Paraíso Deslocado (O Reino de Deus Na Terra)
Paraíso Deslocado (O Reino de Deus Na Terra)
Paraíso Deslocado (O Reino de Deus Na Terra)
O C T
Douglas Wilson
Tradução
Márcio Santana Sobrinho
Para L J ,
pai de gerações fiéis,
cheio de esperança e amor.
Copyright © 2008, de Douglas Wilson
Publicado originalmente em inglês sob o título
Heaven Misplaced: Christ’s Kingdom on Earth
pela Canon Press,
P.O. Box 8729, Moscow, ID, 83843, EUA.
1ª edição, 2020
P , ,
.
Todas as citações bíblicas foram extraídas da versão Almeida Revista Atualizada 21 (ARA)
salvo indicação em contrário.
Introdução
1. No monte do Senhor
2. Paraíso deslocado
3. O que Abraão viu
4. Esperança encarnada
5. Amor inexorável
6. O homem forte amarrado
7. O que os anjos disseram
8. Ao nome de Jesus
10. Todos os confins da terra
11. Aprendendo a ler as promessas
12. As estrelas cairão do firmamento
13. 666 e toda aquela conversa
14. A nova humanidade
15. Completamente maluco
Epílogo
Breve glossário
Leituras adicionais
Introdução
† Sola fide: Expressão latina para “somente pela fé”. Esse termo foi
usado em declarações dos reformadores no século XVI (contrários à
igreja romana), de que as obras não cooperam para a nossa
salvação: somos salvos somente pela fé.
† Gênesis 17.3-8: “Prostrou-se Abrão, rosto em terra, e Deus lhe
falou: Quanto a mim, será contigo a minha aliança; serás pai de
numerosas nações. Abrão já não será o teu nome, e sim Abraão;
porque por pai de numerosas nações te constituí. Far-te-ei fecundo
extraordinariamente, de ti farei nações, e reis procederão de ti.
Estabelecerei a minha aliança entre mim e ti e a tua descendência
no decurso das suas gerações, aliança perpétua, para ser o teu
Deus e da tua descendência. Dar-te-ei e à tua descendência a terra
das tuas peregrinações, toda a terra de Canaã, em possessão
perpétua, e serei o seu Deus”.
4. Esperança encarnada
A vida cresce na morte
Por que não tomamos isso como apenas mais uma profecia
geral de julgamento? Por que temos de aplicá-la à mudança das
eras no primeiro século? Em razão das palavras de Cristo.
Porque estes dias são de vingança, para se cumprir tudo o que está
escrito. (Lc 21.22)
Cristo clama, desamparado por seu Pai (v. 1). Mesmo não
recebendo resposta (v. 2), ele sabe que Deus, aquele que habita
nos louvores de Israel, é santo (v. 3). Nossos pais clamaram a Deus,
e foram ouvidos (v. 4-5). Mas o Senhor, ao menos no presente, está
em um lugar diferente. Eles o desprezam (v. 6-7), e zombam dele
por sua fé (v. 8). A resposta do Senhor Jesus é lembrar-se de sua
vida contínua de fé em Deus (v. 9-10). Ele então renova o pedido a
Deus para ajudá-lo (v. 11, 19). Entre esses dois versos, vemos quão
aflitivas eram as suas circunstâncias — ele foi cercado por touros
ameaçadores (v. 12-13), foi derramado como água e seus ossos
estavam desconjuntados (v. 14), seu coração é como cera (v. 14),
sua força seca-se como um caco de barro e ele é derrubado sobre o
pó da morte (v. 15), os cães o cercaram e suas mãos e pés são
perfurados (v. 16), ele pode sentir seus ossos (v. 17), e competem
com apostas por suas roupas (v. 18). Seu clamor por libertação
resume tudo. Ele clama para ser salvo do leão e dos búfalos (v. 20-
21).
A segunda metade do salmo é um triunfante clamor de fé,
sucedendo ao seu clamor de fé grandemente aflito. Ele louvará a
Deus na congregação (v. 22). Todos os que temem a Deus são
convocados para participar dos louvores (v. 23). Por que isso? Deus
responde a oração dos fiéis, inclusive a deste (v. 24). Cristo deve
louvar a Deus na grande congregação (v. 25). Os mansos (que
herdarão a terra) também comerão e ficarão satisfeitos (v. 26).
Lembrar-se-ão do Senhor e a ele se converterão os confins da terra;
perante ele se prostrarão (v. 27). O Senhor conquistou o mundo por
meio de sua piedosa aflição (v. 28). Os ricos e os pobres o servirão
(v. 29), e o Senhor terá a sua posteridade, que será gloriosa (v. 30).
E eles testemunharão que o Senhor fez isso (v. 31).
Uma antiga tradição cristã dizia que Cristo na cruz começou a
citar o salmo 22 e não interrompeu o saltério até chegar ao salmo
31.5 — “nas tuas mãos, entrego o meu espírito”. Embora não
possamos afirmar isso dogmaticamente, certamente é algo que está
de acordo com o que acontece aqui. Este momento na cruz é o
cumprimento de todos os propósitos de Deus, expressos tão
claramente em todo o Antigo Testamento, e mais particularmente
neste salmo. Um homem teria de estar cego (e, infelizmente, muitos
estão) para não ver como todas essas palavras antigas culminam
numa gloriosa concretização.
As palavras deste salmo foram escritas cerca de mil anos
antes de Cristo. Não estamos apenas falando sobre o que Abraão
viu, mas sobre o que Davi viu também. E, cronologicamente, Davi
era para Cristo o que Guilherme I, rei da Inglaterra, é para nós. Mil
anos antes de tudo acontecer, Davi enxergou, através do Espírito,
que as mãos e os pés de Cristo seriam perfurados (v. 16), que
Cristo morreria nas mãos de seus inimigos (v. 12-13, 16), que sua
roupa seria arrancada (v. 18), e que morreria em agonia (v. 15, 17).
Bem, somos cristãos, então acreditamos em tudo isso. Mas, e o
restante do salmo? Para aqueles de nós que tropeçam na fé, somos
informados de que todas essas coisas, tomadas em conjunto,
conquistarão o mundo (v. 27). Tão certo como os pregos entraram
nas mãos de Cristo, certamente todos os confins da terra se
tornarão cristãos. Além disso, todos esses detalhes da morte de
Cristo foram pormenorizados em profecia, e homens perversos os
cumpriram cegamente, estimando-se senhores da terra (1Co 2.8; Jo
12.32).
Há muitas razões para levar a maldade desses homens
perversos a sério. Eles são descritos aqui como touros furiosos
(muito poderosos). Eles abrem a boca de uma maneira apavorante.
Os cachorros são soltos, e a imagem é a de um animal caçado,
como um cervo, sem local de fuga. Cães assustadores cercam a
vítima do Senhor. E fazem mais do que ameaçar. O Senhor cai nas
mãos deles — o prato está na mesa. Zombam dele, mas também o
perfuram. Eles venceram, e o achincalham convencidos de que
venceram. Eles têm o poder de touros, de cães raivosos, de um leão
rugindo, de um búfalo galopando. Eles exultam ao pendurar o
Messias de Deus sobre o madeiro e o levantar… E por sua ação
perversa realizam a salvação do mundo inteiro. Essa maldade
assassina foi o instrumento da minha salvação, e da sua; e não
apenas da nossa, mas também da salvação de todos os confins da
terra.
Aqui vemos Cristo desamparado pelo Pai. Isso não quer dizer
que a Trindade se desentendeu, mas, sim, que a comunhão
ininterrupta entre Deus e seu Filho encarnado foi interrompida. Este
não é um grito de uma fé agonizante, mas, antes, um grito de aflição
piedosa. Quando Cristo experimenta tal abandono por parte do Pai,
ele cita as Escrituras; o Pai ainda é: “Meu Deus, meu Deus”, e o
salmo continua, expressando que, embora estivesse pendurado na
cruz, Cristo teve, bem diante de si, a gloriosa visão do triunfo de
Deus. As extremidades da terra se converterão, e a alegria diante
dele foi gloriosa (Hb 12.2).
No que isso resulta? “Aquele que não conheceu pecado, ele o
fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus”
(2Co 5.21). Na cruz, a fé de Cristo lançou fora todo o desespero,
pecado, rebelião e perversidade. E porque Cristo morreu como o
substituto perfeito para o seu povo, conquistou o mundo.
O que é escatologia?
Escatologia é o estudo dos últimos dias; a escatologia de alguém é
sua visão a respeito dos “últimos dias”. A palavra é menos
frequentemente aplicada à doutrina do céu e do inferno.
O que é um futurista?
Futurista é aquele que acredita que a profecia do Apocalipse ainda
está por se cumprir (isto é, ainda é futura).
O que é um historicista?
Historicista é alguém que acredita que a profecia do Apocalipse foi e
está sendo cumprida ao longo de toda a história da igreja.
O que é um preterista?
Preterista é aquele que acredita que a profecia do Apocalipse foi
amplamente cumprida no primeiro século. Este livro sustenta uma
visão preterista.
O que é um idealista?
Idealista é alguém que acredita que a profecia do Apocalipse é
simbólica e se aplica a toda a história humana de um modo não
literal.
O que é o amilenarismo?
O amilenarismo afirma que não haverá um milênio terreno literal. O
prefixo, portanto, é de negação. O amilenarista não crê que haverá
um milênio literal na terra. Em vez disso, ele interpreta o milênio em
um sentido espiritual, com os santos glorificados reinando com
Cristo no céu. Assim, estamos no milênio agora, mas em um sentido
espiritual.
O que é pós-milenarismo?
Pós-milenarismo é a visão de que Cristo retornará no final do
milênio. O milênio geralmente é entendido como uma era de ouro da
expansão do evangelho, em que a Grande Comissão é cumprida.
No final desse período, quando todas as nações forem trazidas ao
discipulado de Cristo, ele retornará e destruirá o último inimigo, que
é a morte. A posição defendida neste livro tem sido uma posição
pós-milenar.
A maioria dos pós-milenaristas hoje afirmam que o milênio está
acontecendo agora, o que significa que o milênio não significa
literalmente mil anos. Alguns pós-milenaristas do século XIX
sustentavam que o milênio tinha uma duração literal de mil anos, e
que eram os últimos mil anos da era da Igreja, a qual deveria durar
para além desses mil anos.
[1]
C.S. Lewis, The Weight of Glory (Grand Rapids: Eerdmans, 1949), p. 3.
[2]
Para uma história abrangente desta visão, vide Steve Jeffery, Michael Ovey e Andrew
Sach, Pierced for Our Transgressions: Rediscovering the Glory of Penal Substitution
(Wheaton: Crossway Books, 2007).
[3]
“In war there is no substitute for victory” [Na guerra não há nenhum substituto para a
vitória], frase do general americano Douglas MacArthur. [N. do T.]
[4]
Neste contexto, “sem demora” não significa “repentinamente”, mas “em breve” e “de
forma iminente”.
[5]
Ambrose Bierce, The Devil’s Dictionary (Nova Iorque: Dover Publications, 1958), p. 113.