Location via proxy:   [ UP ]  
[Report a bug]   [Manage cookies]                

Psicologia Da Gravidez

Fazer download em docx, pdf ou txt
Fazer download em docx, pdf ou txt
Você está na página 1de 27

PSICOLOGIA DA GRAVIDEZ – MARIA TEREZA MALDONADO

Relevância os primeiros mil dias (contados desde a concepção até os dois


primeiros anos de vida extrauterina) e a importância do vínculo afetivo entre a
família e o bebê para a construção da resiliência, da arquitetura cerebral e do
bom alicerce do desenvolvimento. Pg. 9

As experiências precoces ainda, ainda no útero materno, influenciam a


expressão do material genético. Pg. 11

A rotina tradicional de atenção, tanto na gestação quanto no parto e no


puerpério imediato, com frequência não satisfaz as necessidades emocionais
da família e do bebê. Pg.13

A arquitetura do cérebro depende das influências recíprocas entre genética, o


ambiente e as experiências precoces. Pg. 13

A partir dos últimos meses de gestação até os dois anos de vida, o


desenvolvimento do cérebro acontece em ritmo particularmente acelerado, e
esse processo consome um montante de energia maior do que em qualquer
outro período da vida.

Quanto maior a intensidade e a frequência de experiências adversas na


primeira infância, maior a probabilidade de surgirem problemas de saúde física
e mental na adolescência e fase adulta. O feto é um ser dinâmico e ativo que
reage e se adapta às circunstancias do ambiente intrauterino e das influencias
que chegam do mundo externo. Pg. 14

As experiências dos primeiros anos de vida – boas e ruins – literalmente


modelam a arquitetura do cérebro em desenvolvimento.

É importante considerar que o cérebro, sempre que possível, recupera-se de


alguns danos: é o equilíbrio entre a vulnerabilidade e a resiliência que
determina a influência do ambiente no desenvolvimento do cérebro no decorrer
da vida.

A resiliência transforma o estresse potencialmente tóxico em estresse tolerável.

Estudos mostram que as crianças se desenvolvem bem apesar de viverem em


contextos de extrema dificuldade contam com, pelo menos, um vínculo afetivo
estável e consistente, com um adulto acolhedor na família ou na comunidade
em que vivem. Cuidar do fortalecimento de fatores protetores, tais como
fortalecimento da resiliência, melhoria das condições socioeconômicas e apoio
à família, estimula o desenvolvimento saudável, mesmo quando a criança
enfrenta situações traumáticas derivadas da pobreza extrema, abuso de drogas
por parte dos pais, violência intrafamiliar e cenários de guerra. Pags. 15 e 16

A resiliência resulta da interação dinâmica entre predisposições internas e


experiências externas.

O economista Amartya Sem, prêmio Nobel de Economia em 1998, defende a


ideia de que a pobreza das mulheres tem reflexos negativos em toda a
sociedade. Pg. 16

- Pastoral da Criança – Toda gestação dura mil dias – 2015.


Portanto, investir nessa janela de oportunidades dos mil dias é juma estratégia
eficiente para consolidar a saúde global e o desenvolvimento a longo prazo.
Pg. 17

Portanto, a qualidade do ambiente no qual a criança, desde a gravidez até os


primeiros anos de vida, e os relacionamentos que são construídos entre a
criancinha, a família e os cuidadores (avós, tios, educadores e outros)
produzem impactos significativos em seu desenvolvimento cognitivo, social e
emocional.

Vínculos estáveis e afetivamente significativos na gestação e nos primeiros


anos de vida, juntamente com boa nutrição, estimulação apropriada e
experiências ricas de aprendizagem, oferecem benefícios duradouros que
formam os fundamentos de uma sociedade sólida e sustentável. Pg. 17

A história do amor materno

Antes de focar na maternidade e a paternidade como fases do


desenvolvimento pessoal e as principais vivências do ciclo gravídico-puerperal,
é útil reconstruir brevemente alguns séculos da história do amor materno.

Kniebiehler e Fouquet (1980) fizeram uma análise das duas figuras básicas do
feminino e da maternidade, na tradição cristã: Eva, a mulher tentadora,
erotizada, que simboliza as forças perigosas e pecaminosas da mulher, é
raramente pensada como símbolo de maternidade, embora, como primeira
mulher, seja a mãe de todos nós. Ao contrário, à ideia do erótico se associa a
noção de castigo, da expulsão do Paraíso. Vista como fraca e frívola, Eva
tornou-se o símbolo do mal. A exaltação da imagem materna liga-se a Maria,
que concebeu sem pecado, ouse já, sem sexo. Desse modo a noção de
pureza, caridade, humildade, renuncia e dedicação vincula-se a imagem de
maternidade santificada, dissociada da sexualidade, condição indispensável
para redenção.

A fecundidade foi considerada como benção divina, e a infertilidade como


castigo.

A assistência ao parto também passou por grandes modificações no decorrer


dos séculos,: até o século XVII, o parto era considerado “assunto de mulheres”.
As parteiras eram nomeadas pelo sacerdote ou pela assembleia de mulheres.
A presença da parteira com sua experiência, criava um clima emocional
favorável para a parturiente.

Pouco a pouco, em determinadas circunstancias, o parto foi assumindo


características de espetáculo, a que várias pessoas assistiam, especialmente
quando se tratavam do parto da realeza, nas cortes europeias. Os seis partos
de Maria de Médicis, por exemplo, foram assistidos por um grande número de
pessoas – o rei, a parteira, os médicos, príncipes, criadas.

Com a crescente inclusão do cirurgião, a posição de decúbito dorsal no parto,


em especial a partir de Mauriceau, passou a ser mais adotada, por melhor
facilitar o trabalho do médico e a utilização de seus instrumentos. Mauriceau foi
o primeiro que impôs cama de parto, abandonando a cadeira obstétrica.

Com a introdução da mesa de parto, a mulher passou a ficar deitada para que
o médico pudesse ver melhor o que estava acontecendo.

Ao final do século XVI, surgiu o fórceps, para extrair os bebês do ventre


materno. Para conservar o “segredo da família”, os irmãos Chamberlain
exigiam que todos se retirassem e as parteiras tivessem os olhos vendados
para que não vissem os instrumentos, que eram transportados em um enorme
cofre dourado. Só em 1973, o desenho do fórceps foi tornado público, em um
livro de Chapman. Usado pelos médicos, o fórceps salvou muitas vidas em
uma época em que a cesariana resultava em alto índice de mortalidade
materna. Ao final do século XVII, a cesariana, que já não resultava
necessariamente em óbito materno, ajudou a relegar a figura da parteira a
segundo plano. Pg. 21
Em torno de 1500, há registros de uma cesárea em que tanto a mulher
quanto a criança sobreviveram: um castrador de porcos, aflito ao ver a esposa
sofrendo há vários dias em trabalho de parto, abriu-lhe o ventre com os
instrumentos que utilizava nos animais, retirou a criança e, em seguida,
costurou a incisão.

As revisões históricas sobre maternidade abrem espaço para questionamento


da existência de um “instinto materno”. Esses autores mostram que a exaltação
do amor materno é de fato relativamente recente na história da civilização
ocidental.

Em 1780, o comissário de polícia Lenoir constatou que , das 21 mil crianças


que nasciam todos os anos em Paris, apenas mil eram amamentadas pelas
próprias mães. Nas famílias mais abastadas, costumava-se contratar a ama de
leite para que permanecesse na casa da família. Em classes menos
favorecidas, havia o costume de enviar o bebê para a casa da ama, distante da
casa da família, onde permanecia durante os primeiros anos de vida.

O abandono de crianças chegou a ser uma prática tão difundida que, no século
XVII, começaram a surgir, na Europa, as primeiras instituições destinadas a
acolher essas crianças. Quanto ao infanticídio, apesar de crime punido com
severidade, era amplamente praticado sob o disfarce de “acidente”.

Badinter dá outra interpretação para esse fato: um grande números de bebês


morria justamente em decorrência do desinteresse das mães. A partir daí
conclui que o amor materno não é um instinto, mas um sentimento que, como
todos os demais, está sujeito a imperfeições, oscilações e modificações,
podendo manifestar-se só com um filho ou com todos. Para Badinter, a
existência do amor materno depende não só da história da mãe como também
da própria História.

Como mostra Ariès, o conceito de infância e o respeito pela vida da criança


desenvolveram-se somente quando começou o declínio da taxa de mortalidade
infantil, o que justificava, segundo sua interpretação esse investimento afetivo.

O filósofo Rousseau, com a publicação de Émile, em 1762, lançou ideias


fundamentais sobre a família, baseadas no amor materno. Embora tivesse
abandonado seus cinco filhos sob os protestos de sua companheira. Rousseau
tornou-se um dos mais ardorosos defensores do amor materno, valorizando o
vinculo afetivo derivado do contato físico entre mãe e filho.

Na época do Iluminismo, o discurso médico sobre a maternidade tomou o


mesmo rumo das ideias de Rousseau. Especialmente com os trabalhos de Des
Essarts, iniciou-se o processo de intimidar e culpar jovens mães: a recusa de
amamentar e a tentativa de abortar passaram a ser consideradas condutas
criminosas.

No ensino médico, a obstetrícia surgiu como especialidade em 1906. A mulher


passou a ser objeto de estudo para definir seu papel social a partir de sua
autonomia. É assim que, por exemplo, Roussel em 1775, via o corpo feminino
como destinado à maternidade: a ossatura da mulher é menor e menos dura
que a do homem, a caixa torácica é mais estreita e a bacia, mais larga para
conter o feto. Para Roussel, a fraqueza e a sensibilidade são as principais
características da mulher e mãe. Essa definição passa a predominar no
decorrer do século XIX, reforçando o argumento de manter a mulher encerrada
no lar. Virey, um discípulo de Roussel, reduziu com clareza o papel da mulher à
procriação.

A tendência em culpar a mulher é um aspecto importante da mentalidade


higiênica na história da medicina no Brasil. Combateu-se o emprego da ama de
leite mercenária, incitando-se a mulher a cumprir seu “dever natural” de
amamentar “instintivamente”, como as fêmeas de outras espécies. Dessa
forma amamentar passou a ser sinônimo de boa mãe.

Descobriu-se, que o prazer não era condição essencial para a concepção. A


partir daí, alguns médicos passaram, inclusive, a acreditar que a mulher frígida
poderia ser fecundada com maior facilidade porque, permanecendo mais
passiva, reteria melhor o esperma. Dessa forma , o prazer feminino, antes
considerado necessário à fecundação, passou a ser não só supérfluo como até
mesmo contraindicado. Delineou-se com mais força do que nunca o campo da
repressão da sexualidade e a dissociação entre mulher-mãe e a mulher-fêmea.

A função da esposa restringia-se a procriação. Muitos médicos recomendavam


a interrupção das relações sexuais durante a gravidez, não só para “evitar
acidentes”, como também porque, na mulher grávida, “a natureza está
satisfeita”.
Considerava-se uma contradição da natureza a grávida ter “desejos carnais”.
Persistiu também a crença de que, durante a amamentação, era necessária a
abstinência sexual porque uma nova gravidez estragaria o leite, opondo em
risco a sobrevivência da criança. Pg. 25

Tornou-se então, necessário delegar à mulher a função de educadora. A


maternidade, até então uma função sobretudo biológica, passou a ter uma
função social. Pg.25

As pesquisas sobre a influência do vínculo paterno na formação da


personalidade ainda precisam ser expandidas, mas já se sabe claramente que
o amor do pai é muito importante para o bom desenvolvimento emocional de
filhos e filhas. Pg 26

No ciclo vital da mulher, há três períodos críticos de transição que constituem


fases do desenvolvimento pessoal e que possuem vários pontos em comum: a
adolescência, a gravidez e o climatério. São três períodos de transição
biologicamente determinados, caracterizados por mudanças metabólicas
complexas, estado temporário de equilíbrio instável devido às grandes
perspectivas de mudanças envolvidas nos aspectos de papel social,
necessidade de novas adaptações, reajustamentos interpessoais e
intrapsíquicos, e mudança de alguns aspectos da identidade. Pg. 27

Crise pode ser definida como um período temporário de desorganização no


funcionamento de um sistema aberto, precipitado por circunstancias que
transitoriamente ultrapassam as capacidades do sistema, para adaptar-se
interna e externamente. Pg. 27

Portanto, “crise” pode referir-se tanto aos períodos de transição inesperados


quanto aos inerentes do desenvolvimento. Pg. 28

A crise é uma encruzilhada no caminho da saúde mental. Uma pessoa em crise


não tem escolha: a mudança é inevitável. Pg. 28

Na crise, a ajuda eficiente consiste em encorajar ( e não em suprimir) a livre


expressão dos sentimentos de tristeza, ansiedade e raiva, para que possam
ser transformados. Pg. 29

Na verdade, toda crise é uma transição, mas nem toda transição resulta em
crise. Pg. 29

A gravidez é uma transição que faz parte do processo normal do


desenvolvimento. Envolve a necessidade de reestruturação e reajustamento
em várias dimensões: mudanças de aspectos de identidade e uma nova
definição de papéis – a mulher passa a se olhar e a ser olhada de outro modo.
No caso da primípara, a grávida, além de filha e mulher, passa a ser mãe;
mesmo no caso de multípara, há mudanças de aspectos da identidade, pois
ser mãe de um filho é diferente de ser mãe de dois, e assim por diante. Com a
vinda de cada filho, toda a composição da rede de relacionamentos da família
se altera. Pag. 30

A complexidade das mudanças provocadas pela vinda do bebê não se


restringe apenas às variáveis psicológicas e bioquímicas: os fatores
socioeconômicos também são fundamentais. Nas sociedades em que a mulher
está no mercado de trabalho, também é responsável pelo orçamento familiar e
cultiva interesses diversos, ter um filho acarreta mudanças significativas.
Privações reais, sejam afetivas, sejam econômicas, aumentam a tensão e
intensificam a ambivalência.
A preocupação com o futuro aumenta as necessidades da grávida e
intensificam sua frustração, gerando raiva e ressentimento, tornando difícil
encontrar gratificação na gestação. Pg. 31

Situar a gravidez como crise ou transição não quer dizer que o período crítico
termine com o parto. Na realidade, grande parte do processo de maturação
ocorre após o parto: o puerpério é um período de transformação, pois implica
novas mudanças fisiológicas, consolidação da relação pais-filho e grandes
modificações da rotina e do relacionamento familiar. Pag. 32

O nascimento de um filho é uma experiência familiar. Por isso, para oferecer


uma assistência pré-natal integral, é necessário pensar não apenas em termos
de “mulher grávida”, mas também de “família grávida”.
A família é um sistema organizado, com uma estrutura peculiar, canais de
comunicação e elementos característicos. Portanto, qualquer evento que
ocorra com uma das partes atinge o sistema inteiro. Nesse sentido, a gravidez
é uma experiência que pertence à família como um todo. Pag. 33

Estudos mostram que os hormônios sexuais exercem efeitos definidos no


comportamento, sugerindo que as grandes mudanças dos níveis de estrogênio
e progesterona podem influir enormemente na psicologia da gravidez. Pag. 34

A “balança do quere e do não querer”, a oscilação entre desejar e não desejar


aquele filho. Não existe uma gravidez totalmente aceita ou totalmente rejeitada.
Mesmo quando há clara predominância de aceitação ou rejeição, o sentimento
oposto jamais está inteiramente ausente. Diversos graus de ambivalência estão
presentes em todos os relacionamentos significativos. Pag. 37

No primeiro trimestre, o feto ainda não é concretamente sentido, e as


alterações do esquema corporal ainda estão discretas. Portanto, as
manifestações mais comuns da ambivalência são os sentimentos de dúvida
entre estar ou não grávida, mesmo após a confirmação clínica, que por sua
vez, também tende a evocar uma mistura de sentimentos de alegria, apreensão
e irrealidade.
A oscilação de sentimentos que se instala a partir do início da gestação mostra
outro aspecto importante: a reação inicial diante da gravidez não se cristaliza
para sempre. Uma atitude inicial de rejeição pode dar lugar a uma atitude
predominantemente de aceitação e vice-versa. Pag. 38

Uma das primeiras manifestações do primeiro trimestre é a hipersonia: a


mulher sente mais necessidade de dormir do que o habitual.
As náuseas e os vômitos são sintomas mais comuns do inicio da gravidez.
Pag. 38

A dificuldade de manter a alimentação adequada, evitando certos alimentos,


deve-se a necessidade de gratificar-se para compensar privações pessoais
associadas com a vinda do bebê. Pg. 42

É comum durante a gestação a mulher passar da depressão à euforia sem


motivo aparente. Mulheres que predominantemente aceitam a gravidez podem
passar por períodos depressivos e crises de choro, e mulheres que
predominantemente rejeitam a gravidez podem passar por períodos de grande
euforia e bem-estar. Pag. 42

A pessoa passa por altos e baixos, da euforia à depressão, sente-se mais


vulnerável, como se estivesse com “pele fina”. Isso sugere que as oscilações
de humor devem-se, pelo menos em grande parte, ao próprio esforço de
adaptação a uma nova realidade da vida que envolve novas tarefas,
responsabilidades, aprendizagem e descobertas.
O aumento da sensibilidade está intimamente ligado a essas oscilações de
humor, podendo haver aumento da irritabilidade. A mulher fica mais irritada e
vulnerável a certos estímulos externos que antes não a afetamva, tanto, chora
e ri com mais facilidade.

Caplan (1961) observou que essas flutuações ocorrem em ondas: a grávida


pode sentir-se mais irritável ou sensível somente em determinados dias. Pag.
43

O segundo trimestre é considerado o mais estável do ponto de vista emocional.


Antes mesmo do ultrassom, o impacto da percepção dos primeiros movimentos
fetais era considerado um fenômeno central nesse trimestre.

Um estudo de Bonnaud e Revault D´Allones (1963) mostrou que a percepção


dos primeiros movimentos fetais tendia a favorecer a aceitação da gravidez em
85% dos casos estudados, um maior grau de ambivalência em 10% e reações
de rejeição intensa em 5% dos casos.

A percepção dos movimentos fetais continua sendo importante: ajuda a mãe a


personificar o filho, de modo diferente de pela observação das imagens de
ultrassom de alta resolução. A gestante passa a atribuir ao bebê características
pessoais, segundo sua interpretação dos movimentos, sensível, agitado,
carinhoso ou sensível, quando esses movimentos respondem aos estímulos da
mãe e familiares. Pag. 44

Já para o companheiro, pode haver o sentimento de que o feto é um intruso


que vai roubar sua posição privilegiada diante da mulher, relegando-o a
segundo plano.

As alterações do desejo e do desempenho sexual tendem a surgir com mais


intensidade a partir do segundo trimestre, embora às vezes se manifestem
desde o início da gravidez.

É comum haver graus variados de diminuição do desejo sexual chegando até


ao desinteresse total, tanto por parte da mulher quando do homem. Pag. 46

Kumar, Brant e Robson (1981) realizaram estudos e em diferentes entrevistas,


a maioria das mulheres reportou redução na frequência de relações sexuais e
diminuição de prazer durante a gravidez, especialmente no terceiro trimestre.
Pag 47

Percebemos a grande necessidade de melhorar o nível de informação sobre


sexualidade na gestação.

Trutnovsky et al. (2006) utilizaram entrevistas semiestruturadas para pesquisar


a subjetividade das grávidas quanto a sexualidade e verificou flutuações no
desejo, com redução da importância das relações sexuais no decorrer da
gestação e um ligeiro aumento do desejo no pós-parto. O estudo apresentou
outro fato, muitas mulheres não gostavam do próprio corpo após o o parto,
queixavam-se da falta de sono e de tempo livre e que, em vez de fazer sexo
preferiam dormir. Pag. 48

No pós parto surge a preocupação de “não recuperar a forma”. Em sociedades


que valorizam excessivamente o corpo jovem e magro como padrão de beleza,
o temor de “perder forma” se intensifica ainda mais. Pag 49

Segundo Caplan (1960), a introversão e passividade constituem uma das


características emocionais mais comuns na gravidez. Costumam surgir no final
do primeiro trimestre (quando a hipersonia comumente desaparece) e
aumentam aos poucos no decorrer da gestação. A mulher sente que seu ritmo
fica mais lento. Tende a ficar mais concentrada em si mesma, mais retraída,
menos ativa. Mas há mulheres que relatam aumento de atividade, de energia e
de disposição. Há casos em que o aumento exagerado de atividades pe um
moco de descarregar a ansiedade. Pag. 50

As etapas iniciais da relação mãe-filho podem ser influenciadas, para melhor


ou para pior, de acordo com o nível de disponibilidade emocional do pai.

Essa maior necessidade de receber afeto e atenção costuma causar um


grande impacto na relação conjugal. Há homens que se sentem
excessivamente solicitados e exigidos justamente quando recebem menos
atenção. Pag. 50

Alguns fatores podem interferir diretamente a experiência da mãe no pós parto


e amamentação. O fator crucial apresentado em alguns estudos foi a qualidade
e o grau de ajuda que a nova mãe recebia após a alta hospitalar. As que não
recebiam ajuda ou estavam cercadas de pessoas com atitudes hostis, críticas
ou coercitivas tendiam a não produzir leite de forma satisfatória. Raphael
comenta ainda que há várias formas de ajuda eficaz, tais como rituais e divisão
de tarefas domésticas, que permitem à mãe períodos maiores de repouso e
despreocupação. Essa ajuda permite a nova mãe sentir-se segura e
estabelecer com o bebê o ritmo individual da amamentação. Psicologia da
gravidez, Pag. 51
No terceiro trimestre, o nível de ansiedade tende a elevar-se com a
proximidade do parto e mudança de rotina da vida após a chegada do bebê. A
ansiedade é especialmente aguda nos dias que antecedem a data prevista e
tende a intensificar-se ainda mais quando a data prevista é ultrapassada. Os
sentimentos costumam ser contraditórios: o desejo de que o bebê nasça logo
para que a gravidez termine e, ao mesmo tempo, o desejo de prolongar a
gestação para adiar as novas adaptações exigidas pela vinda do bebê.

Caplan (1961) observou que, no terceiro trimestre, há maior facilidade de


reviver antigas memórias e conflitos infantis da grávida com os próprios pais ou
irmãos que haviam sido reprimidos. Isso seria devido à mudança do equilíbrio
entre o ego e o id, que facilita a conscientização de conflitos e fantasias e
enfraquece o sistema defensivo. O ressurgimento desse problemas antigos
abre novos caminhos: na gravidez, a mulher alcança um maior grau de
maturidade ou intensifica seus problemas, que passam a interferir na relação
materno-filial. Pág. 51

Durante a gestação também podem surgir sentimentos de inadequação ou


desvalorização como mãe.

As observações clinicas de Kitzinger (2005) mostram que muitas mulheres que


temem não ter “passagem” para o bebê apresentam dificuldades na relação
sexual.

Os temores específicos da maternidade se expressam em sonhos e fantasias


conscientes antes e após o parto. Na gravidez é comum sonhar com o parto,
com o bebê e com as alterações do esquema corporal. As expectativas em a si
própria como mãe e em relação ao bebê costumam surgir em sonhos. Pág 52

No estudo que tentou pesquisar fatores psicológicos do parto prolongado em


primíparas, Winger e Kapp (1972) investigaram a relação entre conteúdos
manifestos de sonhos do último trimestre da gravidez e a duração do trabalho
de parto, testando a hipótese de que a tensão psíquica afera a ação uterina do
parto.
Verificou-se que a grávidas cujos sonhos não continham temas de ansiedade
tendiam a ter partos prolongados devido à ação uterina ineficiente, o que
confirma a hipótese de que a função do sonho é tentar dominar, em fantasiam
uma tensão antecipada da vida real. As mulheres cujos sonhos revelam temas
de ansiedade e sentimentos negativos tentam enfrentar de antemão a crise do
parto sem recorrer a mecanismos de repressão e negação da ansiedade. Pag.
53

No decorrer da nossa infância, formamos, pouco a poucom uma imagem


básica de nós mesmos. Ora nos vemos como pessoas predominantemente
boas, ora como predominantemente más. Ora sentimos que merecemos ser
amados e valorizados, ora nos depreciamos, não acreditamos que alguém
goste de nós de verdade; carregamos conosco a sensação de que merecemos
ser castigados por tudo que fizemos de ruim. Pag. 54

Caplan (1961) observou que a maneira como a gestante imagina seu bebê
pode servir de sinal prognóstico de dificuldades na relação materno-filial,
principalmente quando a mulher só consegue visualizar o filho como uma
criança maior e não como um bebê: isso é sinal de dificuldades para cuidar do
filho recém-nascido. Pag. 55

A preferencia pelo sexo tem muitos motivos. Nas sociedades patriarcais, é


nítida a maior valorização do filho homem, especialmente no caso do
primogênito; o filho homem é também quem vai dar continuidade ao “nome da
família”, já que a filha, em sociedades mais conservadoras, adora o sobrenome
do marido ao casar-se. Pág 57

O “Homem grávido”

No decorrer da gravidez, múltiplas modificações que se processam na mulher


podem ter diferentes repercussões no homem, nos mais variados graus da
síndrome da couvade. A síndrome da couvade (conjunto de sintomas que
surgem em homens de culturas industrializadas no decorrer da gravidez de
suas mulheres) e o ritual da couvade em países não industrializados, cuja
função é permitir que o pai assuma um papel paterno normal. O fenômeno da
couvade deve-se a modificações fisiológicas ligadas ao comportamento
paterno.

A descoberta dos neurônios-espelho, no início da década de 1990, lançou nova


luz sobre os sintomas da couvade (oscilações de humor, aumento de peso,
náuseas) como reflexo da empatia e das mudanças hormonais que
acompanham essa preparação para paternidade.
O termo surgiu por causa da aparente semelhança com o ritual da couvade, em
que o marido simula o processo de parto ou se põe de “resguardo” no lugar da
mulher.

Em 1857, Michael escreveu sobre os povos da Biscaia, que logo após o parto a
mulher se levanta e recomeça o trabalho, o homem vai para cama com o
recém-nascido e recebe felicitações dos vizinhos. O homem acamado é quem
cuida do bebê e o acalma com sua voz. Nesses povos, quando o bebê morria,
o homem era amaldiçoado pelas mulheres. Pag 58

Rezendo e Montenegro (2011) mencionam que, entre os tupinambás, quando


se iniciava o trabalho de parto, a mulher se deitava no chão sobre uma tábua
no interior na maloca.. O parto era assistido por outras mulheres e pelo próprio
marido, que comprimia o ventre da parturiente e cortava o cordão umbilical com
os dentes ou com uma pedra afiada. Após o parto, o índio permanecia deitado
na rede recebendo visitas que o consolavam dos seus sentimentos. O
“resguardo” durava até a queda do coto umbilical, e nesse período, o pai
submetia-se a uma dieta alimentar especial.

O pai tem, portanto papel importante no nascimento. Porém contrariamente ao


ritual, os sintomas da couvade não são atuados deliberadamente. Considera-se
que qualquer sintoma surgido durante a gravidez da esposa e que desaparece
após o parto possa pertencer à síndrome da couvade. A variedade dos
sintomas é imensa, e os mais comuns são: náuseas e vômitos, alterações de
apetite ( a perda é mais comum do que o aumento, e os “desejos” por certos
tipos de comidas não são raros) dor de dente, indigestão, azia, dores
abdominais (inclusive durante o trabalho de parto as manifestações mais
comuns são as dores de estomago ou cólicas, às vezes acompanhadas de
diarreia), ganho de peso. Pág. 59

Os resultados de diversas pesquisas mostram que a gravidez acarreta no


homem, um grau significativo de mobilização e ativação de conteúdos
psíquicos importantes.

Essa intensa mobilização emocional reflete-se em mudanças hormonais


ligadas ao desempenho da função paterna. Nas últimas semanas de gestação,
o “homem grávido” apresenta aumento de aproximadamente 20% de
prolactina, um dos hormônios presentes na amamentação, mas que também
está relacionado com o comportamento paterno em alguns animais. Após o
parto verifica-se redução nos níveis de testosterona e um discreto aumento de
estrogênio, o que estimula o comportamento de cuidar e se vincular ao bebê e
à família. Pág. 62
A presença do homem nas consultas pré-natais contribui para a formação do
vínculo paterno desde a gestação. A observação do ultrassom, juntamente às
aulas de educação perinatal, ajuda a visualizar o feto e fortalece a transição
para a paternidade. Pag. 63

Os países que incluíram em suas políticas públicas a licença paternidade e


programas de incentivo ao maior envolvimento dos homens na vida familiar
observam um declínio significativo dos índices de violência contra mulheres e
crianças. Até 2015, no Brasil, o pai tem direito a apenas 5 dias de licença, em
contraposição aos 120 dias de licença-maternidade. Mas há projetos de lei que
propoe ampliar a licença-paternidade remunerada para, pelo menos, trinta dias.
Pág. 63

A gravidez na adolescência

A OMS considera que a gravidez na adolescência ocorre entre dez e dezenove


anos, e que as que engravidam com catorze ou menos são especialmente
vulneráveis e mais expostas à morbimortalidade.

Os bebês de mães adolescentes apresentam um índice 50% maior de morte


perinatal ou nas primeiras semanas de vida, em comparação com os que
nascem de mães entre vinte e 29 anos. Pag. 63

As crianças nascidas de crianças costumam ter baixo peso ao nascer e


oportunidades limitadas de sobrevivência; o índice de mortalidade materna é
alto, bem como a incidência de hipertensão e anemia. Por tudo isso, a gravidez
na adolescência é considerada de alto risco.

É maior também os riscos de maus-tratos ao bebê, uma vez que essas mães
ainda estão estruturando sua identidade e podem se sentir sobrecarregadas ao
atender às constantes demandas do bebê. Pag 64

Um dos motivos mais comumente encontrados para ter um filho em idade


precoce, especialmente nas camadas populares, é sentir-se com mais prestígio
social, ser mais valorizada e respeitada na comunidade, como mostram alguns
estudos, como o de Pantoja (2003). Por outro lado, no estudo de Fonseca e
Araujo (2004), na região da Bahia e Sergipe, mais da metade das adolescentes
que engravidaram já haviam abandonado a escola e poucas continuaram a
estudar, mesmo contando com uma boa rede de suporte. Aparentemente em
comunidades como essa, a educação é menos valorizada que a posição social
da mulher adulta conferida pela maternidade. Na mesma linha, uma das
principais motivações para assumir a paternidade em jovens de camadas
populares é ser reconhecido como homem adulto e responsável. Pag 65

Ter filhos na adolescência acarreta consequências sociais e econômicas para


as adolescentes, suas famílias e as comunidades em que vivem. Na medida
em que muitas abandonam a escola, reduzem suas oportunidades de boa
inserção no mercado de trabalho. Isso se reflete na economia dos países,
devido à redução do percentual de trabalhadoras mais qualificadas. Pág. 66

Segundo dados apresentados no “Colóquio primeira infância e gravidez na


adolescência” (2015), a prematuridade e o baixo peso ao nascer estão entre as
principais causas de morte de filhos de mãe adolescentes. No Brasil, a região
Norte concentra o maior índice desses óbitos infantis, seguido pelo Nordeste.
No total, cerca de 20% dos óbitos nessa faixa etária são filhos de mães
adolescentes. Há um número crescente de gestações em meninas com menos
de quinze anos, que estão expostas a um índice ainda maior de riscos e
complicações. Nessa faixa etária, muitas dessas gestações são indejesadas e
um número expressivo decorre de abusos sexuais, o que aumenta a
vulnerabilidade. Pág. 66

Especialmente nas gestantes com menos de quinze anos ocorre o fenômeno


do duplo anabolismo: dois corpos estão crescendo ao mesmo tempo e, por
isso, competem pelos mesmos nutrientes. Daí a dupla vulnerabilidade.

Além da vulnerabilidade biológica, observa-se que a mãe com menos de


quinze anos apresenta maior dificuldade de atender as demandas do bebê e
consolidar vínculo afetivo com ele. Isso aumenta o risco de abandono e
negligência, o que acarreta atrasos no desenvolvimento, desnutrição e falta de
vacinação, entre outros problemas. Pag. 66

Hoje, sabemos que o mundo intrauterino está longe de ser estático: está sujeito
a inúmeras mudanças e variações até mesmo em seus componentes
fundamentais (a placenta, o cordão, o líquido amniótico). Pág 71

Vários estudos sobre comportamento fetal sugere que as experiências da vida


intrauterina modelam a estrutura do cérebro que promovem a sobrevivência no
mundo extrauterino.
A maturação do cérebro depende profundamente das experiências da vida
intrauterina e do vínculo entre a família e o bebê. O cérebro é, portanto, um
órgão biossocial. Pág. 72

As observações ultrassonográficas mostram também que o feto apresenta um


padrão próprio de movimentos e de comportamento, independentemente do
ritmo de vigília e de sono da mãe. Os estímulos olfativos, gustativos, auditivos,
táteis, endocrinológicos, entre outros, provocam mudanças contínuas no
ambiente intrauterino. Pág. 73

Hepper observou mudanças de movimentos quando bebês ouviam um


determinado som apresentado em etapas anteriores a gravidez. Com isso,
avaliou a capacidade de aprendizagem antes e depois do nascimento.
Os batimentos cardíacos se aceleram quando ouve uma voz desconhecida e
se acalmam quando ouvem uma voz com a qual já está familiarizado.

Ao que parece, ainda na vida intrauterina, há o reconhecimento da “assinatura


vocal” da mãe. E mais: conseguem diferenciar quando a mãe está falando
diretamente com eles de quando ela fala com outras pessoas. Esses estudos
mostram também que, nas últimas semanas de gestação, os fetos reagem
mais as vozes femininas e, sobretudo à de sua própria mãe. Pág. 74

Estudos DeCasper et al. (1994) sugerem que os fetos, no final da gestação,


são capazes de se familiarizar com sons repetidos da fala materna. Pág. 75

O desenvolvimento progressivo da audição, juntamente a outros sentidos,


mostra que o feto reage a uma gama crescente de estímulos, o que torna a
vida intrauterina rica e variada.

Stern (2002) comenta que o recém-nascido não apenas enxerga como também
já tem reflexos que permitem que ele fixe o olhar em um objeto e siga seu
movimento.

Sabemos também que, a partir do segundo trimestre, o feto apresenta


sensibilidade à luz. Estudos indicam que essa forma de visão intrauterina
possibilita que gêmeos se acariciem, se golpeiem e brinquem dentro do útero.
Pág.76

No feto, as pupilas gustativas surgem entre oito e nove semanas de gestação,


e em torno de doze semanas já são sensíveis ao sabor do líquido amniótico,
que varia de acordo com as excreções fetais, o estado hormonal e os alimentos
ingeridos pela mãe. Pág. 77
>Você sabia que o gosto do colostro com o do líquido amniótico? Isso acontece
para que a transição da via intrauterina para vida extrauterina seja suave e
gradativa. > Post para Instagram

O líquido amniótico absorve os odores e sabores do que a gestante inala e


come: perfumes, substâncias ácidas, doces, amargas. A observação pelo
ultrassom permite captar as reações do feto a esses diferentes estímulos. Pág.
77

O tato também é estimulado na gestação: a pele do feto está em contato com


invólucro amniótico. Os movimentos, as mudanças de postura ou tensões
maternas são transmitidas ao feto por essa via sensorial. Pág 77 – 78.

Efeito das drogas nocivas na formação do feto

Como mostram Martin e Holloway (2014), antes do problema ocasionado pela


talidomida no início da década de 1960, acreditava-se que o feto estaria
protegido contra agressões externas pela “barreira placentária”. Na verdade,
pela placenta passam substâncias essenciais para o desenvolvimento do feto,
assim como elementos nocivos. Desfeita a crença nessa suposta barreira
protetora, vemos que o feto está exposto a uma série de perigos, muitos dos
quais podem ser evitados por meio de medidas protetoras, educação de
qualidade, assistência adequada e conscientização da responsabilidade de ter
um filho. Pág 79

O cérebro imaturo é mais vulnerável à presença de substâncias tóxicas do que


o cérebro de um adulto que conta com uma barreira de células que dificulta a
passagem dessas substâncias da corrente sanguínea para o cérebro. Essa
barreira protetora ainda não existe no feto. A gestação e os primeiros anos de
vida marcam o período vulnerável para a passagem de substâncias tóxicas.
Tanto as drogas legais quanto as ilegais (álcool, nicotina, cocaína e outras)
prejudicam a arquitetura cerebral. Pág 80

Em casos crônicos de alto consumo de álcool pela grávida, o feto pode


apresentar a síndrome alcoólica fetal, caracterizada por retardo de crescimento
intrauterino, anormalidades morfológicas e lesões do sistema nervoso central.

A exposição pré natal ao álcool altera os sistemas de reação ao estresse, o


que poderia originar problemas na área cognitiva e emocional, comumente
encontrados em pessoas cujas mães abusavam do álcool na gravidez.
A exposição acentuada nos primeiros meses de gestação resulta em retardo
mental, deficiências sensoriais e problemas motores. Pág. 80

O estudo de Cicero (1994) discute os efeitos do uso de álcool pelo pai e seus
efeitos no desenvolvimento fetal. Em estudos com animais, as fêmeas sem uso
do álcool produziam prole normal, mas, quando havia consumo de álcool por
parte do macho, verificavam-se anormalidades, o que sugere que o uso do
álcool pode ter efeitos tóxicos sobre os espermatozoides.

O Relatório 4 do National scientific council on the developing child (2006)


mostra que, de todas as drogas estudadas, o álcool tem o efeito mais
devastador na formação do cérebro. Os prejuízos causados pelo álcool no
organismo fetal são tão extensos que podem afetar, inclusive, a formação de
outros órgãos (por exemplo, o sistema cardiovascular, digestivo e muscular)
muito mais que outras drogas. O uso abusivo de álcool na gravidez acarreta
uma combinação de problemas denominada “síndrome alcolica fetal”. Os
efeitos duradouros mais comuns são: retardo mental, controle emocional
precário, déficit de atenção e hiperatividade.

Comportamentos resultantes da exposição ao álcool na gestação permanecem


por toda vida. Há uma associação significativa entre exposição pré-natal ao
álcool, déficit de atenção e hiperatividade e controle de impulsividade. Os
autores afirmam que nenhum consumo de álcool na gravidez pode ser
considerado seguro, incluindo cerveja, vinho e licores.

Os bebes cujas mães usaram cocaína durante a gravidez apresentaram


tremores, muito choro e irritabilidade. Pág. 81

As crianças expostas a cocaína apresentavam menor preso ao nascer e


anomalias nos reflexos e na tonicidade.

Os bebes de mães que usavam várias drogas foram os que nasceram em


piores condições.

No entanto, a massagem em recém-nascidos pré-termo e expostos ao uso de


cocaína pela mãe na gestação apresenta efeitos benéficos. Pág. 82

Jaques el.al. (2014) observam que, embora a maconha seja uma das drogas
mais consumidas, há poucas pesquisas sobre os efeitos de seu uso na
gravidez e suas repercussões a curto médio e longo prazo.
Há também poucas pesquisas sobre os efeitos da maconha no período de
amamentação. Pág. 83

Warshak et. Al. (2015) realizaram uma pesquisa com 6.468 mulheres, entre
usuárias e não usuárias de maconha na gravidez, controlando variáveis mtais
como: idade, número de filhos, etnia e acesso a atendimento pré-natal, e entre
outras. Verificaram que o uso da maconha aumentou o risco de nascimentos
de bebês de menor peso e de internação em Unidade de Tratamento Intensivo
Neonatal (UTI neonatal), mas não ocorreu aumento de complicações
obstétricas ou anomalias fetais.

Quiroga et.al.(2015) reconhecem que, embora já se saiba como o principio


ativo da Cannbis sativa, o tetra –hidrocabiol no desenvolvimento neural ainda
não esta suficientemente esclarecido.

Por outro lado, os efeitos nocivos da nicotina na formação do cérebro do feto


estão bem documentados. A nicotina provoca vasoconstrição na placenta, de
modo que reduz a passagem de oxigênio e de substâncias nutritivas para o
feto. A grávida fumante libera menos oxigênio para o feto, resultando em
redução de crescimento geral. Pág. 83

Estudos em seres humanos e em animais mostram que a exposição à nicotina


durante a gravidez resulta em déficits cognitivos, embora em menor escala do
que acontece com a exposição ao álcool e outros tóxicos.

Buka et al. (2003) encontram uma relação estatisticamente significativa entre o


hábito de fumar na gestação e a dependência de nicotina nos filhos adultos,
especialmente em mulheres que relataram fumar mais de um maço de cigarros
por dia na gravidez, em comparação com os filhos de mulheres que não
fumaram na gestação. Resultados idênticos foram encontrados na pesquisa de
Alberg e Korte (2014), que consideram outras variáveis na transmissão familiar
do hábito de fumar: identificação com os pais, fácil acesso ao cigarro dentro de
casa e atitudes permissivas com relação ao fumo. Esses autores observam que
o risco de transmitir o hábito de fumar aos filhos é ainda maior quando ambos
genitores fumam. Pág 84

A REPERCUSSÃO DA ANSIEDADE NA GRAVIDEZ, NO FETO E NO BEBÊ

Como mostra Siegel (2010), as pessoas com alto nível de ansiedade se


encontram em estado de perturbação emocional crônica (“estado de alarme”).
Esse estado de prontidão constante acarreta mudanças endócrinas e
metabólicas. Os sistema límbico, em especial, torna-se hiper-reativo: essas
pessoas pensam nas piores hipóteses como se fossem se concretizar a
qualquer momento, e acham que precisam se preparar para o pior. Com isso
ficam hipervigilantes.
Em outras palavras, o corpo não consegue manter um estado contínuo de
prontidão. Difícil é aceitar a imprevisibilidade da vida, a realidade de que muito
pouco está sob nosso controle. Pág 84 – 85

Rose (2005) comenta que o estresse altera o equilíbrio hormonal, em especial


dos esteroides, e eleva o nível do cortisol que, ao atravessar a placenta, atinge
o cérebro do feto, alterando o padrão de desenvolvimento. Pág. 85

Há estudos que mostram a correlação entre altos níveis de estresse na


gravidez e problemas emocionais e cognitivos na criança, tais como
hiperatividade e déficit de atenção, ansiedade e atrasos na linguagem.
Possivelmente, o ambiente fetal é alterado pelos hormônios do estresse
materno, em especial o cortisol. Pág. 85

Healy (2004), a plasticidade cerebral no bebê é intensa, possibilitando


mudanças que contrabalançam, pelo menos em parte, os efeitos nocivos do
ambiente pré-natal. Pág. 85

As pesquisas sobre s biologia do estresse mostram como o estresse crônico na


gravidez (por exemplo, proveniente de condições de vida extremamente
desfavoráveis, tais como a miséria, abuso e negligência) pode prejudicar a
formação do cérebro e colocar o sistema de resposta ao estresse
continuamente em alerta máximo, passando a mensagem bioquímica “o mundo
lá fora está cheio de perigos”, aumentando os riscos de várias doenças
crônicas, além de problemas de aprendizagem e de comportamento.

A partir dessa influência do ambiente pré-natal, muitos bebês apresentam


grandes oscilações de humor, são agitados e difíceis de serem consolados
porque choram ininterruptamente, gerando nos pais o sentimento de
impotência para acalmá-los.

No entanto , o estresse é inevitável e, além disso, tem aspectos positivos. É


importante diferenciar os níveis de estresse, inclusive na vida dos bebês e das
crianças pequenas e, levar em considerações diversas variáveis, tais como a
persistência das fontes de estresse, a reação individual a esses episódios e a
reação a presença de adultos que ajudem (ou não) a criança pequena a lidar
com as situações adversas.

Estresse suportável – é desencadeado por acontecimentos inesperados, tais


como doença grave ou morte de uma pessoa significativa, ferimentos causados
por quedas ou acidentes, divórcio dos pais ou desastres naturais (enchentes,
terremotos), que desequilibram o contexto em que a criancinha vive. Essas
situações podem gerar níveis mais intensos e duradouros dos hormônios do
estresse e prejudicar a arquitetura cerebral, mas esses efeitos são minimizados
quando a criança continua a contar com vínculos afetivos que lhe dão apoio e
segurança, e a ajudam a lidar com a adversidade, resultando na redução das
reações fisiológicas do estresse aos níveis básicos. Quando a situação que
provoca estresse aos níveis básicos. Quando a situação que provoca estresse
não é muito duradoura, o cérebro tem tempo de se recuperar e reverter os
possíveis efeitos nocivos que ocorreria se a situação estressante se tornasse
crônica.

Estresse tóxico – acontece quando há uma ativação intensa, frequente ou


prolongada do sistema fisiológico de gerenciamento do estresse, em um
contexto de carência de relações afetivas que ofereçam apoio e proteção. Isso
ocorre com frequência em casos de extrema pobreza associada a famílias
caóticas, que praticam abuso físico e psicológico e negligência de cuidados
básicos, depressão materna, abuso de drogas, por parte dos cuidadores ou
exposição contínua à violência na comunidade em que a criança vive. Na falta
de relacionamentos satisfatórios, a criança por si própria não consegue regular
o nível dos hormônios do estresse, que passam a inundar seu organismo. Isso
prejudica a arquitetura do cérebro em formação e aumenta o risco de
dificuldades posteriores de aprendizagem, memória e autorregulação. Verifica-
se também maior vulnerabilidade do sistema imunológico, aumentando a
probabilidade de doenças físicas e mentais relacionadas ao estresse.

O estresse intenso e prolongado nos primeiros anos de vida pode resultar em


má formação do sistema neuroendócrino de resposta ao estresse, mau
funcionamento do sistema límbico e prejudicar a conectividade sináptica e a
neuroplasticidade.

O estresse tóxico eleva os níveis de cortisol por períodos prolongados, o que


resulta em alterações de regiões do cérebro que se relacionam com a memória
e com a capacidade de aprendizagem. O cortisol, um dos principais hormônios
produzidos pelo estresse, é altamente neurotóxico para o cérebro fetal. Pág. 88

Além de sentir desconforto, o feto, ao que tudo indica, vivencia também um


estado de consciência caracterizado por profundo bem-estar e unidade com a
mãe, através das trocas metabólicas e energéticas que se processam entre os
dois. Pág 89
ASPECTOS PSICOLÓGICOS DOS PRINCIPAIS TIPOS DE PARTO

Como observa Reading (1983), altos graus de ansiedade podem ter efeitos
diretos na mobilidade uterina, na saúde e no desenvolvimento fetal, e também
efeitos indiretos, na medida em que impulsionam comportamentos tais como o
aumento do soncumo de cigarros ou de álcool.

As complicações observadas (pré-eclâmpsia, parto e fórceps, parto prolongado


ou precipitado, hemorragia pós parto, remoção manual da placenta, sofrimento
fetal) ocorriam com incidência significativamente maior nas mulheres com altos
índices de ansiedade. Pág. 91

A gestante traz para a experiência do parto inúmeras peculiaridades


fisiológicas, psicológicas, sociais. Uma vez que a fisiologia do parto está sob o
domínio do ramo parassimpático do Sistema Nervoso Autonomo, o papel dos
fatores emocionais é muito relevante.

Se a gravides pode ser considerada como um período de maior


vulnerabilidade, o parto pode ser encarado como um momento crítico que
marca o início de uma série de mudanças significativas e envolve diversos
níveis de simbolização. Pág. 92

O desencadeador do trabalho de parto não se deve apenas às contrações


uterinas, mas também a alterações biquimicas no tecido conjuntivo, que
conduzem ao amadurecimento do cérvice.

Além disso substâncias que provocam contrações uterinas são normalmente


produzidas no organismo materno ou fetal (ocitocina, noradrenalina,
prostaglandina). Essas substâncias podem ser produzidas em quantidades
suficientes para produzir efeitos sobre a musculatura uterina.

O parto consiste em três fases: dilatação, expulsão e secundamento. Na fase


do pré-parto, já se observa a descida do fundo uterino, o amolecimento do colo,
o apagamento e a madurez. No período de dilatação, há contrações uterinas
regulares que, para muitas mulheres são sentidas como dolorosas: elas
modificam o cérvice até alcançar a ampliação completa (10cm). A rotura da
bolsa, na maioria das vezes, acontece no final da dilatação. Quando esta se
completa, inicia-se o período expulsivo. Com a compressão das áredes
vaginais, surgem as contrações voluntárias da prensa abdominal (ou puxos),
semelhantes à força que se faz para evacuar. O terceiros período – o
secundamento – corresponde à expulsão da placenta, após a saída do bebê.
Pág. 93

Um dos temores mais comuns é não saber reconhecer os sinais de parto e ser
pega de surpresa. Essa insegurança, em parte, tem fundamento real, uma vez
que os sinais do trabalho de parto nem sempre são inconfundíveis. Por
exemplo, a mulher pode não sentir perceber o desprendimento do tampão
mucoso (de aspecto gelatinoso) que protege a entrada do útero), a bolsa
d’àgua pode não se romper, a mulher - à espera das “dores” – pode não se dar
conta das contrações e, desse modo, boa parte do trabalho de parto transcorre
sem ser percebido. Por outro lado, há os “alarmes falsos”: uma pequena perda
de líquido, desprendimento do tampão, contrações regulares, ida para o
hospital, retorno à casa porque o trabalho de parto ainda está no começo.

O parto é sentido como uma passagem de um estado a outro, cuja a principal


característica é a inevitalidade: precisa ser enfrentado de qualquer forma. Outra
peculiaridade que contribui para o aumento da ansiedade e insegurança com a
proximidade da data prevista é a impossibilidade de saber exatamente como e
quando vai se desenrolar o trabalho de parto. Não é possível controlar
inteiramente esse processo. O parto é um “salto no escuro”, um momento
imprevisível e desconhecido sobre o qual não se tem controle. Pág. 93

O Ministério da Saúde no Brasil dá à parturiente o direito de ser acompanhante


durante o trabalho de parto, como determina a Lei nº 11.108 de 2005.

O comportamento da parturiente no trabalho de parto reflete características


pessoais.

É importante salientar que, para melhor entender o processo do parto, é


necessário considerar o contexto sociocultural. A dor tem um significado
pessoal e também social, variando de acordo com a cultura da qual a mulher
faz parte.

Kitzinger (1967) observou que as camponesas da Jamaica raramente sentes


sensações de desconforto no períneo ou na passagem da cabeça pelo canal
vaginal, ao passo que na Inglaterra as parturientes experimentam essas
sensações como desagrabilissimas. Na Jamaica, as parturientes entram em
pânico quando sentem do nas costas no trabalho de parto, uma sensação
muito comum na maior parte do mundo. Para as jamaicanas, essa dor indica
que as costas estão se abrindo, algo que acreditam ocorrer antes da criança
nascer. Esse exemplo mostra a importância dos fatores sociológicos e cilturais
no processo de nascimento. Pág. 97

McKay (1991) focaliza a questão do poder. Tanto as normas hospitalares


quanto a postura dos profissionais que prestam assistência influenciam o curso
psicossomático do trabalho de parto, delineando a extensão do controle e das
escolhas que a parturiente pode exercer e fazer, por exemplo, da posição em
que prefere ficar durante as contrações do trabalho de parto e no período
expulsivo. Quem é a protagonista principal da cena – a parturiente ou o
obstetra? Que tipo de apoio é oferecido? Há respeito pelas preferencias
de posição da parturiente ou há mais uma imposição de rotina
assistencial?

O medo de não conseguir suportar a dor, de morrer ou de passar por extremas


dificuldades no trabalho de parto aumenta a ansiedade e torna a mulher mais
vulnerável às intenvenções médicas, que, por vezes, são desnecessárias. Pág.
98

( E sem eu te contar que toda gestante que já passou pela minha história, apresentou medos,
ansiedades e temores, que pouco a pouco foram trabalhados, e que em cada encontro mitos
caíram por terram, trazendo a tona o poder e a potência que essas mulheres, essas gestantes
carregavam?

Saber onde está pisando, saber o que vem, entender de onde vem o medo, se prevenir, e
encontrar o melhor cenário para se preparar para receber esse bebê, é um trabalho conjunto.
Cada família escolhe seu caminho, e o meu papel, como doula, é informar, acolher e trazer luz.

Hodnett et al. (2007) revisaram várias pesquisas sobre a contribuição do


acompanhante na evolução do trabalho de parto. A síntese desses dados
mostra que a presença do acompanhante tende a reduzir a duração do
trabalho de parto e o montante de analgesia. No que se refere ao grau de
satisfação da mulher sobre a experiência do parto, todos os estudos analisados
apresentaram resultados favoráveis à presença do acompanhante. Pág. 98
(IMPORTANCIA DO ACOMPANHANTE)

O parto, portanto, é um processo psicossomático, cujas características são


determinadas por inúmeros fatores do contexto sociocultural, da individualidade
da parturiente e do contexto assistencial. Pág. 98
Yannoti (1980), a posição horizontal surgiu do século XVII, no decorrer da
progressiva medicalização do parto, e se estabeleceu em definitivo com a
necessidade de facilitar o trabalho do médico para extrair a criança e observar
atentamente a situação do períneo, a fim de efetuar a episiotomia (corte de
cerca de 4cm feito no períneo com bisturi ou tesoura, com anestesia local ou
peridural, antes da saída do bebê, para “proteger” os tecidos contra lacerações
e roturas que poderiam causar frouxidão do assoalho pélvico. Pág. 99

É importante levar em consideração a repercussão emocional da episiotomia.


Pág. 99

O “parirás com dor” começou a ser mais ativamente questionado com a


introdução da anestesia no parto. Pág. 99 >>>>Ref. Parirás com prazer****

Os analgésico aliviam a dor ultilizando fármacos ou procedimentos físicos


como, por exemplo, a acupuntura; os anestésicos acarretam a perda da
sensibilidade, podendo ser local (peridural, raqui) ou narcose (geral).
O Manual de assitencia ao abortamento, ao parto e ao puerpério da Febrasgo
(2010) apresenta como principais recursos para aliviar a dor das contrações do
trabalho de parto, os métodos não farmacológicos (técnicas psicoprofiláticas,
hipnose, acupuntura e estimulação elétrica transcutânea), a analgesia
sistêmica (os mais comuns são os hipnoanalgesicos meperidina e fentanila) e
os bloqueios regionais (que não interferem na progressão do trabalho de parto,
na contração voluntária dos músculos abdominais da parturiente, durante o
período expulsivo e não prejudicam a vitalidade fetal).
As técnicas de analgesia mais utilizadas são a peridural contínua (muito
utilizada para aliviar a dor durante o trabalho de parto, independente do grau de
dilatação do colo do útero), o duplo bloqueio (associação raquiperidural) e
raquianestesia (aplicada como injeção única de anestésico local, tem efeito
rápido e é muito utilizada no período expulsivo).

O parto dirigido sob anestesia regional permite a percvepção consiente da


mulher, no sentido de presenciar o nascimento do filho, acompanhando todo o
processo. Pág. 100

O grande problema da anestesia geral é que o anestésico atravessa a barreira


placentária por simples difusão e produz graus variados de depressão fetal.
Pág. 101

Você também pode gostar