Psicologia Escolar e o Desenvolvimento de Competencias
Psicologia Escolar e o Desenvolvimento de Competencias
Psicologia Escolar e o Desenvolvimento de Competencias
ISSN: 1415-711X
academia@appsico.org.br
Academia Paulista de Psicologia
Brasil
1. Introdução
Historicamente, a relação entre a Psicologia e a Educação se articula em
função de ideologias, objetivos, teorias e práticas que perpassam e influenciam
essas duas áreas. Esse estreitamento de diálogos e debates tem avançado por
1
Esse artigo refere-se, em parte, à tese de doutorado intitulada Psicologia Escolar e o
Desenvolvimento de Competências: uma opção para a capacitação continuada, defendida
pela autora no Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília, em 2003, e laureada com a
Menção Honrosa 2004-2006 pela Academia Paulista de Psicologia.
2
Psicóloga, Doutora em Psicologia, Professora Adjunto do Instituto de Psicologia da
supracitada universidade . Contato: claisy@unb.br 73
Boletim Academia Paulista de Psicologia - Ano XXV, nº 2/05: 73-85
2. Reflexões e pressupostos
74
Boletim Academia Paulista de Psicologia - Ano XXV, nº 2/05: 73-85
75
Boletim Academia Paulista de Psicologia - Ano XXV, nº 2/05: 73-85
escolar instala, portanto, o exame de uma questão mais profunda que passa
pela complexidade das subjetividades individual e social.
Preparar-se, na atuação profissional, para esta realidade e para a presença
dessas zonas indeterminadas da prática, constitui-se como marco de identidade
que pode vir a resgatar a confiança dos profissionais em seus saberes e
conhecimentos, suas habilidades e capacidades.
A superação do desafio da constituição de uma identidade profissional
preparada para atuar em uma realidade fecunda em zonas indeterminadas da
prática vem nos motivando, nos últimos 10 anos, para o desenvolvimento de
pesquisas, cursos e assessorias dirigidas aos psicólogos escolares da SEDF.
Tais ações têm visado o exame crítico do modelo de atuação até então exercido
e o acompanhamento de propostas de atuação em psicologia escolar preventiva,
com o foco de inserção, compreensão, análise e intervenção na realidade escolar
voltado para a perspectiva institucional e relacional.
Neste sentido, mais especificamente durante o período de 2000 a 2003,
desenvolveu-se uma capacitação continuada em serviço junto a um grupo de
seis (06) psicólogas escolares da rede pública de ensino do Distrito Federal, por
meio de uma assessoria à implementação de uma forma de intervenção
institucional, com base nas relações sociais e sustentada pelo desenvolvimento
de competências (Araujo, 2003; Araujo & Almeida, 2003).
O desenvolvimento de competências nas psicólogas constituiu-se como
foco do trabalho de assessoria aqui apresentado, visando consolidar uma atuação
profissional a partir de uma praxis vivenciada em situações únicas e específicas.
Ao legitimar as funções do psicólogo, à medida que os resultados das suas
ações emergissem e transformassem o cotidiano escolar, buscou-se constituir
um marco de identidade no resgate da confiança dos profissionais em seus
saberes e conhecimentos, suas habilidades e capacidades.
Acreditando, portanto, que o locus da escola é rico em manifestações
concretas de transformações, e que estas podem permear atividades simples e
cotidianas, acredita-se que a natureza da atuação do psicólogo escolar precisa
ser estabelecida diante e em resposta às reais e complexas demandas que a
escola, como instituição sócio-cultural, lhe coloca.
As reflexões apresentadas até aqui pretendem justificar que, na construção
da sua identidade profissional, o psicólogo escolar pode eleger a abordagem por
competências como uma das possibilidades de formação continuada em serviço.
Entretanto, sabe-se que o trabalho por competências deve ser diferenciado
em função das especificidades conceituais, teóricas, metodológicas e
operacionais de cada profissão. É preciso orientar o debate para a natureza das
competências que são necessárias ao psicólogo que trabalha no contexto escolar.
A capacitação por competências surge como alternativa de formação que pode
vir a contemplar, de forma integral, a articulação entre os conhecimentos
76
Boletim Academia Paulista de Psicologia - Ano XXV, nº 2/05: 73-85
3. Problematização e objetivos
77
Boletim Academia Paulista de Psicologia - Ano XXV, nº 2/05: 73-85
4. Estratégias metodológicas
1
A Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal descentraliza suas ações, em cada
cidade, por meio das Gerências Regionais de Ensino, que têm sede, estrutura organizacional
e atribuições administrativo-pedagógicas próprias, funcionando como sub-órgãos
78 intermediários entre as escolas vinculadas a cada Gerência e a SEDF.
Boletim Academia Paulista de Psicologia - Ano XXV, nº 2/05: 73-85
79
Boletim Academia Paulista de Psicologia - Ano XXV, nº 2/05: 73-85
80
Boletim Academia Paulista de Psicologia - Ano XXV, nº 2/05: 73-85
81
Boletim Academia Paulista de Psicologia - Ano XXV, nº 2/05: 73-85
profissionais permeadas por outros contextos – dos sentidos sociais mais amplos
a particularidades pessoais mais preservadas.
A partir dos resultados que foram sendo desenhados no processo, ia-se
procedendo à análise do impacto da assessoria tanto no desenvolvimento de
uma identidade profissional mais competente como na praxis das psicólogas
escolares pesquisadas. Desenvolveu-se, nesse processo de análise, uma síntese
reflexiva utilizada como recurso metodológico para recuperar o conhecimento
produzido no decorrer do processo e os indicadores que delinearam o
desenvolvimento de competências.
Assim, foi possível verificar, recuperando a história do desenvolvimento
das participantes, indicadores avaliativos da construção de competências.
Utilizando-se, como ponto de partida, uma base de categorização de
competências (Araujo, 2003), realizou-se um estudo diagnóstico e comparativo
pontuando: os saberes e habilidades que as psicólogas apresentavam no início
da assessoria, bem como aqueles que, em função da categorização, estavam
ausentes; as demandas para o desenvolvimento de competência que foram
mais recorrentes durante a assessoria; os indicadores de competências que
foram desenvolvidas durante a assessoria; e os desdobramentos, procedimentos
e produtos a partir das competências desenvolvidas na consultoria.
A base do aporte teórico orientador para a análise desse complexo processo
de construção de competências, foram as “vias de desenvolvimento de
competências” definidas por Wittorski (1998).
Considera-se que, antes de ocorrer a intervenção desta pesquisa, as
psicólogas da SEDF atuavam no que Wittorski (1998) chamou de “primeira via
de desenvolvimento”, que equivale a uma formação em serviço realizada por
meio de mecanismos de tentativa e erro: quando uma nova situação exigia do
sujeito novas competências para agir e solucionar as demandas que lhes
surgiam, sua ação ocorria por ajustes sucessivos e adaptações progressivas
de comportamentos, sem que esses tivessem um acompanhamento reflexivo.
Uma “lógica da ação” era desencadeada o que, com o tempo, conduzia à
produção de rotinas cristalizadas, específicas e até eficazes para situações com
as mesmas características, levando à utilização de competências já conhecidas
e desenvolvidas. Wittorski (1998) denomina as competências desenvolvidas nesta
via de “competências incorporadas”.
Quando da implantação da assessoria, configurou-se o que Wittorski (1998)
define como a “terceira via” para o desenvolvimento de competências: as práticas
de trabalho institucionalizadas demandam competências implícitas produzidas
na ação, que são formalizadas e transformadas em “saberes de ação”,
comunicáveis e transmissíveis ao grupo. O processo reflexivo é desenvolvido a
partir das práticas (a “lógica de reflexão sobre a ação”).
82
Boletim Academia Paulista de Psicologia - Ano XXV, nº 2/05: 73-85
6. Desdobramentos e Possibilidades
83
Boletim Academia Paulista de Psicologia - Ano XXV, nº 2/05: 73-85
84
Boletim Academia Paulista de Psicologia - Ano XXV, nº 2/05: 73-85
Referências bibliográficas
85