas literárias:
a) Romantismo e Naturalismo.
b) Arcadismo e Modernismo.
c) Realismo e Naturalismo.
d) Barroco e Arcadismo.
e) Romantismo e Realismo.

Comentários
Questão teórica de conhecimento de autores e obras do cânone.
Alternativa A: incorreta. Atenção: o Naturalismo é um movimento literário que se inicia no
Brasil exatamente no mesmo ano do Realismo. Contudo, são escolas diferentes com características
distintas. O Naturalismo é inaugurado pelo romance "O mulato" (1881) de Aluísio de Azevedo.
Alternativa B: incorreta. Machado de Assis não tem ligação com o Arcadismo, conhecido por
aspectos como bucolismo e pastoralismo. A maior parte das obras machadianas, de ambas as fases,
são urbanas.
Alternativa C: incorreta. São movimentos concomitantes entre si, e a alternância entre as fases
deve indicar sucessão.
Alternativa D: incorreta. Machado de Assis não se associa ao Barroco, cujos traços são:
religiosidade, moralismo e dualidades.
Alternativa E: correta – gabarito. A carreira machadiana costuma ser dividida em duas fases
pela crítica literária. "Memórias póstumas de Brás Cubas" (1881) é um divisor de águas tanto em sua
obra quanto na História Literária Brasileira, pois encerra o Romantismo e introduz o Realismo, o que
acontece quando há um aperfeiçoamento em seu estilo, tornando-o mais próximo de suas
características típicas: ironia, pessimismo e metalinguagem. Brás Cubas, por exemplo, é um
personagem que abandona a idealização romântica, pois não se casa, vive um relacionamento
adúltero com Virgília (casada com Lobo Neves) e acaba não tendo filhos no final da trama, o que é
apresentado no "Capítulo das Negativas". Portanto, não é um herói tampouco um personagem plano,
como provavelmente teria sido se fosse romântico.

Gabarito: E.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 47


Profa. Luana Signorelli

3.1.1 Romances

 Memórias póstumas de Brás Cubas


Publicado em 1881, inaugura o Realismo no Brasil, bem
como O mulato de Aluísio de Azevedo inaugura o Naturalismo.
Sua forma e estilo são experimentais: o autor mistura influências
de Laurence Sterne (1713-1768), na caricatura, e de Almeida
Garret. Sterne é um escritor irlandês cuja obra-prima é A vida e
as opiniões de Tristram Shandy (1759), com quem Machado de
Assis aprendeu muito de sua ironia. A narrativa bêbada, com
idas e vindas, com digressões e comentários metalinguísticos,
traduz o sarcasmo próprio do narrador protagonista.
Nas obras posteriores, o autor utilizará as técnicas
desenvolvidas nesse romance de forma mais equilibrada.

FICHA DE LEITURA

• Narrador: primeira pessoa, um defunto autor que, por estar morto, pode revelar os
podres dos homens sem que sofra qualquer retaliação. Trata-se de um narrador
sarcástico, cínico e ressentido que se compraz em humilhar o leitor.
• Tempo: abrange o tempo de vida do narrador, 1805-1869; narrativa não linear, cortada
por digressões, flashbacks e diálogo com o leitor.
• Espaço: Rio de Janeiro.

Enredo
Brás Cubas escreve suas memórias. Começa pela infância, quando descreve sua formação de
caráter sob a égide da permissividade paterna. Quando adolescente, envolve-se com Marcela, uma
cortesã interessada nas condições financeiras do protagonista. O pai, por esse motivo, envia o filho para
Coimbra, onde deverá se tornar bacharel.
A mãe morre, ele volta de Portugal e encontra algum apoio em Eugênia, uma moça muito bonita,
coxa e filha bastarda. As condições sociais da moça levam o narrador a desprezá-la, apesar do evidente
interesse.
Finalmente, interessa-se por uma mulher de sua classe, Virgília. Contudo, ela fica entre dois
pretendentes: o pavoneado Brás Cubas e o ambicioso Lobo Neves. Escolhe o último.
O pai morre, ele briga com a irmã por causa da herança. Nessa época solitária, já maduro, ele se
encontra com a antiga pretendente. Ela continua casada, mas, como o narrador não é ciumento, eles se
tornam amantes.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 48


Profa. Luana Signorelli

Começam as peripécias para esconder da sociedade e do


marido corno a traição. O casal aluga uma casa na Gamboa que servirá
de refúgio amoroso. D. Plácida, uma agregada conhecida de Virgília,
finge ser a dona do local. Ela é costureira e serve de álibi perfeito para
uma mulher que deve fazer diversas provas na costureira.
Virgília fica grávida, o que faz o narrador pensar
romanticamente em fugir com ela, mas em seguida perde a criança.
Brás Cubas fica sem qualquer herdeiro. Lobo Neves é nomeado para
ocupar um cargo em outra província e o casal vai embora do Rio.
Começa uma fase entediante para o personagem principal. Ele
reencontra um amigo louco, Quincas Borba, com quem discute teorias
filosóficas esdrúxulas. Reconcilia-se com a irmã, que consegue arranjar
uma pretendente para se casar com Brás, Nhá Loló. O casamento não
se realiza, pois a moça morre antes.
Ele morre de pneumonia no momento quando tentava criar um
emplasto para curar todas as moléstias. Ele faz essa afirmação, mas
insinua que não era o interesse pelo bem da humanidade que o
motivava, mas a possibilidade de ver seu nome no jornal como sendo Cartaz do filme “Memórias
o de um grande benfeitor. póstumas de Brás Cubas”
(2001). Fonte: Imdb.

Interpretação
A interpretação pode ser feita a partir de dois polos: o da análise psicológica e o da crítica à elite
escravocrata brasileira.
Em relação à crítica social, Machado de Assis cria um personagem da elite que contará sua história
em primeira pessoa. Se estivesse vivo, não poderia ser sincero, esconderia suas intenções sob um discurso
moralista. Como está morto, ele vai revelando sua futilidade e falha ética.
Brás Cubas nasceu em uma família abastada, mas sem muito escrúpulo, a não ser o da conquista
da consideração pública. Como personagem típico de uma sociedade escravocrata, Brás Cubas poderia
dispor dos negros a sua volta e das pessoas miseráveis, sempre com alguma fineza e elegância. É o que
ele faz durante sua vida. Ele respeita somente aqueles que pertencem a sua classe social.
Essa forma de dispor das pessoas migra para a própria estrutura do texto. O narrador, caprichoso,
comanda a narrativa fazendo interrupções, digressões despropositadas, intervenções irônicas, desafiando
a inteligência do leitor, quando não, insinuando incapacidade intelectual de quem o lê.
A estrutura social hipócrita do Império permitiu que Machado de Assis visse com mais nitidez a
diferença entre intenções subjetivas e julgamento social. Entre esses dois extremos, há espaço para
ressentimentos, moralismos, remorsos e justificativas que ele capta ao deixar expostos os pensamentos
do protagonista. Há vários momentos em que Brás Cubas revela que seu ato humanitário tem como
origem a vontade de ser aplaudido publicamente.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 49


Profa. Luana Signorelli

Memórias póstumas de Brás Cubas (1881)

CATEGORIA DEFINIÇÃO
ESTRUTURA 160 (CLX) curtos capítulos.
Brás Cubas; Prudêncio; Marcela; Eugênia; Virgília; Dona Plácida; cunhado
PERSONAGENS
Cotrim; Lobo Neves; Quincas Borba → intertextualidade interna.
Abrange o tempo de vida do narrador, 1805-1869; narrativa não linear,
TEMPO
cortada por digressões, flashbacks e diálogo com o leitor.
Brás Cubas escreve suas memórias. Começa pela infância, quando
descreve sua formação de caráter sob a égide da permissividade
paterna. Quando adolescente, envolve-se com Marcela, uma cortesã
ESPAÇO interessada nas condições financeiras do protagonista. Ambos os pais
morrem. Brás Cubas encontra algum apoio em Eugênia, uma moça muito
bonita, coxa e filha bastarda. As condições sociais da moça levam o
narrador a desprezá-la.
Finalmente, interessa-se por uma mulher de sua classe, Virgília. Contudo,
ENREDO ela fica entre dois pretendentes: o pavoneado Brás Cubas e o ambicioso
Lobo Neves. Escolhe o último.
Finalmente, interessa-se por uma mulher de sua classe, Virgília. Contudo,
CONFLITO ela fica entre dois pretendentes: o pavoneado Brás Cubas e o ambicioso
Lobo Neves. Escolhe o último.
Virgília fica grávida, o que faz o narrador pensar romanticamente em
fugir com ela, mas em seguida perde a criança. Começa uma fase
CLÍMAX
entediante para o personagem principal. Ele reencontra um amigo louco,
Quincas Borba, com quem discute teorias filosóficas esdrúxulas.
Ele morre de pneumonia no momento quando tentava criar um emplasto
DESFECHO
para curar todas as moléstias. Seu legado é um grande nada.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 50


Profa. Luana Signorelli

(EsPCEx – 2022)
“"Eu bem sei que, para titilar-lhe os nervos da fantasia, devia padecer um grande desespero,
derramar algumas lágrimas, e não almoçar. (...) A realidade pura é que eu almocei, como nos
demais dias."

Nesse trecho de "Memórias Póstumas de Brás Cubas", Machado de Assis dirige-se ao leitor e
informa como a história deveria ser contada, mas prefere dizer a verdade. Com isso, o autor faz
uma crítica ao seguinte estilo de época da literatura:
a) Realismo, por imprimir uma realidade distorcia apenas para agradar o leitor.
b) Simbolismo, por recorrer à "fantasia" e apresentar um conflito falso entre matéria e espírito.
c) Barroco, por apresentar uma linguagem rebuscada e usar figura de linguagem em "titilar-lhe os
nervos da fantasia".
d) Naturalismo, por apresentar a necessidade animalesca do homem diante de uma fome irônica.
e) Romantismo, por insinuar que os românticos simulariam padecimentos em vez de contar a
verdade.

Comentários:
Questão de interpretação de texto literário/conhecimento de movimentos literários.
Alternativa A: incorreta. ”Memórias póstumas de Brás Cubas” (1881) é o romance que
introduz o Realismo no Brasil e na passagem em particular ele não se autocritica. Tampouco
imprime realidade distorcida; pelo contrário: emprega verossimilhança, uma técnica literária que
representa a realidade tal qual ela é.
Alternativa B: incorreta. Embora Simbolismo e Realismo sejam movimentos contemporâneos
entre si (fim do século XIX), o Realismo ocorreu na prosa e o Simbolismo na poesia.
Alternativa C: incorreta. O trecho acima mescla estilo rebuscado, a partir do verbo “titilar”,
que significa fazer cócegas ou carinho (dicionário Aulete), com estilo corriqueiro, prosaico e
mundano: “A realidade pura é que eu almocei”.
Alternativa D: incorreta. O Naturalismo também ocorre junto ao Realismo (fim do século XIX),
mas ambos são movimentos diferentes entre si. No trecho, Brás Cubas não está almoçando
porque essa é uma necessidade biológica sua, mas sim porque vem de uma classe privilegiada
(burguesia), o que lhe permite fazer sua refeição. Enquanto no Naturalismo a visão do ser
humano é animalizado, no Realismo as personagens são complexas e psicológicas.
Alternativa E: correta – gabarito. Porque no Romantismo, movimento anterior ao Realismo, a
visão de mundo predominante era o idealismo, tendendo a representar o mundo de forma
exagerada, no caso, o padecimento demasiado. ”Memórias póstumas de Brás Cubas” (1881) não
só introduz o Realismo no Brasil, como também é um divisor de águas na própria carreira
machadiana, dividindo sua produção em duas fases: uma romântica e outra realista.

Gabarito: E.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 51


Profa. Luana Signorelli

 Quincas Borba
Dez anos depois de Memórias póstumas de Brás
Cubas, surge este interessante romance que, embora
leve um nome próprio no título, apresenta como
protagonista Rubião. Amigo do filósofo Quincas Borba,
aproxima-se deste no fim da vida e por sorte do destino
acaba sendo herdeiro universal de toda sua herança
quando o amigo morre, inclusive, com o cachorro com o
mesmo nome: Quincas Borba.
Porém, uma série de oportunistas se acercam de
Rubião que, ingênuo e depois enlouquecendo, não
consegue manter seu patrimônio. Entre os
aproveitadores está o casal Palha. Rubião acaba por se
apaixonar por Sofia, mas nunca conquista nada com ela.

Quincas Borba (1891)

CATEGORIA DEFINIÇÃO
CCI (201) capítulos. São na maioria das vezes capítulos curtos, alguns de
ESTRUTURA um parágrafo só. Os capítulos não são nomeados (em contraposição a
Memórias póstuma de Brás Cubas, cujos capítulos eram nomeados).
Quincas Borba (filósofo); Quincas Borba (cachorro); Rubião; Sofia.
Cristiano Palha; Camacho; Carlos Maria; Maria Benedita. Tipos
PERSONAGENS
previsíveis. Outras personagens: Major Siqueira; Dona Tonica; Tia
Augusta.
TEMPO Entre 1867 e 1871. Logo, o enredo ocorre no Brasil – Segundo Império.
ESPAÇO Rio de Janeiro (Botafogo) e Barbacena (Minas Gerais)..
Rubião era amigo do filósofo Quincas Borba, que viera a falecer sem
deixar herdeiros. Inesperadamente, Rubião torna-se o seu herdeiro
universal, ganhando não só o dinheiro, mas também o cachorro que levara
ENREDO
o mesmo nome do dono. Indo ao Rio de Janeiro para resolver questões
do testamento, acaba por conhecer Cristiano Palha, que se aproveita da
sua nova condição financeira, e sua esposa Sofia, por quem se apaixona.
Impasse de Rubião. Sofia é capaz de trair o marido Palha, mas não com
CONFLITO ele. Rubião se torna enciumado e obcecado, adentrando em um ciclo
obsessivo.
Rubião enlouquece. Sofia tem medo dele e depois um sentimento médio:
CLÍMAX
nem remorso, mas certamente não amor.
Rubião é internado numa casa de saúde; mas foge de lá e volta para a
DESFECHO sua cidade natal – Barbacena – com o cachorro, Quincas Borba. O
primeiro morre, seguido do segundo depois de 3 dias.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 52


Profa. Luana Signorelli

 Dom Casmurro
O romance foi publicado 18 anos após Memórias póstumas. A crítica considera a obra mais bem-
acabada do escritor. No texto, os recursos literários utilizados de forma exagerada no primeiro romance
realista são manejados com mais cuidado, sem que se perca a essência de Machado: a análise psicológica
e a ambiguidade.

FICHA DE LEITURA

• Narrador: primeira pessoa, um senhor casmurro, ou seja, ensimesmado, resolve


contar sua história para provar que não teria sido injusto com sua esposa.
• Tempo: segunda metade do século XIX; a narrativa começa em 1857 quando o
protagonista tem 14 anos.
• Espaço: Rio de Janeiro.

Enredo
No primeiro capítulo somos apresentados a Bentinho, um senhor que pretende “atar as duas
pontas da vida” e fazer um balanço para entender o que aconteceu em seu casamento. De forma
retrospectiva, lembra-se da adolescência e de seu encantamento por Capitu, filha de vizinhos próximos
que tinham a proteção de sua mãe.
O narrador sugere que Capitu o teria seduzido: por atração amorosa ou por interesse financeiro?
O narrador tem dúvidas quanto a isso. Sua empolgação com a moça encontra um obstáculo: como D.
Glória tinha perdido um filho, prometera que o próximo, Bentinho, seria padre.
Bentinho segue para o seminário. Lá, ele conhece Ezequiel Escobar, seu grande amigo. Ao mesmo
tempo, o jovem se aproxima de José Dias, um agregado e conselheiro de D. Glória, para que ele interceda
a seu favor. José Dias não gosta de Capitu, mas imagina que poderia viajar para a Europa ao lado de
Bentinho se o garoto não se tornasse padre.
Capitu conquista D. Glória, que agora vê com pesar a ausência do filho.
Bentinho revela para a mãe que não tem vocação religiosa, e é Escobar quem
encontra uma solução: ela prometera para Deus formar um padre, não era
imprescindível que fosse Bentinho. D. Glória, então, envia ao seminário um escravo
que se tornará padre.
Bentinho e Capitu se casam. Depois de alguns anos nasce o filho Ezequiel.
Escobar também se casa e os amigos se frequentam. Com o passar do tempo, o
protagonista vai se tornando desconfiado. Ezequiel morre e, no velório, o narrador
observa que Capitu teria demonstrado um sentimento além do normal para alguém
que seria simplesmente amigo do casal. Nesse ponto, ele descreve o olhar enigmático
de Capitu com a seguinte expressão: “olhos de ressaca”.
Bentinho fica atormentado. Começa a ver nas feições de Ezequiel traços de Escobar. Torna-se
insuportável. Capitu parte para o exterior com o Filho e morre na Europa. Ezequiel retorna ao Brasil, mas

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 53


Profa. Luana Signorelli

tem uma recepção fria e distante por parte do pai. Morre de febre tifoide durante uma viagem para
Jerusalém.
Ao final do livro, ele conclui que Capitu o traiu, mesmo sem ter conseguido dar uma prova
substancial durante toda a narrativa.

Dom Casmurro (1899)

CATEGORIA DEFINIÇÃO
ESTRUTURA 148 (CXLVIII) capítulos curtos.
PERSONAGENS Bento; Capitu; Dona Glória; Escobar; Ezequiel; José Dias.
Segunda metade do século XIX; a narrativa começa em 1857, o
TEMPO
protagonista tem 14 anos.
ESPAÇO Rio de Janeiro.
De forma retrospectiva, Bentinho lembra-se da adolescência e de seu
encantamento por Capitu, filha de vizinhos próximos que tinham a
ENREDO proteção de sua mãe. Sua empolgação com a moça encontra um
obstáculo: como D. Glória tinha perdido um filho, prometera que o
próximo, Bentinho, seria padre.
Bentinho segue para o seminário. Lá, ele conhece Ezequiel Escobar, seu
grande amigo. Ao mesmo tempo, o jovem se aproxima de José Dias, um
agregado e conselheiro de D. Glória, para que ele interceda a seu favor.
José Dias não gosta de Capitu, mas imagina que poderia viajar para a
CONFLITO
Europa ao lado de Bentinho se o garoto não se tornasse padre. É Escobar
quem encontra uma solução: ela prometera para Deus formar um padre,
não era imprescindível que fosse Bentinho. D. Glória, então, envia ao
seminário um escravo que se tornará padre.
Bentinho e Capitu se casam. Depois de alguns anos nasce o filho Ezequiel.
Escobar também se casa e os amigos se frequentam. Com o passar do
tempo, o protagonista vai se tornando desconfiado. Ezequiel morre e, no
CLÍMAX velório, o narrador observa que Capitu teria demonstrado um sentimento
além do normal para alguém que seria simplesmente amigo do casal.
Nesse ponto, ele descreve o olhar enigmático de Capitu com a seguinte
expressão: “olhos de ressaca”.
Bentinho fica atormentado. Começa a ver nas feições de Ezequiel traços
DESFECHO
de Escobar. Torna-se insuportável. Capitu parte para o exterior com o

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 54


Profa. Luana Signorelli

Filho e morre na Europa. Ezequiel retorna ao Brasil, mas tem uma


recepção fria e distante por parte do pai. Morre de febre tifoide durante
uma viagem para Jerusalém. Ao final do livro, ele conclui que Capitu o
traiu, mesmo sem ter conseguido dar uma prova substancial durante toda
a narrativa.

TRECHO DE “DOM CASMURRO”


Não houve lepra, mas há febres por todas essas terras humanas, sejam velhas ou novas. Onze
meses depois, Ezequiel morreu de uma febre tifóide, e foi enterrado nas imediações de Jerusalém,
onde os dous amigos da universidade lhe levantaram um túmulo com esta inscrição, tirada do
profeta Ezequiel, em grego: "Tu eras perfeito nos teus caminhos." Mandaram-me ambos os textos,
grego e latino, o desenho da sepultura, a conta das despesas e o resto do dinheiro que ele levava;
pagaria o triplo para não tornar a vê-lo.
Como quisesse verificar o texto, consultei a minha Vulgata, achei que era exato, mas tinha ainda
um complemento: "Tu eras perfeito nos teus caminhos, desde o dia da tua criação." Parei e perguntei
calado: "Quando seria o dia da criação de Ezequiel?" Ninguém me respondeu. Eis aí mais um mistério
para ajuntar aos tantos deste mundo. Apesar de tudo, jantei bem e fui ao teatro.
Machado de Assis – Dom Casmurro. Fonte: Domínio Público.
Disponível em: https://tinyurl.com/6wfv6yy. Acesso em: 11 de abril de 2020.

Comentários
No fragmento, observa-se o processo de uma construção e uma convicção tão acirrada que os
ânimos se exaltam e a razão se oblitera. O ciúme é tão doentio e xucro, isto é, casmurro mesmo, que
chega a desejar o mal de Ezequiel, pois via nele Escobar, que tinha como certo que era amante.
Independentemente de Ezequiel ser mesmo filho ou não de Bentinho, este mostra para com aquele
uma frieza chocante. A relação entre ambos é baseada na distância, até no elemento pecuniário.

 Esaú e Jacó
O livro foi publicado em 1904, depois da Proclamação da República. O título é extraído da Bíblia e
faz referência à disputa entre irmãos. Nesse romance, Machado envereda por um enredo mais simples e
se vale do narrador em terceira pessoa, fato que torna a narrativa “mais comportada”.
A crítica costuma destacar o fato de que, nitidamente, o autor faz uma alegoria da passagem da
Monarquia à República. Trata-se do romance em que o autor expôs sua opinião sobre o contexto político
em que vivia.

FICHA DE LEITURA

• Narrador: o texto teria sido encontrado nos cadernos do Conselheiro Aires, mas
ele não é o narrador. O narrador de fato é onisciente em terceira pessoa.
• Tempo: inicia-se com a previsão da vidente sobre os gêmeos em 1871 indo até os
primeiros anos da República.
• Espaço: Rio de Janeiro.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 55


Profa. Luana Signorelli

Enredo
Natividade, grávida de gêmeos, consulta
uma cabocla para saber do destino das crianças.
Seriam grandes, mas rivais na vida.

Fonte: Pixabay.
Os dois crescem idênticos na aparência,
mas opostos no caráter. Paulo se torna
republicano e ingressa na Faculdade de Direto;
Pedro, monarquista e cursa Medicina. Forma-se
um triângulo amoroso, quando os dois se
apaixonam por Flora, filha de um político
oportunista chamado Batista.
O pai é nomeado para presidente de uma província ao norte, portanto a moça deverá
abandonar o Rio. Mas, então, é proclamada a República. As circunstâncias mudam e, para
felicidade dos irmãos, ela deve ficar na capital.
Indecisa, vai para a casa da irmã do Conselheiro Aires, contudo adoece e morre. Não resta
aos irmãos outra coisa senão dar atenção às respectivas carreiras. Os dois são eleitos deputados,
mas atuam em lados opostos.
Natividade, em seu leito de morte, pede aos dois que se reconciliem. Os irmãos abalados
atendem ao desejo materno, mas por pouco tempo. Logo recomeçam as brigas e eles terminam
separados.

Interpretação
Do ponto de vista da análise psicológica, o enredo envolvendo gêmeos permite ao autor explorar
a ambiguidade e dualidade do ser humano. Um representa o espírito, outro, o coração. A paixão por uma
única mulher permite explorar a indecisão que ronda o indivíduo.
Contudo a história pode ser lida como alegoria da transição entre os regimes políticos. Os gêmeos
são idênticos e opostos. No Brasil, republicanos e monarquistas retoricamente se contrapõem sem que
isso os distinga na prática.

Esaú e Jacó (1904)

CATEGORIA DEFINIÇÃO
ESTRUTURA 121 (CXXI) capítulos.
PERSONAGENS Natividade; Paulo; Pedro; Flora; Aires → intertextualidade interna.
Inicia-se com a previsão da vidente sobre os gêmeos em 1871 indo até
TEMPO
os primeiros anos da República.
ESPAÇO Rio de Janeiro.
Natividade, grávida de gêmeos, consulta uma cabocla para saber do
ENREDO
destino das crianças. Seriam grandes, mas rivais na vida. Os dois crescem

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 56


Profa. Luana Signorelli

idênticos na aparência, mas opostos no caráter. Paulo se torna


republicano e ingressa na Faculdade de Direto; Pedro, monarquista e
cursa Medicina. Forma-se um triângulo amoroso, quando os dois se
apaixonam por Flora, filha de um político oportunista chamado Batista.
O pai é nomeado para presidente de uma província ao norte, portanto a
moça deverá abandonar o Rio. Mas, então, é proclamada a República.
CONFLITO
As circunstâncias mudam e, para felicidade dos irmãos, ela deve ficar na
capital.
Indecisa, vai para a casa da irmã do Conselheiro Aires, contudo adoece
e morre. Não resta aos irmãos outra coisa senão dar atenção às
CLÍMAX
respectivas carreiras. Os dois são eleitos deputados, mas atuam em lados
opostos.
Natividade, em seu leito de morte, pede aos dois que se reconciliem. Os
DESFECHO irmãos abalados atendem ao desejo materno, mas por pouco tempo. Logo
recomeçam as brigas e eles terminam separados.

 Memorial de Aires
Último romance do autor, publicado em 1908. Narrativa não linear à moda de Memórias póstumas
de Brás Cubas. O título já diz ao que se presta: um memorial, ou seja, um conjunto de folhas esparsas com
eventos interessantes dignos de serem lembrados pelo Conselheiro Aires e que foram anotados na forma
de diário.

FICHA DE LEITURA

• Narrador: em primeira pessoa, quando o Conselheiro fala de si; em terceira pessoa,


quando ele conta circunstâncias envolvendo outros personagens.
• Tempo: inicia-se com a previsão da vidente sobre os gêmeos em 1871 indo até os
primeiros anos da República.
• Espaço: Rio de Janeiro.

Enredo
Marcondes Aires, diplomata aposentado, viúvo e solitário, acompanha com interesse a história do
casal Aguiar.
Aguiar e D. Carmo estão casados há mais de 20 anos, mas não têm filhos. A mulher dirige todo seu
carinho de mãe para o afilhado, Tristão, e para uma viúva, Fidélia, chegando a chamá-la de “minha filha”.
Tristão viaja para a Europa, onde se forma em Medicina. D. Carmo sente saudades “do filho”, que
vai deixando de enviar cartas. Contudo a notícia de que o jovem retornará da Europa reanima o casal
Aguiar.
Ao chegar ao Brasil, D. Carmo apresenta ao afilhado Fidélia. Eles se apaixonam, se casam e vão
para a Europa, deixando os Aguiar sozinhos novamente.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 57


Profa. Luana Signorelli

Essa história é entrecortada pela própria história do Conselheiro. Ele


conhece Fidélia, fala de seu interesse por ela a sua irmã, que o desafia a
conquistá-la. Aires faz uma aposta, ele tinha certeza de que a viúva jamais se
casaria novamente.
Ele, que já não tinha muita esperança de ser correspondido, desiste de
seu projeto de se casar novamente, quando percebe que Tristão e Fidélia estão
apaixonados. Aires parece querer se juntar à solidão do casal Aguiar.

Interpretação
Trata-se de um belo tratado da condição humana, principalmente no momento quando o indivíduo
pode fazer um balanço de sua vida na velhice. Apesar de triste, a história não envereda para o
sentimentalismo barato, seja por conta da forma lacunar própria de um diário, seja pela sabedoria e
equilíbrio, traços distintivos do Conselheiro.
O Conselheiro parece construir uma narrativa como jogo de espelhos. Ao observar a vida dos
personagens ao seu redor, ele vai reconstruindo a própria biografia. No desejo de se casar com Fidélia,
ele espelha a tentativa de fuga do tédio e da solidão que também assombram o casal Aguiar. Mas, se para
o casal não há saída, para o arguto observador dos homens, resta a própria atividade de escrita.

Memorial de Aires (1908)

CATEGORIA DEFINIÇÃO
ESTRUTURA Diário. Última entrada: 30 de agosto / sem data.
PERSONAGENS Aires, casal Aguiar, Tristão, Fidélia.
TEMPO Começo das anotações: 1888, ano da abolição; fim das anotações: 1889.
ESPAÇO Rio de Janeiro.
Marcondes Aires, diplomata aposentado, viúvo e solitário, acompanha
com interesse a história do casal Aguiar. Aguiar e D. Carmo estão casados
ENREDO há mais de 20 anos, mas não têm filhos. A mulher dirige todo seu carinho
de mãe para o afilhado, Tristão, e para uma viúva, Fidélia, chegando a
chamá-la de “minha filha”.
Tristão viaja para a Europa, onde se forma em Medicina. D. Carmo sente
CONFLITO saudades “do filho”, que vai deixando de enviar cartas. Contudo a notícia
de que o jovem retornará da Europa reanima o casal Aguiar.
Ao chegar ao Brasil, D. Carmo apresenta ao afilhado Fidélia. Eles se
apaixonam, se casam e vão para a Europa, deixando os Aguiar sozinhos
novamente. Essa história é entrecortada pela própria história do
CLÍMAX
Conselheiro. Ele conhece Fidélia, fala de seu interesse por ela a sua irmã,
que o desafia a conquistá-la. Aires faz uma aposta, ele tinha certeza de
que a viúva jamais se casaria novamente.
Ele, que já não tinha muita esperança de ser correspondido, desiste de
seu projeto de se casar novamente, quando percebe que Tristão e Fidélia
DESFECHO
estão apaixonados. Aires parece querer se juntar à solidão do casal
Aguiar.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 58


Profa. Luana Signorelli

13 de maio
Enfim, lei. Nunca fui, nem o cargo me consentia ser propagandista da abolição, mas confesso
que senti grande prazer quando soube da votação final do Senado e da sanção da Regente. Estava
na Rua do Ouvidor, onde a agitação era grande e a alegria geral. [...] Ainda bem que acabamos com
isto. Era tempo. Embora queimemos todas as leis, decretos e avisos, não poderemos acabar com os
atos particulares, escrituras e inventários, nem apagar a instituição da História, ou até da Poesia.
ASSIS, Machado de. Memorial de Aires. São Paulo: Ática, 2007. p. 38-39. (Série Bom livro).

3.1.2 Contos

Papéis avulsos
Publicado em 1882, é o terceiro livro de Machado na sua fase realista. O autor adverte que, apesar
do título, “papeis avulsos”, há uma analogia no que se refere aos temas abordados. Vários contos giram
em torno da diferença entre o desejo individual e a apreciação pública, numa sociedade em que o jogo
social tinha muito valor. Além disso, como não podia deixar de ser, a ironia e o pessimismo já estão
marcando presença. Para se ter uma ideia da qualidade dos contos, destacarei três: “O espelho”, “Teoria
do medalhão” e o incrível “O alienista”.

 Teoria do Medalhão. Um pai resolve aconselhar seu filho sobre como obter sucesso na vida. O
filho deveria se submeter à opinião das pessoas mais influentes, raramente manifestar suas próprias
ideias, possuir um vocabulário limitado e preferir o humor simples à ironia.

 O espelho. Aos 25 anos, Jacobina se torna Alferes da Guarda Nacional. Isso muda seu status e
todos ao seu redor o chamam de Sr. Alferes. Vai passar uns dias na casa de Tia Marcolina que, para fazer
um agrado ao Sr. Alferes, coloca no quarto dele um grande espelho. Contudo, por motivos de força maior,
ele acaba ficando sozinho no sítio. Sem a consideração dos outros, a imagem dele desaparece, não
consegue mais se ver no espelho. O protagonista resolve colocar a farda e, para sua surpresa, sua imagem
volta a aparecer com nitidez. Somente com a farda sua “alma exterior” preenchia “a alma interior”.

 O alienista. Dr. Bacamarte retorna ao Brasil e à Itaguaí com fama de médico psiquiatra
reconhecido em Portugal, Espanha e Brasil. Na cidade, ele funda, com o apoio das autoridades, a Casa
Verde, um hospício. Ele vai observando o comportamento das pessoas e interna aquelas que têm padrão
desviante de comportamento. Ele acaba por encarcerar boa parte dos habitantes da cidade. Se todos têm

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 59


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comportamento de desvio, menos ele, então ele é o louco! Ao chegar a essa conclusão, ele solta a todos
e se tranca na Casa Verde.

Histórias sem data


Publicado em 1884, esse livro reúne 18 contos publicados em periódicos cariocas. Nessa data
Machado já tinha se consolidado como autor realista com Memórias póstumas e preparava Quincas
Borba. Dois contos se destacam: “Noite de almirante” e “A igreja do Diabo”.

 Noite de almirante. Deolindo, marinheiro, sai do navio para encontrar sua amada. Os colegas,
cheios de inveja, dizem que ele terá uma noite de almirante. Quando chega em terra, descobre que sua
namorada fora morar com um mascate. Pensa me matá-la. Quando a encontra, jura que vai se matar se
ela não voltar com ele. Não se matou e, no dia seguinte, voltou para o navio sem desmentir os amigos
que cumprimentavam o “almirante”.

 A igreja do Diabo. Essa história teria sido narrada num velho manuscrito beneditino. Há muito
tempo, o Diabo resolveu criar uma igreja que invertia os conceitos de virtude e vício. Ninguém poderia
praticar o bem, o roubo era bem-visto, todos deveriam mentir etc. Contudo, logo que tal Igreja se
institucionalizou, os fiéis faziam às escondidas o que era proibido: davam esmolas, restituíam o objeto
roubado, falavam a verdade etc.

Várias histórias
Coletânea de contos lançada em 1896, reúne 16 contos publicados na Gazeta de Notícias.
Observam-se, nos livros, as características já consagradas do autor: o pessimismo, a ironia, análise
psicológica e descrença no conhecimento. Alguns contos se destacam: “A causa secreta”, “O enfermeiro”
e “A cartomante”.

 A causa secreta. Fortunato, casado com Maria Luiza, torna-se grande amigo de Garcia, com
quem abre uma casa de saúde em sociedade. O amigo fica surpreso ao ver Fortunato torturando um rato:
percebe a índole sádica do amigo. No final da trama, Maria Luiza morre e, de novo, há certo prazer para
Fortunato em observar seu sofrimento e do seu amigo que chora pela mulher que amou em segredo.

 O enfermeiro. Esse conto narra a história de um enfermeiro que, num acesso de raiva, esgana
o rico Felisberto, ação que precipita a morte do velho. O rapaz consegue se desvencilhar das provas. Ele
herda os bens do Sr. Felisberto. Devido ao remorso e ao peso na consciência, pensa em doar todo o
dinheiro, mas, como as pessoas da cidade o elogiam pela paciência com o ricaço morto, fica com o
dinheiro e, com o tempo, esquece-se da culpa interna.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 60


Profa. Luana Signorelli

 A cartomante. Rita é casada com Vilela, mas mantém relações com Camilo, com quem se
encontra frequentemente. Certa feita, ela diz ao amante que foi à cartomante. Camilo desdenha da
crendice da amada. Camilo recebe cartas de alguém que diz saber da relação entre ele e Rita. Ele se afasta
da amada. Um dia recebe uma carta de Vilela, que desejava conversar com o amigo. Camilo, apavorado,
resolve ir à Cartomante que lhe assegura que nenhum mal lhe acometerá. Tranquilo, ele entra na casa de
Vilela. Depara com Rita morta e, em seguida, é morto pelo marido traído.

Machado de Assis também foi cronista, lembrando que ele já trabalhou na imprensa. Por
exemplo, “Bons dias!” é uma obra que reúne 49 crônicas na coluna publicada de 1888 a 1889
na Gazeta de Notícias.

TRECHO DE “PAI CONTRA MÃE”

A ESCRAVIDÃO levou consigo ofícios e aparelhos, como terá


sucedido a outras instituições sociais. Não cito alguns aparelhos
senão por se ligarem a certo ofício. Um deles era o ferro ao pescoço,
outro o ferro ao pé; havia também a máscara de folha-de-flandres.
A máscara fazia perder o vício da embriaguez aos escravos, por lhes
tapar a boca. Tinha só três buracos, dous para ver, um para respirar,
e era fechada atrás da cabeça por um cadeado. Com o vício de
beber. perdiam a tentação de furtar, porque geralmente era dos
vinténs do senhor que eles tiravam com que matar a sede, e aí
ficavam dous pecados extintos, e a sobriedade e a honestidade
certas. Era grotesca tal máscara, mas a ordem social e humana nem
sempre se alcança sem o grotesco, e alguma vez o cruel. Os
funileiros as tinham penduradas, à venda, na porta das lojas. Mas Máscara de folha de flandres. Fonte:
não cuidemos de máscaras. Ficheiro Wikipedia. Disponível em:
https://tinyurl.com/vs4wsndn.
Acesso em: 11 mar. 2021.
O ferro ao pescoço era aplicado aos escravos fujões. Imaginai uma coleira grossa, com a haste
grossa também à direita ou à esquerda, até ao alto da cabeça e fechada atrás com chave. Pesava,
naturalmente, mas era menos castigo que sinal. Escravo que fugia assim, onde quer que andasse,
mostrava um reincidente, e com pouco era pegado. Há meio século, os escravos fugiam com
frequência. Eram muitos, e nem todos gostavam da escravidão. Sucedia ocasionalmente apanharem
pancada, e nem todos gostavam de apanhar pancada. Grande parte era apenas repreendida; havia
alguém de casa que servia de padrinho, e o mesmo dono não era mau; além disso, o sentimento da
propriedade moderava a ação, porque dinheiro também dói. (...)
Quem perdia um escravo por fuga dava algum dinheiro a quem lho levasse. Punha anúncios nas
folhas públicas, com os sinais do fugido, o nome, a roupa, o defeito físico, se o tinha, o bairro por
onde andava e a quantia de gratificação. Quando não vinha a quantia, vinha promessa: "gratificar-
se-á generosamente", ou "receberá uma boa gratificação". Muita vez o anúncio trazia em cima ou
ao lado uma vinheta, figura de preto, descalço, correndo, vara ao ombro, e na ponta uma trouxa.
Protestava-se com todo o rigor da lei contra quem o acoutasse.
Ora, pegar escravos fugidios era um ofício do tempo. Não seria nobre, mas por ser instrumento
da força com que se mantêm a lei e a propriedade, trazia esta outra nobreza implícita das ações
reivindicadoras. Ninguém se metia em tal ofício por desfastio ou estudo; a pobreza, a necessidade

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 61


Profa. Luana Signorelli

de uma achega, a inaptidão para outros trabalhos, o acaso, e alguma vez o gosto de servir também,
ainda que por outra via, davam o impulso ao homem que se sentia bastante rijo para pôr ordem à
desordem.
Fonte: Domínio Público. Disponível em: https://tinyurl.com/xtaf74nb. Acesso em: 11 mar. 2021.

Comentários
O narrador muda do ponto de vista em terceira pessoa, objetivo, para a primeira pessoa do plural
– “nós” – para se aproximar do leitor e fazê-lo de cúmplice. Pensando como o status quo da época, isto
é, mantendo a mentalidade média, defendia a escravidão. Usa vários subterfúgios para tentar explicar
que a escravidão não era tão ruim assim. Publicado pela primeira vez em “Relíquias da Casa Velha”
(1906), esse conto debate a escravidão de uma maneira crítica e irônica, como se ela tivesse sido uma
benfeitora, gerando empregos na época, como é o caso de capturar escravos fugidos.

3.2 Aluísio de Azevedo

Aluísio Tancredo Gonçalves de Azevedo (1857-1913) é natural de São


Luís do Maranhão e era irmão do teatrólogo e jornalista Artur Azevedo. Aos
19 anos foi para o Rio de Janeiro na companhia do irmão. Em 1879, com a
morte do pai, volta para o Maranhão, onde lança seu primeiro romance,
ainda romântico. Em 1881, dá início ao “Movimento Naturalista no Brasil”
com a publicação do romance O mulato. A obra indignou a sociedade de São
Luís, que chegou a chamá-lo de “Satanás da cidade”. Em virtude disso, Aluísio
Azevedo voltou para o Rio de Janeiro decidido a ser escritor.
Oscilou entre livros românticos, mais vendáveis, e outros mais
realistas. Da fase naturalista, destacam-se O cortiço, Casa de pensão e O
mulato.
Em 1895, Aluísio Azevedo ingressa na carreira diplomática.
Vamos às obras.

 O mulato

FICHA DE LEITURA

• Narrador: em terceira pessoa.


• Tempo: a história se desdobra em dois tempos: no presente, em que o personagem
principal, Raimundo, se movimenta, e outro no passado, que envolve a descoberta
de seu passado familiar.
• Espaço: São Luís do Maranhão.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 62


Profa. Luana Signorelli

Enredo
José, um abastado fazendeiro de São Luís, tem um filho com a escrava, Domingas. O proprietário
tem afeição especial pelo menino bastardo, mas o rapaz fica órfão cedo. A mãe enlouquecera e o pai fora
morto pelo Pe. Diogo, ex-amante da mulher de José.
Na verdade, esse trio amoroso foi bastante trágico. José matara sua mulher na frente do amante.
Os dois fizeram um pacto de silêncio, mas o padre resolvera se vingar do marido.
Raimundo, o protagonista de fato, recebeu a herança e foi enviado a Portugal para completar seus
estudos. De volta ao Brasil, ele se apaixona pela prima. O pai da moça não aprova tal relacionamento por
preconceito. O rapaz engravida a prima e está disposto a se casar com ela, quando é assassinado por Luís
Dantas (empregado do tio), a quem a moça tinha sido prometida em casamento. O assassino fora
influenciado pelo padre, pois temia ser descoberto por Raimundo.

Interpretação
A obra tematiza, sobretudo, o racismo presente na sociedade brasileira. Contudo outros temas
polêmicos também podem ser observados na obra: crítica social (há um desfile de personagens grotescos
representantes da elite maranhense); anticlericalismo e o predomínio da falta de caráter.

O mulato (1881)

CATEGORIA DEFINIÇÃO
ESTRUTURA 19 capítulos.
PERSONAGENS José, Domingas, Raimundo, Dantas.
A história se desdobra em dois tempos: no presente, em que o personagem
TEMPO principal, Raimundo, se movimenta, e outro no passado, que envolve a
descoberta de seu passado familiar.
ESPAÇO São Luís do Maranhão.
José, um abastado fazendeiro de São Luís, tem um filho com a escrava,
Domingas. O proprietário tem afeição especial pelo menino bastardo,
ENREDO
mas o rapaz fica órfão cedo. A mãe enlouquecera e o pai fora morto
pelo Pe. Diogo, ex-amante da mulher de José.
Na verdade, esse trio amoroso foi bastante trágico. José matara sua
CONFLITO mulher na frente do amante. Os dois fizeram um pacto de silêncio, mas o
padre resolvera se vingar do marido.
Raimundo, o protagonista de fato, recebeu a herança e foi enviado a
Portugal para completar seus estudos. De volta ao Brasil, ele se apaixona
CLÍMAX
pela prima. O pai da moça não aprova tal relacionamento por
preconceito.
O rapaz engravida a prima e está disposto a se casar com ela, quando
é assassinado por Luís Dantas (empregado do tio), a quem a moça tinha
DESFECHO sido prometida em casamento. O assassino fora influenciado pelo padre,
pois temia ser descoberto por Raimundo. Representa anticlericalismo e
o predomínio da falta de caráter.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 63


Profa. Luana Signorelli

 O cortiço

FICHA DE LEITURA

• Narrador: em terceira pessoa.


• Tempo: a narrativa se passa em algum momento entre 1880 e 1890; em relação ao
tempo da contação da história, a narrativa é linear e os fatos são contados em
ordem cronológica.
• Espaço: Rio de Janeiro – sobrado e cortiço.

Enredo
Nesse romance, o autor consegue a façanha de contar uma narrativa de uma coletividade. Ele se
vale de uma narrativa central, a ascensão de João Romão, o proprietário do cortiço, entremeada pelas
histórias particulares dos habitantes da estalagem.
Inicialmente, o narrador apresenta a história do protagonista que dá alma ao cortiço, o português
João Romão. Tendo trabalhado miseravelmente para um outro conterrâneo, fica com uma soma em
dinheiro e o armazém onde trabalhava quando seu patrão retorna para Portugal. Ele se junta com uma
escrava, Bertoleza, e apropria-se do dinheiro que
ela está guardando para comprar a alforria.
Consegue fazer isso forjando uma carta de alforria.
Compra o terreno adjacente ao armazém e começa
a construir casinhas. Ele e Bertoleza trabalham dia
e noite sem descanso para ampliar o negócio.
Consegue comprar mais umas braças do terreno, o
que inclui a pedreira que logo ele começa a
explorar. Ele é descrito como alguém que tem febre
em acumular, não gasta seu dinheiro com nada e,
quando pode, apropria-se do que é dos outros.
No sobrado ao lado, vem morar um rico
comerciante: Miranda. Mudou-se para o bairro, com a finalidade de afastar a mulher adúltera, Dona
Estela, dos fregueses e dos caixeiros que trabalhavam para ele. A relação entre eles era de ódio. Parte da
fortuna do comerciante vinha do dote da mulher, ele tinha então que suportar a relação. Tinham uma
filha Zulmira, uma menina obediente e enjeitada. No sobrado, viviam o Botelho, um velho agregado, e
Henrique, filho de um rico cliente que mandara o filho para a capital para que ele se preparasse para o
curso de medicina.
Esses dois polos, inicialmente, opõem-se. João Romão e Miranda se indispõem por conta do
terreno adjacente ao sobrado. Miranda quer comprá-lo para ampliar seu quintal, João Romão não quer
vendê-lo.
Feita a apresentação do conflito inicial, o narrador passa a focar nos habitantes do cortiço e
apresenta seus moradores. Ele começa pelas lavadeiras: Machona (uma mulher autoritária), Augusta

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 64


Profa. Luana Signorelli

Carne Mole (honesta), Albino (lavadeiro), Marciana e sua filha Florinda, Leocádia (mulher infiel), Paula ou
Bruxa (feiticeira) e Dona Isabel e sua filha Pombinha.
Chega um outro personagem que terá muita importância para a trama: Jerônimo, um português,
honesto, trabalhador e bom pai de família que chega ao cortiço para trabalhar como cavouqueiro para
João Romão. Conhece Rita Baiana, por quem é seduzido. A mulata representa a sensualidade tanto da
raça (segundo o narrador) quanto do próprio país tropical. Indispõe-se com o amante dela, Firmo, brigam
e Jerônimo, ferido, acaba recolhendo-se ao hospital por um tempo.
O narrador passa, então, a acompanhar outra história, a de D. Isabel e de sua filha Pombinha. A
mulher tivera uma vida boa, mas após a morte do seu marido, teve que se recolher ao cortiço, esperando
que sua filha, casando-se com um bom homem, poderia tirá-las daquela estalagem. O problema era que
a menina ainda não menstruara. No dia em que houve a briga entre Firmo e Jerônimo, aconteceu também
um outro embate: entre Pombinha e Léonie, uma prostituta que frequentava o cortiço e era bem querida
de todos.
A menina e a mãe tinham ido visitar Léonie. Dona Isabel, depois do almoço, retirou –se para
dormir, deixando a filha em companhia da prostituta. A cortesã, quando se viu a sós com a menina, atirou-
se sobre ela, seduzindo-a e a despertando para o sexo. No dia seguinte, a jovem sentiu-se mal e teve a
sua primeira menstruação.
Nesse ponto, o narrador retoma a história de João Romão. O vendeiro, agora, tinha dado para
invejar o Miranda, pois este conquistara um título de barão. Começa uma transformação interior desse
personagem. Agora, o homem, descontente com sua vida de mascate, começa a pensar no prestígio
social. O velho Botelho sugere ao vendeiro que se case com a filha do Miranda.

Com os fios narrativos assim emaranhados, o narrador começa a preparar o desfecho. Jerônimo
retorna do hospital e mata Firmo, abandona sua mulher e filha e vai morar com Rita Baiana. Torna-se
displicente.
Pombinha casa-se como o seu noivo, mas logo percebe que ela não poderia confiar no sexo
masculino. Trai algumas vezes seu esposo, que acaba por abandoná-la. Resolve então aventurar-se na
vida de sua mestra, Léonie. Torna-se também prostituta e D. Isabel morre de desgosto.
O cortiço passa por mudanças. A Bruxa, na tentativa de se vingar de João Roma, põe fogo no
cortiço. Porém, o homem tinha colocado toda a propriedade no seguro. João Romão lucra com a tragédia.
Constrói um sobrado maior do que o do Miranda, moderniza o cortiço e agora torna-se burguês com
negócios variados. Já circula na Rua do Ouvidor, lugar de exibição da elite endinheirada. Falta-lhe o
casamento.
O impedimento é Bertoleza, precisa livrar-se da negra. Botelho, ao saber que ela é escrava ainda,
aconselha João Romão a denunciá-la aos donos como negra fujona. Botelho o ajuda na empreitada. No
capítulo final, os guardas chegam para prendê-la e devolvê-la ao dono. Percebendo o que vai acontecer,

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 65


Profa. Luana Signorelli

Bertoleza se mata, enquanto entra no sobrado de João Romão uma comissão de abolicionistas que vinha
trazer-lhe “o diploma de sócio benemérito”.

Interpretação
O Cortiço representa, entre nós, o exemplar mais bem formulado do Naturalismo. Aluísio Azevedo
fez uma pesquisa de campo para descrever a vida em tal circunstância. Apresenta uma espécie de
romance de tese, pois os personagens são determinados pelo meio, pela raça e pela situação histórica.
Os mulatos e negros são representados como inferiores e marcados pela animalidade: Rita Baiana é pura
sensualidade e Bertoleza é representada como se fosse um animal de carga. Ambas, diz o narrador,
procuravam instintivamente nos parceiros brancos uma forma de melhorar sua raça.
Outros elementos que submetem os homens a todo tipo de baixeza são o calor e a sensualidade.
O sol dos trópicos e a sensualidade de Rita Baiana arrastam Jerônimo para a degradação moral. Também
Pombinha, dada sua interpretação enviesada da realidade, própria de quem cresceu num monturo (dirá
o narrador), deixa-se levar pela volúpia.
Resta João Romão, que, sabendo se aproveitar desses indivíduos inferiores, consegue o êxito de
um burguês que lutou até conseguir um lugar na sociedade. Aluísio Azevedo carrega nas tintas de um
português cruel que se aproveita de brasileiros, expressando, nesse romance, um sentimento antilusitano
bastante evidente no final do século XIX.
Ao final do romance, percebe-se que não há mocinhos e que a liberdade é uma ilusão.

O cortiço (1890)

CATEGORIA DEFINIÇÃO
ESTRUTURA 23 capítulos.
João Romão, Bertoleza, Miranda, Jerônimo, Rita Baiana, Piedade,
PERSONAGENS
Pombinha.
TEMPO 1890.
ESPAÇO Cortiço do Rio de Janeiro.
Trata-se da uma narrativa de uma coletividade. O narrador se vale de
ENREDO
uma narrativa central, a ascensão de João Romão, o proprietário do

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 66


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cortiço, entremeada pelas histórias particulares dos habitantes da


estalagem. Ele se junta com uma escrava, Bertoleza, e apropria-se do
dinheiro que ela está guardando para forjar uma carta de alforria.
Compra o terreno adjacente ao armazém e começa a construir casinhas.
Ele e Bertoleza trabalham dia e noite sem descanso para ampliar o
negócio. Opõe-se ao rico vizinho Miranda.
É narrado o trabalho das lavadeiras. Chega um outro personagem que
terá muita importância para a trama: Jerônimo, um português, honesto,
CONFLITO trabalhador. Conhece Rita Baiana, por quem é seduzido. Outra história,
a de D. Isabel e de sua filha Pombinha, mas ela menstrua e tem um
relacionamento lésbico, Léonie, prostituta que frequentava o cortiço.
Com os fios narrativos assim emaranhados, o narrador começa a preparar
o desfecho. Jerônimo retorna do hospital e mata Firmo, abandona sua
CLÍMAX mulher e filha e vai morar com Rita Baiana. Pombinha casa-se como o seu
noivo, mas logo percebe que ela não poderia confiar no sexo masculino.
Trai algumas vezes seu esposo, que acaba por abandoná-la.
No capítulo final, os guardas chegam para prender Bertoleza e devolvê-
la ao dono. Percebendo o que vai acontecer, Bertoleza se mata; João
DESFECHO
Romão uma comissão de abolicionistas que vinha trazer-lhe “o diploma
de sócio benemérito”.

TRECHOS DE “O CORTIÇO”

TRECHO I
Jerônimo via e escutava, sentindo ir-se-lhe toda a alma pelos olhos enamorados.
Naquela mulata estava o grande mistério, a síntese das impressões que ele recebeu chegando
aqui: ela era a luz ardente do meio-dia; ela era o calor vermelho das sestas da fazenda; era o aroma
quente dos trevos e das baunilhas, que o atordoara nas matas brasileiras; era a palmeira virginal e
esquiva que se não torce a nenhuma outra planta; era o veneno e era o açúcar gostoso; era o sapoti
mais doce que o mel e era a castanha do caju, que abre feridas com o seu azeite de fogo; ela era a
cobra verde e traiçoeira, a lagarta viscosa, a muriçoca doida, que esvoaçava havia muito tempo em
torno do corpo dele, assanhando-lhe os desejos, acordando-lhe as fibras embambecidas pela
saudade da terra, picando-lhe as artérias, para lhe cuspir dentro do sangue uma centelha daquele
amor setentrional, uma nota daquela música feita de gemidos de prazer, uma larva daquela nuvem
de cantaridas que zumbiam em torno da Rita Baiana e espalhavam-se pelo ar numa fosforescência
afrodisíaca.
Aluísio Azevedo, O cortiço. Fonte: Domínio Público.
Disponível em: https://tinyurl.com/vnce3dke. Acesso em: 11 mar. 2021.

Comentários
O trecho aborda uma síntese de impressões sensoriais causadas pela mulher, que também é
animalizada, chegando a ser comparada com lagarta, muriçoca e larva.

TRECHO II
E assim, pouco a pouco, se foram reformando todos os seus hábitos singelos de aldeão
português: e Jerônimo abrasileirou-se. A sua casa perdeu aquele ar sombrio e concentrado que a
entristecia; já apareciam por lá alguns companheiros de estalagem, para dar dois dedos de palestra
nas horas de descanso, e aos domingos reunia-se gente para o jantar. A revolução afinal foi

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 67


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completa: a aguardente de cana substituiu o vinho; a farinha de mandioca sucedeu à broa; a carne-
seca e o feijão-preto ao bacalhau com batatas e cebolas cozidas; a pimenta-malagueta e a pimenta-
de-cheiro invadiram vitoriosamente a sua mesa; o caldo verde, a açorda e o caldo de unto foram
repelidos pelos ruivos e gostosos quitutes baianos, pela muqueca, pelo vatapá e pelo caruru; a couve
à mineira destronou a couve à portuguesa; o pirão de fubá ao pão de rala, e, desde que o café encheu
a casa com o seu aroma quente, Jerônimo principiou a achar graça no cheiro do fumo e não tardou
a fumar também com os amigos.
Aluísio de Azevedo – O cortiço. Domínio público.
Fonte: https://tinyurl.com/c454sss. Acesso em: 11 mar. 2021.

Comentários
Nesse fragmento, constata-se um processo de mudança de costumes e construção de uma nova
identidade. O que pode se constatar com o neologismo “abrasileirou-se”. Isto é, João Romão,
comerciante imigrante vindo de Portugal, adapta-se aos costumes das terras brasileiras, costumes
estes que vão desde à culinária até o fumo, por exemplo: “Jerônimo principiou a achar graça no cheiro
do fumo e não tardou a fumar também com os amigos”.

3.3 Raul Pompeia


Raul Pompeia (1863-1895) nasceu no município de
Angra dos Reis e, ainda criança, mudou-se para o Rio de
Janeiro. Sua família era abastada, o que lhe permitiu frequentar
os melhores colégios da corte. Depois de terminar os estudos
no Colégio D. Pedro II, ele se muda para São Paulo, onde cursa
Direto na Faculdade do Largo de São Francisco.
Inicialmente, foi bem recebido pelo corpo docente, mas
logo depois se indispõe com alguns catedráticos por sua defesa
da causa republicana e abolicionista. Depois de sua passagem
por São Paulo, Pompéia retorna ao Rio e passa a escrever em
vários jornais, além de ocupar um cargo público já na
República. Com a ascensão de Floriano Peixoto, o escritor, por
apoiar o militar, passa a acumular desafetos. Prudente de
Morais se torna presidente e, por causa de um discurso
inflamado a favor de Peixoto, Raul Pompéia foi demitido do cargo de Diretor da Biblioteca Nacional.
Nessa época, polemizou com Olavo Bilac e Luís Murat. Sentiu-se ultrajado pelo artigo “Um louco
no cemitério”. Em 25 de dezembro de 1895 suicidou-se, deixando um bilhete no qual declarava ser “um
homem de honra”.

 O Ateneu
O Ateneu foi publicado no ano de 1888 e costuma ser classificado como uma obra realista.
Estilisticamente, o texto não segue alguns pressupostos do Realismo. O narrador não é em terceira
pessoa, mas em primeira, e a linguagem incorpora alguns elementos naturalistas sem que se perceba com
nitidez o estofo cientificista. Isso tem a ver com a própria natureza do romance.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 68


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O enredo gira em torno das lembranças de Sérgio, da época em que ele ficou num internato. A
crítica costuma destacar que se trata de um álter ego do próprio autor. Ou seja, o protagonista, embora
seja um ente ficcional, incorpora muitas circunstâncias que foram vividas pelo próprio Pompéia.
A estada de Sérgio no Internato foi perturbadora e deixou marcas profundas no adulto que agora
conta sua adolescência. Por conta disso, ao descrever os personagens e as situações, o narrador os
deforma, criando imagens que parecem saídas de um filme expressionista.

FICHA DE LEITURA
• Narrador: primeira pessoa memorial; Sérgio, já mais velho, lembra-se do que
passou no colégio interno.
• Tempo: o tempo cronológico abrange o período em que Sérgio entra no internato
até o incêndio que destrói o prédio. Predomina o tempo psicológico, daí os
fragmentos de história, os flashbacks e as impressões de momento.
• Espaço: o internato no Rio de Janeiro.

Enredo
O narrador conta os episódios mais marcantes dos dois
anos que passou no internato. Aos 11 anos, o pai leva o menino
para se matricular no Ateneu. As palavras dele: “vais encontrar
o mundo” são proféticas. Na instituição, o menino se depara
com a hipocrisia, mandos e desmandos, sistemas de proteção e
a sexualidade – a sua e a dos outros internos.

Fonte: Pixabay.
Ao entrar, recebe um conselho de não admitir
protetores. Contudo, no primeiro dia de aula de educação
física, na piscina, alguém o puxa e o Sanches o salva. Aceita a
orientação do novo colega que o ajuda nos estudos, mas que se
aproxima pegajosamente dele.
Tenta se isolar, torna-se místico e aproxima-se de
Franco, um garoto ressentido e maldoso que prepara uma
vingança contra os colegas. Quebra garrafas e joga os cacos na piscina esperando que os meninos se
machuquem, quando forem nadar. Sérgio, atormentado pelo remorso, não consegue dormir. No dia
seguinte, por sorte, a piscina tinha sido esvaziada e os meninos não puderam se banhar. Termina a fase
de aproximação com Franco.
Torna-se amigo de Bento, um rapaz forte e misterioso. Sente-se protegido pelo garoto, mas logo
essa relação desperta os ciúmes de um antigo rival. O inimigo de Sérgio estimula uma briga entre Bento
e Malheiro, que tinha como pivô o próprio narrador. Depois disso, Bento muda de comportamento para
com o protagonista.
Começa a fase de Egbert, um bonito rapaz de origem inglesa. Tornam-se inseparáveis e, por conta
das boas notas que tiraram, são convidados para jantar com o diretor, Aristarco, e sua mulher. Sérgio fica
encantado por Dona Ema. A amizade por Egbert começa a esfriar.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 69


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Sérgio muda de dormitório. Entra em cena a camareira Ângela, que desperta a sexualidade dos
meninos. Há solenidades de final de ano com a presença de vultos da cidade: a Princesa Regente e o
Ministro do Império.
Os meninos se preparam para deixar o colégio. Contudo Sérgio, doente, foi obrigado a ficar na
enfermaria durante as férias, sendo atendido por D. Ema.
Nesse momento, tem sensações ambíguas: amor filial, carinho e erotismo. É nessas circunstâncias
que, um dia, Sérgio testemunha o incêndio do Ateneu. Américo, um menino antissocial, era o suspeito do
ato de vandalismo.

Interpretação
O Ateneu surge como microcosmo da sociedade. O autor, com seus personagens, vai denunciando
uma sociedade marcada por adulações, hipocrisia e jogo de poder. Escancara a violência própria do
sistema educacional. Num determinado episódio, Sérgio descobre que a família de Franco não arcava mais
com as despesas do colégio particular, fato que faria qualquer aluno ser desligado da instituição. Contudo
Franco continua a frequentar as aulas, pois, como péssimo aluno, é castigado com frequência. Fica clara
a necessidade cruel de bodes expiatórios no sistema educacional.
Alunos de pais mais influentes recebiam atenção especial de Aristarco, e boa parte das solenidades
não tinham função didática, eram puro marketing. Os alunos não eram melhores que o corpo docente:
invejosos, ciumentos e hipócritas, reproduziam a dinâmica dos adultos.
A classificação da obra é um caso à parte. A crítica costuma destacar uma
sobreposição de estilos: parnasiano, simbolista, naturalista, impressionista e
expressionista. Neste estudo resumido da obra, não cabe mostrar como essas
características se apresentam em trechos descritos ou narrativos. A filiação ao Realismo
se impõe, seja pela marcação temporal – foi publicado em 1888, data de vigência da
escola literária –, seja pela análise do caráter humano e das relações sociais.

O Ateneu (1888)

CATEGORIA DEFINIÇÃO
ESTRUTURA 12 (XII) capítulos.
PERSONAGENS Sérgio; Franco; Bento; Egberto; Aristarco; dona Ema.
O tempo cronológico abrange o período em que Sérgio entra no internato
TEMPO até o incêndio que destrói o prédio. Predomina o tempo psicológico, daí os
fragmentos de história, os flashbacks e as impressões de momento.
ESPAÇO O internato no Rio de Janeiro.
O narrador conta os episódios mais marcantes dos dois anos que passou
no internato. Aos 11 anos, o pai leva o menino para se matricular no Ateneu.
ENREDO
Na instituição, o menino se depara com a hipocrisia, mandos e desmandos,
sistemas de proteção e a sexualidade – a sua e a dos outros internos.
Tenta se isolar, torna-se místico e aproxima-se de Franco, um garoto
CONFLITO ressentido e maldoso que prepara uma vingança contra os colegas. Termina
a fase de aproximação com Franco.

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Torna-se amigo de Bento, um rapaz forte e misterioso. Começa a fase de


CLÍMAX
Egbert, um bonito rapaz de origem inglesa.
Sérgio muda de dormitório. Entra em cena a camareira Ângela, que
desperta a sexualidade dos meninos. Há solenidades de final de ano com
a presença de vultos da cidade: a Princesa Regente e o Ministro do Império.
Os meninos se preparam para deixar o colégio. Contudo Sérgio, doente,
DESFECHO foi obrigado a ficar na enfermaria durante as férias, sendo atendido por
D. Ema. Nesse momento, tem sensações ambíguas: amor filial, carinho e
erotismo. É nessas circunstâncias que, um dia, Sérgio testemunha o incêndio
do Ateneu. Américo, um menino antissocial, era o suspeito do ato de
vandalismo.

Artista Alegoria Suicídio

TRECHO DE “O ATENEU”
A doutrina cristã, anotada pela proficiência do explicador, foi ocasião de dobrado ensino que
muito me interessou. Era o céu aberto, rodeado de altares, para todas as criações consagradas da
fé. Curioso encarar a grandeza do Altíssimo; mas havia janelas para o purgatório a que o Sanches se
debruçava comigo, cuja vista muito mais seduzia. E o preceptor tinha um tempero de unção na voz
e no modo, uma sobranceria de diretor espiritual, que fala do pecado sem macular a boca. Expunha
quase compungido, fincando o olhar no teto, fazendo estalar os dedos, num enlevo de abstração
religiosa; expunha, demorando os incidentes, as mais cabeludas manifestações de Satanás no
mundo. Nem ao menos dourava os chifres, que me não fizessem medo; pelo contrário, havia como
que o capricho de surpreender com as fantasias do Mal e da Tentação, e, segundo o lineamento do
Sanches, a cauda do demônio tinha talvez dois metros mais que na realidade. Insinuou-me, é certo,
uma vez, que não é tão feio o dito, como o pintam.
O catecismo começou a infundir-me o temor apavorado dos oráculos obscuros. Eu não
acreditava inteiramente. Bem pensando, achava que metade daquilo era invenção malvada do
Sanches. E quando ele punha-se a contar histórias de castidade, sem atenção à parvidade da matéria
do preceito teológico, mulher do próximo, Conceição da Virgem, terceiro-luxúria, brados ao céu pela
sensualidade contra a natureza, vantagens morais do matrimônio, e porque a carne, a inocente
carne, que eu só conhecia condenada pela quaresma e pelos monopolistas do bacalhau, a pobre
carne do beef, era inimiga da alma; quando retificava o meu engano, que era outra a carne e guisada
de modo especial e muito especialmente trinchada, eu mordia um pedacinho de indignação contra
as calúnias à santa cartilha do meu devoto credo. Mas a coisa interessava e eu ia colhendo as
informações para julgar por mim oportunamente.
Na tabuada e no desenho linear, eu prescindia do colega mais velho; no desenho, porque
achava graça em percorrer os caprichosos traços, divertindo-me a geometria miúda como um
brinquedo; na tabuada e no sistema métrico, porque perdera as esperanças de passar de medíocre
como ginasta de cálculos, e resolvera deixar a Maurílio ou a quem quer que fosse o primado das
cifras.
Em dois meses tínhamos vencido por alto a matéria toda do curso; e, com este preparo, sorria-me o
agouro de magnífico futuro, quando veio a fatalidade desandar a roda.
(Raul Pompéia. O Ateneu. Rio de Janeiro: Biblioteca Universal Popular, 1963.)

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 71


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Comentários
Nesse trecho, o narrador comenta suas reações ao ensino
que recebia no colégio. As entidades referidas no primeiro
parágrafo dizem respeito à dualidade Bem e Mal, contextualizadas
na religião cristã através de Deus (“céu” e “Altíssimo”) e Demônio
(Satanás”, “chifres”, “cauda”). Enquanto ao primeiro estão
associados o Bem e as Virtudes, ao segundo se associam o pecado
e a condenação, eterna (Inferno) ou temporária (Purgatório).

3.4 Outros escritores do período

Artur Azevedo. Nabantino Gonçalves de Azevedo (São Luís, 7 de julho


de 1855 — Rio de Janeiro, 22 de outubro de 1908) foi um dramaturgo,
poeta, contista, prosador, comediógrafo, crítico e jornalista brasileiro.
Ao lado de seu irmão, o escritor Aluísio Azevedo, foi um dos
fundadores da Academia Brasileira de Letras. O principal gênero
escrito por ele foi o teatro, mas escreveu também contos e poesias.
Hoje em São Luís o Teatro Arthur Azevedo é nomeado em sua
homenagem.

PRINCIPAIS OBRAS
• A Capital Federal, 1859;
• O Mambembe, 1904;
• O dote, 1907.

Adolfo Caminha. Adolfo Ferreira dos Santos Caminha (Aracati, 29


de maio de 1867 — Rio de Janeiro, 1 de janeiro de 1897), foi um
escritor brasileiro, um dos principais autores do Naturalismo no Brasil.
Nasceu no Ceará e publica a sua primeira obra, A normalista,
em 1893. Porém, é o romance O Bom-Crioulo (1895) que é considerada
sua obra-prima. O enredo narra a história de Amaro, um jovem negro
que se alistou na Marinha, que se apaixonou por Aleixo, o oposto dele,
um jovem de olhos claros. Amaro é convocado para outro navio e em
sua ausência D. Carolina tenta seduzi-lo. Quando Amaro volta,
descobre a traição e mata Aleixo com uma navalhada. Nessa obra,
encontram-se os principais preceitos naturalistas: a representação de
minorias, como o homossexual e a prostituta, a raça e o instinto.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 72


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Júlio Ribeiro. Júlio César Ribeiro Vaughan (1845-1890) foi um escritor e


gramático brasileiro. Foi o inventor da bandeira do estado de São Paulo e
é um dos membros fundadores da Academia Brasileira de Letras (1888).
Era um escritor engajado e abolicionista, e tais ideologias o levaram a
aderia à estética naturalista, tendo se inspirado em Zola.
Sua obra-prima é A carne (1888), obra que narra o romance de Lenita com
o engenheiro Manuel.

O NATURALISMO CHEGA AO BRASIL


No Brasil, o Naturalismo conquistou vários seguidores. O principal deles foi Aluísio Azevedo,
que deu início ao movimento quando publicou, em 1881, o romance O mulato.
Também tem destaque Júlio Ribeiro, que publicou, em 1888, A carne, narrativa que tematiza
um caso de histeria patológica. No romance, a personagem Lenita é dominada por instintos de
natureza sexual, comportando-se de modo animalesco. A obra provocou violentas reações da
sociedade da época, despreparada para abordagens mais explícitas de temas ligados à
sexualidade.
Adolfo Caminha focaliza a decadência da sociedade de Fortaleza na história de Maria do
Carmo, protagonista do romance A normalista (1893), moça educada que é seduzida pelo
padrinho. Em O bom crioulo (1895), desenvolve a temática do homossexualismo entre
marinheiros.
Houve ainda Domingos Olímpio, que em Luzia Homem (1903) trata da condição humana e
social do sertanejo; e Inglês de Souza, que procura expor os aspectos morais da evolução de um
sacerdote na sua obra mais conhecida, O missionário (1888).
Fonte: ABAURRE; PONTARA, 2005, p. 431.

Coelho Netto. Henrique Maximiano Coelho Netto (Caxias, 21 de


fevereiro de 1864 — Rio de Janeiro, 28 de novembro de 1934) foi um
escritor (cronista, folclorista, romancista, crítico e teatrólogo), político
e professor brasileiro, membro da Academia Brasileira de Letras onde
foi o fundador da Cadeira número 2.
Era naturalista e foi combatido pelos modernistas. Apreciava
os Irmãos Goncourt e um de seus pseudônimos era Charles Rouget,
um dos personagens do naturalista francês Émile Zola.

PRINCIPAIS OBRAS
• Esfinge, romance (1908)
• Rei Negro (1914)
• O povo, romance (1924)

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 73


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4.0 A arte do fim do século XIX


Nas Artes Plásticas, assim como na Literatura, percebe-se, na segunda metade do século XIX, uma
reação ao sentimentalismo exacerbado, característica do Romantismo. O tema retratado pelo artista, de
certa forma, passa a determinar a técnica utilizada. O pintor, tentando se aproximar da realidade e recusar
a evasão, dá maior nitidez e definição na pintura, tentando captar as cores como as vemos.
Observem a mudança temática radical entre um e outro movimento.
O nome do quadro ao lado é: “Dois
homens observando a lua” de Caspar David
Friedrich (1774-1840). O nome da pintura por si
nos dá uma das características mais importantes
do Romantismo, a evasão. Os homens encontram-
se de costas para quem observa o quadro,
conduzindo o olhar do espectador para a
natureza. A lua ocupa o centro da tela e a árvore,
em primeiro plano, toma quase todo o plano
pictórico. O declive acidentado e a árvore
retorcida obrigam o intérprete a encontrar beleza
na natureza bruta e na incomensurabilidade de
um mundo que parece esmagar os homens, mas
que, por isso mesmo, enche-o de admiração.

Fonte: Shutterstock.

O foco da arte realista é outro: o próprio homem. Se há algum esmagamento, ele não ocorre por
forças místicas do mundo, mas pelas próprias relações sociais, que surgem como determinantes de como
as pessoas vivem. A beleza deve estar no cotidiano, mesmo que miserável. A arte nas mãos de Honoré
Daumier, por exemplo, vai além do “belo pelo belo”, devendo servir como expressão de denúncia social.

4.1 Realismo
Aliás, a história do pintor nos dá uma boa ideia do Realismo na pintura. Nasceu em 1808 em
Marselha e morreu em 1879 em Valmondois. Na adolescência, começa a se interessar por artes e teve
aulas no ateliê de um ex-aluno de David. Trabalhou como ilustrador. Em 1831, por causa de uma
caricatura na qual ridicularizava o rei Luís Felipe, foi preso. Em liberdade, assina contrato com revistas de
ilustrações e caricaturas de Paris.
Em 1843, produziu litografias sobre os inconvenientes do transporte
ferroviário. Desse estudo, ele produziu a obra com a qual começamos a aula “O vagão
de terceira classe”. A intenção dele era descrever com maior precisão a realidade
social ou humana, quase como um documentário.
O artista acreditava que:

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 74


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 havia uma luta entre homem e natureza (não, a natureza não era confidente do sujeito!) ou luta
entre classes sociais;
 a realidade seria determinada por questões materiais; e
 havia momentos na simplicidade do cotidiano que poderiam revelar muito sobre a condição
humana.
Os detalhes da imagem são surpreendentemente perturbadores. A mulher em primeiro plano olha
fixamente para o espectador numa atitude de resignação, mas também de acusação. A criança que se
recosta nela dorme, denunciando o cansaço. Alguns passageiros do segundo plano também olham para
frente numa atitude de desafio ao olhar de quem os observa. A mulher ao lado amamenta o filho, alheia
a tudo e a todos. Trata-se da apoteose do cotidiano.
A obsessão pelo “real” pode ser observada em
algumas das obras significativas desse período. A
francesa Rosa Bonheur (1822-1899) se especializou na
pintura de animais, que manifesta uma pesquisa quase
científica voltada para a representação figurativa. Um
outro exemplo dessa confluência entre ciência e arte
pode ser percebido no quadro “A clínica de Agnew”, do
americano Thomas Eakins (1844-1916). Pintor realista,
ele provocou polêmica ao pintar uma cirurgia de câncer
de mama feita pelo Dr. Agnew diante de uma galeria de
estudantes e médicos.
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Thomas_Eakin
s,_The_Agnew_Clinic_1889.jpg, acessado em 11.09.2019)

Outro autor que provocou controvérsia foi Gustave Coubert (1819-1877). Influenciado por
Velázques, vale-se do claro e escuro para dar dramaticidade ao cotidiano dos trabalhadores (“Os
quebradores de pedra”, por exemplo). A pedido de um diplomata turco, Gustave Coubert produziu uma
das mais polêmicas obras de arte. Trata-se do quadro “A origem do mundo”, uma representação realista
do púbis de uma mulher deitada de pernas abertas. Não se vê o rosto da modelo, apenas o seu quadril
exposto. A imagem incomoda até hoje.

4.2 Impressionismo
Mas afinal o que é o real? Ora, além de não ser
possível responder com precisão essa pergunta, o artista
do fim do século XIX tinha plena consciência de que a arte
Fonte: Shutterstock

era representação, era uma espécie de imagem de


segunda mão, já que um quadro representava o que o olho
do artista captou para que o espectador pudesse agora
captar a imagem da imagem.
Influenciados pelas teorias físicas sobre a cor, os
impressionistas radicalizaram a representação da
realidade. A cor era resultado da refração da luz, portanto,
uma ilusão. A realidade dessa ilusão deveria ser captada. Nada de pinturas em estúdio ou em lugares

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 75


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fechados. A luz estava lá fora, nos parques, lagos e campos. O artista, como um cientista, deveria registrar
essa iluminação e estudá-la, pintando a mesma cena em diferentes horas do dia. Além, disso, deveria
provocar o espectador para que ele se tornasse consciente da ilusão. O uso de pontos, o famoso
pontilhismo, para pintar o quadro expõe o trabalho do artista. De perto, o quadro é um amontoado de
pontos, de longe, percebe-se a figura.
Os temas eram menos miseráveis do que aqueles retratados pelos realistas.

Era comum a representação da burguesia em momentos de descontração. Contudo isso não


impediu algumas obras mais ousadas, como “O piquenique”, de Monet, no qual se observam homens, na
paisagem bucólica, sobriamente vestidos conversando com uma mulher totalmente despida, uma
prostituta. Por sua vez, Edgar Degas (1834-1917) pintou algumas obras que lembram o Naturalismo, seja
pelo contorcionismo de algumas de suas bailarinas ou pelo quadro cujo título já é um espanto: “O
estupro”.
O Impressionismo foi apresentado ao público em 1874. Os impressionistas rejeitavam as
idealizações, a perspectiva do Renascimento e a pintura de estúdio. Foi iniciado por Claude Monet (1840-
1926) e seguido por Pierre-Auguste Renoir (1841-1919), Paul Cézanne (1839-1906), Edgar Degas (1834-
1917), entre outros.

4.3 Escultura
A escultura também segue o caminho das artes em geral. Os
artistas abandonam o idealismo próprio tanto do neoclassicismo
quanto do Romantismo e adotam outras formas de expressão para
captar melhor a conturbada metade final do século XIX. Os escultores
deixam de lado os temas mitológicos e dão preferência a temas mais
contemporâneos, às vezes com nítida intenção política.
François-Auguste-René Rodin (1840-1917) foi o mais importante
escultor desse período. Suas obras apresentam traços da escultura
clássica, mas o seu realismo e a impressão do seu gesto de esculpir na
própria obra tornam a peça algo único. Segundo o sociólogo e filósofo
Georg Simmel (1858-1918), Rodin conseguia fixar momentos
passageiros como um beijo, uma angústia ou um instante de reflexão.
Em suas obras, aparece a tensão entre a pedra bruta e o movimento
humano, como se fossem formas sendo despertadas do mármore.
O pensador. Fonte: Pixabay.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 76


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4.4 Realismo no Brasil

A história das artes no Brasil começa de forma institucional com a vinda da


família real, que traz para o Brasil a missão francesa. Artistas como Taunay (1755-
1830) e Debret (1768-1848) deixam uma grande quantidade de quadros que
exprimem o cotidiano no Brasil. Em 1826, a Academia Imperial de Belas-Artes abriu
seus cursos. Surge uma arte acadêmica que abrangia retratos, temas bíblicos e
históricos. Batalha do Avaí (1877) e Independência ou Morte (1888), de Pedro
Américo (1843-1905), exemplificam esse tipo de arte.
Mas foi Almeida Junior (1850-1899) que altera os rumos da pintura dita
acadêmica. Depois de concluído o curso de Belas-Artes, ele recebe uma bolsa de
estudos dada pelo Imperador e vive em Paris entre 1876-1882. Quando retorna,
expõe quadros com temática mais cotidiana como Leitura, Picando fumo e O
violeiro. Nas duas últimas, observa-se inspiração regionalista. Alteram-se os temas
consagrados pela academia. A imitação dos clássicos e dos temas mitológicos ou
heroicos cede lugar para o cotidiano. Principais nomes dessa nova vertente
artística: Belmiro Barbosa de Almeida (1858-1935) e Benedito Calixto (1853-1927).
“Puxão de orelha”
Almeida Junior

4.5 Interpretação de obra realista


As obras realistas são fáceis de serem interpretadas. A preocupação social e a procura por um
estilo ou técnica capaz de produzir um efeito de verossimilhança que aproxima a pintura da fotografia dá
o tom no Realismo.
Nesse sentido, o tema torna-se o elemento que mais facilmente permite a classificação da obra.
Os pintores focalizam o cotidiano mais banal ou os momentos de revelação das questões sociais. Não se
procura a beleza de imediato, mas a apreciação técnica pela capacidade de o artista conseguir eternizar
o momento com verossimilhança, como se o grande elogio fosse: “como essa imagem parece com o real”.

5.0 Resumo

MOVIMENTO CARACTERÍSTICAS
Representa desvios morais para expor a hipocrisia social; romance
REALISMO documental; finalidade: “fotografar a realidade”; explorar as
motivações mais íntimas dos indivíduos.
Representa os desvios sociais a partir de explicações deterministas
NATURALISMO de cunho sexual ou social; romance de tese; arte engajada;
exploração de questões sociais.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 77


Profa. Luana Signorelli

PORTUGAL

AUTOR OBRAS/CARACTERÍSTICAS
OBRAS (ROMANCES)
 O crime do Padre Amaro (1875);
 O primo Basílio (1878);
 Os Maias (1888);
 A ilustre casa de Ramires (1900);
 A cidade e as serras (1901).
CARACTERÍSTICAS
EÇA DE QUEIRÓS
 Denúncia da sociedade portuguesa a partir da crítica das classes
que a compões: clero, elite e classes médias.
 Na fase final do escritor, reconcilia-se com Portugal.
 Crítica moralista e pessimista em relação ao país.
 Romance como meio de análise da sociedade.
 Linguagem enxuta, precisa e “jornalística”.
 Descrições precisas e longas.
OBRA (POESIA)
 Odes modernas (1865).
CARACTERÍSTICAS
 Participou da polêmica que dá início ao Realismo em Portugal
(Questão Coimbrã, uma discussão literária que opôs românticos a
Realistas).
ANTERO DE QUENTAL
 Elabora uma poesia de elogio à Razão; propõe uma literatura
engajada que deve conduzir a Humanidade ao progresso.
 Apresenta fases: pré-realista, realista/combativa e existencial
(influência do niilismo e o budismo).
 Oscila entre otimismo e pessimismo profundo.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 78


Profa. Luana Signorelli

BRASIL

AUTOR OBRAS/CARACTERÍSTICAS
OBRAS (ROMANCES)
 Memórias póstumas de Brás Cubas (1881);
 Quincas Borba (1891);
 Dom Casmurro (1899);
 Esaú e Jacó (1904);
 Memorial de Aires (1908).
OBRAS (CONTOS)
 Papéis avulsos (1882);
 Histórias sem data (1884);
 Várias histórias (1896).
MACHADO DE ASSIS CARACTERÍSTICAS
 Psicologismo: Machado de Assis tem uma visão única da alma humana,
consegue como poucos esquadrinhar as motivações não confessáveis de
seus personagens.
 Denuncia a hipocrisia através de intrigas envolvendo a traição conjugal
efetiva ou imaginada.
 Romances marcados pelo pessimismo e pela crítica ao cientificismo da
época.
 Descreve o comportamento da elite carioca do final do Império.
 Na forma, observam-se os seguintes elementos: narrativa não linear,
ironia, diálogo com o leitor e digressão.
OBRAS (ROMANCES)
 O mulato (1881);
 O cortiço (1890);
 Casa de pensão (escrito em 1884, mas publicado em 1890).
CARACTERÍSTICAS
ALUÍSIO AZEVEDO  Em O Cortiço, produz um romance de tese. As histórias dos moradores
do cortiço servem para que o autor comprove as ideias deterministas.
 Focaliza as mazelas sociais; gosto por aspectos fisiológicos degradantes,
comparações entre homens e animais e plantas e exploração dos desejos
sexuais.
OBRA (ROMANCE)
 O Ateneu (1888).
CARACTERÍSTICAS
 Critica o sistema educacional que para o autor é um microcosmo da
sociedade.
RAUL POMPÉIA  Relações entre os jovens marcadas pela hipocrisia, interesse,
sensualidade etc.
 Espécie de romance memorialista. O narrador em primeira pessoa
expressa suas impressões da época em que viveu no internato.
 Linguagem marcada por hipérboles caricatas e deformação dos
personagens apresentados.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 79


Profa. Luana Signorelli

6.0 Crítica Literária


Pois bem, alunos. O ideal é que a Crítica Literária dialogue com os termos abordados em cada aula.
Nesse sentido, hoje escolhi dois texto:
 Lucia Miguel Pereira – Machado de Assis (estudo crítico e biográfico).
 Roberto Schwarz – Um mestre na periferia do capitalismo.

TEXTO I

CAPÍTULO XIV – O CRIADOR: OS GRANDES ROMANCES


Oliveira Lima, que conheceu de perto Machado de Assis, diz que o Brás Cubas é uma “fotografia
da sua alma”. Talvez fosse mais preciso dizer espelho da sua visão de mundo.
A Mário de Alencar, que lhe perguntou um dia como, depois de ter escrito Helena, pôde escrever
o Brás Cubas, explicou o romancista que se modificara porque perdera todas as ilusões sobre os
homens.
Depois da crise por que passou em 1879, já não os via com os mesmos olhos, com os olhos afeitos
ao aspecto convencional, mas com a visão interior, implacável e penetrante. Através das palavras
polidas, descobria o sentimento egoísta ou cínico, através do sorrido e dureza do coração. A sua
vocação de romancista realizava-se plenamente, a um tempo tormento e delícia. Tormento de não
poder crer nas criaturas, de lhes perceber todos os cálculos, todas as espertezas, mas delícia suprema
de apreciar o jogo dos sentimentos, de ver como nascem e morrem as paixões, de ser o espectador
que aprecia o jogo dos sentimentos, de ver como nascem e morrem as paixões, de ser o espectador
que aprecia há um tempo a plateia e os bastidores.
Desse tormento e dessa delícia nasceu o seu humorismo, fruto da simpatia humana aliada ao pendor
crítico, da piedade jungida à lucidez, da ternura unida à inteligência. Ao lado do coração que
compadecia, estava o espírito que buscava explicações, que observava friamente as reações.
Muito mais do que a influência dos ingleses, foi esse dualismo, essa dissociação que levou
Machado ao cultivo do humour.
Qualquer psicólogo, dotado de grande visão de conjunto, sem prejuízo da observação minuciosa,
e que não possua nenhuma inclinação mística, cairá quase fatalmente no humorismo. Porque,
observada em si mesma, a agitação humana tem uma aparência de inutilidade que a torna burlesca.
Essa sensação de falta de sentido da vida, misturada a um sentimento de compaixão pelos vãos
esforços do homem, fez de Machado de Assis o grande humorista que se revelou no Brás Cubas.
(...)
Que é, afinal, esse Brás Cubas?
O primeiro dos tipos mórbidos em que Machado extravasou as próprias esquisitices de
nevropata.
Uma natureza complexa, cheia de contradições, ambicioso e retraído, vaidoso e displicente,
apaixonado e indiferente. Sua alma “foi tablado em que se deram peças de todo gênero, o drama
sacro, o austero, o piegas, a comédia louçã, a desgrenhada farsa, os autos, as bufonerias.”
E ele, como que desdobramento da personalidade, assistia a essas peças, via-se. Com isso gastou
os seus dias todos, numa autoanálise estéril e empolgante.
(...)
Sem dúvida eram, todas essas, sensações que Machado experimentava, mas embrionariamente,
pois reagiu contra elas na vida, só as deixando espraiarem-se nos livros. É que, nele, o espírito cruel
se compensava pelo coração bem formado.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 80


Profa. Luana Signorelli

Em Brás Cubas, ao contrário, tudo foi contaminado. O sadismo, no romancista um pendor


puramente intelectual, foi reforçado no seu herói pela educação.
Narrando-lhe a primeira infância, Machado de Assis, tão acusado de se haver alheado aos grandes
problemas do seu tempo, traçou sem digressões, sem palavras difíceis, a crítica da organização servil
e familiar de então. Mostrou o mal que fez a escravidão a brancos e negros. Sem o moleque
Prudêncio para lhe servir de cavalo, sem as pretas para alvos passivos das suas judiarias, sem os
costumes relaxados que a promiscuidade das escravas com os sinhô-moços facilitava, o Brás Cubas
não teria sido o que foi.
Também a vaidade do menino era cultivada pela beata administração dos pais. Tudo contribuiu
para fazer dele um perfeito egoísta.
Representou o resultado do meio e da educação viciada agindo sobre o temperamento mórbido.
PEREIRA, Lucia Miguel. Machado de Assis (estudo crítico e biográfico).
Brasília: Senado Federal, 2019 (p. 190-192, grifos meus).

Já introduzimos a figura da crítica literária brasileira Lucia Miguel Pereira


anteriormente. Neste trecho em particular, a pensadora explora o traço
estilístico humorístico machadiano. Esse humor não é só cômico, pois também
advém de uma visão desiludida do mundo. Afinal, Machado de Assis era filho
da época que nasceu, tendo compartilhado traços do decadentismo francês.
Brás Cubas seria mórbido também por causa disso. O que é interessante em
sua construção o fato é de ele poder se ver, como se estivesse encenando em
um palco, já que é um defunto-autor que narra suas peripécias post mortem.
Outra distinção importante é o que está representado no livro e a opinião do
próprio autor, que nem sempre coincidem. Logo, Machado de Assis é capaz de
criar Brás Cubas sem, contudo, compartilhar de seu cinismo e suas atrocidades.

TEXTO II

Mas passemos ao Humanitismo, a mais célebre das filosofias machadianas. Como sugere o
nome, trata-se de uma sátira à floração oitocentista de ismos, com alusão explícita à religião
comtiana da humanidade. Os raciocínios fazem pensar em mais outras filiações, já que em lugar dos
princípios positivistas afirmam a luta de todos contra todos, à maneira do darwinismo social. A
própria guerra generalizada, contudo, não passa de ilusão, pois tem fundamento monista:
Humanitas é o princípio único de todas as coisas, residindo igualmente nas partes vencida e
vencedora, no condenado e no algoz, de sorte que não há perda alguma onde parece haver uma
desgraça. Daí que a dor não existe nem tem cabimento. “(...) substancialmente, é Humanitas que
corrige em Humanitas uma infração à lei de Humanitas” [Memórias póstumas de Brás Cubas].
A par das teses da struggle for life, o Humanitismo inclui o elogio da sociedade hierárquica e
ritualizada, difícil de conciliar com aquelas primeiras. A inconsistência contribui para o tom geral de
disparate, sem prejuízo de captar admiravelmente a aspiração por “ordem e progresso” de várias
teorias sociológicas do tempo, que ao propósito científico e antitradicional uniam uma posição
conservadora, bem como formas sucedâneas de providencialismo e culto religioso.
SCHWARZ, Roberto. Um mestre na periferia do capitalismo – Machado de Assis. 3. ed.
São Paulo: Editora 34, 1997, p. 155.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 81


Profa. Luana Signorelli

Roberto Schwarz (1938-...), além de ser um dos maiores críticos


literários brasileiros ainda vivos, é também um dos maiores críticos
literários de Machado de Assis. Ele chega a dizer que Machado de
Assis estava tão à frente de seu tempo que ainda não somos
contemporâneos dele. No romance Quincas Borba, há uma sátira às
várias doutrinas que surgiram no fim do século XIX, muitas sem nem
mesmo embasamento e algumas até cruéis, como é o caso da fria
Humanitas, cunhada pelo filósofo antes de morrer.
Roberto Schwarz sugere que o lema “Ao vencedor as
batatas!” seja a tradução abrasileirada da expressão clássica
inventada por Herbert Spencer (1820-1903): surviving the fittest
(sobrevivência do mais apto). Suas ideias encontram-se em seus First Principles of a New System of
Philosophy (Primeiros princípios para um novo sistema de filosofia). Distorção e oposto do humanismo e
humanitismo – dos quais, pelo menos por causa do nome, parece ter sido derivada –, a filosofia de
Humanitas prescreve que a ordem do mundo favorece a hierarquia. Pode ser considerada como uma
sátira do darwinismo, sátira porque é como se fosse um darwinismo “que não deu certo”.

7.0 Questões sem Comentários

Prezados alunos, eis algumas informações práticas antes de começarem.


A aula de hoje abordou muitos tópicos essenciais para a sua compreensão de texto. Vamos trazer
exercícios variados para a sua fixação. Então, vamos resolver questões das seguintes fontes e organizadas
dessa maneira:

QUESTÕES SEM COMENTÁRIOS

• Nesta seção, a finalidade é trazer questões de outras bancas militares cuja tipologia se
assemelhe à sua prova, especialmente questões anteriores da Prova da Escola Preparatória de
Cadetes do Exército (EsPCEx);
• Questões autorais da Professora Luana Signorelli para a EsPCEx que já caíram nas seguintes
fontes: Simulados; Provões de Bolsa; SPRINTs; Salas VIPs; Chivunks; Operações (Hora da
Verdade, Revisão por Questões, Premonição e Revisão de Véspera) e Viradões.

LISTA DE FIXAÇÃO

• Questões anteriores da Escola de Sargentos das Armas (ESA);


• Questões autorais da Professora Luana Signorelli para a ESA que já caíram nas seguintes fontes:
Simulados; Provões de Bolsa; SPRINTs; Salas VIPs; Chivunks; Operações (Hora da Verdade,
Revisão por Questões, Premonição e Revisão de Véspera) e Viradões.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 82


Profa. Luana Signorelli

Para complementar seu estudo cada vez mais, antes da resolução de cada questão eu
indicarei a tipologia de questão para treinarmos ao máximo o modelo de exercício que
costuma cair nas suas provas. E você pode contar com mais treino a partir dos nossos
simulados inéditos e gratuitos nos fins de semana.

01. (EsPCEx – 2013) Leia o fragmento abaixo:

“AO LEITOR
Que Stendhal confessasse haver escrito um de seus livros para cem leitores, cousa é que admira e
consterna. O que não admira, nem provavelmente consternará é se este outro livro não tiver os cem
leitores de Stendhal, nem cinquenta, nem vinte, e quando muito, dez. Dez? Talvez cinco. Trata-se, na
verdade, de uma obra difusa, na qual eu, Brás Cubas, se adotei a forma livre de um Sterne, ou de um
Xavier de Maistre, não sei se lhe meti algumas rabugens de pessimismo. Pode ser. Obra de finado.
Escrevi-a com a pena da galhofa e a tinta da melancolia, e não é difícil antever o que poderá sair desse
conúbio. Acresce que a gente grave achará no livro umas aparências de puro romance, ao passo que a
gente frívola não achará nele o seu romance usual, ei-lo aí fica privado da estima dos graves e do amor
dos frívolos, que são as duas colunas máximas da opinião.”

O fragmento acima é parte da obra “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, publicada em folhetim em
1880 e editada em livro em 1881. Essa obra, de autoria de
a) Machado de Assis, é uma das mais conhecidas do Naturalismo no Brasil.
b) Guimarães Rosa, é tida como a mais importante produção do Modernismo no Brasil.
c) Aluísio Azevedo, lançou no Brasil o movimento denominado Naturalismo.
d) Machado de Assis, é apontada como o marco inicial do Realismo no Brasil.
e) Aluísio Azevedo, encerra o Romantismo e inicia o Realismo brasileiro.
_____________________________________________________________________________________

02. (EsPCEx – 2011) Assinale a alternativa correta, quanto à Literatura Brasileira.


a) A primeira geração poética do Romantismo está voltada para a expressão dos próprios sentimentos
e frustrações.
b) A fase de maturidade de Machado de Assis é essencialmente problematizadora; trata da questão
existencialista.
c) Canaã é um romance de tese e integra a literatura dos jesuítas.
d) O Simbolismo é uma afirmação do Naturalismo (linguagem) e do Parnasianismo (estética).

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 83


Profa. Luana Signorelli

e) O Barroco explora o antropocentrismo, resgatando características renascentistas: culto à forma e


linguagem rebuscada.
_____________________________________________________________________________________

03. (EsPCEx – 2010) “Cultivado no Brasil por Machado de Assis, é uma narrativa voltada para a análise
psicológica e crítica da sociedade a partir do comportamento de determinados personagens.”
O texto acima refere-se ao romance
a) sertanejo.
b) fantástico.
c) histórico.
d) realista.
e) romântico.
_____________________________________________________________________________________

04. (EsPCEx – 2007) Em 1880, Zola publicou suas teorias sobre o romance experimental em que
expunha ideias como esta: “o romance experimental substitui o estudo do homem abstrato e
metafísico pelo do homem natural, sujeito a leis físico-químicas e determinado pela influência do
meio”.
Observa-se, nessas palavras, a ênfase cientificista e determinista do
a) Arcadismo.
b) Classicismo.
c) Realismo.
d) Naturalismo.
e) Barroco.
_____________________________________________________________________________________

05. (EsPCEx – 2006) Machado de Assis é tido pela crítica literária como um dos mais importantes
escritores da literatura brasileira. Quanto a sua produção literária, é correto afirmar que
a) foi dividida em duas fases, em função dos temas abordados e da linguagem utilizada, constituindo
ambas a principal produção da escola realista, iniciada com a publicação do romance Ressurreição.
b) a parte mais significativa da obra de Machado de Assis é a poesia, principalmente a produzida na
primeira fase, na qual o autor se mostra um perfeito parnasiano, produzindo muitos sonetos com
grande preocupação formal.
c) as duas fases da obra machadiana possuem características tão distintas que podem ser colocadas
em períodos literários também distintos: a primeira fase no Romantismo e a segunda no Realismo, cujo
marco inicial é Memórias Póstumas de Brás Cubas.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 84


Profa. Luana Signorelli

d) inicia com obras marcadamente inovadoras, sendo um autor bastante singular já em sua primeira
fase. Nesta fase está a parte mais significativa de sua obra, que perde força e criatividade na fase
seguinte.
e) as duas fases machadianas marcam claramente o tipo de obra a que o autor se dedica: a primeira
fase é poética, com vasta produção de sonetos parnasianos; e, na segunda fase, o autor abandona a
poesia, iniciando a produção de romances e contos.
_____________________________________________________________________________________

06. (EsPCEx – 2015) Sobre o Realismo, é correto afirmar que


a) em Portugal, as obras mais importantes do período foram escritas em versos por Almeida Garrett.
b) os autores do período privilegiaram a subjetividade e a emoção, criando obras em primeira pessoa.
c) na polêmica conhecida como "Questão coimbrã", Antero de Quental defende que a poesia era
espaço do belo e não de questões sociais.
d) em suas obras, os realistas expressam a insatisfação com a ganância e a hipocrisia da sociedade
burguesa.
e) as classes mais pobres e os fatos cotidianos são excluídos das obras do período.
_____________________________________________________________________________________

07. (EsPCEx – 2004) No romance de memórias que tem como subtítulo “Crônica de saudades”, o autor
retoma indiretamente os anos que passou interno em um colégio. Nessa obra, o narrador-personagem
procura expor o que existe em sua memória, refletindo sobre seu passado, à luz de uma profunda
desilusão. Essas afirmações referem-se ao romance:
a) “O seminarista” – Bernardo Guimarães
b) “Noite na taverna” – Álvares de Azevedo
c) “O ateneu” – Raul Pompéia”
d) “Memórias Póstumas de Brás Cubas” – Machado de Assis.
e) “Memórias de um Sargento de Milícias” – Manoel Antônio de Almeida
_____________________________________________________________________________________

08. (EsPCEx – 2003) TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES

A CAROLINA
1 Querida, ao pé do leito derradeiro
2 Em que descansas dessa longa vida,
3 Aqui venho e virei, pobre querida,
4 Trazer-te o coração do companheiro.

5 Pulsa-lhe aquele afeto derradeiro


6 Que, a despeito de toda a humana lida,

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 85


Profa. Luana Signorelli

7 Fez a nossa existência apetecida


8 E num recanto pôs o mundo inteiro.

9 Trago-te flores – restos arrancados


10 Da terra que nos viu passar unidos
11 E ora mortos nos deixa e separados.

12 Que eu, se tenho nos olhos malferidos


13 Pensamentos de vida formulados,
14 São pensamentos idos e vividos.
(Machado de Assis)

Nesse poema, é correto afirmar que o eu-lírico


a) comenta com um amigo as saudades que sente da amada, que partira para sempre.
b) dirige-se a sua amada, que se encontra muito doente.
c) leva flores à amada como um pedido de reconciliação por alguma falta cometida.
d) faz uma promessa à beira do túmulo onde jaz a sua amada.
e) demonstra saudade e arrependimento por não ter tido tempo de declarar o seu amor.
_____________________________________________________________________________________

09. (EsPCEx – 2003) Nos versos 2 e 10 ocorrem, respectivamente, as figuras de linguagem:


a) Metáfora e Perífrase.
b) Metonímia e Onomatopeia.
c) Eufemismo e Prosopopeia.
d) Hipérbole e Eufemismo.
e) Metáfora e Ironia.
_____________________________________________________________________________________

10. (EsPCEx – 2003) TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES

“‘Vais encontrar o mundo’, disse-me meu pai, à porta do Ateneu. ‘Coragem para a luta!’ Bastante
experimentei depois a verdade deste aviso, que me despia, num gesto, das ilusões de criança educada
exoticamente na estufa de carinho que é o regime do amor doméstico, diferente do que se encontra
fora, tão diferente, que parece o poema dos cuidados maternos um artifício sentimental, com a
vantagem única de fazer mais sensível a criatura à impressão rude do primeiro ensinamento, têmpera
brusca da vitalidade na influência de um novo clima rigoroso. (…) Eu tinha onze anos.”

"O Ateneu", romance do qual foi extraído o fragmento, foi publicado em 1888. Sobre esta obra,
considerando o autor, a escola literária vigente na época e suas características, pode-se afirmar que
a) foi escrita por Machado de Assis, em pleno período realista, o que pode ser comprovado pelas ironias
presentes no fragmento.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 86


Profa. Luana Signorelli

b) seu autor é Raul Pompéia, maior representante do Parnasianismo, que é uma escola racionalista, e
isso se comprova pela quase ausência de adjetivos no fragmento.
c) é de autoria de Aluísio Azevedo, que também escreveu O cortiço, um outro romance
experimentalista, característica básica do Naturalismo.
d) é uma das muitas de Machado de Assis, em que o pessimismo e a análise psicológica da personagem
trazem a marca do Realismo.
e) é a mais famosa de Raul Pompéia, na qual o autor afasta-se do Naturalismo, apesar de manter
algumas características desse estilo.
_____________________________________________________________________________________

11. (EsPCEx – 2011) Nesse fragmento, extraído do romance "O Ateneu", o narrador afirma que
a) a educação materna cria em torno das crianças um ambiente que não as prepara adequadamente
para a vida.
b) o carinho materno, nos primeiros anos de vida, é essencial para se enfrentar, posteriormente, a
rotina de um internato.
c) cada fase da vida – infância, adolescência e maturidade – é permeada por atividades que preparam
o indivíduo para as etapas seguintes.
d) a vida escolar, apesar de rigorosa, é o complemento necessário à educação iniciada no ambiente
doméstico.
e) os cuidados maternos tornam a pessoa mais sensível e, em função disso, ela melhor pode enfrentar
o mundo exterior.
_____________________________________________________________________________________

12. (EsPCEx – 2002) Introdutor da técnica realista do romance em Portugal


a) Antero de Quental
b) Almeida Garrett
c) Eça de Queirós
d) Fialho de Almeida
e) Camilo Castelo Branco
_____________________________________________________________________________________

13. (EsPCEx – 2001)

Meti os dedos no bolso do colete que trazia no corpo e senti umas moedas de cobre; eram os
vinténs que eu deveria ter dado ao almocreve, em lugar do cruzado em prata. Porque, enfim, ele não
levou em mira nenhuma recompensa ou virtude, cedeu a um impulso natural, ao temperamento, aos
hábitos do ofício; acresce que a circunstância de estar, não mais adiante nem mais atrás, mas
justamente no ponto do desastre, parecia constituí-lo simples instrumento da Providência; e, de um
ou de outro modo, o mérito do ato era positivamente nenhum. Fiquei desconsolado com esta reflexão,

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 87


Profa. Luana Signorelli

chamei-me pródigo, lancei o cruzado à conta das minhas dissipações antigas; tive (por que não direi
tudo?) tive remorsos.
(Machado de Assis - Memórias Póstumas de Brás Cubas)

O fragmento acima é o final do episódio em que o narrador-personagem, salvo de ferir-se gravemente


com a disparada do animal em que cavalgava, avalia a gratidão dele para com o seu salvador. Analise-
o cuidadosamente e assinale a alternativa em que a declaração sobre ele corresponda à característica
realista.
a) Trata-se de um texto predominantemente dissertativo, pois relata uma das aventuras vividas pela
personagem.
b) A presença da dissertação nesse fragmento, comum na Escola a que pertence, é decorrência da visão
crítica que o caracteriza.
c) assunto abordado (explicação para os atos humanos) no texto acima apresenta uma única causa: a
Providência, tema frequente neste estilo de época.
d) A mudança que se vai operando no comportamento do homem ante o dinheiro, à medida que o
tempo passa, escapa à conclusão de qualquer escritor realista.
e) Como se pode observar, o excesso de detalhes da narrativa afasta-se das características do Realismo.
_____________________________________________________________________________________

14. (EsPCEx – 2000) O romance realista brasileiro, tal como o conhecemos, focaliza principalmente
a) as camadas marginalizadas da sociedade.
b) aspectos sociais e psicológicos nas relações humanas.
c) o preconceito racial.
d) a defesa das instituições, como o casamento, por exemplo.
e) a formação da nacionalidade.
_____________________________________________________________________________________

15. (EsPCEx – 2000) Leia as afirmações abaixo:

I – "Traduz um retorno ao equilíbrio e à simplicidade dos modelos greco-romanos."


II – "O romance é encarado como um instrumento de denúncia e combate, uma vez que focaliza os
desequilíbrios sociais."
III – "A natureza do homem, como a dos demais seres vivos, é determinada por circunstâncias
exteriores."
IV – "O homem em conflito entre a razão e a fé, entre os sentidos e o espírito."
V – "Enfoque espiritualista da mulher, envolvendo-a num clima de sonho onde predomina o vago, o
impreciso e o etéreo."

Referem-se ao Realismo e/ou Naturalismo as afirmativas:


a) I e II.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 88


Profa. Luana Signorelli

b) IV e V.
c) III e IV.
d) I e V.
e) II e III.
_____________________________________________________________________________________

16. (Estratégia Militares 2020 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 1o Simulado EsPCEx
2021) Leia o trecho de "Esaú e Jacó" de Machado de Assis para responder à questão.

– Pois reforme tudo. Pintura nova em madeira velha não vale nada. Agora verá que dura pelo resto
da nossa vida.
– A outra também durava; bastava só avivar as letras.
Era tarde, a ordem fora expedida, a madeira devia estar comprada, serrada e pregada, pintado o fundo
para então se desenhar e pintar o título. Custódio não disse que o artista lhe perguntara pela cor das
letras, se vermelha, se amarela, se verde em cima de branco ou vice-versa, e que ele, cautelosamente,
indagara do preço de cada cor para escolher as mais baratas. Não interessa saber quais foram.
Quaisquer que fossem as cores, eram tintas novas, tábuas novas, uma reforma que ele, mais por
economia que por afeição, não quisera fazer; mas a afeição valia muito. Agora que ia trocar de tabuleta
sentia perder algo do corpo, — coisa que outros do mesmo ou diverso ramo de negócio não
compreenderiam, tal gosto acham em renovar as caras e fazer crescer com elas a nomeada. São
naturezas. Aires ia pensando em escrever uma Filosofia das Tabuletas, na qual poria tais e outras
observações, mas nunca deu começo à obra.
Machado de Assis – Esaú e Jacó. Domínio Público.
Disponível em: https://tinyurl.com/y2hfh5px. Acesso em: 13 fev. 2020.

Quanto ao trecho lido, é correto afirmar que


a) o narrador permite fazer suas próprias intrusões, hierarquizando e julgando o que é importante ou
não narrar.
b) a escrita se afasta do método convencional, testando novos tipos de pontuação para expressar o
drama do personagem.
c) o personagem Aires leva este nome pois é um argentino, nascido em Buenos Aires, o qual critica a
sovinice do artista.
d) Custódio pode se identificar com o artista, o qual sofre profundamente pelas suas economias
perdidas na troca da tabuleta.
e) o estilo se caracteriza como simples e fluido, pois o narrador deixa o leitor conhecer os pensamentos
íntimos das personagens.
_____________________________________________________________________________________

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 89


Profa. Luana Signorelli

17. (Estratégia Militares 2020 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 2o Simulado EsPCEx
2021) Quanto ao Naturalismo, todas as alternativas estão corretas, EXCETO:
a) Romance experimental, que pretende apoiar-se na experimentação científica e numa tese, no
determinismo, no evolucionismo, no homem é fruto do meio.
b) Centra-se nos aspectos externos: atos, gestos, ambientes, personagens e seus instintos,
animalização, zoomorfismo.
c) Reproduz a realidade exterior bem como a interior, por meio da análise psicológica. É indireto na
interpretação, o leitor tira as suas conclusões: sutil, sugere.
d) Volta-se para o coletivo, para a biologia, a patologia, centra-se mais no social. Arte engajada,
preocupações políticas e sociais.
e) O estilo é relegado ao segundo plano; no primeiro, há denúncia. Detém-se nos aspectos mais torpes
e degradantes.
_____________________________________________________________________________________

18. (Estratégia Militares 2020 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 3o Simulado EsPCEx
2021) Os Naturalistas acreditavam no romance experimental, que pretende apoiar-se na
experimentação científica e numa tese, no determinismo, no evolucionismo, na premissa de que o
homem é fruto do meio. Sua arte era engajada e tinha preocupações políticas e sociais. No fim do
século XIX, centraram-se nos aspectos mais torpes e degradantes, bem como nos externos: atos,
gestos, ambientes, personagens e seus instintos, animalização, zoomorfismo etc. Essas características
ficam bem claras no seguinte trecho naturalista de Aluísio de Azevedo:
a) “Aqueles homens gotejantes de suor, bêbedos de calor, desvairados de insolação, a quebrarem, a
espicaçarem, a torturarem a pedra.”
b) “Há meio século, os escravos fugiam com frequência. Eram muitos, e nem todos gostavam da
escravidão.”
c) “Silêncio absoluto nas fileiras da marinhagem. Cada olhar tinha um brilho especial de indiscreta
curiosidade.”
d) “Oh! que não seria o colégio, tradução concreta da alegoria, ronda angélica de corações à porta de
um templo, dulia permanente das almas jovens no ritual austero da virtude!”
e) “O poço engolia magotes de vinte e de trinta homens, e com tal facilidade que nem parecia senti-
los pela goela.”
_____________________________________________________________________________________

19. (Estratégia Militares 2020 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 3o Simulado EsPCEx
2021) Após ler o excerto de "Dom Casmurro" de Machado de Assis, responda à questão.

Não houve lepra, mas há febres por todas essas terras humanas, sejam velhas ou novas. Onze
meses depois, Ezequiel morreu de uma febre tifóide, e foi enterrado nas imediações de Jerusalém,

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 90


Profa. Luana Signorelli

onde os dous amigos da universidade lhe levantaram um túmulo com esta inscrição, tirada do profeta
Ezequiel, em grego: "Tu eras perfeito nos teus caminhos." Mandaram-me ambos os textos, grego e
latino, o desenho da sepultura, a conta das despesas e o resto do dinheiro que ele levava; pagaria o
triplo para não tornar a vê-lo.
Como quisesse verificar o texto, consultei a minha Vulgata, achei que era exato, mas tinha ainda
um complemento: "Tu eras perfeito nos teus caminhos, desde o dia da tua criação." Parei e perguntei
calado: "Quando seria o dia da criação de Ezequiel?" Ninguém me respondeu. Eis aí mais um mistério
para ajuntar aos tantos deste mundo. Apesar de tudo, jantei bem e fui ao teatro.
Machado de Assis – Dom Casmurro. Fonte: Domínio Público.
Disponível em: https://tinyurl.com/6wfv6yy. Acesso em: 11 de abril de 2020.

No fragmento, observa-se o processo de uma


a) nacionalidade tornada exótica diante de países estrangeiros e desconhecidos.
b) construção e uma convicção tão acirrada que os ânimos se exaltam e a razão se oblitera.
c) individuação que leva em consideração a complexidade da alteridade.
d) trajetória rumo ao respeito parental entre os membros mais íntimos da família.
e) inovação de elementos cientificistas, pois os amigos de Ezequiel estudam na faculdade.
_____________________________________________________________________________________

20. (Estratégia Militares 2020 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 1º Simulado SPRINT
EsPCEx 2021)

A CAROLINA
Querida, ao pé do leito derradeiro
Em que descansas dessa longa vida,
Aqui venho e virei, pobre querida,
Trazer-te o coração do companheiro.

Pulsa-lhe aquele afeto derradeiro


Que, a despeito de toda a humana lida,
Fez a nossa existência apetecida
E num recanto pôs o mundo inteiro.

Trago-te flores – restos arrancados


Da terra que nos viu passar unidos
E ora mortos nos deixa e separados.

Que eu, se tenho nos olhos malferidos


Pensamentos de vida formulados,
São pensamentos idos e vividos.
(Machado de Assis)

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 91


Profa. Luana Signorelli

Embora escritor realista, Machado de Assis apresentou outra fase que pode ser observada no soneto
acima. A que movimento literário condiz essa fase e que verso o caracteriza?
a) BARROCO = “Em que descansas dessa longa vida”
b) ARCADISMO = “Pulsa-lhe aquele afeto derradeiro”
c) SIMBOLISMO = “Trago-te flores – restos arrancados”
d) ROMANTISMO = “E ora mortos nos deixa e separados.”
e) PARNASIANISMO = “São pensamentos idos e vividos.”
_____________________________________________________________________________________

21. (Estratégia Militares 2020 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 2º Simulado Rodada
Avançada Chivunk EsPCEx 2021) Leve em consideração o trecho do romance Dom Casmurro de
Machado de Assis a seguir.

“O meu fim evidente era atar as duas pontas da vida, e restaurar na velhice a adolescência. Pois,
senhor, não consegui recompor o que foi nem o que fui. Em tudo, se o rosto é igual, a fisionomia é
diferente. Se só me faltassem os outros, vá; um homem consola-se mais ou menos das pessoas que
perde; mais falto eu mesmo, e esta lacuna é tudo. O que aqui está é, mal comparando, semelhante à
pintura que se põe na barba e nos cabelos, e que apenas conserva o hábito externo, como se diz nas
autópsias; o interno não aguenta tinta. Uma certidão que me desse vinte anos de idade poderia
enganar os estranhos, como todos os documentos falsos, mas não a mim. Os amigos que me restam
são de data recente; todos os antigos foram estudar a geologia dos campos-santos. Quanto às amigas,
algumas datam de quinze anos, outras de menos, e quase todas creem na mocidade. Duas ou três
fariam crer nela aos outros, mas a língua que falam obriga muita vez a consultar os dicionários, e tal
frequência é cansativa.”
ASSIS, Machado de. Dom Casmurro. Fonte: Domínio Público.

A partir do trecho, pode-se inferir que o narrador.


a) valoriza a passagem do tempo, pois goza de boa saúde na velhice e está cercado de bons amigos.
b) critica a prática social da escrita desvinculada da realidade, pois se propõe a uma análise comprovada
dos fatos.
c) debocha do leitor, a quem chama de “senhor”, a quem acusa de ser tão idoso quanto ele próprio.
d) conduz a sua narrativa a partir de idade avançada, já com certo receio de que não será capaz da
tarefa.
e) mergulha em total pessimismo, pois não enxerga outra solução para a vida a não ser narrá-la em
forma de diário.
_____________________________________________________________________________________

22. (Estratégia Militares 2020 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 3º Simulado Rodada
Avançada Chivunk EsPCEx 2021)

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 92


Profa. Luana Signorelli

“Nada mais que os primeiros acordes da música crioula para que o sangue de toda aquela gente
despertasse logo, como se alguém lhe fustigasse o corpo com urtigas bravas. E seguiram-se outras
notas, e outras, cada vez mais ardentes e mais delirantes. Já não eram dois instrumentos que soavam,
eram lúbricos gemidos e suspiros soltos em torrente, a correrem serpenteando, como cobras numa
floresta incendiada (...).
E aquela música de fogo doidejava no ar como um aroma quente de plantas brasileiras, em torno
das quais se nutrem, girando, moscardos sensuais e besouros venenosos, freneticamente, bêbedos
do delicioso perfume que os mata de volúpia.”

A estética do texto acima permite enquadrá-lo no:


a) Barroco.
b) Arcadismo.
c) Romantismo.
d) Naturalismo.
e) Simbolismo.
_____________________________________________________________________________________

23. (Estratégia Militares 2020 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 3º Simulado Rodada
Avançada Chivunk EsPCEx 2021)

Aristarco todo era um anúncio. Os gestos, calmos, soberanos, eram de um rei — o autocrata
excelso dos silabários; a pausa hierática do andar deixava sentir o esforço, a cada passo, que ele fazia
para levar adiante, de empurrão, o progresso do ensino público; o olhar fulgurante, sob a crispação
áspera dos supercílios de monstro japonês, penetrando de luz as almas circunstantes — era a educação
da inteligência; o queixo, severamente escanhoado, de orelha a orelha, lembrava a lisura das
consciências limpas — era a educação moral. A própria estatura, na imobilidade do gesto, na mudez
do vulto, a simples estatura dizia dele: aqui está um grande homem... não veem os cavados de
Golias?!... Retorça-se sobre tudo isto um par de bigodes, volutas maciças de fios alvos, torneadas a
capricho, cobrindo os lábios fecho de prata sobre o silêncio de ouro, que tão belamente impunha como
o retraimento fecundo do seu espírito, — teremos esboçado, moralmente, materialmente, o perfil do
ilustre diretor. Em suma, um personagem que, ao primeiro exame, produzia-nos a impressão de um
enfermo, desta enfermidade atroz e estranha: a obsessão da própria estátua. Como tardasse a estátua,
Aristarco interinamente satisfazia-se com a afluência dos estudantes ricos para o seu instituto. De fato,
os educandos do Ateneu significavam a fina flor da mocidade brasileira.

A partir da descrição acima, constata-se que o julgamento que a personagem tem de Aristarco é:
a) realista.
b) idealista.
c) distorcido.
d) familiar.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 93


Profa. Luana Signorelli

e) saudoso.
_____________________________________________________________________________________

24. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 1o Simulado EsPCEx
2022) Dividida em duas fases, a obra de Machado de Assis começou romântica e se desenvolveu até a
maturidade realista. Assinale a alternativa que indica o romance divisor entre essas duas fases e o(s)
motivo(s) de sua importância.
a) "Quincas Borba", porque o Humanitismo introduziu o debate entre Realismo e Naturalismo.
b) "Helena", romance da maturidade com a mesma temática do adultério que outras obras da fase.
c) "Esaú e Jacó", responsável por inaugurar o principal traço estilístico machadiano, que é a
ingenuidade.
d) "Papéis avulsos", romance o qual ajuda a instaurar o estilo machadiano depois de sua poesia.
e) "Memórias póstumas de Brás Cubas", pois introduz o Realismo no Brasil.
_____________________________________________________________________________________

25. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 2o Simulado EsPCEx
2022)

"ERA UMA VEZ uma agulha, que disse a um novelo de linha:


— Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda enrolada, para fingir que vale alguma coisa
neste mundo?
— Deixe-me, senhora."

No trecho acima, há um exemplo de transposição de características antropomórficas a seres


inanimados, procedimento que é conhecido como ______, e esse texto pode ser classificado como
______.
a) prosopopeia / romântico.
b) sinestesia / simbolismo.
c) hipérbato / barroco.
d) personificação / realista.
e) pleonasmo / parnasiano.
_____________________________________________________________________________________

26. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 4o Simulado EsPCEx
2022) Relacione corretamente as informações da primeira coluna com as da segunda quanto a
romances realistas e naturalistas brasileiros.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 94


Profa. Luana Signorelli

1 – Prudêncio é uma personagem importante, ( ) A normalista


pois é um escravo. Quando o protagonista é
criança, ele serve aos seus vis propósitos, sendo
usado como um cavalo de brinquedo.

2 – Uma das personagens desse romance é ( ) O cortiço


Pombinha, que vai redescobrindo sua
sexualidade ao longo da trama. Começa por
noivar com João da Costa, mas acaba entregue
ao homoerotismo e à prostituição.

3 – Camacho é um político que também é dono ( ) Quincas Borba


do Jornal Atalaia. Tenta convencer o novo rico
Rubião a ingressar na vida política e chega a
escrever uma matéria elogiosa ao amigo.

4 – Maria do Carmo é uma moça do interior cuja ( ) Memórias póstumas de Brás Cubas
mãe faleceu e o pai tentava fugir da seca.
Visando à boa educação da moça, entregou-a
para ser criada pelo padrinho.

A sequência correta é:
a) 3 – 2 – 1 – 4
b) 2 – 4 – 3 – 1
c) 4 – 2 – 1 – 3
d) 4 – 3 – 1 – 2
e) 4 – 2 – 3 – 1
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27. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 5o Simulado EsPCEx
2022) Leve em consideração a passagem a seguir e atenda ao comando.

"Não! Ela não podia admitir o celibato, principalmente para a mulher!... “Para o homem — ainda
passava... viveria triste, só; mas em todo o caso — era um homem... teria outras distrações! Mas uma
pobre mulher, que melhor futuro poderia ambicionar que o casamento?. . que mais legítimo prazer do
que a maternidade; que companhia mais alegre do que a dos filhos, esses diabinhos tão feiticeiros?..”
Além de que, sempre gostara muito de crianças: muita vez pedira a quem as tinha que lhas mandasse
a fazer-lhe companhia, e, enquanto as pilhava em casa, não consentia que mais ninguém se
incomodasse com elas; queria ser a própria a dar-lhes a comida, a lavá-las, a vesti-las, e acalentá-las E
estava constantemente a talhar camisinhas e fraldas, a fazer toucas e sapatinhos de lã, e tudo com
muita paciência, com muito amor, justamente como, em pequenina, ela fazia com as suas bonecas."
AZEVEDO, Aluísio de. O mulato. Fonte: Domínio Público.
Disponível em: https://tinyurl.com/45nns77p. Acesso em: 11 maio 2021.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 95


Profa. Luana Signorelli

Depreende-se a partir da leitura que


a) há preconceito velado contra a figura feminina que opressivamente e contra sua vontade se vê
obrigada a formar uma família.
b) a representação da burguesia é veementemente moral, pois a personagem está em um baile quando
se recorda do celibato.
c) é observada a teoria oitocentista do determinismo, uma vez que a mulher é relegada ao seu papel
biológico.
d) uma das críticas do realismo é a denúncia da falência das instituições sociais, como o casamento,
por isso a personagem precisa segurar o marido dando-lhe um filho.
e) consiste em um texto naturalista, porque o evolucionismo presente situa o papel da mulher nos
estágios aperfeiçoados da sociedade.
_____________________________________________________________________________________

28. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 6o Simulado EsPCEx
2022) Leve em consideração o trecho abaixo para responder à próxima questão.

"Pancrácio, que estava à espreita, entrou na sala, como um furacão, e veio a abraçar-me os pés.
Um dos meus amigos (creio que é ainda meu sobrinho) pegou de outra taça, e pediu à ilustre
assembleia que correspondesse ao ato que eu acabava de publicar, brindando ao primeiro dos
cariocas. Ouvi cabisbaixo; fiz outro discurso agradecendo, e entreguei a carta ao molecote. Todos os
lenços comovidos apanharam as lágrimas de admiração. Caí na cadeira e não vi mais nada. De noite,
recebi muitos cartões. Creio que estão pintando o meu retrato, e suponho que a óleo.
No dia seguinte, chamei Pancrácio e disse-lhe com rara franqueza:
— Tu és livre, podes ir para onde quiseres. Aqui tens casa amiga, já conhecida e tens mais um
ordenado, um ordenado que…
— Oh! meu senhô! fico."
ASSIS, Machado. Bons dias! Fonte: Domínio Público.
Disponível em: https://tinyurl.com/38b56x28. Acesso em: 19 jun. 2021.

A partir desse excerto de crônica realista e dos seus conhecimentos acerca dessa escola literária,
assinale o que for correto.
a) O ponto de vista do texto é objetivo, pois a verossimilhança é a principal característica do
movimento.
b) O narrador demonstra uma falsa bondade ao libertar seu escravo, quando no fundo queria atenção.
c) Porque a estética realista critica a burguesia, o trecho evidencia a organização da rebelião dos
escravos.
d) A família do narrador não apoiava a libertação do escravo, pois ainda se mostravam conservadores.
e) Ao libertar o escravo, o narrador aponta um caminho rumo à superação das desigualdades sociais.
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AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 96


Profa. Luana Signorelli

29. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 7o Simulado EsPCEx
2022) Leia o trecho abaixo a seguir para responder ao que se pede.

Reinavam no Ateneu duas perniciosas influências que contrabalançavam eficazmente o


porejamento de doutrina a transudar das paredes, nos conceitos de sabedoria decorativa dos quadros,
e ainda mesmo a polícia das aparições ubíquas e subitâneas do diretor. Coisa difícil de precisar, como
a disseminação na sociedade, do princípio do mal, elemento primário do dualismo teogônico. O meio,
filosofemos, é um ouriço invertido: em vez da explosão divergente dos dardos — uma convergência de
pontas ao redor. Através dos embaraços pungentes cumpre descobrir o meato de passagem, ou aceitar
a luta desigual da epiderme contra as puas. Em geral, prefere-se o meato.
As máximas, o diretor, a inspeção dos bedéis, por exemplo, eram três espinhos; as referidas influências
eram mais dois. A mocidade ia transigindo do melhor jeito com as bicudas imposições das
circunstâncias.
Representavam-se as influências dissolventes por duas espécies de encarnação, fundidas em
hibridismo de disparate — a da forma feminina personificada em Ângela, a canarina, ou antes a
camareira de D. Ema, e a de um encontro de tábuas humildes, conjuntadas às pressas, por força do
prosaísmo incivil de um episódio da economia orgânica.
POMPEIA, Raul. O Ateneu. Fonte: Domínio Público.
Disponível em: https://tinyurl.com/9l5ynjju. Acesso em: 20 jul. 2021.

A partir das imagens construídas a partir do narrador-protagonista Sérgio, é correto afirmar que:
a) Expõe que o personagem prefere a via mais fácil, pois meato é o que se situa no meio, preferindo
ceder às convenções sociais e aos castigos impostos pelo diretor, apenas porque deseja estar em sua
casa, mais próximo da empregada e de sua mulher.
b) Deposita na disseminação do mal em sociedade as raízes de seus problemas amorosos, pois só
consegue enxergar a realidade de maneira maquiavélica, aproximando-se, nesse sentido, das
personagens planas românticas.
c) O rapaz se encontra em um impasse que explica as duas forças contrárias abalando seu estado de
espírito. Sendo um pré-adolescente no colégio interno, ele não tem contado com muitas mulheres,
portanto, projeta na camareira e na esposa do chefe seus ideais femininos.
d) A composição linguística lembra os rebuscamentos barrocos, no sentido de tentar convencer o
drama espiritual que vive a personagem, em seu embate entre tentar se manter fiel à educação
religiosa e ingressar na vida sexual.
e) As duas figuras femininas se plasmam em uma só num complexo mosaico formado pela imaginação
do protagonista, recurso usado em momentos de tédio no internato, quando pensa em como
funcionam os relacionamentos na sociedade.
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30. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 8o Simulado EsPCEx
2022) Quanto ao Naturalismo no Brasil, assinale a opção INCORRETA.
a) Aluísio de Azevedo tinha um irmão, chamado Artur Azevedo, conhecido por ser dramaturgo.
b) O romance pioneiro foi de autoria de Aluísio de Azevedo, principal escritor naturalista brasileiro.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 97


Profa. Luana Signorelli

c) Aluísio de Azevedo escreveu "Casa de Pensão", um romance baseado na Questão Capistrano.


d) Machado de Assis foi um autor que criticava a escola, especialmente, as teorias do fim do século XIX.
e) Um dos escritores do movimento foi Raul Pompeia, autor conhecido pelo seu romance "O mulato".
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31. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 9o Simulado EsPCEx
2022) Apesar de escritas na primeira pessoa do singular, estes romances realistas expõem a essência
humana, analisando comportamentos exteriores a partir da personalidade e psicologismo das
personagens. Os narradores protagonistas, portanto, servem de máscaras mediadoras para o autor
estabelecer sua crítica social. As obras são:
a) "Helena" e "A mão e a luva".
b) "Esaú e Jacó" e "Memorial de Aires".
c) "Memórias de um sargento de milícias" e "Quincas Borba".
d) "Memórias póstumas de Brás Cubas" e "Dom Casmurro".
e) "Papéis avulsos" e "Histórias sem data".
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32. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 10o Simulado EsPCEx
2022)

Pois, senhores, nem o ilustre brasileiro, nem este criado do leitor, éramos os mais precavidos dos
homens. Há dias, a gente que saia de uma conferência republicana, foi atacada por alguns indivíduos:
naturalmente houve tumulto, pancadas, pedradas, ferimentos, recorrendo os atacados aos apitos,
para chamar a polícia, que acudiu prestes. Pouco antes, dois soldados brigaram com o cocheiro ou
condutor de um bonde, atracaram-se com ele, os passageiros intervieram, e, não conseguindo nada,
recorreram aos apitos e a polícia acudiu.
Estes apitos retinem-me ainda agora no cérebro. Por Ulisses! pelo artificioso e prudente Ulisses —
Nunca imaginei que toda a gente andasse aparelhada desse instrumento, na verdade útil.
ASSIS, Machado de. Bons dias! Fonte: Domínio Público.
Disponível em: https://tinyurl.com/38b56x28. Acesso em: 18 ago. 2021.

A crônica é um curto gênero narrativo que, muitas vezes, serve de lente de aumento da realidade.
Considerando-se que o escritor realista Machado de Assis contribuiu com crônicas como o caso acima
para a Gazeta entre os anos de 1888-89, o narrador evidencia-se
a) pasmo quanto ao abuso de certos instrumentos de poder.
b) subserviente para com a autoridade a quem temia.
c) minucioso em descrever um protesto monarquista.
d) criterioso na narração dos costumes sociais burgueses.
e) perplexo em relação ao desfecho funesto do caso.
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AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 98


Profa. Luana Signorelli

33. (Estratégia Militares – Chivunk EsPCEx 2021 – Profa. Luana Signorelli) O texto a seguir se refere a
que romancista brasileiro?
Nasceu no município de Angra dos Reis e, ainda criança, mudou-se para o Rio de Janeiro. Além de
escritor, também foi desenhista e escultor, demonstrando temperamento sensível. Sua obra é marcada
pela mistura de estilos e seu o enredo de seu principal livro conta a situação de Sérgio, um menino que
narra suas experiências em um internato.
a) José de Alencar.
b) Cruz e Souza.
c) Machado de Assis.
d) Raul Pompeia.
e) Aluísio de Azevedo.
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34. (Estratégia Militares 2020 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 2º Provão de Bolsas
EsPCEx) Leia o trecho de "O cortiço" de Aluísio de Azevedo.

E assim, pouco a pouco, se foram reformando todos os seus hábitos singelos de aldeão português:
e Jerônimo abrasileirou-se. A sua casa perdeu aquele ar sombrio e concentrado que a entristecia; já
apareciam por lá alguns companheiros de estalagem, para dar dois dedos de palestra nas horas de
descanso, e aos domingos reunia-se gente para o jantar. A revolução afinal foi completa: a aguardente
de cana substituiu o vinho; a farinha de mandioca sucedeu à broa; a carne-seca e o feijão-preto ao
bacalhau com batatas e cebolas cozidas; a pimenta-malagueta e a pimenta-de-cheiro invadiram
vitoriosamente a sua mesa; o caldo verde, a açorda e o caldo de unto foram repelidos pelos ruivos e
gostosos quitutes baianos, pela muqueca, pelo vatapá e pelo caruru; a couve à mineira destronou a
couve à portuguesa; o pirão de fubá ao pão de rala, e, desde que o café encheu a casa com o seu aroma
quente, Jerônimo principiou a achar graça no cheiro do fumo e não tardou a fumar também com os
amigos.
Aluísio de Azevedo – O cortiço. Domínio público.
Fonte: https://tinyurl.com/c454sss. Acesso em: 11 fev. 2020.

Nesse fragmento, constata-se um processo de


a) superioridade racial diante das comunidades tropicais.
b) depressão da personagem que se deprime longe do lar europeu.
c) mudança de costumes e construção de uma nova identidade.
d) produção do romance de 30, com sua temática social.
e) valorização da cor local em detrimento do estrangeiro.
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35. (Estratégia Militares 2020 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 9º Provão de Bolsas

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 99


Profa. Luana Signorelli

EsPCEx)

Eufemismo, os felizes tempos, eufemismo apenas, igual aos outros que nos alimentam, a saudade
dos dias que correram como melhores. Bem considerando, a atualidade é a mesma em todas as datas.
Feita a compensação dos desejos que variam, das aspirações que se transformam, alentadas
perpetuamente do mesmo ardor, sobre a mesma base fantástica de esperanças, a atualidade é uma.
Sob a coloração cambiante das horas, um pouco de ouro mais pela manhã, um pouco mais de púrpura
ao crepúsculo — a paisagem é a mesma de cada lado beirando a estrada da vida.
Eu tinha onze anos.
POMPEIA, Raul. O ateneu. Fonte: Domínio Público.
Disponível em: https://tinyurl.com/yc2s4ay4. Acesso em: 11 set. 2020.

A partir do trecho, é correto constatar que o narrador é


a) impessoal, sem chegar à nenhuma opinião conclusiva.
b) condescendente, sentindo pena de quem não assiste ao pôr do sol.
c) testemunha, elegendo um secundário para conduzir o enredo.
d) protagonista, resgatando a partir de outro plano reminiscências infantis.
e) projetado, sendo estilizado e ficcionalizado a ponto de distorção.
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36. (Estratégia Militares 2020 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 10º Provão de Bolsas
EsPCEx)

Capítulo LIV — A pêndula


Saí dali a saborear o beijo. Não pude dormir; estirei-me na cama, é certo, mas foi o mesmo que
nada. Ouvi as horas todas da noite. Usualmente, quando eu perdia o sono, o bater da pêndula fazia-
me muito mal; esse tique-taque soturno, vagaroso e seco parecia dizer a cada golpe que eu ia ter um
instante menos de vida. Imaginava então um velho diabo, sentado entre dois sacos, o da vida e o da
morte, e a contá-las assim:
— Outra de menos...
— Outra de menos...
— Outra de menos...
— Outra de menos...
O mais singular é que, se o relógio parava, eu dava-lhe corda, para que ele não deixasse de bater
nunca, e eu pudesse contar todos os meus instantes perdidos. Invenções há, que se transformam ou
acabam; as mesmas instituições morrem; o relógio é definitivo e perpétuo. O derradeiro homem, ao
despedir-se do sol frio e gasto, há de ter um relógio na algibeira, para saber a hora exata em que morre.
Naquela noite não padeci essa triste sensação de enfado, mas outra, e deleitosa. As fantasias
tumultuavam-me cá dentro, vinham umas sobre outras, à semelhança de devotas que se abalroam
para ver o anjo-cantor das procissões. Não ouvia os instantes perdidos, mas os minutos ganhados.
ASSIS, M. Memórias póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1992 (fragmento).

A partir do trecho, é correto inferir que

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 100


Profa. Luana Signorelli

a) a preocupação de Brás Cubas é puramente moral, pois ele receia que o diabo contando as horas irá
levá-lo ao inferno.
b) Brás Cubas, enquanto apaixonado por Capitu, tenta conter o fluxo do tempo, pois deseja voltar a se
encontrar com a amada.
c) o trecho consiste em uma reflexão quanto à passagem do tempo e o poder que Brás Cubas gostaria
de ter para controlá-lo.
d) o excerto é orientado para a doutrina principal predominante no período, o racionalismo, uma vez
que defende as criações humanas.
e) o maior legado que a humanidade pode deixar para a posteridade é a consciência de que tempo é
dinheiro e não pode ser perdido.
_____________________________________________________________________________________

37. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 1º Provão de Bolsas
EsPCEx) O romance realista brasileiro focaliza questões importantes, tais como
a) o trânsito entre o psicologismo via análises comportamentais e crítica da sociedade burguesa, sendo
um exemplo "Dom Casmurro" de Machado de Assis.
b) a denúncia de desigualdades sociais no meio dos trabalhadores contra a sociedade de classes, como
se evidencia em "O germinal" de Émile Zola.
c) a animalização do ser humano que é transformado em uma besta humana por causa das relações
sociais degradadas, constituindo um exemplo "O primo Basílio" de Eça de Queirós.
d) o impressionismo causado por apelos imagéticos na representação da memória subjetiva, como é
indicado em "O Ateneu" de Raul Pompeia.
e) o zoomorfismo na comparação do ser humano a animais torpes e degradantes, sendo rebaixado até
a alienação, como em "O cortiço" de Aluísio de Azevedo.
_____________________________________________________________________________________

38. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 3º Provão de Bolsas
EsPCEx) Leia o trecho abaixo para responder ao que se pede.

Amâncio, já na Corte, só de pensar no bruto, ainda sentia os calafrios dos outros tempos, e com eles
vagos desejos de vingança. Um malquerer doentio invadia-lhe o coração, sempre que se lembrava do
mestre e do pai. Envolvia-os no mesmo ressentimento, no mesmo ódio surdo e inconfessável.
Todos os pequenos da aula tinham birra do Pires. Nele enxergavam o carrasco, o tirano, o inimigo e
não o mestre; mas, visto que qualquer manifestação de antipatia redundava fatalmente em castigo, as
pobres crianças fingiam-se satisfeitas; riam muito quando o beberrão dizia alguma chalaça e afinal,
coitadas! iam-se habitualmente ao servilismo e à mentira.
Os pais ignorantes, viciados pelos costumes bárbaros do Brasil, atrofiados pelo hábito de lidar com
escravos, entendiam que aquele animal era o único professor capaz de “endireitar os filhos”.
AZEVEDO, Aluísio de. Casa de pensão. Fonte: Domínio Público.
Disponível em: https://tinyurl.com/3f9nn5bc. Acesso em: 19 mar. 2021.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 101


Profa. Luana Signorelli

Quanto à estética, esse texto pode poder classificado como naturalista por causa de que característica?
a) "ainda sentia os calafrios dos outros tempos, e com eles vagos desejos de vingança" = revanchismo.
b) "Um malquerer doentio invadia-lhe o coração, sempre que se lembrava do mestre e do pai" =
cientificismo.
c) "Envolvia-os no mesmo ressentimento, no mesmo ódio surdo e inconfessável" = determinismo.
d) "viciados pelos costumes bárbaros do Brasil, atrofiados pelo hábito de lidar com escravos" = racismo.
e) "entendiam que aquele animal era o único professor capaz de 'endireitar os filhos'" = zoomorfismo.

39. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 5º Provão de Bolsas
EsPCEx) Leve em consideração o trecho abaixo.

Bem considerando, a atualidade é a mesma em todas as datas. Feita a compensação dos desejos
que variam, das aspirações que se transformam, alentadas perpetuamente do mesmo ardor, sobre a
mesma base fantástica de esperanças, a atualidade é uma. Sob a coloração cambiante das horas, um
pouco de ouro mais pela manhã, um pouco mais de púrpura ao crepúsculo — a paisagem é a mesma
de cada lado beirando a estrada da vida.
POMPEIA, Raul. O Ateneu. Fonte: Domínio Público.
Disponível em: https://tinyurl.com/9l5ynjju. Acesso em: 08 jun. 2021.

Essa passagem é descrita como se fosse uma pintura, a partir de uma técnica com breves pinceladas
em que há a formação de contornos tênues. A partir dessa informação e da construção pictórica do
texto, é possível associar sua estética com a vanguarda do:
a) Dadaísmo.
b) Cubismo.
c) Orfismo.
d) Expressionismo.
e) Impressionismo.

40. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 6º Provão de Bolsas
EsPCEx) Leia o trecho abaixo e responda à questão.

CAPÍTULO XIII / A EPÍGRAFE


Ora, aí está justamente a epígrafe do livro, se eu lhe quisesse pôr alguma, e não me ocorresse
outra. Não é somente um meio de completar as pessoas da narração com as ideias que deixarem, mas
ainda um par de lunetas para que o leitor do livro penetre o que for menos claro ou totalmente escuro.
Por outro lado, há proveito em irem as pessoas da minha história colaborando nela, ajudando o autor,
por uma lei de solidariedade espécie de troca de serviços, entre o enxadrista e os seus trebelhos.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 102


Profa. Luana Signorelli

Se aceitas a comparação, distinguirás o rei e a dama, o bispo e o cavalo, sem que o cavalo possa
fazer de torre, nem a torre de peão. Há ainda a diferença da cor, branca e preta, mas esta não tira o
poder da marcha de cada peça, e afinal umas e outras podem ganhar a partida, e assim vai o mundo.
Talvez conviesse pôr aqui, de quando em quando, como nas publicações do jogo, um diagrama das
posições belas ou difíceis. Não havendo tabuleiro, é um grande auxílio este processo para acompanhar
os lances, mas também pode ser que tenhas visão bastante para reproduzir na memória as situações
diversas. Creio que sim. Fora com diagramas! Tudo irá como se realmente visses jogar a partida entre
pessoa e pessoa, ou mais claramente, entre Deus e o Diabo.
ASSIS, Machado de. Esaú e Jacó. Fonte: Domínio Público.
Disponível em: https://tinyurl.com/3zfp4zuh. Acesso em: 04 ago. 2021.

Típica obra da fase machadiana realista, o narrador evidencia uma relação de ______ com o leitor.
Preenchendo a lacuna, tem-se:
a) petulância
b) indiferença
c) desconfiança
d) credulidade
e) cooperação

41. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – Último Provão de
Bolsas EsPCEx – Definitivo) Leia o trecho abaixo para responder à questão.

CAPÍTULO L / UM MEIO-TERMO
Meses depois fui para o seminário de S. José. Se eu pudesse contar as lágrimas que chorei na
véspera e na manhã, somaria mais que todas as vertidas desde Adão e Eva. Há nisto alguma
exageração; mas é bom ser enfático, uma ou outra vez, para compensar este escrúpulo de exatidão
que me aflige. Entretanto, se eu me ativer só à lembrança da sensação, não fico longe da verdade; aos
quinze anos, tudo é infinito. Realmente, por mais preparado que estivesse, padeci muito. Minha mãe
também padeceu, mas sofria com alma e coração; demais, o Padre Cabral achara um meio-termo,
experimentar-me a vocação; se no fim de dous anos, eu não revelasse vocação eclesiástica, seguiria
outra carreira.
– As promessas devem ser cumpridas conforme Deus quer [...].
ASSIS, Machado de. Dom Casmurro. Fonte: Domínio Público.
Disponível em: https://tinyurl.com/252vytdn. Acesso em: 06 out. 2021.

Nessa passagem em particular, o narrador lança mão de um recurso expressivo atípico para sua escola,
que é o(a):
a) hipérbato, haja vista o pendor para o convencimento conceptista.
b) metáfora, pois o narrador no convento se sentia um pastor de rebanhos.
c) ironia, expressando relação com as paródias modernistas.
d) intertextualidade, porque o diálogo bíblico revela-se teocêntrico.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 103


Profa. Luana Signorelli

e) hipérbole, evidenciando resquícios de sentimentalismo romântico.

42. (Estratégia Militares 2020 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – SPRINT EsPCEx 2021)

A ESCOLA era na Rua do Costa, um sobradinho de grade de pau. O ano era de 1840. Naquele dia
— uma segunda-feira, do mês de maio — deixei-me estar alguns instantes na Rua da Princesa a ver
onde iria brincar a manhã. Hesitava entre o morro de S. Diogo e o Campo de Sant’Ana, que não era
então esse parque atual, construção de gentleman, mas um espaço rústico, mais ou menos infinito,
alastrado de lavadeiras, capim e burros soltos. Morro ou campo? Tal era o problema. De repente disse
comigo que o melhor era a escola. E guiei para a escola. Aqui vai a razão.
ASSIS, Machado de. “Conto de escola”. Fonte: Domínio Público.
Acesso em: https://tinyurl.com/y47uqowl. Acesso em: 29 jul. 2020.

O problema social que explora esse trecho realista é o(a):


a) darwinismo.
b) eutanásia.
c) gentrificação.
d) infraestrutura.
e) êxodo.

43. (Estratégia Militares 2020 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – SPRINT EsPCEx 2021)

Adeus, ignaro. Não contes a ninguém o que te acabo de confiar, se não queres perder as orelhas.
Cala-te, guarda, e agradece a boa fortuna de ter por amigo um grande homem, como eu, embora não
me compreendas. Hás de compreender-me. Logo que tornar a Barbacena, dar-te-ei em termos
explicados, simples, adequados ao entendimento de um asno, a verdadeira noção do grande homem.
Adeus; lembranças ao meu pobre Quincas Borba. Não esqueças de lhe dar leite; leite e banhos; adeus,
adeus... Teu do coração,
ASSIS, Machado de. Quincas Borba. Fonte: Domínio Público.

O trecho acima está escrito no gênero textual da carta. Embora seja de autoria de uma personagem
criada pelo próprio Machado de Assis, é possível identificar uma característica machadiana, que é:
a) pessimismo.
b) loucura.
c) ironia.
d) metafísica.
e) religiosidade.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 104


Profa. Luana Signorelli

44. (Estratégia Militares 2020 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – SPRINT EsPCEx 2021)

Era João Romão quem lhes fornecia tudo, tudo, até dinheiro adiantado, quando algum precisava.
Por ali não se encontrava jornaleiro, cujo ordenado não fosse inteirinho parar às mãos do velhaco. E
sobre este cobre, quase sempre emprestado aos tostões, cobrava juros de oito por cento ao mês, um
pouco mais do que levava aos que garantiam a dívida com penhores de ouro ou prata.
Não obstante, as casinhas do cortiço, à proporção que se atamancavam, enchiam-se logo, sem
mesmo dar tempo a que as tintas secassem. Havia grande avidez em alugá-las; aquele era o melhor
ponto do bairro para a gente do trabalho. Os empregados da pedreira preferiam todos morar lá,
porque ficavam a dois passos da obrigação.
AZEVEDO, Aluísio de. O cortiço. Fonte: Domínio Público.
Disponível em: https://tinyurl.com/yyem3bty. Acesso em: 29 jul. 2020.

Observa-se da conduta da personagem João Romão que ele


a) exagera nos preços exorbitantes à baixa população.
b) chega a ser enganado, tendo sido o seu negócio roubado.
c) está doente de tal forma que a patologia repulsiva é descrita.
d) valoriza seus empregados de uma forma igualitária e justa.
e) tendia a medir tudo pelos interesses pecuniários.

45. (Estratégia Militares 2020 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – SPRINT EsPCEx 2021)
Quanto aos romances de Machado de Assis, associe os dados da primeira coluna com os da segunda.

(1) Quincas Borba ( ) Rubião torna-se herdeiro universal, mas cai


na lábia de oportunistas, tendo alcançado a
ruína não só financeira como também a
espiritual.
(2) Memórias póstumas de Brás Cubas ( ) Já decadente e mais para o fim da vida, o
conselheiro Marcondes escreve em forma de
diário, num tom mais melancólico.
(3) Dom Casmurro ( ) Natividade sobre o Morro do Castelo em
busca de uma profecia capaz de guiar os destinos
dos filhos que está gestando.
(4) Esaú e Jacó ( ) Trata as pessoas com quem convive de
maneiras muito variadas a depender de sua
classe social: Prudêncio com tortura, por
exemplo.
(5) Memorial de Aires ( ) Um lar de pessoas frustradas, desde prima
Justina a José Dias, Bentinho cresceu em meio a
personagens que não se sobressaíram na vida.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 105


Profa. Luana Signorelli

A sequência correta está indicada na alternativa:


a) 1 – 5 – 4 – 2 – 3
b) 2 – 4 – 5 – 1 – 3
c) 1 – 3 – 4 – 5 – 2
d) 2 – 4 – 3 – 5 – 1
e) 3 – 2 – 1 – 4 – 5

46. (Estratégia Militares 2020 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – SPRINT EsPCEx 2021)

Perpétua compartia as alegrias da irmã, as pedras também, o muro do lado do mar, as camisas
penduradas às janelas, as cascas de banana no chão. Os mesmos sapatos de um irmão das almas, que
ia a dobrar a esquina da Rua da Misericórdia para a de São José, pareciam rir de alegria, quando
realmente gemiam de cansaço. Natividade estava tão fora de si que, ao ouvir-lhe pedir: "Para a missa
das almas!" tirou da bolsa uma nota de dois mil-réis, nova em folha, e deitou-a à bacia. A irmã chamou-
lhe a atenção para o engano, mas não era engano, era para as almas do purgatório.
ASSIS, Machado de. Esaú de Jacó. Fonte: Domínio Público.

Machado de Assis é um importante escritor brasileiro. A partir do excerto, é possível depreender que
as relações humanas são
a) movidas pela mera bondade cristã.
b) consolidadas no humanitismo de boa-fé.
c) mediadas por interesses monetários.
d) guiadas por decisões conscientes.
e) justificadas pela reciprocidade.

47. (Estratégia Militares 2020 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – SPRINT EsPCEx 2021)
Entre as obras de contos mais famosas de Machado de Assis está:
a) “A legião estrangeira”.
b) “Papéis avulsos”.
c) “A mão e a luva”.
d) “Sagarana”.
e) “O juiz de paz na roça”.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 106


Profa. Luana Signorelli

7.1 Lista de Fixação

48. (ESA – 2022) TEXTO a ser utilizado para responder as próximas 3 questões.

"Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em
primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo
nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira é que eu não sou
propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi outro berço; a
segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e mais novo. Moisés, que também contou a sua
morte, não a pôs no intróito, mas no cabo; diferença radical entre este livro e o Pentateuco." (Trecho
do livro "Memórias Póstumas de Brás Cubas" de Machado de Assis)

O autor personagem decidiu iniciar sua narrativa pelo fim, pois:


a) todos gostam de ouvir sobre a morte de alguém.
b) escritor que é escritor sempre faz dessa forma.
c) é comum para esse tipo de narrativa.
d) ninguém tinha feito assim antes.
e) a história é de terror.
_____________________________________________________________________________________

49. (ESA – 2022) Qual a diferença entre "AUTOR DEFUNTO" e "DEFUNTO AUTOR"?
a) são sinônimos.
b) o primeiro iniciou sua carreira após a morte e o segundo, em vida.
c) o primeiro foi autor em vida e o segundo, só após a morte.
d) o primeiro escreve sobre a sua morte e o segundo, após a sua morte.
e) o primeiro tem como tema em sua obra a morte e o segundo, o ato de escrever.
_____________________________________________________________________________________

50. (ESA – 2022) Nesse trecho do livro "Memórias Póstumas de Brás Cubas" de Machado de Assis o
autor-personagem faz uma comparação com Moisés. Essa comparação é baseada em ambos:
a) serem amigos.
b) falaram de suas mortes.
c) serem escritores.
d) gostarem da vida.
e) gostarem do novo.
_____________________________________________________________________________________

51. (ESA – 2014) Marque a alternativa que apresenta informação correta sobre autor e obra
representativos da literatura brasileira

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 107


Profa. Luana Signorelli

a) Aluísio de Azevedo escreveu “O Cortiço”, obra em que fica evidente a zoomorfização das
personagens.
b) Machado de Assis escreveu “Dom Casmurro”, romance idealista sobre a experiência do amor
inacessível.
c) Raul Pompéia escreveu “Lira dos Vinte Anos”, e é um representante do mal-do-século no
Romantismo.
d) Gregório de Matos escreveu peças teatrais populares e de conteúdo religioso para catequizar os
indígenas.
e) Olavo Bilac escreveu “Navio Negreiro” e “Vozes da África”, poemas com evidentes intenções
abolicionistas.
_____________________________________________________________________________________

52. (ESA – 2014) Sobre as obras e os autores do Realismo-Naturalismo no Brasil é correto afirmar que
a) o teatro dessa época teve muitos adeptos dentre os quais podemos citar José de Alencar.
b) Aluízio Azevedo e Machado de Assis produziram obras numa linha naturalista bem definida.
c) Raul Pompéia é um autor significativo dessa época, porém suas obras mostram apenas traços
impressionistas.
d) o principal autor desse período é Adolfo Caminha que trabalhou dentro de uma linha realista mais
definida.
e) a parte mais significativa da obra de Machado de Assis é representada por seus romances e contos.
_____________________________________________________________________________________

53. (ESA – 2011) A obra literária que marca o final do romantismo e o início do realismo no Brasil é
a) “Suspiros Poéticos e Saudades”, de Gonçalves de Magalhães.
b) “A Moreninha”, de Joaquim Manoel de Macedo.
c) “O Guarani”, de José de Alencar.
d) “O Ateneu”, de Raul Pompéia.
e) “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis.
_____________________________________________________________________________________

54. (Estratégia Militares 2020 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 2o Simulado ESA 2021)
A literatura deve ser uma espécie de documento da sociedade, deve fazer refletir sobre a realidade
social. O descritivismo e uma visão positivista marcavam os temas e estilos desse movimento. Essas
são características que identificam as obras de autores
a) trovadores.
b) românticos.
c) árcades.
d) realistas.
e) naturalistas.
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AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 108


Profa. Luana Signorelli

55. (Estratégia Militares 2020 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 5o Simulado ESA 2021)
Leia o poema abaixo para se responder ao que se pede.

A ELA
(...) Suas faces purpurinas
De rubras cores divinas
De mago brilho e condão;
Meigas faces que harmonia
Inspirada em doce poesia
Ao meu terno coração!

Sua boca meiga e breve,


Onde um sorriso de leve
Com doçura se realiza

Ornando purpúrea cor,


Celestes lábios de amor
Que com neve se harmoniza (...).
Machado de Assis – Poesias Dispersas. Fonte: Domínio Público.
Disponível em: https://tinyurl.com/ybl4oqzo. Acesso em: 11 de maio de 2020.

Esse poema de Machado de Assis se enquadra em qual fase e por quê?


a) Fase madura, por causa de seu psicologismo.
b) Fase excelente, devido à sua adjetivação.
c) Fase romântica, haja vista o seu sentimentalismo.
d) Fase mediana, graças à denúncia social.
e) Fase realista, observada no estilo rebuscado.
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56. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 3o Simulado ESA 2022)
Leia o trecho abaixo e responda ao que se pede.

Deles, só o canapé pareceu haver compreendido a nossa situação moral, visto que nos ofereceu
os serviços da sua palhinha, com tal insistência que os aceitamos e nos sentamos. Data daí a opinião
particular que tenho do canapé. Ele faz aliar a intimidade e o decoro, e mostra a casa toda sem sair da
sala. Dous homens sentados nele podem debater o destino de um império, e duas mulheres a graça de
um vestido – mas, um homem e uma mulher só por aberração das leis naturais dirão outra cousa que
não seja de si mesmos.

Sobre as obras e os autores do Realismo-Naturalismo no Brasil é correto afirmar que o trecho acima
a) corresponde a uma obra do Naturalismo, sendo de autoria de Aluísio Azevedo, por causa de sua
animalização evidente.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 109


Profa. Luana Signorelli

b) é uma obra naturalista, por causa de sua aproximação com o ideal neoclássico da natureza, sendo
de autoria de Artur Azevedo.
c) simboliza uma obra do realista de Raul Pompeia, por causa do uso das teorias científicas do fim do
século XIX, como o determinismo.
d) é considerado um excerto de uma obra realista, uma vez que utiliza um pensamento intertextual,
como as teorias de Rousseau.
e) representa uma passagem de uma obra realista de Machado de Assis, sendo capaz de estabelecer
uma reflexão entre o objetivo e o subjetivo.
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57. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 5o Simulado ESA 2022)
Fizeram parte do Naturalismo Brasileiro os seguintes autores:
a) Padre Manuel Nóbrega, Padre José Anchieta e Padre Antonio Vieira.
b) Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu e Castro Alves.
c) Aluísio Azevedo, Artur Azevedo e Adolfo Caminha.
d) Machado de Assis, Raul Pompeia e Aluísio de Azevedo.
e) Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Manuel Bandeira.
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58. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 7o Simulado ESA 2022)
Leia o trecho abaixo para responder à questão.

Vaguei pelas ruas e recolhi-me às nove horas. Não podendo dormir, atirei-me a ler e escrever. Às
onze horas estava arrependido de não ter ido ao teatro, consultei o relógio, quis vestir-me, e sair.
Julguei, porém, que chegaria tarde; demais, era dar prova de fraqueza. Evidentemente, Virgília
começava a aborrecer-se de mim, pensava eu. E esta ideia fez-me sucessivamente desesperado e frio,
disposto a esquecê-la e a matá-la. Via-a dali mesmo, reclinada no camarote, com os seus magníficos
braços nus, — os braços que eram meus, só meus, — fascinando os olhos de todos, com o vestido
soberbo que havia de ter, o colo de leite, os cabelos postos em bandos, à maneira do tempo, e os
brilhantes, menos luzidios que os olhos dela... Via-a assim, e doía-me que a vissem outros. Depois,
começava a despi-la, a pôr de lado as joias e sedas, a despenteá-la com as minhas mãos sôfregas e
lascivas, a torná-la, — não sei se mais bela, se mais natural, — a torná-la minha, somente minha,
unicamente minha.

Esse trecho inicia o capítulo 64, intitulado "A transação", do romance realista Memórias póstumas de
Brás Cubas de Machado de Assis. Nesse trecho em particular, o narrador protagonista revela-se
a) indeciso, obsessivo e possessivo.
b) altruísta, amoroso e apaixonado.
c) compulsivo, resignado e solícito.
d) ganancioso, cínico e irônico.
e) debochado, sardônico e indulgente.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 110


Profa. Luana Signorelli

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59. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 8o Simulado ESA 2022)
Leia o trecho abaixo para responder ao que se pede.

Raimundo pediu um espelho; colocou-o defronte da boca de Maria do Carmo, observou-o depois
e disse secamente:
— Está morta.
Foi um berreiro geral. Etelvina caiu para trás, estrebuchando num histérico; Manuel arredou a filha
daquele lugar. Acudiram todos os de casa. Os ânimos que o vinho entorpecia, acordaram como por
encanto. A situação incontinente tornou-se lúgubre.
AZEVEDO, Aluísio de. O mulato. Fonte: Domínio Público.
Disponível em: https://tinyurl.com/2ep2xbzn. Acesso em: 28 jul. 2021.

Alinhado à estética naturalista, quanto à cena apresentada pode-se afirmar que as personagens:
a) não superam a realidade imediata da morte da mulher, porém se esforçam, porque para serem
fortes e se adaptarem precisariam comprovar o evolucionismo.
b) tentam se controlar ao presenciarem um assassinato, mas não conseguem, pois são conduzidas
pelo positivismo que lhes ajudava no aperfeiçoamento espiritual.
c) estão diante de uma cena inexorável, o que se adequa ao determinismo típico da escola, o que
acentua traços caricaturais em condições funestas.
d) ilustram um comportamento patológico de indivíduos que agem por instinto, pois a animalização
nessas personagens se faz evidente.
e) criticam a atitude homicida de Raimundo, o que se enquadra no idealismo comum no movimento,
já que as personagens se encontram embriagadas.
_____________________________________________________________________________________

60. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 10o Simulado ESA
2022) Émile Zola foi quem primeiro introduziu essa escola na Europa, com o romance de tese. O
movimento incorpora a representação das minorias, o retrato das patologias e o zoomorfismo, a partir
da crença de que o ser humano é biológico. Nesse sentido, o principal representante deste movimento
no Brasil é:
a) Gregório de Matos.
b) José de Alencar.
c) Álvares de Azevedo.
d) Adolfo Caminha.
e) Aluísio de Azevedo.
_____________________________________________________________________________________

61. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 11o Simulado ESA 2022)
Chamado de Bruxo do Cosme, este escritor é responsável pela dissolução da escola romântica no Brasil.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 111


Profa. Luana Signorelli

A partir da adoção de um narrador em primeira pessoa que volta da morte para contar cinicamente a
sua própria história, ______ estabelece o vínculo entre a crítica dos comportamentos exteriores
justificados a partir da personalidade individual.

Preenchendo-se adequadamente a lacuna tem-se:


a) Machado de Assis.
b) Raul Pompeia.
c) Manuel Antonio de Almeida.
d) Joaquim Manoel de Macedo.
e) Aluísio de Azevedo.
_____________________________________________________________________________________

62. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 12o Simulado ESA
2022) A partir da leitura do texto, responda à pergunta.

"Durante os meus trinta e tantos anos de diplomacia algumas vezes vim ao Brasil, com licença. O
mais do tempo vivi fora, em várias partes, e não foi pouco. Cuidei que não acabaria de me habituar
novamente a esta outra vida de cá. Pois acabei. Certamente ainda me lembram cousas e pessoas de
longe, diversões, paisagens, costumes, mas não morro de saudades por nada. Aqui estou, aqui vivo,
aqui morrerei."
ASSIS, Machado de. Memorial de Aires. Fonte: Domínio Público.
Disponível em: https://tinyurl.com/uk9j6cb2. Acesso em: 19 ago. 2021.

O Conselheiro Aires, típica personagem machadiana que aparece em mais de uma obra, na passagem
acima aventura-se no gênero do diário pessoal. No seu registro memorialístico, recorda o momento
de sua aposentadoria. Nesse contexto, o trecho grifado equipara-se semanticamente a:
a) "Verdade é que quem tinha consigo estes trastes estava com as armas e uniforme do ofício; porém
isso não bastava; o pobre rapaz estava em apertos"
b) "E assim, pouco a pouco, se foram reformando todos os seus hábitos singelos de aldeão português:
e Jerônimo abrasileirou-se"
c) "Então meu pai propôs-lhe ficar ali vivendo, com pequeno ordenado. José Dias recusou, dizendo
que era justo levar a saúde à casa de sapé do pobre"
d) "À proporção que Brás acertava com o nome de cada letra, a ia apagando a mestra gentil com a
ponta do pé buliçoso e faceiro, para escrever outra e outra até o fim do abecedário"
e) "Basta considerar que, diante de tão estranho espetáculo, fiquei absolutamente sem medo; perdi
a reflexão, apenas sabia ouvir e contemplar."
_____________________________________________________________________________________

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 112


Profa. Luana Signorelli

63. (Estratégia Militares 2020 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – Chivunk ESA 2021) O
movimento literário que se caracterizou pelo pioneirismo na representação de classes marginalizadas
foi o
a) Quinhentismo.
b) Humanismo.
c) Naturalismo.
d) Barroco.
e) Byronismo.
_____________________________________________________________________________________

64. (Estratégia Militares 2020 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 2º Provão de Bolsas
ESA) O Naturalismo brasileiro teve maior expressão com:
a) Aluísio de Azevedo, na história baseada em fatos reais, “Casa de pensão”.
b) Adolfo Casais Monteiro, no romance “O Bom-Crioulo”.
c) Machado de Assis, na sua fase primeva, com “Helena”.
d) Eça de Queirós, em sua obra “O crime do padre Amaro”.
e) Antero de Quental, no livro “O primo Basílio”.
_____________________________________________________________________________________

65. (Estratégia Militares 2020 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 6º Provão de Bolsas
ESA) Marque a alternativa que apresenta informação correta sobre autor e obra representativos da
Literatura Brasileira.
a) Raul Pompeia escreveu “O ateneu”, uma obra autobiográfica que conta uma experiência pré-
adolescente.
b) Álvares de Azevedo escreveu “Noite na taverna”, uma obra da segunda geração escrita na forma de
teatro.
c) José de Alencar escreveu romance histórico, caracterizado por “Ubirajara”, e prosa urbana, como
“Guerra dos Mascates”.
d) Mário Quintana é um escritor de contos populares e folclóricos, conhecido pelo “Auto da
Compadecida”.
e) Clarice Lispector inovou a forma do poema, passando da métrica rígida para o poema-piada, um
gênero essencialmente curto.
_____________________________________________________________________________________

66. (Estratégia Militares 2020 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 10º Provão de Bolsas
ESA)

”Feitos os quinze anos, ela começou pouco a pouco a descobrir em si estranhas mudanças;
percebeu, sentiu que uma transformação importante se operava no seu espírito e no seu corpo:
sobressaltavam-na terrores infundados; acometiam-na tristezas sem motivo justificável. Um dia,

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 113


Profa. Luana Signorelli

afinal, acordou mais preocupada; assentou-se na rede, a cismar. E, com surpresa, reparou que seus
membros ultimamente se tinham arredondado; notou que em todo seu corpo a linha curva suplantara
a reta e que as suas formas eram já completamente de mulher.”
AZEVEDO, Aluísio de. O mulato. Fonte: Domínio Público.
Disponível em: https://tinyurl.com/yy9bdffg. Acesso em: 11 out. 2020.

A partir do texto acima, é correto afirmar que


a) Ana Rosa é uma mulher que é determinada por causa de sua etnia mulata.
b) no trecho constata-se o evolucionismo, pois Ana Rosa se torna mulher.
c) o positivismo é verificado no otimismo de Ana Rosa para vencer seus sentimentos.
d) a união entre corpo e espírito é equilibrada depois que Ana Rosa entende suas mudanças.
e) Ana Rosa é uma mulher determinada pelas suas condições biológicas.
_____________________________________________________________________________________

67. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 3º Provão de Bolsas
ESA) Leia o trecho para responder à pergunta.

“Capitu quis que lhe repetisse as respostas todas do agregado, as alterações do gesto e até a
pirueta, que apenas lhe contara. Pedia o som das palavras. Era minuciosa e atenta; a narração e o
diálogo, tudo parecia remoer consigo. Também se pode dizer que conferia, rotulava e pregava na
memória a minha exposição. Esta imagem é porventura melhor que a outra, mas a ótima delas é
nenhuma. Capitu era Capitu, isto é, uma criatura mui particular, mais mulher do que eu era homem.
Se ainda o não disse, aí fica. Se disse, fica também. Há conceitos que se devem incutir na alma do
leitor, à força de repetição.”
ASSIS, Machado de. Dom Casmurro. Fonte: Domínio Público.
Disponível em: https://tinyurl.com/252vytdn. Acesso em: 19 mar. 2021.

O trecho acima é extraído de um romance realista. O que é correto inferir quanto ao narrador?
a) Trata-se de um narrador em primeira pessoa, que admite sua insegurança juvenil frente à parceira
que, segundo ele, revela ser uma pessoa esperta e intuitiva.
b) O narrador em primeira pessoa relata a história a partir do ponto de vista do agregado, o meio-
termo, que transita na relação do jovem casal.
c) Consiste em um narrador em terceira pessoa e é o típico contador de histórias do Realismo,
adotando uma perspectiva imparcial e impessoal.
d) A metalinguagem, uma das principais características estilísticas de Machado de Assis, é ignorada
pelo narrador, completamente apaixonado.
e) O narrador sabe se colocar em um lugar acima da história, podendo narrá-la a partir de uma posição
privilegiada e neutra.
_____________________________________________________________________________________

68. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 4º Provão de Bolsas
ESA) O Naturalismo é um movimento literário baseado na comparação do ser humano com um

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 114


Profa. Luana Signorelli

organismo biológico, a partir da descrição fisiológica. Nesse sentido, assinale o trecho abaixo em que
essa característica pode ser observada.
a) "O Bom-Crioulo da corveta, sensual e uranista, cheio de desejos inconfessáveis, perseguindo o
aprendiz de marinheiro como quem fareja urna rapariga que estreia na libertinagem o Bom-Crioulo
erotômano da rua da Misericórdia, caindo em êxtase perante um efebo nu (...)"
b) "Queria a educação como nos colégios da Europa, segundo vira em certo pedagogista, onde as
meninas desenvolvem-se física e moralmente como a rapaziada de calças, com uma rapidez
admirável, tornando-se por fim excelentes mães de família (...)".
c) "Assim, eram às vezes muito quentes as sobremesas do Miranda, quando, entre outros assuntos
palpitantes, vinha à discussão o movimento abolicionista que principiava a formar-se em torno da lei
Rio Branco."
d) "Os amigos que me restam são de data recente; todos os antigos foram estudar a geologia dos
campos-santos. Quanto às amigas, algumas datam de quinze anos, outras de menos, e quase todas
creem na mocidade "
e) "Parecia uma decomposição em vida: fedia como coisa podre! Já se não alimentava pela boca; os
seus gemidos eram arrotos de ovo choco, e os humores que ela expelia por toda a parte do corpo
empesteavam a casa inteira. "
_____________________________________________________________________________________

69. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – SPRINT ESA 2022)
Quanto à Literatura Brasileira, marque a alternativa correta.
a) Padre Antonio Vieira foi um importante escritor barroco, tendo escrito poesias de vários tipos, como
satírica e religiosa.
b) Gregório de Matos escreveu “Sermão da Sexagenária”, uma obra confessional jesuítica conhecida
pela metalinguagem.
c) Aluísio de Azevedo foi um escritor realista brasileiro, cujas obras iniciais eram objetivas e depois se
tornam subjetivas.
d) Raul Pompeia foi o principal escritor realista, tendo produzido a obra-prima sobre sua infância,
“Crônica de saudades”.
e) Machado de Assis foi um ícone do Realismo Brasileiro, apesar de suas primeiras obras seguirem
tendência romântica.
_____________________________________________________________________________________

70. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – SPRINT ESA 2022)
Sobre as obras e os autores do Realismo-Naturalismo no Brasil é correto afirmar que
a) “O Cortiço” é um romance naturalista machadiano, em que o protagonista João Romão recebe
ironicamente uma medalha de condecoração pela causa abolicionista.
b) “Dom Casmurro” é um romance escritor em primeira pessoa, o que faz com que o ponto de vista
dessa obra seja ambíguo, revelando o psicologismo das personagens.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 115


Profa. Luana Signorelli

c) “O mulato” é um romance escritor por Raul Pompeia, sendo que o protagonista Raimundo consegue
se casar com a amada Ana Rosa.
d) “Memórias póstumas de Brás Cubas” é um romance escritor a partir de um foco narrativo objetivo,
que serve justamente para criticar os comportamentos burgueses.
e) “O alienista” é um romance cujo protagonista é Simão Botelho, um médico renomado que testa em
si a vacina que seria cura para toda a humanidade.
_____________________________________________________________________________________

71. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – SPRINT ESA 2022)
Membro da elite, desde a infância judiava do escravo Prudêncio. Na adolescência, conheceu a partir
da cortesã Marcela que os seres humanos se relacionam por interesse. Na fase adulta, mantém
adultério com Virgília, mesmo ela sendo casada com Lobo Neves. Ela engravida, mas perde o filho. O
personagem aludido é:
a) José Dias.
b) Bentinho.
c) Brás Cubas.
d) Quincas Borba.
e) Rubião.
_____________________________________________________________________________________

72. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – SPRINT ESA 2022) O
principal representante do teatro naturalista brasileiro é:
a) Artur Azevedo.
b) Aluísio de Azevedo.
c) Raul Pompeia.
d) Adolfo Caminha.
e) Machado de Assis.
_____________________________________________________________________________________

73. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – SPRINT ESA 2022) Leia
o trecho abaixo para responder à questão.

CAPÍTULO 95
Flores de antanho
Onde estão elas, as flores de antanho? Uma tarde, após algumas semanas de gestação, esboroou-
se todo o edifício das minhas quimeras paternais. Foi-se o embrião, naquele ponto em que se não
distingue Laplace de uma tartaruga. Tive a notícia por boca do Lobo Neves, que me deixou na sala, e
acompanhou o médico à alcova da frustrada mãe. Eu encostei-me à janela, a olhar para a chácara,
onde verdejavam as laranjeiras sem flores. Onde iam elas as flores de antanho?
ASSIS, Machado de. Memórias póstumas de Brás Cubas. Fonte: Domínio Público.
Disponível em: https://tinyurl.com/j98v32vw. Acesso em: 09 abril 2021.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 116


Profa. Luana Signorelli

O termo “antanho” significa outrora, antigamente. A partir da visão global da obra, depreende-se que
a) é estabelecida uma situação temporal entre passado e presente, e por meio da obsessão com as
flores de antanho o narrador se distancia do seu problema real.
b) o narrador encara positivamente o ocorrido, tentando consolar a família, seu cunhado e a irmã
depois da perda do filho prematuro.
c) a intertextualidade é o foco principal, a partir do qual o narrador faz uma digressão para chegar às
teorias cientificistas naturalistas.
d) as flores são uma metáfora de esperança para o filho vindouro, cuja chegada é comemorada entre
os amigos íntimos, especialmente Lobo Neves.
e) é evidente o pessimismo presente no trecho, pois as flores representam o luto diante da partida de
um ente querido, como é o caso do sobrinho.
_____________________________________________________________________________________

74. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – SPRINT ESA 2022)
Machado de Assis é um escritor conhecido por aproveitar personagens em mais de um romance. Isso
ocorre por exemplo com:
a) Brás Cubas e Simão Bacamarte.
b) Quincas Borba e Conselheiro Aires.
c) Cândido Neves e Quincas Borba.
d) Bentinho e Conselheiro Aires.
e) Quincas Borba e Prudêncio.
_____________________________________________________________________________________

75. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – SPRINT ESA 2022) Leia
o trecho abaixo para responder ao que se pede.

Naquela mulata estava o grande mistério, a síntese das impressões que ele recebeu chegando
aqui: ela era a luz ardente do meio-dia; ela era o calor vermelho das sestas da fazenda; era o aroma
quente dos trevos e das baunilhas, que o atordoara nas matas brasileiras; era a palmeira virginal e
esquiva que se não torce a nenhuma outra planta; era o veneno e era o açúcar gostoso; era o sapoti
mais doce que o mel e era a castanha do caju, que abre feridas com o seu azeite de fogo; ela era a
cobra verde e traiçoeira, a lagarta viscosa, a muriçoca doida, que esvoaçava havia muito tempo em
torno do corpo dele, assanhando-lhe os desejos, acordando-lhe as fibras embambecidas pela saudade
da terra, picando-lhe as artérias, para lhe cuspir dentro do sangue uma centelha daquele amor
setentrional, uma nota daquela música feita de gemidos de prazer, uma larva daquela nuvem de
cantáridas que zumbiam em torno da Rita Baiana e espalhavam-se pelo ar numa fosforescência
afrodisíaca.
AZEVEDO, Aluísio. O cortiço. Fonte: Domínio Público.
Disponível em: https://tinyurl.com/9j7ar5ff. Acesso em: 27 abril 2021.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 117


Profa. Luana Signorelli

O excerto do romance acima pode ser considerado naturalista por causa de várias características,
EXCETO:
a) a visão do homem como ser biológico.
b) a primazia dos sentidos e do erotismo.
c) o rigor formal e o pessimismo no amor.
d) o excesso de descrição e detalhes.
e) o determinismo do homem como fruto do meio.
_____________________________________________________________________________________

76. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – SPRINT ESA 2022)
Quanto ao Realismo Português, faz parte da terceira fase da produção de Eça de Queirós o romance:
a) Prosas bárbaras.
b) O crime do Padre Amaro.
c) Os Maias.
d) A cidade e as serras.
e) A ilustre casa de João Romão.
_____________________________________________________________________________________

77. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – SPRINT ESA 2022)
Quanto aos movimentos literários do Naturalismo e Realismo, assinale a alternativa INCORRETA.
a) Embora Aluísio de Azevedo seja o principal escritor naturalista brasileiro, outros nomes que podem
ser citados nessa mesma estética são o do seu próprio irmão e de Adolfo Caminha.
b) Um romance fundamental para o Realismo foi “Memórias póstumas de Brás Cubas”, que introduziu
o Realismo no Brasil e dividiu a carreira machadiana, passando da fase romântica para a realista.
c) No Brasil, Machado de Assis foi o escritor realista mais conhecido, embora Raul Pompeia também
tenha sido um escritor contemporâneo relevante.
d) Em Portugal, o Realismo ocorreu tanto na prosa quanto na poesia, sendo que os principais
representantes foram, respectivamente, Eça de Queirós e Antero de Quental.
e) A principal obra de Raul Pompeia é “Uma tragédia no Amazonas”, que conta a história de como o
menino Sérgio presenciou um incêndio em seu colégio interno.
_____________________________________________________________________________________

78. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – SPRINT ESA 2022) Uma
das principais características do estilo machadiano é a metalinguagem. Identifique o trecho no qual
ela foi aplicada.
a) “Os policiais, vendo que ela se não despachava, desembainharam os sabres. Bertoleza então,
erguendo-se com ímpeto de anta bravia, recuou de um salto e, antes que alguém conseguisse alcançá-
la”

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 118


Profa. Luana Signorelli

b) “(...) contava o Egito e os seus milhares de séculos, sem se perder nos algarismos; tinha a cabeça
aritmética do pai. Eu, posto que a ideia da paternidade do outro me estivesse já familiar, não gostava
da ressurreição.”
c) “Quaisquer que fossem as cores, eram tintas novas, tábuas novas, uma reforma que ele, mais por
economia que por afeição, não quisera fazer; mas a afeição valia muito. Agora que ia trocar de tabuleta
sentia perder algo do corpo (...)”
d) “Era convidá-lo a sair da própria pele. Política valia tudo. Que também houvesse política lá fora,
sim; mas que tinha ele com ela? Teófilo não sabia nada do que ia por fora, exceto a nossa dívida em
Londres, e meia dúzia de economistas.”
e) “(...) mas enfim a melhor, se devemos falar a linguagem usual. Se, porém, empregarmos outra
sublime, a melhor parte foi a restante, como eu terei honra de lhes dizer nas poucas páginas deste
livro.”
_____________________________________________________________________________________

79. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – Hora da Verdade ESA
2022) Quanto aos seus conhecimentos literários, assinale o que for INCORRETO.
a) O Quinhentismo é uma escola incipiente cuja produção literária é escrita em âmbito colonial.
b) Gil Vicente foi um dramaturgo que escreveu teatro de costumes moralizante e não religioso.
c) O Romantismo Tardio foi uma tentativa de desvencilhamento do idealismo do início da escola.
d) Eça de Queirós é um autor enquadrado tanto no Realismo quanto no Naturalismo, a depender da
obra.
e) Adolfo Caminha foi um escritor realista, tendo publicado seu romance “O Ateneu” com base
biográfica.
_____________________________________________________________________________________

80. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – Premonição ESA 2022)
Embora diferentes entre si, o Realismo e o Naturalismo costumam compartilhar entre si o pendor pela
objetividade. Nesse aspecto em particular, eles se diferenciam do Romantismo, movimento anterior,
que costumava valorizar:
a) a defesa da causa social.
b) a evasão da realidade.
c) o pessimismo decadentista.
d) a visão taciturna da vida.
e) o nacionalismo fanático.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 119


Profa. Luana Signorelli

7.2 Gabarito

1. D 11. A 21. D 31. E 41. E 51. A 61. A 71. C


2. B 12. C 22. D 32. A 42. D 52. E 62. A 72. A
3. D 13. B 23. C 33. D 43. C 53. E 63. C 73. A
4. D 14. B 24. E 34. C 44. E 54. E 64. A 74. B
5. D 15. E 25. D 35. D 45. A 55. C 65. A 75. C
6. D 16. A 26. D 36. C 46. C 56. E 66. E 76. D
7. C 17. C 27. C 37. A 47. B 57. C 67. A 77. E
8. D 18. A 28. B 38. E 48. D 58. A 68. E 78. E
9. C 19. B 29. C 39. A 49. C 59. C 69. E 79. E
10. E 20. D 30. E 40. E 50. B 60. E 70. B 80. B

8.0 Questões com Comentários

01. (EsPCEx – 2013) Leia o fragmento abaixo:

“AO LEITOR
Que Stendhal confessasse haver escrito um de seus livros para cem leitores, cousa é que admira e
consterna. O que não admira, nem provavelmente consternará é se este outro livro não tiver os cem
leitores de Stendhal, nem cinquenta, nem vinte, e quando muito, dez. Dez? Talvez cinco. Trata-se, na
verdade, de uma obra difusa, na qual eu, Brás Cubas, se adotei a forma livre de um Sterne, ou de um
Xavier de Maistre, não sei se lhe meti algumas rabugens de pessimismo. Pode ser. Obra de finado.
Escrevi-a com a pena da galhofa e a tinta da melancolia, e não é difícil antever o que poderá sair desse
conúbio. Acresce que a gente grave achará no livro umas aparências de puro romance, ao passo que a
gente frívola não achará nele o seu romance usual, ei-lo aí fica privado da estima dos graves e do amor
dos frívolos, que são as duas colunas máximas da opinião.”

O fragmento acima é parte da obra “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, publicada em folhetim em
1880 e editada em livro em 1881. Essa obra, de autoria de
a) Machado de Assis, é uma das mais conhecidas do Naturalismo no Brasil.
b) Guimarães Rosa, é tida como a mais importante produção do Modernismo no Brasil.
c) Aluísio Azevedo, lançou no Brasil o movimento denominado Naturalismo.
d) Machado de Assis, é apontada como o marco inicial do Realismo no Brasil.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 120


Profa. Luana Signorelli

e) Aluísio Azevedo, encerra o Romantismo e inicia o Realismo brasileiro.

Comentários
Questão de interpretação de texto literário/conhecimento de movimento literário.
Alternativa A: incorreta. Não é do Naturalismo, mas sim do Realismo.
Alternativa B: incorreta. Embora Guimarães Rosa seja mesmo um escritor modernista, o trecho
não é dele, mas sim de Machado de Assis.
Alternativa C: incorreta. Aluísio Azevedo foi mesmo um escritor do Realismo, porém o trecho é de
Machado de Assis.
Alternativa D: correta – gabarito. Observa-se no trecho uma das características importantes de
Machado de Assis: a intertextualidade, isto é, o diálogo com outros autores importantes, a quem ele lia
bastante, admirava, e inclusive chegava a imitar os estilos em seus próprios estilos. No caso, podemos
discernir as seguintes referências:
• Stendhal é um escritor da transição do Romantismo para o Realismo francês, o qual escreveu "O
vermelho e o negro" (1830) e "A cartuxa de Parma" (1839), de quem Machado de Assis tirou um senso
histórico, uma vez que no primeiro romance, por exemplo, um dos personagens é o próprio Napoleão;
• Lawrence Sterne é um escritor irlandês que escreveu o romance "A vida e a os opiniões de
Tristram Shandy" (1759), cujas digressões e ironia influenciaram bastante Machado de Assis;
• Xavier de Maistre foi um escritor francês da transição do século XVIII para o XIX cujo principal
livro foi "Viagem ao redor do meu quarto" (1794).
Alternativa E: incorreta. Quem inicia o Realismo brasileiro é Machado de Assis, justamente com a
publicação de "Memórias póstumas de Brás Cubas" em 1881. Este é considerado o grande marco.

Gabarito: D.

02. (EsPCEx – 2011) Assinale a alternativa correta, quanto à Literatura Brasileira.


a) A primeira geração poética do Romantismo está voltada para a expressão dos próprios sentimentos
e frustrações.
b) A fase de maturidade de Machado de Assis é essencialmente problematizadora; trata da questão
existencialista.
c) Canaã é um romance de tese e integra a literatura dos jesuítas.
d) O Simbolismo é uma afirmação do Naturalismo (linguagem) e do Parnasianismo (estética).
e) O Barroco explora o antropocentrismo, resgatando características renascentistas: culto à forma e
linguagem rebuscada.

Comentários
Questão de conhecimento do movimento literário.
Alternativa A: incorreta. Essa seria a segunda geração; não a primeira.
Alternativa B: correta – gabarito. É quando Machado de Assis se torna madura, em contraposição
à sua primeira fase considerada mais como romântica.
Alternativa C: incorreta. É um romance de Graça Aranha do Pré-Modernismo.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 121


Profa. Luana Signorelli

Alternativa D: incorreta. O Simbolismo é um movimento à parte. Embora contemporâneos,


apresentam propostas diferentes.
Alternativa E: incorreta. Pelo contrário: o teocentrismo.

Gabarito: B.

03. (EsPCEx – 2010) “Cultivado no Brasil por Machado de Assis, é uma narrativa voltada para a análise
psicológica e crítica da sociedade a partir do comportamento de determinados personagens.”
O texto acima refere-se ao romance
a) sertanejo.
b) fantástico.
c) histórico.
d) realista.
e) romântico.

Comentários
Questão de conhecimento de movimento literário; autor e obra do cânone e gêneros literários.
Alternativa A: incorreta. Não se trata exatamente de uma tipologia de romance, mas poderia estar
se referindo ao romance de 30, um tipo de romance numa geração modernista predominantemente
crítica e social.
Alternativa B: incorreta. Observa-se a seguir a definição sobre fantástico.

“O fantástico ocorre nesta incerteza; ao escolher uma ou outra resposta,


deixa-se o fantástico para se entrar num gênero vizinho, o estranho ou o
maravilhoso. O fantástico é a hesitação experimentada por um ser que só
conhece as leis naturais, face a um acontecimento aparentemente
sobrenatural.
O conceito de fantástico se define pois com relação aos de real e de
imaginário (...)”.
Referência Bibliográfica: TODOROV, Tzvetan. Introdução à literatura fantástica. Trad.
Maria Clara Correa Castello. São Paulo: Perspectiva, 2014 (p. 31, grifo meu).

Alternativa C: incorreta. O romance histórico foi desenvolvido por um crítico literário húngaro
chamado György Lukács. Em linhas gerais, trata de fatos e personagens históricas, aliando várias classes
sociais, das mais altas às mais baixas.
Alternativa D: correta – gabarito. A partir da publicação de Memórias Póstumas de Brás Cubas,
Machado de Assis envereda por um estilo marcado pela análise psicológica dos personagens. O desenrolar
de ações, onde o enredo deixa de ter importância para destacar as suas verdadeiras intenções,
desmascara a hipocrisia humana e coloca em evidência o motivo real das atitudes dos personagens:

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 122


Profa. Luana Signorelli

ambição, interesse, oportunismo e egoísmo de um ser humano sem idealizações. Trata-se do início da sua
fase realista.
Alternativa E: incorreta. O romance romântico teve 4 tipologias: indianista, regionalista, histórico
e urbano, sendo este último precursor do romance realista, mas a maioria consistia em obras de
transição.

Gabarito: D.

04. (EsPCEx – 2007) Em 1880, Zola publicou suas teorias sobre o romance experimental em que
expunha ideias como esta: “o romance experimental substitui o estudo do homem abstrato e
metafísico pelo do homem natural, sujeito a leis físico-químicas e determinado pela influência do
meio”.
Observa-se, nessas palavras, a ênfase cientificista e determinista do
a) Arcadismo.
b) Classicismo.
c) Realismo.
d) Naturalismo.
e) Barroco.

Comentários
Questão de conhecimento do movimento literário/autores e obras do cânone.
Alternativa A: incorreta. O Arcadismo ocorreu no século XVIII. Embora fosse o Século das Luzes e
ainda sofresse influência da Revolução Científica, seu gênero literário foi predominantemente lírico
(poesia).
Alternativa B: incorreta. O Classicismo literário ocorreu entre os séculos XV e XVI. A visão de
mundo era antropocêntrica; prezava-se pela razão, harmonia e equilíbrio. No Naturalismo, há o contrário:
valorização do grotesco, das patologias, do biológico.
Alternativa C: incorreta. Embora fosse concomitante ao Naturalismo, a proposta estética era
outra. O Realismo procurava a denúncia social, sondando também o psicologismo humano. Não queria
provar nada, mas sim criticar, analisar.
Alternativa D: correta – gabarito. Émile Zola (1840-1902) foi um escritor naturalista francês. Ele
não foi apenas um escritor, mas também jornalista e importante crítico político. Em 1866, publica
"Thérèse Raquin", obra em que mistura ficção com as ideias cientificistas, compondo aquilo que se
convencionou chamar de “romance de tese”, um gênero ficcional cuja história tem a finalidade de revelar
uma verdade social. Mas é com Germinal que o autor consolida essa nova vertente que ficará conhecida
como Naturalismo.
Alternativa E: incorreta. O Barroco ocorreu no século XVII e a visão de mundo era teocêntrica e
não cientificista.

Gabarito: D.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 123


Profa. Luana Signorelli

05. (EsPCEx – 2006) Machado de Assis é tido pela crítica literária como um dos mais importantes
escritores da literatura brasileira. Quanto a sua produção literária, é correto afirmar que
a) foi dividida em duas fases, em função dos temas abordados e da linguagem utilizada, constituindo
ambas a principal produção da escola realista, iniciada com a publicação do romance Ressurreição.
b) a parte mais significativa da obra de Machado de Assis é a poesia, principalmente a produzida na
primeira fase, na qual o autor se mostra um perfeito parnasiano, produzindo muitos sonetos com
grande preocupação formal.
c) as duas fases da obra machadiana possuem características tão distintas que podem ser colocadas
em períodos literários também distintos: a primeira fase no Romantismo e a segunda no Realismo, cujo
marco inicial é Memórias Póstumas de Brás Cubas.
d) inicia com obras marcadamente inovadoras, sendo um autor bastante singular já em sua primeira
fase. Nesta fase está a parte mais significativa de sua obra, que perde força e criatividade na fase
seguinte.
e) as duas fases machadianas marcam claramente o tipo de obra a que o autor se dedica: a primeira
fase é poética, com vasta produção de sonetos parnasianos; e, na segunda fase, o autor abandona a
poesia, iniciando a produção de romances e contos.

Comentários
Questão de conhecimento do movimento literário/autores e obras do cânone.
Alternativa A: incorreta. A produção machadiana foi, sim, dividida em duas partes. Porém, a
primeira é considerada romântica, da qual fazem partes romances como "Ressurreição" (1872), ao passo
que apenas a segunda fase é considerada madura/realista.
Alternativa B: incorreta. Machado de Assis escreveu poesia, mas foi na sua primeira fase. Logo, a
parte mais significativa de sua obra ocorreu na segunda fase, considerada realista. Além do mais, seus
poemas não eram parnasianos, mas sim amorosos, frequentemente dedicados à esposa Carolina, ou ao
menos inspirados nela.
Alternativa C: correta – gabarito. A segunda fase também é chamada de madura, da qual fazem
parte romances como "Quincas Borba" (1891) e "Esaú e Jacó" (1904).
Alternativa D: incorreta. Não estava tão amadurecido assim na primeira fase, mas sim testava
estilos antes de se autoafirmar. Pelo contrário, sua força só aumenta.
Alternativa E: incorreta. Não é só poética; predominantemente houve romances como "Iaiá
Garcia" (1878) e "A mão e a luva" (1874).

Gabarito: D.

06. (EsPCEx – 2015) Sobre o Realismo, é correto afirmar que


a) em Portugal, as obras mais importantes do período foram escritas em versos por Almeida Garrett.
b) os autores do período privilegiaram a subjetividade e a emoção, criando obras em primeira pessoa.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 124


Profa. Luana Signorelli

c) na polêmica conhecida como "Questão coimbrã", Antero de Quental defende que a poesia era
espaço do belo e não de questões sociais.
d) em suas obras, os realistas expressam a insatisfação com a ganância e a hipocrisia da sociedade
burguesa.
e) as classes mais pobres e os fatos cotidianos são excluídos das obras do período.

Comentários
Questão sobre conhecimento do movimento literário/autores e obras do cânone.
Alternativa A: incorreta. Almeida Garrett foi um escritor romântico e não realista. Escritores
importantes do movimento realista/naturalista português foram Eça de Queirós na prosa e Antero de
Quental na poesia.
Alternativa B: incorreta. Estes foram os autores românticos e não realistas.
Alternativa C: incorreta. A situação de Portugal era a seguinte: diante de um país que dormia em
berço esplêndido, a Universidade de Coimbra se mantinha como polo de divulgação das ideias gestadas
na longínqua “Europa”, que já estava na segunda Revolução Industrial. Os jovens que circulavam nesse
ambiente acadêmico não se conformavam com a pasmaceira lusitana.
A questão Coimbrã representa, no plano cultural, esse grito de alerta. Em resumo, a questão
opunha os poetas românticos com sua literatura conformista aos jovens coimbrãos que defendiam um
caráter revolucionário na literatura. Ela foi cabeceada por uma luta intelectual entre Antero de Quental e
Feliciano de Castilho.
Alternativa D: correta – gabarito. Ou seja, crítica aos costumes sociais de uma classe social
específica.
Alternativa E: incorreta. Pelo contrário, há destaque.

Gabarito: D.

07. (EsPCEx – 2004) No romance de memórias que tem como subtítulo “Crônica de saudades”, o autor
retoma indiretamente os anos que passou interno em um colégio. Nessa obra, o narrador-personagem
procura expor o que existe em sua memória, refletindo sobre seu passado, à luz de uma profunda
desilusão. Essas afirmações referem-se ao romance:
a) “O seminarista” – Bernardo Guimarães
b) “Noite na taverna” – Álvares de Azevedo
c) “O ateneu” – Raul Pompéia”
d) “Memórias Póstumas de Brás Cubas” – Machado de Assis.
e) “Memórias de um Sargento de Milícias” – Manoel Antônio de Almeida

Comentários
Questão sobre conhecimento do movimento literário/autores e obras do cânone.
Alternativa A: incorreta. Obra romântica publicada em 1872. Narra a história de Eugênio, filho de
fazendeiro.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 125


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Alternativa B: incorreta. Obra ultrarromântica, sequer é um romance, mas sim uma antologia de
contos.
Alternativa C: correta – gabarito. "O ateneu" (1888) marca as experiências de um rapaz no
internato, que passam desde o erotismo até a criminalidade. É uma obra marcada por mistura de estilos.
Alternativa D: incorreta. Romance que marca o início do Realismo no Brasil em 1881. Narra as
frustrações de um cínico membro da elite.
Alternativa E: incorreta. Romance de transição entre o Romantismo e o Realismo, publicado em
1853. Narra as aventuras do tipo malandro de Leonardo Pataca, com seus altos e baixos.

Gabarito: C.

08. (EsPCEx – 2003) TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES

A CAROLINA
1 Querida, ao pé do leito derradeiro
2 Em que descansas dessa longa vida,
3 Aqui venho e virei, pobre querida,
4 Trazer-te o coração do companheiro.

5 Pulsa-lhe aquele afeto derradeiro


6 Que, a despeito de toda a humana lida,
7 Fez a nossa existência apetecida
8 E num recanto pôs o mundo inteiro.

9 Trago-te flores – restos arrancados


10 Da terra que nos viu passar unidos
11 E ora mortos nos deixa e separados.

12 Que eu, se tenho nos olhos malferidos


13 Pensamentos de vida formulados,
14 São pensamentos idos e vividos.
(Machado de Assis)

Nesse poema, é correto afirmar que o eu-lírico


a) comenta com um amigo as saudades que sente da amada, que partira para sempre.
b) dirige-se a sua amada, que se encontra muito doente.
c) leva flores à amada como um pedido de reconciliação por alguma falta cometida.
d) faz uma promessa à beira do túmulo onde jaz a sua amada.
e) demonstra saudade e arrependimento por não ter tido tempo de declarar o seu amor.

Comentários
Questão de interpretação de texto literário/conhecimento do movimento literário.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 126


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Alternativa A: incorreta. Não há dados suficientes para inferir a presença de um amigo. Parece um
desabafo, uma confissão, um texto dedicado à mulher.
Alternativa B: incorreta. Encontra-se num estado sem retorno, pois encontra-se no “leito
derradeiro /Em que descansas dessa longa vida”.
Alternativa C: incorreta. Não há falta aparente. Leva flores para a amada que falecera.
Alternativa D: correta – gabarito. Trata-se de uma produção poética de Machado de Assis,
dedicada à sua esposa já desde o título. Além do mais, ainda é um soneto. Parece uma nênia, isto é, um
lamento pungente, um canto fúnebre.
Alternativa E: incorreta. Não há rancor nem arrependimento, o eu lírico sabe que demonstrou o
que pretendia em vida: “Pensamentos de vida formulados, /São pensamentos idos e vividos.”

Gabarito: D.

09. (EsPCEx – 2003) Nos versos 2 e 10 ocorrem, respectivamente, as figuras de linguagem:


a) Metáfora e Perífrase.
b) Metonímia e Onomatopeia.
c) Eufemismo e Prosopopeia.
d) Hipérbole e Eufemismo.
e) Metáfora e Ironia.

Comentários
Questão de Gramática aplicada à Literatura; teoria literária e interpretação de texto literário.
Atenção: muito embora seja uma questão de figuras de linguagem, as quais vocês costumam
aprender na parte de Gramática, decidi manter essa questão para aproveitar a oportunidade e fazer com
que esse tema colabore na nossa análise.
Alternativa A: incorreta. A metáfora é uma comparação subentendida; a perífrase ou antonomásia
é caracterizada pela utilização de uma expressão que contém características do ser que substitui. Pode
também se referir a um fato célebre.
Alternativa B: incorreta. A metonímia ocorre quando há uma substituição da parte pelo todo; a
onomatopeia ocorre quando há a o emprego de palavras que imitam sons ou ruídos.
Alternativa C: correta – gabarito. O eufemismo ocorre quando se utilizam palavras ou expressões
no lugar de outras a fim de suavizar seu significado; a prosopopeia ocorre quando se atribuem
características humanas a seres inanimados ou irracionais.
• Verso 2: “Em que descansas dessa longa vida”. Há um abrandamento do tema da morte, como
se ela fosse um mero descanso.
• Verso 10: “Da terra que nos viu passar unidos”. Há prosopopeia ou personificação, porque a terra
adquire uma qualidade/sensação humana, que é a da visão.
Alternativa D: incorreta. A hipérbole ocorre quando há o uso de uma expressão exagerada,
claramente simbólica.
Alternativa E: incorreta. A ironia ocorre quando aquilo que está sendo dito é o contrário do que
realmente se pretende dizer. Cuidado: embora ela faça bastante parte do estilo machadiano, nesse
poema em particular ela não está presente, mas sim outra característica: o pessimismo.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 127


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Gabarito: C.

10. (EsPCEx – 2003) TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES

“‘Vais encontrar o mundo’, disse-me meu pai, à porta do Ateneu. ‘Coragem para a luta!’ Bastante
experimentei depois a verdade deste aviso, que me despia, num gesto, das ilusões de criança educada
exoticamente na estufa de carinho que é o regime do amor doméstico, diferente do que se encontra
fora, tão diferente, que parece o poema dos cuidados maternos um artifício sentimental, com a
vantagem única de fazer mais sensível a criatura à impressão rude do primeiro ensinamento, têmpera
brusca da vitalidade na influência de um novo clima rigoroso. (…) Eu tinha onze anos.”

"O Ateneu", romance do qual foi extraído o fragmento, foi publicado em 1888. Sobre esta obra,
considerando o autor, a escola literária vigente na época e suas características, pode-se afirmar que
a) foi escrita por Machado de Assis, em pleno período realista, o que pode ser comprovado pelas ironias
presentes no fragmento.
b) seu autor é Raul Pompéia, maior representante do Parnasianismo, que é uma escola racionalista, e
isso se comprova pela quase ausência de adjetivos no fragmento.
c) é de autoria de Aluísio Azevedo, que também escreveu O cortiço, um outro romance
experimentalista, característica básica do Naturalismo.
d) é uma das muitas de Machado de Assis, em que o pessimismo e a análise psicológica da personagem
trazem a marca do Realismo.
e) é a mais famosa de Raul Pompéia, na qual o autor afasta-se do Naturalismo, apesar de manter
algumas características desse estilo.

Comentários
Questão de interpretação de texto literário/conhecimento do movimento literário.
Alternativa A: incorreta. Foi escrito por Raul Pompeia e não Machado de Assis.
Alternativa B: incorreta. Raul Pompéia não foi representante de nenhum movimento
propriamente dito. O que marca sua obra é justamente a mistura de tendências.
Alternativa C: incorreta. Foi escrito por Raul Pompéia e não Aluísio Azevedo.
Alternativa D: incorreta. Foi escrito por Raul Pompéia e não Machado de Assis.
Alternativa E: correta – gabarito. A classificação da obra é um caso à parte. A crítica costuma
destacar uma sobreposição de estilos: parnasiano, simbolista, naturalista, impressionista e expressionista.
Neste estudo resumido da obra, não cabe mostrar como essas características se apresentam em trechos
descritos ou narrativos. A filiação ao Realismo se impõe, seja pela marcação temporal – foi publicado em
1888, data de vigência da escola literária –, seja pela análise do caráter humano e das relações sociais.

Gabarito: E.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 128


Profa. Luana Signorelli

11. (EsPCEx – 2011) Nesse fragmento, extraído do romance "O Ateneu", o narrador afirma que
a) a educação materna cria em torno das crianças um ambiente que não as prepara adequadamente
para a vida.
b) o carinho materno, nos primeiros anos de vida, é essencial para se enfrentar, posteriormente, a
rotina de um internato.
c) cada fase da vida – infância, adolescência e maturidade – é permeada por atividades que preparam
o indivíduo para as etapas seguintes.
d) a vida escolar, apesar de rigorosa, é o complemento necessário à educação iniciada no ambiente
doméstico.
e) os cuidados maternos tornam a pessoa mais sensível e, em função disso, ela melhor pode enfrentar
o mundo exterior.

Comentários
Questão de interpretação de texto literário/conhecimento de autores e obras do cânone.
Alternativa A: correta – gabarito. O que se quer dizer com “artifício sentimental”. Se a criança é
educada artificialmente, quer dizer que ela não está pronta para encarar a realidade, como se tivesse sido
criada numa bolha.
Alternativa B: incorreta. Não necessariamente.
Alternativa C: incorreta. Não há dados suficientes para se afirmar isso.
Alternativa D: incorreta. Ele ainda não tinha ingressado nessa vida escolar, estava apenas saindo
de casa. Trata-se do momento de despedida.
Alternativa E: incorreta. Pelo contrário, esses cuidados mantêm a pessoa ligada ao círculo familiar.

Gabarito: A.

12. (EsPCEx – 2002) Introdutor da técnica realista do romance em Portugal


a) Antero de Quental
b) Almeida Garrett
c) Eça de Queirós
d) Fialho de Almeida
e) Camilo Castelo Branco

Comentários
Questão de conhecimento do movimento literário/conhecimento de autores e obras do cânone.
Alternativa A: incorreta. Cuidado: Antero de Quental foi, um escritor realista português, mas
escreveu poesia e não prosa.
Alternativa B: incorreta. Foi um escritor romântico, mais especificamente da primeira geração, e
não realista.
Alternativa C: correta – gabarito. Escreveu, entre outras obras, "O crime do padre Amaro" (1875)
e "O primo Basílio" (1878), além de contos.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 129


Profa. Luana Signorelli

Alternativa D: incorreta. Foi um jornalista português da transição do século XIX para o XX. Escreveu
crônicas para jornais e volumes de contos.
Alternativa E: incorreta. Foi um escritor romântico, mais especificamente da segunda geração, e
não realista.

Gabarito: C.

13. (EsPCEx – 2001)

Meti os dedos no bolso do colete que trazia no corpo e senti umas moedas de cobre; eram os
vinténs que eu deveria ter dado ao almocreve, em lugar do cruzado em prata. Porque, enfim, ele não
levou em mira nenhuma recompensa ou virtude, cedeu a um impulso natural, ao temperamento, aos
hábitos do ofício; acresce que a circunstância de estar, não mais adiante nem mais atrás, mas
justamente no ponto do desastre, parecia constituí-lo simples instrumento da Providência; e, de um
ou de outro modo, o mérito do ato era positivamente nenhum. Fiquei desconsolado com esta reflexão,
chamei-me pródigo, lancei o cruzado à conta das minhas dissipações antigas; tive (por que não direi
tudo?) tive remorsos.
(Machado de Assis - Memórias Póstumas de Brás Cubas)

O fragmento acima é o final do episódio em que o narrador-personagem, salvo de ferir-se gravemente


com a disparada do animal em que cavalgava, avalia a gratidão dele para com o seu salvador. Analise-
o cuidadosamente e assinale a alternativa em que a declaração sobre ele corresponda à característica
realista.
a) Trata-se de um texto predominantemente dissertativo, pois relata uma das aventuras vividas pela
personagem.
b) A presença da dissertação nesse fragmento, comum na Escola a que pertence, é decorrência da visão
crítica que o caracteriza.
c) assunto abordado (explicação para os atos humanos) no texto acima apresenta uma única causa: a
Providência, tema frequente neste estilo de época.
d) A mudança que se vai operando no comportamento do homem ante o dinheiro, à medida que o
tempo passa, escapa à conclusão de qualquer escritor realista.
e) Como se pode observar, o excesso de detalhes da narrativa afasta-se das características do Realismo.

Comentários
Questão de interpretação de texto literário/conhecimento do movimento literário.
Alternativa A: incorreta. Não narra exatamente as aventuras, mas sim as reflexões ético-
morais do narrador-protagonista.
Alternativa B: correta – gabarito. Para além da narração, na dissertação há o objetivo de um texto
dissertativo-argumentativo é expor um ponto de vista sobre determinado tema ou assunto. Para isso,
deve-se utilizar argumentos que corroborem sua tese acerca do tema proposto. Apesar de ser um texto
de caráter opinativo, tende a aparecer com frequência usando uma linguagem mais formal ou impessoal.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 130


Profa. Luana Signorelli

Alternativa C: incorreta. A causa não é única. Claramente, Brás Cubas pensa numa recompensa
monetária.
Alternativa D: incorreta. Não escapa à conclusão; pelo contrário, faz parte dela.
Alternativa E: incorreta. O excesso de detalhes é uma característica naturalista e não realista.

Gabarito: B.

14. (EsPCEx – 2000) O romance realista brasileiro, tal como o conhecemos, focaliza principalmente
a) as camadas marginalizadas da sociedade.
b) aspectos sociais e psicológicos nas relações humanas.
c) o preconceito racial.
d) a defesa das instituições, como o casamento, por exemplo.
e) a formação da nacionalidade.

Comentários
Questão de conhecimento do movimento literário.
Alternativa A: incorreta. O movimento que adota essa medida predominantemente é o
Naturalismo e não o Realismo.
Alternativa B: correta – gabarito. Em relação à crítica à classe burguesa, mas também quanto a
análise do psicologismo humano.
Alternativa C: incorreta. Não procede.
Alternativa D: incorreta. Pelo contrário, o Realismo expõe a falência das instituições humanas,
tanto é que um dos temas mais abordados neste movimento especificamente é o adultério.
Alternativa E: incorreta. O Realismo não é um movimento nacionalista. Exemplos de escolas
literárias nacionalistas são a primeira geração romântica, a prosa pré-modernista e a primeira geração
modernista.
Gabarito: B.

15. (EsPCEx – 2000) Leia as afirmações abaixo:

I – "Traduz um retorno ao equilíbrio e à simplicidade dos modelos greco-romanos."


II – "O romance é encarado como um instrumento de denúncia e combate, uma vez que focaliza os
desequilíbrios sociais."
III – "A natureza do homem, como a dos demais seres vivos, é determinada por circunstâncias
exteriores."
IV – "O homem em conflito entre a razão e a fé, entre os sentidos e o espírito."
V – "Enfoque espiritualista da mulher, envolvendo-a num clima de sonho onde predomina o vago, o
impreciso e o etéreo."

Referem-se ao Realismo e/ou Naturalismo as afirmativas:

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 131


Profa. Luana Signorelli

a) I e II.
b) IV e V.
c) III e IV.
d) I e V.
e) II e III.

Comentários
Questão de julgar itens/conhecimento do movimento literário.
Afirmação I: essa característica diz respeito ao Arcadismo e não Realismo/Naturalismo.
Afirmação II: é justamente um dos aspectos do Realismo.
Afirmação III: trata-se de uma das vertentes do Naturalismo, o determinismo propriamente dito.
Afirmação IV: consiste em um traço do Barroco, cuja visão de mundo era teocêntrica.
Afirmação V: são características do Simbolismo.

Gabarito: E.

16. (Estratégia Militares 2020 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 1o Simulado EsPCEx
2021) Leia o trecho de "Esaú e Jacó" de Machado de Assis para responder à questão.

– Pois reforme tudo. Pintura nova em madeira velha não vale nada. Agora verá que dura pelo resto
da nossa vida.
– A outra também durava; bastava só avivar as letras.
Era tarde, a ordem fora expedida, a madeira devia estar comprada, serrada e pregada, pintado o fundo
para então se desenhar e pintar o título. Custódio não disse que o artista lhe perguntara pela cor das
letras, se vermelha, se amarela, se verde em cima de branco ou vice-versa, e que ele, cautelosamente,
indagara do preço de cada cor para escolher as mais baratas. Não interessa saber quais foram.
Quaisquer que fossem as cores, eram tintas novas, tábuas novas, uma reforma que ele, mais por
economia que por afeição, não quisera fazer; mas a afeição valia muito. Agora que ia trocar de tabuleta
sentia perder algo do corpo, — coisa que outros do mesmo ou diverso ramo de negócio não
compreenderiam, tal gosto acham em renovar as caras e fazer crescer com elas a nomeada. São
naturezas. Aires ia pensando em escrever uma Filosofia das Tabuletas, na qual poria tais e outras
observações, mas nunca deu começo à obra.
Machado de Assis – Esaú e Jacó. Domínio Público.
Disponível em: https://tinyurl.com/y2hfh5px. Acesso em: 13 fev. 2020.

Quanto ao trecho lido, é correto afirmar que


a) o narrador permite fazer suas próprias intrusões, hierarquizando e julgando o que é importante ou
não narrar.
b) a escrita se afasta do método convencional, testando novos tipos de pontuação para expressar o
drama do personagem.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 132


Profa. Luana Signorelli

c) o personagem Aires leva este nome pois é um argentino, nascido em Buenos Aires, o qual critica a
sovinice do artista.
d) Custódio pode se identificar com o artista, o qual sofre profundamente pelas suas economias
perdidas na troca da tabuleta.
e) o estilo se caracteriza como simples e fluido, pois o narrador deixa o leitor conhecer os pensamentos
íntimos das personagens.

Comentários
Questão de interpretação de texto literário/conhecimento de autor e obra do cânone.
Alternativa A: correta – gabarito. O que pode ser verificado no trecho “Não interessa saber quais
foram” e “São naturezas”. Trata-se de um episódio famoso no romance: a troca da tabuleta representa a
transição do tempo histórico da Monarquia para a República. É nisso no que consiste o termo “Filosofia
das Tabuletas”.
Alternativa B: incorreta. Tanto o narrador em 3ª pessoa quanto a pontuação (travessões, vírgulas
e pontos finais) são convencionais. A escola literária é o Realismo.
Alternativa C: incorreta. Cuidado: são informações extratextuais, de forma que não sabemos o
motivo pelo qual personagem Aires se chama assim. O fato é que ele serve para estabelecer
intertextualidade com outra obra de Machado de Assis, intitulada Memorial de Aires. Outra questão
difícil: a semântica (sentido, vocabulário). Sovinice significa que ou aquele que não gosta de gastar
dinheiro; avarento, forreta (dicionário Houaiss). De qualquer maneira, não se trata de uma crítica.
Alternativa D: incorreta. As economias não são perdidas, mas sim mantidas. O artista sofre com a
troca em si. De qualquer maneira, Custódio não é o artista.
Alternativa E: incorreta. O estilo de Machado de Assis não é simples, mas sim sutil, cheio de ironias
refinadas.

Gabarito: A.

17. (Estratégia Militares 2020 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 2o Simulado EsPCEx
2021) Quanto ao Naturalismo, todas as alternativas estão corretas, EXCETO:
a) Romance experimental, que pretende apoiar-se na experimentação científica e numa tese, no
determinismo, no evolucionismo, no homem é fruto do meio.
b) Centra-se nos aspectos externos: atos, gestos, ambientes, personagens e seus instintos,
animalização, zoomorfismo.
c) Reproduz a realidade exterior bem como a interior, por meio da análise psicológica. É indireto na
interpretação, o leitor tira as suas conclusões: sutil, sugere.
d) Volta-se para o coletivo, para a biologia, a patologia, centra-se mais no social. Arte engajada,
preocupações políticas e sociais.
e) O estilo é relegado ao segundo plano; no primeiro, há denúncia. Detém-se nos aspectos mais torpes
e degradantes.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 133


Profa. Luana Signorelli

Comentários
Questão de conhecimento do movimento literário.
Alternativa A: correta. No romance de tese, a Literatura deve ser uma espécie de documento da
sociedade, deve fazer refletir sobre a realidade social.
Alternativa B: correta. Enquanto o Realismo humaniza os animais, o Naturalismo animaliza os
homens.
Alternativa C: incorreta – gabarito. Essas são características do Realismo, não do Naturalismo.
Alternativa D: correta. Como, por exemplo, O cortiço de Aluísio de Azevedo.
Alternativa E: correta. A sondagem interior e o psicologismo são características do Realismo.

Gabarito: C.

18. (Estratégia Militares 2020 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 3o Simulado EsPCEx
2021) Os Naturalistas acreditavam no romance experimental, que pretende apoiar-se na
experimentação científica e numa tese, no determinismo, no evolucionismo, na premissa de que o
homem é fruto do meio. Sua arte era engajada e tinha preocupações políticas e sociais. No fim do
século XIX, centraram-se nos aspectos mais torpes e degradantes, bem como nos externos: atos,
gestos, ambientes, personagens e seus instintos, animalização, zoomorfismo etc. Essas características
ficam bem claras no seguinte trecho naturalista de Aluísio de Azevedo:
a) “Aqueles homens gotejantes de suor, bêbedos de calor, desvairados de insolação, a quebrarem, a
espicaçarem, a torturarem a pedra.”
b) “Há meio século, os escravos fugiam com frequência. Eram muitos, e nem todos gostavam da
escravidão.”
c) “Silêncio absoluto nas fileiras da marinhagem. Cada olhar tinha um brilho especial de indiscreta
curiosidade.”
d) “Oh! que não seria o colégio, tradução concreta da alegoria, ronda angélica de corações à porta de
um templo, dulia permanente das almas jovens no ritual austero da virtude!”
e) “O poço engolia magotes de vinte e de trinta homens, e com tal facilidade que nem parecia senti-
los pela goela.”

Comentários
Questão de interpretação de texto literário/conhecimento do movimento literário.
Alternativa A: correta – gabarito. Descreve o trabalho na pedreira e logo o narrador mais chama
esses trabalhadores repulsivos de “demônios”.
Alternativa B: incorreta. Esse trecho é realista, é de Machado de Assis, no conto “Pai contra mãe”,
e não de Aluísio de Azevedo. Reflete uma das principais características machadianas: a ironia.
Alternativa C: incorreta. É um trecho naturalista, mas é de Adolfo Caminho em "O Bom-Crioulo".
Alternativa D: incorreta. É um trecho de "O Ateneu" de Raul Pompeia.
Alternativa E: incorreta. Consiste num trecho naturalista, mas é de Émile Zola em "O germinal".

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 134


Profa. Luana Signorelli

Gabarito: A.

19. (Estratégia Militares 2020 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 3o Simulado EsPCEx
2021) Após ler o excerto de "Dom Casmurro" de Machado de Assis, responda à questão.

Não houve lepra, mas há febres por todas essas terras humanas, sejam velhas ou novas. Onze
meses depois, Ezequiel morreu de uma febre tifóide, e foi enterrado nas imediações de Jerusalém,
onde os dous amigos da universidade lhe levantaram um túmulo com esta inscrição, tirada do profeta
Ezequiel, em grego: "Tu eras perfeito nos teus caminhos." Mandaram-me ambos os textos, grego e
latino, o desenho da sepultura, a conta das despesas e o resto do dinheiro que ele levava; pagaria o
triplo para não tornar a vê-lo.
Como quisesse verificar o texto, consultei a minha Vulgata, achei que era exato, mas tinha ainda
um complemento: "Tu eras perfeito nos teus caminhos, desde o dia da tua criação." Parei e perguntei
calado: "Quando seria o dia da criação de Ezequiel?" Ninguém me respondeu. Eis aí mais um mistério
para ajuntar aos tantos deste mundo. Apesar de tudo, jantei bem e fui ao teatro.
Machado de Assis – Dom Casmurro. Fonte: Domínio Público.
Disponível em: https://tinyurl.com/6wfv6yy. Acesso em: 11 de abril de 2020.

No fragmento, observa-se o processo de uma


a) nacionalidade tornada exótica diante de países estrangeiros e desconhecidos.
b) construção e uma convicção tão acirrada que os ânimos se exaltam e a razão se oblitera.
c) individuação que leva em consideração a complexidade da alteridade.
d) trajetória rumo ao respeito parental entre os membros mais íntimos da família.
e) inovação de elementos cientificistas, pois os amigos de Ezequiel estudam na faculdade.

Comentários
Questão de interpretação de texto literário/conhecimento do movimento literário.
Alternativa A: incorreta. Ezequiel é enterrado em Jerusalém; não é a nacionalidade que está sendo
discutida aqui, mas sim o estado de espírito de Bentinho diante da morte do filho, que trata com desprezo.
Alternativa B: correta – gabarito. O ciúme é tão doentio e xucro, isto é, casmurro mesmo, que
chega a desejar o mal de Ezequiel, pois via nele Escobar, que tinha como certo que era amante
Alternativa C: incorreta. Não há respeito em relação à alteridade: o filho claramente quer se
distanciar do pai e o pai, por sua vez, não suporta ver o filho.
Alternativa D: incorreta. Independentemente de Ezequiel ser mesmo filho ou não de Bentinho,
este mostra para com aquele uma frieza chocante. A relação entre ambos é baseada na distância, até no
elemento pecuniário.
Alternativa E: incorreta. O que prevalece é o psicologismo realista e a retratação da vida interior
humana em relação ao cientificismo naturalista.

Gabarito: B.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 135


Profa. Luana Signorelli

20. (Estratégia Militares 2020 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 1º Simulado SPRINT
EsPCEx 2021)

A CAROLINA
Querida, ao pé do leito derradeiro
Em que descansas dessa longa vida,
Aqui venho e virei, pobre querida,
Trazer-te o coração do companheiro.

Pulsa-lhe aquele afeto derradeiro


Que, a despeito de toda a humana lida,
Fez a nossa existência apetecida
E num recanto pôs o mundo inteiro.

Trago-te flores – restos arrancados


Da terra que nos viu passar unidos
E ora mortos nos deixa e separados.

Que eu, se tenho nos olhos malferidos


Pensamentos de vida formulados,
São pensamentos idos e vividos.
(Machado de Assis)

Embora escritor realista, Machado de Assis apresentou outra fase que pode ser observada no soneto
acima. A que movimento literário condiz essa fase e que verso o caracteriza?
a) BARROCO = “Em que descansas dessa longa vida”
b) ARCADISMO = “Pulsa-lhe aquele afeto derradeiro”
c) SIMBOLISMO = “Trago-te flores – restos arrancados”
d) ROMANTISMO = “E ora mortos nos deixa e separados.”
e) PARNASIANISMO = “São pensamentos idos e vividos.”

Comentários
Esse poema já caiu na prova EsPCEx 2003. A poesia de Machado de Assis são momentos raros em
sua produção, o que não significa necessariamente que ela não pode cair.
Alternativa A: incorreta. Cuidado: o Barroco até é um movimento marcado pela morte e pelo
pessimismo, temáticas que o poema tangencia e até correspondem ao verso indicado na alternativa, mas
nele também houve contradições, rebuscamento das formas, deformação. Não é o caso: o eu lírico,
mesmo vivenciando o luto, demonstra certa racionalidade.
Alternativa B: incorreta. O Arcadismo é uma escola centrada na harmonia, na razão, no equilíbrio,
no resgate da mitologia greco-latina, o que não está representado no verso da alternativa. Pelo contrário:
no verso há ímpeto, furor, trata-se de um sentimento de luto.
Alternativa C: incorreta. O Simbolismo foi um movimento do fim do século XIX que ocorreu
simultaneamente ao Realismo. Porém, tinham estéticas bem diferentes, a começar pelo gênero: no

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 136


Profa. Luana Signorelli

Simbolismo se produziu poesia, ao passo que no Realismo, prosa. No caso, a imagem de “restos
arrancados” até pode remeter a uma ideia de desespero, mas Machado de Assis, para além da fase
realista, teve uma fase romântica, e não simbolista.
Alternativa D: correta – gabarito. A morbidez, o pessimismo e o apego à morte se remetem à
segunda geração romântica, também conhecida como Ultrarromantismo.
Alternativa E: incorreta. O verso não corresponde à escola, nem Machado de Assis teve uma fase
parnasiana. O Parnasianismo foi simultâneo do Realismo, mas, como o Simbolismo, limitou-se à poesia.
Prezava por valores como o perfeccionismo e a arte pela arte.

Gabarito: D.

21. (Estratégia Militares 2020 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 2º Simulado Rodada
Avançada Chivunk EsPCEx 2021) Leve em consideração o trecho do romance Dom Casmurro de
Machado de Assis a seguir.

“O meu fim evidente era atar as duas pontas da vida, e restaurar na velhice a adolescência. Pois,
senhor, não consegui recompor o que foi nem o que fui. Em tudo, se o rosto é igual, a fisionomia é
diferente. Se só me faltassem os outros, vá; um homem consola-se mais ou menos das pessoas que
perde; mais falto eu mesmo, e esta lacuna é tudo. O que aqui está é, mal comparando, semelhante à
pintura que se põe na barba e nos cabelos, e que apenas conserva o hábito externo, como se diz nas
autópsias; o interno não aguenta tinta. Uma certidão que me desse vinte anos de idade poderia
enganar os estranhos, como todos os documentos falsos, mas não a mim. Os amigos que me restam
são de data recente; todos os antigos foram estudar a geologia dos campos-santos. Quanto às amigas,
algumas datam de quinze anos, outras de menos, e quase todas creem na mocidade. Duas ou três
fariam crer nela aos outros, mas a língua que falam obriga muita vez a consultar os dicionários, e tal
frequência é cansativa.”
ASSIS, Machado de. Dom Casmurro. Fonte: Domínio Público.

A partir do trecho, pode-se inferir que o narrador.


a) valoriza a passagem do tempo, pois goza de boa saúde na velhice e está cercado de bons amigos.
b) critica a prática social da escrita desvinculada da realidade, pois se propõe a uma análise comprovada
dos fatos.
c) debocha do leitor, a quem chama de “senhor”, a quem acusa de ser tão idoso quanto ele próprio.
d) conduz a sua narrativa a partir de idade avançada, já com certo receio de que não será capaz da
tarefa.
e) mergulha em total pessimismo, pois não enxerga outra solução para a vida a não ser narrá-la em
forma de diário.

Comentários
Questão de interpretação de texto literário.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 137


Profa. Luana Signorelli

Alternativa A: incorreta. Pelo contrário: diz que os amigos mais antigos já faleceram e os que
mantém são os mais recentes. É o que o narrador diz ironicamente por meio dessa expressão: “Os amigos
que me restam são de data recente; todos os antigos foram estudar a geologia dos campos-santos.”
Alternativa B: incorreta. Cuidado: o romance de tese era naturalista e não realista.
Alternativa C: incorreta. Ao chamar o leitor de “senhor”, há uma certa tentativa de aproximação
do narrador com o leitor. Aqui no caso não há acusação.
Alternativa D: correta – gabarito. Bentinho Santiago tem o propósito de atar as duas pontas da
vida. Porém, ao fazê-lo já em idade avançada, teme não lembrar corretamente dos fatos (o que é uma
ironia, pois parece lembrar deles muito bem, com tanta riqueza de detalhes que parece estar
exagerando). Em todo caso, a tônica que domina sua narrativa é uma espécie de melancolia,
ressentimento e pessimismo, o que também justifica a sua alcunha de casmurro.
Alternativa E: incorreta. Não é diário, mas sim romance.

Gabarito: D.

22. (Estratégia Militares 2020 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 3º Simulado Rodada
Avançada Chivunk EsPCEx 2021)

“Nada mais que os primeiros acordes da música crioula para que o sangue de toda aquela gente
despertasse logo, como se alguém lhe fustigasse o corpo com urtigas bravas. E seguiram-se outras
notas, e outras, cada vez mais ardentes e mais delirantes. Já não eram dois instrumentos que soavam,
eram lúbricos gemidos e suspiros soltos em torrente, a correrem serpenteando, como cobras numa
floresta incendiada (...).
E aquela música de fogo doidejava no ar como um aroma quente de plantas brasileiras, em torno
das quais se nutrem, girando, moscardos sensuais e besouros venenosos, freneticamente, bêbedos
do delicioso perfume que os mata de volúpia.”

A estética do texto acima permite enquadrá-lo no:


a) Barroco.
b) Arcadismo.
c) Romantismo.
d) Naturalismo.
e) Simbolismo.

Comentários
Questão de associação do trecho com o seu respectivo movimento literário (a partir de suas
características).
Alternativa A: incorreta. O Barroco foi um movimento literário do século XVII cuja visão de mundo
predominante era teocêntrica. Logo, temas religiosos, como dualidade entre pecado versus salvação eram
evidentes. No trecho acima, a descrição é altamente sensual.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 138


Profa. Luana Signorelli

Alternativa B: incorreta. O Arcadismo foi um movimento literário do século XVIII. Os poetas


brasileiros estavam engajados na Conjuração Mineira. Manifestou lírica sentimental e pastoril (Marília de
Dirceu de Tomás Antônio Gonzaga); satírica (com Cartas Chilenas de Tomás Antônio Gonzaga, por
exemplo); épica (com Basílio da Gama e Santa Rita Durão) e até mesmo teatro, por exemplo, a obra O
Parnaso obsequioso de Cláudio Manoel da Costa. Porém, não houve prosa.
Alternativa C: incorreta. O Romantismo foi um movimento literário do século XIX com cunho
essencialmente idealista e revolucionário. Apresentou 3 gerações na lírica e 4 tipos de romance. As
descrições do trecho acima não se enquadram nas características principais da prosa romântica.
Alternativa D: correta – gabarito. A questão racial (“música crioula”); a descrição exacerbada e
detalhada; a animalização (“moscardos sensuais e besouros venenosos”) e o apelo sensual do trecho são
aspectos que permitem enquadrá-lo na estética naturalista, movimento literário prosaico do fim do século
XIX. Trata-se de um trecho do romance O cortiço de Aluísio de Azevedo.
Alternativa E: incorreta. O Simbolismo foi um movimento literário do fim século XIX
essencialmente poético. Valorizava a zona profunda do inconsciente, temas vagos e etéreos, misticismo
e sonho.

Gabarito: D.

23. (Estratégia Militares 2020 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 3º Simulado Rodada
Avançada Chivunk EsPCEx 2021)

Aristarco todo era um anúncio. Os gestos, calmos, soberanos, eram de um rei — o autocrata
excelso dos silabários; a pausa hierática do andar deixava sentir o esforço, a cada passo, que ele fazia
para levar adiante, de empurrão, o progresso do ensino público; o olhar fulgurante, sob a crispação
áspera dos supercílios de monstro japonês, penetrando de luz as almas circunstantes — era a educação
da inteligência; o queixo, severamente escanhoado, de orelha a orelha, lembrava a lisura das
consciências limpas — era a educação moral. A própria estatura, na imobilidade do gesto, na mudez
do vulto, a simples estatura dizia dele: aqui está um grande homem... não veem os cavados de
Golias?!... Retorça-se sobre tudo isto um par de bigodes, volutas maciças de fios alvos, torneadas a
capricho, cobrindo os lábios fecho de prata sobre o silêncio de ouro, que tão belamente impunha como
o retraimento fecundo do seu espírito, — teremos esboçado, moralmente, materialmente, o perfil do
ilustre diretor. Em suma, um personagem que, ao primeiro exame, produzia-nos a impressão de um
enfermo, desta enfermidade atroz e estranha: a obsessão da própria estátua. Como tardasse a estátua,
Aristarco interinamente satisfazia-se com a afluência dos estudantes ricos para o seu instituto. De fato,
os educandos do Ateneu significavam a fina flor da mocidade brasileira.

A partir da descrição acima, constata-se que o julgamento que a personagem tem de Aristarco é:
a) realista.
b) idealista.
c) distorcido.
d) familiar.
e) saudoso.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 139


Profa. Luana Signorelli

Comentários
Questão de reconhecimento de características do movimento literário/interpretação de texto
literário. Trecho do "O Ateneu: crônica de saudades" (1888) de Raul Pompéia.
Alternativa A: incorreta. Cuidado: muito embora Raul Pompéia seja enquadrado no Realismo, sua
obra é marcada pela mistura de estilos.
Alternativa B: incorreta. Característica romântica. O trecho apresenta uma descrição da
perspectiva de uma criança do diretor da escola dela de quem ela não gostava.
Alternativa C: correta – gabarito. O que permite a associação da estética do trecho com a
vanguarda do expressionismo: Aristarco é engrandecido, distorcido, alçado à condição de autocrata. Ou
seja, na visão da criança, ele detém muito mais poder do que de fato tem.
Alternativa D: incorreta. O personagem não se sente em casa no Ateneu: pelo contrário: parece
haver certo estranhamento, certo distanciamento.
Alternativa E: incorreta. Não indica o apelo memorialístico ao passado. Pelo contrário: o
personagem não gosta de Aristarco e por isso pinta uma imagem diferente do que ele de fato representa.

Gabarito: C.

24. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 1o Simulado EsPCEx
2022) Dividida em duas fases, a obra de Machado de Assis começou romântica e se desenvolveu até a
maturidade realista. Assinale a alternativa que indica o romance divisor entre essas duas fases e o(s)
motivo(s) de sua importância.
a) "Quincas Borba", porque o Humanitismo introduziu o debate entre Realismo e Naturalismo.
b) "Helena", romance da maturidade com a mesma temática do adultério que outras obras da fase.
c) "Esaú e Jacó", responsável por inaugurar o principal traço estilístico machadiano, que é a
ingenuidade.
d) "Papéis avulsos", romance o qual ajuda a instaurar o estilo machadiano depois de sua poesia.
e) "Memórias póstumas de Brás Cubas", pois introduz o Realismo no Brasil.

Comentários
Questão de conhecimento de autores e obras do cânone.
Alternativa A: incorreta. “Quincas Borba” é um romance de 1891. O debate entre Realismo e
Naturalismo se inicia uma década antes, em 1881, em ocasião da publicação do romance realista
“Memórias póstumas de Brás Cubas” de Machado de Assis e do romance naturalista “O mulato” de Aluísio
de Azevedo.
Alternativa B: incorreta. "Helena" (1876) não é um romance da maturidade (fase realista), mas sim
da fase romântica. A temática gira em torno de um amor proibido entre a protagonista e Estácio.
Alternativa C: incorreta. Romance de 1904, narra a briga entre dois irmãos gêmeos: um defende a
monarquia e outro, a república. A ingenuidade não é um traço estilístico de Machado de Assis; pelo
contrário, o autor se revela muito perspicaz.
Alternativa D: incorreta. "Papéis avulsos" (1882) não é um romance, mas sim um livro de contos,
entre os quais os principais são: “Teoria do medalhão”, “O espelho” e “O alienista”.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 140


Profa. Luana Signorelli

Alternativa E: correta – gabarito. Este romance introduziu o movimento realista no Brasil. Machado
de Assis abandona o idealismo romântico de outras obras e agora retrata um burguês cínico que narra
sua vida depois da morte. As principais características estilísticas machadianas são a ironia e a
metalinguagem.

Gabarito: E.

25. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 2o Simulado EsPCEx
2022)

"ERA UMA VEZ uma agulha, que disse a um novelo de linha:


— Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda enrolada, para fingir que vale alguma coisa
neste mundo?
— Deixe-me, senhora."

No trecho acima, há um exemplo de transposição de características antropomórficas a seres


inanimados, procedimento que é conhecido como ______, e esse texto pode ser classificado como
______.
a) prosopopeia / romântico.
b) sinestesia / simbolismo.
c) hipérbato / barroco.
d) personificação / realista.
e) pleonasmo / parnasiano.

Comentários
Questão de interpretação de texto literário; Gramática aplicada à Literatura (conhecimento de
figuras de linguagem); conhecimento do movimento literário e preenchimento de lacunas.
Alternativa A: incorreta. Cuidado: prosopopeia é sinônimo de personificação, mas o texto é realista
e não romântico.
Alternativa B: incorreta. A sinestesia é a mistura de sensações e o texto é realista e não simbolista.
Alternativa C: incorreta. O hipérbato é a inversão da ordem direta e o texto é realista e não
barroco.
Alternativa D: correta – gabarito. Trata-se da anedota chamada de “Um apólogo” do escritor
realista Machado de Assis. Um apólogo é uma narrativa que traz uma lição moral e geralmente tem como
personagens animais ou objetos que agem e dialogam como seres humanos (dicionário Aulete). No caso,
objetos são personificados e conseguem falar, como é o caso da agulha e do novelo de linha. São
representantes da sociedade de aparências que é um retrato da burguesia da época, a qual está sendo
criticada.
Alternativa E: incorreta. O pleonasmo é a redundância intencional e o texto é realista e não
parnasiano.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 141


Profa. Luana Signorelli

Gabarito: D.

26. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 4o Simulado EsPCEx
2022) Relacione corretamente as informações da primeira coluna com as da segunda quanto a
romances realistas e naturalistas brasileiros.

1 – Prudêncio é uma personagem importante, ( ) A normalista


pois é um escravo. Quando o protagonista é
criança, ele serve aos seus vis propósitos, sendo
usado como um cavalo de brinquedo.

2 – Uma das personagens desse romance é ( ) O cortiço


Pombinha, que vai redescobrindo sua
sexualidade ao longo da trama. Começa por
noivar com João da Costa, mas acaba entregue
ao homoerotismo e à prostituição.

3 – Camacho é um político que também é dono ( ) Quincas Borba


do Jornal Atalaia. Tenta convencer o novo rico
Rubião a ingressar na vida política e chega a
escrever uma matéria elogiosa ao amigo.

4 – Maria do Carmo é uma moça do interior cuja ( ) Memórias póstumas de Brás Cubas
mãe faleceu e o pai tentava fugir da seca.
Visando à boa educação da moça, entregou-a
para ser criada pelo padrinho.

A sequência correta é:
a) 3 – 2 – 1 – 4
b) 2 – 4 – 3 – 1
c) 4 – 2 – 1 – 3
d) 4 – 3 – 1 – 2
e) 4 – 2 – 3 – 1

Comentários
Questão de associar colunas; conhecimento de autores e obras do cânone e conhecimento de
movimentos literários.
4 – “A normalista” (1893), romance do escritor naturalista Adolfo Caminha. A Escola Normal era
um típico estabelecimento de ensino para moças de família. Apesar da boa educação que o pai quer dar
para a filha, João da Mata seduz a moça e acaba por engravidá-la.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 142


Profa. Luana Signorelli

2 – “O cortiço” (1890), romance do escritor naturalista Aluísio de Azevedo. É um romance que


representa a vida popular dos trabalhadores na habitação coletiva. Outros personagens importantes são:
João Romão, Jerônimo, Rita Baiana etc.
3 – “Quincas Borba” (1891), romance do escritor realista Machado de Assis. Rubião é um pacato
professor de Barbacena que enriquece da noite para o dia por causa de uma herança recebida do falecido
amigo, o filósofo Quincas Borba. Por causa disso, vários oportunistas se aproximam dele, como Cristiano
Palha e Camacho.
1 – “Memórias póstumas de Brás Cubas” (1881) romance do escritor realista Machado de Assis.
Brás Cubas é um membro da elite que foi criado de tal forma que cresceu se sentindo superior. Esse traço
em seu desenvolvimento vai fazer crescer nele na fase adulta reações como o sarcasmo, o cinismo e a
ironia. Sua relação com Prudêncio serve para marcar sua supremacia.

Gabarito: D.

27. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 5o Simulado EsPCEx
2022) Leve em consideração a passagem a seguir e atenda ao comando.

"Não! Ela não podia admitir o celibato, principalmente para a mulher!... “Para o homem — ainda
passava... viveria triste, só; mas em todo o caso — era um homem... teria outras distrações! Mas uma
pobre mulher, que melhor futuro poderia ambicionar que o casamento?. . que mais legítimo prazer do
que a maternidade; que companhia mais alegre do que a dos filhos, esses diabinhos tão feiticeiros?..”
Além de que, sempre gostara muito de crianças: muita vez pedira a quem as tinha que lhas mandasse
a fazer-lhe companhia, e, enquanto as pilhava em casa, não consentia que mais ninguém se
incomodasse com elas; queria ser a própria a dar-lhes a comida, a lavá-las, a vesti-las, e acalentá-las E
estava constantemente a talhar camisinhas e fraldas, a fazer toucas e sapatinhos de lã, e tudo com
muita paciência, com muito amor, justamente como, em pequenina, ela fazia com as suas bonecas."
AZEVEDO, Aluísio de. O mulato. Fonte: Domínio Público.
Disponível em: https://tinyurl.com/45nns77p. Acesso em: 11 maio 2021.

Depreende-se a partir da leitura que


a) há preconceito velado contra a figura feminina que opressivamente e contra sua vontade se vê
obrigada a formar uma família.
b) a representação da burguesia é veementemente moral, pois a personagem está em um baile quando
se recorda do celibato.
c) é observada a teoria oitocentista do determinismo, uma vez que a mulher é relegada ao seu papel
biológico.
d) uma das críticas do realismo é a denúncia da falência das instituições sociais, como o casamento,
por isso a personagem precisa segurar o marido dando-lhe um filho.
e) consiste em um texto naturalista, porque o evolucionismo presente situa o papel da mulher nos
estágios aperfeiçoados da sociedade.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 143


Profa. Luana Signorelli

Comentários
Questão de interpretação de texto literário/conhecimento do movimento literário.
Alternativa A: incorreta. Não é velado, mas sim explícito. Cuidado com absolutismos:
“opressivamente”.
Alternativa B: incorreta. Cuidado com informações extratextuais, pois não há menção a um baile,
e com absolutismos: “veementemente”.
Alternativa C: correta – gabarito. O determinismo é o princípio segundo o qual os fenômenos,
inclusive sociais, estão ligados entre si por rígidas relações de causalidade e leis universais que excluem o
acaso, a indeterminação e a liberdade. Segundo essa ideia, o homem é determinado pela raça, pela
história e pelo ambiente. Como se o lema fosse: “Diga-me a que raça você pertence, onde você mora e
sua época histórica e direi quem você é”. No caso, a mulher é colocada em uma posição de ser natural,
sendo condicionada a pensar como tal.
Alternativa D: incorreta. O trecho é realista e não naturalista.
Alternativa E: incorreta. Cuidado: o trecho é naturalista, mas não por causa do evolucionismo. Até
porque a mulher é reduzida a uma visão unilateral e não aperfeiçoada.

Gabarito: C.

28. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 6o Simulado EsPCEx
2022) Leve em consideração o trecho abaixo para responder à próxima questão.

"Pancrácio, que estava à espreita, entrou na sala, como um furacão, e veio a abraçar-me os pés.
Um dos meus amigos (creio que é ainda meu sobrinho) pegou de outra taça, e pediu à ilustre
assembleia que correspondesse ao ato que eu acabava de publicar, brindando ao primeiro dos
cariocas. Ouvi cabisbaixo; fiz outro discurso agradecendo, e entreguei a carta ao molecote. Todos os
lenços comovidos apanharam as lágrimas de admiração. Caí na cadeira e não vi mais nada. De noite,
recebi muitos cartões. Creio que estão pintando o meu retrato, e suponho que a óleo.
No dia seguinte, chamei Pancrácio e disse-lhe com rara franqueza:
— Tu és livre, podes ir para onde quiseres. Aqui tens casa amiga, já conhecida e tens mais um
ordenado, um ordenado que…
— Oh! meu senhô! fico."
ASSIS, Machado. Bons dias! Fonte: Domínio Público.
Disponível em: https://tinyurl.com/38b56x28. Acesso em: 19 jun. 2021.

A partir desse excerto de crônica realista e dos seus conhecimentos acerca dessa escola literária,
assinale o que for correto.
a) O ponto de vista do texto é objetivo, pois a verossimilhança é a principal característica do
movimento.
b) O narrador demonstra uma falsa bondade ao libertar seu escravo, quando no fundo queria atenção.
c) Porque a estética realista critica a burguesia, o trecho evidencia a organização da rebelião dos
escravos.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 144


Profa. Luana Signorelli

d) A família do narrador não apoiava a libertação do escravo, pois ainda se mostravam conservadores.
e) Ao libertar o escravo, o narrador aponta um caminho rumo à superação das desigualdades sociais.

Comentários
Questão de interpretação de texto literário; conhecimento de autor e obra do cânone e
conhecimento do movimento literário.
Alternativa A: incorreta. Pelo contrário: é subjetivo, pois o narrador se expressa na primeira
pessoa do singular. A verossimilhança é colocada em posta, pois o narrador sequer parece se lembrar de
parentes (membros da família que supostamente deveriam ser próximos).
Alternativa B: correta – gabarito. Trata-se de um típico narrador machadiano, cheio de ironias.
Ironia é uma figura de linguagem na qual se diz o contrário do que se quer dizer. O narrador quer parecer
bondoso para com o seu escravo diante dos outros, mas apenas para que os outros o apreciem. Consiste
em um jogo de aparências.
Alternativa C: incorreta. Pancrácio, o escravo forro, demonstra subserviência mesmo depois de ter
sido libertado.
Alternativa D: incorreta. Cuidado com informações extratextuais.
Alternativa E: incorreta. As desigualdades sociais ainda são fortemente marcadas pelo realismo
crítico de Machado de Assis.

Gabarito: B.

29. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 7o Simulado EsPCEx
2022) Leia o trecho abaixo a seguir para responder ao que se pede.

Reinavam no Ateneu duas perniciosas influências que contrabalançavam eficazmente o


porejamento de doutrina a transudar das paredes, nos conceitos de sabedoria decorativa dos quadros,
e ainda mesmo a polícia das aparições ubíquas e subitâneas do diretor. Coisa difícil de precisar, como
a disseminação na sociedade, do princípio do mal, elemento primário do dualismo teogônico. O meio,
filosofemos, é um ouriço invertido: em vez da explosão divergente dos dardos — uma convergência de
pontas ao redor. Através dos embaraços pungentes cumpre descobrir o meato de passagem, ou aceitar
a luta desigual da epiderme contra as puas. Em geral, prefere-se o meato.
As máximas, o diretor, a inspeção dos bedéis, por exemplo, eram três espinhos; as referidas influências
eram mais dois. A mocidade ia transigindo do melhor jeito com as bicudas imposições das
circunstâncias.
Representavam-se as influências dissolventes por duas espécies de encarnação, fundidas em
hibridismo de disparate — a da forma feminina personificada em Ângela, a canarina, ou antes a
camareira de D. Ema, e a de um encontro de tábuas humildes, conjuntadas às pressas, por força do
prosaísmo incivil de um episódio da economia orgânica.
POMPEIA, Raul. O Ateneu. Fonte: Domínio Público.
Disponível em: https://tinyurl.com/9l5ynjju. Acesso em: 20 jul. 2021.

A partir das imagens construídas a partir do narrador-protagonista Sérgio, é correto afirmar que:

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 145


Profa. Luana Signorelli

a) Expõe que o personagem prefere a via mais fácil, pois meato é o que se situa no meio, preferindo
ceder às convenções sociais e aos castigos impostos pelo diretor, apenas porque deseja estar em sua
casa, mais próximo da empregada e de sua mulher.
b) Deposita na disseminação do mal em sociedade as raízes de seus problemas amorosos, pois só
consegue enxergar a realidade de maneira maquiavélica, aproximando-se, nesse sentido, das
personagens planas românticas.
c) O rapaz se encontra em um impasse que explica as duas forças contrárias abalando seu estado de
espírito. Sendo um pré-adolescente no colégio interno, ele não tem contado com muitas mulheres,
portanto, projeta na camareira e na esposa do chefe seus ideais femininos.
d) A composição linguística lembra os rebuscamentos barrocos, no sentido de tentar convencer o
drama espiritual que vive a personagem, em seu embate entre tentar se manter fiel à educação
religiosa e ingressar na vida sexual.
e) As duas figuras femininas se plasmam em uma só num complexo mosaico formado pela imaginação
do protagonista, recurso usado em momentos de tédio no internato, quando pensa em como
funcionam os relacionamentos na sociedade.

Comentários
Questão de interpretação de texto literário/conhecimento de autores e obras do cânone.
Alternativa A: incorreta. Realmente, "meato" significa orifício de um canal; pequeno canal ou
abertura; caminho ou via (segundo o dicionário Aulete). Porém, não há alusão a tais castigos nem à casa
do diretor.
Alternativa B: incorreta. Esse romance não é romântico, mas sim idealista. Sérgio é uma
personagem complexa, redonda, e não plana.
Alternativa C: correta – gabarito.
Alternativa D: incorreta. Cuidado: realmente, a linguagem lembra o cultismo barroco, cheio de
jogos de linguagem e rebuscamentos. Contudo, não há menção ao apego religioso no trecho.
Alternativa E: incorreta. Segundo o próprio narrador, não é complexo, tanto é que a metáfora
usada no último parágrafo é a seguinte: “tábuas humildes, conjuntadas às pressas”.

Gabarito: C.

30. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 8o Simulado EsPCEx
2022) Quanto ao Naturalismo no Brasil, assinale a opção INCORRETA.
a) Aluísio de Azevedo tinha um irmão, chamado Artur Azevedo, conhecido por ser dramaturgo.
b) O romance pioneiro foi de autoria de Aluísio de Azevedo, principal escritor naturalista brasileiro.
c) Aluísio de Azevedo escreveu "Casa de Pensão", um romance baseado na Questão Capistrano.
d) Machado de Assis foi um autor que criticava a escola, especialmente, as teorias do fim do século XIX.
e) Um dos escritores do movimento foi Raul Pompeia, autor conhecido pelo seu romance "O mulato".

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 146


Profa. Luana Signorelli

Comentários
Questão teórica de conhecimento de autores e obras do cânone/conhecimento de movimentos
literários.
Alternativa A: correta. Ambos foram escritores do Naturalismo. Artur Azevedo se destacou com
obras como “A dívida” e “A capital federal”.
Alternativa B: correta. O romance que introduz o Naturalismo no Brasil é “O mulato” de Aluísio de
Azevedo.
Alternativa C: correta. As três obras de Aluísio de Azevedo que mais se destacaram foram: “O
mulato”, “Casa de pensão” e “O cortiço”. A Questão Capistrano foi um caso real, envolvendo um crime no
Rio de Janeiro no fim do século XIX.
Alternativa D: correta. Machado de Assis é um escritor realista que tem muitas ressalvas quanto
ao Naturalismo. Por isso, frequentemente em suas obras há críticas a este movimento. Por exemplo, uma
reflexão sobre o cientificismo em “O alienista” e a teoria da Humanitas, presente em dois romances:
“Memórias póstumas de Brás Cubas” e “Quincas Borba”.
Alternativa E: incorreta – gabarito. Raul Pompeia escreveu “O Ateneu” e é um autor classificado
como naturalista; quem escreveu “O mulato” foi Aluísio de Azevedo.

Gabarito: E.

31. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 9o Simulado EsPCEx
2022) Apesar de escritas na primeira pessoa do singular, estes romances realistas expõem a essência
humana, analisando comportamentos exteriores a partir da personalidade e psicologismo das
personagens. Os narradores protagonistas, portanto, servem de máscaras mediadoras para o autor
estabelecer sua crítica social. As obras são:
a) "Helena" e "A mão e a luva".
b) "Esaú e Jacó" e "Memorial de Aires".
c) "Memórias de um sargento de milícias" e "Quincas Borba".
d) "Memórias póstumas de Brás Cubas" e "Dom Casmurro".
e) "Papéis avulsos" e "Histórias sem data".

Comentários
Questão teórica de conhecimento de autores e obras do cânone/conhecimento de movimentos
literários.
Alternativa A: incorreta. Ambos são romances da fase romântica de Machado de Assis, e não
realista.
Alternativa B: incorreta. Ambos são romances da fase realista de Machado de Assis, mas o primeiro
romance é escrito na terceira pessoa, ao passo que o segundo é um registro memorialístico.
Alternativa C: incorreta. “Memórias de um sargento de milícias” é um romance romântico e não
realista. É de autoria de Manuel Antônio de Almeida. Ademais, “Quincas Borba” é escrito na terceira
pessoa.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 147


Profa. Luana Signorelli

Alternativa D: correta – gabarito. O primeiro romance é de 1881, tendo introduzido o Realismo no


Brasil, e o segundo é de 1899. O uso técnico do narrador em primeira pessoa faz com que o escritor realista
Machado de Assis capte com mais precisão as nuances tão bem trabalhadas em suas obras.
Alternativa E: incorreta. Ambos são livros de contos e não romances.

Gabarito: E.

32. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 10o Simulado EsPCEx
2022)

Pois, senhores, nem o ilustre brasileiro, nem este criado do leitor, éramos os mais precavidos dos
homens. Há dias, a gente que saia de uma conferência republicana, foi atacada por alguns indivíduos:
naturalmente houve tumulto, pancadas, pedradas, ferimentos, recorrendo os atacados aos apitos,
para chamar a polícia, que acudiu prestes. Pouco antes, dois soldados brigaram com o cocheiro ou
condutor de um bonde, atracaram-se com ele, os passageiros intervieram, e, não conseguindo nada,
recorreram aos apitos e a polícia acudiu.
Estes apitos retinem-me ainda agora no cérebro. Por Ulisses! pelo artificioso e prudente Ulisses —
Nunca imaginei que toda a gente andasse aparelhada desse instrumento, na verdade útil.
ASSIS, Machado de. Bons dias! Fonte: Domínio Público.
Disponível em: https://tinyurl.com/38b56x28. Acesso em: 18 ago. 2021.

A crônica é um curto gênero narrativo que, muitas vezes, serve de lente de aumento da realidade.
Considerando-se que o escritor realista Machado de Assis contribuiu com crônicas como o caso acima
para a Gazeta entre os anos de 1888-89, o narrador evidencia-se
a) pasmo quanto ao abuso de certos instrumentos de poder.
b) subserviente para com a autoridade a quem temia.
c) minucioso em descrever um protesto monarquista.
d) criterioso na narração dos costumes sociais burgueses.
e) perplexo em relação ao desfecho funesto do caso.

Comentários
Questão de interpretação de texto literário/conhecimento de movimentos literários.
Alternativa A: correta – gabarito. Tal assombro se evidencia principalmente no último parágrafo.
A partir da enumeração insistente de uma série de mecanismos usados para conter um protesto, o
narrador ironicamente diz que aquilo ocorreu “ironicamente”, quando na realidade provoca uma reflexão
sobre a real utilidade desses artifícios.
Alternativa B: incorreta. Cuidado: mostra-se subserviente para com o leitor, não a autoridade.
Alternativa C: incorreta. Não é porque o protesto era contra os republicanos que vá ser
necessariamente a favor da monarquia.
Alternativa D: incorreta. Não necessariamente burgueses.
Alternativa E: incorreta. Trata-se apenas de uma passagem da crônica e não se se sabe se o seu
final foi funesto de fato ou não.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 148


Profa. Luana Signorelli

Gabarito: A.

33. (Estratégia Militares – Chivunk EsPCEx 2021 – Profa. Luana Signorelli) O texto a seguir se refere a
que romancista brasileiro?
Nasceu no município de Angra dos Reis e, ainda criança, mudou-se para o Rio de Janeiro. Além de
escritor, também foi desenhista e escultor, demonstrando temperamento sensível. Sua obra é marcada
pela mistura de estilos e seu o enredo de seu principal livro conta a situação de Sérgio, um menino que
narra suas experiências em um internato.
a) José de Alencar.
b) Cruz e Souza.
c) Machado de Assis.
d) Raul Pompeia.
e) Aluísio de Azevedo.

Comentários
Questão sobre autores e obras do cânone.
Alternativa A: incorreta. José de Alencar foi notadamente romântico e nasceu em Fortaleza (CE).
Alternativa B: incorreta. Foi um poeta simbolista brasileiro, e não romancista.
Alternativa C: incorreta. Machado de Assis teve duas fases: a romântica e a realista. Porém, seus
principais romances foram "Memórias póstumas de Brás Cubas" e "Dom Casmurro", sendo que nenhum
se passa em um internato.
Alternativa D: correta – gabarito. Raul Pompéia pode ser enquadrado no Realismo brasileiro. Sua
principal obra é "O Ateneu" (1888).
Alternativa E: incorreta. Escritor naturalista. Sua principal obra foi "O cortiço".

Gabarito: D.

34. (Estratégia Militares 2020 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 2º Provão de Bolsas
EsPCEx) Leia o trecho de "O cortiço" de Aluísio de Azevedo.

E assim, pouco a pouco, se foram reformando todos os seus hábitos singelos de aldeão português:
e Jerônimo abrasileirou-se. A sua casa perdeu aquele ar sombrio e concentrado que a entristecia; já
apareciam por lá alguns companheiros de estalagem, para dar dois dedos de palestra nas horas de
descanso, e aos domingos reunia-se gente para o jantar. A revolução afinal foi completa: a aguardente
de cana substituiu o vinho; a farinha de mandioca sucedeu à broa; a carne-seca e o feijão-preto ao
bacalhau com batatas e cebolas cozidas; a pimenta-malagueta e a pimenta-de-cheiro invadiram
vitoriosamente a sua mesa; o caldo verde, a açorda e o caldo de unto foram repelidos pelos ruivos e
gostosos quitutes baianos, pela muqueca, pelo vatapá e pelo caruru; a couve à mineira destronou a

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 149


Profa. Luana Signorelli

couve à portuguesa; o pirão de fubá ao pão de rala, e, desde que o café encheu a casa com o seu aroma
quente, Jerônimo principiou a achar graça no cheiro do fumo e não tardou a fumar também com os
amigos.
Aluísio de Azevedo – O cortiço. Domínio público.
Fonte: https://tinyurl.com/c454sss. Acesso em: 11 fev. 2020.

Nesse fragmento, constata-se um processo de


a) superioridade racial diante das comunidades tropicais.
b) depressão da personagem que se deprime longe do lar europeu.
c) mudança de costumes e construção de uma nova identidade.
d) produção do romance de 30, com sua temática social.
e) valorização da cor local em detrimento do estrangeiro.

Comentários
Questão de interpretação de texto literário. A inspiração para essa questão foi a prova EsPCEx
2016, em relação a uma questão sobre o conto “O peru de natal” de Mário de Andrade.
Alternativa A: incorreta. Embora o embate europeu versus brasileiro esteja presente nessa obra e
Jerônimo se considerasse em muitas passagens superior, o trecho mostra o contrário: o abrandamento
de sua personalidade e nacionalidade.
Alternativa B: incorreta. Pelo contrário, como se nota em “A sua casa perdeu aquele ar sombrio e
concentrado que a entristecia”.
Alternativa C: correta – gabarito. O que pode se constatar com o neologismo “abrasileirou-se”.
Isto é, João Romão, comerciante imigrante vindo de Portugal, adapta-se aos costumes das terras
brasileiras, costumes estes que vão desde à culinária até o fumo, por exemplo: “Jerônimo principiou a
achar graça no cheiro do fumo e não tardou a fumar também com os amigos”.
Alternativa D: incorreta. Trata-se de um romance naturalista e não modernista.
Alternativa E: incorreta. Não é porque João Romão se adaptou aos costumes brasileiros e aceitou
a sua identidade nacional que ele iria abandonar de todo seu orgulho português.

Gabarito: C.

35. (Estratégia Militares 2020 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 9º Provão de Bolsas
EsPCEx)

Eufemismo, os felizes tempos, eufemismo apenas, igual aos outros que nos alimentam, a saudade
dos dias que correram como melhores. Bem considerando, a atualidade é a mesma em todas as datas.
Feita a compensação dos desejos que variam, das aspirações que se transformam, alentadas
perpetuamente do mesmo ardor, sobre a mesma base fantástica de esperanças, a atualidade é uma.
Sob a coloração cambiante das horas, um pouco de ouro mais pela manhã, um pouco mais de púrpura
ao crepúsculo — a paisagem é a mesma de cada lado beirando a estrada da vida.
Eu tinha onze anos.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 150


Profa. Luana Signorelli

POMPEIA, Raul. O ateneu. Fonte: Domínio Público.


Disponível em: https://tinyurl.com/yc2s4ay4. Acesso em: 11 set. 2020.

A partir do trecho, é correto constatar que o narrador é


a) impessoal, sem chegar à nenhuma opinião conclusiva.
b) condescendente, sentindo pena de quem não assiste ao pôr do sol.
c) testemunha, elegendo um secundário para conduzir o enredo.
d) protagonista, resgatando a partir de outro plano reminiscências infantis.
e) projetado, sendo estilizado e ficcionalizado a ponto de distorção.

Comentários
Questão de interpretação de texto literário/conhecimento de autor e obra do cânone.
Alternativa A: incorreta. No primeiro parágrafo, há toda a formulação do que parece ser uma
teoria: “a atualidade é a mesma em todas as datas”. O narrador chega a essa conclusão, acreditando que
nada muda. Atenção: lembrando que a literatura do fim do século XIX estava marcada por determinismo
e pelo romance de tese.
Alternativa B: incorreta. “Condescendente” significa tolerante, transigente, disposto a ceder a
vontades. Um narrador desse tipo geralmente tem uma preferência clara por alguma personagem,
beneficiando-a. Porém, no caso, o narrador coincide com a personagem e não passa pelas melhores das
situações necessariamente. Sua teoria de que nada muda transmite pessimismo.
Alternativa C: incorreta. O narrador é ele próprio.
Alternativa D: correta – gabarito. Sérgio é o narrador em primeira pessoa da obra "O Ateneu"
(1888), que já caiu na prova da EsPCEx 2004. O subtítulo desse romance é “crônica de saudades”.
Alternativa E: incorreta. Cuidado: uma das características de "O Ateneu" como um todo é
realmente a distorção, pois as descrições sentimentais de Sérgio chegam a ser grotescas, beirando o
expressionismo. Porém, não nesse trecho. A descrição nesse excerto é predominantemente pictórica,
imagética
.
Gabarito: D.

36. (Estratégia Militares 2020 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 10º Provão de Bolsas
EsPCEx)

Capítulo LIV — A pêndula


Saí dali a saborear o beijo. Não pude dormir; estirei-me na cama, é certo, mas foi o mesmo que
nada. Ouvi as horas todas da noite. Usualmente, quando eu perdia o sono, o bater da pêndula fazia-
me muito mal; esse tique-taque soturno, vagaroso e seco parecia dizer a cada golpe que eu ia ter um
instante menos de vida. Imaginava então um velho diabo, sentado entre dois sacos, o da vida e o da
morte, e a contá-las assim:
— Outra de menos...
— Outra de menos...
— Outra de menos...
— Outra de menos...

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 151


Profa. Luana Signorelli

O mais singular é que, se o relógio parava, eu dava-lhe corda, para que ele não deixasse de bater
nunca, e eu pudesse contar todos os meus instantes perdidos. Invenções há, que se transformam ou
acabam; as mesmas instituições morrem; o relógio é definitivo e perpétuo. O derradeiro homem, ao
despedir-se do sol frio e gasto, há de ter um relógio na algibeira, para saber a hora exata em que morre.
Naquela noite não padeci essa triste sensação de enfado, mas outra, e deleitosa. As fantasias
tumultuavam-me cá dentro, vinham umas sobre outras, à semelhança de devotas que se abalroam
para ver o anjo-cantor das procissões. Não ouvia os instantes perdidos, mas os minutos ganhados.
ASSIS, M. Memórias póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1992 (fragmento).

A partir do trecho, é correto inferir que


a) a preocupação de Brás Cubas é puramente moral, pois ele receia que o diabo contando as horas irá
levá-lo ao inferno.
b) Brás Cubas, enquanto apaixonado por Capitu, tenta conter o fluxo do tempo, pois deseja voltar a se
encontrar com a amada.
c) o trecho consiste em uma reflexão quanto à passagem do tempo e o poder que Brás Cubas gostaria
de ter para controlá-lo.
d) o excerto é orientado para a doutrina principal predominante no período, o racionalismo, uma vez
que defende as criações humanas.
e) o maior legado que a humanidade pode deixar para a posteridade é a consciência de que tempo é
dinheiro e não pode ser perdido.

Comentários
Questão de interpretação de texto literário/conhecimento de autor e obra do cânone.
Alternativa A: incorreta. Ainda que o diabo controlando e contando as horas seja uma preocupação
de Brás Cubas, ela não é moral, pois o narrador-defunto não muda seu comportamento. Não se trata do
medo de ir para o inferno, mas sim de não poder controlar o tempo, sendo humano e limitado.
Alternativa B: incorreta. O amor de Brás Cubas no trecho se dirige à Virgília, e não Capitu que é
uma personagem de outro romance: Dom Casmurro.
Alternativa C: correta – gabarito. Pois sai da descrição de um encontro romântico, narrando como
Brás Cubas não conseguia dormir à noite, para chegar a uma reflexão filosófica quanto à passagem do
tempo, sobretudo, quanto ao poder de controlá-lo.
Alternativa D: incorreta. Havia várias doutrinas no período, como Positivismo, Determinismo e
Darwinismo. O racionalismo predominou no Iluminismo (século XVIII). Tampouco são defendidas as
criações humanas no trecho; pelo contrário, elas suplantarão o próprio ser humano que as criou, efêmero,
ao passo que elas eternizar-se-ão. Em última instância, o que prevalece é o pessimismo.
Alternativa E: incorreta. Embora membro da elite, Brás Cubas nunca trabalhou. Então, tal visão
voltada para o lucro não procede.

Gabarito: C.

37. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 1º Provão de Bolsas

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 152


Profa. Luana Signorelli

EsPCEx) O romance realista brasileiro focaliza questões importantes, tais como


a) o trânsito entre o psicologismo via análises comportamentais e crítica da sociedade burguesa, sendo
um exemplo "Dom Casmurro" de Machado de Assis.
b) a denúncia de desigualdades sociais no meio dos trabalhadores contra a sociedade de classes, como
se evidencia em "O germinal" de Émile Zola.
c) a animalização do ser humano que é transformado em uma besta humana por causa das relações
sociais degradadas, constituindo um exemplo "O primo Basílio" de Eça de Queirós.
d) o impressionismo causado por apelos imagéticos na representação da memória subjetiva, como é
indicado em "O Ateneu" de Raul Pompeia.
e) o zoomorfismo na comparação do ser humano a animais torpes e degradantes, sendo rebaixado até
a alienação, como em "O cortiço" de Aluísio de Azevedo.

Comentários
Questão de conhecimento de movimentos literários/autores e obras do cânone.
Alternativa A: correta – gabarito. O Realismo foi um movimento literário do fim do século XIX,
momento quando a burguesia não estava mais em ascensão, mas sim em declínio. Por isso, o Realismo
costuma criticar a burguesia e seus comportamentos, viabilizando também a análise psicológica das
personagens, que não são mais planas como no Romantismo. As personagens no Realismo tendem a ser
densas e profundas.
Alternativa B: incorreta. As informações na alternativa estão corretas no que diz respeito a
associação de autor e descrição da obra, mas Émile Zola foi um escritor realista francês, sendo que o
comando discriminava “romance realista brasileiro”.
Alternativa C: incorreta. No romance "O primo Basílio" do escritor realista português Eça de
Queirós, até existe crítica às relações sociais degradadas, como é o caso da falência da instituição social
do casamento a partir do adultério de Luísa com seu primo Basílio. Porém, trata-se de um romance
realista, e a animalização é uma característica naturalista.
Alternativa D: incorreta. As informações na alternativa estão corretas no que diz respeito a
associação de autor e descrição da obra, mas Raul Pompeia é um autor de difícil classificação e “O Ateneu”
não é considerado pela crítica como sendo totalmente realista. É um romance de 1888 que mescla vários
estilos, inclusive, a vanguarda do impressionismo, até porque Raul Pompeia era artista plástico também,
além de escritor.
Alternativa E: incorreta. Trata-se de um romance naturalista e não realista.

Gabarito: A.

38. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 3º Provão de Bolsas
EsPCEx) Leia o trecho abaixo para responder ao que se pede.

Amâncio, já na Corte, só de pensar no bruto, ainda sentia os calafrios dos outros tempos, e com eles
vagos desejos de vingança. Um malquerer doentio invadia-lhe o coração, sempre que se lembrava do
mestre e do pai. Envolvia-os no mesmo ressentimento, no mesmo ódio surdo e inconfessável.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 153


Profa. Luana Signorelli

Todos os pequenos da aula tinham birra do Pires. Nele enxergavam o carrasco, o tirano, o inimigo e
não o mestre; mas, visto que qualquer manifestação de antipatia redundava fatalmente em castigo, as
pobres crianças fingiam-se satisfeitas; riam muito quando o beberrão dizia alguma chalaça e afinal,
coitadas! iam-se habitualmente ao servilismo e à mentira.
Os pais ignorantes, viciados pelos costumes bárbaros do Brasil, atrofiados pelo hábito de lidar com
escravos, entendiam que aquele animal era o único professor capaz de “endireitar os filhos”.
AZEVEDO, Aluísio de. Casa de pensão. Fonte: Domínio Público.
Disponível em: https://tinyurl.com/3f9nn5bc. Acesso em: 19 mar. 2021.

Quanto à estética, esse texto pode poder classificado como naturalista por causa de que característica?
a) "ainda sentia os calafrios dos outros tempos, e com eles vagos desejos de vingança" = revanchismo.
b) "Um malquerer doentio invadia-lhe o coração, sempre que se lembrava do mestre e do pai" =
cientificismo.
c) "Envolvia-os no mesmo ressentimento, no mesmo ódio surdo e inconfessável" = determinismo.
d) "viciados pelos costumes bárbaros do Brasil, atrofiados pelo hábito de lidar com escravos" = racismo.
e) "entendiam que aquele animal era o único professor capaz de 'endireitar os filhos'" = zoomorfismo.

Comentários
Questão de interpretação de texto literário/conhecimento de movimentos literários.
Alternativa A: incorreta. Revanchismo é a obsessão por se alcançar a vingança. Por si só não é uma
característica naturalista.
Alternativa B: incorreta. O cientificismo é o entusiasmo pela ciência, típico do século XIX. No caso,
é o contrário: tenta-se comprovar que o sentimento impulsivo de Amâncio é patológico.
Alternativa C: incorreta. O determinismo é uma doutrina do fim do século XIX a qual prega que o
homem é fruto do meio e da raça. No caso, o ódio é um sentimento motivado pela situação.
Alternativa D: incorreta. O racismo científico é uma teoria do fim do século XIX a qual atesta que
haveria raças superiores e inferiores. No caso, há uma alusão ao sistema escravagista no Brasil, algo que
também foi representado em outros movimentos literários, como Romantismo e Realismo, por exemplo.
Alternativa E: correta – gabarito. Zoomorfismo é sinônimo de animalização, ou seja, a comparação
do ser humano com o animal. Como nesse caso a comparação do professor (erudito, intelectual) ao nível
de um animal é pejorativa, o rebaixamento pode ser verificado.

Gabarito: E.

39. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 5º Provão de Bolsas
EsPCEx) Leve em consideração o trecho abaixo.

Bem considerando, a atualidade é a mesma em todas as datas. Feita a compensação dos desejos
que variam, das aspirações que se transformam, alentadas perpetuamente do mesmo ardor, sobre a
mesma base fantástica de esperanças, a atualidade é uma. Sob a coloração cambiante das horas, um
pouco de ouro mais pela manhã, um pouco mais de púrpura ao crepúsculo — a paisagem é a mesma
de cada lado beirando a estrada da vida.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 154


Profa. Luana Signorelli

POMPEIA, Raul. O Ateneu. Fonte: Domínio Público.


Disponível em: https://tinyurl.com/9l5ynjju. Acesso em: 08 jun. 2021.

Essa passagem é descrita como se fosse uma pintura, a partir de uma técnica com breves pinceladas
em que há a formação de contornos tênues. A partir dessa informação e da construção pictórica do
texto, é possível associar sua estética com a vanguarda do:
a) Dadaísmo.
b) Cubismo.
c) Orfismo.
d) Expressionismo.
e) Impressionismo.

Comentários
Questão de interpretação de texto literário/conhecimento do movimento artístico-literário.
Alternativa A: incorreta. Características principais do dadaísmo são: anarquia; nonsense, crítica,
dadá não é nada.
Alternativa B: incorreta. Características principais do cubismo são: pluriperspectivismo; formas
geométricas; colagem.
Alternativa C: incorreta. Orfismo sequer é uma vanguarda, mas sim é um sinônimo para a primeira
geração modernista portuguesa.
Alternativa D: incorreta. Cuidado: o nome dessa vanguarda lembra impressionismo, mas são
diferentes. Além disso, também há expressionismo no romance “O Ateneu”, quando o protagonista Sérgio
descreve o diretor de seu colégio, Aristarco, distorcendo-o, e também seus colegas. Porém, não na
passagem acima.
Alternativa E: correta – gabarito. O pontilhismo foi empregado pelos impressionistas para
representar a simultaneidade. É uma técnica quase científica de captação de luz. Um exemplo de pintor
impressionista é Claude Monet (1840-1926). Raul Pompeia é um romancista realista brasileiro, mas que
também era artista plástico e por isso manifesta ligação com as vanguardas.

Gabarito: A.

40. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 6º Provão de Bolsas
EsPCEx) Leia o trecho abaixo e responda à questão.

CAPÍTULO XIII / A EPÍGRAFE


Ora, aí está justamente a epígrafe do livro, se eu lhe quisesse pôr alguma, e não me ocorresse
outra. Não é somente um meio de completar as pessoas da narração com as ideias que deixarem, mas
ainda um par de lunetas para que o leitor do livro penetre o que for menos claro ou totalmente escuro.
Por outro lado, há proveito em irem as pessoas da minha história colaborando nela, ajudando o autor,
por uma lei de solidariedade espécie de troca de serviços, entre o enxadrista e os seus trebelhos.
Se aceitas a comparação, distinguirás o rei e a dama, o bispo e o cavalo, sem que o cavalo possa
fazer de torre, nem a torre de peão. Há ainda a diferença da cor, branca e preta, mas esta não tira o

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 155


Profa. Luana Signorelli

poder da marcha de cada peça, e afinal umas e outras podem ganhar a partida, e assim vai o mundo.
Talvez conviesse pôr aqui, de quando em quando, como nas publicações do jogo, um diagrama das
posições belas ou difíceis. Não havendo tabuleiro, é um grande auxílio este processo para acompanhar
os lances, mas também pode ser que tenhas visão bastante para reproduzir na memória as situações
diversas. Creio que sim. Fora com diagramas! Tudo irá como se realmente visses jogar a partida entre
pessoa e pessoa, ou mais claramente, entre Deus e o Diabo.
ASSIS, Machado de. Esaú e Jacó. Fonte: Domínio Público.
Disponível em: https://tinyurl.com/3zfp4zuh. Acesso em: 04 ago. 2021.

Típica obra da fase machadiana realista, o narrador evidencia uma relação de ______ com o leitor.
Preenchendo a lacuna, tem-se:
a) petulância
b) indiferença
c) desconfiança
d) credulidade
e) cooperação

Comentários
Questão de interpretação de texto literário/semântica.
Alternativa A: incorreta. Petulância significa insolência, ousadia, atrevimento. É como se fosse um
desacato. O narrador chega a fazer provocações ao leitor, mas sem desrespeito.
Alternativa B: incorreta. Depende do leitor que considera como parte de sua obra.
Alternativa C: incorreta. Precisa ganhar a confiança do leitor.
Alternativa D: incorreta. Abre margens para dúvida, o que se depreende a oração condicional
introduzida por “se”.
Alternativa E: correta – gabarito. O que se infere do trecho “há proveito em irem as pessoas da
minha história colaborando nela”.

Gabarito: E.

41. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – Último Provão de
Bolsas EsPCEx – Definitivo) Leia o trecho abaixo para responder à questão.

CAPÍTULO L / UM MEIO-TERMO
Meses depois fui para o seminário de S. José. Se eu pudesse contar as lágrimas que chorei na
véspera e na manhã, somaria mais que todas as vertidas desde Adão e Eva. Há nisto alguma
exageração; mas é bom ser enfático, uma ou outra vez, para compensar este escrúpulo de exatidão
que me aflige. Entretanto, se eu me ativer só à lembrança da sensação, não fico longe da verdade; aos
quinze anos, tudo é infinito. Realmente, por mais preparado que estivesse, padeci muito. Minha mãe
também padeceu, mas sofria com alma e coração; demais, o Padre Cabral achara um meio-termo,
experimentar-me a vocação; se no fim de dous anos, eu não revelasse vocação eclesiástica, seguiria
outra carreira.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 156


Profa. Luana Signorelli

– As promessas devem ser cumpridas conforme Deus quer [...].


ASSIS, Machado de. Dom Casmurro. Fonte: Domínio Público.
Disponível em: https://tinyurl.com/252vytdn. Acesso em: 06 out. 2021.

Nessa passagem em particular, o narrador lança mão de um recurso expressivo atípico para sua escola,
que é o(a):
a) hipérbato, haja vista o pendor para o convencimento conceptista.
b) metáfora, pois o narrador no convento se sentia um pastor de rebanhos.
c) ironia, expressando relação com as paródias modernistas.
d) intertextualidade, porque o diálogo bíblico revela-se teocêntrico.
e) hipérbole, evidenciando resquícios de sentimentalismo romântico.

Comentários
Questão de interpretação de texto literário; conhecimento de movimentos literários e Gramática
aplicada à Literatura.
Alternativa A: incorreta. O hipérbato é a inversão da ordem direta e o conceptismo é uma vertente
barroca, geralmente, situada na prosa sermonística de Padre Antonio Vieira.
Alternativa B: incorreta. O pastoralismo se verifica no Arcadismo.
Alternativa C: incorreta. Cuidado: Machado de Assis é extremamente irônico, mas há nessa opção um
anacronismo – não tem como Machado de Assis ser modernista antes do Modernismo.
Alternativa D: incorreta. Por mais que a intertextualidade seja mesmo um recurso estilístico
machadiano, o autor não é teocêntrico, apenas porque Bentinho vai para o seminário.
Alternativa E: correta – gabarito. Chorar todas as lágrimas do mundo de todos os tempos é um
exagero intencional para deixar o texto mais enfático. Lembrando que a primeira fase na produção
machadiana foi mesmo romântica.
Gabarito: E.

42. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – SPRINT EsPCEx 2021)

A ESCOLA era na Rua do Costa, um sobradinho de grade de pau. O ano era de 1840. Naquele dia
— uma segunda-feira, do mês de maio — deixei-me estar alguns instantes na Rua da Princesa a ver
onde iria brincar a manhã. Hesitava entre o morro de S. Diogo e o Campo de Sant’Ana, que não era
então esse parque atual, construção de gentleman, mas um espaço rústico, mais ou menos infinito,
alastrado de lavadeiras, capim e burros soltos. Morro ou campo? Tal era o problema. De repente disse
comigo que o melhor era a escola. E guiei para a escola. Aqui vai a razão.
ASSIS, Machado de. “Conto de escola”. Fonte: Domínio Público.
Acesso em: https://tinyurl.com/y47uqowl. Acesso em: 29 jul. 2020.

O problema social que explora esse trecho realista é o(a):


a) darwinismo.
b) eutanásia.
c) gentrificação.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 157


Profa. Luana Signorelli

d) infraestrutura.
e) êxodo.

Comentários
Questão de interpretação de texto/conhecimento de autor e obra do cânone. Esse conto em
particular caiu na prova da EsPCEx de 2008, porém, na parte de Gramática.
Alternativa A: incorreta. É a aplicação do conceito de seleção natural de Charles Darwin (1809-
1882).
Alternativa B: incorreta. É um termo médico que significa ato de promover morte rápida e indolor
a um doente incurável para pôr fim ao seu sofrimento (dicionário Aulete). Não vem ao caso, pois no trecho
se descreve o lugar de uma escola.
Alternativa C: incorreta. É o processo de recuperação do valor imobiliário e de revitalização de
região central da cidade após período de degradação; enobrecimento de locais anteriormente populares
(dicionário Aulete).
Alternativa D: correta – gabarito. A infraestrutura é a organização, o suporte da cidade. O conjunto
de serviços públicos de uma cidade. No caso, descreve-se o lugar de uma escola, e os espaços são
claramente marcados por desigualdade social: morro (atuais favelas) versus lugares para gentleman
(cavalheiros).
Alternativa E: incorreta. Não há dados suficientes no trecho para se afirmar isso. O êxodo urbano
é um fenômeno em que pessoas se movimento partindo de um lugar rumo a outro, geralmente em busca
de condições sociais melhores de vida.

Gabarito: D.

43. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – SPRINT EsPCEx 2021)

Adeus, ignaro. Não contes a ninguém o que te acabo de confiar, se não queres perder as orelhas.
Cala-te, guarda, e agradece a boa fortuna de ter por amigo um grande homem, como eu, embora não
me compreendas. Hás de compreender-me. Logo que tornar a Barbacena, dar-te-ei em termos
explicados, simples, adequados ao entendimento de um asno, a verdadeira noção do grande homem.
Adeus; lembranças ao meu pobre Quincas Borba. Não esqueças de lhe dar leite; leite e banhos; adeus,
adeus... Teu do coração,
ASSIS, Machado de. Quincas Borba. Fonte: Domínio Público.

O trecho acima está escrito no gênero textual da carta. Embora seja de autoria de uma personagem
criada pelo próprio Machado de Assis, é possível identificar uma característica machadiana, que é:
a) pessimismo.
b) loucura.
c) ironia.
d) metafísica.
e) religiosidade.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 158


Profa. Luana Signorelli

Comentários
Questão de interpretação de texto literário/conhecimento do movimento literário. Esse trecho já
caiu na prova da EsPCEx 2007, mais especificamente na parte de Gramática.
Alternativa A: incorreta. Apesar de ser mesmo uma das características de Machado, ela se
encontra mais presente em obras como Memórias póstumas de Brás Cubas. Nessa famosa carta de
despedida de Quincas Borba, ele ainda se mostra espirituoso.
Alternativa B: incorreta. Atenção: muito embora esse seja um tema central para o romance, ele
não está de todo explícito no trecho e, ainda assim, não se trata de uma característica formal, estilística
machadiana propriamente dita.
Alternativa C: correta – gabarito. É o contrário do que se quer dizer. Ela se verifica no trecho:
“adequados ao entendimento de um asno”. O autor da carta chama abertamente de ignorante o seu
interlocutor.
Alternativa D: incorreta. Cuidado: metalinguagem e não metafísica. Por se tratar do exercício da
escrita (escrever uma carta) dentro do próprio romance, pode-se falar em função de linguagem ou efeito
de texto metalinguístico.
Alternativa E: incorreta. Mesmo que o filósofo Quincas Borba se aproximasse da morte, não há
dados suficientes para se afirmar isso.

Gabarito: C.

44. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – SPRINT EsPCEx 2021)

Era João Romão quem lhes fornecia tudo, tudo, até dinheiro adiantado, quando algum precisava.
Por ali não se encontrava jornaleiro, cujo ordenado não fosse inteirinho parar às mãos do velhaco. E
sobre este cobre, quase sempre emprestado aos tostões, cobrava juros de oito por cento ao mês, um
pouco mais do que levava aos que garantiam a dívida com penhores de ouro ou prata.
Não obstante, as casinhas do cortiço, à proporção que se atamancavam, enchiam-se logo, sem
mesmo dar tempo a que as tintas secassem. Havia grande avidez em alugá-las; aquele era o melhor
ponto do bairro para a gente do trabalho. Os empregados da pedreira preferiam todos morar lá,
porque ficavam a dois passos da obrigação.
AZEVEDO, Aluísio de. O cortiço. Fonte: Domínio Público.
Disponível em: https://tinyurl.com/yyem3bty. Acesso em: 29 jul. 2020.

Observa-se da conduta da personagem João Romão que ele


a) exagera nos preços exorbitantes à baixa população.
b) chega a ser enganado, tendo sido o seu negócio roubado.
c) está doente de tal forma que a patologia repulsiva é descrita.
d) valoriza seus empregados de uma forma igualitária e justa.
e) tendia a medir tudo pelos interesses pecuniários.

Comentários
Questão de interpretação de texto literário/conhecimento de autor e obra do cânone. Esse trecho
caiu na prova da EsPCEx 2006, mais especificamente na parte da Gramática.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 159


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Alternativa A: incorreta. De preços mencionados são o que João Romão para manter seu negócio.
De mais, a população prefere por interesses próprios morar nas instalações fornecidas por João Romão.
Alternativa B: incorreta. Pelo contrário: tinha jogo de cintura e visão de comércio, tanto é que seu
empreendimento prosperava.
Alternativa C: incorreta. A saúde dele não é descrita.
Alternativa D: incorreta. Fala-se da relação de João Romão com seu cobrador de juros e não com
seus empregados propriamente ditos.
Alternativa E: correta – gabarito. E por tudo, diz-se “tudo, tudo” mesmo, nos termos da própria
narrativa. Fazia cálculos precisos e fazia também o negócio prosperar, mesmo havendo juro.

Gabarito: E.

45. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – SPRINT EsPCEx 2021)
Quanto aos romances de Machado de Assis, associe os dados da primeira coluna com os da segunda.

(1) Quincas Borba ( ) Rubião torna-se herdeiro universal, mas cai


na lábia de oportunistas, tendo alcançado a
ruína não só financeira como também a
espiritual.
(2) Memórias póstumas de Brás Cubas ( ) Já decadente e mais para o fim da vida, o
conselheiro Marcondes escreve em forma de
diário, num tom mais melancólico.
(3) Dom Casmurro ( ) Natividade sobre o Morro do Castelo em
busca de uma profecia capaz de guiar os destinos
dos filhos que está gestando.
(4) Esaú e Jacó ( ) Trata as pessoas com quem convive de
maneiras muito variadas a depender de sua
classe social: Prudêncio com tortura, por
exemplo.
(5) Memorial de Aires ( ) Um lar de pessoas frustradas, desde prima
Justina a José Dias, Bentinho cresceu em meio a
personagens que não se sobressaíram na vida.

A sequência correta está indicada na alternativa:


a) 1 – 5 – 4 – 2 – 3
b) 2 – 4 – 5 – 1 – 3
c) 1 – 3 – 4 – 5 – 2
d) 2 – 4 – 3 – 5 – 1
e) 3 – 2 – 1 – 4 – 5

Comentários
Questão de conhecimento de autores e obras do cânone/associar informações.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 160


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1 – Quincas Borba. Embora seja este o nome do romance, quem assume o protagonismo do
romance é um homem medíocre chamado Rubião, amigo próximo do filósofo Quincas Borba, a quem
acaba deixando toda sua herança. Porém, ingênuo que é, Rubião consegue arruinar seu patrimônio, uma
vez que o confia a Cristiano Palha, um arrivista que acaba por se apropriar de todo seu dinheiro. Por outro
lado, ao fim desse processo, Rubião também enlouquece.
5 – Memorial de Aires. O conselheiro Marcondes Aires foi diplomata. Escreve esta obra em
primeira pessoa, mas se sente triste e solitário, uma vez que é viúvo. É uma personagem que também
aparece no romance Esaú e Jacó.
4 – Esaú e Jacó. Os gêmeos Pedro e Paulo encarnam destinos míticos. São filhos de Natividade e a
cena narrada consiste justamente no início do romance.
2 – Memórias póstumas de Brás Cubas. Brás Cubas é um membro da elite que desde criança se
julgava superior aos outros. Prudêncio era um escravo a quem Brás Cubas já agredia quando criança.
Nunca trabalhou, porque não precisava, já que era herdeiro de uma grande fortuna. Vive uma vida
medíocre e sem sentido; procura por algo que nunca vai alcançar, no caso, um remédio (emplasto) que
supostamente salvaria a humanidade inteira. O que é uma grande ironia, pois ele não consegue salvar
nem a si próprio.
3 – Dom Casmurro. Narrado em primeira pessoa, é um romance sobre a ambiguidade e o narrador
não confiável. Bentinho se casa com seu amor de infância, de quem desconfiará na posteridade. Mas isso
porque ele próprio mudou e passou ainda pela experiência do seminário. José Dias era em agregado e
prima Justina também, já que nunca forma família nem saíra daquela casa.

Sequência correta: 1 – 5 – 4 – 2 – 3.
Gabarito: A.

46. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – SPRINT EsPCEx 2021)

Perpétua compartia as alegrias da irmã, as pedras também, o muro do lado do mar, as camisas
penduradas às janelas, as cascas de banana no chão. Os mesmos sapatos de um irmão das almas, que
ia a dobrar a esquina da Rua da Misericórdia para a de São José, pareciam rir de alegria, quando
realmente gemiam de cansaço. Natividade estava tão fora de si que, ao ouvir-lhe pedir: "Para a missa
das almas!" tirou da bolsa uma nota de dois mil-réis, nova em folha, e deitou-a à bacia. A irmã chamou-
lhe a atenção para o engano, mas não era engano, era para as almas do purgatório.
ASSIS, Machado de. Esaú de Jacó. Fonte: Domínio Público.

Machado de Assis é um importante escritor brasileiro. A partir do excerto, é possível depreender que
as relações humanas são
a) movidas pela mera bondade cristã.
b) consolidadas no humanitismo de boa-fé.
c) mediadas por interesses monetários.
d) guiadas por decisões conscientes.
e) justificadas pela reciprocidade.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 161


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Comentários
Questão de interpretação de texto literário/conhecimento de autor e obra do cânone.
Alternativa A: incorreta. Pelo contrário: há uma crítica à religião, no sentido de que quem muito
mais ajudou o pedinte (Irmão das Almas) foi uma transeunte em um dia feliz, do que a própria igreja que
o abandonava às suas portas.
Alternativa B: incorreta. Está incorreta por motivos semelhantes aos da alternativa acima.
Alternativa C: correta – gabarito. No trecho, duas mulheres sobem ao morro. Natividade está
grávida e está à procura de uma profecia para os filhos que irão nascer. Há um lado místico que se
contrasta com a religião cristã. Ao descer do morro, como a profecia fora boa e promissora, Natividade
não se importa, ou parece não se importar, pois está fora de si, em dar uma nota muito valiosa a um
pedinte. É chamada atenção pela mulher que a acompanhava.
Alternativa D: incorreta. Não são necessariamente conscientes, o que se pode depreender do
trecho “estava tão fora de si”.
Alternativa E: incorreta. Natividade faz uma doação ao Irmão das Almas, que provavelmente não
teria como retribui-la.

Gabarito: C.

47. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – SPRINT EsPCEx 2021)
Entre as obras de contos mais famosas de Machado de Assis está:
a) “A legião estrangeira”.
b) “Papéis avulsos”.
c) “A mão e a luva”.
d) “Sagarana”.
e) “O juiz de paz na roça”.

Comentários
Questão de conhecimento de autor e obra do cânone/conhecimento do movimento literário.
Alternativa A: incorreta. Trata-se de um livro de contos, mas da modernista Clarice Lispector, e
não do realista Machado de Assis.
Alternativa B: correta – gabarito. Publicado em 1882, é composto por contos importantes como
Alternativa C: incorreta. É um romance de Machado de Assis, e não uma obra de contos.
Alternativa D: incorreta. Trata-se de um livro de contos, mas da modernista Guimarães Rosa, e não
do realista Machado de Assis.
Alternativa E: incorreta. Trata-se de uma peça teatral romântica, escrita por Martins Pena.

Gabarito: B.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 162


Profa. Luana Signorelli

8.1 Lista de Fixação Comentada

48. (ESA – 2022) TEXTO a ser utilizado para responder as próximas 3 questões.

"Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em
primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo
nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira é que eu não sou
propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi outro berço; a
segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e mais novo. Moisés, que também contou a sua
morte, não a pôs no intróito, mas no cabo; diferença radical entre este livro e o Pentateuco." (Trecho
do livro "Memórias Póstumas de Brás Cubas" de Machado de Assis)

O autor personagem decidiu iniciar sua narrativa pelo fim, pois:


a) todos gostam de ouvir sobre a morte de alguém.
b) escritor que é escritor sempre faz dessa forma.
c) é comum para esse tipo de narrativa.
d) ninguém tinha feito assim antes.
e) a história é de terror.

Comentários
Questão de interpretação de texto literário; conhecimento do movimento literário e
conhecimento de autores e obras do cânone.
Alternativa A: incorreta. Cuidado com absolutismos: “todos”. Outro cuidado a ser tomado diz
respeito à diferença entre forma e conteúdo. O narrador no texto debate quanto à forma que pretende
narrar (começando do fim e não do início), e não necessariamente quanto ao conteúdo (morte).
Alternativa B: incorreta. Cuidado com absolutismos: “todos”. É comum (sinônimo de vulgar nesse
contexto) que os escritores comecem a narrativa pelo início, algo que o Brás Cubas não quer fazer. A partir
disso, toma a escolha oposta.
Alternativa C: incorreta. Pelo contrário, é incomum.
Alternativa D: correta – gabarito. “Memórias póstumas de Brás Cubas” (1881) é a obra que
introduz o Realismo no Brasil. Machado de Assis já escrevia há um tempo, mas suas obras ainda se
caracterizavam na fase romântica. Fazia parte de sua ambição criar algo novo, fugindo do senso comum
da época. Quando aperfeiçoa o seu estilo, cria um defunto autor que fala na primeira pessoa e começa o
livro, já logo no primeiro capítulo que se intitula “Óbito do autor”, justificando seu método literário e
demonstrando uma de suas principais características estilísticas: a metalinguagem. Sua ousadia se
observa nas colocações de Brás Cubas, que também deseja narrar como os grandes, equiparando-se ao
exemplo de Moisés, pois deseja fugir de tudo o que é vulgar, pretendendo ser único. E não é que deu
certo!
Alternativa E: incorreta. É uma história banal de um homem burguês que não trabalhou, não
formou família, não teve filhos. Suas frustrações são descritas no último capítulo, o das negativas.

Gabarito: D.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 163


Profa. Luana Signorelli

49. (ESA – 2022) Qual a diferença entre "AUTOR DEFUNTO" e "DEFUNTO AUTOR"?
a) são sinônimos.
b) o primeiro iniciou sua carreira após a morte e o segundo, em vida.
c) o primeiro foi autor em vida e o segundo, só após a morte.
d) o primeiro escreve sobre a sua morte e o segundo, após a sua morte.
e) o primeiro tem como tema em sua obra a morte e o segundo, o ato de escrever.

Comentários
Questão de interpretação de texto literário; conhecimento do movimento literário e
conhecimento de autores e obras do cânone.
Alternativa A: incorreta. Relações de sinonímia na semântica indicam termos com sentido igual ou
parecido. Não é o caso, pois a mera inversão faz com que as expressões ganhem novas acepções.
Alternativa B: incorreta. O primeiro é o “autor defunto”; a ênfase (pois a palavra vem primeiro)
está sendo dada no autor, uma pessoa que, para escrever, precisa estar viva.
Alternativa C: correta – gabarito. Há uma inversão estilística e intencional. A ordem direta em
língua portuguesa é substantivo + adjetivo, mas o termo “defunto” pode assumir ambas as funções
morfológicas, a depender de onde sintaticamente se localiza. Quanto o termo “autor” vem na frente,
destaca-se o cargo, a função da pessoa viva. Quando “defunto” vem na frente, destaca-se o fato de que a
pessoa está morta, chamando atenção para esse fato, que deveria ser impactante. A morte não é apenas
um marco temporal limitante, mas sim é usada por Machado de Assis como uma licença poética. Melhor
fosse que Brás Cubas narrasse tudo depois da morte, pois, assim, estaria ele numa posição privilegiada.
Alternativa D: incorreta. A preposição “sobre” transmite ideia semântica de conteúdo. Cuidado: é
preciso aprestar atenção à oposição entre forma e conteúdo. Essa inversão diz respeito à forma (maneira
de encarar a narrativa) e não sobre o conteúdo em si necessariamente (a morte).
Alternativa E: incorreta. Pelos mesmos motivos da letra D, a inversão nesse contexto é
predominantemente uma questão formal e não temática.

Gabarito: C.

50. (ESA – 2022) Nesse trecho do livro "Memórias Póstumas de Brás Cubas" de Machado de Assis o
autor-personagem faz uma comparação com Moisés. Essa comparação é baseada em ambos:
a) serem amigos.
b) falaram de suas mortes.
c) serem escritores.
d) gostarem da vida.
e) gostarem do novo.

Comentários
Questão de interpretação de texto literário; conhecimento do movimento literário e
conhecimento de autores e obras do cânone.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 164


Profa. Luana Signorelli

Alternativa A: incorreta. Não eram brothers, não! Moisés é uma personagem bíblica e Brás Cubas
é um burguês do século XIX. São anacrônicos entre si (não são do mesmo tempo).
Alternativa B: correta – gabarito. A intertextualidade é uma das principais características
estilísticas de Machado de Assis, especialmente a intertextualidade com as escrituras sagradas da Bíblia.
A intertextualidade é um efeito de texto a partir do qual um autor estabelece diálogo com outro. No caso,
a partir da oração subordinada adjetiva explicativa, entre vírgulas: “que também contou a sua morte”,
Brás Cubas que ressaltar esse traço comparativo quanto à temática do que está sendo narrado.
Alternativa C: incorreta. Moisés recebe a palavra divina e depois escreve as leis sagradas em
tábuas, mas não é esse o critério usado para a comparação.
Alternativa D: incorreta. Não são os gostos individuais que estão sendo destacados a partir da
comparação.
Alternativa E: incorreta. Brás Cubas enquanto escritor queria narrar de forma que considerava
inovadora; porém, Moisés é uma figura tradicional.

Gabarito: B.

51. (ESA – 2014) Marque a alternativa que apresenta informação correta sobre autor e obra
representativos da literatura brasileira
a) Aluísio de Azevedo escreveu “O Cortiço”, obra em que fica evidente a zoomorfização das
personagens.
b) Machado de Assis escreveu “Dom Casmurro”, romance idealista sobre a experiência do amor
inacessível.
c) Raul Pompéia escreveu “Lira dos Vinte Anos”, e é um representante do mal-do-século no
Romantismo.
d) Gregório de Matos escreveu peças teatrais populares e de conteúdo religioso para catequizar os
indígenas.
e) Olavo Bilac escreveu “Navio Negreiro” e “Vozes da África”, poemas com evidentes intenções
abolicionistas.

Comentários
Questão de conhecimento do movimento literário/autores e obras do cânone.
Alternativa A: correta – gabarito. Trata-se de uma obra paradigmática do Naturalismo.
Alternativa B: incorreta. “Dom Casmurro” foi escrito por Machado de Assis, mas não é romance
idealista. É uma obra realista que realiza uma análise crítica e pessimista da sociedade burguesa e do
casamento, tendo como tema o adultério.
Alternativa C: incorreta. “Lira dos Vinte Anos” foi escrito por Álvares de Azevedo, e não por Raul
Pompéia. Além disso, Raul Pompéia é um escritor Realista/Impressionista, não é um representante da
poesia mal-do-século do Romantismo.
Alternativa D: incorreta. Quem escreveu peças teatrais populares e de conteúdo religioso para
catequizar os indígenas foi o Padre José de Anchieta, durante o Quinhentismo. Gregório de Matos
escreveu poesias religiosas, líricas e satíricas.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 165


Profa. Luana Signorelli

Alternativa E: incorreta. Quem escreveu “Navio Negreiro” e “Vozes da África”, poemas com
evidentes intenções abolicionistas, foi o poeta Castro Alves, razão por que é conhecido como “O poeta
dos escravos”.

Gabarito: A.

52. (ESA – 2014) Sobre as obras e os autores do Realismo-Naturalismo no Brasil é correto afirmar que
a) o teatro dessa época teve muitos adeptos dentre os quais podemos citar José de Alencar.
b) Aluízio Azevedo e Machado de Assis produziram obras numa linha naturalista bem definida.
c) Raul Pompéia é um autor significativo dessa época, porém suas obras mostram apenas traços
impressionistas.
d) o principal autor desse período é Adolfo Caminha que trabalhou dentro de uma linha realista mais
definida.
e) a parte mais significativa da obra de Machado de Assis é representada por seus romances e contos.

Comentários
Questão de conhecimento do movimento literário/autores e obras do cânone.
Alternativa A: incorreta. José de Alencar é do Romantismo. No Realismo, predominou a prosa.
Movimentos literários no qual o teatro foi mais importante foram: Humanismo (teatro vicentino);
Romantismo (basta lembrar de Martins Pena) e incontáveis exemplos no Modernismo.
Alternativa B: incorreta. Aluísio de Azevedo, sim, mas Machado de Assis é realista.
Alternativa C: incorreta. Não são só impressionistas, mas também realistas. Na realidade, a obra
desse autor configurou uma sobreposição de estilos: parnasiano, simbolista, naturalista, impressionista e
expressionista.
Alternativa D: incorreta. Adolfo Caminha segue uma vertente mais naturalista, tendo escrito O
Bom-Crioulo (1895), um dos romances pioneiros na representação da homossexualidade.
Alternativa E: correta – gabarito. O escritor realista se destacou pela produção de romances como:
Memórias póstumas de Brás Cubas (1881); Quincas Borba (1891); Dom Casmurro (1899) e Esaú e Jacó
(1904). Em relação aos contos, o autor também se sobressaiu com a publicação de Papéis avulsos (1882)
em que se destacam contos específicos como “O espelho”, “Teoria do medalhão” (que será cobrado, por
exemplo, na prova ITA 2021) e “O alienista” (cobrado, por exemplo, na prova ITA 2021). Outro livro de
contos importante é Histórias sem data (1884). Dois contos se ressaltam: “Noite de almirante” e “A igreja
do Diabo”.

Gabarito: E.

53. (ESA – 2011) A obra literária que marca o final do romantismo e o início do realismo no Brasil é
a) “Suspiros Poéticos e Saudades”, de Gonçalves de Magalhães.
b) “A Moreninha”, de Joaquim Manoel de Macedo.
c) “O Guarani”, de José de Alencar.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 166


Profa. Luana Signorelli

d) “O Ateneu”, de Raul Pompéia.


e) “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis.

Comentários
Questão de conhecimento do movimento literário/autores e obras do cânone.
Alternativa A: incorreta. Cuidado: não é a obra que inicia o Romantismo, mas sim uma obra de
transição.
Alternativa B: incorreta. Essa obra é um importante marco no Romantismo, mas sua produção é
mais do início do Romantismo do que do final.
Alternativa C: incorreta. Essa obra compõe o Ciclo Indianista de José de Alencar, junto com
Iracema e Ubirajara.
Alternativa D: incorreta. Essa é uma obra do Realismo, considerada também com alguns traços
impressionistas.
Alternativa E: correta – gabarito. A obra literária que marca o final do Romantismo e o início do
Realismo no Brasil é “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis. Aqui, há o fim da
idealização, do idealismo e o foco passa a ser até mesmo menos no romance urbano para o romance
social, psicológico.

Gabarito: E.

54. (Estratégia Militares 2020 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 2o Simulado ESA 2021)
A literatura deve ser uma espécie de documento da sociedade, deve fazer refletir sobre a realidade
social. O descritivismo e uma visão positivista marcavam os temas e estilos desse movimento. Essas
são características que identificam as obras de autores
a) trovadores.
b) românticos.
c) árcades.
d) realistas.
e) naturalistas.

Comentários
Questão de conhecimento/identificação do movimento literário.
Alternativa A: incorreta. O Trovadorismo foi um movimento medieval que só ocorreu na Europa.
No Brasil, na mesma época, a literatura era colonial, representada pelo Quinhentismo (século XVI).
Alternativa B: incorreta. Os românticos (século XIX) estavam preocupados com a classe social da
burguesia; apenas no Condoreirismo a preocupação social começa a ser o foco. Porém, no Romantismo
predominava o Idealismo e não o Positivismo.
Alternativa C: incorreta. Os árcades (século XVIII) valorizavam o bucolismo, o pastoralismo, o
desapego à sociedade (fugere urbem). Não queriam criticar a sociedade, apenas fugir dela.
Alternativa D: incorreta. Atenção: as características até são parecidas, pois, afinal, os dois
movimentos eram concomitantes (ocorreram no mesmo período), mas a diferença é o Positivismo:
sistema criado por Auguste Comte (1798-1857) que se propõe a ordenar as ciências experimentais,

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 167


Profa. Luana Signorelli

considerando-as o modelo por excelência do conhecimento humano, em detrimento das especulações


metafísicas ou teológicas; comtismo (dicionário Houaiss).
Alternativa E: correta – gabarito. No caso, trata-se da definição do romance de tese, típica do
Naturalismo. Também marcava o período o determinismo.

Gabarito: E.

55. (Estratégia Militares 2020 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 5o Simulado ESA 2021)
Leia o poema abaixo para se responder ao que se pede.

A ELA
(...) Suas faces purpurinas
De rubras cores divinas
De mago brilho e condão;
Meigas faces que harmonia
Inspirada em doce poesia
Ao meu terno coração!

Sua boca meiga e breve,


Onde um sorriso de leve
Com doçura se realiza

Ornando purpúrea cor,


Celestes lábios de amor
Que com neve se harmoniza (...).
Machado de Assis – Poesias Dispersas. Fonte: Domínio Público.
Disponível em: https://tinyurl.com/ybl4oqzo. Acesso em: 11 de maio de 2020.

Esse poema de Machado de Assis se enquadra em qual fase e por quê?


a) Fase madura, por causa de seu psicologismo.
b) Fase excelente, devido à sua adjetivação.
c) Fase romântica, haja vista o seu sentimentalismo.
d) Fase mediana, graças à denúncia social.
e) Fase realista, observada no estilo rebuscado.

Comentários
Questão de interpretação de texto literário/conhecimento de autor e obra do cânone.
Alternativa A: incorreta. Não é a fase madura (realista), mas, sim, a romântica.
Alternativa B: incorreta. A fase excelente é sinônimo da realista. Cuidado: há adjetivação excessiva
nesse poema, mas essa característica não está associada diretamente à sua respectiva classificação.
Exemplos dessa adjetivação: “purpurina”, “divina”, “meiga”, “breve”, “celestes”.
Alternativa C: correta – gabarito. Atenção: embora Machado de Assis seja um escritor realista, a
sua obra da juventude ainda manifestava traços românticos. O foco na mulher idealizada, elevada ao

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 168


Profa. Luana Signorelli

sublime, ao “celeste” em suas próprias palavras, e o sentimentalismo exacerbado são aspectos que nos
fazem enquadrar esse poema na sua fase romântica.
Alternativa D: incorreta. É, sim, a fase mediana, sinônimo da romântica, mas a denúncia social é
uma expressão do Realismo.
Alternativa E: incorreta. Embora seja mesmo um traço do Realismo, esse poema se enquadra na
fase romântica.

Gabarito: C.

56. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 3o Simulado ESA 2022)
Leia o trecho abaixo e responda ao que se pede.

Deles, só o canapé pareceu haver compreendido a nossa situação moral, visto que nos ofereceu
os serviços da sua palhinha, com tal insistência que os aceitamos e nos sentamos. Data daí a opinião
particular que tenho do canapé. Ele faz aliar a intimidade e o decoro, e mostra a casa toda sem sair da
sala. Dous homens sentados nele podem debater o destino de um império, e duas mulheres a graça de
um vestido – mas, um homem e uma mulher só por aberração das leis naturais dirão outra cousa que
não seja de si mesmos.

Sobre as obras e os autores do Realismo-Naturalismo no Brasil é correto afirmar que o trecho acima
a) corresponde a uma obra do Naturalismo, sendo de autoria de Aluísio Azevedo, por causa de sua
animalização evidente.
b) é uma obra naturalista, por causa de sua aproximação com o ideal neoclássico da natureza, sendo
de autoria de Artur Azevedo.
c) simboliza uma obra do realista de Raul Pompeia, por causa do uso das teorias científicas do fim do
século XIX, como o determinismo.
d) é considerado um excerto de uma obra realista, uma vez que utiliza um pensamento intertextual,
como as teorias de Rousseau.
e) representa uma passagem de uma obra realista de Machado de Assis, sendo capaz de estabelecer
uma reflexão entre o objetivo e o subjetivo.

Comentários
Questão de interpretação de texto literário; conhecimentos do movimento literário e autores e
obras do cânone.
Alternativa A: incorreta. É uma obra realista e não naturalista. Além disso, não há comparação do
ser humano com os animais.
Alternativa B: incorreta. É uma obra realista e não naturalista. Artur Azevedo foi um autor
naturalista que escreveu teatro predominantemente, tendo sido irmão de Aluísio Azevedo. Ademais, o
trecho fala sobre canapé, uma parte da mobília interior da casa. Trata-se de um ambiente urbano,
burguês, e não da natureza.
Alternativa C: incorreta. É uma obra de Machado de Assis e não de Raul Pompeia.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 169


Profa. Luana Signorelli

Alternativa D: incorreta. Rousseau é um filósofo do Século das Luzes (século XVIII) e não há
intertextualidade nesse trecho.
Alternativa E: correta – gabarito. Trata-se de um trecho do romance “Dom Casmurro” (1899). A
partir de uma análise sobre o móvel do canapé, um pequeno sofá requintado, ou seja, um elemento da
realidade objetiva, estipula-se uma reflexão sobre os seres humanos no geral.

Gabarito: E.

57. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 5o Simulado ESA 2022)
Fizeram parte do Naturalismo Brasileiro os seguintes autores:
a) Padre Manuel Nóbrega, Padre José Anchieta e Padre Antonio Vieira.
b) Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu e Castro Alves.
c) Aluísio Azevedo, Artur Azevedo e Adolfo Caminha.
d) Machado de Assis, Raul Pompeia e Aluísio de Azevedo.
e) Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Manuel Bandeira.

Comentários
Questão de conhecimento de autores do cânone/conhecimento do movimento literário.
Alternativa A: incorreta. Padre Manuel Nóbrega e Padre José Anchieta são autores quinhentistas
e Padre Antonio Vieira é um autor barroco.
Alternativa B: incorreta. Todos são escritores românticos: Álvares de Azevedo e Casimiro de Abreu
são da segunda geração romântica e Castro Alves da terceira.
Alternativa C: correta – gabarito. Inclusive, Aluísio Azevedo e Artur Azevedo eram irmãos.
Alternativa D: incorreta. Machado de Assis é um escritor realista, tal como também costuma ser
classificado Raul Pompeia pelos críticos.
Alternativa E: incorreta. Todos são escritores modernistas da primeira geração.

Gabarito: C.

58. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 7o Simulado ESA 2022)
Leia o trecho abaixo para responder à questão.

Vaguei pelas ruas e recolhi-me às nove horas. Não podendo dormir, atirei-me a ler e escrever. Às
onze horas estava arrependido de não ter ido ao teatro, consultei o relógio, quis vestir-me, e sair.
Julguei, porém, que chegaria tarde; demais, era dar prova de fraqueza. Evidentemente, Virgília
começava a aborrecer-se de mim, pensava eu. E esta ideia fez-me sucessivamente desesperado e frio,
disposto a esquecê-la e a matá-la. Via-a dali mesmo, reclinada no camarote, com os seus magníficos
braços nus, — os braços que eram meus, só meus, — fascinando os olhos de todos, com o vestido
soberbo que havia de ter, o colo de leite, os cabelos postos em bandos, à maneira do tempo, e os
brilhantes, menos luzidios que os olhos dela... Via-a assim, e doía-me que a vissem outros. Depois,

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 170


Profa. Luana Signorelli

começava a despi-la, a pôr de lado as joias e sedas, a despenteá-la com as minhas mãos sôfregas e
lascivas, a torná-la, — não sei se mais bela, se mais natural, — a torná-la minha, somente minha,
unicamente minha.

Esse trecho inicia o capítulo 64, intitulado "A transação", do romance realista Memórias póstumas de
Brás Cubas de Machado de Assis. Nesse trecho em particular, o narrador protagonista revela-se
a) indeciso, obsessivo e possessivo.
b) altruísta, amoroso e apaixonado.
c) compulsivo, resignado e solícito.
d) ganancioso, cínico e irônico.
e) debochado, sardônico e indulgente.

Comentários
Questão de interpretação de texto literário/conhecimento de autores e obras do cânone.
Alternativa A: correta – gabarito. É indeciso, pois no fundo quer ir ao teatro, mas muda de opinião
toda hora; acaba decidindo por ficar em casa. Obsessivo porque a figura que domina seu pensamento é
Virgília, parecendo controlar todas suas ações. Por fim, possessivo, já que faz do seu objetivo supremo ter
Virgília, o que é irônico uma vez que ele nem sai de casa.
Alternativa B: incorreta. Nenhum desses adjetivos se aplica a Brás Cubas nesse trecho. Observa-se
o encontro da personagem consigo mesma e Brás Cubas se perturba, já que não consegue o que quer
nem tem fibra para persistir na luta.
Alternativa C: incorreta. Compulsivo e resignado, sim, mas não solícito. Brás Cubas não se revela
prestativo.
Alternativa D: incorreta. Cuidado: todos esses adjetivos são aplicados a Brás Cubas em outros
momentos dessa narrativa, mas, nessa passagem em particular, o máximo que ele consegue manifestar é
ironia.
Alternativa E: incorreta. Indulgente é aquele que tem disposição para desculpar/perdoar, o que
não é o caso.

Gabarito: A.

59. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 8o Simulado ESA 2022)
Leia o trecho abaixo para responder ao que se pede.

Raimundo pediu um espelho; colocou-o defronte da boca de Maria do Carmo, observou-o depois
e disse secamente:
— Está morta.
Foi um berreiro geral. Etelvina caiu para trás, estrebuchando num histérico; Manuel arredou a filha
daquele lugar. Acudiram todos os de casa. Os ânimos que o vinho entorpecia, acordaram como por
encanto. A situação incontinente tornou-se lúgubre.
AZEVEDO, Aluísio de. O mulato. Fonte: Domínio Público.
Disponível em: https://tinyurl.com/2ep2xbzn. Acesso em: 28 jul. 2021.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 171


Profa. Luana Signorelli

Alinhado à estética naturalista, quanto à cena apresentada pode-se afirmar que as personagens:
a) não superam a realidade imediata da morte da mulher, porém se esforçam, porque para serem
fortes e se adaptarem precisariam comprovar o evolucionismo.
b) tentam se controlar ao presenciarem um assassinato, mas não conseguem, pois são conduzidas
pelo positivismo que lhes ajudava no aperfeiçoamento espiritual.
c) estão diante de uma cena inexorável, o que se adequa ao determinismo típico da escola, o que
acentua traços caricaturais em condições funestas.
d) ilustram um comportamento patológico de indivíduos que agem por instinto, pois a animalização
nessas personagens se faz evidente.
e) criticam a atitude homicida de Raimundo, o que se enquadra no idealismo comum no movimento,
já que as personagens se encontram embriagadas.

Comentários
Questão de interpretação de texto literário/conhecimento sobre movimentos literários.
Alternativa A: incorreta. O evolucionismo é a defesa do desenvolvimento inevitável do real em
direção a estados mais aperfeiçoados.
Alternativa B: incorreta. As personagens não buscam engrandecimento espiritual; pelo contrário,
exasperam-se.
Alternativa C: correta – gabarito. O que predomina na cena é o fatalismo, bem como o
comportamento exagerado das personagens.
Alternativa D: incorreta. Apesar de ser uma característica naturalista, ela não se verifica no trecho.
Alternativa E: incorreta. Idealismo é típico do Romantismo e não do Naturalismo.

Gabarito: C.

60. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 10o Simulado ESA
2022) Émile Zola foi quem primeiro introduziu essa escola na Europa, com o romance de tese. O
movimento incorpora a representação das minorias, o retrato das patologias e o zoomorfismo, a partir
da crença de que o ser humano é biológico. Nesse sentido, o principal representante deste movimento
no Brasil é:
a) Gregório de Matos.
b) José de Alencar.
c) Álvares de Azevedo.
d) Adolfo Caminha.
e) Aluísio de Azevedo.

Comentários
Questão teórica sobre movimentos literários.
Alternativa A: incorreta. Gregório de Matos foi um poeta barroco.
Alternativa B: incorreta. José de Alencar foi um prosador romântico.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 172


Profa. Luana Signorelli

Alternativa C: incorreta. Álvares de Azevedo foi um escritor da segunda geração romântica na lírica.
Não foi naturalista.
Alternativa D: incorreta. Cuidado: Adolfo Caminha também foi um escritor naturalista brasileiro,
mas não o principal.
Alternativa E: correta – gabarito. Émile Zola introduziu o Naturalismo na Europa a partir da
publicação da obra "Thérèse Raquin". O crítico literário Antonio Candido equipara o romance "O cortiço"
de Aluísio de Azevedo a "L'Assommoir" de Zola.

Gabarito: E.

61. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 11o Simulado ESA 2022)
Chamado de Bruxo do Cosme, este escritor é responsável pela dissolução da escola romântica no Brasil.
A partir da adoção de um narrador em primeira pessoa que volta da morte para contar cinicamente a
sua própria história, ______ estabelece o vínculo entre a crítica dos comportamentos exteriores
justificados a partir da personalidade individual.

Preenchendo-se adequadamente a lacuna tem-se:


a) Machado de Assis.
b) Raul Pompeia.
c) Manuel Antonio de Almeida.
d) Joaquim Manoel de Macedo.
e) Aluísio de Azevedo.

Comentários
Questão teórica de conhecimento de movimentos literários/autores e obras do cânone.
Alternativa A: correta – gabarito. O romance aludido é "Memórias póstumas de Brás Cubas"
(1881), introdutor do Realismo no Brasil e divisor de águas na carreira machadiana, dividindo-a em duas
fases: romântica e realista.
Alternativa B: incorreta. É um autor realista contemporâneo de Machado de Assis, mas não
recebeu tal alcunha.
Alternativa C: incorreta. É um escritor romântico e, o comando mencionava a dissolução do
Romantismo.
Alternativa D: incorreta. Pelos mesmos motivos da letra C, era um autor romântico.
Alternativa E: incorreta. É um escritor naturalista e não realista.

Gabarito: A.

62. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 12o Simulado ESA
2022) A partir da leitura do texto, responda à pergunta.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 173


Profa. Luana Signorelli

"Durante os meus trinta e tantos anos de diplomacia algumas vezes vim ao Brasil, com licença. O
mais do tempo vivi fora, em várias partes, e não foi pouco. Cuidei que não acabaria de me habituar
novamente a esta outra vida de cá. Pois acabei. Certamente ainda me lembram cousas e pessoas de
longe, diversões, paisagens, costumes, mas não morro de saudades por nada. Aqui estou, aqui vivo,
aqui morrerei."
ASSIS, Machado de. Memorial de Aires. Fonte: Domínio Público.
Disponível em: https://tinyurl.com/uk9j6cb2. Acesso em: 19 ago. 2021.

O Conselheiro Aires, típica personagem machadiana que aparece em mais de uma obra, na passagem
acima aventura-se no gênero do diário pessoal. No seu registro memorialístico, recorda o momento
de sua aposentadoria. Nesse contexto, o trecho grifado equipara-se semanticamente a:
a) "Verdade é que quem tinha consigo estes trastes estava com as armas e uniforme do ofício; porém
isso não bastava; o pobre rapaz estava em apertos"
b) "E assim, pouco a pouco, se foram reformando todos os seus hábitos singelos de aldeão português:
e Jerônimo abrasileirou-se"
c) "Então meu pai propôs-lhe ficar ali vivendo, com pequeno ordenado. José Dias recusou, dizendo
que era justo levar a saúde à casa de sapé do pobre"
d) "À proporção que Brás acertava com o nome de cada letra, a ia apagando a mestra gentil com a
ponta do pé buliçoso e faceiro, para escrever outra e outra até o fim do abecedário"
e) "Basta considerar que, diante de tão estranho espetáculo, fiquei absolutamente sem medo; perdi
a reflexão, apenas sabia ouvir e contemplar."

Comentários
Questão de interpretação de texto literário; conhecimento de movimentos literários e semântica.
Alternativa A: incorreta. Esse é um trecho do romance romântico "Memórias de um sargento de
milícias" de Manuel Antônio de Almeida. Leonardinho precisava trabalhar para ajudar o barbeiro que lhe
criou como filho adotivo. A qualidade de bastardia fez com que um filho, mesmo criado em casa, seja
considerado agregado, de tal forma que precisa gerar renda a fim de ajudar na administração doméstica.
Alternativa B: correta – gabarito. Esse é um trecho do romance naturalista "O cortiço" de Aluísio
de Azevedo. Por "abrasileirar-se", o narrador quis dizer que João Romão, um imigrante português,
acostumou-se com os costumes da terra brasileira, assim como o Conselheiro Aires achou vias de
reabituar-se à sua terra natal.
Alternativa C: incorreta. Esse é um trecho do romance realista "Dom Casmurro" de Machado de
Assis. A afirmação é irônica, pois José Dias recusa só para fazer média, quando para ele na verdade seria
mais conveniente aceitar.
Alternativa D: incorreta. Esse é um trecho do romance romântico "Til" de José de Alencar. A
personagem está aprendendo a ler.
Alternativa E: incorreta. Esse é um trecho do conto "Entre santos", de Machado de Assis. A
personagem está numa igreja de noite e o espetáculo se remete à conversa entre as estátuas dos santos.

Gabarito: A.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 174


Profa. Luana Signorelli

63. (Estratégia Militares 2020 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – Chivunk ESA 2021) O
movimento literário que se caracterizou pelo pioneirismo na representação de classes marginalizadas
foi o
a) Quinhentismo.
b) Humanismo.
c) Naturalismo.
d) Barroco.
e) Byronismo.

Comentários
Questão inspirada na prova da ESA 2015. Pode ser que a ESA cobre um movimento literário a partir
da sua importância, da sua origem, do seu pioneirismo ou de sua inovação, por exemplo.
Alternativa A: incorreta. O homem quinhentista era colonial. As classes sociais que se opuseram,
inclusive culturalmente, foram os portugueses e os indígenas. Porém, a maioria dos indígenas tem cultura
ágrafa (não escreviam). Se apenas os portugueses escreviam, eram deles o ponto de vista representado
nesse tipo de literatura.
Alternativa B: incorreta. A representação do homem na literatura humanista era universal e
tipificada.
Alternativa C: correta – gabarito. Autores como Aluísio de Azevedo e Adolfo Caminha
representaram escravos, prostitutas e homossexuais, por exemplo.
Alternativa D: incorreta. O homem barroco tinha uma visão de mundo teocêntrica; ou seja,
predominante, hegemônica.
Alternativa E: incorreta. Byronismo é uma das tendências do romantismo, que leva esse nome
inspirando-se em Lorde Byron, uma figura boêmia. Não era bem um marginalizado, mas sim a figura do
modo de vida predominante na época.

Gabarito: C.

64. (Estratégia Militares 2020 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 2º Provão de Bolsas
ESA) O Naturalismo brasileiro teve maior expressão com:
a) Aluísio de Azevedo, na história baseada em fatos reais, “Casa de pensão”.
b) Adolfo Casais Monteiro, no romance “O Bom-Crioulo”.
c) Machado de Assis, na sua fase primeva, com “Helena”.
d) Eça de Queirós, em sua obra “O crime do padre Amaro”.
e) Antero de Quental, no livro “O primo Basílio”.

Comentários
Questão de reconhecimento de autores e obras. O enunciado foi inspirado na prova da ESA 2018-
19. No comando, “maior expressão” diz respeito àquilo que é predominante.
Alternativa A: correta – gabarito. A obra foi baseada num fato real: a Questão Capistrano, crime
que sensibilizou o Rio de Janeiro em 1876-77, envolvendo dois estudantes, em situação muito próxima à
da narração de Aluísio de Azevedo. Sua obra mais conhecida, no entanto, é O cortiço.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 175


Profa. Luana Signorelli

Alternativa B: incorreta. Cuidado: Adolfo Casais Monteiro é um escritor português, não brasileiro.
Quem escreveu O Bom-Crioulo foi Adolfo Caminha.
Alternativa C: incorreta. Machado de Assis se enquadra no Realismo e não no Naturalismo. Porém,
realista é sua fase madura, pois a sua fase primeva é considerada romântica, na qual se inserem romances
como Helena, justamente, mas também Iaiá Garcia e A mão e a luva.
Alternativa D: incorreta. Trata-se de um escritor português. Alguns críticos o enquadram no
Realismo e outros no Naturalismo. Além dessa obra, Os Maias é outro romance importante de sua autoria.
Alternativa E: incorreta. Essa obra não é de Antero de Quental, mas sim de Eça de Queirós.
Tampouco Antero de Quental é brasileiro, mas sim um poeta português.

Gabarito: A.

65. (Estratégia Militares 2020 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 6º Provão de Bolsas
ESA) Marque a alternativa que apresenta informação correta sobre autor e obra representativos da
Literatura Brasileira.
a) Raul Pompeia escreveu “O ateneu”, uma obra autobiográfica que conta uma experiência pré-
adolescente.
b) Álvares de Azevedo escreveu “Noite na taverna”, uma obra da segunda geração escrita na forma de
teatro.
c) José de Alencar escreveu romance histórico, caracterizado por “Ubirajara”, e prosa urbana, como
“Guerra dos Mascates”.
d) Mário Quintana é um escritor de contos populares e folclóricos, conhecido pelo “Auto da
Compadecida”.
e) Clarice Lispector inovou a forma do poema, passando da métrica rígida para o poema-piada, um
gênero essencialmente curto.

Comentários
Questão de conhecimento de autores e obras do cânone.
Alternativa A: correta – gabarito. É um escritor enquadrado no movimento do Realismo, mas cujo
estilo é considerado impressionista.
Alternativa B: incorreta. Cuidado: está tudo correto, mas “Noite na taverna” é um texto escrito em
prosa. A peça de teatro famosa de Álvares de Azevedo é “Macário”.
Alternativa C: incorreta. Atenção: as designações estão trocadas. “Ubirajara” integra o ciclo
indianista, junto com “Iracema” e “O Guarani” e “Guerra dos Mascates” que é um romance histórico.
Alternativa D: incorreta. O autor contemporâneo associado a essas características é Ariano
Suassuana.
Alternativa E: incorreta. Clarice Lispector é reconhecida pela sua prosa, e não poesia. Quem
escreveu poema-piada foi o modernista da primeira geração Oswald de Andrade. Este é um gênero
essencialmente humorístico.

Gabarito: A.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 176


Profa. Luana Signorelli

66. (Estratégia Militares 2020 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 10º Provão de Bolsas
ESA)

”Feitos os quinze anos, ela começou pouco a pouco a descobrir em si estranhas mudanças;
percebeu, sentiu que uma transformação importante se operava no seu espírito e no seu corpo:
sobressaltavam-na terrores infundados; acometiam-na tristezas sem motivo justificável. Um dia,
afinal, acordou mais preocupada; assentou-se na rede, a cismar. E, com surpresa, reparou que seus
membros ultimamente se tinham arredondado; notou que em todo seu corpo a linha curva suplantara
a reta e que as suas formas eram já completamente de mulher.”
AZEVEDO, Aluísio de. O mulato. Fonte: Domínio Público.
Disponível em: https://tinyurl.com/yy9bdffg. Acesso em: 11 out. 2020.

A partir do texto acima, é correto afirmar que


a) Ana Rosa é uma mulher que é determinada por causa de sua etnia mulata.
b) no trecho constata-se o evolucionismo, pois Ana Rosa se torna mulher.
c) o positivismo é verificado no otimismo de Ana Rosa para vencer seus sentimentos.
d) a união entre corpo e espírito é equilibrada depois que Ana Rosa entende suas mudanças.
e) Ana Rosa é uma mulher determinada pelas suas condições biológicas.

Comentários
Questão de interpretação de texto literário/conhecimento do movimento literário.
Alternativa A: incorreta. Embora o título do romance seja O mulato, a desinência está no masculino
e não no feminino.
Alternativa B: incorreta. Cuidado: o evolucionismo é o conjunto de doutrinas que acreditam no
desenvolvimento inevitável do real em direção a estados mais aperfeiçoados.
Alternativa C: incorreta. Positivismo é uma doutrina criada por Augusto Comte, e não condiz com
o otimismo.
Alternativa D: incorreta. Não é equilibrada; o corpo se sobressai. Tratando-se de um texto
naturalista, há primazia do corpo, que se altera a despeito das perturbações sentimentais de Ana Rosa.
Alternativa E: correta – gabarito. O trecho narra como Ana Rosa se vê diante da mudança de seu
corpo de um estado para outro, uma vez que ela está se tornando mulher. As forças da natureza se
sobrepõem.

Gabarito: E.

67. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 3º Provão de Bolsas
ESA) Leia o trecho para responder à pergunta.

“Capitu quis que lhe repetisse as respostas todas do agregado, as alterações do gesto e até a
pirueta, que apenas lhe contara. Pedia o som das palavras. Era minuciosa e atenta; a narração e o
diálogo, tudo parecia remoer consigo. Também se pode dizer que conferia, rotulava e pregava na
memória a minha exposição. Esta imagem é porventura melhor que a outra, mas a ótima delas é

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 177


Profa. Luana Signorelli

nenhuma. Capitu era Capitu, isto é, uma criatura mui particular, mais mulher do que eu era homem.
Se ainda o não disse, aí fica. Se disse, fica também. Há conceitos que se devem incutir na alma do
leitor, à força de repetição.”
ASSIS, Machado de. Dom Casmurro. Fonte: Domínio Público.
Disponível em: https://tinyurl.com/252vytdn. Acesso em: 19 mar. 2021.

O trecho acima é extraído de um romance realista. O que é correto inferir quanto ao narrador?
a) Trata-se de um narrador em primeira pessoa, que admite sua insegurança juvenil frente à parceira
que, segundo ele, revela ser uma pessoa esperta e intuitiva.
b) O narrador em primeira pessoa relata a história a partir do ponto de vista do agregado, o meio-
termo, que transita na relação do jovem casal.
c) Consiste em um narrador em terceira pessoa e é o típico contador de histórias do Realismo,
adotando uma perspectiva imparcial e impessoal.
d) A metalinguagem, uma das principais características estilísticas de Machado de Assis, é ignorada
pelo narrador, completamente apaixonado.
e) O narrador sabe se colocar em um lugar acima da história, podendo narrá-la a partir de uma posição
privilegiada e neutra.

Comentários
Questão de interpretação de texto literário; conhecimento do movimento literário e
conhecimento de autor e obra do cânone.
Alternativa A: correta – gabarito. Bentinho é um filho único que sempre viveu no âmbito familiar,
protegido pela mãe viúva. Quando cresce e tem que lidar com a vida adulta, tem dificuldades e
desconfianças. É apaixonado pela amiga de infância, Capitu, quem ele considera mais madura que ele. No
fundo, tenta justificar que Capitu sempre foi maliciosa desde a juventude, tentando comprovar que desde
cedo ela já era uma traidora em potencial.
Alternativa B: incorreta. O agregado é José Dias, mas Bentinho narra a partir de seu próprio ponto
de vista.
Alternativa C: incorreta. O narrador é em primeira pessoa e não em terceira.
Alternativa D: incorreta. A metalinguagem não é ignorada, tanto é que há uma tentativa do
narrador de justificar seu método de narração para o leitor: “Há conceitos que se devem incutir na alma
do leitor, à força de repetição.”
Alternativa E: incorreta. A narração de Bentinho não é neutra, mas sim passional.

Gabarito: A.

68. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – 4º Provão de Bolsas
ESA) O Naturalismo é um movimento literário baseado na comparação do ser humano com um
organismo biológico, a partir da descrição fisiológica. Nesse sentido, assinale o trecho abaixo em que
essa característica pode ser observada.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 178


Profa. Luana Signorelli

a) "O Bom-Crioulo da corveta, sensual e uranista, cheio de desejos inconfessáveis, perseguindo o


aprendiz de marinheiro como quem fareja urna rapariga que estreia na libertinagem o Bom-Crioulo
erotômano da rua da Misericórdia, caindo em êxtase perante um efebo nu (...)"
b) "Queria a educação como nos colégios da Europa, segundo vira em certo pedagogista, onde as
meninas desenvolvem-se física e moralmente como a rapaziada de calças, com uma rapidez
admirável, tornando-se por fim excelentes mães de família (...)".
c) "Assim, eram às vezes muito quentes as sobremesas do Miranda, quando, entre outros assuntos
palpitantes, vinha à discussão o movimento abolicionista que principiava a formar-se em torno da lei
Rio Branco."
d) "Os amigos que me restam são de data recente; todos os antigos foram estudar a geologia dos
campos-santos. Quanto às amigas, algumas datam de quinze anos, outras de menos, e quase todas
creem na mocidade "
e) "Parecia uma decomposição em vida: fedia como coisa podre! Já se não alimentava pela boca; os
seus gemidos eram arrotos de ovo choco, e os humores que ela expelia por toda a parte do corpo
empesteavam a casa inteira. "

Comentários
Questão de interpretação de texto literário; conhecimento de movimentos literários e
identificação de trechos.
Alternativa A: incorreta. Esse é um trecho do romance “O Bom-Crioulo” (1895) do autor naturalista
Adolfo Caminha. São descritas outras características naturalistas: o apelo à sensualidade e ao
homoerotismo.
Alternativa B: incorreta. Esse é um trecho do romance “A normalista” (1893) do autor naturalista
Adolfo Caminha. É mencionado o contexto histórico de educação de mulheres no fim do século XIX.
Alternativa C: incorreta. Esse é um trecho do romance “O cortiço” (1890) do autor naturalista
Aluísio de Azevedo. É abordado o contexto histórico do movimento abolicionista.
Alternativa D: incorreta. Esse é um trecho do romance “Dom Casmurro” (1899) de Machado de
Assis. É uma obra realista e não naturalista.
Alternativa E: correta – gabarito. Esse é um trecho da obra “O homem” de Aluísio de Azevedo.
Uma velha padece de moléstias e a descrição de sua doença mostra-se repugnante.

Gabarito: E.

69. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – SPRINT ESA 2022)
Quanto à Literatura Brasileira, marque a alternativa correta.
a) Padre Antonio Vieira foi um importante escritor barroco, tendo escrito poesias de vários tipos, como
satírica e religiosa.
b) Gregório de Matos escreveu “Sermão da Sexagenária”, uma obra confessional jesuítica conhecida
pela metalinguagem.
c) Aluísio de Azevedo foi um escritor realista brasileiro, cujas obras iniciais eram objetivas e depois se
tornam subjetivas.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 179


Profa. Luana Signorelli

d) Raul Pompeia foi o principal escritor realista, tendo produzido a obra-prima sobre sua infância,
“Crônica de saudades”.
e) Machado de Assis foi um ícone do Realismo Brasileiro, apesar de suas primeiras obras seguirem
tendência romântica.

Comentários
Questão teórica de autores e obras do cânone/conhecimento do movimento literário. Observação:
é comum a banca cobrar vários autores e movimentos literários em uma mesma questão. Trata-se da
questão coringa.
Alternativa A: incorreta. Padre Antonio Vieira escreveu prosa (sermões e cartas). O importante
poeta barroco brasileiro, que escreveu poesia satírica e religiosa, foi Gregório de Matos.
Alternativa B: incorreta. O autor do “Sermão da Sexagenária” é Padre Antonio Vieira.
Alternativa C: incorreta. Foi um escritor naturalista e não realista.
Alternativa D: incorreta. O principal escritor realista brasileiro foi Machado de Assis.
Alternativa E: correta – gabarito. A produção machadiana consta de duas fases: a primeira é juvenil
e romântica, ao passo que a segunda é madura e realista.

Gabarito: E.

70. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – SPRINT ESA 2022)
Sobre as obras e os autores do Realismo-Naturalismo no Brasil é correto afirmar que
a) “O Cortiço” é um romance naturalista machadiano, em que o protagonista João Romão recebe
ironicamente uma medalha de condecoração pela causa abolicionista.
b) “Dom Casmurro” é um romance escritor em primeira pessoa, o que faz com que o ponto de vista
dessa obra seja ambíguo, revelando o psicologismo das personagens.
c) “O mulato” é um romance escritor por Raul Pompeia, sendo que o protagonista Raimundo consegue
se casar com a amada Ana Rosa.
d) “Memórias póstumas de Brás Cubas” é um romance escritor a partir de um foco narrativo objetivo,
que serve justamente para criticar os comportamentos burgueses.
e) “O alienista” é um romance cujo protagonista é Simão Botelho, um médico renomado que testa em
si a vacina que seria cura para toda a humanidade.

Comentários
Questão teórica de autores e obras do cânone/conhecimento do movimento literário.
Alternativa A: incorreta. Aluísio de Azevedo é o autor de “O cortiço”, um romance naturalista.
Machado de Assis é um escritor realista e autor de outras obras, como “Memórias póstumas de Brás
Cubas”, por exemplo.
Alternativa B: correta – gabarito. Embora seja um romance realista, um dos questionamentos do
próprio livro é quanto à verossimilhança. Lembrando que a metalinguagem também é uma característica
do estilo machadiano.
Alternativa C: incorreta. Foi um romance escritor por Aluísio de Azevedo e não Raul Pompeia.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 180


Profa. Luana Signorelli

Alternativa D: incorreta. Cuidado: foi escritor a partir de um foco narrativo subjetivo, pois é
composto na primeira pessoa do singular. Justamente porque Brás Cubas é um narrador-defunto é que
Machado de Assis, enquanto autor, consegue criticar os comportamentos da classe burguesa, sendo Brás
Cubas um típico representante dela.
Alternativa E: incorreta. Não é um romance, mas sim uma novela. O protagonista de “O alienista”
é Simão Bacamarte; Simão Botelho é um personagem do romance ultrarromântico português “Amor de
perdição”, de Camilo Castelo Branco.

Gabarito: B.

71. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – SPRINT ESA 2022)
Membro da elite, desde a infância judiava do escravo Prudêncio. Na adolescência, conheceu a partir
da cortesã Marcela que os seres humanos se relacionam por interesse. Na fase adulta, mantém
adultério com Virgília, mesmo ela sendo casada com Lobo Neves. Ela engravida, mas perde o filho. O
personagem aludido é:
a) José Dias.
b) Bentinho.
c) Brás Cubas.
d) Quincas Borba.
e) Rubião.

Comentários
Questão de conhecimento de obra do cânone.
Alternativa A: incorreta. José Dias é um personagem de “Dom Casmurro”. Ele é um agregado que
chega na fazenda do pai de Bentinho, alegando ser um médico homeopata. Como cuida de uma escrava
e ela convenientemente se cura, todos acreditam em sua afirmação e ele ganha status e reconhecimento
por isso. É convidado a permanecer mais tempo na fazenda, como recompensa, mas acaba ficando lá a
vida toda, aproveitando-se da situação.
Alternativa B: incorreta. Bentinho é o protagonista e narrador em primeira pessoa de “Dom
Casmurro”. É um homem inseguro e mimado pela mãe. Vai ao seminário, mas consegue sair de lá, pois
estava apaixonado por Capitu e queria se casar com ela. Quando conquista o que deseja, acaba por viver
um relacionamento obcecado e cheio de paranoias, pois na verdade vive perseguido pelo ciúme.
Alternativa C: correta – gabarito. Brás Cubas é uma personagem presente tanto no romance
“Memórias póstumas de Brás Cubas” quanto em “Quincas Borba”. O comande teórico se remete ao
enredo do primeiro. Brás Cubas nunca se casou, mas se vê envolvido em um triângulo amoroso.
Alternativa D: incorreta. Quincas Borba é uma personagem presente tanto no romance “Memórias
póstumas de Brás Cubas” quanto em “Quincas Borba”. Trata-se de um filósofo que especula a filosofia da
Humanitas.
Alternativa E: incorreta. Rubião é amigo de Quincas Borba. Quando o filósofo falece, herda dele
todo sua fortuna. Sendo um novo rico, oportunistas se aproximam dele. Acaba o romance de “Quincas
Borba” falido e louco.

Gabarito: C.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 181


Profa. Luana Signorelli

72. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – SPRINT ESA 2022) O
principal representante do teatro naturalista brasileiro é:
a) Artur Azevedo.
b) Aluísio de Azevedo.
c) Raul Pompeia.
d) Adolfo Caminha.
e) Machado de Assis.

Comentários
Questão de conhecimento de autores e obras do cânone/conhecimento do movimento literário.
Alternativa A: correta – gabarito. Artur Azevedo (São Luís, 1855 — Rio de Janeiro, 1908) foi um
dramaturgo, comediógrafo, crítico e jornalista brasileiro. Foi um dos fundadores da Academia Brasileira
de Letras junto com seu irmão, Aluísio de Azevedo. O principal gênero escrito por ele foi o teatro, mas
escreveu também contos e poesias. Hoje em São Luís o Teatro Arthur Azevedo é nomeado em sua
homenagem.
Alternativa B: incorreta. Cuidado: Aluísio de Azevedo foi irmão de Artur Azevedo. Foi um grande
representante da prosa naturalista brasileira e não do teatro.
Alternativa C: incorreta. Raul Pompeia é um escritor que mescla vários estilos, mas pela crítica
literária ele é considerado realista.
Alternativa D: incorreta. Adolfo Caminha é um escritor naturalista que escreveu prosa. Por
exemplo, os romances “A normalista” e “O Bom-Crioulo”.
Alternativa E: incorreta. Machado de Assis é um escritor realista e não naturalista. Escreveu
predominantemente prosa, sendo conhecido pelos seus romances e contos.

Gabarito: A.

73. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – SPRINT ESA 2022) Leia
o trecho abaixo para responder à questão.

CAPÍTULO 95
Flores de antanho
Onde estão elas, as flores de antanho? Uma tarde, após algumas semanas de gestação, esboroou-
se todo o edifício das minhas quimeras paternais. Foi-se o embrião, naquele ponto em que se não
distingue Laplace de uma tartaruga. Tive a notícia por boca do Lobo Neves, que me deixou na sala, e
acompanhou o médico à alcova da frustrada mãe. Eu encostei-me à janela, a olhar para a chácara,
onde verdejavam as laranjeiras sem flores. Onde iam elas as flores de antanho?
ASSIS, Machado de. Memórias póstumas de Brás Cubas. Fonte: Domínio Público.
Disponível em: https://tinyurl.com/j98v32vw. Acesso em: 09 abril 2021.

O termo “antanho” significa outrora, antigamente. A partir da visão global da obra, depreende-se que

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 182


Profa. Luana Signorelli

a) é estabelecida uma situação temporal entre passado e presente, e por meio da obsessão com as
flores de antanho o narrador se distancia do seu problema real.
b) o narrador encara positivamente o ocorrido, tentando consolar a família, seu cunhado e a irmã
depois da perda do filho prematuro.
c) a intertextualidade é o foco principal, a partir do qual o narrador faz uma digressão para chegar às
teorias cientificistas naturalistas.
d) as flores são uma metáfora de esperança para o filho vindouro, cuja chegada é comemorada entre
os amigos íntimos, especialmente Lobo Neves.
e) é evidente o pessimismo presente no trecho, pois as flores representam o luto diante da partida de
um ente querido, como é o caso do sobrinho.

Comentários
Questão de interpretação de texto literário; conhecimento de obra do cânone e conhecimento de
movimentos literários.
Alternativa A: correta – gabarito. Esse é um traumático capítulo no enredo do romance, em que
Brás Cubas vai narrar a dor de ter perdido um possível filho. Então, ele se distancia do seu problema
presente, a partir de uma das típicas características estilísticas machadianas que é a digressão.
Alternativa B: incorreta. Não positivamente, mas sim indiferentemente. Lobo Neves não é seu
cunhado nem Virgília é sua irmã, mas sim sua amante.
Alternativa C: incorreta. A intertextualidade é, sim, um dos traços do estilo machadiano, mas ela
não está presente nesse trecho. Trata-se do diálogo entre autores e obras, o que não se verifica.
Alternativa D: incorreta. As flores são uma metáfora da efemeridade da vida, pois o filho não
vingou. Lobo Neves não é amigo íntimo de Brás Cubas. Pelo contrário: ambos disputam a mesma mulher,
Virgília.
Alternativa E: incorreta. Tudo está certo, mas a partida é do filho e não do sobrinho.

Gabarito: A.

74. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – SPRINT ESA 2022)
Machado de Assis é um escritor conhecido por aproveitar personagens em mais de um romance. Isso
ocorre por exemplo com:
a) Brás Cubas e Simão Bacamarte.
b) Quincas Borba e Conselheiro Aires.
c) Cândido Neves e Quincas Borba.
d) Bentinho e Conselheiro Aires.
e) Quincas Borba e Prudêncio.

Comentários
Questão de conhecimento de autores e obras do cânone.
Alternativa A: incorreta. Simão Bacamarte é um personagem de uma novela e não de um romance,
no caso, de “O Alienista”.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 183


Profa. Luana Signorelli

Alternativa B: correta – gabarito. Quincas Borba é um personagem que aparece tanto em


“Memórias póstumas de Brás Cubas” quanto em “Quincas Borba”, que leva seu próprio nome, e o
Conselheiro Aires é um personagem que aparece tanto em “Esaú e Jacó” quanto em “Memorial de Aires”.
Trata-se de um traço estilístico machadiano que é a intertextualidade interna.
Alternativa C: incorreta. Cândido Neves Bacamarte é um personagem de um conto e não de um
romance, no caso, “Pai contra mãe”.
Alternativa D: incorreta. Bentinho é um personagem que aparece em um único romance, no caso,
“Dom Casmurro”.
Alternativa E: incorreta. Prudêncio é um personagem que aparece em um único romance, no caso,
“Memórias póstumas de Brás Cubas”.

Gabarito: B.

75. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – SPRINT ESA 2022) Leia
o trecho abaixo para responder ao que se pede.

Naquela mulata estava o grande mistério, a síntese das impressões que ele recebeu chegando
aqui: ela era a luz ardente do meio-dia; ela era o calor vermelho das sestas da fazenda; era o aroma
quente dos trevos e das baunilhas, que o atordoara nas matas brasileiras; era a palmeira virginal e
esquiva que se não torce a nenhuma outra planta; era o veneno e era o açúcar gostoso; era o sapoti
mais doce que o mel e era a castanha do caju, que abre feridas com o seu azeite de fogo; ela era a
cobra verde e traiçoeira, a lagarta viscosa, a muriçoca doida, que esvoaçava havia muito tempo em
torno do corpo dele, assanhando-lhe os desejos, acordando-lhe as fibras embambecidas pela saudade
da terra, picando-lhe as artérias, para lhe cuspir dentro do sangue uma centelha daquele amor
setentrional, uma nota daquela música feita de gemidos de prazer, uma larva daquela nuvem de
cantáridas que zumbiam em torno da Rita Baiana e espalhavam-se pelo ar numa fosforescência
afrodisíaca.
AZEVEDO, Aluísio. O cortiço. Fonte: Domínio Público.
Disponível em: https://tinyurl.com/9j7ar5ff. Acesso em: 27 abril 2021.

O excerto do romance acima pode ser considerado naturalista por causa de várias características,
EXCETO:
a) a visão do homem como ser biológico.
b) a primazia dos sentidos e do erotismo.
c) o rigor formal e o pessimismo no amor.
d) o excesso de descrição e detalhes.
e) o determinismo do homem como fruto do meio.

Comentários
Questão de interpretação de texto literário; conhecimento do movimento literário e
conhecimento de autores e obras do cânone.
Alternativa A: correta. No caso, todas as metáforas ligando Rita Baiana com elementos da fauna e
flora brasileira indicam que ela é um ser orgânico e o homem atraído por ela é levado por seu ímpeto
instintivo.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 184


Profa. Luana Signorelli

Alternativa B: correta. Os sentidos como olfato e paladar são atiçados e Rita Baiana é descrita de
um modo bem sensual.
Alternativa C: incorreta – gabarito. Embora o pessimismo fosse uma tendência do fim do século
XIX, ele esteve mais presente em movimentos literários como Realismo e Simbolismo, e o rigor formal é
uma característica parnasiana. No trecho acima, não há pessimismo no amor, mas sim uma descrição de
como o português Jerônimo sentia-se atraído de corpo e alma por Rita Baiana.
Alternativa D: correta. Tecnicamente é o que ajuda a conferir verossimilhança a textos naturalistas.
Alternativa E: correta. Porque o português Jerônimo encontrava-se em terra brasileira, quente e
tropical, é que ele se apaixona por Rita Baiana. Trata-se de uma das teorias do fim do século XIX.

Gabarito: C.

76. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – SPRINT ESA 2022)
Quanto ao Realismo Português, faz parte da terceira fase da produção de Eça de Queirós o romance:
a) Prosas bárbaras.
b) O crime do Padre Amaro.
c) Os Maias.
d) A cidade e as serras.
e) A ilustre casa de João Romão.

Comentários
Questão teórica de conhecimento de autores e obras do cânone.
Alternativa A: incorreta. São textos da primeira fase, ainda influenciados pela idealização dos
românticos.
Alternativa B: incorreta. É um romance da segunda fase. No caso, a instituição da Igreja Católica
está sendo criticada.
Alternativa C: incorreta. É um romance da segunda fase. Trata-se de um longo romance épico que
conta a história de uma família por gerações, marcado por críticas e denúncias de comportamento, como
relacionamentos incestuosos.
Alternativa D: correta – gabarito. Obra publicada em 1901, um ano depois da morte do autor.
Trata-se de uma obra da terceira e última fase de sua produção, considerada a mais madura. Esse romance
busca a conciliação entre o mundo urbano e tecnológico de Paris e o agrário e simples de Tormes. Jacinto
é uma personagem que passa por transformações até chegar numa solução.
Alternativa E: incorreta. O título da obra está errado. “A ilustre casa de Ramires” é o nome certo
do romance que faz parte da terceira fase de Eça de Queirós.

Gabarito: D.

77. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – SPRINT ESA 2022)
Quanto aos movimentos literários do Naturalismo e Realismo, assinale a alternativa INCORRETA.
a) Embora Aluísio de Azevedo seja o principal escritor naturalista brasileiro, outros nomes que podem
ser citados nessa mesma estética são o do seu próprio irmão e de Adolfo Caminha.

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 185


Profa. Luana Signorelli

b) Um romance fundamental para o Realismo foi “Memórias póstumas de Brás Cubas”, que introduziu
o Realismo no Brasil e dividiu a carreira machadiana, passando da fase romântica para a realista.
c) No Brasil, Machado de Assis foi o escritor realista mais conhecido, embora Raul Pompeia também
tenha sido um escritor contemporâneo relevante.
d) Em Portugal, o Realismo ocorreu tanto na prosa quanto na poesia, sendo que os principais
representantes foram, respectivamente, Eça de Queirós e Antero de Quental.
e) A principal obra de Raul Pompeia é “Uma tragédia no Amazonas”, que conta a história de como o
menino Sérgio presenciou um incêndio em seu colégio interno.

Comentários
Questão teórica de conhecimento de autores e obras do cânone; conhecimento do movimento
literário.
Alternativa A: correta. O irmão de Aluísio de Azevedo é Artur Azevedo, que era dramaturgo, tendo
escrito obras como “A capital federal”. Já Adolfo Caminha escreveu “O Bom-Crioulo”, romance em que
tratava do negro Amaro, um marinheiro o qual se apaixona por Aleixo.
Alternativa B: correta. É importante lembrar que o início da carreira de Machado de Assis ainda foi
marcado pelas ideias do Romantismo Tardio, aquele que perdurou na segunda metade do século XIX.
Então, “Memórias póstumas de Brás Cubas” é um romance extremamente importante, entre outros
aspectos, porque representa esses dois marcos.
Alternativa C: correta. Raul Pompeia foi um escritor contemporâneo de Machado de Assis, que
acabou sendo obscurecido por ele. Isso porque Raul Pompeia viveu menos e produziu em menor
quantidade.
Alternativa D: correta. Eça de Queirós escreveu importantes romances realistas, como por
exemplo “O primo Basílio” e Antero de Quental escreveu sonetos, como “Nirvana.”
Alternativa E: incorreta – gabarito. A principal obra de Raul Pompeia é “O Ateneu: crônica de
saudades” (1888).

Gabarito: E.

78. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – SPRINT ESA 2022) Uma
das principais características do estilo machadiano é a metalinguagem. Identifique o trecho no qual
ela foi aplicada.
a) “Os policiais, vendo que ela se não despachava, desembainharam os sabres. Bertoleza então,
erguendo-se com ímpeto de anta bravia, recuou de um salto e, antes que alguém conseguisse alcançá-
la”
b) “(...) contava o Egito e os seus milhares de séculos, sem se perder nos algarismos; tinha a cabeça
aritmética do pai. Eu, posto que a ideia da paternidade do outro me estivesse já familiar, não gostava
da ressurreição.”
c) “Quaisquer que fossem as cores, eram tintas novas, tábuas novas, uma reforma que ele, mais por
economia que por afeição, não quisera fazer; mas a afeição valia muito. Agora que ia trocar de tabuleta
sentia perder algo do corpo (...)”

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 186


Profa. Luana Signorelli

d) “Era convidá-lo a sair da própria pele. Política valia tudo. Que também houvesse política lá fora,
sim; mas que tinha ele com ela? Teófilo não sabia nada do que ia por fora, exceto a nossa dívida em
Londres, e meia dúzia de economistas.”
e) “(...) mas enfim a melhor, se devemos falar a linguagem usual. Se, porém, empregarmos outra
sublime, a melhor parte foi a restante, como eu terei honra de lhes dizer nas poucas páginas deste
livro.”

Comentários
Questão de conhecimento de autores e obras do cânone/identificação de trechos.
Alternativa A: incorreta. É um trecho de “O cortiço”, romance naturalista escritor por Aluísio de
Azevedo.
Alternativa B: incorreta. É um trecho de “Dom Casmurro”, que enfatiza o ressentimento que tem
Bentinho contra Ezequiel, seu filho que ele acredita não ser dele, mas sim de Escobar. Quando o filho volta
de uma longa expedição, ele lhe dedica rancor e não carinho.
Alternativa C: incorreta. É um trecho de “Esaú e Jacó”. A depender do modelo de governo vigente
– Monarquia ou República – a tabuleta em cima de uma loja podia se alterar.
Alternativa D: incorreta. Teófilo é um personagem de “Quincas Borba”. Esse trecho é uma análise
comportamental desse político, valendo-se de relações por interesse e conveniência.
Alternativa E: correta – gabarito. É um trecho de “Memórias póstumas de Brás Cubas”.
Metalinguagem é uma função de linguagem quando o código se remete a ele mesmo, no caso, o livro se
autorreferencia.

Gabarito: E.

79. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – Hora da Verdade ESA
2022) Quanto aos seus conhecimentos literários, assinale o que for INCORRETO.
a) O Quinhentismo é uma escola incipiente cuja produção literária é escrita em âmbito colonial.
b) Gil Vicente foi um dramaturgo que escreveu teatro de costumes moralizante e não religioso.
c) O Romantismo Tardio foi uma tentativa de desvencilhamento do idealismo do início da escola.
d) Eça de Queirós é um autor enquadrado tanto no Realismo quanto no Naturalismo, a depender da
obra.
e) Adolfo Caminha foi um escritor realista, tendo publicado seu romance “O Ateneu” com base
biográfica.

Comentários
Alternativa A: correta. Os autores tendiam a ser os próprios colonizadores, com viés eurocêntrico.
Alternativa B: correta. Escritor humanista, sua obra é importante por não se mostrar teocêntrica,
mas sim antropocêntrica.
Alternativa C: correta. Tanto no Brasil quanto em Portugal. Na literatura brasileira, destacaram-se
o condoreirismo e o romance romântico urbano, ao passo que em Portugal as obras de Júlio Dinis.
Alternativa D: correta. A depender da sua fase também.
Alternativa E: incorreta – gabarito. Essas informações se referem a Raul Pompeia.

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Profa. Luana Signorelli

Gabarito: E.

80. (Estratégia Militares 2021 – Questão Autoral – Professora Luana Signorelli – Premonição ESA 2022)
Embora diferentes entre si, o Realismo e o Naturalismo costumam compartilhar entre si o pendor pela
objetividade. Nesse aspecto em particular, eles se diferenciam do Romantismo, movimento anterior,
que costumava valorizar:
a) a defesa da causa social.
b) a evasão da realidade.
c) o pessimismo decadentista.
d) a visão taciturna da vida.
e) o nacionalismo fanático.

Comentários
Alternativa A: incorreta. Apenas o condoreirismo, a terceira geração da poesia romântica, apoiou
o abolicionismo.
Alternativa B: correta – gabarito. A fuga da realidade se relaciona com a visão predominante no
Romantismo: o idealismo. Quando surgem os novos movimentos (Realismo/Naturalismo), ambos se
voltam contra o que consideravam uma alienação.
Alternativa C: incorreta. Apenas o ultrarromantismo (segunda geração da poesia romântica, mal
de século) foi pessimista, mas o decadentismo por sua vez costuma estar mais associado ao Simbolismo.
Alternativa D: incorreta. Essa é uma característica da segunda geração, também chamada de
byronista, e não do Romantismo como um todo.
Alternativa E: incorreta. Não que a primeira geração fosse fanática, mas esse é um aspecto mais
presente nela do que no resto do Romantismo generalizado.

Gabarito: B.

9.0 Referências Bibliográficas


ABAURRE, Maria Luísa M; PONTARA, Marcela. Literatura Brasileira: tempos, leitores e leituras. São Paulo:
Moderna, 2005.
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. Trad. Alfredo Bosi e Ivone Castilho Benedetti. 5. ed. São
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AZEVEDO, Aluísio de. O cortiço. Domínio público. Fonte: https://tinyurl.com/c454sss. Acesso em: 11 fev.
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LOPES, Óscar; SARAIVA, António José. História da Literatura Portuguesa. 13. ed. Porto: Porto Editora,
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AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 188


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MARTINS, Nilce Sant’Anna. Introdução à estilística: a expressividade na língua portuguesa. 4. ed. São
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PEREIRA, Lucia Miguel. Machado de Assis (estudo crítico e biográfico). Brasília: Senado Federal, 2019.
POMPÉIA, Raul. O Ateneu. Rio de Janeiro: Biblioteca Universal Popular, 1963.
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______. Os Maias: episódios da vida romântica. São Paulo: Nova Alexandria, 2000.
SCHWARZ, Roberto. Um mestre na periferia do capitalismo – Machado de Assis. 3. ed. São Paulo: Editora
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TOLSTÓI, Liév. Anna Kariênina. Trad. Rubens Figueiredo. São Paulo: Cosac Naify, 2005.
ZOLA, Émile. Thérèse Raquin. Trad. Sergio Flaksman. São Paulo: Peixoto Neto, 2007.

9.1 Referências Bibliográficas da Imagens


[1] Honoré Daumier – Carruagem de Terceira Classe. Disponível em: https://tinyurl.com/w5k5tfk. Acesso
em: 11 mar. 2020.
[2] A. Thiers – Historia del Consulado y del Imperio, 1879 "Congreso de Viena". Disponível em:
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[3] H. Vernet – Barricade rue Soufflot. Disponível em: https://tinyurl.com/uvxbrrx. Acesso em: 11 mar.
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[4] B. Braqueais – Barricade Voltaire Lenoir Commune Paris 1871. Disponível em:
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[5] Proudhon atelier Nadar BNF Gallica. Disponível em: https://tinyurl.com/umdabnh. Acesso em: 11 mar.
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[6] Karl Marx 001. Disponível em: https://tinyurl.com/t6o66nw. Acesso em: 11 mar. 2020.
[7] Madame Bovary 1857 (hi-res). Disponível em: https://tinyurl.com/uk9tsll. Acesso em: 11 mar. 2020.
[8] Olavo Bilac – Via Láctea. Fonte: Domínio Público. Disponível em: https://tinyurl.com/y5lyhken. Acesso
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[9] Imagem de cérebro. Fonte: Pixabay. Disponível em: https://tinyurl.com/tv5mbcg. Acesso em: 11 mar.
2020.
[10] Puxão de Orelha. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural,
2019. Disponível em: https://tinyurl.com/sgah47c. Acesso em: 11 mar 2020. (Verbete da Enciclopédia;
ISBN: 978-85-7979-060-7).

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 189


Profa. Luana Signorelli

10.0 Considerações Finais

Eu me coloco à disposição de vocês para sanar eventuais dúvidas.


Tenho a meta de responder ao Fórum de Dúvidas, com a qualidade e profundidade exigidas, assim
como podem me encontrar em redes sociais. Além disso, também temos Sala VIP.

Versão Data Modificações Professora


1 05/01/2023 Entrega da primeira versão do texto. Luana Signorelli

Professora Luana Signorelli

/luana.signorelli Professora Luana @profa.luana.signorelli


Signorelli

Luana Signorelli @luanasignorelli1

AULA 04 – REALISMO E NATURALISMO 190

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