Ribeiro Bruno O Me 2013
Ribeiro Bruno O Me 2013
Ribeiro Bruno O Me 2013
Londrina
2013
BRUNO DE OLIVEIRA RIBEIRO
Londrina
2013
Catalogação elaborada pela Divisão de Processos Técnicos da Biblioteca Central da
Universidade Estadual de Londrina
CDU 323.1(=96)
BRUNO DE OLIVEIRA RIBEIRO
BANCA EXAMINADORA
__________________________________________
Orientador: Prof. Dr. Flávio Braune Wiik
Universidade Estadual de Londrina
UEL – Londrina - PR
__________________________________________
Prof. Dr. Simone Becker
Universidade Federal da Grande Dourados
UFGD – Dourados - MS
__________________________________________
Prof. Dr. Fabio Lanza
Universidade Estadual de Londrina
UEL – Londrina - PR
Aos meus pais, Regina e Jofir, pelo apoio e educação que recebi.
Às minhas irmãs, Lari e Leh, por manterem a casa sempre alegre, sejam lá por quais motivos.
Aos amigos, dos quais a família e a namorada não se isentam, que me propiciaram aqueles
importantes momentos em que é necessário esquecer os problemas ao longo da pesquisa, eles
foram bem sucedidos.
Aos companheiros de mestrado em Londrina, professores e técnicos por terem sido tão
receptivos a um sul-mato-grossense, e por terem contribuído com meu aprendizado, muito
obrigado.
Ao Akira, Murilo e “Tiquinho” que certamente tornaram muito mais fácil e agradável o
período que residi em Londrina.
À professora Mariluce Bittar. Tenho certeza que ela não sabe o quanto me ajudou.
Por fim, ao meu orientador, Flávio Braune Wiik, por ter acreditado no projeto de pesquisa e
dado a devida liberdade no meu caminhar. Serei sempre grato.
RIBEIRO, Bruno de Oliveira. O Mo(vi)mento negro no Mato Grosso do Sul: Políticas de
identidade. 2013. 195f. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) – Universidade Estadual
de Londrina, Londrina, 2013.
RESUMO
Esta pesquisa trata sobre o movimento negro de Mato Grosso do Sul em sua interface com
setores do Estado, numa trajetória que forjou políticas públicas de promoção da igualdade
racial. Tem como objetivos reconstruir parte da história do movimento negro sul-mato-
grossense, bem como aferir sua participação na construção dessas políticas públicas. Entre o
final do século XX e o início do século XXI ocorreram algumas mudanças nas políticas
raciais brasileiras, proporcionadas principalmente pela introdução das ações afirmativas para
negros no Ensino Superior, tornando esse período um momento propício às demandas raciais.
Essas políticas, pautadas pelo movimento negro, apresentaram uma crescente politização
dessa identidade cultural no Brasil. Apesar disso, o movimento negro via sua
institucionalização, ainda conserva características prejudiciais à relação entre sociedade civil e
Estado no Brasil. Nesse sentido, observando o movimento negro sul-mato-grossense e sua
relação com o estado na construção de políticas públicas raciais, temos o propósito de
verificar algumas peculiaridades dessa relação que contribuam para análise da sociedade civil
brasileira contemporânea. O levantamento de dados e a investigação ocorreu por meio de
pesquisa bibliográfica, execução de entrevistas semiestruturadas, sendo estas realizadas
principalmente com militantes, e observação participante em uma instituição vinculada ao
movimento negro, o Instituto Luther King. Uma discussão teórica em torno da identidade
negra é realizada com base nos estudos Pós-Coloniais e autores nacionais atuais, sendo a
identidade um elo entre todos os capítulos da pesquisa. Dentre os resultados, temos que, no
Mato Grosso do Sul, as políticas públicas raciais ainda não fazem parte das agendas
governamentais; a exceção das leis estaduais, o estado atua, principalmente, através de uma
pseudo institucionalidade. Entidades do movimento negro até o presente, atuam de forma que
não contribuem para uma relação mais democrática entre a sociedade civil e o Estado no
Brasil que, diga-se de passagem, ainda sofre com uma forte personalização das relações entre
movimento negro e setores do estado.
ABSTRACT
This research deals with the black movement of Mato Grosso do Sul in its interface with state
sectors , in a forged path of public policies promoting racial equality . It aims to reconstruct
the history of the black movement of Mato Grosso do Sul, as well as assess their participation
in the construction of these public policies . The late twentieth century and early twenty-first
century brought some changes in racial politics in Brazil , provided mainly by the
introduction of affirmative action for blacks in higher education , making this period a time
conducive to racial demands . These policies , guided by the black movement showed an
increasing politicization of this cultural identity in Brazil . Nevertheless , the black movement
via its institutionalization , still retains characteristics detrimental to the relationship between
civil society and state in Brazil . In this sense , observing the lack bmovement in Mato Grosso
do Sul and its relationship with the state in the construction of racial policies , the purpose is
to verifyi some peculiarities of this relationship that contribute to the analysis of
contemporary Brazilian society . Data collection took place by means of literature ,
performing structured interviews , which were carried out primarily with militants , and
participant observation in an institution linked to the black movement , the Institute Luther
King . A theoretical discussion around the black identity is performed based on Postcolonial
studies and current national authors , being identity a link between all chapters of the research.
Among the results , we have that, in Mato Grosso do Sul, the racial policies are not yet part of
the government agenda; except to state laws , the state operates mainly through a pseudo
institutions . Entities of the black movement still act in a way that don't contribute to a more
democratic relationship between the state and civil society in Brazil, which allow us to say
that still suffers from a strong personalization of relations between black movement and state
sectors
Keywords: Mato Grosso do Sul. Identity. Civil society. Black movement. Public policies
LISTA DE FOTOS
CAPÍTULO I
1 QUESTÕES PRELIMINARES. .................................................................................. 13
1.1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 13
1.2 METODOLOGIA................................................................................................................. 19
1.2.1 Tratamento dos Dados .................................................................................................... 23
1.3 ESTUDOS PÓS-COLONIAIS E IDENTIDADE ......................................................................... 25
1.3.1 Questão Racial ................................................................................................................ 35
CAPÍTULO II
2 MATO GROSSO (DO SUL): PRESENÇA NEGRA E IDENTIDADE
REGIONAL................................................................................................................... 46
2.1 O POVOAMENTO BRANCO NO MATO GROSSO .................................................................. 49
2.2 ESCRAVIDÃO NO SUL DE MATO GROSSO ......................................................................... 52
2.3 GUERRA DO PARAGUAI (1864 – 1870): O REGIONAL E O RACIAL DO CONFLITO ............. 61
2.4 O DIVISIONISMO E A DIVISÃO DO ESTADO ....................................................................... 65
2.5 DO ESTADO MODELO A GOLPES POLÍTICOS ..................................................................... 68
2.6 MATO GROSSO DO SUL: O FORJAR DE UMA IDENTIDADE REGIONAL ............................... 70
CAPÍTULO III
3 SOCIEDADE CIVIL E MOVIMENTO NEGRO: O CASO SUL-MATO-
GROSSENSE................................................................................................................. 79
3.1 UMA DIFERENCIAÇÃO ENTRE SOCIEDADE CIVIL E MOVIMENTO SOCIAL ......................... 79
3.1.2 Especificidades do Caso Brasileiro na Análise da Sociedade Civil................................ 87
3.2 O PROCESSO DE (RE) CRIAÇÃO DA SOCIEDADE CIVIL NO BRASIL PÓS-DITADURA .......... 90
3.2.1 Aspectos do Movimento Negro Contemporâneo no Brasil ........................................... 95
3.3 SOCIEDADE CIVIL “NEGRA” SUL-MATO-GROSSENSE .................................................... 100
3.4 INSTITUTO LUTHER KING: UMA ENTIDADE DE TERCEIRO SETOR................................... 119
CAPÍTULO IV
4 POLÍTICAS PÚBLICAS RACIAIS NO MATO GROSSO DO SUL.................... 149
4.1 POR POLÍTICA PÚBLICA ENTENDEMOS:.......................................................................... 150
4.2 CENÁRIO NACIONAL DAS POLÍTICAS PÚBLICAS RACIAIS ............................................... 156
4.3 CENÁRIO SUL-MATO-GROSSENSE DAS PÚBLICAS RACIAIS ............................................ 161
4.3.1 MS e Campo Grande: Plano de Promoção da Igualdade Racial................................... 168
4.4 SOCIEDADE CIVIL “NEGRA” E O ESTADO NO MATO GROSSO DO SUL ............................ 171
CAPÍTULO V
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 179
CAPÍTULO I
1 QUESTÕES PRELIMINARES
Tolerar a existência do outro, e permitir que ele seja diferente, ainda é muito
pouco. Quando se tolera, apenas se concede e essa não é uma relação de
igualdade, mas de superioridade de um sobre o outro. Deveríamos criar uma
relação entre as pessoas, da qual estivessem excluídas a tolerância e a
intolerância (José Saramago).
1.1 INTRODUÇÃO
quanto no Mercado, ou seja, ela tem um potencial ofensivo e não apenas de se defender.
Atentos a essa tensão teórica, observamos a sociedade civil negra sul-mato-grossense,
sobretudo o ILK.
Apesar da importância teórica da temática da sociedade civil no Brasil, a
relevância deste estudo se assenta no fato de não haver nenhuma publicação que analise o
movimento negro estadual especificamente, apesar de ser assunto marginal em algumas outras
pesquisas. As políticas públicas de combate à desigualdade do MS permanecem sendo
desconhecidas do público acadêmico, a exceção da política de ação afirmativa da UEMS
(CORDEIRO, 2008). Mais do que isso, o papel do movimento negro na construção dessas
políticas é uma incógnita.
Além da ausência de outras publicações, temos a oportunidade de olhar para
este objeto e poder visualizar de que maneira os avanços proporcionados pelo movimento
negro na esfera nacional refletem na relação entre sociedade civil negra e o estado, ou nas
políticas públicas da esfera estadual. Ou seja, como o estado de MS absorve demandas
oriundas, a princípio, da esfera nacional.
A pesquisa foi realizada através de entrevistas com militantes do estado e,
de uma revisão bibliográfica onde, (re) traçamos aspectos da institucionalização da sociedade
civil negra, a começar pela primeira instituição do movimento negro – o Grupo TEZ, seguido
do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos do Negro (CEDINE) entre outras. Para uma
maior profundidade da relação entre estado, município, movimento negro, bem como as inter-
relações entre as instituições da sociedade civil que qualificamos de negra, optamos por fazer
uma observação participante numa instituição que possui vínculo com movimento negro:
Instituto Luther King – ILK. A pesquisa de campo foi realizada entre julho de 2012 e
fevereiro de 2013; as entrevistas foram realizadas entre outubro de 2012 e março de 2013,
sendo que em outubro realizamos uma entrevista teste com Aleixo Paraguassú Netto.
Desta maneira, destacamos que a pesquisa é de cunho qualitativo, baseada
em entrevistas semiestruturadas e observação participante, com o intuito de verificar a relação
entre movimento negro e estado sob o prisma do movimento negro. As entrevistas foram
utilizadas, principalmente, para retomar aspectos históricos do movimento negro, suas
primeiras instituições, e lideranças que atuaram em algum momento no governo local. A
observação participante, centralizada no ILK, tinha como objetivo verificar as articulações de
uma entidade de terceiro setor, que mantém laços ativos com movimento negro local.
Em um curto período de tempo foram realizadas as entrevistas,
concomitantemente, eram feitas a observação participante no ILK e as transcrições das
16
entrevistas. O rico material das entrevistas é passível de novos estudos, principalmente devido
seu uso limitado neste trabalho, enquanto que o ILK, no período de minha observação, estava
passando por mudanças na diretoria da instituição, e acredito que os desdobramentos desse
período de mudança poderão ser analisados futuramente, com uma nova observação.
O desenho desse projeto nasce após aprovação no mestrado (2011), uma vez
que, o projeto aprovado, inicialmente, propunha uma discussão na esfera nacional das
políticas públicas raciais no governo Lula. O fato do orientador, Flávio Braune Wiik, ter
sugerido “estudar o movimento negro no MS”, muito me agradou, já que, possuía um contato
com parte da militância negra no estado, e conhecimento de que não havia publicações em
que essa temática fosse o objeto de pesquisa.
O fato de ser ex-aluno do ILK me auxiliou, e através dele participei do
Conselho Estadual de Defesa dos Direitos do Negro (CEDINE) e do Conselho Municipal dos
Direitos do Negro (CMDN), um pouco mais de um ano no primeiro, e de seis meses no
segundo, interrompidos pela aprovação no mestrado. Nesse período que abrange minha
entrada no ILK (2006) e minha aprovação no mestrado (2011), participei dos Conselhos e de
eventos promovidos tanto pelo movimento negro, quanto pela Universidade, que debatiam
principalmente as ações afirmativas. Essas participações em eventos, nos Conselhos e Fóruns,
me possibilitaram conhecer os principais militantes do movimento negro sul-mato-grossense,
permitindo a adoção do recorte regional, e das técnicas de pesquisa selecionadas.
Foi realizado um novo projeto, visto que toda metodologia anterior, pautada
basicamente em análise documental e de discursos políticos, não fazia jus à nova realidade a
ser pesquisada. Logo, foram definidos tanto a observação participante, como as entrevistas
semiestruturadas, somadas a uma revisão bibliográfica. Acreditamos que estas técnicas
dariam conta de compor um cenário nacional e regional, mas também, uma maior
profundidade na questão racial no MS.
É de recorte dessa pesquisa, o movimento negro urbano (excluindo assim, as
políticas direcionadas aos quilombolas), entendendo as políticas públicas raciais, tanto fruto
da relação entre sociedade civil negra sul-mato-grossense com estado, como também,
desdobramentos do cenário nacional de avanço das políticas de promoção da igualdade racial.
A opção teórica se manteve. A escolha pelos Estudos Pós-Coloniais facilita
por ser uma leitura teórica que já realizava antes do mestrado, além de proporcionar uma
discussão arregimentada no conceito de identidade. Vários autores discutem identidade nos
estudos pós-coloniais, e este aporte teórico permite que se possa questionar o lugar de
enunciação dos discursos, as falas de identidades subalternas, e suas reivindicações por
17
intervenção do estado ou, de um grupo ligado a elite regional, com intuito de criar uma
identidade sul-mato-grossense (COSTA, 2006, DAMATTA, 2004).
No terceiro capítulo, optamos por trazer o movimento negro para o centro
do debate, com uma discussão teórica que justifique a opção pelo conceito de sociedade civil
em detrimento do conceito de movimento social, mesmo que ainda mantendo a utilização do
conceito “movimento negro”. Movimento negro, além de ser um conceito analítico também é
um conceito nativo, e representa toda uma articulação de instituições e discursos, e
atualmente, é mais bem explicado conceitualmente por sociedade civil.
Ainda no terceiro capítulo são apresentados os dados recolhidos durante a
pesquisa de campo. Eles expõem a institucionalização do movimento negro, a criação das
primeiras instituições, mas também trazem dados da observação participante no Instituto
Luther King. Estes colaboraram de maneira ímpar para o entendimento das articulações entre
as entidades do movimento negro com o poder público e privado, uma vez que o ILK é uma
instituição de terceiro setor.
O quarto capítulo, tem como foco as políticas públicas de recorte racial do
estado, como ocorreu à construção e, consequentemente a implementação dessas políticas.
Tentamos demonstrar como os planos de intervenção são edificados e abandonados pelo
poder público, tornando assim, a lei, a única garantia de continuidade de política pública
racial, já que, as demais alternativas, o estado simplesmente cumpre de maneira muito
precária. E ainda, podemos observar de que maneira se articula as entidades do movimento
negro sul-mato-grossense por essas demandas específicas.
O quinto capítulo são as considerações finais, uma retomada dos capítulos
anteriores com um alinhamento entre teoria e realidade, no que se trata da relação da
sociedade civil negra e o estado sul-mato-grossense, apesar dos negros fazerem parte do
esquecimento imperativo na construção da regionalidade. Ao longo do trabalho utilizamos
“estado” para representar a unidade federativa, quase sempre MS, e utilizamos “Estado” para
nos referir ao conjunto da organização superestrutural da sociedade.
A problemática da dissertação como se nota, é com relação à questão racial
no cenário regional, ou seja, como o negro, o movimento negro e as políticas públicas
regionais se arranjam em suas relações recíprocas, mas também em relação ao estado. Minha
interrogação, a questão central que orienta essa dissertação, consiste em averiguar de que
maneira o estado de MS travou seu debate identitário em torno das políticas públicas de
identidade racial?
19
Sustentamos esta dissertação com base em processos bem mais amplos que
as políticas públicas raciais sul-mato-grossenses, visto que, esta é parte de um processo
nacional de mudança no padrão de relações raciais e, de (re)posicionamento do Estado
brasileiro, que assume desde o segundo mandato FHC, por pressões advindas do movimento
negro, que o racismo e a desigualdade racial são marcantes nas relações sociais no Brasil. No
governo Lula, por sua vez, ocorreu a implementação de várias medidas de combate a
desigualdade racial. Sendo assim, esta pesquisa se insere no âmbito das mudanças sociais com
relação à questão racial brasileira.
Analisando essas políticas e suas construções, pretendemos traçar aspectos
da relação entre sociedade civil negra e o estado no MS, ambos cercados de particularidades,
mas também, com vários aspectos, principalmente da cultura política brasileira. Dessa
maneira, acreditamos que essa pesquisa contribui para que futuros pesquisadores possam
comparar a maneira como o movimento negro de MS atuou no estado, mas também, para uma
sistematização maior da história do movimento negro sul-mato-grossense.
1.2 METODOLOGIA
1
Foram realizados os Jogos Municipais da População Negra, desfile de 26 de agosto, em comemoração ao
aniversário da capital, o Seminário África em sala de aula realizado na FETEMS com participação do
CEDINE. Concurso Beleza Negra de Campo Grande.
21
2
Meu estágio obrigatório do curso de Ciências Sociais e minha monografia se desenvolveram no ILK, e tendo-o
como objeto de investigação.
22
momento da interpretação da cultura nativa, sempre entrelaçado com que se olhou, e ao que se
ouviu no campo, ou seja, aos dados.
A observação participante, parte primordial do fazer antropológico, trouxe-
me uma grande preocupação. Um pensamento sempre me vinha em mente nas anotações do
trabalho de campo, qual seja, até onde, o que vejo, é o que eu quero ver? Ou seja, meu
histórico de ex-aluno e de militante do movimento negro interfere muito na coleta dos dados,
como defendeu Ruth Cardoso (1986).
3
A mesma postura que estamos apresentando metodologicamente, apresentamos nas considerações teóricas.
23
Sociais, as de Santos (2005), Sena (2011) e a tese de Santos (2010), única em Antropologia e
a de maior incisão no movimento negro sul-mato-grossense. Outros trabalhos são realizados
em torno da questão racial, no entanto, sem debater o movimento negro4.
Metodologicamente a opção nessa pesquisa é de situar o lugar social de
onde fala este intérprete, próximo à militância racial no estado, como ex-aluno do ILK, mas
também pesquisador. Como se pode observar, o ILK me propiciou uma aproximação com
militantes do movimento negro, e experiências anteriores de pesquisa, e novas questões
surgiram: qual a contribuição do ILK na construção da identidade negra de seus alunos? Qual
a relação entre o ILK e o movimento negro? E que espécie de interdependência pode-se traçar
da relação tríplice entre movimento negro, ILK e estado? Nem todas as perguntas situam-se
nesse trabalho, muito menos as respostas.
4
Trabalhos como de Dias (2007; 1997), Brito (2001), Moura (2008), Brazil (2002), Marques (2010; 2004),
Silva (2003) entre outros trabalhos.
5
Atualmente os partidos: PT, PMDB e PDT possuem um espaço específico para o debate sobre as questões
raciais.
6
Atualmente Mato Grosso do Sul possui 16 Comunidades negras rurais, a pesquisa de maior fôlego foi realizada
por Santos (2010), uma tese de doutorado em Antropologia.
7
A festa mais conhecida é da Comunidade Tia Eva, em Campo Grande, a Festa de São Benedito em 2013,
estará em sua 94º edição.
8
Dentre os eventos destacam-se o desfile de 26 de agosto, os jogos Municipais e o concurso Beleza Negra,
ambos realizados em novembro.
9
Ver Peirano (1999); Carvalho (2001).
24
que outros autores de maior competência já fizeram. O olhar etnográfico segundo Carvalho
(2001):
[...] foi resultado de um descentramento ocorrido no interior da visão de
mundo ocidental [...] um dos efeitos epistemológicos de consequências
políticas mais profundas desse descentramento foi a separação dos olhares
dos dois sujeitos construídos pela disciplina: o do etnógrafo (o civilizado) e
o do nativo por ele olhado (o primitivo), cujas naturezas pareciam, na
perspectiva de quem olhava, intercambiáveis analiticamente, ao mesmo
tempo que existencialmente incomensuráveis. [...] Muito mais tarde, com a
crescente politização da disciplina a partir das lutas anti-imperialistas e pós-
coloniais, pôde ser sustentado o argumento de que o nativo constrói sua
alteridade segundo o modo em que retruca, de um lugar subalterno, o olhar
do colonizador sobre si (CARVALHO, 2001, p.110-111).
O olhar etnográfico entre estes dois polos citados, apresentam uma vastidão
de embates, uma vez que traz à tona o debate sobre a própria razão de ser da antropologia
enquanto ciência. As formas de resistência nativa, e os processos de ressignificação que os
subalternos realizam faz parte desse novo modelo de olhar antropológico pós-colonial, que
almeja dar visibilidade a histórias pós-coloniais, visando um “deslocamento do lócus da
enunciação” (CARVALHO, 2001), ou como Homi Bhabha (2010) define: “elas formulam
suas revisões críticas em torno de questões de diferença cultural, autoridade social e
discriminação política a fim de revelar os momentos antagônicos e ambivalentes no interior
das “racionalizações” da modernidade” (p.239).
Foi com a intenção de buscar esse olhar (que também é ouvir, visto que
ambos compreendem o processo de apreensão da realidade existente), esta é a lente pela qual
propomos enxergar as relações assimétricas de poder que envolvem movimento negro e o
estado do MS. O “escrever” buscou relacionar os dados empíricos com fenômenos maiores,
como a institucionalização, a difusão do terceiro setor, a demanda por políticas públicas
específicas, principalmente de ação afirmativa, pelo movimento negro no Brasil.
Durante o segundo semestre de 2012, concomitante ao agendamento e a
realização de novas entrevistas foram realizadas as transcrições das que já tinham sido
realizadas. Leituras mais centradas na metodologia e nas especificidades regionais se
concentraram nesse período. No mínimo uma vez por semana, frequentava o ILK, ajudando
em pequenos serviços, e dialogando quase sempre com a coordenação pedagógica, mas
também com os demais funcionários e membros da diretoria quando possível.
Os dados etnográficos foram lidos e relidos, a partir das anotações do
caderno de campo, mas também de documentos, atas e relatórios institucionais que são
apresentados no capítulo III. Os eventos não são abordados na pesquisa, no entanto, eles são a
25
celebração de um trabalho, visto que é o resultado, como no caso dos Jogos da população
negra, organizado pelo CMDN. Ou são de articulação política, como no caso de um evento
realizado com e na FETEMS, no qual selou uma parceria para discussão da lei 10.639/2003
nas escolas do estado. A festa de São Benedito, da Comunidade Tia Eva, é basicamente
cultural, mas é diferente dos eventos, que são efêmeros.
As entrevistas transcritas e os dados etnográficos tiveram que ser costurados
com a teoria dos estudos pós-coloniais e das relações raciais brasileiras com o recorte
específico dessa pesquisa. Esta aproximação contribui com uma discussão teórica sobre os
movimentos sociais e a sociedade civil na contemporaneidade.
A somatória dessas técnicas de pesquisas é uma tentativa de compreensão
do fenômeno estudado com maior profundidade, apesar da realidade objetiva nunca poder ser
captada. Como defendem Denzin e Lincoln (2006):
estaríamos reproduzindo, de novas maneiras, a relação colonial, uma vez que os parâmetros
utilizados ainda consideram a Europa como centro, ou como ponto lógico de comparação com
o resto do mundo não ocidental.
Sérgio Costa (2006) aponta que os estudos pós-coloniais acabam
considerando três blocos interligados de questões: “a crítica ao modernismo, enquanto
teologia da história, a busca de um lugar de enunciação “híbrido” pós-colonial, a crítica à
concepção de sujeito das ciências sociais (p.85)”. Metodologicamente busca-se compreender
a dominação local e produzir resistências.
10
Barth (1998) já apontava que um grupo étnico não deve ser visto como suporte de uma cultura específica,
defendendo que não são as diferenças objetivas determinantes do pertencimento a certo grupo, mas sim, o que
o grupo considera socialmente relevante como critério de pertencimento.
11
Segundo Antônio Sérgio Guimarães, esse termo passou a ser utilizado na literatura acadêmica pela primeira
vez por Charles Wagley em 1952, porém existem registros sobre sua utilização por Arthur Ramos e Roger
Bastide já durante os anos 40 do século XX (GUIMARÃES, 2002,139).
12
De acordo com Bhabha (2006), “é na emergência dos interstícios – a sobreposição e o deslocamento de
domínios da diferença – que as experiências intersubjetivas e coletivas de nação, o interesse comunitário ou
o valor cultural são negociados. De modo que se formam sujeitos nos “entre - lugares”, nos excedentes das
somas das “partes” da diferença” (p.20).
30
13
É importante não esquecer que algumas diferenças acarretam em desigualdades ou exclusão, quando não os
dois (SANTOS, 1999).
31
14
A branquitude é um lugar estrutural de onde o sujeito branco vê aos outros e a si mesmo; uma posição de
poder não nomeada, vivenciada como um lugar confortável em uma geografia social de raça e do qual se pode
atribuir ao outro aquilo que não atribui a si mesmo (FRANKENBURG apud SOVIK, 2009, P.13).
32
15
Importante salientar que os nativos dessa pesquisa são os negros e militantes já imbuídos de um discurso
racial, que é reflexo das atuações no movimento negro sul-mato-grossense, e nacional em alguns momentos.
16
Antes disso, houve muitas luta, e conquistas, no entanto, o conceito passa a ter um uso, em uma polarização
com a ideia de democracia racial. E o movimento passa a acreditar que a solução seria política para as
desigualdades raciais, por isso, esse é o momento da politização da demanda cultural.
33
17
Para Gramsci: “Os grupos subalternos sofrem sempre a iniciativa dos grupos dominantes, mesmo quando se
rebelam e insurgem” (GRAMSCI, 2007, 135).
34
18
J. B. Lacerda no Congresso Universal das Raças em Londres (1911) deu um prognóstico de que a raça negra
levaria um século para desaparecer no país (HOFBAUER, 2006, p.187).
19
É um termo que designa o sentimento de superioridade que uma cultura tem em relação a outras. Consiste em
acreditar que os valores próprios de uma sociedade ou cultura particular devam ser considerados como
universais, válidos para todas as outras (MUNANGA, 2003, 181).
35
20
Antes disso, houve muitas luta, e conquistas, no entanto, o conceito passa a ter um uso, em uma polarização
com a ideia de democracia racial. E o movimento passa a acreditar que a solução seria política para as
desigualdades raciais, por isso, esse é o momento da politização da demanda cultural.
38
Brasil e a Mestiçagem
21
Munanga afirma, que “a “mestiçagem” é para designar a generalidade de todos os casos de cruzamento, e a
miscigenação é entre populações biologicamente diferentes. A mestiçagem supõe um hibridismo cultural de
maior assimilação e a miscigenação o intercurso sexual entre estes diferentes (MUNANGA, 2006).
39
os autores da época, os defeitos e taras transmitidos pela herança biológica (ORTIZ, 1984,
p.21). Em 1888, no prefácio da obra Os Africanos no Brasil, de Nina Rodrigues, Silvio
Romero afirmava categoricamente que era uma vergonha para a ciência no Brasil que ainda
não se consagrava em estudos de línguas e religiões africanas, além de demonstrar com seu
exemplo, o lugar social dos negros e indígenas no imaginário social da época, pois:
[...] nós que temos o material em casa, que temos a África em nossas
cozinhas, como a América em nossas selvas, e a Europa em nossos salões,
nada havemos produzido nesse sentido! É uma desgraça (RODRIGUES,
2010: p.07).
22
Apesar de autores como Manoel Bomfim (1993) terem publicado antes de Gilberto Freyre algumas críticas a
esse pensamento racial, somente com Gilberto Freyre foi possível uma virada na hegemonia do pensamento
racial brasileiro.
40
23
O fetiche da igualdade, para a definição do qual me vali dos conceitos "democracia racial" de Gilberto Freyre
e "homem cordial" de Sergio Buarque de Holanda, são os fatores mediadores de nossas relações de classe,
que têm ajudado a dar uma aparência de encurtamento das distâncias sociais, contribuindo dessa forma para
que situações de conflito frequentemente não resultem em conflito de fato, mas em conciliação (SALES,
1994).
24
Medidas de ação afirmativa já eram propostas do Teatro Experimental do Negro –TEN, desde as décadas de
40 e 50. Propostas surgiram na Convenção Nacional do Negro Brasileiro, realizada pelo TEN em 1945 – 1946
e em algumas edições do jornal O Quilombo (SANTOS, 2007).
41
que a UNESCO patrocinasse uma série de pesquisas no país, para investigar as relações
raciais no Brasil.
A partir de 1940 a UNESCO inicia uma campanha de combate ao ódio
racial, e na década seguinte o Brasil é escolhido para ser o único local de investigação por
parte da UNESCO. Tinham como objetivo verificar a situação dos descendentes de escravos
no Brasil, para poder compara-los, principalmente com os Estados Unidos, onde o conflito
racial era considerado um problema político grave.
O projeto UNESCO envolveu grandes nomes das ciências sociais brasileiras
como: Florestan, Fernandes, Roger Bastide, Fernando Henrique Cardoso, Octavio Ianni,
Oracy Nogueira, Costa Pinto entre outros. As conclusões foram às assimetrias entre a
população negra e a branca, a desigualdade que é imposta aos negros do país no pós-abolição,
e a perversidade do racismo nacional. Sendo assim, configura-se um importante ataque a
ideologia da democracia racial, que a partir de então passa a ser lembrada enquanto mito da
democracia racial brasileira.
25
Através da Executive Order nº 10.925/06/03/1973.
26
Praticamente todos os países do “Terceiro Mundo”– com exceção dos da América Latina – em um dado
momento, aplicaram políticas públicas de ação afirmativa para resolver graves problemas internos decorrentes
42
Constituição Federal Brasileira de 1934, em seu art. 138 b: “Incumbe à União, aos
Estados e aos Municípios nos termos das leis respectivas b) estimular a educação
eugênica” e no Decreto-Lei 7.967/1945: “Atender-se-á, na admissão dos imigrantes,
à necessidade de preservar e desenvolver, na composição étnica da população, as
características mais convenientes da sua ascendência européia [...]”. Além disso, o
primeiro Código Penal da República, revogado em 1941 pelo Código vigente,
criminalizava a prática da capoeira. E não precisamos voltar tão atrás no tempo para
compreendermos os mecanismos perversos da aclamada democracia racial
brasileira: a Lei 3.097/72, do Estado da Bahia, que esteve em vigor até o ano de
1976, exigia que os templos de religião de matriz africana fossem cadastrados na
delegacia de política da região na qual estivessem instalados (RELATÓRIO DO
COMITÊ BRASILEIRO PARA A CONFERÊNCIA DE DURBAN, 2001).
28
Lei de autoria do Deputado Federal Ben-Hur Ferreira (PT-MS) e Esther Grossi (PT-RS). Que estabelece as
diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade
da temática “História e Cultura Afro-Brasileira”.
29
Ver Jaccoud e Beghin (2002), Jaccoud (2008), Heringer (2002).
30
Aprovado através da lei nº 12.288, de 20 de julho de 2010 após 7 anos de tramitação, no entanto, foi
aprovado sem as cotas.
31
Em 09/05/2012 o STF decide por 10 votos a 0, pela constitucionalidade das cotas nas Universidades públicas.
32
Através da lei nº 12.711/2012, sancionada e garante a reserva de 50% das matrículas por curso e turno a alunos
oriundos integralmente do ensino médio público, em cursos regulares ou da educação de jovens e adultos.
44
33
O movimento negro chama suas instituições de entidades, estas instituições estão majoritariamente, sob a
forma de ONGs.
45
35
Durante a entrevista com Ben-Hur Ferreira um caso vivenciado por ele, mas também entre outros militantes
retrata um debate interno do movimento negro quanto a presença de brancos no movimento negro, e a
experiência sul-mato-grossense fez com que o Grupo TEZ defendesse a participação com direito a voto,
enquanto, principalmente, representantes do movimento negro de Goiás defendiam a postura inversa, ou seja,
participação mais sem direito a voto. Debate ocorrido na I Encontro do Negro do Centro-Oeste em 1985 ou
1986. (ENTREVISTA, Ben-Hur Ferreira, 2013).
46
CAPÍTULO II
suplantada por dois golpes políticos infringidos a Harry Amorim Costa (primeiro governador
de MS) e Marcelo Miranda na sequência. Estes dois episódios além de enterrarem o discurso
político do estado modelo, demonstraram alguns vícios políticos, como patrimonialismo e
mandonismo local, fazendo com que nossa elite agroindustrial e política demonstrassem sua
face mais conservadora.
Com este capítulo apresentamos o local do negro na construção da
identidade regional, ou seja, o negro aqui é imaginado como “alguém de fora”, oriundo de
outros estados e de um período pós-abolição. Quanto à política local, ela possui como maior
código político, a defesa da terra. Este ponto polariza nossa elite frontalmente com as
comunidades indígenas, principalmente da etnia guarani, mas também com Quilombolas e o
Movimento Sem-Terra.
Utiliza-se nesse trabalho Anderson (2008) e Bhabha (2010) e seus diálogos
sobre a nação, que apontam para ideia de nação como sendo uma estratégia narrativa, ou
mesmo, como propõe Benedicit Anderson36 (2008), que trabalha o conceito de nação sendo
“uma comunidade política imaginada – e imaginada como intrinsecamente limitada e, ao
mesmo tempo, soberana (p.32)”.
Nos valeremos da discussão realizada pelos autores para explicar parte da
criação de uma identidade sul-mato-grossense, adaptando aspectos da criação de uma nação
para a criação de um estado da federação, visto que Hall (2005) dava margens a outras
diferenciações no âmbito do Estado-nação: “As identidades nacionais não subordinam todas
as outras formas de diferença e não estão livres do jogo do poder” (p.65).
Aproximaremos-nos de dois momentos citados por Bhabha (2010), o
primeiro é dividido em dois aspectos, como parte de uma cisão gerada pela ideia de “povo”,
tratado por ele, como um conceito em disputa, já que se trata de uma “estratégia retórica de
referência social” (p.206). Sendo assim:
36
Para conhecer as críticas de H. Bhabha a obra Comunidades Imaginas de B. Anderson verificar capítulo VIII
de Bhabha (2010).
48
37
O exemplo dos autores são experiências nacionais, o que difere de nosso objeto regional, por isso algumas
citações tratam perspectivas nacionais.
49
É importante observar que o escravo, aqui, não levava a vida das regiões de
monocultura. Era, ao contrário, verdadeiro agregado das famílias, tendo sua
casinha para morar, podendo casar, criar filhos; e, na maioria dos casos, ter
suas poucas cabeças de animais e pequena lavoura de subsistência
(CAMPESTRINI, 2009, p.86).
38
No dia 03 de junho de 2013 iniciou a Marcha dos Povos da Terra, que após caminhar 60 km, chegou a Campo Grande
reivindicando demarcação de terras indígenas e quilombolas e Reforma Agrária. Os movimentos traziam como pauta a
problemática fundiária no estado. Os eventos são desdobramentos da morte do indígena Terena, Gabriel Oziel,
assassinado por policiais durante um conflito por terra em Sidrolândia, município próximo à capital. In:
http://carosamigos.terra.com.br/index/index.php/cotidiano/3293-marcha-pelo-direito-a-terra-sai-em-direcao-a-campo-
grande-ms Acessado 10/07/2013.
54
39
A cidade de Camapuã, primeiro núcleo populacional do sul de Mato Grosso, apesar de também ter registros
históricos da presença de negros escravizados não foi incluída na pesquisa que gerou este livro.
40
Na mita, os indígenas eram sorteados para realizar um período de trabalhos compulsórios, vastamente
utilizado na mineração, após a jornada de trabalho recebia-se uma pequena compensação pelos trabalhos. Na
encomienda, havia uma troca, normalmente realizada com comunidades indígenas inteiras, enquanto o
encomendero utilizava a mão de obra indígena em atividades agrícolas e de extração, ele também era
55
Mulheres negras forras, homens negros forros mulatos (as) e escravos (as)
também fomentavam um pequeno ambulante comércio denominado de
“negros de tabuleiro” (CORRÊA FILHO,1969), o qual era responsável pela
venda de gêneros alimentícios como bolos, doces, mel, pão, banana, fumo e
bebidas, na vila de Cuiabá e nas minas auríferas [...] Entretanto, o
governador de São Paulo, Rodrigo César de Meneses, proibiu esse tipo de
comércio nas minas de Cuiabá, pois achava que os negros (homens e
mulheres) escravos ou forros poderiam comercializar produtos provenientes
de roubo (SANTOS, 2010, p.121).
responsável por oferecer uma educação cristã aos indígenas. A exploração indígena era de concessão da
Coroa espanhola.
56
Não apenas o Senhor de escravos morreu, como após também foi morto a
tiros seu capataz, João Pedro. De acordo com Brazil (2002) durante o processo que logo se
instaurou, devido à gravidade do caso, o genro de Firmiano – Joaquim Ferreira Nobre
atribuiu, o fato a castigos que seu sogro havia imputado a escravas da fazenda. Todos os
envolvidos foram punidos, mas esse caso demonstra bem o teor das relações escravistas
mantidas na região.
Maria do Carmo Brazil (2002) aproveita para combater a tendência
inaugurada por Gilberto Freyre, mas usada ainda por Campestrini (2009) de tratar as relações
escravistas no Brasil de maneira suave, branda: “O mito da suavidade do escravismo no
41
Esta era usada para castigar os que exageravam com bebidas ou comidas e, relatos também mencionam que
foram usadas em minas de diamante.
58
entre 1862 e 1872, pois entre 1864 e 1870 compreende o período tido como Guerra do
Paraguai.
Os dados do censo de 1872, dois anos após o fim da Guerra do Paraguai,
registrou a presença de escravos no sul de Mato Grosso, sendo: 142 escravos em Miranda, de
275 em Corumbá e de 354 em Santana do Paranaíba (CAMPESTRINI E GUIMARÃES,
1991, p.96). A terceira coluna em Santana do Paranaíba e Miranda traz um leve aumento da
população escrava após o censo de 1872, o mesmo não foi possível fazer com a cidade de
Corumbá, por ausência de dados similares. No Brasil de modo geral ocorre esse movimento
devido à quantidade de negros mortos em conflito, “antes da Guerra, os negros eram 31,2 %
da população; depois, essa proporção cai pela metade” (CHIAVENATO, 1980, p.205).
Tabela 1 - Relação da População Livre e Escravizada das Cidades de: Corumbá, Santana do
Paranaíba e Miranda.
Corumbá Santana do Paranaíba Miranda
Estes escravos não eram diferentes dos escravos de outras regiões do país,
ou seja, sofreram com vários castigos físicos e com o terror oriundo de todo o processo de
escravização, mas também, impeliu resistência ao sistema escravista; lutou bravamente sua
guerra contra escravidão, e outra com contornos mais nacionais – a Guerra do Paraguai.
Mesmo com dados da escravidão e os fatos históricos aqui mencionados, o
estado fez-se a opção pelo esquecimento, mesmo não podendo apontar o sul de Mato Grosso
como uma área de grande contingente de escravizados, não se poderia nunca minorar a
presença escrava na região.
61
O conflito ocorre em maior parte nas terras do sul de Mato Grosso, e altera
sensivelmente a fisionomia da região, pois recebe militares de várias regiões do país e muitos
deles acabam ficando em terras atualmente sul-mato-grossenses. Após conflito gera-se um
aumento do povoamento na região42, já que exércitos de vários estados recuam da região e
deixam um vazio de terras, que atraem em seguida, um novo processo de povoamento.
A guerra inicia com a invasão de terras brasileiras, via Província de Mato
Grosso, autorizada pelo presidente paraguaio Solano Lopes. Conflitos ocorrem pelas águas e
por terra e, com um contingente bem maior de soldados, os paraguaios avançam rapidamente,
apreendendo o gado e explorando as regiões invadidas e as áreas próximas para manutenção
do exército, tomam uma grande parte do sul de Mato Grosso sem grandes dificuldades. Uma
ameaça já havia sido feita, ao Império brasileiro em 1864, no entanto, a Província de Mato
Grosso, em sua área fronteiriça ainda se encontrava mal armada.
A princípio o Paraguai necessitava de uma saída para o Oceano para escoar
sua produção nacional, e tornou-se conveniente um conflito por essas terras, já que estava se
preparando há mais tempo para tal. Solano Lopes, após invadir essa região decide atacar o Rio
Grande do Sul, e para tal é obrigado a também atacar a Argentina, via a Província de
Corrientes, para chegar ao sul do Brasil. Esse ataque incentiva a formação de um acordo entre
Brasil, Argentina e Uruguai, formando assim a Tríplice Aliança em maio de 1865.
A partir de 1865 inicia-se uma reação brasileira, um fortalecimento do
exército e remanejamento de forças presentes na fronteira com o Uruguai43, e uma Força
Expedicionária marcha para combater o exército Paraguaio. A situação é descrita da seguinte
forma pelo historiador André Amaral de Toral (1995):
42
Vê-se isso parcialmente no gráfico 1.
43
Em 1864, o Brasil estava envolvido num conflito armado com o Uruguai. Havia organizado tropas, invadido e
deposto o governo uruguaio do ditador Atanasio Aguirre, que era líder do Partido Blanco e aliado de Solano
López.
62
44
Verificar Hino de Mato Grosso do Sul no anexo A
45
Faoro apresenta uma diferença entre modernidade e modernização: “a modernidade compromete, no seu
processo, toda a sociedade, ampliando o raio de expansão de todas as classes, revitalizando e removendo seus
papéis sociais, enquanto que a modernização, pelo seu toque voluntário, se não voluntarista, chega à
sociedade por meio de um grupo condutor, que, privilegiando-se, privilegia os setores dominantes. Na
modernização não se segue o trilho da " lei natural", mas se procura moldar, sobre o país, pela ideologia ou
pela coação, uma certa política de mudança (FAORO, 1992, p.8).”
63
46
A Cia. Mate Laranjeira, uma sociedade anônima fundada no Rio de Janeiro, em 1891, com o fim de explorar
os ervais nativos na porção sul do então estado brasileiro de Mato Grosso, organizou nessa época um vasto
circuito mercantil interligando as áreas de produção e consumo de sua erva-mate (QUEIROZ, 2012).
47
De fato, num contexto ricamente contraditório, o objetivo político-estratégico da ferrovia (eliminar a
dependência brasileira em relação à via platina) devia cumprir-se mediante o desempenho de uma missão
econômica (desviar os fluxos de comércio da calha do rio Paraguai no rumo direto do Sudeste brasileiro). [...]
no trecho sul-mato-grossense, contudo, a estrada assumiu claramente um sentido predominantemente político-
estratégico, tanto que ela foi, desde o início, assumida pelo governo federal – que logo, aliás, encampou
também o trecho paulista, de modo que toda a NOB, de Bauru a Porto Esperança, configurou-se a partir de
1918 como uma ferrovia estatal (QUEIROZ, 2004).
64
Bittar (2009) afirma que a Guerra do Paraguai fez com que muitas famílias
dispersassem, e o território ficou ainda mais atraente para as novas levas de povoadores após
1870. Com o término do conflito, foram se moldando os padrões do estado a uma região de
pecuária, “Vê-se, assim, que enquanto o ouro fez Cuiabá, as pegadas do boi configuraram o
sul. Um século, porém, é o tempo que separa os dois eventos” (BITTAR, 2009, p.50).
A modernização apontada por Faoro (1992) é vista no atual MS como as
mudanças, que de certa forma começaram a ocorrer com o fim da Guerra do Paraguai: o
crescimento da população e surgimento de mais cidades, o fortalecimento da pecuária – de
onde descende a elite regional, e por último, e com certeza não menos importante, a
construção da estrada de ferro Noroeste do Brasil. A Cia. Estrada de Ferro Noroeste do Brasil
se instala em 1904, para construir a ligação Uberaba-Coxim, e acabou por passar por Campo
Grande, fortalecendo-a como uma capital comercial do eixo sul de Mato Grosso.
65
forte (1932-1934) não ocorreu a divisão, que de fato, só ocorreu quando o divisionismo estava
inerte. MS em 1977 foi uma surpresa, restando a alguns historiadores, principalmente aos
vinculados IHG-MS a construção de uma história do MS com heróis de divisionismo, de
lutas, mitos, símbolos e outros adornos necessários à criação de uma comunidade imaginada.
governou um pouco mais que um ano, sendo substituído por Pedro Pedrossian que enfim
alcança o cargo quisto, de governador do MS, ainda em 1980. Nos períodos de vacância entre
os governadores, quem assumiu o posto foi o presidente do Legislativo Londres Machado.
O crescimento da oposição ao regime ditatorial, concomitante aos novos
avanços da sociedade civil no Brasil colabora para que Pedrossian assumisse o governo
estadual, visto que aos poucos ele passava a ser visto com a condição de derrotar a oposição
no estado do MS, de acordo com o ARENA. A destituição de Marcelo Miranda e em seguida
a nomeação de Pedrossian contribuíram para sua coligação nas eleições de 1982. Devido à
proximidade, no entanto, venceu a oposição: Wilson Barbosa Martins.
As eleições estaduais de 1982 propiciam uma estabilidade institucional a
MS, que já havia sofrido sucessivas destituições, acabaram imputando uma derrota à ditadura,
e configuraram nova polaridade política entre: Pedro Pedrossian e Wilson Barbosa Martins
até 1998. Em 1998, José Orcírio Miranda dos Santos, o Zeca do PT, é eleito governador no
MS. Após derrota para André Puccinelli pela prefeitura de Campo Grande em 1996, por
apenas 411 votos, Zeca do PT foi reeleito em 2002. Em 2006 assume o governo André
Puccinnelli, que após reeleição em 2010 ainda cumpre mandato.
48
O Banho de São João é tradicional na cidade, acompanhado de outras festividades religiosas, enquanto que a
festa de São Benedito em 2013 completou 94 edições.
71
49
No livro: História de Mato Grosso do Sul (1985), de José Barbosa Rodrigues apresenta-se no primeiro
capítulo a história do sul de Mato Grosso, que antes de ser português foi espanhol, relatando este período
como elemento integrante de uma história sul-mato-grossense, e uma diferença entre MS e MT
(AMARILHA, 2006, p.190).
50
A Liga Sul-mato-grossense foi criada no Rio de Janeiro, e lança três documentos: Um manifesto aos
habitantes do sul de Mato Grosso (1933), Um manifesto da mocidade do sul de Mato Grosso ao chefe do
Governo provisório e a Assembleia Constituinte (1934), e uma representação dos sulistas ao Congresso
Nacional Constituinte (1934). Um quarto documento foi assinado pelos integrantes da Liga, rebatendo
algumas críticas do General Rondon, intitulava-se Divisão de Mato Grosso: resposta ao General Rondon
(QUEIROZ, 2007, p.145).
51
Por eugenia tomamos: A parte da Ciência que estuda as condições mais propícias à reprodução e
melhoramento da raça humana, tendo grandes vínculos com o higienismo e sanitarismo no Brasil. Surgiu a
partir de ideias de Francis Galton (1822-1911). Fruto do início do século XIX no Brasil, teve seu ápice após
1930. “Para que a “raça nacional” pudesse ser transformada nesta tão sonhada “elite de eugênicos”, os
eugenistas entendiam que atitudes radicais como a esterilização, pena de morte, controle rigoroso da entrada
de imigrantes, obrigatoriedade do exame pré-nupcial, proibição do casamento inter-racial e de portadores de
doenças contagiosas, entre outros, precisariam ser observadas [...] (SOUZA, 2005, p.06-07).
72
Assim, desde logo creio ser possível dizer que o referido empreendimento
dos divisionistas sulistas se desenvolve em duas direções principais: 1)
atribuição do “estigma da barbárie” exclusivamente às populações do
“Norte”, do que resulta a negação, no geral, da “identidade mato-grossense”
antes elaborada pelos intelectuais nortistas; 2) apropriação e transformação
de alguns elementos da mesma identidade, que são então aplicados
exclusivamente ou preponderantemente à porção sul do estado. Além disso,
os documentos enfatizam um aspecto destinado a cumprir, naquele
momento, uma importante função identitária, a saber: a opressão do Sul pelo
“Norte” (QUEIROZ, 2007, p.145).
54
Na literatura, também usada no conflito identitário sul-mato-grossense, teve já em 1981, a História da
Literatura Sul-Mato-Grossense publicada por José C. Vieira Pontes.
55
No final dos anos de 1990, em abril de 1999, o governo Zeca do PT lançou a ideia de mudar o nome do
estado, para Pantanal, “assim que se iniciou um processo institucionalizado de relacionar a cultura de Mato
Grosso do Sul ao Pantanal” isso de maneira mais sistemática (SOUZA, 2008).
56
Principais pesquisa foram realizadas por Araujo (2009), mas também Souza (2008), no anexo II segue três dos
ditos poemas negros do autor.
75
seus poemas, a negritude – dez poemas nas duas obras. Numa caracterização da apropriação
desses valores negros e também indígenas temos que:
Lobivar Matos nasceu em Corumbá, com dezoito anos se mudou para o Rio
de Janeiro, lançou dois livros: Areôtorare (1935) e Sarobá (1936). Pesquisadores apontam
com relação aos chamados “poemas negros” de Lobivar Matos57:
[...] a denúncia social, apesar de ser a tônica de seu trabalho, não vem
desvencilhada de lirismo e da elaboração poética. Quanto à questão da
“voz”, observa-se que nem todos os poemas possuem uma voz
autenticamente negra (SOUZA, 2008, p.70).
57
Sarobá é o nome de um bairro habitado basicamente por negros, em Corumbá (SOUZA, 2008), no anexo B
encontram-se três poemas de Lobivar Matos, dos ditos poemas negros.
76
pouco ou quase nada, que se relacione aos negros, resta apenas a alternativa de fazer do
discurso sobre a presença negra no estado um atributo suplementar à nossa história e
identidade regional.
De fato, busca-se um lugar de enunciação híbrido, onde o negro, o povo da
diáspora, tenha sua parcela de participação na formação de MS, que a historiografia regional
possa apresentar a presença negra suplementar e capaz de corroborar na formação do espaço
híbrido de enunciação. O hibridismo sugerido na teoria de Bhabha (2010; 2011) “faz com que
o sujeito pós-colonial coloque seu ponto de vista contra o outro, mantendo grande abertura,
com o potencial de reverter às estruturas de dominação colonial” (BONNICI, 2005, p.30).
Bhabha afirma o seguinte sobre tal conceito:
CAPÍTULO III
Não basta que seja pura e justa a nossa causa. É necessário que a pureza e a
justiça existam dentro de nós (Agostinho Neto, a frase consta no uniforme
do ILK).
A história humana não se desenrola apenas nos campos de batalha e nos
gabinetes presidenciais. Ela se desenrola também nos quintais entre plantas e
galinhas, nas ruas de subúrbios, nas casas de jogos, nos prostíbulos, nos
colégios, nas usinas, nos namoros de esquinas.
Disso eu quis fazer a minha poesia. Dessa matéria humilde e humilhada,
dessa vida obscura e injustiçada, porque o canto não pode ser uma traição à
vida, e só é justo cantar se o nosso canto arrasta as pessoas e as coisas que
não têm voz. (Ferreira Gullar. Apresentação do LP de Milton
Nascimento, ao vivo, 1983).
58
O termo Ongzação ou Onguização se refere à ampliação do terceiro setor na sociedade civil, como uma nova
forma de atuação dos movimentos sociais, intensificados a partir dos anos de 1990, como também considera
Alvarez (2000) e Domingues (2008).
80
pesquisa, ou seja, sob a forma de movimento negro no MS. O objetivo deste subitem é de
justificar escolhas metodológicas, principalmente, mas também, trazer um pequeno panorama
do movimento negro no contexto dos novos atores sociais que surgiram no Brasil a partir da
década de 1970. Posteriormente tratamos o movimento negro sul-mato-grossense, e uma de
suas entidades, o Instituto Luther King.
Ambos os conceitos, movimento social e sociedade civil, são carregados de
discussões nas Ciências Sociais, de maneira que, de forma alguma caberia a discussão deles
aqui. Opta-se, portanto, por uma breve problematização sobre os conceitos na realidade
discutida. De qualquer forma os movimentos sociais atuam no âmbito da sociedade civil, que
por sua vez, é composta por outras formas de ação coletiva. Como apresenta Gohn (2000,
p.11-12), uma diferenciação entre movimento social e outras quatro performances sociais: a)
Grupos de interesse; b) Ação histórica de grupos sociais; c) modos de ação coletiva, como
protestos, rebeliões, invasões, luta armada entre outras e; d) sobre a esfera onde ocorre a ação
coletiva, no caso dos movimentos sociais, na esfera não-institucional, esfera pública não
institucional. Apesar da importância desses fenômenos sociais, focaremos nesse item, na
diferenciação entre sociedade civil e movimento social.
A distinção entre movimento social e sociedade civil colabora na
compreensão do que estamos chamando de movimento negro, que abrange não apenas a
atuação enquanto movimento social, mas também, organizações não governamentais e
articulações na esfera estatal, através de Conselhos, Fóruns e no caso sul-mato-grossense,
ainda uma Coordenadoria específica. O conceito de movimento social não é capaz de abarcar
todas essas articulações, sem que perca parte de sua característica marcante, a não
institucionalização.
A presença das ONGs nas esferas institucionais é um fenômeno do fim dos
anos de 1980, e foi se consolidando ao longo dos anos de 1990, e é marcada por um processo
de descentralização política e reforma de Estado. O fortalecimento do terceiro setor tem o
incentivo do governo brasileiro, e de organismos internacionais como a Organização das
Nações Unidas – ONU, que chega recomendar em seus Relatórios de Desenvolvimento
Humano (RDH), como uma saída para os países menos desenvolvidos, a terceira via.
cobrar ações ou melhorias do Estado. Surge a opção de ter o Estado e o mercado (iniciativa
privada), como parceiros possíveis. A aproximação entre Estado e movimento social se
processa por mais meios do apenas via institucionalização em agências do Estado, doravante
internalização, a ongzação também gera essa aproximação.
O terceiro setor aproxima a sociedade civil, do Estado e do Mercado, uma
vez que são os maiores financiadores e, garante maior possibilidade de participação política,
alterando a compreensão de movimentos sociais. O movimento negro seguindo essa tendência
também se organiza em ONGs. Mas, o terceiro setor, cumpre uma tarefa pública-estatal, de
garantir os direitos sociais mínimos e constitucionais na maior parte das vezes, mas trabalha
com pedagogias diferenciadas, justamente por encontra-se mais afastado da normatização
estatal.
A entrada das ONGs no cenário nacional potencializou o surgimento de
novas entidades, disseminando o processo de ongzação do movimento social. Desde as
eleições de 1982, o discurso da participação social vem ganhando força na sociedade
brasileira, e se alocando, sobretudo, em Conselhos no interior do Estado. Ou seja, tanto a
ongzação como a internalização tornam-se mais próximas dos movimentos sociais, que
conceitualmente possuem alguns limites.
A definição de movimento social deve servir para distingui-lo de outras
formas de ação coletiva59, mantendo as seguintes características: 1) uma coletividade atuando
de tal modo; 2) um objetivo em comum de mudança na sociedade; 3) uma coletividade
relativamente difusa, com baixo nível organizacional e; 4) as ações devem ter um alto grau de
espontaneidade, assumindo formas não-institucionalizadas e não-convencionais. Definido da
seguinte maneira pelo sociólogo polonês, Piotr Sztompka (1998), “[...] por movimentos
sociais referimo-nos a coletivos fracamente organizados que atuam juntos de maneira não
institucionalizada para produzir alguma mudança na sociedade” (SZTOMPKA, 1998,
p.465).
Maria da Glória Gohn (2000), pesquisadora brasileira, afirma que os
movimentos sociais se apresentam como sendo parte constituinte da sociedade civil, e não o
caracteriza de maneira muito diferente, apontando que os movimentos sociais:
59
Assim como Gohn (2000), Cohen e Arato (2000), entre outros autores tentam demonstrar em seus trabalhos.
84
60
Através do STF o Estado brasileiro reconhece não apenas a constitucionalidade das ações afirmativas, mas
também uma demanda histórica do movimento negro contemporâneo.
85
a definição de movimento negro ganha conotações próprias quando tratado entre o militantes,
portanto, quando tratado como conceito nativo. E ainda, em nossa perspectiva analítica, o
conceito de “movimento negro” alinhar-se à sociedade civil, e não a movimento social.
Uma tendência do movimento negro é a fragmentação, ou sua
especialização em áreas como cultura, educação, esporte entre outras, e isto é consequência,
principalmente, do aumento de ONGs na esfera pública nacional. O movimento negro deixa
de ter entidade como a Frente Negra Brasileira61 (FNB), de grande representação nacional, e
passa a ter cada vez mais uma quantidade maior de entidades. Se a FNB conseguia manter um
discurso político, teatro, jornal, formação militante, atividades educacionais e esportivas entre
outras atividades, tendemos a ter cada uma dessas atividades desenvolvida por uma instituição
diferente. O movimento negro possui vários tentáculos e grande parte deles chegou ao Estado,
institucionalizou-se, e a análise destes necessita de um conceito um pouco mais amplo que o
de movimento social, por isso a opção por sociedade civil.
Sociedade civil é um conceito muito antigo na ciência política. Não é
objetivo retraçar o trajeto deste conceito ao longo da história62, mas Habermas (1997) ao
definir este conceito na contemporaneidade o apresenta da seguinte forma:
61
Criada em São Paulo, em 1931, a Frente Negra Brasileira (FNB) foi uma das principais e primeiras
instituições a reivindicarem demandas políticas. A entidade desenvolveu várias atividades, manteve escolas,
grupo musical, teatral, time de futebol, um departamento jurídico, e oferecia serviços médicos, odontológicos,
formação política, de artes e oficio, e publicava um jornal, A Voz da Raça. Se extinguiu a partir da
instauração da ditadura do Estado Novo em 1937, assim como outras organizações do gênero (DOMINGUES,
2007).
62
Para uma revisão do conceito de sociedade civil ver Cohen e Arato (2000).
86
63
Marcha de aproximadamente 30 mil militantes negros até Brasília, realizada em novembro de 1995
relembrando os 300 anos da morte de Zumbi dos Palmares, na ocasião a direção da Marcha entregou um
documento com reivindicações do movimento negro ao então presidente Fernando Henrique Cardoso.
88
São parte dos resultados das pesquisas realizadas no Projeto UNESCO que
potencializa discursos em prol do combate as desigualdades raciais, e demonstra que a
política de branqueamento levou o Estado brasileiro a criar leis para facilitar a chegada de
imigrantes europeus, e marginalizar ainda mais os negros. As políticas necessárias para
superação das desigualdades raciais no país só foram começar a surgir em meados dos anos de
1990, ou seja, com o Governo de Fernando Henrique Cardoso65. Enquanto isso uma forte
64
O projeto UNESCO é reflexo de uma série de pesquisas patrocinadas pela UNESCO nos anos de 1951 e
1952, investigando o campo das relações raciais no Brasil, tida como bem-sucedida na época. In. MAIO, M.
C. O Projeto UNESCO e a agenda das ciências sociais no Brasil dos anos 40 e 50. Revista Brasileira de
Ciências Sociais; volume 14, número 41, páginas 141-158. Outubro 1999.
65
A partir da “marcha Zumbi dos Palmares, contra o racismo pela cidadania e a via” em 1995, onde foi entregue
ao atual presidente na época, Fernando Henrique Cardoso uma carta com a situação do negro no país,
reivindicando políticas, desde então nasceu o GTI (Grupo de Trabalho Interministerial de valorização da
População Negra), que é marco na intervenção do Estado na questão racial (BERNARDINO, 2002).
89
militância negra buscava evidenciar casos de racismo em todas as instâncias possíveis, e ainda
criticando a democracia racial, e com constante foco em educação (GUIMARÃES, 2005).
O passado escravocrata além de ser um elo entre os negros é a origem da
desigualação entre negros e brancos, pois os negros, que chegaram às condições atuais
devido a um passado de escravidão e de ausências de políticas focalizadas, com o objetivo de
reduzir as desigualdades. Medidas já previstas e desejadas com o processo da Abolição, e
também apontadas como resultado das pesquisas realizadas no âmbito do Projeto UNESCO e
divulgadas por veículos de comunicação ligados ao movimento negro.
De modo geral, os emperramentos políticos advindos do autoritarismo de
Estado, a dificuldade de articulação da sociedade civil no Brasil, alguns outros pontos serão
apontados no próximo subitem. A desigualdade social brasileira é assustadora, um país tão
rico e com tantos pobres, não possui capacidade de alterar os padrões de concentração de
renda sem uma intervenção do Estado nos padrões de redistribuição da riqueza nacional.
Desigualdade social no Brasil, aqui referenciada não como pobreza
nacional, mas sim como uma alta concentração de renda. A desigualdade social, aliada a
ausência de políticas de redistribuição eficazes, é potencializada por anos de acúmulo sem
políticas de redistribuição, ou pior ainda, o Estado brasileiro em muitas situações acaba por
financiar o lucro privado, e socializa os prejuízos também privados.
O Índice Gini66, que mede a concentração de renda de um país, varia entre 0
e 1, sendo que quanto mais próximo de zero mais próximo também, da igualdade. Apesar das
melhoras geradas pelas políticas de transferência de renda e da melhora dos índices de
educação superior, a concentração de renda do país ainda é assustadora:
Analisando o caso do Brasil, país conhecido por ter uma das mais altas taxas
de desigualdade do mundo, Barros et. al. (2010) lembram que o coeficiente
Gini no Brasil chegou a 0,630, quase um recorde histórico e mundial. Após
ter subido em 1970 e 1980 e experimentado quase nenhuma mudança na
década de 1990, o coeficiente de Gini para a distribuição de renda domiciliar
per capita diminuiu de forma constante a partir de 1998, especialmente,
desde 2002. Entre 1998 e 2009, o coeficiente de Gini do Brasil caiu de 0,592
para 0,537. No período 2002-2009, a renda dos 10 por cento mais pobres
cresceu a quase sete por cento ao ano, quase três vezes a média nacional (2,5
por cento), enquanto que a dos 10 por cento mais ricos cresceu apenas 1,1
por cento ao ano (FILHO, 2012).
66
O Índice de Gini, criado pelo matemático italiano Conrado Gini, é um instrumento para medir o grau de
concentração de renda em determinado grupo. Ele aponta a diferença entre os rendimentos dos mais pobres e
dos mais ricos. Numericamente, varia de zero a um (alguns apresentam de zero a cem). O valor zero
representa a situação de igualdade, ou seja, todos têm a mesma renda. O valor um (ou cem) está no extremo
oposto, isto é, uma só pessoa detém toda a riqueza. In. http://desafios.ipea.gov.br acessado em 30/04/2013.
90
BRASIL PÓS-DITADURA
67
No Brasil, associações de grupos negros remontam a época colonial, destacando-se, então, as irmandades
religiosas como forma mais difundida de organização de solidariedade entre escravos e, mais tarde, entre
estes os negros libertos (COSTA, 2006, p.142). Aleixo Paraguassú em sua entrevista remonta ainda um
passado africano da resistência apontando que: “o movimento negro brasileiro é, um movimento consciente
ou inconscientemente, ele nasce com a própria escravidão, há quem sustente que o próprio ato dos escravos
apanhados a força na África, quando eles pulavam do navio, ainda no porto africano e se suicidavam, para
evitar que fossem arrancados da terra e postos sobre grilhões, já era um ato de resistência, a partir dali, já era
um ato de resistência, não uma resistência organizada” (ENTREVISTA, Aleixo Paraguassú, 2012).
96
simultaneamente a percepção das desigualdades e carências em relação aos outros grupos” (SILVA,
1994, p.50).
O MNU, a principal instituição do movimento negro que surge após o
período de Estado autoritário (1964-1985), é reconhecidamente o principal marco na
construção do movimento negro contemporâneo, o reflorescimento após a ditadura militar e
todo o contexto histórico-social em que passou a viver o Brasil do processo de
redemocratização. Sueli Carneiro afirma o seguinte sobre o MNU:
O fato é que as práticas políticas possuem uma dimensão cultural, uma vez
que a reivindicação de direitos ou de justiça social é direcionada a uma parte específica da
sociedade brasileira, seja cobrando igualdade ou diferenciação social. As manifestações
culturais, por sua vez, mobilizam-se em torno de um embate político. O simbólico é uma
esfera de embate, tanto que as comemorações em torno do “20 de novembro”, são um marco
importante entre os militantes do movimento negro.
A questão do “ser negro” não é apenas uma perspectiva cultural, ou de
simples diferenciação enquanto sinal diacrítico, não é um marcador de diferença
simplesmente, mas também assume a perspectiva de ação política. A identidade nos
movimentos sociais são as duas dimensões, o cultural e o político, num processo de
politização do cultural na esfera pública nacional.
Devido à definição conceitual de movimento social, e a prática
contemporânea de contestação e luta social, optamos por trabalhar com o conceito de
sociedade civil, que permite que sejam analisadas também as dimensões institucionalizadas
do movimento negro, uma vez que as definições de movimento negro evidenciam aspectos de
sua institucionalização. Por movimento negro, estamos entendendo:
Indícios apontam que o termo movimento negro surgiu, pela primeira vez,
em 1934, em um texto do jornal A voz da raça, vinculado à Frente Negra Brasileira. Mas
durante os anos de 1970, o termo passou a significar para os militantes engajados na luta
contra o racismo, o seu conjunto e suas atividades (PEREIRA, 2010, p. 65).
Por movimento negro, estamos agregando as dimensões institucionalizadas
da sociedade civil organizada em torno da questão racial, ou seja, além do movimento social
negro, estamos também acrescendo as entidades a eles agregadas e os espaços conquistados
ao longo da historicidade particular desse movimento social, representadas no âmbito dessa
pesquisa pelos Fóruns estaduais, pelos Conselhos (estadual e municipal) e pelas
Coordenadorias de promoção da igualdade racial (estadual e municipais), gerando com isso
uma diversificação das formas e estratégias de atuação do movimento negro.
98
O Conselho foi criado com a idéia de uma co-gestão da coisa pública por
dois atores institucionais: um representante do Executivo e outro da
sociedade civil, colocados na arena de negociação, que é o espaço
institucional do Estado. Uma relação complexa, pois rompia com antigos
papéis e assumia nova postura, articulando novos espaços e instrumentos,
obedecendo à racionalidade do poder público e ao espírito da
democratização (SANTOS, 2005, p.113).
99
Grupo TEZ
68
Ver anexo C.
69
Os municípios de Mato Grosso do Sul com Conselhos Municipais de conhecimento da CPPIR-MS são:
Campo Grande, Corumbá, Bataguassu e Costa Rica. E os municípios com coordenadorias raciais ou órgãos
semelhantes são: Aparecida do Taboado, Bataguassu, Caracol, Corumbá, Jaraguari e São Gabriel do Oeste. In.
www.igualdaderacial.ms.gov.br/ de 27/04/2013. Acessado em 28/04/2013.
70
A primeira atividade foi uma discussão sobre o filme “Tenda dos milagres” de Nelson Pereira dos Santos,
filme de 1977, uma adaptação de um romance de Jorge Amado (ENTREVISTA, Ben-Hur, 2013).
102
significar justamente ações coletivas dispersas, pouco planejadas, e com baixo nível de
organização, não havia atas nem estatutos antes da institucionalização.
O Grupo Trabalho e Estudos Zumbi – Grupo TEZ –, é a primeira instituição
a defender os direitos do negro em MS. Após a Ditadura militar iniciada em 1964, houve o
período de forte repressão através do regime militar que impossibilitava que antes da década
de 1980 surgissem reivindicações em prol da questão racial no país, e não foi diferente no
MS.
O estopim para fundação da entidade foi uma palestra feita pelo Fernando
Gabeira, na ocasião de um trote cultural realizado em conjunto pela Universidade Federal de
Mato Grosso do Sul (UFMS) e Universidade Católica Dom Bosco (UCDB)71, no ano 1985.
De acordo com Ben-Hur Ferreira, em um dado momento da palestra, Gabeira menciona que
apenas depois de exílio deu-se conta da dimensão do racismo, uma vez que, ele se tornará um
latino na Europa, e vítima de preconceitos. Este fato motivou a criação do Grupo TEZ, em 18
de março de 1985 pelos professores universitários na UFMS: Jorge Manhães72 e Dorothy
Rocha73; três então alunos do curso de Direito da Católica: Eurídio Ben-Hur Ferreira74, Paulo
Roberto Paraguassú75 e Jaceguara Dantas da Silva Passos76, e Pedro o que menos se tem
notícias, mas acredita-se que ainda não cursava ensino superior (ENTREVISTA, Ben-Hur,
2013).
No depoimento da Raimunda Luzia de Brito77, ela afirma que, ainda na
década de 1970, tiveram início as discussões em torno da questão racial em Campo Grande.
Na ocasião, devido à presença dos irmãos Johnson, de uma das Guianas, segundo ela, vieram
para estudar na antiga FUCMT, e um grupo de discussão e estudos formou-se ao redor destes
estudantes. No entanto, todos os militantes reconhecem no Grupo TEZ a primeira entidade do
71
A UCDB até 1993 era Faculdades Unidas Católicas de Mato Grosso (FUCMT), fruto da primeira instituição
de ensino superior em Campo Grande, em 1961, com cursos de Pedagogia e Letras. In: BITTAR, Mariluce.
Política de educação na região sul de Mato Grosso e a influência da congregação salesiana.
Comunicação apresentada ao VI Congresso Internacional da Brazilian Studies Association – BRASA,
Atlanta, Geórgia/USA, 4 a 6 de abril de 2002.
72
Foi professor na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), aposentou-se e atuou nas Faculdades
Anhanguera de Dourados. Faleceu em 2009.
73
Professora universitária na UFMS, com mestrado em educação sendo Membro do Conselho Editorial da
Revista Intermeio. Atualmente, é pesquisadora independente pela Universidade Nove de Julho – UNINOVE.
74
Foi vereador em Campo Grande de 1993 a 1994, Deputado Estadual entre 1995 e 1999; e Deputado Federal
entre 1999 e 2003. De 2000 a 2002 foi Secretário de estado no governo Zeca do PT em Mato Grosso do Sul.
Advogado e professor do curso de Direito na Universidade Católica Dom Bosco (UCDB).
75
Atualmente advogado e empresário na cidade de Campo Grande – MS e um dos filhos do Dr. Aleixo
Paraguassú.
76
Promotora de Justiça do Ministério Público do estado de Mato Grosso do Sul. Mestre em Direito, área de
concentração Direito Constitucional pela PUC/SP.
77
Atual coordenadora da CPPIR-MS, possui graduação em Direito e Serviço Social, e mestrado em Serviço
Social pela UNESP, uma das militantes mais conhecidas de Mato Grosso do Sul.
103
78
20 de novembro é o dia da morte do líder do Quilombo dos Palmares, Zumbi, considerado, atualmente, um
dos maiores símbolos da luta contra todas as formas de opressão e exclusão contra os descendentes de
africanos.
79
Uma Comunidade Negra localizada em Campo Grande, descendentes de uma ex-escrava, a “Tia Eva” uma
goiana da cidade de Mineiros, a Comunidade foi fundada em 1910.
104
80
De acordo com a professora Conceição Shirley Ferreira Medina, em 1994, no Colégio Oswaldo Cruz em
Campo Grande, através de um projeto com o Rotary Club, “Projeto Amor Fraterno”, realizou-se o primeiro
curso pré-vestibular da capital, direcionado para alunos do ultimo ano do Ensino Médio, na região do bairro
Aero Rancho na capital, a professora era coordenadora do projeto.
105
Grande, no entanto, a mais marcante era a política partidária, como atribui a entrevistada, Ana
Sena81:
81
Ana Lúcia Sena é professora, pedagoga, especialista em educação e especialista em Gênero e Política Pública,
mestre em Ciências Sociais pela PUC-SP. Foi Coordenadora da CPPIR-MS, no segundo mandato do governo
Zeca do PT (2003-2006).
82
Na proposição do projeto Ben-Hur Ferreira ressalta a importância de um de seus assessores, Edson Cardoso: “
[...] o Edson Cardoso foi chefe de gabinete do Florestan Fernandes, depois foi meu chefe de gabinete, foi o
grande responsável pela lei 10.639. Foi o Edson Cardoso, ele que foi atrás ele que me inspirou.”
(ENTREVISTA, Ben-Hur, 2013).
106
integrantes do Grupo TEZ já faziam parte dos quadros governistas, algo incômodo à ala não
petista no interior da entidade. Uma das não petistas, Raimunda Luzia de Brito declara:
83
Primeira coordenadora do que hoje é a CPPIR, professora na UFMS no campus de Três Lagoas, possui
doutorado pela USP em Educação, atuando com promoção da diversidade etnicorracial na educação infantil
principalmente.
84
Cidades do interior de Mato Grosso do Sul, Corumbá fica a aproximadamente 425 km de Campo Grande,
enquanto Ribas do Rio Pardo a 100 km.
107
85
Principalmente após a reunião de Durban (2001) o termo afrodescendente teve uma ascensão no meio social.
Recentemente, é pouco citado, é lembrado mais por comediantes que fazem suas piadas do “politicamente
correto”. O mais comum é negro.
86
Programa idealizado pelo Ministério da Justiça e pela Secretaria nacional de Direitos Humanos, numa
tentativa de aproximar sociedade civil e poder público. É implementado em 2000 na cidade de Campo Grande
(SANTOS 2005).
87
Foi a Conferência das Nações Unidas Sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, realizada no Rio de
Janeiro em 1992. Na ocasião para os países em desenvolvimento foi aconselhado cooperação financeira e
tecnológica, dando margens a importância do Terceiro setor e do voluntariado para esses países.
108
Conselhos e Fóruns
reuniões são realizadas na Casa da Cidadania, localizada na Rua Marechal Rondon, 713, no
centro de Campo Grande. Os conselheiros do interior do estado recebem a passagem, estadia
e ajuda com a refeição, enquanto que os da capital recebem o passe de ônibus nos dias de
reunião.
A quarta-feira é estratégica, uma vez que o Fórum Permanente das
Entidades do Movimento Negro de MS reúne-se nas noites de quarta-feira, sempre a anterior
à reunião do CEDINE-MS, que são as quintas-feiras pela manhã. Os militantes queriam
aproveitar o recurso que alguns conselheiros recebiam para participar da reunião do CEDINE-
MS para também poderem presenciar a discussão no Fórum das Entidades, potencializar
assim a participação dos representantes do interior no Fórum que é estadual. No entanto a
medida gerou pouco efeito, com reduzida participação no Fórum das entidades.
O CEDINE-MS é a segunda instituição de recorte racial do MS, a primeira
com vínculo estadual, uma vez que o Grupo TEZ surgiu como sendo propriamente da
sociedade civil. O Grupo TEZ possuía algumas ligações com Conselhos do Negro de São
Paulo, fato que motivou a construção de um Conselho em MS. As pautas do CEDINE-MS
também são compostas pelo estado, e não apenas da sociedade civil. Diversos casos de
racismo são encaminhados para essa instituição, acredito ser um reflexo do fim do Programa
SOS Racismo em Campo Grande (SANTOS, 2005). As decisões na esfera do CEDINE-MS
são consubstanciadas em deliberações, como determina o artigo nono de seu decreto
normativo.
Em 1993, é criado em Campo Grande o Conselho Municipal dos Direitos do
Negro – CMDN – a partir da Lei nº 2.987 de 7 de outubro, sendo o prefeito Juvêncio César da
Fonseca. Nasce como “órgão colegiado de deliberação coletivas das ações, nos níveis sócio-
político culturais, voltados à defesa e interesse dos direitos do negro” (Lei nº 2.987, de 7 de
outubro de 1993). Outra lei, de nº 4.309 de 8 de agosto de 2005, altera a primeira, e vincula o
CMDN a Secretaria Municipal de Governo, e apontado que 14 são os membros titulares do
Conselho Municipal, sendo o mesmo número de suplentes, sendo divididos entre os
governamentais e os não-governamentais, sendo assim a divisão no interior do CMDN:
110
estão na organização e realização dessa atividade, que atualmente faz parte do calendário
municipal de atividades. CMDN é um Conselho apenas consultivo, sem força política e
também não possui uma forte atuação no município. O CEDINE-MS consolida-se como
sendo o lócus mais estratégico, de mobilização e pressão, que tem sua demanda política
fortalecida no Fórum Permanente das Entidades do Movimento Negro de MS.
Algumas ocasiões em que os militantes acham necessária uma maior
mobilização, como podem ser verificadas mais proximamente na discussão sobre as cotas na
UFMS o local de planejamento, ou o ponto de ebulição é o CEDINE-MS, na ocasião, o
Fórum Permanente das Entidades do Movimento Negro está sem reuniões. Outra situação que
exigiu uma maior mobilização foi no julgamento que envolvia racismo como um dos
qualificadores do crime de assassinato, um crime de conotação racial em que a família
procurou o CEDINE-MS88.
Os lócus do movimento negro que articulam a presença em eventos que
exigem maior concentração de pessoas são o CEDINE-MS e o Fórum das Entidades do
Movimento Negro de MS 89. Até mesmo eventos municipais, como o tradicional desfile do
dia 26 de agosto, na comemoração de aniversário da cidade de Campo Grande, são pautas
importantes no CEDINE-MS, que convida e ajuda no planejamento da comunidade negra, que
compõe o desfile anualmente.
Há a utilização, por parte dos militantes, do espaço do CEDINE-MS como
um ator estratégico e de organização das ações do movimento, enquanto que sua atuação
deveria ser de controle social e deliberação em torno da defesa dos direitos do negro em MS.
Isso pode ser compreendido como uma forma de luta, uma vez que é um espaço público
conquistado que oferece condições materiais e representativas para atuação. A atuação
desviante do CEDINE-MS potencializa sua luta, uma vez que a políticas públicas de governo
são limitadas e não possibilitam pautas para o Conselho, que se esforça para atuar
politicamente.
Quanto aos Fóruns, dois atualmente, possuem militantes do movimento
negro, um deles o Fórum Permanente das Entidades do Movimento Negro de MS, é realizado
com essa finalidade, articular as entidades e os militantes do movimento negro de MS. O
outro é o Fórum Permanente de Educação e Diversidade Étnico-Racial de MS –
88
O julgamento ocorreu no dia 25/02/2011, o criminoso Geraldo Francisco Lessa, réu confesso de assassinato,
negava apenas os qualificativos raciais do assassinato.
89
Recentemente as redes sociais também são importantes instrumentos de disseminação de informações quanto
a mobilização e eventos de interesse do movimento negro estadual. A principal comunidade on-line chama-se:
nós negras/os de Mato Grosso do Sul.
112
FORPEDER/MS, este tem como principal prioridade a discussão em torno da lei 10.639/03 e
sua aplicação em nosso estado, ambos com reuniões mensais na programação.
O FORPEDER/MS trava um luta com a implementação da lei 10.639/03 no
estado de MS. No fórum participam professores, técnicos da Secretaria de Educação do
Estado, sociedade civil organizada. O FORPEDER/MS também encontra-se desmobilizado
no momento, com poucos participantes, mas já organizou eventos importantes na cidade, de
discussão com professores na Federação dos Trabalhadores em Educação do MS
90
(FETEMS) , de tentativa de conscientização por parte destes da importância da lei
10.639/2003.
O Fórum Permanente das Entidades do Movimento Negro de MS foi criado
em 2002 por meio de uma assembleia convocada pelo Dr. Aleixo Paraguassú. Com intuito de
congregar todas as entidades do movimento negro estadual, ou ao menos o maior número
possível, é composto pelas entidades não governamentais do movimento negro e pelas
comunidades negras do estado, sejam elas rurais ou urbanas.
O Fórum Permanente das Entidades do Movimento Negro, o que
teoricamente congrega representantes das entidades do movimento negro estadual, ou seja,
possui maior potencial para representar o movimento racial sul-mato-grossense, demonstra a
desarticulação, ou até mesmo a fraqueza no estado, visto que este Fórum ficou três meses sem
reunir-se e sem que de fato ocorresse a cobrança de nenhum outro militante, como afirmou a
atual presidente do Fórum:
[...] eu vejo que ele não tem reconhecimento muitas vezes dentro do
movimento negro, por que todos sabem a ciência de que o fórum exista,
outro dia falei numa reunião: olha o fórum ficou uns três meses sem fazer
reunião, nenhum militante do movimento negro ficou incomodado, nenhum,
sabe o que é ninguém perguntar por que não aconteceu reunião, então ele
não tem interesse com esse grupo (ENTREVISTA, Vania L. Baptista, 2013).
É fato também que mesmo antes da interrupção das reuniões deste Fórum
ele já se encontrava esvaziado, quase sempre frequentado por meia dúzia de pessoas, e em
todas as reuniões praticamente os mesmos militantes. E este espaço que é favorável aos
90
O CEDINE-MS e o Fórum Permanente das Entidades do Movimento Negro-MS em parceria com a FETEMS
realizou o I Seminário “A África na sala de aula”, em 2012. O evento marcou o compromisso da FETEMS
com o cumprimento e a cobrança da Lei 10.639/2003. Paralelamente tentou-se articular um grupo para
debater a questão das ações afirmativas na UFMS. O grupo não conseguiu reunir-se em número
suficientemente representativo antes do vestibular. A reunião havia sido solicitada pelo professor Lourival dos
Santos, docente na UFMS campus de Três Lagoas, que fazia parte da comissão responsável pela elaboração
do modelo de Ação Afirmativa a ser implementado pela UFMS.
113
CPPIR-MS
Eu sempre coloco em minha defesa, que eu não vim por oportunismo, vim
por uma questão muito pessoal, isso é verdade, mas eu não vim por
oportunismo, eu vim pra um governo em frangalhos, e o maior projeto da
minha geração era chegar ao governo do estado, então eu vim pra ajudar um
projeto que estava fracassando, e doei todo meu carisma, minha força, fui
pro embate, vivenciei não me arrependo. Eu no final da história não me
arrependo (ENTREVISTA, Ben-Hur, 2013).
114
Foi muito difícil para o Ben-Hur criar a coordenadoria, tanto que eu ganho
quase R$ 2.000 menos que a coordenadora da mulher, que a coordenadoria
da mulher foi criada com ajuda do Zeca e a nossa foi uma briga do povo
negro (ENTREVISTA, Raimunda L. Brito, 2012).
[...] a ideia era que nós fizéssemos um recorte transversal nas políticas de
governo e aí por isso esse nome, depois que ela vai se transformar depois,
inclusive que eu saio do governo, ela vai se transformar em Coordenadoria,
que hoje é CPPIR-MS (ENTREVISTA, Lucimar R. Dias, 2013).
91
O Programa de Superação das Desigualdades Raciais de Mato Grosso do Sul, foi elaborado no primeiro
mandato do Governo Zeca do PT e será mais bem discutido no item 3.2 da dissertação.
116
[...] íamos até as comunidades pra verificar quais eram as dificuldades, não
falo que solucionávamos as questões, mas pelo menos nós tínhamos o olhar
e procurávamos pontuar algumas questões ali, de política mesmo de
recursos, a educação era a mesma coisa tinha capacitações, nós
trabalhávamos juntas nessas capacitações. Muita com a educação, essas
capacitações, tanto com polícia militar, daí nós fomos para várias cidades do
interior onde tinha batalhão, então na formação dos policiais nós já tínhamos
disciplinas com 20 ou 16 horas/aulas trabalhando essa questão. Na educação
nós conseguimos fazer várias capacitações também (ENTREVISTA, Vania
L. Baptista, 2013).
92
A lei n°3.594 que institui cotas para negros em concursos públicos de Mato Grosso do Sul, de autoria do
deputado Amarildo Cruz (PT), foi sancionada pelo governador André Puccinelli (PMDB) no dia 08/09/09. O
projeto de lei 043/2010, aprovado em 04/05/2010 de autoria do deputado estadual Amarildo Cruz (PT) que
institui feriado estadual o dia 20 de novembro. No entanto, julgada procedente a Ação Direta de
Inconstitucionalidade nº 2010.035531-5, proposta pela Federação do Comércio de Mato Grosso do Sul contra
a Lei Estadual nº 3.958/2010, que também havia instituído feriado estadual o dia 20 de novembro.
93
Milita no PT desde 1984, foi eleito Deputado estadual pela primeira vez em 2006, e ficou de suplente nas
eleições de 2010, assumindo a cadeira em 2012 novamente.
117
94
“Zezão” como gosta de ser chamado é advogado, e coordenador de instrução processual das regularizações
fundiárias dos territórios quilombolas do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), além
de membro do Instituto Casa da Cultura Afro-brasileira (ICCAB).
95
Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), apesar de ser um órgão federal, os estados
nomeiam interlocutores para atuarem em suas demandas estaduais.
96
Historiadora e moradora descendente da Comunidade Tia Eva em Campo Grande. É presidente da associação
de moradores da Comunidade, e do Fórum Permanente das Entidades do Movimento Negro de Mato Grosso
do Sul, atua como assessora do parlamentar do Deputado Estadual Amarildo Cruz (PT).
118
[...] é por que evento ele se vai no vento, ele não é política, eu sei de alguns
eventos que a CPPIR-MS realizou, mas evento não é política, e pra ela
elaborar uma política é diferente, eu penso que é diferente, e o que ela tem
feito é evento, quando eu falo ela não é a Raimunda é ela a CPPIR-MS, ela
tem realizado alguns eventos, palestras participado de algumas ações fora do
estado, algumas atividades institucionais, mas política não teve
(ENTREVISTA, Vania L. Baptista, 2013).
3.4 INSTITUTO LUTHER KING (ILK): UMA DAS ENTIDADES DO MOVIMENTO NEGRO SUL-
MATO-GROSSENSE
Nascimento e finalidades
[...] lembro, por exemplo, que meu pai, por volta de 1940 mais ou menos, ele
foi presidente em Belo Horizonte, em Minas Gerais, de uma associação para
o progresso dos homens de cor, que era uma similar que existia nos Estados
Unidos, lembro-me dele atuando, não me lembro de forma pormenorizada
porque era aluno de colégio interno, mas nas minhas saídas esporádicas
lembro-me dele a frente de movimentos culturais como a congada, que é
uma manifestação, com misto de religião – cultura e religião – e é peculiar à
África e ele como presidente dessa associação atuava (ENTREVISTA,
Aleixo Paraguassú, 2012).
120
97
Através da lei 2.605, de janeiro de 2003, de autoria do Deputado Estadual Pedro Kemp (PT) instituiu-se
Ações Afirmativas na UEMS.
121
O ILK desde sua criação se localiza, na Av. Fernando Correa da Costa, 603,
sendo na região central da cidade de Campo Grande, mas o público-alvo da instituição mora
na periferia da cidade, não na região central. Exigindo-se assim o deslocamento da maioria de
seus alunos, e torna-se assim um dos fatores de desistência para aqueles que, com menos
condições financeiras, possuem maiores dificuldades com transporte público. No entanto,
outros tantos que trabalham ou estudam na região central da cidade, tem sua vinda facilitada,
já que reduz os gastos com transporte público, utilizando o do trabalho ou da escola. Em
ambas as realidades enxergam-se reflexos do perfil do alunado de baixa renda do ILK.
O fato de ser uma instituição no centro da cidade, e não num bairro, a torna
também um ponto de referência para ex-alunos da instituição, e por várias vezes é possível
encontrar ex-alunos da instituição confraternizando ou se valendo do espaço do ILK para
encontros, estudos e outras interações. Ex-alunos são figuras presentes no ILK, não em sua
maioria, evidentemente, mas são frequentes. Outra peculiaridade sobre a localidade é que o
ILK, por ser no centro da cidade, possui a capacidade e “congrega alunos de diferentes
comunidades” (BITTAR, M; MORAES, W, 2012, p.255), acaba-se por se tornar um novo
espaço de interações.
O ILK nasce do desejo de democratização do acesso ao Ensino Superior,
com o compromisso de redução da desigualdade educacional, voltado para o combate a todas
as formas de racismo e preconceito, utilizando as Ações Afirmativas como método de
promoção da igualdade e posicionamento político. E o público-alvo da instituição que é: “[...]
formado por negros, índios, pessoas com deficiências e brancos carentes, com ênfase na
política de ação afirmativa por meio da educação não formal” (MORAES, 2009, p.60).
A educação é o instrumento de mudança das hierarquias sociais e da sub-
representação na sociedade, é usada como veículo de promoção de uma cidadania ativa e
meio para ascensão social. Com a pretensão de formar não apenas um público acadêmico
diferenciado, mas de também criar uma atitude política mais participativa, essa crença fez da
opção educacional, o viés do ILK.
122
O ILK
98
Exame Nacional do Ensino Médio, criado em 1998 e é o maior exame do Brasil, avalia o Ensino médio, mas,
também possibilita o acesso a educação superior através do SISU e do PROUNI. In. http://portal.mec.gov.br/
acessado em 11/04/2013.
123
a exceção da professora de português – Cleir Silvério Rosa – que é cedida e não contratada,
uma vez que é concursada. A funcionária da coordenação administrativa – Luciana de Souza
Nantes – recentemente tornou-se, uma profissional cedida pelo Deputado Estadual Lauro
Davi do Partido Socialista Brasileiro - PSB e, desonerou o ILK desde fevereiro de 2013. A
funcionária da estação digital do ILK, também é paga pela instituição, porém, iniciou o ano de
2013 sem utilização da sala, em parte por falta de recursos financeiros, mas também devido à
licença maternidade da antiga funcionária, Tânia Márcia Pereira99.
Outras importantes mudanças ocorreram ao longo dos dez anos de ILK, boa
parte com relação à estrutura física e, consequentemente, nos alunos desta instituição. Em
agosto de 2003, início da primeira turma, foram ofertadas 70 vagas para seis meses de curso
pré-vestibular, a partir de 2004, o curso pré-vestibular passou a ter duração de 11 meses.
Esses dois primeiros anos tiveram como critério de seleção, uma prova realizada com os
candidatos, posteriormente, a partir de 2005, optou-se pelas notas trazidas do ensino médio.
Soma-se ao critério da nota a necessidade de ser aluno oriundo da escola
pública, e pertencente a um núcleo familiar de renda per capita de um salário mínimo100. As
vagas disponíveis são remanejadas conforme os critérios de ação afirmativa definidos pela
instituição: 45% para negros, 45% para brancos e os 10% entre indígenas e portadores de
alguma deficiência. Na medida do possível tenta-se preservar uma proporção de gênero
também, que dificilmente se mantém pela maior procura ser das mulheres pelo curso pré-
vestibular. Estes critérios nunca foram alterados desde a fundação da instituição, a exceção de
alunos com bolsas de 100% em escolas privadas que passam a ser aceitos a partir de 2009.
Ainda em 2004, após o primeiro aniversário do ILK, há uma ampliação do
espaço físico da instituição, que tem somado 06 salas e um banheiro no mesmo endereço, e o
antigo espaço tornou-se desde então biblioteca e sala de informática, que inicia a partir de
2004, com apoio da prefeitura municipal. Em 2005, ainda com 70 vagas, o ILK conseguiu um
convênio com Instituições de Ensino Superior (IES) privadas do estado, que permitia a
concessão de bolsas de estudo para alunos egressos do ILK, nas seguintes IES privadas:
UCDB, IESF, UNAES e UNIDERP101. No mesmo ano um projeto de informática foi
aprovado garantindo um público constante do curso de informática:
99
Retomou suas atividades na estação digital desde maio de 2013.
100
Janilce, a coordenadora pedagógica chegou a mencionar a necessidade de alterar o valor mínimo da renda
familiar de um salário mínimo per capita para 1,5. Muitos inscritos tinham valores um pouco acima de um
salário mínimo.
101
As IES são respectivamente: A Universidade Católica Dom Bosco – UCDB; o Instituto de Ensino Superior
da FUNLEC – IESF; e as duas últimas pertencem ao Grupo Anhanguera Educacional Superior desde outubro
124
Em 2006 o número de vagas para aluno do ILK foi para 82, e mais um
projeto foi aprovado pela instituição, que teve pela primeira vez, desde a fundação, uma lista
de espera para candidatos portadores de algum tipo de deficiência. Nos anos anteriores
sempre o número de inscritos era compatível com as vagas ofertadas no ILK. O projeto:
de 2007, são elas: a União da Associação Educacional Sul-Mato-Grossense – UNAES e, Universidade para o
Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal – UNIDERP.
125
102
Wanilda Coelho Soares de Moraes foi coordenadora pedagógica do ILK até 2008, período em que também
era mestranda na UCDB em Educação, defendeu em 2009 sua dissertação de título: Ações Afirmativas e o
acesso de negros na educação superior: Um estudo de caso do Instituto Luther King – ILK.
103
“Aulões” são as últimas aulas que antecedem ao vestibular ou ENEM, tradicionalmente organizado pelo
curso pré-vestibular da UFMS, mas também por outras instituições da cidade. A na maioria das vezes a
entrada é alimentos não perecíveis, ou outros produtos para doações. São aulas mais descontraídas e focadas
em conteúdos pontuais.
126
104
surge nesse ano através do Deputado Estadual Paulo Duarte (PT) . Neste ano ainda
ocorreram dois fatos inéditos: primeiro uma excursão para o Pantanal de Corumbá, realizada
pelo professor de Geografia com alguns alunos do ILK, o professor Uta, que fez parte do ILK
de 2003 até 2011105, outro fato foi, a participação de alunos no ILK no Concurso Beleza
Negra MS106, com três candidatos, sendo duas mulheres e um homem.
Um novo convênio, agora com a Brasil-Foundation, começa a firmar-se no
ano de 2011, para realização do Curso de Capacitação em administração e políticas públicas
de lideranças negras para promoção da igualdade racial em MS. O curso teve suas atividades
realizadas aos sábados; Regina M. de Campos Haendchen recebeu uma homenagem da
câmara municipal – Prêmio Mister Apa107 – que tanto o ILK quanto Aleixo Paraguassú já
recebeu. Este ano teve também dois almoços beneficentes realizados em prol do ILK que
estava com necessidades financeiras. Por conta do espaço físico reduzido, o ILK teve que
doar livros. Foram encaminhados a entidades do movimento negro livros que não
comprometessem a formação no ILK.
Houve no final de 2011 uma nova ampliação no espaço físico, que
possibilitou a construção de novos banheiros, salas de reunião, mudança da sala de
informática e uma sala ainda em desuso, uma ampla área foi disponibilizada aos alunos como
garagem, muitos que vem de moto a deixavam na rua ou no ILK, que não possuía um espaço
adequado para esses veículos.
Há a implantação do PLANO EDUCAÇÃO da IESDE108, que oferece
vídeo-aulas via internet de disciplinas do ENEM. Foi disponibilizada uma senha por aluno
para acessar as vídeo-aulas que serviram de apoio aos estudos preparatórios para o ENEM e
Vestibulares, esta foi a novidade de 2012. Um convênio com a ELETROSUL foi firmado em
abril do mesmo ano, que acabou por disponibilizar 40.000,00 R$ ao ILK, em serviços,
uniformes, materiais didáticos entre outras coisas. Apesar da expectativa de manter o
104
Atualmente é prefeito da cidade de Corumbá, mas através de uma emenda parlamentar, o então Deputado
Estadual doou a lousa digital e participou da primeira capacitação que foi dada aos professores.
105
Tsinduka António Muana Uta, um professor de Geografia nascido e criado Angola saiu do ILK para voltar ao
seu país em trabalho de evangelização. Enquanto esteve no ILK o professor Uta trabalhava temáticas raciais,
e despersonificava a temática centralizada no Aleixo Paraguassú. O professor Uta também trabalhava
temáticas das relações raciais.
106
O Concurso caminha para sua sexta edição em 2013, promovido pelo produtor e idealizador Rodynei Pereira
Nolasco. Apoiado e organizado alguns anos por integrantes do movimento negro campo-grandense.
107
O Prêmio foi instituído por meio do Decreto Legislativo nº 954/2006, de autoria da vereadora Thais Helena
(PT), homenageando Aparício Luis Xavier de Oliveira – o Mister APA, em comemoração ao Dia da África e
mês da Consciência Negra, é entregue pelos vereadores a negros e a instituições que colaboraram com a
promoção da igualdade racial na capital.
108
Inteligência Educacional e Sistemas de Ensino – IESDE desenvolvem atividades de formação educacional,
com base em tecnologia em vídeo-aulas e apostilas.
127
convênio para 2013, o mesmo não ocorreu. Segundo a ELETROSUL devido aos reajustes
realizados pelo Governo Federal, não tem mais orçamento disponível para estes convênios,
inclusive um que permitia a doação de valores financeiros, por parte dos consumidores ao
ILK, por meio da conta de energia foi cancelado.
A partir de 2012, optou-se pela aceitação de alunos que tivessem cursando o
terceiro ano do ensino médio também, e uma sala era composta só por esses alunos, para
facilitar o trabalho dos professores. Para 2013 manteve-se esta decisão e o ILK possui
aproximadamente 50 alunos com essa característica. O aumento da capacidade de atender
alunos e a redução da procura pelo ILK colaborou para essa decisão da direção e da
coordenação pedagógica.
Entre os anos de 2011 e 2013 todas as lousas foram substituídas por lousas
digitais, a primeira em 2011, veio com uma emenda do então deputado estadual Paulo Duarte
(PT). Os professores revezavam-se para poder utilizar a sala de aula com tal tecnologia, as
outras, também conquistadas por meio de uma emenda, mas agora do deputado estadual Paulo
Corrêa109 (PR), outras três lousas foram adquiridas pelo ILK. Os professores recebem
capacitação para utilizarem a lousa digital através de voluntários.
Verificando os calendários anuais de atividades do ILK, algumas constantes
surgem, uma rotina que inicia com divulgação do processo seletivo da instituição, este
normalmente tem seu início com o fim das atividades do ano anterior. O processo de inscrição
é o próximo passo, e quase sempre conta com a colaboração de ex-alunos, o processo seletivo
só se encerra com o fim das inscrições do período limite e em seguida, a seleção dos alunos
via suas médias escolares, e a partir de então inicia os procedimentos para aula inaugural, na
qual as normatizações e horários da instituição são transmitidos ao corpo discente da
instituição.
Com início das aulas as primeiras atividades listadas nos últimos anos (entre
2008 e 2012), que corresponde ao período da nova coordenação, a escolha de líderes em cada
sala de aula, que atuam como interlocutores entre a sala e a coordenação principalmente; e em
seguida, a realização de um concurso de redação, onde as melhores redações são listadas e
podem escolher ter aula com alguns professores particulares, que cobram pelas disciplinas que
109
O deputado destinou através de emenda parlamentar, R$ 30.000,00 ao ILK, utilizados em materiais diversos
e na aquisição das lousas digitais.
128
ministram. São professores de qualidade reconhecida em suas áreas, e que cedem algumas
vagas para alunos do ILK110.
Outras atividades são recorrentes nos calendários de atividades, como a
comemoração da Páscoa, que é marcada pela distribuição de pão e suco de uva para os alunos,
e com uma mensagem cristã transmitida, maior parte das vezes por um pastor; a Festa Julina e
a confraternização de fim de ano são outras comemorações recorrentes na instituição,
normalmente celebradas apenas pelos vinculados a ela; palestras, principalmente, sobre
mulher, negros, direitos humanos, ação afirmativa e divulgação de profissões são as mais
realizadas, frequentemente em meses significativos como da Mulher em março, abolição da
escravidão em maio, consciência negra em novembro, a questão indígena surge todos os anos,
normalmente sob a discussão ou debates com o apoio do Pontão de Cultura Guaicuru111.
A exceção das festas de páscoa de confraternização de fim de ano e a julina
as demais são atividades pedagógicas, que incluem visitas a campi universitários, feiras de
profissões ou laboratórios específicos com acompanhamento de um professor universitário e
os professores do ILK. A realização de simulados no ILK é uma tentativa de reproduzir parte
da tensão vivenciada no momento das provas. São realizados sempre próximos aos períodos
de avaliações, antes marcados pelos vestibulares de inverno e verão da UFMS e agora pela
data do ENEM.
Por motivos diversos torna-se impossível acompanhar todos os processos
listados, no entanto, o período de inscrição e seleção do corpo discente do ano de 2013 foi
acompanhado com maior atenção, onde pude colaborar no processo de inscrição dos
pretendentes a uma vaga na instituição e atuar mais próximo da coordenação pedagógica.
No período de inscrições dos alunos para o ano de 2013, portanto, no âmbito
da pesquisa ainda, colaborei em dez dias, últimos dez já que, são os períodos de maior fluxo
de pessoas, ajudando nas informações, conferindo a documentação dos inscritos, fotocopiando
documentos, atendendo telefones e realizando algumas entrevistas. Estas entrevistas eram
realizadas com alunos inscritos que por alguma razão, apresentavam algumas discrepâncias
quanto ao perfil dos estudantes que o ILK deseja.
110
Em 2013, os professores disponíveis são Mario Savioli ministrando matemática, física e química, e Isali que
ministra português, literatura e redação, respectivamente cedem 02 e 04 bolsas para alunos do ILK. Os
demais alunos de suas turmas pagam um valor mensal por mês, como um curso pré-vestibular que ministra
algumas disciplinas apenas.
111
Nasce com a intenção de valorizar manifestações culturais de Mato Grosso do Sul, potencializando a energia
criativa daqueles que produzem arte, trabalhando na produção, formação e difusão cultural. In.
http://www.pontaodeculturaguaicuru.org.br/acessado em 25/03/2013.
129
média das notas adquiridas durante o ensino médio torna-se o principal critério neste
momento, uma vez que os que chegam a essa fase, já cumpriram os demais critérios de renda,
ensino público ou bolsista integral em escola particular.
No Brasil o debate sobre Ação Afirmativa, foi enriquecido pela fundação de
cursos pré-vestibulares para população carente. Esse quadro veio sendo construído a partir dos
anos de 1990, fortemente colaborado pela difusão, em escala nacional, dos pré-vestibulares
populares, e um dos atores foi o movimento Pré-Vestibular para Negros e Carentes, criado em
1993, em São João do Meriti, no Estado do Rio de Janeiro.
A opção pela educação, sob a instituição de um curso pré-vestibular,
não é novidade para o movimento negro, que de acordo com Alexandre do Nascimento
(2010), em Movimentos sociais, anti-racismo e educação: os cursos pré-vestibulares para
negros e carentes.
Eventos e Parcerias
113
A disputa estava entre Alcides Bernal – PP e Edson Giroto (PMDB). Bernal foi eleito colocando fim a uma
hegemonia eleitoral de 20 anos do PMDB a frente da prefeitura. In.
http://www.correiodoestado.com.br/noticias/alcides-bernal-interrompe-reinado-de-20-anos-do-
pmdb_164434/ acessado em 25/03/2013.
137
merenda do ILK, para este serviço não havia contrato algum, tanto que antes de cessar as
doações a instituição recebeu apenas uma ligação. Desde março de 2013 iniciaram novos
diálogos com a nova equipe da prefeitura, e a diretoria está acreditando que retornará o
acordo, ou iniciará um convênio para doação de alimentos para merenda do ILK.
Atualmente, a instituição possui um importante convênio firmado, que
necessita dessa inscrição no CMAS, pelo fato do recurso primeiro passar pelo Fundo
Municipal para Infância e Adolescência de Campo Grande – FMIA – a parceria, de fato, é
realizada com a Associação dos Magistrados de MS (AMAMSUL), denominado “Corrente do
Bem”. A AMAMSUL apadrinha entidades ligadas à área da educação, da infância e
juventude, que autorizam que seus associados tenham um desconto em suas folhas de
pagamento, e o Tribunal de Justiça deposita em uma conta específica, direcionada ao FMIA
que tem a finalidade de repassar as entidades conveniadas os valores. A AMAMSUL
apadrinha apenas as entidades ligadas a magistrados, no caso, Aleixo Paraguassú aposentou-
se como juiz.
Junto ao governo estadual as parcerias com Secretária de Educação (SED-
MS) correspondem a cedência de 11 professores contratados, responsáveis pelas aulas do
curso preparatório. Estes professores são escolhidos pelo ILK. Há ainda a cedência de uma
professora, que é concursada, mas presta serviços do ILK ministrando as disciplinas de
português e redação – professora Cleir Silvério Rosa – esta colaboração faz com que o ILK
não tenha gastos com professores. A coordenação pedagógica – Renilda e Janilce – também
tem seus salários pagos pela SED-MS. A esfera estadual também atua eventualmente, através
do Centro de Capacitação de Profissionais da Educação e de Atendimento ao Surdo – CAS-
MS – que sempre que há alunos no ILK deficiência auditiva, o CAS-MS encaminha um
profissional intérprete de libras.
As demais parcerias já correspondem à esfera privada, vou me ater a blocos,
que dividirei da seguinte forma: Educacionais, Financeiras e Serviços, podendo ainda ser
eventuais ou permanentes de acordo com a natureza da parceria. Iniciaremos pelas parcerias
privadas educacionais, onde se destaca os convênios realizados com Instituições de Educação
Superior (IES), iniciadas em 2005.
Estas parcerias são sempre alvo de negociações, tanto que se em 2005 houve
essas conquistas; em 2007, houve o cancelamento dos convênios de algumas IES como
também aponta Moraes (2009).
114
O DESAFIO UCDB 2013 é destinado aos alunos regularmente matriculados no último ano do ensino médio
das escolas da rede de ensino de Campo Grande - MS e região que firmaram parceria com a UCDB para
participar do Projeto (In. http://ucdb.br/desafioucdb/ acessado em 11/04/2013), 30% das vagas da UCDB são
destinadas para os alunos partícipes do Desafio UCDB.
139
entrada gratuita na feira das profissões da UNIGRAN115. Sendo assim grande parte das
parcerias da instituição são de cunho educativo, que mesmo que algumas tentem reduzir
gastos específicos, a maior preocupação é de fato a preparação para os vestibulares, e
recentemente pra o ENEM.
As parcerias da esfera privada de cunho financeiro são menos complexas, e
certamente também, em número menor. De fato, são seis as fontes de recursos com as
características que definimos: Joanna D’Arc de Paula Almeida, proprietária de um cartório na
capital; Antônio Barbosa de Souza e família, através do escritório de uma Fazenda; Jaime
Valler, proprietário do jornal O Estado; Fundação Barbosa Rodrigues, que deve cancelar as
doações a partir de maio de 2013, o ILK já foi notificado116; a AMAMSUL, que credenciou o
ILK a receber recursos através da “Corrente do bem”; e por último, os sócios-contribuintes,
que são boletos mensais a partir de R$ 15,00 que o ILK tenta ampliar sua receita, de maneira
que consiga cobrir os aproximadamente R$ 13.000,00 de gastos mensais da instituição.
Parcerias privadas também se materializam em doação de alimentos, de
comerciantes e da rede Comper de Supermercados; e do Deputado Estadual Lauro Davi que
cede uma funcionária ao ILK, atualmente o ILK não tem despesa com a funcionária Luciana,
coordenadora administrativa, que antes tinha salário pago pelo ILK.
Dentre as doações individuais, certamente a do Daniel Reis é a mais
expressiva, e possui uma finalidade específica: compõe um fundo, de nome Daniel Reis com
objetivo de ajudar ex-alunos da instituição, ou seja, é um fundo que colabora com a
permanência de alunos no ensino superior, seja com apoio financeiro para aluguel, compra de
material didático, ou de equipamentos necessários para melhor desempenho dos alunos.
O fundo nasce a partir do compromisso de uma doação anual, no valor de
15.000, 00 R$, por parte do Daniel Reis, que teve início em 2010 e ainda vigora em 2013,
período da pesquisa. Este recurso é base para criação do fundo e possui uma destinação
específica: os ex-alunos. Devido este fundo, foi criada também uma comissão responsável
pela seleção dos alunos, pela movimentação financeira, duração e valor que deve ser
destinado a esses ex-alunos, composta por integrantes da diretoria, da coordenação
pedagógica, da coordenação administrativa e pelo próprio Daniel Reis.
115
Centro Universitário da Grande Dourados – UNIGRAN, mais uma faculdade privada presente em Campo
Grande-MS
116
Este convênio foi cancelado devido a desdobramentos do caso de corrupção envolvendo a Santa Casa de
Campo Grande, devido a isso todos os convênios da Fundação Barbosa Rodrigues serão cancelados e
investigados. A Fundação é parceira do ILK desde a criação da instituição em 2003.
140
interlocutoras sobre o dia-a-dia da instituição. Elas são o elo, tanto com a diretoria, como com
os alunos, e também foram as minhas interlocutoras no ILK, visto que a diretoria não possui
horários fixos, enquanto, a coordenação pedagógica cumpre horários.
Mudança na diretoria
117
No início do ano de 2013 a assistente social, Josemary Silveira Braga, do ILK teve que ser demitida pelo
ILK.
144
problema em um dos joelhos. De certa maneira esta preocupação se faz presente na ata em
que renuncia a diretoria do ILK e subsequentemente há a aclamação da nova diretoria. Em ata
consta da seguinte maneira:
Considerações
CAPÍTULO 4
118
Em homenagem a um militante do movimento negro sul-mato-grossense, Aparício Luis Xavier de Oliveira,
conhecido como Mister Apa, que faleceu em 12 de julho de 2001, em Brasília.
150
119
O artigo 6º da Constituição Federal de 1988 define: “São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação,
o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a
assistência aos desamparados, na forma desta Constituição”.
152
ou seja, o momento negro se caracteriza como sendo o passo rumo à efetivação da temática
racial numa agenda política de governo nacional.
Nos anos 1990, com crise fiscal e escassez de recursos, o Estado preocupa-
se cada vez mais com eficiência, efetividade da ação estatal, e com a qualidade dos serviços
públicos. No início dos anos 1990, ainda buscava-se integrar a agenda democrática dos anos
1980 com esses novos valores, alguns componentes da proposta neoliberal, que se inserem na
plataforma de reformas políticas e sociais do Brasil, (DRAIBE, 1992; FARAH, 2000)
principalmente via novas formas de articulação com a sociedade civil e o mercado.
principalmente a seu valor operacional, que podemos falar de políticas públicas regionais, no
caso, do estado de MS.
Dessa maneira, ao discutir políticas públicas, estamos na verdade tentando
traçar aspectos do diálogo entre Estado e sociedade civil organizada, em nosso recorte: MS e
movimento negro regional. Nesse sentido política pública não é encarada simplesmente em
seu aspecto instrumental, mas em seu aspecto dialógico, de articuladora de uma relação entre
Estado e sociedade civil.
120
As políticas repressivas visam combater o ato discriminatório – a discriminação direta – usando a legislação
criminal existente. Note-se que as ações afirmativas procuram combater a discriminação indireta, ou seja,
aquela discriminação que não se manifesta explicitamente por atos discriminatórios, mas sim por meio de
formas veladas de comportamento cujo resultado provoca a exclusão de caráter racial (JACCOUD; BEGHIN,
2002, p.55).
155
de grupos discriminados a vários setores da vida social. As ações valorizativas, tem como
foco principal o combate a estereótipos negativos consolidados sob a forma de racismo e
preconceito, quase sempre ressaltando a pluralidade étnica nacional, e tentando valorizar a
contribuição da comunidade negra brasileira (JACCOUD; BEGHIN, 2002).
As autoras ressaltam um último aspecto, em meio à efetivação das políticas
de promoção da igualdade racial (políticas de repressão, afirmativas e valorizativas) surge
também uma nova institucionalidade, responsável pela implementação, monitoramento e
avaliação das políticas de promoção da igualdade racial. Exemplos: Em 1995, o Grupo
Interministerial de Valorização da População Negra – GTI população negra; e a criação da
SEPPIR em 2003, já sob os auspícios de outro governo.
Dessa maneira, o movimento negro possui uma participação direta na esfera
pública que problematiza a temática. A entrada da questão racial na agenda pública é fruto de
anos de militância do movimento negro, e consequentemente, as políticas públicas
decorrentes desse processo tem interferência da sociedade civil organizada. Salienta-se ainda
que esse tipo de processo visa direcionar o Estado, político e institucionalmente como um
instrumento da sociedade civil:
121
Se a Lei Áurea (nº 3.353, de 13 de maio de 1888), não previa nenhuma outra ação que não a abolição da
escravidão no Brasil, a Lei do Ventre Livre (nº 2.040 de 28.09.1871) previa intervenção do Estado em seu
parágrafo primeiro já anunciava: “Os ditos filhos menores ficarão em poder o sob a autoridade dos senhores
de suas mães, os quais terão a obrigação de criá-los e tratá-los até a idade de oito anos completos.
Chegando o filho da escrava a esta idade, o senhor da mãe terá opção, ou de receber do Estado a
indenização de 600$000, ou de utilizar-se dos serviços do menor até a idade de 21 anos completos. No
primeiro caso, o Govêrno receberá o menor e lhe dará destino, em conformidade da presente lei”.
122
“Como o Brasil deve ser povoado da raça branca, não se concedão benefícios de qualidade algumas aos
pretos, que queirão vir habitar o paiz [...] E como havendo mistura de raça preta com branca, a segunda, ou
terceira geração ficam brancos, terá o Brasil em menos de 100 annos todos os seus habitantes da raça
branca (SEQUEIRA, 1821. Apud. HOFBAUER, 2006; p.187).” E J. B. Lacerda, disse essas importantes
156
capoeira e de religiões afro-brasileiras124, entre outros casos. Sendo assim, o negro circulou na
agenda do Estado, no entanto, somente a partir dos anos 1990, principalmente após a
declaração oficial de que, é sim, um país racista, que políticas públicas mais efetivas, visando
à promoção da igualdade racial dos negros, e de sua cultura, se fortalecem na agenda pública
federal.
palavras num pronunciamento no Congresso Universal das Raças em Londres (1911), onde sua previsão era
do desaparecimento total dos negros em um prazo de um século, muito devido a política de imigração
europeia.
123
Ver detalhadamente em Freire Costa (1989), mas a afirmação de Schwarcz (1993) da o tom: “Guardando
uma certa especificidade, no Brasil, a questão da higiene aparece associada à pobreza e a uma população
mestiça negra (p.230)”.
124
A Capoeira e o Candomblé chegaram a ser considerados ilegais como demonstram (ALBULQUERQUE;
FILHO, 2006). “Quando a República foi proclamada veio a revanche: a capoeira passou a ser contravenção
prevista no Código Penal de 1890, com pena de dois a seis meses de prisão (p.257)”. Enquanto que, os
terreiros: “Apesar dessa investida e da repercussão do congresso, só em janeiro de 1976, durante os festejos
ao Senhor do Bonfim na Bahia, o então governador Roberto Santos assinou o ato administrativo que
garantiu a liberdade de culto para as religiões afro-brasileiras. Só então, os terreiros deixaram de ser
obrigados a pedir licença para funcionarem e foi suspenso o pagamento de taxa ou registro na polícia
(p.243)”.
157
125
O Programa Universidade Para Todos foi criado por meio da Medida Provisória n° 213, em 10 de setembro
de 2004, e institucionalizado pela Lei 11.096, no dia 13 de janeiro de 2005. Dispõe sobre a concessão de
bolsas integrais, parciais e complementares, nos cursos de graduação e sequenciais de formação específica
das instituições privadas de educação superior (com ou sem fins lucrativos), para os estudantes de baixa
renda oriundos da rede pública de ensino ou de instituições privadas, na condição de bolsista integral e que
tenham prestado o Exame Nacional do Ensino Médio. As bolsas integrais são destinadas a estudantes que
possuam renda familiar, por pessoa, de até um salário mínimo e meio, as bolsas parciais de 50% são para
estudantes que possuam renda familiar, por pessoa, de até três salários mínimos e as bolsas complementares
de 25% são para estudantes que possuam renda familiar, por pessoa, de até três salários mínimos, destinadas
exclusivamente a novos estudantes ingressantes [...] é destinado um percentual de bolsas de estudo à
implementação de políticas afirmativas de acesso ao ensino superior de autodeclarados negros e indígenas. O
percentual de bolsas destinado aos cotistas é igual àquele de cidadãos negros, pardos e indígenas, por
Unidade da Federação, segundo o Censo do IBGE do ano anterior à seleção (MARQUES, 2010, p.94-95).
126
A Medida Provisória nº 111 de 21 de março de 2003, cria a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da
Igualdade Racial, mesma data em que ocorre a cerimônia de posse de Matilde Ribeiro no cargo de Ministra-
chefe da SEPPIR.
127
A lei foi alterada para 11.645/08 acrescendo a cultura indígena no corpo da lei, tornando assim obrigatório o
ensino de história e cultura afro-brasileira e indígena.
128
Lei nº 12.288 de 20 de julho de 2010, em meio a outros avanços na promoção da igualdade racial o Estatuto
da Igualdade Racial é aprovado. O projeto é do Senador Paulo Paim – PT.
159
medida encaminhada pelo DEM129 ao STF e por fim, a aprovação da lei de cotas para
Universidades e Institutos Federais130.
O Estado ainda está aprendendo a lidar com políticas de identidade, elas
passam a ser exigidas com força suficiente para serem ouvidas pelas instituições. A identidade
cultural, da maneira como apontada por Hall (2005), como fluida e em construção torna-se
parâmetro para elaboração de políticas públicas; são muitos sujeitos antes calados que querem
gritar pelos seus direitos. Essa politização da identidade gera novos desafios, e o Estado é
“exigido”, as novas agendas e as institucionalidades que surgem são, reflexos também das
exigências da sociedade civil fortalecida em processos identitários.
Hall (1997) aborda a centralidade da cultura131 em nossa modernidade, ele
opera com uma distinção entre cultura em seus aspectos substantivos e epistemológicos.
Compreendendo por substantivo “o lugar da cultura na estrutura empírica real e na
organização das atividades, instituições, e relações culturais na sociedade, em qualquer
momento histórico particular” enquanto que por epistemológico entende-se: “[...] à posição
da cultura em relação às questões de conhecimento e conceitualização, em como a “cultura”
é usada para transformar nossa compreensão, explicação e modelos teóricos do mundo”
(p.16).
Hall (1997) diferencia a cultura em duas partes apenas para colaborar nas
discussões teórico-metodológicas, “o lugar da cultura na estrutura empírica real” é
amplamente significativa ao tratar identidade, pois, segundo Hall as identidades são formadas
culturalmente, e ao tratar identidades sociais, deve-se analisar o contexto cultural no qual está
imerso.
129
“O Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) considerou constitucional a política de cotas étnico-raciais
para seleção de estudantes da Universidade de Brasília (UnB). Por unanimidade, os ministros julgaram
improcedente a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 186, ajuizada na Corte pelo
Partido Democratas (DEM)”. In:
http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=206042
130
A Lei nº 12.711/2012, sancionada em agosto deste ano, garante a reserva de 50% das matrículas por curso e
turno nas 59 universidades federais e 38 institutos federais de educação, ciência e tecnologia a alunos
oriundos integralmente do ensino médio público, em cursos regulares ou da educação de jovens e adultos. Os
demais 50% das vagas permanecem para ampla concorrência. In: http://portal.mec.gov.br/cotas/perguntas-
frequentes.html
131
“A expressão “centralidade da cultura” indica aqui a forma como a cultura penetra em cada recanto da vida
social contemporânea, fazendo proliferar ambientes secundários, mediando tudo” (HALL, 1997).
160
O que, de fato vemos nesse cenário que Hall (1997) tenta detalhar é um
alargamento na esfera pública, que em um movimento simultâneo, também acaba por baralhar
ainda mais dimensões públicas e privadas da vida social. A esfera da cultura passa, cada vez
mais, a fazer parte dos debates e embates presentes na esfera pública, e a própria identidade
acompanha esse movimento. As feministas deram subsídios políticos e teóricos para
politização da raça, etnia, sexualidade entre outras identidades.
O movimento negro e sua luta por políticas públicas focais são parte dessa
caminhada rumo à politização de identidades culturais, a insuficiência da homogeneidade em
torno dos discursos sobre Estado-Nação são sintomáticos da politização cultural. Políticas de
gênero, de raça, de etnias passam a ser reconhecidas como necessárias frente à ampliação da
agenda da sociedade civil organizada.
O sociólogo Boaventura de Sousa Santos (2008) enxerga no mesmo
movimento, a tensão social que tem como resultado a mediação por meio da cultura:
161
Entre 1999 e 2005, também teve voltado para a educação para as relações
etnicorraciais o “Curso de Capacitação de Educadores AWA DE!”, oferecido pela SED. A
capacitação de professores era a maior preocupação em relação a uma Afroeducação, ou
educação para relações etnicorraciais, ou diversidade, que foram os rótulos mais marcantes
desse período.
Em 2000, houve a inauguração da Escola Estadual Antônio Delfino Pereira,
localizada na comunidade Tia Eva, seguida pela implementação do ensino médio na Escola
163
Estadual Zumbi dos Palmares, na Comunidade Rural Furnas do Dionísio132. E, por fim, a
introdução da temática racial no movimento da Constituinte Escolar133.
O Governo estadual pressionado pelas lideranças estudantis, implementou
um curso pré-vestibular na rede estadual de educação em 29 de setembro de 2001. Nesse
curso pré-vestibular 30% das vagas eram reservadas a alunos negros. O primeiro curso teve
duração de dois meses e ocorreu em cinco escolas de Campo Grande. Com os resultados
obtidos houve ampliação do projeto, que em 2002 ocorreu em 14 municípios.
Entre os anos de 2002 e 2003, gestavam-se as ações afirmativas da UEMS:
Por meio da Lei 2.589, de 26 de dezembro de 2002, dispôs sobre a reserva de vagas para
indígenas e a Lei 2.605, de 06 de janeiro de 2003, destinou 20% das vagas para os negros.
Entre 2003 e 2006, a SED sob a direção de Hélio de Lima apresentou, o projeto político
pedagógico (2003 – 2006) chamado Escola Inclusiva: espaço de cidadania. Na sequência, em
2004, é realizado pela SED o “I Fórum Estadual: Educação e Diversidade Étnico-Racial –
Implementando a lei 10.639 em Mato Grosso do Sul”. Evento apoiado pelo Governo Federal,
através da SECAD e com a participação de professores dos diversos níveis de ensino
(BORGES, 2008).
Em 2005 foi publicado o “Caderno de Diálogos Pedagógicos – Combatendo
a Intolerância e Promovendo a Igualdade Racial na Educação Sul-Mato-Grossense”. Este
dirigido a professores da rede estadual de ensino, com intuito de subsidiar intervenções
antirracistas nas escolas. Em conformidade com as políticas no plano federal, o governo
estadual realizou trabalhos específicos para demanda racial, com professores da rede estadual
de ensino (BORGES, 2008).
Tivemos ainda a formulação do Plano Municipal de Políticas de Promoção
da Igualdade racial para o Município de Campo Grande, na gestão de Nelsinho Trad (2005-
2008 e 2009-2012) do PMDB. (BORGES, 2008). Ainda em 2006 tivemos a aprovação do
projeto de decreto legislativo nº 487/06, de 09 de maio de 2006, que institui o prêmio
Aparício Luis Xavier de Oliveira - Mister Apa, em comemoração ao Dia da África.
Em 2008, houve a aprovação da lei nº 3.594, de 10 de dezembro de 2008,
que institui, como medida de promoção da igualdade de oportunidades no mercado de
trabalho, o programa de reserva de vagas, para negros, em concursos públicos para
132
Esta comunidade está localizada atualmente no município de Jaraguari, que nasceu depois da chegada dos
Dionísio, no final do século XIX, foi reconhecida pela Fundação Palmares em 2005, e abriga cerca de 89
famílias.
133
A Constituinte Escolar elaborou o Plano de Educação para a Rede Estadual Mato Grosso do Sul (BRAZIL;
VALEMTIM; FURTADO, 2012).
164
Políticas Valorizativas no MS
134
Em 20 de novembro é comemorado o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra desde que a presidente
Dilma Rousseff decretou a lei 12.519, de 10 de novembro de 2011, uma homenagem ao dia da morte de
Zumbi dos Palmares. A ideia de marcar o 20 de novembro é de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, iniciativa
do poeta Oliveira Silveira, membro do Grupo Palmares, uma associação cultural negra (MUNANGA, 2006).
135
O Fórum teve a presença dos Embaixadores de Gana, Gabão e Nigéria, e mais 9(nove) Diplomatas de
Camarões, Senegal, Togo, Marrocos, Nigéria, Angola, Gabão, Gana e Costa do Marfim, realizado nesta
Capital, tendo como tema “A criação da Casa de África no Brasil. (PROJETO DE DECRETO
LEGISLATIVO Nº 487/06).
165
Políticas Afirmativas no MS
Art. 1° Ficam reservadas para os negros 10% das vagas oferecidas em todos
os concursos realizados pelo Poder Executivo Estadual para provimento de
cargos e empregos públicos, da administração direta e indireta (MATO
GROSSO DO SUL, DECRETO N° 12.810, 2009).
167
Esta política valoriza uma peculiaridade na saúde, visto que são doenças de
predominância na população negra e a lei possibilita uma melhora no diagnóstico139 e,
portanto, no tratamento de uma doença caracterizada pelo traço falciforme.
138
O termo “doença falciforme” é usado para determinar um grupo de afecções genéticas caracterizadas pelo
predomínio da Hemoglobina S (HOLSBACH, et al., 2008). São doenças de predominância da raça negra.
139
De 190.809 indivíduos triados, 2.624 (1,38%) encontraram-se alterados, correspondendo a 2.385 neonatos e
239 crianças maiores de 28 dias. Não houve diferença entre os sexos, sendo 1.335 do sexo feminino e 1.289
do masculino. Os genótipos alterados encontrados foram traço falciforme (FAS [99,16%]) e doenças
falciformes (FS [0,61%] e FSC [0,23%]) (HOLSBACH, et al., 2008, p.277).
169
[...] durante uma semana tiveram aulas para entender a problemática racial
no Brasil, e a necessidade de elaboração de políticas públicas, que
contemplassem e provocassem a iniciativa em todas as áreas de governo,
isso foi um fato significativo no governo do Zeca, é bem verdade que pouco
se implementou. Quase que não passou do ato significativo de elaborar,
pouco se implementou, tanto é verdade que, eu era então presidente do
Conselho Estadual de Defesa dos Direitos do Negro (CEDINE), que uma
instituição no rol daquelas que tem a incumbência de exercer o controle
social das ações governamentais, e nós convocamos Lucimar Rosa Dias, que
era da casa civil para, em nome do Governo prestar contas ao conselho. Bom
o plano está aqui, o que é que vocês fizeram? Esse é o nosso papel, e aí a
Lucimar foi lá, deu explicações e, ora, a grosso modo, nós avaliamos na
época que o governo não conseguiu passar perto dos 20% de implemento das
ações programadas (Entrevista, Aleixo Paraguassú, 2012).
170
universalistas, uma defesa das ações afirmativas como sendo uma maneira de combater as
desigualdades raciais é colocada no interior do Plano Municipal.
As primeiras páginas do Plano trazem uma discussão conceitual sobre ação
afirmativa, racismo, preconceito, discriminação, políticas universalistas e equidade. Um
quadro com “a cronologia das lutas por igualdade de direitos no Brasil” também contribui
historicamente com os argumentos conceituais, no entanto, nenhuma referência estadual ou
municipal da resistência negra é citada. Este fato é sintomático da presença negra no
imaginário coletivo municipal, apesar das festas, de comunidades remanescentes e até mesmo
da escravidão que ocorreu no estado.
As propostas são gerais, quase sempre trazendo o sufixo “Campo Grande”
apenas como símbolo de uma municipalização das políticas, ou seja, as especificidades da
cidade na desigualdade racial não são tratadas, dificultando a capacidade de “estabelecer
parâmetros e fomentar a execução de políticas com capilaridade para combater as
desigualdades raciais de Campo Grande (PLANO MUNICIPAL, 2006, p.37)”. Nem um
diagnóstico sobre a situação da população negra da cidade foi feito, o que de fato teria que ser
a primeira medida, conhecer o público-alvo das políticas governamentais propostas no Plano
Municipal.
A crítica que deve ser feita ao Plano, além de sua não implementação, é que
ele não foi capaz de municipalizar as demandas por promoção da igualdade racial, suas ações
e propostas são similares a outros planos já realizados, como o Programa Superação das
desigualdades raciais de MS.
No MS temos a pauta racial como parte de uma pseudo agenda pública, que
de acordo com Eliane Barbosa da Conceição (2010, p.90) “seria formada pelos itens que, de
alguma forma, são registrados ou cuja demanda é reconhecida, para os quais não ocorra, no
entanto, a explícita consideração de seu mérito”. Os planos, tanto o municipal quanto o
estadual, foram aprovados sem verbas para sua real efetivação. Os planos em alguns pontos
não servem nem para um diagnóstico sério da população negra da região, são apenas parte de
uma pseudo agenda governamental.
172
do governo estadual, não consegue recursos nem força política suficiente para propor novas
políticas públicas.
Se o momento negro é marcado por uma nova institucionalidade e pelo
avanço nas agendas públicas em relação às demandas raciais, o que temos no MS, ainda é
pouco. Grande parte da agenda pública ainda é uma pseudo agenda, enquanto que o mesmo
pode se afirmar da institucionalidade. Nesse sentido, os avanços mais concretos são as
conquistas que se tornaram leis. As leis são a maneira pela qual o movimento negro sul-mato-
grossense mais adquiriu conquistas de maneira sustentável.
As estâncias legislativas trazem uma extrema debilidade para a construção
de políticas de promoção da igualdade racial. Na Câmara dos vereadores nenhum possui
aproximação com o movimento negro, na Assembleia Legislativa um deputado estadual,
Amarildo Cruz – PT, pauta demandas raciais na assembleia, sem esquecer Pedro Kemp,
também do PT, ambos propositores das políticas afirmativas do estado e ainda na Assembleia.
As políticas afirmativas são as maiores conquistas, e as de mais fácil
monitoramento por parte da sociedade civil, as leis tornam políticas compromisso de estado.
A via jurídico-legislativa ainda permanece como sendo a alternativa mais concreta de
construção de políticas de promoção da igualdade racial, não menosprezando os programas,
capacitações, seminários e outros eventos realizados no estado, mas, ao tratar políticas
afirmativas no estado tem sido a única maneira de assegurar compromissos políticos com o
movimento negro de maneira mais consistente e contínua. Ou seja, o movimento negro,
consciente dessa relação dissimulada, encontra nas leis a única força capaz de ater o estado a
seus compromissos com a promoção da igualdade racial.
Maria José de Jesus A. Cordeiro, afirma em sua tese de doutorado, ao tratar
da aprovação das cotas na UEMS:
essas políticas públicas, que são frutos da relação entre estado e sociedade civil no estado, são
também devedoras de heranças da cultura política brasileira: pessoalizada, patrimonialista, de
favorecimentos, de grandes desigualdades sociais e ainda com traços autoritários.
O ILK
Teresa Sales (1994) também olhando para o favor o relaciona com a cultura
da dádiva. A cultura política da dádiva, que apesar de relacionar-se, primordialmente ao poder
que emana do latifúndio no início da república brasileira, faz com que os homens livres
percebam a conquista dos direitos básicos e da cidadania, como uma dádiva outorgada pelos
senhores das terras, uma cidadania concedida.
175
O pedir, para além do obedecer, que faz parte do cerne da cultura política da
dádiva, implica necessariamente um provedor forte. Ao lado do legado
escravista, esse provedor forte, a respeito do qual há um consenso entre os
vários autores que se debruçaram sobre nossa herança colonial, foi o
domínio territorial. Seja ele expresso como sesmaria, como latifúndio
escravocrata ou como grande propriedade, o aspecto que aqui quero resgatar
é o de domínio rural ou domínio territorial, ou seja, o que implica a
contrapartida do favor, da dádiva, do mando e subserviência (SALES, 1994,
p.28).
O outro caminho trilhado pelo homem pobre teve seu ponto de partida no
caráter prescindível desse sujeito na estrutura sócio-econômica. Essa
existência dispensável levou-o, em última instância, a conceber sua própria
situação como imutável e fechada, na medida em que as suas necessidades
mais elementares dependeram sempre das dádivas de seus superiores
(FRANCO, 1976, p.104).
A identidade
140
No ILK, assim como na UEMS, a dimensão social da renda é considerada para fazer a seleção das inscrições
realizadas.
178
CAPÍTULO V
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
“Negro para ser igual tem que ser melhor” (frase dita por Aleixo
Paraguassú Netto, após realização da entrevista em sua residência, 2012).
A simples negligência de problemas culturais, étnicos e raciais numa
sociedade nacional tão heterogênea indica que o impulso para a preservação
da desigualdade é mais poderoso que o impulso oposto, na direção da
igualdade crescente. [...] Nenhuma democracia será possível se tivermos
uma linguagem “aberta” e um comportamento “fechado”. (Florestan
Fernandes, 1972).
clivagem nas políticas de segurança pública, saúde, habitação entre outras, ele apenas
responde as leis aprovadas, e mantém “instituições representativas”.
Podemos apontar como resultados dessa pesquisa sobre a sociedade civil
sul-mato-grossense, que ela ainda preserva vícios políticos oriundos da colonização, e que
apesar de várias conquistas, aqui retratadas pelas políticas públicas raciais, ainda não
consegue pautar uma agenda pública para o Estado. A institucionalização (internalização e
Ongzação) nem sempre representa um ganho de espaço político de fato, o caso sul-mato-
grossense é um exemplo de pseudo institucionalidade, na qual o movimento negro regional
ainda não soube como atuar. A entrada da sociedade civil na sociedade política, em termos
gramscinianos, não representa, necessariamente, uma política ofensiva da sociedade civil
(COHEN; ARATO, 2000).
Os principais avanços conquistados pelo movimento negro sul-mato-
grossense são medidas legais, da qual o próprio Estado não pode se furtar a não realizar pela
devida compreensão do Estado democrático de direito. Na esfera nacional a situação não é tão
diferente, a lei tornou-se um dos principais instrumentos de promoção da igualdade racial no
Brasil.
No que tange a identidade negra, o MS realizou seu próprio debate, a
princípio, em torno das ações afirmativas, mas também construiu suas políticas de promoção
da igualdade racial estaduais. A identidade negra passa a ser pautada a partir das políticas de
ação afirmativa na UEMS, que faz uso como critério de definição dos negros, o fenótipo e
características socioeconômicas.
É de extrema importância retratar que as políticas de promoção da igualdade
racial, em especial as políticas afirmativas, trazem uma nova perspectiva para o debate racial
brasileiro. No século XIX, esse debate foi marcado por uma grande biologização da raça, com
políticas de imigração, eugênicas, higienista, entre outras tentativas de branqueamento da
população e de seus costumes, mas também pelo “pecado da omissão” do Estado brasileiro
para com os negros após abolição.
Apartir da década de 1930, se fortalece um discurso assimilacionista, de
integração de brancos, negros e indígenas e seus mestiços, este discurso é formador do
Estado-nação brasileiro e legitimador da democracia racial. Entre as décadas de 1930 e 1970,
o discurso de democracia racial cristalizou-se no Estado, e no meio social, somente com as
denúncias do movimento negro das décadas de 1980 e 1990 foi possível (re) formular as
estratégias de luta antirracista, nas quais, somente os negros da virada do século XX começam
a usufruir das conquistas políticas dessa luta.
182
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ANEXOS
194
ANEXO A
Hino De Mato Grosso Do Sul
Os celeiros de farturas,
Sob um céu de puro azul,
Reforjaram em Mato Grosso do Sul
Uma gente audaz.
A pujança e a grandeza
de fertilidades mil,
São o orgulho e a certeza
Do futuro do Brasil.
Vespasiano, Camisão
E o tenente Antonio João,
Guaicurus, Ricardo Franco,
Glória e tradição!
A pujança e a grandeza
De fertilidades mil,
São o orgulho e a certeza
Do futuro do Brasil.
195
ANEXO B
Três poemas de Lobivar Matos
NEGRINHO LAMBIDO
O tempo está batuta, cotuba de bom
e os moleques jogam bola no meio da rua...
Tranco, cachaço, canelada, fulêpa.
Trepado no muro,
o negrinho da família Barros
bate palmas, grita, faz um berreiro do barulho
Se o negrinho estivesse jogando
vê lá se aquele trouxa do Romeu
fazia de besta.
Negrinho tem canela de ferro,
negrinho não tem medo de cachaço,
negrinho sabe tirar fulêpa.
Mas o negrinho não se póde jogar,
o negrinho foi achado na rua,
o negrinho foi creado na chinela
e é todo quebrado de tanta pancada no lombo.
Negrinho é cínico.
perdeu a vergonha
o “rabo de tatú” tirou a vergonha do negrinho.
Negrinho deixa vassoura no canto,
negrinho pára no meio da rua e atrasa o almoço,
negrinho só sabe mentir;
rouba doce no armario,
furta tostão na gaveta,
embrulha, treiteiro, chorão
e por qualquer coisa abre a boca no mundo.
Negrinho treiteiro,
negrinho lambido,
“rabo de tatú” te entortou,
a família Barros te lambeu.
MULATA ISAURA
Mulata Isaura, cuidado com o filho da patrôa.
Você pensa que ele gosta de você.
Não gosta, não, boba.
Seu riso é falso.
Suas promessas são falsas.
Seus carinhos são falsos.
Tudo nele é falso.
Ele quer pegar você
como pegou Josefa, aquela morena alegre
que morreu de fome
abandonada
no hospital.
Não vá atrás dele não, boba
196
SAROBÁ
Bairro de negros,
negros descalços, camisa riscada,
beiçolas caídas,
cabelo carapinha;
negras carnudas rebolando as curvas,
bebendo cachaça;
negrinhos sugando as mamas murchas das negras, .
negrinhos correndo doidos dentro do mato,
chorando de fome.
Bairro de negros,
casinhas de lata,
197
Bairro de negros,
mulatas sapateando, parindo sombras magras,
negros gozando,
negros beijando,
Bairro de negros
chinfrim,
bagunça,
Sarobá.
198
ANEXO C
Lista de entidades do movimento negro de MS141
06 Associação dos Remanescentes Nioaqaue Lazaro Nunes R. Eustacio Peres, s/n, 3236-1971 / 9627-3273
Quilombolas das Famílias Araújo Ribeiro Bairro Monte Alto,
e Ribeiro 79.220-000, Nioaque-MS
07 Associação dos Remanescentes Nioaque Edmara da Silva R. Eustacio Peres, s/n, 9653-5642 / 3236-1804
Quilombolas das Famílias Araújo Ribeiro Bairro Monte Alto, edmaragen@hotmail.com
e Ribeiro 79.220-000, Nioaque-MS
08 Associação Familiar da Campo Grande Rosana Claudia Rua Barão de Limeira, 3346-8199
Comunidade Negra São João Anunciação 1700, Bairro Santa
Rosana.afcnsjb@gmail.com
Batista Branca,
cep. 79.050-120, afcnsb@ibest.com.br
Campo Grande-MS
141
Lista disponibilizada pela Presidente do Fórum das Entidades do Movimento Negro de Mato Grosso do Sul.
199
09 Associação Riobrilhantense de Rio Brilhante Maria de Fátima Brito R. São Luiz de Cáceres, 801, 9957-2398
Negros “Juliana Cardoso de Brito” Vila Olímpica, cep. 79.130-
000
10 Associação Trabalho, Estudos, Campo Grande Lucio Martins da Silva Rua Meriti, 18, Bairro 8403-2093 / 3314-3955
Cultura Afrodescendente em Moreninha II, cep. 79.065-
Movimento” José Mauro de Souza 206 Campo Grande – MS luciotudodebom@hotmail.com
11 CENAB–Congresso Nacional Paranaiba Lourisvaldo Joaquim Rua Da Saudade, 10, Santo 8111-4019
Afro-Brasileiro da Silva Antonio, cep. 79.500-00
12 Centro de Educação Infantil Eva Campo Grande Cleidevana Maria do Rua Eva Maria de Jesus, s/n , 314-7494
Maria de Jesus /Tia Eva Socorro Chagas Vila São Benedito, cep.
79.118-732, Campo Grande
– MS
13 CNAB-MS Paranaíba Olinezia Moreira da R. Barão do Raio Branco, 8129-4719 / 9104-8856
Silva 2126, Jardim Beira Mar, cep. olineziauems@yahoo.com.br
79.500-00 Paranaiba-MS
14 Coletivo de Mulheres Negras de Campo Grande Ana José Alves Lopes Rua João Rosa Pessoa, 426, 9914-6155
Mato Grosso do Sul “Raimunda Bairro Monte Castelo – anajolopes@terra.com.br
Luzia de Brito” Campo Grande – MS, cep.
79.010 -120
15 COMAFRO Dourados Wander Nishiima 8129-3182
vander.neshijima@gmail.com
vrnishijima@hotmail.com
16 Comunidade de Ourolândia Rio Negro Nilza Maria Silva dos Comunidade de Ourolândia 9964-4101
Santos ,Cep. 79.470-000 Rio Negro-
MS
17 Comunidade Quilombola Dourados Ramão Castro de Rua Deziderio Felipe de 8127-8660
Dezidério Felipe de Oliveira/ Oliveira Oliveira, 1100, Jardim
Picadinha Florida 2, cep. Dourados
– MS
18 Comunidade dos Pretos Terenos Miguel Jerônimo da Rua Eduardo Carlos 9628-6798
Silva Junior Gaglaus, 171, Vila
Demétrios, cep. 79.190-000
Terenos -MS
200
19 Comunidade Furnas dos Dionísio Jaraguari Maria Aparecida Furnas dos Dionísio 9637-1531
20 Comunidade Quilombola Quintino Pedro Gomes João Batista Elias Rua 15 de novembro, 141, 9269-8664
Bairro São Luis, cep. 79.410- Bia 9982-2018
00
Pedro Gomes – MS
21 Comunidade Santa Tereza Figueirão Adauto Candido Av. Bráulio Barbosa de 3274-1412
Pereira Souza, s/n°, cep. 79.428-000
Figueirão - MS
24 Conselho Municipal dos Direitos Campo Grande Lucio Martins da Silva Rua Helio de Castro Maia, 3314-5189 luciotudodebom@hotmail.com
do Negro – Campo Grande 279, Bairro Jardim Paulista,
cep. 79.050-020, Campo
Grande-MS
25 Coordenação das Comunidades Campo Grande Ramão Castro de Rua Jornalista Belizário 8127-8660
Negras Rurais Quilombolas do Oliveira Lima, 263, Vila Sobrinho,
Estado de Mato Grosso do Sul - cep. 79.00-420 Campo
CONERQ-MS Grande - MS
26 Coordenação de Promoção da Bataguassu Marilza Barros Av. Campo Grande, 163, 9919-4047/ 3541-1818
Igualdade Racial centro, cep. 79.780-000
Bataguassu - MS
27 Coordenadoria de Políticas para a Costa Rica José Edson Narcizo R. Ambrosina PaesCoelho, 3247-7000 / 3247-4078
Promoção da Igualdade Racial Gonçalves 228, centro, cep. 79.550-000 subal@costarica.ms.gov.br
Costa Rica - MS
28 Coordenadoria de Políticas para Campo Grande Raimunda Luzia de Parque dos Poderes, Bloco 3318-1016
Promoção da Igualdade Racial Brito VIII, cep. 79.031-902 , raimundaluzia@terra.com.br
Campo Grande – MS
29 Departamento de Direitos Dourados Anísio dos Santos Rua Coronel Ponciano, 1700. 3411-7746 / 8423-3621
201
34 Fórum Permanente de Entidades Campo Grande Vania Lucia Baptista Rua Eva Maria de Jesus, 9637-7157
do Movimento Negro do Mato Duarte 274, Vila São Benedito, Cep. vanialucia.duarte@gmail.com
Grosso do Sul 79.118-732
35 Fórum Permanente Diversidade Campo Grande Rute Martins Valentim Parque dos Poderes Bloco V, 3318-2235
Educação Étnico-Racial Av. do Poeta, Campo
Grande-MS rutemv@gmail.com
36 Gerencia de Promoção da Corumbá Edmir Moraes R. 15 de Novembro, 400, 9623-2199 / 3907-5434
Igualdade Racial Centro, cep. 79.300-000
Rogério
37 Grupo Raízes Negras Aquidauana Artur Padilha Rua Candido Mariano, 1973, 9909-6348 / 9269-6617
Bairro Guanandi, cep. Artur.padilha@gmail.com
79.200-000, Aquidauana-MS
38 Grupo TEZ – Trabalhos Estudos Campo Grande Vania Lucia Baptista Rua EVA Maria de Jesus, Vanialucia.duarte@gmail.com
Zumbi Duarte 274, Vila São Benedito, 9108-7078 / 9637-7157
CEP.79118-732, Campo
Grande -MS
39 Igreja Bíblica Cristã Internacional Campo Grande Bispo Tsinduka Rua Ine Nakamura, 218, 8128-8467 / 8135-7218
Antonio Muana Uta Jardim das Nações, Campo tsimuana@yahoo.com.br
202
Grande – MS
40 INCRA-MS/ Setor de Quilombos Campo Grande Cindia Brustolin Av. Afonso Pena, Campo 3383-2008
Grande-MS cindia.brustolin@cpe.incra.gov.br
Mauro
41 Instituto Cultural Negraeva Campo Grande Sandra Mara Martins Rua Ciro Nantes Silveira, 8412-0206
dos Santos 382, Vila São Benedito, Dandara-mahia@hotimail.com
cep.79.118-400, Campo
Grande-MS
42 Instituto Casa da Cultura Afro Campo Grande Antonio Borges dos Rua Eva Maria de Jesus, 30, 9946-3665 / 9239-4942
Brasileira Santos Vila São Benedito, Cep. borginho_santos@hotmail.com,
79.118-732
43 Instituto da Mulher Negra do Corumbá Ednir de Paulo Alameda João Leite de 3231-6770 /9623-2199
Pantanal - IMNEGRA Barros, 317, Bairro Popular
Novo, cep. 79.321-340 ednirdepauloMS@hotmail.com
Corumbá - MS
44 Instituto Luther King – Ensino, Campo Grande Regina Av. Fernando Correia da 3384-8919
Pesquisa, Ação Afirmativa Costa, 603, Vila Carvalho – cursos_king@yahoo.com.br
Campo Grande-MS
Pardo
51 Movimento Negro Maracaju Hermes 9941-3269 / 3554-6966
Jeane 9602-0249
52 Movimento Negro de Nova Nova Andradina Maria Felix de R. Da Saudade, 366, Bairro 9215-1714
Andradina Carvalho Capilé, cep. 79.750-000 liafelix@msn.com
53 Movimento Negro de Três Lagoas Três Lagoas Luzia Nunes Mariano R. 35 Casa 30, Vila Piloto 5, 9237-1962 / 9243-0510
Isabela cep. 79.612-290, Três Luzia_nunesmariano@hotmail.com
Lagoas – MS 9267-4885
54 NEAB-UFGD Dourados Maria Ceres Pereira Rua Albino Torraca, 770, 3411-3600
Jardim América, cep.
79.803-020 - Dourados
– MS
55 Secretaria Municipal de Educação Campo Grande Wanessa Odorico Rua Oniceto S. Monteiro, 3314-3813
- Núcleo de Ação Afirmativa 460, Vila Margarida, cep.
79.023-200 - Campo
Grande-MS
56 Universidade Estadual de Mato Dourados Maria José de Jesus Cidade Universitária de 3411-9000
Grosso do Sul Alves Dourados – CP 351 – maju@uems.br
Campo Grande Marlon 79.804-970 Dourados - MS 9264-4582 marlon@uems.br
58 INSTITUTO MADÊ KORÊ Corumbá Nara Sede provisória: Rua: (67)9214-7621 / (67)9667-4034
ODARA DO PANTANAL - Paraíba, casa nº. 25 Q 03 – negranara@hotmail.com
IMKOP Nova Corumbá. CEP:
79321-250
194
ANEXO D
Ficha de inscrição do ILK
FICHA DE INSCRIÇÃO
CURSO PRÉ-VESTIBULAR
I - DADOS PESSOAIS
Nome:_______________________________________________________________________________
Endereço: _____________________________________________nº_____________________________
Bairro: ___________________Cidade:____________________Estado:___________________________
Ponto de referência:____________________________________________________________________
Telefones: Residencial:_______________/Celular:_______________/Recado:_____________________
e-mail:______________________________________________________________________________
Estado Civil: ( ) Casado(a) ( )Solteiro(a) Outros:_______________
Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino Idade:______________
Tem filhos? ( ) Não ( ) Sim Quantos: _____ Idade: ___-___-___-___-___
Etnia: ( ) Branca ( ) Indígena ( ) Negra ( ) Pardo ( ) Outra:______________
Portador de necessidade especial: Qual?
( ) Surdo ( ) Visão sub-normal ( ) Cego ( ) Deficiente Físico
Outro: _______________________________________________________________________________
COMPOSIÇÃO FAMILIAR
SITUAÇÃO HABITACIONAL
Forma de ocupação: ( ) Alugada ( ) Cedida ( ) Própria quitada ( ) Própria financiada ( ) Outra
195
BENS DA FAMÍLIA
Veículo: ( ) Moto ano: modelo: ( ) Carro ano: modelo: ( )Bicicleta
Outros Bens:
OUTRAS INFORMAÇÕES:
Como ficou sabendo do curso pré-vestibular?
( ) amigo ( ) internet ( ) TV ( ) rádio ( ) jornal ( ) cartazes ( ) outro Qual?_____________
Em que ano terminou o Ensino Médio? ______________________
Já estudou no Instituto Luther King? ( ) sim ( ) não Qual curso?___________________ano?___
Possui algum certificado de curso de informática?
( ) Básico ( ) Intermediário ( ) Avançado ( ) Nenhum
Para qual curso universitário pretende prestar vestibular?
___________________________________________________________________________
Escreva de próprio punho os motivos pelos quais você gostaria de ingressar no Curso Pré-Vestibular do
Instituto Luther King:
Declaro, para os devidos fins, ter conhecimento de que o INSTITUTO LUTHER KING é uma instituição de
direito privado, sem fins lucrativos, destinada ao atendimento de pessoas de baixa renda, com enfoque especial nas minorias
sociais, e ainda ser propósito desta instituição atender seus alunos, na seguinte proporção: 45% de etnia branca, 45% de etnia
negra, 5% de indígenas ou descendentes, 5% de portadores de necessidades especiais.
Estou ciente de que a entidade não fornece passe escolar.
Declaro, mais e sob as penas do artigo 299 do Código Penal Brasileiro, que define o crime de FALSIDADE
IDEOLÓGICA, que os dados acima são expressão da verdade.
_______________________________________________
Assinatura do (a) Candidato(a)