O Ente e Sua Relacao Com Os Transcendent
O Ente e Sua Relacao Com Os Transcendent
O Ente e Sua Relacao Com Os Transcendent
ANÁPOLIS-GO
2022
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Anápolis-GO
2022
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DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho Àquele que tem me dado a mim mesmo, sendo Ele
princípio e fim de todas as coisas. E à minha mãe, Maria Conceição do Carmo, que
do céu me cobre hoje com suas orações.
4
RESUMO
ABSTRACT
The present work investigate the being and the transcedentals in St. Thomas
Aquinas. We will begin with the problematic that have appeared from the translation,
in the fourteenth century, of the the terms 'ens' and 'esse', as well as its diferences,
besides the distinction between being and substance. Then we shall give the
proprieties e analogical notions of being and their relations with the transcedentals
also, supporting ourselves in the antique and medieval philosophy. Finally, we will
investigate the thomist doctrine that sistematized in a definitive way the
transcedentals, that is, the co-extensives and convertibles aspects with the same
being.
SUMÁRIO
Introdução .................................................................................................... 08
1. O ente ...................................................................................................... 09
2. Os transcendentais ................................................................................... 15
Conclusão ....................................................................................................... 23
Referências ..................................................................................................... 24
8
INTRODUÇÃO
1. O ENTE
1
De veritate, q. 21, a. 2, in c.
2
Época a qual a metafísica começa a se distanciar da teologia dentro das universidades. O que não
faz sentido, já que a partir do livro IX da Metafísica Aristóteles trata da doutrina do ato e da potência
que culmina no primeiro motor imóvel, aquilo que Santo Tomás chamará de Ipsum Esse Subsistens.
3
Para Heidegger, o ser não pode ser definido, pois, ao defini-lo, essa mesma definição o faria
tornar-se ente; logo, o que resta, é uma tentativa de exprimir o ser por metáforas e pela linguagem
poética. Além disso, o Dasein representa o a priori ou transcendental que desvela o ser no ente. Esta
característica apriorística em Heidegger não se dá ao modo kantiano de pressuposição naquele que
é sujeito e que apreende o objeto extramental. O Dasein, que tem o ser do ente como constitutivo da
existência, é o ser-no-mundo que possui basicamente sua "mundanidade" nas características
espaço-temporais: “Sem o Dasein não há desvelamento ou ser no ente”, explicará Nicolás Octavio
Derisi em El último Heidegger - Aproximaciones y diferencias entre la fenomenología existencial de
M. Heidegger y la ontología de Santo Tomás, Editorial Universitaria de Buenos Aires 1968, p. 23-24.
4
Daniel Scherer, A raiz antitomista da modernidade filosófica, p. 23. De modo que “o ato de ser
constitui o ente enquanto ente, posto que ao dizer ‘ente’ se chama o que é enquanto é, na medida
em que tem ser, pelo qual é, a seu modo, algo”, explica Delia María Albisu em Acerca de los
trascendentales, Instituto Immaculada Concepción, p. 5. Em suma: ens designa o sujeito que exerce
o ato de ser, enquanto esse designa o ato mesmo.
10
ruminante é o que rumina, ser é o que é5. Por isso que, gramaticalmente falando,
dizemos que amante é o que ama, ruminante é o que rumina, ser é o que é e ente é
o que é. Está aí uma parte do problema.
5
Carlos Nougué, Suma Gramatical da Língua Portuguesa, É Realizações, 2015, p. 355
6
Édouard Hugon O.P., Os princípios da filosofia de Santo Tomás de Aquino, EdiPuc-RS, 1998, p. 61
7
Álvaro Calderón, Curso de Física, texto esotérico, p. 24. De tradição peripatética, o nome deste tipo
de texto se remonta às aulas internas dadas por Aristóteles aos seus alunos. Doravante os textos
internos de aulas usados como referência neste trabalho serão chamadas de texto esotérico.
8
Santo Tomás de Aquino, Comentário à Metafísica de Aristóteles, Vide Editorial, 2016, p. 277
9
Ir. Miriam Joseph, O Trivium - As Artes Liberais da Lógica, da Gramática e da Retórica, É
Realizações, 2008, p. 50. Por isso que na morfologia gramatical da Língua Portuguesa denominamos
a palavra “homem” como um substantivo, porquanto designa justamente uma substância, ao passo
que predicamos “alto” deste sujeito porquanto designa um adjetivo (qualidade) aplicado ao sujeito. O
qualificador “alto” indica, no caso em tela, uma qualidade, isto é, uma categoria e um acidente
daquela substância.
11
10
Álvaro Calderón, Lógica 06 - Ars Logica - Transcendentales, texto esotérico, p. 4
11
Suma Teológica, I q. 5, a.2: “primo autem in conceptione intellectus cadit ens […]. Unde ens est
proprium obiectum intellectus: et sic est primum intelligibile, sicut sonus est primum audibile”.
12
Iosephus Gredt O.S.B, Elementa Philosophiae Aristotelico-Thomisticae, Sumtibus Herder, 1961, p.
16: “Primum quod in intellectum cadit, est ens”.
13
Pe. Matteo Liberatore, Compendio di Logica e Metafisica, Stab. Tipografico di francesco Giannini,
Museo Nacionale, 1871, p. 11
14
Daniel Scherer, A raiz antitomista da modernidade filosófica (conferir página
15
Zeferino González, Filosofía Elemental, Imprenta de Policarpo López, Madrid, 1876 . p. 31
12
16
Santo Tomás de Aquino, El ente y la esencia (De ente et essentia opusculum - 1252-1256), 4ª
edición, M. Aguillar Editor, Biblioteca de iniciación filosófica, Buenos Aires, 1963.
17
Álvaro Calderón, La naturaleza y sus causas, tomo I, Ed. Corredentora, 2016, p.175.
18
Entretanto, há nuances que as diferenciam secundum rationem, em todo e em parte,
respectivamente: a essência refere-se ao abstrato, ao passo que a quididade ao concreto. Por
conseguinte, se considera a essência uma parte constitutiva e principal do ente, como que um
“núcleo”, enquanto a quididade significa todo o ente, mas por referência ao essencial.
19
Johannes B. Lotz, Transcendentale Erfahrung, Herder, Freiburg, Alemanha,1978, p. 97
20
Pe. Álvaro Calderón, Umbrales a la Filosofía: cuatro introducciones tomistas, 1ª ed., Moreno,
edição do autor, 2011, p. 87
13
2. OS TRANSCENDENTAIS
28
A analogia entis tomista será posta à prova mais adiante na História da Filosofia, sem sucesso,
todavia, por ninguém menos que Duns Scot e sua doutrina da univocidade do ente.
29
Álvaro Calderón, Lógica 06 - Ars Logica - Transcendentales, texto esotérico, p. 5: “Os acidentes
não são tanto algo por si mesmos, senão que a substância é algo por eles" (tradução nossa).
30
Ibidem, loc. cit. Ademais, é através da analogia de atribuição intrínseca que se conhece a Deus na
metafísica (livros IX a XII da Metafísica de Aristóteles comentada por Santo Tomás); pois, neste
modo de analogia, aquilo que é significado pelo nome está em todos os analogados, porém desigual
per naturam. No primeiro analogado (Deus), há o significado pelo nome de modo principal e perfeito,
ao passo que nos demais (criaturas), o há de modo secundário e imperfeito — já que Deus é causa e
as criaturas são seus efeitos.
31
Não se trata de uma especificação, como ocorre na diferença específica em relação ao gênero,
mas somente adição ao ente, já que neste não se pode adicionar nada de estranho, conforme diz
Santo Tomás no De veritate.
32
Henri-Dominique Gardeil, Iniciação à Filosofia de Santo Tomás de Aquino - Psicologia, Metafísica,
Paulus, 2013, p. 360
15
33
Na Filosofia Moderna, o termo “transcendental” assume novas configurações e significados. Um
dos mais importantes parece-nos ser o de Kant, cujo texto diz: “Chamo transcendental a todo o
conhecimento que em geral se ocupa menos dos objetos, que do nosso modo de os conhecer, na
medida em que este deve ser possível a priori. Um sistema de conceitos deste gênero deveria
denominar-se filosofia transcendental”. Immanuel Kant, Crítica da Razão Pura, A 12/B 25, Fundação
Calouste Gulbenkian, Lisboa, 2001, p. 79. A dificuldade parece se agravar na Filosofia
Contemporânea, como, por exemplo, em Ludwig Wittgenstein, cujo termo “transcendental” ocupa
lugar em matérias díspares, como na lógica e na ética (ou estética). Cf. Tratado Lógico-Filosófico/
Investigações Lógicas, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 2015, p. 128: “nº 6.13 - A Lógica não
é uma doutrina, é um espelho cuja imagem é o mundo. A lógica é transcendental”. Ibidem, p. 138: “nº
6.421: É óbvio que a Ética não se pode pôr em palavras. A Ética é transcendental. (A Ética e a
Estética são Um.)”. Ou ainda na significação transcendental em Martin Heidegger de acordo com o
Ser e o Dasein: Cf. Ser e tempo, Editora Unicamp/Editora Vozes, Campinas, 2014, p. 129: “Ser é o
transcendensª pura e simplesmente. A transcendência do ser do Dasein é uma assinalada
transcendência na medida em que nela residem a possibilidade e a necessidade da mais radical
individualização. Toda abertura de ser como abertura do transcendens é conhecimento
transcendental. A verdade fenomenológica (abertura de ser) é veritas transcendentalis”.
ª - ''Transcendens - apesar de toda a sua ressonância metafísica - não à maneira escolástica e
greco-platônica do xotvóv, e sim transcendência como estática-temporalidade
(Temporalitdt)-temporalidade (Zeitlichkeit); (...) Mas transcendência a partir da verdade do ser: o
Ereignis [acontecer apropriante]”.
34
Giovanni Reale - História da Filosofia Antiga - Vol. I, Paulus, 2005, p. 98.
35
Ibidem, p. 92
16
que é seu atributo36. Parmênides dizia no Fragmento 8 que o ser: “nem era nem
será, pois é tudo junto agora, uno, contínuo”.
Sócrates, conforme exposto no início das Memoráveis de Xenofonte, na
Apologia de Sócrates e no Eutífron de Platão, além de ser acusado de “corromper a
juventude”, foi posto no tribunal por “não acreditar nos Deuses nos quais acredita a
cidade, além de introduzir novas Divindades”37. Sócrates tinha aversão ao
antropomorfismo físico e moral dos deuses. Em sua teologia, Deus aparece também
como uno e pertencente a uma “variedade viva no plural”38.
Apesar de os primeiros gregos terem tratado diversos temas que mais tarde
entrariam na ideia de “transcendentais”, Platão e Aristóteles foram os filósofos que
mais se aprofundaram nestas questões, apesar de os terem tratado também de
modo esparso e em diversas obras.
Platão identificava o ser com o bem ou a Ideia Suprema. O verum aparece a
partir da linguagem no diálogo Crátilo39e no livro Parmênides. Ele discorre a questão
do uno e do múltiplo, indispensável à sua metafísica e à Teoria das Ideias, pois,
faz-se necessário resolver a aporia do ente (uno, móvel e eterno) e sua relação com
as coisas que são múltiplas, perecíveis e variáveis.
Já Aristóteles dizia que todo ser carrega unidade e que “se não houver algo
uno em si, nem o ente em si, será difícil existir algo além do que são chamados
singulares”40. Para o Estagirita, o ente é eminentemente uno, verdadeiro e bom.
Em todo o Neoplatonismo, a figura de Plotino talvez seja aquela que mais
deu ênfase à questão do uno, que era justamente princípio de sua hierarquia
ontológica, e dele, por emanação, procediam todas as coisas41.
Santo Agostinho, seguidor de Platão como muitíssimos outros autores da
Patrística e do Neoplatonismo, associou os transcendentais verum e bonum a Deus.
Para o Doutor da Graça, existe uma pluralidade do homem mediante à unidade
querida por Deus, que não é senão a pessoa em si mesma, o ‘eu’ que recorda, ama
e raciocina42.
Os medievais, porém, notaram algo mais consistente e sistemático e que
carregava certa analogia com o ente dentre os conceitos de unidade, beleza,
verdade e bondade, tal como a existência de outras noções intrínsecas, como as de
36
Julián Marías, História da Filosofia, Martins Fontes, 2004, p. 25.
37
Op. cit. apud. Xenofonte, Memoráveis, I, 1, 1; Platão, Apologia de Sócrates; Eutífron, 2 e ss.
38
Ibidem., p. 289
39
Em Aristóteles, a questão da linguagem será esmiuçada no Peri Hermeneias ou Sobre a
interpretação, comentado em parte por Santo Tomás. Para este último, a linguagem tem papel
preponderante na questão do verum, expressa pela famosa sentença “adaequatio rei et intellectus”,
erroneamente atribuída ao Aquinate, sendo o verdadeiro autor o filósofo judeu Ysaac Israeli
40
Santo Tomás de Aquino, Comentário à Metafísica de Aristóteles, livro III, l. 12, Vide Editorial, 2016,
p. 311 [Texto original de Aristóteles: Metaph. 1001a4-1001a20]
41
Julián Marías, História da Filosofia, Martins Fontes, 2004, p. 109-110.
42
Santo Agostinho, A cidade de Deus, Vol. II, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 2016, p. 1141:
“Deus decidiu a criação do género humano a partir de um só homem para mostrar aos homens
quanto apreciava a unidade na sua pluralidade”.
17
algo (aliquid) e coisa (res)43 e que estas propriedades também eram co-extensíveis
e convertíveis com o próprio ente.
Assim, na Alta Idade Média, há o início de uma estruturação metódica acerca
daqueles aspectos que transcendiam os predicamentos descritos por Aristóteles no
livro que abre o Organon. Filipe, o Chanceler, figura esquecida do Medievo, dá início
à sistematização dos transcendentais44 com seu principal trabalho chamado Summa
de bono (Suma sobre o bem), cuja bibliografia apoiava-se ele, dentre outros, nos
ensinamentos dos Padres da Igreja, no Corpus aristotelicum e nos filósofos árabes
do início do século XIII45.
Na Suma de bono, Felipe, o Chanceler lista os transcendentais unum, res e
aliquid, além de verum e bonum, donde o pulchrum associava-se a fim de
“consagrar a objetividade e a universalidade da beleza” de todo ente enquanto
ente46.
A ordem dos transcendentais clássicos, na Summa de bono, era a seguinte47:
Ens
|
Unum ➜ Indivisão
|
Verum ➜ Indivisão do ser e o que é.
|
Bonum ➜ Indivisão do ato em relação à potência.
43
Gustavo Eloy Ponferrada, Introducción al tomismo, Biblioteca Argentina de Filosofia, Club de
Lectores, 1985, p. 183.
44
Jan A. Aertsen, Medieval Philosophy as Transcendental Thought From Philip the Chancellor to
Francisco Suárez, Brill Press, 2012, p. 109.
45
Ibidem, p. 110.
46
Mafalda de Faria Blanc, O Ente, o Ser e os seus transcendentais, Mediaevalia - Textos e Estudos,
11-12 (1997), pp. 77-90 .
47
Jan A. Aertsen, La filosofía medieval y los trascendentales. Un estudio sobre Tomás de Aquino,
EUNSA, 2003, p. 43.
48
Para ele, Deus é Trino “desde as disciplinas mais profundas da filosofia” (“Ex intimis sumpta
philosophiae disciplinis”). Severino Boécio, De sancta trinitate, prol., ed. C. Moreschini, em: De
consolatione philosophiae - Opuscula theologica, Munich-Leipzig 2000 (Bibliotheca Teubneriana), p.
166.
18
49
O título original da obra nos dá mais pistas sobre o trabalho de Boécio sobre a doutrina dos
transcendentais: Quomodo substantiae in eo quod sint bonae sint cum non sint substantialia bona,
liber. Ad Ioannem Diaconum Ecclesiae Romanae. Neste texto, Boécio discorre sobre diversos
transcendentais quando diz, por exemplo: “Aquelas coisas que são, são boas” ou ainda: “Diverso é o
ser e aquilo que é” etc.
50
Expositio libri Boetii De Ebdomadibus. In: Fratum Praedicatorum (Cura et studio). Sancti
Thomae de Aquino Opera Omnia: Iussu Leonis XIII P. M. Edita. Roma: Les éditions du Cerf, 1992, v.
50
51
Severino Boécio, De hebdomadibus, lib. I.
52
As traduções em aspas neste parágrafo são de Ivo Fernando da Costa, Comentário ao livro “De
Hebdomadibus” de Boécio in Veritas, Revista de Filosofia da PUC-RS, Porto Alegre, v. 65, n. 2, p.
1-17, mai-ago. 2020
53
Para Alexandre de Hales, o ente, em seu próprio gênero, considerado absolutamente, é unum.
54
Jan A. Aertsen, La filosofía medieval y los trascendentales. Un estudio sobre Tomás de Aquino,
EUNSA, 2003, p. 50.
55
Inclusive em sua Summa theologiae, onde discorreu sobre os transcendentais unidade, verdade e
bondade, mais especificamente no livro I, tratado VI, e em seu comentário às Sentenças de Pedro
Lombardo, no livro I, cujo trabalho versou acerca da relação entre ente, verdade, unidade e bem. Em
seu comentário ao De divinis nominibus, de Pseudo-Dionísio Areopagita, sua preocupação foi
conciliar a ordem dos nomes divinos e os transcendentais, já que “bondade” é nome primário
aplicado a Deus, anterior a ente, que, em contrapartida, é a primeira concepção do intelecto. Assim,
sua investigação versou sobre ‘se o bem supõe o ente e não o contrário’, já que o ente é também o
primeiro dos transcendentais. (Cf. Ibid.)
56
Jan A. Aertsen, Medieval Philosophy as Transcendental Thought From Philip the Chancellor to
Francisco Suárez, Brill Press, 2012, p. 178
19
57
Daniel Scherer, A raiz antitomista da modernidade filosófica, Edições Santo Tomás, p. 45
58
Op. Cit. p. 35
59
Ibidem. p. 36. Grifo e tradução nossa.
60
Na juventude, Santo Tomás dera o epíteto de “Comentador” (com C maiúsculo) a Avicena, tal como
chamava Aristóteles de Filósofo com F maiúsculo. Na maturidade, porém, o Aquinate chamará
Avicena de “Corruptor” do Corpus Aristotelicum.
61
Eudaldo Formet, La sistematización de Santo Tomás de los transcendentales, Contrastes - Revista
interdisciplinar de Filosofía, vol. I, 1996, p. 107.
62
De veritate, q. 1, a1. Retirado do Corpus Thomisticum. Acessado em 02/09/2021
20
63
Juan José Sanguineti, Logica, EUNSA, 1982, p. 77. O predicável ‘gênero’ é aquele que significa
uma parte apenas da essência, comum a outras espécies. Já o predicável ‘diferença específica’
indica a característica própria da espécie, aquilo que a distingue de outra. Em, latim:in quale quid, ou
seja, na qualidade. Estes aspectos são chamados ‘entes de razão’, porquanto têm fundamento
remoto na realidade, isto é, apenas em nossa mente. Estão aí para que organizemos os entes in re.
64
Ibidem. p. 78
65
Comentário às Sentenças. II, d. 40, q, 1, a. 4.
66
Suma Teológica, I, q., 93, a. 9: “unum autem, cum sit de transcendentibus, et commune est
omnibus, et ad singula potest aptari; sicut et bonum et verum”
67
Alice M. Ramos, Dynamic Transcendentals - Truth, goodness and beauty from a Thomistic
perspective, The Catholic University of America Press, 2012, p. 31.
68
Jan A. Aertsen, La filosofía medieval y los trascendentales. Un estudio sobre Tomás de Aquino,
EUNSA, 2003, p.98.
69
Quaestiones disputatae de virtutibus, q. 2. ad. 8.
70
Tomás Alvira, Luis Clavell e Tomás Melendo, Metafísica, EUNSA, 1989, p. 137.
21
imperfeita” ou “virtual menor”, cuja suposição é ter o conteúdo dos conceitos em ato.
Razão pela qual um algo está implícito no outro de modo explícito, daí seu
fundamento imperfeito71.
Os transcendentais manifestam os aspectos não significados pela noção de
ente de maneira inequívoca. Mas se eles significam ao mesmo tempo noções e
realidades, eles se dão segundo a razão (ratione comprehensionis)72, ou seja, se
dão pelo nosso modo débil de conhecer as coisas: “por ter o ser, chamamos ente;
por ser cognoscível e amável se denomina verdadeira e boa; por sua coesão
interior, dizemos que tem unidade, etc.”73.
E para Santo Tomás, se os transcendentais expressam um modo de ser não
expresso pelo termo ente, então esta adição é intrínseca, já que não se pode
adicionar nada de estranho ao ente. Além disso, a noção transcendental do ente em
Santo Tomás é modal (modus essendi)74. Em Santo Tomás, o ente aparece como
modus generalis consequens omne ens75, ou seja, como modos gerais consequente
a todos os entes. A palavra transcendentia aparece cerca de 14 vezes na obra do
Aquinate, geralmente associada a multidão (multitudo)76.
71
Eudaldo Formet, La sistematización de Santo Tomás a los transcendentales, Contrastes, v. I, 1996,
p 118. ‘Virtual maior’ ou distinção de razão raciocinada perfeita contrapõe-se àquele, porquanto
supõe que um dos conceitos contém ao outro em potência, não em ato como se dá em um virtual
menor que é o caso dos transcendentais.
72
Gallus Manser, La esencia del Tomismo, Bolaños y Aguilar, 1947, p. 140. Ente de razão é aquele
que possui fundamento remoto na realidade, tal como os são os predicáveis.
73
Ibidem. p. 141.
74
Jan A. Aertsen, La filosofía medieval y los trascendentales. Un estudio sobre Tomás de Aquino,
EUNSA, 2003, p. 94.
75
De veritate, q. 1, a.1
76
Op. Cit., p. 98.
77
De veritate, q. 1, a. 1.
22
78
Jan A. Aertsen, La filosofía medieval y los trascendentales. Un estudio sobre Tomás de Aquino,
EUNSA, 2003, p. 104.
79
Op. Cit.: “si autem modus entis accipiatur secundo modo, scilicet secundum ordinem unius ad
alterum, hoc potest esse dupliciter. Uno modo secundum divisionem unius ab altero et hoc exprimit
hoc nomen aliquid: dicitur enim aliquid quasi aliud quid, unde sicut ens dicitur unum in quantum est
indivisum in se ita dicitur aliquid in quantum est ab aliis divisum”.
23
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
2016.
Pamplona, 1989.
04/10/2021.
https://www2.hf.uio.no/polyglotta/index.php?page=volume&vid=216. University of
Oslo.
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<https://revistas.uma.es/index.php/contrastes/article/view/1881>. Acessado em
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28